arquivo do resumo extendido - SBCS
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X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 Núcleo Regional Sul Abundância Natural de 13C em Perfis de Solo sob Cultivo de Eucalipto Fabiane Figueiredo Severo(1); Leandro Souza da Silva(2) ; Laila Garcia Marques(3); Natália Tobin Aita(3); Rafael Lago Busanello(3) (1) Mestranda em Ciência do Solo; Universidade Federal de Santa Maria; Av Roraima, 1000, Santa Maria, RS, 97105-900; [email protected]); (2)Professor Associado; Universidade Federal de Santa Maria; (3)Acadêmicos do curso de Agronomia; Universidade Federal de Santa Maria. RESUMO– No estado do Rio Grande do Sul o plantio de eucaliptos aumentou consideravelmente nos últimos anos em áreas que antes eram dominadas por campos nativos. As gramíneas que dominam a paisagem dos campos nativos possuem ciclo fotossintético C4, as quais discriminam de modo diferente o 13C do ar em seu metabolismo fotossintético em relação às espécies de ciclo fotossintético do tipo C3 (eucaliptos). Neste trabalho, a abundância natural de 13C permitiu avaliar a contribuição dos resíduos vegetais da área na composição da MOS devido a diferença entre os ciclos C3 e C4 das espécies dominantes. Quanto maior o tempo de plantio do eucalipto, menor a abundância de 13 C na MOS, o que denota o efeito da incorporação dos resíduos desta cultura, principalmente na camada superficial do solo. Em plantios com 21 anos, a distribuição dos valores de 13C atinge maiores profundidades, demonstrando uma maior contribuição relativa da nova vegetação no perfil do solo. Palavras-chave: carbono, isótopos, pastagem, floresta. INTRODUÇÃO - Os solos arenosos do Pampa totalizam 1,4 milhão de hectares, muito frágeis e degradáveis (Souto, 1994). Estas áreas possuem pouca aptidão agrícola e o plantio de espécies florestais se mostrava mais lucrativo em relação aos demais cultivos, sendo visto como uma forma de agregar valor econômico a propriedade rural (Ribaski et al., 2005). A plantação de eucaliptos recebe duras críticas em relação ao empobrecimento nutricional do solo, mas estudos comprovaram que florestas plantadas de eucalipto são capazes de alocar maior conteúdo de C e N na sua parte aérea. Entretanto, o eucalipto quando plantado em áreas degradadas ou de savana é fator determinante na elevação da quantidade de material orgânico no solo (Bouvet, 1999). A matéria orgânica do solo (MOS) pode ser estudada por meio da composição isotópica do carbono e do nitrogênio. A abundância natural de 13C permite caracterizar a MOS e está relacionada com a via fotossintética de fixação de isótopos de C da vegetação predominante. Plantas do tipo C3 discriminam o 13C em relação ao 12C, gerando no solo teores menores de 13C; e plantas do tipo C4 fixam o 13C em maiores proporções do que as do tipo C3, o que gera no solo maior abundância natural de 13C (Golchin et al., 1995; Martinelli et al., 2009) A variação na abundância natural de 13C tem sido empregada para avaliar o impacto de usos e manejos distintos do solo em frações da MOS em vários locais do Brasil (Sá et al., 2001; Sisti et al., 2004). Nesse contexto, o cultivo de eucalipto (tipo C3) sobre áreas de campo nativo (predominam espécies C4) possui grande importância econômica no RS, pois fornece madeira às produções de lâminas, compensados, aglomerados, carvão vegetal, madeira serrada, celulose e móveis, além de outros produtos extraídos como óleos essenciais e para a produção de mel. Em plantações de eucalipto, a taxa de decomposição da serapilheira tende a ser menor que em outras coberturas nativas, devido a característica do material vegetal, o que propicia o acúmulo de matéria orgânica na camada superficial do solo (Zancada et al., 2003) em uma dinâmica diferenciada em relação a vegetação anterior. Alguns trabalhos apontam que o cultivo de eucalipto por várias décadas em solos anteriormente sob pastagens degradadas resultou em maior acúmulo de C em várias frações da MOS (Lima et al., 2006). Leite et al. (2010) verificaram que, após vários anos de plantio, os teores de MOS foram restabelecidos, mas apresentaram valores médios entre os notados em áreas de pastagens degradadas e de solos sob matas nativas. Assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar a abundância natural de 13C no perfil de solo em áreas com diferentes idades de cultivos de eucalipto sobre campo nativo. MATERIAL E MÉTODOS - A área de estudo localiza-se no município de São João do Polêsine (RS). Com extensão de aproximadamente 89 km2, localiza-se na região central do Rio Grande do Sul, na transição entre a região do Planalto e da Depressão Central. O clima apresenta-se do tipo Cfa, segundo a classificação de Köppen. A temperatura média das mínimas anual é em torno de 14°C e média das máximas anual de 25°C. A precipitação média anual é de 1.700 mm (Buriol et al., 1979). A coleta de amostras de solos foi realizada em uma floresta de eucalipto com idade de 02 anos X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Núcleo Regional Sul Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 (E1), 10 anos (E2), 21 anos (E3), e em uma área de pastagem em localização adjacente (CN). O local do plantio de eucaliptos não sofreu preparação prévia com corretivos químicos e/ou fertilizantes antes da colocação das mudas. Em cada um dos tratamentos (E1, E2, E3 e CN) foram cavadas 3 trincheiras medindo 0,6 m comprimento x 0,4 m de largura e profundidade de 0,5 m. As coletas foram feitas nas profundidades: 0-5, 5-10, 10-20, 20-30, 30-40, 40-50, 50-70 e 70-90 cm. Nas profundidades maiores que 50 cm, o trado tipo holandês foi utilizado. As coletas em florestas de eucalipto (E1, E2 e E3) foram realizadas nas entrelinhas de plantio e em cada profundidade de cada trincheira, três subamostras foram retiradas para compor uma amostra. Nas amostras que tiveram fragmentos de rochas e raízes macroscópicas as mesmas foram removidas manualmente e, após secas em 60ºC a peso constante, foram moídas e peneiradas a 1 mm e, posteriormente, ainda realizou-se a maceração das amostras no gral e pistilo para garantir a homogeneidade da amostra. A determinação do teor de carbono e da abundância de 13C foram realizadas por espectrometria de massas no autoanalisador modelo Flash 1112 Advantage acoplado ao Delta V Advantage Isotope Ratio Mass, ambos da Thermo Scientific. A amostragem consistiu de um delineamento experimental casual (DEC). As 96 amostras foram analisadas em triplicata (n=3) com resultados tabulados em Excel. Avaliou-se a média aritmética com desvio padrão relativo de cada conjunto de trincheiras seguido do teste de repetibilidade expressa pela equação: %Rep = [1 – (σ / X)] * 100 Onde: % Rep: Percentagem de repetibilidade; σ: Desvio padrão relativo do conjunto de amostras de cada trincheira (%); X: média dos valores do conjunto de amostras de cada trincheira (%). Considerou-se como sendo precisos aqueles conjuntos de valores com repetibilidade superior ou igual a 95% (p <0,05). RESULTADOS E DISCUSSÃO - Os valores de δ13C no perfil do solo de campo nativo estão em média de -21,2 (Tabela 1) similares ao longo do perfil avaliado. Em plantas do tipo C4, os valores de δ13C situam-se entre - 6 ‰ e - 19 ‰ (em média -13 ‰); as de tipo C3 apresentam valores que oscilam entre - 20 ‰ e - 34 ‰ (em média -27 ‰) (Smith & Epstein, 1971). Os valores encontrados estão acima da média para plantas C4, provavelmente porque os campos nativos não possuem exclusivamente plantas tipo C4, diluindo os valores com a presença de espécies C3. Após 2, 10 e 21 anos de troca de manejo da área para o cultivo de eucalipto, é possível verificar que a abundância de 13C se altera, principalmente nas camadas mais superficiais. A incorporação de resíduos vegetais provenientes de plantas C3 na área diminui a abundância do 13C das camadas mais superficiais onde o resíduo é predominantemente depositado. Os valores de C aportados no solo, derivados do eucalipto, concentram-se na camada de 0-0,30 m (Binkley et al., 2004). Após 21 anos de cultivo a camada superficial (0 a 5 cm) aproxima-se cada vez mais seu valor ao da média característica dos tecidos vegetais de plantas C3 (-27‰), sugerindo que boa parte do carbono nessa camada seja determinado pelo resíduo do eucalipto. Tabela 1. Abundância isotópica δ13C (‰) em amostras de solo sob campo nativo e cultivo de eucalipto com diferentes idades. Profundidade (cm) Locais avaliados CN E1 E2 E3 13 ………….δ C (‰).................. 0-5 -19,2 -22,6 -26,6 -29,3 5-10 -21,6 -21,3 -24,1 -25,0 10-20 -21,7 -20,7 -22,5 -24,2 20-30 -21,7 -19,7 -20,5 -24,8 30-40 -21,6 -19,7 -20,5 -24,5 40-50 -21,6 -19,8 -20,1 -24,7 50-70 -20,7 -20,3 -20,2 -24,9 70-90 -21,5 -18,8 -20,9 -24,3 CN = campo nativo; E1, E2 e E3 = cultivos de eucalipto com 2, 10 e 21 anos respectivamente. CONCLUSÕES – A quantidade do isótopo 13 do carbono mostra-se como um marcador eficiente, refletindo os efeitos do manejo a partir do conhecimento do ciclo fotossintético da vegetação antiga e atual da área. Quanto maior o tempo de plantio do eucalipto, menor a abundância de 13C na MOS, o que denota o efeito da incorporação dos resíduos desta cultura, principalmente na camada superficial do solo. Em plantios com 21 anos, a distribuição dos valores de 13C atinge maiores profundidades, demonstrando uma maior contribuição relativa da nova vegetação no perfil do solo. AGRADECIMENTOS- Ao Prof. Dr. Rodrigo Salazar, Prof. Dr Sandro Giacomini, Eng. Químico André Friderich e ao Prof Dr Galileo Buriol. REFERÊNCIAS BINKLEY, D.; KAYE, J.; BARRY, M.; RYAN, M.G. First rotation changes in soil carbon and nitrogen in a eucalyptus plantation in Hawaii. Soil Science Society of America 2 X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 Journal, 68:1713-1719, 2004. BOUVET, J. M. “Les plantations d’Eucalyptus: evolutions récent set perpectives”. Spécial Eucalyptus, L’association Silva, Paris, 4-14, 1999. Núcleo Regional Sul e Veterinárias: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, P. 169-179, 1994. ZANCADA, M.C.; ALMENDROS, G. & BALLESTA, R.J. Humus quality after eucalypt reforestations in Astúrias (Northern Spain). Sci. Total Environ., 313:245-258, 2003. BURIOL, G.A. et al. Cartas mensais e anuais das temperaturas médias, das médias das temperaturas máximas e das médias das temperaturas mínimas do estado do Rio Grande do Sul. Revista do Centro de Ciências Rurais, Santa Maria, 9:1-53, 1979. (Suplemento). GOLCHIN, A.; OADES, J.M.; SKJEMSTAD, J.O. ; CLARKE, P. Structural and dynamic properties of soil organic matter as reflected by 13C natural abundance, pyrolysis mass spectrometry and solid-state 13C NMR spectroscopy in density fractions of Oxisol under forest and pasture. J. Soil Res., 33: 59-76, 1995. KÖPPEN, W.; GEIGER, R. Klimate der Erde. Gotha: Verlag Justus Perthes. 1928. Wall-map 150cmx200cm. LEITE, F.P.; SILVA, I.R.; NOVAIS, R.F.;BARROS, N.F. & NEVES, J.C.L. Alterations of soil chemical properties by eucalyptus cultivation in five regions in the Rio Doce Valley. R. Bras. Ci. Solo, 34:821-831, 2010. LIMA, A.M.N.; SILVA, I.R.; NEVES, J.C.L.; NOVAIS, R.F.; BARROS, N.F.; MENDONÇA, E.S.; SMYTH, T.J.; MOREIRA, M.S. & LEITE, F.P. Soil organic carbon dynamics following a forestation of degraded pastures with eucalyptus in Southeastern Brazil. For. Ecol. Manag., 235:219-231, 2006. MARTINELLI, L.A.; OMETTO, J.P.H.B.; FERRAZ, E.S.;VICTORIA, R.L.; CAMARGO, P.B. & MOREIRA, M.Z. Desvendando questões ambientais com isótopos estáveis. São Paulo, Oficina de Textos, 2009.145p RIBASKI, J.; DEDECEK, R. A.; MATTEI, V. L.; FLORES, C.A.; VARGAS, A. F. C.; RIBASKI, S. A. G. Sistemas silvipastoris: estratégias para o desenvolvimento rural sustentável para a metade sul do estado do Rio Grande do Sul. Embrapa Florestas, 1-3, 2005. SÁ, J.C.M.; CERRI, C.C.; DICK, W.A.; LAL, R.; VENSKE, S.P.F.; PICCOLO, M.C. & FEIGI, B.E. Organic matter dynamics and carbon sequestration rates for a tillage chronosequence in a Brazilian Oxisol. Soil Sci. Soc. Am. J., 65: 1486-1499, 2001. 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