Monitoramento e identificação acústica de espécies de morcegos
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Monitoramento e identificação acústica de espécies de morcegos
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE Monitoramento e identificação acústica de espécies de morcegos da Mata Atlântica por sinais de ecolocalização: contribuições ecológicas e potencial para conservação Henrique Matheus Farias Orientador: Dr. Júlio E. Baumgarten Ilhéus - Bahia 2012 i Henrique Matheus Farias Monitoramento e identificação acústica de espécies de morcegos da Mata Atlântica por sinais de ecolocalização: contribuições ecológicas e potencial para conservação Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Estadual de Santa Cruz como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Área de concentração: Ecologia e conservação de comunidades, ecossistemas e paisagens. Orientador: Dr. Júlio E. Baumgarten Ilhéus - Bahia 2012 ii F224 Farias, Henrique Matheus Monitoramento e identificação acústica de espécies de morcegos da Mata Atlântica por sinais de ecolocalização: contribuições ecológicas e potencial para conservação / Henrique Matheus Farias. – Ilhéus, BA: UESC, 2012. xiii, 58 f.: il.; anexo. Orientador: Júlio E. Baumgarten. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da biodiversidade. Inclui referências. 1. Morcego – Mata Atlântica. 2. Morcego – Comportamento. 3. Cacaueiro – Bahia. 4. Ecologia animal. I. Título. CDD 599.4 iii Henrique Matheus Farias Monitoramento e identificação acústica de espécies de morcegos da mata atlântica por sinais de ecolocalização: contribuições ecológicas e potencial para conservação Aprovada em: 18/07/2012 Comissão examinadora: _________________________________________ Prof. Dr. Enrico Bernard (UFPE/PE) _________________________________________ Prof. Dr. Gledson Vigiano Bianconi (UESC/BA) _________________________________________ Prof. Dr. Júlio E. Baumgarten (Orientador – UESC/BA) iv Aos morcegos, por terem refeito em mim, o conceito de beleza. v AGRADECIMENTOS Ao CNPq pelo financiamento da bolsa de mestrado (processo n° 134027/2010-08) que permitiu minha permanência no Programa. À Universidade Estadual de Santa Cruz pelo apoio financeiro para a realização deste trabalho em campo. Ao Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da UESC pela oportunidade, em especial aos professores pelos grandes ensinamentos. Ao Professor Dr. Júlio Ernesto Baumgarten pelo incentivo (desde o primeiro e-mail que enviei pedindo orientação), também pela confiança, e boa vontade. Ao meu ex e eterno orientador Dr. Raymundo J. de Sá-Neto pelo empréstimo do equipamento que possibilitou a realização deste trabalho, e pela colaboração extraoficial. À minha família que mesmo de longe sempre apoia e respeita minhas escolhas. Aos colegas de Programa pelos dois anos de bom convívio e troca de experiências. Aos demais amigos de Ilhéus e da UESC. Ao pessoal do ICMBio, em especial ao analista Bruno Marchena, pelo apoio dado a mim para realização das coletas na Rebio de Una. Ao Luciano, Fábio e Jéssica por terem viabilizado as coletas na Fazenda São Sebastião. Ao Seu “Jonca” por ter viabilizado as coletas na Fazenda da Igreja Adventista. Aos colegas, Paulo Ribeiro, Marcelino Diaz, Vanessa Lázaro, Nereyda Falconí, Eduardo Barros e Leandro Oliveira pelo apoio em campo. Sou grato a Leandro Oliveira novamente por ter feito os mapas das áreas de coleta deste estudo. À Jefter Gabriela por ter melhorado a imagem dos espectrogramas do primeiro capítulo. Ao Dr. Mirco Solé pelo empréstimo do GPS e termo-higrômetro. Ao colega Heitor de Oliveira Braga pela grande amizade. Obrigado por tudo “mulambagem”. À Roberta Mariano, Allan Pereira e Erika Firmino por terem me dado teto nos meses finais de meu mestrado. Ao Google. Que para toda (boa) ação feita por vocês haja uma reação em igual intensidade e sentido contrário como postula a 3ª Lei de Newton. vi “Então se ouviu um leve assobio, um súbito assobio espaçoso de fundo sonoro ao ar livre. Todos os aparelhos de som do mundo, todos os rádios, todas as televisões, todos os gravadores, todos os alto-falantes, de agudos, graves ou frequências médias, em todo o mundo, silenciosamente se ligaram. Todas as latinhas, todas as latas de lixo, todas as janelas, todos os carros, todas as taças de vinho, todas as chapas de metal enferrujado, tudo foi ativado, funcionando como uma caixa de ressonância acusticamente perfeita. Antes de ser destruída, a Terra assistiria a uma demonstração da perfeição absoluta em matéria de reprodução sonora, o maior sistema de som jamais construído. Mas não se ouviu um concerto, nenhuma música, nenhuma fanfarra, e sim uma simples mensagem (...)”. (Douglas Adams, O Guia do Mochileiro das Galáxias) vii RESUMO Pesquisas que investigam o sistema de ecolocalização dos morcegos têm trazido muitos avanços no entendimento da biologia, comportamento e ecologia destes animais. Sob esta perspectiva, este trabalho explorou dois aspectos da bioacústica de morcegos: 1. A identificação acústica das espécies e famílias, e 2. O monitoramento acústico. Primeiramente, uma base de dados foi construída com os parâmetros acústicos de espécies que ocorrem no Brasil, a partir de dados disponíveis na literatura. Discutiu-se o uso e limitações desses dados para a identificação acústica das espécies em campo. Os principais parâmetros acústicos das famílias e espécies foram sumarizados e comparados via MANOVA, Teste de Hotelling e análise de agrupamento. Ao menos 32 das 82 espécies com potencial para identificação acústica que ocorrem no Brasil já possuem descrição de seus sonogramas, o que representa 39% do total de espécies conhecidas. Esta compilação de dados foi usada no reconhecimento de algumas espécies na segunda parte do trabalho relacionado ao monitoramento de atividade. Nesta parte, o objetivo foi realizar monitoramento acústico de insetívoros aéreos em duas áreas de mata e duas áreas de plantações sombreadas de cacau (cabrucas) na região sul da Bahia, Brasil. Ao todo, 24 noites de monitoramento foram realizadas – 12 nas cabrucas e 12 na mata, das 18 h às 00 h. A estrutura das assembleias foi analisada por meio de Índice de Shannon, Teste T de Student e curvas de rarefação, além de curvas em séries temporias para acompanhar a variação de atividade no decorrer da noite. Ao final, um esforço de 864 horas de monitoramento, resultou em 1971 registros acústicos de 24 sonotipos pertencentes a quatro famílias. Observaram-se valores de diversidade compatíveis entre as áreas de mata e cabrucas amostradas, provavelmente devido à capacidade das cabrucas em manter parte da biota original. Entretanto, a retirada da floresta nativa para cultivo do cacau favorece o estabelecimento de espécies de voo rápido associadas a ambientes antropizados, como alguns molossídeos. O padrão temporal de atividade observado também foi diferente, com a atividade dos insetívoros na cabruca sendo mais acentuada nos primeiros minutos da noite, ao passo que na mata a atividade foi mais constante. A diferença na composição de sonotipos e no padrão temporal observados na mata e cabruca podem ser explicados considerando a performance de ecolocalização e adaptações morfológicas para o voo das espécies além do comportamento delas. Em 24 noites de monitoramento obteve-se um valor 2,6 vezes maior na riqueza de insetívoros aéreos do sul da Bahia do que em 16 anos de coleta com técnicas tradicionais como as redes-de-neblina. Os dados deste estudo mostram que vespertilionídeos e molossídeos ainda estão subestimados. Espécies como Lasiurus cinereus, Myotis ruber e outras dos gêneros Eumops e Cynomops tiveram seu primeiro registro na região, e provavelmente são comuns. Deste modo, se faz necessário que o uso de técnicas de captura como as redes, sejam complementadas com o monitoramento acústico para que se tenha uma imagem mais real da fauna de morcegos nos habitats e paisagens. Palavras-chaves: banco de dados, bioacústica, cabrucas, ecolocalização, insetívoros, inventários acústicos, monitoramento de atividade, sonotipos, sul da Bahia. viii ABSTRACT Studies investigating the echolocation system of bats have brought many advances in understanding the biology, behavior and ecology of these animals. From this perspective, this study explored two aspects of bat bioacoustics. The first related to the acoustic identification of species - where a database was built with the acoustic parameters of species occurring in Brazil, from data available in literature. Discussed the use and limitations of these data for the acoustic identification of species in the field. The main acoustic parameters of families and species were summarized and compared via MANOVA. 32 of 82 species with the potential to identify acoustic which occur in Brazil already have description of their sonograms, which represents 39.02% of all known species. This database was used in the recognition of some species in the second part of this work on monitoring activity. This part aimed to conduct acoustic monitoring of aerial insectivores in two forest areas and two areas of shaded cocoa plantations (cabrucas) in southern Bahia, Brazil. 24 nights were completed – 12 in cabrucas, 12 in the woods, from 18 h to 00 h. Structure of the assemblies were analyzed using the Shannon Index, Student's t test and rarefaction curves, and time series was used to monitor the temporal variation of activity during the night. Finally, an effort of 864 hours of monitoring resulted in 1971 records and 24 phonetype of four families. Observed diversity values compatible between forested areas and cabrucas because of the ability of cabrucas in keeping part of the original biota. However, the removal of native forest for cultivation of cocoa favors the establishment of species of swift flight associated with anthropogenic environments such as the Molossidae. The temporal pattern of activity observed was also different, with the activity of insectivorous in cabruca was more pronounced in the first minute of the night, while the forest activity was more constant. The difference in composition phonetype and temporal pattern observed in the woods and cabruca can be explained by considering the performance and morphological adaptations for echolocation and flight of the species beyond their behavior. In 24 nights of monitoring was obtained a value 2,6 times more than in the richness of aerial insectivores in southern Bahia than in 16 years to collect using traditional techniques such as mist nets. Data from this study show that vespertilionids and Molossids are still underestimated and that species never before captured in the region – how Lasiurus cinereus, Myotis ruber and other to genus Eumops and Cynomops may be common. The use of mist net must be complemented with acoustic monitoring to have a view more real and less misleading of the bat fauna habitats and landscapes. Key words: acoustic surveys, activity monitoring, insectivores, cabrucas, database, phonetype, Southern Bahia. ix LISTA DE TABELAS Capítulo 2 Tabela 1: Lista de espécies nas quatro áreas de estudo classificadas com base nos sonotipos registrados............................................................................................................................. 36 Material Suplementar Tabela 1. Estatística descritiva de parâmetros acústicos das espécies pertencentes a família emballonuridae com registro no Brasil........................................................................….……… 51 Tabela 2. Estatística descritiva de parâmetros acústicos das espécies pertencentes a família molossidae com registro no Brasil .......................................................................……………...... 52 Tabela 3. Estatística descritiva de parâmetros acústicos das espécies pertencentes a família vespertilionidae com registro no Brasil ………………………………………………………………………......... 53 Tabela 4. Estatística descritiva de parâmetros acústicos das espécies pertencentes a cinco famílias com registro no Brasil.......................…………………………………………………………………..…..55 x LISTA DE FIGURAS Capítulo 1 Figura 1: Número de espécies de morcegos que ocorrem no Brasil com descrições acústicas para os seus sinais de ecolocalização. Filostomídeos não incluídos.......................................... 15 Figura 2: Sonograma com sinais de ecolocalização emitidos durante fase de busca de sete espécies de emballonurídeos que ocorrem no Brasil................................................................. 16 Figura 3: Sonograma com sinais de ecolocalização emitidos durante fase de busca de 14 espécies de mossídeos que ocorrem no Brasil........................................................................... 17 Figura 4: Sonograma com sinais de ecolocalização emitidos durante fase de busca de cinco espécies de vespertilionídeos que ocorrem no Brasil................................................................ 18 Figura 5: Sonograma com sinais de ecolocalização emitidos durante fase de busca de uma espécie de moormopidae e duas de noctilionidae..................................................................... 19 Figura 6: Análise de agrupamento (UPGMA) com base na similaridade nos parâmetros acústicos dos sinais de ecolocalização de insetívoros, por meio de distância euclidiana. Família Molossidae (esquerda), Embalonuridae (centro) e Vespertilionidae (direita)........................... 20 Capítulo 2 Figura 1: mapa das áreas de estudo nos municípios de Ilhéus e Una, sul da Bahia, Brasil........ 34 Figura 2: Sonograma mostrando os sonotipos registrados nas 04 áreas de estudo, nos municípios de Ilhéus e Una, Bahia, Brasil................................................................................... 37 Figura 3: Curvas de rarefação baseada em sonotipos, feitas a partir de registros acústicos obtidos em duas áreas de cabrucas e duas áreas de mata na região sul da Bahia, Brasil.......... 38 Figura 4: Frequência de registros acústicos das famílias em cada tipo de ambiente nas quatro áreas de estudo amostradas, no sul da Bahia, nordeste do Brasil............................................. 39 Figura 5: Padrão temporal de atividade dos insetívoros durante as 24 noites de gravações. 18 h (0 min), 00 h (360 min)............................................................................................................... 40 Material Suplementar Figura 1: Oscilograma (superior) e Espectrograma (inferior) mostrando o comportamento típico de ecolocalização de um insetívoro aéreo durante uma gravação completa de uma chamada de ecolocalização....................................................................................................... 56 Figura 2: Os três tipos básicos de sinais de ecolocalização durante a fase de busca segundo Schintzler e Kalko (2001)............................................................................................................ 57 xi SUMÁRIO INTRODUÇÃO GERAL ..........……………………………………………………….............................................. 1 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 6 CAPÍTULO 1 - Coletânea de descrições acústicas das espécies de morcegos brasileiras: impacto dos monitoramentos acústicos para o conhecimento e conservação da diversidade de quirópteros ................................................................................................................................ 11 RESUMO.................................................……………………………………………………………………………..… 11 INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 12 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................................................. 13 RESULTADOS.............................................................................................................................. 14 Síntese dos Meta-dados............................................................................................................ 14 Caracterização dos sinais......................................................................................................... 15 Família Emballonuridae............................................................................................................ 15 Família Molossidae.................................................................................................................... 16 Família Vespertilionidae............................................................................................................ 17 Outras famílias.......................................................................................................................... 18 DISCUSSÃO................................................................................................................................ 20 Estrutura geral e peculiaridades nos sinais de ecolocalização entre os morcegos.................... 20 Variações nos sinais de ecolocalização...................................................................................... 22 Variação intraespecífica............................................................................................................. 22 Variação interespecífica............................................................................................................ 23 Por que investir em monitoramento acústico: perspectivas para o Brasil................................ 24 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 26 CAPÍTULO 2 - Monitoramento acústico de insetívoros aéreos em áreas naturais e plantações de cacau na região de Ilhéus, Bahia, nordeste do Brasil................................................................. 31 RESUMO.................................................……………………………………………………………………………..… 31 INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 32 xii MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................................................. 33 Área de Estudo........................................................................................................................... 33 Coleta de dados....................................................................................................................... 34 Análise de dados........................................................................................................................ 35 RESULTADOS............................................................................................................................. 36 Comparação de diversidade de sonotipos nos ambientes.................................................................................................................................. 38 Análise de composição de sonotipos nas assembleias................................................................................................................................ 39 Diferença de níveis de atividade de insetívoros aéreos........................................................................................................................................ 39 Padrão temporal de atividade.................................................................................................................................... 40 DISCUSSÃO................................................................................................................................ 41 Análise de estrutura das assembleias dos insetívoros aéreos................................................... 41 Influência da saída dos abrigos no padrão temporal de atividade............................................ 43 Vantagens do método em inventários e estudos de comunidade................................................................................................................................44 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................. 50 MATERIAL SUPLEMENTAR – Listas de espécies que ocorrem no Brasil com descrições acústicas separadas por família................................................................................................................. 51 MATERIAL SUPLEMENTAR - Oscilogramas e Espectrogramas de sinais de ecolocalização de insetívoros aéreos.......................................................................................................................56 xiii INTRODUÇÃO GERAL Longe de serem os animais mais carismáticos do Reino Animal e queridos pelos humanos, os morcegos são talvez – juntamente com os representantes da herpetofauna – os vertebrados mais injustiçados do mundo. A falta de informação sobre estes animais leva ao medo, ódio, matança indiscriminada, e a possibilidade de extinção de espécies (Paiva, 2010). Isso tudo causado por mitos, lendas e mentiras (Paiva, 2010). Fobias e ignorância a parte, o fato é que morcegos são notáveis sobre vários aspectos. Morcegos são um dos grupos de mamíferos mais diversificados em número de espécies e tipo de dieta (Flaquer et al., 2007; MacSwiney et al., 2008 Schnitzler e Kalko, 2001; Surlykke e Kalko, 2008), o que os tornam importantes elos de interações ecológicas (Schnitzler e Kalko, 2001). Desempenham papéis representativos nos ecossistemas (Wickramasinghe et al., 2003), prestando importantes serviços ambientais (Cleveland et al., 2006; Fleming e Racey, 2009; Jones et al., 2009; Tuttle, 1988). Por exemplo, morcegos insetívoros chegam a consumir 600 mosquitos por hora (Tuttle, 1988), o que contribui para regulação das populações de insetos, não permitindo que elas cresçam desordenadamente, reduzindo a pressão de herbivoria sobre a estrutura da vegetação (Kalka et al., 2008; Kalka e Kalko, 2006). Na América do Norte, aproximadamente 20 milhões de insetívoros consomem cerca de 250 toneladas de insetos em uma única noite (Long et al., 1998; Tuttle, 1998), o que reduz o risco de pragas nas plantações e a consequente demanda por agrotóxicos, ajudando na estabilidade dos sistemas agrícolas (Cleveland et al., 2006; Federico et al., 2008; Long et al., 1998). Calcula-se que o valor econômico dos serviços ambientais de controle de pragas das grandes colônias de Tadarida brasiliensis nas lavouras de algodão no estado do Texas, Estados Unidos, gire em torno de 741 mil dólares por ano (Cleveland et al., 2006). Além disso, outras guildas como os nectarívoros e frugívoros, realizam outros serviços importantes dentro da dinâmica dos ecossistemas e nos cultivos. Uma variedade enorme de plantas depende quase que exclusivamente dos morcegos para dispersar suas sementes, enquanto outras para sua polinização (Aguirre et al., 2010; Reis et al., 2007; Tang et al., 2007). Até mesmo espécies hematófagas possuem importância econômica na medida em que são usadas pela indústria farmacêutica no desenvolvimento de medicamentos para terapias fibrinolíticas, devido à presença de substâncias anticoagulantes na saliva deles (Ciprandi et al., 2003; Gardellv et al., 1989; Witt et al., 1992). Morcegos também são os únicos mamíferos na natureza que desenvolveram capacidade plena de voo (Arita e Fenton, 1997; Paiva, 2010; Reis et al., 2011). Isto em total penumbra, graças à ecolocalização - um sistema de orientação onde o reflexo do som emitido por eles nos objetos é processado pelo sistema auditivo altamente especializado; e a informação resultante é usada na detecção, classificação e localização de alvos no espaço (Bogdanowicz et al., 1999; Holderied et al., 2008; Kalko, 1993; Kalko e Aguirre, 2006). A ecolocalização foi uma importante adaptação que possibilitou a eles este tamanho sucesso ecológico (Schitzler e Kalko, 2001). 1 Todos os morcegos, com exceção das raposas voadoras, usam os sinais de ecolocalização como forma de orientação espacial e captura de alimento (Jones, 1999; Kalko e Aguirre, 2006). As ondas sonoras são de alta frequência – normalmente inaudíveis aos ouvidos humanos, e variam desde 10-12 kHz em alguns molossídeos, chegando até a 200-210 kHz em pequenos morcegos hipossiderídeos da África (Kalko e Aguirre, 2006). Normalmente existe uma correlação negativa entre tamanho corporal dos morcegos e o pico de frequência emitido por eles (Bohn et al., 2006; Bogdanowicz et al., 1999; Jung et al. 2007), ou seja, quanto maiores os indivíduos, normalmente mais graves serão as chamadas de ecolocalização emitidas. Além do tamanho corporal, diferentes circunstâncias, tais como estratégia de forrageio, tipo de habitat, de dieta, além do comportamento, e filogenia, são importantes fatores que determinam a estrutura das chamadas de ecolocalização, favorecendo diferentes tipos de sinais entre os indivíduos e as espécies (Broders et al., 2004; Kalko e Aguirre, 2006; Schitzler e Kalko, 2001). Em campo, as chamadas são registradas a partir de detectores de ultrassons que possibilitam a audição das chamadas de ecolocalização da maioria das espécies, e a subsequente visualização e comparação dos sinais em espectrogramas e oscilogramas (MacSwiney et al., 2008). Assim, o comportamento de ecolocalização apresentado pelos insetívoros aéreos, gráfica e acusticamente, do momento da busca por alimento até o momento de captura, pode ser dividido em três fases bem distintas: a fase de busca usada na detecção de uma presa potencial; a fase de aproximação usada na perseguição da presa; e a fase terminal ou feeding buzz usada no momento que antecede a captura (Murray et al., 2001; Kalko e Aguirre, 2006). Durante a fase de busca, os insetívoros aéreos emitem sinais de ecolocalização em um padrão temporal regular enquanto procuram por algum inseto. Quando eles obtêm informação sonora (eco) de um potencial alimento, eles aumentam o ritmo de suas chamadas diminuindo o intervalo de tempo entre os pulsos, saindo então da fase de busca (search phase) e entrando na fase de aproximação (approach phase) do inseto. A fase de aproximação termina quando o morcego, prestes a capturar o alimento, emite muitas chamadas curtas (0,5 ms) em pequenos intervalos de tempo (5 ms). Esta fase é chamada de feeding buzz ou fase captura (Kalko e Aguirre, 2006; Schitzler e Kalko, 2001) (Figura 1, Material Suplementar). De maneira geral, as chamadas emitidas durante a fase de busca são as mais características dos morcegos e são as que, portanto, devem ser usadas para identificação das espécies (Kalko e Aguirre, 2006; Murray et al., 2001). Contudo, é desejável que somente grandes sequências de chamadas sejam usadas, e que várias gravações de mesmo indivíduo ou espécie sejam analisadas, com qualidade mínima de gravação, com pouco eco e ruído (Kalko e Aguirre, 2006). A partir da análise dos sinais de ecolocalização emitidos pelos morcegos durante a fase de busca, uma ampla variedade de tipos de chamadas específicas pode ser observada entre as espécies, evidenciada por singularidades no desenho dos sinais de ecolocalização nos espectrogramas e oscilogramas; variação no número de harmônicas – frequências secundárias que compõe o sinal, múltiplas da frequência principal; diferenças nas medidas da frequência sonora dos sinais, medidas em quilohertz (kHz); variações em parâmetros temporais como 2 duração e intervalo dos pulsos de ecolocalização, medidos em milissegundos (ms), além do nível de pressão sonora (SPL), medido em decibéis (dB) (Schitzler e Kalko, 2001). Deste modo, os sinais de ecolocalização dos microquirópteros podem ser classificados de acordo com três tipos básicos: Sinais de banda-larga, normalmente um componente de frequência modulada (FM), descendente, de alto comprimento de banda e de variação abrupta na frequência sonora em curto intervalo de tempo; Sinais de banda-curta (CF – Frequência constante; ou QCF – Frequência quase constante), que são caracterizados por mudança de poucos ou nenhum kilohertz entre o início e final do componente; ou ainda a combinação destes dois tipos (Sinais mistos) (Schitzler e Kalko 2001). Estes três tipos básicos de desenho surgem a partir de restrições ecológicas que exercem forte pressão sobre a estrutura dos sinais, implicando em sinais específicos para alvos específicos (Schitzler e Kalko, 2001) (Figura 2, Material Suplementar). Por exemplo, espécies que possuem sinais de ecolocalização de banda-curta, duração longa e baixa frequência, normalmente estão associadas a espaços abertos e sem obstáculos porque estas características acústicas permitem a elas realizar uma varredura maior do espaço com seus sinais, além de detectar maiores presas do que espécies que emitem sinais FM de bandalarga (Ávila-Flores e Fenton, 2005; Fenton et al., 1998; Jung et al. 2007; Schnitzler e Kalko, 2001). Já espécies que emitem sinais mistos (FM-CF), normalmente estão associadas às bordas e clareiras de vegetação, pois, a navegação nestas áreas requer delas adaptações nos sinais de ecolocalização que tragam informações não somente sobre detecção de alvos, como também de classificação e separação dos objetos (Schnitzler e Kalko, 2001). Elas precisam evitar colisões com a vegetação próxima, e também discriminar presas potenciais dos demais objetos de fundo (Jung et al. 2007; Schnitzler e Kalko, 2001). Deste modo, os sinais mistos são mais apropriados porque o componente CF fornece informações sobre distância e direção dos objetos (Jung et al. 2007; Schnitzler e Kalko, 2001); enquanto que o componente FM fornece informações sobre textura e localização dos alvos (Jung et al. 2007; Kalko e Aguirre, 2006; Schnitzler e Kalko, 2001; Weinbeer e Kalko, 2007). Finalmente, sinais de banda-larga são menos adequados para detecção dos ecos fracos encontrados em espaços abertos, porém são muito bons para localização exata dos alvos onde a amplitude e o ângulo podem ser medidos com acurácia (Schnitzler e Kalko, 2001). Espécies que emitem sinais FM de banda-larga estão associadas com o interior da vegetação porque este tipo de sinal é adequado para classificação dos alvos, e para trazer informações sobre textura dos objetos e noção de profundidade, o que é mais apropriado em situações complexas onde existe grande quantidade de obstáculos, como no interior das florestas (Schnitzler e Kalko, 2001). Em suma, espécies que forrageiam em habitats similares, com modo de forrageio e tipo de dieta similar, tendem a compartilhar adaptações similares em seus sinais de ecolocalização, emitindo chamadas de busca habitat-específicas (Schnitzler e Kalko, 2001). Deste modo, pesquisas que investigam as chamadas de ecolocalização têm trazido muitos avanços no entendimento da biologia, comportamento e ecologia destes animais (Arita e Fenton, 1997; Kalko e Aguirre, 2006; Schnitzler e Kalko, 2001). Assim, sabe-se que morcegos 3 são capazes de reconhecer e diferenciar objetos em três dimensões por meio das análises cerebrais dos ecos de seus sinais de alta frequência sonora (Kalko, 1993; Kalko e Aguirre, 2006), e que eles usam um amplo arranjo de estratégias de localização e discriminação de alvos, associadas a uma alta diversidade de estruturas nos sinais de ecolocalização (Schnitzler e Kalko, 2001). Além disso, muitas das características da morfologia e ecologia dos morcegos relacionam-se não somente como uma adaptação ao voo, mas também com o uso da ecolocalização (Ávila-Flores e Fenton, 2005; Genzel e Wiegrebe, 2008; Holderied et al., 2008; Ibañez et al., 2002; Jones e Rydell, 1994; Schnitzler e Kalko, 2001). A ecolocalização também tem sido usada por pesquisadores em vários países para identificar espécies de morcegos acusticamente (ver Fukui et al., 2004; Jung et al., 2007; Obrist et al., 2004; O'Farrel e Miller, 1997; Papadatou et al., 2008; Rydell et al., 2002; Sun et al., 2008). Os primeiros estudos documentando padrões característicos singulares de algumas espécies na estrutura de suas chamadas de ecolocalização foram publicados há mais de trinta anos (Ahlén, 1981; Fenton e Bell, 1981 apud Corcoran, 2007; Obrist et al., 2004). Entretanto, a acurácia da identificação acústica varia em diferentes níveis de incerteza a depender do grupo taxonômico, podendo tornar a identificação problemática (Obrist et al., 2004b; Murray et al., 2001; Vaughan et al., 1997). Existem algumas restrições para grupos de chamadas similares como o gênero Myotis e a subfamília Phylostomatinae, onde a separação das espécies se torna bem mais difícil (Obrist et al., 2004b). Além disso, depara-se com o problema de que algumas espécies, sobretudo dentro da família Phyllostomidae, possuem sinais pouco conspícuos e que, portanto, são registradas em menor frequência com o uso de detectores (Parsons e Jones, 2000), onde nestes casos o uso de redes-de-neblina se torna mais apropriado (Kalko e Aguirre, 2006; MacSwiney et al., 2008). Outro aspecto importante é que os sinais de ecolocalização também permitem o monitoramento da atividade das assembleias (Kalko, 1993; Kalko e Aguirre, 2006; Vaughan et al., 1997). Mesmo que o número de indivíduos não possa ser contado pelos detectores, ainda assim o número de registros acústicos (passes) fornece uma medida de atividade, e o nível de atividade pode ser comparado entre os habitats por sítios (Vaughan et al., 1997), fornecendo informação valiosa sobre o uso de habitat (Kalko e Aguirre, 2006). A qualidade do habitat pode ser avaliada quantitativamente, por exemplo, pela quantidade de passes e também pelo número de vezes que os morcegos emitem feeding buzz por intervalo de tempo (Kalko e Aguirre, 2006). Além disso, detectores de ultrassons permitem amostragens de uma área maior que redes e armadilhas, contudo, nem todas as espécies possuem as mesmas condições de detecção, devido às diferenças no uso do espaço e a variação na intensidade das vocalizações (Vaughan et al., 1997). O presente estudo concentrou-se nestes aspectos da ecolocalização dos morcegos e foi dividido em duas frentes: 1. A identificação acústica das espécies (Capítulo 1) – onde o objetivo foi montar uma base de dados a partir de trabalhos disponíveis na literatura com descrições dos sonogramas de espécies que ocorrem no Brasil, e que possuem potencial para a 4 identificação acústica em campo; e posteriormente discutir o uso e limitações desta abordagem; 2. O Monitoramento de atividade (Capítulo 2) – onde o objetivo foi realizar o monitoramento acústico das assembleias de insetívoros aéreos em áreas de mata e plantações de cacau na região sul da Bahia, e comparar o padrão temporal de atividade e a estrutura das duas assembleias nos ambientes. O uso da ecolocalização dos morcegos para a identificação acústica e monitoramento de atividade se justifica porque possibilita o registro de espécies que normalmente são subamostradas em estudos que usam técnicas tradicionais como redes-de-neblina (Furey et al., 2009; Kalko e Aguirre, 2006; Kunz e Brock, 1975; MacSwiney et al., 2009; MacSwiney et al., 2008), o que é interessante em inventários de fauna de morcegos, ações conservacionistas de populações e espécies, e estudos de comunidade. Além disso, esta metodologia é menos invasiva (uma vez que é passiva), causando menos distúrbios ao habitat, aos morcegos e a outros animais de hábitos noturnos que poderiam ser acidentalmente capturados com as redes e outras armadilhas. 5 REFERÊNCIAS Aguirre, L. F., Moya, M. I., Galarza, M. I., Vargas, A., Marquez, K. B., Peñaranda, D. A., et al. (2010). Plan de Acción para la Conservación de los Murciélagos Amenazados de Bolivia. (Aguirre, L. F. Ed.) (p. 90). Cochabamba: Etreus Impresores. 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Este cenário ajuda a trazer incertezas sobre o atual conhecimento da diversidade de quirópteros, uma vez que o uso de redes-de-neblina é especialmente ineficaz para amostragem de insetívoros aéreos. Não há descrição dos sinais de ecolocalização para a maior parte das espécies neotropicais. Deste modo, uma compilação de dados foi construída a partir de trabalhos disponíveis na literatura sobre os sonogramas que possuem potencial para a identificação de espécies de morcegos que ocorrem no Brasil. As principais variáveis acústicas das famílias e espécies foram sumarizadas e comparadas via MANOVA, Teste de Hotelling e análise de agrupamento. Apesar da escassez de estudos, 32 das 82 espécies com potencial para identificação acústica que ocorrem no Brasil já possuem descrição de seus sonogramas, o que representa 39% do total. Das principais famílias, 46.4% (13 spp.) dos molossídeos que ocorrem no Brasil (13 spp.) já possuem sonogramas descritos, além de 26,9% dos vespertilionídeos (7 spp.) e 50% dos emballonurídeos (8 spp.). Estes dados agora compilados podem ser utilizados no Brasil para identificação de algumas espécies de insetívoros aéreos, e servir como início para construção de uma base de dados ainda maior e mais robusta, com a inclusão de descrições acústicas inéditas de outras espécies. Isto permitirá, em médio prazo, uma visão mais representativa e menos enviesada das assembleias de morcegos nos habitats e paisagens, além de trazer dados que possam contribuir para conservação e manejo deles, especialmente dos insetívoros aéreos. PALAVRAS-CHAVE: base de dados; conservação; ecolocalização; inventários acústicos, insetívoros aéreos. 11 INTRODUÇÃO Muito do que se sabe sobre a biologia dos morcegos tem sido obtido por captura destes animais em redes e armadilhas (O'Farrel e Gannon, 1999). Esta metodologia é mais apropriada para captura e registro de espécies adaptadas a espaços complexos, tais como as catadoras, frugívoras, nectarívoras, e sanguívora (Kalko e Aguirre, 2006; MacSwiney et al., 2008; Rydell et al., 2002). No caso dos insetívoros aéreos, em especial emballonurídeos, molossídeos e vespertilionídeos, esta metodologia é relativamente ineficiente porque ela é incapaz de coletar espécies que voam em grandes altitudes, áreas abertas e por sobre o dossel das florestas (Fukui et al., 2004; Furey et al., 2009; Kalko e Aguirre, 2006; Rydell et al., 2002). Deste modo, insetívoros aéreos tendem a ser sub-amostrados na maioria dos esforços que usam métodos de captura (Kalko e Aguirre, 2006; Kunz e Brock, 1975; MacSwiney et al., 2008; MacSwiney et al., 2009; Rydell et al., 2002). Mais recentemente, biólogos têm usado monitoramento por sinais de ecolocalização como uma forma eficaz de aumentar a quantidade de espécies registradas em inventários biológicos e estudos de comunidade (Estrada-Villegas et al., 2010; Furey et al., 2009; MacSwiney et al., 2008; O'Farrel e Gannon, 1999). Justamente os insetívoros aéreos são a guilda mais apropriada para este tipo de abordagem pelo fato destes morcegos possuírem sinais mais conspícuos e de alta intensidade, o que torna possível a identificação e monitoramento com relativa eficiência pelos métodos acústicos (Kalko e Aguirre, 2006; Rydell et al., 2002). Além disso, o uso de redes possui outras complicações, como dificuldades logísticas ou até mesmo a impossibilidade de uso delas em locais de difícil acesso. Outro fator negativo é a diminuição gradativa do sucesso de captura em um dado local - consequência de resposta de aprendizado dos morcegos em relação à posição exata das redes onde são realizados esforços contínuos de coleta (Kunz e Brock, 1975). Estes fatores podem promover o uso de detectores como uma metodologia complementar para as redes (Kunz e Brock, 1975). O uso conjugado dos detectores de ultrassons com os métodos tradicionais, como as redes-deneblina, permite uma visão mais representativa e menos enganosa das assembleias de morcegos, adicionando novas espécies em curtos intervalos de tempo, e com menor esforço de coleta (MacSwiney et al., 2008), além de trazer informações mais precisas sobre o status de conservação, aumentando a quantidade de registro de algumas espécies tidas como raras, bem como as áreas de ocorrência delas (Kalko e Aguirre, 2006). Nos trópicos, onde os filostomídeos predominam, redes-de-neblina são o método de amostragem mais apropriado (MacSwiney et al., 2008). Entretanto, somente com o uso conjugado das redes com o monitoramento acústico será possível uma lista mais realista da diversidade de morcegos nos habitats e paisagens (MacSwiney et al., 2008). Especialmente no Brasil, poucas pesquisas têm sido realizadas com monitoramento acústico, com esta metodologia sendo usada de maneira complementar às redes-de-neblina (e.g., Barnett et al., 2006; Fenton et al., 1999; Sampaio et al., 2003). Ainda não foi construído nenhum inventário em nenhuma região com a descrição acústica das espécies que ocorrem neste país. Deste modo, o objetivo deste estudo foi: (i) elaborar uma base de dados a partir de trabalhos disponíveis na literatura sobre os sonogramas que possuem potencial para a identificação 12 acústica de espécies de morcegos que ocorrem no Brasil; (ii) descrever as principais características no desenho dos sinais das famílias e comparar as características acústicas dos insetívoros aéreos já descritos; e (iii) discutir o uso desses dados para construção de inventários acústicos, investigando seu potencial e limitações. MATERIAL E MÉTODOS A base de dados com a descrição dos sonogramas com potencial para identificação acústica de espécies de morcegos que ocorrem no Brasil foi construída a partir de três bases de busca na internet: i) Web of Science (http://wokinfo.com); ii) Scopus (www.scopus.com); e iii) Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br/). Palavras como “calls”, “echolocation”, “bat”, “identification”, “description”, ”acoustic identification”, “Brazil”, e “Brasil”, dentre outras, foram usadas durante a busca. Além disso, o nome científico de todas as espécies que ocorrem no Brasil - especialmente o epíteto - foi associado (variável lógica “and”) a estas palavras em uma segunda fase de busca nas três bases. As buscas online ocorreram durante o período de setembro de 2010 a maio de 2012. Os dados de artigos que continham descrições acústicas de espécies que ocorrem no Brasil foram compilados em planilhas, separados primeiro por família, e em seguida os sinais das espécies foram categorizados de acordo com os três tipos básicos – sinais de banda-larga de frequência modulada (FM); sinais de banda-curta de frequência quase constante (QCF) e de frequência constante (CF); além de sinais com a presença dos dois componentes (Mistos – p.ex.: FM/CF), como definido por Schnitzler e Kalko (2001). Além disso, procurou-se determinar o número de indivíduos ou passes usados em cada descrição acústica nas publicações científicas, uma vez que a variação das caracaterísticas acústicas dependem do tamanho amostral (Obrist et al. 2004a). Para testar a existência de diferenças entre os sinais das espécies dentro de cada família, foi aplicada primeiro MANOVA nas espécies das três principais famílias de insetívoros aéreos que ocorrem nos trópicos (Vespertilionidae, Molossidae e Emballonuridae), além do teste de Hotelling a posteriori para comparações pareadas das espécies (Ayres et al., 2007). As variáveis acústicas usadas foram: harmônica principal; duração (ms); intervalo (ms); frequência inicial (kHz), final (kHz), e máxima (kHz); mínima (kHz); frequência de maior energia/intensidade (kHz) – também chamada de pico de frequência em alguns trabalhos, além dos comprimentos de banda dos componentes (kHz). Os valores de lambda de Wilks (MANOVA) e da estatística F do teste de Hotelling foram obtidos para testes de significância (Fukui et al., 2004; Obrist et al., 2004) usando os pacotes asbio (Aho, 2011) e candisc (Friendly e Fox, 2011) do programa R (R Development core team, 2010). As comparações foram feitas usando diferentes variáveis acústicas para cada família devido às diferenças de metodologia dos trabalhos usados como referência. 13 Análise de agrupamento foi usada para comparar a similaridade das espécies nas três famílias com base nos parâmetros acústicos dos sinais de ecolocalização, usando o pacote vegan (Oksanen et al., 2011) do programa R (R Development core team, 2010). Foram construídos agrupamentos com o método de ligação único (Single Linkage) com médias aritméticas (UPGMA), além de distância euclidiana como método de similaridade. Estes métodos foram escolhidos porque apresentaram elevados coeficientes cofenéticos (r>0.8) para os três agrupamentos, o que indica boa representatividade da matriz de dados na análise (Provete et al., 2011). RESULTADOS Síntese dos Metadados Segundo Reis et al. (2011), existe o registro de 172 espécies de morcegos no Brasil até o ano de 2011 – distribuídas em nove famílias: Emballonuridae (16 spp.); Phyllostomidae (90 spp.); Mormoopidae (4 spp.); Noctilionidae (2 spp.); Furipteridae (1 sp.); Thyropteridae (4 spp.); Natalidae (1 sp.); Molossidae (28 spp.); Vespertilionidae (26 spp.). Dessas, 82 espécies (47,7%) não são filostomídeos, sendo alvos preferenciais para pesquisas com identificação acústica e monitoramento de atividade por sinais de ecolocalização. Foram encontrados 202 publicações sobre estudos com bioacústica de morcegos nas três bases de busca, o que permitiu uma compilação de dados com a descrição acústica de 32 espécies a partir de dados disponíveis em onze trabalhos científicos (Tabelas 1, 2, 3 e 4 – Material Suplementar) (Jung et al. 2007; Ávila-Flores e Fenton 2005; Marquez, 2009; Mora et al. 2004; Rydell et al, 2002; O'Farrel et al., 2000; Surlykke e Kalko 2010; Siemers et al., 2001; Fenton et al., 1999; Kalko et al., 1998; Schnitzler e Kalko, 1994). Estes dados representam 39% das 82 espécies com potencial para identificação acústica, registradas no Brasil. A maioria dos trabalhos com descrições acústicas de espécies não puderam ser aproveitados na construção da base de dados porque foram feitos com espécies que não possuem registros no Brasil. Ao todo, 46,4% (13 sp) dos molossídeos que ocorrem no Brasil já possuem sonogramas descritos, além de 26,9% dos vespertilionídeos (7 sp); 50% dos emballonurídeos (8 sp); todos os noctilionídeos e furipterídeos (duas e uma espécies, respectivamente); e 25% dos mormoopídeos (1 sp); e nenhum tiropterídeo e natalídeo (Figura 1). 14 Figura 1: Número de espécies de morcegos que ocorrem no Brasil com descrições acústicas para os seus sinais de ecolocalização. Filostomídeos não incluídos. Caracterização dos sinais Família Emballonuridae De maneira geral, emballonurídeos possuem sinais de ecolocalização de maior energia na segunda harmônica, além de pequenos componentes FM de banda-curta, intercalados com o componente CF de maior comprimento (Jung, et al. 2007) (Figura 2). A MANOVA e teste de Hotelling foram feitos usando seis variáveis: duração (DUR); intervalo entre os pulsos (IPI); frequência máxima (MaxF); comprimento de banda do 1º componente FM (BW1); comprimento de banda do componente CF (BW-CF); e comprimento de banda do 2º componente FM (BW2). Houve diferenças significativas entre os sonogramas das espécies de emballonurídeos analisadas (MANOVA - Wilk’s lambda < 0,001, F = 22,1, p < 0,001), e o teste de Hotelling também mostrou valor significativo em todas as comparações pareadas entre as espécies desta família. Os valores das variáveis acústicas das espécies de emballonurídeos são dados na Tabela 1 – Material Suplementar. 15 Figura 2: Sonograma com sinais de ecolocalização emitidos durante fase de busca de sete espécies de emballonurídeos que ocorrem no Brasil. C.b., Cormura brevirostris; C.a., Cyttarops alecto; D.a., Diclidurus albus; P.k., Peropteryx kappleri; R.n., Rhynchonycteris naso; S.b., Saccopteryx bilineata; S.l., Saccopteryx leptura. Harmônicos secundários não evidenciados. Adaptado de Jung et al. (2010). Família Molossidae Em relação ao desenho, os molossídeos apresentam chamadas de componente QCF, raramente com mais de uma harmônica, geralmente com pulsos e intervalos entre pulsos de maior duração (Figura 3). Os valores das variáveis acústicas das espécies de molossídeos são dados na Tabela 2 – Material Suplementar. As comparações entre os sonogramas das espécies de molossídeos foram feitas com base em cinco variáveis: Duração (DUR); Intervalo entre os pulsos (IPI); Frequência máxima (MaxF); Frequência inicial (SF); e Frequência final (EF). A MANOVA mostrou que as chamadas das espécies de molossídeos apresentam diferenças significativas (MANOVA - Wilk’s lambda < 0,001, F = 29,5, p < 0,001), entretanto o teste de Hotelling mostrou que não existe diferença significativa quando se comparam os sinais de Tadarida brasiliensis e Molossus currentium (F = 0,81, p = 0,54). 16 Figura 3: Sonograma com sinais de ecolocalização emitidos durante fase de busca de 14 espécies de mossídeos que ocorrem no Brasil. C.g., Cynomops greenhalli; C.p., C. planirostris; E.p., Eumops perotis; E.a., E. auripendulus; E.g., E. glaucinus; M.t., Molossops temminckii; M.r., Molossus rufus; M.cr., M. currentum; M.cb., M. coibensis; M.m., M. molossus; N.m., Nyctinomops macrotis; N.l., N. laticaudatus; P.c., Promops centralis; T.b., Tadarida brasiliensis. Adaptado de Marquez (2009); Avila-Flores e Fenton (2005); Mora et al. (2004) e MacSwiney et al. (2008) Família Vespertilionidae Espécies desta família geralmente emitem sinais uni-harmônicos com um componente FM de banda-larga seguido de outro componente QCF (Kalko e Aguirre, 2006) (Figura 4). Os valores das variáveis acústicas das espécies são dados na Tabela 3 – Material Suplementar. A primeira harmônica é a mais forte e raramente se vê mais de uma harmônica em suas chamadas. Para as espécies de vespertilionídeos, a MONOVA e o teste de Hotelling foram construídos usando quatro variáveis: duração (DUR); Frequência máxima (MaxF); Frequência inicial (SF); e Frequência final (EF). As chamadas das espécies de vespertilionídeos também mostraram diferenças quando consideradas estas quatro variáveis (Wilk’s lambda<0,001, F=29,5, p<0,001). O teste de Hotelling também mostrou valor significativo em todas as comparações pareadas entre as espécies desta família. 17 Figura 4: Sonograma com sinais de ecolocalização emitidos durante fase de busca de cinco espécies de vespertilionídeos que ocorrem no Brasil. E.f., Eptesicus furinalis; L.c1., Lasiurus cinereus voando em área aberta; L.c2., L. cinereus voando em área com algum obstáculo; L.e., L. Ega; M.n1, Myotis nigricans voando em área aberta; M.n2, M. nigricans voando em áreas de borda; M.a., M. albescens; Adaptado de Rydell et al. (2002); O'Farrel et al. (2000); Surlykke e Kalko (2008); Siemers et al. (2001). Outras famílias Mormoopidae e Noctilionidae são as outras duas famílias que, juntas com Emballonuridae, apresentam segunda harmônica mais forte em seus sinais (Kalko e Aguirre, 2006) (Figura 5). Pteronotus parnellii, apresenta sinais com dois componentes FM intercalando um componente CF. O primeiro componente FM possui comprimento de banda menor que o segundo (Figura 5). Já as duas espécies de noctilionídeos emitem sinais com um componente QCF intercalado por dois componentes FM de banda-curta, e um segundo sinal com um componente FM de comprimento de banda bem proeminente voando sobre a terra, Noctilio albiventris e N. leporinus emitem sinais FM de banda-larga. Os valores das variáveis acústicas das espécies são dados na Tabela 4. 18 Figura 5: Sonograma com sinais de ecolocalização emitidos durante fase de busca, emitidos por uma espécie de moormopidae e duas de noctilionidae durante fase de busca. N.a1., Noctilio albiventris voando por sobre a superfície de água. N.a2. Noctilio albiventris voando por sobre a terra. N.l. Noctilio leporinus voando por sobre a superfície de água; P.p, Pteronotus parnellii (Moormopidae). Adaptado de Rydell et al. (2002); Kalko et al. (1998); Schnitzler e Kalko (1994). Como era esperado, houve uma tendência de espécies de mesmo gênero ficarem mais próximas nos agrupamentos (Figura 6). Esta tendência foi observada dentro das três famílias. Entre os molossídeos, as espécies do gênero Molossus formaram um grupo único, com a espécie Molossops temminckii como um grupo externo. O mesmo padrão foi observado dentro do gênero Saccopteryx entre os emballonurídeos, além das espécies pertencentes aos gêneros Myotis e Lasiurus entre os vespertilionídeos. Além de semelhança morfológica, estas espécies podem apresentar maiores similaridades em seus sinais de ecolocalização (Figura 6). 19 Figura 6: Análise de agrupamento (UPGMA) com base na similaridade nos parâmetros acústicos dos sinais de ecolocalização de insetívoros, por meio de distância euclidiana. Família Molossidae (esquerda), Emballonuridae (centro) e Vespertilionidae (direita). DISCUSSÃO Estrutura geral e peculiaridades nos sinais de ecolocalização entre os morcegos Algumas características gerais no desenho das chamadas de ecolocalização das espécies de morcegos permitem a separação inicial no nível de família – ao menos entre aquelas mais representativas. Isto se deve a padrões acústicos que as famílias apresentam na estrutura dos sinais (Brinkløv et al., 2009; Jones e Teeling, 2006; Jung et al., 2007; Kalko e Aguirre 2006; Smotherman, 2008). A primeira diferença observada é no número de harmônicas e a na harmônica fundamental. Indivíduos pertencentes às famílias Embalonuridae, Mormoopidae e Noctilionidae normalmente emitem sinais de ecolocalização multi-harmônicos e com a segunda harmônica mais forte (Hughes et al., 2011; Kalko e Aguirre, 2006). O mesmo padrão é observado em indivíduos da família Phyllostomidae (Brinkløv et al., 2009; Kalko e Aguirre, 2006; Mora e 20 Macías, 2007), entretanto, a harmônica mais forte em indivíduos desta família costuma variar (Brinkløv et al., 2009), e não é tão facilmente distinguível nas análises. Indivíduos das famílias Vespertilionidae e Molossidae emitem sinais onde a primeira harmônica é a mais forte e quase sempre é a única harmônica visualizada nos espectrogramas (Kalko e Aguirre, 2006). Como embalonurídeos e molossídeos costumam emitir sinais com um componente de banda-curta bastante proeminente, a diferença na quantidade de harmônicas e na harmônica mais forte é uma característica marcante que permite distinção entre espécies pertencentes a estas duas famílias (Jones e Teeling, 2006; Jung, et al. 2007; Kalko e Aguirre, 2006). Além disso, as chamadas podem ser agrupadas conforme o desenho típico de algumas famílias. Como visto anteriormente, indivíduos da família Emballonuridae normalmente emitem sinais mistos, com dois pequenos componentes FM de banda-curta no início e no final do pulso e um componente CF no meio (Jung et al., 2007); indivíduos da família Vespertilionidae normalmente emitem sinais mistos com dois componentes – um componente FM de banda larga seguido de outro componente QCF de banda-curta; já indivíduos da família Molossidae costumam emitir sinais maiores, de baixa frequência e de banda-curta do tipo QCF (Kalko e Aguirre, 2006), enquanto que indivíduos da família Phyllostomidae normalmente emitem sinais de banda-larga do tipo FM com várias harmônicas e curta duração (Brinkløv et al., 2009; Kalko e Aguirre, 2006; Mora e Macías, 2007). Alguns gêneros e espécies também podem ser identificados quando se visualiza o desenho dos sinais (ver Kalko e Aguirre, 2006). Por exemplo, o elaborado desenho da chamada de Noctilio albiventris e N. leporinus visto nos sonogramas é inconfundível, quando eles estão forrageando por sobre a superfície da água (Kalko et al., 1998; Schnitzler et al., 1994). Além disso, chamadas com sinais aos pares e traços bem peculiares como as de Molossops temminckii, e a de espécies do gênero Molossus e Saccopteryx também facilitam a identificação acústica (Jung et al., 2007; Kalko e Aguirre, 2006; Mora et al., 2004). Estas informações sobre o desenho podem ser usadas, por exemplo, na separação das chamadas de espécies que não tiverem diferenças acústicas significativas – como no caso de Tadarida brasiliensis vs. Molossus currentium, que neste estudo não apresentaram valor significativo na comparação de suas variáveis acústicas, porém, apresentam desenhos nas chamadas de ecolocalização bastante distintos durante a fase de busca. Entretanto, algumas espécies, sobretudo na família Vespertilionidae, apresentam alta similaridade nos desenhos das chamadas (Obrist et al., 2004b; Siemers et al., 2001). Além disso, espécies tais como Myotis nigricans e Lasiurus cinereus em áreas abertas costumam diminuir o comprimento do componente FM, alterando a frequência inicial e a duração dos sinais (Jung et al., 2007; O'Farrel et al., 2000; Schnitzler e Kalko, 2001), dificultando ainda mais a identificação acústica. 21 Variações nos sinais de ecolocalização A comparação dos sinais acústicos das espécies pela MANOVA seguida pelas comparações pareadas das espécies pelo teste de Hotelling, evidencia uma variação interespecífica nos sinais de ecolocalização que abre a possibilidade da distinção e consequente identificação acústica delas em campo, como já foi demonstrado e sugerido em várias pesquisas sobre identificação acústica (Fukui et al., 2004; Jung et al., 2007; Obrist et al., 2004a; 2004b; O'Farrel e Miller, 1997; Papadatou et al., 2008; Rydell et al., 2002; Sun et al., 2008). Entretanto, essa separação não é trivial, pois existe uma variação importante nos sinais de ecolocalização dos morcegos não somente entre as espécies como também entre indivíduos de mesma espécie (Gillam et al., 2009; Kalko et al., 1998; Kalko e Schnitzler, 1993; Siemers et al., 2001) - isto porque a estrutura dos sinais depende da complexidade do ambiente e das circunstâncias ecológicas que os morcegos estão submetidos durante o voo (Gillam et al., 2009; Kalko e Schnitzler, 1993; Schnitzler e Kalko, 2001; Siemers et al., 2001), além da biologia e comportamento delas (Gillam et al., 2009; Kalko e Schnitzler, 1993; Murray, et al. 2001). Em uma lógica inversa depara-se com o problema de que espécies de mesma guilda – e que, portanto, estão sujeitos às mesmas pressões ambientais – podem compartilhar muita similaridade no comportamento de ecolocalização e na estrutura dos sinais, o que implica em dificuldades de distinção acústica, de definição de fronteiras claras para as guildas e assinaturas espécie-específicas (Schnitzler e Kalko, 2001). Portanto, o uso dos sinais de ecolocalização para identificação acústica e monitoramento de atividade dos morcegos deve levar em consideração essa variação (ou similaridade), que objetivamente pode ser pensada em dois tipos: a primeira causadora de confusão - a variação intraespecífica; e a segunda que realmente auxilia na diferenciação, a variação interespecífica. Variação intraespecífica A variação intraespecífica na estrutura dos sinais de ecolocalização se deve principalmente a dois componentes, um ambiental – a complexidade do habitat onde o morcego está procurando alimento (Schnitzler e Kalko, 2001), somado a distância dele em relação aos objetos (Gillam et al., 2009; Kalko e Schnitzler, 1993); além de um componente biológico mudanças nos sinais devido ao tamanho corporal, idade e/ou sexo (Murray, et al. 2001), bem como mudanças comportamentais – p.ex., ajustes da frequência sonora e do padrão temporal dos sinais face à aproximação e captura de insetos-alvo (Gillam et al., 2009; Kalko e Schnitzler, 1993), momento da saída dos abrigos diurnos, e respostas a sons externos – como ruídos de mariposas e chamadas de outros morcegos (Gillam et al., 2009). É comum que morcegos adaptados a determinado tipo de habitat se desloquem eventualmente para outras áreas, modificando seu comportamento de ecolocalização emitindo fases de busca habitat-específicas (Kalko et al., 1998; Kalko e Schnitzler, 1993; Schnitzler e Kalko, 2001; Siemers et al., 2001). Deste modo, algumas espécies associadas à borda modificam o componente FM de banda-larga para um de banda-curta quando decidem 22 ir a áreas abertas, enquanto que alguns catadores quando se movem do interior da floresta para à borda, modificam seus sinais FM multi-harmônicos de curta duração e baixa intensidade, para sinais FM maiores, uni-harmônicos, mais potentes e com um distinto componente de frequência atenuada (Schnitzler e Kalko, 2001). Nestes casos, estudos sobre preferência de uso do habitat pelas espécies, associados com alterações no comportamento de ecolocalização, se fazem necessários para trazer mais informações sobre a variação no repertório das espécies conforme a modificação da complexidade do habitat, como já demonstrado em alguns estudos para algumas espécies (Kalko et al., 1998; Kalko e Schnitzler, 1993; Schnitzler e Kalko, 2001; Siemers et al., 2001). Outros fatores, tais como a atenuação atmosférica, o efeito Doppler, direcionamento dos sinais emitidos, e a direção dos detectores contribuem ainda mais para a variação intraespecífica (Murray, et al. 2001). Deste modo, uma classificação acústica realística das espécies somente se torna possível também com um extensivo entendimento dos níveis de variação intraespecífica de cada espécie (Murray, et al. 2001). Variação interespecífica Já em 1958, Griffin chamou atenção para a existência de diferenças entre as chamadas de ecolocalização de algumas espécies. Porém, somente no início da década de 80, os primeiros trabalhos sobre identificação acústica de morcegos foram publicados com (Ahlén, 1981) e Fenton e Bell (1981) (Corcoran, 2007; Obrist et al., 2004a; Obrist et al., 2004b). Com o avanço da tecnologia nos últimos anos, tem ocorrido um aumento tanto quantitativo quanto qualitativo nos registros e análises dos ultrassons, e novas abordagens analíticas dos sinais de ecolocalização melhoraram o entendimento da variação interespecífica (Obrist et al., 2004a; Obrist et al., 2004b). Recentes abordagens para reconhecimento dos sons em diferentes grupos de animais têm buscado uma identificação bioacústica holística por meio de padrões de reconhecimento, usando principalmente algoritmos computacionais, redes neurais artificiais, e análises de agrupamentos (Obrist et al., 2004b). A identificação bioacústica de morcegos tem conseguido classificações corretas, com algumas restrições para grupos de chamadas similares como a subfamília Phyllostominae e o gênero Myotis (Obrist et al., 2004b). Este grupo é amplamente diversificado no hemisfério norte, e em muitos casos apresenta espécies crípticas com parâmetros acústicos similares e mesmo desenho de sinal entre elas (Siemers et al., 2001). Nestes casos, a separação das espécies pode se tornar mais difícil (Obrist et al., 2004b). Deste modo, o fato de espécies de mesmo gênero normalmente possuírem características mais similares em seus sinais de ecolocalização – como demonstrado para os gêneros Molossus, Saccopteryx, Myotis e Lasiurus pelas análises de agrupamento - implica em maior atenção e também maiores incertezas de identificação acústica de espécies próximas filogeneticamente. Além disso, é necessário que haja um esforço amostral suficiente de 23 gravações de indivíduos e passes, pois a capacidade dessas ferramentas analíticas se relaciona positivamente com a quantidade de indivíduos gravados, na medida em que o número de registros aumenta na base de dados, aumenta também a quantidade de informação sobre a amplitude de variação de cada espécie, aumentando assim a capacidade dessas análises em fazer classificação (Obrist et al., 2004b). De qualquer forma, vários estudos provaram o potencial do uso do monitoramento acústico de morcegos, bem como suas limitações (Obrist et al., 2004b). As análises estatísticas empregadas podem chegar a altas taxas de reconhecimento das espécies (Obrist et al., 2004b). Vaughan et al. (1997) atingiram 89%, sendo 67% para Myotis, usando seis variáveis; Sun et al. (2008) conseguiram 84,1% incluindo espécies do gênero Myotis, também usando seis parâmetros; Fukui et al. (2004), atingiu 92% de acertos, sendo 80% o menor escore de classificação para Myotis ikonnikovi, usando sete parâmetros; Obrist et al. (2004b) conseguiram 82% de classificação correta (50% para Myotis), e com o uso da computação sinergética (Sinergetc Computer - SC) eles aumentaram mais a eficiência de classificação para 77% no gênero Myotis e 84% para outros vespertilionídeos (Obrist et al., 2004b). Entretanto, apesar dos avanços na classificação automática dos sinais, este processo deve ser sempre supervisionado por um operador humano. Por que investir em monitoramento acústico: perspectivas para o Brasil A megadiversidade encontrada no Brasil, com registro de 14,9% das espécies de morcegos do mundo (172 spp.) (IUCN, 2011) contrasta com a pouca quantidade de pesquisas com identificação acústica. Os altos custos dos equipamentos, e os problemas com importação de material, são fatores agravantes que dificultam o uso desta ferramenta com maior frequência por pesquisadores no Brasil em inventários e estudos de comunidade. Poucos trabalhos foram realizados, e o monitoramento acústico foi usado como uma ferramenta suplementar (p.ex. Barnett et al., 2006; Fenton et al., 1999; Sampaio et al. 2003). Alguns países com diversidade menor possuem listas com a descrição acústica de insetívoros aéreos ao menos para alguma parte de seu território – como Obrist et al.(2004a) para a Suíça; Rydell et al. (2002) para península de Yucatán, México; Papadatou et al. (2008) para espécies da Grécia; e Jung et al. (2007) para emballonurídeos da América central. Até o momento não havia uma base de dados disponível com gravações e descrições de chamadas dos insetívoros que ocorrem no Brasil em nenhum ecossistema ou paisagem, o que é pouco apropriado dada a importância que esta ferramenta pode ter para a conservação dos quirópteros (Fukui et al., 2004; Kalko e Aguirre, 2006; MacSwiney et al., 2008). As técnicas tradicionais de captura como as redes-de-neblina, não contemplam todas as guildas satisfatoriamente (Furey et al., 2009, Kalko e Aguirre, 2006; Kunz e Brock, 1975; MacSwiney et al., 2008) produzindo uma imagem enviesada das assembleias (MacSwiney et al., 2008). Redes são especialmente pouco eficientes para insetívoros aéreos porque eles voam a grandes altitudes, em áreas abertas e por sobre o dossel da floresta, o que dificulta a captura (Furey et al., 2009; Kalko e Aguirre, 2006). 24 Por outro lado, este mesmo grupo possui chamadas de alta intensidade e grande variação interespecífica, o que o torna indicado para o monitoramento acústico com o uso de detectores (Kalko e Aguirre, 2006). Deste modo, as listas de fauna e estudos de estrutura de comunidade poderão ser complementados com a inclusão de registros em grande número destas espécies (ver Furey et al., 2009; MacSwiney et al., 2008). Além disso, o conhecimento sobre área de ocorrência e risco de extinção de alguns insetívoros podem sofrer variação. Espécies antes tidas como raras e de distribuição restrita, porque não haviam sido coletadas em décadas de esforços com redes, na realidade não eram raras e com o monitoramento acústico passaram a ser registradas regularmente em vários sítios, tendo a sua área de ocorrência aumentada (Kalko e Aguirre, 2006). Portanto, existe uma demanda real para criação e disponibilização de uma base de dados com a descrição acústica das espécies que permitirá no futuro a construção de inventários mais representativos das assembleias de morcegos nos habitats e paisagens brasileiras. Os dados agora compilados neste estudo podem ser utilizados no Brasil para identificação de algumas espécies de insetívoros aéreos, e servir como início para construção de uma base de dados ainda maior e mais robusta - com a inclusão de descrições acústicas inéditas de outras espécies, e de espécies já descritas, respeitando as peculiaridades dos habitats e populações de morcegos brasileiros. Finalmente, o uso de detectores de ultrassom permite o monitoramento dos insetívoros aéreos - um importante componente da comunidade de mamíferos, que desempenha um papel relevante na dinâmica das florestas e nos processos de regeneração da vegetação (Kalka et al., 2008; Kalka e Kalko, 2006; MacSwiney et al., 2008), além de contribuir para a regulação de populações de insetos herbívoros como aquelas que causam importantes danos em cultivos agrícolas (Cleveland et al., 2006; Federico et al., 2008; Long et al., 1998), prestando importantes serviços ambientais em paisagens naturais e humanas (Cleveland et al., 2006; Fleming e Racey, 2009; Jones et al., 2009; Tuttle, 1988). AGRADECIMENTOS Ao CNPq pela bolsa de mestrado (processo n°:134027/2010-08) de Henrique Matheus Farias, permitindo a execução deste e de outros trabalhos sobre bioacústica de morcegos. 25 REFERÊNCIAS Ahlén, I. (1981). Identification of Scandinavian bats by their sounds. 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Henrique Matheus Farias* (1) (2) (3) (1) Programa de Pós Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade†; (2) Departamento de Ciências Biológicas†; (5) Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC *[email protected] †Campus Soane Nazaré de Andrade, km 16, Rodovia Ilhéus-Itabuna. CEP 45662-900. Ilhéus-Bahia, Brasil _______________________________________________________________________________________________________ RESUMO: O desenvolvimento de detectores de ultrassons permitiu a identificação acústica e o consequente registro de insetívoros que antes eram sub-amostrados com o uso de redes-deneblina. O objetivo deste trabalho foi realizar o monitoramento acústico de morcegos em duas áreas de mata e duas áreas de plantações sombreadas de cacau na região sul da Bahia, Brasil. Ao todo, 24 noites de monitoramento foram realizadas – 12 na mata e 12 em plantações de cacau, das 18 h às 00 h, entre fevereiro de 2011 a março de 2012. Dados disponíveis na literatura foram usados para separação dos sinais em sonotipos, e uma classificação dos sonotipos em espécies foi feita por análise de função discriminante. Ao final, um esforço de 864 horas de monitoramento resultou em 1971 registros acústicos e 24 sonotipos de quatro famílias. Não houve diferença significativa no valor médio para o Índice de Shannon entre os pontos de cabruca e mata, e as curvas de rarefação indicaram também pouca diferença na riqueza média de sonotipos. Entretanto, houve diferença significativa na distribuição das três famílias de insetívoros aéreos nos ambientes, com emballonurídeos sendo mais registrados na mata, e molossídeos na cabruca. O padrão temporal de atividade observado também foi diferente, com a atividade dos insetívoros na cabruca bem acentuada nos primeiros minutos da noite, ao passo que na mata a atividade foi mais constante. Sistemas sombreados como as cabrucas ainda conseguem manter alguma complexidade de interações ecológicas, o que pode explicar a alta diversidade de sonotipos encontrados neste agrossistema. Entretanto, a retirada da floresta nativa para cultivo do cacau favorece o estabelecimento de espécies de voo rápido associadas a ambientes antropizados como os molossídeos. A diferença na composição de sonotipos e o padrão temporal observados na mata e cabruca podem ser explicados considerando as diferenças na performance de ecolocalização e adaptações morfológicas para o voo das espécies além do comportamento delas. Em 24 noites de monitoramento, obteve-se um valor 2,6 vezes maior na riqueza de insetívoros aéreos do sul da Bahia do que o registrado em 16 anos de coleta com redes-de-neblina. Os dados deste estudo mostram que vespertilionídeos e molossídeos ainda estão subestimados. Espécies como Lasiurus cinereus, Myotis ruber e outras do gênero Eumops e Cynomops tiveram seu primeiro registro na região e provavelmente são comuns. O uso de redes aliadas ao monitoramento acústico se mostra necessário para que se tenha uma imagem mais real da fauna de morcegos nos habitats e paisagens. 31 PALAVRAS-CHAVE: cabrucas, insetívoros, sonotipos, Mata Atlântica, padrão de atividade, sinais de ecolocalização, sul da Bahia. INTRODUÇÃO Apesar de serem representativos na fauna de morcegos dos trópicos, os insetívoros aéreos ainda são pouco contemplados em estudos sobre abundância, distribuição, comportamento e uso de habitat quando comparados a outros grupos (MacSwiney et al., 2009). O problema se agrava na medida em que este grupo é subestimado, porque é constituído por espécies que forrageiam em áreas abertas, por sobre o dossel das árvores, e em grandes altitudes, dificultando a captura delas com o uso de métodos tradicionais, como as redes-de-neblina (Furey et al., 2009; Kalko e Aguirre, 2006; Kunz e Brock, 1975; MacSwiney et al., 2008; MacSwiney et al., 2009). Felizmente, o avanço da tecnologia e o desenvolvimento dos detectores de ultrassons nas últimas décadas têm permitido aumento tanto qualitativo quanto quantitativo nas pesquisas sobre padrões espaciais e temporais de atividade dos morcegos (Broders, 2003; Fukui et al., 2004; Obrist et al., 2004). O monitoramento de atividade dos insetívoros aéreos pelos sinais de ecolocalização se torna uma alternativa metodológica não somente pelas limitações de captura das redes-de-neblina para este grupo, mas também porque os insetívoros emitem sinais de alta intensidade, geralmente espécies-específicos que permite a gravação dos sonogramas com o uso de microfones sensíveis ao ultrassom (Kalko e Aguirre, 2006) e a consequente identificação acústica das espécies (Fukui et al., 2004; Kalko e Aguirre, 2006; MacSwiney et al., 2009; O'Farrel, 1997; Papadatou et al., 2008). Além disso, morcegos são um importante componente da diversidade de mamíferos, desempenhando um importante papel sobre os processos de dinâmica e regeneração dos eco e agrossistemas (Kalka e Kalko, 2006; Kalka et al., 2008; MacSwiney et al., 2008). A implantação de planos de manejo e conservação para este e outros grupos biológicos pode ser comprometida com o uso de listas de faunas incompletas (MacSwiney et al., 2008). Em lugares onde existe grande riqueza de espécies como nos trópicos, é altamente recomendado que os inventários biológicos sejam realizados com o uso de várias metodologias (Flaquer et al., 2007; MacSwiney et al., 2008; O'Farrel e Gannon, 1999) para que se tenha listas de espécies mais completas e uma visão mais real e menos distorcida da fauna de quirópteros (MacSwiney et al., 2008; O'Farrel e Gannon, 1999). Este é o caso do sul da Bahia, região que abriga importantes fragmentos de mata atlântica, tidos como centros de endemismo e diversidade de plantas e animais (Faria et al., 2007). Estes fragmentos estão inseridos e conectados por uma matriz semelhante à floresta, onde predominam fazendas de cacau sombreadas por árvores de dossel nativas. Isto permite a manutenção de parte da biota original, porque os estratos arbóreo e herbáceo são parcialmente mantidos, servindo como área de alimentação e refúgio para muitas espécies da floresta, até mesmo espécies ameaçadas (ver Faria, 2002; Faria et al., 2007; Faria e Baumgarten, 2007). 32 Assim como no restante do território brasileiro, ainda não houve nenhum estudo publicado com monitoramento acústico até o momento na região sul da Bahia, apesar do grande esforço de coleta com redes já realizado em décadas (Faria e Baumgarten, 2007). Deste modo, o objetivo deste trabalho foi comparar o padrão de atividade e a estrutura de assembleias de insetívoros aéreos em duas áreas de mata e duas áreas de plantações de cacau na região sul da Bahia, por meio do monitoramento acústico das espécies. MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo O estudo foi realizado durante o período de fevereiro de 2011 a março de 2012, em duas áreas de plantações de cacau – Fazenda Igreja Adventista (14°48'7.7898"S, 39°8'57.1992"O) e Fazenda São Sebastião (14°53'43.8684"S, 39°7'6.7398"O), ambas no município de Ilhéus; além de duas áreas de mata atlântica dentro da Reserva Biológica de Una (Rebio de Una), município de Una - Maruim (15°11'24.432"S, 39°2'20.652"O) e Metal Forte (15°8'26.4474"S, 39°9'25.5234"O), ambos os municípios localizados no sul da Bahia, nordeste do Brasil (Figura 01). A Mata Atlântica é reconhecida não somente por suportar altos graus de riqueza de espécies e taxas de endemismos, mas também como um ecossistema altamente transformado pela fragmentação (Ribeiro et al. 2009). No sul da Bahia existiu historicamente uma peculiaridade no uso do solo, que em parte permitiu a conservação de importantes manchas de floresta, graças às cabrucas (Faria, 2002) - agrossistemas onde o sub-bosque da floresta é substituído por cacau, e algumas árvores de dossel são mantidas para sombreamento da cultura (Faria, 2002; Faria et al., 2006; Faria e Baumgarten, 2007). A cobertura de vegetação desta região é um mosaico de manchas de florestas tropicais nativas – incluindo florestas primárias e secundárias, e áreas de plantações de cacau, principalmente sob este sistema (Faria et al., 2006). Na prática, as cabrucas funcionam como florestas simplificadas porque permitem a manutenção de boa parte da diversidade de alguns taxa, na medida em que parte da vegetação é mantida (Alves, 1990; Faria et al., 2006). Além disso, também possibilitam que fragmentos de mata não se isolem de maneira tão crítica, pois são usadas por diversos grupos florestais como aves e mamíferos (Faria, 2002; Faria e Baumgarten, 2007; Pardini, 2004). Dos fragmentos florestais existentes na região, a Rebio de Una é um dos mais representativos. Dos 11400 ha previstos na criação da Rebio, 5500 ha são compostos por florestas maduras, sendo o restante formado por florestas secundárias, campos abertos e plantações abandonadas (Faria, 2002). A fitofisionomia é caracterizada pela vegetação de grande porte, estratificação do bosque, e a existência de samambaias, epífitas e lianas em abundância (Faria et al., 2006). 33 Figura 1: Mapa das áreas de estudo nos municípios de Ilhéus e Una, sul da Bahia, Brasil. Áreas de mata amostradas representadas por triângulos, e áreas de cabrucas amostradas representadas por círculos. O município de Una é caracterizado pela existência de grandes fragmentos de mata como a Rebio de Una, ao passo que o principal componente da matriz do município de Ilhéus corresponde às plantações de cacau (cabrucas). Coleta de dados Os pontos de monitoramento foram definidos dentro das áreas de estudo, sendo três em bordas de vegetação (estradas dentro das áreas) e três no interior, totalizando seis noites de monitoramento para cada área, e 24 noites no total – 12 nas duas áreas de cabruca e 12 nas duas áreas de mata. Cada área foi amostrada em um intervalo de tempo de no máximo duas semanas. Cada ponto foi amostrado uma única vez, e o aparelho permaneceu fixo e ligado no local durante toda a noite. O monitoramento aconteceu das 18 h às 0 h em cada ponto sem interrupções, mesmo em períodos de chuva. Dados sobre temperatura, umidade e luminosidade da lua foram anotados para posterior análise da influência destas variáveis na atividade dos insetívoros aéreos registrados. Áreas próximas a clareiras foram excluídas do monitoramento feito no interior dos ambientes, e a distância dos pontos do interior para a borda foi de no mínimo 100 metros, com o objetivo de evitar a influência da borda sobre o monitoramento feito no interior da vegetação. O equipamento utilizado foi o detector de ultrassom Petterson D240X (Petterson Elektronik AB, Uppsala, Sweden) conectado a um gravador digital Sony PCM001. O detector foi configurado no modo de tempo expandido – que permite gravações com durações de até 34 segundos, a partir de intervalos de tempo de 3,4 segundos no tempo real. Deste modo, tornase possível a análise das chamadas em frequência audível, com todas as características do som original preservadas, permitindo medições apuradas das características acústicas. Cada bat 34 passes - registro acústico de morcegos com padrão temporal regular - obtido no detector, foi armazenado no gravador, e o horário da passagem foi imediatamente anotado. Análise de dados Separação das chamadas em sonotipos Os sonogramas foram analisados com o programa Bat Sound 3.1 (Petterson Elektronik AB, Uppsala, Sweden) com taxas de amostragens de 44.1 kHz somadas a uma janela de Hanning para redução de perda espectral dos sinais. O tamanho da fast Fourier transform - FFT foi de 256 para a visualização dos sonogramas, e de 1024 para os gráficos de potência (power spectra). Os sinais de ecolocalização foram agrupados conforme o desenho típico das três famílias: Embalonuridae – sinal de frequência quase-constante (QCF), multi-harmônico com pequenos componentes de frequência modula (FM) de banda-curta no início e final do pulso, além de segundo harmônico mais forte (Jung et al., 2007); Vespertilionidae – sinais mistos FM-QCF uniharmônicos; e Molossiadae - sinais QCF uni-harmônico (Kalko e Aguirre, 2006) (ver Schnitzler e Kalko (2001) para mais detalhes sobre os tipos de sinais). Dentro das famílias, os sinais com mesmo desenho foram separados com base na frequência máxima para emballonurídeos e molossídeos; já os vespertilionídeos foram separados de acordo com a frequência final. Estes parâmetros respectivamente apresentaram menor variação dentro das chamadas de um indivíduo e entre os indivíduos. Posteriormente, os sonotipos foram comparados pela MANOVA e análise discriminante. Os parâmetros acústicos usados foram: harmônico mais forte; duração do pulso (ms); intervalo (ms); frequência inicial (kHz); final (kHz); a de maior intensidade (kHz); além dos comprimentos de banda dos pulsos nas chamadas de emballonurídeos (kHz). Dados disponíveis na literatura (Compilados no Capítulo 1) foram usados para atribuir identificação de espécie para alguns sonotipos por meio de classificação preditiva da análise discriminante, e pela visualização dos desenhos dos sinais (MacSwiney et al., 2009). Análise estrutural e padrão de atividade das assembleias O índice de Shannon foi usado para calcular a diversidade de sonotipos para todos os pontos de coleta. Em seguida foi testado se o índice diferiu significativamente entre os dois tipos de ambientes por meio do Teste T de student. Também foram feitas curvas de rarefação para comparação de riqueza média de sonotipos dos ambientes para mesmo tamanho amostral (Gotelli, 2009). A variação na abundância das três principais famílias de insetívoros aéreos nos ambientes, com base na quantidade de passes, foi avaliada pela ANOVA de dois fatores. Ela também foi usada 35 para avaliar a diferença de atividade dos morcegos na mata e cabruca, borda e interior destes ambientes. Curvas de atividade dos insetívoros aéreos foram construídas em séries temporais usando o número de registro de morcegos a cada intervalo de 10 minutos. Foram feitas curvas de atividade das três principais famílias para os dois tipos de ambiente, além de uma curva geral de atividade das duas assembleias (Cabruca e Mata). A MANOVA e análise discriminante foram feitas com os pacotes asbio (Aho, 2011), MASS (Venables e Ripley, 2002) e candis (Friendly e Fox, 2011); e as curvas de rarefação foram feitas com o pacote vegan (Oksanen et al., 2011); na plataforma de programação R (R Development core team, 2010). RESULTADOS Ao final, um esforço de 864 horas de monitoramento com equipamentos ligados foi consolidado, atingindo um total de 1971 gravações realizadas. Dessas, 1563 tiveram qualidade que permitisse análise visual e acústica dos sinais, o que representa 79,29% das gravações. Foram descritos 24 sonotipos associados a espécies de quatro famílias (Figura 2): Emballonuridae (n=5); Molossidae (n=12); Vespertilionidae (n=6); e Phyllostomidae (n=1). Por ser difícil a separação, e pela limitação do equipamento, os registros desta última foram tratados como único tipo (Tabela 1). A MANOVA mostrou que existe diferença significativa nos sinais de ecolocalização entre as espécies das três famílias de insetívoros registradas: Emballonuridae (Wilk’s lambda<0,001; F=49; p<0,001); Molossidae (Wilk’s lambda<0,001, F=9; p<0,001) e Vespertilionidae (Wilk’s lambda<0,001, F=8,5, p<0,001). Tabela 1: Lista de espécies nas quatro áreas de estudo classificadas com base nos sonotipos registrados durante as 24 noites de monitoramento, no sul da Bahia, nordeste do Brasil. Família Espécie (Sonotipo) Registros/Ambiente Cabruca Mata Total Molossidae Cynomops sp. 0 2 2 Emballonuridae Emballonurídeo 1 2 387 389 Emballonuridae Emballonurídeo 2 0 1 1 Vespertilionidae Eptesicus sp. 84 6 90 Molossidae Eumops auripendulus 1 0 1 Molossidae Eumops sp.1 2 3 5 Molossidae Eumops sp.2 0 1 1 Vespertilionidae Lasiurus cinereus 5 2 7 Vespertilionidae Lasiurus ega 0 3 3 Molossidae Molossídeo 1 1 0 1 Molossidae Molossídeo 2 1 0 1 Molossidae Molossops sp. 0 1 1 36 Molossidae Molossus currentium 84 9 93 Molossidae Molossus molossus 275 0 275 Molossidae Molossus rufus 103 5 108 Molossidae Molossus sp.1 34 23 57 Molossidae Molossus sp.2 3 0 3 Vespertilionidae Myotis nigricans 13 34 47 Vespertilionidae Myotis ruber 70 12 82 Vespertilionidae Myotis sp.1 67 59 126 Emballonuridae Peropteryx kappleri 1 19 20 Phyllostomidae Phylostomídeo 1 63 5 68 Emballonuridae Saccopterix bilineata 45 24 69 Emballonuridae Saccopterix lepidura 19 94 113 A B C D E F G H I D I II III Figura 2: Sonograma mostrando os sonotipos registrados nas 04 áreas de estudo, nos municípios de Ilhéus e Una, Bahia, Brasil. Uma classificação preditiva baseada em análise discriminante das carcaterísticas dos sinais, atribuiu espécies para alguns sonotipos. DI foi atribuído à espécie Lasiurus cinereus; EI - Lasiurus ega; GI - Myotis ruber; HI Myotis nigricans; EIII - Saccopteryx bilineata; CIII - Peropteryx kappleri; FIII - Cynomops greenhalli; GIII - Eumops auripendulus; DII - Molossus coibensis; EII - M. molossus e FII - M. rufus (80% a 100% dos registros de cada sonotipo foram atribuídos para estas espécies pela classificação preditiva da Análise Discriminante). 37 Comparação de diversidade de sonotipos nos ambientes O índice de Shannon na cabruca, em média, foi maior do que na mata nas áreas amostradas (Hcabruca = 1,26; Hmata = 0,73). Além disso, não houve diferença significativa no valor médio do índice de Shannon entre os pontos de cabruca e mata de acordo com os teste T (T = 1,98; GL = 22; P = 0,06), o que pode ser indicativo de alta diversidade de insetívoros aéreos nas áreas de cabruca. A curva de rarefação indicou também pouca diferença na riqueza média de sonotipos entre os dois ambientes, com valores um pouco maior para a mata, porém próximo ao intervalo de confiança da cabruca. Para mesmo tamanho amostral (n= 690), obteve-se: Scabruca= 18,06; e.p.= 0,86; e, Smata= 19; e.p.= 0 (Figura 3). Figura 3: Curvas de rarefação baseada em sonotipos, feitas a partir de registros acústicos obtidos em duas áreas de cabrucas e duas áreas de mata na região sul da Bahia, Brasil. 38 Análise de composição de sonotipos nas assembleias de insetívoros aéreos Houve diferença significativa na distribuição das três famílias de insetívoros aéreos nos ambientes (Figura 4) (F = 3,55; GL = 6; p = 0,003). Embalonurídeos foram registrados com maior frequência na mata, ao passo que os molossídeos foram mais representativos nas áreas de cabruca. Já os vespertilionídeos foram bem registrados nos dois ambientes amostrados. Filostomídeos tiveram menor representatividade devido às limitações dos equipamentos em gravar suas chamadas de baixa intensidade. De qualquer forma, houve mais registros dessa família nas áreas de cabruca do que na mata. Figura 4: Frequência de registros acústicos das famílias em cada tipo de ambiente nas quatro áreas de estudo amostradas, no sul da Bahia, nordeste do Brasil. Diferença de nível de atividade dos insetívoros aéreos A ANOVA de dois fatores mostrou também que não houve diferença de atividade dos insetívoros aéreos entre as áreas amostradas de cabruca e de mata quando esperado ao acaso (F= 0,53; P= 0,47). Entretanto, há uma diferença significativa de atividade dos insetívoros aéreos da Borda para o Interior das áreas amostradas (F= 28,19; P<0,001). Além disso, não houve interação entre o ambiente (Cabruca ou Mata) e o local (Borda ou Interior) (F= 0,23; P= 0,63). 39 Padrão temporal de atividade Durante as noites de coleta, o crepúsculo na mata variou entre 18 h 05 min e 18 h 49 min, enquanto que na cabruca variou entre 18:23 e 18:36 [vide S.I.] (Moreira, 2012 - Observatório Nacional). O pico de atividade dos insetívoros aéreos aconteceu na primeira hora nas áreas amostradas, e o padrão temporal de atividade observado na mata foi diferente do observado na cabruca (Figura 5d e Figura 6). A curva de atividade na mata foi mais atenuada e possui três grandes picos de atividade entre as duas primeiras horas de forrageio, ao passo que o declínio de atividade nas áreas de cabruca foi mais acentuado e ocorre já nos primeiros 30 minutos (Figura 5d). Entretanto existem ainda ao menos mais dois picos de atividade na cabruca – um decorridos 210 min, e outro por volta de 270 minutos (Figura 5d). Entretanto, quando se compara padrão temporal de atividade por família, a variação entre os ambientes é menor– com exceção para emballonurídeos (Figura 5a, 5b e 5c). Além disso, o padrão temporal de atividade de emballonurídeos é mais constante no decorrer da noite, e contrasta da forma de “J” invertido observada entre molossídeos e vespertilionídeos – de intensa atividade nos primeiros minutos, seguida de diminuição abrupta na quantidade de registros (Figura 5a, 5b e 5c). (a) (c) (b) (d) Figura 5: Padrão temporal de atividade dos insetívoros durante as 24 noites de gravações. 18 h (0 min), 00 h (360 min). Linha preta = Atividade na Cabruca, Linha azul = Atividade na Mata. (a) Curva de atividade dos emballonurídeos. (b) Curva dos molossídeos. (c) Curva dos vespertilionídeos. (d) Curva das duas assembleias de insetívoros aéreos. 40 DISCUSSÃO Análise de estrutura das assembleias de insetívoros aéreos A alta diversidade de sonotipos encontrados nas áreas de Cabruca reflete o quanto este agrossistema pode ser importante para a manutenção de alguns grupos taxonômicos da mata atlântica do sul da Bahia, estabelecidos fora de áreas de proteção ambiental. Com alterações substanciais dos habitats e exploração de recursos naturais, é intuitivo esperar redução da diversidade biológica devido à simplificação, fragmentação, e degradação do ambiente (AvilaFlores e Fenton, 2005; Braga, 2010; Germaine e Wakeling, 2001), o que não foi observado com os insetívoros aéreos nas áreas de cabruca estudadas em comparação com as áreas de mata na região de Una. Vários estudos demonstraram que sistemas sombreados - semelhantes às cabrucas conseguem manter um nível mais elevado de diversidade para alguns grupos de organismos, algumas vezes semelhante aos encontrados em áreas naturais (Faria, 2002; Faria e Baumgarten, 2007; Greenberg et al., 1997; Reitsma et al., 2001; Room, 1971). O mesmo padrão foi demonstrado em plantações sombreadas de café na América Central com assembleias de aves (Greenberg et al., 1997; Reitsma et al., 2001); com a diversidade de formigas em plantações de cacau sombreadas na África (Room, 1971); e também nas plantações de cacau do estado da Bahia – com altos valores de riqueza para anuros, aves, samambaias, lagartos, e morcegos não insetívoros aéreos (Faria, 2002; Faria e Baumgarten, 2007, Faria et al. 2007). A explicação vem do fato de que, apesar da redução significativa de complexidade e interações ecológicas, sistemas sombreados ainda conseguem manter alguma complexidade, recursos tróficos, aberturas de dossel, além de abrigo e proteção contra predação (Faria e Baumgarten, 2007). Além disso, com a retirada da vegetação original, as cabrucas se tornam o único habitat semelhante às florestas que parte da biota remanescente encontra para sobrevivência (Faria e Baumgarten, 2007), e também porque elas funcionam bem como corredores ecológicos, conectando biotas de fragmentos dentro da matriz cacaueira (Faria e Baumgarten, 2007). Entretanto, a implementação das cabrucas – como em qualquer processo de modificação significativa na dinâmica de um ecossistema - altera a composição da comunidade biológica na medida em que favorece o estabelecimento de espécies oportunistas, adaptadas a ambientes alterados e em processo de fragmentação (ver Avila-Flores e Fenton, 2005; Faria e Baumgarten, 2007; Reitsma et al., 2001; Wickramasinghe et al., 2003). Vertebrados alados como os morcegos - são afetados em menor intensidade porque podem se mover prontamente entre manchas de vegetação e sítios de alimentação diferentemente das espécies não aladas (Avila-Flores e Fenton, 2005). A ocorrência de morcegos insetívoros em dado local, portanto, depende de áreas que ofereçam a eles abrigo e oferta de alimento (AvilaFlores e Fenton, 2005). 41 Observou-se uma predominância de molossídeos nas áreas de cabrucas provavelmente devido à capacidade deste grupo em se adaptar a uma vasta amplitude de habitat – são morcegos encontrados desde florestas a desertos, e até em espaços urbanos (Allison, 1989; Avila-Flores e Fenton, 2005). Além disso, a presença de estruturas e construções nas cabrucas, tais como pontes, barcaças (estruturas usadas na secagem das sementes do cacau), telhados de casas e depósitos de artigos agrícolas, pode favorecer a presença de algumas espécies de molossídeos neste ambiente, porque estas estruturas podem ser usadas como abrigos diurnos por eles (Avila-Flores e Fenton, 2005). Do ponto de vista da biologia das espécies, a diferente composição de sonotipos observada nas áreas de mata e cabruca também pode ser explicada considerando a performance de ecolocalização e adaptações morfológicas para o voo (Avila-Flores e Fenton, 2005; Schnitzler e Kalko, 2001), além do comportamento (Avila-Flores e Fenton, 2005). De maneira geral, molossídeos possuem alta carga alar (Norberg e Rayner, 1987), o que permite voos mais rápidos, porém de baixa manobrabilidade (Avila-Flores e Fenton, 2005; Jones e Rydell, 1994; Norberg e Rayner, 1987). A alta velocidade de voo os tornam menos vulneráveis à predação, diferente de morcegos com menor carga alar, que possuem voos mais lentos, em altura menor e que, portanto evitam voar em espaços abertos (Avila-Flores e Fenton, 2005; Jones e Rydell, 1994). Molossídeos possuem sinais de ecolocalização de banda-curta, duração longa e baixa frequência (Avila-Flores e Fenton, 2005; Fenton et al., 1998), o que permite maior varredura do espaço com seus sinais, além de detecção de presas maiores (Avila-Flores e Fenton, 2005; ; Fenton et al., 1998; Jung et al. 2007; Schnitzler e Kalko, 2001). Estas características são ideais para forrageio em espaços mais abertos e com menos obstáculos como as cabrucas, quando comparadas aos fragmentos de mata mais complexos e fechados. A navegação em espaços complexos e com obstáculos requer dos morcegos adaptações nos sinais de ecolocalização que tragam para eles, informações não somente sobre detecção de alvos, como também de classificação e separação dos objetos (Schnitzler e Kalko, 2001). Insetívoros aéreos que voam em bordas, clareiras e por sobre o dossel da floresta precisam evitar colisões com a vegetação próxima, além de discriminar presas potenciais dos demais objetos de fundo (Jung et al. 2007; Schnitzler e Kalko, 2001). Embalonurídeos conseguem forragear neste tipo de situação porque de maneira geral, emitem sinais mistos com um componente qcf de alta frequência que fornecem informações sobre distância e direção dos objetos (Jung et al. 2007; Schnitzler e Kalko, 2001); além de um distinto componente fm que fornece informações sobre textura e localização dos alvos (Jung et al. 2007; Kalko e Aguirre, 2006; Schnitzler e Kalko, 2001; Weinbeer e Kalko, 2007). Portanto, é provável que o maior número de registros de embalonurídeos na mata e de molossídeos nas áreas de cabrucas (Figura 4) seja decorrente primeiro de adaptações nos sinais de ecolocalização dos embalonurídeos que possibilitam a eles explorarem ambientes mais complexos como bordas de mata, com grande eficácia, além de adaptação e dominância dos molossídeos em áreas alteradas pelo homem como no caso das cabrucas. Entretanto, o amortecimento dos sinais de ecolocalização na vegetação densa da mata pode ter favorecido o 42 maior registro de passes de embalonurídeos neste ambiente, e dificultado o registro de molossídeos e de alguns vespertilionídeos de área aberta. Deste modo, estudos complementares que incluam uma medida quantitativa da cobertura de vegetação acima do microfone, durante a gravação, se faz necessário para avaliar o nível amortecimento dos sinais e a influência dele na obtenção dos registros acústicos. Influência da saída dos abrigos no padrão temporal de atividade dos insetívoros aéreos Adaptações nos sinais de ecolocalização e na morfologia das espécies também deve ter influenciado o padrão temporal de atividade das assembleias nas áreas amostradas (Figura 5d), na medida que influencia o horário de saída do abrigo, e determinam os itens alimentares que cada espécie é capaz de explorar (Duverge et al., 2000; Jones e Rydell, 1994). O momento da saída do abrigo pelos morcegos durante o crepúsculo é moldado por pressões seletivas, e difere entre as espécies devido às habilidades que elas desenvolveram para evitar ataques de predadores, e competição por alimento com aves diurnas ainda ativas (Duverge et al., 2000; Jones e Rydell, 1994). Está associado com a velocidade de voo, que por sua vez depende da morfologia da asa, massa corpórea e carga alar (Jones e Rydell, 1994). Espécies de voo rápido e alta carga alar – tais como os molossídeos (Fenton et al., 1998; Norberg e Rayner, 1987), tendem a sair do abrigo mais cedo influenciadas por picos de atividade de dípteros (Jones e Rydell, 1994). Por serem mais velozes em voo, elas possuem menores chances de serem predadas por aves raptoras do que espécies de voo lento e baixa carga alar, que tendem a emergir do abrigo mais tarde (ver Duverge et al., 2000; Jones e Rydell, 1994). Estas têm sua atividade modelada independente do pico de atividade crepuscular dos dípteros, compensando o retardo de saída do abrigo com a busca por outros itens em sua dieta tais como mariposas (Fenton et al., 1998; Jones e Rydell, 1994). O padrão temporal de atividade observado nas áreas de cabruca foi intenso nos primeiros minutos, semelhante ao observado por Esbérard e Bergallo (2010) para a espécie Molossus molossus. A predominância da família Molossidae neste ambiente (Figura 4) - e em especial os sonotipos identificados pela classificação preditiva como pertencentes ao genêro Molossus (57,15% dos registros), explica a semelhança no padrão de atividade nas cabrucas amostradas com o estudo de Esbérard e Bergallo (2010). O mesmo padrão de intensa atividade em curtos períodos de tempo foi observado por Fenton et al. (1998) para M. ater. O voo rápido dos molossídeos em áreas abertas possibilita que eles tenham acesso a insetos suficientes para cobrir custos energéticos do voo e de seu metabolismo básico em curtos intervalos de tempo (Fenton et al., 1998). A dominância de embalonurídeos na mata determinou o padrão de atividade mais constante no decorrer da noite observado nesta assembleia. Por serem morcegos de voo mais lento, com menor carga alar (exceto o gênero Taphozous) (Norberg e Rayner, 1987), adaptados a forrageio próximo a vegetação (Jung et al., 2007; Kalko e Aguirre, 2006; Schnitzler e Kalko, 2001), e predadores preferencialmente de mariposas (Wei et al., 2008, Yancey, 1998), pode-se 43 esperar que estas espécies retardem mais a emergência do abrigo a momentos de menor luminosidade. Elas então seriam insetívoros adaptados a explorarem itens alimentares disponíveis no decorrer da noite, tendo sua atividade menos influenciada pelo pico de atividade dos dípteros. Entretanto, estudos complementares envolvendo atividade e composição de dieta de insetívoros se faz necessários para corroborar ou não esta hipótese. Além disso, fatores tais como precipitação, intensidade dos ventos, luminosidade da lua e duração da noite influenciam a atividade dos insetívoros aéreos numa escala temporal (Esbérard e Bergallo, 2010; Jones e Rydell, 1994; Kramer e Birney, 2001; Lee e Mccracken, 2001; Wei et al., 2008). Estes fatores somados a estratégia para evitar gasto energético desnecessário – p.ex., períodos de baixa disponibilidade de alimento (Fenton et al., 1998), e medo de predação (Duverge et al., 2000; Esbérard e Bergallo, 2010; Fenton et al., 1998; Jones e Rydell, 1994), podem ter determinado os picos intercalados com importantes interrupções de atividade em alguns períodos da noite (Figura 5d). Vantagens do método em inventários e estudos de comunidade O monitoramento acústico se mostra uma ferramenta útil para a conservação e conhecimento da diversidade de morcegos nos trópicos porque consegue registrar em grande quantidade os insetívoros aéreos - um grupo que normalmente passa despercebido nos inventários, porque são pouco capturados em redes (Furey et al., 2009; Kalko e Aguirre, 2006; Kunz e Brock, 1975; MacSwiney et al., 2008; MacSwiney et al., 2009). O uso desta técnica aliada a outras podem produzir uma imagem mais real e menos distorcida da fauna de morcegos nos habitats e paisagens (MacSwiney et al., 2008). MacSwiney et al. (2008) conseguiram um acréscimo de 30% na representação da fauna de morcegos na península de Yucatán no México. Este componente adicionado consistia exclusivamente de insetívoros aéreos que foi acessado somente com detectores, aumentando a riqueza da região de 26 para 37 espécies (MacSwiney et al., 2008). Além disso, a ideia sobre o estado de conservação e os riscos que algumas espécies correm vem sofrendo alterações com o uso de detectores (ver Kalko e Aguirre, 2006). Espécies antes tidas como raras e de distribuição restrita – porque não haviam sido coletadas em décadas de esforço com redes-de-neblinas são agora regularmente registradas com o uso de detectores, tendo sua distribuição geográfica aumentada (Kalko e Aguirre, 2006). No sul da Bahia, um esforço considerável em 14 municípios, resultou em 6576 capturas de 59 espécies (Faria e Baumgarten, 2007). A despeito das famílias de insetívoros aéreos mais representativas, apenas cinco embalonurídeos, três molossídeos e um verpertilionídeo foram registrados, e somente duas destas espécies foram capturadas com redes, sendo as demais registradas em abrigos diurnos, em 16 anos de coletas (Faria e Baumgarten, 2007). Aqui, em 24 noites de monitoramento obteve-se 1971 registros pertencentes a 24 sonotipos, o que equivale a um valor 2,6 vezes maior na riqueza de insetívoros aéreos do sul da Bahia, se cada sonotipo representar de fato uma espécie distinta. Os dados deste estudo mostram que a 44 riqueza de ao menos duas famílias está subestimada: Vespertilionidae (06 sonotipos) e Molossidae (12 sonotipos), número bem maior que 1 e 3 espécies capturadas respectivamente até o momento. De fato, espécies que nunca foram capturadas na região como Lasiurus cinereus, Myotis ruber e outras do gênero Eumops e Cynomops provavelmente são comuns, como indica o desenho das chamadas e a classificação preditiva. Entretanto, vale ressaltar que o uso de detectores para monitoramento de morcegos também possui limitações, sobretudo para a família Phyllostomidae (Figura 04), onde o uso de redesde-neblina é mais apropriado (Kalko e Aguirre, 2006; MacSwiney et al., 2008) e deve ser usada em conjunto com os detectores para a implementação de listas de espécies de morcegos mais precisas nos ambientes (MacSwiney et al., 2008). AGRADECIMENTOS Ao CNPq pela bolsa de mestrado (processo n°:134027/2010-08) de Henrique Matheus Farias permitindo a execução deste e de outros trabalhos sobre bioacústica de morcegos. A Luciano, Fábio e Jéssica da Fazenda São Sebastião, Seu Jonca da Fazendo Igreja Adventista, e o pessoal do ICMBio (Bruno Marchena em especial) por terem permitido e viabilizado as coletas nas áreas de estudo. E aos colegas Leandro Oliveira, Paulo Ribeiro, Marcelino Diaz, Vanessa Lázaro, Nereyda Falconí e Eduardo Barros pelo apoio em campo. 45 RERERÊNCIAS Aho, K. (2011). 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Ainda assim, no Brasil – um país megadiverso, onde a maioria de seu território não possui sua fauna de morcegos inventariada - poucos estudos sobre ecolocalização foram feitos, o que lança sérias dúvidas sobre o atual conhecimento da diversidade de quirópteros. Deste modo, se faz necessário que pesquisadores comecem a utilizar detectores em seus estudos para que haja a criação de uma base de dados representativa, com a descrição dos sonogramas de espécies que ocorrem neste país. Em médio prazo, isto permitirá o monitoramento destas espécies com regularidade, possibilitando um acréscimo no número de registros nos inventários biológicos e estudos de comunidade. O primeiro passo foi dado neste trabalho, com a compilação de características acústicas de 32 espécies a partir de dados disponíveis na literatura. Esta base de dados pode (e deve) ser aperfeiçoada, na medida em que novas descrições forem feitas e adicionadas ao banco. Também se faz interessante a construção um banco de dados com as populações que ocorrem no Brasil, respeitando assim as peculiaridades dos habitats e paisagens brasileiras, uma vez que a estrutura dos sinais de ecolocalização sofre a influência do ambiente. Este trabalho trará uma visão mais representativa e menos enviesada das assembleias de morcegos nos ecossistemas, além de contribuir para conservação e manejo deles, especialmente dos insetívoros aéreos. Esta é a principal conclusão do segundo capítulo, onde após 24 noites de monitoramento de atividade obteve-se um valor 2,6 vezes maior na riqueza de insetívoros aéreos do sul da Bahia do que em 16 anos de coleta com técnicas tradicionais como as redes-de-neblina. Ao menos duas famílias: Vespertilionidae e Molossidae estão subestimadas, e espécies que nunca foram capturadas devem ser comuns na região. Entretanto, o uso desta técnica é limitado para morcegos que emitem chamadas de baixa intensidade como os filostomídeos. Como esta família é a mais representativa nos trópicos, é importante que os métodos de captura e monitoramento acústico sejam usados de maneira conjunta para a construção de listas da fauna de morcegos mais completas. 50 MATERIAL SUPLEMENTAR: lista com descrição dos parâmetros acústicos de espécies que ocorrem no Brasil com potencial para identificação acústica Tabela 1: Estatística descritiva de parâmetros acústicos das espécies pertencentes à família Emballonuridae com registro no Brasil (Média e desvio padrão). Shape, desenho; n, número de chamadas analisadas; Dur, duração (ms); IPI, Intervalo entre pulsos (ms); MaxF, máxima frequência (kHz); 1°BW, band width do primeiro componente FM; BW CF, band width do componente CF; 2°BW, comprimento do segundo band width. Espécie Desenho n Dur sd (±) IPI sd (±) MaxF sd (±) 1° BW sd (±) BW CF sd (±) 2° BW sd (±) Referência Cormura brevirostris(low) qcf+ 12 8.2 2 119 45 25.2 1.5 1 1 1.5 1.3 0.6 0.6 Jung et al. 2007 C. brevirostris(middle) qcf+ 12 8.2 1.8 100 21 28.1 0.6 0.8 0.4 1.2 0.5 0.4 0.3 Jung et al. 2007 C. brevirostris(high) qcf+ 12 8.6 1.6 107 38 31.4 0.4 0.8 0.5 1.6 0.9 0.4 0.4 Jung et al. 2007 Cyttarops alecto fm+_qcf_fm- 12 9.8 1.6 154 22 35.9 0.4 1.1 0.4 1.5 0.6 0.8 0.5 Jung et al. 2007 Diclidurus albus(low) qcf- 12 9.4 4.7 317 43 23.5 0.3 0.2 0.1 0.7 0.2 0.1 0.2 Jung et al. 2007 D. albus(middle) qcf- 12 9.6 5.7 162 28 23.5 0.3 0.2 0.1 0.7 0.2 0.1 0.2 Jung et al. 2007 D. albus(high) qcf- 12 9.7 5 249 54 25.8 1.3 0.2 0.3 1 0.7 0.2 0.1 Jung et al. 2007 qcf- 9 9.6 2.2 170 34 31.6 1.6 0.4 0.3 1.1 0.4 1.3 0.2 Jung et al. 2007 Centronycteris maximiliani D. ingens D. isabella D. scutatus Peropteryx kappleri P. leucoptera P. Trinitatis Rhynchonycteris naso qcf_fm- 12 4.8 0.9 58 12 98.2 2.3 0.5 0.6 0.9 0.8 7.3 3.7 Jung et al. 2007 Saccopteryx bilineata(low) fm+_qcf_fm- 12 7.5 1.5 73 17 44.5 1.3 1.4 1.1 0.8 0.4 0.7 0.7 Jung et al. 2007 S. bilineata(middle) fm+_qcf_fm- 12 7.6 1.3 105 25 46.8 1.1 1 1.1 0.6 0.3 0.7 0.7 Jung et al. 2007 S. canescens S. gymnura S. leptura(low) fm+_qcf_fm- 7.2 1.5 68 24 51.3 1.8 0.5 0.6 1.6 0.8 0.4 0.5 Jung et al. 2007 S. leptura(middle) fm+_qcf_fm- 6.8 1.2 90 28 44.5 1.3 0.4 0.6 1.4 1.2 0.6 0.7 Jung et al. 2007 51 Tabela 2: Estatística descritiva de parâmetros acústicos das espécies pertencentes à família Molossidae com registro no Brasil (Média e desvio padrão). Shape, desenho; n, número de chamadas analisadas; Dur, duração (ms); IPI, Intervalo entre pulsos (ms); SF, frequência inicial; EF, frequência final; MaxF, máxima frequência (kHz); MinF, menor frequência; PF, pico de frequência. nd – dados não disponíveis. Espécie Desenho n Dur sd (±) IPI sd (±) SF sd (±) EF sd (±) MaxF sd (±) MinF sd (±) PF sd (±) Referência qcf-_fm- 6 14.2 1.5 363 164 22.6 1.5 16.5 1.5 22.6 1.5 16.5 1.5 nd nd Marquez 2009 C. planirostris qcf-_fm- 14 20.2 1.5 150.1 81.9 32.5 1.1 28.6 2.1 32.5 1.1 28.6 2.1 nd nd Marquez 2009 Eumops auripendulus qcf- 337 21.2 4.8 573.2 297.4 21.3 2.3 17.4 1.7 21.3 2.3 17.4 1.7 nd nd Marquez 2009 qcf- 337 21.2 4.8 573.2 297.4 21.3 2.3 17.4 1.7 21.3 2.3 17.4 1.7 nd nd Marquez 2009 qcf- 50 57.9 22.8 136.9 29.4 8.2 0.5 6.8 0.3 8.2 0.5 6.8 0 7.4 0.37 Avila-Flores e Fenton 2005 Cynomops abrasus C. greenhalli C. milleri C. paranus E. Bonariensis E. Delticus E. glaucinus E. hansae E. maurus E. patagonicus E. perotis E. Trumbulli Molossops neglectus M. temminckii qcf+ / qcf+_qcf- 168 7.99 1.2 87.8 19.0 46.1 1.4 52.7 1.5 52.7 1.5 46.1 1.4 nd nd Marquez 2009 Molossus coibensis qcf_fm- 104 13.6 2.7 151.6 88 33.9 2.1 30.0 2.7 33.9 2.1 30.0 2.7 nd nd Marquez 2009 M. currentium qcf-/qcf- 177 14.6 1.9 176.8 113.6 31.3 1.9 27.8 2.6 31.3 1.9 27.8 2.6 nd nd Marquez 2009 M. molossus(low) fm+_qcf- 15 11.35 1.2 200 1 nd nd 32.1 1.1 35.3 0.9 32.1 1.1 34.5 1.0 Mora et al. 2004 M. molossus(high) fm+_qcf- 15 11.5 1.1 200 1 nd nd 37.3 1.4 40.5 1.5 37.3 1.4 39.6 1.4 Mora et al. 2004 qcf- 41 14 1.9 431.7 288 24.5 1.5 22.7 1.3 24.5 1.5 22.7 1.3 nd nd Marquez 2009 M. pretiosus M. rufus Neoplatymops mattogrossensis Nyctinomops aurispinosus 52 N. laticaudatus MacSwiney et al, 2002 N. macrotis qcf- 60 18.6 4.4 1203 913.1 13.0 2.1 11.3 1.3 13.0 2.1 11.3 1.3 12 1.5 Avila-Flores e Fenton 2005 Promops centralis qcf+ 80 98.11 30.9 199.45 97.6 25.1 1.9 31.2 1.3 31.2 1.3 25.1 1.9 nd nd Marquez 2009 qcf-_fm- 130 13.7 2.2 239.7 91.8 30.3 5.3 26.3 3.6 30.3 5.3 26.3 3.6 27.5 3.8 Avila-Flores e Fenton 2005 P. Nasutus Tadarida brasiliensis Tabela 3: Estatística descritiva de parâmetros acústicos das espécies pertencentes à família Vespertilionidae com registro no Brasil (Média e desvio padrão). Shape, desenho; n, número de chamadas analisadas; Dur, duração (ms); IPI, Intervalo entre pulsos (ms); SF, frequência inicial; EF, frequência final; MaxF, máxima frequência (kHz); MinF, menor frequência; PF, pico de frequência. nd – dados não disponíveis. Espécie Desenho n Dur sd (±) IPI sd (±) SF sd (±) EF sd (±) MaxF sd (±) MinF sd (±) PF sd (±) Referência fm-_qcf 6 8.4 2.1 nd nd 34.3 1.7 37.4 2.0 34.3 1.7 37.4 2.0 nd nd Rydell et al 2002. fm-qcf 918 8.48 2.5 28.2 4.7 21.6 1.9 28.2 4.7 21.6 1.9 nd nd O'Farrel et al. 2000. fm-_qcf 6 9.1 1.9 32.2 2.9 28.6 2.7 32.2 2.9 28.6 2.7 nd nd Rydell et al 2002. Eptesicus andinus E. Brasiliensis E. chiriquinus E. Diminutus E. furinalis E. taddeii Lasiurus blossevillii L. castaneus L. cinereus L. ebenus L. ega nd nd L. egregius L. salinae 53 Histiotus alienus H. laephotis H. montanus H. velatus Myotis albescens fm-qcf 2 nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd 43 nd Surlykke & Kalko 2010. M. nigricans(open space) fm-_qcf 370 7.2 0.3 106.2 11.2 59.9 0.6 50.9 0.6 59.9 0.6 50.9 0.6 54.3 0.4 Siemers et al. 2001 M. nigricans(Edge & Gap) fm-_qcf 430 4.3 0.5 67.6 13.1 95.4 4.7 51.6 1.1 95.4 4.7 51.6 1.1 55 1.2 Siemers et al. 2001 M. riparius fm-_qcf 4.5 0.7 M. ruber fm-_qcf 5 M. levis 58 50 58 50 Siemers et al. 2001 65 58 65 58 Siemers et al. 2001 M. simus Rhogeessa hussoni R. io 54 Tabela 4: Estatística descritiva de parâmetros acústicos das espécies pertencentes a cinco famílias com registro no Brasil (Média e desvio padrão). Shape, desenho; n, número de chamadas analisadas; Dur, duração (ms); IPI, Intervalo entre pulsos (ms); SF, SF, frequência inicial; EF, frequência final; MaxF, máxima frequência (kHz); 1°BW, band width do primeiro componente; 2°BW, band width do segundo componente. nd – dados não disponíveis. Família Espécie Desenho n Dur Furipteridae Furipterus horrens nd nd Mormoopidae Pteronotus gymnonotus Mormoopidae P. parnellii Mormoopidae P. personatus Natalidae Natalus espiritusantensis Noctilionidae sd IPI sd SF sd EF sd PF 1 nd nd nd nd nd nd nd 150 sd MaxF sd 1º BW sd 2º BW sd 120 Fenton et al. 1999 fm+_qcf_fm- 5 7.0 0.3 nd nd 65.9 0.9 62.9 1.9 65.9 0.9 62.9 1.9 Noctilio albiventris(cf) fm+_qcf_fm- 26 9.7 0.7 140 99.0 72.8 1.3 67 4.1 72.8 1.3 67 4.1 Noctilionidae N. albiventris(cf-fm) qcf_fm- 26 9.7 0.7 140 99.0 67 4.1 nd nd 67 4.1 nd nd Noctilionidae N. albiventris(fm) fm- 4 19 2.8 nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd Noctilionidae N. leporinus(cf) fm+_qcf_fm- 107 13.3 1.0 98.8 54.1 57.3 1.5 57.3 1.5 57.3 1.5 1.5 nd nd Noctilionidae N. leporinus(cf-fm) qcf_fm- 107 13 1.3 98.8 54.1 57.3 1.5 nd nd 57.3 1.5 nd nd nd Thyropteridae Thyroptera devivoi Thyropteridae T. discifera Thyropteridae T. lavali Thyropteridae T. tricolor 57.3 nd Referência nd nd nd nd Rydell et al 2002. 5.6 0.7 nd nd Kalko et al. 1998 5.5 1.6 2 Kalko et al. 1998 nd nd Kalko et al. 1998 nd nd Schnitzler & Kalko 1994 3.6 Schnitzler & Kalko 1994 17.2 25.9 55 MATERIAL SUPLEMENTAR: Oscilograma e Espectrograma com sinais de ecolocalização de um insetívoro aéreo Fase de busca Fase de aproximação Feeding buzz Pausa Fase de busca Tempo (ms) Figura 1: Oscilograma (superior) e Espectrograma (inferior) mostrando o comportamento típico de ecolocalização de um insetívoro aéreo durante uma gravação completa de uma chamada de ecolocalização. As três fases (busca, aproximação e Feeding buzz) estão indicadas por chaves. 56 Figura 2: Os três tipos básicos de sinais de ecolocalização durante a fase de busca segundo Schintzler e Kalko (2001). Sinais de Banda-larga são mais apropriados em ambientes complexos, com grande quantidade de alvos, tais como o interior da vegetação; sinais de banda-curta são mais adequados para ambientes abertos sem obstáculos; e sinais mistos são apropriados para situações onde o morcego forrageia em espaços livres, porém próximo a obstáculos de fundo, como bordas e clareiras de vegetação. 57 58