O Design de Mobiliario em Campinas

Transcrição

O Design de Mobiliario em Campinas
u oeslgnoe moDillarl0 em uamplnas
JOSINO DE MORAES
Campinas constitui-se num centro universitário e de tecnologia de ponta na
área industrial, importantedentro do país
e em consequência formado por um
público privilegiadq do ponto de vista
cultural. E um grandeestímulo.Pessoas
atualizadas.em relaçào ao trabalho no
reocu
çoes para novas necesslda{lesoÈntro oo
campo do mobiliário. E importante a
dade específica bem definida. Excluo
aqui, evidentemente, casos particulares
onde se faz possível funções múltiplas e
decorativas. O objetivo deve ser claro.
Dou um exemplo. Se você opera de pé
ou sentado, os plancs de apoio ao
trabalho devem obedeceralturas com
compreensão de que Campinas, como
outra qualquer cidade do mundo, não
está isenta da influência exterior. Pelo
contrário, o mundo moderno gera o que
"design universal" devido à
chamo de
rapidez da informação através da mídia e
da literatura internacional. E importante
ter presente aqui o aspecto que nos
diferencia dos paísesde clima temperado;
o clima quente. Este se constitui numa
peculiaridadecentral, com suas naturais
consequências sobre o nosso design.
Quais os materiais e soluçõesa adotar?
Acredito que a madeira, como elemento
orgânico, presta-sebem. Ela transmite a
sensação de frescor no calor e certo
aconchesonas nossas escassas,e não
contínuai, semanasde frio. Excluo o sul
do país, onde se.'poderia(sic) admitir a
.ocorrênciade quatro eslaçõesdefinidas.
Quando utilizada como assento,permite
uma boa dissipação do calor humano.
Isto por si só poderia evitar problemas
dermatológicosna região glútea. O princípio de lâminas porosas (couro, tecidos
de fibras naturais, madeiras) é outra
questãopara nós bastanteinteressante.
Imasine-se aleuém sentadonuma sala
de"eãpera. coãr kntos planos em sua
$enle,,no"[Lis ou Ribeirão Preto, com 40
de 80 cm e pias e lavabos de 82 a 85
cm. A diferença é irrisória para situações
completamentediferentes. Para chegarmos a enfocar a questão beleza, é
necessário.antes. o domínio dessebeabá.
Esta é uma questãomuito_bem elucidada
no mundo deìenvolvido. É exfemamente
imporüanteeste aspectodo ponto de vista
de saúde e conforto. Algumas dores de
coluna, cansaçospremafuros, sensações
de desconforto poderiam ser eliminados
com observaçõeôelementares.É o conceito-função.Aqui, em algumasoportunidades,funçõesde séculospassadostransformam-seem móveis modernos,reciclados numa linguagemcontemporânea.Em
outras, novas necessidades(computadores, fax etc.) geram novos produtos.ou
mesmo consideraçõessobreo conforto de
todes e até mesmo das' crianças, elas
afinal taúbém têm essedireito!
O segundoaspectoé o da lógica estrutural. Não ao desperdíciode insumos,
porém a. um esforço no sentido da
obtençãode peçasde longa vida útil. Em
certo sentido não deixa de ter relação
com a grande preocupaçãonos nossos
dias, a ecologia. A madeira, com sua
enorÍne importância requer, para obtenção de bons resultados,eStudosde labo-
arquiteturabrasileira tem o enorme desafio de resolver os problemasda iluminação natural e ao mesmo tempo eliminar o
calor, o campo do mobiliário tem seus
problemasa solucionar.A ergonomia,no
sentido naif, não é o único aspectoa ser
considerado.Enfim, estaspoucas consideraçõesfalam por si só da necessidade
de um enfoque particular no design
nacional.
O atual design de móveis padece, no
meu entender, de um pecado capital
a
básico,com rarase honrosas'exceções:
falta de um ponto de partida conceitual.
madeira é higroscópica, o que sigúifìca
que ela entra em equitíbrio,de umidade
com o meio ambiente. Em iconsequência
disso se contrai e se exç*lnde, dependendo da variaçãodo teor @ umidade. E
o que é mais importanteiainda é sua
contração diferencial, ou ìseja, a diferença entre contração t{ngencial (na
direção dos anéis de çreËcimento)e a
radial, ortogonal a anteriú. O conhecimento dessas característicirssó poderia
contribuir ao alcance de úelhores resultados.
Um terceiro aspecto a si:r considerado
palavra, beleza. Alguns chamam a isso
conforto visual. Este ponto é o que
chamo de interação com o resto do
mundo material. As formas e cores de
outros objetos,volumes,relevos,influenciando o design do mobiliário e viceversa. São as formas dos edifícios,
.rnáquinas,vestuário, utensílios. Enfim é
r +ie r:crfigui'z. .rlcsteponro--devista,
uma época histórica (os estilos): "the
spirit of the age".
O objetivo final é otimizar este coniunto
de forças, de forma a obter-se uma
harmonia quase que total. "Last but not
least" (por último. mas nem por isso
menos importante), têm os designers a
camisade força da produção. As característicasdo processoprodutivo, a função
da produção e os sistemasde montagem
e embalagem.Mesmo no ápice do objeto
acabado,resta o problema do design da
embalagemapropriada.
O resultado deste trabalho de criação
deve estar aberto à crítica, praticamente
inexistente na região. e no país, Íão
necessária ao desenvolvimento desta
área. O pós-modernismo,com sua lembrança.do passadoe esta absolutanecessidade do homem de reflexão sobre o
tempo, e o espaço, constitui-se numa
importante tendênciaatual percebida pelos críticos internacionais.Ao Memphis,
expressãodo mesmo no campo do mobiliário. cabe berir as palavras de Ettore
Sottsass, em 1981: "Cada jornalista
reage dizendo que o mobiliário que
projetamos é de mau gosto. Eu penso
que ele é de extremo bom gosto. O
Buckingham Fdace é - que é de mau
gosto. O Meniphis descreveo mundo
futuro". E nós, neo-Bauhaus
designers?
Não importa. Acredito que o esforço de
criação deva ser o mais livre possível, a
tarefa de nos colocar ou definir dentro de
grupos, tendências ou escolas não é
nossa -designers- e sim de críticos,
jornalistas, historiadoresde design e de
arte. Que exercitemo poder de síntese!
O design do móvel é bastante complexo. Que surjam designersnestaárea,
que certamenteajudarão o noSsodesenvolvimentoindustrialtão necessário.
DE ilORAES, 49. é ensenheiro,economistae proprietá-