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Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cognitive Science
Edição nº 1, Ano I - Setembro 2013
artigo
Mechanical Turk e a conveniência cognitiva
como objeto da linguagem
Leandro Tavares Gonçalves*
Resumo
Abstract
O artigo tem como objetivo descrever e refletir, sob o ponto
The article aims to describe and reflect, from the point of
de vista da Comunicação Transdisciplinar, os processos
view of Transdisciplinary Communication, the processes of
de criação da informação nos ambientes das tecnologias
creation of information in environments of computer tech-
computacionais em rede. A conexão como propriedade
nology network. The connection between the fundamental
fundamental entre as produções de simbologias coletivas,
property as productions of collective symbols, ie, collabora-
isto é, processos colaborativos e seus espelhos armazena-
tive processes and their mirrors stored on the Internet for
dos na internet pela interação social, é uma evolução que
social interaction, is an evolution that integrates others in
integra outras em paralelo. Tal evolução se ancora desde as
parallel. This development is anchored from the primary
reflexões primordiais da linguagem e seus artefatos assim
reflections of language and its artifacts as well as enlarged
como abstrações lógicas ampliadas pela criação da máquina
by creating logical abstractions of computational machine.
computacional. Uma vez dotada de modelos técnicos para
Once endowed with technical models for the creation and
criação e interpretação dos objetos, a linguagem “herda” car-
interpretation of objects, the language “inherits” biological,
acterísticas biológicas, físicas e lógicas e amplia seu poder de
physical and logical and extends its powers to impact the so-
intervenção no ambiente social. Essa ampliação favoreceu
cial environment. This expansion favored the popularization
a popularização do pensamento computacional e impacta o
of computational thinking and impacts the way of doing and
modo de fazer e pensar a comunicação.
thinking of communication.
Palavras-chave
Keywords
Comunicação transdisciplinar. Linguagem. Informação.
Transdisciplinary communication. Language. Information.
Paradigma computacional. Mechanical Turk
Computational paradigm. Mechanical Turk
* Graduado em Comunicação Social, mestrando em Ciências da Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP - 2014), coordenador de
inteligência de mercado do Departamento de Comunicação e Marketing da UMESP . Curriculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6475743811466123.
http://www.tecccog.net/revista
Uma visão histórica
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O Palimpsesto negligenciou o Organon, mas o que fez a Universal Turing Machine? Em
meados do século VII até ao XII a prática da eliminação do texto para reutilização dos pergaminhos ou pedras (Palimpsesto) por motivo de custo, para infortúnio da ciência, infelizmente gerou a perda dos materiais com os pensamentos e seus representantes. Antes desse hiato
histórico, Aristóteles1 já solidificava o pensamento científico no tratado de lógica (Organon)
em um corpus estruturado e simplifica o universo da linguagem no afastamento do relativismo e do matematismo da academia platônica. Pelo conceito de gênero não se detém apenas
na dicotomia dos resultados dialéticos, mas sim pelo modo empírico de observar as estruturas
das coisas. Aproximadamente dois mil e trezentos anos depois Bakhtin, pensador da teoria da
linguagem, amplia o conceito de gênero e propõe “o estudo do enunciado, em sua qualidade de
unidade real da comunicação verbal, também deve permitir compreender melhor a natureza
1 A percepção entre
o elo cognitivo da
linguagem com a
tecnologia foi realizada em outro artigo
“A Linguagem da
História da Linguagem” disponível em:
http://www.academia.edu/3753896
das unidades da língua (da língua como sistema): as palavras e as orações”. Entretanto, em paralelo, um contemporâneo chamado Alan Turing criara uma materialização que abstraía a lógica da língua como sistema (Máquina Universal de Turing) e assim, em uma visita atemporal,
prosperou a ciência sugerida pelo Organon e pela sua contribuição ancora a chamada Teoria
da Informação em um contexto bélico.
Perante a essa digressão histórica entre os pensadores, não se preocupa nesse artigo
suas incompatibilidades epistemológicas e sim as semelhanças cognitivas para explicar o site
MTurk como objeto de estudo, percebe-se que a Teoria da Informação abriu uma perspectiva
importante no trato da informação. Evidente que o afastamento da linguagem como sujeito
social por essa teoria e sim da aproximação do foco na codificação da mensagem é alvo de críticas para outras visões, mas não diminui o fator da linguagem (homem-máquina-homem antes
homem-homem) no quesito da escalabilidade. Esse conceito sugere o potencial de estender
uma tecnologia (inclusive a própria linguagem) em sua estrutura e aplicabilidade para diversas
finalidades e tal fato foi possível pela abstração de um novo paradigma no modo de se planejar
a linguagem no exercício de abstração da mesma com a realidade. A clivagem entre a linguagem humana com a linguagem da máquina trouxe maior observação nos fenômenos naturais,
inclusive da própria percepção humana e isso se espelha em outras áreas como a engenharia
genética e a física quântica. A partir desse momento, e aqui já se fala no contexto do século
XXI, é possível em tempo real fazer comunicação em uma dimensão maior em rede de modo
dinâmico e interativo, apesar de algumas críticas de cientistas de que esse modo de comunicar
possui um impacto desumanizador, como por exemplo, Sherry Turkle em sua obra Alone Together que não será abordado aqui nesse artigo.
No passado o custo da informação foi motivo para não armazená-la, mas atualmente, no
paradigma da linguagem computacional, se esforça para estocar tudo o que se faz útil para o
desenvolvimento humano no que se chama de banco de dados relacionais. Esse esforço está
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promovendo uma integração das áreas na ciência onde os fenômenos são compartilhados as-
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sim como as soluções e descobertas para os estudos de variados temas. É aqui onde a comunicação se inclina em um pensamento transdisciplinar e contempla o esforço de observar os gêneros, ou seja, padrões tecnológicos que impactam o modo de fazer comunicação e também os
próprios padrões de comunicar. São vistos, assim, no Mechanical Turk que é uma ferramenta
proprietária da empresa virtual Amazon que será analisada adiante.
Antes de seguir para a uma visão prática é necessário refletir sobre a essência da comunicação, o conceito de informação, o paradigma da linguagem de programação OO (Orientação
a Objeto) e a estrutura das redes telemáticas.
A arquitetura
A essência da comunicação pode ser descrita de acordo com Bordenave (1997):
“ Sem a comunicação cada pessoa seria um mundo fechado em si mesmo. Pela
comunicação as pessoas compartilham experiências, ideias, e sentimentos. Ao se
relacionarem como seres interdependentes, influenciam-se mutuamente e, juntas,
modificam a realidade onde estão inseridas. ”
Os atos de modificar a realidade são compostos por gêneros, padrões comunicacionais que
podem ser descritos de modo simultâneos ou até conflitarem-se em: pulsação vital (vontade humana
de interagir), a interação (equilíbrio dinâmico por adaptação ou domínio), seleção (valores e seus significados, elementos simbólicos que representam a interação), percepção (a sinestesia da realidade),
decodificação (a percepção da seleção), interpretação (contextualização da decodificação), incorporação (aceitação ou não da interpretação) e a reação (atos que definem o comportamento).
A informação permeia todos esses significados, ou pelo menos quase todos, dos processos comunicacionais e é a partir dela que o homem julga sua pertinência.
Potencializada pela conexão em rede a informação é um fator decisivo para a humanidade em seu desenvolvimento “[…] recently has human progress and welfare begun to depend
mostly on the successful and efficient management of the life cycle of information2 ” (FLORIDI, 2010, p.8). Ainda na mesma página:
“The life cycle of information typically includes the following phases: occurrence
(discovering, designing, authoring, etc.), transmission (networking, distributing,
accessing, retrieving, transmitting, etc.), processing and management (collecting,
validating, modifying, organizing, indexing, classifying, filtering, updating, sorting,
storing, etc.), and usage (monitoring, modelling, analysing, explaining, planning,
2 “só muito recentemente o progresso e
bem-estar humano
iniciado dependeram principalmente
sobre a gestão bem
sucedida e eficiente
do ciclo de vida da
informação” – tradução minha.
forecasting, decision-making, instructing, educating, learning, etc.).”
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Muito semelhante aos processos de Bordenave, entretanto, diferindo no quesito de ad-
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ministrar tais processos, Luciano Floridi reflete a informação em vários níveis como revolução,
linguagem, matemática, semântico, físico, biológico, econômico e ético.
Por outro lado, a origem do conceito de informação vem da terminologia de dados, uma
estrutura de sintaxes sem significado. A partir desses níveis temos a fotografia da evolução
humana em administrar os “sentidos” gerados pelo armazenamento dos dados. Essa evolução
passa desde os processos análogos, digitais e binários (meios por onde se administra a informação - do Organon até Alan Turing em analogia com o pensamento do artigo); primário, secundário, meta, operacional e derivativo (modo de interagir com a informação e como resgatála); e as ramificações como modelos interpretativos dos dados, o meio ambiente, semântica
subdividida em instrucional e factual por sua vez subdividido em não verdade (informação
perdida e informação enviesada) e verdades (conhecimento como resultado dos processos).
Apesar de depender do contexto, as premissas antes descritas se intercruzam em cada nível,
mas os padrões (Patterns) e seus gêneros aqui são observados como uma metalinguagem que
explica os propósitos de acordo com as dinâmicas relacionais. Essa ideia perpassa toda a argumentação da proposta e evidencia a lógica da linguagem como benefício cognitivo a cada passo da evolução da informação. Nesse ambiente a Orientação a Objeto se diferencia no quesito
“recognição da realidade”, pois reorganiza – no meio da Ciência da Computação é visto como
revolução – o estilo de programar uma ação da linguagem da máquina.
Ao se desconstruir a linguagem computacional pela visão da cognição3 e seus padrões
notam-se fundamentos da linguagem com atributos importantes que já foram abordados nos
conceitos da comunicação assim como na informação: a troca de significado pela abstração
simbólica percebida como noção interpretativa, porém, o fato de armazenar informação “lapidada” ou não e poder analisá-la em uma escala maior pelo desenvolvimento tecnológico possibilita previsão de conceitos que emergem do contexto (embedding). Os artigos sugeridos na
bibliografia estudam o tema dos padrões das informações nas bases de dados estruturadas
(BARABÁSI, 2010; ERTEKIN, 2012; QUONIAM, 2010).
3 Não será aprofundado o conceito
de cognição aqui,
mas sob o ponto de
vista de Floridi é o
processo que pode
interpretar a informação.
O Paradigma da Orientação a Objeto é uma evolução da linguagem de programação computacional que surgiu em 1950, isto é, em comparação ao modo anterior que é denominado
estruturado. Seu criador foi Alan Curtis Kay também inventor da interface gráfica - o que pode
ser visto nas telas do computador - e também do Dynabook (o que atualmente é denominado
laptop).
O paradigma pode ser aplicado a qualquer linguagem já que o que se diferencia é o modo
de proceder na programação pelo planejamento das ações e finalidades da entidade principal:
o objeto. Na linguagem estruturada a ênfase é dada ao desenvolvimento de procedimentos implementados em blocos estruturados e à comunicação entre procedimentos nas transmissões
de dados. Na orientação a objeto os dados e procedimentos passam a ser parte do objeto,
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portanto, não só um elemento físico na realidade é visto como objeto como uma bola, por
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exemplo, mas o movimento da bola é também visto como objeto. Assim toda a realidade a ser
abstraída passa pelo crivo planejável do objeto para ser criado e assim a linguagem de programação ganha alguns potenciais que impactam e ampliam desempenho e poder de intervenção
da realidade. A classe é uma entidade que engloba dados (atributos) e funções (métodos). O
objeto é uma criação da classe (instância) em tempo de execução, ou melhor, quando se executa o código da classe em um programa. O objeto na classe possui um comportamento e um
estado. Os relacionamentos e os objetos passam a ser, portanto, partes que cooperam entre si
sob a administração do programador por meio de mensagens que chamam os métodos. Nos
relacionamentos entre as classes há hierarquia de coleções de objetos cada qual com sua especificidade para o todo do projeto. Essas coleções são gerenciadas por algumas técnicas da
linguagem que regem todos os relacionamentos. São elas: encapsulamento (ação que visa dar
segurança a uma classe), herança (classes podem herdar métodos de outras classes), polimorfismo (objetos que respondem diferentemente a uma mesma mensagem recebida) e cluster
(conjuntos de classes que cooperam entre si na implementação, resultado das funções na interface gráfica).
O cluster, em especial, terá uma atenção peculiar nesse artigo. A partir dessa visão observa-se um maior domínio no que tange a expansão de uma classe em relação a um projeto.
No momento em que se cria e implementa uma estrutura programável ela poderá ser usada e
ampliada para outros projetos que não necessariamente no mesmo escopo do original. Aqui se
tem a revolução da linguagem propriamente dita, pois a linguagem computacional ganhou, em
analogia a história da linguagem, uma sintaxe que permite administrar a si própria pela intervenção do programador. Em resumo se pode matematizar os critérios do resultado do objeto
pelos critérios que foram utilizados para construí-lo. Todos os feitos como a criação da rede da
internet , a decodificação do DNA, a física quântica, entre outras, passam pelo impulso dado
por esse paradigma porque favoreceu o melhor desempenho do processamento e também da
organização entre os códigos pela facilidade de documentar e aplicar alterações globais (alteração que impacta todo um programa pela alteração de uma única variável no objeto pela
classe).
Nesse contexto as redes telemáticas ganharam escala e se expandiram pelo aperfeiçoamento das interfaces gráficas, pelo aumento de processamento dos computadores e reutilização das modularizações (estoque de abstração dos clusters que foram resgatados para criar
outras coisas). Dentro dessa visão houve a possibilidade de semantizar os objetos em rede,
pela criação do IP (endereço único de cada terminal conectado na internet) e das relações que
essa conexão veio derivar. Tim Berners-Lee foi um dos precursores da criação das redes, a
internet. O projeto, que culminou na rede dos dias atuais, se originou a partir de um experimento durante a guerra fria pela ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network)
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nos Estados Unidos com o intento de munir de informações aos militares em qualquer lugar.
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Hoje Berners-Lee é um defensor das redes pela sua semantização, ou seja, acredita que ao dar
essa roupagem para a as camadas de informação, que fazem a estrutura da internet, deslocará
a informação de “derivativa” para a “meta” na visão dos conceitos de informação de Floridi.
Sugere, assim, que a internet ganhará “inteligência”.
Com o advento das redes uma nova configuração de criar informação e da forma de se
comunicar vigorou e evoluem constantemente pelo apelo de rapidez no tráfego de informações
e pela mobilidade de se fazer tais ações.
Uma visão prática
Uma vez criado a possibilidade de interação entre as pessoas e consequentemente a sociedade local e de outros continentes o número de usuários e da produção de conteúdo na internet cresce exponencialmente.
O crescimento do número de páginas criadas possibilita o aumento das indexações de
informação produzida sejam pelas relações entre as pessoas, empresas, órgãos do governo etc.
Da reflexão em paralelo entre a histórica da linguagem e da informação assim como as suas
estruturas busca-se a relação que essas terminologias possuem para responder a pergunta inicial: o que fez a Universal Turing Machine? Já se pode ousar uma reposta. Essa máquina foi a
precursora do homem em analisar a natureza com mais poder de intervenção e ampliada por
um paradigma da linguagem que herda propriedades e que dá possibilidade de estudar a própria linguagem que a influenciou: a linguagem humana.
O que se pode observar com as indexações semânticas? Se pode observar padrões que
emergem pelas dimensões dos conteúdos estocados através das camadas de informação. As camadas de informação do conteúdo da internet podem ser divididas em 4: a página que é visualizada na tela do computador (interface), a linguagem de programação da página (estática ou
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dinâmica), linguagem que rege a interação dos conteúdos com o usuários (back-end que fica
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no local onde a página que é visualizada está, no endereço que o usuário digita no navegador)
e o banco de dados. Esse último nem sempre pode estar acessível e é aqui onde se tem o cerne
da questão na obtenção de dados estruturados e também outro assunto que não será analisado
aqui, sobre o Open Data (dados de acesso livre4 ). Uma vez estocada a informação (já filtrada
ou aplicado algum critério semântico) ou os dados (variáveis de acessos como logs de sistema,
hora de visita, link da página e etc) se pode resgatar esse conteúdo e aplicar relações lógicas
para análises diversas.
A construção de aplicativos potentes no quesito requisição de informação e análise dos
4 Para mais detalhes
ver a bibliografia sugerida: Science as an
open enterprise.
dados para construção de informação foi potencializada pela orientação a objeto e assim possibilitou aumentar a observações nas redes pela disponibilização de serviços na internet (Web
Services). Esses serviços são normalmente links disponibilizados para visualização das variáveis estocadas nos banco de dados e assim há a possibilidade de baixar, salvar ou exportar
em formato de arquivo para outros bancos de dados e relacionar com outras variáveis e assim
sucessivamente. Sua visualização pode ser por JSON, XML, TXT, CSV (linguagens de programação que tem a finalidade de espelhar de modo ordenado os conteúdos dos bandos de dados)
ou outras extensões de arquivos para a máquina ler e retornar de modo mais amigável para
visualização humana e também interpretável para a máquina. Aqui está o sucesso para a interação dos conteúdos, ou seja, já existe um padrão estrutural em seu armazenamento. Porém,
isso não garante que não existam outros padrões. Esses podem emergir pelo relacionamento
de outras variáveis ou por abstrações de modelagens analíticas.
O Mechanical Turk é um serviço onde as empresas e usuários tem a possibilidade de interagir na resolução de tarefas que podem ser remuneradas denominadas escalabilidades de
força de trabalho (scalable workforce). As empresas podem criar tarefas (Hits – human inteligence tasks) e publicar no site para os usuários trabalharem e serem remunerados pela tarefa.
Na data desse artigo o site possuía 214.169 Hits a disposição.
Observa-se aqui uma forma dinâmica de trabalho e pode ser feito por qualquer pessoa
que possua familiaridade com internet, computador e planilhas de Excel ou outras ferramentas que dependam dos objetivos das Hits. As tarefas são armazenadas em um banco de dados
que é disponibilizado ao criador que se cadastrou e que inscreveu a tarefa. As tarefas vão desde
tradução até pesquisas sobre sites de empresas e etc. As informações não são de acesso livre (os
resultados), mas vale observar que o serviço MTurk é apenas um “objeto” do composto Amazon Web Services. A Amazon é uma das pioneiras na internet em venda de produtos assim com
o Ebay. Já possui um extenso histórico de banco de dados relacionais de natureza primária até
derivativa, semântica factual sem interpretação até semânticas factuais com conhecimento.
Aqui se vislumbra o que Berners-Lee acredita quando se pode relacionar essas informações
e prever alguns sentidos através dos padrões da variáveis estocadas pela linguagem analítica.
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Isso já acontece quando ao escolhermos um produto na Amazon há a sugestão de outros pro-
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dutos com similaridades que abrangem desde o modo de navegação até os conteúdos indexados na busca. Os algoritmos (clusters que aprendem e guardam informação na navegação do
usuário) estão em constante relacionamento e sugerindo outras informações. Mas o que pode
a Amazon ganhar com isso? A Amazon Web Sevices oferece desde hospedagem, armazenamento e processamento de informações. Com o MTurk a empresa pode descobrir padrões de
tarefas no mercado e sugerir o melhor serviço para cada segmento assim como aplicativos que
melhor interagem com suas estruturas na nuvem e suas propriedades relacionais.
“The cost of data curation to exacting standards is often demonstrably smaller than the
costs of collecting further or new data. For example, the annual cost of managing the
world’s data on protein structures in the world wide Protein Data Bank is less than 1%
of the cost of generating that data.” (THE ROYAL SOCIETY, 2012).
A citação anterior não fecha a ideia do impacto da qualidade versus o custo da informação, que na história já se chegou a negligenciar, mas abre a perspectiva de que os padrões
cognitivos de perceber informação estão se reconfigurando com a possibilidade de dotar a
linguagem e a comunicação com características preditivas e indo mais além, pode ser através
delas que os seres humanos podem revolucionar suas capacidades de ver o mundo e de se ver
no mundo. A essa altura outra resposta pode ser refletida: Essa máquina foi a precursora do
homem em analisar a natureza com mais poder de intervenção e ampliada por um paradigma
da linguagem que herda propriedades e que dá possibilidade de estudar a própria linguagem
que a influenciou, a linguagem humana, e prever seus impactos.
Considerações Finais
Apesar de os entendimentos de uma comunicação transdisciplinar parecerem sincréticos, não perde seu valor perceber o poder cognitivo que a tecnologia vista ora como artefato e
fruto de um determinismo oblíquo ora como a oitava maravilha do mundo tem de intervir nas
comunicações humanas e no modo de fazer ciência. Evidente que o poder humano de pensar
e abstrair a tecnologia, que em tempos gregos era vinculado à natureza, agora em esferas diferentes, ainda rege a orquestra do conhecimento tanto no fazer das camadas semantizadas
quanto no ato genioso de digitalizar lógicas.
Mas o que é interessante é notar até que ponto a comunicação dita digital interfere e é
interferida por seus processos de perceber o mundo quando em pulsação vital ou interagindo
com as interpretações incorporadas em suas reações ou nas decodificações selecionadas para
um determinado objeto. Até que ponto a comunicação deixa de ser objeto ou objetiva um ato
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mediador de significado preditivo? A tecnologia parece descobrir os padrões comunicacionais,
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mas pela tecnologia a comunicação já estudou seus padrões e isso sua história não deixa dúvidas.
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Referências
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Expediente
TECCCOG
Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cognitive Science é produzida pelo Grupo de Pesquisa Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva credenciado pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Metodista
São Paulo, v.1, n.1, ago.2013
A revista do TECCCOG é uma publicação científica semestral em formato eletrônico do Grupo de Pesquisa Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva credenciado pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Metodista.
Lançada em setembrode 2013] tem como principal produzir métodos e conhementos sob uma perspectiva inter e
transdisciplinar, a complexidade das relações entre Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, e os seus impactos cognitivos na sociedade.
Editor
Walter Teixeira Lima Junior
Comissão Editorial
Walter Teixeira Lima Junior (Universidade Metodista de São Paulo) * Lúcia Santaella (Pontíficia Universidade Católica
de São Paulo) * João Eduardo Kogler (Universidade de São Paulo) * Ronaldo Prati (Universidade Federal do ABC)
* Ricardo Gudwin ( Universidade Estadual de Campinas) * João Ranhel (Universidade Federal de Pernambuco) *
Eugenio de Menezes (Faculdade Cásper Líbero) * Reinaldo Silva (Universidade de São Paulo) * Marcio Lobo (Universidade de São Paulo) * Vinicius Romanini (Universidade de São Paulo)
Conselho Editorial
Walter Teixeira Lima Junior (Universidade Metodista de São Paulo) * Lúcia Santaella (Pontíficia Universidade Católica
de São Paulo) * João Eduardo Kogler (Universidade de São Paulo) * Ronaldo Prati (Universidade Federal do ABC)
* Ricardo Gudwin ( Universidade Estadual de Campinas) * João Ranhel (Universidade Federal de Pernambuco) *
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Assistente Editorial
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Projeto Gráfico e Logotipo
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Revisão de textos
Michele Loprete Vieira
Editoração eletrônica
Eduardo Uliana
Correspondência
Alameda Campinas, 1003, sala 6.
Jardim Paulista, São Paulo, São Paulo, Brasil
CEP 01404-001
Website
www.tecccog.net
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