Texto L. Raposo - Museu Nacional de Arqueologia

Transcrição

Texto L. Raposo - Museu Nacional de Arqueologia
Constitui um privilégio poder apresentar no Museu Nacional de Arqueologia a exposição
“Vasos Gregos em Portugal: Aquém das Colunas de Hércules”, bem como o catálogo que a
acompanha. Assim é por várias razões, todas singulares.
Desde logo, porque nunca até agora tinha sido possível reunir num só local no nosso País
tão notável acervo patrimonial. Contámos para o efeito com a benevolência de diversos
museus e instituições públicas, ou de interesse público, que nos honraram com a
disponibilidade em nos confiar para este efeito peças que raramente ou nunca antes
emprestaram. Seja-nos permitido neste âmbito e sem desmerecimento de todos os nossos
restantes parceiros, prestar especial tributo de gratidão ao Museu da Presidência da
República, na pessoa do seu Director, Diogo Gaspar, e ao Museu da Fundação Calouste
Gulbenkian, na pessoa do seu Director, João Castel-Branco Pereira. E dispusemos também
da extrema generosidade do Doutor Manuel de Lancastre, proprietário da mais importante
colecção de vasos gregos existente em Portugal, nunca antes dada a conhecer
publicamente. Em bom rigor, este projecto teve por base o conhecimento desta colecção e
cumpre-nos gostosamente assinalar a grandeza de espírito com que o coleccionador de
pronto se dispôs a aderir ao nosso conceito expositivo, aceitando que a sua colecção
pudesse servir como exemplo – e que belo exemplo! – do gosto privado pelo objecto
arqueológico e pela obra de arte, gosto que, dentro dos limites da lei e da ética, importa
acarinhar e promover.
Depois, porque contámos nesta empresa com a colaboração, muito gratificante, de alguns
dos mais credenciados especialistas portugueses em cultura da Grécia Antiga, nas múltiplas
vertentes que é mister fazer conjugar para que aos vasos de cerâmica seja dado o devido
enquadramento contextual. Pudemos assim rever amigos e colaboradores antigos desta
casa centenária, como são Jorge Alarcão e Ana Margarida Arruda. Mas tivemos sobretudo o
ditoso gosto de trazer para o nosso convívio novos amigos e professores, como são José
Ribeiro Ferreira, Delfim Leão e muito particularmente Rui Morais, colega que muito nos
sensibilizou pelo denodado acompanhamento que fez de todo o processo e a quem se fica a
dever parte considerável do seu presumível êxito.
Finalmente, ou antes de tudo deveria ser dito, o privilégio que sentimos decorreu do prazer
do convívio com a Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, verdadeira alma mater de todo
este projecto, que aliás decorre de proposta sua, logo abraçada com entusiasmo por toda
nossa equipa, a começar por Ana Isabel Santos, conservadora a quem confiámos o
comissariado executivo da exposição. É que sendo embora longos de décadas os contactos
regulares com o Museu Nacional de Arqueologia (o último dos quais foi a sugestão de
aquisição por parte do Estado, para o nosso Museu, de uma ânfora panatecaina que
pertenceu à colecção do Duque de Palmela e fora trazida para o nosso país no séc. XVIII,
tendo origem nas escavações iniciais em Herculano ou Pompeia), nunca antes a Doutora
Maria Helena tinha aqui promovido uma exposição. Perguntamo-nos porquê, de resto. Talvez
porque, no nosso dia a dia, estamos amiúde principalmente virados para uma arqueologia de
cacos e de pedras, que afinal é o “o mais seco pó que pode soprar”, nas sábias palavras de
Sir Mortimer Wheeler. Ora, do que se trata aqui, do que trata a Doutora Maria Helena, é de
pessoas, cuja mão, senão mesmo a assinatura, pode até ser perscrutada em objectos
arqueológicos – dimensão que preenche a utopia de qualquer pré-historiador, como nós
somos.
Fiquemos, pois, com a mestria das lições que os pintores e oleiros gregos da Antiguidade
nos legaram, a qual é neste caso altamente potenciada por mestrias idênticas, que decorrem
do saber a da sensibilidade dos textos da Doutora Maria Helena da Rocha Pereira e dos
colegas que a ela se juntam neste empreendimento, que passará entre nós a fazer história.
Luís Raposo
Director do Museu Nacional de Arqueologia