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passo a passo
passoapasso
Abril| Maio 2013|| Ano XIX | Nº 145
passoapasso
Abril | Maio 2013 | Ano XIX | Nº 145
PASSO145_CAPA para GRÁFICA DEL REI_PASSO A PASSO CAPA 03/05/2013 01:35 Page 1
EE-0057-13C-AD
PRATICAS
SUSTENTAVEIS17.5x25.5_Alta.pdf
Cada vez mais, mulheres
empreendedoras
conquistam o mercado
BOM SUCESSO
E IBITURUNA:
CHITÃO VIRA OBRA
DE ARTE
AGLOMERADO DA SERRA:
EMPREENDEDORES
FORMALIZAM SEU
NEGÓCIO
CARTA AO LEITOR
Desenvolvimento regional
O
A
A QUE PARTICIP
TODA EMPRES
O.
TÃ
ANÁLISE DE GES
RECEBE UMA
A
MAIS PREPARAD
UMA EMPRESA
S FORTE E
SE TORNA MAI
O MERCADO.
COMPETITIVA N
“Ao alavancar o
desenvolvimento
regional, considerando
suas características e
potencialidades sociais,
econômicas, políticas,
culturais e ambientais,
podemos contribuir
para a melhoria dos
indicadores econômicos
e sociais de Minas
Gerais”
Sebrae Minas reforça suas ações em favor dos pequenos negócios no interior do Estado. Em 2013, inauguramos quatro Centros de Serviços nas cidades de
Divinópolis, Ubá, Santa Rita do Sapucaí e Nova Serrana, um novo modelo de atendimento capaz de
contribuir para o fortalecimento das micro e pequenas empresas
nos arranjos produtivos locais.
Ao alavancar o desenvolvimento regional, considerando suas
características e potencialidades sociais, econômicas, políticas,
culturais e ambientais, podemos contribuir para a melhoria dos
indicadores econômicos e sociais de Minas Gerais.
Nesta edição da Passo a Passo, mostramos alguns exemplos de
produtores e empresários do interior que conseguiram ampliar
suas vendas por meio do associativismo. Em Alfredo de Vasconcelos, região Leste do Estado, a produção de morangos movimenta R$ 3,5 milhões por ano. O negócio é a principal fonte de renda
dos produtores da cooperativa.
Na Zona da Mata, no Campo das Vertentes e no Sul de Minas,
empresários de lojas de construção também se organizaram para
fazer compras em conjunto e enfrentar a competitividade acirrada do setor. Hoje, unidos sob a mesma marca, comemoram resultados e planejam expansão.
Nesta edição, a matéria de capa é dedicada às empreendedoras.
Cerca de 13 milhões de mulheres se destacam à frente das empresas no país. As brasileiras estão entre as que mais empreendem no
mundo, de acordo com a última edição da pesquisa GEM (Global
Entrepreneurship Monitor). Conheça algumas histórias de dedicação e sucesso dessas mulheres.
Boa leitura!
NCEDORAS
AS EMPRESAS VE
RÊNCIA
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SE TORNAM RE
E TÊM
TO
EM SEU SEGMEN
CIONAL.
NA
TO
RECONHECIMEN
LÁZARO LUIZ GONZAGA
Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-MG
Inscreva-se até 31 de julho pelo site www.premiompe.sebrae.com.br
ou procure o Ponto de Atendimento do Sebrae Minas mais próximo.
Apoio estadual:
Apoio
institucional:
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PASSO A PASSO
Passo a Passo é uma publicação do Serviço de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais
(Sebrae-MG). Registro no Cartório Jero Oliva nº 931.
Pág. 6 ARTESANATO
Mulheres de Bom Sucesso e
Ibituruna investem no artesanato
têxtil
Pág. 44 CAPA
Mulheres ganham destaque no
comando do próprio negócio
Conselho Deliberativo do Sebrae-MG:
BB, BDMG, CDL-BH, CEF, Cetec Ciemg, Faemg,
Fapemig, Fecomércio-MG, Federaminas, Fiemg,
Indi, Ocemg, Sebrae e Sede.
Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-MG:
Lázaro Luiz Gonzaga
Superintendente: Afonso Maria Rocha
Diretor Técnico: Luiz Márcio Haddad Pereira Santos
Diretor de Operações: Fábio Veras
Conselho editorial: Albertino Corrêa, Aline de Freitas,
Andrea Avelar, Luciana Patrícia Rezende, Rodrigo
Patrocínio Mazzei, Daniela Toccafondo, Danielle
Fantini, Edelweiss Petrucelli, Gustavo Moratori,
Jefferson Ney Amaral, José Márcio Martins,
Karinne Mendes, Carlos Vieira Pinto, Denise Sapper,
Március Marques Mendes, Paulo César Barroso
Veríssimo, Regina Vieira, Alex Pena e Daniele Brito.
Gerente de Comunicação: Teresa Goulart
Jornalista responsável: Andrea Avelar - MTb 06017/MG
Produção editorial: Rede Comunicação de Resultado
Edição: Jeane Mesquita e Licia Linhares
Reportagem: Bárbara Fonseca, Beatriz Debien, Glória
Paiva, Hellem Malta, João Luís Chagas, Kátia Resende,
Laura Conrado, Rita Cardoso, Roberto Ângelo e Tarsis
Murad
Revisão: Liza Ayub
Projeto gráfico e diagramação:
Brava Design | Janette Sá, Junius Vilela
Fotografia: Agência i7, Gláucia Rodrigues, Mauro
Marques, Ronaldo Guimarães e Ronaldo Lopes
Foto capa: Pedro Vilela/Agência i7
Ilustrações: Claúdio Duarte e Quinho
Impressão: Del Rey
Periodicidade: bimestral
Tiragem: 15 mil exemplares
Redação
[email protected]
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Nova Granada – Belo Horizonte
Minas Gerais – CEP 30.431-285
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Prêmio Aberje
Vencedor nacional
Categoria mídia impressa
4 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
Pág. 38 CONSTRUÇÃO CIVIL
Rede Construir consolida
parcerias e planeja expansão
Pág. 51 EDUCAÇÃO
Cursos técnicos capacitam jovens
para os desafios do mercado
Pág. 12 RODADA DE NEGÓCIOS
Empreendedores descobrem
novas oportunidades de negócios
e parcerias
Pág. 16 COOPERATIVISMO
Produtores de morango investem
em logística e vendas conjuntas
Pág. 22 GESTÃO DO CONHECIMENTO
Informações estratégicas
colaboraram para expansão dos
negócios
Pág. 26 AGRONEGÓCIO
Universitários participam de
Programa de Desenvolvimento da
Pecuária Leiteira
Pág. 31 MOBILIDADE
Projeto fortalece potencial de
Uberlândia no cenário
tecnológico
Pág. 36 ARTIGO
No mesmo barco, por Paulo
Rocha
Pág. 72 TURISMO DE NEGÓCIOS
Uberlândia e Juiz de Fora
fortalecem turismo de
negócios com captação de
eventos
Pág. 78 CONSULTORIA
Aprenda como escolher o
nome de sua empresa e a
divulgar o seu negócio
sumário
Pág. 57 NOTAS
PÁG. 61 EMPREENDEDORISMO
Moradores do Aglomerado da
Serra se formalizam como
Empreendedores Individuais
Pág. 81 É BOM SABER
Quem são os clientes do
Sebrae Minas
Pág. 66 CRÉDITO
Oficina mostra a
empreendedores melhores
formas de acesso a serviços
financeiros
Pág. 68 ENTREVISTA | Gustavo
Caetano, CEO da Samba
Tech, mostra como uma ideia
inovadora pode revolucionar
o mercado de startups
www.sebraemg.com.br 5
Fotos: Pedro Vilela / Agencia i7
ARTESANATO
O chitão ficou
chique
Mulheres de Bom Sucesso e
Ibituruna resgatam a história
e a cultura locais por meio
do artesanato têxtil
Duas pequenas cidades do Sul de Minas guardam pequenos tesouros por trás de suas montanhas. Bom Sucesso e Ibituruna, essa última considerada o primeiro “aglomerado” populacional
do Estado, são morada de gente de muito talento
para o artesanato. Utilizando o tecido chitão e a
técnica de patchwork (arte de emendar retalhos),
22 artesãs honram as tradições de suas terras e
contam histórias em cada bordado, arremate,
emenda e costura. A Associação de Artesãos de
Bom Sucesso, cujo expoente é o grupo Chitão
Arte, e a Associação de Artesãos de Ibituruna,
com destaque para a identidade Berço de Minas,
compõem um arranjo regional organizado pelo
Sebrae Minas, visando promover, conjuntamente, o artesanato têxtil dessas duas localidades.
6 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
Em termos estratégicos, o objetivo principal do projeto Artesanato Têxtil, em Bom Sucesso e Ibituruna, é aumentar o faturamento
das artesãs em 35% até dezembro de 2014,
ampliando o mercado para diversos estados.
Hoje, as peças são vendidas, sobretudo, para as
cidades de Belo Horizonte (MG), São Paulo
(SP), Brasília (DF) e Olinda (PE). Outro objetivo é crescer a produção, o que envolve a melhoria dos processos, design, gestão, associativismo, diminuição de custos, qualificação,
adequação de infraestrutura e fortalecimento
de imagem via ações de marketing. O públicoalvo são as classes A e B, que têm poder de
aquisição maior para itens que não são considerados de “primeira necessidade”.
Maria Francisca, conhecida como Chiquinha vê em pequenos objetos a inspiração para a arte do chitão
O INÍCIO DE TUDO | Uma bonita casa localizada no centro de Bom Sucesso, perto da praça
principal, abriga a Associação de Artesãos. Dentro, a beleza se amplia. Bolsas, almofadas, flores,
jogos americanos e muitos outros produtos dão
ideia da capacidade inventiva das 12 artesãs que
fazem parte do grupo.
No início, em 2004, eram 63 integrantes, entre homens e mulheres. Nessa época, houve participação do Sebrae Minas com a aplicação do
Programa Sebrae de Artesanato (PSA), que visa
promover o setor artesanal de forma integrada
(veja mais na página 11). “Mas não tínhamos
ainda uma identidade específica: vendíamos diferentes mercadorias, uma verdadeira mistura”,
conta a artesã e professora aposentada, Maria
Francisca Vieira de Almeida, a Chiquinha.
Ela se lembra das feiras na praça de Bom Sucesso. “No início, conseguimos atrair atenção e
acreditávamos num retorno financeiro rápido –
produzir e ganhar dinheiro. Sofríamos de excesso de otimismo”, brinca. Mas, com o passar do
tempo, virou rotina, e a população não dava
mais importância à feirinha. Visando reverter
essa situação, o Sebrae Minas disponibilizou,
entre 2005 e 2006, a consultoria de uma designer, que estimulou o grupo a descobrir o que tinha de melhor. “Começamos a ver, com outros
olhos, coisas que, até então, passavam despercebidas, como costumes e, até mesmo, jardins e
construções. Sem saber, estávamos despertando
nossa sensibilidade para a arte.” Nascia ali o Chitão Arte, que utilizaria o tecido, muito característico da região, nas peças confeccionadas.
Em 2007, o grupo participou da Feira Nacional de Artesanato, em Belo Horizonte. “Vendemos tudo o que levamos e ainda trouxemos
muitas encomendas. Fomos muito bem-aceitas
e elogiadas, o que nos motivou a seguir em frente e crescer cada vez mais”, diz Chiquinha. Nos
anos seguintes, a participação em eventos se
ampliou, e as artesãs marcaram presença nas famosas Fiaflora e Paralela Gift, em São Paulo. Em
2010, foi criada a identidade regional.
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As irmãs Conceição (a dir.) e Celeida levam a tradição da costura e do bordado há duas gerações
QUEM FAZ HISTÓRIA | Na Associação de Bom
Sucesso, 47 anos separam a integrante mais jovem
da mais idosa do grupo. Conceição Almeida Silva,
professora aposentada, tem 82 anos. Sua energia e
vitalidade contagiam a todos. Apaixonada pelo artesanato, ela conta que sua mãe era costureira, o
que a despertou cedo para a costura e o bordado.
Mas, há alguns anos, parou o trabalho por um problema oftalmológico, não podia mais forçar a visão. “Por isso, entrei na Associação e faço flores de
chitão com a minha irmã.”
A irmã é Celeida Almeida Moraes, professora
aposentada e diretora da Associação de Pais e Amigos do Excepcional (Apae) de Bom Sucesso. Ela é
a idealizadora da entidade e foi a articuladora das
reuniões iniciais. Junto com Conceição, é expert
em flores e revela o segredo dessa arte complexa e
delicada. “A flor de tecido é engomada com polvilho para ficar durinha. Riscamos e cortamos as pétalas uma a uma. Depois, frisamos e montamos na
haste de bambu.” As próprias irmãs fazem o corte
do bambu, que, segundo ela, deve ser na “lua certa”. O miolo do tecido é contornado com sisal. Para
fazer uma única flor, é necessário mais de um dia.
A artesã Edna de Lourdes Resende Monteiro completa a linha de flores e utiliza os retalhos para fazer cravinhos e flores em botão. “Temos consciên8 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
cia de que os nossos produtos não são essenciais.
O nosso artesanato é, acima de tudo, apreciação e
sentimento”, declara Celeida Moraes.
Outra artesã, Maria Léa Alves Lopes, é professora aposentada, assim como suas colegas de trabalho. Foi lecionando no antigo primário que
aprendeu a fazer embalagens, cartazes e lembrancinhas para utilização nas datas comemorativas. Para ela, a Associação se resume a amizade.
“A nossa integração, a alegria e o carinho são
transmitidos em cada peça, e quem compra sempre tem uma boa impressão da gente”, acredita.
A costureira Francisca Maria Oliveira também
se encontrou no grupo. “Tinha loucura por tecido,
linha e agulha. Aos poucos, isso se tornou meu
ofício.” De natureza mais retraída, a artesã enfatiza que, com as colegas, consegue se comunicar
melhor. “Trabalho por prazer e amor, que são
muito mais importantes que qualquer dinheiro.”
BERÇO DE MINAS | Instalada numa escola desativada, a Associação de Artesãos de Ibituruna
dá vida a um lugar aparentemente abandonado.
Dez artesãs se encontram diariamente para dar
vazão a seus talentos. São colchas, centros de mesa, pesos de porta e até itens mais modernos, como capas para notebook, tablets e iphones. Tudo
muito primoroso e bem-feito, agradando aos
mais exigentes consumidores.
A história do grupo começou em 2007, quando
a Prefeitura Municipal teve a iniciativa de estimular o artesanato local e contratou uma professora
para ensinar os interessados. Ainda naquele ano,
a Secretaria Municipal de Cultura viu a necessidade de contatar o Sebrae Minas, que aplicou o
programa Sebrae de Artesanato e permitiu que
houvesse uma ampliação de horizontes. “No começo, eram 40 pessoas, entre homens e mulheres. Essas ficariam a cargo do artesanato. Os homens se dedicariam à confecção de móveis em
madeira de café. Mas o tempo passou, e somente
o trabalho das artesãs permaneceu”, relembra Isabel Cristina de Andrade Coelho, mais conhecida
como Bebel, artesã e professora aposentada.
A consultoria do Sebrae Minas continuou e,
entre 2008 e 2009, houve o apoio de uma designer para a consolidação da identidade da Associação. Foi detectado que a população de menor
renda fazia peças com restos de pano, remendando-os. O chitão era muito utilizado por ser mais
barato que os outros tecidos. “Pensamos: por que
não unir a técnica do patchwork com o chitão? Ficou decidido que esta seria a identidade, uma
costura de retalhos que liga e dá sentido às nossas
vidas”, explica Bebel. O nome Berço de Minas foi
uma homenagem à cidade.
Em 2010, houve a junção das Associações de
Artesãos de Bom Sucesso e Ibituruna. “Confesso
que demoramos a entender o que significaria a
união dos grupos. Mas essa parceria trouxe o chitão, definitivamente, para a nossa realidade. Podemos dizer que eles trabalham o chitão rebordado, e nós, o remendado”, esclarece a artesã.
Hoje, a entidade se dedica à produção e comercialização dos produtos em feiras. Das vendas, 50% do valor arrecadado vão para as artesãs
e 50% para compra de material. Há a cultura de
estocagem de produtos para não haver sobrecarga de trabalho em épocas de pico. A renda das
mulheres não é fixa, e o retorno financeiro aparece somente quando os eventos acontecem. Por
isso, a atividade é, para muitas, complementar. O
desejo da maioria delas, no entanto, é que, em
um futuro breve, possam viver somente do artesanato e ser autossustentáveis. “Sonhamos com
o fortalecimento e a consolidação do grupo, com
“Esta parceria (entre as Associações
de Artesãos de Bom Sucesso e
Ibituruna) trouxe o chitão,
definitivamente, para a nossa
realidade. Podemos dizer que
eles trabalham o chitão
rebordado, e nós, o remendado”
Isabel Cristina de Andrade
Coelho, artesã
www.sebraemg.com.br 9
Resgate da tradição
um ponto fixo de venda, divulgação em catálogo,
folders e até um site. Queremos essa profissionalização para ampliar o nosso mercado e atingir
locais nunca antes imaginados”, completa Bebel.
SENTIMENTO REVELADO | Maria Madalena da
“Vim para o grupo pelo gosto
da arte e para quebrar a
rotina com algo que me dá
prazer. Cada vez que vejo uma
peça acabada, olho pra ela e
tenho uma sensação
indescritível de satisfação”
Josefa Adelaide Pereira de
Aguiar, artesã
10 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
Silva Pereira é uma das artesãs de Ibituruna apaixonada pelo artesanato. “Na Associação me sinto
bem. O trabalho é uma verdadeira terapia”, confessa. O mesmo vale para Maria da Conceição. “Aqui
sou feliz, me sinto útil.” A colega Josefa Adelaide
Pereira de Aguiar, aposentada em serviços gerais,
revela: “Vim para o grupo pelo gosto da arte e para
quebrar a rotina com algo que me dá prazer. Cada
vez que vejo uma peça acabada, olho pra ela e tenho uma sensação indescritível de satisfação”.
A artesã Maria Perpétua Sutani Machado, de
77 anos, é a mais idosa da entidade, mas sua disposição para o trabalho é exemplar. Desde criança, gostava de bordado, ponto de cruz e crochê,
até conhecer o patchwork. “Foi amor à primeira
vista. Hoje, dou meu carinho pra cada peça, e
quem leva sente isso. A pessoa sempre acaba voltando e comprando mais”, declara. Para Bebel,
não há nada mais gratificante do que “a arte de
emendar paninho”. “Essa união faz muito sentido
no nosso trabalho, porque o patchwork nada mais
é que a união de retalhos. Quem adquire uma peça nossa leva um pedaço da nossa história”
logia e estímulo à cultura da cooperação, com a finalidade de promover o setor artesanal de forma
integrada. Consequentemente, torna-se necessário
um maior conhecimento sobre gestão financeira.
Para isso, foi criado o módulo Educação Financeira para o Artesanato, iniciado em 2013, com a
capacitação de 16 horas, envolvendo organização
de finanças e conhecimento de produtos e serviços oferecidos pelas instituições financeiras. “Isso
possibilitará ao artesão adquirir conhecimento sobre controles financeiros e alternativas de crédito,
a fim de que ele tome as decisões corretas para sua
atividade“, explica a analista da área de Artesanato
do Sebrae Minas, Cyliane Oliveira.
Segundo ela, todos os grupos de projetos envolvendo o artesanato passarão por essa capacitação. As Associações de Artesãos de Bom Sucesso e Ibituruna farão o módulo no segundo semestre deste ano. “A capacitação permitirá aos participantes identificar, no mercado, as oportunidades de crédito que possibilitarão investimentos
em seu negócio”, completa o analista de Crédito
do Sebrae Minas, José Márcio Martins.
A GRANDEZA DO ARTESANATO
MÉDIA DE IDADE
DAS ARTESÃS
MÉDIA DE RENDA
PER CAPITA ANUAL
60anos
R$1.871
MÉDIA DE PEÇAS
VENDIDAS POR
ARTESÃ/ANO
COMPOSIÇÃO
EM GÊNERO
165
100%
MULHERES
A artesã Maria da Conceição se diz satisfeita e útil em poder trabalhar na associação
O projeto de artesanato surgiu em 2010, da
proposta do Sebrae Minas de unir as cidades de
Bom Sucesso e Ibituruna por meio de uma tipologia comum. “Os artesãos não tinham noção de
mercado de uma maneira abrangente, apesar de
terem potencial de produto”, lembra a analista do
Sebrae da Regional Sul, Glaucya Jerusa Souto Vale.
Foi um tempo de negociações, com foco na
priorização de uma identidade para trabalhar. Decidiu-se pelo chitão, em Bom Sucesso, e pelo patchwork, com detalhes em chitão, em Ibituruna. Em
2011, deu-se início à execução das ações propostas.
Também houve, nesse ano, a criação do Programa
Design para o Artesanato (PDA), voltado à gestão
mercadológica e de processos. O ano de 2012 foi
marcado pela participação em feiras de porte nacional, e o de 2013, pelo plano comercial, que prioriza a identidade visual, peças gráficas e divulgação
das marcas Chitão Arte e Berço de Minas.
A principal contribuição do Sebrae Minas foi
proporcionar às associações a abertura de mercado. “Viabilizamos o espaço para expor, comercializar e gerar renda. A partir disso, focamos no crescimento e na rentabilidade da atividade”, destaca
Glaucya Vale. Sobre as peças produzidas, a analista
se refere a elas como produtos primorosos e significativos. “Quem compra esse tipo de artesanato
resgata, de certa forma, tradições e histórias que
remetem à infância, às avós, a um tempo que não
volta mais. Esse é o grande diferencial.”
O Programa Sebrae de Artesanato tem uma série de atividades, como diagnósticos, capacitações,
consultorias, ações de acesso ao mercado e à tecno-
www.sebraemg.com.br 11
Empresários fortalecem o relacionamento com futuros fornecedores durante a Rodada de Negócios
Conversando,
empresas se
entendem
Rodada de Negócios promove
oportunidades nos mercados
nacional e internacional
Já pensou em micro e pequenas empresas do
interior de Minas Gerais exportando produtos
e vendendo serviços para grandes empresas de
outros estados e do exterior? Essa é uma das
oportunidades criadas por meio da Rodada de
Negócios do Sebrae.
“Nossa intenção é promover uma dinâmica comercial mais objetiva e aproximar os compradores
dos fornecedores, com apresentações de negócios
direcionadas aos interesses dos empresários”, explica Plácido Otoni Prates, analista do Sebrae Minas. Somente em 2012, foram realizados 16 encontros no Estado, reunindo 1.831 empresas com
mais de R$ 915 milhões em perspectivas de transações. “Nem sempre os negócios são fechados durante o evento, mesmo porque os encontros são
rápidos. A ideia é fazer o primeiro contato de aber12 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
tura de relacionamento comercial entre o empreendedor e o futuro cliente”, completa.
A Rodada de Negócios, inserida pelo Sebrae
em 1993, pode ser setorial ou multissetorial, com
abrangência regional, nacional ou internacional,
dependendo dos segmentos envolvidos. Desde a
sua criação, o evento passou a ser compartilhado
e realizado em várias regiões do Brasil. Em Minas
Gerais, apenas em 2011 e 2012, foram organizados 25 encontros, dos quais se destacam: Rodada
de Negócio Brasil Central, Rodada de Negócios
de Belo Horizonte e região e Rodada de Negócios
do Sul de Minas. Juntos, os três eventos tiveram
a participação de 1.707 empresas - 29 estrangeiras e consideradas entre as principais da América
Latina - e somaram R$ 1,340 bilhão em expectativas de negócios.
A organização começa na identificação da necessidade e do espaço para a realização da Rodada
de Negócios. Em paralelo, os empreendedores locais são convidados a apresentar seus produtos e
serviços para uma seleção de possíveis interessados. De outro lado, as empresas demandantes,
também chamadas de âncoras, indicam o produto
ou serviço em que têm interesse de compra.
Com o cruzamento destas informações, é criada
a agenda da Rodada de Negócio. Os participantes
organizam sua apresentação por horários, de modo
que um mesmo ofertante possa ter a oportunidade
de conversar e conhecer diferentes compradores
no mesmo dia, otimizando sua participação. Os encontros duram de 20 a 30 minutos. “Cada empresário recebe sua agenda antecipadamente para que
possa se programar e, após a realização das reuniões, ele ganha um catálogo com informações sobre compradores e fornecedores, seus produtos e
serviços”, comenta o analista do Sebrae Minas. Devido à dinâmica do evento, o ofertante, caso identifique alguma oportunidade além de sua agenda,
pode encaixar outras reuniões no período. “Outra
vantagem é que, muitas vezes, uma negociação
acontece também entre ofertantes, e não apenas
com empresas-âncoras”, observa Plácido Prates.
“Temos a consciência de que, sem
o encontro setorial,
provavelmente não teríamos
conhecido esses empresários
(norte-americanos). É uma
iniciativa que abre possibilidades
para fora do nosso eixo”
Fernando Romeiro de Cerqueira,
diretor-presidente da Coocafé
Pedro Vilela / Agencia i7
Divulgação Sebrae
RODADA DE NEGÓCIOS
GANHANDO FORÇA | De acordo com a gerente
da Unidade de Mercado e Relações Institucionais,
Mônica Segantinni, os benefícios gerados pela Rodada de Negócios são muitos - troca de conhecimento, parceria com compradores de médio e
grande porte, realização de acordos de cooperação
entre os participantes, expansão de mercados,
acesso a novos fornecedores e ampliação do networking empresarial.
Foi para abrir portas e conquistar o mercado da
América Latina que a Biquad, empresa de Santa
Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, participou da
Rodada de Negócios do Sul de Minas, realizada na
cidade de Varginha, em outubro de 2011. “Enxergamos nossa participação como uma excelente
oportunidade de colocar em prática o plano de expansão de vendas para outros países. Dentre as
empresas-âncoras, havia uma em especial que se
encaixava dentro do nosso mercado de atuação, a
chilena Sercom Broadcast Intelligence”, conta
Diego de Campos Tomaz, analista de Marketing
da Biquad. De acordo com ele, o contato frente a
www.sebraemg.com.br 13
Divulgação Scamg
frente com o potencial cliente foi decisivo para o
fechamento do contrato. “Depois do encontro, representantes da Sercom quiseram conhecer as estruturas e a tecnologia que disponibilizamos.”
Com o relacionamento mais próximo, a Biquad
– que atua no mercado de radiodifusão há 13 anos,
fornecendo equipamentos e acessórios para emissoras e estúdios de gravação - identificou um novo
nicho de atuação. “Eles estavam interessados em
uma adaptação do nosso produto carro-chefe, o
DAP4 FM, equipamento processador de áudio-digital para emissoras de rádio e TV. A adequação seria para uma versão mais simples para emissoras e
difusoras de pequeno porte”, lembra Diego Tomaz.
Frente à demanda, a Biquad desenvolveu o Dap
Uno e conquistou o cliente chileno, expandindo
sua presença no mercado latino-americano.
Outra grande oportunidade proporcionada pela Rodada de Negócios são as vendas diretas para o
governo, como ocorre no evento Fomenta, em que
os participantes são incentivados a se aproximar
de grandes estatais e de empresas privadas fornecedoras do poder público.
Assim que percebeu o mercado governamental
como um potencial cliente para otimizar o rendimento de seu negócio, Flávio da Rocha Miranda,
proprietário da Gemapel Papéis, em Juiz de Fora,
resolveu ingressar na Fomenta. “A primeira vez que
participei do encontro foi em 2009, na cidade de
14 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
“Nosso trabalho envolve
processos e tecnologias
diferentes dos usados no plantio,
na colheita, no beneficiamento e
no armazenamento do café
comum. Tivemos a
oportunidade de apresentar
essas características para um
público específico, que busca um
produto diferenciado e com
qualidade garantida” Sérgio
D'Alessandro, diretor da SCAMG
Ouro Preto, e, depois, estive presente em mais duas
Rodadas de Negócios. Com isso, consegui aumentar o meu faturamento em 30% e me tornar fornecedor de universidades, do exército brasileiro e de
hospitais, entre outras entidades públicas”, revela.
O empresário esclarece que já prestava alguns
serviços para empresas públicas, mas de forma terceirizada. “Nas Rodadas de Negócios, vi que o jogo
podia virar a meu favor. Hoje, as licitações contam
com processos que envolvem tecnologia digital várias delas são feitas por meio do uso de sites. Isso
permite que qualquer empresa interessada possa
participar. É preciso entender esse processo e buscar as melhores formas de apresentar os produtos.”
ECONOMIA SETORIAL | O desenvolvimento específico dos setores da economia também é buscado
pelos empreendedores e pelas empresas-âncoras. A
Rodada de Negócios do Café das Matas de Minas foi
realizada nesses moldes em 20 de março, na cidade
de Manhuaçu, na Zona da Mata, e contou com a
presença de sete compradores e 37 estabelecimentos ofertantes. Os representantes da Associação de
Cafés Especiais de Minas Gerais (SCAMG), também de Manhuaçu, fizeram parte deste grupo.
“Nosso trabalho envolve processos e tecnologias diferentes dos usados no plantio, na colheita, no beneficiamento e no armazenamento do café comum.
Tivemos a oportunidade de apresentar essas características para um público específico, que busca um
produto diferenciado e com qualidade garantida”,
relata Sérgio D'Alessandro, diretor da SCAMG.
Com um total de 76 reuniões, o evento arrecadou mais de R$ 315 mil em negociações efetivas e
R$ 17,5 milhões em expectativas de venda e compra. Apenas a SCAMG garantiu três negócios efetivos que geraram R$ 500 mil.
Diretor-presidente da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé), Fernando
Romeiro de Cerqueira, também esteve presente na
Rodada de Negócios do Café das Matas de Minas.
A sua participação resultou na visita de dois clientes norte-americanos interessados na compra das
sementes. “Temos a consciência de que, sem o encontro setorial, provavelmente não teríamos conhecido esses empresários. É uma iniciativa que
abre possibilidades para fora do nosso eixo, e essa
é uma das missões da cooperativa: buscar novos
mercados”, explica.
Mas não são apenas os empreendedores que
saem ganhando. As empresas-âncoras também somam bons resultados. A Ale Combustíveis, que
conta com mais de 1.750 postos de abastecimento
espalhados no Brasil, foi convidada a integrar o
grupo de compradores da Rodada de Negócios
Multissetorial de Belo Horizonte, ocorrida em
agosto de 2012. “Estávamos organizando nosso setor de Compras com o cadastro de novos fornecedores. O encontro foi uma boa oportunidade para
conhecer o mercado e estabelecer um relacionamento com as possíveis empresas prestadoras de
serviços”, relata Ubirajara Teodoro da Silveira Júnior, analista de Compras.
Na ocasião, ele buscou conhecer empreendimentos de diferentes setores importantes para o
negócio, como obras, manutenção predial e limpeza. “A possibilidade de estar frente a frente com diferentes empresários, num único momento, foi de
grande valia e facilitou muito a contratação de serviços. Hoje, contamos com algumas dessas empresas em nosso quadro de fornecedores”, enfatiza.
AGENDA DE NEGÓCIOS 2013
26 de junho
III Rodada de Negócios Multissetorial do
Sudeste Mineiro
Local: Juiz de Fora
8 de agosto
Rodada de negócios/Fomenta Estadual
Local: Varginha
25 de setembro
III Rodada de Negócios Multissetorial do
Centro-Oeste Mineiro
Local: Pará de Minas
26 de setembro
II Rodada de Negócios de Uberaba e Região
Local: Uberaba
21 de novembro
Rodada Internacional do Sul de Minas
Local: Pouso Alegre
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iStock
COOPERATIVISMO
A
Produção de morangos
em Alfredo Vasconcelos
movimenta R$ 3,5 milhões
por ano e a principal fonte
de renda de produtores
Doce e
lucrativo
16 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
cor é de encher os olhos. O sabor,
único. O negócio, promissor. O
morango traz benefícios que vão
além da mesa do consumidor. Ele
é rico em vitamina C e em antioxidantes e possui propriedades medicinais e nutricionais. Por esses e
outros motivos, o seu cultivo atrai cada vez mais o interesse dos agricultores. No Brasil, a produção de
morango é direcionada ao mercado in natura e, segundo dados da Embrapa Informação Tecnológica, a
rentabilidade da cultura pode chegar a 224%. Mas,
apesar de os números serem atrativos, o país ainda
compra a fruta produzida em países vizinhos, como
Argentina, Chile e Uruguai – o que demonstra que o
mercado tem potencial para aumentar a produção.
Os produtores de Alfredo Vasconcelos, no interior de Minas Gerais, estão aproveitando a oportunidade. A fruta se adaptou bem ao clima fresco da
região – tão bem que cerca de 80% da população
de sete mil habitantes sobrevive da atividade agrícola, o que torna a cidade referência na produção
de morangos. Com tanta expertise, a Cooperativa
Agropecuária de Alfredo Vasconcelos (Cooprav),
que reúne agricultores locais, faturou, em 2012,
cerca de R$ 207 mil por mês.
Antes de se integrarem à Cooperativa, os produtores criaram uma associação. Cerca de 80 deles levavam o morango à Ceasa, de forma independente.
Porém, o processo nem sempre era vantajoso, pois
os agricultores saíam da cidade às 5 horas e esperavam até às 11 horas para a comercialização. Com isso, eles deixavam de se dedicar à lavoura e não tinham como expandir ou melhorar a produção. Neste processo, o morango, uma fruta muito delicada,
também sofria danos. “Era hora de deixarmos de ser
simples agricultores para nos profissionalizarmos e
nos tornarmos empresários”, conta Leandro Rodrigues, agricultor e presidente da Cooprav.
Para isso, buscaram auxílio do Sebrae Minas. Eles
participaram de palestras motivacionais, capacitações gerenciais e fizeram uma visita técnica ao polo
produtor do Sul de Minas e Atibaia, no interior de
São Paulo, visando ao desenvolvimento tecnológico.
Para solucionar o problema da logística de comercialização, eles também criaram, em 2010, a
Central de Negócios, em parceria com o Sebrae Minas. O objetivo foi organizar o processo de vendas
coletivas por meio da implantação da Central – que,
mais tarde, se tornaria a cooperativa. Por meio dessa iniciativa, os produtores receberam informações
acerca de finanças, marketing, formalização, associativismo e relações jurídicas. Atualmente, cerca
de 90% do que eles colhem é comercializado pela
Cooprav. “Sem a preocupação de como vender a
produção, os agricultores se concentram no campo
e na busca pela inovação”, ressalta Eduardo Dilly,
analista do Sebrae Minas em Barbacena.
CONQUISTANDO O MERCADO | “Produzir morango, muitos já o faziam. Tínhamos que ter nosso diferencial”, recorda Leandro Rodrigues. Seguindo esse caminho, o Sebrae Minas, em parceria com os agricultores, investiu em marketing do
produto. Assim, nasceu a Frutano Morango, que
passou a ser vendida a grandes distribuidores e
comercializada em supermercados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
Para dar identidade à marca e difundir seu crescimento no mercado, o Sebrae Minas realizou estudos envolvendo desde o produtor até o consumidor final. “Descobrimos, por exemplo, que os
clientes não gostavam da caixa em que a fruta era
vendida, pois não conseguiam avaliar a qualidade
de todas elas”, conta o presidente da Cooprav.
A partir daí, foram desenvolvidas novas embalagens, em parceria com os estudantes do curso de
design da Universidade Estadual de Minas Gerais.
Hoje, a Frutano vende morangos em cartelas de
plástico transparente, com 12 unidades cada.
Quantidades maiores são entregues em recipientes
de papelão identificados com a marca. “Quem
compra o nosso produto tem a garantia da qualidade”, ressalta Leandro Rodrigues.
Com o crescimento do negócio, estuda-se a possibilidade de expansão e comercialização da marca
– que deve se chamar Frutano Hotifruti. Outra meta dos cooperados é a compra do próprio terreno
em Alfredo Vasconcelos, em proporções condizentes com a Cooperativa.
O próprio presidente da Cooprav é um exemplo
de mudança. Antes da cooperativa, não plantava
em terras próprias e dividia todo o lucro com o dono do terreno. Hoje, ele cuida da sua própria lavoura e ainda aluga parte dela para outros produtores.
“Antes, plantava, no máximo, 10 mil pés de moranwww.sebraemg.com.br 17
Fotos: Agência i7/Uarlen Valério
André Araújo conta com o trabalho de
oito produtores no plantio e na
colheita de 80 mil pés de morangos
go. Agora, já estou com 27 mil e planejo chegar a 32
mil mudas ainda este ano”, diz Leandro Rodrigues,
que produz mil caixas de morango por semana. A
colheita soma R$ 24 mil brutos por mês.
CUSTOS | Nascido e criado no campo, o agricultor
Antônio Carlos Violeti, conhecido como Tinena, se
diz satisfeito com os resultados conquistados com a
Cooprav. Antes, ele vendia o morango por meio de
atravessadores que não estabeleciam previamente
a margem de lucro. A prática é comum nas atividades agrícolas, porém não favorece o produtor - como não há contrato formal, os atravessadores pagam quanto querem. Hoje, porém, assim que a produção é entregue na Cooperativa, há uma previsão
do que cada agricultor irá receber.
“Não tem nem como comparar o que ganho agora com o pouco que recebia antes de me associar à
Cooperativa”, diz Tinena. No ano passado, o pequeno produtor contabilizou quatro mil caixas de morango, totalizando cerca de R$ 20 mil. Apesar de o
negócio estar indo bem, ele precisou ajustar as contas, visto que o custo desse tipo uma plantação ainda
é alto. “O lucro vem do segundo ano em diante.”
Outro benefício gerado aos cooperados se refere à compra de insumos agrícolas. Como ela é realizada em grande quantidade para atender a todos,
é possível negociar prazo de pagamento e conseguir um bom desconto. Fertilizantes, adubos e demais materiais utilizados na lavoura, como os plásticos de proteção dos morangos, são repassados aos
agricultores com 20% de desconto.
18 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
“O mercado aceita bem qualquer
tipo de produção. Nenhum
médico diz para o paciente
consumir gordura; ele o orienta
a comer fruta” André Araújo,
vice-presidente da Cooprav
Além disso, com o ingresso na Cooprav, os associados tiveram condições de planejar suas finanças:
3% de tudo que recebem ficam na Cooperativa, como taxa administrativa, e 2% do lucro correspondem à integralização de cota, uma reserva de capital
que o cooperado tem durante o período de um ano.
“A fatia que era deixada para terceiros comercializarem o produto agora é injetada na própria empresa e ainda gera um fundo pessoal”, explica o agricultor. Caso o produtor queira se aposentar ou se desligar da Cooperativa, ele recebe o valor da integralização corrigido. “É a valorização do nosso trabalho. Conseguimos uma melhor qualidade de vida
para o produtor e sua família”, completa Tinena.
SUPORTE TÉCNICO | André Araújo é vice-presidente da Cooprav e agricultor conhecido da região.
Atualmente, conta com o auxílio de oito pessoas que
o ajudam no plantio e na colheita dos 80 mil pés de
morangos e 400 de goiaba – número que espera aumentar para três mil nos próximos meses. Nascido
em família de agricultores, o empresário afirma que
quem investe no cultivo de fruta tem grande chance
de obter lucro. “O mercado aceita bem qualquer tipo
de produção. Nenhum médico diz para o paciente
consumir gordura; ele o orienta a comer fruta”, pontua. As terras de André Araújo, que trabalha em parceria com o cunhado Laessiter Cássio, produzem
uma média de 700 caixas de morango por semana,
possibilitando o faturamento bruto de, aproximadamente, R$ 5 mil por mês. A expectativa é de que a
goiaba comece a gerar receita ainda este ano.
“Durante a entressafra, fazemos
tratamento para florear a
produção. Indicamos o plantio
de mais de uma variedade de
morango, o que permite a
colheita o ano inteiro” Lázaro
Elias das Chagas, técnico
agropecuário da Cooperativa
www.sebraemg.com.br 19
Ele e todos os cooperados recebem a orientação
do técnico agropecuário da Cooperativa, Lázaro
Elias das Chagas, que visita, por dia, de quatro a
cinco plantações, escutando as dúvidas, identificando dificuldades e orientando quanto ao uso de
defensores agrícolas e nutrientes para a plantação.
“Sou o médico da lavoura”, costuma brincar. “A
orientação técnica que passo aos agricultores os
ajuda na padronização dos morangos da marca
Frutano. Assim, todos mantêm a qualidade final.”
O técnico conta que a fase mais complicada
para produzir morangos é durante o verão, uma
vez que o cultivo é favorecido com o tempo seco e
frio. “Durante a entressafra, fazemos tratamento
para florear a produção. Indicamos o plantio de
mais de uma variedade de morango, o que permite a colheita o ano inteiro”, explica.
Todo o processo de cultivo das frutas, da plantação à colheita, passa pela sua orientação. Depois
que os morangos são selecionados e armazenados,
as caixas seguem para a câmara fria. Os produtos
que sofrem algum dano mecânico e não são selecionados para venda são armazenados em um
contêiner. “Eles são vendidos às indústrias de polpa para virar suco e outros alimentos. Aqui nada é
desperdiçado”, pontua o profissional.
Segundo André Araújo, a contratação de um
técnico para atender à Cooprav é uma forma de
tornar o cultivo de morangos mais eficaz. “Há alguns anos, plantávamos apenas uma variedade
da fruta, e a irrigação era feita por meio de um
canhão de água. Hoje, cultivadas mudas importadas do Chile e da Patagônia, a irrigação ocorre
por gotejamento e são usados túneis e plásticos
de proteção. A marca Frutano tem um padrão de
qualidade que temos de seguir.”
Cooprav em números
COOPERADOS EM 2009
COOPERADOS EM 2013
VALOR MÉDIO DA CAIXA DE
MORANGO COMERCIALIZADA
COM ATRAVESSADOR
VALOR MÉDIO DA CAIXA DE
MORANGO COMERCIALIZADA
PELA COOPERATIVA
32
52
R$ 4,50
R$ 6
Faturamento em 2012
Total:
R$5milhões
sendo que R$ 3,5 se referem à venda de morangos, e
R$ 1,5, às vendas de outros produtos e revenda de insumos.
A produtividade média por estado
(em toneladas por hectare)
Rio Grande do Sul
Espírito Santo
São Paulo
Minas Gerais
Paraná
32,7
34
34
25,2
21,3
Fonte: Pesquisa do Embrapa Informação Tecnológica
Certificação
A fim de aumentar o potencial competitivo,
os produtores de Alfredo Vasconcelos trabalham para a certificação da marca. A Produção Integrada de Frutas (PIF) faz parte do
programa Profruta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que concede o selo de qualidade aos agricultores.
Para o presidente da Cooprav, Leandro Rodrigues, a certificação PIF será um diferen20 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
cial. “Será possível ao consumidor o rastreamento das informações da produção
do morango, com garantia da procedência
da fruta, da data de validade e de quais defensivos agrícolas foram usados, o que
também facilita a exportação e maior aceitação dos frutos”, acredita.
São pré-requisitos para a certificação características como: qualidade, proteção ao
meio ambiente, condições de trabalho e
viabilidade econômica. Assim, os cooperados terão de fazer registro das etapas dos
processos de produção, desde o preparo
do solo até o tipo de defensivo usado. A
adequação às normas de produção estabelecidas pelo Ministério da Agricultura e,
consequentemente, a certificação devem
ocorrer em 2015.
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Juliana Flister / Agencia i7
GESTÃO DO CONHECIMENTO
Reinaldo Lobato registra os
problemas e as soluções adotadas
na manutenção dos veículos
Inteligência
empresarial
Gestão do Conhecimento ajuda a melhorar a performance do negócio
Para uma empresa se manter competitiva no
mercado, é preciso aliar organização, planejamento, investimento e, por que não, Gestão do
Conhecimento. Esse processo, difundido na década de 1990, tem como foco o desenvolvimento
das competências essenciais para o fortalecimento do negócio, tais como capital intelectual,
aprendizagem organizacional, inteligência empresarial e educação corporativa.
Na visão de George Leal Jamil, pós-doutorando em Inteligência de Mercado e Gestão do Conhecimento pela Universidade do Porto, em Portugal, a implantação da Gestão do Conhecimento nas empresas auxilia na concepção de produtos e serviços que atendam, ao máximo, às expectativas dos clientes. “O empresário passa a
22 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
compreender os hábitos, o comportamento e as
necessidades do consumidor”, afirma. “Outra
vantagem é colaborar com a estruturação da gestão financeira por meio do conhecimento explícito do processo de administração de recursos financeiros empresariais, transformando-o em
um valioso recurso estratégico.”
Segundo o especialista, por meio da adoção
de práticas que visam à criação, à captura, ao armazenamento, à disseminação, ao uso e à proteção do conhecimento, as informações estratégicas são organizadas e passam a colaborar para a
expansão e consolidação da empresa. Um exemplo é a criação de um banco de dados que ofereça as características e o perfil de cada cliente. A
partir dessas informações, o empreendedor ela-
bora uma série de ações de acordo com suas necessidades e objetivos comerciais, o que contribui para a fidelização.
A Gestão do Conhecimento se materializa por
meio de práticas, como aprendizagem organizacional, banco de ideias, benchmarking, fórum de
discussão, grupos de estudos, lições aprendidas,
páginas amarelas, reuniões periódicas e melhores
práticas. O empresário Reinaldo Dallariva Lobato
está atento a esses processos. À frente da Engecar, prestadora de serviços de manutenção mecânica em veículos leves, em Belo Horizonte, ele
põe em exercício ações direcionadas à geração de
conhecimento e busca otimizar a performance
de sua empresa e equipe, que, atualmente, é formada por três mecânicos e uma secretária.
“Mantenho os processos internos da empresa
mapeados e registrados para facilitar a execução;
além disso, possuo uma agenda com o registro dos
problemas mais complexos ocorridos na manutenção dos veículos e as soluções adotadas. A partir daí, sempre que necessário, consulto o banco
de dados, que me permite verificar situações semelhantes e buscar saídas que ofereçam a realização de um bom trabalho. Ganho tempo e mais
agilidade”, declara o empresário. Essa prática é
identificada na Gestão do Conhecimento como
mapeamento de processos e lições aprendidas.
Outra preocupação é o investimento na capacitação técnica dos funcionários, a partir da
identificação dos conhecimentos críticos que
são imprescindíveis para o negócio, com foco na
melhoria do atendimento aos clientes. Essa ação
é conhecida como mapeamento de conhecimentos
críticos e aprendizagem organizacional. “Após a
adoção dessas práticas, a Engecar ganhou em eficiência, produtividade e agilidade, gerando
maior valor agregado ao serviço prestado e, consequentemente, mais satisfação da clientela”, relata Reinaldo Lobato.
Na opinião dele, a parceria mantida com empresas especializadas em disseminação de informações técnicas e a formação de grupos de estudos com os funcionários são atividades que consolidam a Gestão do Conhecimento em seu negócio. “Ao ter acesso a esses dados, consigo promover o aprendizado e a atualização do conhecimento da equipe de forma contínua”, enfatiza.
“Aprimorar o momento de
lançamento de produtos,
implementar rotinas de gestão,
não depender de improvisos ou
de arremedos e saber identificar
os pontos fortes são resultados de
uma Gestão de Conhecimento
bem-estruturada” George Jamill,
doutorando em Inteligência de
Mercado e Gestão do
Conhecimento pela Universidade
do Porto
MAPA DO CONHECIMENTO | Para compreender o que é Gestão do Conhecimento, é preciso
entender os conceitos sobre dado, informação e
conhecimento. O primeiro se refere ao registro
estruturado de transações, uma descrição exata
de algo ou de algum evento. Os dados sozinhos
não têm relevância, porém são a matéria-prima
para a criação da informação. Essa, por sua vez,
é uma mensagem que envolve dados, significado
e propósito. Já o conhecimento deriva da informação e pode ser considerado uma mistura de
elementos estruturados e intuitivos.
“A partir disso, há várias definições do que é
Gestão do Conhecimento. Particularmente, vejo
como um processo que visa tratar do conhecimento no ambiente organizacional em geral,
lembrando que uma empresa é um tipo de organização, não a única. É constituído de subprocessos de geração e obtenção, registro, disseminação, valorização, monitoramento estratégico
e alguns fatores ambientais, como os ligados à
cultura do setor e ao ambiente de trabalho ou
produção”, explica George Jamil.
Para ele, a metodologia é uma das formas de ver
o processo, e não um método a ser imposto com a
finalidade de controlar a informação em todos os
seus aspectos. “Aprimorar o momento de lançamento de produtos, implementar rotinas de gestão,
não depender de improvisos ou de arremedos e saber identificar os pontos fortes são resultados de
uma Gestão de Conhecimento bem-estruturada.”
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Bernardo Salce / Agencia i7
Divulgação Brasil Kirin
“Ao investirmos no desenvolvimento
de pessoas e no compartilhamento
da comunicação, criamos a
conexão entre a empresa e seus
públicos e, assim, alcançamos os
resultados esperados” Sandra
Valéria Gilberti Prenstteter,
executiva da Brasil Kirin
Leonardo Dicker investe na formação de seus 60 funcionários, tornando o conhecimento como estratégia do negócio
É em busca destes benefícios que Sandra Valéria Gilberti Prenstteter atua, há 10 anos, na Brasil Kirin, rede de bebidas pertencente à Kirin
Holdings Company. Até o final de 2012, a empresa pertencia ao Grupo Schincariol, uma organização nacionalmente conhecida. Apesar de envolver um grande negócio, o processo de transição foi bem-sucedido. “Tudo aconteceu de forma
tranquila e alinhada. Trabalhamos a informação
nas equipes, e elas entenderam o cenário e os benefícios da mudança. A Gestão do Conhecimento foi um dos aspectos que certamente contribuíram para isso”, enfatiza Sandra Prenstteter.
Responsável pelas áreas de cultura, clima organizacional, educação corporativa e liderança
da empresa, ela acredita que a valorização do capital humano é a vertente responsável pelos processos de criar, recolher, organizar, difundir, usar
e explorar o conhecimento dos funcionários. “Ao
investirmos no desenvolvimento de pessoas e no
compartilhamento da comunicação, criamos a
conexão entre a empresa e seus públicos e, assim,
alcançamos os resultados esperados.”
Prova deste investimento foi a criação, em
2002, da Academia Brasil Kirin, localizada na cidade de Itu, em São Paulo. “Nesse espaço, promo24 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
vemos a capacitação das equipes e construímos o
conhecimento necessário para atender o negócio.
Os próprios profissionais da empresa ou especialistas de organizações parceiras ministram treinamentos com temas voltados para o desenvolvimento de competências técnicas e de gestão”, conta a executiva. Apenas em 2012, foram abordados
280 temas em 500 mil horas de treinamento.
DO OUTRO LADO | Mas o que fazer com o conhecimento gerado? George Jamil responde.
“Essa é uma questão comum nas empresas. O
primeiro passo é proteger o conhecimento adquirido e, possivelmente, fazer futuros negócios
com os dados e as informações acumuladas.”
É aí que entram os serviços e produtos oferecidos por empreendedores como Leonardo Dicker. Proprietário da EAC Software, empresa mineira especializada no desenvolvimento de sistemas automatizados de gestão para empreendimentos de varejo no país, ele está, há 20 anos, no
mercado. Hoje, conta com 60 funcionários e
uma carteira de clientes de renome.
“Sabemos que as empresas precisam organizar sua base de dados para, consequentemente,
gerir as informações e absorver o conhecimento
produzido em suas atividades”, pontua. “Por isso,
tivemos a ideia de organizar o conhecimento de
forma estratégica. Facilitamos a coleta e a compreensão das informações levantadas pelo cliente, e ele, por sua vez, enobrece suas relações com
os seus funcionários e o mercado de atuação.”
No modelo de Gestão de Conhecimento, essa
prática é chamada de repositório de informação.
Para que os conceitos da metodologia sejam
absorvidos pela equipe da EAC Software, ela tem
acesso às plataformas wiki que permitem a interatividade com os clientes, que podem, eles mesmos, alterar ou completar os números na base de
dados do sistema, a fim de deixá-la o mais correta possível, o que gera mais agilidade e clareza
dos processos. Em outras palavras, os profissionais executam o compartilhamento dentro da
Gestão do Conhecimento.
Porém, antes de chegar ao consumidor, é preciso fazer o dever de casa. “Meus colaboradores também precisam compreender os objetivos do cliente
e o conteúdo com o qual trabalham”, observa Leonardo Dicker. Para isso, ele realiza uma série de iniciativas - campanhas internas, treinamentos e processos de imersão - a fim de firmar o conhecimento
como valor estratégico em seu próprio negócio.
DISSEMINANDO
A INFORMAÇÃO
O Sebrae Minas promoveu, no dia
4 de abril, em Belo Horizonte, o evento Gestão de Conhecimento na Prática.
O objetivo foi sensibilizar os empresários e demais participantes para a importância da Gestão do Conhecimento nas empresas.
Na programação, George Jamil ministrou a palestra “Gestão do conhecimento aplicada - aprimorando o empreendedorismo”, e Sandra Prenstteter
apresentou o case da Brasil Kirin. Os
participantes tiveram a oportunidade
de trocar experiências e tirar suas dúvidas com os especialistas. “A partir da
desmitificação deste termo, mostramos que conhecimento é um recursochave para a competitividade de qualquer negócio”, relata Sílvia Lobato,
analista do Sebrae Minas.
www.sebraemg.com.br 25
AGRONEGÓCIO
Aula na fazenda
Fotos: Uarlen Valério / Agencia i7
Universitários de Viçosa, dos cursos
de Agronomia, Veterinária e
Zootecnia, são profissionais
disputados pelo mercado
26 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
Para Antônio Maria, o PDPL
é uma troca de experiência
e conhecimento entre
produtores e universitários
H
á 25 anos, nascia uma iniciativa que revolucionaria a pecuária de leite na região de Viçosa e seria reconhecida estadual e nacionalmente como uma das
mais bem-sucedidas ações do agronegócio leiteiro. O Programa de Desenvolvimento da Pecuária
Leiteira da Região de Viçosa (PDPL-RV) nasceu
por meio de um convênio celebrado entre Universidade Federal de Viçosa (UFV), Nestlé/DPA
e Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) e avançou ainda mais com a entrada do Sebrae Minas e
da Itambé, formando uma parceria público-privada de muito sucesso.
O PDPL-RV busca alcançar dois principais objetivos: oferecer estágios para estudantes da UFV
dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária
e Zootecnia, a partir do 5º período, e prestar assistência técnica e econômica a produtores que
tenham suas fazendas a um raio de 60 Km de Viçosa. O estágio oferecido acontece em três fases,
sendo as duas primeiras realizadas na Unidade de
Pesquisa Ensino e Extensão em Gado de Leite
(UEPEGL/UFV), e a terceira, nas próprias fazendas dos produtores assistidos.
Durante a primeira etapa, o estagiário desenvolve atividades práticas sobre a produção de leite, como contenção de animais, vacinação, ensilagem, limpeza das instalações e dos utensílios,
“Nem sempre o máximo
produtivo equivale ao máximo
econômico. Esse equilíbrio que
incutimos na formação de
nossos estagiários é que vai fazer
a diferença entre os que são do
ramo. Entregamos um
profissional com uma visão mais
holística e menos cartesiana”
Christiano Nascif, coordenador
técnico do PDPL e consultor do
Sebrae
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"Por meio do PDPL, conseguimos
cumprir a verdadeira prática da
extensão, estimulando o
desenvolvimento de tecnologias
e levando-as à sociedade”
Gumercindo Souza Lima,
pró-reitor de Extensão e Cultura
da UFV
28 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
entre outras. Na segunda fase, é preciso lidar
com planejamento da atividade leiteira, balanceamento de dietas, registros técnicos, econômicos e indicadores de eficiência. Já na terceira e última etapa, o aluno trabalha como um profissional, orientando sobre o modo correto de conduzir a produção leiteira, incluindo os aspectos técnicos, de administração, financeiros e ambientais, num intercâmbio de experiências entre o
produtor e o estagiário. O primeiro contribui
com a experiência e, o segundo, com os conhecimentos adquiridos em sala de aula e por meio
dos coordenadores do programa.
Antônio Maria Silva Araújo, da Fazenda Nô da
Silva, no município de Cajuri, é parceiro do
PDPL-RV desde o início. Para ele, a iniciativa é,
sobretudo, uma troca. “Ofereço a fazenda para
que os estudantes possam aprender com a realidade. Em contrapartida, eles me atualizam com
dados econômicos e dão suporte técnico e executivo”, observa. O resultado é notório: “Saímos de
uma produção diária de 100 L em 1988 para 4000
L atualmente. O mérito é da nossa parceria”.
O coordenador técnico do PDPL e consultor
do Sebrae, Christiano Nascif, explica que as fazendas participantes têm que, necessariamente,
comercializar leite para algum laticínio sob inspeção, seja municipal estadual ou federal. E ressalta: “Não importa o tamanho da fazenda. Basta
que os produtores tenham vontade de mudar e
espírito para sempre buscar melhores resultados”. Quanto aos alunos, ele reserva um precioso
ensinamento. “Nem sempre o máximo produtivo
equivale ao máximo econômico. Esse equilíbrio
que incutimos na formação de nossos estagiários
é que vai fazer a diferença entre os que são do ramo. Entregamos um profissional com uma visão
mais holística e menos cartesiana”.
O pró-reitor de Extensão e Cultura da UFV,
Gumercindo Souza Lima, é um entusiasta do
programa, considerando-o de importância extrema. “Por meio dele, conseguimos cumprir a verdadeira prática da extensão, estimulando o desenvolvimento de tecnologias e levando-as à sociedade.” Para ele, a oportunidade de capacitação
e formação de milhares de alunos, via PDPL, oferece estímulo e visibilidade à instituição de ensino, assim como à bem-sucedida parceria do setor
público com o privado.
RESULTADOS EM NÚMEROS | Em 1988, início da atuação do Programa, a produção de leite
dos participantes correspondia a 3% da produção regional. Só para se ter uma ideia do crescimento, em 2012, o percentual subiu para 20%.
Em outras palavras, a produção do PDPL-RV aumentou sete vezes mais que a regional no período. Em relação ao número de estagiários, esses
somavam mais de 1500, de 1988 a 2012, sendo
responsáveis, nesse período, pelo atendimento a
141 produtores.
Em 2012, 134 estagiários participaram do
PDPL-RV, sendo 24 na primeira fase, 45 na segunda e 65 na terceira. Os resultados alcançados confirmam a excelência das atividades realizadas: as 46 propriedades assistidas apresentaram dados expressivos na atividade leiteira, como a produção média de leite de 838,25 L por
dia e a produção por vaca em lactação de 17,91
litros por dia. Os indicadores financeiros também foram animadores: o preço médio do leite
foi de R$ 0,9296 por litro, sendo o custo operacional efetivo de R$ 0,7145 por litro.
Em relação ao mercado de trabalho, o coordenador do PDPL afirma que a empregabilidade
dos egressos também é crescente. “É um termômetro que nos indica que a atividade está dando
certo. No máximo seis meses após a formatura,
cerca de 80% dos egressos estavam empregados.
No último ano, o nível subiu para 90%”, informa
Christiano Nascif.
Mateus Lobato de Castro, responsável pelo
Setor de Fomento da Embaré, laticínio sediado
em Lagoa da Prata, justifica o sucesso dos exalunos do Programa. “Os profissionais do PDPL
já chegam com embasamento e preparo para a
execução do trabalho e a tomada de decisões.
Eles entram com maturidade, conhecimento e
domínio de tecnologia, proporcionando à empresa resultados imediatos.” Dos seis técnicos
contratados pela Embaré, quatro são egressos
do PDPL-RV.
EGRESSOS NO MERCADO | Muitos dos ex-estagiários participantes conquistaram cargos de
destaque em grandes empresas. Um exemplo é
Armindo José Soares Neto, hoje gerente-geral de
Suprimento de Leite da Itambé. Aluno de Agronomia na UFV, concluiu um estágio de dois anos
“Além de complementar a
aprendizagem técnica e
gerencial, a iniciativa me
permitiu vivenciar um ambiente
profissional com cobranças,
responsabilidades e respeito aos
produtores” Bruno Lucchi,
assessor técnico da Comissão
Nacional de Pecuária de Leite
da CNA
no PDPL e logo foi absorvido pelo mercado.
“Considero o PDPL a única iniciativa do país que
se propõe a formar especialistas em pecuária leiteira e obtém êxito com ela. É motivo de orgulho
fazer parte do grupo de profissionais que passaram pelo Programa e manter, mesmo após 16
anos de formado, contato com seus técnicos e
coordenadores”, ressalta.
Mesmo sendo egresso, Armindo Neto vê a
iniciativa com objetividade. “A diferença entre
o perfil profissional de um ex-estagiário do
PDPL-RV em relação aos que não tiveram a
oportunidade de estagiar é grande. Isso ocorre
porque os alunos são expostos a um ambiente
muito próximo do que vão encontrar no mercado de trabalho em relação às responsabilidades
assumidas, à competição e ao cumprimento de
prazos.” Segundo o gerente, quem se destaca
chega ao mercado de trabalho em condição vantajosa em relação aos demais.
www.sebraemg.com.br 29
EVOLUÇÃO NA PRODUÇÃO DE LEITE
FAZENDAS ATENDIDAS
PELO PDPL
Inovação em
mobilidade
<BRAVADESIGN>
Empresas especializadas são responsáveis pela
criação de soluções em Tecnologia da Informação,
atendendo diferentes setores da economia
Outro ex-participante que prosperou no mercado é Bruno Lucchi, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA) na Comissão Nacional de Pecuária de Leite. Para ele, o PDPL teve um peso muito grande
em sua formação profissional. “Além de complementar a aprendizagem técnica e gerencial, a iniciativa me permitiu vivenciar um ambiente profissional com cobranças, responsabilidades e respeito aos produtores”, conta. Assim que se formou, ele foi trabalhar na Central de Processamentos de Dados do Educampo, projeto do Sebrae Minas de Consultoria Gerencial, inspirado
na assistência técnica do PDPL. Em 2009, assumiu seu atual cargo na CNA, onde ainda mantém
contato com os profissionais do PDPL e também
do Educampo – iniciativa que visa à capacitação
gerencial de produtores rurais vinculados às atividades de leite, café e fruta.
30 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
SEBRAE APOIA O PDPL
O Sebrae Minas é um dos apoiadores do
PDPL-RV. Mas os benefícios de tal parceria
têm via de mão dupla. “Ao mesmo tempo
que contribuímos para uma formação de
qualidade dos estudantes, com a certeza de
que eles estão sendo preparados para serem profissionais de destaque, temos a
oportunidade de indicá-los para atuarem
como consultores no Educampo”, declara a
gerente de agronegócios do Sebrae Minas,
Priscilla Lins. Além disso, para melhorar a
gestão econômico-financeira, a metodologia do Educampo é utilizada, com muito
sucesso, pelo PDPL-RV há mais de 15 anos.
À frente do site Via
Principal, Marcos Valim
(a dir.) e Dervanil Júnior
oferecem informações
estratégicas sobre
imóveis
www.sebraemg.com.br 31
Fotos: Pedro Vilela / Agencia i7
MOBILIDADE
A
cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, abriga centenas de empresas na
área de Tecnologia da Informação (TI).
Para fomentar o negócio, só em 2012, o
Sebrae Minas investiu, por meio do projeto Desenvolvimento do Negócio de Mobilidade Empresarial, R$ 1,3 milhão em 70 empreendimentos que
desenvolveram e aperfeiçoaram softwares e aplicativos em diferentes ramos, como segurança,
gestão, agronegócio, educação, trânsito e saúde.
Juntos, eles movimentaram R$ 300 milhões no
ano e empregaram quase três mil funcionários.
De acordo com Fabiano Alves, analista do Sebrae Minas em Uberlândia, esta iniciativa surgiu
após a aplicação da metodologia Foco Competitivo - que identifica tendências de negócios sustentáveis para uma determinada região produtiva no segmento de TI da cidade, há três anos. “Já trabalhávamos com cerca de 30 empresas especializadas no desenvolvimento de softwares. Mas, com
essa ferramenta, conseguimos envolver um número maior de estabelecimentos no projeto, que
vem crescendo ano a ano”, afirma.
Com a participação mais assídua do setor, foi
feito um estudo que apontou a mobilidade empresarial como tendência futura do ramo de tecnologia. Esse cenário estimulou a criação do Polo
de Mobilidade (www.polomobilidade.com.br) e
a formação de redes entre micro e pequenas em-
presas, universidades, governo e demais instituições locais. A integração, fomentada pelo Sebrae
Minas, já gerou resultados significativos. “Fizemos uma Rodada de Negócios interna, na qual os
participantes do grupo puderam se apresentar,
dividir expectativas e buscar a criação compartilhada de novas soluções”, conta Fabiano Alves.
“As empresas pararam de se ver como adversárias
e perceberam que podem ser parceiras em vários
produtos, o que já tem acontecido.”
Marcos Caixeta Valim encontrou, nas reuniões
do Polo de Mobilidade, a oportunidade de que precisava para colocar o seu projeto em prática. Depois de gastar tempo e dinheiro em busca de um
apartamento que o atendesse, ele teve a ideia de
criar um site com foco em inteligência imobiliária.
O Via Principal entrou no ar há cerca de dois meses e tem a finalidade de ser um espaço que, além
de reunir ofertas de imóveis para compra e locação, oferece informações estratégicas para o mercado imobiliário. “Geralmente, as pessoas interessadas contratam uma empresa de marketing para
fazer essa pesquisa. Com nossa base de dados, poderemos oferecer informações com precisão e um
custo mais baixo”, explica o empresário.
Ao fim do primeiro mês de veiculação, o Via
Principal oferecia 50 imóveis cadastrados, mas a
meta é fechar 2013 com mil ofertas. Para isso, estão sendo estabelecidas parcerias com imobiliá-
“O mercado imobiliário envolve
sonhos e movimenta muito
dinheiro, mas as ferramentas
que apoiam o setor são
incipientes. Por isso, a coleta de
dados do site se faz importante
neste momento” Robson Xavier,
diretor executivo da Zillion
32 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
César Amorim (a dir.) investiu na criação de um software que classifica e padroniza o volume de grãos, gerando mais
assertividade e rapidez
rias e corretores independentes de Uberlândia.
“Eles irão usar o site como uma vitrine para as
suas vendas”, acredita Marcos Valim.
O plano de crescimento, porém, não se restringe ao número de imóveis cadastrados. Segundo Dervanil Júnior, responsável pela parte técnica do Via Principal, a infraestrutura do site já foi
criada para suportar uma expansão maior. “O Via
Principal também é o primeiro site de inteligência imobiliária que interage com as mídias sociais. O usuário escolhe o apartamento e o compartilha em suas mídias pessoais. Apresenta uma
única versão disponíveltanto para o computador
quanto para dispositivos móveis.”
A ideia inovadora encontrou,no próprio Polo
de Mobilidade,o investimento de um empresário
experiente. Robson Xavier, diretor executivo da
Zillion, é administrador e trabalha, há 30 anos,
no ramo de tecnologia. Por meio de sua empresa,
especializada em serviços em nuvem, é possível
ter acesso a dados empresariais, como e-mails, arquivos e calendários compartilhados em bases de
grandes provedores, de qualquer computador ou
dispositivo móvel habilitado. Atualmente, a Zillion conta com mil clientes ativos em todo Brasil
e cresce cerca de 20% ao ano, comfaturamentode R$ 3 milhões anuais.
“O mercado imobiliário envolve sonhos e movimenta muito dinheiro, mas as ferramentas que
apoiam o setor são incipientes. Por isso, a coleta
de dados do site se faz importante neste momento”, acredita Robson Xavier. “O uso da inteligên-
cia imobiliária com uma base de informações valerá muito mais do que os imóveis anunciados.”
APOIO À INOVAÇÃO | Para fortalecer o potencial de Uberlândia no cenário tecnológico e gerar novos negócios para as micro e pequenas empresas, o Sebrae Minas de Uberlândia criou o
Edital Sebraetec, que prevê investimentos em
novas tecnologias. A periodicidade do Edital varia conforme o planejamento do Polo de Mobilidade e atende somente as empresas que participam da iniciativa. De 2012 para cá, já foram
atendidos 46 estabelecimentos, com investimentos na ordem de R$ 2 milhões.
No primeiro trimestre deste ano, o resultado
não foi diferente. “Soltamos um novo edital em
fevereiro. As 50 empresas inscritas tiveram os
projetos aprovados”, conta Fabiano Alves. Segundo ele, até março, 20 delas já haviam sido contempladas no projeto. O ideal é que, nos próximos meses, as demais organizações sejam beneficiadas. “Isso mostra a alta capacidade de inovação do Polo de Mobilidade”, observa.
Uma das soluções beneficiadas pelo Sebraetec
foi o Agroeyes, desenvolvido pela Kyros, empresa
de tecnologia que presta serviço de desenvolvimento de software. O empreendimento integra o
Polo de Mobilidade e, atualmente, mantém um
crescimento médio de 8% ao ano e atende, aproximadamente, 120 clientes nos estados de Minas
Gerais, Paraná, São Paulo, Goiás e Rio de Janeiro.
Segundo César Borges Amorim, diretor comerwww.sebraemg.com.br 33
A INDÚSTRIA DE TI NO MUNDO
PARTICIPAÇÃO NO MERCADO DE SOFTWARE E SERVIÇOS:
Fonte: IDC, 2007
cial da Kyros, o projeto foi elaborado a partir da
uma demanda da área agrícola, que necessitava
de um sistema para classificar volume de grãos.
Ao perceber que muitas sementes eram selecionadas de forma manual, o empresário investiu na
criação de um software que permitisse padronizar
essecritério e aperfeiçoar o trabalho.
“Com a nova ferramenta, é possível ter um padrão de seleção com mais assertividade e rapidez.
O Agroeyes também permite a documentação e
o registro do histórico das informações”, diz César Amorim. O software é direcionado aos agricultores e às empresas que desenvolvem e produzem sementes, bem como àquelas que compram
grãos para monitoramento da qualidade. A expectativa é que o produto possa ser comercializado até o primeiro semestre de 2014.
CAPACITAÇÃO | Para aumentar a competitividade das empresas que compõem o Polo de Mobilidade, foram realizadas diversas atividades junto
aos empreendedores, como Agendas de Relacionamento com Compradores Avançados, Rodadas
de Negócios,Missões, Capacitações e Fóruns Nacionais eInternacionais, além de ações institucionais como a estruturação da Governança regio-
PAÍS
Movimentação
(em bilhões de dólares)
Participação
(em %)
339,6
71,7
67,1
62,6
49,8
19,8
15,2
14,67
38,9
8,21
7,69
7,17
5,71
2,27
1,74
1,68
1 EUA
2 Japão
3 Reino Unido
4 Alemanha
5 França
6 Espanha
7 China
8 Brasil
<BRAVADESIGN>
Miguel Lima efetua os pedidos do cliente por meio do
Landix Flex. Agora, os processos de venda e compra são
mais dinâmicos e eficientes
nal e o lançamento de um parque tecnológico.
Segundo Miguel Correia Lima, presidente da
Landix, o crescimento organizado de sua empresa se deu, principalmente, em função deste auxílio prestado pelo Sebrae Minas.
“Chegamos ao ponto que tínhamos medo de
crescer, pois os gastos também aumentariam e
não conseguiríamos ir adiante,” conta. Devido ao
grande fluxo do trabalho, as atividades da empresa não conseguiam ser planejadas no tempo adequado. Com a orientação dos consultores, os processos foram organizados, melhorando a produtividade – que pode crescer em 30%, caso haja
demanda, sem riscos à administração - e garantindo um crescimento linear.
Fundada em 2000, a Landix nasceu com foco
no desenvolvimento de um softwate de mobilidade, somente nos três últimos anos, cresceu, em
média, 23%, com o faturamento de R$ 2,2 milhões anuais. Parte desse resultado se deve ao desenvolvimento do software Landix Flex, que permite que empresas tenham mais agilidade em
pedidos realizados fora da loja física. Através dele, vendedores externos efetuam os pedidos por
meio de um aparelho. De imediato, a solicitação
chega à área de faturamento, dinamizando as
vendas. “Antes, o vendedor tinha que voltar à empresa, faturar o pedido e enviá-lo novamente.
Agora, há uma comunicação eficaz entre o sistema da loja e o do aparelho usado pelo vendedor”,
argumenta Miguel Lima.
A prestação do serviço também melhorou. Foi
desenvolvido um sistema em que o cliente, de
qualquer parte do mundo, pode abrir uma ocorrência sobre suas dúvidas, críticas ou sugestões e
enviá-la diretamente aos técnicos. “Mesmo a distância, o colaborador da empresa resolve um problema sem burocracia e com rápida reparação de
erro”, observa o empresário.
Outra grande vantagem do investimento é a
diminuição de erros e o uso inteligente da frota
do cliente, uma vez que a logística de vendas está
completamente informatizada e o pedido é faturado no ato da venda, sendo possível planejar a
entrega de acordo com outras solicitações. O
Landix Flex é utilizado por grandes empresas de
todo país, como Coca-Cola, Grupo Super Mix,
Loja Elétrica e Real Moto Peças. Algumas delas já
estão na quinta versão da tecnologia.
MAIORES COMPRADORES
DE SOFTWARE E SERVIÇOS NOBRASIL
Indústria
Finanças
Serviços
Outros
Comércio
Governo
Óleo e gás
Agroindústria
A INDÚSTRIA DE TI NO BRASIL
25,4%
21,3%
15,7%
12,1%
10,3%
7,9%
5,6%
1,7%
67%
84%
83,9%
das empresas estão
na região Sudeste
são empresas de
pequeno porte
das empresas de TI do
país possuem menos
de 10 anos de mercado
Fonte: Observatório Softex, 2008
Fonte: Série de Estudos de Mercado Sebrae/ESPM 2008
34 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
www.sebraemg.com.br 35
Indo para uma feira de negócios, dois empresários, um industrial e outro de serviços, sentaram lado a lado no avião. Conversa vai, conversa
vem, um deles disse: “Ah, se eu soubesse que ter
uma indústria grande era tão complicado, eu
criaria uma empresa de serviços”.
O colega de serviços estranhou: “Se eu soubesse que lidar com gente era tão difícil, eu montaria
uma indústria”. Os dois começaram a rir e contaram suas histórias. “O começo“ – disse o industrial – “foi muito difícil, o dinheiro era curto. Peguei a minha indenização de 10 anos de casa, vendi o carro e consegui comprar a primeira máquina, usada, mas em bom estado. Minha mulher
cuidava da produção, e eu, das compras da matéria-prima e das vendas. A gente trabalhava dia e
noite, sete dias por semana, mas valia a pena.
Depois que pagamos a máquina, compramos
outra, depois outra, e a minha esposa contratou
mais seis pessoas para trabalhar. Como os preços
da matéria-prima oscilavam muito, resolvi criar
um local para estocagem. Precisei contratar alguém para tomar conta e fazer as compras. Passei
a me dedicar quase que exclusivamente às vendas.
Com muito trabalho e dedicação, a empresa foi
crescendo. Rapidamente, atingimos 100 funcionários. Aí começaram os meus problemas, que, muitas vezes, me fazem sentir saudades do tempo em
que só eu e minha mulher tocávamos o negócio.”
Após o jantar, o empresário do ramo de serviços fez algumas considerações, e a história do industrial continuou. “Alguns da velha guarda não
conseguiram acompanhar o crescimento da empresa, e eu tive que ajeitar um lugar para eles trabalharem; em outros, a promoção subiu à cabeça,
e as brigas começaram.
O que era resolvido diretamente agora era feito por meio de intermináveis reuniões, nas quais
as pessoas mais se defendiam e atacavam os colegas do que resolviam problemas ou, o que era
mais importante, planejavam. Numa ocasião, eu
36 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
me aborreci e chamei todos de médicos legistas,
pois só estavam ali para fazer autópsias e procurar os motivos da morte do faturamento, da margem e dos clientes.
Aqueles que outrora eram amigos e ajudavam
uns aos outros tornaram-se inimigos mortais: o
responsável por vendas culpava a produção pela
demora na entrega dos pedidos; esta, por sua
vez, se defendia, atacando o setor de vendas por
comercializar o que não tinha no estoque e deixar de vender o que estava mofando na expedição. O estoque agora compromete a saúde financeira da empresa, que precisa recorrer a bancos
para pagar as contas.
Por fim, eu, que estava querendo delegar poder, tive que assumir tudo novamente. Na realidade, estou indo para esta feira mais para espairecer do que por necessidade propriamente dita.”
mos nossa primeira concorrência e, junto com
ela, um tsunami de problemas.
O faturamento aumentou, mas, com a dificuldade de receber as faturas e de seguir rigorosamente o orçamento, precisamos recorrer aos bancos para saldar as contas. Por esse e outros motivos, a margem despencou. Nunca soube se o erro
foi da área de orçamentos ou da operação, elas se
acusavam mutuamente. Dei um basta quando
concluí que estávamos pagando para trabalhar.
Como você percebeu, estamos no mesmo barco. Entretanto, meu caro colega, alguns amigos
me disseram que resolveram essas questões incorporando nas suas empresas um conceito chamado Sincronismo Organizacional, que, se eu
entendi bem, é o alinhamento da estratégia que
representa a vontade do dono com os processos
organizacionais e, principalmente, tudo isso com
as pessoas. Acho que, assim que voltar desta viagem, vou cuidar deste assunto.”
Se você se enxerga neste episódio, vale a pena
esperar o próximo capítulo.
*Professor da Fundação Dom Cabral e do
Instituto Mauá de Tecnologia
www.sebraemg.com.br 37
Quinho
Sincronismo organizacional pode ser a saída
O outro empresário, que atuava há mais de 20
anos no ramo de serviços, escutou atentamente
o desabafo do colega e, ao final, soltou uma bela
gargalhada. Em seguida, explicou: “Meu caro
amigo, os problemas são comuns a todos nós,
empresários, independentemente do tipo de produto, serviço ou ramo de atividade.
O meu caso é pior. Eu não tenho máquinas, só
gente, e trabalhar com gente é complicado. Você
tem que aprender a lidar com vaidades, egos, não
é fácil. Eu continuei um negócio que foi do meu
pai e do meu tio. A grande dificuldade foi conviver com os meus primos, que não tinham nenhuma vontade de trabalhar, só queriam usufruir da
empresa. O problema só foi resolvido quando ela
foi dividida e cada um foi para o seu lado. Tornamo-nos, assim, concorrentes. Não demorou muito e comprei a parte deles – mais por insistência
do meu avô do que por necessidade.
Passada a transição, contratamos um diretor
comercial e um de marketing, e eu fiquei mais focado na operação. Por um tempo, as coisas ficaram sob controle, mas, com a crise do setor privado, resolvemos entrar no setor público. Ganha-
Fotos: Pedro Vilela / Agencia i7
CONSTRUÇÃO CIVIL
Rede de
negócios
Empresários da Zona da Mata,
Campo das Vertentes e Sul de Minas
unem esforços para fortalecer lojas
de materiais de construção
A competitividade no mercado varejista de
material de construção, cada vez mais acirrada,
exige dos empresários soluções para enfrentar os
desafios no dia a dia dos negócios. O segredo para
conquistar o mercado e superar a concorrência é
enxergar oportunidades de melhoria e crescimento nesses desafios. Foi com esse pensamento
que donos de lojas de materiais de construção
nas regiões da Zona da Mata, Campo das Vertentes e Sul de Minas procuraram o Sebrae Minas,
em 2011, com o intuito de organizar um grupo
para participar do programa Central de Negócios
– uma consultoria baseada em modelo associativo que permite compras, vendas e ações de marketing em conjunto.
A partir da Central de Negócios, o grupo –
hoje formado por 14 empresários e 16 estabelecimentos – fundou a Associação das Lojas de
Materiais de Construção da Zona da Mata, Sul e
Vertentes de Minas Gerais (Alomata), em novembro de 2011. Localizadas nas cidades de
Arantina, Barroso, Bom Jardim de Minas, Carvalhos, Juiz de Fora, Leopoldina, Lima Duarte, Matias Barbosa, Rio Pomba, São João Nepomuceno,
"Fazer parte da Rede Construir
traz inúmeras vantagens para os
associados da Alomata. Temos
assessoria em marketing, maior
poder de negociação junto aos
fornecedores, mais rentabilidade
e visibilidade no mercado e
formação de pessoal” Paulo
César Pains, gestor regional de
Negócios da Alomata/Rede
Construir
Após aderir à Rede Construir,
a loja de Evaldo Saudati
ganhou novo layout, com
prateleiras e gôndolas para
organizar os produtos
38 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
www.sebraemg.com.br 39
"O cliente tem confiança
ao comprar em uma loja da
Rede Construir. Além disso, temos
vantagens como bons descontos
junto aos fornecedores e entrega
mais rápida da mercadoria"
Emanuel Piazzi, dono
da Conquista Materiais de
Construção
40 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
São Vicente de Minas e Ubá, as empresas têm,
em média, 20 anos de mercado e empregam 300
funcionários. “Quando um grupo de empreendimentos do mesmo setor se une, ele consegue explorar os benefícios das negociações em escala e
tem maior poder de barganha junto ao fornecedor”, diz Marcelo Rother, analista do Sebrae Minas em Juiz de Fora.
Visando ao crescimento das lojas e a viabilização de recursos, os empresários decidiram se associar, em fevereiro de 2012, à Rede Construir –
a maior no ramo de material de construção da
América Latina, presente em oito estados brasileiros (SP, RJ, MG, ES, RS, PR, CE e PE), com
mais de 250 estabelecimentos. “Fazer parte da
Rede Construir traz inúmeras vantagens para os
associados da Alomata. Temos assessoria em
marketing, maior poder de negociação junto aos
fornecedores - que são de marcas conceituadas -,
mais rentabilidade e visibilidade no mercado e
formação de pessoal, cujo treinamento é oferecido pelos próprios fornecedores”, enumera Paulo
César Pains, gestor regional de Negócios da Alomata/Rede Construir.
O espírito associativo, segundo ele, é o requisito mais importante para se integrar à Rede
Construir, que também exige que a empresa tenha, pelo menos, dois anos de atuação no mercado, área de 100 a 150 m² para exposição de pro-
dutos e faturamento mínimo entre R$ 100 mil e
R$ 150 mil por mês. Além disso, é feita uma avaliação da saúde financeira do estabelecimento
para verificar se não há endividamentos que o
impeçam de se desenvolver. Em seguida, o nome
do novo lojista precisa ser aprovado em assembleia da Alomata.
Os aprovados pagam uma taxa de admissão, no
valor de R$ 2.400, uma mensalidade de R$ 300 e
precisam fazer a adequação visual do empreendimento em até 180 dias. A frota de veículos, o uniforme dos funcionários e o layout da loja, incluindo a sinalização e exposição dos produtos, recebem identidade visual padronizada. “Periodicamente, fazemos um levantamento para saber se os
associados estão em dia com as obrigações fiscais
e comerciais. A Rede Construir trabalha em parceria com os fornecedores de produtos, que visitam os lojistas e vendem de acordo com a quantidade que cada um precisa”, explica Paulo Pains.
Os empresários Edson Luiz dos Santos e Evaldo Bonato Saudati, proprietários da Ferragens
Crisol, em Juiz de Fora, foram os fundadores da
Alomata. Após formar o grupo – que começou
com 22 empresas – e aderir à marca Rede Construir, sua loja ampliou o espaço físico de 40 m²
para 360 m². “O layout mudou completamente.
Comprei uma nova estrutura metálica de prateleiras e gôndolas para colocar os produtos de forma
mais organizada, em um espaço menor, e melhor
expostos para os clientes”, conta Evaldo Saudati.
Os 14 funcionários receberam qualificação para
personalizar o atendimento e conhecer os produtos dos novos fornecedores. O acesso do empresário às ações de marketing ficou mais fácil, além de
ele ter melhorado seus conhecimentos comerciais
e em recursos humanos. “A troca de experiências
entre os lojistas da Rede Construir é o principal ganho desse projeto. É como se você tivesse acesso à
caixa-preta de todas as lojas, pois, a todo momento,
recebemos informações reais sobre tudo que está
acontecendo. Isso nos permite tomar decisões como aumentar o preço com base em dados verdadeiros”, destaca Edson dos Santos.
O diversificado mix de produtos da Ferragens Crisol, que conta com oito mil itens, tem contribuído
para o faturamento mensal de R$ 200 mil. Antes, esse valor era de R$ 64 mil por mês. “Eu já tinha uma
meta de crescimento, mas, para atingir o atual fatu-
“A cultura do associativismo é
importante para o empresário
entender e confiar no modelo
de atuação coletiva com foco na
geração de negócios. Isso traz
ganhos em competitividade.”
Marcelo Rother, analista do
Sebrae Minas em Juiz de Fora
ramento, a Alomata contribuiu com 35%”, observa o
empresário. O carro-chefe de vendas são os materiais elétrico e hidráulico, ferramentas e tintas, sendo
que a média diária de atendimento é de 240 clientes.
MARCA CONSOLIDADA | A marca Rede Construir já está consolidada no mercado há mais de 15
anos, o que proporciona mais visibilidade para os
lojistas mineiros. Os clientes atendidos pelo grupo
Alomata são das classes A, B e C e vão desde o consumidor que está reformando a casa até as grandes
construtoras. Os principais produtos vendidos pelos lojistas são cimento, areia, ferragens (material
bruto), cerâmicas, azulejos e revestimento (material de acabamento), ferramentas, tubos, conexões, esquadrias metálicas, fechaduras, material
elétrico, hidráulico, metais, sanitários, pias de inox
e granito, tintas, pincéis, entre outros.
“A união dos empresários faz com que sejamos
vistos como uma grande empresa. Isso tem um
simbolismo muito forte para todos os efeitos administrativos e comerciais, pois o respeito das indústrias parceiras, dos clientes e colaboradores fica mais acentuado. Acreditamos que o sucesso da
Alomata é responsabilidade do Sebrae Minas,
pois, sem a participação da instituição, não teríamos criado a associação e nem entrado na Rede
Construir”, ressalta Edson dos Santos.
Entretanto, a resistência de alguns empresários
em abrir mão da própria marca para usar o nome
www.sebraemg.com.br 41
EM NÚMEROS
❚ 14 empresários com 16 lojas;
❚ média de 20 anos de
atuação das empresas
no mercado;
❚ 300 colaboradores
empregados pelo grupo;
❚ faturamento anual de
R$ 31 milhões em 2012;
❚ média de vendas mensais
de cada lojista no valor
de R$ 161 mil;
❚ 2.100 clientes atendidos
por mês pelo grupo;
❚ 280 m² é a média da
área de exposição de
produtos nas lojas.
Rede Construir foi a principal dificuldade encontrada pela Alomata. “O processo de transição para
uma rede tem que ser feito com cuidado, principalmente nos ativos da marca. Não é interessante
abandonar um nome já consolidado e trocar por
outro sem planejamento“, pontua Marcelo Rother.
De acordo com ele, os lojistas que participaram da Central de Negócios e permaneceram na
associação desenvolveram a visão coletiva. “A
cultura do associativismo é importante para o
empresário entender e confiar no modelo de
atuação coletiva com foco na geração de negócios. Isso traz ganhos em competitividade.”
EXPANSÃO | Entre os principais resultados alcançados pela Alomata estão a formalização de
parcerias com mais de 20 fornecedores de materiais de construção que trabalham com produtos
de maior rentabilidade e giro no mercado e a rea42 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
IMAGEM FORTALECIDA | Para fortalecer no mercado a imagem da Conquista Materiais de Construção, o empresário Emanuel Piazzi Francisco, de
Matias Barbosa, decidiu se associar à Alomata em
2011. “Unidos somos mais fortes do que sozinhos”,
acredita. Há seis anos no mercado de materiais de
construção, ele conta que, após participar do programa Central de Negócios, aperfeiçoou os conhecimentos na área de compras, e seu negócio ficou
mais lucrativo. “Tenho maior poder de compra e consigo vender os produtos dentro do valor de mercado,
com uma margem de lucro mais satisfatória. Diante
desse fortalecimento, os fornecedores veem a nossa
loja com outros olhos e têm mais confiança na hora de
negociar o prazo de pagamento.”
Entre os ganhos proporcionados pela união dos
lojistas, Emanuel Francisco destaca a melhor padronização dos produtos no estoque, o novo layout e a
imagem repassada para o consumidor final. “O
cliente tem confiança ao comprar em uma loja da
Rede Construir. Além disso, temos vantagens como
bons descontos junto aos fornecedores e entrega
mais rápida da mercadoria adquirida”, ressalta.
Com duas lojas e 22 funcionários, sendo 18 na
matriz de Matias Barbosa e quatro na filial em Juiz
de Fora, o empresário tem um faturamento anual
O CENÁRIO DO SETOR DE
CONSTRUÇÃO CIVIL
em torno de R$ 2,5 milhões (média de R$ 210 mil
por mês). Antes de entrar para a Alomata, esse valor era de R$ 1,7 milhão por ano. Ele conta com
seis mil itens na cartela de produtos, que vão desde areia, brita, cimento e material de acabamento
até utilidades para casa, como lustres e fechaduras. “Além das cidades onde possuo lojas, vendo
para clientes de Santos Dumont e Simão Pereira,
municípios da região. Tenho cinco caminhões, um
para buscar a mercadoria no fornecedor e os outros quatro para fazer entregas.”
Fonte: Associação Nacional dos Comerciantes de Material
de Construção (Anamaco) e Instituto Data Popular
8% do PIB do setor
é representado pelo comércio
de materiais de construção,
o que equivale a
0,5% do PIB do país
77% do PIB pertencente
ao comércio de materiais
de construção (8%) se
deve às lojas de pequeno
e médio porte
<BRAVADESIGN>
ALOMATA
lização de campanhas de marketing em jornais de
ofertas e no rádio. “A ferramenta de marketing
com grande retorno é o jornal de ofertas. Por mês,
cada loja distribui, no mínimo, três mil publicações para os clientes e a população local. Este ano,
também pretendemos veicular propagandas na
TV”, diz Paulo Pains.
O faturamento dos lojistas em 2012 foi de R$ 31
milhões, 40,9% maior em relação aos R$ 22 milhões somados em 2009, ano em que a associação ainda não existia. Em 2013, uma das metas
do plano de expansão da Alomata é ter 30 lojas
associadas na região da Zona da Mata. Para isso,
a Comissão de Expansão do grupo tem realizado
visitas a outros estabelecimentos do ramo para
convidar novos empresários a participar da iniciativa. “Em março, a Rede Construir Nacional
esteve presente na Feira Internacional da Construção, em São Paulo, onde o foco foi o crescimento do negócio. As regionais trabalharam no
estande da feira para atrair novos associados”,
pontua o gestor regional.
Em sua avaliação, a boa gestão do negócio é
o segredo para conquistar espaço no mercado.
“A Central de Negócios ajudou os empresários a
trabalhar em grupo e a ver o outro lojista como
parceiro, ao invés de um concorrente. Hoje, as
lojas da Alomata são mais reconhecidas pelos
clientes. E, para aperfeiçoar a gestão, os associados vão participar, a partir de abril, do Sebrae
Integra, que prevê consultorias, diagnósticos e
plano de melhorias para a gestão financeira, de
pessoas e indicadores de desempenho.”
138MIL
LOJAS DEMATERIAL DE
CONSTRUÇÃO NO BRASIL
www.sebraemg.com.br 43
Pedro Vilela / Agencia i7
CAPA
Q
ELAS
NA LIDERANÇA
COM TALENTO, PERSISTÊNCIA
E UMA BOA DOSE DE
CORAGEM, AS MULHERES
FAZEM A DIFERENÇA NO
COMANDO DOS PRÓPRIOS
NEGÓCIOS
44 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
uando se entra em uma oficina mecânica, o que se espera encontrar são
carros, peças automotivas, graxa,
mecânicos, entre outros itens bem
masculinos. A presença do dono,
também no masculino, é fundamental. Mas, e se, ao invés de um dono, você depara
com a dona da oficina, no feminino mesmo? Pois,
em Belo Horizonte, esse cenário é real.
Trata-se da Segmento Mecânica, a famosa
“Oficina das Meninas”. No comando, as três irmãs: Laura Furtado dos Reis, proprietária e responsável pelo atendimento ao cliente e pela administração financeira; Lilian Garcia dos Reis Silva,
gerente e consultora técnica; e Adriane Garcia
Macedo, que trabalha com orçamentos e cotação
de peças. Desde 2008, esse trio mostra o que muitas pesquisas e empreendedoras brasileiras vêm
confirmando: lugar de mulher é na liderança.
No Brasil, a força feminina no negócio é um
dos destaques da Global Entrepreneurship Monitor
(GEM 2012) – Empreendedorismo no Brasil / Relatório Executivo, pesquisa conduzida pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade
(IBPQ), com a parceria técnica e financeira do Sebrae e o apoio do Centro de Empreendedorismo e
Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas
(FGV). O estudo, que entrevistou 10 mil pessoas,
nas cinco regiões brasileiras, mostrou que o empreendedorismo feminino vem aumentando a cada ano no país. A última edição identificou que
49,6% dos que iniciam carreira empresarial são
mulheres. Em 2002, esse percentual era de 42%.
“As brasileiras estão entre as que mais empreendem no mundo. Cerca de 13 milhões estão à frente
das empresas no país”, enfatiza a analista do Sebrae
Minas, Michelle Chalub Cossenzo. De acordo com
ela, do total de pessoas atendidas pelo Sebrae Minas em 2012, 43% eram do sexo feminino.
Em Minas Gerais, não é diferente. Os resultados
da pesquisa Empreendedorismo Feminino, divulgada
pelo Sebrae Minas em março deste ano, mostram
que dos 1.228 entrevistados, em oito regiões do Estado, 33% são mulheres que comandam Micro e
Pequenas Empresas (MPE). O estudo também destaca que 44% dos estabelecimentos administrados
pelas mineiras faturam entre R$ 60 mil e R$ 180
mil por ano e têm, em média, cinco funcionários,
enquanto, nos dos homens, a média é de 7.
www.sebraemg.com.br 45
Ronaldo Lopes
“O mercado mudou, as oportunidades são muitas e a mulher empreendedora possui diferenciais,
como jogo de cintura, sensibilidade aguçada, capacidade de equilibrar firmeza e um tratamento mais
humanizado na liderança, o que fortalece o comprometimento dos funcionários com os resultados da
empresa”, avalia Michelle Chalub. Laura Reis e sua
“Oficina das Meninas” mostram que isso é verdade.
A Segmento Mecânica foi fundada pelo seu
marido, Lúcio, junto com um sócio, em 1987. Alguns anos mais tarde, ele resolveu vendê-la, para
comprá-la de volta em 1995. “A minha irmã Lilian, mesmo ainda jovem e sem entender de carros, assumiu a gerência na época. Paralelamente,
eu e Lúcio continuamos com nossos empregos”,
lembra a empreendedora.
A atuação dela no setor automobilístico é antiga – trabalhou 18 anos em concessionárias e se
consagrou mestre de vendas de uma importante
marca global do setor. Após ser desligada da empresa, passou a atuar na oficina do casal e, paralelamente, comprava e vendia carros. “Era um so-
PRÊMIO SEBRAE
MULHER DE
NEGÓCIOS
nho antigo do Lúcio que comandássemos juntos
a empresa, que vinha crescendo a cada dia.” No
entanto, em 1998, o marido foi assassinado na
porta da garagem de casa. “Não tive tempo de
pensar. Ele era o coração e a alma do nosso negócio. Dois dias depois, tínhamos 19 carros para entregar, sem saber se tocaríamos o empreendimento sem o Lúcio”, recorda. As irmãs reuniram
a equipe no pátio da oficina e, todos, incluindo os
quatro mecânicos que as acompanham até hoje,
decidiram juntos dar continuidade ao trabalho.
“Concluímos que tudo dependeria do nosso empenho. Cada um foi para sua posição como se fosse o dono da empresa. Esse apoio foi e continua
sendo muito importante.”
Hoje, o negócio possui mais de 3.500 clientes
– são mais de 80 novas pessoas atendidas a cada
três meses –, nove funcionários e um faturamento médio de R$ 60 mil por mês. “Temos o respeito da equipe, a confiança dos clientes, e a credibilidade da oficina é cada dia mais forte no mercado”, orgulha-se a empresária.
C
riado em 2004, o Prêmio Sebrae Mulher de
Negócios visa destacar histórias de superação
e sucesso de empreendedoras que fazem a
diferença no comando das MPE do país. Podem
participar mulheres com mais de 18 anos, donas de
empresas que faturam até R$ 3,6 milhões ao ano. O
Prêmio é dividido em duas etapas: estadual e nacional. As candidatas podem concorrer nas categorias
Pequenos Negócios, Produtora Rural e Microempreendedora Individual. Em 2012, foram 5,4 mil inscrições em todo o Brasil e 195 em Minas Gerais.
O Prêmio Sebrae Mulher de Negócios é uma iniciativa do Sebrae, em parceria com a Secretaria
Especial de Políticas para as Mulheres, a Federação das Associações de Mulheres de Negócios
Profissionais do Brasil (BPW) e a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ).
DATA DE INSCRIÇÃO: ATÉ 31 DE JULHO
INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES:
WWW.MULHERDENEGOCIOS.SEBRAE.COM.BR
46 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
CONHECER PARA CRESCER | De acordo com o
consultor financeiro Erasmo Vieira, um dos pontos que contribuem para o crescimento das mulheres no negócio é a busca constante pelo conhecimento. “Elas estão abertas para a orientação especializada e valorizam a formação acadêmica e a
capacitação empresarial. Essa atitude gera amadurecimento na performance empresarial, contribuindo para que obtenham sucesso nos negócios
e conquistem seu espaço no mercado”, acredita.
A pesquisa conduzida pelo Instituto Brasileiro
da Qualidade e Produtividade, em 2012, mostra
que 36% das mulheres empreendedoras possuem curso superior ou pós-graduação, percentual que supera o dos homens, de 31%. Carina
Vieira de Martins, proprietária da Selecionata
Alimentos – Soluções em Lanches para Coletividades –, em Conselheiro Lafaiete, vem somar a
este grupo. Além de nutricionista, ela se capacitou em gestão pelo Instituto de Desenvolvimento
Empresarial do Brasil (IDE Brasil), em Auditoria
de Alimentação e Nutrição pelo Instituto Racine
(São Paulo), fez o Empretec, entre outros cursos
concluídos na área de gestão de negócios e alimentação. Em suas palavras, “conhecimento é
poder, e poder é capacidade de agir”.
Com tantas informações e conhecimentos na
bagagem, hoje, a empreendedora lidera uma das
principais empresas especializadas no fornecimento de kits de lanches e sanduíches de ATM (atmosfera modificada que aumenta a validade do alimento), em serviços de gestão de contratos, auditorias em alimentação e nutrição e no desenvolvimento de soluções para lanches coletivos em organizações da região. Os 14 funcionários produzem,
por ano, 336 mil kits de lanches para 18 cidades de
Minas Gerais e do Espírito Santo, o que possibilita
um faturamento de R$ 3,5 milhões. No primeiro
ano de operação, em 2010, a produção diária cresceu 580%, passando de 85 para 500 kits. Entre
2011 e 2012, esse volume aumentou 186% – de
500 para 930 unidades.
O empreendedorismo de Carina Martins está
no sangue. Aos 10 anos, junto com as irmãs, já dava duro no restaurante da família, o Panela de Pedra. “Comecei descascando batatas. Minha principal escola foi trabalhar com minha mãe, Maria de
Lourdes. Com ela, incorporei valores básicos para
o sucesso, como determinação, persistência e
“Crescemos dez vezes em dois
anos. Defendo a ideia de que,
primeiro, a gente tem que ser
para fazer e, depois, ter.
Acredito que já somos. Agora,
vamos fazer o mercado, para
ter no futuro”
www.sebraemg.com.br 47
transparência”, diz, ao resgatar a história da matriarca que, sozinha, criou os quatro filhos e administrou o negócio que foi o embrião do grupo composto pelas duas empresas da família.
A Selecionata Alimentos surgiu por uma necessidade. Para não perder um contrato, o Panela de
Pedra precisou aceitar uma demanda de preparo de
kits de lanche. “Eu não queria, era muito diferente
do nosso negócio, mas precisávamos manter o
cliente. Minha mãe pediu para eu assumir e me ajudou a abrir a empresa”, recorda. A empreendedora
montou, em sua casa, uma pequena cozinha de 30
m². “Fiz tudo com muito capricho e zelo, customizando os produtos e serviços conforme o foco do
cliente. Tomei gosto pelo negócio.”
Após um ano, este comprador propôs à empresária padronizar o fornecimento dos kits e ampliálo para atender outras localidades de atuação, em
um raio de 900 km. “Assumi o projeto, cujo foco
era garantir os produtos para todas as unidades, no
mesmo horário e com a mesma gramatura, marca
e qualidade”, observa Carina Martins. A expansão
do negócio fez com que a empreendedora se transferisse para um galpão de 700 m², em outubro de
2012. Assim, a produção da Selecionata Alimentos
foi multiplicada por dez, passando de cem para
mil lanches por dia. Os resultados e a performance
empresarial foram reconhecidos como faixa bronze na etapa estadual no Prêmio Sebrae Mulher de
Negócios 2012 (veja mais informações na pág. 46).
“Crescemos dez vezes em dois anos. Defendo a
ideia de que, primeiro, a gente tem que ser para fazer e, depois, ter. Acredito que já somos. Agora, vamos fazer o mercado, para ter no futuro”, ensina.
Erasmo Vieira concorda com a visão de crescimento da empresária. Segundo ele, o mercado está aberto para todos, mas não admite amadores e
erros, pois uma nova empresa já precisa nascer
competitiva. “O crescimento econômico e o aumento das oportunidades obrigam o empreendedor a se preparar para uma gestão focada na consolidação e no desenvolvimento do negócio. É preciso boa administração, custo baixo e competitividade para uma empresa se manter. Daí a importância do conhecimento, do planejamento e da
disciplina na gestão”, enfatiza o consultor.
Carina Martins sabe como é importante gerar
melhorias constantes na prestação de serviços ao
cliente, bem como na criação de novos produtos.
Por isso, ela está investindo em inovações, como o
ELAS NO BRASIL
sanduíche de ATM, e na patente de uma máquina
para distribuição e medição automática dos lanches
em organizações. A empresária espera aumentar
sua produção em 752% – sete mil kits de lanche por
dia – até o final de 2013. “Que Zeca Pagodinho me
desculpe, mas não deixo a vida me levar, sou eu
quem a levo. Sei onde, como, quando e por que quero chegar lá. Com minhas habilidades, talento e persistência, escolho a estrada que vou seguir.”
DIFERENTES PAPÉIS | Mesmo conquistando cada vez mais espaço na economia, o grande desafio
das mulheres ainda é conciliar o seu lado empresarial com as suas diferentes atuações na sociedade.
Alessandra Ferreira da Silva vive esse dilema. Mãe
de quatro filhas e proprietária de duas lojas de bijouteria – uma na Savassi e outra no Barro Preto -,
ela precisou abdicar de alguns momentos com as
meninas para investir no crescimento do negócio.
“A ausência é inevitável, não tenho como estar
100% em casa. Mas procuro dedicar todas as horas
livres a elas. O domingo é sempre um momento
nosso e, quando acordo inspirada, encaro até o almoço ou as levo para um passeio diferente”, conta.
Na visão de Erasmo Vieira, a capacidade da na-
ELAS EM MINAS
Fonte: GEM 2012
tureza feminina em saber administrar os vários papéis de mulher, mãe, esposa, dona de casa, e ainda
manter o bom desempenho empresarial, é uma das
principais características que contribuem para o
fortalecimento do sexo feminino no mercado. “Essa
é uma vantagem competitiva para as mulheres, pois
conseguem lidar com um grande volume de atividades e possuem sensibilidade na gestão de conflitos e de pessoas”, avalia.
Quando tinha 17 anos, Alessandra da Silva acreditava já ter traçado seu futuro profissional. Estudante de um curso técnico de contabilidade e estagiária em uma empresa de sapato, ela se preparava
para ser a contadora do negócio de curtume do pai.
Mas engravidou de gêmeas e precisou aprender a
conciliar a vida profissional com a familiar.
A atual empresária passou a fazer presilhas de
cabelo com restos de couro e camurça que sobravam da produção de jaquetas da mãe. “As pessoas
ficavam encantadas com as peças. Comecei a vender aos poucos. Uma vizinha, que tinha uma barraca na Feira Hippie de Belo Horizonte, me pediu
para fazer algumas dúzias para vender. Em meia
hora, as peças acabaram”, recorda a empresária.
A matéria-prima vinha do descarte de grifes fa-
Fonte: Pesquisa Empreendedorismo Feminino /
Sebrae Minas 2013
33% das MPE são comandadas por mulheres.
36% dos empreendedores com graduação ou pós-graduação
são mulheres, e 31%, homens.
52% dos empreendedores com idade entre 31 e 50 anos
52% dos empreendedores que adotam ações de controle
milhões
DE MULHERES
ABRIRAM NEGÓCIOS
EM 2012.
51,8% do
49,6% dos
44% dos
empreendedorismo
feminino
concentram-se no
Sul e Nordeste.
empreendedores
iniciais (TEA)
são mulheres, e
50,4%, homens.
empreendedores
estabelecidos (TEE)
são mulheres, e
56%, homens.
administrativo são mulheres, e 50%, homens.
44% dos empreendedores que faturam entre R$ 80 mil e
<BRAVADESIGN>
são mulheres, e 54%, homens.
R$ 180 mil por ano são mulheres, e 43%, homens.
64,5% dos que empreendem por oportunidade são mulheres, e 73,9%, homens.
48 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
www.sebraemg.com.br 49
50 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
Juliana Flister / Agencia i7
Juliana Flister / Agencia i7
“Transformei muito lixo de
grife em acessórios de
luxo”
EDUCAÇÃO
mosas, clientes do pai. “Comprava a um valor irrisório. Conseguia uma infinidade de cores e texturas
inimagináveis, ninguém conseguia me copiar.
Transformei muito lixo de grife em acessórios de luxo”, diverte-se. A mesma vizinha percebeu o potencial da jovem e a apresentou a outro comerciante da
Feira Hippie, que tinha espaço para dividir na barraca. A empresária passou a vender suas peças.
As vendas não paravam de crescer, e ela ficou
conhecida por comerciantes de outras cidades mineiras e estados brasileiros, que compravam os produtos no atacado. Uma exportadora a descobriu, e
as presilhas foram parar na Itália. Por 15 anos, a jovem empreendedora mostrou seu talento na famosa feira mineira de rua, como artesã e empreendedora. Porém, o destino deu-lhe uma rasteira, e denúncias provocaram sua retirada da feira por fiscais, por ela não ser proprietária da barraca.
Alessandra da Silva não desanimou e investiu
em um ponto no Barro Preto, polo de atacado da
moda na capital mineira. Soube da construção de
uma Feira Shop na região e alugou dois boxes. Nessa época, amadureceu a ideia de montar uma loja
de rua e criar uma marca própria. “Descobri uma
loja em construção, mas o dono não botava fé em
mim. Ele resistiu e fechou o aluguel com outra mulher. Meu santo é tão forte que ela desistiu na última hora, e a loja veio para mim”, comemora. Assim, nasceu a Monopólio, em 2006, com cara de
loja de shopping. “O que investi retornou no primeiro mês. Um sucesso!”, conta, faceira.
Uma das filhas mais velhas, Bruna, que está se
formando em Administração, entrou no negócio.
Ela a convenceu a investir em uma loja na Savassi,
inaugurada há três anos, e mudou os produtos para
atender um novo público, assumindo a produção
e a administração do estabelecimento. “A Bruna se
revelou na criação das peças, fez a última coleção
de inverno sozinha e já planeja nossa loja virtual”,
orgulha-se a mãe.
Hoje, a Monopólio conta, além das duas lojas,
com uma fábrica e 16 funcionários, responsáveis
pela criação para o atacado e varejo. Os números
de faturamento, Alessandra da Silva não revela.
Afirma apenas que as vendas dobraram entre 2011
e 2012 e que o volume de peças comercializadas
chega a sete mil por mês. Este ano, a marca participou, pela primeira vez, do Minas Trend, famoso
evento de moda da capital mineira.
Empreendedorismo
para a vida
Curso técnico estimula a
formação de jovens
capazes de conduzir os
rumos de sua história
O dia de Frederico Amorim começa cedo. Aos
22 anos, ele acorda às 6 horas para preparar os
lanches e doces que serão vendidos. Desde novembro, o jovem é proprietário da Mix Lanche,
empresa de tele-entrega de sanduíches idealizada e fundada por ele. Segundo conta, a realização
do sonho de ser dono do próprio negócio começou a se tornar realidade graças a sua passagem
pelo Núcleo de Empreendedorismo Juvenil
(NEJ) do Sebrae Minas, que funciona dentro do
Plug Minas - Centro de Formação e Experimentação Digital do Governo de Minas Gerais.
O desejo de se tornar um empresário já acompanhava Frederico Amorim há alguns anos. “Minha primeira ideia era criar uma pequena empresa especializada em doces para casamentos”, revela. Porém, o custo da iniciativa era alto - aproximadamente R$ 30 mil de investimento inicial.
“Ao ingressar no NEJ, comecei a perceber as movimentações do mercado e, assim, o que era doce
virou salgado”, brinca. A partir daí, o empreendedor começou a desenhar a sua empresa de lanches naturais. “O investimento no ramo de san-
Frederico Amorim viu no NEJ a oportunidade para
investir, ao mesmo tempo, na criação de seu
próprio negócio e na realização de um sonho
www.sebraemg.com.br 51
TOTAL 2012 2011 2010
Atuação do NEJ
142
152
168
462
FORMADOS
FORMADOS
FORMADOS
CERTIFICADOS
JOVENS
52 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
ciplinas de matemática financeira, logística, contabilidade gerencial e noções de direito completam o perfil técnico do plano curricular.
A empresa de Frederico Amorim funciona na
casa onde mora com a mãe, no Aglomerado Morro
das Pedras, região Oeste de Belo Horizonte. A cozinha foi adaptada para seguir à risca os padrões de
qualidade e higiene. Ao fixar o seu empreendimento na região onde nasceu e cresceu, o rapaz acredita
estar contribuindo para a melhoria da comunidade.
“Não vou negar que, em muitos momentos, eu
pensei que a vida de crimes seria o meu destino. Foram muitos os amigos que seguiram esse caminho
e se perderam. Mas, ainda bem, uma possibilidade
nova se abriu para mim”, comemora.
CONSTRUINDO UM NOVO CAMINHO | O objetivo principal da formação oferecida pelo NEJ
é que o aluno consiga se tornar protagonista de
sua própria história. “Trabalhamos com o conceito de ‘empreendedorismo para a vida’, ou seja,
mesmo que depois o participante opte por não
investir na carreira empresarial, ele estará apto a
tomar decisões de forma mais consciente e madura, seja na escolha de uma carreira, seja na
convivência social”, argumenta a coordenadora.
A metodologia de ensino do NEJ e boa parte
dos seus educadores são oriundos da Escola Técnica de Formação Gerencial (ETFG), que funciona
na sede do Sebrae Minas, na capital mineira. As diferenças são as cargas horárias - no NEJ, a formação técnica não é concomitante com o Ensino Médio - e, o mais importante, o custo. No Núcleo, o
curso é completamente gratuito. “Como nas outras áreas de atuação do Plug Minas, os gastos com
transporte e alimentação dos estudantes são custeados pelo projeto”, conta Fátima dos Santos.
Atualmente, o NEJ está formando a sua quarta turma, sendo que o número de alunos formados está
subindo a cada ano (confira no quadro ao lado).
CONHECIMENTO NA PRÁTICA | Além do plano curricular robusto, o curso técnico em Administração oferece uma variedade de atividades
práticas. Dentre elas, destaca-se o projeto Tutoria,
em que os jovens têm a oportunidade de vivenciar
o dia a dia das empresas. “Graças à iniciativa, eu
pude conhecer o cotidiano de uma agência que
oferece atividades de mergulho. Aprendi as estra-
Juliana Flister / Agencia i7
duíches se revelou mais em conta, algo em torno
de R$ 3 mil. Hoje, sou o primeiro delivery de sanduíches naturais do Brasil”, orgulha-se.
Criado em 2010, o NEJ oferece curso técnico
em Administração, com ênfase em Gestão de Negócios e Empreendedorismo, para alunos matriculados ou formados em escolas da rede pública de
ensino do Estado. Além de ter entre 14 e 24 anos,
os candidatos precisam estar cursando ou ter concluído o 3º ano do Ensino Médio. No último processo seletivo, realizado nos meses de novembro e
dezembro de 2012, foram ofertadas 210 vagas. No
total, o curso possui 800 horas/aula, divididas em
três módulos, e tem duração de um ano.
Além do conteúdo teórico próprio da gestão
de negócios, a formação do NEJ dá atenção especial ao comportamento de seus estudantes. “O
curso me surpreendeu ao incentivar o aprimoramento pessoal. Antes eu não sabia nem como
conversar de forma adequada e só falava gírias”,
revela o agora empresário Frederico Amorim. Segundo Fátima dos Santos Pinto, coordenadora do
NEJ, “a formação técnica é amparada por disciplinas que exploram a formação intelectual e a
comunicação empresarial”. Dessa forma, os jovens têm aulas de desenvolvimento humano, gestão de pessoas e português instrumental. As dis-
tégias utilizadas pelo empresário para vender um
produto que, aparentemente, é complicado de ser
comercializado em uma cidade sem mar. Muito
do que vi eu apliquei no meu próprio empreendimento”, recorda Frederico Amorim, cuja empresa
apresenta um aumento de faturamento de 58%
ao mês desde a sua criação.
Fátima dos Santos explica que a iniciativa é desenvolvida logo no primeiro módulo da formação,
para permitir que os alunos já se familiarizem
com o mercado de trabalho e o ambiente profissional. “Durante um trimestre, eles frequentam
uma empresa e conhecem todos os seus processos. Um aspecto importante é que a responsabilidade de encontrar os tutores é deles”, conta.
Apesar de não ter como objetivo o encaminhamento ao mercado de trabalho, a coordenadora revela que não é raro receber notícias de exestudantes que conseguiram boas colocações em
empresas. “Temos certeza de que, ao sair daqui
com o certificado, que é reconhecido pelo Ministério da Educação, eles se tornam aptos a pleitear qualquer vaga que peça por um técnico em
Administração. Recentemente, tive a notícia de
um aluno que foi contratado pelo empresário
que foi o seu tutor.”
“Temos certeza de que, ao sair
daqui com o certificado, que é
reconhecido pelo Ministério da
Educação, os alunos se tornam
aptos a pleitear qualquer vaga
de técnico em Administração”
Fátima dos Santos, coordenadora
do NEJ
www.sebraemg.com.br 53
Pedro Vilela / Agencia i7
Sua veia literária se manifesta por meio do
Sarau Vira-Lata, um movimento itinerante de
leitura de poesias, que acontece em espaços públicos da cidade, criado por ele e mais alguns
amigos em 2011. Até hoje, já foram realizados
mais de 30 saraus, que reuniram, em média,
400 pessoas.
O jovem ainda encontra tempo para trabalhar como educador no projeto Fica Vivo, onde
dá aulas de literatura marginal e de cordel para
adolescentes de comunidades carentes. Recentemente, ele ingressou no grupo de teatro de
bonecos Giramundo, onde atua como manipulador. “Motivado pela formação no NEJ, contratei uma pessoa para atuar como meu produtor e
ajudar na condução da minha carreira”, explica.
Em maio, o jovem empresário lança mais um
CD e, no segundo semestre, publica seu primeiro livro de poesias. “O empreendedorismo é
uma arte incrível. É preciso ter criatividade, ousadia e saber correr riscos”, acredita.
BAZAR DAS PLUGAS | Uma atividade que mo-
Ao final da capacitação, os jovens devem entregar um Plano de Negócios, que é considerado
o trabalho de conclusão da formação. “Eles escrevem um projeto completo de criação e implantação de uma empresa. Todas as informações precisam estar amparadas em dados reais. Logo depois, são avaliados por uma banca”, detalha Fátima dos Santos. Foi baseado no Plano de Negócios
escrito no NEJ que Frederico Amorim deu partida para a criação de sua empresa de lanches. “Eu
apenas fiz uma adaptação no tipo de produto que
queria vender.”
EMPREENDEDORISMO É ARTE | Envolvido na
atividade artística desde a adolescência, o músico
e poeta Carlos Eduardo Costa dos Anjos, mais conhecido como Kdu dos Anjos, se interessou pelo
empreendedorismo em 2009, durante uma conversa com amigos artistas. “O estalo veio quando
eles se definiram como empreendedores. Um deles me deu a dica sobre o curso oferecido pelo
NEJ, e eu corri atrás”, conta o músico, que ingressou no Núcleo em 2011.
54 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
“O empreendedorismo é uma
arte incrível. É preciso ter
criatividade, ousadia e saber
correr riscos” Kdu dos Anjos,
artista e participante do NEJ
Mesmo não sendo uma iniciativa específica
de empreendedorismo musical, o jovem desenvolveu um método pessoal interessante para absorver, ao máximo, as lições oferecidas nas aulas.
“Sempre que falavam em produto, eu imaginava
como sendo a minha música. Quando o tema era
mercado de trabalho, para mim, era cenário cultural. Descobri que a adaptação foi perfeita.”
Ao ingressar no NEJ, o artista já tinha um CD
gravado com composições próprias. Ele afirma
que as aulas de logística o ensinaram a fazer a
distribuição do trabalho e a criar algumas técnicas. “Aprendi a apresentar o CD para possíveis
patrocinadores como um cartão de visitas. Desenvolvi também maneiras de fazer vendas em
pacotes. Eu organizava um show, e o ingresso
era a compra do CD, por exemplo”, lembra.
Hoje, com apenas 22 anos, Kdu dos Anjos consolida o seu nome como uma das mais proeminentes forças do cenário cultural de Belo Horizonte.
Na área musical, ele já tem três trabalhos lançados
que somam, ao todo, 12 mil cópias vendidas, um
feito notável para um artista independente.
vimenta todos os alunos e que acontece nos meses finais do curso, no NEJ, é o Bazar das Plugas.
Nas semanas que antecedem o evento, os jovens
se dividem em setores, como em uma empresa.
Mobilizam-se para receber doações de produtos
usados. Roupas, eletrodomésticos, livros e discos
são bem-vindos, desde que estejam em bom estado. Depois, o gerente, juntamente com os setores de logística, RH e marketing, mobiliza os
demais para separar os itens em categorias, colocar preços, fazer a divulgação, treinar vendedores e caixas e, por fim, trabalhar nas vendas.
“O Bazar foi um grande projeto. É nesse momento que temos que aplicar todos os conceitos
que vimos ao longo do ano e, sobretudo, provar
que somos capazes de desenvolver um bom trabalho em equipe”, explica Sarah Luiza Valgas,
ex-aluna do NEJ. As barraquinhas de venda são
montadas na portaria principal do Plug Minas,
e toda a comunidade é convidada. Uma parte da
renda obtida serve para custear a cerimônia de
formatura dos jovens. “O restante é doado para
uma creche municipal que fica nas imediações
do Plug Minas”, conta a ex-aluna.
Antes de ingressar no NEJ, Sarah Valgas tinha dúvidas sobre qual caminho profissional dewww.sebraemg.com.br 55
Ronaldo Guimarães
veria seguir, uma indecisão natural para uma jovem de 18 anos. “Meu pai tinha planos de começar um negócio próprio, creio que, por isso,
ele me aconselhou a cursar uma graduação em
Administração”, explica. A possibilidade de fazer um curso técnico antes da faculdade foi, segundo ela, a oportunidade ideal para aprender
um pouco mais sobre a área. “Foi a confirmação
que eu precisava para investir na minha carreira. Hoje, já estou me preparando em um curso
pré-vestibular e planejo entrar na faculdade ainda este ano”, revela.
Paralelo ao curso preparatório, Sarah Valgas
tem a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos no NEJ na empresa criada pelo
seu pai, dedicada à fabricação de bolsas e outros
assessórios em couro. Ela conta que o ajudou na
formalização do negócio por meio do registro
de microempreendedor individual junto ao Governo Federal. “Eu o auxilio na parte administrativa, enquanto ele cuida da produção. Estamos começando, mas parece bastante promissor. Fechamos algumas vendas consignadas para
sacoleiras e estamos buscando parcerias com lojas especializadas”, finaliza, orgulhosa.
O PLUG MINAS
NOTAS
Inaugurado em 2009, o Plug Minas –
Centro de Formação e Experimentação Digital do Governo de Minas Gerais – funciona no espaço que abrigava a antiga Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor
(Febem) do bairro Horto, em Belo Horizonte. A área foi totalmente recuperada, e os diversos blocos, transformados em núcleos de
ensino, em diferentes áreas, como música,
teatro, fotografia, inglês, espanhol e técnico
em Administração.
Todos os cursos são gratuitos, e as refeições são oferecidas em um grande refeitório,
que foi batizado pelos jovens de Plug Rango.
Assim como o Sebrae Minas é o mantenedor
do NEJ, os demais núcleos contam com parceiros e mantenedores privados. O processo
seletivo acontece duas vezes ao ano, e as inscrições são feitas pelo site do projeto no endereço www.plugminas.mg.gov.br.
Pedro Vilela / Agencia i7
Sebrae premia jornalistas
No dia 23 de abril, aconteceu, em Belo Horizonte, a cerimônia de entrega do Prêmio Sebrae de Jornalismo – etapa estadual, que homenageia os melhores trabalhos jornalísticos referentes às micro e
pequenas empresas. O Sebrae Minas recebeu 84
matérias inscritas - número superior a 2012, quan-
do foram selecionadas 56 reportagens – nas categorias Mídia Impressa, Rádio, TV e Webjornalismo.
Os ganhadores estaduais seguem agora para a
fase regional do concurso, que ocorre no dia 6 de
junho, em Brasília (DF), onde os finalistas nacionais serão selecionados.
VENCEDORES ETAPA ESTADUAL / 2012/2013
Sarah Valgas trabalha com o pai na confecção de bolsas. Com sua formação, ela pretende investir no crescimento do negócio
56 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
JORNALISMO IMPRESSO
TELEJORNALISMO
Sertão Grande
Estado de Minas
Autores: Paulo Henrique Lobato e
Luiz Ribeiro
Fotógrafo: Alexandre Guzanshe
Sobrevivência das empresas
Rede Minas/Planeta
Autores: Simone Pio Viana e Marina Cunha Mendes
Cinegrafistas: Wagner Marzagão, Daniel Diniz
e Dirceu Alves
RADIOJORNALISMO
WEBJORNALISMO
Empreender Brasil - O sonho começa aqui
Rádio UFMG Educativa
Autores: Paula Alkmim e Vanessa Bugre
Internet: trampolim para boas ideias
O Tempo Online
Autores: Letícia Silva e Anderson Rocha
57 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
www.sebraemg.com.br 57
Divulgação
Portal do retorno
A decisão de retornar ao Brasil, após anos morando no exterior como imigrante, não é simples.
Muitos fatores devem ser levados em consideração – trabalho, família, finanças, entre outros.
Para ajudar as pessoas que estão nessa situação, o
Ministério das Relações Exteriores criou o Portal
do Retorno (retorno.itamaraty.gov.br). O site traz
informações sobre documentação, mercado de
trabalho, previdência social, empreendedorismo,
programas e serviços de apoio ao retornado. O
conteúdo foi elaborado com a contribuição do
Sebrae, do Ministério do Trabalho e Emprego, do
Ministério da Previdência Social, da Secretaria
de Políticas para as Mulheres, da Secretaria da
Receita Federal e da Caixa Econômica Federal.
Arquivo Sebrae
Desafio de empreendedorismo
Equipes lideradas por alunos da Escola Técnica
de Formação Gerencial do Sebrae (ETFG), em Belo
Horizonte, conquistaram o 2º e o 3º lugares do
desafio internacional de empreendedorismo, o
Global Business Challenge. Thiago Pimenta Meinberg fez parte da equipe que levou o segundo lugar
no desafio, e Marina Vaz de Melo Gomes integrou
o grupo que ganhou o terceiro lugar na competição. Outros cinco alunos da ETFG-BH participaram do evento. São eles: Bruna Froes Moreira,
Hugo Procópio Calazans, Luisa Maia Coppe, Mariana Gonzaga Prado e Marina Lisboa Bacha.
GLOBAL BUSINESS CHALLENGE
PRÊMIOS CONQUISTADOS PELOS MINEIROS
QUATRO PRIMEIROS LUGARES
(2008 / 2009 / 2010 / 2012)
DOIS SEGUNDOS LUGARES
(2010/2013)
TRÊS TERCEIROS LUGARES
(2009/2010/2013)
UM QUARTO LUGAR (2011)
UM QUINTO LUGAR (2011)
Foco na inovação
Os gestores do Sebrae Minas, Paraná, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul e do Sebrae Nacional
participaram, em março, de um encontro com
o núcleo do Sebraetec – programa que facilita o
acesso das Micro e Pequenas Empresas (MPEs)
a conhecimentos tecnológicos – na capital mineira. Os participantes tiveram a oportunidade
de conhecer a iniciativa do Sebrae Minas que
deverá ser a base para a construção de uma estratégia nacional de estímulo para o uso da Linha Inovação do Sebraetec pelos MPEs, direcionada ao desenvolvimento de produtos inovado58 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
res subsidiados pelo Sebrae Minas. Em 2012,
dos 90 projetos executados na Linha Inovação,
70 pertenciam ao estado mineiro. “O sucesso do
programa do Sebrae Minas despertou a atenção
de outras localidades. Nós mostramos que, com
um investimento R$ 90 mil, é possível que os
micro e pequenos empreendedores desenvolvam produtos inovadores. Por isso, executamos
tantos projetos”, ressalta a gestora do Sebraetec
do Sebrae Minas, Andréa Almeida. “Nos outros
estados, a crença comum era a de que o valor
era insuficiente. Mudamos essa visão.”
MPE Brasil
A Fazenda dos Patos, na Serra do Salitre,
Triângulo Mineiro, é a vencedora nacional, na
categoria Agronegócios, do Prêmio MPE Brasil.
O anúncio foi feito no início de abril, em Brasília (DF). Outras nove empresas foram premiadas nas categorias Indústria, Comércio, Serviços, Turismo, Tecnologia da Informação, Saúde
e Educação, além de dois destaques: Boas
Práticas de Responsabilidade Social e Inovação.
Selecionadas entre 127 finalistas que
conquistaram as etapas estaduais do Prêmio,
as empresas vencedoras foram avaliadas em
um universo total de 83 mil inscritas. O Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas - MPE Brasil é promovido
pelo Sebrae, Movimento Brasil Competitivo
(MBC), Gerdau e Fundação Nacional da
Qualidade (FNQ).
www.sebraemg.com.br 59
Juliana Flister / Agencia i7
EMPREENDEDORISMO
Divulgação
Inspiração
francesa
PII Funed
O Sebrae Minas e a Secretaria de Estado de
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SectesMG) lançaram a 14ª edição do Programa de Incentivo à Inovação (PII). Vinte estudos inovadores que possuam apelo mercadológico serão selecionados e receberão consultoria técnica do Sebrae Minas para a elaboração de estudos de viabilidade técnica, econômica, comercial, social e
ambiental. Dos 20 projetos, nove passarão para
as próximas etapas, que incluem a criação do
protótipo e o desenvolvimento de um plano de
negócios. O PII foi criado pelo Sebrae Minas juntamente com a Sectes-MG, universidades e institutos científicos de Minas Gerais, com o propósito de que pesquisas não ficassem restritas ao
ambiente acadêmico.
60 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
ideias para o seu negócio. Uma delas é a pantufa
thermo-relaxante. “Ela pode ser aquecida no forno micro-ondas e retém o calor por um período
de duas horas”, explica o empreendedor. O segredo está no seu interior: o calçado é preenchido
por sementes de trigo, que permitem a manutenção do calor por um período maior.
O volume de vendas do produto ainda não é
expressivo, mas o empreendedor ressalta que
ele ajuda a reforçar a imagem inovadora da Chinelos Puff. “As pantufas contribuíram positivamente para a imagem da empresa, tornando-se
um atrativo de vendas. Conquistei clientes pela
curiosidade.”
Empreendedores do
Aglomerado da Serra, na
capital mineira, são
orientados a formalizar o
seu negócio, contribuindo
para o fomento da
economia local
Gláucia Rodrigues
Durante 11 dias, o empreendedor e proprietário da Chinelos Puff, em Muriaé, Adão Rúbio, conheceu a capital mundial da moda – Paris, na
França. A viagem fez parte da missão organizada
pelo Sebrae Minas para promover a troca de experiências entre os empresários mineiros e a indústria francesa da moda.
“Visitei centros comerciais, pontas de estoque, lojas, escolas de moda e a feira têxtil Première Vision, uma das principais do setor no mundo,
além de aprender processos importantes, como a
montagem de vitrines. Foi uma grande experiência de imersão”, conta o empresário. Na mala,
Adão Rúbio trouxe da Europa inspiração e novas
Para
começar
bem
Marina Coelho, dona de
uma loja de acessórios, é
uma das 1.200 pessoas
cadastradas no programa
BH Negócios
www.sebraemg.com.br 61
Juliana Flister / Agencia i7
T
Pedro Vilela / Agencia i7
er um CNPJ e poder emitir a própria nota
fiscal eram possibilidades que não passavam pela cabeça de Marina Cândida Coelho. “Para mim, isso era um ‘bicho de sete
cabeças’ e estava muito longe da minha realidade”,
conta. Dona de uma loja de acessórios, ela é uma
das 1.200 pessoas cadastradas no programa BH
Negócios, iniciativa da Federação das Associações
de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
de Minas Gerais (Femicro-MG) em parceria com
o Sebrae Minas, a Prefeitura Municipal de Belo
Horizonte e o Instituto Centro Cape. Lançada em
2011, a ação está promovendo o desenvolvimento
da economia do Aglomerado da Serra, Região
Centro-Sul da capital, por meio da formalização e
do apoio aos empreendedores locais.
A aptidão para o comércio acompanha Marina Coelho desde a sua adolescência. Aos 13 anos,
ela já prestava serviços para um escritório, e bastou um curto período para saber que essa não era
sua vocação. “Fiz um curso técnico em Contabilidade e passei a atuar na área. Mas logo percebi
que não gostava do trabalho, já que preferia vender e conversar com as pessoas”, recorda.
A ideia de montar o próprio negócio surgiu
quando a empreendedora constatou uma carên-
62 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
“A princípio, nós vamos até os
empreendedores para conhecer
a sua situação. Apresentamos as
vantagens de se formalizarem e
explicamos como o
procedimento é feito. A partir
daí, passamos a acompanhá-los
durante o processo de inscrição
no CNPJ” Angelino Petinelli
Moura, agente de
desenvolvimento econômico
“Não achava que tinha perfil de
empresária, mas, depois que
assisti ao vídeo do Sebrae, mudei
minha visão e fiquei animada
novamente” Elzeni Alves Pereira
Reis, proprietária de uma loja de
lingerie
cia presente na região. “Próximo ao Aglomerado
da Serra tem muitas lojas de roupas que vendem
um ou outro acessório, mas ainda não havia uma
que focasse isso”, diz. Logo que soube do BH Negócios, não hesitou em buscar orientação para
pôr o plano em prática. “Quando eu falava com
as pessoas que queria ter uma empresa e me formalizar, era desencorajada. Todos diziam que o
processo era complicado e que iria me trazer problemas. Mas, quando conheci o programa, vi que
ter um CNPJ é muito simples e vantajoso.”
Entre os benefícios da formalização, Marina
Coelho cita a possibilidade de comprar mercadorias
com preços mais atrativos e conseguir empréstimos
em bancos para poder investir no negócio. “Outro
ponto que destaco é o acesso à máquina de cartão de
crédito. Hoje em, dia todo mundo paga com cartão,
e isso não deixa de ser um diferencial da minha loja.”
Acessórios como cintos, relógios, adornos para os cabelos, colares, dentre outros, são comprados duas vezes ao mês em um grande centro comercial de São Paulo (SP). A variedade de produtos também contribui para o aumento da popularidade da loja entre os moradores do Aglomerado da Serra, com um faturamento mensal
em torno de R$ 6 mil. “Esse resultado mostra
que estamos no caminho certo. O BH Negócios é
uma iniciativa-piloto para fomentar a economia
local a partir da qualificação do empreendedor e
de seu negócio”, ressalta o presidente da Femicro-MG, Márcio Kilson.
VISÃO | Para orientar os empresários locais, o BH
Negócios concentra suas atividades no Centro de
Referência de Assistência Social (Cras) do Aglomerado da Serra, localizado na Vila Marçola, uma das
oito que compõem a comunidade. O trabalho é feito pelos agentes de desenvolvimento econômico,
que atuam não só na orientação, mas também na
condução dos processos relacionados à formalização. “A princípio, nós vamos até os empreendedores para conhecer a sua situação. Apresentamos as
vantagens de se formalizarem e explicamos como
o procedimento é feito. A partir daí, passamos a
acompanhá-los durante o processo de inscrição no
CNPJ”, explica o agente Angelino Petinelli Moura.
Assim que se cadastram no programa, os empreendedores recebem o DVD Aprendendo a Empreender, elaborado pelo Sebrae. Com 40 horas de
duração, os vídeos oferecem informações nas áreas
de comércio, serviços, indústria e empreendedorismo. “São apresentadas situações reais relacionadas a esses setores. Depois, o empreendedor
preenche um formulário com suas considerações
e dúvidas e nos envia. Damos o feedback e encaminhamos-lhe o certificado”, explica a analista do Sebrae Minas, Márcia Valéria Cota Machado. “Temos o cuidado de oferecer aos participantes não
apenas a formalização, mas as bases para que eles
entendam e deem continuidade ao negócio de forma economicamente rentável e viável.”
O material didático foi um incentivo para Elzeni Alves Pereira Reis, moradora da Vila Santawww.sebraemg.com.br 63
Juliana Flister / Agencia i7
Juliana Flister / Agencia i7
na do Cafezal. Com 20 anos dedicados à confecção de lingerie, a costureira andou desanimada
com o negócio, que, até então, caminhava na informalidade. “Depois de ficar cinco anos ociosa,
a equipe do BH Negócios me procurou e me incentivou a formalizar o meu empreendimento.
Não achava que tinha perfil de empresária, mas,
depois que assisti ao vídeo do Sebrae, mudei minha visão e fiquei animada novamente.”
A loja, ainda sem nome, foi montada em sua
casa e ganhou cara nova após a formalização. As
araras receberam produtos diferenciados, a máquina de cartão substituiu o caderno de anotações com “as vendas fiadas” e o CNPJ lhe possibilitou comprar tecidos de qualidade superior e
com preços mais baixos. Dado o pontapé inicial,
Elzenir Reis, que trabalha sozinha, agora já pensa
em ampliar o negócio e contratar um funcionário. Outra meta é fazer um curso voltado para o
controle financeiro e a organização das contas.
Esta demanda, de acordo com o agente Angelino, é comum à grande parte dos empreendedo-
Maurício vende 100 espetinhos de churrasco em um dos
pontos mais movimentados da comunidade do Cafezal
64 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
res do Aglomerado da Serra. “Eles não têm muito
controle do que entra e do que sai e acabam não
sabendo a dimensão certa dos lucros. Por isso,
mais que formalizar, buscamos consultorias e indicamos capacitações para suprir essas carências.”
RESULTADOS | A formalização do negócio também ampliou os horizontes de Josiane Alves Pereira e Maurício Souza Silva. Há três anos, o casal
decidiu se dedicar a um estabelecimento próprio.
Mesmo sem experiência no ramo, eles apostaram
na produção e venda de espetinhos e se tornaram
uma referência na comunidade do Cafezal, no
Aglomerado da Serra.
No começo, os churrasquinhos do Maurício
Espetinhos eram vendidos na porta de casa. Hoje,
o casal os comercializa em um dos pontos mais
movimentados da vila e ainda trabalha com teleentrega e venda do espetinho pré-pronto para restaurantes e eventos particulares. “Depois que formalizamos o nosso CNPJ, pudemos partir para outras áreas e comprar carne de melhor qualidade,
com preços menores. Também construímos nossa
rede de fornecedores fixos, o que torna o negócio
mais fácil e ágil”, comenta Josiane Pereira.
Por dia, o Espetinho do Maurício vende cerca
de 100 churrasquinhos, a R$ 2,50 cada, mas o número chega a 250 dependendo do período do ano.
Para atender aos pedidos feitos pelo telefone, o casal acaba de adquirir uma moto, financiada com
empréstimo do Programa Nacional do Microcrédito (Crescer), apresentado pelos agentes do BH
Negócios. Com o CNPJ em mãos, o casal também
tratou de comprar uma máquina para vendas com
cartão, o que impulsionou o comércio de espetos
pré-prontos para outros estabelecimentos.
Em 2012, Josiane e Maurício romperam os limites do Aglomerado da Serra. Por meio de um
convite, eles conseguiram espaço para montar
uma barraca durante o Savassi Festival, tradicional
evento de jazz realizado no bairro nobre da capital
mineira. Para Josiane Pereira, poder atender outro
tipo de público, além de ser uma forma de divulgação, é um estímulo ao aperfeiçoamento contínuo. “Depois que participamos deste evento, fomos contratados para festas particulares e começamos a pesquisar novos produtos e cardápios. Isso está me motivando a buscar um curso de gastronomia e a querer crescer cada vez mais.”
Para abrir sua loja, Kátia Moreira se capacitou em cursos com foco no empreendedorismo
INCENTIVO | O programa BH Negócios, além de versificação de seus produtos. O objetivo é expanincentivar o empreendedor a buscar a formalidade do negócio, se tornou um ponto de referência
para os empresários que querem aperfeiçoar e expandir o empreendimento, como é o caso de Kátia Barros Moreira. Depois de ser funcionária em
diversas lojas, ela percebeu que tinha potencial
para assumir o papel de proprietária. “No meu último trabalho, os patrões tinham muita confiança
em mim, e eu acabei desempenhando funções da
dona do estabelecimento. Foi nessa época que
pensei: se tenho condições de fazer isso e ganhar
como funcionária, é melhor ter o meu negócio.”
Em abril de 2012, Kátia Moreira abriu a loja de
presentes Habytós, na Vila Nossa Senhora de Fátima. “Foquei esse ramo por ser algo que a região
ainda não oferecia.” Por conta própria, ela pesquisou quais os requisitos necessários para se formalizar, se registrou e se capacitou em cursos com foco
no empreendedorismo. “Só pelo Sebrae Minas foram 15 cursos online”, recorda. Ela também se matriculou em um de coaching para começar a prestar
consultoria a outras pessoas do Aglomerado da Serra. No futuro, pretende contratar um funcionário.
Para atrair a clientela, a empresária prioriza a di-
BH NEGÓCIOS EM NÚMEROS*
dir o negócio, que, atualmente, tem faturamento
de R$ 1.500, em média, com a venda de brinquedos, porta-retratos, acessórios, roupas, adornos para
a casa, dentre outras peças úteis para dar de presente. Contudo, mesmo estando preparada, sempre
surgem algumas dúvidas, que Kátia Moreira esclarece com a equipe do BH Negócios. “É muito bom
contar com essa orientação, porque não me sinto
sozinha e permaneço motivada, mesmo nos meses
em que o movimento é mais fraco.”
MOBILIZAÇÃO MOVIMENTA
COMUNIDADE
Como parte das atividades do BH Negócios, o Sebrae Minas vai promover, nos dias 24 e 25 de julho, em Belo Horizonte, uma série de palestras, oficinas e consultorias
gratuitas aos empreendedores e interessados em abrir
o próprio negócio. O Sebrae em Ação será realizado na
Praça do Cardoso, onde haverá um espaço com cinco salas e um auditório. Serão abordados desde temas gerais,
como formalização e atendimento ao cliente, até tópicos
específicos para os segmentos mais expressivos na região do Aglomerado da Serra, como beleza e alimentos.
*Referentes a 2012
1.136 958 904 783 406 647 423
EMPREENDEDORES EMPREENDEDORES
VISITADOS
CADASTRADOS
VISITAS
DEVOLUTIVAS
VISITAS-RETORNO EMPREENDEDORES EMPREENDEDORES
CAPACITADOS
FORMALIZADOS
ATENDIMENTOS
INDIVIDUAIS
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CRÉDITO
Crédito para
crescer
Oficina prepara empreendedores
a identificar como, onde e quando
podem buscar recurso financeiro
Não há como um negócio prosperar e expandir sem investimento. No entanto, as micro e pequenas empresas ainda têm dificuldade para
acessar o crédito, em razão da burocracia e da falta de informação.
Para mudar esse cenário, o Sebrae Minas elaborou a oficina Plano de Acesso a Crédito para sua
Empresa com o objetivo de ensinar os empreendedores a identificar como, onde e quando podem ter acesso aos recursos. “A iniciativa educa
financeiramente o empresário para ele saber
quanto, quando e o que precisa para investir em
seu negócio”, explica o analista do Sebrae Minas,
José Márcio Martins.
A primeira etapa da oficina – a mais importante – trata de gestão. Nessa fase, o empreendedor é
incentivado a questionar as práticas adotadas no
dia a dia da empresa. “Antes de ir atrás das instituições financeiras, o empresário precisa entender se
é realmente necessário recorrer ao crédito”, alerta
o analista do Sebrae Minas, Clayton Albuquerque.
“É muito comum que ele contraia dívidas para sanar problemas relacionados à gestão do seu negócio. Corrigir os erros pode salvar a empresa ou eliminar a necessidade de crédito”, completa.
Em seguida, o empreendedor é apresentado a
algumas práticas e ferramentas fundamentais que
vão auxiliá-lo na rotina administrativa, como o
fluxo de caixa. A finalidade principal é controlar
a entrada e a saída de dinheiro da empresa, mas
uma análise um pouco mais aprofundada permite
verificar se os recursos financeiros são suficientes
para a manutenção do negócio, se o recebimento
das vendas cobre os gastos e se a empresa trabalha
com folga ou aperto financeiro.
Outro instrumento de gestão abordado no curso, e também na cartilha, é o Demonstrativo de
Resultado Gerencial – um resumo ordenado das
receitas e despesas. Com ele, é possível ver os números do negócio durante um período determinado. Há, ainda, na cartilha, uma lista com uma
série de problemas gerenciais e possíveis soluções.
O empreendedor Airton Lima só conseguiu
identificar os erros cometidos em dois negócios –
que não deram certo – depois de participar da oficina. “Hoje, eu faço contas para ver o que é mais
vantajoso. Antes me preocupava apenas com o valor da prestação. Não havia nenhum planejamento, trabalhava pensando no próximo mês”, lembra.
Airton cometeu o erro mais comum entre os empreendedores iniciantes: a falta de planejamento.
Por isto, antes de avançar em busca do crédito,
para financiar uma expansão ou um investimento, é preciso se planejar. O empreendedor precisa
ter clareza e conhecer profundamente os números atuais de seu negócio para traçar os objetivos
do plano de investimentos.
Airton Lina aprendeu que o planejamento é a
chave para o sucesso. Hoje ele é um dos proprietários da AS Tecnologia, que comercializa computadores e softwares no Norte de Minas Gerais.
Atualmente, a empresa tem 180 clientes em cinco munícipios, mas o empreendedor já planeja
expandir o negócio. “Terei que recorrer ao crédito para poder crescer. Nesse ponto, vou começar
a construir o meu plano de investimentos.”
E ele não é pequeno. Airton Lima pretende fechar o ano de 2014 atendendo 300 clientes de
nove cidades, número quase 70% maior que o
atual. Para isso, está presente, em seu planejamento, a aquisição de mais um veículo comercial, treinamento dos funcionários e a contratação de, pelo menos, mais quatro.
Depois de reorganizar as finanças e elaborar
um plano de investimento, é chegada a hora de
buscar o crédito. Para conseguir taxas de juros
mais atraentes e prazos condizentes com o negócio, é preciso desenvolver um bom relacionamento com as instituições financeiras. A movimentação de uma conta corrente empresarial, a
pontualidade com os compromissos e a utilização de produtos financeiros ajudam na construção do bom relacionamento.
Para conseguir taxas mais baixas, os empreendedores também devem dedicar um tempo à pesquisa. “Geralmente, eles não pesquisam quais as
linhas de crédito disponíveis no mercado”, conta
Leonardo Oliveira, analista do Sebrae Minas. Ele
explica também que é possível encontrar várias
linhas voltadas para investimentos específicos.
“Algumas têm condições bem atrativas, e muitos
empreendedores desconhecem.”
INFORME-SE
Acesse o site do Sebrae Minas (www.sebraemg.com.br) e
saiba onde e quando vão ocorrer as próximas oficinas
Plano de Acesso a Crédito para sua Empresa.
SIGA OS PASSOS
Cláudio Duarte
1
Reflita sobre as práticas
gerenciais da empresa.
Quando usado para cobrir
gastos decorrentes de uma
administração inadequada, o
crédito tende a piorar a
situação.
66 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
2
Faça o diagnóstico das contas
da empresa. Use ferramentas
de controle gerencial, como o
fluxo de caixa, para saber
como anda a saúde financeira
de seu negócio. A biblioteca
do site do Sebrae Minas
possui várias cartilhas sobre
como usar e implantar essas
ferramentas.
3
Use o diagnóstico
para corrigir os erros.
4
Planeje. Elabore um plano de
investimentos que indique onde,
como e quando a empresa vai
atingir as metas propostas.
5
Procure as instituições financeiras.
Faça pesquisas em diferentes
bancos, compare as taxas e saiba
quanto, realmente, vai pagar de
juros. O bom relacionamento com
o banco e a reputação da empresa
no mercado contribuem para o
crescimento dos negócios.
www.sebraemg.com.br 67
Fotos: Bernardo Salce / Agencia i7
ENTREVISTA
C
om apenas 30 anos, Gustavo Caetano,
mineiro da cidade de Araguari, acumula a função de CEO da Samba
Tech, uma das mais bem-sucedidas
startups digitais do país, e de presidente da Associação Brasileira de Startups. Formado
em Marketing pela ESPM, Gustavo Caetano ainda era estudante quando decidiu abrir a Samba
Mobile em 2004, uma revendedora de jogos para
celular, em parceria com a Brainstorm, na Inglaterra. Em 2008, resolveu mudar o rumo dos negócios e investir em uma tecnologia de distribuição de vídeos online, que hoje é a Samba Tech.
Esta capacidade de enxergar uma oportunidade e criar uma solução para atender a uma demanda bem antes dos outros ajudou o jovem empresário a se tornar uma referência nacional em
empreendedorismo e inovação. Com vários prêmios na prateleira, Gustavo Caetano também estudou inovação no Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT) e na Gerência de Produtos
no Vale do Silício, com o fundador do Netscape.
Disseminador de estratégias para startups, o
empreendedor ministra palestras sobre o assunto em diversas cidades do país e apoia projetos
que nascem dentro de sua própria empresa. Nesta entrevista para a revista Passo a Passo, Gustavo Caetano fala sobre a sua trajetória, o segredo
para se criar e manter uma startup de sucesso e
o mercado brasileiro em empreendimentos de
economia criativa.
A inovação de
cada dia
Mesmo sem formação em tecnologia,
Gustavo Caetano fundou a maior
distribuidora de vídeos online
do país. O segredo: enxergar
as oportunidades
68 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
O que levou você a ser um empreendedor?
Eu ainda estava na faculdade quando surgiu a
oportunidade. Trabalhava em uma empresa que
vendia seguros de saúde e comprei um celular
colorido. Na época, quando quis adquirir jogos
online para colocar no aparelho, percebi a falta
de oferta deste tipo de recurso. Foi esta demanda
por jogos de celular que me fez criar a Samba
Mobile em 2004. Eu decidi montar a empresa,
consegui um investidor-anjo, fiz parcerias internacionais, e as coisas foram acontecendo.
Você não tem formação em Tecnologia. Isso
foi um empecilho para montar a empresa?
Não. De forma alguma. O que eu achei interessante neste caso foi que a minha formação em
“É necessário apresentar um
projeto, um plano de negócios
bem construído ou mesmo um
protótipo, pois o investidor-anjo
não tem condições de bancar a
sua ideia sem garantias”
Negócios é que me fez enxergar melhor os problemas que a tecnologia poderia solucionar. Muita gente acha que é necessário ter o conhecimento técnico, mas a verdade é que enxergar o problema e, a partir dele, encontrar a solução é o
mais importante. Graças a minha formação em
Negócios, eu tenho esta capacidade de perceber
as oportunidades.
Em que momento você percebeu que o negócio da Samba Tech iria dar certo?
Foi ainda na Samba Mobile, com os jogos para
celular. A Samba era apenas revendedora de uma
empresa inglesa, e a tendência era que as pessoas
comprassem os jogos diretamente nas operadoras.
O cenário estava transformando. Então, em 2008,
mudamos o rumo. Decidimos oferecer ao mercado todo o processo de transmissão e armazenamento de vídeos pela internet. Hoje, conquistamos grandes empresas, como TV Globo, SBT, Grupo Abril, O Boticário, Samsung, TIM Brasil e
Anhanguera. Elas perceberam como o vídeo é importante na comunicação. Ficou bem mais fácil
produzi-los, e a Samba Tech ajuda a distribuí-los.
Apesar de ter grandes clientes, a Samba Tech
mantém uma estrutura bem enxuta, com 80
profissionais ao todo. A intenção é continuar
assim ou crescer?
Queremos crescer ainda mais. No final deste
ano, nossa expectativa é de termos uma equipe
de 100 profissionais. Além disso, a Samba Tech
www.sebraemg.com.br 69
apresentar um projeto, um plano de negócios
bem construído ou mesmo um protótipo, pois o
investidor-anjo não tem condições de bancar a
sua ideia sem garantias.
Por que você escolheu Belo Horizonte para
montar o seu negócio?
Sou de Araguari, no interior de Minas Gerais, e
estudei no Rio de Janeiro. Eu escolhi Belo Horizonte porque precisava fazer o capital inicial render. Queria montar a empresa em uma cidade com
mão de obra qualificada e custo de vida razoável.
não é apenas uma, mas três empresas. As ideias
empreendedores que nascem dentro da nossa
equipe têm espaço para se tornarem negócios
próprios, como foi o caso da Samba Ads. Hoje,
ela é uma empresa independente, que vende publicidade online nos vídeos transmitidos. Esse é
um exemplo de como investimos nas ideias que
nascem dentro do nosso grupo.
Hoje, você trabalha como um investidor-anjo
ou ainda pretende atuar? Como vê esse personagem dentro de um empreendimento?
Não atuo como investidor-anjo para projetos
de fora da Samba Tech. Nós investimos nas ideias
que vêm de dentro da empresa. Mas o papel do
investidor-anjo é crucial para uma startup hoje no
Brasil e no mundo. Não adianta um empreendedor ter uma ideia se não tem capital para começar o seu negócio. Veja o meu exemplo. Eu estava
na faculdade e fazia estágio. Neste cenário, sem
um investidor-anjo, nunca teria chance. Meu pai
me apresentou a um amigo, empresário de Florianópolis (SC), que me deu o primeiro aporte de
R$ 100 mil para começar a Samba Tech. Mas é
importante lembrar que não adianta nada ter
uma boa ideia, sem preparação. É necessário
70 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
“A Samba Tech atraiu profissionais
bem qualificados e conta com
tecnologia de ponta. Isso faz
toda a diferença. Acho que o
nosso maior diferencial é que
pensamos globalmente.
Pensamos para fora, ampliamos
nosso pensamento”
A cidade tem condições de se tornar um polo
de tecnologia?
Belo Horizonte tem, sim, grandes chances. A
cidade possui um ecossistema muito bom para
empresas digitais e conta com várias outras startups que deram certo, como o Buscapé, que já investiu em uma empresa por aqui. Além disso,
conta com muitos profissionais qualificados querendo trabalhar no município, dotados de muita
força de vontade. Coisa que não é muito fácil, admito. Imagina sair de uma grande empresa para
ir trabalhar em uma com apenas três funcionários. Tem que ter força de vontade. E isso, BH
tem de sobra.
Em sua área, especialmente, é preciso saber
inovar. Como a Samba Tech faz para estimular
a criatividade em sua equipe?
A Samba Tech já ganhou vários prêmios de
inovação no Brasil, na China e nos Estados Unidos. O que fazemos para estimular a inovação?
Acreditamos em nossos profissionais e em suas
habilidades. Temos um programa interno que se
chama Hack Week, em que uma equipe multidisciplinar pode desenvolver um projeto. Vale tudo:
um produto, um sistema ou um serviço. Os profissionais têm uma semana para criar e desenvolver a ideia e, depois, apresentar para uma banca
de avaliadores formada por representantes de outras empresas, do Google e de parceiros. O bacana é que a criação não precisa estar necessariamente ligada a um negócio. O Samba Ads nasceu
de um Hack Week, mas temos exemplos de projetos que apenas melhoraram o dia a dia do escritório. Por exemplo, a sede da Samba Tech fica na
região da Pampulha, e temos poucas opções de
restaurante para almoçar. Uma equipe criou um
robô que faz os pedidos de almoço para toda a
empresa. Funciona assim: o usuário escolhe o
que quer, marca no robô, e ele faz a solicitação
automaticamente. Este é um exemplo de inovação que não se tornou um produto, mas sim uma
melhoria em nosso dia a dia.
Como avalia o mercado brasileiro dentro da
perspectiva de economia criativa?
O que tenho visto é que o Brasil está crescendo muito neste setor, principalmente, na descentralização geográfica dos projetos. Vejo muitas
startups nascendo fora do eixo Rio-São Paulo, como em Recife e Porto Alegre. O governo federal
está se movimentando neste sentido. Recentemente, a presidenta Dilma Rousseff criou um
programa de incentivo a startups, chamado StartUp Brasil, em que a principal discussão é o papel
das aceleradoras no amadurecimento das empresas. Como é o caso do Sebrae, que dá o suporte
necessário ao empreendedor brasileiro. As aceleradoras dão a base necessária para o sucesso de
um negócio, pois apenas tecnologia ou talento ou
uma boa ideia não são o suficiente. O Brasil vem
evoluindo bem neste cenário.
Quais são as vantagens que a Samba Tech tem
em relação a outras startups no Brasil e no
mundo?
A Samba Tech atraiu profissionais bem qualificados e conta com tecnologia de ponta. Isso faz
toda a diferença. Acho que o nosso maior diferencial é que pensamos globalmente. Pensamos
para fora, ampliamos nosso pensamento. Temos
muitas parcerias internacionais estratégicas, como, por exemplo, com o MIT, uma das mais importantes instituições do mundo, que escolheu a
Samba Tech para participar de um programa que
leva estudantes de MBA da instituição para dentro da empresa uma vez ao ano.
Você já se sente realizado? Ou ainda quer conquistar mais?
De forma alguma. Tenho apenas 30 anos e
quero conquistar muito mais. Meu plano é mudar
a cabeça de uma geração inteira. Faço muitas palestras por todo o mundo e sempre falo da necessidade de pensar grande, ir além e querer mais.
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Mauro Marques
Mauro Marques
TURISMO DE NEGÓCIOS
Nova rota
Com a profissionalização do
setor de turismo de negócios,
Uberlândia e Juiz de Fora
contam com eventos de
pequeno e grande porte
para os próximos anos
A meta para 2013,
segundo Luiz Gustavo
Fernandes, é captar
20 eventos em
Uberlândia
72 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
H
ospitalidade, boa infraestrutura, localização privilegiada e oportunidades
de negócios são características de cidades com vocação para o turismo de negócios e eventos, um dos segmentos mais recentes e lucrativos da atividade turística. Mas essas
características são suficientes para atrair pessoas
e atender às expectativas de um público tão diferenciado e criterioso?
A experiência vivida por empresários de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, mostra que também
é importante pensar no perfil do turista e na organização do destino. Isso para transformar a vocação da cidade em uma atividade estruturada, capaz
de beneficiar a economia da região. Com modernos centros de convenções, o segundo maior parque hoteleiro de Minas Gerais – com aproximadamente cinco mil leitos em todas as categorias – e
dois grandes complexos esportivos, Uberlândia
possui uma estrutura capaz de receber eventos de
pequeno, médio e grande porte. A avenida Rondon
Pacheco, um corredor gastronômico com diversos
tipos de restaurantes, oferece opções de alimentação para todos os gostos e exigências.
Empresas especializadas na prestação de serviços e produtos também não faltam no município, e sua localização estratégica é outro ponto a
favor – em um raio de 600 quilômetros, estão as
principais capitais do Brasil. “Com sua grande diversidade econômica e característica empreendedora, Uberlândia atrai grandes oportunidades,
o que contribui para o fomento do turismo de negócios e eventos”, explica Luísa Vidigal, analista
do Sebrae Minas em Uberlândia.
Para ela, no entanto, faltava organizar e capacitar
a cadeia produtiva ligada ao segmento com uma estratégia sólida, capaz de sustentar um fluxo permanente de novos empreendimentos. O Projeto Turismo de Negócios e Eventos do Sebrae Minas, realizado,
desde 2009, em parceria com o Uberlândia Convention & Visitors Bureau e a Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Econômico e Turismo de Uberlândia, tem contribuído para a definição das estratégias de qualificação do empresariado local.
De acordo com Nayara Bernardes, analista do
Sebrae Minas, Uberlândia e Juiz de Fora foram
definidos como dois dos destinos prioritários para
a implantação da iniciativa justamente por possuírem um histórico de realização de grandes acon-
“Já estou aplicando alguns
conhecimentos com a equipe,
ensinando às atendentes os
fundamentos da atuação no
setor de captação e realização de
eventos” Lilian Curcino,
empresária e membro da
Comissão de Captação de
Eventos
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Mauro Marques
Mauro Marques
tecimentos direcionados ao fomento de novos negócios. “Tentamos organizar uma governança que
inclui iniciativa privada, poder público e as entidades empresariais, para que eles possam se articular e conseguir captar mais eventos”, explica.
O projeto começa com uma análise de mercado para identificar as prioridades e características
principais das atividades adequadas para o perfil
da cidade. Depois são formados grupos locais de
trabalho, que passam por uma capacitação sobre
o segmento. Essa rede é composta por empresários das áreas de alimentação, hotelaria, organização e espaço para eventos e prestação de serviços. São identificados, então, os chamados “embaixadores” – profissionais, empresários ou líderes reconhecidos em suas respectivas áreas de
atuação. São porta-vozes capazes de influenciar
seus colegas de associações, setores econômicos
ou meios universitários, na promoção de uma cidade como sede de conferências, congressos,
convenções, exposições, assembleias gerais, reuniões e outros grandes acontecimentos.
“O objetivo é elevar o número de eventos captados nos destinos, a fim de ampliar os negócios, distribuindo as oportunidades entre as empresas da cidade e consolidando a imagem do local como destino turístico de negócios e eventos. O ideal é que os
espaços sejam utilizados 100% do tempo, com cada
vez menos períodos de ociosidade, como já acontece em cidades como São Paulo”, pontua Nayara Bernardes. Os benefícios para a região são expressivos
- toda a cadeia produtiva cresce e se desenvolve.
CAPTAÇÕES DÃO RESULTADO | Desde 2012, a
fase de captação tem sido o foco principal do projeto Turismo de Negócios e Eventos em Uberlândia,
e os resultados já começaram a aparecer. O processo de captação de um evento até a sua realização pode ultrapassar dois anos. Por isso, a agenda
na cidade, até 2015, já começou a ser preenchida.
A Comissão de Captação de Eventos, formada
por 15 empresários uberlandenses e coordenada pelo Uberlândia Convention & Visitors Bureau, possui
uma lista de 70 eventos potenciais para o município
e conseguiu captar, efetivamente, seis eventos nos
últimos quatro meses. Congressos e seminários, que
vão da área de saúde até o ramo de ensino, de pequeno (até 500 pessoas) e grande porte (mais de mil
convidados), serão realizados entre 2013 e 2015.
74 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
alguns conhecimentos com a equipe, ensinando
às atendentes os fundamentos da atuação no setor de captação e realização de eventos”, relata.
Outro benefício do engajamento dos empresários é o próprio contato com o cliente organizador do evento, informa Lilian Curcino. “Quando visitamos os organizadores desde o início, eles
já nos conhecem e acabam nos procurando como
prestadores de serviços.”
Uberlândia Convention & Visitors Bureau tem estrutura e
tecnologia para receber os maiores eventos da cidade
O maior desses encontros previstos será o
Congresso Brasileiro de Informática na Educação,
daqui a dois anos, com previsão de público de 1,5
mil pessoas. A iniciativa busca promover e incentivar as trocas de experiências entre as comunidades científica, acadêmica, profissional, governamental e empresarial na área de Informática na
Educação, em nível nacional e internacional.
Presidente do Uberlândia Convention & Visitors
Bureau e um dos empresários participantes do projeto, Luiz Gustavo Fernandes explica que a meta
para 2013 é que sejam captados 20 eventos. Segundo ele, em 2009, a cidade sediou 12 congressos e seminários. “Nos anos anteriores, as captações eram
trabalhadas apenas pelo bureau e o Center Convention, maior espaço de eventos do município. Com a
criação da comissão, essa realidade mudou, por isso
temos uma expectativa maior”, destaca.
E muito se deve à implantação do projeto do
Sebrae Minas, responsável por munir o empresariado local de um know-how que está se revelando essencial na sustentabilidade do segmento.
“Anteriormente, a captação era feita com base no
feeling, na experiência do executivo. Agora, estamos treinando equipes, profissionalizando o empresariado e difundindo o conhecimento das técnicas de captação para, verdadeiramente, dar
continuidade à atividade”, observa Luiz Gustavo.
O compartilhamento do aprendizado, aliás, é
uma das tendências deste processo. Segundo a
empresária Lilian Curcino, que também faz parte
da Comissão de Captação de Eventos, as técnicas
aprendidas estão sendo usadas também em sua
empresa, que tem atuação no ramo de aluguel de
equipamentos tecnológicos. “Já estou aplicando
IMPACTO ALÉM DO SEGMENTO | A qualificação do empresariado ligado ao turismo de negócios
e a conscientização sobre a vocação da cidade para
o setor começaram a despertar o interesse de diversas entidades e segmentos. É o caso das escolas de
inglês e de outros centros de capacitação em Uberlândia, conforme cita a empresária e diretora da Comissão de Captação de Eventos, Mara Rúbia Gama.
“A iniciativa estimulou outras ações. Na área de
serviços, os profissionais que lidam com atendimento ao público estão buscando se qualificar. Existe
uma mobilização perceptível nesse sentido. A cidade sente que precisa se preparar. Estrutura nós já temos, agora precisamos capacitar as pessoas para receber os grandes eventos”, observa Mara Gama, que
atua, há 12 anos, no setor.
Para a diretora de Desenvolvimento de Turismo
da Secretaria de Desenvolvimento e Turismo de
Uberlândia, Marise Carrijo, as perspectivas da parceria com o Sebrae Minas e o Uberlândia Convention & Visitors Bureau são animadoras para o município, que, segundo ela, já concorre com localidades
como Brasília e Belo Horizonte na atração de feiras,
congressos e exposições. “Temos mão de obra capacitada, equipamentos de qualidade e grandes espaços, com boa estrutura. Essa união fortalece a economia local e regional, pois, além de estimular os
negócios envolvidos diretamente, a atividade permite criar roteiros turísticos no entorno, fomentando também o turismo de lazer”, avalia.
De acordo com Luísa Vidigal, a continuidade no
trabalho será essencial para sustentar o incremento
na qualificação do empresariado e a atração de negócios e eventos. “Este ano, iremos priorizar atividades que contemplem organização de eventos técnicos – científicos, capacitação gerencial, seminário
com foco nos grandes eventos esportivos esperados,
como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de
2016, e consultoria tecnológica”, finaliza.
“Existe uma mobilização perceptível
nesse sentido. A cidade sente que
precisa se preparar. Estrutura nós
já temos, agora precisamos
capacitar as pessoas para receber
os grandes eventos” Mara Gama,
empresária e diretora da Comissão
de Captação de Eventos
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Divulgação Expominas de Juiz de Fora
COMISSÃO DE
CAPTAÇÃO DE EVENTOS
Juiz de Fora: 10 membros
Uberlândia: 15 membros
EVENTOS JÁ CAPTADOS
EM UBERLÂNDIA
Simpósio Hemominas de Transfusão Sanguínea 2013
Local: Center Convention
Expectativa de público: 400 pessoas
Congresso Brasileiro de Custos 2013
Local: Universidade Federal de Uberlândia Campus Santa Mônica
Expectativa de público: 400 pessoas
Congresso Nacional de
Engenharia Mecânica 2013
Local: a definir
Expectativa de público: 1.000 pessoas
Congresso Brasileiro de
Engenharia Biomédica 2014
O Expominas de Juiz de Fora tem capacidade para receber 13 mil pessoas, 1.100 veículos e até seis eventos distintos
Local: Center Convention
Expectativa de público: 1.000 pessoas
Destino diferenciado
Além da posição privilegiada da cidade, próxima ao Rio de Janeiro e São Paulo, o Expominas de
Juiz de Fora – com capacidade para 13 mil pessoas, 1.100 veículos e a opção de realizar até seis
eventos distintos – foi um dos aspectos que levaram o Sebrae Minas a escolher a cidade como um
dos destinos prioritários para a implantação do
projeto Turismo de Negócios e Eventos. “O ponto de
partida foi uma iniciativa estruturadora do Governo do Estado que envolve cidades onde já existia
um fluxo natural de eventos e negócios”, explica
Nayara Bernardes, analista do Sebrae Minas.
Uma profusão de outros espaços com capacidades que variam de 200 a 5 mil convidados, e
perfil adaptável a feiras, congressos, seminários
e exposições, apenas reforça o potencial de Juiz
de Fora para atividades ligadas ao segmento.
Por isso, o processo de diagnóstico deste cenário, treinamento e capacitação, formação de
uma rede de empresários e captação de eventos
seguiu, na cidade, o mesmo roteiro vivenciado
em Uberlândia.
Segundo o analista do Sebrae Minas, Gustavo
Magalhães, os esforços já resultaram em um encontro estratégico para 60 “embaixadores” – pes76 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
soas ligadas à organização dos eventos, identificadas como sendo influenciadoras no processo
de escolha dos destinos. Em junho, um novo encontro semelhante será realizado em São Paulo.
“Após capacitar e estruturar a rede de empresários ligados ao turismo de negócios na cidade, estamos articulando outras visitas a professores,
empresários e organizadores de eventos, dando
início ao processo de captação. Estamos prontos”,
destaca Gustavo Magalhães.
Segundo ele, a rede de empresários é heterogênea, sendo composta por representantes de todo o trade da cadeia turística, e se beneficia da
troca de experiências e de aprendizados cruciais
para a gestão de seu próprio negócio. “Para captar um evento nacional, internacional ou regional, além da boa apresentação da capacidade do
município, é preciso que as empresas demonstrem a solidez necessária para recepcionar este
turista”, detalha.
Em Juiz de Fora, o processo de capacitação
transcorreu até o final de 2012, e a própria organização do encontro com os “embaixadores”, para apresentar os atrativos da cidade, revelou-se
um teste para os empresários envolvidos. Foram
Simpósio Brasileiro de
Ensino de Física 2015
convidados membros da comunidade técnicocientífica, sociedades médicas e entidades de
classe de diversos segmentos considerados referências em seus setores.
Este ano, o grupo composto por 10 empresários prevê, ainda, a participação em feiras de turismo de negócios em outras cidades brasileiras.
Segundo o analista, Juiz de Fora, por todas as
suas características, tem boas perspectivas neste
setor. “Eventos de pequeno e médio porte estão
se deslocando para centros menores, em função
de uma disputa de espaço com os grandes eventos nas capitais. Os congressos técnico-científicos, por exemplo, começam a migrar para o interior”, explica.
Este movimento se traduz em mais benefícios
tanto para cidades como Juiz de Fora quanto para
os organizadores e participantes deste negócio.
“Os prestadores de serviços têm custos mais
acessíveis, e o público ganha um atendimento diferenciado à medida que o evento gera um interesse maior da comunidade em geral”, observa
Gustavo Magalhães. Juiz de Fora já é destino permanente de encontros de saúde, agropecuária,
moda, gastronomia e de estudantes.
Local: a definir
Expectativa de público: 500 pessoas
Congresso Brasileiro de
Informática na Educação 2015
Local: a definir
Expectativa de público: 1.500 pessoas
EVENTOS JÁ CAPTADOS
EM JUIZ DE FORA
■ Salão do Imóvel de JF e Feirão Caixa da
Casa Própria: 18 e 19 de maio
Local: La Rocca
Expectativa de público: 20.000 pessoas
■ Liquida Moda Inverno: 04 a 07 de julho
Local: La Rocca
Expectativa de público: 5.000 pessoas
■ É Festa: 30 e 31 de agosto e 1º de setembro
Local: La Rocca
Expectativa de público: 6.000 pessoas
■ Fashion Days Kids: 05 e 06 de outubro
Local: La Rocca
Expectativa de público: 10.000 pessoas
■ Feira do Estudante: 24, 25 e 26 de outubro
Local: La Rocca
Expectativa de público: 5.000 pessoas
■ Liquida Moda Natal: 28, 29, 30 de novembro e
1º de dezembro
Local: La Rocca
Expectativa de público: 35.000 pessoas
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CONSULTORIA
O
primeiro passo para a escolha do nome
de uma empresa, assim como para a concepção do negócio, é ter uma definição
clara de qual é o segmento de atuação, nicho de
mercado, valores, diferenciais e público-alvo. Essas questões precisam constar na elaboração do
plano de negócios do novo empreendimento,
pois trazem direcionamentos importantes para a
definição do nome – o qual deve transmitir os valores e diferenciais da empresa e dialogar de forma clara com o público-alvo.
Empreendimentos com foco em segmentos
populares, com nomes na língua nativa e que trazem clara referência ao segmento de atuação tendem a apresentar a empresa e seu negócio de forma simples e direta, facilitando a compreensão
do público sobre a atividade, produtos e serviços.
Essa estratégia também se mostra válida para
quem atua no varejo, como drogarias e empresas
do ramo de eletros, nos quais a comunicação deve gerar estímulos de compra imediata. Para esse
perfil de negócio, é importante escolher um nome que seja capaz de transmitir e reforçar uma
mensagem mais direta e objetiva possível.
No caso de empresas que atuam junto a públicos mais elitizados ou têm produtos e serviços
com ritos de consumo estimulados por status e
estilo de vida (alimentação saudável, fitness, estética, sustentabilidade), nomes lúdicos e que exploram os conceitos e diferenciais são bem-aceitos. Para esses negócios, expressões e palavras em
outros idiomas também corroboram para a diferenciação da marca, como as expressões “gour78 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
met” e “fit”, muito exploradas em nomes de empresas ligadas à área de alimentação e saúde.
Os novos empreendedores também devem ficar atentos a questões legais. É importante pesquisar a disponibilidade do nome escolhido junto
ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(INPI), nas juntas comerciais em todos os estados e no Registro.br (vinculado ao Comitê Gestor
da Internet no Brasil – CGI.br). Após essa checagem, basta providenciar o registro do nome e da
marca no INPI. Há empresas especializadas que
podem ajudar nessa empreitada.
Por fim, a marca precisa se tornar conhecida
e, a partir daí, cuidar bem de sua imagem. Para
isso, o nome e a marca do empreendimento devem estar sempre acompanhados de boas estratégias de marketing, divulgação e de uma reputação baseada no bom atendimento e no respeito
aos consumidores e aos valores da empresa.
Fonte: Bruno Gressi Campos –
diretor de Atendimento da Inovate
Inteligência em Comunicação
Como divulgar seu negócio?
S
ão muitas as opções para dar visibilidade a
uma empresa no mercado. O segredo é não
errar no momento da divulgação, seja no
formato da mensagem, seja na escolha do veículo
de comunicação. A definição exata do público
que se pretende atingir, aliada a um objetivo claro a ser alcançado, também é fundamental para
o sucesso de qualquer ação de divulgação.
É necessário planejar todas as etapas do processo de propaganda. Inicialmente, por exemplo,
é importante definir a verba disponível e decidir
qual o momento exato para dar início ao processo.
Muitas empresas gastam recursos preciosos
com ações malsucedidas, podendo até mesmo
causar um impacto negativo na imagem institucional. Quando algo dessa natureza acontece, é
possível concluir que não houve um planejamento criterioso ou que ocorreram falhas na implementação das ações. Atitudes pontuais, como
distribuição de panfletos e carros de som, realizadas de forma isolada, demonstram resultados
restritos, com retorno próximo a 1% em incremento de vendas.
Os meios de divulgação vão desde o panfleto,
o flyer, o backbus – conhecido como traseira de
ônibus –, o outdoor e a mídia indoor até TVs, jornais, sites, blogs e mídias sociais. Todos podem
gerar bons resultados em visibilidade institucional ou alavancagem de vendas. No entanto, é preciso avaliar qual o veículo mais adequado para
atingir o objetivo que se pretende.
O ideal é trabalhar com um planejamento semestral ou anual, evitando ações de última hora
que não ganham expressão no mercado, não geram
positivação de receita de vendas ou não consolidam
a marca da empresa do ponto de vista institucional.
Hoje, os meios digitais, como a internet, são
bastante relevantes. Um site de fácil navegação,
contendo, por exemplo, testemunhos autorizados
de clientes satisfeitos, vídeos informativos de curta
duração e uma boa dose de criatividade costuma
causar bastante impacto e chamar a atenção do
cliente ávido por novidades e experiências de compras. Existem, ainda, ferramentas de otimização
de busca, como o Google Adwords e outros, que facilitam o acesso ao seu site no mundo virtual.
Mídias sociais, desde que bem-administradas,
podem gerar grande volume de acessos e negócios
lucrativos e com grande credibilidade. Lojas em
redes sociais já não são novidades. Ainda assim,
muitos lojistas desconhecem que podem contar
com esse recurso para ampliação dos canais de
vendas, a um custo-benefício bastante atrativo.
Fonte: Antônio Augusto Gonçalves de Abreu analista do Sebrae Minas
Cláudio Duarte
Como escolher o nome
da sua empresa?
www.sebraemg.com.br 79
É BOM SABER
Quem são eles?
E
m 2012, o Sebrae atendeu 1,6 milhão de
empresas em todo o Brasil. Desse total, 172
mil foram recebidas pelo Sebrae Minas, que
também marcou o ano com 5409 palestras,
oficinas e seminários para micro e pequenos em-
Conheça os clientes
do Sebrae Minas
presários mineiros, 1098 cursos e 1,38 milhão de
acessos ao portal da entidade. Os empreendedores
procuram o Sebrae Minas não apenas para abrir seu
negócio, mas também para aprimorar ou expandir.
Veja o perfil de alguns deles.
SAIBA MAIS | RESULTADOS SEBRAE MINAS 2012
5.409
PALESTRAS,
OFICINAS E
SEMINÁRIOS
1.098
47.059
CURSOS
61.997
480
16
CONSULTORIAS
MISSÕES E
CARAVANAS
EMPRESARIAIS
RODADAS DE
NEGÓCIOS
13
28
211
FEIRAS
PROMOVIDAS
E OUTRAS
VISITADAS
FEIRAS
PROMOVIDAS
E OUTRAS
PARTICIPANTES EM
CURSOS, OFICINAS
E PALESTRAS
www.sebraemg.com.br 81
NÚMERO DE EMPRESAS
ATENDIDAS
2011 ........132.897
2012 ........172.916
NÚMERO DE PEQUENAS
EMPRESAS ATENDIDAS
2011 ..........11.276
2012..........13.882
EMPREENDEDORES
INDIVIDUAIS
FORMALIZADOS
2011 ........109.801
2012 ........111.253
419.222
277
CLIENTES
ATENDIDOS
PROJETOS DE
ATENDIMENTO
(INDIVIDUAL E COLETIVO)
SAIBA MAIS EM: WWW.SEBRAEMG.COM.BR
82 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
POTENCIAL EMPRESÁRIO
É o cliente que ainda não tem um negócio
próprio ou que já o tem, mas ainda não está
registrado no Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica (CNPJ) ou inscrição estadual. É o foco principal dos produtos PRÓPRIO, IPGN
(Iniciando um Pequeno e Grande Negócio)
e IDEIAS DE NEGÓCIO.
MICROEMPREENDEDOR
INDIVIDUAL (MEI)
Com faturamento máximo anual de R$ 60
mil, geralmente faz a opção pelo Simples Nacional e não tem participação em outras empresas, nem como sócio. Seu negócio emprega apenas um profissional, que recebe um
salário mínimo ou o piso salarial da categoria. Para esses clientes, é desenvolvido um
produto específico: SEBRAE PARA EMPREENDEDOR INDIVIDUAL (SEI).
MICROEMPRESA
Estão nessa categoria empresas brasileiras
com faturamento anual de até R$ 360 mil –
valor referente ao máximo permitido para
adesão ao Simples Nacional. Um dos produtos mais indicados para as microempresas é
o NA MEDIDA.
EMPRESAS DE PEQUENO PORTE
Nesse grupo, estão presentes as que faturam,
anualmente, mais de R$ 360 mil e menos de
R$ 3,6 milhões. As empresas exportadoras que
optam pelo Simples Nacional e faturam até R$
3,6 milhões no exterior também integram o
grupo. Os principais produtos disponibilizados
são: SEBRAE MAIS e SEBRAETEC.
PRODUTOR RURAL
Agricultores, pecuaristas ou piscicultores que
não alteram as características naturais dos
seus produtos e têm inscrição estadual, declaração de aptidão no Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura (Pronaf),
CNPJ ou registro no Ministério da Pesca e faturamento anual menor que R$ 3,6 milhões.
Esses empreendedores poderão, em breve,
ter acesso ao NO CAMPO - novo produto do
Sebrae em fase final de desenvolvimento.

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