Entrevista de Pedro Duarte
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Entrevista de Pedro Duarte
40 Diário Económico Quarta-feira 3 Fevereiro 2010 FINANÇAS ANÁLISE FUNDOS Portugal Telecom é uma das preferidas do BNP Paribas BNY Mellon vai comprar PNC Financial Services por 1,6 mil milhões de euros A Portugal Telecom é uma das cinco empresas preferidas pelos analistas do BNP Paribas no sector europeu das telecomunicações. Os especialistas do banco francês destacam pela positiva a exposição da operadora aos mercados emergentes. A recomendação do banco francês é de ‘outperform’ e o preço-alvo é de 9,50 euros, o que indica um potencial de valorização de 23,7%. Os títulos da Portugal Telecom encerraram a sessão a subir 2,92% para os 7,68 euros. O grupo norte-americano de serviços financeiros Bank of New York (BNY) Mellon revelou ontem a sua intenção de comprar a PNC Financial Services por 2,31 mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros). Como parte da transacção, a entidade vai avançar com um aumento de capital de perto de 800 milhões de dólares. Com a operação, o BNY criará o segundo fornecedor de serviços de gestão de fundos. O BNY Mellon fechou 2009 com prejuízos de 1,36 mil milhões de dólares. O BNY Mellon anunciou ontem a intenção de comprar a PNC Financial. ENTREVISTA PEDRO DUARTE CEO do Banco Carregosa COMBATER UM GIGANTE “Novas regras de Basileia vão encarecer ‘spreads’ e crédito” Banco Carregosa fecha primeiro ano de actividade com lucro. Próximos passos são a expansão geográfica e outros segmentos de negócio. Marta Reis [email protected] É o mais recente banco a nascer em Portugal. Em entrevista, Pedro Duarte, CEO do Banco Carregosa, fala das perspectivas para a sua instituição e das implicações que as novas regras de Basileia terão sobre o sistema financeiro. Qual o balanço dos primeiros meses de actividade da Carregosa enquanto banco? Não posso deixar de fazer um balanço positivo. Considerando as circunstâncias nos mercados financeiros nos últimos dois anos, estou satisfeito com os resultados. Este foi o primeiro ano como banca privada, foi necessário adaptar a estrutura à nova realidade e adaptar àquilo que estimamos que sejam as novas exigências para o sector financeiro. Penso que isso foi conseguido. E que o que fizemos nos vai permitir encarar com algum optimismo os anos mais próximos. Estavam a negociar parcerias com Angola e com o Brasil. Já alguma está fechada? Queremos posicionar-nos para estar no primeiro momento de abertura do mercado brasileiro. É um mercado importante em toda a área de produtos financeiros, mesmo de ‘mass market’, e é interessantíssimo na área da banca privada, com os clientes potenciais que lá existem. Seria esse o único segmento onde se iriam posicionar? Temos duas ambições no Brasil. Arranjar um parceiro com uma boa rede de distribuição para a corretagem, de produtos financeiros, de derivados sobretudo, e tentar captar alguns recursos para gerir em termos de private, não desperdiçando qualquer operação de ‘corporate’. Tanto em Angola como no Brasil o vosso objectivo inicial era ter as negociações fechadas até final de 2009. Mas tal não aconteceu… Tivemos algumas propostas, mas considerámos que não eram as que nós queríamos. Continuamos a falar com parceiros potenciais. E qual é a estratégia para o mercado angolano? Em Angola a estratégia é abrir um escritório de representação para acompanhar alguns clientes de banca privada e estar atento à abertura da bolsa de Angola, algo de que se fala há alguns anos. Havia também intenção de abrir um escritório em Madrid. Já está em funcionamento? Neste momento temos já todas as autorizações. Vamos abrir oficialmente no primeiro trimestre um escritório de representação em Madrid. Dá-nos margem para fazer pouca coisa. Mas queremos, primeiro, estar presentes, sentir um pouco o mercado espanhol e ver se há alguma oportunidade. Em 2009, o Banco Carregosa comprou 49% da Optimize. Qual a estratégia para esta parceria? Esta aquisição estava já delineada em toda a estratégia do banco. Nós para servirmos os clientes de banca privada temos de nos dotar dos meios para os servir em todo o seu leque de património. Achámos que a Optimize era importante pela parte de poupança reforma, de constituição de fundos, ter possibilidade de criar instrumentos à medida da banca privada. Temos as grandes áreas de ac- Pedro Duarte CEO do Banco Carregosa “Vamos abrir oficialmente, no primeiro trimestre, um escritório de representação e Madrid.” tuação da banca privada, temos a corretagem, que está bastante consolidada, a parte de gestão de fundos, com a Optimize, e estamos a tratar também da parte de fundos imobiliários. Esta área vai ser desenvolvida como? Com uma nova parceria? Nós próprios podemos constituir fundos, não sei se o vamos fazer sozinhos ou com algum parceiro, isso ainda está em aberto. A parte imobiliária não é para fazer grandes fundos abertos, é uma forma de reorganizar o património, transformar activos imobiliários em activos financeiros, ou seja, transformar os imóveis em unidades de participação. As pessoas continuam a ser donas de uma forma diferente, têm alguns benefícios fiscais, têm quem olhe pelo património, quem cobre as rendas, quem trate dos condomínios. Em muitos casos é uma solução interessante. O sector bancário português ultrapassou bem a crise? Está preparado para os próximos desafios, nomeadamente Basileia? O sistema financeiro português foi menos afectado que a generalidade dos sistemas financeiros na Europa e nos Estados Unidos. Tudo indica que, a nível internacional, vá haver algum aperto em termos de regras, de rácios prudenciais, não sei se é necessário concretamente em Portugal, mas é uma tendência. Estou um pouco preocupado com os efeitos que isso pode ter, não estou a olhar para dentro de portas, mas para o sistema financeiro. Mas o que vejo é que isso acontecer vai obrigar os bancos a aumentos de capital, que não sei se o mercado está preparado para o fazer, se consegue responder, e isso será uma consequência imediata, menos positiva, no mercado de capitais. Por outro lado, um efeito também imediato será o aumento dos ‘spreads’ e o encarecimento do crédito. Penso que tem de haver aqui um bom senso para não se destruir o sistema. A transição deve ser feita faseadamente para dar tempo que as instituições “desalavanquem” ou então que reforcem os capitais próprios. ■ RESULTADOS ● No ano passado, o resultado líquido do Banco Carregosa foi de cerca de um milhão de euros. ● No mesmo período, a margem financeira da instituição foi de 1,2 milhões de euros. ● A corretagem, actividade tradicional do banco, contribui com 40% para os resultados. ● Objectivo de atingir 100 milhões de euros sob gestão até final deste ano mantêm-se. ● Em termos de solvabilidade, o objectivo é ter rácio de 25%, três vezes superior ao que é exigido. Quarta-feira 3 Fevereiro 2010 Diário Económico 41 CRISE ANÁLISE Paulson diz que a economia norte-americana esteve “muito próxima de colapsar” Deutsche Bank corta recomendação e preço-alvo da EDP Renováveis A economia dos Estados Unidos esteve “muito próxima de colapsar” e o governo norte-americano não teve outra alternativa senão a de intervir a favor das instituições financeiras. A revelação foi feita ontem pelo antigo secretário do Tesouro, Henry Paulson. “Estivemos à beira do precipício. Podíamos ter chegado, facilmente, a uma taxa de desemprego de 20%”, afirmou. Paulson defendeu ainda o resgate às instituições financeiras, apesar de compreender as críticas da opinião pública. O Deutsche Bank reviu em baixa a sua recomendação para os papéis da EDP Renováveis, para “manter” de “comprar”, assim como o preço-alvo, para os 7,6 euros dos anteriores 8,7 euros. Em nota de análise emitida ontem, a casa de investimento justifica os cortes sublinhando que “dados os baixos preços de mercado, estamos a ficar muito mais cautelosos com os desenvolvimentos nos EUA. A empresa tem também exposição aos preços de energia na Espanha, que estão em mínimos”. As acções da EDPR sofreram ontem um corte de recomendação e ‘target’. Stefano Rellandini / Reuters CRIANDO UM GIGANTE AINDA MAIOR Conquistar a Europa e a América Latina o mais rapidamente possível. Foi com este propósito que Emílio Botín, presidente do espanhol Santander, decidiu criar um banco internacional para operar através da Internet. O objectivo principal é o de combater a hegemonia detida pelo ING Direct, o banco com mais êxito na Internet. A Itália será, provavelmente, o primeiro mercado onde deverá dar o “salto” uma vez que ainda não está presente no segmento de banca de retalho mas onde já assinou um contrato de patrocínio desportivo com a Ferrari. Ao país transalpino deverão seguir-se a Alemanha e, posteriormente, o Reino Unido. Outros países europeus deverão constar da lista, como Áustria ou Finlândia. O outro lado do Atlântico não ficou esquecido, com o Brasil a ser o mercado mais atractivo para o Santander, país onde já é o segundo maior grupo financeiro em volume de activos na sequência da aquisição do Banco Real. Bancos reduzem custos do crédito às grandes empresas Retoma no financiamento justifica corte nas taxas cobradas. Marta Reis [email protected] Os empréstimos contraídos pelas empresas europeias estão a ter custos associados mais reduzidos. Julian van Kamp, do BNP Paribas, estima que os bancos irão cortar em mais de metade o valor que cobram actualmente, com a esperada recuperação do mercado de empréstimos sindicados (‘syndicated loans’). Tratam-se de empréstimos de médio/longo prazo feitos entre uma sociedade e um sindicato de bancos, havendo um ou dois que lideram a operação. Esta tendência, que teve já início no ano passado, tem permitido aplicar uma descida nas taxas cobradas. Van Kamp, responsável pela unidade na Europa que lidou com mais empréstimos no ano passado, estima que os bancos vão cortar os juros que cobram pelas grandes operações de concessão de dívida às empresas. Isto num ano em que vencem três biliões de dólares de dívida empresarial, que necessita de ser refinanciada. A previsão de Van Kamp é que a margem das taxas cobradas aplicada sobre as taxas de referência seja reduzida para uma média de 50 pontos base para as empresas com melhor ‘rating’, dos 75 a 120 pontos bases anteriores. “A concessão de empréstimos pelos bancos de retalho está de volta e os tesoureiros das empresas estão de volta aos mercados de operações sindicadas”, afirmou o responsável do BNP Paribas. Já em 2009, os bancos tinham começado a reduzir as taxas cobradas às empresas que tinham um ‘rating’ de ‘investment grade’ (situadas na parte superior da escala de notação financeira). Recuperação da economia dá estímulo ao mercado A recuperação económica, assim como a forte valorização dos mercados do ano passado, trouxeram de volta a confiança e os lucros. E a disponibili- dade para voltar a investir, algo para o qual é necessário financiamento. A retoma que está a verificar-se já este ano segue-se a uma queda de 66% nos volumes em empréstimos, em 2009. O pico foi em 2007, com os volumes a atingirem 1,4 biliões de dólares, de acordo com dados divulgados pela Bloomberg. Julian van Kamp refere que o regresso ao lucro está a aliviar alguma da aversão dos bancos ao risco e que tal poderá resultar numa nova vaga de fusões e aquisições. Compra da Cadbury pela Kraft trouxe confiança A operação de compra da Cadbury pela Kraft, em que o BNP Paribas participou, foi a maior operação de M&A desde Agosto de 2008 e deu um sinal positivo ao mercado e “a outros tesoureiros”, refere van Kamp. “Penso que empresas em ambientes cambiais mais frágeis, como o Reino Unido, serão alvos” preferenciais. A Kraft, fabricante dos chocolates Toblerone, adquiriu em Janeiro a Cadbury por cerca de 13,2 mil milhões de euros. ■ DÍVIDA 3 biliões O montante de dívida empresarial emitida que necessita de ser refinanciada este ano ascende a três biliões de dólares (cerca de 2,15 biliões de euros).