DISCURSO DE POSSE DIRETORIA CEVAP 22/04/2014

Transcrição

DISCURSO DE POSSE DIRETORIA CEVAP 22/04/2014
DISCURSO DE POSSE
DIRETORIA CEVAP
22/04/2014
Prof. Dr. Eduardo Kokobun, Magnífico Pró-Reitor de Pós-graduação da UNESP;
Profa. Dra. Maria José Mendes Soares Gianini, Magnífica Pró-Reitora de Pesquisa da UNESP;
Prof. Dr. Benedito Barraviera, Excelentíssimo Coordenador Executivo do CEVAP;
Prof. Dr. Ricardo de Oliveira Orsi, Excelentíssimo Vice-coordenador executivo eleito do CEVAP;
Honoraveis Membros do Conselho Deliberativo do CEVAP;
Demais autoridades, Professores, Pesquisadores, Servidores Técnico-administrativos, alunos, senhoras e senhores;
Tenham um bom dia e sejam bem vindos ao CEVAP!
O Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da UNESP, CEVAP, fundado em 1993, e do qual venho participando
de suas atividades desde 1997, é um centro de pesquisa de classe mundial especializado no desenvolvimento e no processamento
de bioprodutos, em atenção especial àqueles derivados de venenos animais e/ou vegetais. Os especialistas do CEVAP
continuamente são desafiados a inovar, empurrando adiante cada vez mais, as fronteiras da ciência ligada às toxinas e
biomoléculas.
A equipe de pesquisa e desenvolvimento do CEVAP está ativamente engajada em projetos liderados pela indústria, bem
como os esforços de investigação fundamental. Nossas facilities, bem como nossos recursos são configurados para permitir um
equilíbrio de projetos de pesquisa de curto e de longo prazos. Todos nossos parceiros e colaboradores também têm a garantia
total de confidencialidade e uma abordagem aberta à propriedade intelectual.
O CEVAP faz parte de várias redes de investigação, inclusive algumas temáticas, que estão realizando pesquisas de
vanguarda, as quais poderão ter grande alcance e aplicação no desenvolvimento de biomoléculas e de bioprocessos. Nosso Centro
ainda está aberto a colaborações e saúda a oportunidade de parceria com outras universidades, órgãos do governo ou da
indústria em seus projetos de pesquisa. O homem tem se voltado novamente para as moléculas derivadas de plantas e animais
devido a sua infinita variedade e propriedades particulares. "Bioprodutos – a onda do futuro" pode ser visto como um olhar para
dentro do Centro e de suas atividades de pesquisa em andamento.
Como exemplos, podemos citar dois bioprodutos criados pelo CEVAP e apoiados pelo Ministério da Saúde do Brasil para a
realização de ensaios clínicos multicêntricos de fase 2. O Selante de Fibrina derivado de veneno de serpente e o Soro Apílico
contra picadas de abelhas africanizadas nos proporcionaram a experiência de como transpor o GAP existente entre a pesquisa
básica ou fundamental e a pesquisa aplicada. Esta última tão necessária para um país como o Brasil, com inúmeras enfermidades
mal resolvidas e extremamente negligenciadas pela indústria farmacêutica do primeiro mundo.
E é justamente neste abismo que o CEVAP se coloca como uma ponte segura, ligando estas duas extremidades, a fim de
prover um conhecimento sólido e aplicável. Já foram investidos cerca de R$ 250 mil reais na elaboração do Projeto Conceitual e
mais R$ 300 mil reais na confecção do Projeto Executivo Arquitetônico da Fábrica Piloto do Selante de Fibrina. Tenho certeza que
o legado que este projeto deixará, marcará a quebra de um enorme paradigma em nossa Universidade.
Mas esta história não foi sempre assim!
A maioria dos sucessos brota de um obstáculo ou de um fracasso. Eu me tornei um pesquisador porque eu falhei em minha
meta de me tornar um cirurgião de sucesso. Portanto, fracasso torna-se sucesso quando aprendemos com ele. E assim foi….
Na vida de um grande líder existem coisas que são inadmissíveis, entre elas a falta de coragem de inovar e o pessimismo.
Esses são sentimentos incompatíveis com este cargo. Pelo menos era o que eu acreditava. No entanto, o Prof. Barraviera me
mostrou que eu estava errado, completamente equivocado.
Com uma habilidade de inovar ímpar, mestre em inventar coisas que as pessoas no meio acadêmico irão pensar nisso
somente daqui há 10 anos e talvez a comunidade em geral daqui há 20, mostrou-me que através de seu pessimismo, também
singular, buscava sempre a perfeição. Ou seja, a receita do sucesso estava ali. Bastava que alguém pudesse sorvê-la. E assim o fiz.
Existem homens que lutam um dia e são bons; existem outros que lutam por um ano e são melhores; ainda existem aqueles
que lutam muitos anos e são espetaculares. Porém, entretanto, existem os que lutam por toda a vida. Estes minha gente, são os
imprescindíveis.
E assim aprendi a lutar.
Meu avô Joaquim sempre me dizia que leva tempo para se ter sucesso porque o sucesso é meramente a recompensa natural
de se usar o tempo para fazer bem qualquer coisa. E ele certamente acreditava em mim.
Em um certo dia, após ter sido aprovado no vestibular para cursar Medicina Veterinária na Universidade Estadual de Santa
Catarina, fui em busca de uma força espiritual. Ao subir sozinho o morro da Igreja de Rubião Junior, pude olhar aos meus pés
todo o campus da Botucatu, o Instituto de Biociências, a Faculdade de Medicina e mais ao fundo, a Faculdade de Medicina
Veterinária. Perguntei ao meu querido avô em pensamento se aquele realmente era o meu caminho? E para minha surpresa a
resposta foi não. Exatamente isso. Não! Esse não será o seu caminho meu neto e sim apenas uma estrada que lhe levará até ele.
Você voltará e aqui vencerá.
Levei e levo sempre estas palavras comigo. Realmente, talvez, tenha sido apenas a minha imaginação, talvez….Mas foram
estas palavras que me trouxeram até aqui, hoje.
Após 2 anos na gelada cidade de Lages em Santa Catarina, consegui ser aprovado na única vaga para transferência na
UNESP de Araçatuba. Agradeço muito mesmo a meu pai, que se desdobrou para me levar de madrugada a Araçatuba para fazer a
prova. Após um ano, fui aprovado e assim novamente transferido para Botucatu. Não o teria feito sem a ajuda de minha mãe, que
durante todo o ano, buscava incansavelmente por informações numa época em que a internet inexistia. Obrigado, amo vocês.
E assim me tornei Médico Veterinário pela tão sonhada e concorrida FMVZ da UNESP de Botucatu, porém não sem antes ser
o único aluno a ser reprovado no último ano do curso em 40 anos de história da FMVZ. Sem nenhuma reprova no currículo e com
notas boas, não entendia porque. Logo em um ano onde não haviam provas. Era apenas prática e estágios. Mas ali eu fracassei. Eu
fui um péssimo estagiário. Talvez o pior de todos. Pequei por contestar, perguntar, esgotar e simplesmente por não aceitar os
paradigmas da Escola.
Eu me perguntei incansavelmente como professores podem fazer isso com um aluno: o reprovarem há 3 dias de sua
formatura e colação de grau.
Eu estava a ponto de fazer qualquer coisa para ter o meu canudo. Eu merecia aquilo. Lutei muito por tudo e contra tudo.
Mas acabei entendendo que realmente eu não estava pronto. Eu precisava de mais, de tudo aquilo, para ter uma base realmente
sólida. Devo este momento especialmente a minha esposa Ana Silvia, que havia me conhecido há alguns meses, e acredito eu,
apaixonada por mim, me deu o colo que estava precisando e as palavras de paz.
Só não entendo até hoje o que o meu sogro e a minha sogra pensaram de tudo aquilo? E pelo contrário, me apoiaram e
incentivaram a continuar em frente. Talvez eles também enxergassem no fundo dos olhos daquele menino uma chama capaz de
iluminar e contagiar muita gente ainda.
Superado e hoje agradecido aos meus professores por aquela oportunidade única, e realmente já os agradeci pessoalmente,
um ano após eu me formava Médico Veterinário com muito choro e risos.
Comecei a trabalhar em uma Clínica Veterinária, cujos proprietários Lúcia e Jorge tenho uma gratidão eterna, e fui aprovado
para o curso de aprimoramento profissional no CEVAP/FMB, onde havia já estagiado por alguns meses. Cursando paralelamente
uma especialização em Toxinologia, após 2 anos estava eu no mestrado. Eu precisava ganhar tempo. Não poderia deixar que
aqueles anos todos da Graduação devido às transferências, me atrapalhassem agora na pós-graduação. No entanto, na semana de
minha defesa de mestrado, fui informado pela seção de Pós-Graduação que estava órfão, ou seja, sem orientador, pois o mesmo
havia virado meu sogro. Agradeço a imensa confiança do Prof. Dr. Domingos Alves Meira, que assumiu a minha orientação 4 dias
antes de minha defesa, meus projetos e idéias. Mestrado finalizado em 17 meses, doutorado em 13 e mais uma especialização em
Gestão da Educação. Eu queria voar.
E realmente quase voei, para os céus pois sofri um acidente leve causado por uma cascavel 20 dias antes de meu casamento.
Nada de mais se não fosse um Residente baiano da Bahia, passar na minha frente com o livro do Dr. Benedito Barraviera, dizendo
que havia encontrado a dose do antiveneno e que tudo estava sob controle. Resultado: tive um choque anafilático grave e se não
fosse a Profa. Lenice do Rosário me aplicar uma injeção de Adrenalina poderia não estar aqui agora. Na época estava contratado
como Médico Veterinário do CEVAP.
Em 2005, após uma crise financeira na UNESP e diversos funcionários demitidos eu me deparei novamente com uma
imensa parede. E agora eu era PhD, especialista e desempregado, além de casado. O CEVAP se transferiria para cá onde estamos e
os aprimorandos nesta época foram essenciais. Eram Michele e nossa atual técnica e minha aluna de Doutorado a Luciana Barros,
de quem me orgulho muito. Ali percebi que de nada adiantou eu acelerar a minha pós-graduação. Simplesmente eu não estava
pronto novamente.
Após muitas entrevistas e oportunidades descartadas, fui acolhido pelo Prof. Osvaldo Santana Brazil, o primeiro bisneto e
único que conheceu seu avô, o Dr. Vital Brazil, para um pós-doutorado em imunoquímica no Instituto Butantan.
Digo acolhido porque ele me permitiu que eu fizesse meus experimentos no CEVAP em Botucatu e com o projeto que eu já
vinha trabalhando durante o mestrado e doutorado. O fruto deste estudo é o inédito Soro Apílico contra picadas de abelhas
africanizadas, que após a transferência da tecnologia para o Instituto Vital Brazil no Rio de Janeiro para a sua produção,
iniciaremos os testes em pacientes agora no segundo semestre de 2014. E aqui devo agradecer também ao meu parceiro e vicecoordenador eleito Prof. Ricardo Orsi, que acreditou na idéia desde o princípio.
Após 2 anos com a salário pago pela FAPESP para trabalhar no CEVAP, fui aprovado no concurso para pesquisador, carreira
inovadora e muito batalhada por nossa Pró-Reitora aqui presente, Profa Maria José. Meus sinceros agradecimentos por acreditar
e defender a pesquisa.
Já em 2012, após ser eleito vice-coordenador executivo do CEVAP, com a aposentadoria de minha Profa Michiko Sakate
comecei a enfrentar novos e grandes desafios dentro da pesquisa. Ser responsável pela produção do produto biológico de dois
grandes ensaios clínicos de fase 2: O próprio soro apílico e também o Selante de Fibrina.
Aterrissando agora em 2014, temos inúmeros desafios durante esta gestão. Sem dúvidas será praticamente impossível
sobrepor o legado deixado por meu antecessor. O Prof. Barraviera fez muito e espero ainda que continue fazendo pois os projetos
estão em andamento. Paralelamente, eu e meu parceiro Ricardo temos o desafio de reativar o curso Internacional de
Especialização em Toxinologia e implantar o curso de Mestrado e Doutorado do CEVAP, sepultado há alguns anos pela direção de
nossa Escola. Para isso, gostaria de contar desde já com a ajuda de nosso Pró-Reitor de Pós-Graduação, Prof. Kokobum. Estas
serão algumas das metas desta gestão, certamente em conjunto com a construção da Fábrica-Piloto do Selante de Fibrina. Tenho
como certo o apoio de todos os nossos colaboradores do CEVAP.
Airton que já aprendeu muito nestes anos, Renato que está começando agora e a própria Luciana, que formam nosso time
técnico responsável pelos laboratórios e pelos serpentários que os Senhores conhecerão a seguir. Dra Lucilene, pesquisadora
dona de habilidades proteômicas essenciais para as análises de bioderivados. Selma e Juliana que conduziram com maestria o
nosso periódico científico JVAT, o qual hoje se encontra publicado pelo segundo maior Publish do mundo, a Springer da
Inglaterra e indexado nas melhores e maiores bases de dados do planeta. O nosso incansável Graniere, que apesar de chefe dos
motoristas do CEVAP, onde atualmente existe apenas ele, faz um trabalho brilhante como presidente da associação de motoristas
da UNESP e cuida na nossa frota veicular com uma atenção para lá de especial. O Marquinho, que faz malabarismo para conseguir
com que o nosso humilde repasse institucional via adiantamento consiga atravessar o mês. A incansável Marli, que este ano
pendura as chuteiras, mas vestiu a camisa do CEVAP e da UNESP como poucos nesta Instituição, buscando sempre melhorar e
fazer com que “o pouco” se transformasse em “muito”. Para a minha sorte ela já deixa uma pupila, nossa Letícia que traz toda a
sua energia e força de vontade para realizar múltiplas tarefas simultaneamente. Finalmente os nossos aprimorandos Monica,
Tauane, Josias e Cláudia, que são o combustível diário do CEVAP. E com certeza todos os nossos alunos de pós-graduação, de
inicação científica, estagiários e admiradores.
Por fim agradeço a toda a minha família, minha mãe Emília, meu pai Rui, meus irmãos Danilo e Milena, pelo apoio e por me
mostrarem sempre o caminho correto, independente de suas dificuldades;
Ao meu sogro Benedito, por sempre acreditar que é possível e que podemos sempre fazer melhor, com certeza;
A minha sogra Silvia, por aturar minhas brincadeiras de genro e por acreditar no CEVAP e no Selante de Fibrina desde o seu
princípio;
A minha amada esposa Ana Silvia por ser a minha fonte de energia diária e apoio eterno, e a nossa filhinha Ana Liz, por ser a
Luz do meu caminho. Amo vocês.
A todos os servidores do CEVAP, inclusive os nossos funcionários terceirizados, que tenho certeza se orgulham hoje de
trabalhar no CEVAP.
Ao meu parceiro Ricardo Orsi, por acreditar numa proposta de trabalho sério e dedicação a Instituição que acreditamos e
respeitamos;
E ao nosso grande parceiro, o Instituto Vital Brazil, na pessoa de seu Presidente, o Dr. Antonio Werneck e seu Diretor
Científico Dr. Luis Eduardo da Cunha.
Meu avô ainda me disse que: “A primeira responsabilidade de um líder é definir a realidade. A última é dizer obrigado. No
meio, o líder é um servo.”
E ainda, “Provar que tenho razão significaria reconhecer que posso estar errado”
Meu muito obrigado a todos!

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