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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PADRÃO ALIMENTAR DE MORCEGOS FRUGÍVOROS EM ÁREAS ALTERADAS NA AMAZÔNIA CENTRAL Paulo Estefano Dineli Bobrowiec Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais do convênio Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/Universidade Federal do Amazonas como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas, área de concentração em Ecologia. Orientador: Dr. Rogério Gribel Soares Neto Manaus, AM 2003 Paulo Estefano Dineli Bobrowiec ii INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PADRÃO ALIMENTAR DE MORCEGOS FRUGÍVOROS EM ÁREAS ALTERADAS NA AMAZÔNIA CENTRAL Paulo Estefano Dineli Bobrowiec Apoio: PDBFF – Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais WWF/Brasil – Programa Sociedade & Natureza Banca Examinadora: Dr Rogério Gribel – INPA, CPBO Dr Renato Cintra – INPA, CPEC Dr Fernando Passos – UFPR, Curitiba/PR Dr Mauro Galetti – UNESP, Rio Claro/SP Dr Wilson Uieda – UNESP, Botucatu/SP Manaus, AM 2003 Paulo Estefano Dineli Bobrowiec iii AGRADECIMENTOS Aos meus pais Antônio e Maria Aparecida pelo carinho e constante apoio durante toda minha vida acadêmica, principalmente por suportarem a distância e a minha ausência quando quis trilhar meus rumos nestas terras longínquas. Ao CNPq pela bolsa de mestrado (Processo: 133388/2001-8) e ao suporte financeiro do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais administrado (PDBFF) e World Wildlife Fund (WWF-Brazil) através do Programa Sociedade e Natureza (Processo: CSR 2502001). À Rogério Gribel pela orientação, quando possível, no mestrado e pela força e estímulo para eu continuar a trabalhar na Amazônia. Aos membros da banca da aula de qualificação Dr. Renato Cintra, Dra. Rita Mesquita e Dr. Wilson Spironello pelos valiosos comentários e sugestões em diversas partes do trabalho. Aos ajudantes de campo do PDBFF José Francisco Tenaçol Jr, Ocírio “Juruna” de Souza Pereira, Osmaildo Ferreira da Silva e Alaercio “Leo” Marajó dos Reis que me ensinaram as primeiras lições sobre ecologia de morcegos da Amazônia. Aos moradores permanentes da casa da Colina do Aleixo (colina do desleixo), Felipe Rego, Ivo “ogro” Rohling Ghizoni Junior, Luiz “monstro” Henrique Claro Junior, Fernando “Filé” Loschiavo Raeder (quase permanente). Aos amigos do mestrado em Ecologia Felipe, Thiago “Capi”, Fernando “Filé”, Fernando “Feti”, Ivo, Ciro, Mariana, Obed, Ingrid, Elildo, Deise, Delmo, Ivan “sugestion” Cortez e Patrícia que quando pensei que a vida ia ficar mais séria no mestrado, me mostraram que estava muito enganado. Por fim, a todas as amizades que fiz no INPA e em Manaus. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec iv Bobrowiec, Paulo Estefano Dineli Padrão alimentar de morcegos frugívoros em áreas alteradas na Amazônia Central./Paulo Estefano Dineli Bobrowiec.- Manaus: INPA/UFAM, 2003. Dissertação de Mestrado. 1. Morcegos 2. Frugivoria 3. Dispersão de sementes 4. Áreas alteradas 5. Pasto abandonado 6. Capoeira 7. Comunidade 8. Freqüência de captura 9. Amazônia Central I.Título. Sinopse: Esta dissertação teve com propósito geral estudar a composição da comunidade de morcegos em três tipos de vegetação alterada na Amazônia Central, incluindo pasto abandonado, capoeira dominado por Vismia e capoeira dominada por Cecropia, com ênfase na freqüência de captura das seis espécies de morcegos mais abundantes, a padrão alimentar desses morcegos frugívoros, sua sobreposição alimentar, variação temporal do padrão e da sobreposição alimentar e suas conseqüências para a dispersão de sementes e recuperação de áreas degradadas. Palavras chave: Morcegos, frugivoria, dispersão de sementes, áreas alteradas, pasto abandonado, capoeira, comunidade, freqüência de captura, Amazônia Central Key words: bats, frugivory, seed dispersal, altered areas, abandoned pasture, capoeira, community, capture rate, Central Amazon Paulo Estefano Dineli Bobrowiec v SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS....................................................................................................................... vi LISTA DE TABELAS...................................................................................................................... vii RESUMO........................................................................................................................................... viii INTRODUÇÃO GERAL................................................................................................................. 01 CAPÍTULO 1. DIVERSIDADE E ABUNDÂNCIA DE MORCEGOS EM TRÊS TIPOS DE VEGETAÇÃO ALTERADA NA AMAZÔNIA CENTRAL Introdução........................................................................................................................................... 04 Material e métodos............................................................................................................................. 07 Área de estudo.............................................................................................................................. 07 O Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais............................................................ 07 Áreas amostradas: pastos abandonados, capoeiras de Vismia e capoeiras de Cecropia.............. 07 Captura dos morcegos.................................................................................................................. 08 Resultados........................................................................................................................................... 10 Dados gerais................................................................................................................................. 10 Recaptura dos morcegos............................................................................................................... 11 Discussão............................................................................................................................................ 13 Freqüência de captura dos morcegos........................................................................................... 13 Recaptura dos morcegos............................................................................................................... 15 Considerações sobre a comunidade de morcegos em áreas alteradas.......................................... 16 CAPÍTULO 2. PADRÃO ALIMENTAR DAS SEIS ESPÉCIES DE MORCEGOS FRUGÍVOROS MAIS ABUNDANTES EM ÁREAS ALTERADAS NA AMAZÔNIA CENTRAL Introdução........................................................................................................................................... 23 Material e métodos............................................................................................................................. 26 Composição alimentar dos morcegos frugívoros......................................................................... 26 Sobreposição alimentar entre os morcegos frugívoros................................................................ 27 Disponibilidade de recurso alimentar.......................................................................................... 27 Resultados........................................................................................................................................... 29 Disponibilidade de recurso alimentar.......................................................................................... 29 Composição alimentar dos morcegos frugívoros........................................................................ 29 Sobreposição alimentar entre os morcegos frugívoros................................................................ 31 Variação temporal da composição e da sobreposição alimentar................................................. 31 Discussão............................................................................................................................................ 33 Composição alimentar dos morcegos frugívoros......................................................................... 33 Sobreposição alimentar entre os morcegos frugívoros................................................................ 35 Variação temporal da composição e da sobreposição alimentar.................................................. 37 Conseqüências para a dispersão de sementes............................................................................... 38 CONCLUSÕES................................................................................................................................. 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................... 49 Paulo Estefano Dineli Bobrowiec vi LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO 1. DIVERSIDADE E ABUNDÂNCIA DE MORCEGOS EM TRÊS TIPOS DE VEGETAÇÃO ALTERADA NA AMAZÔNIA CENTRAL Figura 1. Imagem de satélite das áreas do PDBFF com destaque das fazendas Porto Alegre, Dimona e Esteio, incluindo os acampamentos Cidade Powell e Colosso da fazenda Esteio (Landsat TM 5, 4, 3 – RGB, fonte: INPE 1995). Verde escuro representa áreas de mata primária, verde claro representa áreas de vegetação secundária e em rosa as áreas de pasto abandonado, clareiras e rodovias.............................................................. Figura 2. Imagem de satélite das fazendas Porto Alegre (a), Dimona (b), Cidade Powell e Esteio (c) com os locais onde as redes foram armadas no pasto abandonado (PA), capoeira de Vismia (CV) e capoeira de Cecropia (CC). Verde escuro representa áreas de mata primária, verde claro representa áreas de vegetação secundária e em rosa as áreas de pasto abandonado e clareiras............................................................................................ Figura 3. Médias pluviométricas das Fazendas Dimona, Porto Alegre e Esteio do PDBFF de dados coletados entre 1996 e 2001. Barras verticais finas indicam desvio padrão.......... Figura 4. Média e desvio padrão (barras finas verticais) do número de morcegos capturados, dividido pelo esforço em hora-rede das seis espécies de morcegos mais abundantes em três tipos de vegetação em crescimento secundário (pasto abandonado, capoeira de Vismia e capoeira de Cecropia) do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. Letras diferentes indicam diferença significativa usando ANOVA (P < 0,05). n = número de morcegos capturados........................................................................................................ 18 19 20 22 CAPÍTULO 2. PADRÃO ALIMENTAR DAS SEIS ESPÉCIES DE MORCEGOS FRUGÍVOROS MAIS ABUNDANTES EM ÁREAS ALTERADAS NA AMAZÔNIA CENTRAL Figura 1. Fenologia de frutificação de seis espécies quiropterocóricas nas áreas alteradas do PDBFF............................................................................................................................. Figura 2. Análise de componentes principais (PCA) da freqüência de consumo de frutos das seis espécies de morcegos mais abundantes nas áreas com vegetação em crescimento secundário no PDBFF, Manaus, Amazônia Central. CPER = Carollia perspicillata, CBRE = Carollia brevicauda, ACON = Artibeus concolor, RPUM = Rhinophylla pumilio, STIL = Sturnira tildae, SLIL = Sturnira lilium................................................. Figura 3. Índice de sobreposição alimentar de Morisita entre as seis espécies de morcegos mais abundantes nas áreas com vegetação em crescimento secundário nas áreas do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. CPER = Carollia perspicillata, CBRE = Carollia brevicauda, ACON = Artibeus concolor, RPUM = Rhinophylla pumilio, STIL = Sturnira tildae, SLIL = Sturnira lilium............................................................................ Figura 4. Freqüência de consumo de frutos pelos morcegos C. perspicillata, S. tildae e S. lilium, nas quatro estações do ano nas áreas alteradas do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. Na legenda, as letras das estações representam meses....................................... Figura 5. Variação sazonal do índice de sobreposição alimentar de Morisita entre três espécies de morcegos nas áreas alteradas do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. CPER = C. perspicillata, STIL = S. tildae, SLIL = S. lilium. As letras abaixo de cada estação representam meses........................................................................................................... 43 44 45 46 47 Paulo Estefano Dineli Bobrowiec vii LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 1. DIVERSIDADE E ABUNDÂNCIA DE MORCEGOS EM TRÊS TIPOS DE VEGETAÇÃO ALTERADA NA AMAZÔNIA CENTRAL Tabela 1. Espécies de morcegos, número de indivíduos capturados e número de amostras fecais coletadas (entre parênteses) em três tipos de vegetação em crescimento secundário do PDBFF, Manaus, Amazônia Central................................................................................ 21 Tabela 2. Dados de recaptura de quatro espécies de morcegos em três tipos de vegetação em crescimento secundário nas áreas do PDBFF, Manaus, Amazônia Central.................... 21 CAPÍTULO 2. PADRÃO ALIMENTAR DAS SEIS ESPÉCIES DE MORCEGOS FRUGÍVOROS MAIS ABUNDANTES EM ÁREAS ALTERADAS NA AMAZÔNIA CENTRAL Tabela 1. Número de amostras fecais com sementes e insetos e freqüência relativa (entre parênteses) por espécie de planta, coletadas das seis espécies de morcegos mais abundantes nas áreas com vegetação em crescimento secundário do PDBFF, Manaus, Amazônia Central............................................................................................................. Tabela 2. Autovetores dos dois primeiros eixos da Análise de Componentes Principais (PCA) dos dados de freqüência de frutos consumidos pelas seis espécies de morcegos mais abundantes nas áreas com vegetação em crescimento secundário do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. ........................................................................................................... Tabela 3. Número de amostras com sementes e freqüência relativa (entre parênteses) por espécies de planta coletadas dos morcegos Carollia perspicillata e C. brevicauda nas áreas com vegetação em crescimento secundário do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. No cálculo da freqüência de cada espécies de planta coletada não foi incluído as amostras com insetos.................................................................................................... Tabela 4. Número de amostras com sementes e freqüência relativa (entre parênteses) por espécies de planta coletadas dos morcegos Rhinophylla pumilio e Artibeus concolor em cada tipo de vegetação em crescimento secundário nas áreas do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. No cálculo da freqüência de cada espécies de planta coletada não foi incluído as amostras com insetos................................................................................ 41 41 42 42 Paulo Estefano Dineli Bobrowiec viii RESUMO Na região Neotropical, morcegos frugívoros desempenham um importante papel na regeneração de áreas degradadas, através da dispersão de sementes de plantas dos estágios iniciais de sucessão. Neste estudo foi investigada a freqüência do uso de habitat e o padrão alimentar das espécies de morcegos frugívoros mais abundantes em três tipos de vegetação em crescimento secundário no PDBFF, Amazônia Central: pasto abandonado, capoeira de Vismia e capoeira de Cecropia. Em 57 noites (1503 hora-rede) foram capturados 1680 morcegos de 27 espécies, das subfamílias Mormoopidae (1 spp) e Phyllostomidae (26 spp). Destas espécies, seis representaram 95 % das capturas. Carollia perspicillata, o morcego mais capturado nos três ambientes estudados (65 % das capturas), C. brevicauda e Artibeus concolor não tiveram diferença na freqüência de captura por tipos de vegetação secundária, enquanto que Sturnira tildae e S. lilium tiveram freqüência de captura maior no pasto abandonado (89 e 99 %, respectivamente). Somente Rhinophylla pumilio teve suas capturas concentradas nas capoeiras. Morcegos da subfamília Phyllostominae ocorreram principalmente nas capoeiras de Cecropia com estágio mais avançado de recuperação, atuando como bons indicadores do nível de perturbação do ambiente. A análise das 1351 amostras fecais destas seis espécies de morcegos indicou seletividade da dieta, com as três espécies de Carollinae e A. concolor consumindo principalmente Vismia, enquanto que nas duas espécies de Sturnira predominou Solanum, embora S. tildae tenha consumido 38 % de Vismia comparado com 42 % de Solanum. A especialização da dieta dos morcegos pode ser explicada pela abundância de recurso nas áreas alteradas do PDBFF e a disponibilidade de frutos ao longo de todo ano. O nível de sobreposição foi alto entre os morcegos, devido principalmente ao consumo de Vismia, exceto em S. lilium. A composição da dieta dos morcegos não variou sazonalmente. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 1 PADRÃO ALIMENTAR DE MORCEGOS FRUGÍVOROS EM ÁREAS ALTERADAS NA AMAZÔNIA CENTRAL INTRODUÇÃO GERAL A fragmentação florestal é um fenômeno comum nas regiões tropicais. Este tipo de impacto altera as características ecológicas do local, como a riqueza de espécies e sua abundância, podendo levar a grandes taxas de extinção (Cuarón 2000). Nos últimos 45 anos, mais de 20 milhões de hectares de floresta na Amazônia Central foram convertidos em pastagens para gado e plantações (Laurance et al. 2001). A rápida conversão da floresta em pastos e plantações é o uso comercial da terra mais praticado e o maior responsável pela fragmentação da floresta (Uhl e Vieira 1989, Nepsted et al. 1996). Isso pode causar um aumento do carbono relançado para a atmosfera, maior freqüência de incêndios e possível perda da biodiversidade (Laurance 1998). Com a queda da produtividade, devido à compactação, erosão e baixa fertilidade do solo, muitas pastagens na Amazônia Central são abandonadas, não usadas mais do que dez anos (Nepsted et al. 1996). O desmatamento transforma a paisagem Amazônica em um mosaico de vegetação, onde podem ser encontradas em um mesmo local, áreas de pasto e plantações, vegetação de crescimento secundário em diferentes níveis sucessionais, fragmentos florestais e mata contínua (Nepsted et al. 1996). Neste mosaico, diversos fragmentos de mata primária tornamse isolados, mantendo algum grau de conectividade com fragmentos vizinhos ou com a mata contínua, através de habitats modificados com vegetação em crescimento secundário. No entanto, a conectividade entre fragmentos depende do grau de perturbação, ou regeneração, da vegetação secundária circundante e das características biológicas das espécies que a utilizam. Outro fator importante que possibilita a conectividade entre fragmentos é a heterogeneidade da vegetação secundária, caracterizada pelo tamanho, distância com a mata contínua, estágio de regeneração, tipo de uso da terra e tempo em que ela foi ocupada. Isso conseqüentemente influencia a composição e o grau de complexidade da vegetação secundária, podendo afetar significativamente as taxas de colonização e permeabilidade da vegetação secundária (Metzger 1999). Dentro de uma perspectiva de conservação, o valor da vegetação secundária é de difícil avaliação, mas do mesmo modo é importante para a dinâmica de fragmentos florestais (Gascon 1999). Dependendo da similaridade com a floresta primária, áreas em crescimento secundário podem funcionar como um importante filtro seletor de espécies, influenciando a Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 2 composição e a dinâmica da comunidade de vertebrados local (Offerman et al. 1995, Gascon et al. 1999). Em determinados casos, espécies tolerantes podem invadir fragmentos florestais, alterando a composições de alguns grupos (Tocher 1998). A capacidade das espécies de sobreviverem à fragmentação esta relacionada com a sua habilidade em explorar ambientes modificados ou atravessar de um fragmento para outro. Espécies tolerantes a áreas extensamente degradadas, possivelmente são menos vulneráveis a fragmentação, enquanto que espécies não tolerantes normalmente diminuem sua população ou desaparecem, podendo em alguns casos permanecer isoladas nos fragmentos maiores de mata primária (Gascon et al. 1999, Sampaio 2000). O uso de ambientes modificados depende das características biológicas das espécies e do modo como utilizam os recursos existentes. Morcegos, por exemplo, podem ser menos sensíveis aos efeitos da fragmentação devido sua capacidade de vôo (Fleming et al. 1972, Heithaus e Fleming 1978). Isso os permite deslocar grandes distâncias de um fragmento a outro utilizando áreas com vegetação secundária (Estrada e Coates-Estrada 2001, Estrada e Coates-Estrada 2002). Para morcegos frugívoros, a vegetação secundária desempenha um importante papel como fonte de alimento, particularmente pela presença de espécies de plantas pioneiras (Bonaccorso e Gush 1987, Fleming 1993, Galindo-González 1998). O aumento da abundância de morcegos frugívoros em áreas de vegetação secundária é causado pelos gêneros Carollia, Artibeus e Sturnira (Brosset et al. 1996, Sampaio 2000, Schulze et al. 2000, Estrada e Coates-Estrada 2001, Estrada e Coates-Estrada 2002). Por outro lado, diversos estudos têm demonstrado a vulnerabilidade de morcegos à fragmentação, no qual algumas espécies respondem negativamente aos efeitos da perda da floresta primária e ao uso de áreas com vegetação secundária (Brosset et al. 1986, Fenton et al. 1992, Kalko 1998, Cosson et al. 1999b, Schulze et al. 2000, Medellín et al. 2000, Estrada e Coates-Estrada 2002). Sampaio (2000) observou que pequenos fragmentos (1 ha) possuem menor riqueza de espécies de morcegos, bem como abundância relativa menor das espécies consideradas comuns. Morcegos insetívoros “gleaning” como Tonatia silvicola, por exemplo, possuem área de forrageio pequena e dificilmente usam áreas abertas (Kalko et al. 1999). Tal comportamento faz com que estes morcegos sejam restritos a áreas de floresta primária ou fragmentos maiores, a fim de manter sua população em tamanho estável (Sampaio 2000). Morcegos da subfamília Phyllostominae, em geral são bons indicadores do nível de perturbação de um determinado ambiente, pois são especialistas por tipo de habitat, condições estas encontradas em áreas mais complexas de mata primária (Wilson et al. 1996, Medellín et Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 3 al. 2000). A presença de morcegos da subfamília Phyllostominae pode inferir um grau menor de perturbação ambiental (Fenton et al. 1992, Wilson et al. 1996, Medellín et al. 2000). Embora vários estudos mostram a dinâmica da comunidade de morcegos em ambientes alterados (Wilson et al. 1996, Brosset et al. 1996, Sampaio 2000, Schulze et al. 2000, Estrada e Coates_Estrada 2001 e 2002), poucos levam em consideração como a comunidade de morcegos responde a diversidade de ambientes que compõe áreas em regeneração (Medellín et al. 2000). No PDBFF, as áreas de vegetação em crescimento secundário são constituídas por pastos abandonados, capoeiras dominadas por Vismia e capoeiras dominadas por Cecropia (Mesquita et al. 1999, Moreira 2003). Nestes locais, capoeiras de Cecropia são mais permeáveis a comunidade de aves de sub-bosque do que capoeiras de Vismia, demonstrando que a comunidade de aves pode ser afetada pelo tipo de vegetação dominante (Bierregaard e Stouffer 1997, Fonseca 2001). No presente estudo são explorados dois aspectos da comunidade de morcegos nos três principais tipos de áreas alteradas do PDBFF, pasto abandonado, capoeira dominada por Vismia e capoeira dominada por Cecropia, dividindo esta dissertação em dois capítulos. No primeiro capítulo, foi realizado um estudo comparativo da freqüência de captura de morcegos nos três tipos de vegetação alterada, com ênfase nas seis espécies de morcegos mais abundantes. A partir desses dados, o segundo capítulo explora o padrão alimentar dessas seis espécies de morcegos frugívoros, procurando analisar as espécies de plantas consumidas, a taxa de consumo de frutos, o nível de sobreposição da dieta e variação temporal do uso desses recursos. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 4 CAPÍTULO 1 DIVERSIDADE E ABUNDÂNCIA DE MORCEGOS EM TRÊS TIPOS DE VEGETAÇÃO ALTERADA NA AMAZÔNIA CENTRAL INTRODUÇÃO Grandes áreas da floresta Amazônica são abertas a cada ano para a implantação de áreas agrícolas e principalmente pastagens para gado (Uhl 1988, Uhl e Vieira 1989, Nepsted et al. 1996, Fearnside 1990, Laurance 1999, Laurance 2001). Este tipo de prática, transforma rapidamente grandes extensões de floresta contínua em uma paisagem fragmentada cercada por vegetação secundária em diversos estágios de crescimento. Com o aumento da fragmentação, diversos estudos têm sido conduzidos na região Amazônica com o intuito de avaliar os efeitos da perda da floresta sobre a diversidade animal (Offerman et al. 1995, Cosson et al. 1999a, Gascon et al. 1999). Estes estudos têm mostrado que várias espécies animais não são tolerantes a fragmentação ou a áreas com vegetação secundária (Malcolm 1995, 1997, Stouffer e Bierregaard 1995, Tocher 1998, Sampaio 2000). Tais perdas de diversidade podem afetar os diferentes processos de interação entre animais e plantas, responsável pelo fluxo gênico entre populações (da Silva et al. 1996, Nathan e Muller-Landau 2000, Howe e Miriti 2000, Godoy e Jordano 2001, Ingle 2003). Neste contexto, morcegos são um importante grupo de estudo devido a sua abundância, riqueza de espécies e principalmente pelo papel ecológico que desempenham (Fleming 1993, Fleming e Sosa 1994, Brosset et al. 1996). Devido a sua variedade de itens alimentares, que inclui frutos, folhas, néctar, pólen, insetos, sangue e pequenos vertebrados, morcegos realizam um papel crucial na polinização, dispersão de sementes e predação de insetos em ambientes tropicais (Fleming 1982). Em particular, a dispersão de sementes por morcegos contribui para os processos responsáveis pela regeneração de áreas degradadas. Muitas espécies de plantas pioneiras são consumidas por morcegos, que por sua vez podem transportar suas sementes para clareiras e áreas degradadas (Medellín e Gaona 1999, Galindo-González 2000). Neste contexto, estudos da estrutura e função da comunidade de morcegos podem avaliar como mudanças ambientais provocadas pelo homem interferem nas relações ecológicas e no papel que estes vertebrados desempenham. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 5 Na região Neotropical, morcegos representam a segunda ordem com maior diversidade entre os mamíferos, ficando atrás somente dos roedores (Voss e Emmons 1996, Emmons e Feer 1997). Em geral, existem mais espécies de morcegos em um mesmo local do que todas as outras espécies de mamíferos combinadas. Cerca de 40 % dos mamíferos de uma região podem ser morcegos (Emmons e Feer 1997). No Brasil, morcegos constituem aproximadamente um terço da fauna de mamíferos, onde já foram identificadas 137 espécies (Marinho-Filho e Sazima 1998). A Amazônia possui a maior riqueza entre os outros biomas brasileiros, com 117 espécies, dos quais 13 (11,1 %) são endêmicas (Marinho-Filho e Sazima 1998). Estudos sobre os efeitos da perda da floresta na estrutura da comunidade de morcegos (Fenton et al. 1992, Brosset et al. 1996, Kalko 1998, Sampaio 2000, Schulze et al. 2000, Estrada e Coates-Estrada 2001, 2002), mostraram que espécies da subfamília Phyllostominae respondem negativamente a fragmentação, funcionando como indicadores de perturbação do ambiente (Wilson et al. 1996, Medellín et al. 2000). Cosson et al. (1999b) constataram que a fragmentação da floresta com a formação de ilhas após a construção de uma hidroelétrica alterou a guilda de morcegos frugívoros e nectarívoros na Guiana Francesa. Estes autores sugerem que as ilhas de floresta cercas por água devido a inundação, impossibilitou o uso destas áreas como habitat permanente pelos morcegos, possivelmente por causa da baixa disponibilidade de alimento e abrigo, uma vez que as áreas circundantes das ilhas não são formadas por algum tipo de vegetação. Law et al. (1999) alertam quanto a escala apropriada para investigar a sensibilidade dos morcegos à fragmentação, em resposta as longas distâncias que esses animais podem voar. Neste contexto, as áreas do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), na Amazônia Central, propiciam condições em grande escala necessárias para estudos dos efeitos da fragmentação sobre a estrutura da comunidade de morcegos. O PDBFF é constituído por um mosaico de vegetação de terra firme, onde são encontrados áreas de mata contínua, fragmentos florestais, pastos abandonados e vegetação secundária. Sampaio (2000) e Bernard (2001a) registraram 76 espécies de morcegos no PDBFF, em inventários realizados nesse mosaico de ambientes e no dossel de áreas de mata contínua. Em especial, Sampaio (2000) observou que a riqueza de espécies de morcegos diminui em fragmentos e nas áreas de pasto abandonado. No entanto, seu estudo não aborda os diferentes tipos de vegetação que formam as áreas de crescimento secundário do PDBFF, como as capoeiras com regeneração por Vismia e Cecropia. Considerando estas diferenças das áreas de vegetação secundária, o presente estudo teve como propósito: (1) identificar as espécies de morcegos que utilizam Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 6 áreas de pasto abandonado, capoeira dominada por Vismia e capoeira dominada por Cecropia no PDBFF, (2) verificar se a freqüência de captura das espécies de morcegos pode ter sido influenciada pelo tipo de vegetação alterada dominante e (3) discutir como a esses diferentes ambientes alterados afetaram a comunidade de morcegos local. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 7 MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo O Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF) O estudo foi conduzido nas áreas do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF) (Figura 1 e 2), localizadas no Distrito Agropecuário da SUFRAMA, cerca de 80 Km ao norte de Manaus, AM (2o25’S; 59o50’W). O PDBFF é um projeto cooperativo entre o Instituto Smithsonian e o INPA, com principal propósito de estudar os efeitos da fragmentação da floresta sobre a biodiversidade vegetal e animal da Amazônia Central. Sua área consiste em aproximadamente 40 x 10 km de floresta de terra-firme, a 30-125 m acima do nível do mar, formada por floresta contínua, fragmentos florestais de 1, 10 e 100 ha (criados intencionalmente pelo PDBFF), vegetação em crescimento secundário e pastagens abandonadas (Figura 1). A pluviosidade anual é de 2200 a 2600 mm de chuva por ano, com estação chuvosa de janeiro a maio e estação seca de junho a dezembro (Figura 3) com temperatura média anual de 26,7 oC. Áreas amostradas: pastos abandonados, capoeiras de Vismia e capoeiras de Cecropia Nos anos 70, uma larga área ao norte de Manaus foi destinada a um programa de estabelecimento de pastagens para gado. Com incentivos governamentais, áreas de floresta primária deram lugar a grandes pastagens entre 5.000-10.000 ha. Estas fazendas foram criadas no início dos anos 80, pela derrubada e subseqüente queima da floresta. Muitas destas fazendas foram mantidas por 5-10 anos e posteriormente desativadas devido ao declínio da produtividade das atividades pastoris e fim dos incentivos governamentais. A recuperação dessas áreas é difícil e demorada, mas duas trajetórias são dominantes: em áreas onde a floresta foi somente cortada e não queimada, a regeneração é dominada por espécies de Cecropia, enquanto que em áreas onde a floresta foi cortada e queimada sob um intenso uso do gado (acima de 5 anos), a vegetação é dominada por espécies de Vismia (Williamson et al. 1998). Este tipo de floresta secundária, com 15-20 m de altura, é chamada de capoeira e dependendo do tipo de vegetação dominante pode ser referida como capoeira de Vismia ou capoeira de Cecropia. As áreas que constituem o PDBFF tiveram histórico de uso da terra diferente, predominando assim, um tipo de vegetação secundária, no qual as capoeiras onde a floresta foi queimada, 79 % da vegetação foi formada por Vismia, após 8 anos de recuperação (Mônaco 1998). Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 8 Captura dos morcegos Neste estudo, em cada tipo de vegetação secundária (pasto abandonado, capoeira de Vismia e de Cecropia), foram amostrados entre quatro e sete pontos de redes, com distâncias entre eles de pelo menos 200 m (Figura 2). As áreas de pasto abandonado foram amostradas próximo aos fragmentos experimentais do PDBFF, onde houve isolamento por derrubada e queima de pelo menos 100 m ao redor dos fragmentos, cuja vegetação não ultrapassou 3 m de altura durante este estudo. Devido a repetidas capturas em um mesmo local em um curto período de tempo causarem decréscimo nas taxas de captura dos morcegos (Cosson et al. 1999b e observações pessoais), alguns pontos de redes não foram reutilizados, enquanto outros só foram reutilizados após um mês. Os morcegos foram capturados usando seis redes mist nets (12,0 × 2,5 m cada) no pasto abandonado e oito redes nas capoeiras, armadas em linha no nível do solo, nas trilhas abertas neste ambientes ou em trilhas já existentes. As redes permaneceram abertas entre as 19:00 e 00:00 h e checadas em intervalos de 15 minutos. As capturas foram realizadas mensalmente entre outubro de 2001 e setembro de 2002. Capturas em noites chuvosas e de lua cheia foram evitadas por influenciarem nas taxas de captura. Morcegos das famílias Molossidae, Vespertilionidae e Emballonuridae foram praticamente inacessíveis as redes armadas no nível do solo, devido ao fato de poderem voar acima do dossel ou detectarem facilmente as redes, portanto não mencionadas neste estudo. Para todos os morcegos capturados foram anotados dados de local, data, hora, espécie, sexo, idade, estado reprodutivo, peso, comprimento do antebraço, da tíbia e da tíbia-pé. A idade dos morcegos (adultos ou jovens) foi determinada pela ossificação das falanges, presente somente nos morcegos adultos. O estado reprodutivo das fêmeas adultas foi determinado pela presença ou não de embrião, através de palpação do abdome, e pela lactação, observando o inchaço característico das glândulas mamarias e secreção de leite durante a palpitação das glândulas. Antes de serem soltos, cada morcego foi marcado com um colar de alumínio numerado (anilha). Os morcegos foram identificados usando a chave dicotômica de Lim e Engstrom (2001), auxiliada pelas descrições de Simmons e Voss (1991) e Voss e Emmons (1996). A nomenclatura taxonômica usada foi a de Koopman (1993). A distinção entre C. perspicillata e C. brevicauda foi feita a posteriori, através das medidas do comprimento do antebraço, tíbia, tíbia-pé e peso. No campo S. lilium e S. tildae foram identificados pelas medidas morfométricas citadas anteriormente e pela presença de pelo tricolor e incisivos superiores achatados em S. tildae (Simmons e Voss 1991). Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 9 Possíveis diferenças das taxas de captura entre os três tipos de vegetação secundária das espécies de morcegos mais abundantes foram examinadas pela análise da variância (ANOVA um critério). Para este tipo de comparação foram usadas quatro réplicas de cada tipo de vegetação. As réplicas foram pontos de rede distantes um do outro de pelo menos 500 m (Figura 2). Antes de realizar a ANOVA, o teste de Lilliefors indicou normalidade para todas as amostras. Para evitar o efeito do diferente esforço de captura de cada réplica, o número de morcegos capturados foi divido pelo valor do esforço de captura em hora-rede, antes do calculo da normalidade e da ANOVA. Todos os resultados dos testes estatísticos foram considerados ao nível de significância de P < 0,05. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 10 RESULTADOS Dados gerais Em 57 noites (223 horas de amostragem), com esforço de captura de 1503 hora-rede, um total de 1680 morcegos, distribuídos em 27 espécies, 18 gêneros e duas famílias (Mormoopidae e Phyllostomidae) foram capturados nos três tipos de vegetação em crescimento secundário (Tabela 1). O pasto abandonado foi o local de maior taxa de captura com 1,34 morcegos/hora-rede, enquanto as capoeiras de Vismia e de Cecropia tiveram 0,93 e 0,97 morcegos/hora-rede, respectivamente. Entre os morcegos capturados, seis espécies de Phyllostomidae representaram juntas 94,5 % das capturas. Carollia perspicillata foi a espécie dominante com maior número de indivíduos capturados nos três ambientes estudados (65,2 % do total de capturas; n = 1096), seguido por Sturnira tildae (8,75 %), S. lilium (8,21 %), Rhinophylla pumilio (5,60 %), Artibeus concolor (3,63 %) e Carollia brevicauda (3,04 %) (Tabela 1). Em C. perspicillata, C. brevicauda e A. concolor não foi observado diferença significativa na freqüência de captura por tipo de vegetação (ANOVA, F = 0,07, P = 0,94, gl = 2; F = 0,36; P = 0,71, gl = 2 e F = 1,10, P = 0,37, gl = 2, respectivamente), embora a maior freqüência de capturas de A. concolor tenha sido no pasto abandonado (Figura 4). Morcegos do gênero Sturnira tiveram diferença significativa da freqüência de captura entre os três tipos de vegetação analisados, com 97,2 % de S. lilium e 93,6 % de S. tildae capturados nas áreas de pasto abandonado (ANOVA, F = 10,80; P = 0,01; gl = 2 e F = 9,80; P = 0,02; gl = 2, respectivamente). Rhinophylla pumilio foi o único morcego que teve taxa de captura predominante nas áreas de capoeira (ANOVA, F = 9,14; P < 0,01; gl = 2), com freqüência de capturas similar entre os dois tipos de capoeira (Figura 4). Devido algumas espécies de morcegos terem sido mais capturadas em um determinado tipo de vegetação secundária, a abundância entre as espécies foi diferente. Carollia perspicillata foi a espécie de morcego mais capturada nos três tipos de vegetação estudados. No pasto abandonado, após C. perspicillata, S. lilium e S. tildae foram os morcegos mais capturados (19,50 ± 15,55; 15,75 ± 9,00, respectivamente), seguidos por A. concolor (5,00 ± 3,74), contudo sem diferença significativa entre estas três últimas espécies (ANOVA, F = 2,05; P = 0,18; gl = 2). Na capoeira de Vismia, R. pumilio foi a segunda espécie mais capturada (14,67 ± 5,03), seguida por C. brevicauda (6,67 ± 2,52) e A. concolor (4,00 ± 6,08), contudo sem diferença significativa (ANOVA, F = 2,91; P = 0,13; gl = 2). Na capoeira de Cecropia, R. pumilio (12,33 ± 2,52) também foi a segunda espécie mais capturada (ANOVA, Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 11 F = 6,45; P = 0,03; gl = 2;), enquanto que C. brevicauda (3,67 ± 4,62) e A. concolor (3,33 ± 3,21) tiveram freqüência semelhante (P = 0,99). As duas espécies de Sturnira amostradas não foram capturadas nas capoeiras de Cecropia. A ocupação das espécies de morcegos nas áreas alteradas do PDBFF pode ter sido influenciada pelo tipo de vegetação secundária dominante. Embora o número de morcegos capturados não seja suficiente para esta conclusão, os resultados indicaram que a subfamília Stenodermatinae foi predominante em áreas abertas (pasto abandonado) e capoeira de Vismia, enquanto que os morcegos da subfamília Phyllostominae foram mais capturados na capoeira de Cecropia (Tabela 1). Entre as oito espécies de morcegos Phyllostominae, Phyllostomus elongatus, Phylloderma stenops, Tonatia silvicola, Mimon crenulatum e Trachops cirrhosus foram capturados somente nas capoeiras de Cecropia. Recaptura dos morcegos Com os dados de recaptura dos morcegos, foi possível observar a distância de deslocamento entre o ponto de captura e recaptura, taxa de deslocamento entre tipos de vegetação e o tempo entre as capturas. Dos 1412 morcegos anilhados, 50 foram recapturados (3,54 % de recapturas) (Tabela 2). Entre estes morcegos, S. lilium teve a maior taxa de recaptura com 17,46 % (n = 22 morcegos recapturados) do total de morcegos anilhados, seguida por C. brevicauda com 3,92 % (n = 2), S. tildae com 2,80 % (n = 3) e C. perspicillata com 2,26 % (n = 23) (Tabela 2). Das seis espécies de morcegos mais abundantes deste estudo, indivíduos da espécie R. pumilio não foram anilhados, pois o peso das anilhas poderia prejudicar o vôo dos morcegos. A distância entre o ponto de captura e recaptura dos morcegos foi baixo, com 68 % (n = 34) recapturados no mesmo local da captura. Considerando somente o tipo de vegetação, 84 % dos morcegos foram recapturados no mesmo tipo de vegetação onde foram capturados. O pasto abandonado teve 74 % de morcegos recapturados. Apenas três morcegos tiveram longas distâncias de deslocamento, dois S. lilium (27,25 e 28,15 km) e um C. perspicillata (11,8 km). Retirando estes três morcegos, a distância média de recaptura dos morcegos que se deslocaram foi de 390,8 m (dp = ± 285 m, sem incluir os morcegos com 0 m entre a captura e a recaptura). De um modo geral, apenas 13 morcegos (26 % dos morcegos recapturados) foram recapturados em locais diferentes do ponto onde foram capturados (Tabela 2). Seis pares de S. lilium, um par e um trio de C. perspicillata foram capturados e recapturados juntos, no mesmo local onde foram capturados. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 12 O tempo entre a captura e a recaptura foi em média 92 dias (dp = ± 73 dias), com amplitude de 1 a 264 dias. Recapturas com mais de 90 dias (3 meses) foram observadas em 22 morcegos (44 % do total de morcegos recapturados), sendo 11 S. lilium, 10 C. perspicillata e 1 C. brevicauda. Entre os 34 morcegos recapturados que não se deslocaram, 14 (41,2 %) foram recapturados após 90 dias da captura. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 13 DISCUSSÃO Freqüência de captura dos morcegos Em florestas Neotropicais a maioria das espécies de morcegos são capturados em baixo número (Brosset et al. 1996, Grindal et al. 1999, Bernard 2001a, Lim e Engstrom 2001, Estrada e Coates-Estrada 2002). Muitas destas espécies são pertencentes a família Phyllostomidae, provavelmente devido serem capturados mais facilmente pelo método de redes armadas ao nível do solo.Medellín et al. (2000) em 10 meses de amostragem em áreas de mata primária, vegetação secundária madura e dois tipos de plantações em La Selva Lacandona de Chiapas, México, capturaram 29 espécies de Phyllostomidae no qual 62 % foram raras, com menos de 10 capturas. Na Guiana Francesa, das 14 espécies de morcegos Phyllostomidae (52 % dos Phyllostomidae) consideradas raras por Brosset et al. (1996), apenas seis foram capturadas em áreas com vegetação secundária. Das 27 espécies de morcegos listadas aqui, apenas seis (22 % das espécies), todos Phyllostomidae frugívoros, somam 94 % do total de morcegos capturados. As espécies consideradas raras, com menos de cinco indivíduos, representaram apenas 1,85 % do total de capturas, mas 52 % das espécies de morcegos (n = 14). Carollia perspicillata foi o morcego mais abundante nos três tipos de vegetação em crescimento secundário, representando 65 % das capturas. Os dados de número de espécies e abundância foram muitos similares aos resultados obtidos por Sampaio (2000) em 38 noites de capturas (1409 hora-rede) no pasto abandonado do PDBFF. Ambos estudos tiveram as mesmas seis espécies de morcegos mais abundantes, com exceção da maior freqüência de captura de Artibeus lituratus no trabalho de Sampaio (2000). Sampaio (2000) argumenta que para incluir espécies raras em levantamentos da composição da comunidade de morcegos, entre outros fatores, é necessário um esforço de captura grande, possivelmente acima de 30 noites ou mais de 1000 indivíduos capturados. Entre os morcegos mais abundantes, quatro espécies, C. perspicillata e C. brevicauda, A. concolor e R. pumilio, são consideradas por outros estudos, dominantes tanto na floresta primária quanto em áreas de vegetação secundária (Brosset et al. 1996, Medellín et al. 2000, Estrada e Coates-Estrada 2002). A população destas espécies pode permanecer estável ou aumentar sua abundância em áreas alteradas, sendo assim, pouco afetada pela fragmentação da floresta (Reis e Muller 1995, Brosset et al. 1996, Estrada e Coates-Estrada 2002). Neste caso a fragmentação pode afetar positivamente a população destas espécies (Wilson et al. 1996). Morcegos que exploram áreas alteradas, freqüentemente persistem em fragmentos florestais, enquanto espécies que evitam esse habitat acabam desaparecendo (Fenton et al. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 14 1992, Medellín et al. 2000, Sampaio 2000). Outros estudos indicam que algumas espécies de morcegos possuem populações pequenas, sendo raras tanto em ambientes naturais quanto alterados (Sampaio 2000, Estrada e Coates-Estrada 2001). Nestas espécies, o efeito da fragmentação torna-se difícil de avaliar. Áreas alteradas podem ser formadas por um mosaico de vegetação, que incluem pastos abandonados (áreas abertas), áreas com vegetação secundária em diferentes estágios de crescimento, plantações e fragmentos florestais. Como mencionado acima, algumas espécies de morcegos são comuns em ambientes alterados, no entanto, uma outra questão é se estes morcegos ocorrem em maior abundância em um ou mais tipo de vegetação. Os resultados de Medellín et al. (2000) mostraram que C. perspicillata e S. lilium tiveram maior freqüência de captura em áreas de vegetação secundária e plantações de milho, respectivamente, do que em áreas florestadas e plantações de cacau. Neste presente estudo, S. tildae e S. lilium foram as únicas espécies com alta taxa de captura em um tipo de vegetação secundária, sendo praticamente exclusivas de pastos abandonados. De fato, em outros estudos, estas duas espécies de morcegos ocorrem em baixa densidade na mata contínua, mas tornam-se abundantes em áreas de vegetação secundária (Brosset et al. 1996, Galindo-González et al. 2000, Medellín et al. 2000) ou em fragmentos florestais de até 10 ha (Schulze et al. 2000, Estrada e Coates-Estrada 2002). Rhinophylla pumilio também teve freqüência de captura significativamente diferente entre os três tipos de vegetação secundária, sendo principalmente capturado nas áreas de capoeira, no qual não foi observado capturas significativas em um determinado tipo de capoeira. Isto sugere que para esta espécie de morcego a presença de vegetação mais densa das capoeiras parece ser mais importante do que a espécie vegetal dominante, seja Vismia ou Cecropia. Apesar do uso quase exclusivo de áreas abertas para forragear, morcegos do gênero Sturnira provavelmente utilizam áreas florestadas. Fenton et al. (2000), em estudos com rádio-telemetria em Belize, observaram que S. lilium utiliza ocos de árvores como abrigo diurno, com entradas entre 6 e 8 metros de altura, retornando aos mesmos abrigos por vários dias. Este comportamento de utilizar áreas alteradas para forrageio e floresta primária para abrigo também pode ser visto em outras espécies de morcegos. Na Guiana Francesa por exemplo, R. pumilio utiliza folhas de palmeiras Astrocaryum spp como abrigo (CharlesDominique 1993). Essas palmeiras são mais abundantes em locais com mata primária, podendo ser encontradas também nos fragmentos florestais do PDBFF, áreas próximas onde esses morcegos foram capturados. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 15 Morcegos do gênero Artibeus foram representados por poucos indivíduos (Tabela 1), embora outros estudos sustentam que esses morcegos podem ser comuns em áreas abertas, capoeiras ou plantações (Sampaio 2000, Medellín et al. 2000, Galindo-González et al. 2000). Esta baixa taxa de captura pode ser explicada por fatores como dieta e distribuição espacial. Entre as seis espécies de Artibeus capturados neste estudo, quatro (A. concolor, A. lituratus, A. cinereus e A. gnomus) são predominantes no dossel (Bernard 2001b), alimentando-se principalmente de frutos encontrados neste estrato como Cecropia e Ficus (August 1981, Fleming e Williams 1990, Charles-Dominique 1991). O fato das espécies de morcegos mais abundantes retratadas aqui, utilizarem diversos tipos de ambientes, pode estar relacionada com a sua capacidade de tolerar os efeitos da fragmentação. Esta flexibilidade pode ser resultado do comportamento generalista por tipo de abrigo e dieta (Dinerstein 1986, Brosset et al. 1996). Isso sugere que em áreas onde a mata primária foi recentemente derrubada, morcegos como os dos gêneros Sturnira e Carollia podem ser os primeiros a explorarem estas novas áreas (Brosset et al. 1996). Bonaccorso (1979) argumenta que a disponibilidade de alimento pode influenciar no tamanho da população das espécies de morcegos. A abundância de espécies de plantas pioneiras do gênero Piper, Vismia e Solanum no pasto abandonado, bordas dos fragmentos e capoeira, podem favorecer morcegos considerados especialistas em Piper e Vismia como as espécies de Carollia e especialistas em Solanum como as espécies de Sturnira (Marinho-Filho 1991, Bizerril e Raw 1997). No entanto, o presente estudo mostra que 36 % da dieta de S. tildae foi composta por frutos de Vismia (ver Capítulo 2). Esse predomínio de Vismia não influenciou esta espécie de morcego a utilizar as áreas de capoeira para forragear, visto pela baixa freqüência de capturas neste ambiente. Provavelmente, a permanência S. tildae no pasto abandonado é devido a alta disponibilidade de Vismia nas áreas de pasto abandonado, durante o ano todo. Contudo, vários outros aspectos do comportamento e ecologia desses morcegos também devem ser levados em consideração a fim de inferir sua tolerância aos efeitos da fragmentação. Recaptura dos morcegos Devido a permanência em uma mesma área por longo tempo (média de 92 dias) e vôo a pequenas distâncias (média de 390 m), os dados de recaptura indicaram que C. perspicillata e S. lilium possuem alta fidelidade a um determinado local. Em Santa Rosa, Costa Rica, C. perspicillata visita a mesma área de forrageio por várias noites consecutivas (Fleming 1986). As distâncias entre estas áreas de forrageio utilizadas por um indivíduo são semelhantes com Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 16 as distâncias de recaptura de C. perspicillata nas áreas do PDBFF deste estudo. Além disso, a alta taxa de recaptura de S. lilium (17 %) reforça a preferência pelas áreas abertas de pasto abandonado. Como as taxas de recaptura de morcegos tem se mostrado a não ultrapassar 4 % (Heithaus et al. 1975, Estrada e Coates-Estrada 2002), a alta taxa de S. lilium no PDBFF sugere que sua população é pequena, com alta fidelidade a um local e forrageio em áreas abertas. O uso prolongado das áreas de forrageio pode estar associado à disponibilidade de recurso para os morcegos. No caso de C. perspicillata, a disponibilidade de poucos frutos maduros de Piper por noite ao longo de vários meses pode influenciar na sua permanência por um determinado local de forrageio (Fleming 1986, Fleming e Williams 1990, CharlesDominique 1991, Bizzeril e Raw 1997). As áreas alteradas do PDBFF são abundantes em espécies pioneiras consumidas por morcegos. Em especial se destacam três espécies de Vismia (V. caienenses, V. japurensis e V. guianensis) e duas espécies de Solanum (S. crinitum e S. rugosum), principais recursos alimentares dos gêneros Carollia e Sturnira, respectivamente. Embora não medido, provavelmente a disponibilidade de frutos maduros por noite de S. crinitum também é baixa como em Piper, pois poucos indivíduos possuíam um ou dois frutos com marcas de mordidas, indicando que estes frutos consumidos pelos morcegos estavam maduros. Considerações sobre a comunidade de morcegos em áreas alteradas A perda da floresta ou sua fragmentação para pastagens de gado e áreas agrícolas, em geral, diminui a riqueza local de espécies de morcegos (Fenton et al. 1992, Brosset et al. 1996, Sampaio 2000, Medellín et al. 2000, Estrada e Coates-Estrada 2001). Com a fragmentação da floresta, áreas de vegetação secundária, circundantes a mata primária, podem atuar como corredores de conectividade entre diferentes fragmentos e exercer um importante papel para fluxo e manutenção da comunidade de morcegos (Moreno e Halffter 2001, Estrada e Coates-Estrada 2001). No entanto, algumas espécies são consideradas mais sensíveis a fragmentação, utilizando áreas com vegetação secundária apenas quando em estágios mais avançados de desenvolvimento. O deslocamento de animais entre fragmentos pode ser favorecido, entre outros fatores, pela qualidade dos corredores de vegetação secundária, relacionado com a sua semelhança a mata primária (Laurance e Laurance 1999, Metzger 1999, Estrada e Coates-Estrada 2001). Segundo Moreira (2003), as áreas de pasto abandonado e capoeira dominada por Vismia no PDBFF sofreram distúrbios constantes. Entre 1983 e 2003, algumas destas áreas situadas Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 17 próximas aos pontos de captura dos morcegos sofreram de 2 a 9 queimadas sucessivas, possibilitando menos de 10 anos de recuperação. Por outro lado, as duas capoeiras dominadas por Cecropia (fazenda Porto Alegre e Cidade Powell) sofreram somente o corte da floresta em 1983, com recuperação de 20 anos sem outros distúrbios. Embora tenham o mesmo tempo de recuperação, 75 % dos morcegos Phyllostominae foram capturados somente nas capoeiras do acampamento da Cidade Powell (Figuras 1 e 2). As espécies, Phyllostomus elongatus, Phylloderma stenops, Trachops cirrhosus e Mimom crenulatum foram exclusivas dessas capoeiras. Isso provavelmente é devido ao estágio mais avançado de recuperação das capoeiras da Cidade Powell. Enquanto que mais de 90 % da capoeira da fazenda Porto Alegre possui dominância relativa (medido pela área basal) de Cecropia sciadophylla, a capoeira que forma a Cidade Powell possui, além de C. sciadophylla, outras cinco espécies de plantas com dominância relativa acima de 10 %, Vismia cayennensis, Miconia spp, Inga spp, Croton lanjouwensis e Guatteria olivacea (Moreira 2003). Diversos autores apontam a presença de morcegos da subfamília Phyllostominae como bons indicadores da integridade de um determinado ambiente (Fenton et al. 1992, Wilson et al. 1996, Brosset et al. 1996, Medellín et al. 2000, Sampaio 2000). Isso se deve principalmente a sensibilidade deste grupo de morcegos a fragmentação da floresta (Wilson et al. 1996, Medellín et al. 2000, Schulze et al. 2000). A presença desses morcegos está provavelmente relacionada ao grau de especialização da dieta e de abrigo, encontrada em ambientes mais complexos de mata primária (Fenton et al. 1992, Kalko et al. 1999, Medellín et al. 2000). Por exemplo, Tonatia silvicola utiliza como abrigos tocas construídas no interior de cupinzeiros, localizados em árvores de médio e grande porte (Kalko et al. 1999). Devido a mortalidade dessas árvores após a fragmentação ou sua escassez em áreas com vegetação secundária (Laurance 1997), estes abrigos podem não estar disponíveis em número ou em qualidade. Para algumas espécies de morcegos a capoeira de Cecropia parece ser mais permeável do que as capoeiras de Vismia e o pasto abandonado. Distúrbios muito freqüentes podem dificultar a colonização e a residência de algumas espécies de morcegos, devido reduzir drasticamente a diversidade vegetal na área, explicando, em parte, a pobreza de espécies nas amostragens nestes ambientes. Fragmentos florestais, rodeados por capoeiras em estágio mais avançados de sucessão, possibilitam a ocupação de espécies mais seletivas por tipo de ambiente. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec Br 174 18 Figura 1. Imagem de satélite das áreas do PDBFF com destaque das fazendas Porto Alegre, Dimona e Esteio, incluindo os acampamentos Cidade Powell e Colosso da fazenda Esteio (Landsat TM 5, 4, 3 – RGB, fonte: INPE 1995). Verde escuro representa áreas de mata primária, verde claro representa áreas de vegetação secundária e em rosa as áreas de pasto abandonado, clareiras e rodovias. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 19 a) b) PA CC CV PA 100m PA CC CV PA PA 1000m c) PA CV 500m Figura 2. Imagem de satélite das fazendas Porto Alegre (a), Dimona (b), Cidade Powell e Esteio (c) com os locais onde as redes foram armadas no pasto abandonado (PA), capoeira de Vismia (CV) e capoeira de Cecropia (CC). Verde escuro representa áreas de mata primária, verde claro representa áreas de vegetação secundária e em rosa as áreas de pasto abandonado e clareiras. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 20 450 400 Precipitação (mm) 350 300 250 200 150 100 50 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Meses Figura 3. Médias pluviométricas das Fazendas Dimona, Porto Alegre e Esteio do PDBFF de dados coletados entre 1996 e 2001. Barras verticais finas indicam desvio padrão. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 21 Tabela 1. Espécies de morcegos, número de indivíduos capturados e número de amostras fecais coletadas (entre parênteses) em três tipos de vegetação em crescimento secundário do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. Local Pasto abandonado Capoeira de Vismia Capoeira de Cecropia Hora-rede 643 469 391 N. de noites 27 16 14 N. de indivíduos 862 430 383 N. de espécies * 19 13 18 Carollia perspicillata 470 (342) 326 (251) 294 (219) Carollia brevicauda 18 (14) 20 (17) 13 (11) Sturnira lilium 139 (100) 4 (0) 0 (0) Sturnira tildae 132 (99) 9 (12) 0 (0) Rhinophylla pumilio 20 (10) 38 (19) 37 (22) Artibeus concolor 40 (17) 12 (7) 10 (5) Artibeus cinereus 6 (0) 1 (0) 0 (0) Artibeus gnomus 0 (0) 0 (0) 3 (0) Artibeus obscurus 6 (1) 9 (1) 1 (0) Artibeus jamaicensis 1 (0) 1 (0) 1 (0) Artibeus lituratus 5 (2) 2 (0) 1 (0) Uroderma bilobatum 10 (3) 0 (0) 0 (0) Mesophylla macconnelli 3 (0) 0 (0) 1 (0) Ametrida centurio 2 (0) 0 (0) 0 (0) Platyrrhinus helleri 2 (0) 0 (0) 0 (0) Vampyressa bidens 2 (0) 0 (0) 0 (0) Phylloderma stenops 0 (0) 0 (0) 1 (1) Phyllostomus discolor 1 (0) 0 (0) 0 (0) Phyllostomus elongatus 0 (0) 0 (0) 4 (4) Tonatia bidens 2 (1) 0 (0) 5 (4) Tonatia silvicola 0 (0) 0 (0) 2 (1) Trachops cirrhosus 0 (0) 0 (0) 1 (1) Mycronicteris megalotis 1 (0) 0 (0) 1 (0) Mimon crenulatum 0 (0) 0 (0) 2 (1) Glossophaginae 2 (0) 2 (0) 3 (0) Desmodus rotundus 0 (0) 2 (0) 0 (0) Pteronotus parnellii 0 (0) 4 (0) 3 (2) * Morcegos da subfamília Glossophaginae foram considerados como uma única morfoespécie. Total 1503 57 1675 27 1090 (812) 51 (42) 143 (100) 141 (111) 95 (51) 62 (29) 7 (0) 3 (0) 16 (2) 3 (0) 8 (2) 10 (3) 4 (0) 2 (0) 2 (0) 2 (0) 1 (1) 1 (0) 4 (4) 7 (6) 2 (1) 1 (1) 2 (0) 2 (1) 7 (0) 2 (0) 7 (2) Tabela 2. Dados de recaptura de quatro espécies de morcegos em três tipos de vegetação em crescimento secundário do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. Distância média de recaptura (m) e N. morcegos N. morcegos Percentual Distância tamanho das amostras a recapturados de recapturas máxima anilhados (%) (m) Incluindo zeros b Excluindo zeros b Carollia perspicillata 1017 23 2,26 11800 105 (22) 462 (5) Sturnira lilium 126 22 17,46 28150 114 (20) 380 (6) Sturnira tildae 107 3 2,80 360 170 (3) 255 (2) Carollia brevicauda 51 2 3,92 0 0 (2) 0 (0) a Na distância média não foram incluídos os valores de 27250 e 28150 m de S. lilium e 11800 m de C. perspicillata. b Zeros se refere as distancias de recaptura iguais a 0 metros. Morcegos Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 22 Carollia brevicauda a a Pasto abandonado n = 470 a Capoeira de Vismia n = 326 Freqüência de captura Freqüência de captura Carollia perspicillata a a Pasto abandonado n = 18 Capoeira de Cecropia n = 294 Freqüência de captura Freqüência de captura a b Capoeira de Vismia n=9 b Pasto abandonado n = 139 Capoeira de Cecropia n=0 Capoeira de Vismia n=4 b Capoeira de Cecropia n=0 Artibeus concolor a a b Capoeira de Vismia n = 38 Capoeira de Cecropia n = 37 Freqüência de captura Freqüência de captura Capoeira de Cecropia n = 12 a b Rhinophylla pumilio Pasto abandonado n = 20 Capoeira de Vismia n = 20 Sturnira lilium Sturnira tildae Pasto abandonado n = 132 a a a Pasto abandonado n = 40 Capoeira de Vismia n = 12 a Capoeira de Cecropia n = 10 Figura 4. Média e desvio padrão (barras finas verticais) do número de morcegos capturados, dividido pelo esforço em hora-rede das seis espécies de morcegos mais abundantes em três tipos de vegetação em crescimento secundário (pasto abandonado, capoeira de Vismia e capoeira de Cecropia) do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. Letras diferentes indicam diferença significativa usando ANOVA (P < 0,05). n = número de morcegos capturados. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 23 CAPÍTULO 2 PADRÃO ALIMENTAR DAS SEIS ESPÉCIES DE MORCEGOS FRUGÍVOROS MAIS ABUNDANTES EM ÁREAS ALTERADAS NA AMAZÔNIA CENTRAL INTRODUÇÃO Devido ao desflorestamento e fragmentação, florestas neotropicais estão sendo transformadas em áreas com vegetação secundária ou campos abertos (Uhl e Vieira 1989). A dinâmica de regeneração da floresta depende do histórico de uso da terra antes de seu abandono, principalmente em relação ao tempo e intensidade de seu uso (Uhl et al. 1988). Áreas intensamente usadas por longos períodos de tempo (mais de 10 anos) sofrem perdas maiores da qualidade do solo, absorção de água e nutrientes, além da perda de riqueza de plântulas e do banco de sementes, resultando em uma menor capacidade de regeneração (Uhl et al. 1988). A degradação causada por pastagens, muitas vezes é maior comparada ao tradicional corte e queima da floresta para o cultivo da terra. O elevado grau de degradação de pastagens torna a recuperação destas áreas difícil e demorada. Após o abandono, as primeiras plantas a colonizarem áreas de pastagens são plantas de crescimento rápido e tolerante a luz como gramíneas e arbustos (Uhl e Clark 1983, Uhl et al. 1988, Uhl e Vieira 1989). Dentre os fatores que limitam a recuperação de áreas degradadas, estão os eventos relacionados a dispersão de sementes. A falta de deposição de sementes vindas de áreas florestadas ou mesmo de vegetação em crescimento secundário vizinhos são barreiras para o restabelecimento de áreas abertas (Nepstad et al. 1991, da Silva et al. 1996, Nepstad et al. 1996, Holl 1999). Em determinadas circunstâncias, o dispersor pode ser o fator crítico no destino das sementes e no processo de regeneração (Nepstad et al. 1996). Plantas tropicais possuem uma variedade de estratégias para promover a dispersão de suas sementes, muitas vezes relacionado a oferta de frutos como recurso para atrair animais frugívoros (Howe e Smallwood 1982). Espécies anemocóricas, dispersas pelo vento, ocorrem em baixo número e mais de 80 % das plantas arbóreas e arbustivas dependem de vertebrados frugívoros para a dispersão de suas sementes (Howe e Smallwood 1982, Fleming et al. 1987, Wunderle Jr 1997). Estudos que abordam a chuva de sementes (Ganade 1995, Holl 1999), composição do banco de sementes (Mônaco 1999) e a sucessão vegetal em áreas de pasto abandonado e capoeiras (Nepstad, Uhl, Otero-Arnaiz et al. 1999), apontam morcegos como um dos Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 24 principais responsáveis pela disseminação de sementes nessas áreas. Morcegos podem dispersar as sementes de cerca de 50 % das espécies de árvores e arbustos consideradas importantes para os estágios iniciais de sucessão (Fleming e Heithaus 1981, Heithaus 1982, Charles-Dominique 1991, Galindo-González 1998). Somente Cecropia pode representar 87 % das espécies de plantas dispersas por morcegos (Medellín e Gaona 1998). A dispersão de sementes por morcegos tende a ser mais concentrada junto a borda de áreas florestadas, no qual a densidade do banco de sementes é negativamente correlacionada com a distância da borda da floresta, em direção ao pasto abandonado (Fleming e Heithaus 1981, Ganade 1995, Ingle 2003). Desta forma, através da dispersão de sementes, morcegos frugívoros podem influenciar o padrão de distribuição das plantas, sendo responsáveis pela demografia e variabilidade gênica de espécies de plantas zoocóricas. Na região Amazônica, a guilda de morcegos frugívoros pode compreender entre 25 % e 40 % da comunidade de morcegos, todos pertencentes a família Phyllostomidae (Mok et al. 1982, Wilson et al. 1996, Brosset et al. 1996, Simmons e Voss 1998, Marinho-Filho e Sazima 1998, Lim e Engstrom 2001, Bernard 2001a, Bernard 2001b). Devido a sua alta mobilidade e capacidade de cruzarem longas distancias entre fragmentos florestais, morcegos são menos sujeitos aos efeitos da perda de floresta em relação a frugívoros terrestres (Estrada e CoatesEstrada 2001a). Outras espécies são capazes de utilizar árvores isoladas em pastos abandonados para forrageio ou para pouso noturno, depositando assim sementes sob a copa destas árvores (Guevara e Laborde 1993, Galindo-González et al. 2000). Por outro lado, muitas espécies de morcegos frugívoros são suscetíveis aos efeitos da fragmentação da floresta, podendo diminuir sua população ou desaparecer quando o ambiente é alterado (Fenton et al. 1992, Brosset et al. 1996, Cosson et al. 1999b, Medellín et al. 2000). Neste contexto, estudos da estrutura e função da comunidade de morcegos são importantes para avaliar como mudanças ambientais provocadas pelo homem podem interferir nas relações ecológicas e no papel que morcegos desempenham. Para entender melhor a importância deste grupo animal na recuperação de áreas degradadas, o presente estudo pretende focar o padrão alimentar das seis espécies de morcegos frugívoros mais abundantes (ver Capítulo 1; Carollia perspicillata, C. brevicauda, Sturnira lilium, S. tildae, Artibeus concolor e Rhinophylla pumilio) em três tipos de áreas alteradas na Amazônia Central: pasto abandonado, capoeiras dominadas por Vismia e capoeiras dominadas por Cecropia. Em específico, o presente estudo tem como propósito responder (1) qual a composição alimentar de morcegos frugívoros em áreas alteradas, (2) qual o nível de sobreposição alimentar entre estas espécies de morcegos e (3) como é a variação temporal da dos itens alimentares e da sobreposição alimentar destes Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 25 morcegos. A comparação da carga de sementes entre os três tipos de vegetação alterada e suas conseqüências para a chuva de sementes também são discutidos. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 26 MATERIAL E MÉTODOS Composição alimentar dos morcegos frugívoros A determinação da dieta dos morcegos frugívoros foi feita pela identificação de sementes coletadas nas amostras fecais. Como a passagem do alimento pelo tubo digestivo de morcegos frugívoros dura de 15 a 30 min (Fleming 1988), todos os morcegos capturados foram colocados individualmente em sacos de pano pelo menos por 30 minutos antes de serem manipulados e soltos. Cada saco foi inspecionado na procura de sementes, que foram identificadas por comparação com sementes de frutos coletados no campo. A determinação da dieta dos morcegos através de amostras fecais foi restrita a plantas com sementes pequenas que podem ser ingeridas pelos morcegos. Plantas com sementes grandes não foram consideradas, além das fezes formadas somente por polpa de frutos. A variação da composição da dieta dos morcegos foi feita pela divisão do ano em quatro estações, de acordo com os dados pluviométricos das áreas do PBBFF entre 1996 e 2001 (Figura 3 do Capítulo 1): fevereiro-abril, estação chuvosa; maio-julho, início da estação seca; agosto-outubro estação seca; e novembro-dezembro início da estação chuvosa. A comparação da freqüência de consumo das espécies de frutos por cada espécie de morcego foi calculada usando o teste de aderência χ2, com proporções esperadas iguais entre as populações comparadas (1:1) e nível de significância de 0,05 %. Quando gl = 1, foi usado a correção de Yates (χ2Yates) para diminuir o efeito do erro Tipo I, (Zar 1999). A diversidade de espécies de frutos consumidos pelos morcegos foi calculada através do Índice de ShanonWiener Evenness (H’Evenness = H’/ln k): H'= n ln n − ∑ fi ln fi n no qual H' é o índice de diversidade de Shanon-Wiener, f é a freqüência do fruto i consumido pela espécie de morcego x; n é somatório das freqüências fi; e k é o número de espécies de frutos consumidos pelo morcego x. Como o número de espécies de frutos consumido por uma espécies morcego pode influenciar no seu resultado, o índice de Shanon-Wiener foi dividido por ln k. A comparação entre os índices de diversidade foi calculada através do teste t para índice de diversidade de Shannon (Zar 1999). Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 27 Sobreposição alimentar entre os morcegos frugívoros A similaridade do uso de um determinado recurso por duas espécies de morcegos foi calculada através do índice de sobreposição de dieta de Morisita (Krebs 1998), através do programa Ecological Methodology 5.2 (Kenney e Krebs 2000): C= 2Σpix piy Σpix [(nix − 1) /( N x − 1)] + Σpiy [(niy − 1) /( N y − 1)] no qual C é o índice de Morisita, pix é a proporção do fruto i consumido pela espécie de morcego x; piy é a proporção do fruto i consumido pelo morcego y; nix é o número de morcegos da espécie x que consomem o fruto i; niy é o número de morcegos da espécie y que consomem o fruto i; Nx e Ny são o número total de morcegos de cada espécie (Σ nix = Nx; Σ niy = Ny). O índice varia ente 0 e 1, com altos valores indicando maior sobreposição da dieta entre pares de espécies de morcegos. Para o calculo do índice de Morisita não foi incluído as amostras de insetos, devido a ingestão dos insetos poder ter sido acidental. Disponibilidade de recurso alimentar Um total de 10 transectos, com 5 m de largura por 500 m de comprimento foram monitorados para avaliar o período de frutificação das seguintes espécies de plantas consumidas pelos morcegos frugívoros: Vismia cayennensis, V. japurensis, V. guianensis (Clusiaceae), Solanum crinitum, S. rugosum (Solanaceae), e Piper sp (Piperaceae). Os transectos foram colocados em cada um dos três tipos de vegetação secundária estudados (dois transectos em cada tipo de vegetação). Áreas de borda das capoeiras de Vismia e de Cecropia (um transecto em cada borda) e borda de três fragmentos florestais (dois de 10 ha e um de 1 ha) também foram amostradas, devido a algumas espécies de plantas consumidas por morcegos serem comuns nestes locais, podendo não ser encontradas nos transectos dentro das capoeiras e no pasto (ex. Piper spp, Fleming 1988). Em cada transecto, com o uso de um binóculo 10 x 50, foi contado o número de árvores das seis espécies de plantas quiropterocóricas com frutos maduros. Nos dados de frutificação de Piper sp e das duas espécies de Solanum (S. crinitum e S. rugosum) outros indivíduos, não marcados, também foram acompanhados em trilhas percorridas rotineiramente durante todo o estudo. Nos resultados é mostrado apenas o período de frutificação e não a abundância de indivíduos com frutos por transecto, pois alguns erros podem ocorrer neste tipo de amostragem. Por exemplo, o uso desta técnica considera somente a presença de indivíduos com frutos, não permitindo distinguir diferenças na quantidade de frutos produzidos, devido Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 28 a dificuldade de inferir se os frutos de árvores mais altas estavam maduros ou não. Além disso, árvores altas em locais com vegetação densa, não foi possível avistar seus frutos, maduros ou não, ou até mesmo não foram encontradas. A escolha aleatória dos locais de cada transecto pode não incluir número suficiente de indivíduos de uma determinada espécie, possivelmente devido a distribuição espacial agrupada de algumas plantas, podendo interferir na medida de disponibilidade de frutos para os morcegos. O uso do mesmo número de transectos para as capoeiras, bordas dos fragmentos e pastos abandonados com tamanhos diferentes podem representar um esforço de amostragem diferente e inadequado para cada um destes locais. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 29 RESULTADOS Disponibilidade de recurso alimentar As três espécies de Vismia consumidas pelos morcegos exibiram um padrão seqüencial de frutificação, com pouca sobreposição entre elas (Figura 1). Vismia japurensis e V. guianensis produziram frutos de novembro a março (estação chuvosa), enquanto de V. cayennensis entre abril e outubro (estação seca). Solanum crinitum, S. rugosum e Piper sp tiveram frutos maduros praticamente o ano todo. A espécie de Piper amostrada não teve um período de pico de produtividade, mas o número de indivíduos com frutos foi maior entre as seis espécies de plantas. Por outro lado, S. crinitum e S. rugosum tiveram pico de produção de frutos entre agosto e dezembro, durante a estação seca e transição para a estação chuvosa. Nos outros períodos raramente foram observados indivíduos com frutos maduros de S. crinitum, em comparação com S. rugosum. Composição alimentar dos morcegos frugívoros Nas áreas alteradas do PDBFF, sementes de 11 espécies de plantas foram encontradas nas amostras fecais das seis espécies de morcegos estudadas. Não foi possível distinguir e separar as sementes das três espécies de Vismia, pois suas sementes são morfologicamente semelhantes, apesar de terem fenologia de frutificação distinta e com pouca sobreposição (Figura 1). Desta forma, estas três espécies foram tratadas ao nível de gênero na composição alimentar dos morcegos. As seis espécies de morcegos frugívoros tiveram diferença na freqüência de consumo das nove espécies de frutos com sementes encontradas em suas amostras fecais. Em geral, o fruto mais consumido pelos morcegos foi Vismia (66,27 %), seguido pelas duas espécies de Solanum (14,94 %) e de Piper (11,48 %). As outras quatro espécies de frutos somam 7,31 % do total de frutos consumidos. Os morcegos que tiveram maior freqüência de Vismia em sua dieta foram A. concolor (87,50 %), R. pumilio (72,22 %), C. perspicillata (70,89 %) e C. brevicauda (54.90 %) (Tabela 1). Apesar do predomínio de Vismia (38, 21 %) na dieta de S. tildae, o seu consumo foi semelhante ao de Solanum crinitum (28,46 %, Tabela 1). Sturnira lilium e S. tildae foram os morcegos que mais consumiram as duas espécies de Solanum (76,78 % e 42,28 % da dieta desses morcegos, respectivamente, Tabela 1), apesar de C. brevicauda, A. concolor e C. perspicillata possuírem freqüência de consumo de S. rugosum semelhante ao S. tildae (Tabela 1). As duas espécies de Sturnira foram diferentes quanto ao consumo dos frutos de Solanum. Neste caso, S. tildae consumiu significativamente Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 30 mais S. crinitum (38,21 % das amostras fecais) em relação a S. rugosum (28,46 %) enquanto que S. lilium consumiu mais S. rugosum (47,32 %). Comparando o uso das Solanaceae entre estas duas espécies de morcegos, o consumo de S. rugosum foi maior por S. lilium. As duas espécies Sturnira foram praticamente os únicos morcegos a consumirem S. crinitum (Tabela 1). Entre as seis espécies de morcegos estudadas, S. tildae teve o maior índice de diversidade (H’Evenness = 0,83). Das seis espécies de frutos consumidos por S. tildae, quatro espécies, de três gêneros, representaram, cada uma, mais de 10 % de sua dieta, podendo ser considerado o morcego mais generalista (Tabela 1). Sturnira lilium e C. brevicauda tiveram valores de H’Evenness semelhantes (0,73 e 0,72 respectivamente), mas com diferenças na composição alimentar: S. lilium teve sua dieta concentrada em Solanum (76,78 %) enquanto que C. brevicauda consumiu mais Vismia (54,9 %). Os altos valores de H’Evenness de S. lilium e C. brevicauda não indicam uma dieta generalista, como em S. tildae. Por outro lado, R. pumilio, C. perspicillata e A. concolor tiveram os menores valores do índice diversidade de espécies de frutos consumidos (0,51, 0,43 e 0,37, respectivamente), podendo ser considerados os morcegos com dieta especialista em Vismia (Tabela 1). Embora a maioria dos morcegos estudados foi especialista em um gênero de fruto (Vismia e Solanum), para C. perspicillata, C. brevicauda e S. lilium os frutos das duas espécies de Piper também podem ser considerados como um importante recurso, representando de 10 a 20 % da dieta. Da mesma forma, 20,37 % da dieta de R. pumilio foi composta por sp1 e sp2, no qual este foi o morcego com a maior freqüência de consumo de sp2 (Tabela 1). Em C. perspicillata, 51 % das amostras fecais das duas espécies de Piper estavam misturadas com sementes de Vismia. Outras espécies de frutos como S. rugosum (56,41 %), sp3 (46,15 %) e sp4 (50 %), também estavam misturados em alta proporção com Vismia, no entanto cada uma destas plantas representou menos de 4 % da dieta de C. perspicillata (Tabela 1). Na ordenação por PCA aplicada para a freqüência do consumo de frutos pelos morcegos, o eixo 1 explicou 75 % da variação total, enquanto o eixo 2 explicou outros 21 %. De acordo com as variáveis (Tabela 2), o alto valor positivo do eixo 1 correspondeu ao consumo de Vismia, agrupando os morcegos C. perspicillata, C. brevicauda, R. pumilio, A. concolor e S. tildae (Figura 2). Os valores negativos no eixo 1 corresponderam aos frutos com baixa freqüência na dieta dos morcegos, separando somente S. lilium, morcego com alto consumo de S. crinitum, S. rugosum e Piper aduncum, que representam juntos 88 % de sua dieta (Tabela 2). Ao longo do eixo 2, o alto valor negativo de S. rugosum e S. crinitum separou as espécies de Sturnira, dos outros morcegos (Tabela 2 e Figura 2). As outras quatro Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 31 espécies de morcegos permaneceram agrupadas, provavelmente associadas ao alto consumo de Vismia (Figura 2). Na ordenação por PCA não foi usado o item insetos para o calculo da freqüência de consumo dos frutos. A ingestão dos insetos pode ter sido acidental, uma vez que 75 % das amostras de insetos de C. perspicillata estavam juntos com sementes, enquanto que para os outros morcegos, todos os insetos amostrados estavam misturados com as sementes. Em relação a composição alimentar associada a um tipo de vegetação, não foi observada diferença significativa no consumo das espécies de frutos por C. perspicillata entre os três tipos de vegetação (Tabela 3). Embora não houve número suficiente de amostras com sementes das espécies de morcegos C. brevicauda, R. pumilio e A. concolor para cada área estudada, os resultados indicaram predomínio de Vismia nos três tipos de vegetação (Tabela 3 e 4). Em R. pumilio, as espécies de frutos sp1, sp2 e sp3 foram encontradas somente nas amostras das áreas de capoeira (Tabela 4). Devido ao predomínio da freqüência de captura no pasto abandonado dos morcegos S. tildae e S. lilium (ver Capítulo 1), não foi feito comparação da dieta entre os tipos de vegetação. Sobreposição alimentar entre os morcegos frugívoros Em geral, o nível de sobreposição da dieta foi alto para maioria das seis espécies de morcegos, no qual das 15 comparações entre pares de morcegos, 11 tiveram índices acima de 0,6 (Figura 3). Carollia perspicillata, A. concolor, R. pumilio e C. brevicauda, quando comparados entre si, tiveram os maiores valores de sobreposição. Muito desta semelhança na dieta foi devido ao alto consumo de Vismia (Tabela 1), especificamente de V. cayennensis, pois a maioria das capturas e coleta de amostras com sementes de C. brevicauda, A. concolor e R. pumilio ocorreu entre maio e outubro (65, 87 e 100 % de capturas, respectivamente), período de frutificação de V. cayennensis (Figura 1, Tabela 3 e 4). Os índices de sobreposição mais baixos foram os relacionados a S. lilium, exceto quando comparado com S. tildae (0,63). Por outro lado, o próprio S. tildae teve maior semelhança da dieta com as outras quatro espécies de morcegos do que com a sua espécie congênere. Mesmo com valores diferentes dos índices de sobreposição, as duas espécies de Sturnira tiveram maior semelhança de dieta com C. brevicauda (Figura 3), possivelmente associado ao consumo de S. rugosum, Piper e sp1 por estes morcegos (Tabela 1). Variação temporal da dieta e da sobreposição alimentar A composição alimentar ao longo de um ano foi analisada somente para C. perspicillata, S. tildae e S. lilium, por serem os únicos morcegos com mais de 10 amostras Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 32 fecais com sementes nas quatro estações do ano. Vismia foi o recurso significativamente com maior freqüência de consumido por C. perspicillata em todas as estações (Figura 4). No final da estação chuvosa e durante a estação seca (maio a outubro), C. perspicillata teve a sua dieta mais diversificada em número de espécies de frutos (n = 8) e maior consumo de insetos (Figura 3). Da mesma forma, Solanum rugosum e S. crinitum foram os frutos mais importantes para S. lilium, representando em cada estação mais de 70 % de todos os frutos consumidos (Figura 4). Nas quatro estações, S. rugosum foi o fruto significativamente mais consumido por S. lilium (Figura 4). A mudança na composição alimentar entre as estações foi observada com mais intensidade em S. tildae. Neste caso dois aspectos da sua dieta são explorados, um que aborda o aumento do consumo de uma espécie de fruto e outro que aborda os frutos dominantes em um determinado período do ano. Isso não significa que o aumento do consumo de um fruto faça dele o fruto dominante da dieta do morcego. Considerando isto, Vismia foi o recurso dominante, com maior freqüência de consumo, praticamente o ano todo, representando entre 32 e 42 % de sua dieta (Figura 4). Para este morcego houve um aumento do consumo de Vismia, S. crinitum e S. rugosum entre agosto e janeiro, durante a estação seca até o início da chuvosa (S. rugosum foi mais consumido somente no início da estação chuvosa). Estes frutos foram dominantes na dieta de S. tildae, representando cada um deles praticamente um terço da sua dieta. Nos outros períodos, durante a estação chuvosa até o início da estação seca (fevereiro a junho), o consumo de Piper sp e sp1 aumentou. Por outro lado, neste período (fevereiro a junho), os frutos dominantes da dieta de S. tildae foram Vismia, sp1 e S. crinitum. Em S. lilium foi observado um pequeno aumento no consumo de Solanaceae durante a estação seca e início da estação chuvosa, como observado também em S. tildae. A sobreposição alimentar entre as espécies de morcegos C. perspicillata, S. tildae e S. lilium em cada uma das quatro estações, teve um padrão semelhante ao encontrado quando a sobreposição foi analisada independente da estação do ano (Figura 5). Durante a estação chuvosa houve um pequeno aumento no índice de sobreposição entre os três morcegos, enquanto que os menores índices foram encontrados no final da estação chuvosa e estação seca, entre maio e outubro. O início da estação chuvosa foi o período em que S. tildae e S. lilium tiveram a maior semelhança na dieta (0,81) (Figura 5), superior ao valor do índice da sobreposição geral (0,63) (Figura 3), devido ao aumento no consumo das duas espécies de Solanum neste período (Figura 4). Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 33 DISCUSSÃO Composição alimentar dos morcegos frugívoros Por causa da variedade de frutos consumidos, os morcegos frugívoros são considerados generalistas (Fleming 1986). Comparado com outros estudos de dieta dessas seis espécies de morcegos, os resultados do presente estudo mostram um baixo número de espécies de frutos consumidos (Heithaus et al. 1975, Fleming e Heithaus 1981, Fleming 1986, Palmerin et al. 1989, Marinho-Filho 1991, Gorchov et al. 1995, Galindo-González 1998). No total, foram identificadas 11 espécies de frutos nas 1351 amostras fecais, incluindo as 3 espécies de Vismia presentes nas áreas do PDBFF, que devido a semelhança de suas sementes não puderem ser distinguidas e separas nas amostras fecais dos morcegos. Carollia perspicillata foi o único morcego que consumiu as 11 espécies de frutos, seguido por C. brevicauda, S. tildae e S. lilium com 7 espécies de frutos. Entre esses três últimos morcegos, somente os frutos de Vismia, Solanum rugosum, Piper aduncum e sp1 foram consumidos em comum. A amostragem limitada da dieta dos morcegos, que incluiu somente áreas alteradas (pastos abandonados e capoeiras), pode ser apontada como o principal fator para o baixo número de espécies de frutos na dieta dos morcegos. Em Los Tuxtlas, México, nos pastos abandonados as quatro espécies de morcegos mais abundantes consumiram 19 espécies de frutos (Galindo-González et al. 2000), enquanto que apenas Sturnira ludovici, capturado em diversos ambientes (mata primária, vegetação secundária, plantações e pastos abandonados) em florestas altas da Costa Rica, teve sua dieta composta de 29 espécies de frutos (Dinerstein 1986). O tipo de amostragem com redes no nível do solo pode também ter sido outro fator que influenciou os resultados do padrão alimentar dos morcegos, devido as diferenças em seu comportamento de forrageio. Por exemplo, Bernard (2001) considera A. concolor como um morcego de dossel, onde frutos de Cecropia são mais acessíveis. Da mesma forma, R. pumilio, na Amazônia Peruana consumiu mais Cecropia sciadophylla (Gorchov et al. 1996), espécie de planta comum em algumas capoeiras no PDBFF, mas suas sementes não foram encontradas nas amostras fecais desse morcego. Através da análise de 1351 amostras fecais das seis espécies de morcegos foi possível separar dois grupos de acordo com a seletividade de sua dieta, um que inclui os morcegos com predomínio de Vismia em sua dieta e outro com predomínio de Solanum. Artibeus concolor, R. pumilio, C. perspicillata e C. brevicauda foram os morcegos com maior Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 34 consumo de Vismia (> 50 % da dieta destes morcegos), enquanto a dieta de S. tildae e S. lilium incluiu alta proporção de Solanum. Fatores como abundância de recurso, disponibilidade prolongada, distribuição espacial das espécies de plantas e comportamento de forrageio dos morcegos podem explicar tais níveis de especialização alimentar dos morcegos frugívoros nas áreas do PDBFF. Morcegos do gênero Sturnira possuem grande distribuição geográfica pela América Tropical, estendendo-se do centro-sul do México até o norte da Argentina, em altitudes de até 3500 m (Hernández-Conrique et al. 1997, Emmons e Feer 1997). Em toda sua ampla distribuição geográfica a dieta destes morcegos é associada a Solanum, indicando um alto nível de especialização por este gênero de planta (Uieda e Vasconcellos-Neto 1985, Fleming 1986, Dinerstein 1986, Marinho-Filho 1991, Willig et al. 1993, Hernández-Conrique et al. 1997, Iudica e Bonaccorso 1997). Entre as seis espécies de morcegos mais abundantes estudadas, S. tildae e S. lilium consumiram juntos 72,63 % do Solanum coletado de todos os morcegos. Somente S. lilium consumiu 45,26 % do Solanum, no qual Solanum rugosum representou 27,90 %. As duas espécies de Sturnira foram praticamente os únicos morcegos a consumirem os frutos de Solanum crinitum. Como estes frutos são grandes e pesados demais para serem carregados e possuem diversos espinhos junto ao talo, a presença de um uropatágio reduzido pode ser uma característica morfológica importante, que auxilia esses morcegos a se pendurarem nos frutos de S. crinitum sem ficarem presos durante o seu consumo. Neste contexto, Uieda e Vasconcellos-Neto (1985) citam que C. perspicillata consome os frutos de Solanum grandiflorum (espécie de Solanaceae de tamanho semelhante a S. crinitum), contudo observaram que as visitas de C. perspicillata eram breves, durando apenas alguns segundos, enquanto S. tildae permanecia pendurado no fruto por dois minutos. Nas áreas alteradas do PDBFF, a maioria das espécies de plantas consumidas pelos morcegos teve um padrão de frutificação prolongada, com frutos disponíveis o ano todo. Fleming (1986) discute que a disponibilidade prolongada de determinados gêneros de frutos permite a especialização da dieta por morcegos frugívoros. Além disso, Bizzeril e Raw (1997) e Fleming (1981) apontam que o baixo número de frutos maduros disponíveis por noite e a eficiência na localização dos frutos pelos morcegos podem ser os principais fatores na especialização de C. perspicillata por Piper. Frutos com maior disponibilidade, sejam por número de frutos viáveis por noite ou por período de frutificação da planta, tendem a ser mais consumidos (Fleming 1981, Dinerstein 1986, Marinho-Filho 1991, Stevenson et al. 1998). Diversos trabalhos apontam morcegos Phyllostomidae importantes consumidores de Piper, em particular morcegos do gênero Carollia (Fleming 1988, Marinho-Filho 1991, Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 35 Gorchov et al. 1995, Bizerril e Raw 1997). Esta especialização por um tipo de fruto muitas vezes é associada a abundância do recurso em áreas de vegetação secundária e bordas de fragmentos (Fleming 1981, Marinho-Filho 1991). Para duas espécies de morcegos Carollinae, C. perspicillata e C. brevicauda, os frutos das duas espécies de Piper foram o segundo item mais consumido, representando 11,24 % e 21,37 % da amostras coletadas, respectivamente. A outra espécie de Carolliane, R. pumilio, não foi observado a presença de sementes de Piper em suas fezes. A dieta de morcegos frugívoros pode variar em sua distribuição geográfica (Willig et al. 1993). Neste estudo, C. perspicillata teve maior consumo de Vismia, ao contrário como mencionado acima por diversos autores. No Cerrado do nordeste brasileiro, por exemplo, o alto consumo de Vismia é quase que exclusivo por C. perspicillata (74 % das amostras fecais), Artibeus lituratus (85 %) e A. jamaisensis (80 %) (Willig et al. 1993). Esses autores não mencionam o consumo de Piper, inserido provavelmente na categoria de outros frutos ou polpa ingerida, no qual representam menos de 10 % da dieta dessas três espécies de morcegos. Na Amazônia Peruana, o consumo de Vismia por C. perspicillata e C. brevicauda foi maior, embora não significativo comparado ao consumo de Piper (Gorchov et al. 1995). Provavelmente este tipo de resultado pode estar relacionado a quantidade e ao período da disponibilidade das espécies de frutos para os morcegos. Embora ambas espécies de plantas possuem frutos disponíveis o ano todo, o alto consumo de Vismia pode ter sido relacionada a densidade menor das duas espécies de Piper. A distribuição de Piper sp foi concentrada somente nas bordas dos fragmentos e das capoeiras (principalmente na fazenda Porto Alegre), sendo raramente encontrada no interior das capoeiras e no pasto abandonado. Por outro lado, Vismia foi encontrada tanto nas capoeiras quanto no pasto, no qual, em algumas capoeiras, esta foi a espécie dominante (Uhl et al. 1988, Ganade 1995, Mônaco 1998, Moreira 2003), representando mais de 79 % das espécies arbóreas (Ganade 1995). A distribuição espacial e dominância de Vismia permitem conseqüentemente maior disponibilidade e acessibilidade aos frutos em áreas alteradas. Os solos pobres em nutrientes e arenosos da Amazônia Central (Laurance et al. 1999) são inapropriados para Piper, cuja demanda por solos mais ricos é agravado ainda mais em áreas alteradas com baixa taxa de decomposição de matéria orgânica. Sobreposição alimentar entre os morcegos frugívoros O nível de sobreposição entre as seis espécies de morcegos frugívoros das áreas alteradas do PDBFF no geral, foi mais alto comparado a outros estudos desenvolvidos na Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 36 Amazônia Peruana (Gorchov et al. 1996), em La Selva na Costa Rica (Palmerin et al. 1989) e na Mata Atlântica Brasileira (Marinho-Filho 1991). Entre as 11 espécies de frutos identificadas nas amostras fecais dos morcegos, oito (incluindo as três espécies de Vismia) foram consumidas por mais de três espécies de morcegos. Baseado no alto nível de sobreposição e na preferência alimentar, os resultados indicam que os morcegos estudados possuem dieta especializada. Carollia perspicillata, C. brevicauda, A. concolor e R. pumilio tiveram entre 50 e 87 % de sua dieta formada por frutos de Vismia, enquanto que as outras duas espécies, S. tildae e S. lilium consumiram 42 e 77 % de frutos de Solanaceae, respectivamente. Outros estudos mostram que o nível de sobreposição alimentar é maior entre espécies de morcegos congêneres (Palmerin et al. 1989, Fleming 1991, Gorchov et al. 1996, Kalko et al. 1996). Nas áreas alteradas do PDBFF, cinco das espécies de morcegos estudadas pertencem a duas subfamílias: Carollinae (Carollia perspicillata, C. brevicauda e R. pumilio) e Sturnirinae (S. tildae e S. lilium). Assumindo a hipótese de maior sobreposições entre espécies congêneres, a sobreposição alimentar entre os Carollinae e entre os Sturnirinae deveria ser alta, enquanto que a comparação da dieta entre estas duas subfamílias deveria ser baixa. De fato, o nível de sobreposição foi alto entre as espécies de morcegos de uma mesma subfamília, contudo, foi observado que o nível de sobreposição também foi alto entre as três espécies de Carollinae e o morcego S. tildae (mais de 73 % de similaridade). Essa sobreposição da dieta entre as duas subfamílias foi por causa do alto consumo de Vismia (38,21 %) por S. tildae. Quando retirado o item Vismia da análise do índice de sobreposição alimentar, foi observado que dentro das subfamílias a sobreposição continua alta (0,97 entre os Carollinae e 0,87 entre os Sturnirinae), enquanto que entre os dois grupos de morcegos diminui (valor máximo de 0,57), como o esperado. De acordo com estudos prévios, a sobreposição alimentar entre potenciais competidores pode diminuir em períodos de baixa disponibilidade de alimento (Schoener 1982, Stevenson et al. 2000). Contudo, o alto valor do índice de sobreposição alimentar entre S. tildae e as três espécies de Carollinae não suporta esta hipótese de competição (Abrams 1980, Holt 1987). A semelhança na dieta destes morcegos provavelmente esta relacionada a frutificação das espécies ao longo do ano nos diversos ambientes que formam as áreas alteradas do PDBFF e ao nível de especialização alimentar dos morcegos. Sturnira tildae foi considerado o morcego mais generalista, devido ao maior índice de diversidade de frutos consumidos (0,83), com dieta intermediária entre C. perspicillata e S. lilium. O predomínio de S. tildae no pasto abandonado (ver Capítulo 1) e o alto consumo dos frutos de Vismia não Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 37 contribuíram para que este morcego fosse para as áreas de capoeira forragear. Do mesmo modo, a falta de S. tildae nas capoeiras não aumentou a freqüência do consumo de Vismia por C. perspicillata nesse ambiente. Isso talvez seja devido a disponibilidade suficiente de Vismia para estas duas espécies de morcegos coexistirem, tanto nas capoeiras quanto no pasto abandonado, embora a densidade de S. tildae foi menos que a de C. perspicillata. Assim, S. tildae não interfere no consumo de Vismia por C. perspicillata, podendo permanecer somente no pasto abandonado. Diversos autores sugerem que diferenças no padrão alimentar e até mesmo do comportamento de forrageio de morcegos podem estar associadas ao tamanho corporal, no qual pode ser observada uma correlação positiva entre o peso do morcego e o tamanho do fruto consumido (Heithaus et al. 1975, Fleming 1991, Kalko et al. 1996, Kalko e Condon 1998). Neste estudo, C. brevicauda consumiu mais Piper em relação a C. perspicillata, corroborando com a hipótese adotada por Fleming (1991) para morcegos do gênero Carollinae. Entretanto, R. pumilio (9,5 g; n = 18), menor espécie de morcego deste estudo, e A. concolor (21,9 g; n = 16) tiveram 98 % de similaridade de dieta, proporcionado pelo alto consumo de Vismia. Assim, diferenças morfológicas entre as espécies de morcegos necessariamente não levam a uma diferença da dieta (Willig et al. 1993). Provavelmente, em áreas alteradas, a disponibilidade de espécies pioneiras consumidas por morcegos por um período prolongado pode ser mais importante na especialização da dieta, atenuando diferenças na composição da dieta. Variação temporal da composição e da sobreposição alimentar A variação do nível de sobreposição e da preferência alimentar podem indicar como morcegos estão utilizando os recursos disponíveis e interagindo ao longo do tempo. Neste caso, a variação temporal corresponde a flutuações da disponibilidade do recurso alimento. Neste estudo, a freqüência de consumo das espécies de frutos não variou sazonalmente nos morcegos C. perspicillata, S. tildae e S. lilium. Isto provavelmente esta ligado a disponibilidade prolongada de frutos. A falta de sazonalidade de espécies de frutos observada pode ter favorecido a especialização dos morcegos por uma determinada espécie ou gênero de planta (Marinho-Filho 1991, Fleming 1986), não alterando o nível de sobreposição alimentar entre os morcegos ao longo do ano. Em locais onde ocorre sazonalidade da disponibilidade de frutos, o nível de sobreposição e da composição alimentar podem variar. Por exemplo, Pedro e Taddei (1997) observaram no cerrado, durante a estação chuvosa quando ocorre aumento da oferta de frutos, Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 38 a sobreposição alimentar entre C. perspicillata e S. lilium diminui, devido ao consumo dos frutos dos quais estes morcegos são especializados, Piper e Solanum, respectivamente. Já durante a estação seca, a falta de frutos no ambiente, em particular de Solanum sp, proporciona um aumento da sobreposição entre estes morcegos. A variação da abundância de alimento pode alterar o comportamento de forrageio dos morcegos. Em períodos de baixa disponibilidade de frutos, morcegos podem voar distâncias maiores e mudar de áreas de forrageio mais freqüentemente, a fim de adquirir os frutos que consomem mais (Fleming 1986). Os resultados de recaptura deste estudo (ver Capítulo 1) mostram que C. perspicillata e S. lilium possuem um comportamento de fidelidade por um local em um longo período de tempo. Recursos presentes por todo o ano podem reduzir flutuações no suplemento alimentar, que atuam como forças seletivas, e favorecer assim a residência e o aumento populacional dos morcegos (Heithaus et al. 1975; Sazima et al. 1999). Conseqüências para a dispersão de sementes Diversos estudos apontam frugívoros voadores (aves e morcegos) como bons dispersores de sementes, em termos de quantidade de sementes dispersas e distância de transporte (Guevara e Laborde 1993, da Silva et al. 1996). Ambos frugívoros podem conectar áreas abertas com a floresta, dispersando principalmente espécies pioneiras (Gorchov et al. 1995, Ganade 1995, Charles-Dominique 1991, Galindo-González 1998). Árvores isoladas também podem atrair morcegos e aves, funcionando como núcleos de regeneração, pela deposição de sementes sob suas copas (McDonnell e Stiles 1983, McClanahan e Wolf 1987, Guevara e Laborde 1993, Galindo-González et al. 2000). Morcegos possivelmente são mais importantes nos estágios iniciais de sucessão de áreas degradadas em relação a aves (da Silva et al. 1996, Galindo-González et al. 2000). Muitas espécies pioneiras dominantes de áreas degradadas na Amazônia são dispersas por morcegos, enquanto aves transportam mais sementes de espécies de estágios finais de sucessão (da Silva et al. 1996, Galindo-González et al. 2000). Mais de 76 % da freqüência de frutos consumidos pelas seis espécies de morcegos neste estudo foram de plantas pioneiras. As três espécies de árvores mais abundantes encontradas em áreas de vegetação secundária no PDBFF foram Vismia japurensis, V. guianensis e V. cayennensis, representando juntas 55 % das árvores amostradas neste ambiente (Ganade 1995) e 61 % das espécies do banco de sementes em capoeiras de Vismia (Mônaco 1998). Estas três espécies constituem entre 55 e 88 % da dieta de quatro das seis espécies de morcegos estudadas nas áreas alteradas do PDBFF, Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 39 indicando o potencial desses morcegos frugívoros como dispersores de plantas pioneiras e sua importância na composição e restauração de áreas degradas. A distribuição das espécies de plantas consumidas por morcegos nos diferentes ambientes alterados também depende da capacidade dos morcegos em utilizar estas áreas. Dias-Filho (1998) mostrou que Solanum crinitum é capaz de germinar no escuro, características de locais com capoeira alta, sob liteira ou junto a troncos caídos. Contudo, as duas espécies de morcegos S. lilium e S. tildae, consideradas potenciais dispersores de S. crinitum e S. rugosum, possuem baixa taxa de captura em ambientes de capoeira (ver Capítulo 1), no qual 96,5 % destes morcegos foram capturados nas áreas de pasto abandonado. Isso reflete a baixa freqüência destas duas Solanaceae nas capoeiras, onde representam apenas 0,9 % das espécies do banco de sementes em capoeiras de Vismia no PDBFF (Mônaco 1998). A baixa taxa de captura não significa que estes morcegos não entram nas áreas de capoeira e possam assim transportar sementes de um ambiente para outro, mas reforça o tipo de ambiente onde estes morcegos atuam como potenciais dispersores de sementes. Plantas dispersas por morcegos tendem a exibir uma distribuição espacial agrupada, no qual pode-se encontrar indivíduos de espécies diferentes juntos (Janzen et al. 1976, Fleming e Heithaus 1981). O agrupamento das plantas muitas vezes reflete características do padrão de movimento e de forrageio dos morcegos. Os dados de recaptura de C. perspicillata e S. lilium (ver Capítulo 1) indicaram que estes morcegos permanecem por vários dias em um mesmo local, deslocando distâncias curtas de 390 m em média. Estudos com radio-telemetria mostram que indivíduos de C. perspicillata podem permanecer 1:30 h em uma única área de forrageio e visitam de duas a quatro áreas por noite (Heithaus e Fleming 1978). Como o tempo de passagem de sementes pelo trato digestivo dos morcegos é curto (15-20 min, Morrison 1980), a chuva de sementes permanece próxima a planta mãe. Por outro lado, o deslocamento dos morcegos pode dispersar sementes entre diferentes áreas de forrageio. O uso constante de abrigos noturnos pelos morcegos frugívoros em uma mesma noite, freqüentemente localizados a menos de 50 m da fonte de frutos, pode depositar um grande número de sementes embaixo desses locais. Trabalhos com coletores de sementes noturnos também mostraram uma deposição agrupada, não aleatória, das sementes pelos morcegos, pois os coletores possuem uma alta variação do número de sementes e de espécies coletadas (Fleming e Heithaus 1981, Thomas 1988, Ingle 2003). Fezes de morcegos também podem conter um grande número de sementes com diversas espécies de plantas (Fleming e Heithaus 1981, Galindo-González et al. 2000). Neste estudo, 50 % das amostras com Piper de C. perspicillata estavam misturadas com Vismia. Isso sugere que a distribuição espacial de Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 40 plantas quiropterocóricas tende a ser agrupada e não aleatória, uma vez que grande parte da deposição de sementes de Piper pelos morcegos estava associada com as sementes de Vismia. No entanto, outros fatores relacionados a germinação e estabelecimento das plantas irão atuar na distribuição espacial das plantas após o evento da dispersão das sementes pelos morcegos. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 41 Tabela 1. Número de amostras fecais com sementes e insetos e freqüência relativa (entre parênteses) por espécie de planta, coletadas das seis espécies de morcegos mais abundantes nas áreas com vegetação em crescimento secundário do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. Carollia perspicillata Carollia brevicauda Sturnira tildae Sturnira lilium Rhinophylla pumilio Artibeus concolor Vismia spp 694 (70,89) 28 (54,90) 47 (38,21) 7 (6,25) 39 (72,22) 28 (87,50) Solanum crinitum 5 (0,51) 0 (0,00) 35 (28,46) 33 (29,46) 0 (0,00) 0 (0,00) Solanum rugosum 39 (3,98) 6 (11,76) 17 (13,82) 53 (47,32) 0 (0,00) 2 (6,25) Piper aduncum 22 (2,25) 4 (7,84) 4 (3,25) 11 (9,82) 1 (1,85) 1 (3,13) Piper sp 88 (8,99) 7 (13,73) 6 (4,88) 0 (0,00) 1 (1,85) 1 (3,13) sp1 13 (1,33) 4 (7,84) 12 (9,76) 5 (4,46) 6 (11,11) 0 (0,00) sp2 23 (2,35) 1 (1,96) 0 (0,00) 1 (0,89) 5 (9,26) 0 (0,00) sp3 13 (1,33) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 1 (1,85) 0 (0,00) sp4 8 (0,82) 1 (1,96) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) Insetos 74 (7,56) 0 (0,00) 2 (1,63) 2 (1,79) 1 (1,85) 0 (0,00) 979 51 123 112 54 32 Total a Amostras mistas 93 8 10 10 2 3 b 55 0 2 2 0 0 Fruto+inseto H'/log n c 0,43 c 0,72 b 0,83 a 0,73 b 0,51 c 0,37 d a Número total de amostras com sementes e insetos coletadas dos morcegos, incluindo amostras com mais de uma espécie de planta (amostras mistas). b Número de amostras de sementes misturadas com insetos. c Índice de Shannon-Wiener Evenness. Letras diferentes indicam diferença significativa usando o teste t (P > 0,05). Tabela 2. Autovetores dos dois primeiros eixos da Análise de Componentes Principais (PCA) dos dados de freqüência de frutos consumidos pelas seis espécies de morcegos mais abundantes nas áreas com vegetação em crescimento secundário do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. Frutos Vismia spp Solanum crinitum Solanum rugosum Piper aduncum Piper sp sp1 sp2 sp3 sp4 Eixo 1 2,638 -0,195 -0,159 -0,362 -0,201 -0,220 -0,431 -0,534 -0,532 Eixo 2 0,263 -1,523 -1,909 0,165 0,627 0,282 0,707 0,699 0,690 Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 42 Tabela 3. Número de amostras com sementes e freqüência relativa (entre parênteses) por espécies de planta coletadas dos morcegos Carollia perspicillata e C. brevicauda nas áreas com vegetação em crescimento secundário do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. No cálculo da freqüência de cada espécies de planta coletada não foi incluído as amostras com insetos. Local Vismia spp Solanum crinitum Solanum rugosum Piper aduncum Piper sp sp1 sp2 sp3 sp4 Pasto Abandonado Carollia Carollia perspicillata brevicauda n = 391 n = 17 288 (73,66) 11 (64,71) 5 (1,28) 0 (0,00) 23 (5,88) 3 (17,65) 12 (3,07) 0 (0,00) 48 (12,28) 2 (11,76) 8 (2,05) 0 (0,00) 2 (0,51) 1 (5,88) 4 (1,02) 0 (0,00) 1 (0,26) 0 (0,00) Capoeira de Vismia Carollia Carollia perspicillata brevicauda n = 276 n = 21 214 (77,54) 9 (42,85) 0 (0,00) 2 (9,52) 12 (4,35) 0 (0,00) 5 (1,81) 3 (14,29) 29 (10,51) 2 (9,52) 1 (0,36) 4 (19,05) 11 (3,99) 0 (0,00) 2 (0,72) 0 (0,00) 2 (0,72) 1 (4,76) Capoeira de Cecropia Carollia Carollia perspicillata brevicauda n = 238 n = 13 192 (80,67) 8 (61,54) 0 (0,00) 0 (0,00) 4 (1,68) 1 (7,69) 5 (2,10) 1 (7,69) 11 (4,62) 3 (23,08) 4 (1,68) 0 (0,00) 10 (4,20) 0 (0,00) 7 (2,94) 0 (0,00) 5 (2,10) 0 (0,00) Tabela 4. Número de amostras com sementes e freqüência relativa (entre parênteses) por espécies de planta coletadas dos morcegos Rhinophylla pumilio e Artibeus concolor em cada tipo de vegetação em crescimento secundário nas áreas do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. No cálculo da freqüência de cada espécies de planta coletada não foi incluído as amostras com insetos. Local Vismia spp Solanum crinitum Solanum rugosum Piper aduncum Piper sp sp1 sp2 sp3 sp4 Pasto Abandonado Rhinophylla Artibeus pumilio concolor n = 10 n = 18 10 (100,00) 15 (83,33) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 2 (11,11) 0 (0,00) 1 (5,56) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) Capoeira de Vismia Rhinophylla Artibeus pumilio concolor n = 20 n=8 13 (65,00) 7 (87,50) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 1 (5,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 1 (12,50) 3 (15,00) 0 (0,00) 2 (10,00) 0 (0,00) 1 (5,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) Capoeira de Cecropia Rhinophylla Artibeus pumilio concolor n = 23 n=6 16 (69,57) 6 (100,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 1 (4,35) 0 (0,00) 3 (3,04) 0 (0,00) 3 (3,04) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 43 Vismia cayennensis Vismia japurensis Vismia guianensis Solanum crinitum a Solanum rugosum a Piper sp N D J Início estação chuvosa a F M A Estação chuvosa M J J Início estação seca A S O Estação seca na fenologia das duas espécies de Solanum aparece apenas o período de maior produção de frutos Figura 1. Fenologia de frutificação de seis espécies quiropterocóricas nas áreas alteradas do PDBFF. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 44 1 0.5 Eixo 2 RPUM CPER CBRE 0 ACON STIL -0.5 SLIL -1 -1 -0.5 0 0.5 1 Eixo 1 Figura 2. Análise de componentes principais (PCA) da freqüência de consumo de frutos das seis espécies de morcegos mais abundantes nas áreas com vegetação em crescimento secundário no PDBFF, Manaus, Amazônia Central. CPER = Carollia perspicillata, CBRE = Carollia brevicauda, ACON = Artibeus concolor, RPUM = Rhinophylla pumilio, STIL = Sturnira tildae, SLIL = Sturnira lilium. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 45 1,0 0,90 0,9 0,83 0,8 Índice de Morisita 0,98 0,99 0,99 0,94 0,95 0,69 0,7 0,73 0,73 0,63 0,6 0,5 0,4 0,31 0,3 0,2 0,12 0,16 0,16 0,1 0,0 SlilRpumil CperSlil Slil- Cbrev- Stil-Slil StilAconc Slil Aconc CperStil Stil- Cbrev- Cbrev- Cbrev- Cper- Rpumil- Cper- CperRpumil Stil Aconc Rpumil Cbrev Aconc Rpumil Aconc Morcegos Figura 3. Índice de sobreposição alimentar de Morisita entre as seis espécies de morcegos mais abundantes nas áreas com vegetação em crescimento secundário nas áreas do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. CPER = Carollia perspicillata, CBRE = Carollia brevicauda, ACON = Artibeus concolor, RPUM = Rhinophylla pumilio, STIL = Sturnira tildae, SLIL = Sturnira lilium. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 46 Carollia perspicillata Solanum Solanum Piper Piper sp crinitum rugosum aduncum F r e q ü ê n c i a (%) Vismia sp1 Sturnira tildae sp2 sp3 sp4 Insetos Estação chuvosa (FMA) Início da estação seca (MJJ) Estação seca (ASO) Início da estação chuvosa (NDJ) Vismia Solanum Solanum Piper Piper sp crinitum rugosum aduncum sp1 sp2 sp3 sp4 Insetos sp1 sp2 sp3 sp4 Insetos Sturnira lilium Vismia Solanum Solanum Piper Piper sp crinitum rugosum aduncum Figura 4. Freqüência de consumo de frutos e insetos pelos morcegos C. perspicillata, S. tildae e S. lilium, nas quatro estações do ano nas áreas alteradas do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. Na legenda, as letras das estações representam meses. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 47 CPER-STIL STIL-SLIL Índice de Morisita CPER-SLIL Estação chuvosa (FMA) Início da estação seca (MJJ) Estação seca (ASO) Início da estação chuvosa (NDJ) Figura 5. Variação sazonal do índice de sobreposição alimentar de Morisita entre três espécies de morcegos nas áreas alteradas do PDBFF, Manaus, Amazônia Central. CPER = C. perspicillata, STIL = S. tildae, SLIL = S. lilium. As letras abaixo de cada estação representam meses. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 48 CONCLUSÕES Os resultados deste estudo permitiram fazer algumas considerações sobre a dinâmica da comunidade de morcegos e do seu comportamento de forrageio em áreas com vegetação alterada na Amazônia Central, no qual se destacam: 1) Em áreas alteradas a maioria das espécies de morcegos são raras, sendo que apenas seis representaram 95 % do total das capturas: C. perspicillata, C. brevicauda, R. pumilio, A. concolor, S. tildae e S. lilium. Entre estes morcegos C. perspicillata foi a espécies dominante, com 65 % das capturas. 2) Entre as seis espécies de morcegos mais abundantes houve diferença nas freqüências de capturas entre os três tipos de vegetação alterada estudada. Sturnira tildae e S. lilium foram as espécies que tiveram sua freqüência de captura concentrada nas áreas abertas formadas pelo pasto abandonado. Por outro lado, R. pumilio foi mais capturado nas áreas com capoeira. As outras espécies de morcegos não tiveram diferença na freqüência de captura entre os três tipos de vegetação alterada do PBBFF. 3) Os dados de recaptura sugerem que os morcegos C. perspicillata e S. lilium possuem alta fidelidade por um determinado local. A alta taxa de recaptura de S. lilium (17 %), comparada com outros estudos, e o comportamento de forrageio concentrado em áreas abertas reforçam esta conclusão. 4) Morcegos da subfamília Phyllostominae foram bons indicadores do nível de perturbação do ambiente, pois tiveram maior taxa de captura nas capoeiras com estado mais avançado de recuperação. 5) A análise do PCA revelou que as espécies de morcegos C. perspicillata, C. brevicauda, R. pumilio e A. concolor tiveram composição alimentar concentrada em Vismia, enquanto que S. lilium consumiu mais Solanum rugosum. O alto consumo de Vismia e Solanum por S. tildae fez com que este morcego tivesse uma dieta intermediária entre S. lilium e os morcegos da subfamília Carollinae e A. concolor. 6) A especialização pelas poucas espécies de frutos quiropterocóricas encontradas no PDBFF levou a um alto nível de sobreposição alimentar entre a maioria das espécies de morcegos, superior a outros estudos. 7) Aparentemente não houve variação sazonal na dieta dos morcegos, sugerindo um alto nível de especialização por parte dos morcegos C. perspicillata, S. tildae e S. lilium. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abrams P (1980) Some comments on measuring niche overlap. Ecology 61 (1): 44-49. August PV (1981) Fig fruit consumption and seed dispersal by Artibeus jamaicensis in the Llanos of Venezuela. Biotropica (Suppl.: Repruductive Botany) 70-76. Bernard E (2001a) Vertical stratification of bat communities in primary forest of Central Amazon, Brazil. 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