edição especial para colecionadores

Transcrição

edição especial para colecionadores
Candanga
edição especial para colecionadores
Academia Ceilandense de Letras & Artes Populares
1
Prefácio
Copyright 2013 Aclap
Editor
Manoel Jevan
Digitação e Revisão
Coletivo de autores
Xilogravuras
Marcílio Tabosa
Editoração
Osmi Vieira
www.oclubedosom.com.br
Pedidos de Publicação Avulsa:
Art Letras Gráfica e Editora Ltda. - 3376-1463
Catalogação Bibliográfica:
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
C694col
Coletânea Candanga: Academia Ceilandense de Letras
& Artes Populares/Manoel Jevan, organizador - Brasília :
Arte Letras, 2008.
200p.
“Coletânea para Criação da Academia de Ceilândia-DF”
1. Literatura, Brasil. 2. Literatura, Distrito Federal
3. Poesia brasileira. I. Jevan, Manoel, organizador
II. Título. II.
CDU 82-1
Catalogação na fonte elaborada pela bibliotecária
Maria das Graças de Lima - CRB-1 / 608
ISBN nº 978-85-61326-02-9
Fotos extraídas dos títulos supracitados. Todos os direitos reservados aos autores coletaneados.
Prefácio
ACADEMIA CEILANDENSE DE LETRAS, Um Sonho!
Percília Júlia Toledo
Desde os meus oito anos, remontando às altas montanhas lá da
minha infância no interior das Minas Gerais, que eu já escrevia minhas
estorinhas de criança (a primeira, inclusive, foi sobre uma formiguinha
que um dia eu vi tropegando de cansaço pelo grande peso da folha que
seu corpinho não conseguia carregar, mas que não desistia nunca de
tentar); e assim eu também esperava um dia ser uma escritora muito
conhecida e admirada por todos. Pois bem, o tempo passou e só agora,
na chamada “terceira idade”, foi que vim a publicar o primeiro da meia
dúzia de livros que hoje tenho editados. Até que os livros vieram, muitas
pessoas passaram a me admirar por isso, mas o dito (re)conhecimento
ainda é muito pouco. Tanto é assim que a gente pode verificar aqui
na nossa academia como em qualquer outro lugar que são os próprios
autores que pagaram para ver publicadas as suas obras, porque ninguém
consegue chegar nos tais financiamentos públicos.
Talvez até mesmo por essa dificuldade de “viver das letras”
foi que comecei a procurar outros escritores (inicialmente só aqui da
paróquia do ‘P’ Norte), até que apareceu na minha vida dois professores
que marcaram a minha história: o Ronaldo Mousinho da Academia
Taguatinguense de Letras e o Manoel Jevan da Casa da Memória Viva.
Juntando esses dois com o nosso jornalista João Batista e mais
a minha nada pequena “família de artistas” pude finalmente sonhar
de olhos abertos e anunciar para todos o meu antigo projeto de uma
“Academia de Letras para a Ceilândia”; e aí foi que eu vim perceber
que, aquilo que no início era só meu, começou a tornar-se um desejo de
muitos; e hoje eu vejo que o que era apenas um sonho no longínquo ano
de 2005, tornou-se uma realização coletiva desses 35 autores talentosos
e corajosos.
Por fim, investida na presidência dessa querida instituição, eu só
posso mesmo é pedir a Deus que abençoe cada um de nós com o seu
livro publicado e toda a nossa academia com esse feliz sonho realizado:
nossa missão está cumprida!
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SUMÁRIO
Prefácio
Academia Ceilandense de Letras: um sonho!........................................08
Apresentação
Fundação da Academia de Ceilândia: sessão solene...............................14
I - Patrono Popular & Libertário ..........................................................17
Francisco Morojó: Poeta Pezão..............................................................18
II. - Acadêmicos Fundadores & Imortais.............................................21
Percília Júlia Toledo................................................................................22
Donzílio Luiz de Oliveira......................................................................26
III - Membros Efetivos & Locais..........................................................31
Adauto de Souza ....................................................................................32
Adelaide de Paula ...................................................................................34
André Rocha...........................................................................................36
Antonio Soares.......................................................................................38
Assis Coelho...........................................................................................40
Chico Ivo ...............................................................................................42
Clinaura Macêdo ....................................................................................44
Conceição Tavares..................................................................................46
Dukaldas .................................................................................................48
Ezequiel Dias Cruz ............................................................................... 50
Gil d’La Rosa ..........................................................................................52
Israel Ângelo...........................................................................................54
João Batista ............................................................................................56
Joaquim Bezerra da Nóbrega ................................................................58
José Antonio...........................................................................................60
Léo Maravilha .........................................................................................62
Manoel Jevan ..........................................................................................64
Mano Lima..............................................................................................66
Marcílio Tabosa ......................................................................................68
Marcos Viana ..........................................................................................70
Mariana Lima..........................................................................................72
Messsias de Oliveira...............................................................................74
Nair Rosa ................................................................................................76
Neftaly Vieira..........................................................................................78
Nina Tolledo...........................................................................................80
Osvaldo Espínola ...................................................................................82
Rapper Japão...........................................................................................84
Ronaldo Mousinho.................................................................................86
Rosana Maria ..........................................................................................88
Sebastião Lima........................................................................................90
Sidiney Breguêdo....................................................................................92
Vaíston.....................................................................................................94
Valdinei Cordeiro....................................................................................96
Vanildes de Deus.....................................................................................98
Valter Farias..........................................................................................100
Vicente de Melo....................................................................................102
IV - Membros Correspondentes & Convidados................................107
Adalberto Adalbertos...........................................................................108
Adélia Coimbras...................................................................................110
Adilson Cordeiro Didi.........................................................................112
Amário Cassimiro ................................................................................114
Ana Paula ..............................................................................................116
Angélica Torres.....................................................................................118
Antonio Carlos Sampaio Machado .....................................................120
Antonio Garcia Muralha......................................................................122
Antonio Miranda..................................................................................124
Arlete Sylvia..........................................................................................126
Astrogildo Miag ...................................................................................128
Carlos Augusto Cacá ...........................................................................130
Chico Morbeck ....................................................................................132
Clodo Ferreira ......................................................................................134
Dinorá Couto ......................................................................................136
Élton Skartazini....................................................................................138
Emanuel Lima.......................................................................................140
Ênio Rudi Sturzbecher.........................................................................142
Gonçalo Ferreira...................................................................................144
Gustavo Dourado.................................................................................146
Ildefonso Sambaíba ..............................................................................148
Jerônimo de Caldas .............................................................................150
João Bosco Bezerra Bonfim ................................................................152
José Orlando Pereira da Silva...............................................................154
Lília Diniz .............................................................................................156
Márcio Cotrim .....................................................................................158
Margarida Drumond ............................................................................160
Meireluce Fernandes ............................................................................162
Menezes y Morais ................................................................................164
Nicolas Behr .........................................................................................166
Pedro Gomes ........................................................................................168
Popó Magalhães....................................................................................170
Sandra Fayad.........................................................................................172
Tetê Catalão ..........................................................................................174
Valnira Vaz ............................................................................................176
Xiko Mendes.........................................................................................178
Zé Luiz .................................................................................................180
V - Os Pioneiros das Letras Candangas .............................................183
Stella Rodopoulos: patronesse das letras candangas.............................184
Newton Rossi: teatro sesc ceilândia ....................................................186
Clemente Luz: o cronista dos candangos .............................................188
Carlos Drummond de Andrade: crônica das favelas brasileiras.........190
Niemeyer na Ceilândia: a ceilândia em cordel ....................................192
Gilberto Gil na Guariroba: a palmeira nativa do cerrado...................194
A UnB na Ceilândia: campus sociológico candango ............................196
Posfácio
ACLAP: uma sigla!...............................................................................198
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Apresentação
DISCURSO DE FUNDAÇÃO DA ACLAP
SESSÃO SOLENE DE 27 DE MARÇO DE 2006
Ronaldo Alves Mousinho
Vivemos, caros neo-acadêmicos, este momento de instigante
expectativa: somos a espécie mais evoluída do planeta, com todo
potencial de perfeição, mas temos agido com índole irracional,
abjeta; e este é o grande desafio que nos é posto: assumirmo-nos
conscientemente benevolentes, fraternos e justos; ou sermos partícipes
e insensíveis expectadores do cortejo egoísta para onde marcha nossa
atual sociedade consumista.
Senhoras e senhores componentes desta histórica sessão
solene, prezado público que prestigia este ato de expressivo conteúdo
cultural:
É com efusivo entusiasmo que saúdo ao professor e historiador
da cidade de Ceilândia – Manoel Jevan – e a seus colaboradores mais
próximos – os escritores Donzílio Luiz de Oliveira e Percília Júlia
Toledo – presentes neste ato de fundação da Academia Ceilandense de
Letras & Artes Populares, a “ACLAP”.
Vivemos um momento de grave crise nas relações humanas,
especialmente porque a política - que já foi a “suprema razão da existência
humana” (Aristóteles) - transformou-se em atividade perniciosa, que
nos arranca nossa porção divina, conduzida que é pela indignidade.
A fundação desta confraria propiciará o sadio exercício
intelectual para o nosso crescimento cultural e para o fortalecimento
de nossas relações sociais, forjando o bom caráter e o senso crítico. E,
se por um lado tentam-nos o engodo e a pequenez humana, por outro
chamam-nos à razão e nos seduzem a dignidade e a busca incessante da
verdade, valores das quais é irmã a arte.
O escritor e o artista em geral têm a responsabilidade de,
agindo com lucidez e humanismo, perseguirem a justiça, a verdade e
a felicidade, instrumentalizados no conhecimento e no saber, que são
fontes prósperas de libertação. E a “palavra”, senhores neo-acadêmicos,
assim como as demais vertentes artísticas, são as ferramentas que nos
libertam de toda e qualquer forma de prisão, sendo esta mesma palavra
- segundo Latino Coelho - “a mais bela e expressiva de todas as artes,
pois é a que fala ao mesmo tempo à fantasia e à razão, ao sentimento
e às paixões...” Só a palavra, mais comovedora e persuasiva do que o
plectro dos orfeus, encadeia à lira estas feras humanas e a um só tempo
desumanas, que se chamam homens.
14
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Capítulo I
Ao papa bento candango YURI PIERRE
NA PARADA CENTRAL
(depois de perder o último ônibus)
16
Ceilândia, você não me engana
te cruzo dia & noite sem muamba
choro a dor dos moribundos
morrendo na fila de teu hospital
rememorando teus trambiqueiros
traficantes mequetrefes de fundo-de-quintal.
Ceí, paradigma do mundo
toda quadra tem um artista (anônimo)
pense nos teus candangos
que nunca foram no plano... planejar
Teu (herói) não é Gregorinho
e sim teu povo morrendo
nos canteiros da construção CER-VIL.
Ceí, nunca te enrolei na Feira do Rolo
todo mundo fala que vai te limpar
tu sois um cristal de marfim lapidado
de poetas, cantadores & forrozeiros
a capital nordestina do Brazil
Tuas fábricas fantasmas
não fabricam mais boçais.
(O VOO DO PÁSSARO DE CHUMBO)
Patrono Popular
e
Libertário
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Memorial Poeta Pezão
O POETA E O ALFAIATE
NECROLÓGIO NO CEMITÉRIO
DE SÃO FRANCISCO MOROJÓ
José Carlos Vieira
F
RANCISCO ROBERTO DE LIMA
MOROJÓ - ou o popular “POETA
PEZÃO, Seu Criado” - nasceu dia 24 de
outubro de 1959 em Patos das Espinharas/
PB e morreu dia 07 de dezembro de 2003
indo para os Olhos D´Água de Alexânia no
entorno de Brasília. Foi o primeiro poeta da
Ceilândia e um dos pioneiros da “geração
mimeógrafo” da literatura candanga dos anos 70. Anarquista convicto,
se gabava em dizer que nunca teve e nem teria “patrão”, chegando
a trabalhar de costureiro com a sua mãe para “viver só da poesia”.
Como alfaiate, produzia suas próprias indumentárias, assim como das
personagens teatrais que montava e ensinava. Foi também fundador
e compositor e do “tailandense” Forró Paraibola - grupo responsável
pelo seu célebre “sarau fúnebre”. Polêmico e irreverente, o poeta partiu
desse mundo deixando amigos e inimigos, mas acima de tudo, a poesia.
Adeus ao Maiakoviski Candango
O Poeta Caboclo foi-se
Para além da liberdade
Levou o martelo e a foice
Montando o dorso da verdade
Apressado, ele esqueceu
De levar consigo a poesia
Deixou-nos o que escreveu
Ouro em versos e melodia
Conheci Francisco Morojó, o Pezão no final dos anos de 1970;
freqüentávamos o agitado bar do Kareka. Os dois, sem dinheiro no
bolso, unidos por uma mesa de bar. A corrida pela vida nos levou a
rumos diferentes. Já no início da década de 80, encontrei-o em Olhos
D’Água, onde os malucos beleza de Brasília se reuniam para trocar
roupas e sapatos usados por artesanatos locais. Pezão fazia parte do
Paraibola, “o Sex Pistols do forró candango”. Lançava seus primeiros
livros de poesia mimeografados. Um repentista urbano, destemido
como todo cangaceiro. Nos encontramos pela última vez em 2000 no
lançamento do meu livro. “Você é o príncipe da poesia - repetia para
todos os poetas - no que emendava: E eu sou o rei”.
Num final de semana de dezembro de 2003, Pezão pegou carona
com amigos para ir à Feira de Trocas dos Olhos D’Água. No meio
do caminho, duas garotas também pediam carona. Gentleman, saiu do
carro e deu lugar para as “princesas”. Retornou à estrada com o dedão
em pé. Os amigos e as meninas chegaram à cidade, mas o poeta não
chegou. O carro em que viajava capotou: só ele morreu. No enterro,
várias tribos reunidas, o forró comendo solto e as garrafas vazias de
vinho e de cachaça espalhadas no chão. As pessoas das outras capelas
não entendiam, todas embasbacadas, aos assistir o ritual daqueles anjos
da noite. De repente, na hora do enterro, um pula dentro da cova; em
desespero, pede para ser levado no lugar do amigo. Foi uma das mais
belas e verdadeiras homenagens a um poeta.
Parafraseando Itamar Assunção quando na morte de Paulo
Leminski - o músico enviou um fax ao poeta já morto - uso essa crônica
para homenageá-lo: “Pezão, aqui é o Zé Carlos, não fui ao enterro seu
porque você não irá ao meu”.
Poeta Caboclo (Gil d’La Rosa)
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Ao filho da iapi ÉDSON CASTRO
Capítulo II
PRETENSÃO
Não quero ser
o vigário de sua matriz
nem tão pouco
o operário de sua filial.
Quero ser apenas
uma banquinha de camelô
num ponto bem situado de sua alma,
onde eu possa vender
todos os sonhos...
(PARAÍSO DOS FRAGELADOS)
Acadêmicos Fundadores
e
Imortais
20
21
Coletânea
Percília Júlia Toledo
P
ERCÍLIA JÚLIA TOLEDO nasceu
dia 31 de agosto de 1939 em Tabajara,
município de Inhapim/MG. Pioneira do ‘P’
Norte, escritora romancista e evangelizadora
da Legião de Maria, é autora dos livros:
“Envolto em Sua Paz” (1988), “Jamais
Esquecerei” (1995), “Difícil Para Viver”
(1998), “O Céu Espera Por Mim” (2003), “O Cavaleiro da Meia Noite”
(2004) e “Gagá, O Gavião Solitário” (2006). É também conhecida
como “Dª PERCÍLIA, a Cora Coralina Candanga” por ter estreado
tardiamente na literatura e também pela extrema simplicidade que
caracteriza e enriquece suas reminiscências.
BIBLIOGRAFIA:
Título: JAMAIS ESQUECEREI
Edição: CONSÓRCIO ASEFE
Ano: 1995
22
Candanga
O Céu Espera Por Mim
O céu está coberto de nuvens
Até o horizonte sem fim
A natureza é tão bela
Eu vivo imaginando:
O céu espera por mim
As flores nascem e crescem,
Como crescem as do jasmim
Passa o tempo de repente
E não deixo de imaginar
Que o céu espera por mim
O perfume exala
Pelos campos e jardins
Passa dia, passa noite
Continuo imaginando
Que o céu espera por mim
Nesse dia ensolarado
Tenho uma inspiração sem fim
Começo a escrever poemas
Dizendo comigo mesma
Que o céu espera por mim
Andando pelas montanhas
Colhendo flor no jardim
Eu páro pra descansar
E agradeço ao Criador
Esse céu que espera por mim
23
Coletânea
Olho a lua e as estrelas
Ouço o cantar do passarinho
Olhando e vendo as belezas
Uma voz disse em meu peito
Que o céu espera por mim
Vejo a água jorrar na rocha
E medito sempre assim
Contemplando o ruído dos ventos
O tempo lento a passar
E o céu espera por mim
Nas estradas onde ando
Vejo a flora e o alecrim
Nas palmeiras cantam os pássaros
De amor vou vislumbrando
Porque o céu espera por mim
Passando pelas ruas
Andando devagarzinho
Vejo o movimento do povo
E imagino fortemente
Que o céu espera por mim
Passeando nas campinas
Vou rezando bem baixinho
Vem o sereno da noite
Eu medito em minha mente
Que o céu espera por mim
De manhã, ao despertar
Sei que não estou sozinha
As borboletas voando
E eu só imaginando
O céu que espera por mim
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Candanga
Nas horas que me repouso
Eu lembro de um caminho
Durmo e começo a sonhar
Abro a janela e contemplo
O céu que espera por mim
Aquele espaço azulado
Onde cantam os anjinhos
Fico agradecendo a Deus
Mesmo sem eu merecer
Este céu que espera por mim
Espera por todos nós
Teremos o mesmo fim
As nuvens escuras passam
Não perco as esperanças
No céu que espera por mim.
Meu Deus
Ocupe minha mente de vossas palavras tão preciosas
e meus lábios anunciem sem cessar vossos louvores,
Porque vós sois o meu Rei.
Minha casa seja vossa morada
e meus filhos vossos servos,
Pois tudo quanto possuo vos pertence.
Meu ser se encha da fé mais profunda,
meus caminhos sejam iluminados
à luz dos vossos olhos,
E nessa luz, seja eu purificada.
Meu Deus, só vos peço
que minha geração alcance a tua salvação eterna,
E meu coração esteja sempre transbordando
de amor e verdade,
Então meu ser por inteiro estará
envolto em sua paz!
25
Coletânea
Donzílio Luiz de Oliveira
D
ONZÍLIO LUIZ DE OLIVEIRA
nasceu dia 05 de agosto de 1933 no
sítio Gameleira, município de Itapetiim/
PE. Pioneiro da Ceilândia, poeta cordelista e
professor “autodidata” da Língua Portuguesa,
é autor dos livros: “Ranchos & Garranchos”
(1996), “Vôo Livre” (2002), “Onze Poemas
Matutos” (2004), “Sendas Invisíveis” (2005), “Pinto do Monteiro &
Nonato Costa” (2006), “Tópicos Gramaticais da Língua Portuguesa”
(2007) e “Duas Mil Charadas” (2008). É também conhecido como
“DOM DONZÍLIO. o Camões do Cordel Candango” por ser
considerado “o maior sonetista da História Candanga”.
BIBLIOGRAFIA:
Título: TÓPICOS GRAMATICAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA
Editora: CONHECIMENTO
Ano: 2007
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Candanga
CandangoCei
Ceilândia, Ceilândia, nasceste e cresceste,
Depressa chegaste à maioridade,
Sem muitos saberem definir por que
A palavra CEI deu nome à cidade;
Aquela “campanha de erradicação
para as invasões” tem a sigla CEI.
podemos dizer, sem medo de errar,
que o nome Ceilândia nasceu dessa lei.
Viemos da Vila do IAPI,
Das vilas Tenório, Colombo, Esperança,
Morro do Urubu e do Querosene,
Foi mais um despejo que uma mudança;
Abriram as ruas, demarcaram as quadras,
dividiram em lotes, puseram endereços
e jogaram a gente no meio do cerrado,
como quem afirma: pobre não tem preço.
Ceilândia, tu foste criada de um erro,
Que uniu preconceito e discriminação;
Nós fomos expulsos do meio dos ricos
Para dá lugar a prédio e mansão.
Para os nordestinos, migrantes, “araras”,
és o maior ponto de concentração,
exibindo estórias, forró, cantoria,
cultura de um povo de uma região.
27
Coletânea
Ceilândia, Ceilândia, tu, por muitos anos,
Foste conhecida como “dormitório”,
Depois do progresso, estás sendo agora
A maior cidade deste território,
Invejando aqueles que nos expulsaram,
Agora, Ceilândia, és grande também.
Para os tubarões mostrando que somos
Humildes, mas dignos de morarmos bem.
Candanga
As Paixões
(Soneto sem a vogal “U”)
No rol de todas as paixões vividas
Só essa foi sincera e verdadeira
Pois combinava regras e medidas
Para se ser feliz a vida inteira
Mas logo, por razões desconhecidas
Se foi modificando, de maneira
A se classificar como perdidas
Todas as chances de transpor barreiras;
E não havendo possibilidade
De novas fases de prosperidade
O jeito é nos rendermos aos fracassos;
Mas mesmo admitindo-se as derrotas
Ainda há chances e não tão remotas
Para transposição dos embaraços.
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Capítulo III
Ao poeta cerratense NIKI
VIVO NA MARGEM
(para alguns babacas que me chamam de
poeta marginal)
Eu só espero
é o dia em que esse país
seja realmente democrático
e a juventude passe a ler e escrever
ao invés de se alienar
com as drogas marinhas da TV
E o trabalhador tenha na mesa
ao invés de conta de água
de luz, de esgoto e de lixo
(COMIDA)
sem ser obrigado a viver na sarjeta
Aí, vou convidar
sua netinha e sobrinha
sua mulherzinha e mãezinha
e por que não, sua vovozinha
para fazer um tremendo zulubabel
nas margens do paranoá.
(ANARQUISMO TAMBÉM É SOCIALISMO)
Membros Efetivos
e
Autores Locais
30
31
Coletânea
Adauto de Souza
A
DAUTO FRANCISCO DE SOUZA
nasceu dia 27 de maio de 1956 em
Ituaçu/BA. Morador pioneiro da Ceilândia,
onde sempre residiu desde que chegou
em Brasília. É funcionário do SERPRO,
compositor e músico fundador da banda
“Conexão do Reggae”. Militante histórico
do movimento cultural local, foi o idealizador do Centro Cultural
e Poliesportivo da Ceilândia – cujas iniciais remontam à ideológica
sigla da antiga União Soviética - em prol do qual publicou a primeira
coletânea da cidade: “Ceilândia Grita Poesia” em 1987. Como escritor,
estréia agora com a “Oficina da Minha Vida”.
BIBLIOGRAFIA:
Título: CEILÂNDIA GRITA POESIA
Edição: CCPC
Ano: 1987
Candanga
Porque grito poesia
pela razão de não mais silenciar
pelo motivo de já não mais agüentar
um grito preso na garganta
na mente, sufocando o pensamento
um grito, um grito só, será o bastante
para limpar minha alma
para despoluir o coração
para desintoxicar o sangue
misturado ao veneno
um grito chamado poesia
para atender a tantos outros
gritos de socorro, para acalmar
o grito da fome
o grito do medo
o grito de solidão
o grito de covardia
o grito de dor
o grito de vida
o grito de morte
grito de poesia é um resumo compacto
de tantos gritos que devemos segurar
de outros gritos para não chorar...
(Pedro Araújo)
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33
Coletânea
Adelaide de Paula
Candanga
A infância na masmorra
da indiferença
(fragmentos)
A
DELAIDE DE PAULA SANTOS
nasceu dia 13 de novembro em Brasília/
DF. Mestra em Teoria Crítica Feminista pela
UnB, é professora universitária. Em 2006
organizou o antológico sarau literário cuja
meta era a criação e fundação da academia de
letras da Ceilândia, mas que depois preferiu
somar seus esforços à já propalada ACLAP, da qual hoje é uma ilustre
membro fundadora, diretora de “crítica literária”.
BIBLIOGRAFIA:
Sarau: ACADEMIA DE LETRAS DA CEILÂNDIA
34
Jornada: FACULDADE DE LETRAS/FACEB
Ano: 2006
Até o século XVII, a infância como conhecemos hoje, inexistia.
Crianças e adultos compartilhavam das mesmas experiências; vida e
morte eram vivências comuns a todos. A própria família era uma
instituição pluricelular e complexa, onde os laços afetivos eram tênues
e frios. As mães “pariam uma extensa prole” e diante da escassez de
recursos e assistência médica, viam seus filhos perecerem até a morte. O
sentimento de maternidade, tão exacerbado “nos tempos modernos”,
era um dado inexpressivo naquele período.
Com a ascensão da burguesia, um outro conceito de família
começou a se delinear. A preocupação com a destinação da herança, fez
com que a criança burguesa ganhasse um novo status social. Tornava-se
urgente a formação e a educação da mente infantil para conviver em um
outro contexto sócio-cultural.
Não obstante à revolução que alcançou a pequena burguesia,
a massa formadora da mão-de-obra feudal, dos vassalos, permaneceu
na mesma condição aviltante; destituídos de direitos e oportunidades.
Os filhos da vassalagem perambulavam sem ocupação ou coisa que
os valesse. Tal situação, se perdurasse, colocaria em risco o destino da
descendência burguesa. Afinal, sem mão-de-obra especializada, quem
serviria aos próximos aristocratas? Era necessário criar uma instituição
que não só retirasse as crianças das ruas, mas que as disciplinasse em
torno do ideário burguês, que destinava aos que serviam a obediência e
a submissão. Assim surgiu a escola.
Muito tempo transcorreu desde então, todavia não se alterou o
quadro social de crianças e adolescentes no mundo afora. A violência,
em seu sentido mais amplo, se impõe onde o descaso impera. Apesar de
penetrar em todas as classes sociais, é na periferia das grandes cidades
onde ela se revela e se declara com maior intensidade. Assim como
ocorria no século XVII, as crianças continuam alijadas dos direitos
inerentes a elas, como o direito à vida.
É inaceitável que em plena pós-modernidade se perpetue
valores medievais. E que o Estado permaneça omisso diante da situação
degradante em que se encontram crianças e adolescentes, condenados a
viver na masmorra da indiferença social.
35
Coletânea
André Rocha
Candanga
BrasILHA
Brasília, até hoje melhor não se viu
Suaves formas, frio concreto.
Afinal quem te construiu
Só leva o título de arquiteto?
A
NDRÉ LUIZ GONÇALVES DA
ROCHA nasceu dia 12 de agosto de
1975 em Brasília/DF. É morador pioneiro do
Setor “O” da Ceilândia. Fez todo o ensino
fundamental e médio em escolas públicas,
formando-se em Magistério pela Escola
Normal da Ceilândia. Já participou de várias
coletâneas, destacando-se “Mil Poetas Brasileiros” do Instituto da
Poesia Internacional de Porto Alegre/RS em 1994, “Solte os Bichos”
da Escola Normal da Ceilândia/DF em 1995 e a “Ceilândia in Versos”
em 1996. Seu patrono “literário” na ACLAP é Renato Russo, devido
sua forte ligação com a cultura local.
BIBLIOGRAFIA:
Título: QUASE TODOS SENTIMENTOS EM VERSOS
Editora: ALGR
Ano: 2008
36
Brasília de pedra e de flor
Qual seria melhor inspiração?
Brasília também de fel e dor
Quem teria a explicação?
Brasília do herói e do cidadão
Cada dia mais tenta viver.
Brasília do burocrata e do ladrão
Quem tentará se defender?
Brasília que tanto se mostra bela
Do passado ao futuro em um segundo.
Apesar do que entristece e traz seqüela
Ainda te quero a outro lugar no mundo.
Brasília, mistura da mistura brasileira
Cada cidadão que é acolhido.
E mesmo na passagem mais ligeira
A tudo de bom acaba rendido.
Aos anônimos e aos conhecidos
Minha homenagem!
Aos mártires e alguns esquecidos,
Minha homenagem!
Aos vencedores e aos vencidos,
Minha homenagem!
Aos políticos oportunistas e bandidos,
Minha mensagem!
37
Coletânea
Antonio Soares
Candanga
O Paraíso
(fragmentos)
O vento é forte e balança as árvores
A
NTONIO SOARES TEIXEIRA
nasceu dia 27 de novembro de 1956
em Teresina/PI. Apesar de não residir
propriamente no Setor Privê, acompanhou
o nascedouro dessa comunidade pelos laços
ambientais com a Chácara das Águas - “o
cartão postal verde da Ceilândia”. Foi nesse
paraíso ecológico local que escreveu “A Lenda da Princesa Bromélia
& o Surgimento do Rio Descoberto”. Publicou em 2003 o livro
“Passageiro do Inferno” , cujo roteiro para cinema conta com mais de
mil personagens. É cineasta, jornalista e ambientalista. Presidente da
Fundação Sangue Verde, é também membro fundador da ACLAP.
A chuva cai e o orvalho é frio
Veado corre quando o cachorro late
A inhuma canta louvando os riachos
E eu aqui plantando a esperança de um dia voltar
Para matar a saudade do verde deste lugar
E do canto do sabiá,
BIBLIOGRAFIA:
Do estalar da faveira
Chamando toda a bicharada.
Título: REVISTA SANGUE VERDE
Editora: FUNDAÇÃO SANGUE VERDE
Ano: 2001
38
39
Coletânea
Assis Coelho
f
RANCISCO DE ASSIS COELHO é
natural de Viçosa no Ceará. Formado em
Letras pelo UniCEUB, é professor de inglês
na Secretaria de Educação do Distrito Federal
(CILCeilândia). Publicou em 2000 o livro
“Labirintos”, sobre o qual obteve o seguinte
comentário do grande Poeta Muralha: “Em
se tratando de contos, hei de reconhecer que o autor recria o cotidiano
como se estivesse descrevendo a imaginação”.
bibliografia:
40
Título: LABIRINTOS
Editora: MINAS
Ano: 2000
Candanga
Caminhada
Os dois caminhavam tombando. Pareciam levados pelo vento.
Um mais abastado possuía um chinelo. O outro, descalço. Seguiam
indiferentes a todos. O menos bêbado sobraçava um saco de papel.
Era fácil imaginar o conteúdo. O descalço parava tentando suspender a
bermuda que relutava em cair. Por estar menos bêbado, ainda guardava
um pouco de preocupação com a decência.
Parece que levavam consigo uma certeza de “que tinham de ir
em frente”. Para onde? Para quê? Continuavam indo em frente, embora
tudo lutasse pelo contrário.
Paravam de vez em quando, tomando sôfregos goles que caíam
em suas barbas crescidas e amareladas pela nicotina.
Na tentativa de manter um certo equilíbrio, o baixinho, descalço,
empunhava a barriga para frente, arqueando seu corpo, dando-lhe um
ar patético; mas necessário para seguir em frente. Mesmo com grande
dificuldade de equilíbrio, parecia andar levemente. O outro seguia em
frente, tentando demonstrar um certo ar de superioridade por estar um
pouco menos embriagado.
Com pouco tempo, o baixinho encostou-se num poste,
articulando palavras incompreensíveis e gestos que indicavam pedidos
de espera ao companheiro que seguia em frente.
O outro seguia, determinado a chegar a algum lugar que ele
mesmo não sabia dizer qual era. Relutava, também, em parar e perder o
equilíbrio. Cair naquele momento seria inaceitável, pois não atingiria o
objetivo traçado quando lúcidos.
Com essa vontade inexorável de avançar, o baixinho passou sem
perceber o sinal vermelho, atravessando-o sem olhar para os lados e sem
ouvir os xingamentos que se seguiram. Seguiu indiferente. Subitamente
olhou para trás, lembrando-se do companheiro. Viu muita gente parada
ao redor de um corpo caído. Não conseguia distinguir quem estava
no chão. No meio de tanta gente, não via mais seu companheiro. Será
que tinha caído, como era de costume, e ficado pelo chão? Era melhor
seguir em frente. Depois, se encontrariam.
41
Coletânea
Chico Ivo
C
HICO IVO PEIXOTO nasceu dia 03
de julho de 1949 no sítio Pedra Furada,
município de Jaguaretama/CE. Tornou-se
cantador profissional em 1967, participando
dos principais Festivais de Repente do
nordeste e de todo o Brasil. Além da parceria
com Dom Donzílio, orgulha-se de já ter se
apresentado até com Ivanildo Vilanova – uma lenda vida da cantoria.
Como bom cantador que é, vive mais viajando do que em casa, sendo
por isso mesmo designado “o embaixador da ACLAP” – seu membro
fundador e “seu propagador, por todos os cantos que for”. Escolheu
como sua patronesse a conterrânea cearense Raquel de Queiróz.
BIBLIOGRAFIA:
CD: MISCELÂNIA CULTURAL
Gravação: PRÓPRIA
Ano: 2006
42
Candanga
Todo Fumante Carrega
A Morte Acesa na Mão
O vício fere e ilude
Traz a pior conseqüência
Abrevia a existência
Empurra pro ataúde
Um desgaste pra saúde
Um blecaute no pulmão
Nas veias do coração
A nicotina se agrega
Todo fumante carrega
A morte acesa na mão.
Tudo o tabagismo aumenta:
Usuário se perverte
O ministério adverte
A medicina orienta
A Cruz Vermelha comenta
O SUS dá explicação
O colégio entra em ação
A igreja também prega
Todo fumante carrega
A morte acesa na mão.
No conhecimento pleno
Esse mal marcou um passo
A droga ganhou espaço
O vício ganhou terreno
A fumaça é um veneno
O cheiro é poluição
À própria destruição
O viciado se entrega
Todo fumante carrega
A morte acesa na mão.
Torrador de economias
Semeador de desgraças
É encontrado nas praças
Centros e periferias
Lanchonetes, padarias
Banca, cinema e saguão
Hotel, mercado, salão
Cassino, bar e bodega
Todo fumante carrega
A morte acesa na mão.
Todo fumante costuma
Ser no vício mais atento
Descarta o próprio alimento
Não liga coisa nenhuma
Acende o cigarro e fuma
Nem lembra da refeição
Tem reflexo na visão
Mas a consciência é cega
Todo fumante carrega
A morte acesa na mão.
Quem faz exame de escarro
Vê o mal onde se arrancha
Tem no pulmão uma mancha
E na garganta um pigarro
Quando lhe falta cigarro
Entra em alucinação
Desacordo, depressão
Se não fumar, não sossega
Todo fumante carrega.
A morte acesa na mão.
43
Coletânea
Clinaura Macêdo
C
LINAURA MACÊDO nasceu em 17
de abril em Valença/PI. Graduada em
violino pela UnB, é violinista fundadora da
Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional
Cláudio Santoro desde 1979. Atua também
como orientadora dos violinistas da
Orquestra Sinfônica de Teresina. Publicou
em 2006 o livro “Histórias de uma Orquestra em Cordel” e integrou
a coletânea “Geografia Poética do Distrito Federal” lançada em 2007.
Além da ACLAP, também faz parte do Comitê Independente de Apoio
às Artes do Brasil/CIAB. Em outubro de 2007 foi agraciada com a
Comenda da Ordem Estadual do Mérito Renascença do Piauí.
BIBLIOGRAFIA:
Título: HISTÓRIAS DE UMA ORQUESTRA EM CORDEL
Edição: PRÓPRIA
Ano: 2006
44
Candanga
Cantiga de Amô
(fragmentos)
Home espie, seu minino
O canto do violino
Cala inté um sabiá
Faz mais de trezentos ano
Um dia um italiano
Disse: “apois num me ingano
É tu que sabe cantá!”
No meu ombro, seu minino
Cumigo, o meu violino
Me agüentô sem reclamá
Cumpanheiro todo dia
Nas dô e nas alegria
Nos choro e nas cantoria
Te chamei, tu tava lá.
No mei dessa confusão
De luta e disilusão
É sagrado o teu lugá
Sabiá da sinfonia
Quando eu te vi num sabia
A increnca em que eu me metia
E me danei a istudá.
De tudo errado que eu fiz
Numa coisa eu fui feliz
Que foi nunca te deixá
A mais feliz das paixão
A melhó das decisão
Foi toda a dedicação
Que te dei, meu sabiá!
45
Coletânea
Conceição Tavares
Candanga
Pensamentos
Sentei
Pensei
C
ONCEIÇÃO DE MARIA TAVAVES
DOS SANTOS nasceu dia 08 de
dezembro - “dia da família” - em Rio
Grande/MA. Moradora pioneira do Setor ‘P’
Norte, está em Ceilândia desde 1979. Como
integrante da paróquia São Marcos e São
Lucas, é catequista e atua em movimentos
com crianças e ainda faz parte - como voluntária - da Associação Fé,
Amor e Cidadania/FACi. Publicou em 2007 o livro “Sonho de uma
Paixão”. É também membro fundadora da ACLAP.
Te vi
Te senti
Te desejei
Te beijei
Te amei
A porta abriu
Saíste
Partiste
Tua sombra, não vi
Tuas pegadas, deixaste
BIBLIOGRAFIA:
Sozinha, fiquei
Título: SONHO DE UMA PAIXÃO
Editora: THESAURUS
Ano: 2007
No quarto, teu perfume
No lençol, o teu cheiro
No meu coração, a saudade.
46
47
Coletânea
Dukaldas
D
UKALDAS (MARIA DO CARMO
PEREIRA DE CALDAS) nasceu dia 28
de março em Araióses/MA. Como professora
na área rural de Brazlândia desenvolveu o
projeto pedagógico que deu origem ao seu
primeiro conto infanto-juvenil: “O Boneco
de Milho”. Outra estória que nasceu da sua
práxis didática – agora atuando com crianças no Centro de Ensino
Especial do ‘P’ Sul - foi “Terezinha como tantas outras de Jesus”. É
membro fundadora da ACLAP e sua patronesse é Ana Maria Machado.
BIBLIOGRAFIA:
Título: CONTOS
Edição: PRÓPRIA
S
A
D
L
DUKA
Ano: 2007
Candanga
O Boneco de Milho
(fragmentos)
Em um milharal localizado em uma fazenda, lá no interior de
Minas Gerais, nasceu uma bela espiga bem diferente das demais. Era a
mais rechonchuda de todas.
O dono da fazenda não se cansava de admirar, tamanha era a
beleza daquele fruto da terra.
Um dia antes da colheita, uma lagarta muito malvada e gulosa
veio ao milharal, a fim de devorar a tal espiga de quem já ouvira falar.
Ao vê-la, lançou-se a ela e a devorou o quanto pôde.
No dia da colheita, o estrago foi notado por todos. Da bela
espiga só restaram alguns grãos, palha e sabugo. Deixaram-na então,
sozinha e abandonada ali no milharal.
Uma menina pobre, filha de um empregado da fazenda, vendo
aquela espiga jogada, pegou-a em seus braços e levou para casa.
Chegando lá, transformou-a em um lindo boneco, seu único
brinquedo, e passaram a brincar juntos constantemente.
Passando alguns anos, a menina cresceu, se casou e foi
embora deixando mais uma vez o boneco - outrora só uma espiga abandonado.
A sorte do boneco é que desde que fora transformado em
brinquedo especial, ganhou uma fada madrinha que estava sempre por
perto; para que ele, mais uma vez não ficasse sozinho, resolveu ajudálo. Com sua varinha mágica fez plim, plim, plim na cabeça do boneco,
dando-lhe vida e também uma missão: a partir daquele dia seria protetor
dos milharais. Para isso, contava com uma arma poderosa, uma bolsa
contendo um pó amarelo que, em contato com a pele, causava coceira.
Os inimigos dos milharais que se cuidem!!!
S
CONTO
IA 2007
BRASÍL
(*)Conto extraído do projeto pedagógico homônimo.
48
49
Coletânea
Ezequiel CeilanDias Cruz
Candanga
S/Título
Votar sem refletir é cuspir para o alto
é empurrar com a barriga a roncar
E
ZEQUIEL DIAS CRUZ nasceu em
Lizarda/TO e mora na Ceilândia desde
1978. Professor da SEDF desde 1992, já
lecionou em mais de 32 escolas da cidade,
lançou mais de uma dúzia de livretos e
instalou mais de 600 espelhos escolas do
DF. Filho de mãe nordestina - Dona Luíza
– gosta de dizer que tem alma nordestina
pela forte influência recebida da professora primária que desde os nove
anos lhe ensinou a ler Camilo Castelo Branco e outros clássicos da
literatura brasileira, além das “páginas mágicas da bíblia”. Tido como
uma personalidade polêmica, já se acorrentou no centro da cidade,
foi processado por políticos citados em seus livretos e saiu candidato
a deputado distrital nas eleições de 2010. Em seu livro “Se Deus é
Brasileiro, Jesus é Nordestino”, além das críticas políticas, discute e
propõe a escolha de uma nova nomenclatura para a região administrativa
da Ceilândia.
É deixar como está, para ver como será
o futuro do país.
É deixar para amanhã o hoje do Brasil
é mandar para a ponte que caiu
nossas crianças, nossos jovens, nossos velhos
É acreditar que está assim porque Deus quis.
Votar sem pesquisar o passado do sujeito
é condenar nosso presente e o futuro
É deixar que o safado seja eleito
mesmo depois de ser cassado o infeliz.
Votar sem atentar, sem refletir e sem pensar
é entregar ao estrangeiro as riquezas nacionais
BIBLIOGRAFIA:
É dizer que todos são iguais
E a Ceilândia assim não pode ser feliz.
Título: SE DEUS É BRASILEIRO, JESUS É NORDESTINO
Edição: INDEPENDENTE
Ano: 2002
Votar sem ter vontade de mudar
é o pecado de quem vota mal
Pois aquele que não pensa pra votar
é o culpado por Fernandos e Roriz.
50
51
Coletânea
Gil D’La Rosa
Candanga
Canto LII
Eis que a mulher se apossou do mundo
G
IL D’LA ROSA (pseudônimo de
GILMAR CORREA DOS SANTOS)
é engenheiro florestal e de sistema. Já foi
astrólogo, hippie, produtor cultural, instrutor
e praticante de yoga, entre outras tentativas
de expressão nesses seus - segundo o próprio
- bem vividos quarenta e tantos anos. Pois,
ele acredita piamente no que disse Albert Einstein: “Conhecimento é
experiência, qualquer outra coisa é apenas informação”. Publicou em
2007 o livro “Mulher, Invenção do Diabo”, numa referência à temática
feminina na literatura de cordel e também à “Divina Comédia” de
Dante Alighieri.
E o Diabo alcançou o seu intuito
Ao ver o sucesso do seu invento
Que exercendo um poder profundo
Relegou esses machos ao submundo
De obedecer-lhe às ordens no instante
Dedicados, sem hesitar. Não obstante,
O regozijo se estampa na cara
BIBLIOGRAFIA:
Do demônio, que com alegria rara
52
Festeja o seu domínio constante.
Título: MULHER INVENÇÃO DO DIABO
Editora: THESAURUS
Ano: 2007
53
Coletânea
Israel ângelo
I
SRAEL ÂNGELO PEREIRA nasceu
dia 07 de maio de 1978 em Crateús/CE.
Chegou em Brasília com apenas dez meses
de idade. Em 2003 participou do concurso
que elegeu o hino oficial da Ceilândia,
quando chegou à final. É poeta e já atuou
como docente voluntário de literatura no
pré-vestibular da associação FACi. É também agente voluntário da
Mala do Livro desde 2003 (um projeto da Secretária de Cultura), sendo
responsável pelas estações culturais no metrô de Ceilândia. Fundador
da ong “O Ninho do Condor” e profundo pesquisador do “poeta
dos escravos”, é conhecido como “ISRAEL ÂNGELO, El Condor
Candango”. É o membro fundador “caçula” da ACLAP.
BIBLIOGRAFIA:
Título: VOO POÉTICO DO CONDOR
Editora e Gráfica: ARTLETRAS
Ano: 2011
54
Candanga
O Navio Brasileiro
Nesse abissal onde o céu vai ao mar
Um dia é perene nesse total martírio
O sol! A lua! Provam meu falar
Dando asas a ser um passarinho.
Tenho asa... pequena, mas sou um Condor
Dessa outrora dantesca não vou olvidar
Faço da lembrança meu estro com amor
Nessa terra, o poeta não pode parar.
Rei! Dessa terra volta o cat´vo a lutar
Hoje o antro é o nosso martírio
Quero ser súdito, mas o bem lograr
E ser o mar que recebe água do rio...
Sendo aspirante conheço essa história
Tão dantesca que no estro fui deplorar
Ao abissal a vida descia e outros sorriam
Fazendo o Condor esse porvir mudar.
Manc´bo bardo por muitos repudiado
Defendendo a antítese ao seu viver
Na praça foi plausív´l, isso é lindo!
Uma outrora que não consigo ver.
Hoje a liberdade é o prime´ro vôo
Um Condor vivendo como um passarinho
Liberdade que a vida não sonhou
Um navio terrestre em cada ninho.
55
Coletânea
João Batista
Candanga
Crônica da Minha Vida
(fragmentos)
Cada dia que eu lia
J
OÃO BATISTA MACHADO VIEIRA
nasceu dia 23 de setembro de 1952 em
União/PI. Morador pioneiro da “Expansão
do Setor O”, está em Ceilândia desde 1985.
Já trabalhou como faxineiro no Banco do
Brasil e hoje é servidor público da Secretaria
de Educação. É formado em jornalismo
comunitário pelo histórico projeto “NÓS da Ceilândia”, desenvolvido
no Decanato de Extensão da UnB em 1989. Publicou em 1995 o livropainel “União dos Colunistas Brasileiros”. Pelo seu trabalho jornalístico
nos periódicos locais e pela sua função na academia como diretor de
imprensa - tendo remetido mais de “mil cartas” - é conhecido como
“JOÃO BATISTA, o Cronista Candango”. É membro fundador da
ACLAP, onde tem como patrono o saudoso poeta Leão Sombra do
Norte Fontes - fundador da Academia Taguatinguense de Letras e seu
conterrâneo piauiense.
bibliografia:
As colunas sociais de Brasília
O meu delírio aumentava
E eu viajava no sonho
De ver meu nome intitulando
Minha coluna e a minha foto 3 x 4
Padronizando a coluna João
Batista (em maiúscula, no original)
Rodeada de estrelinhas
Igualmente um cartaz de cinema.
Título: VI CONCURSO LITERÁRIO
Editora: ASEFE
Ano: 1997
(*) Texto extraído de Conceição de Freitas em Crônica da Cidade.
56
57
Coletânea
Joaquim Bezerra da Nóbrega
J
OAQUIM BEZERRA DA NÓBREGA
nasceu dia 20 de abril de 1953 em Santa
Luzia do Sabugi/PB. Filho de João Bezerra
da Nóbrega e Julieta Bezerra da Nóbrega,
veio para Brasília em 1969. Inicialmente,
morou na “invasão” da Vila Tenório - no
Núcleo Bandeirante; sendo depois removido
para a cidade de Ceilândia, onde vive no mesmo “barraco” construído
nos primórdios de 1971. Publicou em 1976 o livro “Terracap contra
a Ceilândia” - considerado o primeiro livro da história local. É autor
também do livro de cordel “A Vida do Nordestino”, há muito tempo
produzido e somente agora lançado. Admirador do poeta matuto
Patativa do Assaré, é membro fundador da ACLAP, de onde recebeu a
cadeira acadêmica nº 27 em referência à data de fundação da Ceilândia:
27 de março de 1971.
bibliografia:
Título: TERRACAP CONTRA A CEILÂNDIA
Editora: CHICU´S SCREEN (mimeógrafo)
Ano: 1976
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Joaquim é na Ceilândia
O incansável porque há
Anos que aqui cheguei
Quero dizer prá você
Um povo forte e valente
Isto tudo minha gente
Muito mais nós vamos ter
Candanga
TERRACAP contra a Ceilândia
(fragmentos)
Leitores eu vou contar
Prestem bastante atenção
O que está acontecendo
Com parte da população
É o povo de Ceilândia
Que sofre grande aflição
Os Incansáveis moradores
Estão lutando prá valer
Com a união de todos
A gente pode vencer
Com a ajuda do povo
Tudo se pode fazer
Todo este pessoal
Morava no Bandeirante
Em seus humildes barracos
Porém não tinha o bastante
Hoje sim que piorou
Pois estão bem mais distante
O povo da TERRACAP
Não querem se entregar
E não sabem que um dia
Eles sim vão precisar
De um lote bem pequeno
Pra poderem se enterrar
Quando o caminhão chegava
Jogava tudo no chão
A mata era de fazer medo
Porém não temiam não
De dia debaixo de chuva
De noite era na escuridão
É triste ver pelas ruas
A lama a escorrer
As crianças nela brincando
Logo vão adoecer
Se não têm nenhum conforto
Só resta mesmo é morrer
Só se ouvia a noite inteira
A pancada do martelo
Trabalhando dia e noite
Naquele mesmo duelo
Só mesmo para aprontar
O amparo para o burguelo
Eu tenho meu barraquinho
Cheio de mato ao redor
Não me deram uma tábua
Foi eu com meu suor
Querem agora me tomar
Sem ter um pingo de dó
O coitado do pobre luta
E sempre um pouco animado
Faz logo o seu barraquinho
Pensando ter sossegado
Vem o ricaço e lhe toma
O pobre fica jogado
Eu também moro em Ceilândia
E digo de coração
Todos sonhavam com tudo
Menos essa exploração
Façam algo por a gente
Que todos somos irmãos.
59
Coletânea
José Antonio
Candanga
Computador
COM PUTA DOR
VOCÊ VAI AO MERCADO
J
OSÉ ANTONIO DO NASCIMENTO
veio ao mundo dia 23 de maio de 1960
em Alegre/ES. É professor de Atividades
da Secretaria de Educação. Formado em
artes plásticas pela Universidade de Brasília.
Escreve e esconde todos os textos até que
estes possam emergir por influência de
amigos ou de um sonho próprio. Tem forte ligação com as figuras
de linguagem da poesia. Músico autodidata, compõe e toca desde a
juventude. Já participou de vários festivais de música e poesia. Acredita
que a arte é expressão, e não competição. Oriundo de família simples,
evitou sempre a badalação em torno de seus trabalhos, ficando por isso,
à margem dos movimentos culturais da cidade. Publicou em 2005 o
livro “Giro Sons Com Versos”
FALA COM OS AMIGOS
DEIXA RECADO NA SECRETÁRIA
DIZ NÃO TER TEMPO
COM PUTA DOR
VOCÊ VIAJA O MUNDO INTEIRO
BABA NA IMAGEM DIGITAL
E ENCHE A BOCA D´ÁGUA
PELA COMIDA SEM CHEIRO
COM PUTA DOR
VOCÊ ARRUMA PAQUERA NO JAPÃO
PÕE CHIFRE FRANCÊS NO MARIDO ALEMÃO
VAI A QUALQUER LUGAR NA VELOCIDADE
bibliografia:
Título: MUNDO CAROCINHO
Edição: PRÓPRIA
Ano: 2007
DA INFORMAÇÃO
FAZ TURISMO DE CABEÇA
ENQUANTO O CORPO CRIA RAÍZES NA CADEIRA
COM PUTA DOR
VOCÊ VIVE O PESADELO DA TECNOLOGIA
VÍTIMA DA SOLIDÃO.
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61
Coletânea
Léo Maravilha
Foto: Madrinha Ilma
L
ÉO
MARAVILHA
(pseudônimo de SUELENITO DOS SANTOS)
nasceu dia 11 de dezembro
de 1961 no Morro do Urubu
– uma das muitas “invasões”
que abrigavam os candangos
construtores de Brasília.
Pelo fato pitoresco do local onde nasceu e também pelo seu destaque
como um dos principais compositores de samba-enredo do DF, hoje é
conhecido como “ o Sambista do Morro Candango”. Além de fundador
da escola de samba da Ceilândia - a Águia Imperial - é também fundador
e o primeiro presidente da ARCAB (Associação Recreativa e Cultural
Acadêmicos de Brazlândia). Como autêntico “filho da Ceilândia” (seu
avô João Evaristo foi um dos fundadores do histórico movimento dos
Incansáveis), recebeu da ACLAP a cadeira acadêmica nº 35 em referência
ao dia em que a cidade completou seu 35º aniversário (27 de março de
2006).
bibliografia:
BA
DE SAM
ESCOLA
Escola: ACADÊMICOS DE BRAZLÂNDIA
Desfile: CEILAMBÓDROMO
Ano: 2005
RÇO DE
10 DE MA
Candanga
Infância Carente
Eu vim para contar a história da criança
Pobre carente sem lar
Abandonada, tem o mundo como herança
Infelizmente o desprezo é seu mal
Vejam o que é desafeto, um problema social
Reza prum santo sem nome
Quando pode ela come, a saúde anda mal
No seu canto escuro
Dorme pensando com as coisas lá do céu
Sofre calada, cadê seu Papai Noel?
Sou um artista sem fã
Ainda assim quero viver, sem sofrer
Nesse Brasil abençoado
Sou o homem de amanhã
Desse jeito, essa infância carente sem brincadeira
Sem afeto e proteção
Infiltra no submundo, no buraco mais profundo
E de lá, não sai mais não
A economia é de guerra, inerte sem reação
Hoje se fala muito, mas não surge a solução
Vejam como é lindo na avenida o carnaval
Vamos fantocheando definindo
A essa gente o bem e o mal.
2005
A
RAVILH
LÉO MREASIDENTE
P
62
63
Coletânea
Manoel Jevan
M
ANOEL
JEVAN
GOMES
DE
OLINDA nasceu dia 26
de outubro de 1963 em São
Gonçalo dos Inhamuns,
município de Catarina/CE.
Veio para a Ceilândia em
1979 e mora no ‘P’ Sul desde 1981. É professor de história e pesquisador
da memória candanga na Ceilândia. Em 1997 lançou o primeiro livro-deparede da História do Brasil: “CEI, a CandangoLÂNDIA é Aqui”, do
qual se originou o projeto do Museu da Memória Viva dos Candangos
Incansáveis da Ceilândia. Pelo seu trabalho à frente da SPPCei
(Sociedade dos Pesquisadores e Pioneiros da Ceilândia), tornou-se
conhecido como “PROFº JEVAN, o Ceilandólogo”. Publicou em 2007
o livro “A Ceilândia Hoje”. É membro fundador da ACLAP, na qual
adotou orgulhosamente como seu patrono o imortal Poeta Muralha.
bibliografia:
Título: A CEILÂNDIA HOJE
Editora: ART LETRAS
Ano: 2007
Candanga
Perguntas de um Candango que Lê
“E quantos nordestinos com as mãos calejadas
foram expulsos após a inauguração de Brasília?”*
Quem construiu os postais de Brasília?
Nos livros, só constam os nomes dos governantes...
Foram eles que ergueram os blocos de concreto?
E a brazuca capital transferida mais de uma vez?
Quem a reconstruiu de novo?
Quais as Casas de Dinda com torneiras douradas
Que abrigaram seus jardineiros?
Na noite em que se construiu a Esplanada dos Ministérios
Para onde foram os candangos da sua construção?
A faraônica Brasília está cheia de eixos e monumentos:
Quem os construiu?
Sobre quem “postaram” seus arquitetos?
As colunas do Alvorada - tão decantadas - só continham o palácio?
Mesmo na legendária Matança da Pacheco
Os empreiteiros chamavam por a GEB
Naquela noite em que os confetes os encobriam...
O “peixe-vivo” JK construiu a Bras“ilha”:
Construiu sozinho?
Bernardo Sayão desbravou rodovias:
Não tinha ao menos um tratorista consigo?
Israel Pinheiro chorou a primeira cova do
Campo da Esperança: só ele chorou?
Lúcio Costa venceu o concurso do Plano Piloto:
Quem mais aqui venceu um concurso?
Cada verso, uma glória...
Quem prepara os seus planos?
De “50 em 5 anos” surge um grande herói...
Quem paga as suas campanhas?
Tantas perguntas... Quantas histórias...
* NEIDE LISBOA, adaptação do poema de Bertold Brecht
64
65
Coletânea
Mano Lima
M
ANO (MANOEL CORDEIRO)
LIMA nasceu dia 21 de junho de 1967
em Coreaú/CE. Está em Brasília desde 1971,
ano em que a ditadura militar promoveu o
primeiro assentamento da capital, com a
“remoção” dos candangos para a Ceilândia.
Autor da segunda coletânea da história de
Ceilândia, publicou também em 2001 o livro “Ginga no Cerrado”.
Diplomado em Estudos Sociais e Jornalismo, foi editor do jornal
comunitário “Fala Satélite” e atualmente é assessor de imprensa e
editor da revista “Capoeira em Evidência” da Fundação Ladainha do
conhecido Mestre Gilvan.
bibliografia:
66
Título: CEILÂNDIA IN VERSOS
Editora: LUSTOSA
Ano: 1996
Candanga
Retrato dos Atos
Ceilândia tem de tudo:
o vendedor ambulante, disputando o espaço na feira
e, no domingo, alegria
vozes de um alto falante, militantes de um partido atuante
e uma roda de capoeira
é a boemia do dia
- Olha o gás, dona Luzia!
Mas na poeira das ruas
a criança envolve-se com brinquedos improvisados
vê-se, de longe, o anúncio do reparador viajante:
- Conserta-se fogão a gás, geladeira e enceradeira!
Na vastidão, três, quatro crianças nuas
que a miséria não manda prenúncia
no biscateiro o semblante do cansaço:
- E conserto pra vida, não tem?
Ora, deixe de besteira
Mulher, hoje não tem feira!
E os legumes, os ciúmes noturnos nas biroscas, nos bares
e a prostituta que me assusta com seu alto preço
o menino travesso:
- Vai graxa, seu moço?
Ceilândia, fonte de todos
o cantador repentista, em versos que ponteia
conta a história de um povo
que veio vindo, devagarinho
desvendando o cerrado, montando barracos
construindo prédios para uma minoria:
- Onde você mora, Ceilândia?
Ceilândia, do bêbado sentimental
dos bastardos vassalos que servem a elite
sem nenhum mérito ou prêmio
- Homem, meu troco
A passagem aumentou!
Não agüento mais violência contra o bolso, contra a vida
e a ferida não curada que o INPS não pagou.
67
Coletânea
Marcílio Tabosa
Candanga
Lata d’Água na Cabeça
M
ARCÍLIO TABOSA DE CASTRO
nasceu dia 25 de novembro de
1965 (mas só oficialmente registrado em
02/02/1966) em Itapipoca (sendo porém sua
família procedente de Monsenhor Tabosa/
CE). Está em Ceilândia desde 1975, lugar
onde cresceu e descreveu suas principais
figuras populares. Artista plástico e ilustrador gráfico, é destacadamente
conhecido por suas xilogravuras, as quais podem ser encontradas nos
principais pontos culturais da cidade. Em 2007 tornou-se o primeiro
artista ceilandense a montar uma exposição na Aliança Francesa. Tem
“produzido” o livro “Xilogravuras” e até por isso é conhecido como
“M.Tabosa, o J.Borges Candango”.
bibliografia:
Título: XILOGRAVURAS
Editor: OSMI VIEIRA
Ano: 2004
(*) Obra-prima da xilogravura, que une os pioneiros da Ceilândia
com os candangos de Brasília pelo elo enigmático das águas.
68
69
Coletânea
Marcos Viana
Candanga
Capital da Esperança
Vocês estão nas ruas
Na margem da pista
À margem da vida
M
ARCOS ANTONIO DOS SANTOS
VIANA nasceu dia 17 de fevereiro
de 1964 em Teresina/PI. Formado em
pedagogia, atua na rede pública de ensino
como orientador educacional. É um exímio
artista plástico - que produz sua própria
matéria-prima e autor da exposição temáticoambiental “O Cerrado Ameaçado” - mas que pela sua honesta modéstia
prefere ser chamado de “artesão”. Atualmente dedica-se a pesquisas
com grupos indígenas como uma forma de negação à geléia geral da
globalização. Por este seu caráter suy generis, é também chamado
de “Marquim, o São Francisco Candango”. Publicou em 1994 artesanalmente! - o livro “Vivências”.
Vocês estão nas ruas
Chupando drops
Chutando latas
Vocês estão nas ruas
Engraxando sapatos
Por um pastel e caldo
Vocês estão nas ruas
Na boca dos caixas
Subindo e rolando escadas
Vocês estão nas ruas
Nos chamando de tio
Sem teto, sem família
bibliografia:
VIANA
OS
MARC
CIAS
VIVÊN
Vocês estão nas ruas
Puxando um trago
Vigiando carros
Título: VIVÊNCIAS
Edição: PRÓPRIA
Ano: 1994
Vocês estão nas ruas
À margem da pista
Na margem da vida.
IA-DF
BRASÍL
70
71
Coletânea
Mariana Lima
M
ARIANA
CARVALHO
DE
OLIVEIRA LIMA nasceu dia 03 de
novembro em Matias Olímpio/PI. Sempre
demonstrou inclinação para as letras. Faz da
escrita algo imprescindível para quem tem a
literatura impressa na alma. É graduada em
Letras e Literatura pela Faculdade Cenecista
de Brasília/FACEB e autora do livro “Brincando com Poesias” - escrito
em co-autoria com a também professora Suzana Ferraz e ilustrado
pelo inestimável amigo Neftaly Vieira. Participa do livro “Diário de
Escritor” da Litteris Editora, versão 2008. Está lançando seu novo
livro “Cirandas” pela Conhecimento Editora. É membro fundadora da
ACLAP, onde elegeu como sua patronesse a escritora Júlia Lopes de
Almeida.
72
Segredo
Não devo te querer, bem sei
Porque não posso te amar;
Ainda que o amor em meu peito
Esteja a dilacerar
Insistindo com o coração
A idéia de te procurar.
O desejo de teus beijos, eu sinto
É uma verdade, não minto
Mas sei que é um amor impossível
É um querer sem razão;
Apenas um sentimento ingênuo
Do meu pobre coração.
Noites sem fim em minha cama
Penso em ti minha dama,
É difícil adormecer!
Não consigo entender
Esse amor que me invade a alma
Tirando-me o sono e a calma.
Ainda assim, preciso ponderar,
Estamos tão longe um do outro
Como o sul está do norte,
Tu, és dama da corte
E eu, um plebeu sem sorte.
bibliografia:
Candanga
Título: BRINCANDO COM POESIAS
Editora: THESAURUS
Ano: 2000
Guardarei só para mim
O desejo de te amar,
Não saberás de mim,
Nem das minhas ansiedades
Ficarei no anonimato
Com minha infelicidade.
73
Coletânea
Messias de oliveira
M
ESSIAS DE OLIVEIRA nasceu dia 26
de outubro de 1957 em Nova Russas/
CE. Repentista, desde os 21 anos, está em
Brasília desde 1975. Além do “Cordel da
Mala” exibe em seu currículo incontáveis
festivais de cantoria, “oficinas” ministradas
na Feira do Livro e até uma apresentação
“erudita e popular” com a violinista fundadora da Orquestra Sinfônica
de Brasília Clinaura Macêdo. Cita como grande parceiro de pelejas o
professor Valdenor de Almeida, com quem cantou o cordel “Resolver
o Problema Educativo é Dever do Governo Federal” pelo projeto
Cantoria-Escola da Casa do Cantador de Ceilândia.
bibliografia:
Título: CORDEL CANTORIA ESCOLA
Editora: CASA DO CANTADOR/CUT
Ano: 1996
74
M essias de Oliveira
E ssa figura discreta
S ensível, quando é ouvinte
S eguro, quando interpreta
I nvencível na defesa
A vida, sua riqueza
S ua missão: ser poeta
Candanga
O Cordel da Mala
(fragmentos)
A Mala do Livro é hoje
Uma extensão da cultura
Que tem na Secretaria
Sua total cobertura
Incentivando as pessoas
A praticarem a leitura
Nasceu do grande talento
De uma francesa feliz
Que enchia cestas de livros
E distribuí-los quis
Pelas ruas de Clamart
Um subúrbio de Paris
A nossa Literatura
Passou a ser divulgada
Depois que a Mala do Livro
Chegou perto da morada
Dos que, antes do projeto,
Não sabiam quase nada
Ressurge na região
Samambaia, uma cidade
Neusa Dourado moveu-se
Com essa realidade
E iniciou o trabalho
Naquela localidade
A Mala é organizada
De modo a contribuir
Com aqueles que não podem
Os livros adquirir
E quem participa uma vez
Nunca mais quer sair
Neusa com toda vontade
No seu trabalho completo
Chamou Maria José
Nome que merece afeto
Educadora dinâmica
Que vibrou com o projeto
Seu objetivo é ir
Aos lugares mais distantes
Levar o conhecimento
Aos nossos estudantes
Transformando-os de objetos
Em sujeitos atuantes
Neste projeto excelente
Os nossos jovens estão
Viajando na leitura
Criando imaginação
Adquirindo saber
E crescendo em educação.
Mala do Livro, a biblioteca para todas as comunidades no DF
A Mala do Livro é um programa voltado à criança, ao adolescente e ao adulto, visando facilitar o acesso à
informação e à leitura. É coordenado pela Diretoria de Bibliotecas da Secretaria de Cultura do GDF e surgiu no
formato de biblioteca domiciliar em 1990, como atividade de extensão da Biblioteca Pública de Brasília.
75
Coletânea
Candanga
Nair Rosa
N
AIR ROSA DE JESUS
nasceu dia 17 de junho
de 1937 em Catalão e se
criou em Caldas Novas/GO.
Aposentada, trabalha como
costureira para não parar de
viver. Adora viajar e dançar no
“forró da melhor idade”. Participa anualmente da romaria para Trindade
de Goiás com a amiga Anita. Foi revelada para a literatura pela doutora
Elza Maria (autora do projeto Reminiscências Integrando Gerações
lançado em 1997 na Escola Classe 15 da Guariroba). Ela participou
do projeto como uma contadora de estória, mas seu sonho sempre
foi “aprender a ler para escrever o próprio livro”. E a “academia”
representa para ela a esperança da realização desse sonho. Como obra
literária produzida para ingressar na ACLAP, escreveu a “Carta” que
aqui publicamos.
bibliografia:
Título: REMINISCÊNCIAS INTEGRANDO GERAÇÕES
Editora: VOZES
Ano: 1997
CARTA PARA MINHA MÃE: Mamãe, hoje ao ver uma rosa lembrei de você/Com o perfume que ela
exalava eu lembrei do seu cheiro/Não pude deixar ela lá e trouxe para casa pois ela me fez sentir estar perto
de você/Nesse momento pensei nos conselhos que me dava de tudo que me ensinava e que nunca esqueci
o que me falava/Porque você, mamãe, é e sempre será para mim a pessoa mais importante da minha vida/
Agradeço a Deus por ser sua filha/E sei que aí perto de Deus você ora por mim e por isso termino essa
carta lhe pedindo/A sua bênção, mamãe.
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77
Coletânea
Neftaly Vieira
Candanga
Imagem Incansável
N
EFTALY VIEIRA GONÇALVES
nasceu dia 04 de janeiro de 1963 em
Teófilo Otone/MG. Sua família – que traz
na genealogia o nome Zimmer-Cöllen dos
imigrantes alemães – veio das vilas operárias
de Brasília removido para a Ceilândia. É
ilustrador profissional da área jornalística,
com diversos trabalhos publicados em revistas, livros didáticos e
infantis. Já fez charges para os periódicos Jornal de Brasília e Correio
Braziliense. Está finalizando a ilustração do livro “Cirandas” da amiga
e companheira de ACLAP Mariana Lima. É formando em Letras pela
Universidade Católica de Brasília. Por ter criado a histórica capa do
livro “Ceilândia Ontem, Hoje... E Amanhã?” é também conhecido
como “NEF, o Ilustrador Incansável”. Como membro efetivo da
ACLAP, ocupa a cadeira acadêmica nº 19.
bibliografia:
Título: CEILÂNDIA ONTEM, HOJE ...E AMANHÃ?
Ilustrações: NEF NENO e IURI VIEIRA (in memorian)
Ano: 1979/1981
(*) Capa do primeiro livro coletivo da memória candanga.
78
79
Coletânea
Nina Tolledo
N
INA TOLLEDO (p s e u d ô n i m o
d e MARIA ALCINA DA SILVA)
nasceu dia 1º de junho na cidade de Tabajara,
município de Inhapim/MG. É filha de
Percília Júlia Toledo e Geraldo Américo
Raimundo. Desde a década de 80 escreve
poemas e contos. Estudou Letras e cursa
atualmente a faculdade de Pedagogia. Têm no prelo mais duas obras
e já publicou “Codinome: Você” (2004) e “Casos e Descasos” (2005),
além da participação na coletânea comemorativa do cinqüentenário do
Distrito Federal “Geografia Poética” (2007). É membro fundadora da
Academia Ceilandense de Letras e Artes Populares e, pela delicadeza
de seus versos e a forte influência recebida de sua patronesse, é também
conhecida como “a Cecília Meireles Candanga”.
bibliografia:
80
Título: CASOS & DESCASOS
Editora: BRASÍLIA CULTURAL/FAC
Ano: 2005
Candanga
Cotidiano
Quem me vê passar apressada
Nem imagina minha estrada
O que sinto, penso e vivo
Enfim, minha jornada...
Nem sabe que tenho vazios,
Sinto frio na madrugada
Que às vezes me sinto feia
Triste e desanimada
Que sonho em ter um amor
Novo horizonte, nova vida
Um ombro bem confortável
Ter paz, ser compreendida...
Quem me vê passar apressada
De mim não sabe nada
Que minha cor não é essa
Em minha tez estampada
Que o sol do dia-a-dia
Deixou-me bem mais corada.
Quem me vê passar todo dia
Nem imagina quem sou...
Não sou essa andarilha
De apenas uma estrada
Meu coração corre o mundo
Bate forte, vive em revoadas
Buscando, buscando, buscando...
E nada encontra... Nada!
81
Coletânea
Osvaldo Espínola
O
SVALDO PEREIRA ESPÍNOLA
nasceu dia 25 de fevereiro de 1953
em Itaberá/BA. Chegou em Brasília com
treze anos de idade, residindo no Núcleo
Bandeirante, depois indo para a falada Vila do
IAPI e de lá sendo removido para a não menos
histórica Ceilândia. Trabalha de pedreiro e
nas horas vagas descansa compondo versos e melodias. Declama versos
de repente – no improviso – e se orgulha de ter sido um dos finalistas
do concurso que escolheu em 2003 o “hino oficial” da cidade. É grande
admirador do maluco beleza Raul Seixas - seu conterrâneo baiano em
quem se inspirou para criar suas famosas “vestimentas temáticas”.
Membro fundador da ACLAP, é também conhecido como “BBB, o
Bom Baiano Brasileiro”.
bibliografia:
82
Título: VESTIDO DE POESIA
Edição: PRÓPRIA/ACLAP
Ano: 2009
Candanga
Conselho de um Pai
Meu filho, se chegar alguém
E perguntando: tudo bem?
Te falando bem baixinho
Sempre de cabeça baixa
Com a mão dentro da caixa
E te entregando um pacotinho
Diga não para este moço
Diga que é em vão o seu esforço
Que ele é um destruidor
E pelo jeito que estou vendo
Meu filho, ele está querendo
É destruir o nosso amor
Quando ele vier de mansinho
E chegar bem devagarinho
Até sorrindo pra você
Na manhã de um lindo dia
Já depois que você vicia
Ele vem pra receber
Aí bate o desespero
Você treme o corpo inteiro
E não tem mais o que fazer
Pois é tão grande o desespero
E se você não tem dinheiro
Meu filho, ele mata você.
83
Coletânea
Rapper Japão
R
APPER
JAPÃO
(MARCOS
VINÍCIUS DE JESUS) é candango
de nascimento e morador pioneiro da
“Expansão” do Setor O de Ceilândia, berço
rap de Brasília. Rapper há 19 anos, produtor
musical e ativista social, já gravou cd’s com o
grupo do Gog e com o Viela 17. Participou
de videoclipes e entrou para a história do cinema local com o filme
“Rap, o Canto da Ceilândia” – que tem na produção João Break, seu
parceiro ceilandense e também seu patrono na ACLAP. Em 2000
montou o grupo Viela 17 em parceria com Dino Black e Mano Mix.
Percebe o rap como “música” não apenas de protesto, mas sim como
uma rebeldia sonora existente entre a periferia e o asfalto, seguindo a
trilha iniciada por Gabriel O Pensador, Marcelo D2, Thaíde e MV Bill.
Atualmente, é coordenador artístico da Central Única das Favelas no
Distrito Federal/CUFA-DF.
bibliografia:
Filme: RAP, O CANTO DA CEILÂNDIA
Prêmio: 38º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO
Ano: 2005
84
Candanga
Lá no Morro
(fragmentos)
Não tô nem aí, nem reclamo, a vida tá firmeza
Aí muleke passa um pano, qualque é, desenrola mané
Ter um carro muito louco é um sonho
Pagar de boy nunca foi a nossa cara
Na quebrada, humildade sempre vinga
Ah, cara, sem essa de licença, sem caô seu doutor
Pouco dinheiro mas eu fico feliz
E me amarro nos muleke, chega e diz
Ficar no beco, ouvir rap é pra mala
Se não é isso, sai canalha
Liga o rádio, Claudinho se destaca
Qualé o baile hoje aí pivete, se encaixa
Bota uns pano, um relógio da hora
Tá na chuva, então se molha
Fica lá no canto, escuta o som que é Viela, simbora
É nós no morro, só batida, só glória
Vou lá no morro
Comunidade unida é um pote de ouro
Vou lá no morro
De Ceilândia a Planaltina, é frevo de novo
“92 cor de sangue”, “pá”, uns banco de couro
Com os olhos vermelhos igual a nota da escola
E quem entende sim, eu quero ser assim
Calça de lim, não é pra mim
Bem pior do que aparenta
Eu sei o que meu boné representa
Tudo nosso, tudo bem
No morro o samba trinca
E o céu brilha também
Tudo nosso, tudo bem
No morro o samba trinca
E nisso eu vou além.
85
Coletânea
Ronaldo Mousinho
R
ONALDO ALVES MOUSINHO
nasceu dia 16 de outubro de 1951
em Guadalupe/PI. Está em Brasília desde
1978. Licenciado em Letras, é professor e
advogado. Publicou em 1994 o livro “Asas
para o Apogeu”. Verdadeiro intelectual,
produtor cultural e editor de inúmeras
coletâneas, é conhecido - e reconhecido! - tanto em Brasília como nas
terras do querido Piauí. Além de membro fundador da ACLAP - cujo
patrono é o pioneiro da literatura candanga Clemente Luz - é sócio
efetivo do Comitê Independente de Apoio às Artes do Brasil/CIAB
e o atual presidente da Academia Taguatinguense de Letras. Por ser o
maior pesquisador e estudioso da literatura local, é conhecido como
“MESTRE MOUSINHO, o Machado de Assis Candango”.
bibliografia:
Candanga
Nave-Mãe Candanga
(fragmentos)
Quero pilotar a nave-mãe, sobrevoar Brasília
Admirar a Torre de TV, cumprimentar os feirantes.
Voar rasante sobre a Esplanada dos Ministérios
Saudar Jesus Cristo ao passar pela Catedral.
Sacudir a poeira da máquina administrativa e injetar-lhe ânimo.
Chamar à razão o Palácio do Planalto e do Buriti
E dizer-lhes que os fins não justificam os meios.
Contemplar as águas do Paranoá e os barcos passeantes e gritar:
“alto lá, vocês não podem continuar acima da lei”,
aos invasores daquelas margens.
Plainar sobre o Teatro Nacional e lavar a alma com os acordes
da Orquestra Sinfônica.
Rumar para Taguatinga e Ceilândia em busca de tradição e amenidades.
Esticar até a Feira da QNL, comer peixe e rapadura do Maranhão,
Saborear carne-de-sol e cajuína do Piauí.
Revisitar o Museu Casa da Memória Viva do mecenas Jevan
E ali ouvir a Orquestra Sanfônica Candanga.
Participar da fundação da ACLAP mas, pessimista,
constatar que a política
“suprema razão da existência humana”,
hoje é flagelo que nos aniquila.
Título: PROJETO ALUNO ESCRITOR
Editora: ASEFE
Ano: 1995
86
87
Coletânea
Rosana Maria
Candanga
Eu Sou a Cei
No começo, eu era erradicação
Pelo um anel-sanitário
R
OSANA MARIA CARVALHO DA
COSTA nasceu dia 30 de outubro em
Brasília. Por gostar muito de criar coisas para
casa, começou a confeccionar “roupinhas de
boneca” ainda na infância, adquirindo a arte
da costura e do artesanato pelo seu autêntico
tino autodidata. Além das confecções
artesanais para Casa da Memória Viva, tornou-se a única produtora da
“bandeira da Ceilândia” (tanto para a Administração Regional, como
para as escolas locais). Orgulha-se muito de fazer parte do histórico
grupo dos 35 artistas ceilandenses que fundaram a ACLAP.
Fizeram a minha remoção
Sem teto, fui barraco
Sem luz, só apagão
Sem água, era a “ceilama”
Carência era o meu sobrenome
Comissão, campanha, invasão...
Tanto nome que quase me consome
Os anos se passaram
E agora sei
CONFECÇÃO:
Título: BANDEIRA DA ACLAP
Criação: MV MODAS
Ano: 2006
88
Que hoje eu sou:
Cidade, sim.
Excluída, nunca.
Incansável, sempre!
89
Coletânea
Sebastião Lima
Candanga
Luz do Saber
Sou como o pensamento que está sempre atento
S
EBASTIÃO JOSÉ DE LIMA nasceu dia
14 de novembro de 1947 na cidade de
Ceres/GO. Filho de agricultor goiano e mãe
pernambucana, fez os seus estudos primários
em Anápolis e veio para Brasília em 1972.
Servidor público, é morador pioneiro do
Setor ‘P’ Norte da Ceilândia. Começou a
cursar a faculdade de Teologia em 1987. Católico, professor de catequese
na paróquia São Marcos e São Lucas, é coordenador de grupos teatrais
e organizador da Via Sacra. É membro fundador da ACLAP e, pela
admiração que sente por se patrono literário, é também chamado de “o
Drummond Candango”.
Tanto nos antigos como aos novos movimentos
Sempre fico no meu cantinho bem quietinho
Observando o que está acontecendo
Pensando num mundo mais justo e consciente
Onde o homem e a mulher possam andar de mãos dadas
Tentando construir um mundo mais sábio e inteligente.
bibliografia:
Título: HISTÓRICO DO SETOR “P” NORTE
Edição: PRÓPRIA
Ano: 2008
90
91
Coletânea
Sidiney Breguêdo
S
IDINEY DE SOUZA BREGUÊDO
nasceu dia 22 de janeiro de 1972 em
Monte Azul/MG. Mora em Ceilândia
desde os primórdios da cidade. É chargista,
caricaturista, artista plástico e... poeta! Dono
de um estilo poético “Beat”, é também
conhecido como “o Charles Bukowski
Candango”. Como artista plástico, entrou para a história de Brasília
com o quadro “É Q´Eu Sou Candango”, que descreve – plasticamente –
os três tempos da história candanga (construção, remoção e exclusão).
Nome tarimbado do movimento cultural local, já realizou diversas
exposições e tem (manuscrito, em cinco cadernos) mais de mil poemas
a serem publicados.
bibliografia:
92
Título: O JACARÉ PENSADOR
Edição: PRÓPRIA
Ano: 2009
Candanga
Quando Eu Morrer
Quando eu morrer,
Não quero fama, nem estardalhaço.
Não quero caixão de pinho,
Nem gravata de laço.
Menino, hoje sou vivo e belo
E ninguém vê meu sorriso amarelo.
Amanhã quando eu morrer,
Tirarão do meu pé o chinelo
E esculpirão em bronze
Bengala ou cutelo,
Plaqueta para o senhor administrador
Assinar: poeta, menino, poeta!!
Me cobrirão com o pó
Do ouro amarelo
E a glória me darão em verdade,
Dos empresários serei a vaidade,
Seu ouro e sua vida,
O caviar e a bebida.
Quando eu morrer,
Não quero fama, nem estardalhaço,
Os homens declamando meu nome
Como estúpidos palhaços,
As moças me enrolando em abraços.
Nas escolas, não quero que estudem
A minha vida em bagaço.
Ou mesmo que revolucionei,
Que uma escola literária inventei,
Não me cantem como herói
Para que o povo me compre,
Mas foheiem minha vida
Num instante.
93
Coletânea
Vaíston
Candanga
Cogumelo
Com sopro suave
De cachimbo sem fogo
V
AÍSTON TOLEDO DA SILVA nasceu
dia 11 de novembro de 1961 na cidade
de Tabajara, município de Inhapim/MG. Veio
para Brasília ainda quando criança, onde em
1980 tornar-se-ia servidor público. Através da
sua mãe – a escritora evangelizadora Percília
Júlia Toledo - começou sua vida artística
como “narrador” do grupo de teatro “Altas Montanhas”, ajudando a
fundar a paróquia São Marcos e São Lucas ainda nos primórdios do
Setor ‘P’ Norte da Ceilândia. É membro fundador da ACLAP e tem
um livro “produzido” no campo da ficção científica.
Varreu a vassoura do vento:
Tempo
Projetos
Sistemas
Teorias
Vida de temor...
A dimensão se tornou túmulo
Só prédios, fábricas,
Dinheiro, ambições.
bibliografia:
Nasceu no Planalto
Teatro: ALTAS MONTANHAS
Papel: NARRADOR
Ano: 1979
Uma nova hierarquia:
Reis ratos, ratas rainhas.
Queijo, queijo, queijo...
E pizza na pradaria.
94
95
Coletânea
Valdinei Cordeiro
Candanga
A Preciosidade dos Amigos
Os amigos são tão especiais que voltam
São tão simples que cativam
São tão desprendidos que doam
V
ALDINEI
CORDEIRO
DOS
SANTOS nasceu dia 08 de julho de 1980
em São Romão/MG. Morador da Ceilândia, é
estudante e declara que “tornou-se poeta pelo
projeto escolar”. Seu poema foi originalmente
publicado na “Antologia Poética dos Alunos
do Primeiro Ano do Centro de Ensino
Médio 04”, idealizada pela professora - e sua patronesse na ACLAP Maria Lucinete de França. O projeto ao qual se refere, além de lançar
para a cidade dezenas de “novos” escritores, rendeu ainda a literária
reportagem “Armados com Versos”, o que elevou a auto-estima tanto
dos educandos como da própria Ceilândia. Como membro efetiva, ela
ocupa a cadeira nº 26. E como diz a frase que “o verdadeiro mestre é
aquele que dá a lição pelo exemplo”, hoje vemos alguns destes poetas
recitando versos em rádios comunitárias e outros até participando da
Academia Ceilandense de Letras, como Irismeire Benevides, autora
desse antológico poema.
Patronesse Educacional:
Coletânea: PRIMEIRO VÔO
Autora: PROFª MARIINHA
Ano: 2004
Bem, eles são tão necessários
Que sempre se fazem presentes
São tão preciosos que se conservam
São tão irmãos que compartilham
São tão sábios que ouvem
iluminam e calam
Eles são tão raros que se consagram
São tão importantes que não se esquecem
São tão felizes que fazem a festa
Os amigos são tão responsáveis
Que vivem no mar da verdade
São tão livres que acabam virando pássaro
“Meu mestre, meu amigo
Que belo dia encontrei
Foi quem me ensinou
Tudo o que hoje eu sei”
(Francisco Benevides)
96
São tão dignos que compreendem e perdoam
querendo voar
São tão amigos que dão a vida
São tão amigos que se eternizam.
97
Coletânea
Vanildes de Deus
V
ANILDES DE DEUS ALVES nasceu dia
04 de Setembro em Oeiras/PI. Filha de
Isabel Santana Alves e de João de Deus Alves.
Veio para Brasília em 1977 e mora no ‘P’ Sul
desde sua fundação. Licenciada em Estudos
Sociais e bacharel em Geografia, exerceu o
magistério por mais de 25 anos, dedicandose atualmente ao trabalho cultural e religioso
junto à sua comunidade. Graças ao seu poema sobre a “padroeira da
Ceilândia”, foi criado o Projeto de Lei nº 2.908 (publicado no Diário
Oficial de 08/02/2002) estabelecendo o dia aos santos padroeiros de
todas as Regiões Administrativas de Brasília. Participou em 2007 da
coletânea “Geografia Poética”, comemorativa ao cinqüentenário do
Distrito Federal. Além de ser membro fundadora da ACLAP – onde
escolheu por patrono o Pe. Antônio Vieira – é também sócia efetiva do
Comitê Independente de Apoio às Artes do Brasil/CIAB.
bibliografia:
98
Título: UM OLHAR TRANSPARENTE
Editora: THESAURUS/FAC
Ano: 2010
Candanga
Nossa Senhora da Glória,
Padroeira da Ceilândia
Oh! Querida virgem da glória!
Quão sublime é teu olhar!
És esperança, és vitória,
És a força do nosso caminhar.
Leva a Jesus nossa luta e história,
Deixa sua luz nos iluminar...
És mãe dos ceilandenses,
Dos incansáveis e de toda a população
Também dos candangos, dos brasilienses,
Dos pobres e da nossa geração.
Acalenta-nos com o teu silêncio
Sê nosso escudo e proteção!
És bendita! Ó querida padroeira,
Que a este povo vieste abençoar.
Da Ceilândia, és uma das primeiras
A “palavra” e a “eucaristia” celebrar.
Sendo fonte viva e luz verdadeira
Vem, almas de sede e fome saciar.
Tua história é grande fascínio
Vários nomes temos a destacar,
Como o célebre frei Cirino
Cuja memória vale-me exaltar.
Alimentou muitos pobres e meninos
E dos desabrigados soube cuidar.
À custa do seu ofício
Sua vida a Deus entregou
Deixando marcos, registros...
Das obras do Criador.
A ele então o título:
Primeiro “pároco e fundador”.
99
Coletânea
Walter gugu Farias
W
ALTER PEREIRA FARIAS, o Gugu
do ‘P’ Sul, fez história na poesia
da cidade em toda a década de 1980 com
sua linguagem meio beatnick, meio rock
nacional. Auto definia-se como um poeta
marginal, mas para os mais próximos,
revelava-se um homem-menino, um gigante
frágil. O próprio título do seu livro Tenho
Que Proteger As Orquídeas (lançado em 1987 na lendária lanchonete
Enkontres) desvelava muito da sua personalidade. Militante atuante
do movimento cultural, além de poeta, foi compositor do grupo
Anjos do Rock e ator-fundador do Espaço 50 (era uma casa de nº 50
na Via Guariroba) com o Paulinho Rapadura e outros porra-loucas;
juntamente o com Adauto Francisco lançou a coletânea Ceilândia Grita
Poesia em 1986 no antigo Quarentão; participou de várias FACULTA’s
e também do I Encontro de Poetas Brasilienses em 1983, dentre tantos
outros eventos culturais candangos.
bibliografia:
Candanga
Hoje
Desfilarei minha amargura
sobre a ponte costa & silva
ou simplesmente sob a torre de tv
De nada adiantará livros, revistas,
discos, jornais ou qualquer tipo
de comunicação
nem mesmo a inter-planetária.
sofro...
e para esse mal não há remédio
nem mesmo os carinhos de Alice
nem mesmo esse nosso amor
neurótico, paranóico, esquizofônico...
Observo no microscópio eletrônico
o cenário multicor da meganópole
desvairada em busca do poder material.
Meu nome é rasgo
sou filho do nada
indivíduo sem opção.
Tenho mil planos
que serão os enganos
para os próximos dois mil anos.
ignoro até os OVINs, que a sombra
da realidade ofusca.
Meu coração além da ia dos kamikazes.
Título: TENHO QUE PROTEGER AS ORQUÍDEAS
Editora: THESAURUS
Ano: 1986
Observo um Dark na dança mágica da Drack.
Suicidei-me ontem/
Velejo na noite/
Sob a luz de neon
Na fusão sonora oriente-ocidente/
Estou além da compreensão do eu
numa viagem imbecil
em busca do nada.
100
101
Coletânea
Vicente de Melo
V
ICENTE GERALDO DE MELO
NETO nasceu dia 23 de janeiro de 1960
em Uberaba/MG. É morador do Setor ‘P’
Sul da Ceilândia, ex-funcionário público do
Poder Executivo Federal e arte-educador da
rede pública local. Publicou em 2007 o livro
“Contos Federais”. Em 2005, foi o vencedor
do Prêmio SESC de Contos Machado de Assis, com “Os Estultos”.
Dono de um talento privilegiado para “a criação e contação de histórias
fantásticas”, é tido pelos seus companheiros de ACLAP como “o Maior
Contista da Literatura Candanga”.
bibliografia:
Título: A SAGA DE UM CANDANGO
Editora: BARAÚNA
Ano: 2013
102
Candanga
O Candango
(fragmentos)
O calor era insuportável. O solo seco e rachado, de tão candente,
queimava os pés descalços do homem que olhava sua plantação
totalmente perdida. É a seca que castiga, sem dó, o rincão nordestino.
Ele, que sempre fora um sertanejo de fibra, desta vez estava desolado.
A mulher, o recebeu tentando, com citações bíblicas, reconfortá-lo. O
filho pequeno, alheio à tudo, apenas dormia para enganar a fome.
Bastião, sentado em um banco tosco de madeira, puxou para si
o velho rádio de pilha. Apesar de analfabeto, não era nenhum apedeuta,
pois acompanhava com grande interesse os problemas de sua pátria.
Subitamente, uma notícia chamou-lhe a atenção. Estavam recrutando
trabalhadores para a construção da nova capital do Brasil.
Com a mulher e o filho, Bastião pegou algumas tralhas - o
inseparável rádio e a velha sanfona - e partiu. Na cidade, o caminhão
conhecido como pau-de-arara, já aguardava as famílias de retirantes
para a longa viagem até o Planalto Central.
As chusmas chegavam de todas as procedências à nova terra
prometida. São os pioneiros da nova capital, chamados pejorativamente
de candangos que, na acepção da palavra significa “pessoa ruim”.
Bastião e a família ficaram instalados na Cidade Livre. No outro dia,
bem cedinho, ele e muitos outros começaram a lida nas obras faraônicas
da cidade-céu, em meio à imensa solidão do cerrado sem fim.
Pouco tempo depois, tudo parecia uma torre de babel. Milhares
de operários, dependurados em andaimes. O ritmo era alucinante, dia e
noite e noite e dia trabalhavam sem parar. Os responsáveis pelas obras,
sempre gritando muito, mais pareciam feitores com chicotes saídos
dos tempos de faraó da era do escravismo.
Como ajudante de pedreiro, Bastião carrega sacos de cimento
nas costas, enverga ferros e arma concretos. Ele é de fibra, e antes
de tudo, um sertanejo. Vivia sempre sorrindo para os conterrâneos e
seus chefes. Até para o presidente, que estava sempre rondando pelos
canteiros de obra, ele um dia sorriu, puxou uns acordes do clássico
“Asa Branca” e ainda tirou de improviso uns versinhos de cordel:
103
Coletânea
Este é o grande presidente
Que o Brasil já viu falar
Empregou toda essa gente
Fazendo a nova “capitá”
Dias depois Bastião seria chamado no escritório da NOVACAP,
pois havia sido escolhido o “operário-padrão” do ano. A cerimônia
aconteceu num domingo à tarde, sobre um palanque montado em
frente ao futuro Palácio do Alvorada, onde estudantes treinados pelas
“tias” balançavam fitinhas verde e amarelo e cantarolavam o “peixevivo”. Encostado num canto, suando em bicas, Bastião finalmente é
chamado à frente. Recebeu das mãos do próprio presidente da república
uma caneta banhada à pirita, ou seja, o popular ouro de tolo. O pobre
operário, que era pobre mas não era besta, agradeceu às autoridades
com seu costumeiro sorriso e, dias depois, vendeu o valoroso “prêmio”
num boteco qualquer.
Porém, a cada dia que se aproximava a data oficial da inauguração,
o ritmo de trabalho aumentava freneticamente. Bastião já não sorria à
toa. Com o cenho franzido e as mãos calejadas, sempre suado e cansado,
trabalhava, trabalhava... e nada melhorava.
A manhã era de sol e carnaval. O arrebol banhava o acampamento
com lumaréus de fogueira. Alguns operários, insatisfeitos com a má
qualidade da comida servida, resolveram fazer uma manifestação. A
notícia caíra como um raio na cabeça das empresas responsáveis pela
construção de Brasília. Iniciou-se, então, uma guerra cruel e desumana.
De um lado, operários famélicos e indefesos; e do outro, soldados da GEB
assomando e atirando. O resultado final foi uma verdadeira “matança”.
Os corpos seriam sorrateiramente enterrados nos arredores da cidade,
onde hoje estão vários monumentos arquitetônicos “patrimônios da
humanidade” erguidos à “modernidade”.
A rotina voltara ao normal depois da chacina oficial. Muitos
ainda choravam e lastimavam o “desaparecimento” dos antigos
companheiros. Num jogo estratégico, as empreiteiras resolveram
antecipar o pagamento. Era uma forma maquiavélica de tentar fazer com
que todos esquecessem o mais rápido possível aquelas cenas funestas,
covardes e desiguais. Bastião - que conseguira escapar fugindo pelos
fundos do acampamento - a partir daquele dia passara a ter certeza de
que a “capital da esperança” fora apenas uma grande ilusão.
104
Candanga
O tempo passara rápido. Depois de três anos e dez meses
de muita labuta, a nova capital finalmente fora inaugurada. Todos
receberam homenagens; já os candangos (e dentre eles, o agora
desiludido Bastião), nem dinheiro para participarem da festa tinham.
Bastião virou alcoólatra, passando a beber de revolta e tristeza.
Sem emprego e sobrevivendo de “bicos”, foi jogado numa invasão
próxima ao Núcleo Bandeirante, conhecida como “Morro do Urubu”,
em meio à lama, poeira, miséria e violência. Os anos se passaram. A
favela onde morava, após uma “campanha de erradicação das invasões”
promovida pela ditadura militar, foi “removida” e assentada em uma
nova cidade-satélite, bem longe do poder.
Certo dia, encontrado pelo serviço social, Bastião fora internado
em um asilo de velhos. A mulher, após uma crise de convulsões, há
tempos já o tinha deixado. O menino, criado em meio a maloqueiros
e mequetrefes, acabou preso e condenado por envolvimento com o
tráfico de drogas. O velho rádio e a saudosa sanfona, trocados pela
maldita cachaça, já não lhe faziam companhia. O solitário candango é
um homem com mais de setenta anos. Sua boca banguela, agora sorria
aos “novos” companheiros. Alguns também eram heróis anônimos
da epopéia de Brasília. Bastião passa as horas relembrando os tempos
idos.
O dia estava ensolarado, era uma manhã de sexta-feira. O asilo
organizou um “passeio” para os velhinhos até o Plano Piloto. Bastião
levantou-se cedo. Iria viver um dia de turista pelo lugar que tanto suor
derramara e também ajudara a construir. O ônibus da viação Pioneira
entrou lentamente no eixo monumental. Reconhecendo a figura do
ex-presidente “acenando para a cidade”, Bastião ensaiou um sorriso
irônico, ao relembrar o dia em que recebera a falsa caneta de ouro.
O velho veículo passou pela rodoviária e entrou na grande esplanada.
À sua volta, surgiram os sinais de luxo e ostentação, próprios das
grandes construções. Mais uma vez, lembrou-se de tudo que a vida o
havia feito sofrer. Imaginou-se, então, de volta ao querido nordeste,
no seu pequeno roçado. O suor do seu rosto misturava-se às lágrimas
escorridas daqueles olhos de pálpebras cansadas.
De volta ao asilo, numa expressão de lassidão, Bastião dormiu
rápido e profundamente. No outro dia não acordaria mais. O velho
candango expirou solitário e esquecido.
105
Ao homem chamado cavalo ÉDSON DA NOVA SHOCK
BORBOLETA
Eu sou um misantrópico
e às vezes hermético
para os nacionalistas de direita
e detesto crianças por não nascerem
com o espírito de luta de CHE GUEVARA
Mas um dia uma borboleta
com a asa quebrada
baixou no meu circo
e eu lhe dei toda a assistência possível
comprei um rolo de durex
e colei na sua asa
deixei-a na cama de mamãe
e fui comprar flor prá ela
Hoje ela voa nas margens do paranoá
cheirando as flores de sua preferência
concubinando com quem ela quer
sobrevoando a ponte daquele ex-ditador
do lago sul ao lago norte
voa... borboleta... voa... voa...
voa os segredos do abismo infinito
mesmo sentindo que eu estou morrendo
de saudade
adoro te ver nos ares, no ar.
(hoje em dia só me preocupo
com a felicidade dos hermanos
simplesmente porque já fui feliz).
106
Capítulo IV
Membros Correspondentes
e
Autores Convidados
(ANARQUISMO TAMBÉM É SOCIALISMO)
107
Coletânea
Adalberto Adalbertos
Candanga
LAND CEI: Saga-Enredo
da Criação de um Novo Mundo
(fragmentos)
“Noventa milhões em ação,
A
DALBERTO
DUARTE
DE
OLIVEIRA ADALBERTOS nasceu
dia 18 de março de 1952 em Poté/MG.
Pioneiro de Taguatinga, está em Brasília desde
1966. Diplomado em Ciências Biológicas e
em Ecologia. Na efevercente UnB dos anos
70, foi um dos protagonistas do antológico
“Show do Arroto”. Foi também um dos membros fundadores da
Academia Taguatinguense de Letras/ATL em 1986. Publicou em 2006 o
livro “Inquietudes”. Educador militante e engajado, tornou-se um dos
diretores mais conhecidos do Sindicato dos Professores/SINPRO-DF.
Pra frente Brasil do meu coração...”
Para censurar, oprimir e torturar,
Botas, butes, botinas, king-kongs e camburão.
No subúrbio, periferia, eu residia:
Tabatinga, “ta‘wa’tiga”, barro branco.
Mas numa super, numa quadra, superquadra,
Das forças, às vezes, me escondia.
E então, tão só, nem mesmo pelo elemento combongó
A cidade ília, ilha eu via.
“Eu te amo, meu Brasil; eu te amo...
Ninguém segura a juventude do Brasil...”
bibliografia:
Foi quando os milicos, pais e mães da ditadura
Fonte de dor, tristeza, morte e muita agrura
Título: PARASITA OBRIGATÓRIO
Edição: PRÓPRIA
Ano: 2007
Resolveram, por decreto, a “C.E.I.” instituir
Para com ela, o piloto-plano, aero-plano,
Sanear, varrer, limpar
E, imediatamente, a Land Cei fazer brotar.
108
109
Coletânea
Adélia coimbras
Candanga
Poema Saudade
Eu sou uma videira, que no seu tempo deu nove galhos
Todos bem grandes e floridos. Mas em 1994 um galho quebrou
A
DÉLIA IGNÁCIO DE MELLO
COIMBRAS nasceu em 1935 na
Vila Formosa de Imperatriz/GO. Filha de
família humilde, veio para a Vila do IAPI
em 1966 e de lá a trouxeram pra Ceilândia
em 1971. Moradora pioneira da Ceilândia
Sul, foi vendedora de roupas ate montar sua
própria loja de confecções, com a qual viria adquirir, tempos depois,
a tão sonhada fazenda em Mimoso de Goiás. Em 2006 teve seu livro
“Biografia de uma Camponesa” editado pelo pastor Cláudio Divino,
professor de Geografia com palestras já proferidas na Conferência
Anabatista Latino-Americana da Colômbia e dos Estados Unidos.
Veio o tempo, e o vento, e um galho ele levou
Saudade vem e saudade vai
Deixou muita saudade, saudade para seus pais.
Deixa saudade para seus irmãos.
Saudade muita que ficou, da família que deixou
Esposa maravilhosa! Que lembrança tão espinhosa!
Ah! Saudade. Tinha sim, alegria e prazer.
Galho que deixou sementes,
Dois filhos para a família render
Saudade de sua família pequena
Saudade de sua esposa morena
Saudade dos filhos que deixou
Me dizia que casou-se por amor.
bibliografia:
Saudade! Saudade de quando você era criança
Ah! Que doce e triste lembrança.
Título: BIOGRAFIA DE UMA CAMPONESA
Editor: CLÁUDIO DIVINO
Ano: 2006
Está comigo em qualquer lugar,
Pois está vivo dentro de mim
Nos meus sonhos, no meu jardim
Como eu queria você, aqui bem pertinho de mim...
110
111
Coletânea
Adilson Cordeiro Didi
Candanga
Meu Querido Guará
Meu Querido Guará
Terra de sonhar!
O Guará é o meu lar
Minha sala de estar
A
DILSON RODRIGUES CORDEIRO DIDI nasceu dia 25 de outubro
de 1952 em Pirapora – margem esquerda
do Rio São Francisco/MG. Está em Brasília
desde 1970. Servidor do Banco do Brasil,
trabalhou nas aprazíveis cidades de Maceió/
AL e Pirenópolis/GO. Hoje, já aposentado,
exerce prazeravelmente o cargo de diretor da Casa de Cultura do
Guará. Poeta bastante conhecido em todo o Distrito Federal, publicou
em 2007 o livro “Algo Tão Doce” a partir de um recital que fez na Feira
do Livro de Brasília.
É onde gosto de ficar
Ver os pássaros cantar
E é sempre muito prazer
As crianças no alvorecer
Sua calma me acalanta
Sua alma me encanta
Posso correr e sentir
A brisa leve daqui
A pureza de um beija-flor
Que faz ouvir músicas de amor
A ternura do flamboyant florido
No Guará, é o mais colorido
Vejo a esperança renascer
Neste céu, ao entardecer
E na luz de prata do luar
Das lindas noites do Guará
bibliografia:
Título: COLETÂNEA POÉTICA DO GUARÁ
Edição: COMEMORATIVA
Ano: 2009
Aqui tem muitos amigos
Sorrisos novos e antigos
É a graça e simpatia no ar
Do meu querido Guará!
112
113
Coletânea
Amário cassimiro
Candanga
Sonhos de Poeta
Sonhei um dia
Ser um poeta,
d
r. AMÁRIO CASSIMIRO DA SILVA
é natural de Turiúba, interior de São
Paulo, filho de José Cassimiro da Silva e
Marvina Rosa de Jesus. Viveu sua juventude
em Gastão Vidigal/SP, aonde anualmente
realiza o projeto “Coletânea de Poesia Inter
Regional”, também extensivo às cidades
paulistas de Buritama, Floreal, Lourdes, Monções, Nova Luzitânia
e, obviamente, Turiúba. Está em Brasília desde 1969. Advogado de
renome internacional, foi Secretário-Geral da Associação Americana
de Juristas e ex-Membro Consultivo da Associação Cultural Brasil Cuba. Em 2003 foi condecorado com a Ordem do Rio Branco pelo
Ministério das Relações Exteriores.
Ter um grande amor
Procurei nas estrelas,
No sol,
No mar,
No ar.
Pela terra andei a procurar
Encontrei a deusa
Dos meus sonhos,
Sonhos de poeta,
Do amor irreal,
Do amor sem igual,
Do amor imortal.
bibliografia:
Não gostaria
114
De vê-lo acabar,
Título: FRAGMENTOS DE SAUDADES
Editora: GRÁFICA DOMINANTE
Ano: 2006
Sonhar e não acordar.
115
Coletânea
Ana Paula
A
NA PAULA MARTINS AGUIAR
nasceu dia 30 de janeiro de 1995 em
Brasília/DF. É filha de Valdir Moreira de
Aguiar e Santinha Alves Martins. Aquariana
que gosta de ler e escrever poemas.
Incentivada pela professora Lira, agora tomou
iniciativa de mostrar o seu lado poetisa, pois
percebeu que escrevendo poderia ir mais longe. Estuda no centro de
Ensino Fundamental 519 de Samambaia e está cursando a 6ª série.
Há nove anos freqüenta as atividades complementares educativas da
Assistência Social Casa Azul.
Apoio Sócio-Educativo:
CASA AZUL - A missão da Instituição “ser um espaço prazeroso e de
referência no atendimento às crianças e ao adolescente.Voltado para a
formação humana, solidária e cidadã, buscando a melhoria da qualidade
de vida e a inclusão social.”
Público atendido
De 0 a 6 anos - 200 crianças
De 07 a 14 anos - 268 Crianças
Jovens - 140
Famílias - 352
116
Candanga
Brasil Sonhador
Meu Brasil
Que tem fome
E o homem cada vez
Querendo mais
Sem sentir a dor
Que provoca o terror
Num país de paz
Que cabe cada vez mais
Meu Brasil
Verde e amarelo
Que fez um elo
Com a natureza
Tornando-a mais bela
Meu Brasil
Dos amores
Que nos faz crescer
Na harmonia das cores
Meu Brasil
Que enche a gente
De muito amor
Onde tem um povo trabalhador
Que mora nas ruas escuras
Com muito frio
E também com muito calor
Mas sonha com felicidade
E alegria nesse...
BRASIL SONHADOR!
117
Coletânea
Angélica Torres
Candanga
Aula de Arte
Bendito sejam os malditos
porque tornam os tolos
A
NGÉLICA TORRES LIMA nasceu
dia 27 de fevereiro em Ipameri/GO.
Está em Brasília desde 1965. Diplomada
em Comunicação, é jornalista, tradutora
e coreógrafa. Publicou em 1988 o livro
“Solares” pela turibiana marca Bric-aBrac. Atualmente, integra a equipe do
Profº Antonio Miranda à frente da Biblioteca Nacional de Brasília,
responsável pela realização da I Bienal Internacional de Poesia em
Brasília – I BIP/2008.
gente que se identifica com eles,
os crus desgraçados
místicos obscenos.
Se eu tivesse conhecido Bukowski
mais uma eu seria entre as vacas
pintadas por ele? me ninaria?
me beijaria os rolinhos na cabeça?
me amaria a Maria, laranja
caindo da mesa, rolando pra longe
de porre, fumada, num seu poema trêbado?
bibliografia:
Morro. E digo,
esta nunca mais vai ter que ler
Charles na vida e sua himenotomia
em madrugadas azedas.
Título: SINDICATO DE ESTUDANTES
Editora: BRASILIANA
Ano: 1986
“Tomara que caia
um haikai
na tua saia”
118
119
Coletânea
Antonio Carlos sampaio Machado
A
NTONIO CARLOS SAMPAIO
MACHADO nasceu em União/PI.
Bacharel em Letras pelo UniCeub (2001),
editou o Período da Língua Portuguesa.
Filiado à União Brasileira dos Escritores/
UBES (secção do Piauí), é também membro
correspondente da Academia Taguatinguense
de Letras. Publicou em 2003 o livro “Trovas & Haicais”. Neste mesmo
ano fundou a ONG CIAPIB (Comitê Independente de Apoio às
Artes do Piauí e do Brasil), que agora se chama Comitê Independente
de Apoio às Artes do Brasil/CIAB.
Candanga
Trovas Candangas
(fragmentos)
Canta, canta! Oh! Ceilândia
Hoje é teu belo dia
Teu mar é céu;
E tua bela melodia!
Cada quadra muita arte!
Teu povo caminha sereno
Tens sintonia com marte
Esse dote não é pequeno.
Bela vista panorâmica
Cidade de vocação;
Demonstra que é dinâmica;
Seus filhos em oração!
Tem viola e bom violeiro
Essa terra dá bons frutos
Há um passo bem certeiro
Das meninas nos estudos!
Candangos aqui vieram!
Somaram ricos talentos;
Na construção souberam
Desenhar em suaves ventos!
bibliografia:
120
Título: TROVAS & HAICAIS
Editora: PROCOEL/ATL
Ano: 2003
Na aclap hoje tomo posse
Com os amigos confrades!
Prazer, orgulho ela torce:
É a musa! E meus compadres?!
121
Coletânea
Antonio Garcia Muralha
A
NTONIO GARCIA MURALHA
nasceu dia 21 de março de 1948 na
Estação de Douradoquara, município de
Monte Carmelo do Triângulo Mineiro.
Filho de Sigismundo Garcia e Domitildes
Rodrigues, com os quais veio para Brasília em
1964 – ano do fatídico golpe militar. Antes de
se formar em Letras e tornar-se professor e economiário, foi balconista
do antológico Bar Estrela. Devido ao seu engajamento no movimento
estudantil dos anos 70, foi preso e torturado pela ditadura militar. Sua
trilogia literária versa principalmente sobre Taguatinga (“Ta’wa’tiga”) e
Ceilândia (“C.E.I. Land”), cidades onde sempre morou e trabalhou; o
que não o afastou da temática universal, influenciado pelo seu patrono
poético Augusto dos Anjos. Por ser considerado o maior poeta da
história local, é também chamado de “POETA MURALHA, o Imortal
da Poesia Candanga”.
bibliografia:
Título: VERSO É VERSO O RESTO É PROSA
Editora: GRÁFICA SATURNO
Ano: 2008
Candanga
C.E.I. “Land”
(Fragmentos)
Ceilândia... lândia dos filhos das aves de arribação
Que aos grandes bandos vieram das bandas lá do sertão
Nas asas dos paus-de-arara, nos lombos de caminhão
Fazendo curvas rasantes, voando bem rente ao chão
Com a ajuda de Padim Ciço, padrinho de Lampião
Sertanejos retirantes da colheita de carvão
Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão!
Ceilândia... lândia dos filhos das aves de arribação
Que construíram Brasília, o orgulho deste torrão
Torrão que também é deles, mas que nem sabem quem são
Pois que empenhados nas obras, com toda dedicação
Nem em sonhos construíram sua própria habitação
Por isso em cada caixote tinha um barraco-embrião
Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão!
Ceilândia... lândia dos filhos das aves de arribação
Que transformavam caixotes em telhas de barracão
Crescendo o Plano Piloto nas vilas em progressão
Na IAPI, na Tenório, na Mercedes da ilusão
Formando o maior complexo da mais famosa invasão
Que crescia na medida em que crescia a migração
Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão!
Ceilândia... lândia dos filhos das aves de arribação
Abre as portas, Taguatinga! Lá vem mais um, meu irmão!!!
(*) Poema épico candango originalmente escrito em 1971 e publicado pela primeira vez em 1984.
122
123
Coletânea
Antonio miranda
Candanga
Na Academia de Letras
*Poema do Barão de Pindaré Júnior
(pseudônimo de Antonio Miranda)
Usava dois ternos,
A
NTONIO LISBOA CARVALHO
DE MIRANDA nasceu dia 05 de
agosto de 1940 em Bacabal/MA. Está em
Brasília desde 1967. É mestre em Ciências
da Informação, doutor em Comunicação e
professor da Universidade de Brasília/UnB.
É também poeta e dramaturgo. Publicou
em 1971 o clássico poema “Tu País Está Feliz”, já traduzido em mais
de dez idiomas e encenado em mais de vinte países, especialmente no
continente latino-americano. Atualmente, ocupa o cargo de diretor da
Biblioteca Nacional de Brasília, responsável pela I Bienal de Poesia de
Brasília – I BIP/2008.
com intermitência:
um, cinza,
o outro, preto;
um, para o chá das cinco,
o outro, com igual freqüência,
para o enterro dos imortais.
bibliografia:
124
Título: POEMÁRIO
Edição: I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA
Ano: 2008
125
Coletânea
Arlete Sylvia
A
RLETE SYLVIA nasceu em Belém
do Pará no dia 5 de julho. Graduada
em letras pelo UniCEUB, é professora
e aluna de música. Trabalhou por muitos
anos no Ministério da Educação/MEC e
na Universidade Católica de Brasília. Foi
também voluntária do Centro de Valorização
da Vida/CVV. Sempre foi apaixonada pelo romantismo das poesias,
porém somente agora com o incentivo de amigos, tomou iniciativa
de mostrar a todos o seu lado de escritora, para deleitá-los com este
“Hino ao Amor”. Além da Academia Ceilandense de Letras, faz parte
da Associação Nacional de Escritores/ANE. Seu patrono literário é
o médico paraense Sérgio Martins Pandolfo, para quem escreveu o
poema aqui publicado.
BIBLIOGRAFIA:
Candanga
Mãos Abençoadas
Que Deus abençoe sempre suas mãos!
E elas possam trazer felicidade.
Mesmo convivendo com seres não-sãos,
Elas demonstram toda a sua bondade.
Quando nós vimos a esta Terra,
Todos temos destinada uma missão,
A sua é grandiosa nessa era.
É sublime, pois exige o coração.
Coração que vive tão escondido...
Onde só o dono sabe o que sente,
Tristeza, alegria, amor contido,
Porém a emoção se faz presente.
Feliz de alguém que nasceu para brilhar;
Mãos que sabem operar e escrever.
Que palavra eu teria pr´exaltar...
Quem foi abençoado desde o nascer.
Título: UM HINO AO AMOR
126
Editora: THESAURUS
Ano: 2006
127
Coletânea
Astrogildo Miag
Candanga
Chama Apagada
(Por ocasião da morte de Leonor Regis)
A
STROGILDO
MIAG
REGIS
BARBOSA nasceu dia 25 de novembro
de 1955 em Remanso/BA. Após vinte anos
em Salvador, capital do Estado, mudouse para Brasília, onde é servidor público e
membro titular da Academia Taguatinguense
de Letras. É autor de cinco romances
imbuídos de lirismo e de humor, marcas maiores do escritor. Publicou
em 2007 o livro “Era uma vez um Comunista”. Dedicando-se com
intensidade à prosa, o autor também se aventura pelos versos. Da sua
obra poética praticamente inédita brinda nossos leitores com “Chama
Apagada”.
bibliografia:
128
Título: MEMÓRIAS DE UM COROINHA
Editora: GUARÁ
Ano: 2005
O quarto ficou vazio.
A cama já não existe.
A mala de tábuas largas
onde se guardava a mortalha
está vazia.
As sandálias que pouco usava
panos, colchão abandonados.
E o quartinho no fundo da casa
perdeu toda a originalidade.
O gosto amargo, velho;
o rosto desfigurado, magro;
o ar abafado
os gemidos lacrados
os pedidos frágeis
o corpo imóvel
os móveis
o banco de cabeceira
o chão sujo negro
acostumado sem água
desde que adoecera;
os braços magros
compridos
paralíticos!...
Tudo mudou.
Pouco ainda existe.
O velho candeeiro de asas
secou o pavio.
Sua chama tênue
confundiu-se
com o reflexo de muitas velas
e morreu...
- Morreu com ela.
129
Coletânea
Carlos Augusto Cacá
Candanga
Margarida Alves
Lá estão elas rompendo a estrada.
Deixam distantes seus dias risonhos.
c
ARLOS AUGUSTO CACÁ é
formado em Sociologia pela UnB.
Escreve poesias, contos e artigos sobre
cultura. Organiza recitais em praças, cafés,
bibliotecas e mobilizações de trabalhadores.
Publicou em 2006 o livro “Máscaras” (contos
e crônicas). Valoriza a linguagem popular
“pela sua atitude amorosa aos que lutam por uma nova sociedade”. Fez
parte do grupo de teatro Retalhos e já foi presidente da Confederação
Nacional de Teatro Amador. Integra a Tribo desde quando foi fundada
em 2000 (grupo multicultural que mensalmente realiza saraus e edita a
revista homônima “Tribo das Artes”).
Já desistiram dos contos de fadas.
Hoje cultivam os seus próprios sonhos.
Lá estão elas cerrando fileiras.
Trazem enxadas e foices nos ombros.
Fadas madrinhas se tornam guerreiras.
Marcham por sobre seus próprios escombros.
Se já não têm o destino nas mãos,
Se, sob os pés, lhes retiram o chão,
Ainda assim vão em busca da vida.
Se lhes acuam, empurram pra morte,
Criam desvios, mas mantêm o norte.
bibliografia:
Seguem marchando feito Margarida.
Título: FADAS GUERREIRAS
Editora: LGE
Ano: 2003
(*) Homenagem à líder dos trabalhadores rurais sem terra de Alagoa Grande/PB que foi assassinada em
12 de agosto de 1983 e cujo nome hoje é o símbolo da Marcha das Margaridas.
130
131
Coletânea
Chico Morbeck
c
HICO (FRANCISCO FERREIRA)
MORBECK nasceu em Inhumas/GO
e reside em Brasília desde 1960. Professor
de Artes Cênicas, em 1972 montou no
SESI de Taguatinga o espetáculo “Prometeu
Acorrentado”, de Ésquilo. Em meados dos
anos 70, fundou o grupo Favela Teatro
Popular, onde dirigiu “Lampião em 2 Tempos” e “A Farsa do Delegado”.
Já na década de 80 – pulando sua história política - organizou o projeto
Mandacaru, bem como o projeto Marimba, ambos na cidade satélite
de Ceilândia. Atualmente, além de coordenar um curso de idiomas,
prepara o lançamento de um CD e do livro “Confissões Vermelhas”.
132
21 de Abril
Ninguém me imagina triste
À espera de alguém
Só me imaginam gigante
Com a certeza dos vagões no trem
Ninguém me imagina pequeno
A cair nos braços de um bem
Só me imaginam colosso
Com os fuzis nas batalhas que vem
Ninguém me imagina frágil
Como quem não sabe se o amor vem
Só me imaginam mãe gentil
Com as pedras que a montanha tem
Assim liberto, assim prisioneiro
Vou batucando no compasso da espera
Logo após o último desfile de carnaval, sou eu
No minuto seguinte da bola no fim do jogo, sou eu
Nas noites de domingo antes do início das batalhas, sou eu.
Brasil: uma esperança em cor de sangue
Um retrato em tom de mangue.
bibliografia:
Candanga
Título: NASCIDO AQUI
Edições: FAVELA PRODUÇÕES
Anos: 1979
Naquele minuto...
após a partida do trem.
Naquela felicidade...
Prometida pelas manhãs que vêm.
133
Coletânea
Clodo Ferreira
Candanga
Mentira da Saudade
A frente da casa é bem menor
Aquela janela é uma só
c
LODOMIR FERREIRA piauiense de
Teresina, nasceu em 1951. Veio com a
família para Brasília em 1964, residindo por
quatro anos em Taguatinga, cidade-satélite
na qual iniciou sua carreira artística. Em
1972 venceu o Festival de Música do CEUB,
quando conheceu o cearense Raimundo
Fagner, intérprete de “Revelação” - seu sucesso de referência.
Compositor, com três discos solos e seis outros lançados em parceria,
é autor de mais de 100 músicas gravadas por nomes da MPB como
Zizi Possi, MPB4 e Dominguinhos. É doutor em História Cultural
e professor de Comunicação da UnB. Em 2000 dirigiu o vídeo “J.
Borges, cordel e gravura”, depois transformado no livro “J.Borges por
J.Borges”.
Aberta no olhar perdidamente
E tinha uma rua ao redor
A usina tocava, e o resto é pó
Grudado no olhar eternamente
Rever a paisagem na lembrança
Aumenta o desejo e a esperança
Mas não traz de volta uma cidade
Tirando as pessoas encantadas
bibliografia:
134
E alguma alma bem amada
O resto é mentira da saudade.
Título: J.BORGES POR J.BORGES
Editora: UnB
Ano: 2000
135
Coletânea
Dinorá Couto
D
INORÁ COUTO CANÇADO
nasceu em Bom Despacho/MG.
Está em Brasília desde 1974. Professora,
dinamizadora de bibliotecas e incentivadora
de leituras. Publicou em 1997 o livro
“Revolucionando Bibliotecas” e atua como
voluntária na Biblioteca Braille Dorina
Nowill. Participa ativamente de congressos nacionais e internacionais,
sempre levando as experiências de leituras do DF, já com alguns
reconhecimentos: Destaque ODM 2005, Cidadã Honorária, Mérito
Espírito Candango, Cidadã de Ouro e finalista do projeto do MEC
VivaLeitura.
bibliografia:
136
Título: REVELANDO AUTORES EM BRAILE
Editora: BIBLIOTECA DORINA NOWILL
Ano: 2001
Candanga
Beleza que Encanta
Protegida pela UNESCO, uma das mais belas cidades
A maior realização de um sonho modernista
Tombada como patrimônio cultural, assim é Brasília.
Recorde o início desta história, os espaços, as obras,
Incluindo até árvores, um tombamento bem singular.
Monumental, o Eixo, a avenida mais larga do mundo
Outros como o Eixão, os eixinhos e até o eixo rodoviário.
Na beleza dos palácios, da ponte JK e Lago Paranoá
Inúmeras outras nos encantam, os vitrais, cidade-parque,
O Catetinho, a Catedral, os ipês floridos, o cerrado!
De prédios do governo local, Memorial JK - a oeste
A Espalanada dos Ministérios, Palácio do Planalto, Congresso - a leste.
Hoje, com setor novo, o Complexo Cultural da República
Uma dupla obra, com Museu e Biblioteca Nacional.
Mais cultura, com Teatro Nacional, o Festival de Cinema...
A construção alta da cidade, com mirante: a Torre de TV.
Na grandeza da ação de Juscelino Kubitschek de Oliveira
Ilustres nomes como Niemeyer, Lúcio Costa, Athos Bulcão
Deram vida e beleza à Brasília: cidade-inovação
A partir de um sonho, de ser a capital do país
Da plena integração arte com arquitetura surge Brasília
Eleita patrimônio, beleza que encanta e nova capital da cultura.
137
Coletânea
Candanga
Elton Skartazini
Samambaia
Deixo
na poeira
J
OSÉ ELTON SKARTAZINI nasceu
dia 08 de dezembro de 1961 em David
Canabarro/RS. Formado em Jornalismo, é
editor, escritor, crítico de música, fotógrafo,
cenógrafo, ator, escultor, artista plástico e
produtor cultural. Veio de Porto Alegre para
Brasília em 1989 – ano do assentamento de
Samambaia – como concorrente do Festival de Brasília do Cinema
Brasileiro com o curta “Van Gogh” – interpretado pelo próprio. Lançou
em 1997 o projeto “O Grande Quadro” de difusão cultural geral da
Samambaia, cidade onde mora desde a sua criação e onde hoje fica o seu
histórico ateliê candango.
gravado o meu rastro.
Trago
no meu rosto
misturado suor e lágrimas.
Concretizo
o meu sonho
com areia, cimento e ferro.
bibliografia:
Enquanto
ao meu redor
138
se agiganta uma cidade.
Título: O GRANDE QUADRO
Edição: PRÓPRIA
Ano: 1997
139
Coletânea
Emanuel Lima
Candanga
Hino à Ceilândia
Cidade construída com energia
Sobre um terreno cheio de erosão
É uma prova de grande valentia
De sua varonil e justa população
e
MANUEL MAGALHÃES LIMA
nasceu dia 02 de outubro de 1955 em
Caicó/RN. Está em Brasília desde 1967.
Mudou-se para o Canadá em 1973, de onde
–“ para matar a saudade do torrão nacional” –
fundou a Liga dos Poetas Brasileiros, da qual
é seu presidente e correspondente histórico.
Diplomado em Magistério, é professor, escritor e tradutor. Publicou
em 1985 a primeira novela candanga de época “A Lua Está na Moda”.
Por residir no setor entre bairro de Taguatinga & Ceilândia, é conhecido
como “O Maior Cronista da Tailândia Brasiliense”.
Ceilândia! Oh! Ceilândia!
Por ti sempre cantaremos!
Ceilândia! Oh! Ceilândia!
A teu lado sempre estaremos!
Teu comércio e tua indústria
São conhecidos no mundo inteiro
Todo o povo alegre desfruta
Este rincão todo brasileiro
Ceilândia! Oh! Ceilândia!
Por ti sempre cantaremos!
Ceilândia! Oh! Ceilândia!
A teu lado sempre estaremos!
A beleza de tuas mulheres
bibliografia:
A coragem de teus homens
Atraem de todos os lugares
Título: A LUA ESTÁ NA MODA
Editora: ATL/FAC
Ano: 2006
Muitos imigrantes de renome
Ceilândia! Oh! Ceilândia!
Por ti sempre cantaremos!
Ceilândia! Oh! Ceilândia!
A teu lado sempre estaremos!
140
(*) Concurso oficializado pela OS n° 93/2001 da Administração Regional IX de Ceilândia.
141
Coletânea
Ênio Rudi Sturzbecher
Candanga
Trabalho!
São todas essas águas
mergulhando entre montanhas e pedras
ê
NIO RUDI STURZBECHER nasceu
dia 17 de novembro de 1955 em Mondaí/
SC. Credita seu sobrenome - de difícil
pronúncia - à família de imigrantes alemães.
Está em Brasília desde 1974. Licenciado em
Geografia e pós-graduado em Administração
Escolar. Professor muito envolvido com
as causas ambientais, já foi por duas vezes diretor de escola pública.
Costuma dizer que “escreve poesia para desintoxicar o espírito”.
Publicou em 1997 o livro “Somando Perdas”.
- perdas irreparáveis - sujas da vida
que arrancam das encostas
onde homens trabalham pela vida!
Pela vida sem tempo de riso
trabalha o homem no campo e,
o campo exaurido é prenúncio de morte,
não apenas a morte de si mesmo,
mas mesmo de quem deseja a fartura!
Tão imbecil é o ser humano
com toda sua inteligência!
suas grandes conquistas são tão fúteis,
fáceis históricas de homens brancos,
“limpando a terra”, acumulando bens inúteis!
Trabalha o homem no campo,
trabalho duro entre pedras, montanhas,
bibliografia:
vales e vontades desperdiçadas...
desrespeito de princípios,
142
final de temporada de caça
Título: SOMANDO PERDAS
Editora: ASEFE
Ano: 1997
carcaças descarnadas de homens
mergulhados na utopia da vida
passageiros inexoráveis da síndrome da fome!
143
Coletânea
Gonçalo ferreira
G
ONÇALO FERREIRA DA SILVA
nasceu no dia 20 de dezembro de
1937 na cidade de Ipu/CE. Fundador e
presidente da ACBL - Academia Brasileira
de Literatura de Cordel, é autor de mais de
duzentos opúsculos de literatura de cordel,
além de ensaios, textos críticos e inúmeros
artigos para revistas, jornais e anuários acadêmicos. Algumas de suas
produções já foram vertidas para idiomas importantes como francês,
inglês, alemão e japonês.
Senhor Livro
(fragmentos)
Dedico ao senhor meu livro
eterno e sincero amor,
ele me ensina em silêncio
sem ar de superior;
por ser meu fraterno amigo
antes de dormir eu digo:
- Vou guardar meu professor.
Confidente verdadeiro,
companheiro e aliado,
portanto querido livro
eternamente obrigado,
pois fraternalmente mudo
o senhor me ensina tudo
humildemente calado.
Obrigado, senhor livro,
pelo seu grande valor;
só como mestre em carne e osso
não se chega a ser doutor;
mesmo depois de formados
nós somos sempre obrigados
a consultar o senhor.
Difusão Cultural:
Instituição: ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DE CORDEL
Fundação: 7 DE SETEMBRO DE 1988
Edições: MILART - RJ
Da inspiração mais pura,
No mais luminoso dia,
Porque Cordel é cultura
Nasceu nossa Academia
O céu da literatura
A casa da poesia.
144
Candanga
Como Confúcio o senhor
faz bem sem olhar a quem
e sem esperar jamais
recompensa de ninguém;
o título, com mil louvores
de “professor dos doutores”
ao senhor cai muito bem.
145
Coletânea
Gustavo Dourado
a
MARGEDON
(pseudônimo
d e F R A N C I S C O G U S T AV O
D E C A S T R O DOURADO) nasceu dia
18 de maio de 1960 em Ibititá/BA. Está em
Brasília desde 1975. Diplomado em Letras,
é professor de Português e autor de onze
livros. É produtor cultural e membro de
várias academias e entidades socioculturais. É ainda Presidente Emérito
do Sindicato dos Escritores do DF. Participa ativamente de feiras do
livro me Brasília, no Brasil e no exterior. Em 2000 inaugurou a Estante
do Escritor Brasiliense, na Biblioteca Central da UnB. Recentemente,
participou do filme “A Poesia do Barro.” Como autor de centenas de
folhetos de cordel, improvisa e declama brilhantemente. Apresentou
originalmente o “Cordel do Amargedon” no I Festival Nacional de
Cordelistas e Poetas Repentistas (Ceilândia/DF, agosto de 1980).
bibliografia:
146
Título: CORDÉLI@
Edição: INTERNET
Ano: 2008
Candanga
Cordel do Amargedon
(fragmentos)
Pra começo de viagem
Preciso me apresentar
Sou poeta do destino
Uma história vou contar
Da Guerra do Amargedon
Que ao mundo vai transformar.
Surge a grande meretriz
Babilônia, a grande musa.
O caos se espalha na Terra
A multidão fica confusa
Sorve a taça de sangue:
Que a Besta-Fera U.$.A
Refaço a visão do apocalipse
Do profeta São João
A cidade dos remidos
A musa da salvação
O berço da eternidade
A glória da perfeição.
A Terra fora dos eixos
Em grande transformação
Terremoto e hecatombe
Maremoto e furacão
Ondas gigantes no Mar
E a fúria do vulcão.
Não se fala em poesia
Só se vê corrupção
Filhos desrespeitam os pais
Cresce a prostituição
Comanda a ditadura:
Com tortura e repressão.
O egoísmo não morreu
Faz o homem se matar
Avareza e mentira
O homem a enganar
Usura e lucro fácil
O homem a explorar.
Os ricos estão mais ricos
Muita gente a roubar
Desfalcam o nosso erário
Sem ligar para o azar
Exploram o dia todo
Para o tesouro aumentar.
O homem não tem remédio
É um eterno carniceiro
Desde os tempos da caverna
Tem mania de guerreiro
A Guerra do Amargedon
Abalará o mundo inteiro...
147
Coletânea
Ildefonso Sambaíba
Candanga
Esta Língua Portuguesa
Ela é feminina
Elo masculino
i
LDEFONSO PEREIRA DE SOUZA
SAMBAÍBA nasceu dia 23 de janeiro
de 1953 em Grajaú/MA. Está em Brasília
desde 1972. Servidor público, é doutor em
Filosofia, mestre em Educação e bacharel
em Comunicação Social. Foi jornalista
responsável pelo periódico “Escriba” do
SEDF e ex-funcionário da Imprensa Nacional. Atualmente, assina a
coluna “Ciência ponto Consciência” para o jornal Linha de Frente.
Publicou em 2000 o livro “Buquê de Urtigas”. É membro da Academia
Taguatinguense de Letras e da Associação Nacional de Escritores.
Elo ou ele?
A poeta é fêmea
O poeto macho
Por que não?
Eu poetizo (z)
Ela: poetisa?!
bibliografia:
Nós poetizamos
Título: QUEM MATOU AS GAZELAS?
Editora: SER
Ano: 2004
Têm razão...
148
149
Coletânea
Jerônimo de Caldas
j
ERÔNIMO GENOILTON DE CALDAS nasceu dia 02 de março de 1962
na Paraíba. Além de Brasília, já morou no
Tocantins e em São Paulo, onde se tornou
colunista do jornal Gazeta do Taboão da Serra.
Sempre de forma independente e contando
com o “apoio cultural” do empresariado
local, já publicou vários livros, inclusive “A História do Nordestino”.
Apoio Industrial:
150
Família: ELEUZA & ANTONIO ReALUMÍNIOS
Filhos: GANDHI, EINSTEIN, MAXWELL,
ARMSTRONG e GORBACHEV.
Candanga
Traças Não Corroem Glória
(fragmentos)
Alfredo Evangelista é o retrato de um típico e genuíno homem
nordestino, nascido numa pequena cidade do sertão. Homem pacato,
que vivia tranqüilo em sua atividade diária, trabalhando a dura vida de
agricultor. Em pleno sol causticante, cultivava sua lavoura com muita
dificuldade, a falta de boas chuvas era um castigo que atormentava aquele
homem com mãos calejadas. Morava numa pequena casa simples, feita
de barro e cipó, com seus cinco filhos, três homens e duas mulheres.
Juntaram as economias de todos, e em pouco tempo concluíram
a obra do tão sonhado poço, pelo fato do lugar de perfuração ser muito
dificultoso, gastaram quase tudo o que tinham, a água só começou a
minar a dezenas de metros de perfuração. Isto levou quase um ano de
trabalho e uma boa parte da aposentadoria de seu Alfredo; todos fizeram
um grande esforço, bem justo, pois tratava-se de uma causa essencial
à sobrevivência da família. Como o custo foi altíssimo - comparado ao
calibre financeiro da família - a esperta filha Augusta teve uma brilhante
idéia (era de se esperar que de sua privilegiada cabeça algo iluminado
sairia): já que não pudera expor os seus artesanatos, venderia-os na
beira da estrada. Todos os dias, percorria uma distância de quase sete
quilômetros, colocava seus trabalhos na sombra de um grande juazeiro
na beira da estrada e ficava à disposição dos viajantes que passavam por
ali.
A estrada era bem movimentada, principalmente pelos que iam
fazer feira na cidade vizinha, ela percebeu com o tempo que poucas
pessoas paravam, resolveu então fincar uma grande placa, ignorando
algumas regras básicas de português, a uns cem metros do local de
venda: “Beba água pura do Alfredo”, estratégia com a qual conseguiu
com que as pessoas curiosas parassem e além de beberem um pouco
da tão falada água - de graça - compraram sem dificuldades os belos
trabalhos da simpática moça.
Os viajantes eram surpreendidos pela criatividade de “marketing”
da garota, que conseguiu assim vender todas as suas artes, e não precisou
fazer exposição alguma para isso!
151
Coletânea
João Bosco Bezerra Bonfim
J
OÃO BOSCO BEZERRA BONFIM
nasceu dia 30 de outubro de 1961 em
Novo Oriente/CE. Está em Brasília desde
1972, onde se formou em Letras pela UnB.
Antes de se tornar Consultor Legislativo
do Senado Federal, atuou como professor
de português e literatura. É mestre em
Lingüística, com pesquisas na área de Análises de Discursos. Publicou
em 2002 “A Fome Não Sai no Jornal”, dentre outros. Na foto acima,
aparece em cima de uma parada de ônibus, num criativo e poético
protesto contra a retirada dos poemas “concretados” na W3 Sul.
bibliografia:
152
Título: O ROMANCE DO VAQUEIRO VOADOR
Editora: LGE
Ano: 2003
Candanga
O Romance do Vaqueiro Voador
(Fragmentos)
Quem em noite de lua
Da Esplanada dos Ministérios
Se aproxima há de ouvir u’a
Voz que ecoa, entre blocos
E um aboio assim sentido
De onde vem? Mistério!
Agora vamos saber
Quem terá sido esse tal
Que despencou do prédio
Cavalgando que animal?
Voou de que maneira?
Gente de bem ou cria do mal?
Que segredo esconde
Essa aparição medonha
Será milagre de Deus,
Será alguma peçonha?
Se quer saber então ouça,
Não faça cerimônia.
Era valente ou o quê?
Aquele Oraci Vaqueiro
Com faca na cinta,
Com ar zombeteiro,
Sorriso entre dentes
Nas artes era treteiro.
Era de janeiro primeiro,
Nos idos anos cinqüenta
Quando voou um vaqueiro
De altura sem tamanho
Espatifou-se no chão
Teve da vida o desengano.
Era pobre operário
Retirante sem valor
Versejador de mão cheia
Analfabeto e ladino
Fazia troça da dor
Na morte tirava fino.
Desse fatal acontecimento
Ninguém jamais teve notícias
Não deu manchete em jornal
Nem registro na polícia
E foi sua sepultura
Desconhecido precipício.
Ei-lo caído de bruços
Para o campo paramentado
Peitoral, perneira, gibão
Chapéu passado o barbicacho
Voou no rabo da rês
Mas só chão havia embaixo.
153
Coletânea
José Orlando Pereira da Silva
Candanga
A Musa
Para o poeta
A alma da mulher
J
OSÉ ORLANDO PEREIRA DA SILVA
nasceu dia 06 de setembro de 1942 em
João Pessoa/PB. Está em Brasília desde 1966,
quando veio transferido como funcionário do
DNOCS. É bacharel em Ciências Jurídicas
e Sociais pelo UniCEUB. Aposentado do
serviço público, estabeleceu sua banda de
advocacia em Taguatinga, local onde mora e integra – como membro
correspondente - a academia de letras. Além de escrever artigos para
a revista “O Elo”, já publicou os livros “Memórias de Mato Grosso”,
“Se Não Fosse o Primo Viterbo”, e “Direito Inspecional do Trabalho”.
Transcende a visão sensual...
Ao desenhá-la em versos,
Transforma-a em deusa,
De sinuosidades perfeitas,
De inteligência angelical,
Cultua-a como se fosse santa,
Materializa sua fantasia
E chama-a de musa!...
Nem todas as mulheres,
Menos ainda as evidentes,
Mas só aquela
Que lhe inspirou os versos:
A mulher singular,
bibliografia:
Título: O DESTINO DE RONCÔ
Editora: ATL
Ano: 2007
154
Única, fascinante,
De quem, mesmo à distância,
O poeta vê a imagem,
Ouve-lhe a voz,
E roga por sua volta,
Para abraçá-la!...
155
Coletânea
Lilia diniz
“Mulher do baque solto
menina da pá virada
de arrepiar na quebrada
mas isso ainda diz pouco
pra entender a metiz
a verve dessa atriz
que além de tudo é poeta
é uma mulher completa
a nossa Lilia Diniz”
Cacá
“Canto tudo o que existe
canto o alegre e o triste
sou poeta popular”
CD Gilson Alencar
bibliografia:
156
Título: MIOLO DE POTE DA CACIMBA DE BEBER
Edições: LAMPARINA K&R
Ano: Março de 2007
Candanga
Encomenda
Indo à feira da Ceilândia
Encontrando meu benzinho por lá
Diz que eu tou quase morrendo
Com uma saudade medonha
Passo o dia a choramingar.
Diz que mande nem que seja
Uma cuia de feijão pra mim
Mas tem que ser do Piauí
Ou intão mande uns cravim
Pra eu mastigar todo dia
E não esquecer dos seus bejim.
Que se quiser pode mandar
Uma buchada temperadinha
Pelas mãos de Rita véia
Com coentro e cebolinha
Que bote assim de quebra
Um punhado de farinha
E tem que ser de puba
Daquela caroçudinha.
Aceito de muito bom grado
Um queijo de coalho de Caicó
Também me lambuzo todinha
Ai, mas se ele vier junto
Pra eu num ficar mais só...
Vixe Maria! Que eu prometo
Devorar ele tim tim por tim tim
No café, no almoço, na janta
Empunhado ele de abraço e de bejim
Tempero nosso imenso querer
Arrisco até uns versim
Mas vê se passa mermo
Passa na feira da Ceí
Traz essa encomenda pra mim.
157
Coletânea
Márcio Cotrim
M
ÁRCIO DA SILVA COTRIM nasceu
dia 14 de março de 1939 no Rio de
Janeiro/RJ. Está em Brasília desde 1972.
É jornalista e escritor. Publicou em 1985
o clássico “Crônica da Cidade Amada”.
Cidadão Honorário de Brasília, foi Secretário
de Cultura e idealizador da “primeira
prefeitura de quadra” na 303 Sul, em 1977. Atual diretor-executivo da
Fundação Assis Chateaubriand, dos Diários Associados, também faz
parte do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.
bibliografia:
Título: CRÔNICA DA CIDADE AMADA
Editora: THESAURUS
Ano: 1985
158
Candanga
Brasília em Cascata
(fragmentos)
Alvíssaras, alvíssaras! Já está funcionando a primeira cascata
numa quadra residencial de Brasília! Novinha em folha, fica na SQSW
101 entre os blocos C e J, no Sudoeste.
A iniciativa foi da prefeitura da quadra, cujo titular é Luciano
Gnone. A vice-prefeita, moradora do bloco J, é a simpática Eneida
Carbonel, com quem conversei sobre o assunto outro dia. O prefeito
estava viajando.
A cascata, inaugurada dia 20 de dezembro passado, custou
cerca de 5 mil reais, pagos pela comunidade. Isso, é claro, sem contar o
paisagismo e a urbanização do local.
É uma graça. Traz umidade, cria delicioso microclima em seu
redor e ainda tem, para torná-la mais simpática, pequena ponte em
japonês e acolhedores bancos que formam - em semicírculo - uma
pracinha. Neles apetece sentar, ler o jornal, namorar ou simplesmente
ficar pensando na vida.
Jovens mamães e seus pimpolhos, senhoras e senhores, vovós
e vovôs estão adorando, ali têm novo refúgio diário. Aproveitam o sol
generoso ao som do barulhinho da água que cai e rola. Um universo
mágico. Em meio à fanfarra pessoal de júbilo com a inovação, permitame lembrar-lhe que é como um sonho realizado.
Sim, porque venho defendendo constantemente, repetidamente,
a construção de chafarizes nas quadras de Brasília. Considero-me um
chafarizeiro de carteirinha - que não é vantagem, nem privilégio numa
cidade que padece, esturricada, quatro meses por ano, de uma seca
feroz. E, como sabe até um bebê de colo, a solução para a seca é água,
simplesmente água.
Não me venha falar em desperdício , que a cidade não pode darse a esse luxo porque as reservas do líquido são escassas: os chafarizes
quase não gastam água. Ela circula e sua evaporação não passa de 3%,
segundo os técnicos da área.
Em vez de chafariz, cascata. Tudo bem, principalmente para as
crianças, as maiores vítimas da seca. Cascata vem do italiano e significa
“pequena queda d´água”.
159
Coletânea
Margarida Drumond
Candanga
Ode ao Poeta do Século no Brasil
(fragmentos)
Em cada poema vejo-te,
oh, Drummond, de Itabira das Gerais.
M
Teus versos inovam,
ARGARIDA
DRUMOND
DE
ASSIS nasceu dia 10 de junho em
Timóteo/MG. Filha de Manuel de Assis
Bowen e Margarida Pacífico Drumond – cujo
sobrenome já diz tudo sobre sua vocação para
a literatura. Está em Brasília desde 1986. É
professora, bibliotecária e membro efetiva da
Academia Taguatinguense de Letras. Já quase chegando aos 49 títulos
do “poeta do século”, sua vasta produção inclui os seguintes livros:
Um Conflito no Amor, Aconteceu no Cárcere, Tempo de Saudade,
No Acerto dos Bondes, Busca de Você, Além dos Versos, Pegadas no
Tempo, Não Dá Pra Esquecer, Isso, Aquilo e Mais um Pouco, Padre
Antonio de Urucânia a sua Bênção, Miragem, Além da Imaginação,
A Busca da Paz, Seria Feliz se Pudesse, Preito a José de Alencar e De
Novo o Amor.
prescindem de uma métrica regular
bibliografia:
Carlos Drummond de Andrade
Título: DE NOVO O AMOR
Editora: PETRY/FAC
Ano: 2006
ou de uma rima,
mas conservam o ritmo,
tão necessário à poesia.
Finda agora o século em que nasceste,
e, no comecinho do novo, no ano dois,
lembramos o teu centenário.
Com justiça foste eleito o poeta do século no Brasil.
Assim, ergo-te este meu cantar:
simples, mas um canto, Drummond, que tu, aí de onde estás,
sentirás é pura poesia.
o espírito de Minas Gerais também me visita.
E mais cautelosa ainda estou.
No emaranhado destes novos tempos,
onde a realidade é mais forte que o sentimento,
confundindo-me sempre,
ergo-te este canto.
160
161
Coletânea
Meireluce Fernandes
M
EIRELUCE FERNANDES DA
SILVA nasceu dia 11 de setembro
em Marabá/PA. Está em Brasília há 37
anos. Formada em Pedagogia, mestrado em
Biblioteconomia, doutorado em Propriedade
Intelectual pela Universidade de Sussex,
Inglaterra (1998) e mestrado em Ciência da
Informação pela Universidade de Brasília (1981). Organizou em 2005
a antologia “Versos & Prosa” para a Academia de Letras e Música do
Brasil. É escritora, diretora de cooperação internacional da Agência
Espacial Brasileira e a atual presidenta do Sindicato dos Escritores do
DF. É também membro efetiva da Academia de Letras do Distrito
Federal.
Candanga
O Mar
O mar estava tranqüilo
Sem vento,
A água morna,
O sol abrasante...
E eu a sonhar,
Um sonho distante...
Vendo as ondas
Batendo nas pedras,
O horizonte infindo...
Qual uma longa espera,
O barulho que vem
De longe...
Não é qualquer barulho,
É aquele que faz vibrar
O mais distante pensamento.
O cheiro é sensual...
Em mim provocante...
Por que não dizer
Afrodisíaco?...
bibliografia:
Título: SONHAR... AMAR... VIVER....
Editora: EDICEL
Ano: 2002
Mar, introspecções e reflexões
Nos traz...
Com tuas pedras, tuas rochas
E o teu brilho,
Que reluz, parecendo cristais.
Meus cabelos esvoaçantes
Como barcos velejantes...
Querem em ti flutuar,
Porém só me resta desejar...
162
163
Coletânea
Menezes y Morais
J
OSÉ MENEZES DE MORAIS nasceu
dia 29 de julho de 1951 em Altos/
PI. Licenciado em História pela UnB,
é professor, jornalista e poeta. Pioneiro
do Sindicado dos Escritores, foi um dos
seus fundadores que em 1977 assinou o
requerimento no Ministério do Trabalho
para a transformação da Associação Profissional dos Escritores do DF
em entidade classista. Publicou em 1975 o livro “Laranja Partida ao
Meio”. Tem participado de inúmeras antologias e integra o já histórico
Coletivo de Poetas candangos.
bibliografia:
Título: COLETIVO DE POETAS
Edição: SINDICATO DOS ESCRITORES/DF
Ano: 1992
164
Candanga
Domicílio Inviolável
tudo me leva a ti camponesa
com teus olhos de framboeza e teucheiro de abacaxi
amo em ti esta manhã revolucionária bem pagu pra lá de passionária
manhã de sonhos de marcas de cervejas em tua boca-cereja
e obturações de porcelana
meu coração liga tripa meu coração legião urbana
clodo clésio climério paus de arara e suburbanos
ita catta preta aldo justo beirão jorge antunes nonato veras
meu coração marginal anuncia a primavera
a estrada da saudade é apenas a estação do encontro
e ondexiste vírgula leia-se pronto!
isto não passa da frituras de linguagem
a tv serve a tua ceia a gente ranga tuas metáforas
preparadas em forno de raio-laser com satélites e microondas
camponesa camponesa bebo de tua sede
banho em tua fonte e persigo os teus desejos
são renato matos regae por nós
regina ramalho nicolas behr cineas santos orai pro nobis
maria da inglaterra otacílio mendes elnora paiva
meu coração caloro nesta vida banda de bandidos
salgado maranhão sérgio duboc gadelha joão baiano vicente sá
todo dia é dia da nossa marginalegria
a utopia é de quem acreditar por derradeiro
a utopia é de quem acreditar primeiro
em matéria de gravidez não existe meio termo
se não somos assim seja vire a mesa
meu coração plebe rude não se ilude
escola de escândalos arte no escuro nexo dia d 5 generais
bsb-h artigo 153 unidade móvel eduardo rangel banda trem das cores
meu coração capital inicial
todos os corações filhos da luta todos os filhos da luta
a vida é domicílio inviolável a vida é nossossonhos nossaboca nossacoragem
o infinito do azul é a senha da vertigem e a vertigem é a senha da viagem.
165
Coletânea
Candanga
Nicolas Behr
n
ICOLAS (NIKOLAUS HUBERTUS
JOSEF MARIA VON) BEHR
nasceu dia 05 de agosto de 1958 no
distrito Diamantino de Cuiabá/MT, filho
de imigrantes alemães. Veio em 1974 para
“a capital da esperança”. Publicou em 1977
seu best-seller mimeografado “iogurte com
farinha”. Em 1982, ajudou a fundar o move
(movimento ecológico de brasília). Em 1986, transferiu suas atividades
ambientalistas pra funatura (fundação pró-natureza). Dedica-se, desde
então, à produção de mudas de espécies nativas do cerrado. É autor do
projeto “Poesia de 2ª” (sarau livre realizado toda 2ª segunda-feira de
cada mês) no Quiosque Cultural do Ivan da Presença. Contemporâneo
de Renato Russo, é tido como “o maior poeta das letras candangas”.
o poeta descobre
as cidades satélites
e em entra em órbita
mas não sabe a diferença
entre taguatinga centro e taguacenter
e eu pensava que ceilândia
bibliografia:
166
Título: OITOPOEMASPARACEILÂNDIA
Editora e Gráfica: TEIXEIRA
Ano: 2009
tinha alguma coisa a ver
com ceilão - não tem não
167
Coletânea
Pedro Gomes
P
EDRO GOMES DA SILVA nasceu dia
09 de abril de 1941 em uma fazenda no
Distrito de Iabetê - antiga Ponte Alta do
Norte/GO, atual Ponte Alta do Tocantins/
TO. Técnico de Administração Pública, em
1977 tornou-se o primeiro membro da sua
família com diploma de curso superior. Veio
para a Cidade Livre de Brasília em 1960. Pioneiro de Taguatinga, faz
questão de declarar que “viu bem de perto o nascimento da Ceilândia”,
onde hoje leciona a sua filha. Participou das antologias da Casa do Poeta
Brasileiro(POEBRAS-DF) “Brasília 25 Anos” de 1985 e “Dez Anos de
Poesia e União” de 1988. Publicou em 2000 o livro “O Tortura”.
bibliografia:
Título: O TORTURA
Editora: GRÁFICA TEIXEIRA
Ano: 2000
168
Candanga
Colo Amado
Colo inigualável
é o da bem amada,
onde declinamos a cabeça
sob o afago abençoado.
Colo benfazejo,
fonte dos desejos
celeiro das inspirações.
Acalento das ilusões.
Colo bonito.
Colo bendito.
Colo anguloso.
Colo formoso.
Colo inigualável.
é o da bem amada,
travesseiros dos prazeres,
fontes dos desejos,
celeiro das inspirações.
Colírio da visão.
Colo belo,
calmante do meu flagelo.
Prêmio do amor sincero.
Colo bonito.
Colo bendito.
Colo anguloso.
Colo gostoso.
169
Coletânea
Popó Magalhães
P
OPÓ MAGALHÃES SOUSA nasceu
dia 03 de junho de 1950 em Santa
Quitéria/CE. Pioneiro candango, está em
Brasília desde 1960, quando aqui chegou aos
oito anos de idade. Diplomado em Letras e
Administração e pós-graduado em Literatura
Brasileira e Língua Portuguesa, é professor da
rede pública de Ceilândia desde os primórdios da cidade. Assim como
“libertário literário”, Popó bem que poderia ser chamado de “o poeta
das epígrafes”. Publicou em 2000 o livro “As Nuvens de Magalhães”.
Além de pertencer à Academia Taguatinguense de Letras é também
membro The Planetary Society, com sede em Pasadena/EUA.
bibliografia:
Título: EU ANJO EU CANALHA
Edição: PRÓPRIA
Ano: 1998
170
Candanga
do Poeta, de Poetas
“Sou criança, quando meu lado adulto se faz necessário uma criança;
sou adulto ou mais que adulto, quando a criança quer tomar conta de mim.”
Incansável poeta,
Poeta improvável.
Na sua mão a arma:
A sua amiga caneta,
Azul, vermelha, qualquer preta...
Voa o seu coração de Cazuza,
Usa os chicos verbos...
Dylan, Leminsky, não arisque.
Muralha, Nicolas, Popó sem pó,
Sem dó, sol maior... e voz do fundo,
Do mundo imundo...
Trova aos sábados em Brasília e Poa,
Taguatinga, Ceilândia-boa.
E no álcool das piscinas,
Acorda suas meninas, lágrimas nas retinas.
Chora,
Canta,
Bebe,
Maldiz,
Não diz...
Feliz,
Infeliz,
Poeta incansável...
Boêmio, menino,
E talvez um destino...
171
Coletânea
Sandra Fayad
Candanga
Acróstico do Tamanduá Bandeira
Tua figura não se classifica de beleza.
Aparentas ser até bicho desagradável,
s
ANDRA FAYAD nasceu dia 15 de
fevereiro em Catalão/GO, filha de
família sírio-libanesa. Candanga de coração,
guarda as boas recordações do tempo em
que lecionou para crianças da Vila Tenório
antes de serem removidas para a Ceilândia.
Economista por formação e cronista por
vocação, atua como colunista em vários portais, revistas e jornais
virtuais, além dos textos publicados no Diário de Catalão a partir das
pesquisas de observação da sua Horta Comunitária experimental. Foi
deste projeto que saiu a publicação do livro “Animais que Plantam
Gente”. Tem participação nas seguintes coletâneas: “Antologia dos
Escritores Brasileiros” (2006), “Roda Mundo” (2007) e “Navegantes
das Letras” (2008).
Mas és um ser como eu, com certeza.
Animal que sente, ama. És afável!
No habitat, atacas apenas uma zona:
Depredador de cupins e formigueiros,
Usando patas com garras e linguona,
Alimentas teu corpo por inteiro.
Bonito é o teu papel na natureza.
Ao lado do tatu e do bicho preguiça,
No reino dos Xenarthra, és realeza.
De insetos vives, mas se fogo te incendeia,
Esturricado ficas, sem chance de defesa.
Investir em ti, tirar-te dessa intricada teia,
bibliografia:
Recuperar tua espécie será grande proeza,
A consagrar político, cientista e até princesa.
Título: ANIMAIS QUE PLANTAM GENTE
Editora: LGE
Ano: 2008
(*) Referência ao incêndio de 2007 no Parque Nacional de Brasília
que exterminou inclusive os tamanduás em fase de reprodução.
172
173
Coletânea
Candanga
Tetê Catalão
Fala Satélite
(fragmentos)
Fala Ceilândia
Fala satélite
T
ETÊ VANDERLEI DOS SANTOS
CATALÃO nasceu dia 22 de novembro
de 1948 no Rio de Janeiro/RJ. Veio para
Brasília em 1972. Apesar de nunca ter escrito
seu próprio livro, destacou-se como um dos
protagonistas do histórico Projeto Cabeças;
além das destacadas participações nas
antologias alternativas candangas da “Ebulição da Escrivatura” (1976)
e dos “16 PoRRetas” (1979). Hoje, além de jornalista profissional
brasiliense reconhecidíssimo, atua como fotógrafo amador cultural
discretíssimo.
Fala para a elite
Fala para plebe
Fala e cala
Fala para quem te impede
Fala satélite bota barro no carpete
Berra no acrílico da maquete
Periferia bracelete do plano e seu piloto
Plana satélite - mete a gilete no joguete - dá o troco
bibliografia:
Título: 16 POrrETAS
Editora: SIND. JORNALISTAS
Ano: 1979
174
Éter satélite - sonhos e buscas - boca de filete
Desmente essa cultura lanchonete - faz piquete
Brota satélite - para não ser curral nem marionete
Mostra que pode - mata a sede - arrisca a pele, mostra o bode
Faz satélite e vai ser célebre - celebre!
175
Coletânea
Valnira Vaz
Candanga
Alheamento
TÊNUES imagens vindas e findas,
Desvelam-se ao meu alhear-me
V
ALNIRA DE MELO VAZ nasceu dia 30 de outubro em Recife/
PE. Está em Brasília desde 1962. É diplomada em Psicologia e
atua como professora no Centro de Ensino Médio 10 da Ceilândia,
onde integra - com os demais educadores - o projeto literário ADIP
(Academia Dez da Imortalidade Poética), responsável pela publicação
da coletânea escolar “Celebrações Poéticas” e que contou com o
apoio (e reconhecimento) da UNESCO e do Ministério da Educação.
Publicou em 1994 o livro “Turmalina”.
E nesse cicio espontâneo, inda que lindas,
Segredam sonhos ao desperto estagnar-me.
Para onde vai o pensamento
Quando o olhar passa pela janela?
Onde o vagar do meu incero olhar
Pinta cores em distante tela?
Que rumos descreve o pensar liberto,
Solto, ao contemplar a lua tremeluzente
Nas águas de regato incerto?
Como a consciência da consciência ausente?
bibliografia:
Título: TURMALINA
Editora: THESAURUS/ASEFE
Ano: 1994
176
Só sei que deliro.
E nesse devaneio creio o que crio,
Dando, a essa seda, a razão
Esvoaçante da emoção.
177
Coletânea
Xiko Mendes
X
IKO
MENDES
(FRANCISCO
DA PAZ M. DE SOUZA) nasceu
no emblemático 1968 (“o ano que não
terminou”), em Formoso de Minas Gerais.
Mora na histórica cidade de Planaltina desde
1989. É professor de História e Filosofia da
Secretaria de Estado da Educação do Distrito
Federal. Pós-graduado em Ecologia Urbana pela Universidade Católica
de Brasília, é também muito conhecido como poeta e historiador
cerratense. Em parceria com o professor Ronaldo Mousinho, organizou
a coletânea do “Projeto Aluno-Escritor/Planaltina” (ASEFE/1996).
Publicou em 2002 seu épico livro “Formoso de Minas no final do Século
XX – 130 Anos” (uma paidéia de quase mil páginas contendo até um
“hino” à sua terra natal). É membro fundador da Academia Planaltinense
de Letras/APL e ainda faz parte da Academia de Letras e Artes do Planalto/
Luziânia-GO, da Academia de Letras do Noroeste de Minas/Paracatu-MG
e da Associação Nacional de Escritores/ANE-Brasília.
bibliografia:
Título: O MITO DA INTERIORIZAÇÃO ATRAVÉS DE BRASÍLIA
Edição: ASEFE
Ano: 1995
178
Candanga
Ler é Viver!
Ler um livro é ignorar fronteiras;
Expor-se a idéias como ao vento;
É derrubar muralhas e trincheiras
Apenas com a força do pensamento.
Ler um livro é esquecer o relógio;
Porque idéias pulsam como as horas;
Transcendem a morte e os necrológios,
Transformam a vida e a nossa história.
Ler um livro na escola ou em casa
É sentir sem perceber o que é liberdade
Porque o livro é como se fosse a asa,
Pois a gente voa em busca de verdades.
Ler um livro é transportar sonhos
No delírio pleno que, em cada palavra,
Me faz ver o quanto me envergonho...
Quando dizem algo do qual não sei nada.
É para isto que sempre leio um livro:
É para saber sempre e cada vez mais.
Com um livro sinto que de fato vivo
Porque viver é não deixar de ler... Jamais!
179
Coletânea
Zé Luiz
Candanga
Fala Povo
Vou relatar o meu pensar
Nesse espaço da poesia
Da agonia que é viver
J
OSÉ LUIZ MUNIZ GOMES nasceu
dia 30 de setembro de 1953 em Coroatá/
MA. Morador pioneiro do Setor ‘P’ Sul da
Ceilândia, orgulha-se de ter ajudado a fundar
a paróquia da Mãe Divina Providência,
aonde até hoje presta seus serviços cristãos.
Publicou em 1999 seu único livro “Renúncia”.
Ex-atleta maratonista, hoje trabalha como feirante na ASFEGUASUL
(a feira localizada entre a Guariroba e o ‘P’ Sul) e acredita piamente na
força comunitária da sua gente.
Nesse pedaço de chão
Fala povo, chora povo
Mas não se cala não
Se for preciso, morra povo
Nesse pedaço de chão
Povo que perde a voz
Não é cidadão
Não pode ficar entre nós
Nesse pedaço de chão
bibliografia:
Povo ameaçado, denuncia
Exerce sua cidadania
Título: RENÚNCIA
Edição: PRÓPRIA
Ano: 2003
O silêncio nunca foi solução
“Oh! Mãe da Divina Providência
Que nos acolhestes com seu olhar
Estenda sua mão e dai-nos proteção”
180
Nesse pedaço de chão.
181
PASSAGEIRO DAS ESTRELAS
À conterrânea de mala paraibana MARIA JOSÉ
A luz que acendeste aqui
Vulcão que não adormece mais
O que espantava em ti
Um lobo acordando a paz
O voo que tentaste dar
Trapézio foi curto demais.
Que mensagem tentaste passar
Si no riso de nosso olhar
Reflete o sinal da dor
Não foi tão natural
A espanhola despencou
E o pedaço da noite
Escureceu sem teu amor
O vento que enfeitava teus cabelos
Te iludiu, te fechou
Tu que enfeitavas a natureza
Aqui para nós, quem te ensinou?
Mumunhas, OLHOS D´ÁGUA, poço azul
O disco avoantes que tu eras
Poeta, lobo sentinela
Si escuta na floresta
A voz do rapaz
Ladeira de águas limpas
Pára-raio da nobreza
Sereno de teu olhar
Acendes nossas fogueiras
Quando formos acampar
Presença em todas as fontes
Brisa pra rememorar.
182
Capítulo V
(A SERENATA DA ACAUÃ)
Os Pioneiros
das
Letras Candangas
183
Coletânea
Stella Rodopoulos
Jamais verão a morte
dos meus sonhos!...
P
elo fato de ter sido eleita pela comunidade
literária candanga como “A Patronesse da
27ª Feira do Livro de Brasília edição 2008”- e
também em atenção à solicitação feita pelos nossos
estimados colaboradores Gustavo Dourado e Maria Félix - foi que
solidariamente incluímos aqui o nome desta eloqüente escritora.
STELLA ALEXANDRA RODOPOULOS nasceu dia 05 de outubro
em Itacuruçá, município de Mangaratiba/RJ. Seus pais, naturais da
Grécia, vieram para o Brasil em 1928. Residiu algum tempo em São
Paulo, onde se casou em 1960 e, logo em seguida, veio para Brasília; daí
o epíteto de “pioneira das letras candangas”. Como membro efetiva
da Academia de Letras e Música do Brasil/ALMUB e detentora de
valorosos prêmios, já recebeu a Comenda Carlos Gomes; pelo conjunto
de toda a sua obra, recebeu o Troféu Johan Sebastian Bach; além da
oportunamente desejada Medalha de Ouro da Academia Internacional
de Lutéce, na França. Nossa escritora homenageada ainda pertence
ao Instituto Internacional de Poesia/RS, à Casa do Poeta Brasileiro/
POEBRAS-DF e à Academia de Letras de Brasília.
A Patronesse das Letras Candangas
Candanga
Cordel para Stella
(homenagem do Poeta Amargedon)
Stella: Estrela é...
De grandeza universal
Mãe, mulher e escritora
Vate do transcendental
Nossa Cora Coralina:
Do Distrito Federal...
Pioneira... Bandeirante
Na Capital Federal...
Stella pra lá de estrela
Telúrica-espiritual...
Escritora cristalina:
Criativa e fraternal...
Stella no Reino Encantado
O Cavalinho Sonhador
Filha de Itacuruçá
Mangaratiba, um primor...
Do Rio de Janeiro para o Mundo:
Com suas Pétalas de Amor...
Stella Alexandra Rodopoulos
Serena, da alma pura
Límpida, diamantina
Semeia amor e ternura
Mãe, mulher e pensadora:
Deusa da Literatura...
Os seus pais eram da Grécia,
Divina terra de Platão...
Tem a poesia no sangue:
A arte da transmutação...
Nossa Princesa do Cerrado:
É Rainha do Coração...
Em Paris, cidade-luz...
Stella recebe o louro
Da Academia de Lutèce
Ganha a Medalha de Ouro...
É consagrada na França:
Com um brilhante tesouro...
Uns tempos na Paulicéia
Nossa Sampa capital
Em janeiro de 1960
Em um ato ritual...
Mudou-se para Brasília:
Luz do Planalto Central...
Um exemplo para todos
Do Distrito Federal
Poesia, amor e bondade
Na senda espiritual...
Uma estrela que brilha
No cenário universal...
ESCRITORA PIONEIRA
184
185
Coletânea
Newton Rossi (em memória)
Candanga
Meu Canto Derradeiro
Última Foto: ATL
Data: 2007
e
m reverência ao Poeta Muralha – parceiro de
Newton Rossi no livro “Academia em Dois
Discursos” – é que dedicamos esta página à memória do
último trovador candango. NEWTON EGÍDIO ROSSI, que nasceu
dia 29 de setembro de 1926 em Ouro Fino/MG e faleceu dia 28 de agosto
de 2007. Amigo pessoal do presidente JK, veio de Belo Horizonte
para Brasília em 1960. Como empreendedor, foi proprietário da Loja
Cipal de eletrodomésticos, fundador da Federação Comercial do DF e
diretor do SESC-DF por 25 anos. Teve seu “necrológio”recitado pelo
presidente da Associação Nacional de Escritores Joanyr de Oliveira,
no que se seguiu uma “homenagem crepuscular” com declamações de
Ronaldo Mousinho, Gacy Simas, Rosidete Rose e Donzílio Luiz - este
último, presidente da ACLAP. Por fim, o que mais poderia simbolizar
a presença desse “mecenas candango” nesta coletânea senão a justa,
porém inesperada homenagem que seu nome trouxe ao “primeiro
teatro da Ceilândia”:
Em meu canto derradeiro,
Bendizendo o dom da vida,
Meu coração fica inteiro
Na trova da despedida.
Teatro SESC Ceilândia
TROVas ESCOLHIDAS - livro com a última trova escrita por Newton Rossi.
186
187
Coletânea
Candanga
Clemente Luz (em memória)
Tributo À Memória
Foto: Fernando Luz
Data: 1993
C
LEMENTE RIBEIRO DA LUZ
nasceu dia 22 de setembro de 1920
em Delfim Moreira/MG e faleceu em
17 de outubro de 1999 na Ceilândia/DF.
Pioneiro candango, veio para Brasília em
1958. Escritor e jornalista, tornou-se o
primeiro cronista da nova capital; ofício que exercia diariamente - e de
ônibus - no trajeto de sua residência ao trabalho (Radiobrás) no Plano
Piloto. Tem em sua rica bibliografia “Ombros Caídos” (1942), “Bilino e
Jaca, o Mágico” (1943), “Infância Humilde de Grandes Homens” (1944),
“Aventura da Bicharada” (1949), “O Caçador de Mosquitos” (1956),
“Pedro Pipoca” (1958) “Invenção da Cidade” (1968) e “Minivida”
(1972). Juntamente a esta recente biografia - feita em parceria com o
historiador da literatura candanga Ronaldo Mousinho - estamos reunindo
outras publicações (como os livros reproduzidos abaixo) para o já tardio
“Projeto Editorial Clemente Luz”.
Com a transferência de favelados, promovida pela Comissão
de Erradicação das Invasões, em 1971, cerca de 16 mil famílias foram
transportadas, em caminhões da NOVACAP, da Vila do IAPI, das vilas
Tenório, Esperança, e outras nas cercanias do Núcleo Bandeirante - e
atiradas, com seus pobres pertences - em lotes de dez por vinte e cinco
metros, apenas demarcados por piquetes de madeira, em ruas apenas
delineadas, num loteamento que só se definiu muito tempo depois.
Esse povo sofrido, ainda com as marcas da longa viagem
migratória, e que não encontrou em Brasília o “eldorado” prometido,
deixou a condição de invasor para entrar na posse do direito de
construir a moradia em lote próprio, embora sem condições mínimas
de conforto. Essa marcha rumo à nova terra de Canaã é a história
desse povo migrante, que povoou inicialmente Taguatinga, depois foi
assentado em Ceilândia - nome nascido da sigla CEI.
O Cronista dos Candangos
CEILÂNDIA NASCE UMA CIDADE - MINI VIDA - CEILÂNDIA TEM MEMÓRIA
188
(*) Crônica compilada do livro Ceilândia Tem Memória.
189
Coletânea
Drummond na Ceilândia
p
or uma dessas ironias que a história nos reserva,
aconteceu que, nos idos de 1979, quando
escrevia a “Crônica das Favelas Brasileiras”,
eis que um noticiário sobre “a maior favela do
Brasil” chamou a atenção de CARLOS DRUMMOND DE
ANDRADE (31/10/1902+17/08/1987) para a Ceilândia. E assim
nasceria seu sociológico “prosoema”. Porém, o mais curioso foi a sua
publicação concomitante à evidência do combativo Movimento dos
Incansáveis Moradores da Ceilândia que - naquele período de ditadura
militar - além de lutar por moradia e democracia, também produzia
cultura; e em 1981 lançou o livreto “A Ceilândia Ontem, Hoje... E
Amanhâ?”, contendo o texto inédito do “maior poeta da literatura
contemporânea brasileira”, além das ilustrações dos geniais irmãos
Vieira e dos versos em cordel de Nadir Tavares. Tais coincidências
se deveram à vinculação dos incansáveis com a Ação Cristã PróGente e dessa com a CNBB, que através do Centro Ecumênico de
Documentação e Informação editaria a revista Tempo e Presença,
trazendo por fim o tal “Confronto de Drummond”.
Crônica das Favelas Brasileiras
Candanga
Confronto
A suntuosa Brasília e a esquálida Ceilândia
contemplam-se.
Qual delas falará primeiro?
Que têm a dizer ou a esconder
uma em face da outra?
Que mágoas, que ressentimentos
prestes a saltar da goela coletiva
E não se exprimem?
Por que Ceilândia fere o majestoso
orgulho da flórea capital?
Por que Brasília resplandece
ante a pobreza exposta
dos barracos de Ceilândia
Filhos da majestade de Brasília ?
E pensam-se, remiram-se em silêncio
as gêmeas criações do bom brasileiro.
Revista Tempo e Presença - CEDI
190
191
Coletânea
Niemeyer na Ceilândia
p
or ter sido a “cidade-satélite”
que abrigou os “candangos”
construtores de Brasília e até pela
fama de ser “a capital nordestina do
Planalto Central”, coube à Ceilândia
receber em 1986 a Casa do Cantador
do Brasil: única obra do arquiteto OSCAR NIEMEYER RIBEIRO
DE ALMEIDA SOARES fora do Plano Piloto de Brasília. Por outro
lado, o que poucos sabem é que o “poeta do concreto” se inspirou
na “asa branca” - símbolo dos retirantes da seca - para desenhar o
“palácio da poesia”, conforme evidencia no seu discurso “Os Palácios
e o Candango”. Outro nome também pouco conhecido é LUCAS
EVANGELISTA (o “pioneiro do cordel candango”) que, com a famosa
“Kombi da Literatura de Cordel”, cravou sua imagem na paisagem
cultural local.
A Ceilândia em Cordel
CASA DO CANTADOR - A CEILÂNDIA EM CORDEL - LUCAS EVANGELISTA
192
Candanga
A Ceilândia tem a Origem
da Construção de Brasília
O braço do operário
Do nordeste brasileiro
Edificou a Brasília
Espelho do mundo inteiro
E seus traços arquitetônicos
Brilharam no estrangeiro
Recebeu para seu povo
Uma obra de valor
Projeto de Niemeyer
A Casa do Cantador
Construída em Ceilândia
Pro poeta trovador
Hoje o sonho de Dom Bosco
Foi materializado
Juscelino Kubitschek
Com Lúcio Costa de lado
Oscar Niemeyer entre outros
E o candango operariado
Na entrada do ‘P’ Sul
A Casa do Cantador
Hoje Brasília e Ceilândia
Possuem o mesmo valor
Com as obras de Niemeyer
Brilhando de esplendor
Tudo foi consolidado
A obra com a história
Uma identifica a outra
No registro da memória
Ceilândia foi premiada
Também contando vitória
A vinte e um de abril
Brasília aniversaria
E Ceilândia comemora
Este felicíssimo dia
A Casa do Cantador
Com vate improvisador
Dá festa de poesia.
(*) Cordel do Poeta Gon-Gon declamado na inauguração da Casa do Cantador em 09 de novembro 1986.
193
Coletânea
Gilberto Gil na Guariroba
“O povo sabe o que quer
Mas também quer o que não sabe”
N
em o músico, nem o ministro
GILBERTO
PA S S O S G I L
MOREIRA nunca colocou os pés no barro
deste bairro da Ceilândia que outrora
abrigara as terras da “Fazenda” Guariroba de
Santa Luzia do Goiás, e cujo nome advém de
uma palmeira nativa que, de tão fina, acaba
se resumindo numa espécie de “macaxeira
goiana”, apreciada por essas bandas como autêntica comida típica. Mas,
voltando ao poeta tropicalista, o caso foi que no Dia da Árvore (21
de setembro de 2005) os educadores do CEF 11 resolveram adotar a
“Refazenda” como tema do projeto pedagógico que falava justamente
das origens da Guariroba: a música, a planta e a comunidade. Eis, então,
que surge a idéia de convidá-lo para vir à escola pelo conhecimento que
tínhamos da sua assessora de imprensa, filha do poeta concretista TT
Catalão. O final dessa história foi que descobrimos - além dos pioneiros
- que infelizmente a citação da música se referia a uma outra fazenda,
também aqui do cerrado, porém localizada em Buritis de Minas Gerais.
A Palmeira Nativa do Cerrado
Candanga
Refazenda
Abacateiro, acataremos teu ato
nós também somos do mato
como o pato e o leão
Aguardaremos, brincaremos no regato
até que nos tragam frutos
teu amor, teu coração
Abacateiro, teu recolhimento
é justamente o significado
da palavra temporão
Enquanto o tempo
não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão
Abacateiro, sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem
Seu gosto azedo, cedo
antes que o janeiro
doce manga venha ser também
Abacateiro, serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário da leveza pelo ar
Abacateiro, saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
GUARIROBA.
TROPICÁLIA - 1969 - GUARÁ/C.E.I.
(*) Planta símbolo da CEILÂNDIA, cidade-satélite de Brasília (antiga Fazenda Guariroba).
194
195
Coletânea
A UnB na Ceilândia
N
o contexto histórico da Nova
República - e também
graças
à
gestão
democrática e popular
do reitor Cristovam
Buarque - eis que a
“academia” desce, literalmente, da sua torre
de marfim e coloca seus
delicados pés no chão vermelho da Ceilândia: era a “política de extensão”
que, a partir do MOPUC (Movimento pró Universidade Popular da
Ceilândia) instalou aqui o Decanato da UnB em 1988. Sobressaíram,
então, professores e personalidades que inscreveram para sempre
os seus nomes na memória viva da nossa cidade, como o cineastadocumentarista VLADIMIR CARVALHO & o pioneiro Seu Ermínio
“Incansável”; a alfabetizadora-freiriana MARIA LUÍZA ANGELIM &
o pedreiro Seu Valdir; a jornalista-alternativa ARCELINA HELENA
DIAS & o cartunista Broba; e a socióloga-assistente social SAFIRA
BEZERRA AMMAM & e o cordelista Joaquim Bezerra da Nóbrega..
Campus Sociológico Candango
NÓS DA CEILÂNDIA - OS INCANSÁVEIS - CEPAFRE
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Candanga
Eu Sou Incansável
Você sabe quem eu sou?
Você sabe de onde venho
Pra esta casa que tenho
E ainda não posso pagar
Este lugar de morar?
Venho do Núcleo Bandeirante
Este lugar ali adiante
Vila Tenório, enganado!
Dos amigos atraiçoados
E aqui vim parar
Venho da Vila do IAPI
Ali não pude ficar
O lugar é privilegiado
Eu sou assalariado
Os ricos, posso envergonhar!
Você sabe de onde venho?
Com a filharada que tenho
Lá eu não pude ficar
Do Morro do Querosene
Da Vila do Canavial
Ali não pude ficar
Para não envergonhar
Vim do Morro do Urubu
Da rua do Padre Lino
Ali eu era inquilino
E aqui eu fui jogado
De livre vontade, esforçado
Aonde tenho o meu barraco
Que ainda não pude pagar
Você sabe de onde venho?
Lá da Vila Esperança
Que espera e não se cansa
Por um lugar de morar
Eu sou um incansável!
197
Posfácio
ACLAP, Uma Sigla!
Por fim, eu quero dizer que - muito mais satisfeito do que ter
sido eleito o primeiro presidente desta “academia” - é poder conviver
com artistas de diferentes vertentes em um mesmo ambiente sodalício:
isto, prá mim, é que é cultura popular!
Donzílio Luiz de Oliveira
Como um bom poeta popular, eu também me tornei – desde
muito cedo - um andarilho ou, como dizem alguns, um cidadão do
mundo. Conheci e convivi com grandes nomes da cultura brasileira
e, em especial, com aqueles advindos do querido Nordeste que tanto
já contribuiu na construção dessa rica identidade nacional chamada
Brasília.
Outro privilégio que ostento do alto dos meus setenta-e-uns
anos de vida & versos é a lembrança dos pontos de cantoria que foram
se formando em Brasília desde que aqui cheguei em 17 de janeiro de
1960. Partindo da Vila Amauri, passando pela Cidade Livre até fincar
os pés na outrora “Feira do Pau Seco” da Ceilândia, e de lá conseguir
chegar à almejada construção da Casa do Cantador do Brasil, em 1986.
Uma década depois, lá estava eu lançando o primeiro dos meus
seis livros que hoje tenho publicados. Conheci, então, outras expressões
culturais.
Entretanto, foi na própria Ceilândia que me apareceu a chance
de participar de um desafio diferente: juntamente a outros membros
fundadores da Academia Ceilandense de Letras, iniciamos uma jornada
histórica em 27 de agosto de 2005 numa escola do Setor ‘P’ Norte e, ao
longo de nove meses (que foi “o tempo de uma gestação”, como sempre
nos lembra o Prof. Jevan) percorremos todas as comunidades que
integram nossa cidade, até que, no dia 27 de março de 2006 chegamos
aos 35 componentes (uma vez que a Ceilândia estava completando esta
mesma idade). Porém, o curioso de tudo isso foi que, como nem todos
deste “grêmio literário” tinham livros editados, e muitos eram de outras
linhagens artísticas, fomos obrigados a inovar, e foi aí que me ocorreu
a idéia do nome Academia Ceilandense de Letras & Artes Populares,
o que deu origem à sigla “ACLAP” que, pelo sentido onomatopaico,
quer dizer “palmas, aplauso”.
198
Coletânea Candanga da ACLAP
foi composta em tipologia Original
Garamond, corpo 12/14,4 Pt
e impressa em papel AP 90g
e capa em papel Suprema 240g
na Art Letras Gráfica e Editora.
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UMA “ACLAP” PARA TODOS
...É o que merece cada um e cada uma das pessoas que participaram e/ou
ajudaram na efetivação da nossa COLETÂNEAaclapCANDANGA, pois como
o próprio nome já evidenciava, este livro viria não apenas para configurar
entre mais um compêndio “acadêmico”, mas sim para aglutinar & produzir
a mais bela página já escrita na memória viva das letras ceilandenses e
candangas!
Desde o último dia 27 de março até este 7 de setembro - por meio da suy
generis Campanha de SOLIDARIEDADE Poética - conseguimos propagar,
empolgar e entrelaçar aos nossos ideais os mais representativos nomes da
literatura candanga (ou ao menos, os mais voluntariamente “solidários”),
simplesmente pelo intuito de fazer “o registro de nascimento desse nosso
grêmio literário histórico & popular”.
Acreditávamos que tínhamos escritos raros & inéditos de alto valor históricocultural, e também, que contávamos com os mais talentosos escritores
locais: nos apegamos ao que tínhamos em mãos e fomos à luta. Não
queremos nem pensar na cara – debochada - dos chamados “imortais” da
suntuosa Academia Brasileira de Letras (assim como de seus séquilos locais)
ao rirem da nossa esquálida “proposta de adesão”; e agora..., com que cara
& fardão eles ficarão. Nós é que não temos tempo pra isso, porque estamos
acabando de vir ao mundo das letras, e temos muito o que escrever e fazer
pelo mundo afora.
Por tudo o que já foi feito e o infinito que nos aguarda, só podemos concluir
dizendo aos nossos novos companheiros e companheiras de jornada que
“jamais os esqueceremos” e para sempre os agradeceremos.
Por fim, então, pedimos - perfilados de pé - para todos nós...
PALMAS !!!

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