PEDAGOGIA AFETIVA: sua presença nos anos iniciais
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PEDAGOGIA AFETIVA: sua presença nos anos iniciais
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ MARIA DA GLÓRIA FERNANDES TORQUATO PEDAGOGIA AFETIVA: sua presença nos anos iniciais SÃO JOSÉ 2009 2 MARIA DA GLÓRIA FERNANDES TORQUATO PEDAGOGIA AFETIVA: sua presença nos anos iniciais Relatório final de pesquisa apresentado para a Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José - USJ Prof. MSc. Scheffler SÃO JOSÉ 2009 Silvanira Lisboa 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................................4 2 PEDAGOGIA AFETIVA ............................................................................................................ 5 2.1 PEDAGOGIA AFETIVA NAS SÉRIES INICIAIS .................................................................... 6 2.2 O LÚDICO COMO RECURSO NA APRENDIZAGEM ........................................................... 9 2.3 A IMPORTÃNCIA DO BRINCAR E DOS JOGOS COM REGRAS .......................................11 2.4 A PRÉ-ADOLESCÊNCIA, SOCIEDADE, FAMÍLIA E ESCOLA .......................................... 13 2.5 PEDAGOGIA AFETIVA ....................................................................................................... 16 3 METODOLOGIA.......................................................................................................................18 3.1 TIPO DE PESQUISA ............................................................................................................ 18 3.2 POPULAÇÃO/AMOSTRA ................................................................................................... 19 3.3 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ....................................................................... 19 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA................................... 20 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................................29 6 REFERÊNCIAS.......................................................................................................................30 ANEXOS APÊNDICE 4 1 INTRODUÇÃO O presente relatório de pesquisa aborda o tema “Pedagogia Afetiva”. O pré-adolescente é um ser em crescimento e desenvolvimento físico, social e mental. E este processo, para ser bem sucedido, necessita de muito amor e respeito no contexto familiar e escolar. Por estar em processo de amadurecimento e de construção, devemos olhá-lo percebendo sempre a relação afetiva, já que é de suma importância no seu desenvolvimento integral. A pedagogia afetiva é vista como um dos principais fatores para a integração e para a socialização do pré-adolescente no ambiente escolar. É neste momento que devemos contribuir para o aumento da auto-estima, evidenciando os valores e o afeto, que precisam ser demonstrados com naturalidade, para que possamos cativar e transmitir segurança para ele, já que posteriormente, esta afetividade será devolvida numa reciprocidade. Sendo a Pedagogia Afetiva um elo de fundamental importância para o desenvolvimento emocional e psicológico de todo ser humano, asseguramo-nos de que esta afetividade está completando-se com o passar do tempo. É neste contexto que destaca-se a análise de um planejamento e de um ambiente com recursos didáticos pedagógicos, que possibilite o ensino e aprendizagem no cotidiano escolar, utilizando o lúdico como ferramenta metodológica para auxiliar o pré-adolescente a participar integralmente das atividades propostas em sala de aula, pois, uma criança com problemas afetivos, pode ter dificuldades de exteriorizar e interiorizar suas emoções, e acaba por dificultar o seu convívio social, e consequentemente, seu desenvolvimento escolar. 5 2 PEDAGOGIA AFETIVA É possível entender afetividade como sendo a capacidade de se valorizar como pessoa. Todo e qualquer valor tem em sua essência o afeto, que é importante para aquilo que nos afeta. Percebemos que tudo o que necessita de afetividade como suporte, pode tornar-se frágil, sensível e efêmero. A fragilidade de uma ideologia, o desvio de uma conduta moral ou religiosa, só explicam-se por atividades sem base afetiva. Para uma ideia ou propósito serem naturais ao homem, é preciso nascer a afetividade, ou despertá-la. Freud atribui ao afeto três destinos possíveis, a saber: pode ser suprimido, transformado em uma quota afetiva qualitativamente diferente ou transformado em angústia. Isso porque o grande propósito do recalque é proporcionar uma fuga frente ao desprazer, em outros termos, impedir o surgimento de um afeto penoso. (FREUD, 1915, p. 89) Por estes motivos, a afetividade torna-se uma vivência fundamental de cada minuto da existência humana, na medida em que se conclui que a vida perde a graça quando nada mais nos afeta. A afetividade é, então, de grande importância para a conscientização do ser humano da sua realidade mais profunda e verdadeiramente valiosa. Focalizando que todos os nossos aspectos emocionais do dia-a-dia vem encontrar sentido na personalidade de cada um, todos nós ansiamos pela descoberta contínua do que somos, e da forma com que projetamo-nos no mundo. O sujeito sente-se amado quando percebe em suas relações de convivência que é tratado com respeito e afeto, descobrindo dessa forma suas potencialidades pessoais, transcendendo o ser físico e o social para atingir aquela essência, que permanecerá nele até o fim da vida. 6 O desenvolvimento psicológico é hoje considerado um fenômeno interativo, fruto da dinâmica processual entre as potencialidades e características individuais. O sujeito tem, portanto, um papel ativo muito importante na construção do conhecimento e na construção de si próprio. Esta perspectiva tem muito a ver com a concepção de que o ser humano é um organismo proativo, com motivos inatos e intrínsecos que o orientam, naturalmente, para estabelecer relações com o mundo. Está também ligada à progressiva valorização das múltiplas tarefas que a criança vai realizando ao longo da sua vida e que, por si só, constituem ocasião e oportunidade de desenvolvimento. (RAMOS, 1995, p.254) Dessa forma, a afetividade desempenha um papel relevante em nossas vidas. Somos afetivos por natureza, e respondemos carinhosamente a todo contexto de nossa existência. 2.1 Pedagogia Afetiva nas Séries Iniciais A partir dos estudos feitos por Vygotsky (1993) e Wallon (1979), entre outros cientistas humanos, compreendemos que o desenvolvimento das capacidades biológicas herdadas pela criança, dependeria do meio no qual ela está inserida, das oportunidades de aprendizagem, e do acesso às tecnologias construídas pela humanidade ao longo dos tempos, sendo que a aprendizagem e o desenvolvimento estariam inter-relacionados desde o primeiro dia de vida. Para atender as suas necessidades biológicas, o bebê busca interagir com o meio humano, de acordo com suas capacidades de ação sobre o meio, em cada fase do desenvolvimento. A própria característica do bebê humano, totalmente dependente do outro, é buscar ser atendido nas suas necessidades biológicas básicas, levando-o a expressar-se por mímicas, choro e movimentos, que despertam no adulto emoções e atitudes de cuidado, ocorrendo assim a interação necessária ao desenvolvimento das capacidades intelectuais superiores. Desta forma, a dependência humana em seus primeiros anos de vida torna-se uma vantagem da espécie, pois a interação necessária entre o ser cuidado e o ser que cuida possibilita que tornemo-nos diferentes dos animais. As Séries Iniciais, por ser um dos agentes socializadores fora do grupo familiar, torna-se a base da aprendizagem formal. São condições necessárias 7 para que o pré-adolescente sinta-se seguro e protegido, com carinho, atenção, e amor, ou seja, uma conduta afetiva. Assim, para que o pré-adolescente tenha um desenvolvimento harmonioso dentro do ambiente escolar, e consequentemente no social, é necessário que haja um estabelecimento de relações interpessoais positivas, possibilitando assim o sucesso dos objetivos educativos. O pré-adolescente deseja e necessita ser amado, aceito, acolhido, respeitado e ouvido, para que possa despertar para a vida em sociedade e ser estimulado para a curiosidade do aprendizado. E o professor é quem prepara e organiza o universo da busca e do interesse dos pré-adolescentes. A postura desse profissional manifesta-se na percepção e na sensibilidade aos interesses desses sujeitos que, em cada idade, diferem em seu pensamento e modo de sentir o mundo. As escolas deveriam entender mais de seres humanos e de amor do que de conteúdos e técnicas educativas. Elas têm contribuído em demasia para a construção de neuróticos por não entenderem de amor, de sonhos, de fantasias, de símbolos e de dores. (SALTINI, 1997, p.65) A pedagogia afetiva, assim como o conhecimento, constroi-se através da vivência, sendo também da escola e do educador a importante tarefa de despertar o educando “as suas potencialidades emocionais”. Para Piaget (2001), o papel da afetividade é fundamental na inteligência. Ela é a fonte de energia de que a cognição se utiliza para seu funcionamento. Ele explica esse processo por meio de uma metáfora, afirmando que: “a afetividade seria como gasolina, que ativa o motor de um carro, mas não modifica sua estrutura” (PIAGET, 2001, p.5). A relação professor/aluno, nessa perspectiva, precisa ser constantemente (re) pensada. O aluno, como personagem principal no processo de ensino-aprendizagem, deve ser visto como alguém que é capaz de aprender, amar e respeitar, acontecendo assim essa conduta de valores de forma recíproca. Quando o aluno sente-se motivado por conhecer e fazer descobertas, que o trabalho escolar trás uma conotação de afeto, tudo tem sentido para ele, passando assim a experimentar o prazer do conhecimento. 8 Defende-se aqui a importância de ser socializado com e para os alunos a questão da pedagogia afetiva, e é por entender o quanto o ser humano precisa de afeto e atenção, é que podemos lidar com a realidade durante toda sua vida. Por sua vez, o professor também deve estar emocionalmente equilibrado. Segundo Galvão (1995), o entusiasmo do professor por aquilo que ensina, pode, se expresso em sua postura, na totalidade e melodia de voz, ser mais facilmente transmitido, contagiando os alunos. E a autora acrescenta: “Não creio, contudo, que esse entusiasmo possa ser simplesmente forjado por alguma técnica, prefiro crer que ele tem de ser genuíno e verdadeiro”. (GALVÃO, 1995, p.67) Rubem Alves (2001), também defende que a aula deve ser uma imposição do gosto, do amor, uma obrigação determinada pelas necessidades do afeto. Dessa forma, teremos o ponto de encontro em que inicia-se toda a aprendizagem. E só do prazer que surge a disciplina e vontade de aprender. Nossos currículos deveriam ser parecidos com a Banda, que Faz todos marchar nas linhas do prazer, fala das coisas belas Ensinar física com as estrelas, pipas, peões e as bolinhas de gude, A Química com a culinária, A Biologia com as hortas e aquários, Política com jogo de xadrez... (ALVES, 2001, p.48) Devemos estar muito atentos e bem embasados teoricamente, para que possamos fazer a leitura global dos alunos quando estes nos mostram o que querem que saibamos. A afetividade possui um papel fundamental no desenvolvimento da pessoa, pois é por meio delas que o ser humano demonstra seus desejos e vontades. As transformações fisiológicas de uma criança (nas palavras de Wallon, em seu sistema neurovegetativo), revelam importantes traços de caráter e personalidade. As emoções são altamente orgânicas, e ajudam o ser humano a se auto-conhecerem. A raiva, o medo, a tristeza, a alegria e os sentimentos mais profundos, possuem uma função de grande relevância no relacionamento da criança com o meio. 9 A visão de futuro quanto à educação baseia-se no amor incondicional. Ele é a essência do novo ser humano. Nós, educadores, temos de nos unir de corpo e alma para fazer das crianças de hoje os adultos de amanhã. Uma educação mais realista e verdadeira envolve o desenvolvimento do corpo, da alma e do espírito para que este seja livre e independente e que viva de maneira completa. Prestaremos um grande serviço à humanidade se nos tornarmos os pioneiros da nova era. O sistema educacional deve ser revisto para o bem da humanidade. Se unirmos educação e amor, as crianças serão beneficiadas e todos terão um futuro melhor. (TOBBER e CARROLL, 2005, p. 93). Wallon (1995) propõe ser a criança essencialmente emocional e geneticamente social, e seu desenvolvimento é entendido como socialização progressiva e individualização crescente e isto quer dizer que o desenvolvimento é uma construção progressiva em que sucedem-se fases com predominância afetiva e cognitiva alternadas, ou melhor, indissociáveis, porém, específicos de cada fase da vida. É através de atitudes do comportamento que eles revelam-se, e até mesmo pedem socorro, por isso, a afetividade é como um instrumento que está a nosso dispor para a conquista da confiança. Acreditamos que, a partir das indicações, os pré-adolescentes demonstram como está sendo o cotidiano social. 2.2 O lúdico como recurso na aprendizagem Se você tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades, teria ouvido as verdades que teimo em dizer brincando. (CHARLES CHAPLIN) O ato de brincar conduz à imaginação, fantasia, criatividade, criticidade e a variedade de vantagens que ajudam a modelar nossas vidas, como crianças e como adultos. Devemos saber que os pré-adolescentes não aprendem apenas quando os educadores querem que eles apreendam, pois eles estão em constantemente aprendizado. Acredita-se que é necessário o professor integrar valores, a ética e o educar à sua pratica, de uma forma criativa e dinâmica, onde todos os espaços e momentos vivenciados na escola favoreçam a construção da aprendizagem e 10 da autonomia, num ambiente que, embora real, ofereça oportunidades e possibilidades lúdicas e interativas. Mais do que uma conquista cognitiva, o brincar, envolve emoções, afetividade, laços e dinâmicas internas entre as pessoas. Podemos trabalhar o lúdico, também com caráter de jogo, fantasia, com o prazer de brincar, fator de integração, socializando os alunos, resgatando brincadeiras, e garantindo à criança o direito à brincadeira. A utilização de brincadeiras e jogos no processo pedagógico faz despertar o gosto pela vida e os levam a enfrentarem os desafios que lhes surgirem. Trata-se do exercício de habilidades necessárias ao domínio e ao bom uso da inteligência emocional. Assegurar ao pré- adolescente o tempo e o espaço para que o lúdico seja vivenciado é de suma importância, e necessário também, para que se solidifique a sua criatividade, e assim ele vai construindo o seu conhecimento, aprendendo a respeitar as regras e os limites da convivência em sociedade. O brincar para a criança ou para o pré-adolescente, é divertido, prazeroso, e pode ser educativo, sendo que no ato de brincar o sujeito descobre de forma afetuosa a estabelecer relações cognitivas com suas experiências, pois o lúdico é um meio de expressão simbólica dos seus desejos. É necessário, assegurar ao sujeito o tempo e o espaço, para que o lúdico seja vivenciado com intensidade, capaz de formar a base sólida da criatividade e da participação cultural para o exercício do prazer de viver. Brincando, o pré-adolescente diverte-se, descobre-se, faz exercícios, constroi seu conhecimento, aprendendo a respeitar regras e limites e a conviver em sociedade. De acordo com Vygotsky (1991), a brincadeira possui três características: a imaginação, a imitação e a regra. Elas estão presentes em todos os tipos de brincadeiras, tanto nas tradicionais, naquelas de faz-de-conta, como nas que exigem regras. Podem aparecer também no desenho, como atividade lúdica. 11 Diante da necessidade da criança brincar como manifestações culturais e da importância dessa atividade no processo de aprendizado e desenvolvimento infantil, é preciso que os educadores promovam o brincar para que as crianças possam se sentir bem e felizes, garantindo uma satisfação e uma alegria de viver, conciliando escola-saber-alegria. (LISBÔA e SCHEFFLER, 2005, p.36) O lúdico pode manifestar-se através de ações que sejam estratégicas, quando falamos em jogos, em imaginação, e também em histórias e dramatizações ou de construção, quando falamos em arte e artesanato, e como educadores, precisamos dar maior importância às atividades lúdicas. 2.3 A importância do brincar e dos jogos com regras A palavra jogo tem origem do vocabulário latino iocus, que significa diversão, brincadeira, e é utilizada para nomear a atividade lúdica, o “brincar”. Pode ser utilizada tanto para os movimentos que o bebê realiza nos primeiros anos de vida, agitando os objetos que estão ao seu redor, quanto para jogos tradicionais e/ou o desporto institucionalizado (NEGRINE, 1997). A brincadeira é uma necessidade para as crianças e educadores. Contudo, muitas vezes não somos parceiros nesta atividade que, se tiver também fins educativos, pode ser utilizada para conquistar a atenção no desenvolvimento de um conteúdo que será depois sistematizado. O jogo é uma forma eficaz e prazerosa de aprendizado, e que representa para a criança o mesmo que o trabalho representa para o adulto. “Como o adulto sente-se forte por suas obras, a criança sente-se crescer com suas proezas lúdicas” (CHÄTEAU, 1987, p. 29). Quando discute-se o uso de jogos na educação, aparecem duas correntes; há autores que destacam sua importância, e outros assinalam seus limites e cuidados. É importante essa ressalva, pois no contexto educativo, o jogo deve ser usado de maneira justa para que não venha substituir a realidade. Antes de continuar, vamos definir o que é jogo e o que são brincadeiras. Segundo o Aurélio (2001), ”jogo é uma atividade física ou mental organizada que, por um sistema de regras, definem entretenimento”. quem perde ou ganha. Brincadeira: passatempo, 12 Destacamos alguns autores e suas posições sobre a importância dos jogos e brincadeiras na vida do ser humano. Freud em " O poeta e a fantasia" diz: " Não deveríamos procurar os primeiros traços das atividades poéticas já nas crianças? Talvez devêssemos dizer: cada criança, em suas brincadeiras, comporta-se como um poeta, enquanto cria seu mundo próprio, ou, dizendo melhor, enquanto transpõe os elementos formadores de seu mundo para uma nova ordem, mais agradável e conveniente para ela ". Na ótica da teoria da psicologia genética, tendo Piaget (2001) como uma das principais expressões, " o brincar representa uma atividade por meio da qual a realidade é incorporada pela criança e transformada quer em função dos hábitos motores (jogos de exercícios), quer em função das necessidades do seu eu (jogo simbólico), ou em função das exigências de reciprocidade social ( jogos de regras)". Marcellino (1990) defende os jogos, especialmente os de regra, porque criam um contexto de observação e diálogo sobre os processos de pensar e construir o conhecimento, de acordo com os limites da criança. Para Vygotsky (1996), o brincar tem origem na situação imaginária criada pela criança, em que desejos irrealizáveis podem ser realizados, com a função de reduzir a tensão e ao mesmo tempo, para construir uma maneira de acomodação a conflitos e frustrações da vida real. Logo, é importante entender o lugar que o jogo ocupa para que possa ser usado de forma adequada. Ele só é educativo quando o educador o desenvolve com objetivo e intencionalidade, caso contrário, é apenas uma brincadeira. Pode-se dizer que o jogo está muito ligado ao próprio funcionamento da inteligência, uma vez que a sua construção depende de uma série de assimilações e acomodações que a pessoa faz ao longo da vida. O cérebro, no entanto, não é um sistema de funções fixas e imutáveis, porém, um sistema aberto, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual. Como as possibilidades humanas são tantas, essa plasticidade pode ser usada de tal sorte que não sejam necessárias transformações no órgão físico. Quando o pré-adolescente joga com regras, exercita todas as suas funções intelectuais, mesmo que esta seja de natureza metafórica. Com o 13 tempo, o sujeito vai distinguindo os diferentes jogos e percebendo que alguns necessitam de um grande esforço e concentração, sem deixar de lado o caráter prazeroso da ação. É importante destacar que o jogo por si só não permitirá o desenvolvimento e a aprendizagem, mas sim a ação de jogar é que desenvolve a compreensão. Por possuírem regras, supõe-se que o jogo tenha organização e coordenação que o inserem num quadro de natureza lógica. É necessário conhecer as regras, compreendê-las e praticá-las, exigindo um exercício de operação e cooperação. Ao jogar, acontece uma série de relações, de encaixe parte e todo, de ordem, de antecipação e de retroação. Como o jogo envolve operações entre pessoas, contato social, a situação problema que o jogo oferece, dá ao participante oportunidade de empregar procedimentos cooperativos para alcançar o objetivo, que é ganhar. O jogo assume um significado funcional onde a realidade é incorporada pelo pré-adolescente, e consequentemente transformado, com as necessidades do “eu” em função das exigências do social, ou seja, é a vez das regras, onde as atividades em grupo são bastante valorizadas, para que as convenções sociais e os valores morais de uma cultura possam ser transmitidos. 2.4 A pré-adolescência, sociedade, família e escola [....] Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não se enganam, não Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém Você pode até dizer que tou por fora ou então que tou inventando Mas é você que ama o passado é que não vê É você que ama o passado é que não vê Que o novo sempre vem Hoje eu sei que quem deu me deu a ideia de uma nova consciência e juventude Está em casa guardado por Deus contando vil metal Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos Nós ainda somos os mesmos e vivemos Ainda somos os mesmos e vivemos Como os nossos pais (BELCHIOR) 14 A palavra "adolescência" vem do latim "adolescere", que significa "amadurecer". A pré-adolescência, como o próprio nome diz, é uma preparação para tal fase. A faixa etária que vai dos 9 aos 13 anos de vida, é a época de intensas mudanças físicas e psicológicas. É a chamada pré-adolescência, e nela, a criança vai crescer, vai mudar sua forma de pensar e de relacionar-se com o mundo, vai ter desejos, sonhos e interesses diferentes - enfim, sua vida ganhará um novo sentido. Para sair da infância e começar a jornada rumo à idade adulta, o corpo humano passa por diversas transformações biológicas e hormonais. A pré-adolescência é, portanto, marcada por mudanças físicas que transformam a criança em um adulto; é o início da puberdade, marcada, principalmente, pelo aumento do ritmo do crescimento corporal e pelo amadurecimento dos órgãos sexuais. Todas essas alterações hormonais têm grande influência sobre o comportamento dos pré-adolescentes. Desse modo, eles precisam desligar-se de tudo que os prendem à infância, e construírem uma nova identidade para si. Mas, essa passagem não é nada fácil. Nesse período, eles passam por uma indefinição ainda maior do que na adolescência, ou seja, estão deixando de ser crianças, deixando algo que eles conhecem muito bem, para ir ao encontro de algo totalmente novo. Isso cria muita fantasia e expectativas diante do desconhecido. As brincadeiras infantis são abandonadas de vez, e entram em cena os jogos de raciocínio. Não espantem-se se eles recusarem manifestações de cuidado e de carinho dos pais diante dos colegas, pois, consideram esses gestos como uma volta à infância. Ao mesmo tempo, passam a querer e a exigir mais respeito, principalmente dos adultos. O adolescente, nessa faixa etária, passa a compreender mais a sociedade, ordens sociais e grupos, o que torna essa fase uma área instável do desenvolvimento psicológico. Para entender o que se passa no pensamento dos pré-adolescentes, é preciso entender também o que acontece com o seu corpo. Todas as alterações hormonais têm grande influência sobre o comportamento e o humor dos pré-adolescentes. Na pré-adolescência, o primeiro conflito é a negação da infância, a necessidade de autoafirmação como pessoas mais velhas, para que 15 assim, possam assumir novas responsabilidades e novas experiências. É o que chamamos de busca pela identidade. Os próprios adultos reforçam o dilema entre ser um adulto e ser uma criança quando dizem para o adolescente “você não é mais criança para fazer isto” ou “você ainda não tem idade para fazer isto”. É um momento de transição da fase infantil para a fase adulta e o adolescente experimenta a perda de tudo aquilo que dizia respeito a sua infância, como também ensaia a sua entrada na vida adulta. (TEIXEIRA, 2000, p.86). Nesta fase, verificam-se várias transformações na maneira de como o pré-adolescente relaciona-se com os outros, de pensar, de sentir, nos seus interesses e desejos, o que o leva a questionar a si mesmo, aos outros, e tudo o que o rodeia, desencadeando, por conseguinte, modificações na sua vida psíquica, social e familiar. Com todas as alterações, o pré-adolescente vai caminhando progressivamente para uma definição de si e, nesse sentido, ele vai diferenciando-se dos pais. A volta do "não" da primeira infância, como afirmação, a valorização do grupo, o afastamento em relação à família, e o questionamento da autoridade, são características do desenvolvimento na busca da autoafirmação. Mas, onde existe um desafio de um pré-adolescente, deve surgir um adulto para corroborar. Todo esse processo de transformação desencadeia atitudes e sentimentos, muitas vezes controversos, já que são peculiares desta fase. Os pais e responsáveis precisam estar atentos para ajudar nesse período; o educador, junto com a família, passa por grandes desafios na formação do pré-adolescente. Um deles é utilizar os instrumentos da comunicação e a pedagogia afetiva como um meio para conciliar e reafirmar valores que solidifiquem a formação do jovem, para que ele alcance um caminho promissor. Estar atento às necessidades do pré-adolescente, acolher e limitar, estabelecendo laços afetivos, é preparar o cidadão para uma vida ativa em sociedade, pressupondo um sujeito crítico, flexível e afetivo. 16 Aos velhos e jovens professores, aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz. Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com a colheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes. (CHALITA, 2008, p.69) A valorização da imagem nunca esteve tão evidente em nossa sociedade. Vive-se hoje um tempo, onde a aparência está pretensamente associada à ideia de felicidade, de superioridade. Sabe-se, contudo, que ter uma boa aparência é muito importante na vida profissional e nas relações interpessoais que estabelecemos no meio social. No entanto, ter boa aparência significa que toda pessoa, pode sim, ter uma imagem pessoal positiva associada ao comportamento, ao intelecto, a maneira de ser, e não apenas parecer. O mais importante, neste contexto, é conscientizar os jovens, principalmente na fase da pré-adolescência, acerca dos verdadeiros princípios e da superioridade do ser humano face à superficialidade das aparências. Valorizar suas qualidades e aptidões, favorece a formação da auto-estima, antídoto infalível contra as influências dos padrões doentios de beleza. Cabe a família e a escola darem importância a este aspecto, criando espaços para discussão e conscientização da força das ideologias na vida cotidiana das pessoas. 2.5 Pedagogia afetiva Existem fatores que podem influenciar neste processo, tais como: a violência e bullying nas escolas, desenvolvimento emocional, regras e limites, e as relações intrínsecas entre sociedade, família e escola. No âmbito familiar, quanto no escolar, deve haver uma relação de afeto, pois é isso que ajudará a construir um ser humano psicologicamente saudável. O ato de cuidar é maravilhoso - é o sentimento que vai tornar o outro importante. O pai e o professor, educadores que são, devem entender que têm uma missão: construir um ser humano. Isso somente acontecerá pela obra do amor, porque o amor educa, aprimora, e todo ser humano cresce em direção 17 do elogio, sendo que assim, pressupõe-se, que a pedagogia afetiva contribuirá positivamente. 18 3 METODOLOGIA 3.1 Tipo de pesquisa Este projeto está fundamentado numa pesquisa de campo, em uma escola da rede estadual de ensino do município de São José / SC, com uma turma de 4ª Série/5° Ano, no primeiro semestre do a no de 2009, sendo que optou-se por uma pesquisa descritiva, etnográfica e de campo. Descritiva porque segundo Rizzini, (1999, p. 29) Este tipo de pesquisa procura determinar a natureza e a intensidade de dado fenômeno. [...] O objetivo é a descrição das condições existentes. Este tipo de pesquisa é característica dos estudos de caso, dos estudos de levantamento e dos estudos de desenvolvimento, todos esses, exemplos de pesquisas descritivas. Neste caso, cabe uma pesquisa de levantamento que, segundo Rizzini, (1999, p. 33) “o objetivo desta pesquisa consiste em recolher opiniões ou fazer o perfil comparativo de uma população”. Além de descritiva, a pesquisa também é etnográfica. As pesquisas etnográficas seguem, de maneira geral, três etapas básicas: a exploração, a decisão e a interpretação. Na primeira etapa, o pesquisador se preocupa com a situação inserção na comunidade, ou seja, com os contatos para a entrada em campo e com a coleta dos dados. Na segunda etapa, o pesquisador busca uma estrutura de significado dos participantes nas diversas formas em que são expressas sua cultura, levando em conta forma e conteúdo. Na terceira etapa, o pesquisador procura explicar o problema ou fenômeno. Trata-se de uma busca por princípios subjacentes ao fenômeno estudado e de situar suas explicações em um contexto mais amplo (RIZZINI, 1999, p. 35). Neste caso, julga-se necessário a inserção do pesquisador no campo, buscando aspectos da educação de pré-adolescentes nos anos iniciais, na Escola José Matias Zimmermann, ao longo de um determinado tempo, que compreenderá de agosto de 2008 a junho de 2009. 19 3.2 População/Amostra A presente pesquisa foi realizada com uma turma de aproximadamente 30 alunos, da 4ª Série/ 5° Ano, da E.E. B. José Mat ias Zimermmann, localizada no bairro Sertão do Maruim, Município de São José / SC. 3.3 Instrumentos de coleta de dados Foi utilizado para efetivação desta pesquisa um questionário, visando uma análise quantitativa dos dados coletados. Sendo que o questionário, de acordo com o guia de metodologias para programas sociais: Consiste em uma série de perguntas e questões, cuja forma, aberta ou fechada, configura tipos de coleta de dados qualitativos e quantitativos, respectivamente. O questionário pode ser dirigido ao entrevistado pelo entrevistador, de forma direta, ou preenchido pelo próprio entrevistado. (RIZZINI, 1999, p. 77). As perguntas feitas à turma através do questionário, foram semi-abertas, para poder abranger os aspectos da pedagogia afetiva na educação que propõe-se a pesquisa, além de outros que podem, eventualmente, tornarem-se necessários para compreensão do processo de ensino e aprendizagem. 20 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA O questionário aplicado teve por objetivo coletar dados sobre a pedagogia afetiva, e sua relação com os pré-adolescentes nos anos iniciais, na E.E.B. José Matias Zimmermann. 1. Sexo Gráfico 1 Sexo 47% 53% Masculino Feminino Fonte: Pesquisa realizada em 14/05/2009 O gráfico 1 indica que a maioria, 53% dos estudantes entrevistados, é do sexo feminino, e 47%, do sexo masculino. Análise: percebe-se que existe certo equilíbrio, considerando esta margem normal e de acordo com o índice de natalidade Brasileira, segundo pesquisa feita pelo IBGE em 2007. Somos 183.987.281 brasileiros, sendo que para cada 100 mulheres, existem 96 homens, ficando assim um excedente de 2.647.140 mulheres, evidenciando o equilíbrio da população brasileira em relação ao gráfico. Acredita-se que as mulheres são mais afetuosas do que os homens por serem agraciadas com o privilégio de serem as gestoras da vida, de um ser em desenvolvimento. A criança em desenvolvimento está em constante contato com a nossa cultura, onde o afeto maternal é bastante evidenciado nas brincadeiras das crianças ao reproduziram a cultura adulta, brincando com 21 suas bonecas, imaginado situações em que podem reproduzir o papel da mãe em relação ao cuidado e o afeto. Chalita, 2004 afirma este questão dizendo: A mulher, a grande privilegiada, é a terra, a gestadora da vida. A mulher, que sofre com a espera, que vive o crescimento do corpo, que tem a consciência de que tudo muda a partir dessa nova etapa. [...] volta a dimensão do afeto. Afeto no preparo, afeto na vida, afeto na criação. Afeto na compreensão dos problemas que afligem os pequenos logo na primeira infância. (CHALITA, 2004, p 26-27). 2. Idade Gráfico 2 Fonte: Pesquisa realizada em 14/05/2009 O gráfico 2 mostra-nos que, mais da metade dos alunos, 56%, têm 9 anos de idade, 29% têm 10 anos, 9% têm 11 anos, e 6% deles tem 12 anos de idade. Análise: podemos perceber, através do gráfico, que a turma analisada está dentro de uma perspectiva esperada, pois a grande maioria tem idade apropriada para a série que frequentam, que, de acordo com a lei federal n. 10.836 de 09/01/2004, considera-se em idade escolar crianças entre 06 e 15 anos completos. De acordo com Ramos (1995), as crianças tendem a ser mais afetuosas por estarem naturalmente começando a estabelecer a sua relação com o mundo. Dentro de seu contexto social familiar, a criança geralmente está 22 cercada de atenção e afeto, devido a sua dependência cultural, e responde a estes estímulos de forma recíproca. 3. O que você entende por afeto? Gráfico 3 Entendimento de afeto pelas crianças 18% 21% Um gesto, uma maneira de falar e de olhar Um abraço, um aperto de mão 9% um elogio Não sabe responder 52% Fonte: Pesquisa realizada em 14/05/2009 52% das crianças participantes da pesquisa entendem por afeto “um abraço, um aperto de mão”; 21% entendem afeto como “um gesto, uma maneira de olhar e falar; 18% não souberam responder a pergunta, e 9% entendem o afeto com sendo “um elogio”. Análise: Percebe-se que o afeto nem sempre é compreendido da mesma forma por todos os sujeitos, porém, todos nós somos seres afetuosos, demonstramos atitudes de afeto em várias relações sociais. É interessante analisar como as crianças atribuem à palavra afeto a atitudes de toque, visto que a maioria, respondeu que afeto é um abraço, um aperto de mão, e geralmente não entendem o afeto com sendo expressão de todas as nossas emoções e preocupações. Sendo assim, todo ser vivo necessita de afeto para a harmonia de seu desenvolvimento. Podemos considerar analogicamente que, o afeto representa um termômetro que mede a intensidade de nossas emoções, e a falta deste controle pode afetar a auto-estima, causando certo desequilíbrio emocional em nossas relações. 23 Freud atribui ao afeto três destinos possíveis, a saber: pode ser suprimido, transformado em uma quota afetiva qualitativamente diferente ou transformado em angústia. Isso porque o grande propósito do recalque é proporcionar uma fuga frente ao desprazer, em outros termos, impedir o surgimento de um afeto penoso. (FREUD, 1915, p. 89) Por estes motivos, a afetividade torna-se uma vivência fundamental de cada minuto da existência humana, na medida em que conclui-se que a vida perde a graça quando nada mais afeta-nos. 4. Um colega está sendo agredido no pátio da sua escola, qual sua atitude? Gráfico 4 Atitude das crianças perante a violência na escola 12% 15% Vai ajudar o colega 0% chama a direção da escola Fica na platéia assistindo Intervém com o objetivo de acabar com a violencia 73% Fonte: Pesquisa realizada em 14/05/2009 Quanto à atitude das crianças em relação à violência, 73% delas responderam que numa briga entre colegas, sua primeira atitude seria “chamar a direção da escola” para resolver a situação; 15% responderam que “interviriam com o objetivo de acabar com o conflito”; 12% “ajudariam o colega” colaborando com o ato agressivo, e ninguém respondeu que ficaria “na plateia assistindo”. Análise: O afeto está implícito em todas as situações acima, pois as crianças que responderam que iriam chamar a direção, buscam nesta atitude o 24 afeto por parte dos adultos que interagem e são responsáveis por elas, dentro do espaço escolar. Comentários, risos e olhares de professores e das outras crianças. Além do fato de serem conhecida por todos, proporcionam-lhes o tipo de reconhecimento de que necessitam, especialmente se lhe chamam a atenção com freqüência. (TOBER; CAROLL, 1999 p. 95) Para essas crianças, o reconhecimento por parte dos adultos é importante para afirmar sua auto-estima, e, em contrapartida, este comportamento leva-nos a acreditar que esta criança também pode ter tido esta atitude motivada por outros fatores afetivos. As crianças que responderam intervir para acabar com o conflito, de alguma forma também estavam em busca de afeto, desta vez não dos adultos, mas das crianças de seu circulo de amizades. Estas crianças buscam o afeto através de suas atitudes pacificas. A agressividade, sendo um aspecto puramente negativo, por incrível que pareça, também tem seu lado afetivo, se pararmos para analisar a situação do agressor, e daquele que se junta a ele num ato de violência. Percebendo que ao colaborar com o agressor, esta criança está demonstrando em sua atitude o afeto em relação ao agressor. Esta questão também tem suas contradições, ao passo que, ao demonstrar afeto ao agressor, esta criança pode querer estar ao mesmo tempo buscando um afeto, ao invés de apenas demonstrá-lo. Percebemos, neste contexto, uma troca: “eu gosto de você e te ajudo, e você gosta de mim e me ajuda”. Todas essas atitudes comportamentais analisadas, levam-nos a crer que, além de buscas e trocas de afetos, também podem existir outros interesses, ainda que sejam de forma inconscientes (o ego e o status). 5. Como você é recebido na sua escola? 25 Gráfico 5 Como as crianças são recepcionadas pela escola 6% 3% 6% Bom dia, querido(a) aluno(a) Está atrasado(a) Nínguém fala nada Alguns colegas lhe ofendem 85% Fonte: Pesquisa realizada em 14/05/2009 85% das crianças entrevistadas, ao chegarem à escola, responderam que são recebidas com um “bom dia querido(a) aluno(a), enquanto 6% disseram que são recebidos com uma observação “está atrasado”, da mesma forma que outros 6% responderam que “ninguém fala nada”, e 3% responderam que são “ofendidos pelos colegas” ao chegarem na escola. Análise: A maioria das crianças diz serem recebidas com uma atitude de afeto por parte do professores, como o “Bom dia querido (a) aluno”. Essa pergunta implica algumas situações: seria mesma essa a maneira com que eles são recepcionados? Ou seria esta a maneira como eles gostariam de ser? Não podemos, através desta questão, achar que todos os educadores recebem seus alunos com atitudes afetuosas, até porque, se fosse assim, todos os problemas educacionais estariam solucionados, levando em conta que a solução da educação está, conforme nos diz Chalita (2008): no afeto, “não é possível combater a insensibilidade, o desrespeito, a falta de solidariedade, a apatia, a não ser pelo afeto”. Talvez a resposta dessas crianças seja um indício para uma mudança, pois, se não estão sendo recepcionadas com afeto, a maioria deseja ser. Devemos perceber que, para as demais interpretações, como por exemplo, algumas crianças simplesmente não sabem conscientemente o que é 26 o afeto, pois o atribuem sempre às coisas positivas, não estendendo que a exortação do professor também é uma forma de demonstração de afeto. 6. Quando você está saindo para ir à escola, qual das recomendações seus pais lhe fazem: Gráfico 6 Recomendação dos pais às crianças ao irem para a escola 9% 0% 15% Vá direto para a escola Te beijam e diz boa aula meu filho(a) Não falam nada 76% não estão em casa quando você sai para a escola Fonte: Pesquisa realizada em 14/05/2009 Das crianças que responderam ao questionário, 76% delas afirmaram que, ao saírem para ir à escola, seus pais “lhes beijam e dizem boa aula meu filho (a); 15% responderam que seus pais lhes recomendam “vá direto para a escola”; e 9% “não estão em casa quando os filhos saem para escola”. Análise: Segundo Chalita, (2008) a escola nunca conseguirá substituir a família. Cada um tem seu espaço e sua responsabilidade. As maiores demonstrações de afeto começam em casa, na família, o meio propicio para que a evolução aconteça pelo diálogo, pela conquista do espaço e pelo exemplo. A análise deste gráfico é concomitante ao gráfico anterior, pois a resposta dada pelas crianças entrevistadas pode não condizer com a realidade, podendo ser novamente um desejo. Desejo de ser amado, respeitado, valorizado e etc. As outras respostas são de acordo com o contexto, mais próximas da realidade, pois de fato, alguns pais saem muito cedo para trabalhar e não estão 27 em casa quando seus filhos saem para ir à escola, enquanto que outros estando em casa, simplesmente recomendam para seus filhos irem direto para a escola, alguns por realmente estarem preocupados, e outros por quererem evitar algum tipo de problema. 7. O professor trata você com afeto quando: Gráfico 7 Momento em que o professor expressa afeto para o 3% aluno 12% Está sempre bem humorado e alegre com você recebe você na porta da sala de aula Repreende você e chama sua atenção 26% 59% Não sabe responder Fonte: Pesquisa realizada em 14/05/2009 Nesta turma, geralmente o professor trata seus alunos com afeto, quando está “bem humorado e alegre com eles (59%); 26% internalizam uma atitude afetuosa do professor como sendo “recebê-los na porta da sala de aula”; 12% entendem o afeto do professor quando “ é repreendido e chamado a atenção”, e apenas 3% ficam sem saber responder. Análise: Independente das respostas que as crianças deram a esta questão, o professor, conforme Chalita (2008): É a alma da educação, a alma da escola, o sujeito mais importante na formação do aluno. O professor referencial, o professor mestre, o professor companheiro, o professor amigo, o professor guia, o professor educador [..] A sala de aula é um espaço sagrado em que o aluno merece ser valorizado e incensado pelo afeto e pelo saber. (CHALITA, 2008, p 258) 28 É importante a criança perceber e entender o afeto no cotidiano escolar, pois ele é um ingrediente indispensável para nossa prática docente; e pensar a educação, é pensar também em afetividade. É preciso que se comece a questionar a qualidade e o tipo de afeto que essas crianças recebem e conhecem, para podermos trabalhar todas as suas potencialidades. Desta forma, acreditamos que a educação “é um processo lento de lapidação de uma pedra bruta de inestimável valor, que precisa ter um grande número de facetas polidas que a façam brilhar, que realcem sua beleza intrínseca.” (Chalita, 2008). 29 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando que podemos contribuir para a educação, no que diz respeito à formação dos sujeitos, em especial os pré-adolescentes, nosso desafio é educar com e pela busca de amor, de carinho, de respeito, do equilíbrio e da harmonia emocional do ser humano, rompendo com os preconceitos e paradigmas dos sentimentos. Todo trabalho pedagógico na área da educação diz respeito também à formação de cidadãos, que pressupõe a responsabilidade profissional, pessoal e social de todos os sujeitos, seja este adulto ou criança. Este trabalho para ser efetivo, deve ser afetuoso. A cidadania não é um direito solitário, e Chalita (2008), nos diz que “é a arte da convivência social e, por isso nem tudo que é agradável pode ser feito”. Mas, tudo que deve ser feito, deve ser feito com amor, carinho, respeito e empatia. Considerando que educar é transformar, e transformar também é educar, a relevância do trabalho de buscar outras possibilidades, para tornar o educar mais afetuoso e harmonioso, seja com a família, com a escola ou com a comunidade, faz-se necessário, porque a transformação só poderá ser possível através da educação, da dedicação e do amor, pela profissão, pelas crianças, pela causa e pela confiança, acreditando que essa realidade poderá ser transformada. 30 6 REFERÊNCIAS ANTUNES, Celso. A Construção do Afeto. 4 ed. São Paulo: Augustus Editora, 2002. ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. Campinas, SP: Papirus, 2001. ______. Só aprende quem tem fome. Nova Escola, São Paulo, ano 17, n. 152, p. 45. CHÄTEAU, J. O jogo e a criança. Tradução: Guido de Almeida. São Paulo: Summus, 1987. CHALITA, Gabriel. Educação, A solução está no afeto. São Paulo: Editora Gente, 2004. 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