Uma História para Adultos

Transcrição

Uma História para Adultos
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Uma História para Adultos
2 Samuel 24; 1 Crônicas 21
David Roper
sta lição tem como título “Uma História para Adultos”, mas não pretende
ser uma história para dormir. Quero
que todos vocês fiquem bem acordados! A história
se encontra em 2 Samuel 24, e é recontada em 1 Crônicas 21 com o acréscimo de vários detalhes.
Romanos 15:4 diz: “Pois tudo quanto, outrora,
foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de
que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. As coisas escritas
no Antigo Testamento não são leis para nós, mas
elas têm o seu valor. 1) Estão escritas “para o
nosso ensino”. O Antigo Testamento, em sua
maior parte, não constitui um ensino objetivo,
mas narrativas — histórias das quais Deus espera
que tiremos lições de vida. 2) Elas nos incitam a
“perseverar” ou permanecer no caminho. 3) Elas
nos confortam e animam. 4) Elas nos dão “esperança”, a âncora da alma. Usando as narrativas
de 2 Samuel 24 e 1 Crônicas 21, analisaremos sete
verdades.
E
ADULTOS AINDA PODEM PECAR
(2 SAMUEL 24:1–10; 1 CRÔNICAS 21:1–8)
Muitas histórias começam com os dizeres:
“Era uma vez”. Usando essa fórmula, começaríamos nossa história dizendo: “Era uma vez um rei
chamado Davi, que resolveu fazer um recenseamento”. A Bíblia diz: “Disse, pois, o rei a Joabe,
comandante do seu exército: Percorre todas as
tribos de Israel, de Dã até Berseba, e levanta o
censo do povo, para que eu saiba o seu número”
(2 Samuel 24:2). Esta história ocorreu perto do
final da vida e reinado de Davi. Esse velho homem
resolveu fazer um recenseamento e quando o
fez, pecou.
Não está claro no texto por que tal atitude foi
um pecado. Em outras ocasiões, Deus ordenou
que se fizesse um recenseamento; mas desta vez,
por alguma razão, não era o desejo de Deus que
se fizesse a contagem. Joabe, o comandante do
exército de Davi, pareceu tentar dissuadir Davi
do intento: “Ora, multiplique o Senhor, teu Deus,
a este povo cem vezes mais, e o rei, meu senhor,
o veja; mas por que tem prazer nisto o rei, meu
senhor?” (2 Samuel 24:2, 3)1 . Tudo indica que os
únicos contados foram os homens capazes de
lutar: “Deu Joabe ao rei o recenseamento do
povo: havia em Israel oitocentos mil homens de
guerra, que puxavam da espada; e em Judá eram
quinhentos mil” (2 Samuel 24:9). Diferente de
recenseamentos anteriores, este não visava organizar o povo, nem tinha propósitos religiosos.
Era estritamente para fins militares.
Provavelmente a melhor hipótese quanto à
razão desse intento constituir um pecado é a
indicação de que Davi estava colocando confiança
demais sobre as forças carnais e pouquíssima
confiança em Deus. Quando Davi foi lutar contra
Golias com apenas uma funda, a força física não
foi importante para ele. Quando ele tinha só
quatrocentos homens para combater o exército
amalequita2 , o número de suas forças não foi uma
preocupação maior para ele. Parece que ter a
presença de Deus já não bastava. Ele queria saber
quantos homens poderia mandar para a guerra.
Conhecer o motivo por que essa atitude
constituiu um pecado não altera o fato de que foi
1
realmente um pecado. O primeiro versículo de
1 Crônicas 21 acrescenta um detalhe importante:
“Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou
a Davi a levantar o censo de Israel” (grifo meu).
Deus permitiu (2 Samuel 24:1), mas Satanás foi o
instigador3 . O versículo 7 diz: “Tudo isto desagradou a Deus”. Além disso, quando o recenseamento
estava quase pronto, não houve dúvida na mente
de Davi de que ele havia pecado: “Sentiu Davi
bater-lhe o coração, depois de haver recenseado
o povo, e disse ao Senhor: Muito pequei no que
fiz” (2 Samuel 24:10a).
Pessoas adultas ainda pecam. Pessoas adultas
ainda podem ser tentadas e enganadas por Satanás.
Seria bom pensar que podemos atingir um
ponto na vida em que o pecado já não será um
problema, que poderemos ser tão sábios e
maduros que o pecado poderá ser esquecido por
nós; mas este não é o caso. Jó 32:9 traz um
pensamento sensato sobre isto: “Os de mais idade
não é que são os sá-bios, nem os velhos, os que
entendem o que é reto”.
Podemos pensar que se havia alguém imune
à astúcia de Satanás, esse alguém era Davi. Ele
ainda era “um homem segundo o coração de
Deus”. Ele tinha suportado a terrível provação
envolvendo Bate-Seba e suas conseqüências, e
saíra disso mais forte na sua devoção pessoal a
Deus. Todavia, ele não estava imune ao pecado.
Davi continuou fiel até o fim, mas ele também
continuou falível até o fim.
Aconselhamos nossos jovens a tomarem
cuidado com a tentação, a reconhecerem como é
fácil cair. Nós também precisamos reconhecer
que quando ficamos mais velhos, ainda somos
vulneráveis. Podemos ser vulneráveis de uma
forma diferente de quando éramos jovens, mas
ainda continuamos vulneráveis. Quando Davi
ficou velho, Satanás não provocou a sua queda
através dos desejos sexuais ilícitos do seu coração;
ele fez Davi cair através do orgulho em seu
coração. No que diz respeito à nação, o resultado
foi ainda mais trágico.
Os que dentre nós são mais velhos precisam
reconhecer que não estamos isentos da tentação.
Numa certa idade, podemos ficar isentos de certos
impostos, mas nunca ficaremos isentos do pecado.
Ainda é verdade que o homem “que pensa estar
em pé veja que não caia” (1 Coríntios 10:12).
Ainda é verdade que o diabo “anda em derredor,
como leão que ruge procurando alguém para
2
devorar” (1 Pedro 5:8). Satanás não se esquece
do seu nome e endereço só porque você passou
de uma certa idade; nem se esquece de seus
pontos fracos (Tiago 1:14). Além disso, ainda é
verdade que “o salário do pecado é a morte”
(Romanos 6:23). Em poucos meses chegarei à
idade de ter descontos nos impostos como
cidadão norte-americano sênior, mas não existe
essa categoria no que se refere a pecado. O salário
ainda é o mesmo para todos nós.
ADULTOS PRECISAM CONSERVAR
A CONSCIÊNCIA SENSÍVEL
(2 SAMUEL 24:10; 1 CRÔNICAS 21:7, 8)
Há ótimas passagens em 2 Samuel 24. O
versículo 10 é uma delas. Este versículo mostra
novamente porque Davi é chamado “um homem
segundo o coração de Deus”: “Sentiu Davi baterlhe o coração, depois de haver recenseado o
povo, e disse ao Senhor: Muito pequei no que fiz;
porém, agora, ó Senhor, peço-te que perdoes a
iniqüidade do teu servo; porque procedi mui
loucamente”.
O recenseamento estava quase concluído.
Todas as tribos exceto as de Benjamim e Levi
haviam sido contadas4 . Joabe havia apresentado
os dados e números a Davi. Podemos imaginar o
espesso relatório, que levou mais de nove meses
para ser computado, colocado sobre a mesa ao
lado da cama de Davi. Davi o leu, e depois
deitou-se. Mas não conseguiu pegar no sono. Ele
se debatia por dentro. O que havia de errado? A
consciência de Davi o incomodava. Não, isto não
é forte o bastante. A consciência dele o dilacerava.
O texto bíblico diz que “lhe batia” o coração. A
ERC diz “o coração doeu a Davi” (grifo meu)5 .
Davi não era um homem perfeito. Ele tinha
suas fraquezas, assim como nós temos as nossas.
Ele também tinha sua própria consciência. Ele
estava tão perto do Senhor que quando fazia algo
errado, sua consciência não o deixava em paz.
Um presente especial que Deus dá a cada
homem é a consciência, o senso inato de certo e
errado, algo dentro de cada um de nós que nos
faz nos sentirmos mal quando fazemos o que acreditamos ser errado, algo que nos faz sentir culpa.
Hoje, dizem para ignorarmos a consciência, e
não nos preocuparmos com idéias antiquadas de
certo e errado. Dizem para não nos sentirmos
mal se violarmos as tradições da sociedade ou as
chamadas leis de Deus. Especialmente, atacam o
conceito de culpa. “Não é preciso sentir culpa”,
dizem para nós. Os pregadores são alertados:
“Não leve as pessoas ao erro da culpa”.
Deus tinha um propósito quando nos deu a
consciência. Ele colocou uma consciência dentro
de nós para o nosso bem — para nos desestimular
de pecar e para quando pecarmos, nos sentirmos
culpados e voltarmos para Ele pedindo misericórdia e perdão. Para a consciência cumprir seu dever,
ela deve conservar-se sensível, atenta e acessível.
A maioria dos jovens que conheço tem esse
tipo de consciência. Até aqueles que flertam com
o mundo e violam as leis dos homens e de Deus
geralmente podem, sob as devidas circunstâncias,
serem tocados com o sensação da imensidão de
seus pecados. Geralmente, vejo jovens voltarem
ao corpo de Cristo com lágrimas escorrendo pela
face.
À medida que ficamos mais velhos, se não
tivermos cuidado, nossas consciências podem
perder esse frescor. Ficamos mais sofisticados,
mais sábios aos olhos do mundo. Ficamos peritos
em racionalizar. Em vez da vida ter áreas brancas
e pretas, aos nossos olhos tudo parece virar uma
sombra acinzentada. A curto prazo, nossas
consciências ficam cauterizadas e petrificadas
(1 Timóteo 4:2). Você duvida disso? Pense
naqueles que têm confessado seus pecados no
último ano, pedindo orações. Quantos desses
têm até trinta anos, e quantos têm mais de trinta?
Alguma coisa acontece com a nossa consciência
à medida que ficamos mais velhos.
Davi não estava assim. A consciência dele
ainda era sensível.
ADULTOS PRECISAM RECONHECER
OS EFEITOS PROLONGADOS
DE SEUS ATOS
(2 SAMUEL 24:11–15; 1 CRÔNICAS 21:9–14)
A terceira verdade revela-se muito sensata
para todo ser humano crescido. Jesus enfatizou
que todos nós exercemos influência sobre outros
— para o bem ou para o mal (Mateus 5:13–16).
Tentamos salientar isto aos nossos adolescentes.
Paulo disse a Timóteo que os jovens precisam ser
bons exemplos (1 Timóteo 4:12). Quantos adolescentes pensam: “Isso só vai afetar a mim
mesmo”, mas acabam partindo os corações dos
pais, desanimando aqueles que se preocupam
com eles e levando outros jovens a pecar? Os
adolescentes não são os únicos que precisam
reconhecer isto. Aqueles dentro nós que têm
mais idade precisam reconhecer essa triste
verdade: em regra geral, quanto mais tivermos
vivido, mais pessoas afetaremos se nos afastarmos de Deus. Não há ilustração melhor disso do
que a seqüência de fatos após o pecado de Davi,
em 2 Samuel 24:13 e versículos seguintes.
Nessa história, Davi confessou seu pecado e
pediu o perdão de Deus. Isso é maravilhoso, mas
vimos tão vividamente no estudo sobre a vida de
Davi, que mesmo quando a culpa do pecado é
removida, as conseqüências do pecado continuam.
“Aquilo que o homem semear, isso também
ceifará” — apesar do perdão.
Vi uma ilustração gráfica disso não muito
antes de sair do Texas. Um incidente que virou
manchete era sobre um grupo de estudantes
secundaristas que ingeriram bebida alcoólica na
viagem de formatura. Depois de confessarem o
que haviam feito, tiveram de estudar numa sala
isolada durante as últimas semanas de aula. E
houve um grande clamor público por eles: “Eles
confessaram; isso devia limpar a ficha deles. Não
deveria haver nenhum castigo!” É, os estudantes
confessaram — merecem elogios por isso — mas
eles ainda tinham violado as regras que foram
claramente explicadas, tendo entendido de
antemão quais seriam as conseqüências. A
confissão não eliminou as conseqüências.
Precisamos entender essa verdade! Uma dose
de bebida, uma imprudência, trinta minutos num
quarto de motel — e as conseqüências podem se
prolongar por muito tempo!
Muitos pensam que o pecado é como tirar
bruscamente uma lata de uma prateleira de
supermercado sem afetar as latas ao redor. Ou,
imagine uma enorme pilha de enlatados. Depois,
imagine alguém tirando uma lata da base da
pilha e assistindo toda a pilha desabar. São assim
os efeitos do pecado!
Retomemos a história desta lição e vejamos
esta verdade ilustrada em 2 Samuel 24. Deus
ouviu o reconhecimento de Davi quanto ao seu
pecado no meio da noite. Na manhã seguinte,
Deus mandou o profeta Gade até Davi (vv. 11,
12a). Talvez você se lembre de que Gade foi até
Davi no deserto, quarenta anos atrás, e tornou-se
o seu conselheiro espiritual6 . Embora estivesse
agora avançado em idade, Gade continuava
sendo um dos conselheiros de Deus ao rei7 .
Quando Gade chegou a Davi com as instru-
3
ções divinas, ele se aproximou como um pai
amável disciplinando o filho. Ele foi para o bem
final de Davi — e da nação. De fato, ele disse o
seguinte a Davi: “Tome seu remédio. Aprenda a
lição. Depois continue vivendo”. Como já salientamos, Deus disciplina Seus filhos (Hebreus 12:4–13).
A coisa incomum sobre esta situação é que
Davi teve a oportunidade de escolher o chicote
com o qual seria açoitado. Gade disse a ele:
“Assim diz o Senhor: Três coisas te ofereço;
escolhe uma delas, para que ta faça” (2 Samuel
24:12). Talvez, quando você era criança, um professor tenha lhe dado oportunidade de escolher
um castigo: “Durante uma semana, fique uma
hora a mais depois do fim da aula… ou leve doze
tapas bem fortes da palmatória”. Davi recebeu
as seguintes opções:
Assim diz o Senhor: Escolhe o que queres: ou
três anos de fome, ou que por três meses sejas
consumido diante dos teus adversários, e a espada de teus inimigos te alcance, ou que por três
dias a espada do Senhor, isto é, a peste na terra,
e o Anjo do Senhor causem destruição em todos
os territórios de Israel… (1 Crônicas 21:11, 12).
Estas três opções tinham uma coisa em comum:
todas atingiam em cheio o pecado de Davi. Todas
diminuiriam o número de homens com idade
para lutar.
“Então, disse Davi a Gade: Estou em grande
angústia” (2 Samuel 24:14a). Por causa do pecado
de Davi, muitas pessoas iriam morrer! Essa era
uma dose amarga demais para se engolir.
Davi optou pela peste. Talvez ele tenha feito
essa escolha porque seria a única em que ele
estaria igualmente exposto ao perigo como o
resto da população. A Bíblia fornece o motivo
dessa decisão: “…caiamos nas mãos do Senhor,
porque muitas são as suas misericórdias; mas,
nas mãos dos homens, não caia eu” (2 Samuel
24:14b). Se alguma vez você tiver de escolher
entre cair nas mãos dos homens ou de Deus,
sempre escolha as mãos de Deus. Deus é justo; o
que concorre para o nosso bem; e, no final de
tudo, Deus perdoa. Por outro lado, o homem
pode ser cruel. O homem faz o que lhe agrada —
e é capaz de guardar rancor para sempre.
“Então, enviou o Senhor a peste a Israel,
desde a manhã até ao tempo que determinou; e,
de Dã até Berseba, morreram setenta mil homens
do povo” (2 Samuel 24:15). “De Dã até Berseba”
era a mesma área alcançada pelo recenseamento
(2 Samuel 24:2). Não posso imaginar que tipo de
4
peste poderia matar tantos e tão rapidamente,
mas uma mortandade instantânea se alastrou
pela terra. Você consegue imaginar a angústia no
coração de Davi, à medida que chegavam os
relatos? “Setenta mil homens… morreram” —
nenhuma mulher, só homens. Certamente eram
homens com idade para lutar, homens dos quais
Davi se orgulhava tanto.
Esta é uma ilustração um tanto severa dos
efeitos prolongados do pecado de um homem.
É, adultos podem pecar. Alguns chegam à meiaidade loucos. Alguns parecem entrar deliberadamente para uma segunda infância irresponsável.
Que Deus nos ajude a enxergarmos as vidas que
afetamos quando agimos sem responsabilidade.
Pode ser que não morram setenta mil, mas
podemos matar o amor, partir corações, destruir
a fé, decepcionar os fiéis e até fazer com que
outros se desviem de Deus e se percam.
Adultos também precisam reconhecer os
efeitos prolongados de cada uma de suas ações.
ADULTOS PRECISAM ASSUMIR A TOTAL
RESPONSABILIDADE POR SEUS ATOS
(2 SAMUEL 24:16, 17; 1 CRÔNICAS 21:15–17)
Os imaturos querem culpar alguém pelo que
acontece a eles: “Alguém me abandonou. Alguém
falhou comigo. Se isto ou aquilo tivesse acontecido, eu não estaria nesta triste situação”. Os maduros,
por outro lado — aqueles que realmente cresceram
— dizem: “Foi culpa minha”, sem restrições.
Voltemos à história bíblica:
Estendendo, pois, o Anjo do Senhor a mão
sobre Jerusalém, para a destruir, arrependeuse o Senhor do mal e disse ao Anjo que fazia a
destruição entre o povo: Basta, retira a mão. O
Anjo estava junto à eira de Araúna, o jebuseu
(2 Samuel 24:16).
“Arrependeu-se” significa “mudar de idéia”.
O “arrependimento” (ou mudança de opinião)
de Deus sempre depende do arrependimento do
homem. Observemos 1 Crônicas 21:16: “Davi e
os anciãos, cobertos de panos de saco” indica
arrependimento.
“Vendo Davi ao Anjo que feria o povo, falou
ao Senhor e disse” (2 Samuel 24:17a). Primeiro
Crônicas 21:16 diz que “levantando Davi os olhos,
viu o Anjo do Senhor, que estava entre a terra e
o céu, com a espada desembainhada na mão
estendida contra Jerusalém”. Davi disse: “Eu é
que pequei, eu é que procedi perversamente;
porém estas ovelhas que fizeram? Seja, pois, a
tua mão contra mim e contra a casa de meu pai”
(2 Samuel 24:17b). Esta importante confissão
confirma o versículo 10. Davi disse: “Só eu tenho
culpa”. “Ovelhas” refere-se aos súditos de Davi,
aqueles pelos quais ele era responsável. Isso não
queria dizer que o povo era perfeito. Dê uma
olhada novamente em 2 Samuel 24:1. O povo
havia suscitado a ira de Deus8 . Ao que parece, a
praga foi um castigo não somente sobre Davi,
mas sobre toda a nação. Davi só queria dizer que
o povo não era responsável pelo pecado específico
que provocou a peste.
Naqueles dias, assim como atualmente, os
líderes estavam cercados de “bodes expiatórios”,
homens prontos para assumir a culpa a fim de
proteger o líder. Davi, porém, não fez uso de
nenhum privilégio real. Ele não atribuiu a culpa
a nenhuma outra pessoa. Ele não culpou o povo.
Não culpou seus conselheiros. Ele não culpou
Satanás (“o diabo me fez fazer isto”). Ele não
culpou Deus (“afinal de contas, o Senhor deixou
Satanás me tentar”). Como fizera no versículo 10,
ele simplesmente disse mais uma vez: “Pequei”.
Nada é mais difícil do que isto. É difícil dizer:
“Eu fiz isto. Sou velho o bastante para saber
muitas coisas. Estudei a Palavra de Deus. Sei o
que é certo e o que é errado. Não posso culpar
ninguém senão eu mesmo. Pequei e pequei
gravemente. Agi como louco”. Como precisamos
de mais pessoas adultas o bastante para assumir
a total responsabilidade por seus atos!
ADULTOS DE VERDADE NÃO DESISTEM
QUANDO FRACASSAM (2 SAMUEL
24:18, 19; 1 CRÔNICAS 21:18, 19)
A quinta verdade está relacionada à quarta
verdade: adultos não desistem quando fracassam.
Por um instante, coloque-se no lugar do velho
rei e pergunte a si mesmo como teria se sentido.
Você passou a vida inteira tentando servir a
Deus. Pecou gravemente num momento e chegou
ao fundo do poço, mas, desde então, tem se
esforçado para ser o que Deus quer que seja.
Agora, você cometeu outro grande pecado. Por
conta disso, setenta mil homens dentre os seus
súditos estão mortos. Mães, pais, esposas e filhos
estão chorando. Setenta mil túmulos estão sendo
cavados. Uma nação inteira está de luto. Você
não estaria pronto para desistir? Não pensaria:
“Qual é a minha utilidade? Não sou bom. Estou
sempre pecando. Bem que eu devia desistir!”
É isso que os imaturos fazem. Quando fracassam, desistem.
Os maduros são diferentes. Adultos de verdade
não desistem. Observemos Davi; ele estava perante
Deus, apelando pelo seu povo. Então, Deus veio
novamente até ele e disse: “Sobe, levanta ao
Senhor um altar na eira de Araúna, o jebuseu”
(2 Samuel 24:18). Será que Davi respondeu: “Para
quê? Por que endireitar isto se eu já sei que vou
pecar de novo?” Não. Em vez disso, ele “subiu
segundo a palavra de Gade, como o Senhor lhe
havia ordenado” (2 Samuel 24:19). A misericórdia
de Deus havia se estendido novamente — e Davi
obedeceu! Mesmo quando Davi fracassou, ele
estava determinado a conservar o rumo de sua
vida conforme a vontade e o caminho de Deus.
ADULTOS AINDA PRECISAM OBEDECER
A DEUS (2 SAMUEL 24:20–25;
1 CRÔNICAS 21:20–26)
Isto nos leva à mais uma verdade: adultos
ainda precisam obedecer a Deus.
Vivemos num tempo em que há uma falta
geral de respeito pela autoridade. A maioria de
vocês concordaria com essa afirmação. É interessante, porém, que ao falarmos da necessidade de
haver respeito pela autoridade, nós geralmente
dirigimos tais lembretes aos adolescentes: “Vocês
precisam respeitar a autoridade dos seus professores. Vocês precisam respeitar a autoridade da
lei”. Cada uma dessas frases é verdadeira, mas
consideremos o seguinte: a origem da falta de
respeito pela autoridade não está nos adolescentes, mas nos adultos — e a fonte disso tudo é uma
falta de respeito pela autoridade de Deus.
Adultos de verdade sabem que dignidade e
propósito na vida surgem à medida que eles se
humilham perante Deus e se apressam em fazer
a vontade de Deus.
Deus havia mandado Davi sacrificar na eira
de Araúna, o jebuseu. Foi ali que o anjo destruidor
pairou a mando de Deus. Eiras eram geralmente
lugares elevados a céu aberto onde o vento
levantava a palha do trigo e a poeira. Essa eira
em particular localizava-se no monte Moriá, a
nordeste de Jerusalém (região que ainda não
fazia parte da cidade). Foi ali que o templo seria
construído por Salomão.
Não sabemos ao certo quem era Araúna.
Possivelmente, ele havia sido chefe de uma tribo
de jebuseus (2 Samuel 24:23), mas se convertera
5
ao judaísmo. De qualquer forma, ele teve permissão para morar dentro da terra de Canaã e
adquirir algumas propriedades.
Quando Deus disse a Davi para oferecer esse
sacrifício, não houve hesitação. Imediatamente, Davi
partiu para o lugar designado. Isto é obediência.
Primeiro Crônicas 21:20 diz que Araúna
(Ornã) “estava debulhando trigo” quando Davi
chegou.
Olhou Araúna do alto e, vendo que vinham
para ele o rei e os seus homens, saiu e se
inclinou diante do rei, com o rosto em terra. E
perguntou: Por que vem o rei, meu senhor, ao
seu servo? Respondeu Davi: Para comprar de ti
esta eira, a fim de edificar nela um altar ao
Senhor, para que cesse a praga de sobre o povo.
Então, disse Araúna a Davi: Tome e ofereça o
rei, meu senhor, o que bem lhe parecer; eis aí os
bois para o holocausto, e os trilhos, e a apeiragem dos bois para a lenha. Tudo isto, ó rei,
Araúna oferece ao rei (2 Samuel 24:20–23a).
Esse deve ter sido um momento de empolgação para Araúna. Tente pensar numa situação
paralela. Primeiro pensei em alguém batendo à
minha porta da frente no meio da noite. Atendo
e vejo uns seis homens com aparência de oficiais,
e em frente à calçada, um carro com o motor
fervendo e soltando vapor; dentro do carro, um
perfil me parece familiar. Um dos homens diz:
“O Presidente da República está nesta região
para tratar de negócios confidenciais e o carro
dele está apresentando problemas. É imperativo conseguirmos imediatamente um meio de
transporte”. Eu engulo a seco duas ou três vezes
e depois digo: “Aqui estão as chaves do meu
carro… e meu cartão de crédito!”
Daí, tive uma segunda idéia. O presidente
não é um equivalente direto da realeza. Talvez,
no seu país, artistas e esportistas sejam tratados
como “realeza”. Crie suas próprias ilustrações.
Imagine sua reação se a pessoa que você mais
admira fizesse um pedido a você!
Araúna disse a Davi: “Pode pegar o que estiver
à sua vista9 . Os bois que estão puxando o moinho,
você pode usar para o sacrifício. O moinho 10 e a junta
de bois, você pode usar como lenha para o fogo”.
Porém o rei disse a Araúna: Não, mas eu to
comprarei pelo devido preço, porque não
oferecerei ao Senhor, meu Deus, holocaustos
que não me custem nada. Assim, Davi comprou
a eira e pelos bois pagou cinqüenta siclos de
prata (2 Samuel 24:24).
Se esta passagem já não estiver marcada na sua
6
Bíblia, você vai querer marcá-la agora. A oferta
de Araúna era generosa, mas Davi sabia o que
era um sacrifício. Se Araúna providenciasse tudo,
o sacrifício seria de Araúna, e não de Davi! A
afirmação de Davi foi uma que só um adulto de
verdade faz. Uma religião que não custa nada
não vale nada. Uma pessoa crescida não quer
tudo de graça; mas quer pagar a sua parte.
Há três atitudes no mundo no ato de sacrificar
a Deus: o indiferente diz: “Não vou oferecer… ao
Senhor meu Deus”. O imaturo diz: “Não vou
oferecer… ao Senhor meu Deus algo que me
custe”. O indivíduo maduro diz: “Não vou
oferecer… ao Senhor meu Deus algo que não me
custe nada”.
Pessoas realmente adultas sabem e entendem
em que consiste a verdadeira obediência. Sabem
que obedecer a Deus custa tempo, energia e
esforço. Sabem que obedecer a Deus pode causar
alguma inconveniência. Sabem que obedecer a
Deus pode exigir mudanças em sua agenda. Além
disso, sabem que a necessidade de obedecer a
Deus não diminui com o passar dos anos; pelo
contrário, aumenta. Podem se aposentar do
trabalho secular, mas sabem que é impossível se
aposentarem do serviço de Deus!
Pessoas adultas de verdade sabem o que
significa obedecer a Deus.
ADULTOS ENTENDEM
E APRECIAM A ADORAÇÃO
(2 SAMUEL 24:25; 1 CRÔNICAS 21:26–29)
Adultos entendem em que consiste a adoração
— e apreciam a adoração mais do que quando
tinham menos idade.
Segundo Samuel 24:25 pinta um belo quadro
do velho rei na presença do seu Deus: “Edificou
ali Davi ao Senhor um altar e apresentou holocaustos e ofertas pacíficas. Assim, o Senhor se
tornou favorável para com a terra, e a praga
cessou de sobre Israel”. Primeiro Davi ofereceu
ofertas queimadas pelo pecado para que a peste
cessasse. Depois, ele ofereceu ofertas pacíficas
(ou de comunhão) a Deus para agradecer.
Primeiro Crônicas 21 e os capítulos seguintes
narram a seqüência da história: desceu fogo de
Deus sobre o sacrifício; o anjo destruidor embainhou sua espada; aquela região foi escolhida
para ser o local do templo11 — mas, por enquanto,
observemos uma única verdade. Adultos de
verdade não perdem o desejo ou a necessidade
de prestar adoração a Deus.
Ocasionalmente, alguns jovens pensam: “Não
vejo a hora de ser dono do meu próprio nariz e
não precisar seguir as ordens dos meus pais.
Será o fim dessa coisa de prestar culto três vezes
por semana. Uma vez por semana já é o bastante
para qualquer um”. Se esses pensamentos já
passaram pela sua mente, olhe para os que
estão ao seu redor e que foram criados no Senhor
e nos caminhos dEle. Ninguém os obriga a
freqüentarem os cultos. Eles fazem isso porque a
adoração é muito preciosa para eles — e cada dia
fica mais preciosa.
CONCLUSÃO
Espero que tenhamos feito o que nos propusemos a fazer:
1) Usar o Antigo Testamento “para nosso
ensino”.
2) Usar o Antigo Testamento para nos estimular a “perseverar”, a permanecer e não desistir.
3) Usar o Antigo Testamento para nos confortar e “animar”. Não importa qual seja o seu
pecado, ele pode ser perdoado se você se arrepender e fizer a vontade de Deus.
4) Usar o Antigo Testamento para fortalecer
nossa “esperança”. Embora você não seja perfeito,
você ainda pode ser um homem ou uma mulher,
um moço ou uma moça, segundo o coração de
Deus. Se o seu coração permanecer em Deus,
você terá a esperança do céu!
Essa foi nossa história para adultos. Como
começamos com “era uma vez”, devemos terminar com “e viveram felizes para sempre”. O final
foi realmente feliz para Davi, pois o Senhor o
perdoou; e também pode ser feliz para você, se
você tiver certeza de que a sua vida é o que Deus
quer que seja.
11
O fato de até o ímpio Joabe achar que havia pecado
naquilo (1 Crônicas 21:3) deveria ter acionado o alarme na
cabeça de Davi — mas não foi assim. É obscura a objeção
exata de Joabe. John Willis talvez estivesse certo quando
disse: “Joabe tomou a posição certa, mas por motivos
errados” (First and Second Samuel [“Primeiro e Segundo
Samuel”]. Abilene, Tex.: ACU Press, 1987, pp. 411, 412).
12
Cf. 1 Samuel 30:10.
13
“[Davi] escuta o sussurro de Satanás de que ele é grande por seus próprios méritos” (L. Allen, The Communicator’s
Commentary: 1, 2 Chronicles [“Comentário do Comunicador,
1 e 2 Crônicas”]. Waco, Tex.: Word Books, 1987, p. 140).
14
1 Crônicas 21:6.
15
A NTLH diz “a sua consciência começou a doer”.
16
1 Samuel 22:5.
17
1 Crônicas 29:29; 2 Crônicas 29:25.
18
Como não sabemos quando aconteceu essa história,
não sabemos o que o povo fez para despertar a ira de Deus.
Pode ser algo que saibamos, como o fato de cooperarem
com a rebelião de Absalão, ou pode ser um lapso nacional
que não foi registrado.
19
Esse era o modo costumeiro de se começar uma
negociação. Não significava necessariamente que Araúna
não esperasse alguma remuneração.
10
O moinho era feito de tábuas pesadas e largas com
saliências de ferro no lado inferior.
11
Observe 1 Crônicas 22:1; 2 Crônicas 3:1.
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