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AC COBRA
SONHANDO COM OS CAMPEONATOS MUNDIAIS
O “carro de Ken Miles”
que acabou desistindo de repará-lo, e
também de participar de competições
por conta própria.
Cerca de uma hora depois, o CSX2287
parou no boxe por meia hora para reparos
no alternador. Mal o carro saiu do boxe, o
outro Daytona parou para
reabastecimento e substituição das rodas
traseiras, o que foi feito em apenas dois
minutos. Pouco depois da uma da tarde, o
CSX2287 voltou ao boxe para mais uma
Stirling Moss entrevista
os vitoriosos da classe
GT, Gurney e
Bondurant. Atrás deles
está Carroll Shelby.
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tentativa de conserto do alternador;
porém, ao cabo de uma hora, a bateria
teve de ser substituída. Essas infrações ao
regulamento, que implicavam a
desclassificação imediata, eram o que os
inspetores de prova viviam procurando
pelos boxes.
Depois de treze horas de prova, o
Daytona restante chegou à terceira posição,
seguido do também único GT40, que
acabou parando por conta de problemas
no câmbio, a exemplo do ocorrido com
outro carro da equipe.
Ao parar no boxe para reabastecimento
e troca de óleo e das pastilhas de freio, o
Daytona foi ultrapassado por um dos
protótipos Ferrari, voltando ao quarto
lugar. No domingo pela manhã, surgiu
um vazamento de óleo que o obrigou a
parar no boxe para reparos no radiador de
óleo, um procedimento que consumiu
muito tempo. Com isso, foi ultrapassado
por um Ferrari GTO, perdendo a liderança
da classe GT e, duas horas depois, após
mais uma longa parada no boxe, acabou
eliminado da prova.
Daí em diante, nas seis horas restantes,
os quatro primeiros carros mantiveram
suas posições. Quando faltava pouco
menos de uma hora para o término da
corrida, o Ferrari que estava na liderança,
pilotado por Guichet e Vaccarella, quebrou
o recorde de distância e, na chegada, às
16h, eles haviam percorrido um total de
4.695 km. Em seguida, chegaram dois
outros protótipos Ferrari e o Cobra
Daytona, com 4.492 km percorridos,
vitorioso na classe GT. Logo atrás vieram
dois GTO, com o mais bem colocado deles
apenas 21 km atrás.
Os dois franceses do Cobra roadster
tiveram uma participação razoável, sem
grandes percalços, terminando em 18º
lugar na classificação geral e 11º na classe
GT. Nada de excepcional, mas, pelo menos,
terminaram a corrida.
Desde o início de seu envolvimento com os
Cobras, Ken Miles talvez tenha sido quem
mais contribuiu para o desenvolvimento de
suas versões de corrida. Talentoso como
poucos, Miles era engenheiro de
desenvolvimento, mecânico, piloto de
provas e de corridas. Ele entrou na
organização Shelby como diretor de
competições, mas sua atuação foi muito
mais ampla.
Em 1964, a AC Cars produziu uma série
de Cobras com as mesmas especificações
dos carros FIA, destinados a competir nas
corridas do USRRC. Os carros eram o
CSX2431, 2488, 2494, 2513, 2557 e 2558, e o
primeiro deles foi despachado no final de
abril. Ken Miles, auxiliado por Charlie
Agapiou (que já tinha trabalhado para ele
antes e havia passado a trabalhar na
Shelby), começou a preparar o CSX2431
para a próxima temporada, além de
modificá-lo muito. Desde sua primeira
corrida, em junho, em Watkins Glen, onde
participou do Campeonato de Fabricantes,
até a última ocasião em que competiu na
equipe, em Laguna Seca, em maio de 1965
(quando também venceu o Campeonato de
Fabricantes), o carro foi pilotado apenas por
Ken Miles. A única exceção ocorreu em abril
de 1965, em Pensacola, quando se
classificou em segundo na classe GT, com
Bob Johnson ao volante.
Este carro tinha algumas características
especiais, resultantes de aprimoramentos
constantes e experiências feitas por Miles e
Agapiou. Entre elas, destacam-se a
suspensão modificada com braços
triangulares e juntas Heim em conjunto
com molas mais curtas. Miles preferia
barras estabilizadoras mais finas, com 16
mm na traseira e 17 mm na frente,
também com juntas Heim. No carro foram
testados, pela primeira vez, outros
equipamentos desenvolvidos para
competições, como discos de freio
perfurados e o arranjo de carburadores
Weber, que depois passou a ser utilizado
nos Cobras de 4,7 litros. Com isso, o
CSX2431 se tornou o carro mais avançado
daquele lote.
Ninguém se importava muito com
antigos carros de corrida e, apesar de toda a
Os pilotos e demais
integrantes da equipe
Shelby utilizavam peças
de uniforme como
camisetas e jaquetas, em
geral com seus prenomes
ou apelidos bordados.
Esta é uma das jaquetas
de Ken Miles, ao lado do
seu capacete Bell.
Sempre diferente, ele
mandou instalar no
2431 um banco de
passageiro do qual
gostava e que havia
utilizado em um dos
seus antigos Porsche de
corrida. Ele dizia que
seu banco era mais leve
do que o de série do AC.
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O CSX2431será
sempre lembrado
como o “carro de
Ken Miles”.
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À extrema direita: No fim
de semana de 8 e 9 de agosto
de 1964, pilotando o 2431,
Ken Miles venceu o
Campeonato de Fabricantes e
se classificou em quinto
lugar na corrida
Meadowdale do USRRC.
Abaixo, à direita: O 2431
durante o preparo na
oficina da equipe de
competições Shelby.
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glória daquele ano de competições do
USRRC, no final de 1965 o CSX2431 e
outros Cobras foram alugados aos estúdios
MGM para que fossem usados em
filmagens. Em 1966, o carro foi
“recuperado” pelo piloto amador Eric
Hauser, que o levou para a Inglaterra e o
pintou com a estranha combinação de
cores roxa e amarela. Eu o vi uma vez, na
corrida preparatória para a prova Guards
Trophy, quando foi superado por modelos
250LM e GT40. Ken Miles havia morrido
doze dias antes quando, ao testar um
protótipo Ford GT40 J, sofreu um acidente
causado por um defeito no chassi.
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Embora tendo morado
nos Estados Unidos
durante mais de dez
anos, Ken Miles
permaneceu associado
ao British Racing
Driver’s Club, cujo
emblema, fixado à
porta do seu carro, ele
ostentava com orgulho.
Miles considerava os
instrumentos Jaeger os
melhores que havia, e
instalou um conta-giros
dessa marca no 2431.
Como suas dimensões
eram diferentes, foi
necessário modificar
o painel.
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O chassi e a estrutura
da carroceria dos carros
FIA e USRRC, com
portas “encurtadas”,
eram modificados com
base no modelo de série
com os mesmos
métodos: uma parte era
feita pela AC durante o
processo inicial de
fabricação e o restante
nas instalações da
Shelby. Este é o chassi
básico do CSX2488,
visto de trás. No início,
ele foi utilizado em
competições, sendo
depois vendido a Dan
Gerber. Estas fotos
ilustram também de
modo geral como se
fazia a montagem dos
carros de rua.
No foto, aparecem os
pontos de apoio dos
macacos de competição
e as barras de aço
soldadas à parte
superior da torre da
suspensão.
SONHANDO COM OS CAMPEONATOS MUNDIAIS
O suporte da barra de
proteção fixado ao arco
do painel.
Os vãos originais das
portas foram
modificados com o
acréscimo de seções de
tubos curvos. Como os
suportes das
dobradiças das portas
já haviam sido
fixados, houve a
necessidade de cortá-los. Em seguida, novos
suportes foram
soldados aos tubos
acrescentados.
Também é fácil
identificar as bases da
barra de proteção, o
suporte da bomba do
radiador de óleo do
diferencial e os furos
de fixação do protetor
do cardã na travessa.
O radiador de óleo do
diferencial era
instalado abaixo das
travessas do chassi.
Um dos seus suportes
de fixação aparece
abaixo e para dentro
em relação ao ponto
do braço triangular
dianteiro esquerdo, em
frente ao qual há um
furo de fixação do
cinto de segurança.
O motor 4,7-litros de
competição com cárter Aviad
e arranjo Weber posterior.
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Na página ao lado:
Bob Johnson com o 2189
na prova SCCA
National Sprints,
realizada no circuito de
Road America, em
Elkhart Lake, em junho
de 1964. Ele se
classificou em primeiro
em uma prova Classe A
de Produção.
Dan Gerber se
classificou em segundo
lugar na Classe A/P ao
volante de seu Le Mans
Réplica, 2138, atrás de
Johnson.
O CSX2026 tinha um
longo histórico de
participação em
corridas, e foi o
primeiro Cobra a vencer
uma prova, em
Riverside, com Dave
MacDonald ao volante.
Na época desta foto,
pertencia a Jerry
Hansen e não
conseguiu terminar
esta corrida.
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Tom Payne, ao volante
do 2430, obteve a
terceira colocação na
prova Campeonato de
Fabricantes, em
Meadowdale, em 9 de
agosto de 1964. Este era
um dos carros “de
fábrica” cujo preparo
era bancado pela Ford
para uns poucos
felizardos, como Payne.
A conversão desses
carros para corridas
era feita na Shelby
American, com o custo
do serviço faturado
contra a Ford, e Roy
Geddes providenciava o
pagamento.
Um carro de equipe no
USRRC em Meadowdale.
Não pode ser o 2431, pois
seu painel é de série.
Imagino que seja o então
recém-produzido 2494, cujo
motor seria amaciado ali.
O caminhão da Shelby, ao
fundo, levou dois carros
novos para a prova Road
America 500, em setembro de
1964. O CSX2494, de número
97, foi pilotado por John
Morton, Skip Scott e Ken
Miles, ficando em segundo
lugar no geral e em primeiro
na classe GT. Imagino que o
outro carro seja o 2488,
utilizado apenas nos treinos.
O CSX2051 pertencia
a Pat Manning, que o
equipou com um
motor 4,7-litros. Ele se
classificou em nono
lugar na prova
Campeonato de
Fabricantes, em
Meadowdale.
USRRC
Embora em 1964 Shelby tivesse chegado
aos circuitos europeus, as corridas do US
Road Racing Championship (USRRC),
realizadas em todos os Estados Unidos,
ainda eram importantes para ele — afinal,
foi lá que ele começou sua carreira e onde,
depois, surgiram os Cobras.
O começo do primeiro campeonato dos
Estados Unidos, em 1963, não havia sido
fácil, pois Phil Remington e sua equipe
tiveram dificuldades com o desempenho
dos carros. Entretanto, nas provas finais,
eles derrotaram os Corvettes, seus
principais adversários, e a disputa acabou
restrita aos próprios Cobras. Dizem até que
a ordem de chegada teria sido decidida na
base do cara ou coroa.
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