Informar o óbito aos familiares

Transcrição

Informar o óbito aos familiares
ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ
KAMILA ALESSANDRA MAIA
INFORMAR O ÓBITO AOS FAMILIARES: significados e sentimentos dos
médicos e enfermeiros
ITAJUBÁ
2012
KAMILA ALESSANDRA MAIA
INFORMAR O ÓBITO AOS FAMILIARES: significados e sentimentos dos
médicos e enfermeiros
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz como requisito parcial
para a obtenção do título de Enfermeira
com apoio do PROBIC/FAPEMIG.
Orientadora: Profª. M.ª Ana Maria Nassar
Cintra Soane.
Coorientadora: Profª. M.ª Aldaíza Ferreira
Antunes Fortes.
ITAJUBÁ
2012
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação elaborada pela
Bibliotecária Karina Morais Parreira CRB 6/2777 da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz – EEWB
M217i
Maia, Kamila Alessandra.
Informar o óbito aos familiares: significados e
sentimentos dos médicos e enfermeiros / Kamila Alessandra Maia. – 2012.
177 f.
Orientadora: Profª. M.ª Ana Maria Nassar Cintra S.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em
Enfermagem) com apoio do Programa de Bolsa Científica
– (PROBIC/FAPEMIG) Escola de Enfermagem Wenceslau
Braz - EEWB, Itajubá, 2012.
1. Morte. 2. Comunicação. 3. Médicos. 4. Enfermeiros.
5. Família. I. Título.
NLM: WY 87
DEDICATÓRIA
Dedico este estudo a todas as famílias enlutadas ou que em
algum momento de sua vida já perderem um ente querido.
Este estudo foi realizado tão somente para evidenciar a
importância de se conhecer os significados e sentimentos dos
profissionais que estão informando o óbito e, através disso,
promover maior capacitação a eles para que a assistência
seja cada vez mais integral, com o enfoque não apenas no
paciente, mas também em sua família.
Kamila
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por me conceder saúde e me capacitar a realizar essa
pesquisa com perseverança e força para prosseguir.
As professores Ana Maria Nassar Cintra Soane e Aldaíza Ferreira Fortes, que
sempre estiveram caminhando ao meu lado, oferecendo conhecimento,
compreensão e profissionalismo, me motivando a persistir.
A minha família, em especial minha mãe Dulcinéa e meu pai Marcos, pelo
incentivo e compreensão nos momentos de ausência ao seu lado, além de serem
aconchego nas horas difíceis e cansativas. E pelo incentivo, para que eu não
viesse a desistir.
Ao namorado Jeremias, pelas contribuições e auxílio durante a jornada,
também pela compreensão nos momentos de ausência ao seu lado.
A bibliotecária Karina Morais Parreira pelo auxílio técnico e pela
dedicação, doando seu tempo em prol da pesquisa.
A FAPEMIG por investir e acreditar no meu potencial.
E aos médicos e enfermeiros que participaram deste estudo, pela
disposição e contribuição na pesquisa, enriquecendo a produção
científica e fazendo deste sonho uma realização.
“Quanto ao homem, os seus dias são como a relva, como a flor do
campo, assim ele floresce; pois soprando nela o vento, desaparece; e
não se conhecerá daí em diante, o seu lugar”.
Salmos 103.15-16
RESUMO
Estudo qualitativo, exploratório, descritivo, transversal e de campo, com os objetivos
de conhecer os significados e sentimentos de médicos e enfermeiros, de duas
Instituições de Saúde, ao terem que informar o óbito aos familiares. Contou com 40
participantes (20 médicos e 20 enfermeiros), amostragem do tipo não-probabilística
intencional. Realizada a coleta de dados por meio de entrevista semi-estruturada,
após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Na análise de dados foi utilizado o
método do Discurso do Sujeito Coletivo, sob o referencial das Representações
Sociais. Os resultados demonstraram que os significados de informar o óbito para os
familiares, apresentados pelos médicos, foram: “Situação difícil”, “Condição inerente
da profissão”, “Perda irreparável para a família e limitação para o médico”,
“Transmitir um desfecho de maneira diferenciada”, “Fácil, se o óbito era esperado”,
“Ser honesto e objetivo”, “Fazer as pessoas sofrerem”, “Falha no sucesso
terapêutico, se o paciente é jovem” e “Algo técnico e mecanizado”. E para os
enfermeiros foram: “Situação difícil”, “Resultado negativo”, “Insucesso”, “Experiência
dolorosa”, “Responsabilidade”, “Depende do motivo do falecimento”,
“Algo
importante” e “Um ato de solidariedade”. Os sentimentos dos médicos apontados:
“Triste”, “Impotência”, “Muito mal”, “Aceitação e alívio”, “Perda”, “Segurança e
profissionalismo”, “Sem envolvimento emocional”, “Dor” e “Responsabilidade diante
da família”, foram semelhantes aos dos enfermeiros: “Triste”, “Impotente”, “Mal”,
“Alívio e conforto”, “Dor”, “Vazio e perda”, “De forma natural”, “Dificuldade”, “Muito
constrangido”, “Culpado” e “Tenso”. Constatou-se que médicos e enfermeiros, na
maioria das vezes, não se sentem preparados para lidar com situações que
envolvam a morte. No entanto, se preocupam com a assistência à família enlutada.
E, divergindo do senso comum, este estudo evidenciou que médicos e enfermeiros
também sentem tristeza diante da morte de um paciente e ao informar o óbito aos
familiares.
Palavras-chave: Morte. Comunicação. Médicos. Enfermeiros. Família.
ABSTRACT
Qualitative, exploratory, descriptive, transverse and of field study, with the objectives
of knowing the meanings and feelings of doctors and nurses of two institutions of
health, of having to inform the death to one’s relatives. It counted with 40 participants
(20 doctors and 20 nurses), sampling of the non-probabilistic intentional type.
Accomplished the collection of data through semi-structured interview, after approval
of the Committee of Ethics in Research. In the analysis of data the method of the
Collective Subject's Speech was used under the referencial of the Social
Representations. The results demonstrated that the meanings of informing the death
to the relatives, presented by the doctors, were: "Difficult situation", “Inherent
Condition of the Profession", “Irreparable Loss for the Family and Limitation for the
Doctor", to "Transmit a closure in a differentiated way”, "Easy, if the death was
waited", “To be honest and objective", "To make people suffer", "Failure in the
therapeutic success, if the patient is young" and "Something technical and
mechanical". And to the nurses were: "Difficult situation", "Negative Result", "Failure",
"painful Experience", "Responsibility", "Depends on the reason of the death",
"Something important" and "A solidarity action”. The feelings of the doctors' were
pointed as: "Sad", "Impotence", "Very badly", "Acceptance and relief", "Loss", "Safety
and professionalism", "Without emotional involvement", "Pain" and "Responsibility
towards the family" were similar to the nurses: "Sad", "Impotent", "Bad", "Relief and
comfort", "Pain", "Emptiness and loss", "In a natural way", "Difficulty", "Very
embarrassed", "Guilty" and "Tense". It was verified that doctors and nurses, most of
the time, do not feel prepared to deal with situations that involve death. However,
they worry about the attendance to the family in mourning. And, diverging of the
common sense, this study evidenced that doctors and nurses also feel sadness
before a patient's death and having to informing the death to the relatives.
Keywords: Death. Communication. Doctors. Nurses. Family.
LISTA DE FIGURA
Figura 1 - Ideias centrais sobre o tema: significados para os médicos de
informar o óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012................................................68
Figura 2- Ideias centrais sobre o tema: sentimentos dos médicos ao informar o
óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012. .................................................................76
Figura 3 - Ideias centrais sobre o tema: significados para os enfermeiros de
informar o óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012................................................84
Figura 4 - Ideias centrais sobre o tema: sentimentos dos enfermeiros ao
informar o óbito aos familiares. Itajubá-MG, 2012................................................92
LISTA DE QUADRO
Quadro 1 - Ideias Centrais do tema: significados para os médicos de informar o
óbito aos familiares.................................................................................................62
Quadro 2 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes
do tema: significado para os médicos de informar o óbito aos familiares ........63
Quadro 3 - Ideias centrais, sujeitos e freqüência das ideias centrais do tema:
significados para os médicos de informar o óbito aos familiares. (n=20) .........64
Quadro 4 - Ideias Centrais do tema: sentimentos dos médicos ao informar o
óbito aos familiares.................................................................................................69
Quadro 5 - Agrupamento das ideias centrais complementares ou semelhantes
do tema: Sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos familiares............70
Quadro 6 - Ideias Centrais, sujeitos e freqüência das ideias do tema:
sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos familiares. (n=20) ...............71
Quadro 7 - Ideias Centrais do tema: significados para os enfermeiros de
informar o óbito aos familiares. .............................................................................78
Quadro 8 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes
do tema: significado para os enfermeiros de informar o óbito aos familiares. .79
Quadro 9 - Ideias centrais, sujeitos e freqüência das ideias centrais do tema:
significados para os enfermeiros de informar o óbito aos familiares. (n=20) ...80
Quadro 10 - Ideias Centrais do tema: sentimentos dos enfermeiros ao informar
o óbito aos familiares. ............................................................................................84
Quadro 11 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes
do tema: Sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos familiares......86
Quadro 12 - Ideias Centrais, sujeitos e freqüência das ideias do tema:
sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos familiares. (n=20) .........87
LISTA DE TABELA
Tabela 1 - Características pessoais e profissionais de médicos da cidade de
Itajubá- MG , 2012 (n=20) ........................................................................................60
Tabela 2: Características pessoais e profissionais de enfermeiros da cidade de
Itajubá- MG, 2012. (n=20) ........................................................................................77
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO..................................................................................................16
1.1
INTERESSE PELO TEMA ................................................................................18
1.2
JUSTIFICATICA DO ESTUDO .........................................................................18
1.3
OBJETIVOS DO ESTUDO................................................................................22
2
MARCO CONCEITUAL ....................................................................................23
2.1
A MORTE..........................................................................................................23
2.1.1
Breve histórico............................................................................................... 23
2.1.2
Definições de morte....................................................................................... 26
2.2
A MORTE, O PROCESSO MORRER E OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE .....28
2.3
A MORTE E A MEDICINA ................................................................................33
2.4
A MORTE E A ENFERMAGEM ........................................................................36
2.5
A COMUNICAÇÃO DA MORTE AOS FAMILIARES.........................................41
3
REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO ................................................45
3.1
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ........................................................................45
3.2
DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO .............................................................46
3.2.1
Figuras metodológicas.................................................................................. 47
3.2.2
Fases do DSC................................................................................................. 48
3.2.3
Passo a Passo do DSC .................................................................................. 49
4
TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ....................................................................51
4.1
CENÁRIO DE ESTUDO....................................................................................51
4.2
DELINEAMENTO DO ESTUDO .......................................................................53
4.3
PARTICIPANTES DO ESTUDO, NATUREZA DA AMOSTRA E
AMOSTRAGEM................................................................................................54
4.4
COLETA DE DADOS ........................................................................................55
4.4.1
Instrumento para coleta de dados................................................................ 55
4.4.2
Procedimentos para coleta de dados .......................................................... 56
4.5
PRÉ-TESTE......................................................................................................57
4.6
ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DOS DADOS.......................................................57
4.7
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ..........................................................58
4.8
ASPECTOS ÉTICOS DO ESTUDO..................................................................59
5
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS.........................................................60
5.1
RESULTADOS REFERENTES AOS MÉDICOS ..............................................60
5.1.1
Características pessoais e profissionais..................................................... 60
5.1.2
Dados relacionados aos objetivos do estudo ............................................. 61
5.1.2.1 Significados de informar o óbito....................................................................... 62
5.1.2.2 Sentimentos ao informar o óbito ...................................................................... 68
5.2
RESULTADOS REFERENTES AOS ENFERMEIROS .....................................76
5.2.1
Características pessoais e profissionais..................................................... 76
5.2.2
Dados referentes aos objetivos do estudo.................................................. 78
5.2.2.1 Significados de informar o óbito....................................................................... 78
5.2.2.2 Sentimentos ao informar o óbito ...................................................................... 84
6
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................................93
6.1
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS E PROFISSIONAIS .....................................93
6.2
QUESTÕES INERENTES AOS OBJETIVOS DO ESTUDO.............................94
6.2.1
Significados de informar o óbito .................................................................. 94
6.2.2
Sentimentos ao informar o óbito................................................................ 101
7
CONCLUSÕES...............................................................................................111
8
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................114
REFERÊNCIAS..............................................................................................117
APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semiestruturada..............................123
APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................124
APÊNDICE C - Carta de solicitação para coleta de dados da Santa Casa
de Misericórdia de Itajubá-MG .....................................................................126
APÊNDICE D - Carta de solicitação para coleta de dados do Hospital
Escola de Itajubá-MG...................................................................................127
ANEXO A - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Médico Pergunta 1 .....................................................................................................128
ANEXO B - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Médico Pergunta 2 .....................................................................................................134
ANEXO C - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Enfermeiro Pergunta 1 .....................................................................................................142
ANEXO D - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Enfermeiro Pergunta 2 .....................................................................................................150
ANEXO E - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Médico Pergunta 1 .....................................................................................................160
ANEXO F - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Médico Pergunta 2 .....................................................................................................163
ANEXO G - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Enfermeiro Pergunta 1 .....................................................................................................167
ANEXO H - Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD2) Enfermeiro Pergunta 2 .....................................................................................................170
ANEXO I –
Parecer Consubstanciado de aprovação do trabalho pelo
Comitê de Ética em Pesquisa ......................................................................174
ANEXO J – Parecer Consubstanciado Nº 588/2010...................................176
16
1
INTRODUÇÃO
A perda de um ente querido é uma das experiências mais dolorosas que o ser
humano pode sofrer. (SILVA, 1998 apud RODRIGUES, 2010). Esse caráter doloroso
é explicado pelo anseio da volta da pessoa perdida e a constatação de
irreversibilidade dessa perda, levando assim a uma dor inevitável. (RODRIGUES,
2010).
Para Gonçalves (1994), perder um ente querido é como enterrar uma parte de
nós.
A morte apaga lembranças e sonhos, quebra vínculos, desestrutura as pessoas,
é traiçoeira, não tem dia e hora, mas tem seu momento certo. (PINHO; BARBOSA,
2008) Apesar de ser vista por diferentes prismas, ela se traduz em separação e
perda. (KOVÁCS, 2009)
A morte constitui ainda um acontecimento que traz muito sofrimento e que
choca. (OLIVEIRA; AMORIM, 2008, p.195)
Talvez seja devido a esse fato que Carvalho e Azevedo (2009) afirmam que
comunicar notícias difíceis ou más notícias é uma das mais penosas atribuições do
profissional de saúde.
A vida e a morte, sua inter-relação e interação, sem dúvida, é um dos pontos
centrais da teoria psicanalítica. Segundo a escola psicanalítica, no fundo de cada um
de nós, não se crê na própria morte. Nem sequer a imaginamos. Existe uma crença
de que só se pensa na morte do outro quem é mau. Porém, as pessoas, ditas como
normais, resistem esses pensamentos. Se alguém vem a falecer, passa-se a admirála como herói, capaz de uma façanha extraordinária, diz Freud. (GONÇALVES,
1994). Mesmo quando se trata da morte de um parente mais próximo, após algum
tempo de luto supera-se e assim, estaremos reforçando a crença inconsciente na
nossa imortalidade.
Torres, Guedes e Torres (1983) completam que, de acordo com a psicanálise
existencial, todas as etapas do desenvolvimento são na verdade formas de protesto
universal contra a morte. Muito antes de adquirir a noção de morte, já se empenha
em fortalecer-se contra a sua vulnerabilidade. Este processo começa muito cedo,
desde a infância.
Carvalho e Azevedo (2009) dizerem que, o médico aprende em sua formação
acadêmica a comprometer-se com a vida, sua capacitação é orientada para curar e
17
salvar o paciente. A formação acadêmica traz sempre a proposta de cura e não de
morte.
Mas isso não acontece só nas faculdades de medicina. Segundo Silva e Silva
(2007), a preparação dos profissionais na área da saúde atende ao modelo centrado
na doença e cura. Desde a faculdade, condiciona-se o aluno de enfermagem ao
compromisso da profissão que é a recuperação da saúde do doente e sua cura.
Dessa forma, somos formados apenas para salvar vidas. (OLIVEIRA; AMORIM,
2008).
Sendo assim, apesar da inevitabilidade da morte, os profissionais de saúde, em
geral, não estão preparados emocionalmente para lidar com a morte e processo de
morrer, uma vez que, tanto os profissionais como as próprias instituições de saúde
têm sua imagem vinculada à vida e à cura, e acabam depositando neles a
esperança de encontrá-la. (GALVÃO et al; 2010).
A preparação dos profissionais deve ter início na graduação, fazendo parte da
grade curricular das faculdades de medicina e de enfermagem. No entender de Silva
(2005), a Tanatologia é o estudo da morte e do morrer. Do grego: Thanatos = morte
e logos = estudo. Descrita por Souza (2009) como a ciência da vida e da morte,
estuda os processos emocionais e psicológicos que envolvem as reações às perdas,
à morte e ao luto, seja das pessoas comuns ou dos profissionais que vivenciam no
seu dia a dia questões relacionadas com a morte. É usada como instrumento para
facilitar o manejo dessas situações, as quais se tornam bastantes estressantes para
todos que a presenciam.
Sendo assim, torna-se essencial a introdução dessa disciplina na formação dos
acadêmicos de medicina e de enfermagem, para que estes possam saber lidar
melhor com o processo morrer e a morte, já que este tema se revela como um tabu
em nossa sociedade. Desde 1991, tinha-se essa preocupação de inserir uma
educação voltada para o tema da morte como necessidade de educar os
profissionais de saúde, é o que percebe-se nos dizeres de Boemer et al. (1991).
Segundo Ferreira (2004), uma das definições de morte é o ato de morrer, o fim
da vida animal ou vegetal, fim. Já a definição de óbito se caracteriza como sendo o
falecimento ou morte de pessoa. (FERREIRA, 2004)
Segundo este mesmo autor, comunicar é fazer saber, tornar comum, transmitir.
E a palavra informar tem como definição dar informe ou parecer sobre, comunicar,
dar notícia ou informação, avisar.
18
Portanto, as palavras óbito e informar foram escolhidas para comporem o título,
uma vez que estas vem ao encontro da proposta deste estudo.
1.1
INTERESSE PELO TEMA
O desejo e investigação do tema, suscitou após uma docente ter relatado, com
base na experiência vivenciada na UTI, a preocupação de um médico em ter que
informar a morte aos familiares de um dos pacientes ali hospitalizados. Com isso,
veio à indagação: qual seria o real significado e sentimento dos médicos ao terem
que informar a morte de um ente querido aos seus familiares? Pois há uma ideia
coletiva de que informar a morte é algo automático para os médicos, já que eles
fazem isto por diversas vezes durante o exercício de sua profissão. Posteriormente,
surgiu uma nova indagação: qual seriam o significado e sentimento dos enfermeiros
ao terem que informar o óbito?
O tema “morte” sempre nos chama bastante a atenção, apesar de ser o tema
que, também, sempre provoca receio. E foi a partir daí que começou o
questionamento: como seria ter que informar a morte, sendo esta, ainda, um tabu na
nossa sociedade?
A morte faz parte do ciclo da vida de todas as pessoas, é algo inquestionável,
todos terão que passar por ela.
Para Eliopoulos (2005), a morte é uma experiência inevitável, inequívoca e
universal, sendo comum a todos os seres humanos.
Mas, apesar de sabermos disso, ainda temos dificuldade em recebermos uma
notícia de morte, principalmente quando se trata de algum familiar.
1.2
JUSTIFICATICA DO ESTUDO
O tema morte vem sendo discutido ao longo dos anos. Ultimamente tem-se
observado um aumento crescente de estudos relativos a esta temática. (SPINDOLA;
MACEDO, 1994).
No entender de Eliopoulos (2005), a maioria das mortes ocorre em ambiente
institucional ou hospitalar.
Considerando o número de óbitos anualmente no município de Itajubá-MG,
Hospitais e Santa de Casa de Misericórdia, tem-se uma noção de quantas vezes os
19
médicos e/ou enfermeiros são postos frente à morte, e conseqüentemente ter que
informá-la aos familiares.
Os dados epidemiológicos, do DATASUS do Ministério da Saúde, demonstram
que no ano 2008 o número de óbitos em hospital no Brasil foi de 722.531, sendo a
região sudeste a que obteve maior índice com 368.119 óbitos. No estado de Minas
Gerais foram computados 73.584 óbitos em hospital.
Já em 2009, o DATASUS revelou que o número de óbitos em hospital no Brasil
foi de 743.777, com 375.818 óbitos na região sudeste, a qual obteve maior índice de
mortalidade e, em Minas Gerais foram computados 74.668 óbitos.
Os dados obtidos na Vigilância Epidemiológica do município de Itajubá referente
ao ano 4 de 2009 mostram que foram registrados 874 óbitos. Destes 748 (85,58%)
ocorreram em área hospitalar, sendo que 737 (98,52%) foram em rede privada
(Hospital Escola de Itajubá e Santa Casa de Misericórdia de Itajubá) e apenas 11
óbitos (1,48%) em instituições de convênio (Ceam Brasil, Odontomed e Unimed). Em
área não hospitalar (outros estabelecimento de saúde, domicílio, via pública, outros
e ignorado) registraram-se 126 óbitos (14,42%).
E no ano de 2010, o DATASUS revelou um aumento na mortalidade em área
hospitalar. No Brasil foram registrados 765.624 óbitos em área hospitalar e mais
uma vez a região sudeste obteve o maior índice, registrando 387.550 óbitos. No
estado de Minas Gerais o número de óbitos chegou a 79.622.
Os dados coletados na Vigilância Epidemiológica de Itajubá, referentes ao ano
de 2010, também demonstraram um aumento na mortalidade em relação ao ano
anterior, foram registrados 930 óbitos no município. Destes 85,59% foram em área
hospitalar com total de 796 óbitos, 779 (97,86%) em rede privada (Hospital Escola
de Itajubá e Santa Casa de Misericórdia de Itajubá) e 17 (2,14%) em instituições de
convênio (Ceam Brasil, Odontomed e Unimed). Em área não hospitalar totalizaram
134 óbitos (14,41%). Portanto, a mortalidade aumentou no município. A
porcentagem de óbitos em rede privada diminuiu, enquanto em instituições de saúde
aumentou, no entanto a somatória para área hospitalar manteve sua porcentagem,
assim como a área não hospitalar.
Em relação ao ano de 2011, o número de óbitos em itajubá foi de 936,
demonstrando, mais uma vez, um aumento no número de mortalidade em relação
ao ano anterior. Sendo que 798 ( 85,26 %) foi em área hospitalar, com 781 (97,87%)
20
rede privada e 17 (2,13%) óbitos
nas instituições de convênio. E em área não
hospitalar totalizaram 138 ( 14,74 %) óbitos.
A partir destes dados pode-se perceber a freqüência em que os profissionais da
saúde (médicos e enfermeiros) têm que informar a morte de um paciente aos seus
familiares. Além do mais, esta freqüência tem aumentando a cada ano que passa.
Sendo assim, se torna de extrema importância conhecer os significados e
sentimentos dos médicos e dos enfermeiros incumbidos de transmitir essa triste
notícia: a morte.
Não deve ser uma tarefa fácil relatar a uma família que seu ente querido faleceu.
As palavras devem ser escolhidas “a dedo” para que a informação seja passada o
mais sutil possível.
Nas instituições de saúde de Itajubá - Hospitais e Santa Casa de Misericórdia - a
informação do óbito é dado aos familiares por meio dos médicos e enfermeiros. Em
algumas unidades esta informação é dada em conjunto (médico, enfermeiro e
psicólogo), mas, na maioria das vezes, fica na responsabilidade do profissional que
estiver mais disponível e preparado no momento, seja a enfermeira ou o médico de
plantão. Por este motivo esta pesquisa será direcionada aos médicos e aos
enfermeiros.
Independente se seja o médico ou o enfermeiro (a) que esteja informando o
óbito, deve se pensar também que ambos são constituintes de uma equipe
multiprofissional, portanto, o que cabe aos médicos deve ser de conhecimento
também do enfermeiro e, vice-versa. Saber os significados e sentimentos do outro
profissional (seja o médico ou o enfermeiro) nos ajuda a conhecer melhor nossa
própria equipe. Conhecer a fragilidade do outro, ou talvez o despreparo dele em
relação a informar o óbito, é necessário para que haja uma boa interação entre a
equipe. Uma equipe bem estruturada promove um atendimento de melhor qualidade
Santos (2009) enfatiza que a morte faz parte do cotidiano de uma equipe
hospitalar e não tem como não falar dela quando a equipe começa a apresentar
angústias e dificuldades para lidar com seu sentimento e com a necessária notícia
da morte. Além do mais, o enfermeiro não deve estar presente apenas no
atendimento durante a vida, mas, também no apoio aos familiares perante a morte.
Quando o paciente morre, a enfermeira deve estar disponível para proporcionar
qualquer apoio necessário à família e aos amigos, respeitando seus desejos
pessoais. (ELIOPOULOS, 2005).
21
Cada membro da equipe, ao trabalhar no seu dia a dia com a morte, tem seu
conjunto
de
sentimentos
relacionados
com
essa
experiência
significativa.
(ELIOPOULOS, 2005). Sendo assim, é de extrema importância A interação
enfermeiro-médico e familiar no momento da informação do falecimento. Estudo
demonstra que há um certo despreparo dos médicos em comunicar o óbito aos
familiares. (STARZEWSKI JÚNIOR; ROLIM; MORRONE, 2005). Deve-se dar maior
importância à formação dos acadêmicos.
Em relação à formação acadêmica relacionada ao tema morte nas faculdades
de medicina, Starzewski Júnior, Rolim e Morrone (2005) afirmam que, 30% a 60%
dos médicos aprenderam a lidar com o assunto durante a residência médica, na
prática ou ao observar outros mais “experientes”. No estudo realizado por estes
autores, foi observado que, quanto aos profissionais que deram a informação sobre
o óbito, a maior parte deles era, realmente, médicos residentes (82,8%). Já para
quatro famílias, quem deu as explicações sobre o óbito foi a equipe de enfermagem.
Apenas 7,5% dos profissionais entrevistados acham que não existem dificuldades
para falar com familiares sobre o tema. Porém as principais dificuldades, quando
existem, para se falar com familiares sobre o óbito, estão presentes nos casos de
pacientes jovens, casos agudos e familiares que não entendem o caso, sua
gravidade, sua evolução natural.
Outro dado deste estudo, no que diz respeito à forma como os familiares
foram informados do óbito, revelou que a maioria dos familiares ficou sabendo do
óbito pelo telefone (74,7%). E 4,7% descobriram o óbito por acaso: foram visitar o
paciente e ficaram sabendo, por isso ficaram insatisfeito com esta situação.
Quando a pergunta foi quanto ao grau de aceitação em relação as
explicações dada pelos profissionais aos familiares, obteve-se como resultado: 4,5%
dos familiares acharam essa comunicação inadequada, 12,4% a consideraram
parcialmente adequada, 19% não receberam nenhuma informação e se sentiram
rejeitados, demonstrando um abandono destas pessoas em uma hora tão difícil, e
7,4% também não receberam informação após o óbito, mas tiveram informações
antes de ocorrer a morte e já sabiam qual seria e a evolução do caso.
(STARZEWSKI JÚNIOR; ROLIM; MORRONE, 2005).
Estes mesmo autores, relatam também a participação ativa da enfermagem,
informando o óbito aos familiares. (STARZEWSKI JÚNIOR; ROLIM; MORRONE,
2005).
22
O que desperta outro questionamento: será que o enfermeiro está preparado
para assumir tal responsabilidade?
Ao falarmos da morte, do morrer e da perda, aprendemos a cuidar de quem
morre e de quem perde. (SANTOS, 2009).
O autor supracitado reforça ainda que para os médicos, aceitar a morte é parte
de um processo difícil, pois, em sua área ela é sempre vinculada a perda e ao
insucesso, gerando a sensação de impotência.
Frente ao exposto, percebe-se a importância em ouvir os médicos e enfermeiros
sobre os significados e sentimento que vivenciaram ao serem incumbidos de
informarem a morte de um paciente hospitalizado para os familiares.
Os resultados desta pesquisa contribuirão para o esclarecimento, tanto da
sociedade, como dos demais profissionais de saúde, a respeito dos significados e
sentimentos para médicos e enfermeiros quanto a este tema, compreendendo suas
condutas diante desta situação. Também, auxiliarão na formação acadêmica dos
alunos que frequentemente irão presenciar a morte e observarão de perto essa
informação sendo transmitida aos familiares. Trarão enriquecimento nesta área, já
que os dados poderão servir de base para outros trabalhos, visto que existe uma
escassez de produção científica referente ao tema, não enquanto à morte, mas aos
significados e sentimentos ao informá-la, evidenciando assim, a percepção quanto a
importância de se realizar este estudo.
Diante deste contexto emergem as seguintes inquietações: quais os significados
para os médicos e enfermeiros de terem que informar a morte aos familiares? Quais
os sentimentos deles diante desta situação?
1.3
OBJETIVOS DO ESTUDO
Esta pesquisa tem como objetivos:
x
Conhecer os significados para os médicos e enfermeiros da Santa Casa de
Misericórdia e do Hospital Escola da Faculdade de Medicina de Itajubá-MG,
x
ao terem de informar o óbito aos familiares.
Conhecer os sentimentos destes médicos e enfermeiros diante desta
situação.
23
2
MARCO CONCEITUAL
Para melhor compreensão do assunto e entendimento da importância deste
estudo, e se necessário abordar alguns tópicos que serão enriquecedores e que
trarão dados relevantes referentes ao tema.
2.1
A MORTE
Não é fácil ter que lidar com a morte, mas ela espera por todos. Deixar de
pensar nela, não a retarda, nem a evita. Pensar na morte pode nos ajudar a aceitá-la
e a percebe-la como sendo uma experiência tão importante e valiosa quanto
qualquer outra. ( ÁRIES,1977 apud SANTOS, 2009).
2.1.1 Breve histórico
Durante séculos ou milênio a morte era esperada no leito, considerada uma
cerimônia pública e organizada - muitas das vezes pelo próprio enfermo. O quarto
do doente transformava-se num lugar público, onde se entrava e saía livremente.
Estando presentes os parentes, amigos e vizinhos, até as crianças faziam parte do
cenário. A morte era familiar e próxima. (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 1995).
Silva e Simões (2010) relatam o mesmo dizendo que, no passado, a morte
acontecia no lar e era acompanhada por cerimônias, presididas pelo moribundo,
com a presença de seus entes queridos e das crianças.
Esslinger (2004) reforça esta ideia ao dizer que os homens, na primeira fase da
Idade Média, tinham uma participação mais ativa em seu processo de morrer,
caracterizando uma atitude de conformação e familiaridade. Esta primeira atitude
intitula-se como morte domada, pois, existia uma familiaridade dos parentes,
amigos, vizinhos e também das crianças com a doença e com o momento da morte.
(ÁRIES, 1977 apud ESSLINGER, 2004).
Outro autor ainda relata que:
Historicamente, no início da Idade Média, a morte não passava de
um evento considerado natural. O doente cumpria uma espécie de
ritual; ele pedia perdão por suas faltas, legava seus bens e em
seguida, esperava que a morte o levasse. Não havia drama ou
gestualidade excessivas. (SANTOS; BUENO, 2011, p.273)
24
Porém, a morte mais temida era a morte repentina, não só pelo fato de não
haver tempo para o arrependimento, mas também, porque privava o homem de
conduzir sua própria morte. (ESSLINGER, 2004).
Conforme Silva (2005), no século V até o século XII, a morte não era
individualizada, quando alguém morria era enterrado em valas ou fossas comuns.
Todos os corpos ficavam amontoados. Apenas grandes personalidades como
sacerdotes e reis possuíam um local reservado em igrejas ou catedrais.
Esslinger (2004) relata outras atitudes com relação à morte, segundo Áries
(1977). A segunda atitude denominada de morte de si mesmo, a partir do século XIII,
era caracterizada por uma preocupação central com o juízo final, levando ao
enfermo uma reflexão consciente de seus atos em vida, tendo em vista o reino do
céu. Silva (2005) completa que nessa época havia uma preocupação como que
poderia vir depois da morte, o medo do julgamento final e a busca pelo paraíso
estava condicionada as transmissões de bens, as confissões dos pecados e as
missas de corpo presente. Nessa ocasião, eram comuns rituais, como os véus como
proteção da própria morte e da cor preta como disfarce, para o fantasma do morto
não fazer reconhecimento de quem o estava usando.
A terceira atitude era denominada de morte do outro, esta caracterizava a morte
como uma representação de ruptura, portanto, não mais tolerada e aceita como
anteriormente. E por fim, a morte invertida, atitude que marca a passagem para a
representação da morte , no século XX, como inimiga, oculta, vergonhosa, interdita.
(ESSLINGER, 2004)
Tais mudanças se deram a partir do final do século XVIII, devido às primeiras
descobertas feitas pelos médicos sobre regras de higiene, que passaram a
considerar o excesso de pessoas como um fator prejudicial ao enfermo, levando a
mudança no cenário anteriormente encontrado. E o que observa é um deslocamento
do lugar da morte. Já não se morre em casa, em meio aos entes queridos, mas
sozinho no hospital. (ESSLINGER, 2004) O que nos leva a uma forma de morrer
contextualizada, colocando os profissionais de saúde, bem como os estudantes da
área, em dificuldades quando precisam assistir a pessoa que morre. (VARGAS,
2010)
25
Em decorrência do sanitarismo e pelas mudanças na forma de pensar, surgiram
também os cemitérios públicos, um local considerado sagrado e de reverência onde
residem os mortos. (SILVA, 2005).
A relação com a morte, tão presente no passado, vai se apagando e
desaparecendo. Passando a se tornar algo vergonhoso e objeto de interdição. E a
verdade começa a ser problemática. O enfermo não deve saber nunca que seu fim
se aproxima, tornando regra que o doente morra na ignorância de sua morte. A partir
de
então,
a
morte
virou
um
tabu
em
nossa
sociedade.
(PESSINI;
BARCHIFONTAINE, 1995; ARAÚJO; VIEIRA, 2004; SANTOS; BUENO, 2011).
Deixando de ser um fenômeno natural e transformando-se numa morte fria,
escondida e profundamente indesejada. (ÁRIES, 2003 apud SANTOS; BUENO,
2011).
Silva e Simões (2010, p.159), dizem que: “Ultimamente, a sociedade ocidental
transformou a morte em um interdito, ocultando-a das crianças e excluindo-a do
cotidiano das famílias”.
É valido lembrar que, tempos atrás, o que existia era a morte aguda, ou se
morria ou se ficava curado. As pessoas não ficavam “morrendo durante muito
tempo”. O espaço de tempo entre o adoecer e o morrer era de cinco dias. Hoje esse
espaço de tempo entre o momento da descoberta da doença até a morte, aumentou
de cinco dias para cinco anos. As conquistas da medicina e da tecnologia aplicadas
à saúde, têm contribuído para prolongar a morte. Por este motivo, mais do que se
falar em morte, fala-se do processo morrer. (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 1995).
Nos nossos dias, século XXI, fala-se em cuidados paliativos como meio de
promoção da qualidade de vida. Com foco no controle da dor e alívio dos sintomas,
estes cuidados são destinados aos pacientes e familiares, após diagnóstico de uma
doença crônica. (MELO; CAPONERO, 2009).
O processo morrer tem sido tratado com maior dignidade. Seja ele em pacientes
terminais com doenças crônicas ou com a pessoa idosa. Com o surgimento dos
“home care”, serviço de saúde prestado na residência do cliente, agora se tem a
opção de morrer em casa, como no início. (ARAÚJO; VIEIRA, 2004).
O estudo de Silva e Simões (2010), realizado com profissionais de saúde
representados por enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos e por pacientes
e membro da família, o qual investigava qual o significado de “boa morte” ou “morte
digna”, teve como ideia central mais frequente entre os sujeitos a morte sem
26
sofrimento. Outra ideia também muito expressiva foi a morte humanizada. Estes
resultados vêm demonstrar justamente a face dos cuidados paliativos, despertando
a prática do mesmo pelos profissionais de saúde, pois é o que todo ser humano
precisa: uma morte digna. Mas para isso é preciso conscientizar estes profissionais.
Segundo Silva, Ribeiro e Kruse (2009), a morte e os cuidados paliativos
apresentados no período de 2000 a 2005, representaram uma importante mudança
de paradigma assistencial no contexto do cuidado no final da vida, fazendo desse
período um processo inteiramente natural.
Mas esta realidade, infelizmente, ainda não é privilégio de todos, pois ainda não
se utiliza dos cuidados paliativos na maioria das instituições hospitalares. Na nossa
realidade os cuidados paliativos têm sido mais observados nos serviços de home
care. Os serviços individualizados de home care são mais comuns apenas na classe
social mais favorecida, a qual tem condições financeiras de manter o doente em seu
domicílio, sem que este deixe de receber o atendimento de profissionais da saúde.
Muito tem-se discutido sobre cuidados paliativos , mas pouco se tem feito desses
cuidados.
2.1.2 Definições de morte
A definição clássica do instante da morte foi formulada por Hipócrates cerca de
500 anos antes do nascimento de Cristo. Encontrada no De Morbis, 2º livro, parte 5:
“Testa enrugada e árida, olhos cavos, nariz saliente, cercado de coloração escura.
Têmporas deprimidas, cavas e enrugadas, queixo franzido e endurecido, epiderme
seca, lívida e plúmbea, pelos das narinas e dos cílios cobertos por uma espécie de
poeira, de um branco fosco, fisionomia nitidamente conturbada e irreconhecível.”
(PESSINI; BARCHIFONTAINE, 1995).
Hoje, porém, definir a morte é bem mais amplo do que simplesmente observar
os aspectos físicos apresentados, enfoca-se em bases fisiológicas da pessoa.
Conforme definições oferecidas pelos dicionários, a morte é o término da vida, a
cessação de todas as funções vitais, o ato ou o fato de morrer. A definição das
Estatísticas Vitais das Nações Unidas diz que a morte é o desaparecimento total dos
sinais vitais. (ELIOPOULOS, 2005).
Santos (2009) propõe quatro abordagens à definição e determinação da morte,
são elas: perda irreversível do fluxo de fluídos vitais; perda irreversível da alma do
27
corpo; perda irreversível da capacidade de integração corporal e perda irreversível
da capacidade de interação da consciência ou social.
No ponto de vista das pessoas, a morte é a consagração, o terror ou,
simplesmente, o fim da vida, e esta acompanha o homem em todo o seu
desenvolvimento pessoal. (SANTOS, 2009).
Esta morte na patologia é chamada de morte somática, que significa a morte do
indivíduo como um todo. Sendo caracterizada pelo somatório de uma série de
fenômenos como: perda da consciência; desaparecimento dos movimentos
respiratórios e do batimento cardíaco; perda da ação reflexa a estímulos táteis,
térmicos e dolorosos; parada das funções cerebrais. A morte somática é
conceituada como sendo a rotura do equilíbrio biológico e físico-químico
fundamentais à manutenção da vida. Atualmente o critério decisivo para se dizer que
alguém está morto é a parada definitiva das funções cerebrais, documentada
clinicamente e por eletroencefalografia (traçado isoelétrico). (MONTENEGRO;
FRANCO, 1999; PROCHET, 2009). A morte cerebral, segundo o Conselho Federal
de Medicina, é a ausência de atividade elétrica encefálica e de pressão arterial,
irresponsividade aos estímulos internos e externos, com ausência de reflexos
superficiais e profundos, com presença de flacidez muscular generalizada e
dilatação pupilar bilateral. (PROCHET, 2009).
Já para um geneticista é a saída do mundo vivo, corresponde a parada de um
conjunto dos processos bioenergéticos e das funções que eles subentendem, sendo
o conjunto dirigido pelo nosso patrimônio genético. Na nossa morte, esse patrimônio
torna-se mudo, ele para de dar ordens. (SANTOS, 2009).
O conceito de morte é sempre relativo, pois é influenciado pelo contexto
situacional, social e cultural e se relaciona com o comportamento. Tornando-se
complexo, mutável, e muita das vezes, obscuro, ambíguo, e até mesmo em
evolução. (KASTENBAUM, 1983 apud SANTOS, 2009).
À luz da sociologia, a morte é ambígua: considerada, por um lado, como o mais
natural de todos os fenômenos, assim como o nascimento, a sexualidade, a fome, a
sede e o riso; por outro lado, social e cultural, como qualquer episódio da práxis
humana, e, portanto, trabalhada pela experiência da idade, classe, religião, vivida
sob uma aparência que deve servir para explicá-la e justificá-la. Apesar de a morte
ser um acontecimento que atinge a todos os homens, ela ocorrerá em situações
28
sociais específicas, determinadas para cada um, por sua classe, família, raça,
cultura e religião. (TORRES; GUEDES; TORRES, 1983).
2.2
A MORTE, O PROCESSO MORRER E OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
“A diferença entre as pessoas em geral e os profissionais de saúde é que, na
vida destes, a morte faz parte do cotidiano, tornando-se companheira de trabalho.”
(KOVÁCS, 2009, p.55)
A morte é o final da vida material. Sendo o último acontecimento importante da
vida e que ninguém pode privar-se. (SILVA, 2005).
Para Araújo e Vieira (2004), o morrer é um processo que ocorre ao longo da
vida, pontuado por sucessivas mortes que antecedem a morte final. Silva (2005) diz
que o morrer está ocorrendo em qualquer um a cada momento, morremos um pouco
a cada minuto e um dia este processo chegará ao fim. Diz ainda que, a curva do
homem-corpo obedece ao percurso de nascer, crescer, amadurecer, envelhecer e
morrer.
O estudo da morte e do processo morrer, a Tanatologia, teve início nos Estados
Unidos, por volta dos anos 60, tendo como uma das pioneiras no estudo a Drª.
Elisabeth Kubler Ross, uma médica que convivia com pacientes terminais. E
segundo Procher (2009), o estudo da Tanatologia chegou ao Brasil por volta de
1970, que foi baseado nos estudos de Kubler-Ross.
O processo morrer é mais evidenciado, quando falamos em pacientes terminais.
No entender de Silva (2005), uma doença terminal é aquela cuja recuperação está
aquém de uma expectativa razoável. Ao saber que a morte é algo inevitável e
iminente, os pacientes tendem a vivenciar vários estágios.
Embora o processo morrer seja variado em cada pessoa, algumas reações em
comum foram observadas nesses pacientes. Após vários anos de experiência com
pacientes à morte, Elisabeth Kubler-Ross definiu os 5 estágios do processo morrer:
negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Porém, a esperança, permeia
todos os estágios do processo morrer. Contudo, os estágios descritos nem sempre
evoluem em uma sequência ordenada em todos os pacientes de igual modo, alguns
chegam a não apresentar uma das etapas. (ELIOPOULOS, 2005; SILVA, 2005;
ARAÚJO, 2009).
29
Durante este momento, o enfermo deve ser assistido da melhor maneira
possível, pois o ser humano tem direito de morrer com dignidade. A American
Journal Of Nursing Company publicou em 1975 a cerca dos direitos da pessoa
preste a morrer. Entre eles, citamos: o cuidador deve ser sensível e especializado,
deve compreender as necessidades do enfermo, para que ele obtenha satisfação e
possa enfrentar a morte. (SILVA, 2005).
Este mesmo autor afirma que, o assistir ao morrer dos pacientes terminais
conduz os profissionais a uma reflexão em relação a finitude da vida humana.
Há uma aura de silêncio que rodeia entre os profissionais quando o tema é a
morte, o que pode ser penoso. (KOVÁCS, 2009)
Quando se fala em processo morrer, é valido lembrar a colocação de Salgado et
al. (2009) que dizem que a morte desencadeia sentimentos não apenas naquele que
está morrendo, mas também nos médicos e nos profissionais responsáveis pelo
cuidado. Esta colocação nos traz uma indagação, quais seriam estes sentimentos?
Seriam estes, os mesmos sentimentos vivenciados após a morte do paciente?
Alguns estudos relatam quais seriam os sentimentos e significados para os
profissionais que convivem com pacientes terminais.
A morte suscita os mais variados sentimentos. Os sentimentos estão presentes
diante do ato de morrer e se intensificam diante do ser morto. A perda, a dor, a
angústia, o medo, o estresse permeiam o estar com o outro que está morrendo.
(SPINDOLA; MACEDO, 1994; SILVA, 2005). A morte não é vista como um
acontecimento natural, e sim como um acontecimento que causa frustração,
sensação de fragilidade e de incapacidade. (FERNADES; FUJIMORI; KOIZUME,
1984 apud MARTINS; ALVES; GODOY, 1999).
Os sentimentos de impotência, o receio de transmitir seus medos, suas
angústias, sentimento de mal-estar ao paciente e a dificuldade porque se envolveu
emocionalmente,
são
algumas
dificuldades
sentidas
pelo
profissional
de
enfermagem. (FERRAZ et al; 1986 apud MARTINS; ALVES; GODOY, 1999)
Para Silva (2005), os sentimentos mais frequentes nos profissionais de saúde
diante do cuidado de um paciente terminal incluem a tristeza, talvez pela impotência
mediante a algo mais forte e inevitável; o apego e o envolvimento, devido a
convivência durante o tratamento, sendo necessário para humanizar o morrer; a
aceitação, este sentimento é explicado pela experiência do profissional diante do
30
morrer, em seu cotidiano, o que leva a morte a ser encarada como algo comum,
surge na mesma proporção que os sentimentos de saudade e esperança.
Se por um lado a morte é percebida pelos profissionais como um momento
difícil, por outro acaba fazendo parte do cotidiano destes, sendo encarada com
naturalidade. Ainda há aqueles que participam do morrer dos pacientes
questionando sua atuação, algumas vezes, sentem-se culpados, acreditando que
falharam na prestação da assistência. (SPINDOLA; MACEDO, 1994).
Spindola; Macedo (1994) e Silva (2005) informam que vários estudos
demonstraram que os profissionais de saúde criam alguns mecanismos de defesa
ao lidar com a morte, como forma de suportar as tensões do cotidiano inerente ao
seu serviço. Como exemplos desses mecanismos têm o distanciamento e negação
de sentimentos.
O despreparo leva ao distanciamento, sendo melhor isolar-se do que encarar a
situação por puro desconhecimento e despreparo. O que ocorre é uma fuga
defensiva, onde os enfermeiros hesitam em entrar no quarto do moribundo e os
médicos arranjam qualquer pretexto para sair o mais rápido possível. E quando há
aproximação do cliente, o comportamento é frio ou o próprio corpo fala diante do
moribundo, as ações falam por si. Fica claro que lidar com os sentimentos a respeito
da morte, por alguns profissionais é um sistema delicado e difícil de se conduzir, o
que pode até não ser aceito pela consciência do profissional, mas que emerge de
sua inconsciência e é evidenciado em seus atos. (SPINDOLA; MACEDO, 1994;
SILVA, 2005).
Outros, porém, usa da negação de seus sentimentos, como forma de defesa.
Nesse mecanismo os sentimentos têm que ser controlados. Há aqueles que
costumam retrucar ao dizer que não sente qualquer angústia nestas situações.
Revelando uma aparente insensibilidade diante do morrer. (SPINDOLA; MACEDO,
1994; SILVA, 2005).
Segundo D’ Assumpção (1998) apud Silva (2005), o ser humano tem grande
capacidade de criar máscaras para usar diante de cada situação, como forma de
disfarçar seus verdadeiros sentimentos. O profissional de saúde vive uma “mentira”,
não que seja frio e calculista, mas para “não deixar recair”. Joffe (1995) apud
Martins, Alves e Godoy (1999) completa ao dizer que, tornar o objeto que dá medo
em algo com uma feição familiar, é uma forma de lidar com o desconhecido.
31
O que percebemos é que quanto mais mortes ocorrem, mais comum a morte
parece ser, levando a sua banalização nos hospitais. Para Martins, Alves e Godoy
(1999) há uma diferença entre a negação e banalização da morte com a elaboração
e aceitação. A negação e banalização oferecem apenas uma solução passageira
para a questão da morte, o que é preciso para os profissionais de saúde continuar
exercendo suas funções sem sucumbir. Mas, as defesas podem falhar e a angústia
permanece sem via de expressão. Enquanto a elaboração e a aceitação fazem parte
de um processo de desenvolvimento pessoal, que reflete no desenvolvimento
profissional.
Vemos assim que a realidade hospitalar parece não comportar a vivência destes
profissionais que não encontram espaço para a expressão de sua dor e angústia, se
defendem racionalizando, negando, distanciando e encobrindo sentimentos, pois, a
expressão dos mesmos desqualifica o desempenho profissional. (MARTINS; ALVES;
GODOY, 1999).
E essa dificuldade dos profissionais em lidar com a morte tem atingido
diretamente o sistema de saúde público e privado do país, especialmente em virtude
do adoecimento de seus profissionais. (POPIM; BOEMER, 2006 apud SANTOS;
BUENO, 2011).
Adoecimento este, decorrente do desgaste emocional, que favorece o
desenvolvimento da Síndrome de Burnout, descrita como reação final do indivíduo
face às experiências estressantes acumuladas ao longo do tempo de determinada
atividade laboral. (PALÚ; LABRONICI; ALBINI, 2004 apud SANTOS; BUENO, 2011).
Kovács (2009, p.56), já dizia que:
O luto não autorizado dos profissionais de saúde é uma das razões
pela qual a depressão atualmente, os tem acometido. O luto mal
elaborado está, tornando um problema de saúde pública, dado o
grande número de pessoas que adoecem em função da carga
excessiva de sofrimento sem elaboração. Este mal vem afetando os
profissionais de saúde, que cuidam do sofrimento alheio, muitas
vezes, sem espaço para cuidar de sua dor.
Para Starzewski Júnior, Rolim e Morrone (2005), na ocasião da morte devese encorajar a ventilação dos sentimentos. Se esta expressão emocional for inibida,
muito provavelmente estes sentimentos serão expressos posteriormente de um
modo mais intenso.
32
Conforme citação feita por Vargas (2010), a formação dos profissionais da
saúde foca a cura e o sucesso no tratamento, dando a impressão aos futuros
profissionais de que terão poder suficiente para enfrentar a morte.
Oliveira; Quintana e Bertolino (2010) completam ao dizer que os profissionais,
tais como os enfermeiros e médicos, relatam que não gostam de discutir os
assuntos relacionados à morte, pois foram formados para salvar vidas.
Percebe-se, portanto, que a formação dos profissionais de saúde ainda é
direcionada e intensificada no cuidado para a promoção, recuperação e preservação
da vida. (OLIVEIRA; BRÊTAS; YAMAGUTI, 2007)
Aguiar et al. (2006, p.132) relata que:
No entanto, a formação acadêmica pode deixar lacunas e o
profissional é impulsionado a creditar que somente a cura e o
restabelecimento são características de um bom cuidado. Os
hospitais e sua tecnologia, a dinâmica da luta incessante pela vida
não permitem nem abre espaços para questionar, conversar e
pensar na morte.
Silva e Simões (2010) completam dizendo que as pesquisas demonstram a
necessidade de uma educação para morte e sinalizam a escola como um lugar de
reflexão dessa temática.
Porém, há necessidade de uma educação que seja efetiva para lidar com a
morte. (COSTA; LIMA, 2005; BELLATO et al; 2007; OLIVEIRA; AMORIM, 2008;
SANTOS; BUENO, 2011).
Os autores Oliveira e Amorim (2008) sugerem a criação de grupos de
discussões sobre tanatologia, que tragam aos discentes subsídios para o exercício
profissional.
“Nesse âmbito, professores e alunos podem interagir na discussão sobre o
tema, manifestando suas dúvidas, inquietações, dificuldades e questionamentos.”
(SILVA; SIMÕES, 2010, p.159).
Porém, não se deve colocar toda a responsabilidade no processo de formação
da graduação, mas talvez seja necessário repensar também no processo de
formação familiar e no processo educacional, o qual deveria ter início no ensino
fundamental e médio. (OLIVEIRA; AMORIM, 2008)
E mais, as discussões e reflexões a respeito da morte deveriam adentrar não só
nas faculdades de enfermagem e medicina, mas também nas instituições de saúde.
33
Para KOVÁCS (2009, p. 50), “a discussão dos temas relacionados com morte e o
morrer dentro dos hospitais é de fundamental importância”.
Kovács (2009) relata, porém, que tem entrado em ação o projeto Falando de
Morte, que é composto de quatro filmes de caráter educativo com abordagens
específicas: falando de morte a criança, ao adolescente, ao idoso e aos profissionais
de saúde. O filme falando de morte com profissionais de saúde, tem duração de 50
minutos e se propõe a criar espaços de facilitação para discussão do tema em
instituições de saúde e educação, sendo divulgado entre profissionais e estudantes
das áreas de saúde e educação, nas disciplinas de graduação, pós-graduação,
cursos de extensão, palestras, congressos e workshops, distribuídos pelo Brasil.
Porém, o que ainda ouvimos nas instituições de saúde e educação é que seus
profissionais não estão preparados para lidar com morte. (KOVÁCS, 2009)
Não se esquecendo também dos docentes de enfermagem, pois para Oliveira e
Amorim (2008) não se resolverá o problema sem que haja uma atenção voltada
quanto a preparação dos docentes em relação ao tema.
O que se espera é que o tema morte e morrer seja, futuramente, um tema
comum como qualquer outro, e não mais cause tanto pânico e temor em nossa
sociedade, mas que seja encarado como parte da vida.
2.3
A MORTE E A MEDICINA
A cultura ocidental tende a negar a morte e seu impacto. Como resultado desta
postura, temos profissionais formados apenas para lidar com a vida e a cura.
(OLIVEIRA; SOUZA, 2001).
Santos (2009) concorda com a fala anterior ao dizer que, a angústia da morte
presente na sociedade ocidental reflete-se na educação médica e nas atitudes dos
médicos perante a morte. Os recursos dos quais hoje a medicina dispões colocam a
morte como inimiga e o médico como tendo o papel de “adversário da morte”.
(ZAIDHAFT, 1990 apud ESSLINGER, 2004).
Esslinger (2004) reforça a ideia dizendo que, embora o local onde
predominantemente a morte ocorra seja o hospital, a cultura médica não aceita a
morte como algo que faz parte de um ciclo natural, mas aparece impregnada de
ideias de cura.
34
Tanto o médico quanto o estudante de medicina têm sérias dificuldades em lidar
com a morte, talvez por desenvolverem um “complexo tanatolítico”, numa crença de
que está um passo a frente do ser comum em sua capacidade de postergar, deter
ou até mesmo anular a morte. (NORDON, 2009).
O médico tendo como função o diagnóstico e o tratamento, vê a doença como
sua inimiga e o corpo do paciente como um campo de batalha. Nesse confronto, a
morte se configura como um fracasso, considerando como algo que não faz parte de
sua prática habitual, mas como algo inesperado que assinala a fragilidade de seu
poder. E justamente por não estarem preparados para lidar com a morte, estes
lançam mão de diversos mecanismos para evitar o confronto com a morte de seus
pacientes; e o mais comum deles é a negação. Este mecanismo é expresso através
de diversos comportamentos, sendo o principal deles não ver o paciente como uma
pessoa, mas como um objeto portador de um mal a ser extirpado. (SALGADO et al;
2009).
Estes autores acrescentam dizendo que, não é uma característica individual que
traduz a frieza e a utilização de mecanismos de defesa tão intensos nos médicos e
nos outros profissionais de saúde, mas o convívio com a morte.
Para Nordon (2009), o médico não deseja de modo algum que o paciente morra,
pois isto sustenta o complexo tanatolítico. Mas, ao mesmo tempo, há certo alívio
quando ele morre, pois estando presente a morte no outro, quer dizer que ele
próprio não morreu. E a cada morte, o médico ganha “um pouco mais de vida” e,
com o decorrer do tempo, ele passa a se acostumar com a morte.
Levando em consideração o exposto, Esslinger (2004) ressalta que todas as
mudanças no âmbito científico e tecnológico justificariam a inclusão, nos cursos de
formação de profissionais de saúde, de disciplinas que discutissem aspectos ligados
ao processo de morte e do morrer.
De acordo com Nordon (2009) os cursos de medicina do Brasil em geral não
possuem uma disciplina de Tanatologia - a maioria sequer menciona o assunto. O
único curso de Graduação no qual o estudo da morte faz parte do currículo, nos
mais de 177 cursos de medicina no Brasil, é o da Universidade Federal de São
Paulo, coordenado pelo Prof. Dr. Marco Túlio de Assis Figueiredo e pela Dra. Maria
das Graças Mota Cruz de Assis Figueiredo.
Porém, Santos (2009) afirma que o Brasil possui, não apenas uma, mas, duas
faculdades de medicina que oferecem aos seus alunos a disciplina de Tanatologia,
35
como optativa na graduação: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
e a Faculdade de Medicina do ABC, sendo que na FMUSP é oferecida a disciplina
de tanatologia também na pós-graduação.
E mais recentemente, temos a Faculdade de Medicina de Itajubá, que desde
2010 incluiu a disciplina de Tanatologia e Cuidados Paliativos em sua grade
curricular, a qual é ministrada pela Dra. Maria das Graças Mota Cruz de Assis
Figueiredo.
Segundo o Plano de Ensino-2012 da Faculdade de Medicina de Itajubá, a
disciplina é administrada na 1º, 2º e 4º série, respectivamente, Tanatologia e
Cuidados Paliativos I, Tanatologia e Cuidados Paliativos II e Tanatologia e Cuidados
Paliativos III, com uma carga horária de 36 h.A metodologia de ensino é direcionada
por atividades teóricas e práticas. Sendo que as atividades teóricas incluem:
exposição oral dos temas intercalada por discussões de casos e de situações
cotidianas com intensa participação dos alunos; conferências; debates em classe;
mesas redondas; seminários; atividades de sensibilização. E as atividades práticas
dispõe de :
visitas monitoradas a cemitérios , visitas a templos religiosos,
atendimento ambulatorial a pacientes em Cuidados Paliativos (CP), visitas
monitoradas em hospital a pacientes em visitas domiciliares, visitas de luto e visitas
as enfermarias do Hospital Escola.
Apesar de a disciplina ter sido introduzida na grade curricular apenas em 2010, a
Faculdade de Medicina de Itajubá, há tempos vem sensibilizando seus alunos com o
tema de Cuidados Paliativos através de vídeo fórum apresentado mensalmente no
auditório da faculdade, o qual era aberto ao público das demais faculdades de
Itajubá.
Apenas três faculdades, dentre as 144 citadas por Nordon (2009), incluindo a
Faculdade de Medicina de Itajubá, não são suficientes para a preparação dos
acadêmicos de medicina no Brasil.
Sendo assim, esse aprendizado se dá no campo da prática quando o
profissional começa a perder os pacientes sob seu cuidado. (SILVA, 2005).
Santos (2009) relata que 81,1% dos profissionais consideram inadequada a
formação acadêmica sobre o assunto. Outro estudo demonstra que 50,9% dos
médicos têm dificuldades para tratar este tema, 13,5% têm muita dificuldade e 1,9%
evita o assunto. (STARZEWSKI JÚNIOR; ROLIM; MORRONE, 2005).
36
Como consequência deste despreparo, as reclamações mais comuns das
famílias, relatadas por
Starzewski Júnior, Rolim e Morrone (2005), eram
informações superficiais ou vagas, uso de linguagem médica ou de difícil
compreensão, insegurança do profissional, informações secas ou com frialdade.
Já nos Estados Unidos, este cenário se mostra bastante diferente. Das 122
escolas médicas, 100% oferecem aulas sobre morte e morrer e 94% sobre cuidados
paliativos. O número médio de horas oferecido é de 12 horas sobre morte e morrer e
de 9 horas sobre cuidado paliativo. (DICKINSON, 2006).
Portanto diante dos dados apresentados resta apenas a reflexão: qual será as
consequências futuras deste despreparo em relação a morte e o morrer dos
profissionais de medicina?
2.4
A MORTE E A ENFERMAGEM
“A prática profissional da Enfermagem realiza-se em diferentes contextos de
saúde, sendo que a doença e a morte são elementos presentes na rotina e no
ambiente de trabalho desses profissionais.” (GALVÃO et al; 2010, p.27) Escolher ser
enfermeiro implica no desejo de estar próximo ao sofrimento e a morte. (LEONI,
1996 apud AGUIAR et al; 2006)
No estudo bibliográfico de Silva, Ribeiro e Kruse (2009) há quatro aspectos de
abordagens da morte pela enfermagem, organizadas por períodos. A primeira, no
período de 1937 a 1979, com enfoque na “morte silenciada e ocultada”, onde não se
podia se envolver e demonstrar os sentimentos. A segunda, no período de 1980 a
1989, retratada como a “luta contra a morte”, nessa época a enfermagem
presenciava o emprego de inúmeros aparatos tecnológicos a fim de prolongar a
vida. Em terceira abordagem, no período de 1990 a 1999, denominada de “a morte
em cena: multiplicidade de facetas”, referindo-se aos enfermeiros e a utilização de
mecanismos de defesa, tais como negação e a racionalização, por meio de um
relacionamento frio, rotinizado e regulado. E por fim, aborda-se a morte e os
cuidados paliativos, como mudança de paradigma, no período de 2000 a 2005.
O ambiente hospitalar exige dos profissionais adaptações constantes, uma vez
que lidam diretamente com o sofrimento do outro e acompanham as angústias dos
familiares, além de conviverem diariamente com a morte, um desafio frequente e
que acaba gerando estresse em seu cotidiano. (GALVÃO et al; 2010).
37
A morte e o processo de morrer têm grande contribuição para o desgaste ou
estresse do profissional. Por conta destas e outras questões a enfermagem foi
classificada como a quarta profissão mais estressante pela Health Education
Authority. (GALVÃO et al; 2010).
Estas situações estressantes, as quais os profissionais de enfermagem estão
expostos ao longo do tempo, acabam interferindo no cuidado, produzindo na saúde
enfermeiros frios e indiferentes. (PALÚ; LABRONICI; ALBINI, 2004 apud SANTOS;
BUENO, 2011).
Dessa forma, torna-se necessário auxiliar a equipe de enfermagem a entender o
processo de morte e morrer como uma etapa do ciclo vital e incentivar os debates
sobre os sentimentos emergentes nesse processo e na elaboração do luto, uma vez
que o sofrimento contínuo e diário pode levar o profissional ao adoecimento.
(GALVÃO et al., 2010)
No estudo realizado por Gutierrez e Ciampone (2007), a fé foi apontada como
um recurso utilizado pelos enfermeiros para o enfrentamento da morte.
O profissional de enfermagem é o único que assiste o ser humano em todas as
fases da vida, inclusive diante da possibilidade de morte. (SILVA, 2005).
Para que a equipe de enfermagem possa trabalhar juntamente com os médicos,
no que diz respeito ao processo morrer e a morte, esta também deve ser preparada
na sua formação acadêmica. (ROCKENBACH, 1985 apud MARTINS; ALVES;
GODOY, 1999).
Porém, Santos (2009) revela que a temática da morte parece perturbar os
enfermeiros na mesma proporção que os médicos, sendo observado um despreparo
técnico, educacional e mesmo existencial dos enfermeiros na abordagem de temas
ou assuntos relacionados com a morte e o morrer.
“O modelo médico de cuidado eficiente, mas essencialmente impessoal, exerce
influência não apenas sobre o médico, mas também sobre os enfermeiros.”
(SANTOS, 2009, p.16).
Um estudo realizado com alunos do primeiro ano do curso de graduação em
enfermagem demonstrou que estes, recém-ingressos, viam a morte como inimiga e
sinônimo de fracasso, acreditavam que deviam lutar contra ela para preservar a
vida. (SANTOS; BUENO, 2011).
O estudo de Vargas (2010) também demonstrou que os estudantes de
enfermagem possuíam pouco preparo para lidar com situações que envolvem a
38
morte e o morrer. Esse estudo, realizado com estudantes de enfermagem do
segundo ano de graduação de uma faculdade privada de São Paulo, revelou que os
sentimentos elencados por eles diante de uma situação de morte, foi o de perda e
medo.
Conforme este mesmo autor, talvez a crença na onipotência da equipe explique
a existência de tais sentimentos nesses alunos, contribuindo para reforçar nos
estudantes os sentimentos de perda e fracasso diante da morte de um paciente.
Em um outro estudo realizado por Oliveira e Amorim (2008) verificou-se, junto
aos estudantes do último período de estágio do curso de graduação em
enfermagem, que a morte ainda é um acontecimento que choca e traz muito
sofrimento.
Portanto, lidar com morte é uma experiência que causa temor nos acadêmicos
do primeiro ao último período da graduação, e se estende aos profissionais de
enfermagem.
Segundo Galvão et al. (2010), as universidades e instituições, apesar de
contemplarem em suas propostas curriculares a abordagem integral da assistência,
na prática clínica parecem não dar muita ênfase a essa questão, priorizando um
ensino tecnicista. Muito pouco é trabalhado em relação ao impacto emocional dessa
experiência com o óbito e as estratégias de enfrentamento.
Para este mesmo autor, na formação acadêmica dos profissionais de
enfermagem a temática da morte é de certa forma negligenciada ou até inexistente.
A esfera humanística e filosófica da morte e do morrer não é contemplada em sua
totalidade, sendo abordada com superficialidade.
Segundo SANTOS (2009, p.17):
No Brasil, são poucas as faculdades de enfermagem que têm a
temática da morte no seu currículo ou como disciplina optativa, entre
elas pode ser citada a escola de enfermagem da Universidade de
São Paulo (USP), a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a
USP de Ribeirão Preto.
Não existem políticas públicas educativas dos Conselhos Federal e Estadual de
enfermagem em parceria com o Ministério da Educação (MEC) para a inserção da
Tanatologia ou da temática da morte nos currículos das faculdades de enfermagem
e dos cursos técnicos. (SANTOS, 2009)
39
No estudo de Silva e Silva (2007) realizado com acadêmicos de enfermagem de
escolas brasileiras, constatou-se que 42% dos participantes revelaram não ter aulas
sobre o tema morte e morrer em suas escolas. Os que informaram a existência de
tais conteúdos, relataram que o assunto é abordado como um subtema de uma
disciplina ou matéria principal e varia entre 30 minutos e 10 horas/aula.
A realidade, portanto, se mostra cruel, dezenas de milhares de profissionais que
lidam diariamente com a morte, infelizmente, não receberam qualquer formação na
área. (SANTOS, 2009) E, segundo Silva (2005), o que se percebe é um despreparo
da enfermagem para enfrentar a morte e lidar com seus próprios sentimentos. Isso
repercutirá negativamente, resultando em sofrimento psíquico, existencial e
espiritual para os profissionais. (SANTOS, 2009).
No entanto, ao deparar-se com sucessivas experiências de morte no ambiente
labora, o profissional desenvolve recursos de enfrentamento nem sempre ideais,
porém que os auxiliam na adaptação a rotina de trabalho. Porém, tais recursos nem
sempre são suficientes para que o profissional elabore a experiência de forma
efetiva. (GALVÃO et al; 2010).
Daí a importância de uma reformulação dos currículos dos cursos de
enfermagem, visando inserir um treinamento nas áreas da perda, da dor e da morte,
para que possa ocorrer uma mudança em nível de comportamento frente à morte.
(TORRES et al. 1989 apud MARTINS; ALVES; GODOY, 1999).
O que preocupa é que não só os discentes, mas também os docentes de
enfermagem não se sentem preparados para lidar com a morte. No estudo de Pinho
e Barbosa (2008), as enfermeiras docentes revelaram dificuldade para trabalhar com
os acadêmicos as questões da morte e do morrer. Acreditam que o tempo é curto, o
assunto é extenso e complexo para ser ensinado, e acima de tudo não sabem como
fazer. Estas autoras verificaram, ainda, que as docentes fazem a abordagem
superficial da temática morte, talvez para não causar impacto nos aluno ou mesmo
por não se sentirem capacitadas para tal. Porém, este panorama é resultado da
própria formação que estas enfermeiras receberam na graduação, pois segundo
elas, receberam o conteúdo, mas foram informações fragmentadas, sem conexão
entre as disciplinas.
E apesar das dificuldades, os educadores tentam demonstrar equilíbrio ao
vivenciar a morte em campo de estágio, porém muitas vezes sentem-se
despreparados, angustiados e temerosos, pois também não foram formados para
40
aceitar ou vivenciar a morte. (CARVALHO; VALLE, 2006 apud SANTOS; BUENO,
2011).
Diante disso, vemos profissionais despreparados formando outros profissionais,
que também serão despreparados para lidar com questões a respeito da morte e o
morrer.
Para Vargas (2010), estudos têm sido publicados nos últimos anos abordando
as concepções, reflexões, sentimentos e o preparo de estudantes de enfermagem
frente a situações que envolvem a morte e o morrer, porém pouca atenção vem
sendo dada à temática na formação do enfermeiro, acarretando dificuldades e
inadequações no enfrentamento dessas situações em seu cotidiano de trabalho.
E mesmo com as reformas curriculares nas instituições, o currículo ainda não
tem garantido a inserção da temática de modo consistente. (SILVA; SILVA, 2007;
CARVALHO; MERIGHI, 2006).
O estudo realizado por Santos e Bueno (2011, p.275) confirma este fato ao dizer
que:
Verificou-se a unanimidade dos artigos em referir que as
universidades ainda não foram capazes de introduzir na sua grade
curricular, de forma crítico-reflexiva, a Tanatologia, ciência que
estuda os mais diversos aspectos da morte. E que apesar de
algumas universidades oferecerem disciplinas que abordam a
temática da morte, todos os estudos demonstraram que os alunos
carecem de reflexão e discussão, a fim de se desnudarem dos préconceitos socioculturais ocidentais vivenciados desde a infância.
Considerando este panorama, torna-se de extrema urgência a preparação dos
acadêmicos e futuros profissionais de saúde quanto a morte e o processo morrer.
Somente com uma boa preparação acadêmica, tanto dos médicos como dos
enfermeiros, será possível encontrarmos profissionais que saibam lidar com seus
próprios sentimentos e com os sentimentos dos outros. O que facilitará o
enfrentamento diante do tema “morte”, além de contribuir para que os profissionais
da saúde tenham mais facilidade de comunicar a morte de um paciente
hospitalizado aos seus familiares e promover à família enlutada um atendimento
mais humano.
41
2.5
A COMUNICAÇÃO DA MORTE AOS FAMILIARES
Santos (2009), autor e médico geriatra, expõe sua posição ao dizer que o
médico enquanto líder do sistema de saúde é o responsável direto por informar os
familiares sobre a morte.
Porém, segundo informações colhidas nas instituições de saúde, apesar de o
atestado do óbito ser de responsabilidade exclusiva dos médicos, a comunicação do
óbito aos familiares não é uma atribuição específica a nenhum profissional da saúde.
Por meio de uma busca, foi constatado que não há nenhum registro tanto no Código
de Ética Médico como no Código de Ética de Enfermagem designando qual o
profissional responsável por informar o óbito. Porém, habitualmente, quem acaba
informando é o médico de plantão ou médico que acompanhou o paciente e/ou o
enfermeiro de plantão, aquele que estiver mais disponível e preparado no momento.
Sendo muitas vezes determinado pela própria instituição por meio de protocolo ou
até mesmo por um consenso interno.
No entanto, dentro da mesma instituição pode haver variação. Em algumas
unidades fica por responsabilidade apenas do médico, em outras a enfermeira é que
exerce a função, ou ainda a informação é passada aos familiares pela equipe
(médico, enfermeiro e psicólogo) dependendo da necessidade do caso. Dessa
forma, os profissionais de saúde, sejam eles médicos ou enfermeiros (as) devem
estar qualificados para lidar com tal situação. Sendo que esta informação não é uma
tarefa nada fácil.
Refletindo com base na literatura, a comunicação da morte pode sofrer
influência por diversos fatores que circunda o momento da morte. Considerando três
pontos básicos relacionados à comunicação da morte, são eles: a situação
circunstancial do momento da morte, aquele que recebe a notícia e aquele que
informa a notícia. Sendo, portanto, a comunicação bastante variável, dependendo
dos fatores que interagem a esta situação de fatalidade.
Dentre os fatores que podem alterar ou modificar a forma de transmitir a notícia
podemos citar: idade, relação com o falecido, posição deste na família, forma da
morte, tempo de doença, natureza do vínculo, entre outros. Esses fatores, portanto,
são aqueles também responsáveis pela reação de luto da família. (SPINDOLA;
MACEDO, 1994).
42
Em cada caso há certa especificidade ao comunicar a morte, levando em
consideração os fatores citados, os quais poderão acentuar o sofrimento da família
enlutada, como também os sentimentos do próprio médico.
De acordo Starzewski Júnior, Rolim e Morrone (2005), a morte pode ser dividida
em “oportuna” e “inoportuna”. A morte oportuna implica que o tempo esperado de
vida e o período realmente vivido sejam aproximadamente iguais, ou seja, a pessoa
morre quando esse fato deveria previsivelmente ocorrer, aqueles que devem
suportar a perda não se surpreendem com a morte. Desta citamos: a morte
decorrente do envelhecimento, pacientes terminais ou sem prognóstico - na fase
adulta. A morte inoportuna refere-se a: morte prematura de pessoa jovem, morte
catastrófica, associada a um acidente ou por violência, ou morte súbita inesperada.
No entanto, a morte que gera uma experiência emocional mais intensa são aquelas
que ocorrem com crianças. Para Araújo e Vieira (2004) é muito mais difícil aceitar a
morte de uma criança.
Nos casos de morte inoportuna, se torna mais difícil para o médico ter que
anunciar a notícia aos familiares. Já na morte oportuna, a família já está mais
preparada para receber a notícia, o que facilita para o médico comunicar o óbito.
Silva (2005) diz que, a pessoa aceita a morte de um indivíduo por pensar na ideia de
que este já tenha sofrido bastante ou por ter vivido muito e experimentado da vida
de forma mais natural.
O prognóstico ruim parece “preparar”, também, o profissional para a morte de
seu paciente, entretanto a morte súbita ou de pacientes jovens acentuam os
sentimentos de impotência, identificação e culpa. (MARTINS; ALVES; GODOY,
1999).
Outro aspecto importante que se torna relevante ao ter que informar a morte aos
familiares, é o próprio familiar.
Para Vila Nova (2000), família é a orientação e a regulamentação das relações
de parentesco, da procriação, das relações sexuais e da transmissão dos
componentes intermentais básicos da sociedade. As formas de organização da
família são bem variadas, com diversos critérios sociológicos para sua classificação.
Os principais tipos de família são a monogâmica (relação homem e mulher), a
poligínica (relação de um homem com duas ou mais mulheres) e a poliândrica
(relação de uma mulher com dois ou mais homens). No Brasil a família é
monogâmica.
43
A forma de organização da família se baseia em cima de sua própria
sobrevivência. Nessa esfera temos: a família extensa ou patriarcal, está relacionada
à necessidade de braços para o trabalho agrícola que é o seu sustento,
compreendendo várias gerações de parentes por consanguinidade, por casamento
ou por agregação; e a família nuclear, composta do casal e dos filhos, geralmente
nas sociedades urbano-industrial. (VILA NOVA, 2000)
A natureza do vínculo, a relação com o falecido e a posição deste na família é
algo muito significativo, que deve ser levado em conta ao passar a informação de
morte. Gonçalves (1994), afirma que se fica mais comovido quando falece alguém
de nosso círculo de amizade, ou seja, as pessoas mais próximas. Por esse motivo,
se torna mais difícil transmitir a informação para uma pessoa da família do que para
qualquer outra pessoa. No geral, as pessoas da nossa família são aquelas que
consideramos mais “chegadas”, mais próximas, onde há um laço mais forte de
companheirismo, de carinho, de confiança e de proteção. Deve considerar ainda
que, se a relação entre os indivíduos da família era muito intensa ou, se a pessoa
falecida era, por exemplo, um pai de família, responsável pela renda familiar, a
comunicação torna ainda mais complicada.
Em relação ao profissional informante, muitos são os fatores relacionados que
podem prejudicar ou auxiliar na comunicação da morte, são eles: personalidade de
cada profissional, a formação médica, as experiências que cada um teve com a
morte de pessoas ligadas a ele no passado, ou a sua própria proximidade com a
morte, seu posicionamento filosófico e também a crença individual de cada um.
(SALGADO et al; 2009).
Para Nordon (2009), a religião permite aos mortais conviver com o fato de que,
depois da vida, vem a morte, e era para se esperar que os médicos fossem os mais
crentes; no entanto, são tanto os céticos, às vezes até mesmo os ateus, que veem a
vida como um simples funcionamento orgânico, e a morte como cessação dele, que
às vezes se esquece de que, ao contrário das pessoas descrentes e onipotentes, a
religião é algo essencial. Nota-se que, de uma maneira geral, quando os
profissionais possuem alguma crença, costumam suportar melhor as perdas.
(SILVA, 2005).
Independentemente dos fatores que interagem com a situação de morte. Para
Starzewski Júnior, Rolim e Morrone (2005) após a família ser informada do óbito, é
muito importante que haja uma conversa com a equipe médica para esclarecimentos
44
sobre o caso. No entanto, essa comunicação deve ser clara, em local adequado e
passando serenidade ao familiar que está vivenciando um momento tão difícil.
De acordo com os resultados do estudo destes mesmos autores, as reações
mais comuns da família no momento da morte são: aparecimento de culpa, revolta
contra a equipe que cuidou do paciente, raiva e choro.
Portanto, o médico e o enfermeiro deve estar preparado para saber lidar com
qualquer uma das reações possíveis, apresentadas pela família.
45
3
REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO
Nesta pesquisa será utilizado para a análise dos dados o Discurso do Sujeito
Coletivo (DSC), que está descrito após a Teoria das Representações Sociais (TRS),
visto que o DSC é um dos métodos de análise desta teoria.
De acordo com Arruda (1991), a TRS estabelece que a representação não seja
uma cópia da realidade, mas sim a sua reelaboração pelo sujeito, que é um sujeito
ativo. A representação é sempre social, porque é elaborada com categorias de
linguagem ou códigos de interpretação fornecidos pela prática social do sujeito.
As noções de Representação Social (RS) recobrem o sistema cognitivo e
simbólico, que constitui o conjunto de conhecimentos, crenças, imagens, opiniões e
significados relativos a um objeto circunscrito na realidade social. Tal atividade se
efetua a partir das informações que o sujeito recebe dos seus sentidos, quer dizer,
do que recolheu ao longo de sua história e permanece na memória, além das
relações com outros indivíduos ou grupos. (ALLOUFA, 1991).
A seguir será apresentado de forma mais abrangente as representações sociais
e o Discurso do Sujeito Coletivo com suas especificidades.
3.1
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Nos últimos anos, o conceito de Representações Sociais (RS) tem aparecido
com grande frequência em trabalhos científicos de diversas áreas.
Este conceito atravessa as ciências humanas e não é patrimônio de uma área
em particular. Ele tem fundas raízes na sociologia, e uma presença marcante na
antropologia e na história das mentalidades. (ARRUDA, 2002).
As RS são uma forma de trabalhar com o pensamento social em sua dinâmica e
em sua diversidade. Auxiliam na construção de uma realidade comum de um
conjunto social. (ARRUDA, 2002).
Com esta sistematização há uma reabilitação do senso comum, do saber
popular, do conhecimento do cotidiano e do conhecimento pré-teórico. (ARRUDA,
2002).
A RS constitui um recurso muito importante para se viver em sociedade, haja
vista que engloba explicações, ideias e manifestações culturais que caracterizam um
46
determinado grupo. Ela acontece a partir da interação das pessoas, apesar do
homem viver em um ambiente, ele não perde os atributos típicos de sua
personalidade. (ARRUDA, 2002).
Serge Moscovici, em 1961, elaborou a primeira base teórica do conceito das RS
utilizando estudos na área de psicanálise para chegar as suas conclusões. Para
entender as relações humanas, é necessário fazer uma análise do coletivo,
verificando assim a troca de conhecimentos que a RS é capaz de promover dentro
do grupo. (ARRUDA, 2002).
É válido lembrar que o estudo da RS se mostra importante para compreender o
avanço da sociedade e o comportamento da pessoa inserida num grupo. (ARRUDA,
2002).
Para Sá (2004), a RS tem como objetivo explicar os fenômenos do homem a
partir de uma perspectiva coletiva, sem perder de vista a individualidade.
Portanto, este mesmo autor, preconiza que, para o psicólogo social europeu
Serge Moscovici, a RS está relacionada com o estudo das simbologias sociais a
nível tanto de macro como de micro análise, ou seja, o estudo das trocas simbólicas
infinitamente desenvolvidas em nossos ambientes sociais, de nossas relações
interpessoais, e de como isto influencia na construção do conhecimento
compartilhado e da cultura.
A finalidade da RS é tornar familiar algo não-familiar, isto é, uma alternativa de
classificação, categorização e nomeação de novos acontecimentos e ideias, com a
quais não tínhamos contato anteriormente, possibilitando, assim, a compreensão e
manipulação destes à partir de ideias, valores e teorias já preexistentes e
internalizadas por nós e amplamente aceitas pela sociedade. (ARRUDA, 2002).
3.2
DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO
O DSC é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de
natureza verbal, obtidos por meio de depoimentos.( LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005)
De acordo com Lefèvre e Lefèvre (2005), após fazer a pergunta aberta, se junta
os discursos individuais gerados de modo que expressem o pensamento de uma
coletividade sobre um dado tema, de forma que esta, fale diretamente.
47
Conforme estes mesmos autores é um discurso-síntese, redigido na primeira
pessoa do singular e composto por Expressões-chave (ECH), que tem a mesma
Ideia central (IC) ou Ancoragem (AC).
Este método utiliza-se de questões abertas com a intenção de aprofundar as
razões subjacentes a escolha por uma das alternativas de resposta. O que a difere
de uma pesquisa social, onde contém apenas questões fechadas que limitam a
expressão do pensamento dos pesquisados, o que não é o objetivo do DSC.
(LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005)
Por serem questões abertas, faz-se necessário a leitura das respostas e a
identificação de palavra, conceito ou expressão que saliente a essência do sentido
da resposta, após isso, temos o que se chama de categoria. A partir de então, é
possível enquadrar os vários discursos em uma das categorias e após podem ser
distribuídas em classes. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005)
3.2.1 Figuras metodológicas
Para que o DSC seja confeccionado, faz-se necessárias algumas figuras
metodológicas que orientarão o trajeto deste método. São elas: ECH, IC e AC.
(LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).
x Expressões-chave: são pedaços, trechos ou transcrições literais do discurso,
que devem ser sublinhadas, iluminadas, coloridas pelo pesquisador, e que revelam
a essência do depoimento. A ECH é uma espécie de prova discursivo-empírica da
verdade das ideias centrais e das ancoragens e vice-versa.
x Ideias centrais: são um nome ou expressão linguística que revela e
descreve, de maneira simples, precisa e fidedigna, o sentido de cada discurso
analisado e cada conjunto homogêneo de ECH, que vai dar início ao DSC. A IC não
é uma interpretação, mas sim uma descrição do sentido de depoimento ou de um
conjunto de depoimentos. As ICs podem ser resgatadas através de descrições
diretas do sentido do depoimento, revelando o que foi dito através de descrições
indiretas ou mediatas.
x Ancoragem: é a manifestação linguística explícita de uma dada teoria, ou
ideologia, ou crença, que o autor do discurso professa e que na qualidade de
afirmação genérica, está sendo usada pelo enunciador para enquadrar uma
situação específica.
48
O DSC é um discurso-síntese redigido na primeira pessoa do singular e
composto pelas ECH que têm a mesma IC ou AC. Um método que utiliza uma
estratégia discursiva, tornando clara a representação social.
O DSC pode estar em itálico ou em negrito ao mesmo tempo, para indicar que
se trata de uma fala ou depoimento do participante, não é necessário usar aspas,
pois não trata de uma citação. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).
3.2.2 Fases do DSC
Lefèvre e Lefèvre (2005), explicam que o DSC é uma estratégia discursiva que
segue as fases descritas a seguir:
™ COLETA DE DADOS
x Escolha do sujeito: Há três situações que se apresentam ao pesquisador: na
primeira, o pesquisador pode compor pessoalmente a sua amostra,
escolhendo todos ou quase todos os indivíduos a serem pesquisados. Na
segunda, é uma escolha intencional dos sujeitos a serem pesquisados, e o
pesquisador tem conhecimento aprofundado sobre os sujeitos. E a terceira é
quando o pesquisador não conhece ou conhece superficialmente os sujeitos.
x Elaboração do roteiro de perguntas. Antes de formular uma questão, devem–
se definir os objetivos que se pretende atingir.
x Preparo dos entrevistados: Faz-se a apresentação do entrevistador ao
entrevistado, seguindo rigorosamente as perguntas do roteiro. Não podendo o
entrevistador introduzir novas questões, modificar, opinar ou intervir na
entrevista que esta realizando. Pode-se apenas introduzir adendos como: O
que mais? Como assim? Tem algo mais a dizer.
x Preparo do ambiente para a entrevista: Local ausente de ruídos, onde haja
privacidade.
x Preparo
do
equipamento:
Verificar
antecipação.
funcionamento
do
aparelho
com
x Clima da entrevista: Deve transcorrer o mais informal possível, deixando o
entrevistado a vontade e descontraído.
49
™ TABULAÇÃO DE DADOS:
Após a entrevista coletada, gravada e transcrita, alguns passos devem ser
seguidos rigorosamente, segundo Lefèvre e Lefèvre (2005):
x
Análise das questões isoladamente, copiando integralmente cada resposta
obtida.
x Identificação e delimitação das ECH ou ICs e também as ICs da AC.
x ICs e ACs separando–as.
x Identificação e agrupamento das ICs e ACs do mesmo sentido ou em sentido
equivalente ou complementar.
x Denominar cada um dos grupos por A, B, C e outras, todas as IC de mesmo
sentido.
x Construir o DSC.
Estes passos serão descritos de forma mais detalhada no item 3.2.3.
™ APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Se houver mais de um DSC por questão, pode–se apresentar inicialmente um
quadro–síntese com as principais ideias surgidas na análise das questões. As
características pessoais não serão analisadas, fazendo parte do trabalho apenas
para enriquecimento deste.
3.2.3 Passo a Passo do DSC
Após serem gravadas todas as entrevistas e transcritas, realiza-se a tabulação
dos dados seguindo os seguintes passos (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005):
x Copiar, integralmente, o conteúdo de todas as respostas referentes à questão
1, no Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) (ANEXO A, B, C, D) na
coluna ECH do quadro de apresentação;
x Identificar e sublinhar, em cada uma das respostas, as IC das ECH;
x Identificar as IC a partir das ECH e agrupar as IC equivalentes;
50
x Denominar cada um dos agrupamentos A, B, C, D e outros, o que, na
realidade implica criar uma ideia central que expresse, da melhor forma
possível, todas as IC de mesmo sentido. Às vezes, todas ou várias IC têm o
mesmo título, ou nome, o que facilita o processo.
x Construir o DSC. Para isso é necessário utilizar o Instrumento de Análise de
Discurso 2 (IAD2) (ANEXO E, F, G, H ). Deve-se construir um DSC, para cada
agrupamento das ICs, identificado anteriormente. Utilizando tantos IAD2s
forem os agrupamentos.
É importante ressaltar que estes passos devem ser seguidos rigorosamente. As
questões também devem ser analisadas isoladamente, ou seja, analisada questão 1
de todos os sujeitos entrevistados, a seguir a questão 2, e assim sucessivamente.
(LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005)
Para construir o DSC, a primeira etapa é copiar do IAD1 todas as ECH do
mesmo agrupamento e colocá-las na coluna das ECH do IAD2. A segunda etapa é
construir o DSC propriamente dito, conforme cada agrupamento. (LEFÈVRE;
LEFÈVRE; TEIXEIRA, 2002)
51
4
TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
A pesquisa em enfermagem é uma investigação sistemática, destinada a
desenvolver conhecimentos sobre temas de importância para a enfermagem,
usando de uma metodologia para se chegar a meta final da pesquisa. (POLIT;
BECK; HUNGLER, 2004).
No entender de Andrade (2003), metodologia constitui o conjunto de métodos
ou caminhos que serão percorridos na busca do conhecimento.
Esta parte do trabalho aborda os aspectos relacionados com o cenário de
estudo, caracterização do local de estudo, sujeitos, natureza de amostra e
amostragem, instrumento de coleta de dados, procedimento para a coleta dos
dados, estratégias de análise de dados, assim como os preceitos éticos da
pesquisa.
4.1
CENÁRIO DE ESTUDO
O estudo foi realizado em duas instituições de saúde no município de ItajubáMG: a Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e o Hospital Escola de Itajubá.
A escolha foi direcionada para essas instituições hospitalares de Itajubá por se
enquadrarem no quesito maior número de óbitos, de acordo com os dados colhidos
na Vigilância Epidemiológica de Itajubá. O que, consequentemente, leva os médicos
e enfermeiros das instituições a informarem a morte com maior frequência. Outra
justificativa para a escolha destas instituições é pelo fato de apresentarem uma boa
receptividade, já que nós acadêmicos de Enfermagem da Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz realizamos o ensino clínico e estágio em tais instituições.
O município de Itajubá está localizado no sul de Minas gerais, segundo dado do
IBGE a estimativa da população em 2009 é de 90.225. A cidade está ligada a 16
municípios vizinhos. Possui uma localização privilegiada devido a sua posição em
relação as grandes capitais da região sudeste: Belo Horizonte (445 km), São Paulo
(261 km), Rio de Janeiro (318 km), além de estar inserida numa rede urbana
formada por prósperas cidades de porte médio.
É centro de referência em assistência à saúde para dezesseis municípios da
chamada microrregião do Alto Sapucaí. A cidade conta com dois hospitais
52
credenciados para o Sistema Único de Saúde - SUS, Santa Casa de Misericórdia de
Itajubá e Hospital Escola de Itajubá, da Faculdade de Medicina de Itajubá, com
níveis de atendimento de atenção básica até alta complexidade. (PREFEITURA
MUNICIPAL DE ITAJUBÁ, 2009).
Oferece, ainda, assistência na área privada de convênios com o Hospital Médico
e Odontológico (Odontomed), a Clínica Especializada em Assistência Médica
(SAÚDE CEAM), a Cooperativa de Trabalho Médico Ltda. (UNIMED de Itajubá) e o
Hospital Bezerra de Menezes, voltado à saúde mental. (PREFEITURA MUNICIPAL
DE ITAJUBÁ, 2009).
A assistência ambulatorial, além dos serviços privados, é realizada nos hospitais
credenciados do SUS, nas Unidades Básicas de Saúde do município e na policlínica
municipal.
A Santa Casa de Misericórdia de Itajubá é um hospital geral, uma instituição
civil de direitos privados sem fins lucrativos, de caráter beneficente, filantrópico e
declarada de Utilidade Pública Estadual e Federal. Com prestação de serviços
terceirizados.
Classificada como hospital geral de médio porte. Possui cerca de 100 leitos
prestando serviços de atendimento ambulatorial e internações nas especialidades de
clínica médica, cirúrgica, pediátrica, ginecológica e obstétrica; ortopedia e
fisioterapia, maternidade, nefrologia, gastroenterologia, centro de terapia intensiva,
centro cirúrgico e pronto socorro.
É campo de estágio, ensino clínico e pesquisa para alunos de enfermagem,
medicina, nutrição, fisioterapia, residência médica em cirurgia. Seu corpo clínico é
composto em média por 100 médicos atuantes, contemplando 25 especialidades. E
sua equipe de enfermagem conta com 17 enfermeiros, sendo 13 assistenciais.
O Hospital Escola de Itajubá (HE) é um hospital geral, de caráter de ensino,
nível de atenção hospitalar de média e alta complexidade, além do nível ambulatorial
com atenção básica à saúde.
É uma instituição civil de direitos privados sem fins lucrativos, de caráter
beneficente, filantrópico e declarada de Utilidade Pública Estadual e Federal.
Disponibiliza cerca de 150 leitos, sendo distribuídos por: clínica médica, clínica
cirúrgica, pediatria, maternidade, centro de tratamento intensivo, centro cirúrgico,
pronto socorro e unidade de internação particular. Oferece atendimento, por
53
demanda espontânea, aos habitantes de Itajubá e região, sendo 84% pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), 13% através dos convênios e 3% particulares.
Possui
serviços
de
atendimento
ambulatorial
e
hospitalização
nas
especialidades: cardiologia, nefrologia, clínica geral, neurologia, pneumologia,
gastroenterologia, pediatria, ginecologia e obstetrícia, pronto socorro, ortopedia e
traumatologia, centro cirúrgico, centro de terapia intensiva e fisioterapia. Oferece,
também, serviços de apoio diagnósticos como: radiologia, laboratório de análise
clínica, tomografia computadorizada, ultrassonografia, mamografia e endoscopia. É
campo de estágio para alunos de medicina, enfermagem, fisioterapia, nutrição e
residência médica em áreas diversificadas. Seu corpo clínico é composto por 127
médicos (as), contemplando 38 especialidades. E seu departamento de enfermagem
conta com 26 enfermeiros (as).
4.2
DELINEAMENTO DO ESTUDO
Para conhecer os significados e sentimentos dos médicos e dos enfermeiros
sobre o tema, nesta pesquisa foi utilizada a abordagem qualitativa, do tipo
exploratória, descritiva, transversal e de campo.
Na perspectiva de Polit, Beck e Hungler (2004), o alvo da maioria dos estudos
qualitativos é descobrir significados, revelar crenças e realidades múltiplas.
O método escolhido, conforme descrito anteriormente, será o DSC, baseado na
Teoria das Representações Sociais (TRS). No entanto, não se utilizou da
ancoragem - figura metodológica - durante a formação do DSC.
Trata-se de pesquisa exploratória, aquela que se caracteriza pela preocupação
de identificar os fatores que contribuem para a ocorrência dos fenômenos e por se
aprofundar no conhecimento da realidade e explicar o porquê das coisas. É o tipo
mais complexo e delicado, já que os riscos de cometer erros são aumentados
consideravelmente. (GIL, 2002).
Na pesquisa descritiva os fatos são observados, registrados, analisados,
classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira neles. Sendo uma das
suas características a técnica padronizada da coleta de dados, realizada
principalmente através de questionários e da observação sistemática.
54
Os estudos transversais são aqueles em que os dados são coletados com um
ou mais grupo de sujeitos em um determinado tempo. (BREVIDELLI; DE
DOMENICO, 2006)
Já a pesquisa de campo é assim intitulada por permitir que a coleta de dados
seja efetuada “em campo”, onde ocorrem espontaneamente os fenômenos, uma vez
que não há interferência do pesquisador sobre eles. (ANDRADE, 2003).
Sendo estes os métodos que melhor se encaixam com o estudo em questão,
dando maior probabilidade de adquirir resultados efetivos, foram escolhidos de
acordo com a particularidade dos objetivos a serem atingidos.
4.3
PARTICIPANTES
DO
ESTUDO,
NATUREZA
DA
AMOSTRA
E
AMOSTRAGEM
Os participantes do estudo seriam, a princípio, apenas os médicos que
trabalhavam no Hospital Escola ou na Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, MG,
de qualquer faixa etária e de ambos os gêneros, porém ao realizar a coleta de dados
com os médicos, ficou claro que não só os médicos, mas que também os
enfermeiros realizavam tal função: “informar o óbito aos familiares”, havendo assim a
necessidade de se incluir os enfermeiros na pesquisa. A partir de então, ao término
das entrevistas com os médicos foi também coletado os dados com enfermeiros das
referidas instituições de saúde.
De acordo com Polit, Beck e Hungler (2004), uma amostra é um subconjunto
dessa população. As entidades que constituem as amostras e as populações são os
elementos. E amostragem é o processo de seleção de uma porção da população
para representar toda a população.
Diante disso, o tamanho da amostra deste estudo, ou seja, o número total dos
entrevistados é determinado pelo método utilizado na pesquisa. O DSC determina o
mínimo de 20 sujeitos. Estas pesquisas contem dois DSC, sendo um o DSC dos
médicos e outro o DSC dos enfermeiros. Cada um com uma amostra de 20 sujeitos,
totalizando 40 sujeitos participantes da pesquisa. O tipo de amostragem foi nãoprobabilística intencional. Segundo Polit; Beck; Hungler (2004), neste tipo de
amostragem os membros da amostra são selecionados de forma proposital, com
base nas necessidades de informação que emergem dos resultados preliminares.
55
x
x
x
x
x
Os critérios para a inclusão dos participantes no estudo foram:
Ser médico (a) do Hospital Escola ou da Santa Casa de Misericórdia de
Itajubá há pelo menos um ano;
Ser médico (a) que já tenha informado o óbito aos familiares;
Ser enfermeiro (a) do Hospital Escola ou da Santa Casa de Misericórdia de
Itajubá há pelo menos um ano;
Ser enfermeiro (a) que já tenha informado o óbito aos familiares;
Concordar em participar do estudo.
A escolha de médicos que trabalham há pelo menos um ano deve-se ao fato
que estes tiveram uma oportunidade maior de informarem óbito aos familiares.
Os critérios para a exclusão dos participantes no estudo foram:
x
x
x
x
x
4.4
Não ser médico (a) do Hospital Escola ou da Santa Casa de Misericórdia de
Itajubá há pelo menos um ano;
Ser médico (a) que não tenha informado o óbito aos familiares;
Não ser enfermeiro (a) do Hospital Escola ou da Santa Casa de Misericórdia
de Itajubá há pelo menos um ano;
Ser enfermeiro (a) que não tenha informado o óbito aos familiares;
Não concordar em participar do estudo.
COLETA DE DADOS
Segue abaixo o instrumento e os procedimentos utilizados para a coleta de
dados do estudo em questão.
4.4.1 Instrumento para coleta de dados
O instrumento utilizado para coleta de dados foi um roteiro de entrevista
semiestruturada composto de duas partes, uma referente a caracterização pessoal e
profissional dos participantes do estudo e a outra contendo duas questões abertas
inerentes aos objetivos da pesquisa. (APÊNDICE A)
A entrevista é o procedimento mais utilizado no trabalho de campo. Através dela,
o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Essa técnica
se caracteriza por uma comunicação verbal que reforça a importância da linguagem
56
e do significado da fala, servindo como meio de coleta de informações sobre um
determinado tema científico. (CRUZ NETO, 2002).
De acordo com Brevidelli e De Domenico (2006), a entrevista é uma das
principais técnicas utilizadas na pesquisa qualitativa e que requer maior
aproximação entre pesquisador e pesquisado. Matheus e Fustinoni (2006)
completam que na entrevista, o objetivo é descobrir o que é significativo na vida dos
entrevistados, suas percepções e interpretações, suas óticas e sua maneira de
traduzir o mundo.
A entrevista semiestruturada é uma articulação entre duas modalidades: a
entrevista estruturada e não-estruturada. A entrevista estruturada pressupõe
perguntas previamente formuladas. Na entrevista não-estruturada o informante
aborda livremente o tema exposto. (CRUZ NETO, 2002). Nesta modalidade, a
entrevista contém questões abertas direcionadas conforme o objetivo do estudo.
4.4.2 Procedimentos para coleta de dados
A coleta de informações foi iniciada após a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB) da cidade de ItajubáMG, conforme Parecer Consubstanciado Nº 588/2010 (ANEXO I). Segue no ANEXO
J , o Parecer Consubstanciado que atualiza o anterior, para que o mesmo estivesse
em acordo com as mudanças ocorridas durante o trabalho, ou seja, a inclusão dos
enfermeiros como participante da pesquisa.
O agendamento da entrevista foi feito com cada participante de forma individual,
respeitaram-se os dias e horários que lhes foram mais viáveis, sendo que 16 das
entrevistas foram realizadas na própria instituição, em local reservado, os quais os
próprios entrevistados indicaram; e 4 entrevistas não foram realizadas nas
instituições selecionadas (Hospital Escola de Itajubá e Santa Casa de Misericórdia
de Itajubá) e sim em outras instituições de saúde (nas quais os participantes
também atuavam), porém seguindo sempre os critérios de inclusão.
Anteriormente a entrevista, foram confirmados os critérios de elegibilidade, os
respondentes tomaram conhecimento dos objetivos do estudo, da garantia do
anonimato, do instrumento a ser aplicado, da gravação das respostas e posterior da
transcrição na íntegra das mesmas. Após esclarecimento das dúvidas, foi efetuada a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (APÊNDICE B).
57
No entanto, alguns participantes, sendo 9 enfermeiros e 2 médicos optaram por
responder na própria folha a segunda parte do questionário (referente aos objetivos
do estudo), alegando se sentirem mais a vontade dessa maneira e recusaram a
gravação das respostas. E ainda, um participante, sendo este médico, optou por
ditar sua resposta e ao mesmo tempo a pesquisadora transcrevesse na folha. Todas
as respostas dos participantes sejam elas gravadas, escritas ou ditadas, foram
transcritas na íntegra.
Cada entrevista durou em média de 10 a 30 minutos, em local reservado, e de
forma individual, deixando, dessa forma, os participantes a vontade.
4.5
PRÉ-TESTE
O pré-teste foi realizado com o objetivo de averiguar o entendimento por parte
do entrevistado e fazer as correções necessárias no instrumento. Para Gil (2002) o
pré-teste é necessário para assegurar que o instrumento satisfaz o que se pretende
pesquisar.
Nesta pesquisa o pré-teste foi dirigido para três médicos que não fizeram parte
da amostra, mas que estavam de acordo com os critérios de inclusão, com a
finalidade de verificar qualquer ajuste ou modificação no roteiro, que se julgasse
necessária, para que ele esteja adequado aos objetivos da pesquisa e possa ser
aplicado com sucesso. Com o pré-teste verificou-se que não haveria necessidade de
mudanças, já as respostas estavam condizentes com o objetivo do estudo.
Os médicos e enfermeiros possuem o mesmo nível de escolaridade, optou-se
por não realizar pré-teste com os enfermeiros e, também, porque não houve
alterações no instrumento quando realizado com os médicos e nem problemas de
compreensão do instrumento durante a coleta de dados com enfermeiros.
4.6
ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DOS DADOS
Para análise dos dados da caracterização pessoal e profissional dos sujeitos do
estudo, referente à primeira parte do roteiro de entrevista semiestruturada,
inicialmente, foi feita a leitura integral das informações de cada participante com a
finalidade de melhor compreensão geral. Em seguida procedeu-se as releituras
58
delas, com o intuito de identificar as características pessoais e profissionais dos
médicos e enfermeiros participantes da pesquisa.
Os dados identificados foram apresentados em forma de tabelas e comentados
no relatório final da concretização desta pesquisa, na parte que se refere à
apresentação e discussão dos resultados.
Os dados coletados com a gravação e manuscritos das respostas dos
participantes às questões abertas, da segunda parte do roteiro de entrevista
semiestruturada, seguiram os passos segundo o método DSC.
Depois de gravadas e transcritas, o seu conteúdo foi colocado no instrumento de
Análise de Discurso 1 (IAD-1, ANEXO A, B, C, D) na coluna ECH. Em cada uma das
ECH foram identificadas as IC, sublinhadas e posteriormente agrupadas as IC
equivalentes. Para construir o DSC, foi preciso utilizar o Instrumento de Análise 2
(IAD-2, ANEXO E, F, G, H) e finalmente para cada agrupamento identificado
construiu-se o DSC. Com o DSC concluído, foi apresentado e comentado no
relatório final da concretização desta pesquisa, na parte que se refere à
apresentação e discussão dos resultados, juntamente com os resultados da primeira
parte do roteiro da entrevista semiestruturada.
4.7
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
A apresentação dos resultados do DSC pode ser apresentado utilizando-se de
várias maneiras.
Na proposta apresentada neste estudo, as seguintes etapas foram seguidas:
após seu conteúdo foi colocado no instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD-1,
ANEXO A, B, C, D) na coluna ECH. Em cada uma das ECH foram identificadas as
IC, sublinhadas e posteriormente agrupadas as IC equivalentes. Para construir o
DSC, foi preciso utilizar o Instrumento de Análise 2 (IAD-2, ANEXO E, F, G, H) e
finalmente para cada agrupamento identificado construiu-se o DSC.
Nesta proposta, utilizou-se de dois Instrumentos de Análise de Discurso (IAD1 e
IAD2), até que se chegou ao resultado final - o DSC.
Para apresentação dos resultados do DSC foi exposto um painel de discursos
de sujeitos coletivos, enunciados na primeira pessoa do singular, sugerindo, assim,
59
uma pessoa coletiva falando como se fosse um sujeito individual de discurso.
(LEVÈFRE; LEFÈVRE, 2005)
Pra este mesmo autor (LEVÈFRE; LEFÈVRE, 2005, p.32):
Essa forma de apresentação de resultados de pesquisa, é fácil de
perceber, confere muita naturalidade, espontaneidade, vivacidade ao
pensamento coletivo, o que contrasta fortemente com as formas
clássicas de apresentação de resultados...
Dessa forma, os resultados são apresentados possibilitando a compreensão do
mesmo.
4.8
ASPECTOS ÉTICOS DO ESTUDO
Este estudo respeitou a Resolução 196/96 de 10/10/1996 do Ministério da
Saúde, por meio do Conselho Nacional de Saúde, que refere-se às pesquisas
realizadas com seres humanos, sendo respeitada a livre decisão em participar da
pesquisa e o direito de desistir quando desejar, de maneira livre e espontânea. A
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido- TCLE (APÊNDICE B)
oficializou a decisão do usuário em participar do estudo, respeitando dessa forma a
autonomia dos entrevistados. Assim sendo, duas das enfermeiras convidadas,
recusaram-se à participar do estudo, referindo falta de tempo e desinteresse em
responder os questionamentos, fazendo jus ao seu direito de escolha.
Também foram previstos os procedimentos que asseguraram a confiabilidade, o
anonimato das informações, a privacidade e a proteção da mensagem dos usuários,
garantindo-lhes que os dados obtidos não sejam utilizados em prejuízo de qualquer
natureza para eles.
O anonimato de cada participante foi assegurado utilizando, para a identificação
deles, a denominação Médico 1 (MED 1), Médico 2 (MED 2), Médico 3 (MED 3),
Enfermeiro 1 (ENF 1), Enfermeiro 2 (ENF 2), Enfermeiro 3 (ENF 3) e, assim
sucessivamente.
Para a realização da pesquisa nas referidas instituições, foi enviada ao diretor
técnico das mesmas, uma carta de solicitação para coleta de dados .
60
5
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Nesta parte do trabalho são apresentados os resultados da primeira e segunda
parte do roteiro de entrevista semiestruturada, referente aos dados dos médicos e
dos enfermeiros.
5.1
RESULTADOS REFERENTES AOS MÉDICOS
Os dados apresentados a seguir referem-se aos resultados da primeira e
segunda parte do roteiro de entrevista semiestruturada realizada com os médicos.
5.1.1 Características pessoais e profissionais
Os dados apresentados a seguir se referem aos dados dos médicos como:
gênero, idade, religião, tempo de formado e tempo de exercício da profissão. Sendo
estas as questões referentes à primeira parte do roteiro de entrevista semiestruturada.
Tabela 1 - Características pessoais e profissionais de médicos da cidade de Itajubá- MG , 2012.
(n=20)
Gênero
- Feminino
- Masculino
Idade
-20-29 anos
-30-39 anos
-40-49 anos
-50-60 anos
Religião
- Católico
- Evangélico
Frequência
relativa
Frequência
absoluta
9
11
45%
55%
10
4
3
3
50%
20%
15%
15%
19
1
95%
5%
(continuação)
61
Tabela 1 - Características pessoais e profissionais de médicos da cidade de Itajubá- MG , 2012.
(n=20)
(conclusão)
Tempo de formado
-de 1 a 4 anos
-de 4 a 7 anos
-de 7 a 10 anos
-mais de 10 anos
Tempo de exercício
de profissão:
-de 1 a 4 anos
-de 4 a 7 anos
-de 7 a 10 anos
-mais de 10 anos
7
3
1
9
35%
15%
5%
45%
8
3
0
9
40%
15%
0%
45%
Fonte: Instrumento da pesquisa
Observou-se que 55% dos médicos participantes do estudo eram do gênero
masculino e que 50% dos médicos tinham a idade entre 20-29 anos. A religião
predominante foi a católica com 95% dos participantes.
Em relação às características profissionais, pôde-se perceber que 45% dos
médicos tinham mais de 10 anos de tempo de formado e tempo de exercício de
profissão.
Destes participantes, 18 eram médicos do Hospital Escola de Itajubá e 2 eram
médicos da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, sendo eles atuantes em Pronto
socorro, Clínica Médica, Unidade de Terapia Intensiva e Pediatria. A diferença de
participantes em relação ao Hospital Escola de Itajubá e a Santa Casa de
Misericórdia de Itajubá foi devido a disponibilidade dos médicos durante a coleta de
dados.
5.1.2 Dados relacionados aos objetivos do estudo
A seguir, serão apresentados os resultados relacionados à segunda parte do
roteiro de entrevista semiestruturada, a qual inclui as duas questões problemas, o
quadro com suas ideias centrais, seus sujeitos, frequência e por último o discurso do
sujeito coletivo (DSC) dos entrevistados.
62
5.1.2.1 Significados de informar o óbito
Para a primeira pergunta, que questiona os significados de informar o óbito,
temos as seguintes ideias centrais, conforme segue no Quadro 1:
Quadro 1 - Ideias Centrais do tema: significados para os médicos de informar o óbito aos
familiares
Nº
IDEIAS CENTRAIS
1
Fazer as pessoas sofrerem
2
Coisa muito ruim
3
Coisa muito triste
4
Não sentir bem
5
Tristeza
6
Tarefa árdua, difícil
7
Um sofrimento pessoal
8
Bastante complicado
9
Situação desconfortável
10
Uma agressão
11
Duro demais
12
Momento mais difícil do profissional
13
Condição inerente da profissão
14
Fácil se o paciente é idoso
15
Fácil se o caso é grave
16
Ser honesto e objetivo
17
Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem
18
19
Transmitir um desfecho com tranqüilidade, cuidado, atenção,
solidariedade
Um dever profissional realizado de maneira diferenciada
20
Minimizar as dores das famílias
21
Informar uma perda irreparável
22
Informar o fim do ente querido
23
Separação do ente querido
24
Limitação profissional
25
Impotência diante da morte
26
Algo técnico
27
Algo mecanizado
Fonte: Instrumento da pesquisa
63
As ideias centrais obtidas foram agrupadas pela sua semelhança ou
complementaridade, recurso este recomendado por Lefèvre e Lefèvre (2002).
Segue abaixo o Quadro 2 resultante dos agrupamentos das ideias centrais
complementares ou semelhantes:
Quadro 2 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes do tema:
significado para os médicos de informar o óbito aos familiares.
Ideia
Central
(IC) nº
1º IC
2º IC
3º IC
4º IC
5º IC
6º IC
7º IC
8º IC
9º IC
Ideias Centrais complementares ou Ideia Central resultante
semelhantes
do agrupamento
-Fazer as pessoas sofrerem
-Coisa muito ruim
-Coisa muito triste
-Não sentir bem
-Tristeza
-Tarefa árdua, difícil
-Um sofrimento pessoal
-Bastante complicado
-Situação desconfortável
-Uma agressão
-Duro demais
-Momento mais difícil do profissional
-Condição inerente da profissão
Fazer
as
sofrerem
pessoas
Situação difícil
Condição inerente da
profissão
-Fácil se o paciente é idoso
Fácil se o óbito é
-Fácil se o caso é grave
esperado
-Ser honesto e objetivo
Ser honesto e objetivo
-Falha no sucesso terapêutico, se o Falha
no
sucesso
paciente é jovem
terapêutico, se o paciente
é jovem
-Transmitir
um
desfecho
com
tranquilidade,
cuidado,
atenção, Transmitir um desfecho de
solidariedade
maneira diferenciada
- Um dever profissional realizado de
maneira diferenciada
-Minimizar as dores das famílias
-Informar uma perda irreparável
-Informar o fim do ente querido
Perda irreparável para a
-Separação do ente querido
família e limitação para o
-Limitação profissional
médico
-Impotência diante da morte
-Algo técnico
Algo técnico, mecanizado
-Algo mecanizado
Fonte: Instrumento da pesquisa
64
A partir do agrupamento efetuado anteriormente, temos as seguintes ICs
referente ao tema em estudo apresentado no Quadro 3:
Quadro 3 - Ideias centrais, sujeitos e freqüência das ideias centrais do tema: significados para
os médicos de informar o óbito aos familiares. (n=20)
Nº
Ideias centrais (IC)
1
Situação difícil
Sujeitos
Frequência
das
Ideias
Centrais
MED 1, MED 2, MED 5, MED 9
10, MED 11, MED 12, MED
16, MED18, MED 19
MED 2, MED 4, MED 6, MED
12, MED 14, MED 15, MED
17, MED 18
MED 6, MED 8, MED 9, MED
13, MED 16, MED19
MED 6, MED 7, MED 10,
MED 11, MED 17
2
Condição inerente da profissão
3
5
Perda irreparável para a família e
limitação para o médico
Transmitir um desfecho de maneira
diferenciada
MED 3, MED 5
Fácil, se o óbito é esperado
6
Ser honesto e objetivo
MED 3, MED 20
2
7
Fazer as pessoas sofrerem
MED 1
1
8
Falha no sucesso terapêutico, se o MED 5
paciente é jovem
Algo técnico, mecanizado
M18
1
4
9
8
6
5
2
1
Fonte: Instrumento da pesquisa
Portanto, os resultados demonstram que os significados de informar o óbito para
os familiares, apresentados pelos médicos, foram: “Situação difícil” (45%), “Condição
inerente da profissão” (40%), “Perda irreparável para a família e limitação para o
médico” (30%), “Transmitir um desfecho de maneira diferenciada” (25%), “Fácil, se o
óbito era esperado” (10%), “Ser honesto e objetivo” (10%), “Fazer as pessoas
sofrerem” (5%), “Falha no sucesso terapêutico, se paciente é jovem” (5%) e “Algo
técnico e mecanizado” (5%).
As ideias centrais que obtiveram maior destaque, devido a uma maior
freqüência, foram as seguintes: “Situação difícil” (45%), “Condição inerente da
profissão” (40%), “Perda irreparável para a família e limitação para o médico” (30%).
Seguem os DSC:
65
1º Ideia Central: Situação difícil
DSC
É uma das tarefas mais difíceis da prática médica, da prática de todo
profissional de saúde. É muito ruim, nem sempre a gente gosta de estar
informando isso. Eu tento evitar, porque eu acho uma situação desconfortável.
Eu me sinto agredida de ter que informar. Acredito que esse é o momento mais
difícil da relação médico, paciente e familiares. É uma coisa triste. A primeira
vez, você fica como se você mesmo tivesse recebendo a notícia, fica meio sem
ação, é bastante complicado. A gente se coloca muito no lugar do familiar.
Então a gente sente com isso, dá um sentimento de tristeza. É duro demais, é
um sofrimento, significa sofrimento, porque além da gente passar pelo
sofrimento de estar perdendo o paciente, você ainda tem que tirar força. É uma
tarefa árdua, difícil, lógico que não sente bem.
2º Ideia Central: Condição inerente da profissão
DSC
Significa uma condição inerente da profissão médica e que faz parte do nosso
trabalho, da rotina da gente. É um cargo, uma responsabilidade, uma tarefa
que faz parte do serviço. É um dever meu, como outro qualquer. Informar o
óbito a um familiar é uma das tarefas da prática de um modo geral de todo
profissional de saúde. É inerente da prática do dia a dia.
3º Ideia Central: Perda irreparável para a família e limitação para o médico
DSC
É informar uma perda irreparável, informar que o ente querido foi embora e
não vai mais vai voltar, não vai mais fazer parte de sua vida. É o fim da linha do
ponto de vista médico. É o único momento na vida do ser humano que o
“nunca mais” cabe, nunca mais você vai ver a pessoa, nunca mais ela vai estar
presente na sua vida. Então informar pra família o óbito é informar o “nunca
66
mais” do ser, do ente querido dessa pessoa. É informar o fim, uma separação,
simplesmente eles não estarão mais juntos e pra maioria das pessoas o fim é
muito doloroso. Então assim, de certa forma, você informa pra família que nós
também somos limitados, que gente tem um certo limite ,então você chego ao
seu limite e você não vai pôde fazer mais nada. Nós tentamos até o ponto que
foi possível. Significa a nossa limitação como médico, como ser humano, Nós
não somos deuses, a gente não consegue fazer além do limite nosso, e isso dá
um sentimento de impotência perante a morte. Então significa a perda pra
família e significa também a nossa limitação como ser humano, como médico.
4º Ideia Central: Transmitir um desfecho de maneira diferenciada
DSC
Significa transmitir um desfecho, mas sempre com um caráter humano e com
uma certa sutileza. O mais importante é minimizar as dores da família. Não é só
simplesmente informar, é tentar esclarecer e explicar o que aconteceu e o que
justifica aquela situação naquele momento. É ter um jeito especial pra
conseguir passar isso de uma forma mais amena pro familiar. O mais
importante mesmo é minimizar as dores dos familiares que estão perdendo um
ente
querido.
Então,
significa
cuidado,
significa
atenção,
significa
solidariedade.
5º Ideia Central: Fácil, se o óbito era esperado
DSC
É mais fácil pra gente quando o paciente já é mais idoso, chega a morbidade
ou se os familiares já conheciam a gravidade. Então fica mais fácil pra gente,
pois óbito o já era esperado.
67
6º Ideia Central: Ser honesto e objetivo
DSC
Significa ser o mais honesto e objetivo possível. Se não havia gravidade, sou
objetivo: “o paciente foi a óbito.” Deve-se falar sempre a verdade, não
omitindo nenhum detalhe, sobre o quadro clínico e sobre o motivo que levou
ao óbito, e sem embromação. Embora seja um momento doloroso você não
pode fugir disso.
7º Ideia Central: Fazer as pessoas sofrerem
DSC
Significa que eu vou fazer uma, várias pessoas sofrerem. Então significa que a
gente está fazendo as pessoas sofrerem.
8º Ideia Central: Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem
DSC
Quando o paciente é mais novo, pra mim é uma falha no sucesso terapêutico.
9º Ideia Central: Algo técnico e mecanizado
DSC
Era algo técnico demais, muitas vezes a gente não tinha entrado em contato
com o paciente, a gente só sabia que a criança tinha morrido. E assim que a
gente informava de uma forma bem mecanizada, a gente se afastava, a gente
não se envolvia com o sofrimento deles.
68
A Figura 1 representa todas as ideias centrais referente aos significados para
os médicos de informar o óbito aos familiares:
Figura 1 - Ideias centrais sobre o tema: significados para os médicos de informar o óbito aos
familiares. Itajubá-MG, 2012.
Condição
inerente da
profissão
Transmitir um
desfecho de
maneira
diferenciada
Fazer as pessoas
sofrerem
Falha no sucesso
terapêutico, se o
paciente é
jovem
Significados para os
médicos de informar o
óbito aos familiares
Fácil, se o óbito é
esperado
Situação difícil
Algo técnico e
mecanizado
Perda irreparável
para a família e
limitação para o
médico
Ser
Algohonesto
técnico,e
objetivo
mecanizado
Fonte: Instrumento da pesquisa
5.1.2.2 Sentimentos ao informar o óbito
Para a segunda pergunta, que questiona os sentimentos ao informar o óbito aos
familiares, evidenciaram as ideias centrais apresentadas no Quadro 4:
69
Quadro 4 - Ideias Centrais do tema: sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos
familiares.
Nº
IDEIAS CENTRAIS
1
Chateado
2
Mal
3
Nada bom se a morte é de jovem
4
Não é muito bom
5
Péssimo
6
Muito mal
7
Desagradável
8
Agredida
9
Difícil de aceitar
10
Muito triste
11
Tristeza
12
Não gosto
13
Choro junto
14
Abalado
15
Triste
16
Angustiado
17
Sente muito, fica até sem palavras
18
Natural
19
Tranquilidade
20
Não me dá tristeza
21
Sem sentimento
22
Alívio, se a morte é esperada
23
Confortável quando a morte é inevitável
24
Aceitação melhor se está esperando
25
Tranquilidade por ter feito tudo que precisava
26
Dor
27
Responsabilidade muito grande
28
Incapacidade
29
Impotência
70
30
Insucesso
31
Sentimento de perda
32
Segurança diante da família
33
Com certo profissionalismo
Fonte: Instrumento da pesquisa
As ideias centrais obtidas foram agrupadas pela sua semelhança ou
complementaridade, recurso este recomendado por Lefèvre e Lefèvre (2002).
Segue abaixo o Quadro 5 resultante dos agrupamentos das ideias centrais
complementares ou semelhantes:
Quadro 5 - Agrupamento das ideias centrais complementares ou semelhantes do tema:
sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos familiares.
Ideia
Central
(IC)
1º IC
2º IC
3º IC
4º IC
5º IC
Ideias Centrais complementares
-Chateado
-Mal
-Nada bom se a morte é de jovem
-Não é muito bom
-Péssimo
-Muito mal
-Desagradável
-Agredida
-Difícil de aceitar
-Muito triste
-Tristeza
-Não gosto
-Choro junto
-Abalado
-Triste
-Angustiado
-Sente muito, fica até sem palavras
-Natural
-Tranquilidade
-Não me dá tristeza
-Sem sentimento
-Alívio se a morte é esperada
-Confortável quando a morte é
inevitável
-Aceitação melhor se está esperando
-Tranquilidade por ter feito tudo que
precisava
- Dor
Ideia
resultante
agrupamento
do
Muito mal
Triste
Sem
envolvimento
emocional
Aceitação e alívio
Dor
71
6º IC
- Responsabilidade muito grande
7º IC
-Incapacidade
-Impotência
-Insucesso
-Sentimento de perda
-Segurança diante da família
-Com certo profissionalismo
8º IC
9º IC
Responsabilidade
diante da família
Impotência
Perda
Segurança
profissionalismo
e
Fonte: Instrumento da pesquisa
A partir do agrupamento efetuado anteriormente, temos as seguintes ICs
referente ao tema em estudo apresentado no Quadro 6:
Quadro 6 - Ideias Centrais, sujeitos e freqüência das ideias do tema: sentimentos dos médicos
ao informar o óbito aos familiares. (n=20)
Nº
Ideias Centrais (Ic)
1
Triste
2
Impotência
3
Muito mal
4
Aceitação e alívio
5
6
Perda
Segurança
e
profissionalismo
Sem
envolvimento MED 1, MED 3, MED 12
emocional
MED 4, MED 8
Dor
Responsabilidade
diante MED 9
da família
7
8
9
Sujeitos
Frequência
das
Ideias
Centrais
MED 2, MED 5, MED 9, MED 10, 12
MED 13, MED 14, MED 15, MED
16, MED 17, MED 18, MED 19,
MED 20
MED 2, MED 7, MED 11, MED
15, MED 17, MED 19
MED 5, MED 7, MED 8, MED 13,
MED 17, MED 19
MED 4, MED 5, MED 8, MED 10,
MED 17
MED 7, MED 8, MED 16, MED 17
MED 6, MED 16, MED 17
6
5
5
4
3
3
2
1
Fonte: Instrumento da pesquisa
Sendo assim, os resultados demonstram que os sentimentos ao informar o óbito
para os familiares, apresentados pelos médicos, são: “Triste”(60%), “Impotência”
(30%), “Muito mal” (25%), “Aceitação e alívio” (25%), “Perda” (20%), “Segurança e
profissionalismo” (15%), “Sem envolvimento emocional” (15%), “Dor” (10%) e
“Responsabilidade diante da família” (5%).
72
Dentre as ideias centrais, as que obtiveram maior destaque devido a uma maior
frequência
foram as seguintes: “Triste” (60%) , “Impotência” (30%), “Muito mal”
(25%) e “Aceitação e alívio” (25%).
Seguem os DSC:
1º Ideia Central: Triste
DSC
O primeiro sentimento é de tristeza mesmo. A gente fica muito triste, fica
angustiado; a gente se sente parte daquilo. É impossível ser imparcial,
dificilmente a pessoa sai bem, dorme bem, geralmente sempre fica chateado;
Fiquei uns três dias pensando nisso.
A gente se sente emocionalmente
abalado, eu acho que eu abraço a notícia, tem hora que a gente chora junto,
tem hora que a gente não consegue falar, as vezes eu choro antes da família.
Apesar de as pessoas acharem que o médico não tem sentimento, que a gente
é muito frio, não é não, a gente sente muito nesse momento, às vezes a gente
fica até sem palavras.
2º Ideia Central: Impotência
DSC
É um sentimento de incapacidade, de impotência. É como se você tivesse tido
um insucesso no seu tratamento, porque a gente forma médico a gente quer
salvar, nunca a gente quer que a pessoa morra. E se você está cuidando de
um paciente, a hora que ele vai à óbito você vai dar essa notícia é como se
você não tivesse conseguido seu objetivo, você não conseguiu aquilo que é
tua função. Como médico eu não consegui dá conta, não teve jeito.
Infelizmente a gente se sente incapaz naquele momento, de ter que informar
aquilo pra família. Porque você queria dá de volta aquele paciente pra família,
mais às vezes não é possível. Sentimento de impotência, de não ter
conseguido salvar a pessoa, é esse o sentimento que fica.
73
3º Ideia Central: Muito mal
DSC
Eu me sinto muito mal de ter que informar, mesmo sabendo que isso faz parte
do processo do óbito. É uma sensação bem desagradável, eu não me sinto
bem, eu me sinto agredida de ter que passar isso pra família, porque ninguém
gosta de dar notícias ruins pra ninguém. Quando é uma fatalidade, um
acidente automobilístico, um trauma e a pessoa estava não tinha nada ou era
um paciente jovem e foi a óbito assim muito abruptamente, isso pro médico é
muito difícil de aceitar. Não é um sentimento nada bom, mas ele faz parte do
nosso dia a dia. É péssimo.
4º Ideia Central: Aceitação e alívio
DSC
Quando a morte é esperada há um certo alívio em dar a notícia, porque é como
se houvesse o fim de um sofrimento. A gente tem um dever tranquilo de que
foi feito tudo pra tentar salvar a vida desse paciente. Quando é um paciente
idoso, uma doença terminal então a gente até se sente um pouco mais
confortado pelo fato de saber que aquilo não tem reversibilidade ou a
qualidade de vida depois daquele fato seria muito ruim, então assim, é um
pouco melhor aceito pela gente, pelo médico.
5º Ideia Central: Perda
DSC
É um sentimento às vezes de perda. Pro médico isso é uma perda, perda de
um paciente, tem pessoas que lidam melhor com isso, tem pessoas que não
lidam, que carregam isso pra sua vida pessoal. E essa informação de perda é
muito difícil.
74
6º Ideia Central: Segurança e profissionalismo
DSC
Eu me sinto com segurança e com certo profissionalismo, a gente tem que
cumprir com o exercício daquilo que foi programado pra gente. Eu tenho que
me colocar como profissional e relatar o ocorrido aos familiares, e sem deixar
aparecer os meus sentimentos como pessoa, como choro, feição de tristeza.
7º Ideia Central: Sem envolvimento emocional
DSC
De forma natural. A vivência nos traz entender o ato de nascer-morrer. Não me
dá tristeza porque já ficou assim tão rotina, por causa da frequência. Então
acontece, às vezes, duas, três vezes no dia de eu ter que dar notícia de óbito.
Então assim, se tornou uma rotina tão comum que pra mim, é mais uma tarefa,
faz parte do serviço, não mais aquela sensibilidade tudo. Pra gente, a gente é
um pouco frio, a gente lida com isso todo dia, então tem assim muitos casos
graves que a gente fala: olha descansou. É um papel que até a gente não sente
tanto porque não faz parte da família da gente. A gente vê que a família está
sofrendo, mas não aquele sentimento seu, é diferente se fosse um parente seu.
Então a gente sente mal por ter também esse sentimento, por ser tão frio, mas
se você não for assim, você não consegue trabalhar num serviço de urgência e
emergência, então você tem que ser. Porque se você começa sentir todo esse
sofrimento e se envolver demais com a família, você vai ser eternamente
deprimida. Eu vejo óbito várias vezes ao dia, todo dia, então se eu for envolver
muito emocionalmente, eu vou ter que fazer tratamento eterno com psiquiatra,
vou ter que tomar antidepressivo eternamente, não tem como assim, você se
envolver tanto. Então...não faz diferença pra mim, eu não me envolvo
emocionalmente.
75
8º Ideia Central: Dor
DSC
Pra mim significa uma dor mesmo. Quando a morte não é esperada a
informação do óbito é dolorosa.
9º Ideia Central: Responsabilidade diante da família
DSC
A gente sente uma responsabilidade muito grande, porque o ser humano de
uma maneira geral enxerga nós médicos, uma pessoa assim que eles
entregaram seu ente querido pra gente devolvê-lo de uma maneira boa. E
nessa hora a família chora, se desespera e nós temos que ficar forte diante
deles, porque eles tem na gente uma pessoa importante nesse horário. Então,
é uma responsabilidade muito grande.
A Figura 2 representa todas as ideias centrais referente aos sentimentos dos
médicos ao informar o óbito aos familiares:
76
Figura 2- Ideias centrais sobre o tema: sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos
familiares. Itajubá-MG, 2012.
Muito mal
Impotência
Segurança e
profissionalismo
Aceitação e alívio
Sentimentos dos
médicos
ao informar o óbito
aos familiares
Triste
Perda
Dor
Responsabilidade
diante da família
Sem
envolvimento
emocional
Fonte: Instrumento da pesquisa
5.2
RESULTADOS REFERENTES AOS ENFERMEIROS
Os dados apresentados a seguir referem-se aos resultados da primeira e
segunda parte do roteiro de entrevista semiestruturada realizada com os
enfermeiros.
5.2.1 Características pessoais e profissionais
Os dados apresentados a seguir, na tabela 2, se referem aos dados dos
enfermeiros como: gênero, idade, religião, tempo de formado e tempo de exercício
da profissão. Sendo estas as questões referentes à primeira parte do roteiro de
entrevista semiestruturada.
77
Tabela 2: Características pessoais e profissionais de enfermeiros da cidade de Itajubá- MG,
2012. (n=20)
Freqüência
relativa
Freqüência
absoluta
17
3
85%
15%
9
5
2
4
45%
25%
10%
20%
16
4
80%
20%
11
1
2
6
55%
5%
10%
30%
Tempo de exercício de
profissão:
-de 1 a 4 anos
11
-de 4 a 7 anos
1
-de 7 a 10 anos
2
-mais de 10 anos
6
55%
5%
10%
30%
Gênero:
- Feminino
- Masculino
Idade:
-20-29 anos
-30-39 anos
-40-49 anos
-50-60 anos
Religião:
- Católico
- Evangélico
Tempo de formado:
-de 1 a 4 anos
-de 4 a 7 anos
-de 7 a 10 anos
-mais de 10 anos
Fonte: Instrumento da pesquisa
Os resultados demonstraram que 85% dos participantes eram do gênero
feminino. E a idade prevalente, com 45% dos enfermeiros, estava entre 20-29 anos,
com predominância da religião católica em 80% dos participantes.
Em relação as características profissionais, observou-se que 55% dos
enfermeiros tinham de 1 a 4 anos de tempo de formado e tempo de exercício e
profissão.
Destes participantes, 11 eram enfermeiros do Hospital Escola de Itajubá e 9
eram enfermeiros da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, sendo eles atuantes em
Pronto Socorro, Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Unidade de Terapia Intensiva,
Pediatria, Hemodiálise e Maternidade.
78
5.2.2 Dados referentes aos objetivos do estudo
A seguir, serão apresentados os resultados referentes à segunda parte do
roteiro de entrevista semiestruturada, a qual inclui as duas questões problemas, o
quadro com suas ideias centrais, seus sujeitos, frequência e por último o discurso do
sujeito coletivo (DSC) dos entrevistados.
5.2.2.1 Significados de informar o óbito
Para a primeira pergunta, que questiona os significados de informar o óbito,
temos as seguintes ideias centrais apresentadas no quadro 7:
Quadro 7 - Ideias Centrais do tema: significados para os enfermeiros de informar o óbito aos
familiares.
Nº
IDEIAS CENTRAIS
1
Parte importante do óbito
2
Parte importante da enfermagem
3
Situação difícil e complicada
4
É muito complicada
5
Momento delicado
6
Não é só chegar e falar, não é tão simples assim
7
Você não sabe como dizer
8
Não teve uma vitória
9
Eu não consegui resolver o problema do paciente
10
Pode ser uma falha que a gente tenha cometido
11
Sensação de impotência
12
Significa que você não conseguiu
13
Passar um resultado negativo para a família
14
Uma frase de tristeza e de pesar
15
Tirar a esperança do familiar
16
Notícia ruim
17
Significado muito pesado, muito forte
18
Experiência dolorosa
79
19
Muita dor
20
Algo que mexe ainda com o sentimento
21
Uma responsabilidade
22
É mais fácil se estava esperando
23
É mais difícil se não estava esperando
24
Um ato de atenção, solidariedade e respeito para com a
família
Fonte: Instrumento da pesquisa
As ideias centrais obtidas foram agrupadas pela sua semelhança ou
complementaridade, recurso este recomendado por Lefèvre e Lefèvre (2002).
Segue abaixo o Quadro
8 resultante dos agrupamentos das ideias centrais
complementares ou semelhantes:
Quadro 8 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes do tema:
significado para os enfermeiros de informar o óbito aos familiares.
Ideia
Central
(IC) nº
1º IC
2º IC
3º IC
4º IC
5º IC
6º IC
Ideias Centrais complementares
Ideia resultante do
agrupamento
-Parte importante do óbito
-Parte importante da enfermagem
-Situação difícil e complicada
-É muito complicada
-Momento delicado
-Não é só chegar e falar, não é tão simples
assim
-Você não sabe como dizer
-Não teve uma vitória
-Eu não consegui resolver o problema do
paciente
-Pode ser uma falha que a gente tenha
cometido
-Sensação de impotência
-Significa que você não conseguiu
-Passar um resultado negativo para a família
-Uma frase de tristeza e de pesar
-Tirar a esperança do familiar
-Notícia ruim
-Significado muito pesado, muito forte
-Experiência dolorosa
-Muita dor
-Algo que mexe ainda com o sentimento
-Uma responsabilidade
Algo importante
Situação difícil
Insucesso
Resultado negativo
Experiência
dolorosa
Responsabilidade
80
7º IC
8º IC
-É mais fácil se estava esperando
-É mais difícil se não estava esperando
-Um ato de atenção, solidariedade e respeito
para com a família
Depende do motivo
do falecimento
Um
ato
de
solidariedade
Fonte: Instrumento da pesquisa
A partir do agrupamento efetuado anteriormente, temos as seguintes ICs
referente ao tema em estudo apresentado no Quadro 9:
Quadro 9 - Ideias centrais, sujeitos e freqüência das ideias centrais do tema: significados para
os enfermeiros de informar o óbito aos familiares. (n=20)
Nº
Ideias Centrais (Ic)
1
Situação difícil
2
Resultado negativo
3
Sujeitos
Frequência
das
Ideias
Centrais
ENF 2, ENF 7, ENF 8, ENF 9, 9
5
Insucesso
ENF 10, ENF 11, ENF 12, ENF
13, ENF 18
ENF 4, ENF 8, ENF 12, ENF 13,
ENF 14
ENF 4, ENF 5, ENF 13
4
Experiência dolorosa
ENF 10, ENF12, ENF 17
3
5
Responsabilidade
ENF 6, ENF 15, ENF 20
3
6
7
Depende do motivo
falecimento
Algo importante
8
Um ato de solidariedade
do ENF 2, ENF 16
3
2
ENF 1, ENF 3
2
ENF 11, ENF 19
2
Fonte: Instrumento da pesquisa
Os resultados demonstram que os significados de informar o óbito para os
familiares, apresentados pelos enfermeiros, foram: “Situação difícil” (45%),
“Resultado negativo” (25%), “Insucesso” (15%), “Experiência dolorosa” (15%),
“Responsabilidade” (15%), “Depende do motivo do falecimento” (10%),
“Algo
importante” (10%) e “Um ato de solidariedade” (10%).
As ideias centrais que obtiveram maior destaque, devido a uma maior
freqüência, foram as seguintes: “Situação difícil” (45%) e “Resultado negativo”
(25%).
Seguem os DSC:
81
1º Ideia Central: Situação difícil
DSC
É uma situação difícil, complicada e delicada para o enfermeiro, porque, assim,
morreu dentro do hospital, dentro do seu ambiente de trabalho. É muito
complicado dar a notícia de óbito, não é simplesmente chegar e falar que a
pessoa morreu, não é só isso, existem outras coisas envolvidas no óbito. Eu
preciso falar o que aconteceu, o que foi feito, o que não foi feito, o porquê que
morreu, você tem que falar tudo. Você tem que estar completamente
respaldada de coisas, mas nem sempre estamos respaldados e nem
preparados para responder a todas as perguntas que poderão ocorrer, mas a
situação exige que você esteja preparado pra falar e também esteja preparado
psicologicamente. Além de ser um momento delicado, porque a gente não
sabe qual que é reação da família, a gente não sabe se era aquilo que a família
estava esperando. É uma coisa que a gente não sente bem em ter que falar
isso. Lidar com os sentimentos humanos é muito complexo, não é tão simples
assim, haja vista o grau de aceitação, compreensão do sofrimento. E às vezes
a gente também acaba se envolvendo no sofrimento do familiar. É uma
situação muito delicada, bem complicada, bem difícil, não é fácil de dizer.
2º Ideia Central: Resultado negativo
DSC
Significa que nós estamos passando um resultado negativo, uma notícia ruim,
e que não tem como reverter. Então é um significado muito pesado, muito
forte. É você tirar a esperança de alguém que estava com esperança de você
resolver o problema. Então o que significa é você tirar a esperança de vida,
porque eles chegam com uma esperança que você vai resolver o problema, e
você o chama e aquela esperança não tem mais, o paciente já foi a óbito. Na
verdade é como comunicar o nosso próprio fim, uma frase de tristeza e de
pesar.
82
3º Ideia Central: Insucesso
DSC
Informar o óbito pros familiares é você chegar para a família e falar: “não teve
uma vitória”, o que nós esperávamos de sair vitoriosos perante a situação,
perante o processo morrer, não deu. É um sentimento de... “eu não consegui”
resolver o problema seu, resolver o problema de seu ente querido. Traz uma
sensação, um pouco, de impotência, às vezes parece ser uma falha que a
gente cometeu. Então é um significado de que você não conseguiu, que você
fez tudo, mas não conseguiu.
4º Ideia Central: Experiência dolorosa
DSC
Significa muita dor. Ser portadora de uma notícia tão dolorosa para a família, é
uma experiência também dolorosa para mim. Apesar de muito tempo na
profissão, significa algo que ainda mexe com o sentimento.
5º Ideia Central: Responsabilidade
DSC
Significa ter uma responsabilidade muito grande, pois não sei como os
familiares podem reagir, devido ao momento de perda. Além do mais os
familiares tem que entender o que levou ao óbito, e é muito difícil às vezes pra
eles compreenderem que foi realizado de tudo para evitar o ocorrido. E
também é uma necessidade que a gente tem de ter que informar o mais rápido
possível a partir do momento que aconteceu.
83
6º Ideia Central: Depende do motivo do falecimento
DSC
Depende do motivo do falecimento, pois quando já esta em sofrimento muitas
vezes os familiares aceitam de forma mais serena, e outras vezes mesmo
assim acham que poderíamos ter feito mais pelo paciente. É mais difícil dar a
notícia pra aquela pessoa que não estava esperando do que aquela que já
estava esperando.
7º Ideia Central: Algo importante
DSC
Eu acho que pra parte da enfermagem é importante, porque a gente está ali, a
gente pode dar todo apoio. Eu vi que é importante que o enfermeiro esteja
junto para informar e dar toda ajuda pro familiar, porque envolve muita coisa.
Talvez seja uma das partes mais importantes do óbito.
8º Ideia Central: Um ato de solidariedade
DSC
Informar o óbito significa um ato de atenção para com a família, um ato de
solidariedade perante uma situação desagradabilíssima, pois é um momento
doloroso para o familiar e que deve ser respeitado. Então, procuro ser mais
humana e empática possível ao passar a notícia do óbito.
A Figura 3 abaixo representa todas as ideias centrais referente aos
significados para os enfermeiros de informar o óbito aos familiares:
84
Figura 3 - Ideias centrais sobre o tema: significados para os enfermeiros de informar o óbito
aos familiares. Itajubá-MG, 2012.
Algo
importante
Situação
difícil
Depende do
motivo do
falecimento
Insucesso
Significado para
os enfermeiros de
informar o óbito aos
familiares
Resultado
negativo
Responsabilidade
Um ato
solidariedade
Experiência
dolorosa
Fonte: Instrumento da pesquisa
5.2.2.2 Sentimentos ao informar o óbito
Para a segunda pergunta, que questiona os sentimentos ao informar o óbito aos
familiares, temos as seguintes ideias centrais apresentadas no quadro 10:
Quadro 10 - Ideias Centrais do tema: sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos
familiares.
Nº
IDEIAS CENTRAIS
1
Triste
2
Tristeza, angústia
3
Entristecido
4
Infinitamente triste
85
5
É desagradável
6
Sentimento ruim
7
Sentimento não é bom
8
Sinto mal, não estou preparada
9
Pouco culpado
10
Culpado
11
12
Sinto bem quando dou apoio a
família
Alívio
13
Confortado
14
Sentimento de dor
15
Muito doloroso
16
Impotente
17
Limitado
18
Um pouco frustrado
19
Sentimento natural, automático
20
Acostumado
21
Sinto a maior dificuldade
22
Muito constrangido
23
Sinto um vazio
24
Sentimento de perda
25
Tenso
Fonte: Instrumento da pesquisa
As ideias centrais obtidas foram agrupadas pela sua semelhança ou
complementaridade, recurso este recomendado por Lefèvre e Lefèvre (2002).
Segue abaixo o quadro 11 resultante dos agrupamentos das ideias centrais
complementares ou semelhantes:
86
Quadro 11 - Agrupamento de ideias centrais complementares ou semelhantes do tema:
sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos familiares.
Ideia
Central
(IC) nº
Ideias Centrais complementares
Ideia resultante do
agrupamento
Triste
Alívio e conforto
8º IC
-Triste
-Tristeza, angústia
-Entristecido
-Infinitamente triste
-É desagradável
-Sentimento ruim
-Sentimento não é bom
-Sinto mal, não estou preparada
-Pouco culpado
-Culpado
-Sinto bem quando dou apoio a família
-Alívio
-Confortado
-Sentimento de dor
-Muito doloroso
-Impotente
-Limitado
-Um pouco frustrado
-Sentimento natural, automático
-Acostumado
-Sinto a maior dificuldade
9º IC
-Muito constrangido
Muito constrangido
10º IC
-Sinto um vazio
-Sentimento de perda
-Tenso
Vazio e perda
1º IC
2º IC
3º IC
4º IC
5º IC
6º IC
7º IC
11º IC
Fonte: Instrumento da pesquisa
Mal
Culpado
Dor
Impotente
De forma natural
Dificuldade
Tenso
87
A partir do agrupamento efetuado anteriormente, temos as seguintes ICs
referente ao tema em estudo apresentado no Quadro 12:
Quadro 12 - Ideias Centrais, sujeitos e freqüência das ideias do tema: sentimentos dos
enfermeiros ao informar o óbito aos familiares. (n=20)
Nº
Ideias Centrais (Ic)
1
Triste
2
Impotente
3
Mal
4
Sujeitos
Frequência
das
Ideias
Centrais
ENF 1, ENF 3, ENF 5, ENF 6, ENF 7, 13
ENF 10, ENF 11, ENF 12, ENF 14,
ENF 15, ENF 16, ENF 18, ENF 19
6
Alívio e conforto
ENF 4, ENF 6, ENF 9, ENF 10, ENF
13, ENF14
ENF 1, ENF 2, ENF 8, ENF 12, ENF
14
ENF 2, ENF 12, ENF 18
5
Dor
ENF 3, ENF 12, ENF 17
3
6
Vazio e perda
ENF 4, ENF 17, ENF 19
3
7
De forma natural
ENF 2, ENF 7, ENF 15
3
8
Dificuldade
ENF 8, ENF 12
2
9
Muito constrangido
ENF 9
1
10
Culpado
ENF 2
1
11
Tenso
ENF 20
1
5
3
Fonte: Instrumento da pesquisa
Os resultados demonstram que os sentimentos de informar o óbito para os
familiares, apresentados pelos enfermeiros, foram: “Triste” (65%), “Impotente” (30%),
“Mal” (25%), “Alívio e conforto” (15%), “Dor” (15%), ”Vazio e perda” (15%), “De forma
natural” (15%), “Dificuldade” (10%), “Muito constrangido” (5%), “Culpado” (5%) e
“Tenso” (5%). As ideias centrais que obtiveram maior destaque, devido a uma maior
frequência, foram as seguintes: “Triste” (65%), “Impotente” (30%); Mal (25%).
Seguem os DSC:
88
1º Ideia Central: Triste
DSC
Eu me sinto triste, angustiada, porque a gente imagina como se fosse com um
parente querido nosso, como se fosse ter que informar minha própria família.
Mesmo não conhecendo muitas vezes os familiares, sentimos tristeza, pois
todos nós já perdemos alguém querido e isso é de grande sofrimento. A gente
acaba vendo a tristeza da família e isso normalmente mexe muito com a gente,
eu me coloco no lugar dos familiares. É complicado porque você tem que
informar e você está ali, vê a reação deles, mas não pode fazer nada. A única
coisa que você pode fazer é pegar na mão. Você tem que ter uma estrutura
psicológica muito boa pra você não ficar aborrecido porque se não você fica,
tão quanto os familiares e você acaba em vez de apoiar deixando eles mais
apreensivos. É muito triste, muito angustiante, você não pode se envolver,
mas você acaba se envolvendo, eu pensei no ocorrido durante muito tempo,
demorei pra tirar da minha cabeça a lembrança de todo acontecido, da notícia,
da reação deles. Me sinto triste e angustiada pelo familiar e por não ter sido
possível salvar o paciente ou recobrar a sua saúde.
2º Ideia Central: Impotente
DSC
Me
sinto impotente, limitado, por não ter ajudado. Geralmente a gente
pergunta aonde foi a falha, embora a gente saiba que muitas vezes não tem.
Traz uma sensação de ter feito tudo e ao mesmo tempo não ter feito nada para
que não tivesse ocorrido o óbito. É uma situação de risco que você não tem
como resolver, mas a gente como profissional a gente se sente impotente.
Então são estas situações assim que às vezes deixa a gente um pouco
frustrado, porque você não consegue resolver tudo e a morte não dá pra
controlar, principalmente em situações inesperadas. E você sente uma
sensação de voltar-se para o seu interior, de pensar, com essas situações.
89
Você se volta pra dentro, começa pensar na sua vida também. Me sinto
impotente.
3º Ideia Central: Mal
DSC
Eu sinto muito mal, já teve dia de ficar sem dormir, por achar que eu podia ter
feito isso e não fiz. Essas mortes traumáticas é muito ruim, a gente fica com
um sentimento, assim, meio ruim dentro da gente. O sentimento não é bom,
não é bom mesmo. É desagradável, eu particularmente não gosto dessa parte
não. Ah! Eu não me sinto muito bem.
4º Ideia Central: Alívio e conforto
DSC
Você sente um alívio também junto com a família, olha o paciente foi a óbito
mais fizemos tudo que poderia ser feito. Então, a situação é uma situação de
alívio, então a gente fica até gratificado com isso , a gente sabe tudo que a
gente fez, terminou em óbito terminou, mas era pra ser assim. O fato de tentar
dar todo o suporte, atenção e cuidado possível à família me conforta. E eu me
sinto bem quando eu consigo apoiar a pessoa, e as pessoa agradecem, falam
obrigada por tudo que vocês fizeram, pela assistência que meu pai, meu avô ,
meu filho teve aqui.
5º Ideia Central: Dor
DSC
É um sentimento de dor. Eu me coloco no lugar dos familiares e sofro por
dentro junto com eles. É muita dor.
90
6º Ideia Central: Vazio e perda
DSC
É um sentimento de perda mesmo. Eu sinto um vazio dentro de mim quando
vou informar a família sobre o óbito. É uma sensação de... você começar
projetar essa perda para vida particular.
7º Ideia Central: De forma natural
DSC
A gente dá tanta informação pros familiares que acaba sendo natural, a morte
infelizmente virou uma coisa natural dentro da área da enfermagem, da área da
saúde. Você meio que começa a acostumar e a lidar com ela da melhor
maneira possível. Infelizmente a gente acostuma com essa situação. Depois a
gente vai e volta, continua fazendo nosso trabalho como se nada tivesse
acontecido.Com o decorrer do tempo, é meio que automático, um momento
natural.
8º Ideia Central: Dificuldade
DSC
Eu sinto a maior dificuldade até hoje. Apesar do tempo de casa que eu tenho,
eu ainda tenho muita dificuldade. Além da dificuldade de passar por isso, eu
tenho dificuldade, até hoje, de falar com a família sobre aquilo e como me
comportar junto. Eu não tenho palavra, porque é sempre uma pessoa que está
sempre convivendo, falando, informando o quadro e a hora que acontece isso
é difícil. Eu não consigo mesmo, tenho dificuldade. Foi muito difícil todas as
vezes que eu tive que fazer isso.
91
9º Ideia Central: Muito constrangido
DSC
Muito constrangido.
10º Ideia Central: Culpado
DSC
Eu me sinto culpada, às vezes, de não ter dado mais atenção por causa do
nosso corre-corre, de não ter dado mais atenção pra aquela família daquele
paciente, de não ter dado assistência, mais assistência pra aquela pessoa, por
causa do nosso corre-corre aqui. Então, não é com todo mundo de que eu
tenho a chance de sentar e falar: olha, minha senhora, aconteceu isso,
aconteceu aquilo, sabe, de sentar e dar aquele apoio espiritual, não dá, não dá,
porque o nosso corre-corre aqui não deixa. Então, às vezes eu me sinto até um
pouco culpada de não ter dado uma atenção maior pra aquela pessoa que às
vezes estava necessitando também, e às vezes passa batido na gente, por
causa do corre-corre.
11º Ideia Central: Tenso
DSC
Me sinto bastante tenso e chega a faltar palavras dependendo da reação dos
familiares.
A Figura 4 representa todas as ideias centrais referente aos sentimentos para os
enfermeiros de informar o óbito aos familiares:
92
Figura 4 - Ideias centrais sobre o tema: sentimentos dos enfermeiros ao informar o óbito aos
familiares. Itajubá-MG, 2012.
Tenso
Vazio e
perda
Impotente
Triste
De forma
natural
Sentimentos dos
enfermeiros ao
informar o óbito
aos familiares
Dor
Muito constrangido
Dificuldade
Culpado
Alívio e
conforto
Fonte: Instrumento da pesquisa
Mal
93
6
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nesta parte do trabalho serão apresentadas as discussões referentes aos
resultados apresentados.
6.1
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS E PROFISSIONAIS
Segundo Moreira (1999), a enfermagem é considerada uma profissão
predominantemente feminina, pois, representa uma extensão do lar, de um feminino
dócil, que cuida e educa.
O cuidar se tornou uma função feminina, algo que aprendemos desde a infância,
que inicia com o cuidado das bonecas e posteriormente o exercemos como mãe,
que protege, cuida, fornece o alimento e oferece carinho. É algo inato da mulher.
Sendo assim, o resultado da pesquisa vem ao encontro com a literatura, pois a
pesquisa realizada com enfermeiros demonstra que 85% dos participantes eram do
gênero feminino e 15% do gênero masculino.
O que já difere das faculdades de medicina, onde as porcentagens do gênero
feminino e masculino se aproximam. E que segundo a pesquisa, apresentou 45% o
gênero feminino e 55% o gênero masculino.
A religião católica também foi predominante entre os participantes da pesquisa.
Retratando o catolicismo, o qual é a religião de predominância no Brasil. E em
seguida a religião evangélica, a qual também vem crescendo em número
gradativamente.
Em relação ao tempo de formado e tempo de exercício da profissão, prevaleceu
o tempo de mais de 10 anos para os médicos e de 1 a 4 anos para a enfermagem.
Talvez isto seja devido a alta rotatividade de enfermeiros nas instituições de saúde,
fazendo com que profissionais recém formados assumam os serviços de
enfermagem com uma nova visão do cuidado. Já com os médicos essa rotatividade
acontece em menor escala, até porque, faz-se necessário a presença de médicos
com maior experiência para exercer a responsabilidade de preceptor para os
residentes em medicina.
Por outro lado, 50% dos médicos têm idade entre 20-29 anos e 50% têm idade
entre 30- 60 anos, demonstrando desta forma que a proporção entre médicos jovens
94
e médicos com maior experiência se encontram iguais. Com os enfermeiros a idade
prevalente também permanece na faixa dos 20-29 anos com 45% dos participantes,
o que reafirma a grande porcentagem (55%) de enfermeiros recém formados (de 1 a
4 anos).
A prevalência da idade de 20- 29 anos entre os enfermeiros e médicos também
demonstra que se tem alcançado a graduação cada vez mais cedo, devido às
diversas possibilidades para o estudo que se tem atualmente, diferente de décadas
atrás, nas quais a graduação era conquistada por poucos e às vezes tardiamente.
6.2
QUESTÕES INERENTES AOS OBJETIVOS DO ESTUDO
Quando questionados, quanto aos significados e sentimentos em ter que
informar o óbito aos familiares, as respostas tanto dos médicos como dos
enfermeiros não se divergiram muito. Deste modo, a discussão desta etapa foi
realizada abordando simultaneamente os significados e os sentimentos dos médicos
e enfermeiros.
6.2.1 Significados de informar o óbito
Segundo Salomé, Cavali e Espósito (2009), a morte pode ter vários significados,
de acordo com a formação estrutural, cognitiva e religiosa de cada pessoa.
Sendo assim, cada indivíduo encara a morte e o processo morrer de formas
diferentes. O que enriquece a pesquisa.
Para os médicos, os significados de informar o óbito nada mais é do que :
“Situação difícil”, “Condição inerente da profissão”, “Perda irreparável para a família
e limitação para o médico”, “Transmitir um desfecho de maneira diferenciada”, “Fácil,
se o óbito era esperado”, “Ser honesto e objetivo”, “Fazer as pessoas sofrerem”,
“Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem” e “Algo técnico e
mecanizado”.
Para os enfermeiros os significados de informar o óbito foram bem
semelhantes aos citados pelos médicos, sendo eles: “Situação difícil”, “Resultado
negativo”, “Insucesso”, “Experiência dolorosa”, “Responsabilidade”, “Depende do
motivo do falecimento”, “Algo importante” e “Um ato de solidariedade”.
95
Estes significados podem ser encontrados na literatura, a qual confirma os
resultados obtidos.
Apesar de ter um significado de algo negativo, o óbito é visto pelos enfermeiros
como algo importante devido a complexidade e envolvimento de muitas ações,
tornando indispensável a presença desse profissional no processo morrer
A morte é considerada ruim para os que ficam, pois traduz apenas em
sofrimento.
Ao dizer que informar o óbito aos familiares significa fazer as pessoas
sofrerem, os médicos participantes da pesquisa retratam a fala de Oliveira e
Amorim (2008, p.195), que dizem: “a morte constitui ainda um acontecimento que
traz muito sofrimento e que choca”. Carvalho e Azevedo (2009, p. 174) completam a
ideia ao falarem que: “a morte, para muitos, é somente sofrimento”.
A separação de pessoas que amamos nos leva ao sofrimento, pois deixa para
traz momentos especiais, vivência e troca de afeto, momentos estes que restam
apenas nas lembranças de quem fica.
A perda de uma pessoa amada é uma das experiências mais intensamente
dolorosas que o ser humano pode sofrer. (BOWLBY, 1985 apud OLIVEIRA;
BRÊTAS; YAMAGUTI, 2007).
E não há sofrimento maior que a morte de um filho. A morte de um filho é como
uma mutilação para os pais, que causa um imensurável sofrimento. É como se todos
os sonhos simplesmente desaparecem naquele instante. Sendo esta uma perda
devastadora para os progenitores. (ALVENS, 2005 apud CARVALHO; AZEVEDO,
2009).
Essa perda irreparável pela família associada ao significado de limitação para
o médico, também foi evidenciada nesta pesquisa.
Para Souza et al. (2009), os profissionais da saúde precisam estar preparados
para lidar com o sentimento de perda e com o sofrimento vivenciado pela família que
perderam o ente querido.
Essa perda irreparável para a família é justificada pela individualidade que cada
um possui, ninguém pode substituir ninguém, cada ser é único, e a morte de um
ente querido é uma perda para a família.
“E querendo ou não; a medicina tem seus limites, o que não é ensinado nas
escolas médicas”. (KUBLER-ROSS, 1997, p.102 apud KÓVACS, 2003, p.23).
96
Portanto além de saber lidar com as perdas do outro, o médico ainda precisa saber
lidar com sua própria limitação.
Mas o médico, geralmente, não consegue lidar de forma positiva com os limites
da medicina e suas próprias limitações. O que torna muito difícil para ele ter que
encarar a finitude e os limites do ser humano, pois também acaba se identificando
como um ser limitado e imortal. (PAIVA, 2009)
No hospital, quando a prioridade é salvar o paciente a qualquer custo, a morte
torna-se uma ocorrência que faz do trabalho da equipe de saúde algo frustrante,
desmotivador e sem significado. Não conseguir evitar ou adiar a morte, pode trazer
ao profissional a vivência de seus limites, que, na maioria das vezes, é
acompanhado de sentimentos de impotência e finitude, o que pode ser
extremamente doloroso. (KOVÁCS, 2009)
Talvez seja por isso que os enfermeiros participantes deram o significado de
experiência dolorosa à experiência de informar o óbito aos familiares.
A morte é vista como um fracasso e pode refletir como inadequação e limitação
do profissional da área da saúde. (KAPLAN; SADOCK; GREB, 1997 apud SILVA;
SILVA, 2007)
Os enfermeiros participantes da pesquisa relataram o significado de insucesso,
o que está de certa forma atrelada ao significado de limitação citado pelos médicos,
os quais são consequentes da formação profissional, que faz com que os
profissionais encarem o óbito como uma derrota que evidencia sua fragilidade.
Essa limitação, faz com que a situação se torne difícil, complicada,
desconfortável, triste e de agressão para o profissional, o que foi evidenciado na
pesquisa com o relato dos médicos. Não apenas dos médicos, mas também pelo
dos enfermeiros, que acrescentou dizendo que a situação além de ser difícil e
complicada é também uma situação delicada.
Essa situação difícil é vista pelo fato de ser uma atribuição de grande
responsabilidade e complexidade, pois é o momento de prestação de contas à
família de tudo que foi feito àquele paciente e, o profissional ainda é posto frente à
reação e sentimentos destes familiares. O que podemos observar em trecho do
DSC:
[...] Eu preciso falar o que aconteceu, o que foi feito, o que não foi feito,
o porquê que morreu, você tem que falar tudo. Você tem que estar
97
completamente respaldada [...] para responder a todas as perguntas que
poderão ocorrer [...] Além de ser um momento delicado, porque a gente não
sabe qual que é reação da família [...] Lidar com os sentimentos humanos é
muito complexo, não é tão simples assim [...]
Carvalho et al. (2006) confirma ao dizer que o enfrentamento da morte é difícil e
angustiante para quem a vivencia. Ainda mais para os profissionais, fruto de uma
formação que ressalta a onipotência e eficiência, ter que encarar a morte é aceitar o
fracasso e perder para a doença, portanto algo muito difícil de ser vivenciado por
eles. (FIGUEIREDO, 1994 apud GALVÃO et al.; 2010)
Talvez seja por isso que os participantes demonstraram não gostar de informar o
óbito, o que podemos perceber em trechos de dois DSC :
[...]É muito ruim, nem sempre a gente gosta de estar informando isso. Eu
tento evitar, porque eu acho uma situação desconfortável[...]
[...]É desagradável, eu particularmente não gosto dessa parte não[...]
E esta situação se agrava ainda mais se a morte está associada a um paciente
jovem, pois conforme a pesquisa, para os médicos participantes, isto significa falha
no sucesso terapêutico.
“A morte súbita de pacientes jovens causa grande sofrimento, pois eles
costumam se identificar com a situação e sentem que precisam recuperá-los a
qualquer custo”. (ZIMERMAM, 1993 apud SHIMIZU, 2007, p.259)
Por isso, para os profissionais, a morte súbita é mais difícil de ser elaborada,
pois a sensação é de que poderiam ter feito mais. (MARTINS; ALVES; GODOY,
1999)
Sendo assim, quando ocorre a situação de morte, o sentimento que fica é que
não se realizou intervenções eficazes para salvar a vida do indivíduo que estava sob
seus cuidados. (SILVA; SILVA, 2007)
Porém esta situação se inverte se o óbito já era esperado, tornando mais fácil
a tarefa de o informar aos familiares, até porque nestas situações os familiares já
estão de certa forma preparados para receber a notícia.
98
No entender de Shimizu (2007), a morte de pacientes mais idosos ou com
doença terminal é mais aceita pelos profissionais de saúde, pois fazem parte do
percurso natural da vida.
Semelhante aos resultados obtidos com os médicos, os enfermeiros relataram
que o significado de informar o óbito depende do motivo do falecimento. Como já
foi dito pelos médicos: paciente idoso e paciente terminal tornam-se mais fácil,
crianças e jovens tornam-se mais difícil.
No estudo de Costa e Lima (2005) constatou-se que o sofrimento é menor
quando a internação foi rápida e não houve tempo para estabelecimento de
vínculos, e, portanto não houve envolvimento emocional.
Para os médicos, independente da situação que seja, informar o óbito aos
familiares é considerada uma condição inerente da profissão, uma tarefa não
muito agradável, mas que faz parte da rotina de sua profissão. Os enfermeiros veem
esta atribuição com uma responsabilidade. Portanto, as respostas de ambos se
completam, pois de uma forma ou de outra informar o óbito é uma responsabilidade
inerente da profissão.
O profissional médico ou enfermeiro quando recebe o paciente na unidade, de
certa forma toma uma responsabilidade para si em relação à vida do paciente. E
quando o paciente vai a óbito esta responsabilidade se intensifica, pois terão que
prestar contas aos familiares de tudo que foi feito e do que não foi feito em relação
ao paciente.
A morte faz parte do cotidiano dos profissionais de saúde atuantes em área
hospitalar. (Santos, 2009) E, portanto, ter que informar o óbito torna-se uma tarefa
corriqueira. Uma atribuição que não tem como fugir dela, pois ela faz parte do dia a
dia destes profissionais, por mais desagradável que seja.
Carvalho e Azevedo (2009) ressaltam que, uma das dimensões na qual o
profissional de saúde mais almeja desenvolver habilidades é a comunicação de
notícias difíceis, tais como informar a morte para os familiares. Por isso, é preciso
investir mais na formação dos profissionais, para que possam saber lidar com as
famílias em situações de morte e luto.
Até porque, não basta apenas informar o óbito. Não dá pra informar o óbito
como se estivesse informando um acontecimento qualquer. Esta atribuição requer
muito mais do profissional, pois na sua frente vai estar uma família preste a receber
uma notícia muito dolorosa, e que poderá influenciar de forma direta naquele
99
contexto familiar, principalmente se o óbito se refere a um pai de família ou uma mãe
com filhos pequenos.
E por mais difícil que seja para o profissional e por maior que seja a dificuldade
que ele tenha em realizar tal tarefa, essa informação deve ser passada de uma
forma diferenciada.
Transmitir um desfecho de maneira diferenciada foi outro significado citado
pelos médicos participantes da pesquisa. Para os enfermeiros este significado
recebeu outra denominação: um ato de solidariedade.
Para Carvalho e Azevedo (2009), não se trata apenas de transmitir informações,
mas sim o modo como essas informações são transmitidas. Trata-se de expressar
não só com palavras, mais com atitudes que demonstram atenção e cuidado,
utilizando gestos de afeto e estimulando a expressão de sentimentos. O ouvir
quando necessário, e não apenas escutar.
Estes mesmos autores completam, ainda, ao dizerem que, as palavras utilizadas
nas conversas com as famílias são de extrema importância, pois elas podem trazer
encorajamento e conforto, porém quando utilizadas sem sensibilidade também
podem ferir.
Portanto, para estes autores, ao informar o óbito aos familiares deve haver uma
combinação entre falar, ouvir e acolher. Falar e não ferir, ouvir e não apenas
escutar, acolher e não apenas informar.
Sendo assim, percebe-se que os profissionais médicos e enfermeiros também
se preocupam com a família em questão, demonstrando humanidade na atuação
profissional.
A preocupação desses profissionais em amparar, apoiar e amenizar o
sofrimento dos familiares foi citado por ambos os profissionais e pode ser percebido
em trechos dos DSC, como:
[...]O mais importante é minimizar as dores da família... É ter um jeito
especial pra conseguir passar isso de uma forma mais amena pro familiar[...]
Então significa cuidado, significa atenção, significa solidariedade.
[...]Significa um ato de atenção para com a família, um ato de
solidariedade perante uma situação desagradabilíssima, pois é um momento
doloroso para o familiar e que deve ser respeitado[...]
100
Outro ponto citado pelos médicos, e que está de certa maneira atrelada ao
significado anterior, é o de ser honesto e objetivo ao transmitir essa notícia.
A família que está recebendo a informação não quer nada além do que a
honestidade e objetividade do profissional, saber a verdade a respeito do
acontecimento e as informações necessárias, como o motivo real da morte e qual foi
as medidas tomadas em favor do seu ente querido, é o que basta.
O muito falar em nada contribuirá para amenizar a dor destes familiares.
Prolongue apenas se for questionado pela família, se não for o melhor a fazer é
apenas acolher e deixar com que a família expresse seus sentimentos.
De acordo com Carvalho e Azevedo (2009), as informações devem ser
passadas de forma clara e objetiva.
No entanto, também foi encontrado na pesquisa “o outro lado da moeda”, ou
seja, o informar o óbito como algo técnico e mecanizado, significado relatado pelos
médicos participantes.
Talvez essa atitude tecnicista e mecanizada seja por conta do despreparo dos
profissionais para lidarem com situações como esta.
Para Oliveira, Brêtas e Yamaguti (2007) e Bernieri e Hirdes (2007), o preparo do
estudante ainda enfatiza o lidar com a vida no que tange aos aspectos técnicos e
práticos da função profissional, com pouca ênfase em questões emocionais e na
instrumentalização para o duelo constante entre a vida e a morte.
O despreparo técnico para lidar com o processo da morte e do morrer foi um
aspecto observado na narrativa dos profissionais participantes do estudo de Galvão
et al. (2010), mostrando que existe uma lacuna importante a ser preenchida desde a
formação e capacitação da equipe. Com isto, é de extrema importância atentar para
que as questões da morte e do morrer sejam trabalhadas numa perspectiva
interdisciplinar, a fim de minimizar a distância entre uma postura tecnicista e
humanística da assistência em todas as áreas de abrangência da profissão.
Muitos profissionais sentem-se despreparados para lidar com a morte, devido a
falta de reflexão e total silêncio por parte das faculdades, que se detém no
tecnicismo, deixando que a vivência da prática os conduza. (AGUIAR et al.; 2006)
101
6.2.2 Sentimentos ao informar o óbito
Os profissionais são seres humanos e não podem isolar suas emoções do
trabalho. (LEONI, 1996 apud AGUIAR et al.; 2006)
E a morte, como limite, é capaz de aflorar sentimentos negativos. (OIGMAN,
2007)
Ao receber más notícias os familiares podem reagir e suas reações podem
deixar o profissional frustrado, defensivo ou até irritado. (PHIPPS; CUTHILL, 2002
apud CARVALHO; AZEVEDO, 2009)
Sendo assim, torna-se relevante captar os sentimentos vivenciados na prática
dos profissionais. (AGUIAR, 2006)
Para os médicos, quando questionados a respeito dos sentimentos ao informar o
óbito aos familiares, as respostas obtidas foram: “Triste”, “Impotência”, “Muito mal”,
“Aceitação e alívio”, “Perda”, “Segurança e profissionalismo”, “Sem envolvimento
emocional”, “Dor” e “Responsabilidade diante da família”. Estas respostas vão ao
encontro com a própria literatura.
Para os enfermeiros os sentimentos ao informar o óbito foram bem semelhantes
aos citados pelos médicos, sendo eles: “Triste”, “Impotente”,
“Mal”, “Alívio e
conforto”, “Dor”, ” Vazio e perda”, “De forma natural”, “Dificuldade”, “Muito
constrangido”, “Culpado” e “Tenso”.
Era bem provável que a reação fosse realmente de não aceitação e de agressão
para o profissional, sentimento citado pelos médicos, visto que a morte desafia sua
própria finitude e sua onipotência, fazendo com que ele se sinta mal diante de tal
situação, sentimento também citado pelos enfermeiros.
A inevitabilidade da morte resgata a percepção do profissional em relação à
finitude humana, e que nem sempre é aceita com facilidade (GALVÃO et al., 2010).
Geralmente as mortes de crianças e jovens são menos aceitas, pois tanto os
profissionais como a própria sociedade, entendem este fato como não sendo parte
do percurso natural da vida, uma vez que estão apenas começando a viver.
(SHIMIZU, 2007)
A tristeza, divergindo do senso comum, demonstrou estar presente de forma
considerável entre os profissionais (enfermeiros e médicos), ocupando o 1º lugar dos
102
sentimentos vivenciados ao informar o óbito. Sentimento este muito citado no estudo
de Aguiar et al. (2006).
Morim (2009) afirma que até mesmo os profissionais da saúde, quando tocados
pela mensagem da morte, não conseguem permanecer imparciais, insensíveis ou
arredios diante dessa profunda reflexão e invasão a que a morte nos concita.
A tristeza é um sentimento intrínseco do ser humano, todas as pessoas
a
sentem em algum momento de suas vida, e o profissional por estar muito próximo
às situações críticas, também está mais vulnerável a ela. O contato constante com a
morte angustia profundamente, talvez seja porque ela retira as defesas construídas
durante toda a vida para negar a morte. (SHIMIZU, 2007)
Os médicos sentem uma profunda angústia diante da inevitabilidade da morte,
resultado da educação médica presente na sociedade ocidental (SANTOS, 2009).
Quando a palavra morte é pronunciada, é desencadeada uma grande tensão
emocional, além das mais diversas reações emocionais, como exemplo, a tristeza.
(HENNEZEL, 2006 apud OLIVEIRA; QUINTANA; BERTOLINO, 2010).
A relação desses profissionais com a morte torna-se uma relação de angústia,
visto que está relacionada a uma experiência de temor interiorizado. (AGUIAR et al.;
2006).
No entanto, o fato de se deparar diariamente com os limites e a finitude traz
sofrimento e angústia, conscientes ou não, e faz com que esses profissionais
utilizem de defesas psicológicas que os ajudem a enfrentar a situação. (PAIVA,
2009)
Acredita-se que os profissionais se defendem contra a angústia da morte,
gerada pelo seu trabalho, por meio de três mecanismos: negação, racionalização e
isolamento das emoções. (QUINTANA; CECIM; HENN, 2002 apud SANTOS, 2009).
Enfocando a formação médica para lidar com a morte, observa-se que a
negação é um dos mecanismos de defesa usados por parte do médico.
(SCHLIEMANN, 2009)
Porém, a negação tem sido um dos mecanismos utilizados não só pelos
médicos como também pelos estudantes e profissionais de enfermagem no
enfrentamento de situações que envolvem a morte. (VARGAS, 2010)
“Negar a morte é uma forma de não entrar em contato com experiências
dolorosas”. (KOVÁCS, 2009, p.55)
103
Outro sentimento evidenciado na pesquisa foi o de naturalidade, citado pelos
enfermeiros, e o não envolvimento emocional, citado pelos médicos, ambos com
significados semelhantes.
O não envolvimento emocional também age como um mecanismo de defesa ao
sofrimento. (SOUZA et al.; 2009).
Além do mais, existe no ambiente hospitalar certa “regra” que diz que o bom
profissional não deve se envolver emocionalmente. Essa cultura hospitalar também
é citada por Martins, Alves e Godoy (1999). Desta forma, eles acabam não
encontrando espaço para expressar sua angústia e fraqueza. Então, o profissional
nega e encobre seus sentimentos. Havendo a necessidade desses profissionais de
desenvolver
meios
de
autodefesa,
como
manter
a
distância,
manifestar
comportamento de frieza frente a situações ou ainda um aparente equilíbrio, na
tentativa de manejar de forma mais adequada a situação (AGUIAR et al. ; 2006)
O que se observa é que os profissionais não estão se permitindo vivenciar o
luto, eles acreditam que sua postura deva ser firme e que reconhecer o sofrimento
significa ferir sua índole. Ainda há a visão que o profissional deva ser “frio” ou
indiferente na situação de morte. (COSTA; LIMA, 2005) Fazendo da frieza algo
necessário para evitar o sofrimento. Porque apesar de ser compreendida como algo
inevitável, a morte é tratada com certo distanciamento do profissional a fim de
minimizar a dor, a perda e, indiretamente, o fracasso. (GALVÃO et al.; 2010)
Por isso acabam se tornando frios com o passar dos anos de profissão, pois,
quando expressam suas emoções são considerados imaturos profissionalmente.
(SALOMÉ; CAVALI; ESPÓSITO, 2009)
Segundo os artigos pesquisados no estudo de Silva, Ribeiro e Kruse (2009), a
figura do médico aparece como alguém que lida com a morte de forma impessoal,
fria e objetiva, por meio de sentimentos ilusórios de soberania no controle das
situações de vida-morte.
Para Santos e Bueno (2011), a indiferença com que os enfermeiros tratam a
morte é consequência de um mecanismo defesa a fim de se manterem mentalmente
sãos, pois além da falta de despreparo para lidarem com a morte, muitos destes
profissionais ainda enfrentam longas jornadas de trabalho, enfermarias superlotadas
e sucateadas, o que agrava ainda mais o estresse ao qual estão submetidos.
Em um outro estudo, realizado por Costa e Lima (2009), verificou-se que os
profissionais da equipe de enfermagem não se permitem vivenciar o luto diante da
104
morte de pacientes. Tal reação pode ser advinda da tentativa de autoproteção ou
por não estarem preparados para conviver com o processo de luto e suas
manifestações emocionais. Para poder se defender do sofrimento do luto, os autores
assinalam que os profissionais armam-se de uma postura de firmeza, frieza ou
indiferença.
Talvez seja por conta do próprio convívio diário, que faz com que os
profissionais encarem a morte com naturalidade, ou ainda com frieza e indiferença.
(AGUIAR et al.; 2006).
A indiferença nos mostra um mecanismo de defesa adotado consciente e até
inconscientemente, na tentativa de autopreservação, a fim de evitar sentimentos
indesejáveis. (OLIVEIRA; BRÊTAS; YAMAGUTI, 2007)
Martins, Alves e Godoy (1999) afirmam que no ambiente hospitalar questões
referentes à morte são discutidas com “naturalidade” pelos profissionais de saúde.
No entanto, “naturalidade” também seria uma forma de negação e banalização da
morte para que o profissional consiga exercer sua função. Seria, portanto, um
mecanismo de defesa em relação à situação de morte.
Por outro lado, há aqueles que demonstram um sentimento de dor ao ter que
passar essa informação, o qual foi citado pelos médicos e enfermeiros participantes
da pesquisa.
A morte, no mundo ocidental, é considerada como uma das experiências mais
dolorosas e frustrantes. (KOVÁCS, 1996 apud GALVÃO et al; 2010)
Os profissionais que lidam com a morte em sua prática hospitalar, o fazem de
forma dolorosa e convivem com a busca do equilíbrio entre o cuidar de si e o cuidar
do outro. (AGUIAR et al.; 2006)
Desta forma, dor, sofrimento e morte rompem a fronteira familiar e passam a ser
compartilhados com profissionais da área de saúde. (GALVÃO et al.; 2010)
O luto é um processo penoso, tido como um sentimento de dor diante da morte.
(LOUREIRO, 1998 apud AGUIAR et al.; 2006).
A morte de uma pessoa que se torna querida na enfermaria pode abalar
profundamente aqueles profissionais mais dedicados. (BOTEGA Org; 2002 apud
AGUIAR et al.; 2006).
O luto não vivenciado pode colocar o profissional em posição tão vulnerável
como qualquer outra pessoa. (FRANCO, 2003; GALVÃO et al.; 2010)
105
O luto também é entendido como uma experiência de resposta ao rompimento
de um vínculo, ou seja, de relações significativas. (FRANCO, 2003)
A situação de vida/morte gera sofrimento na equipe, por conta do caráter
humano da assistência, e que torna esse envolvimento afetivo inevitável. (COSTA;
LIMA, 2005)
O profissional que trabalha em hospital acaba estabelecendo uma relação
diferenciada com alguns pacientes tidos como especiais. E é a morte destes
pacientes que provoca o luto no profissional de saúde, como se fosse por uma
pessoa com a qual mantém relações de outra ordem, que não a profissional.
(FRANCO, 2003)
Com isso, percebemos que o vínculo é o maior responsável pelo sentimento de
dor e perda.
O sentimento de perda também foi relatado pelos médicos desta pesquisa. Além
da perda os enfermeiros também relataram sentimento de vazio.
“As situações de perda geram sensação de vazio nos trabalhadores de
enfermagem”. (SHIMIZU, 2007, p.259)
A morte como perda nos fala, em primeiro lugar, de um vínculo que se rompe de
uma forma irreversível. (KOVÁCS et al.; 2004).
Para Shimizu (2007), muitas vezes, os trabalhadores de enfermagem sentem a
perda do paciente como se fosse de alguém de sua família. Como conseqüência, o
sofrimento por eles vivenciado é similar ao da perda de alguém que amam muito.
Quando um vínculo é interrompido, como é no caso da morte, provoca um
sofrimento e um sentimento de perda, ou seja, o luto, que é uma reação esperada
frente à separação. (BROMBERG, 2000 apud COSTA; LIMA, 2005)
Segundo Costa e Lima (2005), o profissional vive a perda e se enluta com a
morte do paciente que lhe é querido e que estabeleceu vínculo. Os participantes
descreveram a perda como sendo algo difícil de aceitar porque eles mantinham
vínculo afetivo e esse foi rompido com a morte. Sendo que uma das causas desse
vínculo seria devido ao tempo de internação, o que contribuiu para intensificar o
sentimento de perda. E quando o tempo de internação era menor, percebeu que o
sofrimento também era menor, por não ter tido tempo para o envolvimento afetivo.
O sentimento de perda e saudade, relacionados com o envolvimento e com o
vínculo criado durante o tempo de internação, também estiveram presentes no
estudo realizado por AGUIAR et al. (2006).
106
Porém os autores, Pinho e Barbosa (2008, p. 247), discordam ao dizerem que:
“toda situação de perda gera sofrimento e transtornos ao profissional de saúde,
independentemente do cuidado dispensado à pessoa”.
De qualquer forma, há necessidade da equipe profissional estar em contato com
sua história pessoal de perdas, para que consiga assimilar melhor a experiência de
perdas de pacientes significativos, de maneira a não comprometer sua ação
profissional e sua vida pessoal. (FRANCO, 2003)
Seguidos da tristeza, os outros sentimentos mais citados por parte dos médicos
e enfermeiros participantes foram os de impotência.
“A morte apresenta-se como um fracasso ao profissional treinado para impedi-la.
A própria competência profissional passa a ser questionada, gerando, muitas vezes,
a sensação de culpa”. (OLIVEIRA; AMORIM, 2008, p.192)
De acordo o estudo de Costa e Lima (2005) a morte tem despertado nesses
profissionais, sentimentos de frustração, medo e insegurança.
Carvalho et al. (2006) relatam que a falta de reflexão leva a frustração do
estudante e reforça o sentimento de fracasso frente à ação principal de manter a
vida.
“O médico, em sua formação, é treinado para curar e salvar e quando isso não é
possível, muitas vezes, acaba enfrentando a situação de modo a sentir-se impotente
e fracassado”. (PAIVA, 2009, p.84)
Por isso, reações e sensações de impotência, de culpa e de insatisfação consigo
mesmo são vivenciadas pelo profissional. (SCHLIEMANN, 2009)
O sentimento de impotência é resultado da onipotência, uma consequência da
própria formação direcionada a recuperar a vida, pois para os profissionais de saúde
a morte é tida como inimiga, e quando o paciente morre, significa que a batalha foi
perdida, portanto traz um sentimento de derrota. (SPINDOLA; MACEDO, 1994;
AGUIAR et al.; 2006; OLIVEIRA; BRÊTAS; YAMAGUTI, 2007)
“Na mentalidade da morte interdita, esta é vista como erro e fracasso”.
(KOVÁCS, 2009, p.49) Trazendo ao trabalhador um sentimento de impotência, o
qual faz questionamentos sobre o que poderia ou o que deixou de fazer para
recuperar ou manter a vida. (COSTA; LIMA, 2005)
A vivência de sentimentos de grande impotência e fracasso pessoal e
profissional é sempre uma situação geradora de sofrimento para os trabalhadores de
enfermagem (SHIMIZU, 2007).
107
Apesar de todo o esforço na tentativa do resgate à vida, o profissional sente-se
como não tendo cumprido o seu objetivo de “salvar vida”. (SALOMÉ; CAVALI;
ESPÓSITO, 2009). Talvez seja por isso que os enfermeiros relataram se sentirem
constrangidos.
Os médicos e enfermeiros chegam a se sentirem constrangidos quando um
paciente morre. (KUBLER-ROSS, 1975 apud OLIVEIRA; QUINTANA; BERTOLINO,
2010) Outras vezes até mesmo culpados, sentimento também citado pelos
enfermeiros.
Para Spindola e Macedo (1994), os profissionais de saúde participam do
processo do morrer dos pacientes questionando a sua atuação. Algumas vezes
chegam a se sentir culpados, acreditam que falharam na prestação da assistência.
Os
médicos,
ao
informar
o
óbito,
também
têm
um
sentimento
de
responsabilidade diante da família.
Para Paiva (2009), em um hospital, o referencial do paciente ainda é o médico e
se por um lado, isso faz com que ele se sinta importante, por outro é uma carga
muito pesada, pois deposita em suas mãos a sua vida e a sua morte. Segundo
Oliveira, Quintana e Bertolino (2010), as famílias confiam seu doente ao médico e à
equipe de saúde por não se sentirem aptas para tal enfrentamento.
Sendo assim, informar o óbito de um ente querido a seus familiares traz à tona
um sentimento de responsabilidade.
Os enfermeiros participantes da pesquisa também verbalizaram sentir- se tenso.
Essa tensão talvez possa ser explicada pela responsabilidade que recaí sob o
profissional, e ainda pela falta de preparo que o mesmo tem em lidar com situações
que envolvam a morte.
Porém, quando o óbito já é de certa forma esperado pela equipe de saúde e
pela própria família, traz ao profissional um sentimento de aceitação, alívio, e
conforto, citado por médicos e enfermeiros da pesquisa. Os enfermeiros
acrescentaram que também se sente bem, quando consegue dar apoio à família.
Estes sentimentos foram uns dos sentimentos positivos relatados pelos
participantes quando tiveram que informar o óbito aos familiares.
No estudo de Costa e Lima (2005), os participantes relataram que têm melhor
aceitação da morte quando esta está relacionada ao idoso ou quando representa o
fim de todo sofrimento e dor.
108
A morte é aceita quando seguida da velhice; considerando que a pessoa já
cumpriu sua jornada e só assim estaria “pronta” para morrer. (BOEMER; ROSSI;
NASTARI, 1991 apud OLIVEIRA; BRÊTAS; YAMAGUTI, 2007)
O paciente que morre aos poucos, dá a oportunidade para a equipe e familiares
de assimilar a perda e ter a sensação como se tivesse feito o possível pelo paciente.
(AGUIAR et al; 2006).
Dependo do sofrimento a que o ser humano está exposto, o profissional é capaz
aceitar a situação de morte como alívio para o que parece ser cruel e doloroso.
Nesse caso, a morte, torna-se algo positivo, por ser a única maneira de atenuar o
sofrimento, ao mesmo tempo torna-se o enfrentamento da morte menos doloroso
também para quem cuida. (KÓVACS, 2003; CARVALHO et al; 2006)
Para Gutierrez e Ciampone (2007) a aceitação também pode ser influenciada
pela crença religiosa, pela experiência profissional e/ou pelo amadurecimento
pessoal.
Em contrapartida os médicos também afirmaram sentir segurança e um certo
profissionalismo, ao informar o óbito aos familiares. Estes sentimentos
demonstram de certa forma um preparo técnico em relação à morte, pois mostra o
saber fazer e a segurança no que está se fazendo. Porém, não se encontra um
preparo emocional, pelo contrário, na própria fala é evidenciada uma necessidade
de inibir os sentimentos. Como mostra a seguir trechos do DSC:
[...]A gente tem que cumprir com o exercício daquilo que foi programado
pra gente. Eu tenho que me colocar como profissional e relatar o ocorrido aos
familiares. E sem deixar aparecer os meus sentimentos como pessoa, como
choro, feição de tristeza[...]
A inibição dos sentimentos foi algo evidenciado na pesquisa, através de
relatados dos participantes da pesquisa, e não são poucos os profissionais que
usam desta estratégia para driblar o sofrimento. Esta estratégia acaba revelando a
negação dos sentimentos, o qual já foi discutido anteriormente.
GALVÃO et al. (2010, p.28) dizem que:
Assim como a maioria das pessoas, a equipe de saúde também tenta
inibir sentimentos de luto gerados pela perda de pessoas sob seus
109
cuidados, enfatizando os tratamentos vitoriosos e encarando a morte
como uma vilã a ser evitada, algo fora e distante do ciclo vital.
Enfermeiros relataram sentir maior dificuldade de informar o óbito, apesar do
tempo de exercício da profissão. O que pode ser percebido no trecho do DSC que
segue:
Eu sinto a maior dificuldade até hoje. Apesar do tempo de casa que eu
tenho, eu ainda tenho muita dificuldade[...]
Apesar desse confronto com a morte em seu cotidiano de trabalho, os
profissionais encontram dificuldade para encará-la. (VIEIRA, SOUZA, SENE, 2006)
Em um estudo realizado por Gutierrez e Ciampone (2007), as autoras constatam
que, mesmo os profissionais mais experientes, dificilmente se habituam à situação
de morte, e que muitos reprimiam os sentimentos advindos da situação vivida e não
compartilhando essa angústia com os outros componentes da equipe.
A pesquisa acima, além de exemplificar o fato da vivência muitas vezes não
levar ao costume, também vem reafirmar a repressão dos sentimentos dos
profissionais.
Em outra pesquisa realizada por Bellato et al (2007), com uma amostra de 34
docentes enfermeiros, revelou que estes profissionais demonstram os mesmo
sentimentos de todo e qualquer profissional de enfermagem, independentemente do
tempo de atuação.
Porém o estudo de Shimizu (2007), revelou que talvez os trabalhadores com
maior tempo de experiência profissional estejam mais preparados pra enfrentarem a
situação de morte de um paciente. Possivelmente seja pelo fato de existir diferenças
individuais nas defesas criadas contra o sofrimento.
Portanto, percebe-se que o tempo de experiência pode não ser o fator
determinante para o preparo dos profissionais, mas sim a individualidade de cada
profissional, a qual é reflexo das experiências pessoais vivenciadas e até mesmo da
espiritualidade de cada um.
Outros pontos fundamentais apreciados na pesquisa, apesar de não serem
considerados significados nem sentimentos dos médicos e enfermeiros, foi a morte
levando à reflexão pessoal e o sofrimento profissional adentrando na vida pessoal.
110
A morte do outro nos leva a interiorização e nos faz refletir a respeito da nossa
própria vida e nossa própria morte. Faz também com que revemos nossos valores.
A morte nos expõe e nos desnuda por completo. Frente a ela somos obrigados a
repensar a vida, nossos afetos, nossos valores e nossa visão de mundo. (MORIN,
2009) A perda de um paciente leva à reflexão de sua própria finitude (SILVA; SILVA,
2007).
O que pode ser confirmado através do trecho do DSC:
[...]E você sente uma sensação de voltar-se para o seu interior, de
pensar, com essas situações. Você se volta pra dentro, começa pensar na sua
vida também[...]
“A morte no ambiente hospitalar leva o profissional a refletir sobre os limites da
existência do ser humano”. (GALVÃO et al.; 2010, p.27)
Às vezes, a morte gera um sofrimento e um desgaste tão grande no profissional,
que torna-se impossível desvencilhar da vida pessoal.
“A intensidade do sofrimento é tão grande que costumam levar os sentimentos
de frustração para casa”. (SHIMIZU, 2007, p.260)
Este mesmo autor (SHIMIZU, 2007, p.261) completa dizendo que:
A morte gera desgaste emocional intenso, sendo percebida a
necessidade de separar as emoções vividas no trabalho da sua vida
particular, procurando não levar as dificuldades vividas no trabalho
para casa.
A experiência de informar o óbito pode trazer diversos sentimentos e
significados para os profissionais, e são vários os fatores que irão determinar a
forma pelo qual cada um irá reagir em relação à situação de morte.
111
7
CONCLUSÕES
Com a análise dos resultados obtidos por meio da abordagem qualitativa,
através do método do DSC, baseado na Teoria das Representações Sociais, foi
possível identificar os significados e sentimentos de médicos e enfermeiros ao
informar o óbito aos familiares.
Em relação à primeira parte da entrevista semi-estruturada relativo às
características pessoais e profissionais dos participantes, notou-se que 55% dos
médicos eram do gênero masculino, com idade prevalente entre 20-29 anos com
50% , religião predominante foi a católica com 95% , o tempo de formado e tempo
de exercício da profissão foi mais de 10 anos com 45%. Os enfermeiros (as) eram
predominantemente do gênero feminino com 85%, 45% estão entre a idade de 2029 anos, a religião que predominou foi a católica com 80% , o tempo de formado e
tempo de exercício da profissão foi de 1 a 4 anos com 55%.
Quanto aos objetivos do estudo, questionado na segunda parte da entrevista
semi-estruturada, permitiram-se as seguintes conclusões:
Os significados para os médicos de informar o óbito aos familiares foram:
x
x
Situação difícil;
x
Perda irreparável para a família e limitação para o médico;
x
Fácil, se o óbito é esperado;
x
Fazer as pessoas sofrerem;
x
Condição inerente da profissão;
x
Transmitir um desfecho de maneira diferenciada;
x
Ser honesto e objetivo;
x
Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem;
Algo técnico e mecanizado.
Para os enfermeiros os significados de informar o óbito aos familiares obtidos
foram:
x
x
Situação difícil;
Resultado negativo;
112
x
x
Insucesso;
x
Responsabilidade;
x
Algo importante;
x
Experiência dolorosa;
x
Depende do motivo do falecimento;
Um ato de solidariedade.
Os sentimentos dos médicos ao informar o óbito aos familiares foram:
x
x
Triste;
x
Muito mal;
x
Impotência;
x
Aceitação e alívio;
x
Segurança e profissionalismo;
x
Dor;
x
Perda;
x
Sem envolvimento emocional;
Responsabilidade diante da família.
Para os enfermeiros os sentimentos de informar o óbito aos familiares
apresentados foram:
x
x
Triste;
x
Mal;
x
Impotente;
x
Alívio e conforto;
x
Vazio e perda;
x
Dificuldade;
x
Dor;
x
De forma natural;
x
Muito constrangido;
Culpado;
113
x
Tenso.
Com os resultados encontrados pode-se concluir que os médicos e enfermeiros
não se encontram preparados para lidar com situações relacionadas com a morte,
reflexos de uma formação acadêmica voltada para técnicas, que faz com que estes
profissionais se sintam despreparados emocionalmente. Este despreparo é
percebido em alguns significados e sentimentos citados por eles.
Com tudo, mesmo se sentindo despreparados para exercerem tal atribuição,
estes profissionais tem se preocupado, em sua maioria, com o apoio à família
enlutada, apesar de terem dificuldade para lidarem com seus próprios sentimentos.
Os médicos e enfermeiros têm respeitado os sentimentos dos familiares.
Divergindo do senso comum, este estudo evidenciou que tanto os médicos como
os enfermeiros demonstraram de forma clara que também possuem sentimentos ao
informar o óbito aos familiares, e que mesmo não transparecendo, eles sofrem
diante do óbito de seus pacientes. Quando estes se demonstram “frios” perante a
morte, esta atitude nada mais é do que um mecanismo de defesa dos profissionais
de saúde para driblar as diversas situações estressantes advindas de sua profissão.
Diversos fatores contribuem para facilitar ou dificultar a informação do óbito aos
familiares. Situações com morte provinda de acidentes automobilísticos, paciente
jovens e crianças, foram apontadas pelos participantes como sendo situações
menos aceita por eles. Já em relação aos paciente terminais e idosos, a morte
destes são melhor aceita pelo profissionais.
Finaliza-se então, que os significados e sentimentos dos médicos e enfermeiros
ao informar o óbito aos familiares se assemelham. E que a variedade de significados
e sentimentos obtidos são resultantes dos inúmeros fatores relacionados a
experiência individual de cada profissional.
114
8
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os objetivos da pesquisa foram alcançados, tendo grande aceitação dos
profissionais em participar do estudo. Sendo que apenas 2 enfermeiras se
recusaram a participar.
Não se sabe o motivo pelo qual estas enfermeiras demonstraram desinteresse
em responder aos questionamentos, talvez seja também devido a sobrecarga de
trabalho ou até uma tentativa de evitar assuntos a qual ela se sente despreparada
para responder. Ou ainda, seja por falta de conhecimento do valor que uma
pesquisa científica possui.
O fator tempo pôde ser percebido durante a coleta de dados.Nota-se que os
enfermeiros se encontram sobrecarregados, o que, muita das vezes, fez com que
houvesse espera de 15 a 30 minutos, para realização da coleta de dados com as
enfermeiras. E outras vezes, ainda, foi necessário reagendamentos por conta desta
sobrecarga, o que impedia que a enfermeira respondesse ao questionamento no
horário agendado para a coleta de dados. Por conta disso precisou-se de um
período grande de tempo para conseguir coletar os dados com os 20 enfermeiros.
Diversos relatos de participantes mostraram que eles acabam por aprender a
informar óbito na prática profissional, com o dia a dia, tendo o primeiro contato
durante sua residência.
Pode-se notar, durante a coleta de dados, que a maioria dos residentes
demonstraram ser mais tecnicista
ao dar a informação. Talvez, seja devido
a
formação acadêmica voltada apenas para o preparo técnico e não para o preparo
psicológico. O que já os diferencia dos profissionais com maior tempo de formado,
talvez devido ao fato destes profissionais terem mais experiências ao longo de sua
jornada profissional, fazendo deles profissionais menos técnicos e mais sensíveis a
situações como esta.
No entanto, percebe-se que nem sempre o tempo de exercício de profissão é
fator determinante para que o profissional se sinta preparado para exercer esta
tarefa. Obtivemos relatos de profissionais com mais de dez anos de formado
afirmando que apesar do tempo, ele ainda se sente despreparado para informar o
óbito.
Com as evidências encontradas neste estudo quanto ao despreparo dos
médicos e enfermeiros, torna-se essencial implantar nos cursos de graduação em
115
enfermagem e em medicina a disciplina de Tanatologia, a fim de preparar os
acadêmicos para lidar com situações que envolvam a morte, como informar o óbito
aos
familiares.
Isso,
para
que
sentimentos
como
frustração,
impotência,
constrangimento, tensão, culpa não estejam mais presentes no momento de
informar o óbito, e sim o sentimento de dever cumprido, a partir do momento que
estes profissionais compreenderem a morte como parte do ciclo normal do ser
humano e passarem a aceitar sua própria limitação e finitude.
A Faculdade de Medicina de Itajubá, pensando nisto, já incorporou a disciplina
de Tanatologia em sua grade curricular.
Espera-se, que o mesmo seja feito em todos os cursos de graduação de
enfermagem de Itajubá. E que esta conscientização se espalhe por nosso país, visto
que não queremos ter profissionais despreparados em relação à morte. Deseja-se
compreender a vida e a morte, com o auxílio da educação para morte - a
Tanatologia.
Sugere-se que a disciplina de Tanatologia também faça parte da grade curricular
da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz , apesar da mesma já ter incorporado a
disciplina de Cuidados Paliativos e desenvolver anualmente o Seminário de Morte e
Morrer, dentro da disciplina de Metodologia do Cuidado de Enfermagem.
Ao comunicar a morte aos familiares, o profissional deve estar bem preparado
emocionalmente, para que este possa ser não apenas um transmissor da notícia,
mas, também, um apoio para a família neste instante tão doloroso.
GALVÃO et al. (2010) confirmam dizendo que, para que haja mudança é preciso
criar ações simultâneas nas instituições de formação e de saúde; incluindo
disciplinas sobre o assunto nas escolas e proporcionando reflexões sobre o
processo de morte e o morrer, por meio de educação permanente nas instituições de
saúde.
Considera-se, portanto, que é preciso investir na educação e na formação
destes profissionais, além de criar estratégias nas instituições com o propósito de
capacitar os profissionais e docentes de enfermagem para que estes saibam lidar
com situações de morte e se sintam mais preparados ao informar o óbito aos
familiares.
Sugere-se que as instituições de saúde disponham de um local apropriado para
abordar e acolher este familiar para informar o óbito. Uma vez que os profissionais
116
relataram, durante a coleta de dados, que utilizavam da sala de triagem e outros
locais, tentando adaptar o local para promover o mínimo de privacidade.
Outro ponto notado, durante a coleta de dados, é que os profissionais, por se
sentirem despreparados para tal atribuição, não gostam de informar o óbito aos
familiares. Com isso tentam se esquivar da tarefa delegando para o companheiro de
trabalho, ou seja, os médicos preferem que os enfermeiros dêem a informação do
óbito, e os enfermeiros preferem que os médicos se responsabilizem pela
informação.
Almeja-se que outras pesquisas possam abordar o tema e enriquecer o
conhecimento revelado no estudo em questão. Levando em consideração o relato
dos enfermeiros participantes, que apontaram serem os profissionais enfermeiros
responsáveis pela maior frequência de informação do óbito. Sugere-se que futuras
pesquisas abordem a proporção da freqüência entre a informação de óbito dada por
médicos em relação aos enfermeiros, para que se conheça a real freqüência que um
e outro informam o óbito. Esclarecendo dessa forma qual o profissional
mais
informa o óbito aos familiares. Uma vez que constatamos neste estudo que ambos
tentam se esquivar desta atribuição.
Independente se seja o médico ou o enfermeiro (a) que esteja informando o
óbito, deve-se pensar também que ambos são constituintes de uma equipe
multiprofissional, portanto, o que cabe aos médicos deve ser de conhecimento
também do enfermeiro, e vice-versa. Saber os significados e sentimentos do outro
profissional (seja o médico ou o enfermeiro) nos ajuda a conhecer melhor nossa
própria equipe. Conhecer a fragilidade do outro, ou talvez o despreparo dele em
relação a informar o óbito, é necessário para que haja uma boa interação entre a
equipe. Uma equipe bem estruturada promove um atendimento de melhor qualidade.
Este estudo trouxe uma maior reflexão sobre o tema por meio dos relatos das
experiências dos médicos e dos enfermeiros, enriquecendo o conhecimento e
contribuindo para a formação acadêmica da autora deste trabalho.
A realização deste estudo permitiu compreender os significados e sentimentos
dos médicos e enfermeiros ao informar o óbito aos familiares, contribuindo para o
esclarecimento da sociedade e dos demais profissionais de saúde, além de auxiliar
na formação acadêmica e trazer enriquecimento científico, em que os dados servirão
de base para outros trabalhos.
117
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123
APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semiestruturada
1ª PARTE: Características pessoais e profissionais dos participantes do
estudo
1. Gênero: ( ) Masculino
( ) Feminino
2. Idade: ___________anos
3. Religião:___________________
4. Tempo de formado:
( ) de 1 a 4 anos ( ) de 4 a 7 anos
( ) 7 a 10 anos ( ) mais de 10 anos
5. Tempo de exercício da profissão:
( ) de 1 a 4 anos ( ) de 4 a 7 anos ( ) 7 a 10 anos ( ) mais de 10 anos
2ª PARTE: Questões referentes aos objetivos do estudo
Sabemos que a perda de um ente querido é uma das experiências mais
dolorosas que o ser humano pode sofrer. Esse caráter doloroso é explicado pelo
anseio da volta da pessoa perdida e a constatação de irreversibilidade dessa perda,
levando assim a uma dor inevitável. Devido a esse fato, ter que comunicar o óbito é
um a atribuição muito delicada para o profissional de saúde. Refletindo sobre isto
diga para mim:
6. Para você, o que significa informar o óbito aos familiares?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
7.Como você se sente ao ter que informar o óbito aos familiares?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
124
APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Nós, Kamila Alessandra Maia, Ana Maria Nassar Cintra Soane e Aldaíza
Ferreira Antunes Fortes, discente e docentes, respectivamente, do Curso de
Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, desta
cidade, estamos realizando uma pesquisa intitulada INFORMAR O ÓBITO AOS
FAMILIARES: significados e sentimentos dos médicos e enfermeiros. Têm como
objetivos conhecer os significados para os enfermeiros e médicos da cidade de
Itajubá, Minas Gerais, de terem que informar o óbito aos familiares e conhecer os
sentimentos deles diante dessa situação.
Os resultados desta pesquisa contribuirão para o esclarecimento, tanto da
sociedade como dos demais profissionais de saúde, a respeito das percepções dos
médicos quanto a este tema, compreendendo suas condutas diante desta situação.
Também, auxiliarão na formação acadêmica dos alunos que freqüentemente irão
presenciar a morte e observarão de perto essa informação sendo transmitida aos
familiares. Trarão enriquecimento na área científica, em que os dados servirão de
base para outros trabalhos, o que se torna necessário, visto que existe uma
escassez de produção científica referente ao assunto, não em quanto à morte, mas
aos sentimentos ao informá-la, confirmando assim minha intuição quanto à
importância de se realizar este estudo.
Para isso, precisamos que você concorde em participar de uma entrevista que
precisará ser gravada. Porém, gostaríamos de deixar claro que as informações
obtidas serão mantidas em sigilo e que você não será identificado (a) pelo nome.
Elas ficarão sob nossa responsabilidade e trabalharemos com os dados de forma
global, isto é, reunindo os dados de todas as pessoas que participarão do estudo.
É importante lembrar que a sua participação é estritamente voluntária, ou
seja, você é livre de aceitar ou não o convite que lhe fazemos e mesmo tendo
aceitado, a qualquer momento deste estudo, poderá desistir e pedir para retirar sua
participação.
Agradecemos, desde já, sua valiosa colaboração e colocamo-nos à
disposição para outros esclarecimentos que se fizerem necessária.
125
A seguir, será apresentada uma Declaração e, se você estiver de acordo com
o conteúdo dela, após sua leitura e concordância, deverá assiná-la, conforme já lhe
foi explicado anteriormente.
DECLARAÇÃO
Declaro para os devidos fins, que entendi tudo que me foi explicado a respeito
desta
pesquisa,
estou
ciente
dos
seus
objetivos,
assim
como
do
seu
desenvolvimento e da entrevista a qual serei submetido (a).
Diante disso confirmo minha participação nesta pesquisa e, para isto, lavro a
minha assinatura abaixo.
Itajubá, ___/___/___
Nome
do
(a)
participante:
____________________________________________________________
Assinatura
do(a)
participante:_________________________________________________________
Assinatura
do
pesquisador(a):_______________________________________________________
__
Para outras informações e retirar dúvidas que possam futuramente surgir, você
poderá utilizar o telefone do Comitê de Ética em Pesquisa, da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz: (035) 36220930, rama
126
APÊNDICE C - Carta de solicitação para coleta de dados da Santa Casa de
Misericórdia de Itajubá-MG
127
APÊNDICE D - Carta de solicitação para coleta de dados do Hospital Escola de
Itajubá-MG
128
ANEXO A - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Médico - Pergunta 1
QUESTÃO 1 - Para você, o que significa informar o óbito aos familiares?
SUJEITOS
EXPRESSÕES-CHAVE
IDEIAS CENTRAIS
1
Ah! a resposta é bem curta tá! Significa que eu vou
fazer uma, várias pessoas sofrerem, entendeu?
Então é uma coisa muito ruim, nem sempre a
gente gosta de estar informando isso, aqui no
hospital geralmente a enfermeira chefe faz esse
papel, só quando a família é muito próxima da gente a
gente faz esse papel de informar o óbito, mas...
é...significa que a gente está fazendo as pessoas
sofrerem, isso é certo, entendeu?
1ª ideia: Fazer as
pessoas sofrerem
A
2
3
Então, como eu respondi da primeira pergunta , é
importante o trabalho que faz parte...aliás, é uma
coisa que faz parte do nosso trabalho,né! A gente
tem que estar mais preparado pra esta passando
essa informação ao familiar, procurar é... às vezes um
contato anterior pra ver certinho, normalmente pedir
pras pessoa sentar pra gente podê transmiti, é... essa
informação, que na verdade é uma coisa triste como
eu acabei de falar, a gente se coloca muito no lugar
do familiar também né!Acho que a questão
fundamental é essa a gente ter respeito e se colocar
no lugar das pessoas, acho que é esse o ponto
fundamental.
Da gravidade: se os familiares conheciam a
gravidade é mais fácil, pois o óbito era esperado.
Se não havia gravidade: sou objetivo: “o paciente
foi a óbito”. É melhor o impacto da morte.
2º ideia: É uma
coisa muito ruim
B
1º ideia: Faz parte
do nosso trabalho
C
2º ideia: É uma
coisa triste
B
1º ideia: Se os
familiares
conheciam a
gravidade é mais
fácil
D
2º ideia: Se não
havia gravidade
sou objetivo
E
4
É uma condição inerente a profissão médica, visto
que a morte é um evento, muitas vezes, natural e
em alguns casos esperado ou irreversível. Significa
um cargo e faz parte do serviço e
responsabilidade médica.
1º ideia: Condição
inerente
da
profissão
C
129
5
6
7
8
Pra mim significa... depende, depende de cada caso
lógico, mais... quando o paciente é mais novo pra
mim é uma falha no sucesso terapêutico, apesar
que a gente ficar até com as mão atadas, muitos dos
casos a gente não tem o que fazer mesmo,agora
quando o paciente já mais idoso chega a
morbidade fica mais fácil pra gente atestar o óbito
ao paciente, mas é lógico que nos dois casos a
gente.. lógico que não sente bem.
1º ideia: Falha no
sucesso
terapêutico,
quando paciente
jovem
F
2º ideia:Mais fácil
quando o paciente
é idoso
D
3º
ideia:
Não
sentir bem
B
Informar o óbito a um familiar é uma das tarefas 1º ideia: Tarefa
mais... mais difícil da prática médica, da prática de árdua, difícil
um modo geral de todo profissional de saúde, B
porque a gente sempre deve levar em consideração
tudo aquilo que a família já está passando pelo 2º ideia: é o fim
processo de doença, tudo aquilo que o doente já está da linha do porto
passando pelo processo de doença, mais pro outro de vista médico
lado é o fim da linha do ponto de vista médico. É... H
então informar é uma tarefa árdua, difícil ,mas que
é, é inerente da prática do dia a dia, então a gente 2º ideia: Inerente
sempre tem que está tranqüilo pra informar isso, a
prática
do
esperando todo tipo de reação da família.E profissional
significa...informar
o
óbito
significa,
é... C
principalmente a gente dar a notícia, mas sempre
com um caráter humano e respeitando a 3º ideia: Dar a
dignidade, a individualidade do doente, do falecido notícia
com
e da família.
caráter humano
G
ideia:
Significa transmitir da maneira mais tranqüila 1º
possível é... um desfecho de uma maneira que nem Transmitir
um
todos, ninguém gostaria que tivesse acontecido, nem desfecho com
a própria equipe médica que atendeu, muito menos o tranqüilidade,
paciente que perde um ente querido. Então cuidado, atenção,
significa... cuidado, significa atenção, significa solidariedade
é...solidariedade frente aquela perda, então G
transformar isso na maneira mais serena possível.
Bom, informar o óbito aos familiares, significa pra
família acredito que... eu nunca passei por esta
experiência, mais pra família em si, eu acredito que
é informar que aquele ente querido, né, foi
embora, né, e você nunca mais vai vê-lo, então é
informar uma perda que é irreparável, né, é... isso
inclui, influencia muito no sentimento que a família
tem com relação ao paciente, né, às vezes, é... tem
1º ideia: Informar
uma
perda
irreparável
H
2º ideia: Limitação
profissional
130
envolvidos também sentimento de culpa, e que a H
gente percebe na prática é que quanto mais existe
algum tipo de sentimento de culpa em relação ao
paciente, pode ser em relação a outro fato da vida do
paciente com a família, ou em relação aquela doença
em si, é...se existe algum sentimento de culpa da
família essa perda é, é pior aceita pra família , quando
a gente vai informar. Então, eu acho o que significa é
que.. a gente está informando que houve uma
perda e aquilo não vai, não existe mais volta. É...
pro médico em si significa em certo ponto que existi,
é... também um,uma...uma... como eu posso ti dizer...
que é... não falha do médico em si,mas que é... tem
também, a gente tem nosso ... nosso tratamento ele
é.. .ele tem um certo limite, né, então você chegou
ao seu limite e você não vai pode fazer mais nada,
então assim ... informar pra família a nossa
humanidade também, então nós tentamos até o
ponto que foi possível e depois disso nós não
podemos fazer mais nada. Então assim, de certa
forma, você informa pra família que nós também
somos... é.. nós somos limitados, né, até certo
ponto.Então assim, de qualquer forma, isso significa
pra família que aquela perda, que ela vai ter que, né,
ela vai que entrojetar, né, e aceitar, né, e pra gente
também significa a nossa limitação como médico,
né, como ser humano, né. Nós não somos deuses,
né, nós não somo deuses, a gente não consegue
fazer além do limite nosso, né. Então a gente...
significa a perda pra família, né, e significa
também a nossa limitação como ser humano,
como médico, tá.
9
Kamila, informar o óbito significa informar o fim,
né, e pra maioria das pessoas o fim é muito
doloroso, independente de como seja, né. Então o
fim, é ...a gente chega e fala:oh! é o fim , acabou, e
aí, o pra nunca mais serve nessa hora, aí é nunca
mais mesmo, então, nunca mais você vai ver a
pessoa, nunca mais ela vai estar presente na sua
vida, então, é o único momento na vida do ser
humano que o “nunca mais” cabe. Então informar
pra família o óbito é informar o “nunca mais” do
ser, do ente querido dessa pessoa.
1º ideia: Informar
o fim do ente
querido
H
10
Acredito que esse é o momento mais difícil da
relação
médico,
paciente
e
familiares,
principalmente do vínculo que se inicia após o
primeiro atendimento ao doente, então um momento
1º ideia: Momento
mais difícil do
profissional
B
131
11
12
13
difícil. Nesse momento, o mais importante creio
eu... minimizar as dores da família, sempre
orientando sobre a real situação do paciente, e...
mais importante é minimizar essa dor , porque é
um momento muito difícil na vida desses entes
que... que vão perder um ente querido, então o
mais importante mesmo é minimizar as dores dos
familiares.
Bom, pra mim... eu acho que informar o familiar ,né,
que o ente querido foi a óbito, é...é um sofrimento,
significa sofrimento, porque... além da gente
passar pelo sofrimento de estar perdendo o
paciente também, a gente sente com isso, é...
você ainda tem que tirar força e...e ter um jeito
especial pra consegui passar isso de uma forma
mais amena pro familiar, então a gente tem que...
que aprender isso no dia a dia a lidar com situação
assim, é...e é só no dia a dia fazendo mesmo que
você vai conseguindo, porque a primeira vez, você
fica ...como você...você mesmo tivesse recebendo
a notícia, fica meio sem ação, mas é...é bastante
complicado.
2° ideia: Minimizar
as
dores
dos
familiares
G
1º ideia: É um
sofrimento
pessoal
B
2º
ideia:
bastante
complicado
B
É
3º ideia: ter um
jeito especial para
conseguir
passar
isso de
forma
mais
amena
G
Uma tarefa que faz parte do serviço, mais... quando 1º ideia: Parte do
eu posso evitar... que tem uma enfermeira que serviço
possa...ou uma psicóloga que possa fazer isso por C
mim eu tento evitar, porque eu acho uma situação
2º ideia: Situação
desconfortável.
desconfortável
B
ideia:
Dar
Dar conhecimento de que aquele ente querido não 1º
mais vai voltar, não vai mais fazer parte de sua conhecimento do
fim do ente
vida.
querido
H
14
É minha função como pessoa que constata o óbito, 1º ideia: Função
do profissional
função do profissional, isso é o que significa.
C
15
Bom...hum.. acho que informar o óbito é... acho que
faz parte da rotina da gente,é... a gente... é.. em
certos momentos a gente não tem condição de salvar
o paciente e isso aí nada mais é do que mais uma
forma de consulta, uma rotina na vida da gente,
né, acho que significa isso
1º ideia:
Faz
parte da rotina do
profissional
C
132
16
17
18
Pra mim como profissional da área médica, como
médica informar o óbito é... traz um sentimento de
impotência é...é em frente... perante a morte,
impotência perante a morte. Traz também um
sentimento de tristeza, principalmente na minha
área , que eu sou pediatra, no caso o óbito seria o
óbito de crianças, né.! É... sendo que eu me deparo
muitas das vezes com o desespero dos pais, diante
do óbito.
1º
ideia:
Impotência
perante a morte
H
Bom... Primeiramente, o exercício profissional. Eu
tenho.. é um dever meu, é.. comunicar qualquer
familiar sobre o que está acontecendo e sobre o
estado do paciente naquele momento. Então acima
de tudo é um dever profissional meu, porém... tem
que ser feito com uma certa sutileza, não é
simplesmente ... é....dar a notícia, você tem que... dá
a notícia de uma maneira diferenciada, cada ser
humano vai reagir de um jeito, então não é só
simplesmente informar o paciente, é tentar
esclarecer e explicar o que que aconteceu e o que
justifica para aquela situação naquele momento.
1º
Ideia
Exercício
profissional
C
É ... o maior contato que eu tive com essa atividade,
informar o óbito, foi durante minha residência, R1 e
R2, então pra nós era um serviço como outro
qualquer, nós éramos recrutados com se fosse um
sistema,um plantão de rodízio e naquele momento
era minha vez de informar o óbito, e isso era técnico
demais, muitas vezes a gente não tinha entrado
em contato com o paciente, a gente só sabia
que...que a criança tinha morrido, e o comunicado
tinha que ser feito da forma mais educada possível,
é.. de uma forma assim meio que, é...existia um
afastamento,é como se ...por não te havido
envolvimento com o paciente não haveria
envolvimento com a família.E assim que a gente
informava de uma forma bem mecanizada, a gente
si afastava, a gente não si envolvia com o
sofrimento deles, isso foi um treinamento. Aí com
tempo,é... aí que foram pouquíssimas vezes, graças à
Deus,é ... foi mais em área de neonatologia, então eu
estava atuando na área, na neonatologia, e aí era
duro demais, então...(entrevistada se emociona)
1º
Ideia:
Um
serviço
como
outro qualquer
C
2º ideia: Tristeza
B
:
2º ideia: Um dever
profissional que é
feito de maneira
diferenciada
G
2º ideia: técnico
demais, de uma
forma bem
mecanizada.
I
3º ideia: Era duro
demais
B
133
19
20
Bom, informar o óbito aos familiares pra mim,
significa... é.. chegar e dizer , pra mim no meu caso
geralmente é a mãe ou pai , que vai ter uma
separação. Infelizmente a mãe ou pai daquela
criança nunca mais terá aquele ente querido com
ele. Então isso significa pra mim é... dizer assim ,que
haverá uma separação, simplesmente eles não
estarão mais juntos. Aquela criança, aquele afeto, o
ato de amor entre a mãe e a criança, infelizmente eu
me sinto agredida de ter que informar que não vai
mais existir aquilo,entendeu? Os dois terão que ser
separados, a criança do pai com a mãe.
1º ideia: Dizer que
vai
ter
uma
separação do
ente querido
H
Significa ser o mais honesto e objetivo possível
não omitindo nenhum detalhe sobre o quadro
clínico e sobre o motivo que levou ao óbito.
Resumindo, falar sempre a verdade e sem
embromação, embora seja um momento doloroso
você não pode fugir disso.
1º ideia: Ser o
mais honesto e
objetivo
E
2º ideia: Uma
agressão para o
profissional
B
134
ANEXO B - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Médico - Pergunta 2
QUESTÃO 2 - Como você se sente ao ter que informar o óbito aos familiares?
SUJEITOS EXPRESSÕES-CHAVE
IDEIAS
CENTRAIS
1
1º ideia: pra gente
a gente um pouco
frio
C
2
3
4
Aqui a gente se sente... pra nós que somos médicos,
eu me sinto mal , porque pra gente a gente é um
pouco frio, a gente lidar com isso todo dia, então
tem assim muitos casos graves que a gente fala:
olha descansou. Então a gente... é assim...é um
papel que até a gente não sente tanto porque não
faz parte da família da gente, né! Então a gente vê
que a família tá sofrendo, mas não... não aquele
sentimento seu, é diferente se fosse um parente
seu. Então a gente sente mal por ter também esse
sentimento, por ser tão frio, mas se você não for
assim, você não consegue trabalhar num serviço
de urgência e emergência, então você tem que
ser.
É, isso realmente a gente fica muito triste porque...é
mais uma constatação que a gente não é...como
fala....depende...é como se você tivesse tido um
insucesso no seu tratamento, porque a gente
forma médico a gente quer salvar, nunca a gente
quer que a pessoa morra,mas a gente sabe que
essa é uma evolução natural. Só que a nossa cultura
ainda não aceita muito a morte né?! a gente gosta de
comemorar a vida , o nascimento, né, batizado. Mas
quando realmente um familiar ou até mesmo um
amigo morre que a gente se depara então...o
primeiro sentimento é de tristeza mesmo.
De forma natural. A vivência nos traz entender o
ato de nascer-morrer. Passamos por experiências,
sofremos antes dos familiares e temos que ser
realistas: o que está acontecendo agora com esses
familiares, já aconteceu comigo ou iria acontecer.
Quando a morte é esperada há um certo alívio em
dar a notícia, porque é como se houvesse o fim de
um sofrimento. Mas quando a morte não é
esperada a informação é dolorosa e há uma
tentativa de se distanciar da dor de quem recebe a
notícia.
2º ideia: a gente
não sente tanto,
porque
não faz parte da
família da gente
C
1º ideia:
triste
B
muito
2º ideia: é como
se você tivesse
tido um insucesso
G
1º ideia: natural
C
1º ideia: alívio se a
morte é esperada
D
2º ideia: dor, se a
morte
não
é
esperada
E
135
5
Então... depende da proximidade com os
familiares,geralmente, também quando... quando,
geralmente a gente não gosta mesmo, lógico, de
atestar o óbito. E depende do contato familiar, que
tem alguns que respondem melhor, que é mais fácil
se está esperando, geralmente paciente idoso,
tipo morbidade que tem uma resposta ,se tem uma
aceitação melhor, agora já teve casos já, que eu
tive que declarar óbito, atestar óbito a paciente
jovem e não foi nada bom.Eu me senti... fiquei uns
três dias...fiquei pensando nisso, e até hoje eu
lembro, foram dois pacientes meu abaixo de trinta
anos que fica guardado , sempre a gente lembra do
caso, sempre...não teve uma boa aceitação pra
gente médicos também não!Não só minha como
dos meus preceptores também, preceptores também
ficou muito triste, foi toda clínica ficou chocada
assim.
1º ideia: tem uma
aceitação melhor,
se está
esperando
D
2º ideia: nada
bom, se a morte é
de paciente
jovem
A
3º ideia: não teve
uma
boa
aceitação
A
4º ideia:
triste
B
muito
6
É... me sinto com segurança ,E... precisa que eu 1º
leve em consideração sempre, é que preciso passar a segurança
informação, passar a notícia sempre de uma maneira I
tranqüila, porque....a gente tem que se colocar do
outro lado também da história , porque se um dia com
a perda de um ente querido da minha família eu vou
querer receber essa notícia de um modo tranqüilo
,explicando ...vou precisar, vou querer que me seja
explicado o que é que aconteceu, porque que é que
aconteceu e o que é que foi feito pra tentar reverter
isso.Mas, de qualquer maneira , a gente sempre,
é...eu tenho comigo ,que sempre informar o óbito a
alguém, a algum familiar é uma tarefa muito difícil
porque envolve não só a prática profissional, mas
todo um lado emocional e que a gente acaba é...
como médico, a gente acaba é... participando
bastante desse lado emocional da família e do doente
também. Então eu sempre procuro assumir esse lado
emocional também, dando sempre o apoio pra família
também quando ela precisa, quando ela requer.
ideia:
7
Sentimento frente ao óbito no trabalho em medicina
em geral, é a coisa que o médico menos gosta de
fazer . É um sentimento às vezes de perda, de
incapacidade, de impotência e que a gente sabe e
tem a certeza que fez tudo ao máximo, mas gente
não... não é um sentimento muito bom, mas ele faz
parte do nosso dia a dia.
1º ideia: perda
H
2º
ideia:
incapacidade
G
3º
ideia:
136
impotência
G
4º ideia: não é
muito bom
A
8
Eu acho que pro médico, por mais que a gente tenha
experiência, por mais que tenha tantos anos de
profissão, essa informação de perda é muito difícil,
né. É... então eu acho que... eu, pessoalmente, eu
me sinto muito mal de ter que informar. Eu acho
que quando a gente é... chego a um certo limite e
você fez tudo que você sabia que seria feito e que
essa criança realmente, tô falando a criança porque
eu sou pediatra, então essa criança realmente não
teria como, né, é... voltar, né, é... ela iria morrer de
qualquer forma, isso é um pouco melhor aceito
pra gente, tá. Vou te dar um exemplo, uma criança
que tenha uma cardiopatia grave, por exemplo, e ela
depois daquilo ela... a qualidade de vida dela
,depois daquilo, daquele fato seria muito ruim ou
ela sofreria muito,né, então assim , é um pouco
mais,melhor aceito pela gente, pelo médico. Mas
quando, por exemplo, é uma fatalidade, vamos
supor, é um acidente automobilístico, um trauma,
né, uma criança que evoluiu com uma infecção, uma
criança até previamente hígida que não tinha nada,
evoluiu com uma infecção grave e foi a óbito assim
muito abruptamente, isso pro médico é muito
difícil de aceitar. Tanto pro médico, acho que pior
pra família, mas pro médico também é difícil de
aceitar. Então assim, pra mim significa, é... uma
dor mesmo ,também, né, então a gente vive... vive
esse óbito, tá, independente si é um paciente que
você já conheça a muito tempo ou um paciente que
você atenda,é, de imediato, que você nunca viu.
Então assim, pro médico isso é uma perda, tá, tem
pessoas que lidam melhor com isso, tem pessoas
que não lidam, né, que carregam isso pra sua vida
pessoal enfim, eu tento não levar isso além do meu
trabalho, tá, mais de qualquer forma é doloroso a
informação do óbito e
o óbito, a perda do
paciente,ta.Certo?
1º ideia: perda
H
2º ideia: muito mal
A
3º ideia: Melhor
aceito pra gente,
se ela iria
de qualquer forma
D
4º ideia: muito
difícil de aceitar,
se óbito muito
abruptamente
A
5º ideia: dor
E
137
9
10
Independente de...olha! eu tenho 22 anos de formada
,né, e...assim, a gente que mexe com pronto socorro,
com UTI, é um sentimento assim de... é uma...uma,
o ser humano de uma maneira geral enxerga nós
médicos, né, uma pessoa assim que eles
entregaram seu ente querido pra gente, pra gente
devolve-lo de uma maneira boa, vamos dizer assim,
né, então...então kamila,é... a gente sente uma
responsabilidade muito grande, né, porque é a
hora em que a família chora, que a família se
desespera e nós temos que ficar forte diante
deles, né, porque eles tem na gente uma pessoa
importante nesse horário, é Deus que dá pra gente
uma força,um... como é que se diz , assim...é...nós
somos iluminados por Ele e temos essa profissão, né,
pra pode salvar, pra poder ajudar as pessoas. Então
pros familiares nós somos uma pessoa muito
importante nessa hora, então é... é um sentimento
assim...é...difícil, tem hora que a gente chora junto,
tem hora que a gente não consegue falar, eu várias
vezes fui anunciar o óbito, principalmente quando é
óbito de pessoas que não... que a família não espera,
né, que iria morrer. Quando pessoas idosas que já
são sequeladas de AVC, então né, a família entende
com um pouquinho mais de...não sei si...não sei como
a gente pode explicar,mais assim...você dá a
informação de um óbito de um jovem que sofreu um
acidente , que tava até então muito bem, vai sai pra
uma festa e tem um acidente e morre, você informar
o óbito dessa pessoa pra família, é muito difícil, é
muito complicado, você várias vezes...eu choro
antes da família. Então assim, a gente apesar de,
né, as pessoas acharem que o médico não tem
sentimento, que a gente é muito frio não é não, é
muito difícil.
É um momento delicado, mas que faz parte também
do ato médico, da profissão médica que a gente
escolheu, primeiramente a gente se tem um dever
tranqüilo de que se foi feito de tudo pra tentar
salvar a vida desse paciente, mas realmente é
muito difícil devido a esse vínculo que acontecesse
entre o médico e paciente , a gente sente muito
nesse momento, às vezes a gente fica até sem
palavras pra falar pra família de tanto vínculo que
a gente criou com esse paciente.
1º
ideia:
uma
responsabilidade
muito grande
F
2º ideia: tem hora
que a gente chora
junto
e
não
consegue falar
B
1º
ideia:
tranqüilidade
D
2º ideia: a gente
sente muito, fica
até sem palavras
B
138
11
Bom, pra mim... é uma sensação de impotência
diante do familiar, porque o objetivo da gente, a
gente sabe que todo mundo vai morrer, que acontece
tal, mas a gente nunca quer que morra. E se você
está cuidando de um paciente e a hora que ele vai
à óbito você vai dar essa notícia é como si você
não tivesse conseguido seu objetivo, você não
conseguiu aquilo que é tua função, uma das
funções, né, que geralmente é tentar curar. Mas tem
que lembrar que não é só isso, você consegui aliviar a
dor também, e deixar o paciente descansar também
faz parte, mas no primeiro momento é uma
sensação de impotência, porque você queria dar
de volta aquele paciente pra família, mas às vezes
não é possível.
1º ideia: sensação
de impotência
diante do familiar
G
12
Não...não
me
dá
tristeza
porque...já
ficou...assim...tão...rotina,
por
causa
da
freqüência. Eu trabalho com terapia intensiva, por
eu está na UTI, então acontece, às vezes, duas
,três vezes nu dia deu te que dá notícia de óbito,
então assim, se tornou uma rotina tão comum
que...pra mim é mais uma...é mais uma...é mais
uma tarefa, faz parte do serviço, não mais
aquela... sensibilidade tudo....é muito difícil a gente
que convive com isso o tempo todo si envolve
emocionalmente, porque...se você começa senti
todo esse sofrimento e se envolve demais com a
família, eu vou ser eternamente deprimida, porque
eu vejo óbito várias vezes ao dia, todo dia, então
se eu for envolver muito emocionalmente, eu vou
ter que fazer tratamento eterno com psiquiatra,
vou ter que tomar antidepressivo eternamente,
não tem como assim.. você se envolver tanto.
Você tem que assim, acolher a família, respeitar
aquele momento, né, e... evitar frases do tipo... “ah!
eu sei como você está si sentindo”....você não sabe
como tá sentindo!você não tá passando por aquilo,
né. É confortar a família, acho que o momento que
você não tem muito o que você falar, né. É o básico...
tentar confortar e você assim.. respeitosa com aquele
momento. É parte do meu serviço, não.. não faz
diferença pra mim, eu não me envolvo
emocionalmente.
1º ideia: não me
dá tristeza, porque
ficou tão rotina
C
Péssimo, angustiado.
1º ideia: Péssimo
B
13
2º
ideia:
sentimento
C
2º
angustiado
sem
ideia:
139
B
14
15
16
Situação delicada, momento difícil, tem que ter
paciência, tem que ter jeito, é... a gente se sente
parte daquilo não tem como você se desvencilhar,
você tenta ser o mais... imparcial possível, mais... na
verdade é impossível ser imparcial.
1º ideia: a gente
sente
parte
daquilo,é
impossível
ser
imparcial
B
Bom, acho que informar o óbito, acho que é a pior 1º
ideia:
parte da profissão da gente, é extremamente impotência
desagradável, mas é um momento que a gente tem G
entender o lado do paciente, e ser o mais delicado
possível pra tentar confortar um pouco a família, né. 2º ideia: chateado
Mas é a pior experiência que tem nessa área. B
Sentimento de impotência de não ter conseguido
salvar a pessoa ,é esse o sentimento que fica.
Dificilmente a pessoa... se sai bem, dorme bem,
geralmente sempre fica chateado, acho que é isso.
Apesar da tristeza sofrido, né, pela perda de um
paciente, nesse momento eu tenho que me colocar
como profissional e relatar o ocorrido aos
familiares. É... sem deixar aparecer os meus
sentimentos como pessoa, como choro, feição de
tristeza. Eu tenho que me colocar como
profissional, mas, é.. ao mesmo tempo me
mostrando solidária à tristeza da família.
1º ideia: tristeza
B
2º ideia: perda de
um paciente
H
3º ideia: como
profissional,sem
deixar aparecer os
meus sentimentos
como
pessoa,
como
choro,
feição de tristeza.
I
17
Primeiro é uma sensação bem desagradável,
porque ninguém gosta de dar notícias ruins pra
ninguém, mais, tem que ser feito com certo
profissionalismo, então a gente tem que ser bem
profissional,
didático,
esclarecedor
nesse
momento,mesmo sendo uma notícia ruim, então não
é muito agradável, mas... a gente tem que cumprir
com o exercício daquilo que foi programado pra
gente. É um sentimento de tristeza né, de
incapacidade, de não ter podido ajudar ou de não
ter condições de não ter feito nada pra poder
reverter a situação. Em alguns casos não tem
1º ideia: sensação
bem
desagradável,não
me sinto bem
A
2º ideia :com certo
profissionalismo
I
3º ideia: tristeza
140
muito o que fazer, pacientes graves terminais é uma
perda que... que não tem como, não tem tratamento,
é uma doença terminal então a gente até se senti
um pouco mais confortado pelo fato de saber que
aquilo não tem reversibilidade, mas eu não me
sinto muito bem. Eu não gosto dar essas notícias
não.
B
4º
ideia:
incapacidade
G
5º ideia: perda
H
5º
ideia:
confortado quando
a
morte
é
inevitável
D
18
É... a medida, que você acumula os óbitos, né, na
sua vida ,ao redor de você, com pessoas que
realmente,é...se importam com você, que você se
importa com eles,é... acho que não existi o médico
que consiga responder de uma forma bem...
mecanizada, né , artificial, igual um residente
responderia.É ... nos dias de hoje eu me afastei dessa
área de ter que me envolver com pacientes terminais,
de ter que dar notícias, eu não lido mais com
essa...com essa.. mas não é por fuga não, é porque
essa área se afastou de mim também.Mais... eu
tenho...por exemplo, eu tenho um avô que vai fazer
103 anos, sábado que vem, então eu tenho... eu não
tenho facilidade pra conviver com essa parte dos
óbitos, e isso meu! É uma coisa que dentro da minha
medicina é o meu limite. Se eu tivesse que atuar em
alguma especialidade que lidasse com oncologia,
com os pacientes terminais mesmo, eu acho que eu
me afastaria dessa área. O que eu gosto é do que eu
gosto, que é lidar com vida, né. E pra mim, é a forma
como eu dou a notícia, né, que é o que você quer
saber, ah... eu acho que eu abraço a notícia, todas
as vezes eu choro junto.
1º ideia: eu acho
que eu abraço a
notícia, todas as
vezes eu choro
junto.
B
141
19
20
Acabei respondendo a primeira questão. É... eu mi
sinto agredida. É...me sinto muito mal tendo que
informar , mesmo sabendo que isso faz parte do
processo, do óbito. Mas assim, é... o dia que
acontece isso é um dia estressante, a gente se sente
emocionalmente abalada, porque tem que chegar e
falar que a criança infelizmente, dependo da
patologia, do acidente que ocorreu, não sobreviveu.
E ...é.... e eu como médico não consegui dar conta
daquela criança,não teve jeito, e a criança
infelizmente foi. Então por mais que.. é ... às vezes a
gente.. está além da nossa capacidade,
infelizmente a gente se senti incapaz naquele
momento, não consegui dar conta e tem que
informar aquilo pra mãe. Então eu me sinto
incapaz e ao mesmo tempo agredida de ter que
passar isso pra família.
1 ideia : agredida
A
2º ideia: muito mal
A
3º
ideia:
emocionalmente
abalada
B
4º ideia: incapaz
G
É um dever da profissão. Eu me sinto como uma 1° ideia: triste
parte triste da minha profissão, mas que tem que B
ser informado, não posso fugir disso
142
ANEXO C - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Enfermeiro - Pergunta 1
QUESTÃO 1: Para você o que significa informar o óbito aos familiares?
SUJEITOS
EXPRESSÕES-CHAVE
IDEIAS
CENTRAIS
1
Ah! Às vezes parece que é simplesmente chegar
e falar, né, o que que...que morreu e pronto, você
não conhecia a pessoa, tudo. Mas... é uma parte
muito importante, é uma das partes mais
importante, né, até do .. do óbito mesmo ,
porque envolve muita coisa, né.
1º ideia: é uma
parte
muito
importante do óbito
A
2
Informar o óbito pros familiares é...é uma
situação em que você precisa falar que a pessoa
morreu, né. Então assim, é uma situação...é
difícil, é complicado, porque ,assim , morreu
dentro do hospital, dentro do seu ambiente de
trabalho, né, então assim,é o que eu acabei de
falar , a gente precisa estar respaldada do que que
aconteceu com aquele paciente,o porque que ele
veio a falecer, o que que a gente fez por ele, o que
que a gente deixou de fazer por ele. Então assim,
informar o óbito não é só chegar lá e falar: seu
paciente, seu parente morreu, faleceu, não é só
isso, existem outras coisas envolvidas no óbito,
né. Então assim, eu preciso falar o que que
aconteceu, o que que fez, o que que não fez, o
porque que morreu. Muitas vezes a gente não
sabe por que que morreu, são coisas da vida, que a
medicina às vezes nem explica, né, às vezes o
paciente entra aqui andando, bem, faz todos os
exames, não apresenta nada nos exames e daqui a
pouquinho ele para de uma hora pra outra e a gente
não sabe, né, porque que aquela pessoa morreu,
tem que mandar para a SVO, Sistema de
Verificação de Óbitos, e a família não entende às
vezes, geralmente a maioria não dá o termo de
conscientização para a gente fazer, então assim, é
muita coisa envolvida, não é simplesmente chegar
lá e falar que a paciente morreu, tem muita coisa
envolvida, e a gente tem que estar preparada pra
isso, né. Então dar a notícia de óbito não é
simplesmente chegar lá e falar que a pessoa
morreu, né, então você tem que chegar lá
preparado pra o que você vai falar, oh! Nós
fizemos isso, aconteceu isso, isso, isso, tal,
infelizmente, né, e ás vezes acontece que aquela
1º ideia: é uma
situação em que
você precisa falar
que
a
pessoa
morreu
B
2º ideia: é uma
situação difícil e
complicado
C
3º ideia: não é só
chegar lá e falar, é
preciso falar o que
aconteceu
,como
aconteceu,não
é
tão simples assim
D
4º ideia: é mais
difícil dar a notícia
pra aquela pessoa
que
já
estava
esperando
E
5º ideia: é mais
difícil para quando
não está esperando
F
143
3
4
pessoa entrou, está bem e de repente para, teve
alta e para aqui na porta, tendo alta, na porta do
pronto socorro, e como é que você vai explicar pra
família, ah! Ela entrou aqui,estava tudo bem, tomou
um sorinho, estava com dor de cabeça, foi
medicada, referiu melhora e na hora que estava
indo embora,caiu dura aqui, parou, e não teve Cristo
que fez voltar. Então assim, é complicado, então
não é só a notícia de que o parente morreu, né,
você tem que ver uma leva de coisas atrás,
né,não é só a notícia do óbito em si, né, você
tem que falar tudo ali, o que aconteceu, como
que estava, como que não estava, o que que foi
feito, o que que não foi feito, às vezes a pessoa
não aceita,né, mais como assim, estava bem
enfermeira, estava super. bem, né, e morreu! Que
nem eu te falei, é mais difícil dar a notícia pra
aquela pessoa que não estava esperando do que
aquela que já estava esperando, né, ambas são
difíceis, né, a família sofre , o familiar que vê o outro
sofrendo, sofre e o sofrimento é muito maior
também.Mas assim ,então, dá a notícia do óbito
não é só simplesmente falar que a pessoa
morreu,
né,
você
tem
que
estar,
assim,completamente respaldada de coisas, né,
pra falar: olha! Morreu mas ele teve assistência, né,
toda assistência necessária, aqui dentro da
instituição tudo que tinha que ser feito por ele foi
feito, então é um pouquinho complicado, né,não
é tão simples assim.
Eu acho que pra parte da enfermagem é
importante, porque a gente está ali a gente pode
dar todo apoio, porque ás vezes o médico vai fala
de qualquer jeito e nem apóia a família, né. E eu já
passei por isso, fui junto com o médico pra informar,
e eu vi que é importante ,tem que estar ali, tem
que prestar, e dar toda ajuda pro familiar e tem
que apoiar mesmo, é importante que o
enfermeiro esteja junto para informar, pra dar o
apoio.
Informar o óbito pros familiares é você...chegar
para a família e falar: “não teve uma vitória”, o
que nós esperávamos de sair vitoriosos perante
a situação, perante o processo morrer... não
deu.Então é... um sentimento de...quase assim
de...”eu não consegui” resolver o problema seu,
resolver o problema de seu ente querido, e agora
nós estamos passando um resultado negativo,
que muitas vezes um resultado negativo tem
como você reverter, né, mas nessa situação não
1º ideia: Eu acho
que pra parte da
enfermagem
é
importante
A
1 ideia: chegar para
a família e falar:
“não
teve
uma
vitória”
B
2 ideia;
consegui
J
eu
não
144
5
6
7
8
tem como, não vai ter volta. É você saber que vai
dar uma notícia que normalmente as pessoas não
estão preparadas para receber essa notícia, porque
todo mundo pensa na vida, pensa em projetos, faz
projetos, e quando você vê, tudo aquilo que ela
projetou de repente vem por água a baixo, a pessoa
foi a óbito.
É uma sensação, pra mim, um pouco de
impotência, assim, às vezes pode ser uma falha
que a gente tenha cometido, alguma coisa... mas ao
mesmo tempo eu sinto que eu posso está mais
perto daqueles que conviveram com ele. Então na
hora, eu procuro primeiro, conversar com o
familiar, está falando com ele o que que o
paciente estava passando, como o paciente se
apresentava, pra depois dar a informação do
óbito. E eu continuo dando apoio até a família
estabilizar, porque na maioria das vezes é um
choque pros pacientes, porque a área aqui do
pronto socorro é uma área, assim, que às vezes
chega muito politrauma. Então pra eles é um
choque, não é uma pessoa que às vezes chega, tá
doente e eles esperam a morte, muitas vezes é uma
pessoa que eles nunca esperam ,esperavam que
morresse tão logo, porque não tinha nenhum
problema de saúde, foi mais por um trauma.
Significa uma responsabilidade muito grande,
porque os familiares tem que entender o que
levou ao óbito, é muito difícil às vezes pro
familiar compreender que foi realizado de tudo
para evitar o ocorrido.
3º ideia: passar um
resultado negativo
B
Bom... É um momento muito delicado, que a
gente tem que levar a notícia do óbito do paciente
pra família. É um momento delicado, porque... a
gente não sabe qual que é reação da família, a
gente não sabe se era aquilo que a família tava
esperando. Então é uma... uma situação muito...
complicada pra gente também, porque a gente
tem que está preparada psicologicamente pra
poder dar esta notícia e... esperando, né, que a
família entenda que tudo que foi possível foi feito
em prol de seu ente querido.
É... Não é uma notícia... Eu não me sinto bem em
dar essa notícia. Eu acho que é uma notícia ruim,
tá. Não... Não sei explicar pra você, mas é uma
coisa que a gente não sente bem em ter que
falar isso.
1º ideia:
momento
delicado
C
1º ideia; sensação
de impotência
J
2 ideia: conversar
com o familiar, pra
depois
dar
a
informação
do
óbito.
D
1º ideia: Significa
uma
responsabilidade
muito grande
G
É
um
muito
2º ideia: é uma
situação
muito
complicada
C
1º ideia; eu não me
sinto bem em dar a
notícia
C
2
ideia:
é
uma
145
notícia ruim,
B
2º
ideia:é
uma
coisa que a gente
não sente bem em
ter que falar isso.
C
9
Momento muito difícil, mesmo porque não 1º ideia: Momento
estamos respaldados e nem preparados para muito difícil
responder a todas as perguntas que poderão C
ocorrer. Lidar com os sentimentos humanos é
muito complexo, haja vista o grau de aceitação,
compreensão do sofrimento.
10
Para mim significa um momento muito difícil. Ser
portadora de uma notícia tão dolorosa para a
família, é uma experiência também dolorosa
para mim.
1º ideia: significa
um momento muito
difícil
C
2 ideia: é uma
experiência
dolorosa
H
1º ideia: É um
momento
muito
difícil
C
11
É um momento muito difícil pra mim, pois, sou
uma pessoa muito emotiva e às vezes acabo me
envolvendo no sofrimento do familiar que perdeu
o seu ente querido e muitas vezes devido ao fato de
o paciente ficar muito tempo internado, e por ser um
setor fechado -UTI- acabam se estreitando os laços 2º ideia: ser o mais
de afinidade. Procuro ser o mais humana possível humana possível
ao passar a notícia do óbito, tento ser o mais D
empática possível, pois é um momento doloroso
do familiar que deve ser respeitado.
12
Então, é uma coisa bem complicada. É uma
tarefa bem difícil, porque assim que você dá a
notícia tem todo um... uma não aceitação, né, ao
que acontece. E pra mim significa, assim, muita
dor, todas as experiências que eu já tive, não foram
muitas, mas todas foram bem marcantes, foram
casos assim bem sérios. Uma delas foi com uma
gestante que eu tive que falar que o bebê dela tinha
ido a óbito e a cesárea estava marcada para o dia
1º ideia: é
coisa
complicada
C
uma
bem
2 ideia: É uma
tarefa bem difícil
C
146
seguinte e a gente não conseguia auscultar o foco.
E a outra, um rapaz de 20 e poucos anos que a mãe
morreu saindo de uma histerectomia também, então
ele deitava no chão, gritava, jogava o boné dele pra
tudo quanto é lado. Então é um significado muito
pesado, muito forte, é bem complicado.
13
É...Pra mim..quando a gente tem uma situação de
emergência ,no meu caso,uma situação de
emergência, onde a gente atuou durante pelo
menos duas horas tentando ressuscitar o paciente e
o paciente foi à óbito, né, Então ele foi trazido pela
esposa, pelo irmão, e a esposa veio com três
filhos.Os três filhos em torno da faixa etária de
cinco, sete e oito anos, todos bem criança. Então
é... a gente fez muita coisa, trabalhou bastante, eu e
mais um médico tentando trazer esse paciente.
Uma semana anterior, na sexta feira, ele chegou
num quadro de hemorragia digestiva alta e recebeu
orientação, foi medicado e voltou pra casa, aí o
médico informou a ele que se ele não tomasse
cuidado corria o risco dele ter um quadro mais grave
e ir a óbito. Uma semana depois ele tava lá no
pronto socorro com um caso de hemorragia alta
severa e entrou em choque, num estágio irreversível
do choque, e não teve como a gente ajudar ele,
cessar, reverter esse quadro, então o paciente foi a
óbito. E assim...o significado, é um significado,
quando você vai informar né, que você não
conseguiu né, que você fez tudo mas não
conseguiu.E quando você vai informar, o principal
significado ,né, não sei se é essa a palavra certa
,é... você tirar a esperança de alguém que
estava com esperança de você resolver o
problema, né, significa a falta de esperança que
você leva pro familiar, que ele está com a
esperança que o.. está no serviço de saúde, que ali
vai ter profissionais que possam ajudar, né. Quando
eu me informei, tava eu mais outro enfermeiro,
juntos, e a gente falou pra esposa, né, que a gente
gastou muito tempo tentando ressuscitar o paciente,
duas horas em torno. Levei ele pro necrotério,como
era caso de hemorragia, ele sangrava pelo nariz
,pela boca, então tive que tamponar este paciente,
levar pro necrotério, tamponar e retornar pro pronto
socorro.E antes de retornar pro pronto socorro,
passei na recepção, como procedimento padrão,
pego o atestado de óbito, e o médico vai preencher
3º ideia: é um
significado
muito
pesado, muito forte
C
4º ideia: significa
muita dor
H
1º ideia: significa
você
tirar
a
esperança
do
familiar
I
2º ideia: é uma
situação
muito
delicada,
muito
difícil, não é fácil de
dizer.
C
3º ideia: significa
que
você
não
conseguiu
J
4º ideia: situação
que você não sabe
como dizer
C
147
14
o atestado de óbito. Desci pra falar, né,a minha
intenção não era falar pra esposa naquele
momento, mais naquele momento ela abordou a
gente dentro do pronto socorro e perguntou: e ai
como é que meu esposo está?E ele já tinha ido a
óbito, já tínhamos tamponado ele. Então é uma
situação assim...é meio.. assim, você não sabe
como dizer, né, você quer utilizar do não verbal,
né, pra pessoa já ir entendendo, né. E não tem
como você falar muito com a pessoa, né. Você tenta
falar da melhor forma possível, pra que não cause
tanto impacto,porque impacto vai causar do mesmo
jeito,porque ela já está esperançosa ali, e você vai
conseguir, e aí você pega, tenta tudo, não consegue
e o paciente vai a óbito. Então, no momento que eu
disse, ela já falou: Nossa mais como é que eu vou
fazer agora?Eu tenho três filhos! E nós já tínhamos
vistos os três filhos. E ela estava cheia de
esperança, então o significado é você levar...tirar
essa esperança, como se fosse isso, né. Então é
uma situação muito delicada, muito difícil, não é
fácil de dizer. Mas você sente assim, que você tirou
essa esperança, mas que você fez tudo que poderia
ter feito. Tem algumas situações ao extremo assim
que você não vê muita coisa o que fazer. Mas
mesmo assim a gente sente que não deixa de levar
uma esperança de vida, por exemplo, se você ver
uma criança nascer e ver uma pessoa morrer, é o
sentimentos oposto, um você vê a vida o outro você
deixou de responder, vamos dizer assim.Você
chega numa conclusão que você deixou de fazer
alguma coisa, você fica pensando, você revê todos
os seus conceitos, né. Tem alguns casos como este
especialmente, que você começa rever todos os
seus conceitos, em relação a vida, a família, né é
muito importante, né. Então o que significa, não
sei se seria a palavra certa, é você levar...tirar a
esperança de vida, porque eles chegam com
uma esperança que você vai resolver o
problema, e você chama ele e aquela esperança
não tem, não tem mais esperança, o paciente já
foi a óbito.
Na verdade é como comunicar o nosso próprio
fim, uma frase de tristeza e de pesar. Porque a
família por mais que saiba o estado crítico, ou a
fragilidade do ente querido, não quer ver o seu fim.
1º ideia: é como
comunicar o nosso
próprio fim.
B
2º ideia: uma frase
de tristeza e de
pesar.
148
B
15
16
Eu acho que é uma necessidade, né, que a
pessoa tem, a gente tem que informar o mais
rápido possível a partir do momento que
aconteceu. A gente tem que até antecipar, né, ver
se consegue trazer a família antes da pessoa
morrer, né, porque é muito chato quando o paciente
já morreu e você ter que falar com a pessoa que já
morreu, então se a gente puder preparar, chamar
um pouquinho antes. No caso a gente que está na
UTI é mais fácil, porque a família já está sabendo o
que está acontecendo com o paciente, né, e assim..
você tendo um tempinho antes, você vai ter
condições de dar uma assistência pra aquela
família, não na hora que morreu , né, já morreu ,
pronto, né. Então eu acho, assim, que é uma
necessidade que a gente tem.
Depende do motivo do falecimento, pois quando
já esta em sofrimento muitas vezes os familiares
aceitam de forma mais serena, e outras vezes
mesmo assim acham que poderíamos ter feito
mais pelo paciente.
1º ideia: é
necessidade
G
uma
1º ideia: depende
do
motivo
do
falecimento,
quando já esta em
sofrimento aceitam
de
forma
mais
serena
E
17
Apesar de muito tempo na profissão, significa algo
que mexe ainda com o sentimento. Temos que ter
uma postura de um profissional que convive com
isto.
1º ideia; significa
algo que mexe
ainda
com
o
sentimento
K
18
Significa passar aos familiares que seu ente
querido faleceu, assim sendo é uma tarefa difícil
para o enfermeiro. Temos que ser bastante
humanos e esperar qualquer tipo de reação dos
familiares e fornecer carinho, compreensão,
tentando consolá-los com um abraço e cuidado
com as palavras.
1º ideia: Significa
passar
aos
familiares que seu
ente
querido
faleceu
B
2º ideia:
é uma
tarefa difícil para o
enfermeiro
C
3º ideia: Temos que
ser
bastante
humanos
149
D
19
Informar o óbito significa um ato de atenção
para com a família; um ato de solidariedade
perante uma situação desagradabilíssima.
Gostaria de nunca ter que fazê-lo.
1º ideia: significa
um ato de atenção
e
solidariedade para
com a família
D
20
Significa ter uma responsabilidade muita 1º ideia: Significa
uma
grande, pois não sei como os familiares podem ter
responsabilidade
reagir,devido ao momento de perda.
muita grande
G
150
ANEXO D - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1) Enfermeiro - Pergunta 2
QUESTÃO 2: Com você se sente ao ter que informar o óbito aos familiares?
SUJEITOS
EXPRESSÕES-CHAVE
IDEIAS CENTRAIS
1
É um sentimento... na verdade é triste, porque a 1 ideia: é triste
gente imagina como se fosse com a gente, como A
se fosse com um parente querido nosso, né. Então
a gente...acaba vendo a situação da família, a gente
acaba vendo a tristeza da família e... a maioria chora,
né, e isso normalmente mexe muito com a gente,
né. Então...é...é desagradável, eu particularmente não
gosto dessa parte não.
2
Então...é... eu sou enfermeira do pronto socorro , da
urgência , e aqui é uma situação é... diferente dos
outros setores.Como eu disse pra você, aqui a gente
tem a todo momento óbitos, ter que dar informações
pra família de óbito em diferentes casos, desde
crianças até adultos, em fases terminais, acidentes,
né, então ,assim, é muito complicado, porque, assim,
a gente tem que parar e respirar fundo mesmo,
eu,assim,eu paro ,respiro fundo, sabe, falo: meu Deus
como eu vou dar essa notícia pra essa família, coloca
as palavras certas na minha boca, né, pra eu dar a
informação da melhor forma possível, mas, assim,
não tem melhor forma possível, né, a gente tem que
falar, não tem como a gente não falar, né. Então
,assim, geralmente, a maioria dos casos quem dá a
notícia de óbito aqui sou eu, a maioria; os médicos
dão também, mas a maioria é a enfermeira, né. Essa
pior parte fica pra gente, eles fogem mesmo, fogem,
entendeu?Tem médico que dá? Tem, entendeu, mas
assim é um ou outro, é pouco, a maioria é a gente.
Então, assim, por aqui ser muito agitado, eu não
tenho um espaço pra conversar com a pessoa, né, às
vezes eu procuro um lugarzinho mais reservado,
chamo a família, coloco a pessoa sentado primeiro,
explico e falo: você sabe o que estava acontecendo, o
que aconteceu, e já vou, assim, meio que tentando
preparar a pessoa. É uma situação totalmente
desagradável eu não gosto, não gosto de dar a
notícia ,mas eu dou, eu tenho que dar. Eu falo as
informações corretas, eu procuro dar assistência
espiritual, confortar a família, né, na medida do
possível, eu conforto, né. Olha não é agradável você
dar a notícia de óbito para uma pessoa, para uma
família, ainda mais naqueles estados que eu citei
antes, é acidentes, pacientes jovens, morreu
1º ideia: sentimento
ruim
B
2º ideia: sinto um
pouco culpado
C
3º ideia:
emocional
D
4º
acostumado
D
controle
ideia:
5º ideia: sinto bem
quando dou apoio a
família
E
6º ideia: sentimento
não é bom
B
151
abruptamente, a família não estava esperando, é os
casos mais, assim, dramáticos que eu vejo aqui. Nos
casos de acidentes, chega pacientes poli
traumatizados, jovem, que morreu por acidente, a
família entra em desespero. Teve um caso, que eu
vou até citar aqui pra você, de uma moça de vinte e
poucos anos que sofreu um TCE por acidente,
chegou pra gente TCE grave, já agonizando, e
fizemos todas as manobras que a gente fez pra
ressuscitar ela, né, mas ela veio a óbito. E a família
veio atrás em seguida achando que ela tinha sofrido
um acidente bobinho, né, que ela bateu o carro. E
está ali na frente o pai, a mãe e o irmão, aí eu falei:
meu Deus do céu, como que eu vou falar. Aí eu
cheguei na portaria, olhei, e eles estão ali rindo,sabe,
assim, achando que não tinha acontecido nada de
mais. Aí eu peguei, me preparei, pensei e falei: gente
como que eu vou falar pra essa família sendo que ela
está com o rosto deformado. Aí eu pedi licença para a
triagem, falei para a enfermeira da triagem deixar a
sala da triagem, chamei os três, coloquei os três
dentro da sala, e ...coloquei os três sentados, né,
porque eu falei: vai chocar. Aí eu falei: vocês estão
sabendo da filha de vocês? Ah! A gente não está
sabendo...Daí eu falei: olha , aconteceu um acidente
grave com ela, o bombeiro trouxe ela, ela chegou
assim, e comecei a relatar, né, ela chegou pra gente
com TCE, o que que é TCE? é um traumatismo
craniano,ela bateu a cabeça, aí nisso eles já foram
ficando apreensivos, já mudaram totalmente a
fisionomia.E depois que eu dei,eles choraram, tal
,mas assim, achei que a reação ia ser pior, ai eu falei:
olha a filha de vocês ainda está aqui na sala de
emergência, vocês gostariam de ver ela? Eu deixo, eu
dou esta abertura pra família estar vendo.Tem família
que vira e fala pra mim: não enfermeira eu não quero
ver, eu prefiro não, a gente respeita.Mas eu mando
segurar aqui até a família :não eu quero ver, né. E
nesse dia os pais relataram que queriam ver não a
gente quer ver a nossa filha, tal, e ela estava
deformada, ela estava com o rosto deformado, estava
com o rosto completamente deformado, aí eu entrei
na sala com os dois, fechei a porta e acompanhei os
dois também, porque eu acho que você tem que
acompanhar, nesse momento também, porque você
não pode simplesmente largar os dois pra ver e não
estar junto.Eu, se eu não tenho chance de estar
junto,eu prefiro que nem... ninguém entre pra ver,
porque eu acho que tem que ter um profissional ou
enfermeiro ou algum profissional do lado dessa
152
família pra poder, né, prestar algum apoio ali naquele
momento.E eles entram, e no que eles entram , eles
olham pra menina e falaram pra mim: não enfermeira
essa menina aqui não é a nossa filha.Aí eu falei:
gente não é possível que eu dei informação pra
família errada, não é possível ,né. Não , não é minha
filha, dái eu falei: gente eu entreguei os pertences,
eles reconheceram os pertences, tal, aí eu falei: meu
Deus do céu o que que eu fiz ,né. Só que em um
segundo os dois desabaram, assim, e comeram a
chorar, ficaram em choque ,né, porque o rosto da
menina deste tamanho,aí, eles entraram em choque,
ai é que caíram em si, né, foi horrível, foi horrível.
Essas mortes traumáticas assim é...é muito ruim,
a gente fica com um sentimento, assim...meio
ruim dentro da gente assim. Mas ao mesmo tempo,
não sei, assim,com o tempo vai passando e a gente
meio que vai se acostumando, é uma coisa,
assim, é meio....é meio ruim de falar também,
porque parece que o povo fala: nossa são frios,
vocês tratam a morte assim... vocês são tudo frio,
mas não é , você trata a situação, você meio que
começa a acostumar e a lidar com ela da melhor
maneira possível, entendeu? Isso não prejudica
minha vida, da mesma maneira que, assim, é ruim, é
ruim, mas eu também não levo isso pra minha
vida, entendeu, eu saio pra fora daqui, eu saio
com a missão de que eu...dever cumprido, eu fiz o
que eu devia fazer, da melhor forma que eu devia
fazer, entendeu. Às vezes eu me sinto culpada, às
vezes, de não ter dado mais atenção por causa do
nosso corre-corre, de não ter dado mais atenção
pra aquela família daquele paciente, né, que está
ali quietinho, tal. E às vezes eu me sinto meio
culpada de não ter dado assistência, mas
assistência pra aquela pessoa, mais porque, por
causa do nosso corre-corre aqui. Então, não é
com todo mundo de que eu tenho a chance de
sentar e falar: olha, minha senhora, aconteceu
isso, aconteceu aquilo, sabe, de sentar e dar
aquele apoio espiritual, não dá, não dá, porque o
nosso corre-corre aqui não deixa. Então, às vezes
eu me sinto até um pouco culpada de não ter dado
uma atenção maior pra aquela pessoa que às
vezes estava necessitando também, e às vezes
passa batido na gente, por causa do corre-corre.
Mas é uma coisa que, assim, a gente acaba se
acostumando, a gente acostuma, infelizmente a
gente acostuma com essa situação. É um
sentimento, assim, ruim que dá na hora, assim, da
153
gente falar: olha, infelizmente, né, a gente fez tudo
que podia, mas não deu pra salvar. É muito ruim,
é muito ruim mesmo na hora, na hora ali é muito
ruim, mas depois a gente a vai e volta, continua
fazendo nosso trabalho meio como se nada
tivesse acontecido. Mas, assim, a gente não pode
ficar chorando, entendeu, porque se não, a gente
tem que ter estrutura, infelizmente a gente tem
que ter uma estrutura emocional pra lidar com
essa situação, porque se a gente não tem, a gente
não dá conta, não dá conta de ficar no setor de
emergência e ficar dando notícia de óbito a todo o
momento, porque aqui é a todo momento, a todo
momento, todo momento, você tem que ficar
lidando com esse tipo de situação, então se você
não tem um controle emocional pra isso, né, e
chora, ah! tadinho, e chorar com todo mundo e
desabar com todo mundo, né, não! você tem que
ser firme na hora pra você ser o apoio pra aquela
pessoa, eu penso assim, você tem que ter... você
tem que ser um ponto de apoio.E as pessoas
choram, te abraçam e agradecem e .. e conversam
e começam expor os sentimentos dela, então você
tem que estar preparada pra...pra ter respostas
pra aquilo,entendeu, pra poder dar um apoio pra
pessoa , seja lá de que maneira que for, você tem
que está firme ali pra poder apoiar a pessoa. E eu
me sinto bem quando eu consigo fazer isso, sabe,
que as pessoa agradecem, fala obrigada por tudo
que vocês fizeram, pela assistência que meu pai,
meu avô , meu filho teve aqui, né. E eu sempre me
coloco a disposição e aquelas pessoas que não tem
condição, assim, tem uma condição financeira que
não permite estar pagando o funeral pro paciente,
então eu falo: vocês tem condições,a gente tem o
serviço social aqui que pode estar ajudando vocês,
então eu já encaminho, porque a pessoa fica
totalmente desnorteada . Então a gente tem esse
papel também de estar encaminhando, falando: oh! A
gente tem um serviço aqui que pode estar ajudando
você, agora você vai ter que fazer isso, isso e isso,
porque tem gente que não está nem aí, né, se a
pessoa tem condições de estar pagando o funeral pro
paciente ou se não tem, não está nem aí, morreu,
morreu e pronto acabou. E é o nosso papel estar
passando isso, então eu procuro passar da melhor
maneira possível, confortar, porque morte é uma
coisa muito complicada, né, lidar com a morte de
parente, de ente querido, a gente tem que parar e se
por no lugar, como se fosse meu pai, minha mãe,
154
como que eu gostaria de ser tratada nesse momento.
Então eu procuro me colocar no lugar e estar firme e
forte pra poder é.. passar da melhor maneira e dar
assistência pra pessoa. O sentimento não é bom,
não é bom mesmo, mas assim, com os anos que
eu tenho de profissão a gente meio que acaba
acostumando mesmo. É uma situação que a gente
acostuma.
3
4
5
6
Ah! Eu sinto... é um sentimento de dor também ,
de tristeza ,né, muita angustia,
porque é
complicado você tem que informar e você ver a
reação deles e você está ali e você não pode fazer
nada, a única coisa que você pode fazer é.. pegar
na mão, né, é..... é triste!
1º ideia: sentimento
de dor
F
2º ideia: sentimento
de tristeza, angústia
A
Me
sinto... impotente, geralmente
a gente 1º ideia: me sinto
pergunta aonde foi a falha, embora a gente saiba impotente
que muitas vezes não tem, né. É uma situação de G
risco que você não tem como resolver, mas a
gente como profissional a gente se sente
impotente, e ao mesmo tempo é uma sensação
de...é você começar projetar essa perda para vida
particular sua.
Eu procuro não absorver a situação no momento, 1º ideia: eu procuro
absorver
a
né, pra mim poder ter forças pra estar falando, não
no
porque muitas vezes é uma mãe, é um pai, que está situação
perdendo um filho jovem, que..não queria estar momento,
ficar
recebendo aquela notícia, nem naquela hora e nem neutro
tão cedo. Então...apesar de ficar assim...triste, a D
gente tem que ficar neutro, pra gente conseguir dá
apoio pra esse familiar, que nesse momento ta 2 º ideia: triste
A
precisando tanto desse apoio.
A gente... eu me sinto triste, angustiada , me 1º ideia: eu me sinto
coloco no lugar dos familiares, que poderia ser triste, angustiada
um ente querido meu. E a gente fica com aquele A
sentimento de impotência, de ter feito tudo e ao
mesmo tempo não ter feito nada para que não 2º ideia: a gente fica
tivesse ocorrido o óbito. É muito...muito triste.
com
aquele
sentimento
de
impotência
G
155
7
8
9
10
Então...é um momento de tristeza.É...é bem
complicado pra gente falar, só que com o decorrer
do tempo, com o...né, a gente dá tanta informação
,assim, pros familiares que acaba sendo natural, a
morte infelizmente virou uma coisa natural dentro
da área da enfermagem,da área da saúde. Então é
meio que automático, é um momento de tristeza,
eu compreendo que é um momento de tristeza pra
família, mas informar em si é um momento, assim,
natural, virou automático, apesar de ser de tristeza.
É...assim...variedades, né, de paciente pra paciente,
tem paciente que estava no quadro grave, muito
tempo internado.Então hoje, a gente já tem uma
preparação dessa família, psicóloga, né, a gente com
o médico conversa,a gente já chega nele e fala: e ai?
Como que está o quadro? O senhor já vai avisar a
família? Né, porque às vezes ele já fala pra gente: o
caso é grave, já avisa a família.E os que não fala a
gente vai atrás e pergunta.Aqui na clínica médica
quando os residentes estão aqui, eu sempre vou atrás
dele e peço pra eles mesmo comunicar. Agora,
quando não tem, eles não estão no hospital, aí a
gente mesmo comunica. Eu sinto a maior
dificuldade até hoje. Apesar do tempo de casa que
eu tenho, eu ainda tenho muita dificuldade. Além
da dificuldade de passar por isso, eu tenho
dificuldade, até hoje, de falar com a família sobre
aquilo e como me comportar junto... entendeu? Eu
não tenho palavra. Porque é sempre uma pessoa
que está sempre convivendo, falando, informando
o quadro, tal,e a hora que acontece isso é
difícil.Eu me sinto... até hoje eu não estou
preparada.Ah! eu sinto mal, já teve dia de ficar
sem dormir, por.. ah eu podia ter feito isso e não
fiz...mas eu não consigo mesmo, tenho
dificuldade.
Muito constrangido, limitado.
1 º ideia: é um
momento de tristeza
A
2º
ideia:
acaba
sendo
natural,
automático
D
1º ideia: eu sinto a
maior dificuldade
H
2º ideia: eu sinto
mal
B
1º
ideia:
constrangido,limitad
o
G
Em todos casos de óbito, ao informar aos 1º ideia: sentimento
familiares, há sempre um sentimento de tristeza, de tristeza
impotência. Mas apesar de tudo isto, precisamos A
estar preparados para este momento, afim de
apoiarmos os familiares nesta hora tão difícil.
2º ideia; sentimento
de impotência
G
156
11
Me sinto muitas vezes triste pelo familiar e por 1º ideia: me sinto
não ter sido possível salvar o paciente ou muita vezes triste
recobrar a sua saúde; tento encarar como sendo o A
sentido natural da vida,assim, algumas vezes se torna
mais fácil.
12
Ah! Eu me sinto muito mal, foi muito difícil todas
às vezes que eu tive que fazer isso. É...dá uma
tristeza, você tem que ter uma estrutura
psicológica muito boa pra você não fica... porque
se não você fica tão aborrecido quanto os
familiares e você acaba em vez de apoiar
deixando
eles
mais
apreensivos.Foi
um
sentimento muito ruim , muito triste , eu pensei no
ocorrido durante muito tempo, demorei pra tirar
da minha cabeça a lembrança
de todo
acontecido, da
notícia, da reação deles. É
muita...muita... tristeza , é muita dor.
1º ideia: me sinto
muito mal
B
2º ideia: tristeza
A
3º
ideia:
sentimento
ruim
B
um
muito
4º ideia; é muita dor
F
13
Então, o óbito, né, acontece sempre, sempre está
acontecendo, sempre tem um caso a parte assim.
Algum caso que você espera, outro caso que você
não espera. Então, é, por exemplo, a família interna
um paciente e o paciente já está numa situação
delicada, então o familiar já consegue reconhecer que
o tempo de vida é mais curto, né. Somente Deus pra
disser quando a pessoa vai morrer, realmente vai
morrer, mas a gente tem que fazer tudo que puder.
Mas quando o paciente já vem apresentando uma
doença progressiva, né, vai deteriorando aos poucos,
dia a dia, o familiar consegue reconhecer que
realmente a morte pode ser a melhor opção para
evitar o sofrimento do paciente, são questões
altamente éticas, cada um tem um ponto de vista em
relação a isso, né, a gente tem que ser o mais ético
possível. Mas algumas outras situações o paciente
realmente acontece é.. vamos colocar a situação do
idoso e a situação do adulto. Paciente idoso evoluindo
dessa forma como eu acabei de citar, grave, com
alguma doença, já enfermo a muito tempo,então,
esse paciente morreu quando você vai avisar, você às
vezes leva um alívio pra pessoa, né, você leva um
alívio pra pessoa,então, às vezes o paciente muitas
vezes o paciente está internado, na minha situação o
paciente está internado, o paciente vai a óbito e você
vai avisar o familiar e o familiar já entende mais.
Então, você, às vezes, leva um alívio, você leva um
1º
ideia:
alívio,
quando foi feito tudo
que poderia ser feito
E
2º ideia: sentimento
de impotência
G
3º ideia: um pouco
frustrado
G
157
alívio para aquele sofrimento, e você já avisa e já dá o
conforto pra família, então você consegue fazer isso
muito bem. Então é uma situação que você já fez
tudo, você já acompanhou, você já passa por um
processo de luto , de perda ali e você aceita melhor e
passa melhor pro familiar. Então essa situação às
vezes é até agradável de passar. A família é claro,que
o familiar é claro que vai sentir a falta daquela pessoa
, daquela pessoa que eles amavam muito, mas é
muito mais fácil
da pessoa aceitar e
você
comunicar,então você sente um alívio também
junto com a família ,olha o paciente foi a óbito
mais fizemos tudo que poderia ser feito, até
aborda a questão da espiritualidade. Foi necessário
rezar com o paciente a gente rezou, foi necessário a
gente chamar o familiares e encher o quarto, não é da
instituição, você não pode subir com mais de uma
pessoa, mas o paciente estava morrendo , não teria
como fazer mais nada, e a gente trouxe a família dele
e ele morreu com a família dele,então ótimo, é uma
situação de alívio, às vezes você nem precisou avisar
, todo mundo viu o que aconteceu, então você não
precisou informar.Então, a situação é uma situação
de alívio, então a gente fica até gratificado com
isso , a gente sabe tudo que a gente fez, terminou
em óbito terminou, mas era pra ser assim.Agora,
você pega um paciente adulto , uma situação de um
trauma, por exemplo no pronto socorro, paciente de
acidente automobilístico, né, que acontece demais, só
um acidente de moto, mas...ninguém espera que esse
paciente vai morrer, o paciente não tem nenhuma
doença crônica, não tem diabetes , não tem
hipertensão, então está cheio de vida ali, cheio de
esperança, cheio de planos,esse paciente é mais
difícil, é muito difícil de informar. Então, esse
paciente, né, a família esta esperando no convívio
normal, cotidiano normal, vivendo uma vida normal
cheio de esperança, quando sofre um acidente , e a
gente aborda ele no pronto socorro , infelizmente às
vezes vai a óbito, este paciente pra avisar é muito
difícil,porque a família não consegue assim é...não
enxerga esse paciente numa situação...nessa
situação, porque sempre acha que vai acontecer com
os outros, nunca vai acontecer com eles. E você
chega é vai avisar a família, você vê que a família é
uma dor muito grande. Alguns se revoltam com você,
porque você não fez nada, eles se revoltam contra o
serviço, porque que morreu , do que que morreu,
acha que foi erro da gente,às vezes porque que você
não ajudou, mas ele era tão cheio de vida , né. Então
158
14
é uma situação que a gente sente assim é
impotente também, por não ter ajudado, porque a
gente sempre esta tendo aquela compaixão com o
paciente, né, principalmente a gente que é
enfermeiro. Então você olha para um paciente aos 20
, 25 anos morrendo por uma trauma, a gente analisa
todo um contexto. Então na hora de informar a
gente sente um sentimento de impotência; a gente
carrega isso com a família, né , a família vem fala, vai
falar né, nossa mas porque , 28 anos, cheio de
vida;então você traz essa bagagem da família e você
começa pensar, nossa será que agente fez tudo
realmente, será que a gente poderia ter feito diferente
.Como nós somos uma equipe multiprofissional, às
vezes a gente pensa que o outro profissional poderia
ter feito melhor, a gente mesmo poderia ter feito
melhor.Então são estas situações assim que às
vezes deixa a gente um pouco frustrado, porque
você não consegue resolver tudo e a morte não dá
pra controlar, principalmente em situações
inesperadas.Então, quando a gente vai informar,
você não se sente um alívio como naquela situação
do idoso; na situação do adulto você sente uma
situação de impotência, porque assim, você tem um
crescimento interior assim muito grande de acordo
com essas situações que vão acontecendo.Então
você sente uma sensação de impotência, uma
sensação de voltar-se para o seu interior , de
pensar, com essas situações. Agora depende muito
do profissional, de como ele evolui dessa forma, de
acordo com a situação, tem gente que cresce com
isso , tem profissional que não, é uma pena né.
Então, toda situação que a gente vai vivendo a gente
vai crescendo, você sente.. é um sentimento de
impotência, você se volta pra dentro, começa
pensar na sua vida também, então tudo isso serve
pra crescimento.Então, basicamente é isso , são duas
situações que você vai avisar a família, e uma você
vê realmente que você se sente impotente e
outra você leva um alívio, então é isso. Considero
essas as duas vertentes.
Particularmente não gosto, e acho que esta
informação cabe ao médico, pois normalmente é ele
que acompanha e conduz o caso, porém se eu tiver
de informar , me sinto muito triste, mal e
impotente.
1º ideia: me sinto
muito triste
A
2º ideia: mal
B
3º ideia: impotente
G
159
15
16
17
Então, assim, é... complicado, né, principalmente
quando é criança e jovem,assim, porque a gente está
preparado pro idoso, mas pra essa faixa etária a
gente não está preparada, né, e assim, é... quando
também o paciente ficou muito tempo com a
gente,assim, a gente começa conhecer a família, né,
então, assim...é angustiante, assim, às vezes você
se envolve, você não pode se envolver mas você
acaba se envolvendo, né, é triste, né. Mas a gente
também, assim... eu que trabalho a mais tempo a
gente vai ,assim,vamos falar entre aspas
“acostumando”, né, mas é..é bem difícil.
Mesmo não conhecendo muitas vezes os
familiares, sentimos tristeza, pois todos nós já
perdemos alguém querido e isso é de grande
sofrimento.
1º ideia: angustiante
A
É muito doloroso. Apesar de sentir que o paciente
está sofrendo muito, ao informar a família sobre o
óbito sinto um vazio dentro de mim. Me coloco no
lugar dos familiares e junto com eles sofro por
dentro e tento ao máximo confortá-los nem que seja
com um abraço.
1º ideia: é muito
doloroso
F
18
Sinto muita das vezes entristecida, porém o fato de
tentar dar todo o suporte, atenção e cuidado possível
ao paciente me conforta. Às vezes nos apegamos ao
paciente ou até mesmo a família, mas temos que não
nos abalar e fazer a nossa parte, sermos
profissionais, além de tudo.
19
Sinto-me infinitamente triste como se fosse ter
que informar minha própria família. Querendo ou
não acontece o apego entre o profissional e o
paciente, principalmente aquele que permanece
internado por um longo período. É um sentimento de
perda mesmo.
20
2º ideia: a gente vai
acostumando
D
1º ideia: sentimos
tristeza
A
2º ideia: sinto um
vazio dentro de mim
A
1º ideia: Sinto muita
das
vezes
entristecida
A
1 º ideia: Sinto-me
infinitamente triste
A
2º ideia: É um
sentimento de perda
mesmo
I
Me sinto bastante tenso e chega a faltar palavras 1º ideia: Me sinto
dependendo da reação dos familiares.
bastante tenso
J
160
ANEXO E - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Médico - Pergunta 1
QUESTÃO 1 - Para você o que significa informar o óbito aos familiares?
1º IC: Fazer as pessoas sofrerem
Nº
M1
EXPRESSÕES CHAVES
Significa que eu vou fazer uma, várias pessoas sofrerem. Significa que
a gente está fazendo as pessoas sofrerem.
2º IC: Situação difícil, complicada, desconfortável e de agressão para o profissional
Nº
M1
M2
M5
M 10
M 11
M 12
M16
M 18
M 19
EXPRESSÕES CHAVES
É uma coisa muito ruim, nem sempre a gente gosta de estar
informando isso.
É uma coisa triste, a gente se coloca muito no lugar do familiar
também.
Lógico que não sente bem. Informar o óbito a um familiar é uma das
tarefas mais... mais difícil da prática, é... médica, da prática de um
modo geral de todo profissional de saúde. É uma tarefa árdua, difícil.
Acredito que esse é o momento mais difícil da relação médico,
paciente e familiares.
É um sofrimento, significa sofrimento, porque... além da gente passar
pelo sofrimento de estar perdendo o paciente também, a gente sente
com isso, é... você ainda tem que tirar força. A primeira vez, você fica
...como você...você mesmo tivesse recebendo a notícia, fica meio sem
ação, mas é...é bastante complicado.
Eu tento evitar, porque eu acho uma situação desconfortável.
Sentimento de tristeza.
Era duro demais.
Eu me sinto agredida de ter que informar
3º IC: Condição inerente da profissão
Nº
M2
M4
M6
M 12
M 14
EXPRESSÕES CHAVES
É importante o trabalho que faz parte, é uma coisa que faz parte do
nosso trabalho.
É uma condição inerente a profissão médica, visto que a morte é um
evento. Significa um cargo e faz parte do serviço e responsabilidade
médica.
Informar o óbito a um familiar é uma das tarefas da prática de um
modo geral de todo profissional de saúde. É inerente da prática do dia
a dia.
Uma tarefa que faz parte do serviço.
Função do profissional, isso é o que significa.
161
M 15
M 17
M 18
Acho que faz parte da rotina da gente. Isso aí nada mais é do que mais
uma forma de consulta, uma rotina na vida da gente.
O exercício profissional. É um dever meu.
Era um serviço como outro qualquer.
4º IC: Fácil, se o óbito era esperado
Nº
M3
M5
EXPRESSÕES CHAVES
Se os familiares conheciam a gravidade é mais fácil, pois o óbito era
esperado.
Agora quando o paciente já mais idoso chega a morbidade fica mais
fácil pra gente.
5º IC: Ser honesto e objetivo
Nº
M3
M 20
EXPRESSÕES CHAVES
Se não havia gravidade, sou objetivo: “o paciente foi a óbito”. É melhor
o impacto da morte.
Significa ser o mais honesto e objetivo possível, não omitindo nenhum
detalhe sobre o quadro clínico e sobre o motivo que levou ao óbito.
Resumindo, falar sempre a verdade e sem embromação, embora seja
um momento doloroso, você não pode fugir disso.
6º IC: Falha no sucesso terapêutico, se o paciente é jovem
Nº
M5
EXPRESSÕES CHAVES
Quando o paciente é mais novo pra mim é uma falha no sucesso
terapêutico
7º IC: Transmitir um desfecho de maneira diferenciada
Nº
M6
M7
EXPRESSÕES CHAVES
Significa dá a notícia, mas sempre com um caráter humano e
respeitando a dignidade, a individualidade da família.
Significa transmitir um desfecho. Então significa... cuidado, significa
atenção, significa é...solidariedade.
M 10
O mais importante creio eu... minimizar as dores da família. mais
importante é minimizar essa dor ... na vida desses entes que... que vão
perder um ente querido, então o mais importante mesmo é minimizar as
dores dos familiares.
M 11
Ter um jeito especial pra consegui passar isso de uma forma mais
amena pro familiar.
Então acima de tudo é um dever profissional meu, tem que ser feito
M 17
162
com uma certa sutileza, não é simplesmente dar a notícia de uma
maneira diferenciada, cada ser humano vai reagir de um jeito, então
não é só simplesmente informar o paciente, é tentar esclarecer e
explicar o que aconteceu e o que justifica para aquela situação
naquele momento.
8º IC: Perda irreparável para a família e limitação para o médico.
Nº
M6
M8
M9
M 13
M 16
M 19
EXPRESSÕES CHAVES
É o fim da linha do ponto de vista médico.
Eu acredito que é informar que aquele ente querido, né, foi embora, né,
e você nunca mais vai vê-lo, então é informar uma perda que é
irreparável. A gente está informando que houve uma perda e aquilo
não vai, não existe mais volta. A gente tem um certo limite, né, então
você chego ao seu limite e você não vai pode fazer mais nada,
informar pra família a nossa humanidade também, então nós tentamos
até o ponto que foi possível e depois disso nós não podemos fazer
mais nada. Então assim, de certa forma, você informa pra família que
nós também somos... é..
nós somos limitados, né, até certo
ponto.significa a nossa limitação como médico, né, como ser humano,
né. Nós não somos deuses, né, nós não somos deuses, a gente não
consegue fazer além do limite nosso, né. Então a gente... significa a
perda pra família, né, e significa também a nossa limitação como ser
humano, como médico.
Informar o óbito significa informar o fim, né, e pra maioria das pessoas
o fim é muito doloroso. Então o fim, é ...a gente chega e fala:oh! é o fim
, acabou, e aí, o pra nunca mais serve nessa hora, aí é nunca mais
mesmo, então, nunca mais você vai ver a pessoa, nunca mais ela vai
estar presente na sua vida, então, é o único momento na vida do ser
humano que o “nunca mais” cabe. Então informar pra família o óbito é
informar o “nunca mais” do ser, do ente querido dessa pessoa.
Dar conhecimento de que aquele ente querido não mais vai voltar, não
vai mais fazer parte de sua vida.
Impotência perante a morte.
É.. chegar e dizer que vai ter uma separação. Infelizmente a mãe ou
pai daquela criança nunca mais terá aquele ente querido com ele.
Dizer assim, que haverá uma separação, simplesmente eles não
estarão mais juntos. Os dois terão que ser separados, a criança do pai
com a mãe.
9º IC: Algo técnico e mecanizado
Nº
M 18
EXPRESSÕES CHAVES
Técnico demais, muitas vezes a gente não tinha entrado em contato
com o paciente, a gente só sabia que a criança tinha morrido. E assim
que a gente informava de uma forma bem mecanizada, a gente si
afastava, a gente não se envolvia com o sofrimento deles.
163
ANEXO F - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Médico - Pergunta 2
QUESTÃO 2 - Como você se sente ao ter que informar o óbito aos familiares?
1º IC: Muito mal, agredido, não aceitação
Nº
M5
M7
M8
M 13
M 17
M 19
EXPRESSÕES CHAVES
Atestar óbito a paciente jovem e não foi nada bom, não teve uma boa
aceitação pra gente médicos também não.
Não é um sentimento muito bom, mas ele faz parte do nosso dia a dia.
Eu, pessoalmente, eu me sinto muito mal de ter que informar. Quando
é uma fatalidade, um acidente automobilístico, um trauma...
uma...previamente hígida que não tinha nada... e foi a óbito assim
muito abruptamente, isso pro médico é muito difícil de aceitar... pro
médico também é difícil de aceitar.
Angustiado.
É uma sensação bem desagradável, porque ninguém gosta de dar
notícias ruins pra ninguém... não é muito agradável ...eu não me sinto
muito bem.
Eu me sinto agredida...me sinto muito mal tendo que informar , mesmo
sabendo que isso faz parte do processo, do óbito... agredida de ter que
passar isso pra família.
2ºIC: Triste
Nº
M2
M5
M9
M 10
M13
M 14
M 15
M 16
M 17
M 18
M 19
M 20
EXPRESSÕES CHAVES
A gente fica muito triste, O primeiro sentimento é de tristeza mesmo.
Eu me senti... fiquei uns três dias pensando nisso... muito triste.
Tem hora que a gente chora junto, tem hora que a gente não consegue
falar... várias vezes...eu choro antes da família. apesar de,né, as
pessoas acharem que o médico não tem sentimento, que a gente é
muito frio não é não.
A gente sente muito nesse momento, às vezes a gente fica até sem
palavras pra falar pra família de tanto vínculo que a gente criou com
esse paciente.
Angustiado.
A gente si sente parte daquilo... é impossível ser imparcial.
Dificilmente a pessoa sai bem, dorme bem, geralmente sempre fica
chateado.
Tristeza.
É um sentimento de tristeza.
Eu acho que eu abraço a notícia, todas as vezes eu choro junto.
A gente se sente emocionalmente abalada.
Eu me sinto como uma parte triste da minha profissão.
164
3º IC - Sem envolvimento emocional
Nº
M1
M3
M 12
EXPRESSÕES CHAVES
Porque pra gente a gente é um pouco frio, a gente lida com isso todo
dia, então tem assim muitos casos graves que a gente fala: olha
descanso. é um papel que até a gente não sente tanto porque não faz
parte da família da gente. a gente vê que a família está sofrendo, mas
não... não aquele sentimento seu, é diferente se fosse um parente seu.
Então a gente sente mal por ter também esse sentimento, por ser tão
frio, mas se você não for assim, você não consegue trabalhar num
serviço de urgência e emergência, então você tem que ser.
De forma natural. A vivência nos traz entender o ato de nascer-morrer.
Não...não me dá tristeza porque já ficou assim tão rotina, por causa da
freqüência. Eu trabalho com terapia intensiva, por eu está na UTI,
então acontece, às vezes, duas ,três vezes no dia deu te que dá
notícia de óbito, então assim, se tornou uma rotina tão comum que pra
mim é mais uma tarefa, faz parte do serviço, não mais aquela...
sensibilidade tudo.se você começa senti todo esse sofrimento e se
envolve demais com a família, eu vou ser eternamente deprimida,
porque eu vejo óbito várias vezes ao dia, todo dia, então se eu for
envolver muito emocionalmente, eu vou ter que fazer tratamento eterno
com psiquiatra, vou ter que tomar antidepressivo eternamente, não tem
como assim.. você se envolver tanto. não faz diferença pra mim, eu
não me envolvo emocionalmente.
4º IC- Aceitação, alívio
Nº
M4
M5
M8
M 10
M 17
EXPRESSÕES CHAVES
Quando a morte é esperada há um certo alívio em dar a notícia,
porque é como se houvesse o fim de um sofrimento.
Mais fácil se está esperando, geralmente paciente idoso, tipo
morbidade... tem uma aceitação melhor.
Quando... você fez tudo que você sabia que seria feito... realmente
não teria como... ela iria morrer de qualquer forma, isso é um pouco
melhor aceito pra gente. A qualidade de vida dela, depois daquele fato
seria muito ruim ou ela sofreria muito, né, então assim, é um pouco
mais, melhor aceito pela gente, pelo médico.
Primeiramente a gente se tem um dever tranqüilo de que se foi feito de
tudo pra tentar salvar a vida desse paciente.
É uma doença terminal então a gente até se senti um pouco mais
confortado pelo fato de saber que aquilo não tem reversibilidade.
5º IC- Dor
Nº
M4
M8
EXPRESSÕES CHAVES
Mas quando a morte não é esperada a informação é dolorosa.
Pra mim significa uma dor mesmo, mais de qualquer forma é doloroso
a informação do óbito.
165
6º IC - Responsabilidade diante da família
Nº
M9
EXPRESSÕES CHAVES
É um sentimento assim de ... o ser humano de uma maneira geral
enxerga nós médicos, né, uma pessoa assim que eles entregaram seu
ente querido pra gente, pra gente devolve-lo de uma maneira boa, a
gente sente uma responsabilidade muito grande,né, porque é a hora
em que a família chora, que a família se desespera e nós temos que
ficar forte diante deles, né, porque eles tem na gente uma pessoa
importante nesse horário.
7º IC- Impotência
Nº
M2
M7
M 11
M 15
M 17
M 19
EXPRESSÕES CHAVES
É como se você tivesse tido um insucesso no seu tratamento, porque a
gente forma médico a gente quer salvar, nunca a gente quer que a
pessoa morra.
É um sentimento de incapacidade, de impotência.
Bom, pra mim... é uma sensação de impotência diante do familiar,
porque a gente nunca quer que morra. E se você está cuidando de um
paciente e a hora que ele vai à óbito você vai dar essa notícia é como
se você não tivesse conseguido seu objetivo, você não conseguiu
aquilo que é tua função. no primeiro momento é uma sensação de
impotência, porque você queria dá de volta aquele paciente pra família,
mais às vezes não é possível.
Sentimento de impotência de não ter conseguido salvar a pessoa, é
esse o sentimento que fica.
É um sentimento de incapacidade, de não ter podido ajudar ou de não
ter condições de não ter feito nada pra poder reverter a situação.
Eu como médico não consegui dá conta.. não teve jeito... está além da
nossa capacidade, infelizmente a gente se senti incapaz naquele
momento, não consegui dá conta e tem que informar aquilo pra mãe.
Então eu me sinto incapaz.
8º IC- Perda
Nº
M7
M8
M 16
M 17
EXPRESSÕES CHAVES
É um sentimento às vezes de perda.
Essa informação de perda é muito difícil. Então assim, pro médico isso
é uma perda tem pessoas que lidam melhor com isso, tem pessoas
que não lidam, né, que carregam isso pra sua vida pessoal. A perda do
paciente.
Perda de um paciente.
Em alguns casos ... é uma perda.
9º IC- Segurança e profissionalismo
Nº
M6
EXPRESSÕES CHAVES
É... me sinto com segurança.
166
M 16
M 17
eu tenho que me colocar como profissional e relatar o ocorrido aos
familiares. É... sem deixar aparecer os meus sentimentos como
pessoa, como choro, feição de tristeza. Eu tenho que me colocar como
profissional.
Tem que ser feito com certo profissionalismo, então a gente tem que
ser bem profissional. A gente tem que cumprir com o exercício daquilo
que foi programado pra gente.
167
ANEXO G - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD2) Enfermeiro - Pergunta 1
QUESTÃO 1 - Para você o que significa informar o óbito aos familiares?
1º IC: Algo importante
Nº
E1
EXPRESSÕES CHAVES
É uma parte muito importante, é uma das partes mais importante, né,
até do óbito mesmo , porque envolve muita coisa, né.
E3
Eu acho que pra parte da enfermagem é importante, porque a gente
está ali a gente pode dar todo apoio. Eu vi que é importante, tem que
estar ali, tem que prestar, e dar toda ajudam pro familiar e tem que
apoiar mesmo, é importante que o enfermeiro esteja junto para
informar, pra dar o apoio.
2º IC: Situação difícil
Nº
E2
EXPRESSÕES CHAVES
É uma situação...é difícil, é complicado, porque ,assim , morreu dentro
do hospital, dentro do seu ambiente de trabalho. informar o óbito não é
só chegar lá e falar: seu paciente, seu parente morreu, faleceu, não é
só isso, existem outras coisas envolvidas no óbito, né... Então assim,
eu preciso falar o que que aconteceu, o que que fez, o que que não
fez, o por que que morreu... Então dar a notícia de óbito não é
simplesmente chegar lá e falar que a pessoa morreu, né, então você
tem que chegar lá preparado pra o que você vai falar...Então assim, é
complicado, então não é só a notícia de que o parente morreu, né,
você tem que ver uma leva de coisas atrás, né, não é só a notícia do
óbito em si, né, você tem que falar tudo ali, o que aconteceu, como que
estava, como que não estava, o que que foi feito, o que que não foi
feito... Dá a notícia do óbito não é só simplesmente falar que a pessoa
morreu, né, você tem que estar, assim,completamente respaldada de
coisas... então é um pouquinho complicado, né, não é tão simples
assim.
E7
É um momento muito delicado...É um momento delicado, porque... a
gente não sabe qual que é reação da família, a gente não sabe se era
aquilo que a família tava esperando. Então é uma... uma situação
muito... complicada pra gente também, porque a gente tem que está
preparada psicologicamente.
É uma coisa que a gente não sente bem em ter que falar isso.
Momento muito difícil, mesmo porque não estamos respaldados e nem
preparados para responder a todas as perguntas que poderão ocorrer.
Lidar com os sentimentos humanos é muito complexo, haja vista o
grau de aceitação, compreensão do sofrimento.
Significa um momento muito difícil.
É um momento muito difícil pra mim, pois... às vezes acabo me
E8
E9
E 10
E 11
168
E 12
E 13
E 18
envolvendo no sofrimento do familiar.
É uma coisa bem complicada. É uma tarefa bem difícil, porque assim
que você dá a notícia tem todo um... uma não aceitação, né, ao que
acontece... é bem complicado.
Então é uma situação assim...é meio.. assim, você não sabe como
dizer, né... Então é uma situação muito delicada, muito difícil, não é
fácil de dizer.
É uma tarefa difícil para o enfermeiro.
3º IC: Insucesso
Nº
E4
E5
E 13
EXPRESSÕES CHAVES
Informar o óbito pros familiares é você...chegar para a família e falar:
“não teve uma vitória”, o que nós esperávamos de sair vitoriosos
perante a situação, perante o processo morrer... não deu... é... um
sentimento de...quase assim de...”eu não consegui” resolver o
problema seu, resolver o problema de seu ente querido.
É uma sensação, pra mim, um pouco de impotência, assim, às vezes
pode ser uma falha que a gente tenha cometido.
É um significado, quando você vai informar né, que você não
conseguiu né, que você fez tudo, mas não conseguiu.
4ºIC: Resultado negativo
Nº
E4
E 8E 12
E 13
E 14
EXPRESSÕES CHAVES
Nós estamos passando um resultado negativo... um resultado negativo
tem como você reverter, mas nessa situação não tem como.
É uma notícia ruim.
Então é um significado muito pesado, muito forte.
É... você tirar a esperança de alguém que estava com esperança de
você resolver o problema, significa a falta de esperança que você leva
pro familiar... E ela estava cheia de esperança, então o significado é
você tirar essa esperança... Então o que significa... é você tirar a
esperança de vida, porque eles chegam com uma esperança que você
vai resolver o problema, e você chama ele e aquela esperança não
tem, não tem mais esperança, o paciente já foi a óbito.
Na verdade é como comunicar o nosso próprio fim, uma frase de
tristeza e de pesar.
5º IC: Experiência dolorosa
Nº
E 10
E 12
E 17
EXPRESSÕES CHAVES
Ser portadora de uma notícia tão dolorosa para a família, é uma
experiência também dolorosa para mim.
Pra mim significa, assim, muita dor.
Apesar de muito tempo na profissão, significa algo que mexe ainda
com o sentimento.
169
6º IC: Uma responsabilidade
Nº
E6
E 15
E 20
EXPRESSÕES CHAVES
Significa uma responsabilidade muito grande, porque os familiares tem
que entender o que levou ao óbito, é muito difícil às vezes pro familiar
compreender que foi realizado de tudo para evitar o ocorrido.
Eu acho que é uma necessidade, né, que a pessoa tem, a gente tem
que informar o mais rápido possível a partir do momento que
aconteceu.
Significa ter uma responsabilidade muito grande, pois não sei como os
familiares podem reagir, devido ao momento de perda.
7º IC: Depende do motivo do falecimento
Nº
E2
E 16
EXPRESSÕES CHAVES
É mais difícil dar a notícia pra aquela pessoa que não estava
esperando do que aquela que já estava esperando.
Depende do motivo do falecimento, pois quando já esta em sofrimento
muitas vezes os familiares aceitam de forma mais serena, e outras
vezes mesmo assim acham que poderíamos ter feito mais pelo
paciente.
8º IC: Um ato de solidariedade
Nº
E 11
E 19
EXPRESSÕES CHAVES
Procuro ser o mais humana possível ao passa a notícia do óbito, tento
ser o mais empática possível, pois é um momento doloroso do familiar
que deve ser respeitado.
Informar o óbito significa um ato de atenção para com a família; um ato
de solidariedade perante uma situação desagradabilíssima.
170
ANEXO H - Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD2) Enfermeiro - Pergunta 2
QUESTÃO 2 - Como você se sente ao ter que informar o óbito aos familiares?
1º IC: Triste
Nº
E1
E3
E5
E6
E7
E 10
E 11
E 12
E 14
E 15
E 16
E 18
E 19
EXPRESSÕES CHAVES
É um sentimento... na verdade é triste, porque a gente imagina como
se fosse com a gente, como se fosse com um parente querido nosso...
a gente acaba vendo a tristeza da família... e isso normalmente mexe
muito com a gente.
É um sentimento de tristeza, muita angustia... porque é complicado
você tem que informar e você ver a reação deles e você está ali e você
não pode fazer nada, a única coisa que você pode fazer é.. pegar na
mão, né, é..... é triste!
Ficar assim...triste.
Eu me sinto triste, angustiada , me coloco no lugar dos familiares, que
poderia ser um ente querido meu... É muito...muito triste.
É um momento de tristeza
Em todos casos de óbito, ao informar aos familiares, há sempre um
sentimento de tristeza.
Me sinto muitas vezes triste pelo familiar e por não ter sido possível
salvar o paciente ou recobrar a sua saúde.
Dá uma tristeza, você tem que ter uma estrutura psicológica muito boa
pra você não fica... porque se não você fica tão aborrecido quanto os
familiares e você acaba em vez de apoiar deixando eles mais
apreensivos... um sentimento muito triste... eu pensei no ocorrido
durante muito tempo, demorei pra tirar da minha cabeça a lembrança
de todo acontecido, da notícia, da reação deles.
Me sinto muito triste.
É angustiante, assim, às vezes você se envolve, você não pode se
envolver, mas você acaba se envolvendo, né, é triste.
Mesmo não conhecendo muitas vezes os familiares, sentimos tristeza,
pois todos nós já perdemos alguém querido e isso é de grande
sofrimento.
Sinto muita das vezes entristecida
Sinto-me infinitamente triste como se fosse ter que informar minha
própria família.
2º IC: Mal
Nº
E1
E2
E8
E 12
EXPRESSÕES CHAVES
É desagradável, eu particularmente não gosto dessa parte não.
Essas mortes traumáticas assim é...é muito ruim, a gente fica com um
sentimento, assim...meio ruim dentro da gente assim. O sentimento
não é bom, não é bom mesmo.
Eu sinto mal, já teve dia de ficar sem dormir, por.. ah eu podia ter feito
isso e não fiz...
Ah! Eu me sinto muito mal.
171
E 14
Me sinto mal.
2º IC: Culpado
Nº
E2
EXPRESSÕES CHAVES
Às vezes eu me sinto culpada, às vezes, de não ter dado mais atenção
por causa do nosso corre-corre, de não ter dado mais atenção pra
aquela família daquele paciente, né, que está ali quietinho, tal. E às
vezes eu me sinto meio culpada de não ter dado assistência, mais
assistência pra aquela pessoa, mais porque, por causa do nosso correcorre aqui. Então, não é com todo mundo de que eu tenho a chance de
sentar e falar: olha, minha senhora, aconteceu isso, aconteceu aquilo,
sabe, de sentar e dar aquele apoio espiritual, não dá, não dá, porque o
nosso corre-corre aqui não deixa. Então, às vezes eu me sinto até um
pouco culpada de não ter dado uma atenção maior pra aquela pessoa
que às vezes estava necessitando também, e às vezes passa batido
na gente, por causa do corre-corre.
3º IC: Alívio e conforto
Nº
E2
E 13
E 18
EXPRESSÕES CHAVES
Você tem que está firme ali pra poder apoiar a pessoa. E eu me sinto
bem quando eu consigo fazer isso, sabe, que as pessoa agradecem,
fala obrigada por tudo que vocês fizeram, pela assistência que meu
pai, meu avô , meu filho teve aqui.
Então você sente um alívio também junto com a família ,olha o
paciente foi a óbito mais fizemos tudo que poderia ser feito. Então, a
situação é uma situação de alívio, então a gente fica até gratificado
com isso , a gente sabe tudo que a gente fez, terminou em óbito
terminou, mas era pra ser assim... você vai avisar a família... e outra
você leva um alívio.
O fato de tentar dar todo o suporte, atenção e cuidado possível à
família me conforta.
4º IC: Dor
Nº
E3
E 12
E 17
EXPRESSÕES CHAVES
É um sentimento de dor.
É muita dor.
É muito doloroso. Me coloco no lugar dos familiares e junto com eles
sofro por dentro.
5º IC: Impotente
Nº
E4
E6
EXPRESSÕES CHAVES
Me sinto... Impotente, geralmente a gente pergunta aonde foi a falha,
embora a gente saiba que muitas vezes não tem, né. É uma situação
de risco que você não tem como resolver, mas a gente como
profissional a gente se sente impotente.
A gente fica com aquele sentimento de impotência, de ter feito tudo e
ao mesmo tempo não ter feito nada para que não tivesse ocorrido o
172
E9
E 10
E 13
E 14
óbito.
Limitado.
Em todos casos de óbito, ao informar aos familiares, há sempre um
sentimento de...impotência.
É uma situação que a gente sente assim é impotente também, por não
ter ajudado. Então na hora de informar a gente sente um sentimento de
impotência. Então são estas situações assim que às vezes deixa a
gente um pouco frustrado, porque você não consegue resolver tudo e a
morte não dá pra controlar, principalmente em situações inesperadas.
na situação do adulto você sente uma situação de impotência. Então
você sente uma sensação de impotência, uma sensação de voltar-se
para o seu interior , de pensar, com essas situações. É um sentimento
de impotência, você se volta pra dentro, começa pensar na sua vida
também. Você vai avisar a família... você vê realmente que você se
sente impotente.
Me sinto impotente.
6º IC: De forma natural
Nº
E2
E7
E 15
EXPRESSÕES CHAVES
Você meio que começa a acostumar e a lidar com ela da melhor
maneira possível, entendeu? É uma coisa que, assim, a gente acaba
se acostumando, a gente acostuma, infelizmente a gente acostuma
com essa situação. Depois a gente vai e volta, continua fazendo nosso
trabalho meio como se nada tivesse acontecido.
Com o decorrer do tempo, com o...né, a gente dá tanta informação
,assim, pros familiares que acaba sendo natural, a morte infelizmente
virou uma coisa natural dentro da área da enfermagem,da área da
saúde. Então é meio que automático. Informar em si é um momento,
assim, natural, virou automático.
Eu que trabalho a mais tempo a gente vai ,assim,vamos falar entre
aspas “acostumando”.
7º IC: Dificuldade
Nº
E8
E 12
EXPRESSÕES CHAVES
Eu sinto a maior dificuldade até hoje. Apesar do tempo de casa que eu
tenho, eu ainda tenho muita dificuldade. Além da dificuldade de passar
por isso, eu tenho dificuldade, até hoje, de falar com a família sobre
aquilo e como me comportar junto... entendeu? Eu não tenho palavra.
Porque é sempre uma pessoa que está sempre convivendo, falando,
informando o quadro, tal, e a hora que acontece isso é difícil. Eu não
consigo mesmo, tenho dificuldade.
Foi muito difícil todas as vezes que eu tive que fazer isso.
8º IC: Muito constrangido
Nº
E9
EXPRESSÕES CHAVES
Muito constrangido.
173
9º IC: Vazio e perda
Nº
E4
E 17
E19
EXPRESSÕES CHAVES
É uma sensação de...é você começar projetar essa perda para vida
particular sua.
Ao informar a família sobre o óbito sinto um vazio dentro de mim.
É um sentimento de perda mesmo.
10º IC: Tenso
Nº
E 20
EXPRESSÕES CHAVES
Me sinto bastante tenso e chega a faltar palavras dependendo da
reação dos familiares.
174
ANEXO I – Parecer Consubstanciado de aprovação do trabalho pelo Comitê de
Ética em Pesquisa
175
176
ANEXO J – Parecer Consubstanciado N° 588/2010
177

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