O Cavaleiro Negro em: "Salvador/Floripa"

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O Cavaleiro Negro em: "Salvador/Floripa"
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03/05/09 - O Cavaleiro Negro em: "Salvador/Floripa"
"O Cavaleiro Negro prepara o Dragão Verde Fumegante para mais uma jornada...
Destino desconhecido... Caminho desconhecido... Só disposição e coragem... A
meta é encontrar outros dois guerreiros no caminho... Até onde irá, não se sabe..."
O restante da mensagem é o relato desta viagem. A mais longa que já fiz (6.307
km). Saindo de Lauro de Freitas, próximo a Salvador, com destino a Florianópolis.
Até Angra dos Reis a viagem foi em solitário. Onde encontrei mais dois Águias e
seguimos para o destino final: Florianópolis.
1o Dia: 15 de Janeiro de 2003 ? Quarta-Feira
Saída: Lauro de Freitas (3:40hs)
Chegada: Linhares (23:55hs)
Kilometros Rodados: 1036 km
Acordo às 3:00hs da manhã, já com a moto arrumada do dia anterior. Visto a roupa
de couro, enquanto meu Pai ainda dorme. Desço para tomar um leite, e partir. Me
despeço de meu Pai na porta de casa. Páro no primeiro posto de gasolina para
abastecer a moto e a garrafa auxiliar (PET 2 litros). Sigo rumo à BR 324 entrando
pelo Pólo Petroquímico de Camaçari para cortar caminho, claro.
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A viagem pela BR 324 segue tranquila até o próximo abastecimento em Cruz das
Almas (BR 101). Percebi uma ?fraqueza' da moto em retomadas e acelerações
rápidas, mas segui viagem. Abasteço em Cruz das Almas com o dia ainda escuro.
Sigo viagem, já pela BR 101, com destino ao próximo abastecimento em Gandú.
Antes de chegar a Gandú, aproximadamente 50km do posto da Polícia Rodoviária
Federal, alguns carros na outra pista mandam sinal de luz alta ao cruzarem por
mim... Pensei: ?Isso é hora de blitz?'. Para minha surpresa vejo um corpo caído no
chão... um corpo de um homem branco, com as roupas pouco rasgadas e um
grande corte na barriga... não deu para ver muita coisa por que o dia ainda estava
raiando, e preferi não parar. Paro no posto da Polícia para avisar, mas um motorista
de ônibus já estava fazendo isso. Sigo até o posto Flecha onde abasteço e tomo
meu café da manhã.
Sigo com destino a Itabuna, com o dia já claro, o sol nascendo à minha esquerda,
concluí o que não queria... A moto realmente esta perdendo potência em alta
velocidade, não passa de 100km/h. Decido seguir assim até Itabuna, onde iria
procurar uma concessionária YAMAHA, mesmo por que não podia fazer nada.
Paro num posto de gasolina para abastecer e procurar uma concessionária no
manual da moto. O número estava desatualizado, mas consigo falar com a central
YAMAHA em São Paulo e me fornecem o novo número. O chefe de oficina me diz
que não pode me atender, mesmo eu estando em trânsito por que ele precisa
entregar 6 YBR até o final da semana e por isso está com a oficina cheia. Tudo
bem... cada um decide e escolhe que cliente é prioridade para sua empresa.
Depois de abastecer a moto sigo até Itagimirim onde abasteço mais uma vez
rapidamente e continuo viagem. Ao passar por Eunápolis vejo uma concessionária
YAMAHA, que por sinal não estava na lista de concessionárias do meu manual,
deve ser nova. Paro, entro e pergunto ao chefe da oficina se ele pode dar uma
olhada na moto. Novamente me diz que não pode me ajudar, embora a oficina
esteja tranquila eles não se sentiram à vontade para mexer no meu carburador...
comecei a ficar preocupado, pois estava longe de qualquer grande centro urbano
que tivesse condições de ter uma concessionária grande. Sigo viagem com destino
a Teixeira de Freitas, onde segundo o chefe da oficina a concessionária tem mais
tempo e talvez soubesse trabalhar com a moto.
Paro em Itamarajú para um rápido abastecimento, aproveito para ligar para os
outros dois ?Águias' que saíram de Vila Velha com destino a Marataízes. Me
informaram que Marataízes não tem nada, e que irão pernoitar em Cachoeiro do
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Itapemirim. Sigo para Teixeira de Freitas em busca de uma concessionária que
possa me atender.
Entro na cidade de Teixeira de Freitas à procura da concessionária. Encontro um
motociclista e pergunto onde fica, ele diz que me leva até lá por que estava indo
para lá mesmo. Ótimo. No caminho havia uma bifurcação... Uma bifurcação no
meio do caminho... e areia... Muita areia... Dava para fazer uma praia de tanta
areia... A curva era impossível de fazer com a moto carregada como estava e com
a velocidade que eu estava... Só que o meu ?guia' estava de BIZ... Fez a curva de
uma mão só... e eu fui para praia... Quer dizer para a areia.
Legal... tinha que animar a viagem, estava muito parada... A queda só quebrou a
minha ?bolha' que já não estava muito legal, mas agora ficou pior. Pior mesmo
ficou o meu pé... Uma puta torção... inchou na hora... Mal conseguia pisar no
chão... Mas vamos lá... Sigo para a concessionária...
Converso com o chefe da oficina que me diz que esta está mais ou menos cheia,
mas que poderia pegar minha moto umas 15hs (eram 13:20hs) e me entregaria no
final do dia. Informei que estava em trânsito e das dificuldades nas cidades
anteriores, mas o cara novamente preferiu atender às motos que já estavam lá.
Quando estou falando sobre o problema o chefe da oficina diz assim: ?É esse
carburador é? O pessoal não conhece muito não... O que você acha de ir na oficina
do Anderson?'... isso era tudo que eu não queria ouvir.
Vamos à oficina do Anderson... A oficina é uma garagem pequena e cheia de coisa
entulhada, mas pelo menos bastante material e ferramenta o cara tem. Mas o
Anderson estava almoçando, óbvio eram 13:40hs. Umas 14:10hs ele chega, sem
almoçar ainda, e me diz que pode resolver meu problema sim... que iria almoçar e
que o ajudante dele iria começar a desmontar as coisas para chegar no
carburador... Perguntei: ?Por que não trabalha com o carburador na moto mesmo?
Tira as tampas laterais e pronto'. O cara disse que quem trabalha assim, para
ganhar tempo, era concessionária ele trabalharia com o carburador fora. Tudo
bem...
Começo a tirar toda a bagagem... coisa como o diabo... O ajudante começa a
remover o tanque... tira isso... tira aquilo... dou uma força para ele, chegamos no
carburador. Ele não sabia tirar o carburador, óbvio. Começa a forçar... dou logo um
basta no cara e pedi para ele esperar o Anderson.
Anderson chega umas 15:45 e também não sabe tirar o carburador... Começa a
forçar, falei para ele parar, pois não deveria ser assim... O cara zangou e falou: ?Ou
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você me deixa trabalhar ou então pode levar sua moto'. Porra... quase dou um
chute no cara, mas estava lascado mesmo... pior não ficava. Comecei a pensar em
como iria levar minha moto, e o que sobrasse das peças, de volta para casa de
volta. Desisti de olhar, e arrumei um canto para dormir um pouco...
De repente o Anderson me vem com o carburador na mão e me diz: ?Nem você
estava certo nem eu sou o dono da verdade. Mas vamos ver o que seu carburador
tem.'. Penso: ?É vou voltar para casa de jumento, puxando a moto'. A ?autópsia' do
carburador eu acompanhei de perto... Tira isso... tira aquilo... Lava o carburador
todo... Seca o carburador todo... Desmonta mais... lava... seca... cansei. Deitei num
canto da oficina e tirei um cochilo, afinal já eram 17:00hs.
Acordo, com ele dizendo ?Achei! A peça se segura o diafragma do carburador está
solta, não prende mais por algum motivo, posso colar?'. Perguntei: ?Super
Bonder?'. O cara colou a peça com uma cola que só funciona quando na ausência
de ar... um negócio meio diferente... mas colou. Começa a fechar o carburador, e
óbvio que não sabia qual era a regulagem que deveria dar... foi até a
concessionária olhou o manual, pegou os dados que precisava e voltou. Regulou
fechou tudo, diafragma colado e tudo mais.
Depois de 1:30hs tentando colocar o carburador no lugar ele teve sucesso. Filtro de
ar, tanque de gasolina, liga as mangueiras, fechar tudo, e liga a moto... Ligou! Mas
ligando ela já estava... regulou a marcha lenta, e me pediu pra testar... Na hora
estava chovendo e já era escuro, mesmo assim, peguei a moto e segui pra uma
estrada, 100, 110, 120, 130, 140, 150km/h... Como era bom ouvir a moto
trabalhando em alta...
Volto pra oficina, arrumo a moto toda, conversando com o Anderson, disse pra ele
que não botei fé no trabalho dele quando ele começou mas que agora ele me
mostrou que é bom... conversamos outras bobagens e ele me aconselhou a dormir
por lá, afinal Cachoeiro do Itapemirim ficava a 480 km de Teixeira de Freitas. Como
sempre não consegue me convencer e eu abasteço a moto e pego a estrada
aproximadamente às 20:45hs.
Sigo numa boa, embaixo de chuva fraca até São Mateus ? ES, pelo menos a divisa
de estados eu já consegui passar... A chuva para, pista ainda molhada, sigo com
cautela. Chego em São Mateus, abasteço rapidamente, no posto de gasolina que
tinha mais prostituta do que em qualquer lugar que já fui... Começo a ficar
cansado... neblina pela frente... Vou com uma velocidade de 80km/h, alguns carros
na outra pista começam a dar sinal de luz... ?Mais blitz? Mais morto? Mais
batida?'... não vejo nada... nem luzes... só a dos outros carros na contramão... A
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neblina fica mais densa... vou reduzindo... 50, 40, 30km/h... Não consigo ver mais
nada, 20km/h. De repente bato em algo grande, macio, e que me engoliu!!! Pensei:
?É assim que se more é?' Era uma árvore... caída no chão... imensa, uns 15 metros
de altura, tomando as duas pistas e um acostamento.
Depois da ?árvore engolidora de motociclistas' decidi parar na primeira cidade:
Linhares. Pedi um café, era um posto de gasolina. Estava um frio miserável,
converso com uns caminhoneiros e me disseram que dali à 5 km estava uma chuva
torrencial. ?Realmente é aqui que vou dormir, mas aonde?'. Uma pousada sobre a
lanchonete, fui olhar os quartos, ar condicionado, chuveiro quente, televisão... ótimo
R$ 38,00.
Tira toda a bagagem da moto, sobe com tudo aquilo... meu pé ainda inchado, a dor
quase insuportável... Biofenac nele... Tomo um banho, tremendo de frio... mais
Biofenac no pé. Ligo para os Águias 00:40hs, estavam dormindo, pois Cachoeiro
não tem nada para se ver ou fazer e irão seguir às 7:00hs para São Gonçalo no Rio
de Janeiro. Esta ?Caça aos Águias Perdidos' já está me enchendo o saco.
Ar condicionado não funciona, chuveiro não aquece... nem tentei ligar a TV. Pelo
menos a cama não caiu. Paguei R$ 25,00.
2o Dia: 16 de Janeiro de 2003 ? Quinta-Feira
Saída: Linhares (8:40hs)
Chegada: Rio de Janeiro (19:30hs)
Kilometros Rodados: 688 km
Acordo às 7:00hs com Beto me ligando dizendo que estava saindo de Cachoeiro.
Durmo até às 8:00hs. Desço com toda minha bagagem, o pé ainda dói muito, mas
estava menos inchado... Coloco um tensor nele, melhorou. Carrego e abasteço a
moto então sigo viagem... Depois de rodar 60 km saindo de Linhares, o carburador
me dá outro susto... Novamente perde força com alta rotação, mas desta vez com
80~90 km/h. Paro em Cariacica para abastecer. Bem que Anderson me falou que
aquilo não era o certo, mas que ele estava fazendo um paleativo... Tudo bem... Já
conheço o carburador, decidi rodar até entrar na reserva para trabalhar melhor com
o tanque superior vazio. Surpreendentemente a minha flâmula do MotoClube
sumiu, junto com a haste que prende ela no sissybar do garupa.
Paro em um posto, tomo café da manhã, relaxo um pouco e compro uma Super
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Bonder! Conversando com um caminhoneiro, o mesmo me disse que estava
levando uma carga para Itajaí, depois iria para Recife, e que se eu precisasse, ele
poderia me deixar em Feira de Santana. Anoto o telefone do caminhoneiro e sigo
viagem pensando na carta que vou escrever para a YAMAHA do Brasil... ou quem
sabe para a YAMAHA mundial.
Incrivelmente, mesmo com o problema no carburador a moto rendeu bastante rodei
200 km após abastecer para que a moto pedisse reserva... Joga para reserva...
Mais 10 km eu paro em Campos. Abro o carburador... a cola funcionou... Não havia
soltado... Comprei a Super Bonder à toa. Limpo tudo o que vejo, mas não me
arrisco a abrir o outro lado onde está a bóia, as agulhas, etc... pois não tinha como
limpar aquelas peças. Abasteço a moto e sigo viagem pensando na menina linda
que trabalha na administração do posto... É por estas coisas que adoro viajar para
o Sul/Suldeste, adoro o Nordeste para morar, no entanto é mais pra baixo que
vemos mulheres mais bonitas...
Já no estado do Rio de Janeiro o calor é maior... começo a pensar em como
encontrar a tal cidade de São Gonçalo... Estava no mapa eu sei... mas as placas
não ajudavam muito não... É... sem conhecer a estrada estava ficando difícil a
coisa. Na minha paciência de Jó, rodo mais uns 150 km com velocidade de 80 km/h
e abasteço em um posto na cidade, vilarejo sei lá o que era aquilo, mas se
chamava Rocha Leão. Esta não estava no mapa. Sigo rumo a São Gonçalo, o
celular não pegava nesse fim de mundo, logo iria ter que fazer outra parada para
me comunicar com os ?Águias Perdidos'.
Paro na estrada e pergunto para um senhor que estava no acostamento, depois de
ele tomar um susto com a aparência de um motociclista durante uma viagem, ele
me diz umas 4 formas diferentes de chegar a São Gonçalo... Preferi esquecer tudo
que ele falou e pegar mais informações à frente. Chego à um posto da Polícia
Rodoviária Federal, converso um pouco com um policial e tento fazer contato com
Beto ou Ítalo. O celular deles não atendia. Concluí que o ideal serial dormir em São
Gonçalo e de manhã cedo levar a moto para uma concessionária no Rio de
Janeiro, capital.
Consigo falar com Beto e ele me diz que São Gonçalo não tinha nada pra fazer,
que era muito feia a cidade e que como chegaram lá por volta das 13:30hs,
preferiram seguir para Angra dos Reis. Já eram 18:15hs eu estava com a moto
problemática, não iria seguir para Angra nem a pau. Liguei para alguns familiares
no Rio de Janeiro, avisei que iria dormir lá... e pedi informações de como chegar à
casa deles. Pego ?Tia Tete' e sigo viagem para o Rio... Fui pensando em como
entrar na cidade sem ser assaltado, sequestrado e roubado...
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Ponte Rio-Niterói, a vista é bem legal... Vejo um avião da TAM pousando no Santos
Dumont e lembrei que se eu entrasse no Rio de bala-clava eu estava lascado em
dois, por que aí quem iria me matar era a polícia, não a bandidagem. Parei no meio
da ponte e resolvi o problema de quem iria atirar em mim.
Ao sair da ponte, errando as instruções que meu Tio me deu entrei na Av. Brasil.
Só me lembrava de uns e-mail na lista Virago que falava sobre ?Av. Brasil NUNCA
MAIS!'. Depois de um tempo na Brasil não consegui achar a entrada do Túnel
Rebolças, afinal ele já tinha ficado pra trás havia muito tempo... Encostei em um
motoboy e perguntei quanto ele queria pra me levar até a Gávea, negociamos o
quando eu achasse que fosse justo e pronto...
Nunca imaginei em fazer rally com uma custom, muito menos no meio da cidade...
Mas até que foi bem divertido saltar dois meio-fio e atravessar a Brasil por cima de
uma passarela de pedestres... Entro na reserva no meio da aula prática de ?como
ser motoboy no Rio de Janeiro'. Paramos, eu e meu instrutor, num posto, abasteci
as duas motos e seguimos até a Gávea. Ainda bem que era um motoboy, pois ele
tinha o nome de todas as ruas da cidade na cabeça. Me deixou em frente ao
condomínio que eu queria, além da gasolina lhe dei mais R$ 10,00. Ele agradeceu
mais do que qualquer outra coisa, pois disse que não havia conseguido gorjeta
alguma durante o dia.
Finalmente banho quente, comida excelente e cama melhor ainda. Aproveitei para
ligar o notebook pra ver se ainda funcionava depois de saltar as calçadas, e
mandar um email de S.O.S pra lista Virago, fazer contato com os ?Águias
Perdidos', que já estavam embreagados numa reunião com o pessoal do MC de
Angra.
3o Dia: 17 de Janeiro de 2003 ? Sexta-Feira
Saída: Não saí... fiquei no Rio mesmo
Chegada: Fiquei parado.
Kilometros Rodados: Aproximadamente uns 30 km
Acordo cedo, leio meus email e vejo: ?Leve sua moto pra DISTAC em Laranjeiras',
até agora sou grato a quem me respondeu as mensagens, e tambem pelo
questionamento de por que não fui para o encontro semanal do Clube Virago no
Rio. Mas acho que eles entenderam que eu estava em ?LOW BATTERY'...
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Pego informações de como chegar em Laranjeiras... achei fácil... afinal era só sair
do túnel no meio do caminho e descer uma única rua que tinha à direita. Pouco
depois estaria em Laranjeiras... e foi isso mesmo. Já tinha marcado com o
Fernando da DISTAC para ele dar uma olhada na moto, logo de manhã mesmo,
assim, às 17:00hs a moto estava pronta. Me disseram que era apenas limpeza no
carburador, e que o resto estava legal... Engraçado foi que me informaram que o
diafragma da XV535 dá problema mesmo e que a peça é cara, uns 380 ?dinheirus'
como diz o Beto Atobá. Engraçado foi a observação que o Fernando colocou na
ordem de serviço: ?Diafragma já colado'.
Aproveitei o resto do dia pra descansar, colocar o diário de bordo em dia, fechar
umas planilhas de consumo e velocidade média e estudar como iria sair do Rio pra
Angra dos Reis. Onde os ?Águias Perdidos' estavam me esperando no máximo até
Domingo.
4o Dia: 18 de Janeiro de 2003 ? Sábado
Saída: Rio de Janeiro (12:20hs)
Chegada: Angra dos Reis (14:45hs)
Kilometros Rodados: 168 km
Acordo na casa dos meus tios por volta das 10:00hs da manhã, tomo café e sigo
para Angra. Passo pela Av. das Américas, Recreio, paro, abasteço a moto, entro
novamente na Av. Brasil. Só não queria encontrar o motoboy de novo. Finalmente
entro na Rio-Santos.
Engarrafamento estúpido tudo parado. Sigo sobre a faixa do meio, até a hora em
que a pista abre e aparece um retorno... Bom não entendi muito bem mas eu caí no
chão... Olho pra trás pra entender como caí e vejo um Palio, tentando cortar pela
pista do retorno entre eu e o carro de trás... Eu sempre fui um cara paciente... muito
por sinal... mas na hora não aguentei. Dei três passos em direção ao carro e virei
um chute ?ninja', até lembrei minha época que praticava Rap-Ki-Do, bem na frente
do Palio. Adoro minha bota... quebrou a lanterna e amassou o paralamas do cara.
Imediatamente saiu um pitbull imenso... porra, olhei de novo saiu o motorista e o
carona... mais dois pitbulls... ?Pronto agora eu vou engolir todos os dentes', pensei.
Não sei de onde, mas apareceram dois policiais, ?Ufa!'... os policiais começaram a
reclamar com o cara, pegaram um bloco de ocorrência e eu fui ver minha moto...
Bom aba do pisca esquerdo, esta pulou fora... Amassou a aba do farol principal... A
bolha desta vez partiu em 3. O mata-cachorro entortou de volta até quase o
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cambio. O guidon... putz esse foi foda, entortou um monte, mas dava para seguir.
Em mim nada... aparentemente, mas a calça ralou no joelho, o colete nas costas e
um pouco a luva. Bom o joelho começa a doer e eu sigo assim mesmo...
Chego em Angra umas 14:45 encontro Beto à minha espera numa curva na praia,
vou me instalar na pousada. Finalmente encontrei os ?Águias Perdidos'. Volto para
praia, como alguma coisa e fomos nos arrumar para um encontro com os
motoclubes locais. Gente boa o pessoal... o resto da noite foi jantar, bate-papo num
barzinho massa e depois seguimos para uma cidade próxima, que não sei o nome,
para um inferninho onde estava rolando um forró. Saímos de lá umas 3:30hs e na
saída rolou uma abordagem padrão da polícia carioca. Acabo a noite... cansado
mais do que qualquer outro dia, e ainda tendo que ouvir a resenha de Ítalo até
umas 4:30hs da manhã.
5o Dia: 19 de Janeiro de 2003 ? Domingo
Saída: Angra dos Reis (8:20hs)
Chegada: São Sebastião (16:30hs)
Kilometros Rodados: 260 km
Beto dá o toque de alvorada às 7:15hs da manhã... miserável, levantei tonto ainda.
Tomei banho e fui arrumar a moto. A bolsa traseira havia perdido as duas tachas
superiores que prendiam a mesma ao sissybar traseiro. Logo tive que remover o
extensor do sissybar pois senão perderia a bolsa traseira no meio do caminho.
Tomamos café e partimos.
A idéia original era pernoitar em Caraguatatuba, no entanto a cidade era bastante
feia e não agradou muito ao grupo, seguimos até São Sebastião onde nos
acomodamos muito bem numa pequena pousada. Saímos para conhecer a cidade,
Beto e Ítalo fizeram cada um uma tatuagem no braço com a imagem de uma águia.
A de Beto foi light, mas a de Ítalo, por possuir contornos e cores foi mais dolorida...
Nunca vi um velho chorar tanto.
A noite foi interessante, teve um show do RPM que não vimos porque estávamos
muito cansados e fomos dormir por volta das 23:45hs.
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6o Dia: 20 de Janeiro de 2003 ? Segunda-Feira
Saída: Não saí... ficamos em São Sebastião mesmo
Chegada: Fiquei parado.
Kilometros Rodados: Aproximadamente uns 30 km
De manhã, almoçamos, Ítalo trocou o óleo da moto e voltamos para a pousada pois
o mesmo estava com uma pequena infecção intestinal. À noite fui com Beto para a
Rua da Praia onde comemos um sandwich e esperamos pelo show do Cidade
Negra, que não começou antes das 00:30hs por isso voltamos para o hotel para
dormir, pois partiríamos cedo no dia seguinte.
7o Dia: 21 de Janeiro de 2003 ? Terça-Feira
Saída: São Sebastião (7:10hs)
Chegada: Curitiba (17:45hs)
Kilometros Rodados: 530 km
Saímos de manhã com destino a Curitiba. Seguimos pela Rio-Santos até Guarujá,
onde abastecemos e pegamos a balsa para Santos. Em Santos, nenhum guarda,
ou centro de informações sabia nos informar como pegar o acesso à Régis
Bittencourt ? BR 116. Seguimos com destino a Itanhaém, onde pegamos um
acesso a BR 116. Ao chegar na BR 116 pegamos uma chuva torrencial, paramos
em um posto, abastecemos e almoçamos. A chuva não parou, seguimos pela BR
116, onde a chuva piorava e melhorava constantemente, até que meu pneu chegou
na lona... quase acontece um acidente quando a moto literalmente perdeu
aderência com o asfalto e balançava o fundo de um lado para outro na frente de
uma carreta, até que consegui estabilizar depois de uns 50 metros de sufoco.
Assim seguimos com uma velocidade máxima de 80 km/h até chegarmos à um
hotel na beira da estrada a 12 km de Curitiba, onde o frio congelava todo mundo.
Decidimos parar ali mesmo. Para nos aquecer, tomamos uns goles de whisky e
para nossa surpresa encontramos um excelente hotel que possuía uma
churrascaria conjugada.
Depois do jantar, fizemos contato com o Pegada Seca Moto Amigos de Curitiba,
que nos atendeu muito bem. Eles se deslocaram até o nosso hotel para nos
conhecermos e conversarmos sobre o dia seguinte quando iríamos trocar o pneu
da minha Virago.
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8o Dia: 22 de Janeiro de 2003 ? Quarta-Feira
Saída: São Não saí... ficamos em Curitiba mesmo
Chegada: Fiquei parado
Kilometros Rodados: Aproximadamente uns 60 km
Acordamos cedo e esperamos pelos amigos do Pegada Seca que nos levaram até
a Rua Pedro Negrão, onde tinham várias lojas de moto em geral. Não achamos o
pneu em loja alguma, seguimos para uma concessionária YAMAHA onde tambem
não encontramos nada em relação ao pneu da XV535. Em uma concessionária
SUZUKI achamos um pneu 150/90-15 (o da XV535 é 140/90-15) e o 170/80-15
para a Marauder de Ítalo, que também decidiu trocar o pneu.
O Lobinho e o Cláudio do Pegada Seca levaram os nossos pneus para a sede
deles onde seria pendurado na parede após um dedicatória minha... Todos ficaram
estarrecidos com o estado do pneu, principalmente por ser um pneu original e a
moto apresentava apenas 12.700 km rodados.
De noite fomos até o encontro semanal do Pegada Seca, que acontece no bar do
Cláudio. Tinham vários outros colegas do Pegada Seca e tambem de outros
motoclubes, alguns de moto outros de triciclo. Conhecemos várias figuras, figuras
como o Polenta e seu triciclo cheio de ossos amarrados, o Ademir presidente do
Pegada Seca e outros amigos tambem. Voltamos para o hotel por volta das
23:45hs para descansarmos para um passeio no dia seguinte.
9o Dia: 23 de Janeiro de 2003 ? Quinta-Feira
Saída: Não saí... ficamos em Curitiba mesmo
Chegada: Fiquei parado
Kilometros Rodados: nada
Acordamos bem cedo e fomos fazer um passeio de trem de Curitiba a Morretes,
onde almoçamos e retornamos para Curitiba através da Serra da Graciosa. Muita
chuva, ainda bem que não tínhamos ido de moto, e sim de van. A pista era muito
escorregadia e era de paralelepípedos. O passeio foi bastante interessante, ainda
mais pelo fato de que na van so tinham velhas de 60 anos pra cima... Beto e Ítalo
se sentiram em casa. No final da tarde arrumamos a moto para o dia seguinte e
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jantamos na churrascaria do hotel.
10o Dia: 24 de Janeiro de 2003 ? Sexta-Feira
Saída: Curitiba (7:00hs)
Chegada: Florianópolis (16:20hs)
Kilometros Rodados: 480 km
Saímos de Curitiba bem cedo, por volta das 7:00hs da manhã com destino a Santa
Catarina. Após abastecermos no posto de gasolina, que ficava em frente ao hotel,
seguimos voltando pelo BR 101 para pegarmos o trevo que dá acesso ao anel
rodoviário de Curitiba. Após alguns kilometros chegamos à divisa PR/SC, parada
para fotos e seguimos adiante. Chegamos a Joinville por volta das 9:15,
passeamos pelo centro da cidade, comemos algumas bobagens, abastecemos e
seguimos com destino a Blumenau.
Chegamos em Blumenau em torno de 13:00hs, passeamos pela cidade,
almoçamos, abastecemos e seguimos com destino a Florianópolis. No caminho,
paramos em Camboriú, Beto comprou uma calça de couro e seguimos finalmente
para Florianópolis, onde chegamos às 16:20.
11o Dia: 25 de Janeiro de 2003 ? Sábado
Saída: Não saí... ficamos em Florianópolis mesmo
Chegada: Fiquei parado
Kilometros Rodados: Aproximadamente 75 km
Acordamos sem hora marcada e saímos para passear pela cidade, fotos na ponte
Hercílio Luz, passeio no Shopping Beira Mar para enviar Sedex. Almoço na beira
da Lagoa da Conceição, praia da Joaquina, fotos nos mirantes da SC 404 e da rua
que da acesso à praia Mole.
Decidimos dormir cedo pois o grupo ficou com ?banzo' (doença psicológica que
atingia os negros quando estes eram trazidos da África para as colônias como
escravos) e resolveu voltar para Salvador imediatamente. Antes de dormir
arrumamos as motos para ganhar tempo no dia seguinte.
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12o Dia: 26 de Janeiro de 2003 ? Domingo
Saída: Florianópolis (3:45hs)
Chegada: São Sebastião (18:15hs)
Kilometros Rodados: 840 km
Acordamos as 3:00hs da manhã, e saímos com destino a ?até onde der' por volta
das 3:45hs. Pegamos a SC 404 com as motos carregadas, deu um pouco de
trabalho mas foi legal, atravessamos a ponte e viva as estradas dos sul... o suporte
lateral para placa da Marauder de Ítalo partiu, a placa foi amarrada embaixo do
alforje...
Com 30 km rodados começa uma chuva fina... a chuva fina engrossou e virou
temporal... velocidade de 60 km/h... na dava para parar... e ninguém queria parar,
até na alma tinha água... comecei a odiar o verão sulista. O dia amanhece e a
chuva continua... abastecimentos já não me lembrou mais aonde, pois fiquei tão
puto que não anotei mais nada.
Atravessamos a fronteira PR/SC e ai comecei a pedir pra não nascido... pior frio de
minha vida... pior do que a chegada à Curitiba. Ô serra desgraçada... teve uma
hora que não aguentávamos mais... 17° C, mas a sensação térmica acredito que
estava nos 10° C... paramos para tomar um café, ou qualquer coisa que
esquentasse.
Seguimos viagem debaixo de chuva... atingimos a divisa PR/SP... ainda chovia
muito... seguimos pela SP 55 até São Sebastião, em uma fatídica curva da
Rio/Santos não consegui fazer a curva e passei reto. Final de semana, pista de
volta para São Paulo cheia de carros, não sei como na hora não vinha carro algum,
apenas uma XLR que conseguiu freiar e evitou uma colisão... controlo a moto no
acostamento da contramão, olho para Beto e Ítalo e os dois estão brancos e
suando frio, pensando que eu havia partido dessa para melhor...
Chegamos em São Sebastião por volta das 18:15hs, paramos almoçamos e
jantamos e seguimos para a pousada, banho quente para descongelar, colocamos
as roupas para secar e todos apagaram antes das 21:00hs.
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13o Dia: 27 de Janeiro de 2003 ? Segunda-Feira
Saída: São Sebastião (7:15hs)
Chegada: Campos dos Goitacazes (22:15hs)
Kilometros Rodados: 645 km
Acordamos por volta das 5:45hs, tempo ainda feio, roupas ainda molhadas... que
sensação horrível... vestir uma roupa de couro molhada e gelada, mas tem que ser
assim. As bagagens tinham dormido nas motos mesmo, então seguimos às 7:15hs
com destino a ?até onde der'... finalmente não estava chovendo mais.
Paradas rápidas, lanches rápidos, decidimos ir até Campos. Entramos no Rio da
Janeiro, decidimos ir pela Barra, pois ouvimos no noticiário que a Av. Brasil tinha
uns 30 cm de água... não sei como, mas tudo bem, vamos pela Barra. A rua que
ligava Santa Cruz ao Recreio (acho que era isso) estava interrompida,
provavelmente alguma queda de barreira... seguimos por Grumari, Recreio, Prainha
a chegamos na Barra... perdemos uns 35 minutos, pois no meio do caminho o
retrovisor direito de Ítalo não suportou a trepidação e teve que ser removido.
Da Barra seguimos pela costa até a ponte Rio-Niterói, claro que erramos a subida
para o viaduto que eu acho que é a Perimetral, fomos por baixo dele até
conseguirmos subir a ponte... belo visual na Rio-Niterói... e um grande alívio em
estar seguindo viagem sem chuva.
De repente não sei bem aonde, mas estávamos a uns 260 km de Campos,
anoiteceu... tomei a dianteira, pois Ítalo e Beto não enxergam bem de noite... fomos
com uma velocidade máxima de 90 km/h... 22:15hs chegamos a Campos... nos
instalamos, pedimos pizza e descemos para tomar umas cervejas. Dormimos por
volta das 1:00hs da manhã.
14o Dia: 28 de Janeiro de 2003 ? Terça-Feira
Saída: Campos dos Goitacazes (8:15hs)
Chegada: Camacã (19:15hs)
Kilometros Rodados: 950 km
Acordamos 7:15hs, tomamos café, as motos já estavam com as bagagens
arrumadas, pois não tiramos no dia anterior, abastecemos e pegamos a estrada às
8:15hs. Pouco tempo depois já estávamos no Espírito Santo. Ótimas estradas
capixabas... 110, 120, 130 km/h... atravessamos o Espírito Santo que nem
percebemos... não fazia sol, porem não chovia, tempo nublado, com pequenas
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pancadas de chuva esparsas e de baixa intensidade, nem deu pra molhar a cueca.
Chegamos à Bahia... que sensação boa... passamos Teixeira de Freitas...
chegamos a Eunápolis, e pensamos em dormir em Porto Seguro, porem ainda
eram 15:30hs e o dia estava rendendo uma boa quilometragem, seguimos à
diante... Paramos em um posto de gasolina as 19:15, começava a escurecer, já não
aguentávamos mais, cãibra nas pernas, os dedos duros... vimos uma pousada no
próprio posto e ali mesmo ficamos. Jantamos numa churrascaria, também do posto
e dormimos com as motos arrumadas.
15o Dia: 29 de Janeiro de 2003 ? Quarta-Feira
Saída: Camacã (3:15hs)
Chegada: Lauro de Freitas (10:55hs)
Kilometros Rodados: 515 km
Acordamos as 2:40 da madrugada, às 3:15 já estávamos na estrada, velocidade
baixa, 70 km/h pois as estradas baianas não ajudam muito... amanheceu e
chegamos a Gandú (300 km de Salvador). Tomamos café da manhã, abastecemos
e seguimos... De Gandú para Salvador a estrada está em boas condições, 110, 120
km/h... 9:45hs da manhã atingimos a BR 324... que sensação maravilhosa... ?estou
em casa'. Mais 70 km e chega a hora de separar os Águias novamente... Ítalo
segue para Salvador com sua Marauder, e Beto segue comigo pelo CIA em direção
a Lauro de Freitas.
Eram 10:55hs quando paro a moto na porta de minha casa. Pânico, medo,
apreensão, conformidade, alegria, muita alegria... Felicidade e satisfação. Tudo
isso foi o que senti em 15 dias de viagem. As dores pararam... uma sensação boa
tomou conta do corpo... A única frase que podia falar naquela hora era: ?Consegui,
fui e voltei'."
Fotos da viagem aqui.

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