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Projeto de restauro e ampliação do Museu Paulista da Universidade de São Paulo
Projeto de restauro e ampliação
do Museu Paulista da Universidade
de São Paulo
Silvio Oksman
Eduardo Argenton Collonelli
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Silvio Oksman, Eduardo Argenton Collonelli
Projeto de restauro e ampliação do Museu Paulista da Universidade de São Paulo
Silvio Oksman
Arquiteto (1998), Mestre (2011) e Doutorando pela FAUUSP. Sócio diretor do escritório Oksman
Arquitetos Associados. Professor da AEAUSP – Escola da Cidade. [email protected]
Eduardo Argenton Collonelli
Arquiteto (1978) e Mestre (2004) pela FAUUSP.
de
Arquitetura
LTDA.
Professor
da
FAAP
Sócio diretor do Escritório Paulistano
e
AEAUSP
–
Escola
da
Cidade.
[email protected]
Resumo
O trabalho trata de apresentar o projeto de ampliação e restauro desenvolvido para o
Museu Paulista da Universidade de São Paulo, por encomenda da mesma instituição em
2008. O projeto tem como objetivos principais a possibilidade de visitação integral do edifício
monumento, a adequação às normas de segurança e acessibilidade universal (NBR9050), a
ampliação das áreas de exposição, administrativas e acadêmicas e a implantação de
reserva técnica, adequada para os diversos elementos que constituem seu valioso acervo.O
edifício do Museu Paulista foi construído no final do século XIX com projeto de Tommaso
Gaudenzio Bezzi, concebido como monumento para marcar o local onde deu-se aquele fato
conhecido como “O Grito do Ipiranga – Independência ou Morte!”– identificado como
momento fundador da Nação Brasileira. Hoje o edifício é tombado nas três esferas de
governo - IPHAN, CONDEPHAAT e CONPRESP.O projeto apresentado aborda a questão do
restauro no seu sentido mais amplo. Trata de restaurar o significado do edifício e sua
relação com a cidade e seus usuários, recuperar seu uso de forma compatível com as
questões contemporâneas. Pretende permitir aos cidadãos usufruir de um espaço carregado
de valor simbólico. Apesar da distância temporal do desenvolvimento deste projeto, o
assunto do restauro e ampliação do Museu Paulista é assunto atual para discussão, posto
que o Museu encontra-se fechado, sem prazo para reabertura exatamente em função dos
problemas de conservação do edifício.
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Projeto de restauro e ampliação do Museu Paulista da Universidade de São Paulo
Resumé
Le travail traite de présenter le projet de l’agrandissement et restauration développé pour le
Museu Paulista da Universidade de São Paulo, sur commande de la même institution en 2008. Le
projet a comme objectifs principaux la possibilité de visitation intégral de l’Édifice Monument,
adéquation aux normes de sécurité et d’accessibilité universel, l’agrandissement des zones
d’exposition, administratives et académiques et l’implantation d’une réserve technique, approprié
aux diverses éléments constitutifs des acquis précieux.Le bâtiment du Musée Paulista a été
construit au final du XIX siècle avec le projet de Tommaso Gaudenzio Bezzi, conçu comme
monument pour remarquer le local où s’est passé le fait connu comme «O Grito do Ipiranga Independencia ou Morte» identifié comme moment fondateur de la Nation Brésilienne. Aujourd’hui
l’édifice est préservé dans les trois sphères de gouvernement - IPHAN, CONDEPHAAT et
CONPRESP.Le projet présenté traite la question de la restauration au sens le plus large. Il s’agit
de rétablir le signe de l’édifice et sa relation avec la ville e ses usagers, récupérer son usage de
forme compatible avec les questions contemporaines. Souhaite permettre aux citoyens d’utiliser un
espace chargé de valeur symbolique. Malgré l’écart temporel du développement de ce projet, le
sujet de la restauration et agrandissement du Musée Paulista est un point actuel pour la
discussion, car il s’agit d’être fermé, sans délai pour l’ouverture exactement en fonction des
problèmes de conservation du bâtiment.
_
O presente trabalho trata de apresentar projeto de ampliação e restauro desenvolvido para
o Museu Paulista da Universidade de São Paulo. O projeto desenvolvido por encomenda da
Direção da instituição em 2008 tem como objetivos principais a possibilidade de visitação integral
do edifício monumento, a adequação às normas de segurança e acessibilidade universal
(NBR9050), a ampliação das áreas de exposição, administrativas e acadêmicas e a implantação
de reserva técnica, adequada para os diversos elementos que constituem seu valioso acervo.
O fato de o edifício ser tombado nas três esferas de governo (IPHAN, CONDEPHAAT e
CONPRESP) suscitou importantes conversas envolvendo técnicos destes órgãos, fato que muito
contribuiu para o produto final.
O projeto apresentado aborda a questão do restauro no seu sentido mais amplo. Trata de
restaurar o significado do edifício e sua relação com a cidade e seus usuários, recuperar seu uso
de forma compatível com as questões contemporâneas. Pretende permitir aos cidadãos usufruir
de um espaço carregado de valor simbólico.
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Silvio Oksman, Eduardo Argenton Collonelli
O Edifício
Construído no final do século XIX, entre 1885 e 1890, com projeto e direção de Tommaso
Gaudenzio Bezzi, o edifício foi concebido como monumento para marcar o local onde, em 7 de
setembro de 1822, deu-se aquele fato conhecido como “O Grito do Ipiranga – Independência ou
Morte!”– identificado como momento fundador da Nação Brasileira.
Do edifício, disse Carlos Lemos ser, em São Paulo, “o primeiro do ecletismo que
pressupõe o edifício livre em todos os seus lados, em todas as suas fachadas”.1
Inaugura e pertence àquela tendência que se difundiu intensamente na cidade: “era uma
arquitetura completamente nova, o saber fazer era novo, o material construtivo importado, assim
como o estilo arquitetônico e a intenção plástica,a beleza”.2 Conforme a urbanização em seu
entorno foi avançando, impulsionada por sua própria presença no arrabalde, foi principalmente
pela formação de jardins públicos à sua volta que se manteve e se mantém aquele impacto de
monumento inscrito em paisagem visualmente livre. O Jardim Francês à frente de sua face norte
(primeira versão em 1909, depois reformulada em torno de 1922), um Horto Botânico à frente de
sua face sul, hoje um Bosque, tudo circunscrito ao Parque da Independência, coração do Eixo
Monumental, que inclui a Avenida Nazaré e a Avenida Dom Pedro I, acompanhando
aproximadamente o caminho percorrido por Dom Pedro I em 7 de setembro de 1822, quando
vinha de Santos com destino a São Paulo.
Espaços expositivos
Interiormente, o edifício é igualmente impactante: o Saguão de Entrada, com suas 24
colunas, e a grande Escadaria Central de mármore encimada pela estátua de Dom Pedro I,
impressionam e encantam logo de início não só visualmente, mas pela sensação promovida pela
amplitude, a aeração, a luz, a beleza e a singularidade do recinto. Neste ambiente, o projeto de
Bezzi fez preparar nichos em torno de todo o Saguão e Escadaria para receber pinturas e
esculturas. No primeiro andar, o grande recinto central – o Salão de Honra ou Salão Nobre – teve
sua parede principal construída expressamente para receber a pintura encomendada a Pedro
Américo de Figueiredo e Mello, “Independência ou Morte”, que ali está desde a inauguração do
Museu, em 1895, e tornou-se possivelmente a imagem mais difundida do país.
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LEMOS, Carlos. O projeto de Bezzi e a arquitetura do século XIX em São Paulo. In: MENESES, Ulpiano T. Bezerra de
(Dir.). Às margens do Ipiranga 1890-1990, São Paulo, Museu Paulista/USP, 1990. p.15
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LEMOS, Carlos, op. cit.
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Projeto de restauro e ampliação do Museu Paulista da Universidade de São Paulo
À parte essa grande pintura, porém, toda a ornamentação alegórica que preenche o
Saguão, a Escadaria Central e o Salão de Honra, só veio a ser produzida e instalada no edifício
em torno das comemorações do Centenário da Independência do Brasil, em 1922, nas quais o
Museu Paulista teve papel central. Todo esse conjunto arquitetônico e alegórico forma, desde
então, um Memorial da Independência, hoje estudado e interpretado como documento de uma
concepção da história do Brasil que, mais do que representar a visão de uma época, foi idealizada
e construída no próprio Museu Paulista, por Affonso Taunay, e a partir dali amplamente difundida.
Exposições e Acervo
Por sua estrutura axial, a planta do edifício se distribui por Alas simétricas – Ala Leste
e Ala Oeste – estas servidas, por sua vez, por Galerias (corredores que formam um eixo
contínuo em cada andar) e que fazem a distribuição para as salas, onde se organizam as
exposições do Museu.
As áreas de acesso restrito
Hoje, um terço do edifício está ocupado por laboratórios de conservação e restauração,
biblioteca, centro de documentação, reservas técnicas de acervo, escritórios de pesquisa, oficinas
e setores administrativos.
Apenas uma pequena parte do Subsolo, correspondente somente ao corredor do
corpo central, é hoje franqueada à visitação pública, com exposições complementares
àquelas que se encontram nas Alas Inferiores e Superiores (pavimentos térreo e 1º andar).
As Alas Leste e Oeste do Subsolo são respectivamente ocupadas hoje por Difusão Cultural,
Laboratório de Restauração de Fotografia, Laboratório de Restauração de Papel, Informática
e Administração, além dos banheiros.
Na ala inferior leste apenas a Galeria (corredor) é ocupada por uma exposição aberta ao
grande público. As Salas são ocupadas pelo Gabinete da Diretoria, Biblioteca, Centro de
Documentação e Auditório, que irão todos, futuramente, para o Bloco Técnico a ser construído.
Na Ala inferior Oeste, uma das principais áreas de exposições do Museu Paulista, uma
sala é ocupada pelo Setor de Segurança, com seus respectivos equipamentos e pessoal.
No Andar superior nas Alas Leste e Oeste há salas ocupadas pelo Laboratório de
Restauração de Pinturas e pelo Setor de Numismática, Medalhística e Filatelia.
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Silvio Oksman, Eduardo Argenton Collonelli
O andar superior de cada uma das três Torres que compõem o edifício – Leste, Oeste e
Central – são hoje ocupadas por Reservas Técnicas de Acervos, Laboratório de Restauração de
Tecidos, Serviço Educativo, Oficina de Museografia e Comunicação Visual e Salas de Pesquisa.
Por sobre a Torre Central, circundando a claraboia de vidro que permite a passagem de luz
natural para o Saguão de Entrada, existiu, originalmente, um Mirante, há décadas desativado.
Restam, deterioradas, as estruturas de ferro sobre as quais se estendiam passarelas de madeira
que permitiam o acesso a pessoas que ali postadas, no ponto mais alto do edifício, podiam ter
vistas esplendorosas para todos os quadrantes, com destaque para o Norte, no qual se pode
avistar, ao longe, o Centro da Cidade de São Paulo e, ao fundo, a Serra da Cantareira.
A ampliação do Museu Paulista
Desde sua inauguração, constatava-se já a necessidade de ampliação de espaço para o
Museu Paulista. Primeiro museu público do Estado de São Paulo e 4º do país,foi destinado a
cuidar dos mais variados tipos de acervo, abrigando-os em um edifício que, embora monumental,
nunca teve espaço interno realmente amplo. Porém, por seu desígnio de monumento nacional e
caráter de grande museu, há mais de cem anos reivindica-se a construção de outros edifícios a
seu redor para expandir e especializar suas atividades e para abrigar a administração. Ihering, o
primeiro diretor, defendia a ampliação da área natural à sua volta e, nela, a construção de outros
edifícios (especialmente um para abrigar as pinturas), à semelhança da “Cidadela dos Museus”,
de Dresden. Taunay também lutou para que se erguessem outras construções, desejando que
pudessem receber os acervos de ciências naturais, respectivos laboratórios e a administração.
Em vez disso, o que se fez foram sucessivos desmembramentos de áreas com seus respectivos
acervos para dar origem a novas instituições ou integrar outras já existentes, em diferentes
lugares: foi o caso de várias pinturas, da botânica, da geologia, da arqueologia e da etnologia. A
zoologia, que constituía a principal área do Museu Paulista em sua primeira fase, foi a única que
saiu do edifício-monumento não para diluir-se alhures, mas para constituir um novo museu no
Parque da Independência, hoje Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.
Vê-se, portanto, que a ampliação do Museu Paulista por meio de outros edifícios
próximos ao Edifício Monumento não é uma ideia nova. Em meados dos anos 2000 foi
instituída a Comissão de Espaço do Museu Paulista, que definiu o programa de
necessidades adotado neste projeto. Ampliação, esta, que se faz cada vez mais urgente, já
que, por motivos de segurança, o Museu encontra-se de portas fechadas, conforme consta
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Projeto de restauro e ampliação do Museu Paulista da Universidade de São Paulo
no endereço eletrônico do Museu: “Em 03/08/2013 a direção do Museu Paulista viu -se
obrigada a interditar o Edifício Histórico que o abriga”.
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O Projeto de ampliação
É real a necessidade de ampliação e adequação das suas instalações a fim de que a
instituição possa atualizar-se e dar continuidade e expansão às suas atividades científicas,
acadêmicas e culturais. O programa de necessidades implica na criação de novas áreas que
possibilitem atuar de acordo com princípios de desenvolvimento científico e didático,
estabelecendo ampla relação com o público em geral, caracterizado por um perfil de ampla
diversidade. É importante e estratégico que as novas áreas estejam integradas física e
funcionalmente com as áreas existentes. Nesse sentido foram estabelecidas as seguintes
premissas para desenvolvimento do projeto:
a) O Museu Paulista, com seu entorno, representa lugar de profundo valor simbólico e referencial,
pleno de significado nacional. Sua ampliação inserida no Parque se justifica porque o Museu é a
razão de ser do próprio Parque;
b) A proposta museológica, desenvolvida ao longo de vários anos pela equipe técnica do Museu
Paulista, define o edifício de Bezzi como sua principal referência simbólica. A intervenção de
ampliação e modernização visa destiná-lo integralmente para a visitação pública e permitir um
olhar para a cidade a partir do Eixo Monumental, como um mirante;
c) Não obstante, o fato de o edifício histórico ser apropriado para abrigar grande parte da
exposição do acervo, se faz necessário a constituição de novas áreas expositivas, sobretudo para
peças de grandes dimensões e peso, com condições diferenciadas de exposição e apreciação
(por exemplo: carros antigos, maquete da Cidade de São Paulo, etc.). Este local também será
destinado, preferencialmente, às exposições temporárias, incluindo intercâmbios com museus
nacionais e internacionais, prática atualmente impossibilitada pela falta de espaço;
d) Ampliação e melhorias das condições ambientais para a Reserva Técnica, Laboratórios de
Restauração e Conservação, bem como para os espaços destinados ao Ensino, Pesquisa e
Documentação, além das áreas Administrativas e de Serviços Gerais. Isso deve ocorrer em uma
nova edificação, uma vez considerada imprópria a ampliação da construção tombada;
e) as novas áreas construídas deverão estar integradas com o edifício histórico constituindo um
único conjunto de forma a possibilitar a interação entre as diversas atividades desenvolvidas;
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Disponível em: http://www.mp.usp.br/node/4109. Acesso em 30/07/2014
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f) quanto à circulação geral e estruturação dos fluxos dos visitantes, permitir o acesso universal a
todo o edifício bem como no estabelecimento de condições de segurança e adequadas rotas fuga
segundo exigências das normas técnicas e legislação;
g)O entendimento de que se tratando de um parque urbano, intensamente utilizado pela
população, deve-se causar o menor impacto ambiental possível tanto no edifício histórico como no
seu entorno, reduzindo ao máximo as áreas de interferência com a vegetação e mantendo ao
máximo as áreas de uso público;
A partir dessas premissas básicas, entendemos que as intervenções necessárias irão
causar, inevitavelmente, modificações no edifício histórico e no seu entorno, mas que, entretanto,
devem ser criteriosamente estudadas e analisadas. A solução a ser adotada deverá prevalecer
como resultado da maior adequação ao conjunto de aspectos do problema e aos princípios
contemporâneos da preservação e conservação do patrimônio histórico e arquitetônico.
Novas Prumadas de Circulação
O objetivo principal para o Edifício Histórico é destiná-lo, integralmente, à exposição do
acervo. Neste sentido, é prioridade equacionar a circulação em função dos fluxos expositivos, da
constituição de acessibilidade universal e do atendimento às normas de segurança (escoamento
da população).
Atualmente, a circulação horizontal do público no edifício antigo caracteriza-se pelas
galerias longitudinais que atravessam todo o edifício, e a circulação vertical pela escadaria
monumental centralizada, que interliga apenas três dos quatro pavimentos. Dessa forma, os fluxos
de visitação ocorrem de maneira “pendular”, num “ir-e-voltar” em cada pavimento. O sistema de
circulação vertical é composto também pelas belíssimas escadas instaladas nas extremidades do
edifício 4. Estas, que significariam a possibilidade de continuidade dos fluxos de um pavimento a
outro (no projeto de Bezzi), são frágeis para o tráfego intenso gerado pela atividade do museu, e
se mostram incompletas e deficientes, inadequadas aos planos museológicos e aos novos fluxos
esperados. Entretanto, dado o interesse do seu refinado desenho e confecção, optou-se pela sua
conservação e uso controlado.
Atualmente, os volumes constituintes das Torres Laterais e Central são interligados por
passarelas descobertas, no último pavimento. Estas ligações foram construídas para atender a
uma demanda interna de funcionamento das áreas técnicas que ocupam esses locais, mas que
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As escadas de madeira, originais do edifício, são representativas de uma carpintaria sofisticada do final do século XIX
e deverão ser preservadas.
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Projeto de restauro e ampliação do Museu Paulista da Universidade de São Paulo
conservam caráter provisório. A proposta é reeditá-las utilizando sistema estrutural metálico e
ajustá-las aos elementos das fachadas do edifício histórico. Estarão situadas na cota mais baixa
do telhado configurado por duas. Assim, serão cobertas sem causar novos impactos nas fachadas
e poderão servir ao público na utilização plena do edifício.
A proposta prevê, então, a adição de duas prumadas de circulação vertical na fachada sul,
oposta ao Eixo Monumental e voltada para o antigo Horto Botânico. Localizadas uma em cada
extremidade do longo edifício, possibilitam a ligação entre todos os pavimentos e estabelecem a
desejada continuidade dos fluxos de visitação. 5
As Novas Prumadas de Circulação foram centralizadas em relação aos volumes das
Torres Laterais do edifício histórico respeitando, dessa forma, a simetria da fachada. Seu desenho
e solução construtiva registram o mínimo de interferência com a construção existente e observa
afastamento que permite preservar a visibilidade e leitura das suas fachadas.
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As passarelas de
conexão se ajustam às envasaduras das janelas centrais. Com linguagem contemporânea,
estabelecem uma justa relação entre o antigo e o novo. Os volumes que as caracterizam têm uma
estrutura elementar e não assume valor formal excessivo.
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Submetem-se à exigência que é,
substancialmente, de resolver um problema funcional e integrar-se no ambiente constituído.
Cada uma delas contempla um elevador com capacidade para 25 pessoas e escada
dimensionada conforme a população prevista para o edifício. A caixa do elevador, centralizada na
planta, tem função estrutural e a escadaria desenvolve-se à sua volta em balanço, aliviando as
estruturas das fachadas constituídas em cristal transparente.
A solução adotada para o fechamento considera o efeito da transparência ou da
reflexão, conforme a luminosidade interna ou externa. Estes atributos inerentes ao material
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A configuração da planta, com 110 metros de comprimento, e a composição arquitetônica que define uma Torre
Central e duas Torres Laterais com quatro pavimentos sugerem que a posição das Novas Prumadas de Circulação
devam estar localizadas nas extremidades do edifício, possibilitando dessa forma a realização de percursos contínuos
além de melhor distribuir as distâncias a serem percorridas.
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Embora sendo novos elementos incluídos na fachada sul, entendemos que não reduzem sua visibilidade e não
impedem a apreensão da composição do todo e dos volumes do edifício histórico porque permanecem destacadas,
aproximam-se, mas não integram, permitindo que, assim, o edifício continue sendo visível e legível e, portanto,
compreendido. Não obstante funcionalmente o edifício e as torres estejam associados, o primeiro, conserva sua
identidade e forma, e, por isso, mantém-se preservado seu estilo.
As torres externas são elementos diminutos proporcionalmente à massa construída do edifício histórico e, assim, não
prevalecem na apreensão arquitetônica do bem tombado.
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A linguagem contemporânea adotada atende às recomendações de distinguibilidade da Carta de Veneza.
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são favoráveis à integração dos novos volumes ao monumento. Ao mesmo tempo,
possibilitam que os usuários do Museu, ao percorrê-las, usufruam de nova visibilidade da
construção e do lugar onde está implantada.
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Foram estudadas soluções alternativas para localização das novas prumadas de
circulação vertical de forma interna ao edifício com a conservação das escadas de madeira,
e observamos que:
São traumáticas e incômodas para o edifício, com demolições de pisos e forros originais
em todos os pavimentos;
Há a necessidade do enclausuramento das escadas com a consequente ampliação da
área envolvida e interferências com aberturas de janelas e portas;
Haverá o comprometimento dos espaços das Galerias e/ou os das Salas de Exposições,
ricos em elementos decorativos e representativos do edifício tombado. Neste caso, é
imprescindível a conservação desses locais, principalmente as Salas de Exposições, com a
finalidade de abrigar exposições em todos os pavimentos e, dessa forma, evitar que as Torres
Laterais do edifício transformem-se, exclusivamente, em torres de circulação.
Os locais possíveis de localização das escadas e elevadores estão condicionados à planta
do segundo pavimento - salas menores em torno de “pátio” central iluminado por claraboias;
A localização interna das escadas de escoamento de emergência não resolveria a questão
da saída para o exterior (rotas de fuga), sendo então necessário, de qualquer forma, criar
interferências nas fachadas com esta finalidade.
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O projeto não se encontra detalhado, mas a proposta considera a pele de vedação constituída de vidros que, devido
às suas características, vencem toda a altura entre pavimentos sem auxilio de caixilhos para sua sustentação e serão
fixados diretamente nas laterais dos lances das escadas e nos seus patamares. As peças de fixação serão do tipo
“spider-glass” que reduzem ao mínimo os elementos metálicos.
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Projeto de restauro e ampliação do Museu Paulista da Universidade de São Paulo
Novo Edifício
Para abrigar o programa técnico, científico, e acadêmico, bem como os ser viços
gerais e de administração, foi proposto um Novo Edifício. Sua implantação será feita
numa área de aproximadamente 2.500m², no local atualmente ocupado por uma divisão
do Corpo de Bombeiros e, portanto, já impactada com relação à vegetação do parque. A
localização é estratégica com relação ao edifício antigo: distante suficientemente para
não interferir na visibilidade do bem tombado e próximo o necessário para permitir a
interligação das duas áreas. A proximidade com relação à Avenida Nazaré, facilita o
acesso direto para esses setores.
O edifício projetado tem cinco pavimentos: térreo, dois pavimentos superiores e
outros dois inferiores, que ajustam o novo edifício às diretrizes de gabarito emitidas pelo
CONPRESP (máximo de 10m de altura) para novos edifícios na área envoltória do Museu
Paulista.
Está implantado na cota do 2° pavimento abaixo do térreo, numa área
“escavada” mais ampla que a sua projeção - 2,5m nas laterais e 10m no recuo da Avenida
Nazaré e da Praça Interna do Parque.
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Os fossos são parte integrante da solução arquitetônica do edifício e, portanto, estão a ele associados. A solução
adotada descaracteriza a condição de “debaixo da terra”. Os afastamentos considerados, de 10 metros em duas
fachadas alternadas e de 2,5 metros na outras duas, recriam condições similares à maioria dos edifícios implantados
em qualquer centro urbano tradicional, considerando, inclusive, posturas municipais e sanitárias em vigência.
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Silvio Oksman, Eduardo Argenton Collonelli
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Os pavimentos, com projeção de 45x45m, foram resolvidos a partir de uma área central
destinada preferencialmente às Reservas Técnicas, envolvidas por um anel de utilidades com
áreas para equipamentos, prumadas de instalações e circulação vertical. As áreas periféricas,
abertas para o Parque, são destinadas aos serviços de pesquisa, documentação e administração.
No Térreo estão o controle, a recepção e o acesso geral aos pavimentos superiores e
inferiores. Este pavimento também deve abrigar as áreas da diretoria, da Biblioteca e da Divisão
Cultural, além de um pequeno Auditório para 80 pessoas e área de Uso Múltiplo.
As Reservas Técnicas estão distribuídas e ocorrem nos dois pavimentos superiores e nos
dois pavimentos inferiores. Além dessas áreas, nos dois pavimentos superiores estão alojados os
Laboratórios de Restauração, Fotografia e imagem, e os setores de Iconografia, Arqueologia,
Numismática, Objetos, Museografia/Comunicação Visual e Documentação.
No 1º pavimento inferior se localizam também os serviços gerais e a área de carga e
descarga (desinfecção e quarentena) relacionada diretamente com a avenida através de
rampa para veículos. A conexão dessas áreas com as Reservas Técnicas, distribuídas em
vários pavimentos, é realizada através dos elevadores. No 2° pavimento inferior estão
localizadas as áreas de apoio aos funcionários e usuários: café, refeitório e convivência. A
solução estrutural é definida a partir da área central das Reservas Técnicas, com os salões
periféricos em balanço.
Subterrâneo de interligação
Novos espaços expositivos e de serviços ao público serão localizados no bloco
Subterrâneo de Interligação. Implantado no subsolo do Parque, no eixo do edifício antigo, é
composto por dois pavimentos e está localizado sob área definida por duas alamedas do parque. 10
A solução subterrânea foi adotada também no sentido de manter as áreas livres de uso
público do parque, e de não aumentar a área pavimentada, minimizando as interferências com a
vegetação. A cobertura desta área será composta por um espelho d’água circundando uma
claraboia de iluminação. Localizada na cota do piso do parque, configura um novo desenho de
A área de ocupação, incluindo as áreas rebaixadas dos fossos, corresponde exatamente à área atualmente
comprometida com a divisão do Corpo de Bombeiros, portanto indisponível há anos para utilização da população.
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A solução de construção subterrânea, nesses casos, é usual e interessante na medida em reduzem o impacto com
relação a situações consolidadas e tombadas, além disso, são espaços que precisam ter controle ambiental absoluto e
a redução da interface com o meio ambiente é mais positivo do que negativo. É, por exemplo, solução adotada na
ampliação do Museu do Louvre e, recentemente na ampliação do Museu L’Orangerie, ambos em Paris.
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Projeto de restauro e ampliação do Museu Paulista da Universidade de São Paulo
Praça com solução paisagística readequada ao entorno do bem tombado permitindo a ampliação
das suas perspectivas visuais.11
A disposição destas intervenções sugeriu a criação de uma alameda de ligação da Praça
redesenhada com a Avenida Nazaré, caracterizando uma nova entrada no Parque. A partir desta
alameda é realizado o acesso ao Novo Edifício e ao Edifício Histórico. O acesso às novas áreas
expositivas a partir do Parque será independente passando ao lado do Novo Edifício e, através de
sistema de rampas, conecta um amplo saguão contendo auditório para 400 pessoas, loja e café.
Novo desenho do Jardim entre o Museu e o Horto Botânico
O novo desenho proposto para a Praça pressupõe sua reestruturação e cria, dessa forma,
uma paisagem intermediária entre o Museu e o antigo Horto Botânico de Ihering já sugerido no
desenho de levantamento de F.C. Hoehne, de 1924, contraponto do jardim frontal do Museu,
voltado para o Eixo Monumental. Essa solução libera e amplia as visuais com relação ao edifício
histórico. A ligação desta praça com a Avenida Nazaré, sugerida no desenho do Horto original, é
restabelecida através da alameda de acesso ao Novo Edifício, constituindo-se num acesso
alternativo ao Parque.
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Essencialmente o desenho proposto para a praça nesta área do parque repete o desenho com que hoje está
resolvido esse espaço: um canteiro central e duas alamedas laterais circundando-o. A modificação substancial é a
substituição da vegetação existente no canteiro pela clarabóia e os espelhos d’água que a circunda, proposta tanto
como solução estética, ambiental e, também como medida de segurança com relação à clarabóia. As alamedas
continuam exatamente como estão atualmente. A diretriz do paisagismo sugere o uso da água como elemento básico,
solução consagrada em inúmeros projetos de espaços e edifícios públicos. O espaço continua existindo, conserva
ambiente de permanência, e cria novos interesses para a contemplação possibilitando a visibilidade do edifício histórico
tombado (completamente inexistente hoje), medida incentivada pelos órgãos de preservação e convenções
internacionais. Quanto à questão do manejo da vegetação, já existe projeto de manejo e processo de aprovação na
Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e no DEPAVE, ambos da Prefeitura da Cidade de São Paulo.
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Silvio Oksman, Eduardo Argenton Collonelli
Integração
Para a integração entre o Edifício Histórico e o Subterrâneo de Exposições e, a partir daí,
com o Novo Edifício foram considerados os aspectos de intensidade e distribuição de fluxos e
estabelecidos os seguintes pontos de conexão:
a) A partir do Saguão Principal e do subterrâneo no eixo central do antigo edifício, em
continuidade do Eixo Monumental, propõe-se um Salão junto à fachada sul como consequência
da integração dos três compartimentos existentes. A partir deste novo Salão, de onde se pode
perceber tanto o parque como o jardim, tem início o trajeto que interliga o térreo do Edifício Antigo
com o primeiro nível do Subterrâneo de Exposições. Esta conexão é feita através de escadas
rolantes com fluxos constantes e independentes de descida ou ascensão. Nesta área serão,
então, concentradas as obras de contenção, escavação e reforço estrutural que permitirão a
interligação pretendida, sendo a passagem, de um para outro edifício, feita sob os baldrames do
edifício existente.12 Dessa forma, com passagens estruturadas, a conexão será mais segura,
mantendo íntegros todos os baldrames e não gerando esforços horizontais de deformação.
Internamente serão executadas cortinas de contenção, substituindo o solo retirado e, dessa forma,
mantendo o suporte dos baldrames. Essa obra será executada antes das escavações, por
segmentos intercalados de forma a não desestabilizar as paredes durante a construção;
b) A partir das duas Novas Prumadas de Circulação do Edifício Antigo, na cota do subsolo.
As conexões nesses pontos possibilitam o acesso aos elevadores e, consequentemente, a
todos os pavimentos do Edifício Antigo, tornando-se, portanto, estratégicas também para a
logística interna do Museu.
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O Conjunto do Ipiranga, constituído pela Avenida Dom Pedro I, pelo Monumento da Independência, pelos Jardins
Franceses e pelo edifício do Museu Paulista, têm na sua concepção e desenho resultante um eixo estruturador
marcante, denominado de Eixo Monumental. Na concepção arquitetônica do Museu, este eixo está consubstanciado
pelas escadarias externas, pelo Saguão de Acesso Principal e suas escadarias centrais e pelo Salão Nobre no primeiro
pavimento.
A ampliação proposta, pela sua magnitude, representa uma ação de revitalização e qualificação de grande alcance.
Estabelecer um dos pontos da conexão do antigo edifício com as novas instalações pelo Saguão de Acesso Principal do
edifício tombado é uma forma objetiva de não “esvaziar” o edifício, mas pelo contrário, reafirmar seu significado e sua
lógica arquitetônica.
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Considerações
A ideia de ampliação do edifício do Museu Paulista não é nova. Consultas aos antigos
desenhos e estudos atribuídos a Tommaso G. Bezzi nos mostram a intenção da ampliação do
edifício a partir das suas Torres Laterais. Em alguns casos indicam o sentido dos Jardins frontais,
em outros a direção oposta. O primeiro projeto aprovado para o monumento comemorativo da
Independência, datado de 1883 e não construído, sugeria um segundo saguão oposto ao
principal, por trás da escadaria monumental, com a intenção da continuidade dos espaços para
um segundo jardim circundado pelas alas da ampliação prevista, configurando um segundo
acesso ao edifício. O projeto modificado e construído altera a disposição límpida da planta
anterior, subdivide o saguão secundário por três espaços compartimentados, mas mantém a ideia
da conexão com o parque na direção sul. A interligação entre o antigo e o novo a partir do eixo
central e do Saguão Principal reedita essa diretriz original. Da mesma forma, as novas Torres de
Circulação externas encontram referência nos estudos originais de ampliação representadas pelas
duas alas propostas a partir das Torres Laterais.
A intervenção proposta em 2008 para o Museu Paulista está afinada com condutas
adotadas em obras recentes, de significado e caráter semelhantes, onde o intuito da preservação
está associado à transformação, modernização e adequação da construção às novas demandas.
Considera, ainda, as orientações dos acordos internacionais pertinentes. Mesmo considerando as
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peculiaridades de cada caso, não podemos deixar de relacioná-la com as intervenções propostas,
por exemplo, para o Museu do Louvre, em Paris, e para o Museu Rainha Sofia, em Madri. Estas
obras registram soluções para as questões de acesso e circulação que, transcendendo as
possibilidades dos espaços internos, acarretaram transformações que se revelam externamente
nas relações do edifício com seu entorno próximo.
Sem ser o objetivo inicial do trabalho, a proposta caminhou nessa direção. Os volumes das
Novas Prumadas de Circulação, associados ao Edifício Antigo, dialogam com a nova praça no
parque - cobertura das áreas expositivas, reveladas pela claraboia de iluminação – e com o Novo
Edifício técnico, renovando as relações espaciais na dinâmica de utilização do parque.
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