A História do Lar - União Lar da Amizade

Transcrição

A História do Lar - União Lar da Amizade
União Associação Beneficente Israelita
1937–2007
O lar da amizade
presente há 70 anos
3
,& " % "
Enfim, chegamos até aqui!
Carmen Sylvia Mekler
.# # "! "$ "
No boletim de 25 anos da União, o então presidente Kurt Delmonte estava
preocupado com o futuro da União. “Onde está a nova geração que levará
avante a nossa obra? (...)” Quarenta e cinco anos depois, podemos dizer que
até o momento levamos avante esta obra iniciada por nomes como Dr. Paulo
Zander, Dr. Marc Leitchic, William Selig, Erich Mannheimer e o Dr. Hans Vogel
e tendo o Sr. Kurt Feyser como primeiro presidente do então denominado
“Clube 1933”.
Louvado sejas, ó Eterno, nosso Deus, Fundamento do Universo,
que nos mantiveste com vida, nos sustentaste e permitiste
chegar a este momento de alegria.
As famílias Bach e Haberer
expressam seu reconhecimento e
admiração aos ativistas e funcionários
da União – Lar da Amizade que,
nesses 70 anos, se dedicaram aos idosos de
nossa comunidade e nos permitiram celebrar
hoje sua história e realizações.
A instituição, que começou como um clube de assistência aos necessitados
que aqui chegavam fugindo do nazismo, foi se modificando ao longo dos
anos. Em 1937, transformou-se em União Associação Beneficente Israelita e,
além de ajudar os imigrantes com a obtenção de documentação, local para
Carmen Sylvia Mekler,, dormir e trabalho, sentiu-se compelida a criar um espaço para seus pais, copresidente da União lônia de férias para os filhos e participou da fundação do Cemitério Comunal
desde 2002, é uma Israelita e da sinagoga da ARI, entre outras.
prova da garantia
da continuidade do Os anos passam, os costumes mudam, e continuamos nos adaptando. Crescetrabalho comunitário mos, compramos chalé, tínhamos quartos, hoje temos apartamentos, colocaatravés das gerações mos mais elevadores, temos fisioterapia, ioga, psicóloga e nutricionista.
O perfil dos moradores também mudou. Hoje as pessoas são mais independentes, e acabam escolhendo o Lar numa idade muito mais avançada e com
os problemas decorrentes da idade.
Ao mesmo tempo continuamos com a mesma indagação do Sr. Delmonte: o
que será do futuro? De qualquer forma, quero agradecer a todos que, de uma
maneira ou de outra, sempre nos ajudaram nesses 70 anos através de apoio,
donativos ou trabalho voluntário. Não poderia deixar de agradecer, também,
aos funcionários que sempre buscam dar o melhor de si para os moradores
deste nosso Lar da Amizade.
4
5
Fundação
Aos vinte e quatro dias do mez de Fevereiro de 1937, teve logar nesta cidade do Rio
de Janeiro, no escriptorio do Sr. W. Bebion, situado no Edificio Carioca, 3º andar,
sala 301, afim de que fosse deliberado sobre a fundação da “União” Associação
Benificente Israelita com sede e foro na Capital Federal.
Foi aberta a sessão às 18. horas e 30 minutos. Estiveram presentes os Srs Kurt
Feyser, Dr. Jacob Adler, Heinz Fabisch, Benjamim Meyer, Ernst Stessel, Dr. Hans
Vogel, Rudolph Rosenthal, Moritz Goldstein, Siegfried Samuel Durban, Konrad
Loewenstein, Dr. Rudolf Loehnefinke, tendo sido eleito, por aclamação, presidente
da meza, o Sr. Dr. Jacob Adler a cujo convite se sentaram à meza os Srs. Dr. Konrad
Loewenstein e Rudolf Loehnefinke para secretariarem os trabalhos na assembléia.
Foram submetidos à discussão e unanimente approvados os estatutos. Tendo
havido em seguida, eleição da Directoria, appurou-se o resultado seguinte, tambem
verificado por acclamação unanime:
Director Presidente
Vice Presidente e
Secretário
Thesoureiro
Fiscais
Sr Kurt Feyser
Sr. Hans Vogel
Sr Julio Ulleman
Sr. Jacob Adler e Hans Leitschic
Ficou ainda resolvido que a sede e a administração da “União”serão instalados no
Edificio Mauá, nesta Capital, à Avenida Rio Branco nº 9 – 1º andar , sala 119.
Depois de terem lido e achado conforme assignan a presente aos vinte e quatro dias
do mez de Fevereiro de mil novescentos e trinta e sete”
Konrad Loewenstein
Dr Rudolf Loehnefinke
Jacob Adler
7
Homenagem aos Presidentes
e a todos os sócios, ativistas e funconários que souberam
dar aos necessitados o devido amparo, com coração aberto
e dedicação espontânea.
Nesta data tão significativa
dos 70 anos da União,
a ARI associa-se à alegria da
celebração com reverência filial.
“Na noite de 13 de janeiro de 1942, no Asilo dos Velhos, da União Associação
Beneficente Israelita, sito à rua Alice nº 92, compareceram trinta e quatro
pessôas para resolverem sobre a fundação de uma Sociedade Religiosa.
Tomando a palavra o Dr. Siegried Elias que explicou aos presentes a finalidade
da reunião, a seu convite tomaram lugar na mesa presidencial o Dr.George
Haas, Rabino Dr. Lemle, Ernst Loebl, Fritz Brotzen e ele próprio. Por proposta
do Dr. Elias e aprovação de todos os presentes, o Dr. George Haas presidiu
os trabalhos auxiliados pelo Snr. Brotzen que secretariou a dita reunião. (…)
Em virtude da aprovação dos Estatutos é dada como fundada a Associação
Religiosa Israelita do Rio de Janeiro. O Dr. George Haas suspendeu a sessão
por dez minutos, a fim de que na forma da lei fosse eleita a primeira Diretoria
e órgão responsável, isto é, o Conselho Geral. (…) Em seguida, o Dr. George
Haas solicitou que os membros então eleitos do Conselho Geral elegessem entre
si, na forma dos Estatutos a primeira Diretoria. Também por unanimidade foi
eleita a seguinte Diretoria: Presidente – Dr. Eduardo Levy, Secretário – Dr.
George Haas, Tesoureiro – Dr. Alexandre Spielmann.”
Através da fé, o homem vivencia o
significado do mundo; através da
ação, dá ao mundo significado
Rabino Leo Beack, 1873–1956
 
1937
1937–1938
1939–1944
1945–1951
1952–1970
1970–1973
1974–1976
1976–1978
1978–1988
1988–1992
1992–1994
1994–1998
1998–2002
2002–
Kurt Peyser
Leo Seligmann
Paulo Zander
William Selig
Kurt Delmonte
Kurt Weissbrem
Ernesto Bach
Kurt Erich Weissbrem
Hans Wilmersdorfer 
Ernesto Bach
Jack Schumer
Ernesto Bach
Adolpho Maidantchik
Carmen Sylvia Mekler
9
Zehn Jahre Altersheim União
Rabino Dr. Henrique Lemle z’l
In drei Veranstaltungen – in einem Shabbos-Festgottesdienst am 10. Dezember, in einem gemütlichen Zusammensein am Nachmittag desselben Tages
und in einer Fest-Theateraufführung am Montag, den 12. Dezember, wird das
zehnjährigen Jubiläum des Altersheims der União gefeiert werden. Darin
kommen die dreifachen Gefühle zum Ausdruck, die uns anlässlich dieses Jubiläums bewegen: der Dank für das Geleistete, die Freude derer, die heute in der
rua Alice 92 ihr Heim haben, und die Aufforderung an die Gemeinschaft, auch
Fundador da ARI e weiter die Aufrechterhaltung des Altersheim zu garantieren.
portador da mensagem do Judaísmo Die Schaffung des Altersheims wird allezeit Zeugnis dafür ablegen, dass die
Liberal para o Rio de Einordnung der hier eingewanderten jüdischen Flüchtlinge der letzten 15 JahJaneiro, o Rabino Dr. re, in einer unserer Tradition würdigen Weise erfolgten. Juden hatten immer
Henrique Lemle foi als Losung: “Mit unserer Jugend und mit unseren Alten wollen wir ziehen…”
guia espiritual da ARI (2. Buch Moses, Kap. 10, Vers 9). – Es hätte der neue Sektor der jüdischen
e sua comunidade até
Gemeinschaft Rio de Janeiro nicht das Recht gehabt, ein Dach über seinem
Haupte zu haben, solange irgendein Glaubensgenosse, dem das Alter die Einbro de 1978. Ele apeliordnung erschwerte, obdachlos geblieben wäre!
sua morte em setem-
dou, carinhosamente,
o Lar, estabelecido em
1939, dois anos após a Das Werk aus eigenen Kräften – aus den zum Teil noch schwachen Kräften
fundação da União, de der Neu-Eingewanderten – begonnen und durchgeführt zu haben, ist ein
Lar da Amizade Bewusstsein, das in diesem Augenblick die aus Central-Europa gekommenen
Juden mit Stolz erfüllen darf. Sie fanden hierfür allerdings, wie auch für ihre
anderweitigen Wohlfahrtsarbeiten, Verständnis und Unterstützung bei denjenigen ihrer Glaubensgenossen, die schon früher aus jeden Ländern nach
Este texto encontra-se Brasilien ausgewandert waren.
na edição nº 78 do
Boletim da ARI de 1º
Von den Menschen, die ins Heim einzogen, brachte jeder mit seinem Gepäck
auch noch den Packen seiner Erinnerungen an das Gestern mit. Diesen Erinnerungen durch die liebevolle Betreuung von Brüdern und Schwestern einen
friedlichen Ausklang zu geben, war und ist das verdienstvolle Werk unseres
Tradução Altersheims.
de dezembro de 1949
Juscelino Kubitschek, então Presidente da
República, visita a União e é saudado pelo
Rabino Henrique Lemle
pág. 59
Mit unserem Dank an alle die Frauen und Männer, die von seiner Gründung
bis heute dem Altersheim ihre Kraft und Zeit gegeben haben, verbinden wir
den Wunsch, dass unsere Gemeinschaft weiterhin diesem großen Werk ihre
Fürsorge und Treue bewahren möge!
10
11
Uma das atividades que surgiu logo no
início, em especial durante a guerra, era a
confecção peças de roupa para a
Cruz Vermelha Internacional
Missão
A União – Associação Beneficente Israelita, apelidada como “Lar da Amizade”
pelo saudoso Rabino Lemle, foi fundada originalmente para acolher os
imigrantes europeus e ajudá-los a encontrar trabalho e aprender a nova
língua – o português. Logo se tornou também uma “casa” para abrigar os pais
e avós imigrantes, para quem a adaptação na nova pátria era mais difícil.
Na ata da Assembléia Geral Extraordinária dos Sócios da União,
em 7 de janeiro de 1939, lemos:
Agora porém começa para a vida da União uma nova era, que por enquanto ainda é desconhecida. O governo em sua grande clemencia permittiu aos inimigrantes de chamar para estse
Paiz hospitalar os parentes mais proximos que pelos acontecimentos na terra delles perderam
todos os meios da vida. Na maior parte trata-se dos paes dos nossos coreligionarios, homens e
mulheres que chegam aqui depois de torturas moraes e physicas soffridas, sem recursos e que
provavelmente não se podem radicar tão facilmente quanto os filhos. Para muitos destes que
somente ganham o minimo de existencia, é isto uma grande preoccupação. Aqui temos de ajudar com todos os meios possiveis, aqui temos de achar um caminho para offerecer a estes que
não podem mais trabalhar e cujos filhos não tem os meios de sustentá-los em sua propria casa,
um domicilio onde elles se sintam bem. e onde elles podem gozar tranquillamente o descanço
da velhice.
A Directoria já começou com os trabalhos inciaes para a fundação desta nossa “Casa dos Velhos” e nós temos toda esperança que o nosso trabalho vae ter o resultado desejado. Para um
plano tão vasto porém os nossos meios não chegam, nos temos de procurar a aumentar a nossa
verba e cada um de nós tem o dever de fazer sacrifícios par o bem de todos. Por isso fazemos a
todos Vós um apello muito cordeal para nôs auxiliar....
13
União: um manancial de bênçãos
Rabino Sérgio margulies
“Você pensa que é o final?”, perguntou-me o Rabino Henrique Lemle z´l às
vésperas do meu Bar Mitsvá. Nervoso com a aproximação do dia em que
leria da Torá e já ansiando para que tudo acabasse após meses de estudos,
respondi sem dar margem a dúvida: “claro que sim!”. O Rabino Lemle z´l
replicou de modo gentil, mas firme: “é apenas o inicio”. A minha apreensão
não me permitiu questionar as palavras do Rabino, tampouco com elas concordar. Ecoaram, naquele momento, no vazio de um ouvido desatento a tudo
Rabino da ARI desde que não fosse o foco da cerimônia em si.
1996, Sérgio Margulies
tem dedicado sua Tempo depois do Bar Mitsvá, as palavras do Rabino Lemle z´l, que antes não
atuação na comu- haviam despertado interesse, começaram a gerar uma certa inquietação:
nidade à difusão do “começo do quê?”. O começo foi o estudo de nossas fontes de ensinamento
Judaísmo Liberal
que, por sua vez, motivou uma ação. E aí, já sob a indicação de novas lideranças rabínicas da ARI, tive a incumbência de liderar serviços de Kabalat Shabat
no Lar União, e depois organizar atividades nos Chaguim. A sinagoga do Lar
foi, assim, o meu primeiro púlpito. O púlpito de jovem adolescente que ainda
sonhava, de modo distante, em um dia tornar-se um rabino que ocuparia um
púlpito. Outros jovens que tornar-se-iam rabinos e cantores também passaram pela sinagoga do Lar União que, desta forma, é uma sinagoga-escola.
É uma sinagoga-escola pela aprendizagem que propiciou. Aprendizagem de
que a oração não tem um fim em si mesma, é uma ponte para estabelecer
espiritualidade. A espiritualidade só é genuinamente possível através de contatos humanos. Não creio que haja sinagoga que permeie o contato humano
de modo mais caloroso do que a sinagoga da União. Normalmente vamos a
uma sinagoga. Saímos de casa para a sinagoga e da sinagoga retornamos à
casa. A sinagoga da União é na casa. É uma sinagoga-casa: quem lá reza, lá
mora... quem lá mora, lá reza. Um salmo bíblico diz: ashrei ioshvei beitêcha
– feliz é aquele que habita em Sua moradia. Em geral, em todas as sinagogas,
independente da assiduidade, somos passageiros, ao passo que na sinagoga
da União há a espiritualidade que conjuga o morar com o rezar.
A frase escrita na porta de entrada da sinagoga – oriunda do Torá – diz: “Façam para Mim um santuário, que Eu morarei neles”. O versículo da Torá traz
uma aparente contradição: Deus ordena a construção de um único santuário,
mas afirma que morará neles. Como um – singular – pode ser neles – plural?
A resposta é que cada pessoa é um santuário. Assim, cada morador do Lar e
14
cada um que reza em sua sinagoga é um santuário. É alguém merecedor de nosso total apoio e
carinho. Por isso, urge a comunidade como um todo, em sua busca pela sacralidade, honrar estes
santuários.
De fato, todos os seres humanos são potenciais santuários. Os que moram no Lar e rezam na sua
sinagoga são mais do que santuários: são verdadeiros portais. Explico: as escavações arqueológicas
realizadas em Israel revelaram que as cidades de nossos antepassados eram circundadas por muros de proteção. Havia um portal de entrada e, ao lado do portal, cadeiras enormes construídas de
pedra. Estas cadeiras se destinavam aos sábios daquela cidade. Quem eram os sábios? Os idosos.
Nossos idosos são os verdadeiros guardiões. Com sua sabedoria de vida, são os que abrem os portais da própria vida.
O quanto a vida de uma sociedade pode estar aberta ou fechada pela reverência prestada a seus
sábios levou Rabi Nachman de Bratzlav (séc. XVIII) a afirmar que a prosperidade de um pais é determinada pelo tratamento dado aos idosos. De modo similar, uma comunidade judaica pode ser
medida pelo respeito que dedica aos seus idosos. O Lar União abraça esta missão de reverência,
respeito e resgate de nossa própria comunidade. E faz isto há setenta anos.
Misticamente, o número setenta simboliza dez vezes o numero da Criação. Isto significa que celebramos o constante renascer e recriar desta instituição, que não é somente uma entidade, mas um
lar. Um verdadeiro lar, que cria e propicia amizade, por isso carinhosamente denominado também
Lar da Amizade. Na Torá, Deus ordena a Moisés: “Ajunta-Me setenta homens dos anciãos de Israel...” (Números 11:16). Preservar a Torá, a partir da interpretação desta passagem, é honrar o Lar que
há setenta anos junta nossos anciãos.
O Rabino Avraham Joshua Heschel z´l (1907–1972) alertava que cuidar do idoso é considerado um
ato de caridade enquanto que deveria ser um supremo privilégio. A nós, a pergunta: temos consciência deste supremo privilégio? E mal imaginaria Heschel que, freqüentemente, sequer a caridade
é praticada.
O idoso não é somente nossa memória. Ele é também nosso futuro. O idoso não é somente o depositário de um manancial de experiências. Ele é também a fonte de nossa imaginação. O idoso não
é somente merecedor de nossa consideração. Ele é merecedor de nossa reverência. O idoso não é a
vida que passou. É a bênção da vida que prossegue. Uma bênção para nós.
A União é um manancial de bênçãos. Que nós também saibamos abençoar esta preciosa fonte de
bênçãos que celebra seus setenta anos. Setenta anos de muitas vidas que lá encontraram seu lar.
17
Legado humano e judaico
Chazan André Nudelman
– Qual o nome do senhor em hebraico?
– Kalonymus Bakafriel ben Tsvi Hakohen.
– Mishebêrach avotêinu…
André Nudelman, há
XX anos chazan da
ARI, oficiou seu pri-
meiro serviço no Lar
aos 13 anos
O diálogo acima aconteceu num Rosh Hashaná no início dos anos 90, por ocasião da aliá à Torá de um dos então residentes do Lar da União, e não é difícil
imaginar o riso que se estampou nas nossas faces imberbes ao ouvir o tão
sonoro nome pronunciado com aquele sotaque que nos é tão familiar.
Éramos, então, dois jovens, encarregados da condução dos serviços religiosos
do Lar por ocasião das Grandes Festas. Já conhecíamos todas as melodias
– pois as havíamos copiado das pastas da organista da ARI ao longo de muitas tardes de sábado; além, claro, de todo o estudo e preparação que ainda se
estenderiam por vários anos. Minha primeira lembrança do Lar, porém, é ainda um pouco mais antiga:
juntamente com o Rabino Graetz, lá fui oficiar um Kabalat Shabat, ainda
de posse dos meus 13 anos. Nervoso pelo que viria a ser o primeiro serviço
religioso inteiramente conduzido por mim, convidei para virem junto meu
irmão e um amigo que, pouco tempo depois, seria o co-partícipe da troca de
palavras acima.
Não me lembro exatamente de como foi a reza, mas creio ter agradado: fui
convidado novamente. E, depois deste novo convite, houve outro – e assim foi
até que eu e o Luís Balassiano assumimos formalmente a condução dos serviços de Kabalat Shabat na pequena e aconchegante sinagoga do Lar.
Justamente nesta época, conhecemos o Sr. Kalonymus Bakafriel – que nos recebia a cada semana e, tomando conta do Shil, ajudava-nos a organizar tudo
para a tefilá. Sempre bem humorado, oferecia-nos sua sabedoria em forma
de agradáveis conversas, cuja lembrança ainda guardo com muito carinho.
O tempo, como sempre faz, foi passando, e cada um acabou seguindo o seu
caminho. O Sr. Kalonymus se mudou e nós dois, já integrados ao quadro profissional da ARI, abrimos espaço para que outros jovens, mais jovens do que
nós, pudessem assumir nosso posto e viver suas próprias histórias no Lar.
18
Não é assim que dizemos – Ledor vador? De
geração em geração: cada um é responsável por
transmitir o legado humano e judaico para os
que chegam ao mundo depois, e só assim poderemos sobreviver e evoluir enquanto espécie
e povo.
Olhando para trás, hoje vejo que o Sr. Kalonymus fez exatamente isso: ele transmitiu vida,
na sublime forma da experiência que somente
os mais entendidos em vida podem transmitir.
A cada um de vocês, Srs. e Sras. Kalonymus:
mazal tov! O Lar é um paraíso Salomão Bagdadi
O Lar para mim é um apart-hotel. Sinto-me
muito bem e satisfeito.
O que é mais importante? Não sofro nenhum
perigo de ser seqüestrado ou vítima de pessoas maldosas. Sinto-me muito
seguro. Tem muita gente
cuidando de mim.
Aqui judeus e cristãos
convivem muito bem, são
respeitados.
Um conselho para aqueles
que estão com dúvida: estão
perdendo tempo. Porque
o Lar é um paraíso. A diretoria é fora de série. Temos
tudo que precisamos. Tem
nutricionista que cuida dos
diabéticos, como eu. Temos dois médicos. Você
tem assistência médica a qualquer hora. Tem
uma fisioterapia duas vezes por semana. Tem
atividades que distraem a mente e fazem passar o tempo. Temos uma sinagoga. Tem uma
excelente psicóloga que nos dá muito apoio e
alegria. Temos aula de ioga.
Enfim, o Lar é um paraíso
para mim!
Fui trazido para cá pelos
meus filhos, aceitei e nunca
me arrependi.
Meus filhos já me convidaram para morar com eles e
não aceitei. Cada um tem
que ter a sua vida. Gosto
muito daqui. Saio com eles,
mas quero logo voltar para
jogar bingo, buraco, estar no
meu canto. O meu canto hoje é aqui. E estou
bem satisfeito.
20
21
No domingo, 9 de agosto de 1953, foi colocada a pedra fundamental da sede
própria do Lar, à rua Santa Alexandrina 454, projeto do engenheiro construtor
Dr. Guido Cohen, com a presença dos rabinos Drs. H. Lemle e I. Emmanuel e de
representantes das instituições israelitas congêneres do Rio de Janeiro e de
São Paulo. Em seu discurso oficial, Kurt Delmonte declarou:
A vida no Lar
Orgulhamo-nos da nossa velha e digna tradição israelita de ajudar-nos uns aos outros. Devemos
cuidar de aliviar e embelezar os anos de velhice daqueles que nos são caros, retribuindo-lhes os
carinhos e cuidados que nos cercaram na aurora da nossa vida. A deferência e a estima que
dedicamos aos mais velhos, bem como a proteção que lhes proporcionamos, servirão de exemplo
e constituem uma contribuição importante para educação de nossa juventude.
Faz 15 anos, já a União, instalou num prédio de aluguel, o abrigo destinado a acolher nossos
irmãos mais idosos, oferecendo-lhes, no crepúsculo da vida, sossego, conforto e tranqüilidade.
Foi assim fundado o “1º Lar dos Velhos Israelitas” do Rio de Janeiro. A observação tem mostrado que nos últimos anos, esse Lar não dispõe de acomodações para receber novos candidatos,
nem pode dar-lhes o necessário conforto e higiene. Partindo da base dessa observação é que foi
iniciado o planejamento e depois a construção deste novo Lar que servirá de refúgio pacífico aos
nossos amigos mais velhos. Temos na mente as grandes instituições do Velho Mundo que conhecemos outrora e que foram barbaramente destruídas. E nós, que na maior parte temos menos
de duas décadas de permanência neste hospitaleiro país, desejamos continuar fiéis às velhas
tradições e renovar e desenvolver o âmbito de nossas obras de caridade.
23
22
Doces lembranças do Rio
Rabino Roberto D. Graetz
Esquisito… Durante algum tempo procurei fotografias do Rabino Graetz
no Lar da União, mas não achei. Mais esquisito ainda: nem precisei delas
para me lembrar do Lar, seus residentes, diretores e dedicados ativistas e
profissionais. Está tudo guardado na memória e constitui uma das lembranças doces dos meus anos no Rio de Janeiro.
Às vezes minhas idas ao Lar restringiam-se a visitar algum membro da nossa
comunidade, já idoso, necessitando apoio pastoral. Outras eram para comparTendo trabalhado ao tilhar idéias com membros da Diretoria. E outras ainda, para fazer uma paleslado do Rabino Lemle tra, compartilhar um Seder de Pessach ou outra festividade judaica no Lar. 
na ARI nos anos 70,
Roberto Graetz foi Lembro quando a casa vizinha foi comprada e o orgulho dos ativistas de po-
convidado a assumir der abrir novos espaços para os idosos do Lar. Lembro também da marcante
o púlpito da ARI em presença no Lar do meu mestre, o Rabino Lemle z’l.
1980. No Rio, pontuou
sua atuação no de-
70 anos de história...  Muda o censo da população, mas não a necessidade de
servir. Muda a origem dos residentes, mas não a obrigação de atender sempre
e, em especial, trouxe
com carinho e muito respeito os idosos dos quais tanto temos a aprender.
senvolvimento da ARI
uma abordagem
humanitária e social
para a Congregação Parabéns ao Lar nesta data de celebração festiva.
Chazak, chazak venitchazek!
Espaço profundamente humano Marcos Chor Maio
Rabino Graetz celebra o casamento de
Carlos Rappaport e Klara Ban na União:
o Lar presente em muitas ocasiões festivas
do ciclo da vida de seus residentes
Rosa, minha mãe, chegou ao Lar em 2001. Ela
morava no Leme e já requeria alguns cuidados
em seu cotidiano. Eu entrei em contato com a
instituição e em seguida fiz uma visita. Fiquei
muito bem impressionado.
Com a ajuda dos meus dois irmãos que moram nos EUA (Miriam e Marcel) conseguimos
convencê-la de que o Lar era a melhor alternativa de vida para ela.
Rosa resistiu inicialmente. Aos poucos foi se
adaptando à nova vida. Nós fomos percebendo gradativamente como ela foi virando uma
outra pessoa, muito mais alegre, mais vivaz.
Conheceu novas pessoas e mantém uma relação carinhosa com os funcionários.
O Lar União é um espaço profundamente
humano, que trata com muito carinho as pessoas que moram lá. Tenho um imenso respeito
pelo trabalho desenvolvido pela instituição,
pelos seus funcionários e pela diretoria.
25
O poder transformador do amor
Rabino Alejandro Lilienthal
Hoje rabino na
Florida, onde sua
congregação vem se
desenvolvendo em
tamanho como em
comprometimento,
Alejandro Lilienthal
No mundo de hoje, o ser humano está cada vez mais perto de passar a ser
nada mais do que um objeto. Um objeto colocado nas prateleiras da vida,
tirado de seu lugar apenas quando é necessário, colocado na prateleira de
novo quando a sua utilidade diminui. 
 
Porém, carinho e amor têm o poder de transformar esta realidade. Isto é
verdade para nós todos, e muito mais ainda no caso da geração mais experiente. O Lar da União sempre deu a seus moradores carinho e amor, o que
eu presenciei nos anos que passei no Rio de Janeiro. Minhas visitas ao Lar, os
Sedarim que passei com os residentes, sempre me encheram de orgulho por
termos uma organização como esta como parte da nossa comunidade.
 
Ao fazer 70 anos, tenho certeza de que o Lar continuará a oferecer carinho e
amor, que haverão de manter nossos pais e avós que nele moram seres humanos plenos por muitos anos.
foi Rabino da ARI
de 1993 e 1996 mazal tov
A melhor opção David Sokolik
Uma das questões mais delicadas e difíceis
de decidir foi em relação à ida de minha mãe
para o Lar.
Em 2003 ela havia feito uma “experiência” de
três meses para ver se gostava:
“gostei, mas prefiro a minha
casa”, disse ela. A situação mudou radicalmente quando ela
teve uma trombose na perna,
aos 87 anos, e precisaria de cuidados constantes.
O Lar passou então a ser a melhor opção. Após a aprovação
pela avaliação médica, teve
início um trabalho de recuperação: ela chegou em cadeira de rodas, após
15 dias de CTI e 15 dias em quarto de hospital,
sem andar. Após 30 dias no Lar, fazendo fi-
sioterapia, já estava andando com bengala, e
após mais 60 largou a bengala!
Além da fisioterapia, acho que as diversas atividades do Lar contribuíram para tal rapidez
na sua recuperação, como ioga,
jogos, shows, dança, festas e,
principalmente, o Shabat. Ela
se sente em casa num ambiente judaico.
O acolhimento pelos funcionários, pessoal médico, enfermeiras e da alimentação é digno
de destaque. O resultado de
todo esse carinho e atenção é
que ela está ótima, gosta das
atividades – em algumas eu a acompanho – e
eu percebo que ela está satisfeita. No fundo, é
isso que importa.
27
Uma casa feita de amor
Rabino Daniel Goldman
Daniel Goldman, hoje
rabino em Buenos
Aires com atuação
expoente no âmbito
dos direitos humanos,
foi rabino da ARI entre
1989 e 1991
Os mestres da tradição de Israel sabem que a palavra não só dá nome às
coisas, como essencialmente as representa. Em hebraico, o idioma bíblico,
‘palavra’ é davar que, além de significar vocábulo, também significa objeto.
Isto é, a palavra não é levada pelo vento, senão que ocupa um espaço no universo. O mesmo ocorre com ‘lar’. Lar não é uma casa, não é um endereço, mas
um espaço que o indivíduo decide ocupar junto de seus afetos mais ternos. É
a ternura que o torna um lar e não o lar que origina a ternura. Quantas casas
existem e quão poucas representam o lar! E quando essa palavra vem ligada
ao conceito de união, isto lhe dá muito mais significado. União é amizade, e
não apenas por sua simbologia, mas porque a própria palavra o diz. E aqui
recorro novamente ao idioma do Lar, o hebraico. A palavra chaver, que em
hebraico significa amigo, na verdade deve ser traduzida como ‘unido’. E que
riqueza!... União + Lar.
 
Do Lar da União, ou Lar da Amizade (que não é o mesmo porém é igual, como
diria o poeta), lembro das orquídeas das quais o Sr. Bach cuidava. Estas, se
não me falha a memória, representavam sua presidência, mas creio que eram
muito mais do que isso. Alguém que se ocupa com flores, que cuida de seu
jardim, muito mais se preocupa com aqueles que moram nesse lar. Cuidar
dessas pessoas, que não eram velhas, eram encantadoras, dava ao Lar o sentido profundo da vida.
 
Sabemos também que a letra beit em hebraico representa bait, o lar. Mas a
primeira letra do alfabeto, alef, é muda. É preciso enchê-la de conteúdo. Para
que o alef tenha conteúdo, faz-se necessária a segunda letra, beit, o lar.
Espero não tê-los confundido com tantas palavras e traduções. Desejo que
Deus lhes proporcione conteúdo permanente para que a ‘união’, a ‘amizade’
possa oferecer o amor, em hebraico ahavá, que contém somente alef, beit e
hei, esta última representando o nome de Deus. Isto quer dizer que para que
haja bait é necessário o conteúdo Divino, que se faz presente com o amor que
seus fundadores e ativistas lhe proporcionam constantemente.
29
No céu, a música abre portas
Chazan Oren Boljover
“No céu, a música abre portas que a palavra não consegue abrir”, disseram
os mestres do Chassidismo, referindo-se ao nigun, a canção sem palavras.
Podemos ampliar o alcance deste dito e considerar que a mesma coisa acontece com a alma humana: a música atinge uma profundidade e chacoalha o
ser como poucos outros estímulos. A música chega de forma instantânea ao
coração, não precisa explicações, não é preciso ser um conhecedor: se a pessoa
tem sensibilidade, será atingida pela linguagem do discurso musical, seja
qual for o gênero e estilo de sua preferência. E assim desde o heavy metal que
Oren Boljover, chazan
da ARI entre 1978 e os nossos jovens amam até Mozart.
1994, trabalha hoje
na Argentina como As pessoas viajam, fazem de tudo para conseguir ingressos, até atravessam o
professor, regente de oceano, para ver e ouvir seus artistas prediletos, para ouvir ao vivo as canções
diferentes corais e que as emocionam, para assistir a festivais da música que amam.
como solista
E isso porque a música faz bem.
É por isso que desde sempre a música é aspecto crucial do serviço religioso de
todos os credos. Porque acaricia, inspira, cria o clima de comunidade em oração.
Os que fazemos música a serviço de fins espirituais, sabemos que temos a
responsabilidade de levá-la até onde moram nossos idosos, porque diz o Eclesiastes, metaforicamente, que “na velhice, o que era próximo tornou-se distante (para se transladar)”. Por isso a levamos até eles. Queremos com nossa
música entreter, acariciar, emocionar, inspirá-los.
Neste 70º aniversário do Lar da Amizade, instituição exemplar que é orgulho
da família da ARI, gostaria de homenagear todos os profissionais e ativistas
voluntários que zelaram para que nunca faltasse música para os hóspedes do
Lar, seja em um serviço religioso, seja um recital para entreter. Fui Chazan da
ARI de 1978 a 1994, e os nomes que aqui lembro têm a ver com aquela época.
Não gostaria esquecer ninguém e peço desculpas por omissões. O primeiríssimo que merece a homenagem é o Sílvio Harburger, nobre guardião dessa
mitsvá, tanto oficiando ele mesmo como organizando tudo para que nossos
idosos tivessem a atenção dos “fazedores de música”.
Lembro do menino André Nudelman, hoje o querido Chazan da ARI. Lembro
do menino Luiz Balassiano, hoje 15 ou 20 anos menos menino. Lembro do
30
Chazan Josef Aronsohn z’l, que me precedeu no amud da ARI. Os Levitas, que depois foram os
encarregados da música no Templo de Jerusalém, a uma determinada idade deviam se “aposentar” mas continuar ajudando seus companheiros e vigiar (ser guardiões) (Lev 8, 25-26).
Nosso querido Cantor Aronsohn, depois da sua aposentadoria da ARI, continuou cantando no
Lar e ajudando seus companheiros, vindo a cada Purim ler a Meguilá para nosso deleite.
Descuidar dos idosos é sinal de uma geração corrompida (Isaías 3:5). Com o carinho e o zelo
com que os fundadores da ARI e seus descendentes trabalham para o Lar, tenho certeza de
que a balança da nossa geração está inclinada para o lado positivo!
Expresso aqui os meus melhores desejos para meus queridos amigos Sylvia Mekler e Bia
Bach, ativistas numa missão tão cara para o Judaísmo. Faço extensivos meus parabéns e
bons desejos a todos os outros ativistas do Lar. Que seu trabalho seja coroado com sucesso e
bênção!
E para os hóspedes, todo meu carinho e a renovação da promessa que fiz à Sylvia recentemente, de ir ao Lar para cantar, na próxima vez que estiver no Rio.
32
33
Ação
A União foi fundada oficialmente em fevereiro de 1937, mas operava, de fato, desde agosto de
1936. Os estatutos foram registrados em pleno Estado Novo e publicados no Diário Oficial de 17
de agosto de 1938. Entre suas finalidades, encontramos no Art. 2º: “A União tem por fim: a) prestar
informações a todos os correligionários israelitas; b) auxiliar os ditos correligionários quando os
mesmos se acharem desprovidos de meios de subsistência; c) ensinar-lhes o idioma nacional,
o amor cívico ao Brasil e o respeito às suas leis; d) orientá-los e ajudá-los em suas necessidades
econômicas e sociais.” Essas informações eram necessárias aos que aqui chegavam sem conhecer
o idioma, sem saber onde encontrar moradia, sem ter com que pagá-la, onde buscar emprego e
como trabalhar. Geralmente eram pessoas que tinham profissões, senão posições definidas e às
vezes de categoria em sua terra, mas aqui, no princípio, se achavam inteiramente desorientadas.
Com respieto a estas dificuldades, especialmente agravadas plelo clima anti-semita da época,
Aron Neumann, em 12 de novembro de 1964, escreveu no Semanário “Aonde Vamos?”:
Hoje desejamos evocar apenas o clima da época, quando, pelas alturas de 1938, finalmente, por sugestão
da saudosa Sra. Gertrud Brotzen e graças à dedicação de um grupo de ativistas da “União” composto de
refugiados e de outros judeus aqui radicados há mais tempo, foi alugado na Rua Alice 92, um casarão no
meio de um jardim, na intenção de fazer dêle um Lar para os Velhos Refugiados Judeus não importa de
onde viessem. Não somos dos que cantam hosanas a nós, judeus. Raramente falamos dos nossos Einsteins,
Freuds e outros judeus que muito deram à humanidade. Em geral, preferimos apontar nossos próprios
defeitos para corrigi-los, no espírito da Bíblia que acusa os pecados de Israel, nua e cruamente, inclusive
dos maiores personagens de nossa história. Mas seja-nos permitido lembrar aqui, em gratidão e – por que
não o dizer? – com uma pitada de satisfação, que nós judeus de procedências várias, ao chegar aqui, todos
refugiados, despojados de todos os bens, pobres e perseguidos, tivemos, antes de construir ou instalar clubes, antes de comprar móveis e cortinas, antes de ter um patrimônio econômico, a preocupação de fundar
instituições de solidariedade e amparo para que não ficassem ao léu os refugiados sôbre os quais incidiam
tantos ódios e malquerenças. (…) E lembro-me de como, pouco mais de seis anos depois, foi inagurado o
Altersheim (Lar de Velhos) da Rua Alice. Partia o coração ver como os anciãos – os “hiflos und dankbar”
(desempregados e gratos) – inseguros, se apegavam a esperança de que nem tudo estava perdido para êles,
em face do seu nôvo Lar.
35
Levanta-te, e honra o idoso
Rabina Sandra Kochmann
Durante sua atuação
na ARI entre 2003 e
2005, a Rabina Sandra
Kochmann desenvolveu com ênfase um
trabalho dedicado à
terceira idade
O que é um Lar? Quando pensamos no significado ou na definição desta palavra, imaginamos uma casa – lugar físico –, e uma família – grupo de pessoas
unidas por um parentesco de sangue – morando nela. Mas, na realidade, um
lar é muito mais do que isso, e o Lar – o nosso querido “Lar da União”, sem duvida, é isso e muito mais!
O Lar vai muito além do espaço físico que ocupa e das relações de sangue
que geralmente unem os membros de qualquer família: o Lar não é só uma
casa para quem vem morar nele, nem simplesmente um lugar de trabalho
para quem ali é funcionário, ou mais uma atividade beneficente para os seus
ativistas. Os sentimentos que unem e motivam todos que de alguma maneira
compomos o Lar – moradores, funcionários e ativistas – fazem com que nos
sintamos parte de uma mesma família cujos laços de amor e respeito mútuo
prevalecem sobre os laços sangüíneos.
As palavras do escritor Richard Bach no seu livro “Asas para Viver”, ajudam a
defini-lo melhor:
Lar é o que conhecemos e amamos.
Quando estamos juntos, estamos em casa.
Lar não é um lugar.
Não acho que o conhecido e o amado estejam firmados com pregos,
nem que tenham teto e assoalho.
Lar é uma determinada ordem que nos é querida, onde não há riscos
de ser quem verdadeiramente somos.
Os que conhecemos bem o Lar e as pessoas que o compõem… o amamos.
Como o Lar não é somente um prédio, todos que vivenciamos e compartilhamos momentos inesquecíveis das nossas vidas ali – mesmo estando hoje
longe fisicamente – nos sentimos parte da grande família que o Lar abriga. E,
cada vez que voltamos a estar ali juntos – mesmo com a tristeza pela ausência de algumas das pessoas queridas, mas no marco de uma ordem familiar
para nós e onde nos sabemos queridos e aceitos como somos – sentimos a
maravilhosa sensação de estar em casa!
Em Pirkei Avot (Ética dos Pais) 5:24, está escrito: “Aos setenta anos é a
velhice”. Há setenta anos, o Lar vem se ocupando da velhice. E na Torá
36
(Levítico 19:32), está escrito: “Diante do velho levanta-te, e honra a pessoa idosa”. Mesmo que o Lar
ainda não seja velho como instituição, hoje todos nos levantamos para honrá-lo e cumprimentá-lo
– bem como a todos que o compõem – por cumprir esta mitsvá (preceito), com kavod: respeito,
dignidade, integridade e, sobretudo, com muito amor.
Mazal tov! Parabéns! Por muitos anos mais!
Saudações carinhosas de Jerusalém, com muitas saudades.
Só posso elogiar Steffi Marion Renaud
Conheço o Lar faz muitos anos por pessoas da
minha família. Minha mãe passou os
últimos anos de sua vida aqui por livre
e espontânea vontade.
Sempre morei longe dos meus filhos
em Nova Friburgo e quando percebi
que não estava mais em condições,
escolhi o Lar da Amizade. O Lar oferece
muito conforto, carinho de seus funcionários
para com os hóspedes, enfermaria
24h, médico, fisioterapia e ioga. Há
também uma psicóloga que organiza distração de segunda a quinta
e às sextas temos reza na sinagoga.
Há seis anos estou aqui e só posso
elogiar.
39
Uma mitsvá, ou um trabalho?
Alexandre Kuszer
Alexandre Kuszer ofi-
cia os serviços religio-
sos de Kabalat Shabat
e festas no Lar da
Amizade desde 1997
Há mais ou menos cinco anos, estava saindo da cerimônia de Shabat que realizo todas as sextas-feiras na Sinagoga do Lar, quando uma moradora me pára
para desejar um bom Shabat, e diz: “Muito obrigada por você estar aqui, isso é
uma mitsvá, e estou muito agradecida”.
 
Na época, com meus vinte anos, não dei muita importância; na verdade, o que
tinha me chamado a atenção foi como meu trabalho poderia ser uma mitsvá,
se eu recebia um pagamento por isto?!
 
Eu, particularmente, fiquei muito tocado por essa frase, por realmente não
entender como uma mitsvá poderia ser realizada em troca de dinheiro, até
porque, quando parei para pensar a respeito, me veio a idéia de que uma
mitsvá era algo espontâneo, voluntário, e sem remuneração.
 
Aos poucos, fui percebendo que essa idéia estava mudando um pouco de lugar. Muitos, no Lar, quando iam para a Sinagoga no Shabat, não sabiam ler em
hebraico, ou não conseguiam ler as letras do Sidur, ou mal podiam me escutar,
mas, todos estavam lá, a cada sexta-feira, me acompanhando, sorrindo, com
os olhos atentos em mim, prestando atenção no que acontecia na cerimônia,
mesmo que, às vezes, não pudessem intervir.
 
A partir dessa compreensão, consegui perceber que a mitsvá, independente
de eu estar recebendo ou não um pagamento por isso, era a minha atenção
para com eles, a minha dedicação, a minha vontade de lhes proporcionar uma
cerimônia religiosa, muito parecida, às vezes até igual à que é realizada na
ARI; era a oportunidade de eles poderem se ligar a Deus, e eu faço, há 10 anos,
essa ponte na Sinagoga do Lar.
 
Hoje, agradeço muito a essa senhora, a quem ainda não tive coragem de contar
essa historia (vocês estão sabendo em primeira mão), mas agradeço a ela por
ter me permitido perceber como eu podia fazer a diferença nesta vida e que, se
tivesse que partir agora, partiria feliz por ter cumprido essa missão.
 
Por incrível que pareça, e por um mero acaso da vida, eu acabei “caindo” dentro do Lar, e nunca mais saí. Acabei fazendo de minha profissão – psicólogo
– uma extensão de tudo o que passei nesses últimos 10 anos no Lar, e que,
pretendo ficar por muito mais. Com imenso carinho pelos meus velhos.
41
22 anos de dedicação e União
Miryam Both
Parabéns União! Parabéns Presidência! Parabéns Diretoria! Parabéns funcionários! Parabéns hóspedes! Sim, nesses 22 anos que estou junto com o maravilhoso grupo que, com amor e dedicação, se integra, só posso orgulhar-me
em fazer parte desta equipe. Às quartas-feiras pela manhã, ministro aulas de
Ioga com grande sucesso e alegria. Uma vez por mês, fazemos passeios, chá
na casa de um amigo, olhamos vitrines em um shopping, vemos o azul do
mar... enfim, buscamos estar no lado belo da vida. Aos sábados pela tarde, realizamos um show, dança, canto, música, teatro e, é claro, tudo regado a guaraná e bolo. É grande a felicidade de poder compartilhar momentos felizes e
amenos. Nossa “casa” (assim chamamos a União carinhosamente) é um oásis
Miryam Both faz de amor e paz, no qual os idosos se sentem acolhidos e amparados.
parte da equipe do Lar
há 22 anos e organiza Obrigada Senhor Deus por dar-me esta oportunidade e que ela possa
uma série de ativida- perdurar para sempre.
des integradoras
Ciclo ininterrupto O Lar não pára!
atendimento psicológico
Dra. Jô de Almeida Botelho
Segunda a quinta, 14h às 17h
fisioterapia
Dra. Rosita Schmid
Terça e quinta, 8h30 às 11h
musicoterapia
David Farinni
Quinta, 15h
ioga
Miryam Both
Quarta, 9h
atendimento clínico
Dr. Mario Luiz Rochocz
Dr. Zeev Sheps
Segunda a sábado, manhãs
Domingo, plantões alternados
sessão de cinema
coord. Inge Menasse
Domingo à tarde
recreação e música
coord. Miryam Both
Sábado
passeios
coord. Miryam Both
kabalat shabat
Alexandre Kuszer
Sexta, 18h
e mais:
Cabeleireiro
Visitas dos familiares
Festas judaicas
Visitas do Mekor Chaim/ARI
Visitas das escolas
Comemoração do Dia das
Mães e Dia dos Pais
43
Convivência acolhedora
David Alhadeff
Parabenizo o Lar da União pelos seus 70 anos de existência e de serviços
prestados à terceira idade de nossa comunidade. Tive o prazer de participar
de inúmeros eventos do Lar nos 17 anos em que fui chazan da ARI e carrego
comigo na memória imagens dos Sedarim de Pessach, dos serviços de Kabalat
Shabat e das apresentações avulsas das quais participei. Jamais esquecerei
da organização do Lar, de seu ambiente calmo e acolhedor e, especialmente,
Professor e chazan da da calorosa e agradável acolhida com que sempre fui agraciado, tanto por
ARI de … a …, David parte dos hóspedes quanto da direção da Casa. Ter tido estes momentos de
Alhadeff destacou-se convivência no Lar foi para mim uma experiência importante e significativa.
como exímio Baal
Korê (leitor da Torá)
Desejo ao Lar mazal tov e votos de tizke lamitsvot!
44
45
Na União – Lar da
Amizade é possível
conquistar uma
vida tranqüila,
com qualidade,
com opções de
União
atividades e com
a liberdade de
sair e receber
melhora sua qualidade de
vida
Jô de Almeida Botelho
Desenvolvo meu trabalho como psicóloga
da União – Lar da Amizade há dezesseis
anos. Durante esses anos compartilhei da
vida de muitas pessoas queridas. Presencio a melhora na qualidade de vida dos
idosos que moravam sozinhos em suas
casas.
Sabemos que a decisão de vir morar
num lar geriátrico é uma etapa delicada para o idoso e sua família. Inúmeros
sentimentos e emoções emergem nas
relações familiares, merecendo uma
orientação terapêutica eficaz. Durante as
entrevistas psicológicas, várias dúvidas se
desfazem, facilitando um bom ingresso
do morador, bem como, a tranqüilidade
de seus familiares.
O período de adaptação é outra etapa
que merece atenção e acolhimento de todos nós, pois é comum ocorrer uma certa ansiedade devido à separação de sua
casa e um receio daquilo que o espera no
novo “lar”. É o período em que o mora-
dor testa a instituição
e a própria família. Até
onde o Lar cuidará de
mim e/ou até onde a
minha família continuará se preocupando comigo? A relação de confiança e o apoio a
todos envolvidos são fundamentais nesse
momento.
O efeito deletério da velhice em geral,
e da internação em particular, é a inatividade devido a uma perda de papéis e da
necessidade de prover para si e para os
outros. Consciente disso, minha atuação
no dia-a-dia, vai ao encontro das necessidades e das possibilidades de cada morador e do grupo como um todo. Estimular
a participação de cada um na sugestão
de novas atividades e no planejamento
e execução das mesmas é uma das prin-
seus amigos e
familiares.
Lea Katz dança animada em tarde
musical com o musicista David Farini
cipais fases deste trabalho. Lógico que
respeitando sempre as possibilidades e o
querer de cada um. É não apenas ser e estar, como também, fazer, atuar no meio.
As atividades recreativas programadas
a cada semana agem como recurso terapêutico facilitador para a reabilitação, re-motivação, reorientação para a realidade
e para a responsabilidade dos moradores.
A interação grupal espontânea e potencialmente útil é alcançada em vários
momentos. O simples jogo de cartas ou
dominó, o bingo, a oficina de memória,
o ‘show do milhão’ entre outros, atuam
positivamente na concentração, na memória e na socialização dos moradores.
As aulas de musicoterapia alegram as tardes de quintas-feiras. Temos também as
visitas dos alunos de escolas e de grupos
judaicos que contribuem para um conta-
Victor Gurivitz celebra seu 89º aniversário
na companhia de filhos e netos no
Salão Nobre da União
to externo prazeroso. Os lanches nas residências dos sócios e amigos do Lar e os
passeios turísticos, programados por nossa professora de ioga, renovam a alegria
de viver. Nos fins de semana contamos
com os eventos musicais e de dança coordenados pela professora e com as tardes
de cinema, no nosso novo telão, proporcionado por uma das nossas conselheiras.
Eventos muito apreciados também pelos
familiares e amigos que vêm visitar seu
ente querido.
Finalizando, gostaria de ressaltar para
aqueles que se encontram indecisos, que
na União – Lar da Amizade é possível conquistar uma vida tranqüila, com qualidade, com opções de atividades e com a
liberdade de sair e de receber seus amigos
e familiares. Venham nos conhecer!
47
Os avós de Marta:
Dionísio (Denis) e
Rosália Grunfeld
Meu avô, o Lar
Guardo um carinho todo
União
e eu
especial pelo Lar da União.
O Lar faz parte da minha
historia e dos bons momentos
que convivi com meu avô.
Meu avô se chamava Dionísio. Era um
deus húngaro super simpático, alegre,
bonito, charmoso e travesso. Seu apelido
era Denis. Eu sempre pensava nele como
“Denis o Travesso”. Me lembro de várias
travessuras que fizemos juntos. Ele era famoso pelas suas travessuras.
Um belo dia, meu pai nos contou que
Marta Heilborn
vovô iria se mudar para
o Lar dos Velhos da
União. Foi um choque!
Vovô então era jovem,
cheio de vida, forte
48
como um touro e ainda trabalhava. Ele
tinha perdido quase toda a família – minha mãe, minha tia e minha avó – restava somente um filho casado. Fiquei super
chateada ao saber que iria para um lar de
idosos em plena forma física.
Logo que ele foi para o Lar, fui visitá-lo apreensiva e, quando cheguei lá, para
minha surpresa, vovô estava trabalhando
numa oficina de madeira que o Lar tinha
montado para ele. Vovô era marceneiro e
conhecia divinamente técnicas de marchetaria, que utilizava nos móveis e objetos que fazia. Eu adorava tudo o que ele
49
fazia. Geralmente utilizava madeiras de
várias cores e ornamentos de metal. Era
muito habilidoso. Foi ele quem fez o painel dos leões da antiga sinagoga pequena
(1º andar) da ARI.
Quando ele me viu sorrimos um para
o outro. Fui ao seu encontro e ele então
me levou para conhecer o Lar, as pessoas,
seu quarto e voltamos à oficina. As pessoas eram simpáticas, mas eu as achei um
pouco velhas para o vovô. Ficamos conversando, e ele me disse que o Lar seria um
pouso. Ele dormiria no Lar, mas poderia
ir e vir a seu bel-prazer. Poderia continu-
Minha Vida no Lar Frieda Wolff
Desde que meu marido faleceu, eu fiquei
sozinha no apartamento que era definitivamente grande para mim. A empregada
ficava até às 16 h e eu comecei a
me perguntar o que aconteceria
se eu precisasse de ajuda à noite.
Nós tínhamos feito amizade com
uma senhora que morava no
apartamento embaixo do nosso.
E eu sabia que poderia chamá-la
quando precisasse de ajuda. Mas,
naturalmente, não poderia abusar.
Aí, um belo dia, tive uma queda no
metrô. Felizmente não aconteceu nada grave,
mas fiquei com dores nas costas. Então resolvi
descansar no Lar da União, que eu já conhecia
de visitas anteriores.
Eu gostei, me senti protegida. Resolvi trazer
meus próprios móveis e minha biblioteca, que
agora está ocupando um quarto inteiro no 3º
andar. Isso me deixa ocupada um pouquinho.
Primeiro, porque tem minha escrivaninha que
uso para escrever, fazer minha contabilidade
etc. Além disso, tenho que descer de manhã
e à noite para abrir e fechar a janela da biblioteca, pois os livros precisam de ar. Nessa
tarefa conto com a ajuda de um colega do Lar,
o Sr. Jaime, que tem uma chave e em geral
toma conta das janelas. Mas, de qualquer
jeito, passo toda noite para ver
se tudo está em ordem. Minha
idéia original era que os outros
residentes pegassem emprestados os livros. Só que isso até
agora não aconteceu. O pessoal
prefere ler revistas, jornais.
Minha única freguesa é nossa
nutricionista que adora ler.
Eu só poderia aconselhar a todo
pessoal que está vivendo sozinho, seja em
apartamento próprio ou alugado, lutando
com as compras diárias que são necessárias,
arranjando faxineira para a limpeza de suas
casas, que a vida na terceira idade é diferente.
Precisamos de mais conforto, sem a dor de cabeça de como limpar, arranjar comida, enfim
tudo que uma casa exige. Eu posso assegurar
que tenho toda a minha liberdade de sair,
de participar de reuniões, de fazer fora o que
quero, mas sei que é bom voltar para o meu
quarto, minha saleta e minha biblioteca, sem
me preocupar com problemas da vida diária.
ar trabalhando e agora estava super feliz
com a pequena oficina que haviam montado para ele. Fiquei contente em vê-lo satisfeito, e triste por não poder tê-lo mais
perto da gente.
Saí de lá pensando sobre a oficina que
o Lar tinha feito para ele. Fiquei superfeliz e grata por terem entendido e percebido as necessidades do meu avô.
A faculdade recomeçou. Eu estava
cursando Desenho Industrial na PUC.
Uma das cadeiras do semestre era Design de objetos em madeira. A oficina
da PUC era excelente, mas resolvi fazer
todos os meus projetos com vovô lá no
Lar. Assim ficaríamos juntos, e eu aprenderia um pouco dos segredos dele com
a madeira. Foi um período maravilhoso! Freqüentei o Lar União pelo menos
duas vezes por semana. Fizemos vários
projetos e aprendi muito com ele. Quando não trabalhávamos, sentávamos no
Capa de impresso para campanha de
donativos na década de 1980
pátio do Lar e ele me contava as suas histórias. Adorava ouvir suas histórias. Eram
superengraçadas e, muitas vezes (quase
sempre), exageradas.
51
50
A vida no Lar era pacata. Lembro-me
de algumas atividades, como os jogos de
cartas, bingo, ginástica e cinema. Algumas vezes lanchei com o vovô. As senhoras gostavam dele. Ainda era bonitão e
acho que elas gostavam de ver um senhor
alegre e bonito “dando sopa”.
Um belo dia, nas suas andanças pela
cidade, ele reencontrou e se apaixonou
por uma velha amiga. Como toda grande
paixão, estava totalmente entregue. Ela
viajou para os EUA onde encontrou um
amigo de infância e se casou. Quando
voltou estava casada, e vovô ficou muito
triste e teve um infarto fulminante. Morreu de amor.
Minha relação com o Lar da União permaneceu. Tenho profunda gratidão pela
maneira carinhosa com que trataram
meu avô. O presidente do Lar na época
Tradução da mensagem do Rabino Lemle à pag. 9
Logo comemorativo
dos 60 anos da União
era o Sr. Ernesto Bach, de quem sou amiga desde então. Gosto muito dele e participei, a pedido dele, de várias campanhas
em benefício do Lar. As duas últimas de
que me lembro foram o logo comemorativo dos 60 anos da União e uma campanha de donativos para a qual convidei um
cartunista para desenhar a imagem que
eu tinha e queria passar do Lar da União.
Guardo um carinho todo especial pelo
Lar da União. O Lar faz parte da minha
historia e dos bons momentos que convivi com meu avô.
Dez Anos do Lar dos Velhos da União
Em três eventos – um serviço festivo de Shabat no dia 10 de dezembro, uma agradável reunião
vespertina no mesmo dia e uma apresentação teatral festiva na segunda dia 12 – será comemorado o jubileu de 10 anos do Lar da União. Deste modo, são expressos os três sentimentos que nos
comovem por ocasião deste jubileu: o agradecimento pelo que foi realizado, a alegria daqueles que
hoje têm na rua Alice 92 a sua casa, e a conclamação à comunidade para garantir a continuidade e
manutenção deste Lar.
A criação do Lar será sempre testemunha de que sucedeu na forma honrada da nossa tradição o
cuidado com os imigrantes judeus refugiados nos últimos 15 anos. Os judeus sempre tiveram como
lema: “Com nossos jovens e com nossos idosos seguiremos…” (Êxodo 10:9) – O novo setor da comunidade judaica do Rio de Janeiro não teria o direito de ter um teto sobre suas cabeças, enquanto
um único correligionário atingido pela idade ficasse desabrigado!
Os judeus da Europa Central podem neste momento se encher de orgulho por terem iniciado e
realizado esta obra com sua própria força – em parte a força ainda frágil dos recém-chegados. Aqui
encontraram para si bem como para seus demais trabalhos beneficentes, compreensão e apoio junto
aos seus correligionários que já haviam emigrado há mais tempo de suas pátrias para o Brasil.
Cada um que se mudou para o Lar trouxe consigo, em sua bagagem, as lembranças do Ontem. Dar
a estas lembranças um desfecho tranqüilo, sob os cuidados carinhosos de irmãos e irmãs, foi e é
uma tarefa meritória de nosso Lar.
Com a nossa gratidão a todas as mulheres e homens, que desde sua fundação até hoje dedicaram
sua energia e seu tempo, estendemos o desejo de que a nossa comunidade possa ratificar sua assistência e lealdade a esta grande obra!
União
Associação Beneficente
Israelita
www.uniaolar.com.br
Rua Santa Alexandrina 464
20261-232 Rio Comprido
Rio de Janeiro
Tel: +5521 | 2502-5522 e 2273-7626
Fax: +5521 | 2293-4003
[email protected]
Esta é uma publicação sem fins lucrativos. As opiniões emitidas aqui são de
responsabilidade de seus autores. É
proibida a reprodução total ou parcial das
imagens desta publicação.
presidente
Carmen Sylvia Mekler
editora
Bia Bach
vice-presidentes
Walter Arno Mannheimer
Mario Stefan Kallmann
design e produção gráfica
Charles Steiman
tesoureiros
Alexandre Dodeles
Paul Frey Wolff
secretária
Angélica Sztajn
presidente do conselho geral
Renato Carlos Kallmann
coord. ‘comissão 70 anos’
Sandra Lahtermaher
www.EntreLinhasEditorial.com
pesquisa
Michel Mekler
impressão e acabamento
WalPrint
Textos históricos foram reproduzidos
conforme o original.
©
União A.B.I. – 2007

Documentos relacionados