A hipóxia é a principal alteração fisiológica no transporte
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A hipóxia é a principal alteração fisiológica no transporte
1 A hipóxia é a principal alteração fisiológica no transporte aeromédico1. Hypoxia is the main physiological change in the aero-medical transport1. La hipoxia es la principal alteración fisiológica an el transporte aeromédico1. Costa Jacqueline Camilo, Protásio Kassandra Lopes 2, Brasileiro Marislei Espíndula 3. A hipóxia é a principal alteração fisiológica no transporte aeromédico. Revista Eletrônica de Enfermagem do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição [serial on-line] 2009 jan-jul 1(1) 1-15, Avaliable from: <http://www.ceen.com.br/revistaeletronica>. Resumo Objetivo: Identificar e analisar artigos científicos publicados entre 1999 a 2009, que falem sobre o transporte aeromédico e as principais alterações fisiológicas. Materiais e Métodos: utilizamos uma abordagem qualitativa exploratória onde selecionamos 15 artigos, utilizando como critério de inclusão, artigos publicados entre 1999 a 2009, que abordassem o transporte aeromédico, fisiologia aérea e hipóxia. Resultados: a análise dos quinze artigos possibilitou identificar que há uma preocupação com diversos aspectos ligados ao transporte aeromédico, 11 publicações abordam sobre a hipóxia, como principal alteração fisiológica. Porém, somente três referem-se sobre a hipóxia de altitude. Conclusão: através da pesquisa realizada podemos confirmar que a hipóxia é a principal alteração fisiológica no transporte aeromédico e a mais grave alteração, podendo o paciente evoluir a óbito dependendo de sua gravidade, caso não seja revertido o quadro. Descritores: Enfermagem, transporte aeromédico, hipóxia. Abstrat Objective: The objective of this study is to identify and analyze scientific articles published from 1999 to 2009 to talk about the aero-medical transport and physiological changes, especially the hypoxia. Materials and Methods: We selected 15 items in a qualitative exploratory approach, using as a criterion for inclusion articles published from 1999 to 2009, that dealt with the aero-medical transport, aviation physiology and hypoxia. Results: The analysis of the fifteen articles identified that there is concern about the various aspects of aero-medical transport, over 11 publications dealing with hypoxia. However, only three 1 Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Emergência e Urgência 8, do CEEN/PUC-GO. 2 Dra. Jacqueline Camilo da Costa, Dra. Kassandra Lopes Protásio, Enfermeiras de bordo, Pós Graduandas em Emergência e Urgência, e-mail: [email protected]; [email protected] 3 Mestre em Enfermagem, docente do CEEN, Doutoranda de Ciências da Saúde-UFG, e-mail: [email protected] 2 concern about altitude hypoxia. Conclusion: Through the survey we can confirm that hypoxia is the main physiological change in aero-medical transport and the most severe change, the patient may die depending on its severity, if not reversed the situation. Keywords: Nursing, aero-medical transport, hypoxia. Resumen Objetivo: el objetivo de este trabajo es identificar y analizar artículos científicos publicados de 1.999 a 2009, que tratan sobre el transporte aeromédico y alteraciones fisiológicas, principalmente la hipoxia. Materiales y métodos: utilizamos un enfoque cualitativo exploratorio donde seleccionamos 15 artículos, utilizando como criterio de inclusión, artículos publicados de 1.999 a 2.009, que trataban sobre el transporte aeromédico, fisiología aérea e hipoxia. Resultados: el análisis de los quince artículos posibilitó identificar que hay una preocupación con diversos aspectos relacionados al transporte aeromédico, 11 publicaciones tratan sobre la hipoxia. Pero, solamente tres se refieren a la hipoxia de altitud. Conclusión: a través de la investigación realizada podemos confirmar que la hipoxia es la principal alteración fisiológica en el transporte aeromédico y la más grave alteración, pudiendo conducir al paciente a la muerte dependiendo de su gravedad, caso no se revierta el cuadro. Palabras clave: enfermería, transporte aeromédico, hipoxia. 1 Introdução O Interesse em pesquisar sobre a hipóxia no transporte aeromédico surgiu em decorrência de atuarmos nesta área na empresa Brasilvida táxi aéreo com sede em Goiânia Goiás, onde realizamos as remoções aeromédicas (RAM) e evidenciamos alterações fisiológicas dos pacientes transportados, e por existir poucas publicações sobre o assunto. O problema encontrado é que o serviço de remoções aeromédicas é uma área em desenvolvimento no Brasil, e tendo pouca qualificação de atenção às urgências, ocorre um grande desconhecimento das alterações fisiológicas do transporte aeromédico. Sendo assim, qual a principal alteração fisiológica no transporte aeromédico? Este estudo torna-se pertinente pelo alto índice de mudanças fisiológicas e fisiopatológicas observadas no cotidiano dos pesquisadores deste estudo principalmente sobre alterações barométricas relacionadas à hipóxia. 2 Objetivo 3 Dessa forma o objetivo deste trabalho é identificar e analisar artigos científicos publicados entre 1999 a 2009, que falem sobre o transporte aeromédico e alterações fisiológicas, principalmente a hipóxia. 3 Métodos Trabalho realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica, integrativa sobre a temática: A hipóxia é a principal alteração fisiológica no transporte aeromédico. Utilizamos uma abordagem exploratória onde selecionamos 15 artigos, utilizando como critério de inclusão, artigos publicados entre 1999 a 2009, que abordassem o transporte aeromédico, fisiologia aérea e hipóxia. A metodologia integrativa não se preocupa com a representatividade numérica, mas em analisar e interpretar aspectos mais intimamente que se desenvolvem naturalmente, descrevendo os elementos do comportamento humano. É rico em dados descritivos, sendo flexível e direcionado na realidade de forma complexa e contextualizada. Gera análise minuciosa sobre investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento, etc 1, 2. As informações foram coletadas no Scientific Eletronic Library (Scielo) e Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências e Saúde (Lilacs), sendo selecionadas três palavras chaves: hipóxia, transporte aeromédico, fisiologia aérea. Utilizamos um roteiro para a coleta de dados que aguarda aprovação pelo corpo docente da Universidade contendo: autores, fonte de publicação, ano de publicação, local de publicação, revistas, objetivos do estudo, tipo de estudo e resultados dos artigos. Após a leitura dos 15 artigos criamos dois tópicos de apresentação dos resultados: identificação dos artigos; e hipóxia: principal alteração fisiológica do transporte aeromédico. 4 Resultados e Discussões 4.1 Identificação dos artigos Após um estudo bibliográfico, efetuamos uma revisão exploratória das publicações realizando a identificação dos anos, das revistas, dos locais das publicações, dos tipos de estudos, fazendo uma leitura seletiva, sendo permitido uma análise do material para esse estudo. Foram localizados 15 artigos, sendo que sete artigos na abordagem qualitativa (46%), três no estudo quantitativo (20%), três no quanti-qualitativo (20%), um no método analítico fotográfico oral (7%) e um no estudo observacional (7%) sobre transporte aeromédico, fisiologia aérea e hipóxia. No ano de 1999 encontramos um artigo (7%), em 2001 dois artigos 4 (13%), em 2003 um (7%), em 2005 dois (7%), em 2006 um (7%), em 2007 cinco (33%), em 2008 três (20%) e em 2009 um (7%). Analisados os dados acima, verificamos que a maior quantidade de artigos foram encontrados no ano de 2007, sendo que destes foram compilados artigos publicados nos anos de 1999 a 2009; tendo como principal objetivo artigos publicados que falem sobre o transporte aeromédico e a hipóxia como principal alteração fisiológica. Os artigos selecionados foram publicados nas seguintes revistas: REBEn (13%), ABEn RIO (7%), Revista de Medicina Ribeirão Preto (20%), fmrp USP (7%), Biblioteca Universal.net (13%), Sociedade Brasileira de Cardiologia (7%), Web saúde (7%), Texto e Contexto de Enfermagem Florianópolis (7%), Acta Paulista (13%) e Revista Paulista de Pediatria (7%). A análise dos quinze artigos possibilitou identificar que há uma preocupação com diversos aspectos ligados ao transporte aeromédico. a) Histórico do transporte aeromédico b) Aspectos relacionados à hipóxia Tais tópicos serão analisados a seguir: a) Histórico do transporte aeromédico 1 Histórico da Remoção Aeromédica no Mundo Considera-se que o inicio das RAM se deu em 1870 durante a guerra Franco – Prussiana, sendo utilizado um balão para a retirada de feridos. Com o aparecimento da Primeira Guerra Mundial em 1914 surge o interesse em aprimorar as aeronaves em decorrência da situação, e a necessidade indispensável em socorrer de forma imediata os pilotos abatidos em combate3,4. Já na Segunda Guerra Mundial, que ocorreu de 1939 a 1945, modificou-se a perspectiva em que até o momento se tinha das RAM, além de estabelecer um marco histórico na assistência de enfermagem. Os pacientes eram removidos em aviões de carga, possuindo três leitos de cada lado, sendo assistidos por “Flight Nurses”, profissionais especializadas para esse tipo de atendimento, além de executar atividades como membro das Forças Armadas, no fronte, em hospitais de campanhas, nas bases ferroviárias e aéreas4. Foi na Guerra da Coréia em 1950, em que os militares comprovaram a importância das “Flight Nurses” na prática da assistência nas RAM, sendo obrigatória a presença do enfermeiro na região de conflito utilizando os helicópteros da marinha, onde cerca de 10.000 feridos foram resgatados3,4. 5 De 1962 a 1973 mais de 5.000 enfermeiros serviram na Guerra do Vietnã cooperaram positivamente na remoção de aproximadamente um milhão de militares e feridos, o que foi um sucesso. Nesse tempo, havia um hospital a longa distância que servia de base para a remoção de pacientes feridos, provocando um enorme interesse por parte da população 3,4. Entende-se que as guerras foram importantes para o surgimento e aprimoramento das RAM, e foi através delas que se detectou a importância das “Flight Nurses” na prática da assistência, comprovando a necessidade do enfermeiro no cuidado ao paciente aero transportado. Como se desenvolveu a história da Remoção Aeromédica no Brasil? 2 Histórico da Remoção aeromédica no Brasil De 1930 a 1945, sob a ditadura de Vargas, o Brasil participou da Segunda Guerra Mundial. Surgiu a Força Expedicionária Brasileira (FEB) que saiu para o campo de batalha, comandada pelo General João Batista Mascarenhas de Moraes. Esse episódio político favoreceu para o pioneirismo das enfermeiras nas Forças Armadas4,5. Em 1950 surgiu o Serviço de Busca e Salvamento (SAR), na 1ª Zona Aérea com sede em Belém – PA com intuito de localizar aeronaves ou embarcações desaparecidas e retornar com segurança os sobreviventes de acidentes aéreos ou marítimos 4. Há 40 anos foi introduzido no Brasil um sistema de resgate pela Força Aérea Brasileira (FAB) em regiões com menos infra-estrutura, como na região Amazônica e Centro-Oeste. A RAM no Brasil é necessária em decorrência de sua extensa dimensão continental 4,5. No final da década de 80 e início da década de 90, surgiram as RAM particulares em decorrência da necessidade dos pacientes percorrerem longas distâncias em razão de recursos diagnósticos e terapêuticos4. No início da década de 90, surgiram vários serviços privados de transporte aeromédico em todo território nacional, porém existem poucas empresas homologadas pelo Departamento de Aviação Civil (DAC) para esta atividade, que exige uma complexa estrutura organizacional, desde as aeronaves especialmente projetadas para a execução das RAM, a equipamentos modernos e pessoal qualificado para tal4. Devido a grande extensão territorial do Brasil, houve-se a necessidade de implantar um sistema de remoções aeromédicas para atender as regiões de menos infra-estrutura, o que ocorre até os dias atuais principalmente na região norte do país. Surgiram empresas particulares, porém nem todas estão devidamente homologadas pela DAC, confirmando a atuação de empresas clandestinas. 6 Qual seria a importância do transporte aeromédico? 3 A importância do Aeromédico No decorrer dos anos, a Engenharia Aeronáutica aperfeiçoou a capacidade e potência das aeronaves, surgiram leis de proteção de vôo através do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, e por meio da Medicina Aeroespacial 3. “Remoção Aeromédica (RAM): remoção inter-hospitalar de pacientes que necessitam de assistência médica e de enfermagem, através de aeronave especialmente adaptada para esse fim”6,7. No Brasil desenvolvimento, o Serviço por isso de Remoção torna-se Aeromédica indispensável à (SRAM) é uma regulamentação atividade dos em profissionais envolvidos, bem como a necessidade de padronizar os cuidados oferecidos . Seguindo 4,8 normas, padrões e protocolos da portaria nº 2048 de 5 de setembro de 2003. “A duração do transporte pode ser prolongada, ficando o paciente fora do ambiente ‘protegido’ de uma área de cuidados intensivos, sendo um período de potenciais complicações.” A determinação de transportar um paciente crítico deve ser fundamentada no risco – benefício, ou seja, o transporte deve ocorrer quando os benefícios são maiores que os riscos inerentes ao transporte8,9,10. Foram estudados fatores de estresse da atividade aérea e suas conseqüências, determinando as restrições da resistência física e psíquica e os equipamentos de proteção da saúde necessários para evitar danos permanentes ou temporários. O transporte do paciente deve ser realizado de modo consciente e científico, utilizando o conhecimento teórico e prático. Daí a necessidade do conhecimento desses fatores, de como minimizar seus efeitos e dos limites do homem durante o vôo3,8. Assim como a necessidade de qualificação da atenção às urgências11. No Brasil, poucas pessoas, mesmo profissionais de saúde, lembra-se dos princípios e Leis de Física que regem os gases e muitos desconhecem que a pressurização das aeronaves é parcial12. Há alteração do meio ambiente e de seus principais componentes, tais como: déficit de oxigênio, menor quantidade de vapor d’água, aumento de ruídos e vibrações, maior exposição a radiações, disbarismos, estresses, barosinusite, barondontalgia, ritmo circadiano, etc8,13. Os fatores relacionados à exposição a esse ambiente podem intervir no corpo dos indivíduos, levando a alterações fisiológicas, o que é de extremo valor quando se trata de transporte aeromédico, quando se tem a bordo um paciente com estado de saúde alterado 8,14. 7 O transporte aeromédico surgiu, portanto em decorrência das guerras mundiais e das necessidades de transporte rápido para centros avançados, porém esse transporte era realizado sem condições básicas de segurança. Por ser pouco difundido no Brasil, existe um déficit de profissionais capacitados para o transporte aéreo, necessitando de estudos e treinamentos para habilitá-los na execução da RAM. Que dizer, então dos aspectos relacionados a hipóxia? b) Aspectos relacionados à hipóxia Das 15 publicações 11 abordam sobre a hipóxia. Porém, somente três referem-se sobre a hipóxia de altitude, conforme é possível verificar abaixo: “Transporte médico terrestre e aéreo.” “Fisiologia aeronáutica e da altitude.” “Diretriz de doença cardiovascular e viagem aérea.” A atmosfera é a camada de gases que envolvem o planeta terra, alcançando até 70.000 pés, onde a mistura dos gases se mantém estável, sendo nitrogênio 78%, oxigênio 21%, e outros gases 1%. A pressão atmosférica que é de 760 mmHg ao nível do mar, à medida que se ascende, a pressão dos gases diminui, tornando o ar rarefeito, bem como diminuindo a pressão parcial de seus componentes3,12,13. Algumas leis da física, como a lei dos gases devem ser lembradas para melhor entendimento da fisiologia da altitude. (tabela 1) Lei Física Lei de Dalton PT= P1+P2+... +PN Lei de BoyleMariotte P1/P2=A1/A2 Lei de Henry P1/P2=A1/A2 Explicação A pressão total de uma mistura de gases é igual à soma das pressões parciais de cada gás na mistura. O volume de um gás é inversamente proporcional à pressão a qual está submetido, se a temperatura permanece constante. A quantidade de gás dissolvido em uma solução varia diretamente com a pressão deste gás Aplicação na Aviação Hipóxia. Explica por que, quando se aumenta a altitude, reduz-se a pressão atmosférica total, bem como a pressão parcial de cada gás que participa dessa composição. Gás enclausurado. Explica como as alterações de pressão permitem que o gás se expanda e contraia dentro das cavidades corporais (ouvidos, seios paranasais, tubo digestivo), com o aumento e diminuição da altitude. Doença descompressiva. Explica por que o nitrogênio no sangue deixa de ficar dissolvido, formando bolhas que causam a doença descompressiva da altitude. À medida que aumenta a altitude, a pressão diminui, e o 8 sobre esta solução. Lei da Difusão de Gases Lei de Charles P1/T1=P2/T2 Um gás vai difundirser de uma área de alta concentração para uma área de baixa concentração. A pressão de um gás é diretamente proporcional à sua temperatura. nitrogênio vai deixar o corpo humano equalizado com o meio externo. Se a alteração da pressão é muito rápida, o excesso de nitrogênio pode formar bolhas. Transferência de gás no corpo. Explica a transferência de gases entre a atmosfera e os pulmões, os pulmões e o sangue, e o sangue e as células. Esta lei não tem maiores implicações fisiológicas, uma vez que a temperatura corporal é mantida constante a 36,5 C. Tabela 1: Relação entre leis da física e fisiologia da altitude. Observa-se no quadro acima que as leis da física explicam quais alterações ocorrem e a definição de cada lei. O sistema respiratório é composto por: vias aéreas superiores e inferiores, sendo responsáveis pela ventilação, ou seja, movimento do ar para dentro e fora dos pulmões. O trato respiratório superior filtra e aquece o ar inspirado, e o trato inferior realiza a troca gasosa, que consiste na entrega de oxigênio para os tecidos através da corrente sanguínea e a excreção dos gases residuais (dióxido de carbono), durante a expiração 9,15,16. Na inspiração, o diafragma se contrai, o conteúdo abdominal é forçado para baixo e para frente, e as costelas são levantadas, diminuindo a pressão dentro do tórax até um nível abaixo da pressão atmosférica. Assim o ar é puxado para dentro dos alvéolos. Na expiração o diafragma relaxa e os pulmões retraem-se diminuindo o tamanho da cavidade torácica. A pressão alveolar fica maior que a pressão atmosférica e o ar flui dos pulmões em direção à atmosfera12,14,15,17. “Sumariamente o metabolismo tem como combustível alimento e oxigênio e, como produto final energia, gás carbônico (CO 2), água (H2O) e calor. O sistema respiratório exclui com maior rapidez os três últimos 12.” Quando estamos ao nível do mar (760 mmHg), gasta-se energia para expirar oxigênio, porém quando se atinge altas altitudes ocorre o inverso, ou seja, gasta se energia para inspirar devido a menor pressão atmosférica o que causa grande desconforto respiratório, tanto para o paciente quanto para toda tripulação. As alterações ambientais durante o vôo impõem ao transporte aeromédico uma série de condições fisiológicas inadequadas, sendo uma delas a hipóxia que é a principal alteração fisiológica3. 9 Pode-se definir hipóxia como uma baixa concentração de oxigênio nos tecidos suficientemente capaz de causar falhas na função fisiológica . A característica mais 3,9,15 ameaçadora é a sua instalação insidiosa3,9. Existem quatro tipos de hipóxia: 1) Hipóxia hipóxica (hipóbarica) - é resultante da troca gasosa inadequada ao nível da membrana alvéolo-capilar. Pode ser causada pela inadequada pressão parcial de oxigênio no ar inspirado (altitude), defeito na ventilação/perfusão (pneumonia, shunts) ou obstrução das vias aéreas (asma). O suprimento insuficiente de oxigênio conseqüentemente resultará em deficiência de O 2 nos tecidos. Esta representa a forma mais comum de hipóxia encontrada na altitude 3,9. 2) Hipóxia hipêmica (anêmica) - deficiente capacidade do sangue em transportar o O2 dos tecidos. As causas mais comuns são: anemia, envenenamento por monóxido de carbono, perda significativa de sangue, uso de sulfa e tabagismo excessivo3,9. 3) Hipóxia estagnante (déficit na circulação) – é a deficiência de O 2 no organismo, em conseqüência da pobre circulação. Pode ocorrer quando o débito cardíaco não satisfaz as necessidades teciduais. Outras causas incluem: espasmo arterial, congestão venosa, oclusão de vaso sanguíneo, cargas G e o período de respiração positiva3,9. 4) Hipóxia histotóxica (envenenamento) – incapacidade dos tecidos em utilizar o O 2 disponível. Causada por: envenenamento por monóxido de carbono, cianeto, ingestão de álcool e narcóticos3,9. A diminuição da pressão parcial do oxigênio no ar inspirado leva a deficiência de oxigênio nos tecidos, mesmo que a composição desse ar permaneça a mesma (80% N 2 e 20% de O2), sendo caracterizada como Hipóxia Hipóxica ou de Altitude que se divide em aguda e crônica12. 1) Aguda: exposição imediata do organismo sem tempo para utilização total dos mecanismos compensadores. 2) Crônica: exposição progressiva do organismo com tempo para utilização dos mecanismos compensadores. O estagiamento clínico é dividido em quatro etapas: 1) Estágio Indiferente: que vai do nível do mar até 6.000 pés de altitude. A pressão atmosférica passa a 609 mmHg, a saturação da hemoglobina chega a 93% e tem, como alterações, modificações na visão noturna e no eletrocardiograma (encurtamento do espaço PR, achatamento da onda T, taquicardia sinusal) 3,12. 10 2) Estágio Compensatório: que vai de 6.000 a 12.000 pés. A pressão atmosférica passa para 438 mmHg, a saturação da hemoglobina chega a 83% e tem como alteração o aumento do volume respiratório por minuto e o aumento da velocidade circulatória3,12. 3) Estágio das Perturbações: que vai de 12.000 a 18.000 pés. A pressão atmosférica passa para 379 mmhg, a saturação da hemoglobina chega a 70% e tem como alterações o aparecimento de sintomas subjetivos (fadiga, lassidão, sonolência, tonteiras, cefaléia e euforia) e objetivos (tato, visão, discernimento, raciocínio, julgamento, tempo de reação e incoordenação)3,12. 4) Estágio Crítico: acima de 20.000 pés. A pressão atmosférica passa para 340 mmHg, a saturação da hemoglobina chega a 60% e tem como alterações principais distúrbios no sistema nervoso central, inconsciência e a morte3,12. 35 a 40 mil pés (11 a 13 mil metros) 20 a 25 mil pés (6,5 a 8 mil metros) 15 a 45 segundos 15 a 18 mil pés (5 a 6 mil metros) Meia hora 10 a 14 mil pés (3 a 4,5 mil metros) Horas 5 minutos Inconsciência imediata (com pequeno aviso ou nenhum). Os mesmos sintomas das zonas 15 a 18, apenas mais pronunciados, com eventual inconsciência. Perturbações no raciocínio e visão, euforia, excesso de confiança, desprezo pelas percepções sensoriais na coordenação, sonolência, tonteira, mudança de personalidade, como no etilismo médio, cianose. Cefaléia, fadiga, apatia. Tabela 2 – Sintomas da Hipóxia. De acordo com o quadro acima, pode-se identificar que quanto mais alta for a altitude piores são os agravos em curto espaço de tempo. A quantidade de tempo em que um membro da tripulação é capaz de executar as funções críticas em um ambiente deficiente de oxigênio é referida como tempo de desempenho efetivo ou tempo útil de consciência. “Tempo Útil de Consciência (TUC): é o tempo que o indivíduo tem para perceber que está em hipóxia e tomar providências para saná-las. Pode variar com a altitude e se o indivíduo está em repouso ou em atividade12”. O trabalho aeronáutico tem semelhança com o exercício aumentando o consumo de oxigênio miocárdico, porém existe a diminuição de oferta de oxigênio devido à hipoxemia que 11 provoca modificações no sistema cardiovascular em duas fases. Inicialmente, com aumento do débito cardíaco causado pela elevação da freqüência, e débito cardíacos e vasoconstrição seletiva nos corações normais até a altitude de 4.500 metros. Posteriormente, como o aumento do trabalho cardíaco requer mais oxigênio, o miocárdio hipóxico responde com diminuição da freqüência cardíaca, hipotensão arterial e arritmias. Nos portadores de coronariopatia, esta alteração da reserva coronária ocorre aos 2.500 metros12. O tratamento da hipóxia é a utilização do oxigênio a 100%. Na recuperação do quadro da hipóxia de altitude, pode ocorrer súbita piora dos sintomas, com perda momentânea da consciência e espasmos crônicos, geralmente no primeiro minuto da administração do oxigênio a 100%. A esse fenômeno dá-se o nome de reação paradoxal ao oxigênio, que costuma ceder após alguns minutos, o indivíduo retoma a consciência e interrompe os espasmos. Após a hipóxia pode perdurar cefaléia ou fadiga, porém a persistência desses sintomas aparentemente está associada à duração do episódio do que a sua gravidade3. Assim que se regulariza a ventilação pulmonar, a pressão parcial de CO 2 também se regulariza, o fluxo cerebral se restabelece e a hipóxia cerebral cede, regredindo o quadro clínico3. Para prevenir a hipóxia de altitude deve ocorrer à manutenção da pressão alveolar de oxigênio entre 60 mmHg a 100 mmHg, isso pode ser alcançado pela pressurização da cabine e/ou utilização de oxigênio suplementar no vôo3. Os objetivos da oxigenoterapia são aumentar a concentração alveolar de oxigênio, diminuir o trabalho miocárdio e diminuir a demanda sobre o sistema pulmonar 3. O principal cuidado é evitar a hipóxia, mantendo via aérea permeável (evitando obstrução por secreções ou queda do nível de consciência), evitando uma diminuição da capacidade ventilatória (pela dor ou queda do nível de consciência) e fornecer oxigênio suplementar se necessário8. O cuff (balonetes) dos tubos orotraqueais em pressão excessiva, podem comprimir os vasos da traquéia e produzir fuga de gás com diminuição da ventilação alveolar e distensão gasosa do estômago e intestinal. O paciente deve ser mantido em sedação, monitorização constante, oximetria de pulso e cardíaca18. Assim a principal alteração é a hipóxia, por ela ser a principal causadora de óbitos em RAM conforme as citações anteriores que comprovam sua associação a altitude, podendo acarretar grandes alterações e agravos ao paciente aero transportado. Cabendo ao enfermeiro de bordo ter conhecimento e técnica na assistência ao paciente. 12 O transporte de paciente crítico envolve uma série de riscos, podendo ocorrer complicações graves no transporte, desde a perda de cateteres venosos, extubação acidental e hipoxemia até a parada cardiorrespiratória, causando sérios riscos à saúde do paciente, por vezes, de realizar procedimentos avançados de suporte de vida 8,19,20. Durante o transporte, o risco do paciente pode ser diminuído por meio de um planejamento cuidadoso, qualificação dos profissionais envolvidos no transporte e seleção de equipamentos adequados18,21. O treinamento contínuo e a eficiência da equipe é fator determinante da qualidade dos cuidados; os equipamentos, obviamente, importantes e a sua miniaturização têm resolvido muitos problemas associados com a falta de espaço 8. No Brasil, o enfermeiro de bordo é uma atividade recente, não existindo disciplina específica ministrada pela instituição de ensino, tendo apenas sua formação voltada para emergência, com experiência em cuidados a pacientes graves4. Nos EUA, existe um processo de seleção para os enfermeiros do aeromédico, abrangendo testes psicológicos e médicos, condicionamento físico e estabilidade emocional. O programa de treinamento didático é desenvolvido em sete semanas em período integral, exigindo alto grau de fundamentação em fisiologia e fisiopatologia, incluindo fisiopatologia aeromédica. Os enfermeiros de bordo do Serviço Flight for Life têm no mínimo dois anos de experiências em cuidados a pacientes críticos e em situação de emergência, recebendo curso sobre fisiologia de altitude, possuindo certificado do curso de Advanced Cardiac Life Support (ACLS)4. “Os procedimentos realizados pelo enfermeiro na Flight for Life incluem: entubação orotraqueal e ventilação, punção venosa periférica e inserção de cateteres central, estabilização da coluna cervical e de traumas ortopédicos, monitorização e correção das arritmias cardíacas por drogas administradas ou cardioversão, drenagem de tórax, reanimação cardiopulmonar e outras4.” 5 Considerações Finais A finalidade desse estudo foi avaliar publicações entre 1999 a 2009 indicando a relação entre aeromédico, hipóxia e fisiologia aérea, evidenciando as dificuldades relacionada a pouca publicação e a complexidade do assunto, servindo de instrumento para os profissionais da área e alunos que não encontram na faculdade este tipo de estudo. Podemos através desta pesquisa, identificar a complexidade envolvida no transporte aéreo, da responsabilidade da equipe envolvida, de que os profissionais desta área devem estar em treinamento contínuo, para aperfeiçoamento das técnicas e atualização dos protocolos, da utilização de equipamentos adequados para este tipo de transporte. 13 Desta forma é importante que o enfermeiro e toda a equipe responsável pelo transporte aeromédico, incluído pilotos e co-pilotos, compreendam os aspectos relacionados à hipóxia de altitude para garantir a qualidade no atendimento e a segurança de vôo. Evidenciamos que o transporte aéreo deve ser levado muito a sério, pois o paciente mesmo estável pode instabilizar a qualquer momento, devendo a equipe médica estar preparada para qualquer evento, tendo disponível na aeronave todo material essencial para urgência e emergência, garantindo assim a sobrevida do paciente e a chegada do mesmo em seu local de destino com segurança e qualidade de atendimento, pois não basta apenas “entregar” o paciente com vida, mas também com satisfação do atendimento para o paciente e familiares. Através da pesquisa realizada podemos confirmar que a hipóxia é a principal alteração fisiológica no transporte aeromédico e a mais grave alteração, podendo o paciente evoluir a óbito dependendo de sua gravidade, caso não seja revertido o quadro. O Brasil ainda tem muito a desenvolver e a crescer em relação à capacitação dos profissionais de saúde para a atuação de qualidade no transporte aeromédico. Espera-se que este estudo sirva para estudos futuros objetivando a melhor qualificação de profissionais que atuem no aeromédico. 6 Referências 1. Marconi MA, Lakatos EM. Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: Editora Atlas; 2004. 2. Ludke M, André M. Pesquisa em Educação: abordagem qualitativa. São Paulo: EPU; 1986. 3. Mannarino L, Timerman S, Alves PM. Transporte médico terrestre e aéreo. Emergências Cardiológicas; 2001; mar/abr. 11(2). 4. Thomaz RR, Miranda MFB, Souza GAG, Gentil RC. Enfermeiro de bordo: uma profissão no ar. São Paulo: Acta Paul. Enf. 1999; 12(1):86-96. 5. Bernades RMM, Lopes GT. Enfermeiras do exército brasileiro no transporte aéreo de feridos: um desafio enfrentado na 2ª Guerra Mundial. Brasília (BR): Revista Brasileira de Enfermagem/REBEN; 2007; jan-fev; 60(16):68-72. 6. NATIONAL HIGHWAY TRAFFIC SAFETY ADMINISTRATION. American Medical Association. Air ambulance guidelines. USA, 1986. 7. Gentil RC, Reis MCF, Saiki J, Samezima CMH. 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Silva RFA. Mobilização terapêutica como cuidado de enfermagem: evidência surgida da prática. ABEn RIO 2008. 15 Ofício 02/2010 Goiânia 21 de maio de 2010 A Revista Eletrônica de Enfermagem e Nutrição A/C.; Renata Vieira França Vimos por meio deste, encaminhar nosso artigo cujo título é “A hipóxia é a principal alteração fisiológica no transporte aeromédico”, a fim de ser avaliado e publicado pela Comissão Editorial. Eu, Marislei Espíndula Brasileiro, Enfermeira, residente na Rua T-37, nº 3832, Edifício Capitólio, apto 404, setor Bueno – Goiânia/GO, e-mail: [email protected], fone: (62) 3255 4747, assino autorizando sua publicação. Eu, Jacqueline Camilo da Costa, Enfermeira, residente na Rua C-136, qd 562, lt 08, setor Jardim América – Goiânia/GO, e-mail: [email protected], fone: (62) 8433 2704, assino autorizando sua publicação. Eu, Kassandra Lopes Protásio, Enfermeira, residente na Rua 90, nº 1115, Edifício Columbia, apto 302, setor Sul-Goiânia/GO, e-mail: [email protected], fone: (62) 8549 3710, assino autorizando sua publicação.
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