o projeto de identidade latino
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o projeto de identidade latino
6º Seminário de Iniciação Científica Goiânia, de 29 de agosto a 01 de setembro de 2012 HISTÓRIA, FILOSOFIA E IDENTIDADE: O PROJETO DE IDENTIDADE LATINO-AMERICANA DE LEOPOLDO ZEA (1940 - 1980) Resumo: No mundo hodierno tem-se visto uma grande discussão sobre diversos movimentos sociais que partem de questões identitárias para reivindicar direitos historicamente negados. Na América Latina esse problema não é recente, ao contrário, se origina desde os processos de independência e da formação dos estados nacionais. E desde então, a questão da existência ou não de uma especificidade cultural latino-americana passou a estar em discussão entre seus intelectuais e políticos. (SANTOS 2005). Dessa forma, o projeto em questão visa analisar os fatores que respaldaram o projeto de identidade para América Latina presente nas construções intelectuais do filosofo mexicano Leopoldo Zea Aguilar (1912-2004). Para isso, utilizamos a metodologia interdisciplinar relacionando as proposições da história intelectual e dos estudos culturais. A partir dos estudos e das analises feitas sobre esta temática, identificamos os traços básicos da Identidade Latino-americana para o intelectual Zea, como também os principais conflitos que o fez pensar na identidade própria desta América, o que nos levou a identificar os outros do projeto identitário zeano, Além de, compreendemos como alguns intelectuais o ajudaram a corroborar suas ideias. Enfim, com o desenrolar do estudo pode-se perceber que para Leopoldo Zea existe uma identidade LatinoAmericana, e como tal, tem que ser afirmada. Palavras-chave: Identidade. América Latina. Leopoldo Zea. Introdução A pesquisa acerca das identidades culturais vem crescendo muito no Brasil nas últimas décadas. São vários trabalhos sobre identidade nacional, étnica e de gênero. No entanto essa temática não é nova nos estudos dos Intelectuais e suas ideias na América Latina. Desde meados do século XX este campo historiográfico é desenvolvido fortemente em vários países. Nesse contexto a História Intelectual e/ou História das Ideias tem dado uma grande contribuição para compreensão dos discursos identitários construídos pela elite intelectual e dirigente dos países hispano-americanos do pós-independência. Um dos intelectuais que há muito vem pesquisando sobre essa temática é sem dúvida é o filósofo mexicano Leopoldo Zea Aguilar (1912-2004). Nesses estudos, a nosso ver, ele acabou por criar um discurso que também buscar construir uma identidade para a América Latina. A justificativa para a realização dessa pesquisa se dá em função de três fatores: primeiro o pouco conhecimento que se tem no Brasil sobre a filosofia desenvolvida na América Latina e, sobretudo, do pensamento Leopoldo Zea; segundo, pelo fato de nossa pesquisa estar se desenvolvendo em uma intersecção entre história e filosofia, isto é, um trabalho de historia sobre um objeto filosófico, esta contribui para o desenvolvimento do campo da interdisciplinaridade, em nosso caso, uma perspectiva interdisciplinar na analise dos fenômenos sociais, partindo do pressuposto que as reflexões filosóficas são produtos dialeticamente sociais e intelectuais, que logo necessitam para sua compreensão uma visão internalista e externalista da obra de um autor; e, por fim, acreditamos que a pesquisa contribui para a sociedade na medida em que nossa proposta traz em seu bojo também a discussão da temática da igualdade entre os povos, o desenvolvimento autônomo e autentico das potencialidades da cultura latino-americana e, logo também, brasileira. 6º Seminário de Iniciação Científica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás/IFG. 1 6º Seminário de Iniciação Científica Goiânia, de 29 de agosto a 01 de setembro de 2012 Objetivos O objetivo geral de nosso projeto é analisar os fatores que respaldaram o projeto de identidade para América Latina presente nas construções intelectuais de Leopoldo Zea. Para alcançar tal, elencamos alguns objetivos específicos, tais como: 1. Identificar e analisar as influências intelectuais que contribuíram para a formação intelectual de Leopoldo Zea. 2. Identificar os traços básicos do que ele chamou de Identidade Latinoamericana, isto é, o que de mais original havia neste povo que justificavam a criação de identidade peculiar. 3. Investigar quem era o outro (ou os outros) deste projeto identitário. 4. Compreender como o contexto histórico-social latino-americano e mundial no pós Segunda Guerra Mundial até aproximadamente década de 1980 influenciou nas construções intelectuais de Leopoldo Zea. Metodologia A pesquisa em questão se insere em um campo que poder-se-á chamar de interdisciplinar, relacionando história, filosofia, biografia, sociologia e antropologia. Todavia, a principal base metodológica é da História intelectual. Assim sendo, nas leituras, de livros e artigos, sobre a temática da Identidade Cultural e da Identidade Latina Americana para Leopoldo Zea, nos preocupamos em estabelecer uma relação entre o texto e o contexto; fizemos, também, uma analise interna e externa das ideias; observando e considerando em nossas analises o lugar e a posição do discurso; além de termos buscado estabelecer a relação entre o intelectual com seus interlocutores. A partir dessas leituras, foram elaborados quadros, que possibilitaram uma visão nítida dos conceitos primordiais na construção de uma identidade, como os estabelecidos pelos intelectuais: Stuart Hall, Manuel Castells; Jorge Larrain Ibañez, Tomaz Tadeu da Silva, Kethryn Woodward e Liliana Giorgis. Utilizamos tais como referencial para o desenvolvimento da pesquisa. Posteriormente, criamos problemas que, primeiro, foram respondidos por hipóteses, para depois identificá-los e afirma-los nas obras de Zea. Deve-se ressaltar que dentre os 57 livros e 190 artigos, foram analisados três artigos e um livro do intelectual em questão. Resultados e discussão Desde pelo menos dos processos de independência e de formação dos Estados nacionais, os latinos americanos enfrentaram problemas para afirmar sua identidade. Após a independência se afirma um complexo de inferioridade frente à cultura europeia, que resultou na ideia de negar a si mesmo, isto é, apagar o passado de colonização, construindo, posteriormente, uma copia legitima da Europa Ocidental e dos Estados Unidos da América. Alguns intelectuais, como o expresidente argentino Domingo Faustino Sarmiento, aceitaram este proceder, e tentaram estabelecer em suas localidades essas ideias afirmando “sejamos os yanques do sul” (SARMIENTO apud MANCE, 1995). Todavia, esta concepção identitária não foi aceita por todos intelectuais, mas sim que os latino-americanos eram uma síntese de um processo dialético: não era exclusivamente europeu, nem 6º Seminário de Iniciação Científica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás/IFG. 2 6º Seminário de Iniciação Científica Goiânia, de 29 de agosto a 01 de setembro de 2012 índio, nem negro, mas sim uma mistura, um mestiço e como tal tinham que se afirmar. Um dos primeiros a afirmar essa ideia foi Leopoldo Zea, para quem a base da identidade latino-americana era a história e a cultura da mestiçagem. Aos seus olhos todos os países que constituíam a América Latina tinham uma história comum de dependência e exploração, e foram marcados pela cultura da mestiçagem. Para ele o elemento que representava a mestiçagem era o latino: Lo latino no hace referencia a una raza concreta, tampoco es una cultura determinada, sino la expresión de su capacidad para abrirse a las múltiples razas y culturas que han existido y existen en la Tierra y en la historia. (ZEA apud SANTOS, 2005, p. 176) Leopoldo Zea acreditava que o elemento latino não fazia referência a uma ração pura, ao contrário, era um modo de fazer relações étnicas de forma a se misturar, a mestiçar-se. Com esse pensamento ele começou a diferenciar os latino-americanos de outros povos ou culturas. inicialmente, a Europa Ocidental, por causa de sua marca de dominação e exploração se constituiu como sendo o outro. Todavia, no contexto da Guerra Fria, aos poucos os Estados Unidos passou assumir esse papel, passando a ser considerado a prolongação da própria Europa dominadora. Além disso, o contexto da vida de Zea contribuiu para que os Estados Unidos fosse tomando a forma do outro de seu projeto identitário. Em uma viagem que Zea fez pela América ele pôde perceber a divergência de valores e atitudes da América anglo-saxônica e da América Latina. Segundo ele, En 1945 cuando por primera vez salí de México hacia la Biblioteca del Congreso en Washington para compilar material para mi primer libro sobre nuestra América. Sali en un autobús estadounidense que partia de Laredo [...] El autobús se detuvo en una cafeteria que tenia un letrero en la entrada que decia: “Se prohibe la entrada a perros, negros y mexicanos”. Sentí la rnisma rabia que ahora siento. [...] Necesitaba alojamiento y me enviaron a un lugar donde fui fácilmente recebido. Preguntaron por mi origen. Soy mexicano, dije. “¡no, usted debe ser espahol!”, replicaron. Soy mexicano, contesté, “Lo sentimos, pero tendrá que ir al barrio de los mexicanos”. Así lo hice y con gusto. (ZEA apud SANTOS, 2005, p.41-42) Nesse trecho é interessante notar que essa viagem levava Zea a construir no processo identificação/diferenciação uma diferenciação com relação aos Estados Unidos e uma identificação coma América Latina. Aos seus olhos os EUA se afirmava como sendo a outra América, uma América que se auto-afirmava de sangue puro, diferentemente da América de “sangue” latino que, na leitura se configurava como a expressão de uma cultura mestiça e agregadora. Os contextos de crise foram fundamentais para a construção do projeto Identitário. Estes fizeram Zea repensar e refletir a condição da América Latina frente ao mundo, fazendo com que este expressasse uma solução, ou seja, mostrasse ao mundo que essa América tem uma Identidade e uma filosofia própria. Alguns destes momentos instáveis foram: Revolução Mexicana, 2º Guerra Mundial, Guerra Fria e as ditaduras na America Latina. Sendo Zea um intelectual e estando em meio a tantos conflitos, podemos dizer que ele recebeu influência direta e indireta. Por convivência Zea foi influência por José Gaos (orientador que o incentivou a pesquisar sobre a América Latina) e 6º Seminário de Iniciação Científica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás/IFG. 3 6º Seminário de Iniciação Científica Goiânia, de 29 de agosto a 01 de setembro de 2012 por Samuel Ramos. Por leituras, Zea foi influenciado pelas teorias de Hegel sobre a concepção da uma filosofia da história e sobre o conceito de dialética e pelo filosofo espanhol Ortega y Gasset com o seu historicismo. Por fim, Simón Bolivar influenciou Zea com o seu objetivo de libertação e integração da América de colonização espanhola. Conclusões Influenciado pelo historicismo alemão e, sobretudo, pela tradição intelectual latino-americana, Leopoldo Zea desenvolveu um pensamento original. Segundo o filósofo mexicano, os latinos padeciam de um complexo de inferioridade frente ao mundo europeu ocidental. Neste sentido, para ele os latinos americanos padeciam por complexo de inferioridade e busca de serem copias. Todavia, nenhuma copia é idêntica ao original. Ao copiar o europeu, ao querer construir aqui uma cópia da Europa o latino-americano afirmava sua inferioridade. Dessa forma, Zea percebeu a necessidade de se propor uma Identidade própria desta América, uma identidade construída em uma história comum e uma cultura comum da mestiçagem, uma síntese de culturas, uma síntese de um processo dialético e como tal tem que se afirmar. A peculiaridade de seu pensamento se dá também pelo fato de não propor uma isolacionismo ou uma rejeição dos valores da cultura europeia, mas sim, pelo contrário, introduzi-los de forma a apropria-los pelas concepções latino-americanas. Enfim, com o desenrolar do estudo pode-se perceber que para Leopoldo Zea, só na valorização do próprio levará ao universal. O que há de universal em todos os seres humanos é que todos são diferentes na igualdade. Referências CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999. HALL, Stuart. Identidade Cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1997. LARRAIN, Jorge. Historia e Identidad Latinoamericana. Barcelona: Editorial Andrés Bello, 1996. WOODWARD, Kethryn. Identidade e diferença: uma introdução teórico e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu (org), Identidade e Diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis, Vozes, 2000. SANTOS, Luciano dos. O Projeto Identitário Latino-Americanista de Leopoldo Zea, 2005. 218 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas e Filosofia) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2005. MANCE, Euclides André. Sobre a Identidade Latino-americana. Disponível em: < http://www.solidarius.com.br/mance/biblioteca/Identidade.htm >. Acesso em: 19/11/2010. 6º Seminário de Iniciação Científica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás/IFG. 4
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