- Sinduscon-ES

Transcrição

- Sinduscon-ES
Aprendendo com os Grandes
Incêndios




Negrisolo, Walter
Bombeiro (RR).
Dr. pela FAU/USP.
Membro do GSI – Grupo de Fomento à
Segurança Contra Incêndio (NUTAU – USP).
15/07/2016
1
Na História: Vitruvio- Segurança
Contra Incêndio




Tratado de Arquitetura (2000 anos).
Livro 2 – (materiais) Cap. I- Da descoberta do fogo à
socialização (antropologia).
Cap. 9 – Madeira – Da importância do “larício”
(conhecimento da resistência ao fogo desse material)
para se controlar incêndios.
A importância de se conter a propagação vertical (para
cima). (Aplicar nas “cimalhas”).
Larício

Tipo de “pinus” resinoso
Cimalha
Incêndios em cidades



Incêndio de Roma (64)
“Criação dos Vigili del
Fuoco”.
Cuidar dos fogos –
iluminação, cocção.
Incêndio em cidades





Londres (maior em 1666); Já
em 1189.
URBANISMO – Ruas
estreitas.
ARQUITETURA
Chaminés construídas em
alvenaria.
Paredes de divisa em
alvenaria.
Incêndios em cidades


(Roma – Londres – Chicago, etc.).
Não mais ocorrerão, em função da “urbanização
do automóvel”. Deflagração de hoje ocorre em
grandes edificações (Ed. Elevados; Aeroportos;
Centros de Compras; Centros de Exposições;
Ocupações Desordenadas, etc.).
Barcelona – Plano Urbanístico
Barcelona – Foto Aérea
Tempos modernos – surge com a
proteção ao patrimônio (EEUUA)




1º “Manual” 1896, anterior à National Fire Protection
Association – NFPA (1898).
Origem: as Cias Seguradoras. Objetivo: facilitar
inspeções (patrimônio).
Possuía 183 pg. 86 sobre hidráulica (spk 39) –
Engenharia.
Filosofia: fazer segurança contra incêndio consistia em
controlar ou extingui-lo (o particular ou o poder
público).
Tecnologia impactando o ambiente
construído.


O surgimento do elevador
seguro (Otis – 1852) e
elétrico (Siemens 1880)
possibilita projetar e
construir prédios elevados.
Não se percebeu como a
mudança tecnológica
impactaria a segurança contra
incêndio.
Edifício elevados – Chicago (1885) –
S. Paulo (1929)
Os “fatos” nos EEUU- Incêndios




Teatro Iroquois 30/02/1903 – 1600 – vitimou
600 (plateia). – Chicago.
Opera Rhoads – 13/01/1908 - Pensilvânia – 170
vítimas.
Escola Elementar Collinwood – Lake View
04/03/1908 – 172 crianças e 2 professores.
Triangle Shirtwaist Factory – 25/03/1911 –
NY – 146 pessoas.
15/07/2016
13
Triangle Shirtwaist
Inicia-se a preocupação com a
“VIDA”



A NFPA amplia sua missão para a proteção “à
vida” e não somente ao patrimônio.
Cria-se o Comitê de Segurança da Vida (origem
do NFPA 101 – Life Safety Code).
5º edição do Manual de Proteção Contra
Incêndios da NFPA, em 1914, começa a tratar
do tema escadas, saídas, exercícios de abandono.
Tecnologia e Arquitetura adicionando mais
risco à altura: a fachada de vidro Edifício
Gustavo Capanema -1938 - RJ)
Os incêndios do Brasil






1961 Gran Circo Norte Americano – Niterói – 500 vítimas fatais
(v.f.).
1963 - Astória - Rio de Janeiro – 4 v.f.
Nos anos 70 surgem os primeiros cursos de segurança contra
incêndio, no exterior, sob o enfoque da engenharia. Área é
inicialmente denominada Engenharia de Segurança Contra
Incêndio. Hoje já se fala em Ciência da Segurança Contra
Incêndio (Fire Safety Science).
1972 – Andraus – 16 v.f e 336 feridos.
1974 – Joelma – 179 v.f.
2013 - Kiss – 241 – v.f.
Niterói - 1961: Gran Circo – 500 v.f.
RJ - 1963: Edifício Astória – 4 mortos
Andraus - 1972
(Fachada de Vidro)
20
Andraus
(Fachada de Vidro)
21
Dados do Incêndio do Andraus





Aproximadamente 1000 ocupantes.
Piso de 1104 m² (48 X 23 m).
Escada com largura de 1 metro, em caracol.
Fachada (toda tomada pelo fogo) com 100 m de
altura.
16 vítimas fatais.
Andraus – corte-ocupação
Andraus– pavimento tipo
Calor Radiante.Salvamento.
Revista Veja

Edição 182 de 1º de março de 1972 –
página 14. Titulo da reportagem:

“A cidade venceu o fogo!”
Joelma
27
Joelma
Joelma
29
Joelma - Fachada e áreas
frias
30
Joelma




756 pessoas no prédio, 601 nos andares envolvidos
pelo incêndio (14 andares).
422 sobreviventes, dos quais aproximadamente 300
escaparam pelos elevadores.
Fatais: 179 - 90 na cobertura (81 sobreviveram), 49 em
diferentes locais e 40 saltaram.
A SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO NO
BRASIL “NASCE” APÓS O INCÊNDIO DO
JOELMA (SEMINÁRIO FEDERAL EM 1974).
40 vítimas se projetaram do
edifício
Joelma - tipo
Incêndio em Local de Reunião de
Público (EEUU – por facilidade de
acesso a dados)




COCOANUT GROVE– Boston-Clube
Noturno, 1942. 492 vítimas fatais.
OUR LADY OF ANGELS SCHOOL – 1958 –
Chicago - 92 alunos e 3 freiras.
BEVERLY HILLS SUPPER CLUBSouthgate, Kentuck - Clube Noturno – 1977 164 vítimas fatais.
THE STATION – Rhode Island- 2003- 100
vítimas fatais.
Local de Reunião de Público

10 anos antes da Kiss, The Station – danceteria
Rhode Island EEUU).

TSE Station – antes.

The Station – o evento.
Em todos esses incêndios
ocorreram basicamente
Ausência de alguém responsável pelo sistema de gestão de
emergências, ou seja, os planos, treinamentos, manutenção de
equipamentos, ações de prevenção, etc.
2.
Problemas graves com a circulação/escape, por:
 obstrução, (sentido de abertura das portas, obstáculos, etc.);
 Subdimensionamento dos elementos de circulação e/ou
saída.
3. Destaque: na The Station os elementos de circulação
(escape/saídas) existiam e estavam dimensionados de acordo
com a HFPA-101 – Life Safety Code.
Outros incêndios ocorreram por perto, logo após a The Station e
antes da Kiss.
1.
Incêndio–Ycuá Bolaños
464 mortos
409 feridos
Incêndio–Ycuá Bolaños




Agosto/2004
Supermercado Ycuá
Bolanos (Paraguai).
Saídas de emergências
trancadas para evitar
saída de produtos sem
pagamento.
Falta de controle de
materiais de
construção e
acabamento.
Incêndio - República Cromagnon
193 mortos
700 feridos
Incêndio - República Cromagnon





31/12/2004
Discoteca Republica
Cromagnon (Buenos
Aires).
Vítimas: jovens.
Saídas de emergência
trancadas para evitar
“penetras”.
Falta de controle de
entrada de material
perigoso
Antes de falarmos do último incêndio, o da
Kiss, vamos aos números do Brasil



Número de vítimas (fogo, calor e fumaça) é baixo. 1000 vítimas
fatais por ano (aproximadamente 0,5/100 000 habitantes por
ano), semelhante aos dos países com menor índice.
Isso permite nos preocuparmos principalmente com os locais
com maior possibilidade de vítimas, pela fragilidade do ocupante:
idosos, crianças, pessoas com perda de consciência (hotéis,
hospitais, etc.), presença de muitas pessoas simultaneamente
(locais de reunião de público).
CONCENTRA-SE EM EVITAR PERDA DE VIDAS,
ESPECIALMENTE NESSES LOCAIS, E PRESERVAR O
BEM IMATERIAL (OBRAS DE ARTE, EQUIPAMENTOS
HISTÓRICOS) PELOS NÚMEROS, É A MAIOR E DEVE
SER A VERDADEIRA FUNÇÃO DO PODER PÚBLICO!
KISS: capa da revista “ÉPOCA”
Kiss - dimensões
Lotação de projeto (densidade
indicada pela NBR 9077)
Lotação citada nos autos do IP
Saídas da Kiss (em conformidade
com a NBR 9077)
Kiss - consequências
Arquitetura e a Kiss



Na Kiss não havia um responsável pela
segurança contra incêndio e havia saída
obstruída.
As larguras da saídas estavam dimensionadas
segundo NBR 9077/01. Era uma lotação a ser
respeitada ou uma indicação desatualizada ou
equivocada da Norma?
Arquitetura - Funcionalidades ausentes que
afetaram: ausência de absorção acústica(“causa
raiz”?), ausência de área para fumantes.
As pessoas tomam consciência dos riscos a que se expõe?
O acesso às informações ajuda a prevenir?
2008 - Os ensinamentos
que podemos adquirir (pg 28)
Os incêndios acima citados (Ycuá Bolaños e Cromagnon, 2004) foram escolhidos....
........... por haverem atingido locais de reunião de público, onde a possibilidade de
ocorrerem vítimas pode ser potencialmente elevada.
Foram aqui inseridos para nos questionar se que tragédias semelhantes poderiam
ocorrer em nosso País, se analisamos e aproveitamos os ensinamentos dessas
tragédias...
......... em locais de reunião de público ainda não temos um controle efetivo das
lotações, não fornecemos adequada informação a seus frequentadores, para que
eles possam sair em segurança e denunciar abusos, nem cuidamos adequadamente
dos materiais de acabamento. (FALTA DE CONSCIÊNCIA)
Esses incêndios apontam para uma medida de proteção contra incêndio essencial para
essa ocupação, que falhou em ambos: o gerenciamento.
A grande lacuna a ser preenchida, pagina
33, final do mesmo artigo:
Nos dois exemplos citados, os meios de escape existiam e
estavam aparentemente bem dimensionados. Não foram
utilizados em sua plenitude por ter sido fechados ou estarem
obstruídos.
E, finalmente, outro destaque que entendemos essencial deixar
registrado, diz respeito à ausência de dados e ensinamentos
retirados de nossos incêndios, os ocorridos no Brasil.
Parca é a informação disponibilizada ao público, pelos corpos de
bombeiros em especial, sobre as causas deste ou daquele
incêndio, com ou sem vítima, os mecanismos de propagação, etc.
Essas experiências, que ocorrem diariamente, infelizmente ainda
se perdem pela ausência de sistemática investigação e divulgação.
Incêndio da boate Kiss




Nenhuma pesquisa científica, que buscasse entender:
o comportamento humano;
os fluxos das pessoas no interior do estabelecimento;
o desenvolvimento da queima e porque não ocorreu a
inflamação generalizada, o chamado “flashover”;
Os tempos de reação das diversas pessoas, em função de:





gênero;
idade;
conhecimento anterior sobre o estabelecimento;
Ingestão ou não de bebida alcoólica, etc.
Síntese: pagou-se um preço elevadíssimo em vidas e não
coletamos todas as informações para que isso não volte a
ocorrer.
Propostas Legislativo Federal
(Lei 2020)




§ 1° As normas especiais previstas no caput deste artigo
abrangem estabelecimentos, edificações de comércio e serviços e
áreas de reunião de público, cobertos ou descobertos, cercados
ou não, com ocupação simultânea potencial igual ou superior a
100 (cem) pessoas.
I - o estabelecido na legislação estadual sobre prevenção e
combate a incêndio e a desastres e nas normas especiais editadas
na forma do art. 2° desta Lei.
II - as condições de acesso para operações de socorro e
evacuação de vítimas.
III - a prioridade para uso de materiais de construção com baixa
inflamabilidade e de sistemas preventivos de aspersão automática
de combate a incêndio (???).
Proposta de Código Nacional
(Locais de Reunião de Público)
I - as vias de acesso para veículos de socorro e emergência;
II - a sinalização;
III - os extintores de incêndio;
IV - a iluminação de emergência;
V - as saídas de emergência;
VI - os detectores de calor e de fumaça;
VII - os alarmes de incêndio;
VIII - o sistema de hidrantes;
IX - os chuveiros automáticos do tipo sprinkler;
X - o sistema de exaustão de fumaça;
XI - o controle de lotação;
XII - o controle dos materiais de acabamento, de revestimento e termoacústicos;
XIII - o plano de controle de emergência;
XIV - a equipe de brigadistas, organizada de acordo com a legislação estadual ou distrital aplicável.
Síntese para o momento atual






Uma das proposta não fala sequer em priorizar a circulação
(saídas). As “prioridades” são outras;
Outra exige “tudo”, mas fala somente em “plano” e “brigadistas
profissionais” (bombeiros civis).
Se realmente um clube noturno, para funcionar em segurança,
necessita de TUDO, não seria mais conveniente proibir sua
existência (rsrsrs)? Onde vai se divertir o pessoal de menor poder
aquisitivo? Só nos “pancadões?
CLARAMENTE, NENHUMA FALA EM “GESTOR” E
“GESTÃO DO SISTEMA E DA EMERGÊNCIA”.
A TRAGÉDIA ESTÁ SENDO “USADA”?
APRENDEMOS.........A APRENDER......?????
Obrigado pela atenção!
[email protected]

Documentos relacionados