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Delirium na UTI Felipe dal Pizzol Diversas entidades representativas da terapia intensiva internacionalmente recomendam que o uso de analgésicos e sedativos devem ser utilizados para o conforto ótimo do paciente criticamente enfermo focando em três grandes componentes centrais: dor, ansiedade e delirium. O terceiro componente destas recomendações é caracterizado como um quadro de início agudo e flutuante, associado à inatenção, ao pensamento desorganizado e/ou a alterações do nível de consciência. Sua importância reside no fato de que é um fator independente de morte, permanência na UTI, gasto hospitalar, podendo estar associado a alterações cognitivas a longo prazo em sobreviventes da terapia intensiva. Apesar de relativamente freqüente (entre 20-60% dos pacientes em ventilação mecânica apresentam) é ainda muito pouco reconhecido na prática clínica, principalmente sua forma hipoativa. Recente survey nacional realizado pela Brazilian Research in Intensive Care Network – BRICNet, uma rede brasileira, independente e colaborativa para a realização de estudos clínicos na área de medicina intensiva (www.bricnet.org) com mais de 1000 médicos atuantes em terapia intensiva demonstrou que menos da metade deles rotineiramente monitoram presença de delirium em seus pacientes e que quando fazem não utilizam escalas padronizadas para tal fim. Além disto um número considerável de médicos utilizavam benzodiazepínicos ou opiáceos para o tratamento destes pacientes. Duas escalas são mais difundidas para o diagnóstico de delirium em pacientes criticamente enfermos. Elas foram adaptadas de escalas pré-existentes para poder serem aplicadas em pacientes sem possibilidade de verbalizar, como os em ventilação mecânica. A primeira delas, o método para avaliação da confusão para UTI (Confusion Assessment Method for the ICU – CAM-ICU), é escala validada, com boa concordância de diagnóstico conforme os critérios de delirium do DSMIV, feita para ser utilizada na beira do leito por profissional da saúde para monitorização serial de delirium. É uma escala que requer pouco treino para sua aplicação e leva normalmente menos de 2 minutos para sua aplicação. Já existe versão traduzida para o português disponível em http://www.icudelirium.org/delirium/training-pages/Port_Brazil_2008.pdf. A segunda escala amplamente utilizada é Checklist para screeenig de delirium em cuidados intensive (Intensive Care Delirium Screening Checklist – ICDSC), e sua grande diferença em comparação com a CAM-ICU é a possibilidade de graduar os pacientes entre delirium e delirium sub-clínico. Não há até o momento tradução para o português, mas a escala é disponível em http://www.icudelirium.org/delerium.data/Library/ICDSC.pdf. Diversas estratégias são preconizadas para o tratamento do delirium. Sempre se da preferência para a prevençãom apesar de, até o momento, não haver dados que suportem prevenção primária não-farmacológica em pacientes criticamente enfermos. Os dados em pacientes não criticamente enfermos focam na redução de fatores de risco como manutenção de atividades cognitivas, protocolo de sono não-farmacológico, mobilização precoce, remoção de cateteres, possibilidade de uso de óculos, próteses auditivas, minimização de estímulos não necessários. O primeiro passo no tratamento farmacológico do delirium é a revisão da prescrição médica na busca de medicações que possam estar causando ou exacerbando o delirium. O uso inapropriado de sedativos e analgésicos (predominantemente benzodiazepínicos e opiáceos), além de anticolinérgicos podem contribuir para piora dos sintomas de delirium. O uso de haloperidol no tratamento de delirium é recomendado por diversas associações médicas apesar de sua indicação ser baseada em estudos clínicos não randomizados. Entretanto há de se ressaltar que o haloperidol é fármaco de excelência para o tratamento dos sintomas positivos resultando inclusive em leve sedação, mas outros antipsicóticos podem ter efeito mais amplo, abrangendo tanto sintomas positivos quanto negativos, como por exemplo a olanzapina. Apesar disto, ainda não há consenso na escolha do fármaco antipsicótico devido a falta de evidência científica sólida neste tipo de paciente. Recentes ensaios clínicos randomizados determinaram a importância do uso de dexmedetomedina para pacientes em ventilação mecânica e sua relação com a ocorrência de delirium. A sedação prolongada com dexmedetomedina em comparação com benzodiazepínicos para pacientes em ventilação mecânica demonstrando não haver diferença no grau de sedação atingido, entretanto com menor incidência de delirium e menor tempo de ventilação mecânica nos pacientes que utilizaram dexmedetomedina. Em conclusão, a implantação de rotina no diagnóstico de delirium utilizando escalas padronizadas em pacientes criticamente enfermos para sua rápida detecção e possibilidade de prevenção primária é recomendada. Além disto, são necessários estudos clínicos mais consistentes no intuito de definir a melhor escolha de tratamento para estes pacientes. O uso de benzodiazepínicos e opiáceos deve ser feito com parcimônia, utilizando escalas padronizadas de sedação/analgesia para evitar piora ou ocorrência de delirium, e alternativamente parece que dexmedetomedina é opção adequada para a sedação em pacientes sob ventilação mecânica. Referências: JAMA. 2009 Feb 4;301(5):489-99. JAMA. 2007 Dec 12;298(22):2644-53. Chest. 2006 Sep;130(3):869-78. Crit Care. 2008;12 Suppl 3:S3.
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