difusão de acervo digital da obra de alberto da veiga guignard
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difusão de acervo digital da obra de alberto da veiga guignard
Revista Brasileira de Arqueometria, Restauração e Conservação. Vol.1, No.4, pp. 169 - 172 Copyright © 2007 AERPA Editora DIFUSÃO DE ACERVO DIGITAL DA OBRA DE ALBERTO DA VEIGA GUIGNARD Clarissa Costa e Lima (*); Maria Cecília Ribeiro(*,†); Arnaldo de Albuquerque Araújo (*,†); Claudina Dutra Moresi(*) (*) Escola de Belas Artes - Universidade Federal de Minas Gerais; (*,†) Departamento de Ciência da Computação – Universidade Federal de Minas Gerais. Introdução O intercâmbio de conhecimento e formação de competência científico-tecnológica nos campos da preservação de bens móveis em meio digital, conservação-restauração, história da arte e história oral tem possibilitado o estudo da obra do pintor modernista, Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), importante formador de escola no Brasil, relacionando aspectos históricos, estéticos e caracterização dos materiais e técnicas, resultando na formação de banco de dados referencial, com acesso via Internet. O pintor Alberto da Veiga Guignard nasceu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, em 1896 e faleceu em Belo Horizonte, em 1962. Guignard é reconhecido hoje como um dos maiores expoentes da arte moderna brasileira, formador de escola em Belo Horizonte e Rio de Janeiro, bem como de várias gerações de artistas. Educado na Europa (1907-1929), ingressou na Real Academia de Belas Artes de Munique em 1917, onde estudou com o pintor Hermann Groeber e com o artista gráfico e ilustrador Adolpho Hengeler, pertencentes ao grupo “Sezession”. Participou de vários salões nacionais e internacionais; conheceu Picasso, Matisse, dentre outros pintores famosos, recebendo importantes prêmios ao longo de sua carreira. Ao retornar ao Brasil, residiu no Rio de Janeiro e em Itatiaia. Em 1944, transferiu-se para Belo Horizonte, a convite do Prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira, para dirigir um curso livre de desenho e pintura, atual Escola Guignard da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). Ele iniciou o modernismo em Belo Horizonte, permanecendo em Minas até a sua morte. (1) Sua produção compreende desenhos, pinturas sobre madeira (portas de armário, violão, compensados, etc.), pinturas sobre tela, pinturas murais e forros. Os temas pintados foram paisagens, retratos, auto-retratos, flores, naturezas-mortas, temas religiosos e outros (2). Visando o maior conhecimento da obra deste importante mestre modernista, iniciou-se, em 2002, no Centro de Conservação e Restauração (Cecor) - EBA/ UFMG a "Pesquisa Guignard", que reúne informações obtidas em cinco vertentes complementares, correspondendo às fases de Levantamento Bibliográfico, Inventário, História Oral, Estudo da Obra e Preservação Digital, numa parceria com especialistas de diferentes áreas do conhecimento. Materiais e Métodos O acervo digital da Pesquisa Guignard é formado por textos, imagens, arquivos audiovisuais e de áudio. As obras estudadas estão sendo documentadas em cromos de 35 mm (frente, verso e detalhes) e 120 mm (frente). A opção adotada foi a fotografia convencional e depois a digitalização, pela qualidade e definição. Fig.1 Guignard contemplando sua obra. Foto do acervo EBA/UFMG - Fotógrafo não identificado Para formação das imagens matrizes estão sendo escaneadas imagens a 4000 dpi (dot per inch), tal resolução permite a visualização clara de detalhes das pinceladas, o formato adotado é o tiff (Tagged Image File Format - Formato de Arquivo Etiquetado de Imagem), adequado para armazenar imagens coloridas, por ser sem perda e sem compressão, preservando toda integridade da imagem (3). As imagens são escaneadas com Escaner Nikon, super coolscan 4000 ED, após calibração do escaner com slide padrão (Q-60E3 Color Calibration Target- 35mm Ektachrome film (IT-8)) e em seguida usa-se o programa Vue Scan, que proporciona qualidade de cor com definição superior ao programa do escaner. Estão sendo feitas cópias para impressão a 300 dpi, formato jpg e cópias para a Internet 72 dpi, formato jpg. O formato Joint Photographers Expert Group (JPEG) é orientado para imagens fotográficas e comprime a imagem provocando perdas de informações, imperceptíveis pela visão humana, mas irreparáveis. A codificação JPEG é atualmente uma das técnicas mais importantes de compressão, principalmente de imagens com gradações suaves de intensidade, geradas por capturas de fotos. Este formato é a codificação dominante para distribuição de imagens fotográficas na Internet (4) e é suportado pela maioria das plataformas de computador e pelos navegadores Web. O acervo de áudio da Pesquisa é composto por fitas (de rolo e K-7) com entrevistas e depoimentos de proprietários de obras de Guignard e de pessoas que conheceram o artista. Este acervo foi digitalizado em dois formatos, o original, WAV, e para disponibilização na Internet, MP3, que mantendo qualidade semelhante ao do WAV - pode ficar até 12 vezes menor. Pretende-se também neste projeto digitalizar o acervo da videoteca da Escola de Belas Artes / EBA referente à Guignard, como documentários e entrevistas. A digitalização se dará com a gravação dos 169 vídeos para o formato DVD (Digital Versatile Disc), para cópia original de alta qualidade. Para disponibilização na WEB, o vídeo, ou trechos dele, será transformado em uma animação Flash, que dispensa codec’s extras para exibição, e se mostra a alternativa mais acessível ao internauta, uma vez que praticamente todos os micros contam com o plug-in para exibir este tipo de conteúdo e no caso daqueles que não o possuem, o plug-in, de fácil instalação, está disponível para download. Os vídeos para disponibilização na Internet serão editados, sendo adicionado a eles legendas.(7) dados não possui uma boa estrutura informacional, seu valor para os usuários tende a diminuir dramaticamente Fig.3 Tela do programa de arquivamento de imagens da Pesquisa Fig.2 Exemplares de meios digitlazados para o acervo da Pesquisa Guginard: fotos, fitas de vhs e k7 A preservação de um bem está relacionada ao acesso que se dará a este. O desenvolvimento de uma estratégia de recuperação eficaz da informação é necessário para que a digitalização de um acervo possa ser considerada uma atividade de preservação. Com o objetivo de gerir o acervo digital foi criado o Sistema de Obtenção de Dados, com o zelo de possibilitar a recuperação eficaz das informações. Este sistema é uma interface Web baseada em formulários para operar amigavelmente o banco de dados multimídia da Pesquisa. Ele possui acesso restrito aos membros da Pesquisa com diferenciados níveis de permissão. Desta forma, a fim de difundir o acervo digital da vida e obra de Guignard, foi necessária a adoção de um método de arquivamento no Sistema de Obtenção de Dados capaz de atender ao recurso de busca pelo conteúdo textual codificado. Salienta-se aqui, que o acervo multimídia deve ser bem classificado e indexado no banco de dados, pois quando a base de com seu crescimento, afinal, cada consulta resulta em uma grande quantidade de respostas espúrias, mescladas à informação útil. Assim, o acervo de dados digitais deve ser protegido contra sua própria desmedida, o que é feito através de mecanismos de arranjo e indexação e da criação de instrumentos de pesquisa que garantam a possibilidade de recuperação da informação (6). Portanto, a coleção foi indexada de uma forma mais sumária ou mais analítica, por meio de vocabulários controlados e tesauros. As informações contidas nos bancos de dados da Pesquisa estão organizadas em forma de tesauros, objetivando facilitar o encontro de termos nas buscas por palavra-chave. Dentro da estrutura do tesauros, os termos são ordenados de acordo com as relações lógico-ontológicas - de hierarquia, de equivalência e de associações - existentes entre eles. Alguns bancos da Pesquisa possuem ainda suas particulariedades para melhor atender a organização de suas informações. Para o arquivamento do estudo bibliográfico da Pesquisa, foi usada a classificação facetada, que pode ser definida como uma forma de agrupar os termos estruturados, baseado em análise criteriosa de um assunto, para identificação de seus diferentes aspectos. A análise em facetas coordena conceitos, significando que um assunto, por mais complexo que seja, pode ser represenado pela síntese de mais uma faceta, cada uma indicando conceitos diferentes, sendo chamada de classificação análiticasintética. O banco de entrevistas e depoimentos cobre dentre outras necessidades a informação da loclização das fitas k7 da Pesquisa, para isso foi feita a catalogação deste acervo. O banco que registra o inventário da Pesquisa segue as normas ABNT e às regras do Código de Catalogação Anglo Americana. Devido à todo esse arcabouço do Sistema de Obtenção de Dados, as buscas poderão ser realizadas retornando resultados mais precisos. Os recursos de busca pelo conteúdo textual codificado estão em fase de implementação, através dele o texto é representado em nível de caractere (6). Nesse tipo de informação, é possível fazer a busca por palavras ou frases. A busca textual pode ser associada a 170 tesauros, à análise da informação semântica latente. Esses métodos permitem, com mais precisão, que o usuário encontre os documentos de seu interesse. As buscas se darão através da pesquisa convencional por palavra-chave e através da busca avançada, auxiliada por tópicos pré-estabelecidos, esta opção também foi prevista no arquivamento das informações da Pesquisa, e para isso, foi inserido nos campos de informação que cada registro contém, mais um campo especificando o tópico ao qual ele irá pertencer. Para contribuir com o consulente, as pesquisas ao acervo da Pesquisa Guignard serão exibidas junto à links para assuntos relacionados ao resultado, por exemplo, ao se buscar por uma obra específica de Guignard, em seu resultado deverá vir listado a literatura que faz referência a esta obra, lugares onde ela já foi exposta, enfim, a história da obra. O desenvolvimento destes sistemas de informação seguiram um processo de software adaptado para Web, com enfase na usabilidade e que possibilita uma descrição dos requisitos de forma mais adequada à este ambiente de características ímpares. Sendo consirados aspectos como segurança de dados, facilidade de utilização, desing gráfico atrativo e funcional, tempo de resposta baixo, portabilidade, conteúdo, correção e robustez. O ambiente de desenvolvimento foi preparado para possibilitar o uso gratuito do sistema por outras entidades – universidades, museus, centros de pesquisa, etc., mediante contrato estabelecido com a Pesquisa Guignard, para tanto, foram adotados o sistema de banco de dados MySQL, o servidor Web Apache e a linguagem de script PHP. Resultados A concretização do acervo digital e multimídia tem se dado graças à formação do sistema para arquivamento organizado das informações resultantes da pesquisa da obra, do inventário da obra, da biografia e da bibliografia sobre Guignard. O sítio para acesso do público em geral ao acervo está em pleno desenvolvimento. Ambos culminam para a preservação da vida e obra de Guignard. Conclusões O trabalho visa contribuir para o acesso digital de obras de arte no Brasil; promover a preservação do patrimônio artístico cultural, através de recursos tecnológicos de ponta; e como resultado aplicar e difundir a Conservação Digital. Estes objetivos já estão sendo alcançados. A abordagem digital apresenta-se particularmente vantajosa em se tratando de obras de arte, cujas características intrínsecas – forma, cor, pincelada, traços, texturas, tridimensionalidade, dificuldade de descrição eficiente e eficaz para formação de tesauros, etc. – exigem sistemas mais especializados. No caso específico da obra de Guignard, que se encontra geográfica e institucionalmente dispersa, não constituindo, portanto, uma coleção formalizada, o tratamento digital apresenta-se como única alternativa de preservação do conjunto do acervo, ao reuni-lo em banco de dados, possibilitando democratizar seu acesso para a comunidade em geral. Fig.4 Fluxo de Trabalho de Engenharia de Usabilidade (9) Referências (1) VIEIRA, Ivone Luzia. Guignard em Minas Gerais: a modernidade de uma obra. (2000) Disponível em: www.pesquisaguignard.eba.ufmg.br. Acesso em 15 Janeiro de 2006. (2) ZANINI, Walter (org). História geral da arte no Brasil. 2v. São Paulo: Instituto Walter Moreira Salles / Fundação Djalma Guimarães, (1982). (3) CONWAY, Paul, “Preservação no universo digital”. Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 1997, http://www.cpba.net/pdf_cadtec/52.pdf. (4) LIMA, C.C., TAVARES, G. da S., VIEIRA, F.M., MORESI, C.M.D., VALLE Jr., E.A. & ARAÚJO, A. de A. Sistema de obtenção de dados multimídia para a pesquisa Guignard, Anais (CD-ROM, Tools and Demos Track) do X Brazilian Symposium on Multimedia and the Web - WebMedia, Salvador-BA, Brazil, ISBN no. 8 5884 4272 8, 2003, pp 539-542. (5) MORESI, Claudina M. D., NEVES, Anamaria R. A., VELOSO, Bethânia R., TRINDADE, Silvana M. C., FORTES, Gélcio, CUNHA, Evandro J. L., ARAÚJO, Arnaldo de A., HADAD, Renato M, TEIXEIRA, Inês A. de C.,VINHOSA, Francisco L. T., 171 “ Documentação e estudo da obra de Guignard” in CIDOC 2002 – Preservando Culturas: Documentando o Patrimônio Imaterial. Porto Alegre: Comitê Nacional Brasileiro do ICOM / Ministério da Cultura / IPHAN, 2002. (6) VALLE Jr, Eduardo Alves. Sistema de Informação Multimídia de Preservação de Acervos Permanentes. Universidade Federal de Minas Gerais, 2003. (7) Coleção Info - Vídeo, edição 21 de 2005, Editora Abril (8) PAULA F., Wilson P., Multimídia Conceitos e Aplicações”, LTC, Rio de Janeiro, 2002 (9) PÁDUA, Clarindo Isaías Pereira da Silva e. Apostila de Engenharia de Usabilidade (documento em elaboração – uso interno somente). Disponível na WWW: <http://www.dcc.ufmg.br/~clarindo/arquivos/disciplina s/eu/material/referencias/apostila-usabilidade.pdf>. Junho de 2003. Agradecimentos Agradecemos ao CNPq, FAPEMIG e ao SERPRO pelo apoio e incentivo. E-Mails dos Autores [email protected] [email protected] [email protected] 172