Teologia Sistemática: Cristologia

Transcrição

Teologia Sistemática: Cristologia
Teologia
Sistemática:
Cristologia
(A apostila segue a exposição feita pelo livro Introdução à Teologia Sistemática
de Millard Erickson, Edições Vida Nova, com algumas modificações).
Pr. Kenneth Eagleton
Escola Teológica Batista Livre
(ETBL)
Campinas, SP
2010
1
JESUS CRISTO (Cristologia)
Jesus Cristo é a segunda pessoa da trindade. Estudaremos agora a doutrina de Jesus Cristo,
começando pela sua pessoa e depois a sua obra. “Quando passamos a estudar a pessoa e a
obra de Cristo, estamos bem no centro da teologia cristã. Pois, uma vez que, por definição,
os cristãos são os que crêem em Cristo e o seguem, sua compreensão de Cristo deve ser o
centro e o determinante do próprio caráter da fé cristã”1.
A Pessoa de Cristo
1- A pré-existência de Jesus Cristo. Jesus Cristo existia (embora não em forma corporal)
antes de nascer de Maria – Jo 8:58-59; 1:1-4; 17:5; Fp 2:6-7. Ele é eterno, sem começo e
sem fim. Ele não é um ser criado.
2- O nascimento (ou a concepção) virginal de Cristo – Is 7:14; Mt 1:18-25; Lc 1:26-38.
Maria era virgem; não teve relacionamento sexual com nenhum homem. O componente
masculino que possibilitou a concepção foi fornecido de forma miraculosa pelo Espírito
Santo. Isto possibilitou que ele tivesse uma natureza divina e ao mesmo tempo uma
natureza humana.
3- A encarnação de Cristo – 1 Jo 4:2; Jo 1:14; Fp 2:5-8; Rm 8:3; Gl 4:4. Jesus Cristo desceu
de sua glória e se humilhou, assumindo a forma humana – se tornando um ser humano.
Jesus Cristo era uma pessoa única, mas tinha duas naturezas: a divina e a humana. Ele era
100% Deus e 100% humano. Jesus é o único ser que já existiu com esta qualidade de ter
duas naturazas. Este fato o qualifica para ser o mediador perfeito entre o homem e Deus.
Sendo Deus, ele pode representar perfeitamente a divindade. Sendo ser humano, pode
representar perfeitamente qualquer ser humano.
4- A Divindade de Jesus – o ensino bíblico é repleto de evidências das mais diversas
quanto à divindade de Jesus Cristo. Temos afirmações do próprio Jesus Cristo como
também confirmação dos autores do Novo Testamento sobre a sua divindade.
 Jesus fala em enviar seus anjos (Mt 13:41) – os anjos pertencem a Deus.
 O Reino de Deus é “seu reino” – Mt. 13:41.
 Ele tem autoridade para perdoar pecados – Mc 2:5-7.
 Ele julgará a terra – Mt 25:31-46.
 Ele é senhor do sábado – Mc 2:27-28 – um dia sagrado instituído por Deus.
 Ele é um com Deus Pai – Jo 10:30; 14:7-9.
 Ele se fazia igual com o Pai – Jo 5:18.
1
ERICKSON, Millard J., Introdução à Teologia Sistemática, (São Paulo: Edições Vida Nova), 1997, p. 275.
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2
 No seu julgamento, foi acusado de se dizer Filho de Deus – Jo 19:7; Mt 26:63-65.
 Jesus aceitou que os seus discípulos o reconhecessem como divino – Jo 20:28.
 Jesus tem poder sobre a vida e a morte – Jo 5:21; 11:25.
 Ele demonstrou um conhecimento acima do conhecimento humano normal – Jo
2:25; 16:30; 21:17.
 Os seus milagres demonstraram a sua divindade. Milagres que mostraram seu poder
sobre a doença, sobre os demônios, sobre a natureza e sobre a morte.
 João, chamando Jesus de “Verbo”, afirma a sua divindade e, ao mesmo tempo, uma
pessoa distinta de Deus Pai – Jo 1:1.
 O livro de Hebreus é também muito enfático no que se refere à divindade de Jesus
(Hb 1:1-3, 8).
 Paulo afirma sua divindade – Cl 1:15-20; 2:9; Fp 2:5-11 – e diz que julgará vivos e
mortos (2 Tm 4:1).
 A ressurreição de Jesus é prova da sua divindade.
 Atributos divinos são atribuídos à Jesus: soberania (Fp 2:10-11); eternidade (Cl 1:17);
imutabilidade (Hb 1:11-12); onipotência (Fp 3:20); onisciência (Jo 2:24-25);
onipresença (Jo 14:28) e santidade (1 Pe 2:22).
 A criação é atribuída à ele – Jo 1:3; Cl 1:16; Hb 1:10.
Concepções históricas errôneas a respeito da divindade de Jesus. Historicamente, alguns
grupos heréticos sustentaram pontos de vista que não reconheciam a divindade plena
de Jesus. Estes grupos, ainda nos primeiros séculos do Cristianismo, foram condenados
como heréticos e não foram aceitos como parte da igreja cristã. Citamos dois exemplos:
a) O ebionismo.
Jesus era, de acordo com os ebionitas, um homem comum que possiía dons
incomuns, mas não sobre-humanos ou sobrenaturais, de retidão e sabedoria. Eles
rejeitavam o nascimento virginal, sustentando que Jesus nascera de José e Maria,
normalmente. O batismo foi o evento significativo na vida de Jesus, pois foi então
que o Cristo desceu em forma de ponba sobre ele. Isso foi compreendido como a
presença do poder e da influência de Deus no homem Jesus do que como uma
realidade pessoal, metafísica. Próximo ao final da vida de Jesus, o Cristo afastou-se
dele2.
Não foi, portanto, Cristo que morreu na cruz, mas apenas o homem Jesus.
2
ERICKSON, p. 282.
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3
b) O arianismo. Esta doutrina surgiu com Ário em Alexandria.
A concepção central na visão ariana de Jesus é a absoluta singularidade e
transcendência de Deus. Deus é a única origem de todas as coisas, a única existência
não criada em todo o universo. Somente ele possui os atributos da divindade. Tudo
o que não é Deus surgiu por um ato de criação pelo qual ele o trouxe à existência a
partir do nada. Somente Deus (e com isso Ário queira dizer Pai) é incriado e eterno.
O Verbo, portanto, é um ser criado, apesar de ser o primeiro e o mais elevado dos
seres. Embora o Verbo seja uma criatura perfeita, não sendo, de fato, da mesma
classe que as outras criaturas, ele não tem existência própria3.
Esta doutrina foi condenada pela Igreja no Concílio de Nicéia em 325 e mantida em
concílios posteriores. Apesar de condenada, esta concepção da divindade de Jesus
ainda se encontra em alguns grupos religiosos, como nos Testemunhas de Jeová.
Implicações da divindade de Cristo:
a) Podemos ter conhecimento real de Deus através de Jesus – Jo 14:9. Se quisermos
saber como é o amor de Deus, a sua santidade ou o seu poder, só precisamos olhar
para Jesus4.
b) “A redenção está à nossa disposição. A morte de Cristo é suficiente para todos os
pecadores de todos os tempos, pois quem morreu não foi um mero homem finito,
mas um Deus infinito”5.
c) “Deus e a humanidade foram religados”6 (religare em latim, de onde tiramos nossa
palavra religião).
d) “É correto adorar a Cristo. Ele não é apenas o mais elevado das criaturas, mas é Deus
no mesmo sentido e no mesmo grau que o Pai”7.
5- A Humanidade de Cristo – “Por nosso próprio esforço moral, somos incapazes de nos
opor a nosso pecado, de nos elevar ao nível de Deus. Para ter comunhão com Deus,
precisamos ser unidos a ele de alguma outra maneira. Isso, como se entende
tradicionalmente, foi realizado pela encarnação, em que a divindade e a humanidade
foram unidas em uma pessoa. Se, porém, Jesus não era de fato um de nós, a
humanidade não foi unida à divindade, e não podemos ser salvos. Isso, porque a
validade de obra realizada na morte de Cristo, ou pelo menos sua aplicabilidade a nós
como seres humanos, depende da realidade de sua humanidade, assim como a sua
eficácia depende da genuinidade de sua divindade. Além disso, o ministério intercessor
de Jesus depende de sua humanidade”8.
3
ERICKSON, p. 282-283.
ERICKSON, p. 284.
5
ERICKSON, p. 284.
6
ERICKSON, p. 284
7
ERICKSON, p. 284
8
ERICKSON, p. 286
4
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A natureza física humana
 Jesus tinha um corpo humano, tendo passado pelo processo natural de uma
gestação e de um parto humano.
 “Jesus também teve uma árvore genealógica típica”9 (genealogias em Mateus e
Lucas).
 Ele crescia “em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2:52).
“Ele crescia fisicamente, alimentado por comida e água”10.
 Estava sujeito às mesmas limitações físicas, pois sentia fome (Mt 4:2), sede (Jo
19:28) e cansaço (Jo 4:6).
 Jesus tinha necessidade de dormir (Mt 8:24).
 Sofreu fisicamente e morreu uma morte física.
 A palavra “homem” é usada por Jesus em referência a si mesmo (Jo 8:40) e também
foi usada por outras pessoas para descrevê-lo (Rm 5:15, 17, 19).
 Jesus veio em “carne” – Jo 1:14; 1 Jo 4:2-3a.
 João fala da realidade da natureza humana de Jesus como testemunha ocular – 1 Jo
1:1.
A natureza psicológica humana
 Além de ter um corpo físico, tinha as mesmos qualidades emocionais e intelectuais
encontradas em outros seres humanos. Ele pensava, raciocinava e sentia toda a
gama de emoções humanas.
 Ele amava (Jo 13:23), sentia compaixão (Mt 9:36; 14:14 15:32; 20:34), sentia tristeza
e angústia (Mt 26:37-38), chorou (Jo 11:35), experimentou alegria (Jo 15:11; 17:13;
Hb 12:2), ficou irado (Mc 3:5) e indignado (Mc 10:14).
 Jesus procurou fugir da solidão (Mc 14:32-42; 15:34).
 A humanidade e as emoções de Jesus transpareceram na morte de Lázaro: “agitouse no espírito e comoveu-se” (Jo 11:33), “chorou” (v. 35) e junto ao túmulo “agitouse novamente” (v. 38).
 Quando vemos “as qualidades intelectuais de Jesus, descobrimos que ele possuía
um conhecimento bem destacado. Ele sabia o passado, o presente e o futuro em um
grau não permitido a seres humanos comuns”11. Ele conhecia o pensamento dos
9
ERICKSON, p. 286.
ERICKSON, p. 287.
11
ERICKSON, p. 289.
10
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amigos (Lc 9:47) e dos inimigos (Lc 6:8), sabia que a mulher samaritana tivera cinco
maridos e vivia com um sexto homem (Jo 4:18) e sabia da morte de Lázaro (Jo 11:4).
 “O seu conhecimento não era ilimitado”12 (Mc 13:32).
 Jesus também tinha uma vida “religiosa” humana, participando do culto na sinagoga
(Lc 4:16) e orando regularmente. Ele era dependente de seu Pai Celestial.
 Mesmo após a sua ressurreição, ele tinha um corpo humano que foi verificado pelos
discípulos presentes – Lc 24:39.
Heresias primitivas a respeito da humanidade de Jesus:
a) O docetismo.
Sua tese central é que Jesus só parecia ser homem. Deus não podia tornar-se
realmente material, já que toda matéria é má, enquanto ele é puro e santo. O Deus
transcendente não poderia ter-se unido a uma influência tão corruptora. [...] A
humanidade de Jesus, sua natureza física, era uma simples ilusão, não uma
realidade. Jesus era mais como um fantasma, uma aparição, que um ser humano. 13
b) O apolinarismo. Esta posição era defendida por Apolinário, um bispo sério do século
IV. Ele tinha dificuldades em conciliar a idéia de duas naturezas (divina e humana)
em um mesmo indivíduo.
De acordo com Apolinário, Jesus era uma unidade composta; parte da composição
(alguns elementos de Jesus) era humana, o restante divino. O que ele (o Verbo)
assumiu não foi toda a humanidade, mas apenas a carne, ou seja, o corpo. Essa
carne não podia, porém, ser animada por si. Era preciso haver uma “centelha de
vida’ animando-a. Essa centelha era o Logos divino; ele assumiu o lugar da alma
humana. Portanto, Jesus era humano fisicamente, mas não psicologicamente. Ele
tinha um corpo humano, mas não uma alma humana. Sua alma era divina14.
A impecabilidade de Jesus
 Sendo humano, Jesus herdou o pecado original? A resposta é não. Parece provável
que a influência do Espírito Santo foi tão poderosa e santificadora em seu efeito na
hora da concepção (Lc 1:35) que não houve transmissão de depravação ou de culpa
de Maria para Jesus.
 É indiscutível que Jesus não cometeu pecado – Hb 4:15; 7:26; 9:14; 2 Pe 2:2; 1 Jo 3:5;
2 Co 5:21.
12
ERICKSON, p. 289.
ERICKSON, p. 290.
14
ERICKSON, p. 291.
13
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 “Mas será que Jesus poderia ter pecado?”15 É possível Jesus cometer pecado? A sua
tentação foi genuína?
 Embora Jesus “pudesse pecar, ele não pecaria”16. Houve lutas e tentações genuínas,
mas o resultado sempre era certo.
 “Uma pessoa que não (cede) à tentação consegue de fato senti-la?”17 A
impecabilidade realmente torna a tentação mais intensa, pois só o homem que não
cede a uma tentação conhece aquela tentação em toda sua extensão. Quem cede à
tentação sente certo alívio da pressão da tentação18.
 Mas “uma pessoa que não peca é realmente humana?”19 Se a resposta fosse “não”,
isso significaria que o pecado faz parte da essência da natureza humana. Mas isto
não é verdade, pois foi Deus quem criou a humanidade e ele a criou sem pecado.
Adão e Eva eram totalmente humanos, porém não tinham pecado logo após a
criação.
Implicações da humanidade de Jesus Cristo:
a) “A morte expiatória de Jesus pode de fato ter proveito para nós. Não foi alguém
estranho à raça humana que morreu na cruz – ele era um dos nossos”20.
b) “Jesus pode realmente ter empatia para conosco e interceder por nós”21 (Hb 4:15).
c) “Jesus manifesta a verdadeira natureza da humanidade”22; uma humanidade não
manchada e deturpada pelo pecado.
d) Jesus pode ser nosso exemplo de vida cristã, pois viveu onde e como nós vivemos 23.
e) “A natureza humana é boa”24, não inerentemente má.
f) “Deus não é somente transcendente”25, mas através de Jesus vemos a sua
imanência.
6- A Unidade da Pessoa de Cristo
“A doutrina da unificação do divino e do humano em Jesus é de difícil compreensão porque
postula a combinação de duas naturezas que, por definição, possuem atributos
contraditórios. Como deidade, Cristo é infinito em conhecimento, poder e presença. Se ele é
15
ERICKSON, p. 296.
ERICKSON, p. 296.
17
ERICKSON, p. 296.
18
ERICKSON, p. 296.
19
ERICKSON, p. 296.
20
ERICKSON, p. 297.
21
ERICKSON, p. 297.
22
ERICKSON, p. 297.
23
ERICKSON, p. 297.
24
ERICKSON, p. 297.
25
ERICKSON, p. 297.
16
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Deus, deve conhecer todas as coisas. Se é Deus, pode fazer todas as coisas que sejam
objetos próprios de seu poder. Se é Deus, pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Mas, por outro lado, se era humano, era limitado em conhecimento. Não podia fazer todas
as coisas. E, decerto, limitava-se a estar em um lugar de cada vez. Parece impossível uma
pessoa ser infinita e finita simultaneamente”26.
Existe uma “ausência de referências bíblicas à dualidade no pensamento, na ação e no
propósito de Jesus, (enquanto) existe, em contraste, indicações de uma multiplicidade
dentro da Deidade como um todo”27. Exemplos: uso do singular e do plural no mesmo
contexto (Gn 1:26; 3:22; 11:7); “casos em que um membro da Trindade dirige-se a outro”28
(Sl 2:7; 40:7-8); orações de Jesus ao Pai, etc. Mas Jesus sempre falou de si mesmo no
singular. Ele diz que ele e o Pai são um (Jo 17:21-22), embora não faça nenhuma referência
a algum tipo de complexidade dentro de si.
“Há textos nas Escrituras que aludem tanto à deidade como à humanidade de Jesus”29 (Jo
1:14; Gl 4:4; 1 Tm 3:16). “Outras referências focalizam a obra de Jesus de tal maneira que
deixam claro que se trata de uma função não exclusiva do humano ou do divino, mas de um
objeto único”30 (1 Jo 2:1-2; 4:2, 15; 5:5).
26
ERICKSON, p. 300.
ERICKSON, p. 300.
28
ERICKSON, p. 300.
29
ERICKSON, p. 301.
30
ERICKSON, p. 301.
27
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A Obra de Jesus Cristo
A Humilhação de Cristo
1. A encarnação
o Afirmação direta das Escrituras – “o Verbo se fez carne” – João 1:14
o Afirmação do que Jesus deixou para trás: Fp 2:6-7 – “o que Jesus renunciou ao vir
para a terra é imenso”31.
o Afirmação do que Jesus assumiu: Gl 4:4 – apesar de ter sido a origem da Lei e
Senhor dela, Jesus se tornou submisso à lei.
o Jesus não deixou de ter os atributos divinos, “mas que voluntariamente
renunciou à capacidade de exercê-los por si próprio. Ele podia exercê-lo apenas
na dependência do Pai e em associação com a posse de uma natureza
plenamente humana. Ambas as vontades, a do Pai e a dele, eram necessárias
para que ele pudesse utilizar seus atributos divinos”32. É como se fosse um cofre
que necessita uma combinação e uma chave para abri-la.
2. A morte
o “O derradeiro passo descendente na humilhação de Jesus foi sua morte”33. Ele (a
vida e o doador da vida) “tornou-se sujeito à morte”34. Apesar de não ter
cometido pecado, ele passou pelo salário do pecado – a morte. A morte foi real.
o A morte foi humilhante – crucificação, forma mais cruel de morte reservado aos
piores criminosos. Além disso, ele foi submetido à zombaria, ao sarcasmo, ao
abuso dos líderes religiosos e dos soldados romanos 35.
A Exaltação de Cristo
1. A ressurreição
o Foi uma “vitória sobre a morte, por meio da ressurreição” 36. A morte não foi
capaz de segurá-lo.
o Indícios da sua ressurreição:
 O túmulo vazio.
 Testemunho de grande variedade de pessoas que o viram vivo novamente,
após a sua morte e sepultamento.
 A transformação dos discípulos “em pregadores militantes da ressurreição”37.
31
ERICKSON, p. 312.
ERICKSON, p. 313.
33
ERICKSON, p. 313.
34
ERICKSON, p. 313.
35
ERICKSON, p. 313.
36
ERICKSON, p. 314.
32
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o O corpo ressurreto de Jesus tinha marcas dos pregos nas mãos e pés e a marca
da lança no seu lado. Jesus se alimentou. No entanto, não foi reconhecido de
imediato por Maria Madalena no jardim, quando apareceu no cenáculo aos
discípulos, alguns tinham dúvidas de que era ele e, finalmente, no Mar da Galiléia
os discípulos não o reconheceram de imediato.
2. A ascensão e o assento à direita do Pai
o Jesus deixou as condições da terra e reassumiu seu lugar nos céus junto ao Pai.
Jesus já tinha predito o seu retorno para junto do Pai (Jo 6:62; 14:2, 12; 16:5, 10,
28; 20:17)38.
o “Lucas fornece o relato mais extenso da ascensão em si”39 (Lc 24:5051; At 1:611). Paulo fala da ascensão (Ef 1:20; 4:8-10; 1 Tm 3:16), assim como o autor aos
Hebreus (1:3; 4:14; 9:24).
o A diferença entre a terra e o céu não é simplesmente uma questão de geografia
ou de espaço. É uma outra dimensão e um outro estado.
o Ele foi “preparar o lugar de nossa futura habitação”40 – Jo 14:2-3.
o A sua ascensão possibilitou a vinda do “outro consolador”, o Espírito Santo.
o “A ascensão de Jesus significa que ele está agora assentado à direita do Pai”41,
posição de distinção e poder (Mt 26:64; At 2:33-36; 5:31; Ef 1:20-22; Hb 10:12; 1
Pe 3:22; Ap 3:21; 22:1).
o Ele intercede a nosso favor – Hb 7:25.
3. A segunda vinda
o Jesus voltará em glória em algum momento do futuro. A data exata é
desconhecida. Sua primeira vinda foi em humilhação. A segunda será em glória
(Mt 25:31).
o Sua vitória será completa.
o O seu reinado será completo. O Reino de Cristo será completamente instaurado
e ele será Senhor sobre tudo. Todo joelho se dobrará e toda língua confessará
que Jesus Cristo é Senhor (Fp 2:10-11).
37
ERICKSON, p. 314.
ERICKSON, p. 315.
39
ERICKSON, p. 315.
40
ERICKSON, p. 315.
41
ERICKSON, p. 315.
38
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10
As funções de Cristo
1. A função reveladora de Cristo. “Muitas referências ao ministério de Cristo salientam
a revelação que ele deu do Pai e da verdade celestial” 42.
o Essa foi sua função profética. Mt 13:57; 21:11; Dt 18:15/At 3:22.
o Foi enviado por Deus, partindo da sua própria presença, fator importante na sua
capacidade de revelar o Pai – Jo 1:18.
o Ele falou a palavra divina da verdade.
o Ele era a verdade e era Deus, demonstrando-o em todos os seus atos.
o Na segunda vinda de Cristo veremos de forma clara e direta (1 Co 13:12).
Veremos como ele é (1 Jo 3:2) e todas as barreiras ao pleno conhecimento de
Deus serão removidas. Apokalypsis = “revelação”.
2. O governo de Cristo
o O Novo Testamento retrata Jesus como um rei (Hb 1:8; Mt 19:28; 13:41).
o Ele está no controle do universo natural – Cl 1:17
o Jesus reina sobre a Igreja – ele é o cabeça (Cl 1:18). O senhorio de Cristo na vida
daqueles que são seus discípulos é o seu reino, o seu governo.
o “Virá um tempo em que o reinado de Cristo será completo”43 – Fp 2:9-10.
3. A obra reconciliadora de Cristo: intercessão e expiação
o Jesus intercede pelos seus discípulos – Jo 17.
o Ele continua intercedendo atualmente nos céus – Hb 7:25; 9:24. Ele “pleiteia a
causa de sua justiça em favor dos que crêem, os quais, embora previamente
justificados, continuam pecando”. Ele “suplica ao Pai que os crentes sejam
santificados e guardados do poder do tentador maligno”44.
o Jesus providenciou a expiação dos nossos pecados. “A expiação tornou possível
nossa salvação”45.
o Os homens não podem fazer nada para satisfazer as exigências de Deus pela
punição do pecado. Jesus realizou este sacrifício em nosso lugar, expiando os
nossos pecados.
o O sacrifício no AT tinha que ser de um animal perfeito (sem defeito e sem
mácula). Nós não podemos oferecer um sacrifício perfeito. Jesus veio cumprir
esta exigência.
42
ERICKSON, p. 316.
ERICKSON, p. 318-9.
44
ERICKSON, p. 319.
45
ERICKSON, p. 319.
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11
o O pecado precisa de castigo, senão, Deus seria injusto. Jesus pagou o preço e
tomou o castigo sobre si.
Expiação
1. Fatores básicos a serem levados em consideração:
o A natureza de Deus – Deus é santo e avesso ao pecado.
o O lugar da lei – a lei é “uma expressão da pessoa e da vontade de Deus. [...]
Desobedecer a ela é na realidade atacar a própria natureza de Deus. [...] A
violação da lei [...] carrega as sérias conseqüências de passibilidade de punição e,
em especial, a morte”46. A punição é inevitável.
o A condição humana – depravação total; o ser humano é incapaz de salvar a si
mesmo e se livrar da sua condição de pecaminosidade47.
o Cristo – “a humanidade de Jesus significa que sua morte expiatória é aplicável a
todos os seres humanos (Gl 4:4-5). [...] Sendo Deus, Jesus não precisava morrer.
[...] Uma vez que é um ser infinito que não precisava morrer, sua morte pode
servir para expiar os pecados de toda a humanidade”48.
o O sistema sacrificial do Antigo Testamento – nesse sistema “era necessário
oferecer sacrifícios de animais regularmente para compensar os pecados
cometidos”49. Estes sacrifícios serviam para “cobrir” os pecados pela imposição
de algo entre o pecado deles e Deus. O animal precisava ser sem mancha, sem
defeito. A pessoa devia apresentar o animal e colocar as mãos sobre ele,
simbolizando a transferência de culpa sobre ele. Este sistema foi um tipo da obra
de expiação de Jesus50.
2. O Ensino do Novo Testamento
o Os evangelhos
 Jo 10:36 – “O propósito da vinda (de Jesus) era a expiação, e o Pai estava
pessoalmente envolvido naquela obra, pois a penalidade recaiu sobre seu
próprio Filho, a quem havia enviado voluntariamente”51.
 Jesus se identificava com o servo sofredor de Isaías 53 (Lc 22:37). “Suas
referencias freqüentes ao seu sofrimento deixaram claro que ele via a própria
morte como a principal razão de sua vinda”52 (Mc 8:31).
 Sua morte seria um resgate, libertando muitos da escravidão do pecado (Mt
20:28; Mc 10:45).
 “Cristo também se via como nosso substituto”53 (Jo 15:13; 11:49-50).
 Jesus veio para se dar em sacrifício (Jo 1:29).
46
ERICKSON, p. 328-9.
ERICKSON, p. 329.
48
ERICKSON, p. 329.
49
ERICKSON, p. 330.
50
ERICKSON, p. 330.
51
ERICKSON, p. 331.
52
ERICKSON, p. 331.
53
ERICKSON, p. 331.
47
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12
o Os escritos paulinos
 Paulo “iguala o amor e a obra de Jesus com o amor e a obra do Pai (2 Co 5:19;
Rm 5:8). [...] A expiação é obra de ambos”54.
 “O tema da ira divina contra o pecado é proeminente em Paulo (Rm 1:18).
[...] A santidade de Deus exige que haja expiação; [...] o amor de Deus provê
essa expiação”55.
 “Paulo considera a morte de Cristo propiciatória, ou seja, Cristo morreu para
aplacar a ira de Deus contra o pecado”56.
 Paulo via a morte de Cristo como um sacrifício (1 Co 5:7; Rm 5:9; Ef 1:7). O
sangue é uma referência ao sacrifício.
 Cristo morreu em nosso lugar – Rm 8:32; Ef 5:2; Gl 3:13.
3. O significado básico da expiação
o Sacrifício – O tema do sacrifício de Cristo é proeminente em Hebreus.
 Hb 9:6-15 – “a obra de Cristo é comparada ao Dia da Expiação do Antigo
Testamento. Cristo é retratado como o sumo sacerdote que entrava no Santo
Lugar para oferecer sacrifício. Mas o sacrifício que Cristo ofereceu foi [...] seu
próprio sangue”57. Os sacrifícios de animais tinham que ser feitos repetidas
vezes; a morte de Cristo expia, de uma vez por todas, os pecados de toda a
humanidade.
 Hb 10:5-18 – em lugar de holocaustos, o corpo de Cristo foi sacrificado (v. 5),
uma vez por todas (v. 10), em lugar da oferta diária feita pelo sacerdote (v.
11). Cristo ofereceu para sempre um único sacrifício pelos pecados (v. 12) 58.
 No sacrifício de Cristo, ele é tanto o sacrificador como o sacrifício. As duas
partes do sistema sacrificial do Antigo Testamento são combinadas em Cristo.
o Propiciação – o sacrifício de Cristo aplaca a ira de Deus contra o pecado.
o Substituição – Cristo morreu em nosso lugar. “Nossos pecados foram “lançados”
sobre Cristo, ele “carregou” nossas iniqüidades, ele “foi feito pecado” por nós”59
(Is 53:6, 12b; 1 Pe 2:24).
o Reconciliação – “A morte de Cristo põe fim à inimizade e alienação entre Deus e
a humanidade. Nossa hostilidade contra Deus é removida”60. Deus é o agente da
reconciliação; é ele quem toma a iniciativa de nos procurar – 2 Co 5:18-19.
54
ERICKSON, p. 332.
ERICKSON, p. 332-3.
56
ERICKSON, p. 333.
57
ERICKSON, p. 334.
58
ERICKSON, p. 334.
59
ERICKSON, p. 335.
60
ERICKSON, p. 336.
55
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4. As implicações da expiação substitutiva 61
o A teoria da substituição penal confirma o ensino bíblico da depravação total de
todos os homens. Deus não chegaria ao extremo de levar seu precioso Filho à
morte se não fosse absolutamente necessário. Somos completamente incapazes
de suprir nossa necessidade.
o A natureza de Deus não possui uma faceta única e também não há nenhuma
tensão entre seus diferentes aspectos. Ele não é apenas justo e exigente, não
apenas amor e doação. Ele é justo, tanto que foi preciso prover um sacrifício pelo
pecado. Ele é amor, tanto que ele mesmo proveu tal sacrifício.
o Não há outro meio de salvação, se não pela graça e, especificamente, pela morte
de Cristo. Ela possui um valor infinito e cobre os pecados de toda a humanidade
de todos os tempos. Um sacrifício finito, por contraste, nem pode cobrir
plenamente os pecados do indivíduo que o oferece.
o Há segurança para o crente em seu relacionamento com Deus, pois a base desse
relacionamento, a morte sacrificial de Cristo, é completa e permanente. Embora
nossos sentimentos possam mudar, a base de nosso relacionamento com Deus
permanece inabalável.
o Nunca devemos menosprezar a salvação que temos. Embora seja gratuita, é
também cara, pois custou a Deus o sacrifício extremo. Precisamos, portanto,
sempre ser gratos pelo que fez; precisamos em retorno amá-lo e imitar seu
caráter doador.
61
ERICKSON, p. 339.
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