Primeiras páginas - A Esfera dos Livros
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170-209 oceanos paginação.qxp 9/27/07 No fundo dos oceanos NESTA PÁGINA E PÁGINA DA DIREITA 200 As montanhas submarinas proporcionam um relevo proeminente no meio da planície abissal. Todas as espécies de criaturas, móveis ou sésseis, vêm aqui fixar-se, alimentar-se ou reproduzir-se para aproveitarem as correntes mais fortes. Aqui, a riqueza da fauna é tal que essas formações geológicas, na sua maior parte vulcões extintos, mas por vezes ainda activos, são designadas «ilhotas de diversidade». A cada mergulho, quer seja no golfo do Alasca, no sul do Pacífico ou ao largo da Califórnia, os investigadores estupefactos descobrem novas maravilhas: florestas de corais gigantescos, como estes formados pela górgona Paragorgia sp., de 2 metros de altura [ P Á G I N A D A DIREITA , EM CIMA À ESQUERDA]; frágeis mas enormes corais-bambu pluricentenários [ P Á G I N A D A DIREITA , EM BAIXO À DIREITA]; esponjas com substâncias químicas cheias de promessas para a medicina, criaturas pelágicas atraídas pela riqueza dos recursos. Entre estas últimas, distingue-se a pequena medusa Benthocodon sp., [ N E S T A P Á G I N A , E M B A I X O ] , assim como o famoso «molusco misterioso» [ N E S T A P Á G I N A , E M C I M A ] descoberto pelo instituto MBARI a 2500 metros de profundidade e até hoje inclassificável em qualquer dos grupos de moluscos conhecidos dos investigadores. Acontece por vezes que os submersíveis ou os ROV encontram criaturas excepcionais, como o animal desconhecido, sem dúvida uma lula-aranha Magnapinna sp. [ A O C E N T R O D A C O M P O S I Ç Ã O ] , cujos tentáculos de 5 metros de comprimento formam um ângulo muito pouco vulgar entre os cefalópodes... Este gigante percorre os oceanos até 5000 metros de profundidade! 2:43 PM Page 200 170-209 oceanos paginação.qxp 9/27/07 2:43 PM Page 202 «Debaixo de água, cada olhar é como se fosse roubado a um mundo proibido e provoca um choque emocional que sinto como se fosse a primeira vez sempre que mergulho…» Jacques-Yves Cousteau, 1976 AO LADO Tiburonia granrojo Grande vermelha _TAMANHO 1 m de diâmetro 1500 m No fundo dos oceanos PROFUNDIDADE 202 Esta grande bola escura e aveludada foi descoberta em 1993 pelos investigadores do instituto MBARI, na Califórnia. É tão diferente das outras medusas que os biólogos tiveram de criar para ela uma nova subfamília, a das Tiburoniinae, do nome do robot, o Tiburon, que a observou pela primeira vez. Para capturar as suas presas, não utiliza tentáculos urticantes, como a maior parte das medusas, mas estende longos braços carnudos cujo número varia estranhamente entre 4 e 7. Sabe-se ainda muito pouco sobre este animal. 204 9/27/07 2:43 PM Page 204 Existem nos oceanos florestas de corais que se estendem por vezes por centenas de quilómetros e que abrigam uma fauna infinitamente rica e variada. Os tubarões e os cefalópodes vêm aqui pôr os seus ovos, as górgonas gigantes oferecem aqui os seus ramos como promontório aos equinodermes, esponjas delicadas aqui acolhem crustáceos e peixes. Esta descrição assemelha-se, a ponto de nos enganarmos, à da grande barreira de coral australiana, mas nenhuma Recifes profundos: longe dos olhos, longe do coração das espécies de que aqui se trata se encontra nas águas quentes dos mares tropicais. Estas maravilhas naturais só podem pelo contrário crescer em águas muito frias, nas altas latitudes do planeta. Conhecidas desde o século XIX graças às dragas que os navios oceanográficos içavam, sabemos agora que os recifes coralíferos de água fria se escondem também nas profundezas dos oceanos, em locais onde não penetra luz alguma, onde não existe qualquer testemunha dos estragos de que são vítimas. Os recursos à superfície diminuíram a tal ponto que a pesca exerce agora pressão sobre os recursos profundos. Os recifes de água fria encontram-se a partir dos 40 metros abaixo da superfície e vão até mais de 2000 metros. Abrigam numerosas espécies de peixes, de crustáceos e de moluscos de grande valor comercial. Estes animais são recolhidos com a ajuda de redes gigantes, lastradas com pesos que lavram o fundo, deixando atrás de si apenas uma paisagem de desolação e destroços, onde, algumas horas antes, se estendia um recife com 8000 ou 10 000 anos, onde abundavam centenas de espécies desconhecidas da ciência e em grande parte endémicas deste meio. Calcula-se que em apenas algumas décadas, os recifes profundos do mundo estarão destruídos numa superfície correspondente a 6 vezes o tamanho da Europa. Isto é tanto mais problemático quanto os corais de água fria têm um crescimento entre 10 a 20 vezes mais lento do que os bem conhecidos das águas tropicais... Por outro lado, mesmo que existam tantas espécies coralíferas nas águas escuras e frias como nas águas quentes, apenas seis espécies profundas são capazes de construir recifes. Todos os outros corais do frio são espécies «moles», incapazes de produzir um esqueleto calcário. Estes factores tornam os recifes profundos extremamente vulneráveis à intervenção humana, mas o seu isolamento ao largo das nossas costas, muitas vezes centenas de metros abaixo da superfície, faz deles vítimas cegas e mudas, alvos ideais de uma indústria insensata que destrói um património natural excepcional, para contribuir com apenas 0,2% do total de capturas mundiais! • EM CIMA Gorgonocephalus caputmedusae Gorgonocéfalo _TAMANHO disco central 6,5 cm 50 a 300 m no mínimo PROFUNDIDADE Os recifes coralíferos que se estendem pelas margens continentais da Noruega são dominados pelo coral Lophelia pertusa. Tal como as árvores de uma floresta tropical, a sua estrutura ramificada proporciona uma rede de esconderijos, numerosas possibilidades de refeições, assim como oportunidades de encontros e associações benéficas. Este ecossistema atrai uma grande quantidade de espécies diferentes, a maior parte das quais é talvez ainda desconhecida dos cientistas. No fundo dos oceanos No fundo dos oceanos 170-209 oceanos paginação.qxp 205 170-209 oceanos paginação.qxp 9/27/07 2:43 PM Page 206 170-209 oceanos paginação.qxp 9/27/07 PÁGINA DUPLA ANTERIOR, À ESQUERDA Gorgonocephalus caputmedusae Gorgonocéfala _TAMANHO 1 m de diâmetro 50 a 300 m no mínimo PROFUNDIDADE Quando pesca, a gorgonocéfala trepa pela górgona profunda Paramuricea placomus e estende na corrente os seus braços, semelhantes a uma cabeleira hirsuta. Tal como o animal se apresenta, a referência no seu nome às cabeças das górgonas mitológicas faz todo o sentido... PÁGINA DUPLA ANTERIOR, À DIREITA Grimpoteuthis sp. Polvo-dumbo _TAMANHO 20 cm 300 a 5000 m PROFUNDIDADE Este pequeno polvo engraçado tem alguns traços que fazem lembrar uma personagem de um desenho animado japonês. Até hoje, são conhecidas dos investigadores catorze espécies de Grimpoteuthis, mas para lá da descrição taxonómica de base que foi realizada graças aos animais capturados nas redes, estes polvos continuam a ser bastante enigmáticos. Os submersíveis surpreendem-nos frequentemente pousados no fundo com as suas vestes dispostas em seu redor. Que fazem eles, imóveis na escuridão? Ninguém sabe. AO LADO Dysommina rugosa Enguias «degoladas» _TAMANHO 38 cm 260 a 775 m No fundo dos oceanos PROFUNDIDADE 208 Assustadas pela aproximação do submersível, estas enguias deixam as fendas que ocupam no cimo de um cone vulcânico muito recentemente emergido a leste das ilhas Samoa, no Pacífico Sul. Até 1999, o vulcão submarino de Vailulu'u, cuja base se encontra a 5000 metros de profundidade e o cume a 700 metros abaixo da superfície, nunca tinha sido sequer cartografado. Os mergulhos de exploração revelaram pilares de lava cobertos por um tapete microbiano amarelo-alaranjado e banhados por água quente que emana do vulcão. Ao local foi dado o nome «Cidade das enguias» devido à densidade extravagante de enguias «degoladas» que ali foram observadas em meio natural pela primeira vez. 2:43 PM Page 208
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