edição especial para colecionadores
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Candanga edição especial para colecionadores Academia Ceilandense de Letras & Artes Populares 1 Prefácio Copyright 2013 Aclap Editor Manoel Jevan Digitação e Revisão Coletivo de autores Xilogravuras Marcílio Tabosa Editoração Osmi Vieira www.oclubedosom.com.br Pedidos de Publicação Avulsa: Art Letras Gráfica e Editora Ltda. - 3376-1463 Catalogação Bibliográfica: Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) C694col Coletânea Candanga: Academia Ceilandense de Letras & Artes Populares/Manoel Jevan, organizador - Brasília : Arte Letras, 2008. 200p. “Coletânea para Criação da Academia de Ceilândia-DF” 1. Literatura, Brasil. 2. Literatura, Distrito Federal 3. Poesia brasileira. I. Jevan, Manoel, organizador II. Título. II. CDU 82-1 Catalogação na fonte elaborada pela bibliotecária Maria das Graças de Lima - CRB-1 / 608 ISBN nº 978-85-61326-02-9 Fotos extraídas dos títulos supracitados. Todos os direitos reservados aos autores coletaneados. Prefácio ACADEMIA CEILANDENSE DE LETRAS, Um Sonho! Percília Júlia Toledo Desde os meus oito anos, remontando às altas montanhas lá da minha infância no interior das Minas Gerais, que eu já escrevia minhas estorinhas de criança (a primeira, inclusive, foi sobre uma formiguinha que um dia eu vi tropegando de cansaço pelo grande peso da folha que seu corpinho não conseguia carregar, mas que não desistia nunca de tentar); e assim eu também esperava um dia ser uma escritora muito conhecida e admirada por todos. Pois bem, o tempo passou e só agora, na chamada “terceira idade”, foi que vim a publicar o primeiro da meia dúzia de livros que hoje tenho editados. Até que os livros vieram, muitas pessoas passaram a me admirar por isso, mas o dito (re)conhecimento ainda é muito pouco. Tanto é assim que a gente pode verificar aqui na nossa academia como em qualquer outro lugar que são os próprios autores que pagaram para ver publicadas as suas obras, porque ninguém consegue chegar nos tais financiamentos públicos. Talvez até mesmo por essa dificuldade de “viver das letras” foi que comecei a procurar outros escritores (inicialmente só aqui da paróquia do ‘P’ Norte), até que apareceu na minha vida dois professores que marcaram a minha história: o Ronaldo Mousinho da Academia Taguatinguense de Letras e o Manoel Jevan da Casa da Memória Viva. Juntando esses dois com o nosso jornalista João Batista e mais a minha nada pequena “família de artistas” pude finalmente sonhar de olhos abertos e anunciar para todos o meu antigo projeto de uma “Academia de Letras para a Ceilândia”; e aí foi que eu vim perceber que, aquilo que no início era só meu, começou a tornar-se um desejo de muitos; e hoje eu vejo que o que era apenas um sonho no longínquo ano de 2005, tornou-se uma realização coletiva desses 35 autores talentosos e corajosos. Por fim, investida na presidência dessa querida instituição, eu só posso mesmo é pedir a Deus que abençoe cada um de nós com o seu livro publicado e toda a nossa academia com esse feliz sonho realizado: nossa missão está cumprida! A ÇAMENTO D N A L E D O TUM SHOW PÓS ANDANGA COLETÂNEA ACLAP C O POETA NÃO MORREU! Forró PARAIBOLA ANIMANDO O VELÓRIO s) RO (Finado B M E V O N 2 DE COVA BAR PÉ NAguatinga / Ceilândia) Ta Cemitério (ao lado do nonização de enciar a ca Venha pres OROJÓ, M O C IS C SÃO FRAN ango. nd ca o nt o primeiro sa URAL: APOIO CULT ui o normal ACLAP, aq e. fe é ser di rent SUMÁRIO Prefácio Academia Ceilandense de Letras: um sonho!........................................08 Apresentação Fundação da Academia de Ceilândia: sessão solene...............................14 I - Patrono Popular & Libertário ..........................................................17 Francisco Morojó: Poeta Pezão..............................................................18 II. - Acadêmicos Fundadores & Imortais.............................................21 Percília Júlia Toledo................................................................................22 Donzílio Luiz de Oliveira......................................................................26 III - Membros Efetivos & Locais..........................................................31 Adauto de Souza ....................................................................................32 Adelaide de Paula ...................................................................................34 André Rocha...........................................................................................36 Antonio Soares.......................................................................................38 Assis Coelho...........................................................................................40 Chico Ivo ...............................................................................................42 Clinaura Macêdo ....................................................................................44 Conceição Tavares..................................................................................46 Dukaldas .................................................................................................48 Ezequiel Dias Cruz ............................................................................... 50 Gil d’La Rosa ..........................................................................................52 Israel Ângelo...........................................................................................54 João Batista ............................................................................................56 Joaquim Bezerra da Nóbrega ................................................................58 José Antonio...........................................................................................60 Léo Maravilha .........................................................................................62 Manoel Jevan ..........................................................................................64 Mano Lima..............................................................................................66 Marcílio Tabosa ......................................................................................68 Marcos Viana ..........................................................................................70 Mariana Lima..........................................................................................72 Messsias de Oliveira...............................................................................74 Nair Rosa ................................................................................................76 Neftaly Vieira..........................................................................................78 Nina Tolledo...........................................................................................80 Osvaldo Espínola ...................................................................................82 Rapper Japão...........................................................................................84 Ronaldo Mousinho.................................................................................86 Rosana Maria ..........................................................................................88 Sebastião Lima........................................................................................90 Sidiney Breguêdo....................................................................................92 Vaíston.....................................................................................................94 Valdinei Cordeiro....................................................................................96 Vanildes de Deus.....................................................................................98 Valter Farias..........................................................................................100 Vicente de Melo....................................................................................102 IV - Membros Correspondentes & Convidados................................107 Adalberto Adalbertos...........................................................................108 Adélia Coimbras...................................................................................110 Adilson Cordeiro Didi.........................................................................112 Amário Cassimiro ................................................................................114 Ana Paula ..............................................................................................116 Angélica Torres.....................................................................................118 Antonio Carlos Sampaio Machado .....................................................120 Antonio Garcia Muralha......................................................................122 Antonio Miranda..................................................................................124 Arlete Sylvia..........................................................................................126 Astrogildo Miag ...................................................................................128 Carlos Augusto Cacá ...........................................................................130 Chico Morbeck ....................................................................................132 Clodo Ferreira ......................................................................................134 Dinorá Couto ......................................................................................136 Élton Skartazini....................................................................................138 Emanuel Lima.......................................................................................140 Ênio Rudi Sturzbecher.........................................................................142 Gonçalo Ferreira...................................................................................144 Gustavo Dourado.................................................................................146 Ildefonso Sambaíba ..............................................................................148 Jerônimo de Caldas .............................................................................150 João Bosco Bezerra Bonfim ................................................................152 José Orlando Pereira da Silva...............................................................154 Lília Diniz .............................................................................................156 Márcio Cotrim .....................................................................................158 Margarida Drumond ............................................................................160 Meireluce Fernandes ............................................................................162 Menezes y Morais ................................................................................164 Nicolas Behr .........................................................................................166 Pedro Gomes ........................................................................................168 Popó Magalhães....................................................................................170 Sandra Fayad.........................................................................................172 Tetê Catalão ..........................................................................................174 Valnira Vaz ............................................................................................176 Xiko Mendes.........................................................................................178 Zé Luiz .................................................................................................180 V - Os Pioneiros das Letras Candangas .............................................183 Stella Rodopoulos: patronesse das letras candangas.............................184 Newton Rossi: teatro sesc ceilândia ....................................................186 Clemente Luz: o cronista dos candangos .............................................188 Carlos Drummond de Andrade: crônica das favelas brasileiras.........190 Niemeyer na Ceilândia: a ceilândia em cordel ....................................192 Gilberto Gil na Guariroba: a palmeira nativa do cerrado...................194 A UnB na Ceilândia: campus sociológico candango ............................196 Posfácio ACLAP: uma sigla!...............................................................................198 13 Apresentação DISCURSO DE FUNDAÇÃO DA ACLAP SESSÃO SOLENE DE 27 DE MARÇO DE 2006 Ronaldo Alves Mousinho Vivemos, caros neo-acadêmicos, este momento de instigante expectativa: somos a espécie mais evoluída do planeta, com todo potencial de perfeição, mas temos agido com índole irracional, abjeta; e este é o grande desafio que nos é posto: assumirmo-nos conscientemente benevolentes, fraternos e justos; ou sermos partícipes e insensíveis expectadores do cortejo egoísta para onde marcha nossa atual sociedade consumista. Senhoras e senhores componentes desta histórica sessão solene, prezado público que prestigia este ato de expressivo conteúdo cultural: É com efusivo entusiasmo que saúdo ao professor e historiador da cidade de Ceilândia – Manoel Jevan – e a seus colaboradores mais próximos – os escritores Donzílio Luiz de Oliveira e Percília Júlia Toledo – presentes neste ato de fundação da Academia Ceilandense de Letras & Artes Populares, a “ACLAP”. Vivemos um momento de grave crise nas relações humanas, especialmente porque a política - que já foi a “suprema razão da existência humana” (Aristóteles) - transformou-se em atividade perniciosa, que nos arranca nossa porção divina, conduzida que é pela indignidade. A fundação desta confraria propiciará o sadio exercício intelectual para o nosso crescimento cultural e para o fortalecimento de nossas relações sociais, forjando o bom caráter e o senso crítico. E, se por um lado tentam-nos o engodo e a pequenez humana, por outro chamam-nos à razão e nos seduzem a dignidade e a busca incessante da verdade, valores das quais é irmã a arte. O escritor e o artista em geral têm a responsabilidade de, agindo com lucidez e humanismo, perseguirem a justiça, a verdade e a felicidade, instrumentalizados no conhecimento e no saber, que são fontes prósperas de libertação. E a “palavra”, senhores neo-acadêmicos, assim como as demais vertentes artísticas, são as ferramentas que nos libertam de toda e qualquer forma de prisão, sendo esta mesma palavra - segundo Latino Coelho - “a mais bela e expressiva de todas as artes, pois é a que fala ao mesmo tempo à fantasia e à razão, ao sentimento e às paixões...” Só a palavra, mais comovedora e persuasiva do que o plectro dos orfeus, encadeia à lira estas feras humanas e a um só tempo desumanas, que se chamam homens. 14 15 Capítulo I Ao papa bento candango YURI PIERRE NA PARADA CENTRAL (depois de perder o último ônibus) 16 Ceilândia, você não me engana te cruzo dia & noite sem muamba choro a dor dos moribundos morrendo na fila de teu hospital rememorando teus trambiqueiros traficantes mequetrefes de fundo-de-quintal. Ceí, paradigma do mundo toda quadra tem um artista (anônimo) pense nos teus candangos que nunca foram no plano... planejar Teu (herói) não é Gregorinho e sim teu povo morrendo nos canteiros da construção CER-VIL. Ceí, nunca te enrolei na Feira do Rolo todo mundo fala que vai te limpar tu sois um cristal de marfim lapidado de poetas, cantadores & forrozeiros a capital nordestina do Brazil Tuas fábricas fantasmas não fabricam mais boçais. (O VOO DO PÁSSARO DE CHUMBO) Patrono Popular e Libertário 17 Memorial Poeta Pezão O POETA E O ALFAIATE NECROLÓGIO NO CEMITÉRIO DE SÃO FRANCISCO MOROJÓ José Carlos Vieira F RANCISCO ROBERTO DE LIMA MOROJÓ - ou o popular “POETA PEZÃO, Seu Criado” - nasceu dia 24 de outubro de 1959 em Patos das Espinharas/ PB e morreu dia 07 de dezembro de 2003 indo para os Olhos D´Água de Alexânia no entorno de Brasília. Foi o primeiro poeta da Ceilândia e um dos pioneiros da “geração mimeógrafo” da literatura candanga dos anos 70. Anarquista convicto, se gabava em dizer que nunca teve e nem teria “patrão”, chegando a trabalhar de costureiro com a sua mãe para “viver só da poesia”. Como alfaiate, produzia suas próprias indumentárias, assim como das personagens teatrais que montava e ensinava. Foi também fundador e compositor e do “tailandense” Forró Paraibola - grupo responsável pelo seu célebre “sarau fúnebre”. Polêmico e irreverente, o poeta partiu desse mundo deixando amigos e inimigos, mas acima de tudo, a poesia. Adeus ao Maiakoviski Candango O Poeta Caboclo foi-se Para além da liberdade Levou o martelo e a foice Montando o dorso da verdade Apressado, ele esqueceu De levar consigo a poesia Deixou-nos o que escreveu Ouro em versos e melodia Conheci Francisco Morojó, o Pezão no final dos anos de 1970; freqüentávamos o agitado bar do Kareka. Os dois, sem dinheiro no bolso, unidos por uma mesa de bar. A corrida pela vida nos levou a rumos diferentes. Já no início da década de 80, encontrei-o em Olhos D’Água, onde os malucos beleza de Brasília se reuniam para trocar roupas e sapatos usados por artesanatos locais. Pezão fazia parte do Paraibola, “o Sex Pistols do forró candango”. Lançava seus primeiros livros de poesia mimeografados. Um repentista urbano, destemido como todo cangaceiro. Nos encontramos pela última vez em 2000 no lançamento do meu livro. “Você é o príncipe da poesia - repetia para todos os poetas - no que emendava: E eu sou o rei”. Num final de semana de dezembro de 2003, Pezão pegou carona com amigos para ir à Feira de Trocas dos Olhos D’Água. No meio do caminho, duas garotas também pediam carona. Gentleman, saiu do carro e deu lugar para as “princesas”. Retornou à estrada com o dedão em pé. Os amigos e as meninas chegaram à cidade, mas o poeta não chegou. O carro em que viajava capotou: só ele morreu. No enterro, várias tribos reunidas, o forró comendo solto e as garrafas vazias de vinho e de cachaça espalhadas no chão. As pessoas das outras capelas não entendiam, todas embasbacadas, aos assistir o ritual daqueles anjos da noite. De repente, na hora do enterro, um pula dentro da cova; em desespero, pede para ser levado no lugar do amigo. Foi uma das mais belas e verdadeiras homenagens a um poeta. Parafraseando Itamar Assunção quando na morte de Paulo Leminski - o músico enviou um fax ao poeta já morto - uso essa crônica para homenageá-lo: “Pezão, aqui é o Zé Carlos, não fui ao enterro seu porque você não irá ao meu”. Poeta Caboclo (Gil d’La Rosa) 18 19 Ao filho da iapi ÉDSON CASTRO Capítulo II PRETENSÃO Não quero ser o vigário de sua matriz nem tão pouco o operário de sua filial. Quero ser apenas uma banquinha de camelô num ponto bem situado de sua alma, onde eu possa vender todos os sonhos... (PARAÍSO DOS FRAGELADOS) Acadêmicos Fundadores e Imortais 20 21 Coletânea Percília Júlia Toledo P ERCÍLIA JÚLIA TOLEDO nasceu dia 31 de agosto de 1939 em Tabajara, município de Inhapim/MG. Pioneira do ‘P’ Norte, escritora romancista e evangelizadora da Legião de Maria, é autora dos livros: “Envolto em Sua Paz” (1988), “Jamais Esquecerei” (1995), “Difícil Para Viver” (1998), “O Céu Espera Por Mim” (2003), “O Cavaleiro da Meia Noite” (2004) e “Gagá, O Gavião Solitário” (2006). É também conhecida como “Dª PERCÍLIA, a Cora Coralina Candanga” por ter estreado tardiamente na literatura e também pela extrema simplicidade que caracteriza e enriquece suas reminiscências. BIBLIOGRAFIA: Título: JAMAIS ESQUECEREI Edição: CONSÓRCIO ASEFE Ano: 1995 22 Candanga O Céu Espera Por Mim O céu está coberto de nuvens Até o horizonte sem fim A natureza é tão bela Eu vivo imaginando: O céu espera por mim As flores nascem e crescem, Como crescem as do jasmim Passa o tempo de repente E não deixo de imaginar Que o céu espera por mim O perfume exala Pelos campos e jardins Passa dia, passa noite Continuo imaginando Que o céu espera por mim Nesse dia ensolarado Tenho uma inspiração sem fim Começo a escrever poemas Dizendo comigo mesma Que o céu espera por mim Andando pelas montanhas Colhendo flor no jardim Eu páro pra descansar E agradeço ao Criador Esse céu que espera por mim 23 Coletânea Olho a lua e as estrelas Ouço o cantar do passarinho Olhando e vendo as belezas Uma voz disse em meu peito Que o céu espera por mim Vejo a água jorrar na rocha E medito sempre assim Contemplando o ruído dos ventos O tempo lento a passar E o céu espera por mim Nas estradas onde ando Vejo a flora e o alecrim Nas palmeiras cantam os pássaros De amor vou vislumbrando Porque o céu espera por mim Passando pelas ruas Andando devagarzinho Vejo o movimento do povo E imagino fortemente Que o céu espera por mim Passeando nas campinas Vou rezando bem baixinho Vem o sereno da noite Eu medito em minha mente Que o céu espera por mim De manhã, ao despertar Sei que não estou sozinha As borboletas voando E eu só imaginando O céu que espera por mim 24 Candanga Nas horas que me repouso Eu lembro de um caminho Durmo e começo a sonhar Abro a janela e contemplo O céu que espera por mim Aquele espaço azulado Onde cantam os anjinhos Fico agradecendo a Deus Mesmo sem eu merecer Este céu que espera por mim Espera por todos nós Teremos o mesmo fim As nuvens escuras passam Não perco as esperanças No céu que espera por mim. Meu Deus Ocupe minha mente de vossas palavras tão preciosas e meus lábios anunciem sem cessar vossos louvores, Porque vós sois o meu Rei. Minha casa seja vossa morada e meus filhos vossos servos, Pois tudo quanto possuo vos pertence. Meu ser se encha da fé mais profunda, meus caminhos sejam iluminados à luz dos vossos olhos, E nessa luz, seja eu purificada. Meu Deus, só vos peço que minha geração alcance a tua salvação eterna, E meu coração esteja sempre transbordando de amor e verdade, Então meu ser por inteiro estará envolto em sua paz! 25 Coletânea Donzílio Luiz de Oliveira D ONZÍLIO LUIZ DE OLIVEIRA nasceu dia 05 de agosto de 1933 no sítio Gameleira, município de Itapetiim/ PE. Pioneiro da Ceilândia, poeta cordelista e professor “autodidata” da Língua Portuguesa, é autor dos livros: “Ranchos & Garranchos” (1996), “Vôo Livre” (2002), “Onze Poemas Matutos” (2004), “Sendas Invisíveis” (2005), “Pinto do Monteiro & Nonato Costa” (2006), “Tópicos Gramaticais da Língua Portuguesa” (2007) e “Duas Mil Charadas” (2008). É também conhecido como “DOM DONZÍLIO. o Camões do Cordel Candango” por ser considerado “o maior sonetista da História Candanga”. BIBLIOGRAFIA: Título: TÓPICOS GRAMATICAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA Editora: CONHECIMENTO Ano: 2007 26 Candanga CandangoCei Ceilândia, Ceilândia, nasceste e cresceste, Depressa chegaste à maioridade, Sem muitos saberem definir por que A palavra CEI deu nome à cidade; Aquela “campanha de erradicação para as invasões” tem a sigla CEI. podemos dizer, sem medo de errar, que o nome Ceilândia nasceu dessa lei. Viemos da Vila do IAPI, Das vilas Tenório, Colombo, Esperança, Morro do Urubu e do Querosene, Foi mais um despejo que uma mudança; Abriram as ruas, demarcaram as quadras, dividiram em lotes, puseram endereços e jogaram a gente no meio do cerrado, como quem afirma: pobre não tem preço. Ceilândia, tu foste criada de um erro, Que uniu preconceito e discriminação; Nós fomos expulsos do meio dos ricos Para dá lugar a prédio e mansão. Para os nordestinos, migrantes, “araras”, és o maior ponto de concentração, exibindo estórias, forró, cantoria, cultura de um povo de uma região. 27 Coletânea Ceilândia, Ceilândia, tu, por muitos anos, Foste conhecida como “dormitório”, Depois do progresso, estás sendo agora A maior cidade deste território, Invejando aqueles que nos expulsaram, Agora, Ceilândia, és grande também. Para os tubarões mostrando que somos Humildes, mas dignos de morarmos bem. Candanga As Paixões (Soneto sem a vogal “U”) No rol de todas as paixões vividas Só essa foi sincera e verdadeira Pois combinava regras e medidas Para se ser feliz a vida inteira Mas logo, por razões desconhecidas Se foi modificando, de maneira A se classificar como perdidas Todas as chances de transpor barreiras; E não havendo possibilidade De novas fases de prosperidade O jeito é nos rendermos aos fracassos; Mas mesmo admitindo-se as derrotas Ainda há chances e não tão remotas Para transposição dos embaraços. 28 29 Capítulo III Ao poeta cerratense NIKI VIVO NA MARGEM (para alguns babacas que me chamam de poeta marginal) Eu só espero é o dia em que esse país seja realmente democrático e a juventude passe a ler e escrever ao invés de se alienar com as drogas marinhas da TV E o trabalhador tenha na mesa ao invés de conta de água de luz, de esgoto e de lixo (COMIDA) sem ser obrigado a viver na sarjeta Aí, vou convidar sua netinha e sobrinha sua mulherzinha e mãezinha e por que não, sua vovozinha para fazer um tremendo zulubabel nas margens do paranoá. (ANARQUISMO TAMBÉM É SOCIALISMO) Membros Efetivos e Autores Locais 30 31 Coletânea Adauto de Souza A DAUTO FRANCISCO DE SOUZA nasceu dia 27 de maio de 1956 em Ituaçu/BA. Morador pioneiro da Ceilândia, onde sempre residiu desde que chegou em Brasília. É funcionário do SERPRO, compositor e músico fundador da banda “Conexão do Reggae”. Militante histórico do movimento cultural local, foi o idealizador do Centro Cultural e Poliesportivo da Ceilândia – cujas iniciais remontam à ideológica sigla da antiga União Soviética - em prol do qual publicou a primeira coletânea da cidade: “Ceilândia Grita Poesia” em 1987. Como escritor, estréia agora com a “Oficina da Minha Vida”. BIBLIOGRAFIA: Título: CEILÂNDIA GRITA POESIA Edição: CCPC Ano: 1987 Candanga Porque grito poesia pela razão de não mais silenciar pelo motivo de já não mais agüentar um grito preso na garganta na mente, sufocando o pensamento um grito, um grito só, será o bastante para limpar minha alma para despoluir o coração para desintoxicar o sangue misturado ao veneno um grito chamado poesia para atender a tantos outros gritos de socorro, para acalmar o grito da fome o grito do medo o grito de solidão o grito de covardia o grito de dor o grito de vida o grito de morte grito de poesia é um resumo compacto de tantos gritos que devemos segurar de outros gritos para não chorar... (Pedro Araújo) 32 33 Coletânea Adelaide de Paula Candanga A infância na masmorra da indiferença (fragmentos) A DELAIDE DE PAULA SANTOS nasceu dia 13 de novembro em Brasília/ DF. Mestra em Teoria Crítica Feminista pela UnB, é professora universitária. Em 2006 organizou o antológico sarau literário cuja meta era a criação e fundação da academia de letras da Ceilândia, mas que depois preferiu somar seus esforços à já propalada ACLAP, da qual hoje é uma ilustre membro fundadora, diretora de “crítica literária”. BIBLIOGRAFIA: Sarau: ACADEMIA DE LETRAS DA CEILÂNDIA 34 Jornada: FACULDADE DE LETRAS/FACEB Ano: 2006 Até o século XVII, a infância como conhecemos hoje, inexistia. Crianças e adultos compartilhavam das mesmas experiências; vida e morte eram vivências comuns a todos. A própria família era uma instituição pluricelular e complexa, onde os laços afetivos eram tênues e frios. As mães “pariam uma extensa prole” e diante da escassez de recursos e assistência médica, viam seus filhos perecerem até a morte. O sentimento de maternidade, tão exacerbado “nos tempos modernos”, era um dado inexpressivo naquele período. Com a ascensão da burguesia, um outro conceito de família começou a se delinear. A preocupação com a destinação da herança, fez com que a criança burguesa ganhasse um novo status social. Tornava-se urgente a formação e a educação da mente infantil para conviver em um outro contexto sócio-cultural. Não obstante à revolução que alcançou a pequena burguesia, a massa formadora da mão-de-obra feudal, dos vassalos, permaneceu na mesma condição aviltante; destituídos de direitos e oportunidades. Os filhos da vassalagem perambulavam sem ocupação ou coisa que os valesse. Tal situação, se perdurasse, colocaria em risco o destino da descendência burguesa. Afinal, sem mão-de-obra especializada, quem serviria aos próximos aristocratas? Era necessário criar uma instituição que não só retirasse as crianças das ruas, mas que as disciplinasse em torno do ideário burguês, que destinava aos que serviam a obediência e a submissão. Assim surgiu a escola. Muito tempo transcorreu desde então, todavia não se alterou o quadro social de crianças e adolescentes no mundo afora. A violência, em seu sentido mais amplo, se impõe onde o descaso impera. Apesar de penetrar em todas as classes sociais, é na periferia das grandes cidades onde ela se revela e se declara com maior intensidade. Assim como ocorria no século XVII, as crianças continuam alijadas dos direitos inerentes a elas, como o direito à vida. É inaceitável que em plena pós-modernidade se perpetue valores medievais. E que o Estado permaneça omisso diante da situação degradante em que se encontram crianças e adolescentes, condenados a viver na masmorra da indiferença social. 35 Coletânea André Rocha Candanga BrasILHA Brasília, até hoje melhor não se viu Suaves formas, frio concreto. Afinal quem te construiu Só leva o título de arquiteto? A NDRÉ LUIZ GONÇALVES DA ROCHA nasceu dia 12 de agosto de 1975 em Brasília/DF. É morador pioneiro do Setor “O” da Ceilândia. Fez todo o ensino fundamental e médio em escolas públicas, formando-se em Magistério pela Escola Normal da Ceilândia. Já participou de várias coletâneas, destacando-se “Mil Poetas Brasileiros” do Instituto da Poesia Internacional de Porto Alegre/RS em 1994, “Solte os Bichos” da Escola Normal da Ceilândia/DF em 1995 e a “Ceilândia in Versos” em 1996. Seu patrono “literário” na ACLAP é Renato Russo, devido sua forte ligação com a cultura local. BIBLIOGRAFIA: Título: QUASE TODOS SENTIMENTOS EM VERSOS Editora: ALGR Ano: 2008 36 Brasília de pedra e de flor Qual seria melhor inspiração? Brasília também de fel e dor Quem teria a explicação? Brasília do herói e do cidadão Cada dia mais tenta viver. Brasília do burocrata e do ladrão Quem tentará se defender? Brasília que tanto se mostra bela Do passado ao futuro em um segundo. Apesar do que entristece e traz seqüela Ainda te quero a outro lugar no mundo. Brasília, mistura da mistura brasileira Cada cidadão que é acolhido. E mesmo na passagem mais ligeira A tudo de bom acaba rendido. Aos anônimos e aos conhecidos Minha homenagem! Aos mártires e alguns esquecidos, Minha homenagem! Aos vencedores e aos vencidos, Minha homenagem! Aos políticos oportunistas e bandidos, Minha mensagem! 37 Coletânea Antonio Soares Candanga O Paraíso (fragmentos) O vento é forte e balança as árvores A NTONIO SOARES TEIXEIRA nasceu dia 27 de novembro de 1956 em Teresina/PI. Apesar de não residir propriamente no Setor Privê, acompanhou o nascedouro dessa comunidade pelos laços ambientais com a Chácara das Águas - “o cartão postal verde da Ceilândia”. Foi nesse paraíso ecológico local que escreveu “A Lenda da Princesa Bromélia & o Surgimento do Rio Descoberto”. Publicou em 2003 o livro “Passageiro do Inferno” , cujo roteiro para cinema conta com mais de mil personagens. É cineasta, jornalista e ambientalista. Presidente da Fundação Sangue Verde, é também membro fundador da ACLAP. A chuva cai e o orvalho é frio Veado corre quando o cachorro late A inhuma canta louvando os riachos E eu aqui plantando a esperança de um dia voltar Para matar a saudade do verde deste lugar E do canto do sabiá, BIBLIOGRAFIA: Do estalar da faveira Chamando toda a bicharada. Título: REVISTA SANGUE VERDE Editora: FUNDAÇÃO SANGUE VERDE Ano: 2001 38 39 Coletânea Assis Coelho f RANCISCO DE ASSIS COELHO é natural de Viçosa no Ceará. Formado em Letras pelo UniCEUB, é professor de inglês na Secretaria de Educação do Distrito Federal (CILCeilândia). Publicou em 2000 o livro “Labirintos”, sobre o qual obteve o seguinte comentário do grande Poeta Muralha: “Em se tratando de contos, hei de reconhecer que o autor recria o cotidiano como se estivesse descrevendo a imaginação”. bibliografia: 40 Título: LABIRINTOS Editora: MINAS Ano: 2000 Candanga Caminhada Os dois caminhavam tombando. Pareciam levados pelo vento. Um mais abastado possuía um chinelo. O outro, descalço. Seguiam indiferentes a todos. O menos bêbado sobraçava um saco de papel. Era fácil imaginar o conteúdo. O descalço parava tentando suspender a bermuda que relutava em cair. Por estar menos bêbado, ainda guardava um pouco de preocupação com a decência. Parece que levavam consigo uma certeza de “que tinham de ir em frente”. Para onde? Para quê? Continuavam indo em frente, embora tudo lutasse pelo contrário. Paravam de vez em quando, tomando sôfregos goles que caíam em suas barbas crescidas e amareladas pela nicotina. Na tentativa de manter um certo equilíbrio, o baixinho, descalço, empunhava a barriga para frente, arqueando seu corpo, dando-lhe um ar patético; mas necessário para seguir em frente. Mesmo com grande dificuldade de equilíbrio, parecia andar levemente. O outro seguia em frente, tentando demonstrar um certo ar de superioridade por estar um pouco menos embriagado. Com pouco tempo, o baixinho encostou-se num poste, articulando palavras incompreensíveis e gestos que indicavam pedidos de espera ao companheiro que seguia em frente. O outro seguia, determinado a chegar a algum lugar que ele mesmo não sabia dizer qual era. Relutava, também, em parar e perder o equilíbrio. Cair naquele momento seria inaceitável, pois não atingiria o objetivo traçado quando lúcidos. Com essa vontade inexorável de avançar, o baixinho passou sem perceber o sinal vermelho, atravessando-o sem olhar para os lados e sem ouvir os xingamentos que se seguiram. Seguiu indiferente. Subitamente olhou para trás, lembrando-se do companheiro. Viu muita gente parada ao redor de um corpo caído. Não conseguia distinguir quem estava no chão. No meio de tanta gente, não via mais seu companheiro. Será que tinha caído, como era de costume, e ficado pelo chão? Era melhor seguir em frente. Depois, se encontrariam. 41 Coletânea Chico Ivo C HICO IVO PEIXOTO nasceu dia 03 de julho de 1949 no sítio Pedra Furada, município de Jaguaretama/CE. Tornou-se cantador profissional em 1967, participando dos principais Festivais de Repente do nordeste e de todo o Brasil. Além da parceria com Dom Donzílio, orgulha-se de já ter se apresentado até com Ivanildo Vilanova – uma lenda vida da cantoria. Como bom cantador que é, vive mais viajando do que em casa, sendo por isso mesmo designado “o embaixador da ACLAP” – seu membro fundador e “seu propagador, por todos os cantos que for”. Escolheu como sua patronesse a conterrânea cearense Raquel de Queiróz. BIBLIOGRAFIA: CD: MISCELÂNIA CULTURAL Gravação: PRÓPRIA Ano: 2006 42 Candanga Todo Fumante Carrega A Morte Acesa na Mão O vício fere e ilude Traz a pior conseqüência Abrevia a existência Empurra pro ataúde Um desgaste pra saúde Um blecaute no pulmão Nas veias do coração A nicotina se agrega Todo fumante carrega A morte acesa na mão. Tudo o tabagismo aumenta: Usuário se perverte O ministério adverte A medicina orienta A Cruz Vermelha comenta O SUS dá explicação O colégio entra em ação A igreja também prega Todo fumante carrega A morte acesa na mão. No conhecimento pleno Esse mal marcou um passo A droga ganhou espaço O vício ganhou terreno A fumaça é um veneno O cheiro é poluição À própria destruição O viciado se entrega Todo fumante carrega A morte acesa na mão. Torrador de economias Semeador de desgraças É encontrado nas praças Centros e periferias Lanchonetes, padarias Banca, cinema e saguão Hotel, mercado, salão Cassino, bar e bodega Todo fumante carrega A morte acesa na mão. Todo fumante costuma Ser no vício mais atento Descarta o próprio alimento Não liga coisa nenhuma Acende o cigarro e fuma Nem lembra da refeição Tem reflexo na visão Mas a consciência é cega Todo fumante carrega A morte acesa na mão. Quem faz exame de escarro Vê o mal onde se arrancha Tem no pulmão uma mancha E na garganta um pigarro Quando lhe falta cigarro Entra em alucinação Desacordo, depressão Se não fumar, não sossega Todo fumante carrega. A morte acesa na mão. 43 Coletânea Clinaura Macêdo C LINAURA MACÊDO nasceu em 17 de abril em Valença/PI. Graduada em violino pela UnB, é violinista fundadora da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro desde 1979. Atua também como orientadora dos violinistas da Orquestra Sinfônica de Teresina. Publicou em 2006 o livro “Histórias de uma Orquestra em Cordel” e integrou a coletânea “Geografia Poética do Distrito Federal” lançada em 2007. Além da ACLAP, também faz parte do Comitê Independente de Apoio às Artes do Brasil/CIAB. Em outubro de 2007 foi agraciada com a Comenda da Ordem Estadual do Mérito Renascença do Piauí. BIBLIOGRAFIA: Título: HISTÓRIAS DE UMA ORQUESTRA EM CORDEL Edição: PRÓPRIA Ano: 2006 44 Candanga Cantiga de Amô (fragmentos) Home espie, seu minino O canto do violino Cala inté um sabiá Faz mais de trezentos ano Um dia um italiano Disse: “apois num me ingano É tu que sabe cantá!” No meu ombro, seu minino Cumigo, o meu violino Me agüentô sem reclamá Cumpanheiro todo dia Nas dô e nas alegria Nos choro e nas cantoria Te chamei, tu tava lá. No mei dessa confusão De luta e disilusão É sagrado o teu lugá Sabiá da sinfonia Quando eu te vi num sabia A increnca em que eu me metia E me danei a istudá. De tudo errado que eu fiz Numa coisa eu fui feliz Que foi nunca te deixá A mais feliz das paixão A melhó das decisão Foi toda a dedicação Que te dei, meu sabiá! 45 Coletânea Conceição Tavares Candanga Pensamentos Sentei Pensei C ONCEIÇÃO DE MARIA TAVAVES DOS SANTOS nasceu dia 08 de dezembro - “dia da família” - em Rio Grande/MA. Moradora pioneira do Setor ‘P’ Norte, está em Ceilândia desde 1979. Como integrante da paróquia São Marcos e São Lucas, é catequista e atua em movimentos com crianças e ainda faz parte - como voluntária - da Associação Fé, Amor e Cidadania/FACi. Publicou em 2007 o livro “Sonho de uma Paixão”. É também membro fundadora da ACLAP. Te vi Te senti Te desejei Te beijei Te amei A porta abriu Saíste Partiste Tua sombra, não vi Tuas pegadas, deixaste BIBLIOGRAFIA: Sozinha, fiquei Título: SONHO DE UMA PAIXÃO Editora: THESAURUS Ano: 2007 No quarto, teu perfume No lençol, o teu cheiro No meu coração, a saudade. 46 47 Coletânea Dukaldas D UKALDAS (MARIA DO CARMO PEREIRA DE CALDAS) nasceu dia 28 de março em Araióses/MA. Como professora na área rural de Brazlândia desenvolveu o projeto pedagógico que deu origem ao seu primeiro conto infanto-juvenil: “O Boneco de Milho”. Outra estória que nasceu da sua práxis didática – agora atuando com crianças no Centro de Ensino Especial do ‘P’ Sul - foi “Terezinha como tantas outras de Jesus”. É membro fundadora da ACLAP e sua patronesse é Ana Maria Machado. BIBLIOGRAFIA: Título: CONTOS Edição: PRÓPRIA S A D L DUKA Ano: 2007 Candanga O Boneco de Milho (fragmentos) Em um milharal localizado em uma fazenda, lá no interior de Minas Gerais, nasceu uma bela espiga bem diferente das demais. Era a mais rechonchuda de todas. O dono da fazenda não se cansava de admirar, tamanha era a beleza daquele fruto da terra. Um dia antes da colheita, uma lagarta muito malvada e gulosa veio ao milharal, a fim de devorar a tal espiga de quem já ouvira falar. Ao vê-la, lançou-se a ela e a devorou o quanto pôde. No dia da colheita, o estrago foi notado por todos. Da bela espiga só restaram alguns grãos, palha e sabugo. Deixaram-na então, sozinha e abandonada ali no milharal. Uma menina pobre, filha de um empregado da fazenda, vendo aquela espiga jogada, pegou-a em seus braços e levou para casa. Chegando lá, transformou-a em um lindo boneco, seu único brinquedo, e passaram a brincar juntos constantemente. Passando alguns anos, a menina cresceu, se casou e foi embora deixando mais uma vez o boneco - outrora só uma espiga abandonado. A sorte do boneco é que desde que fora transformado em brinquedo especial, ganhou uma fada madrinha que estava sempre por perto; para que ele, mais uma vez não ficasse sozinho, resolveu ajudálo. Com sua varinha mágica fez plim, plim, plim na cabeça do boneco, dando-lhe vida e também uma missão: a partir daquele dia seria protetor dos milharais. Para isso, contava com uma arma poderosa, uma bolsa contendo um pó amarelo que, em contato com a pele, causava coceira. Os inimigos dos milharais que se cuidem!!! S CONTO IA 2007 BRASÍL (*)Conto extraído do projeto pedagógico homônimo. 48 49 Coletânea Ezequiel CeilanDias Cruz Candanga S/Título Votar sem refletir é cuspir para o alto é empurrar com a barriga a roncar E ZEQUIEL DIAS CRUZ nasceu em Lizarda/TO e mora na Ceilândia desde 1978. Professor da SEDF desde 1992, já lecionou em mais de 32 escolas da cidade, lançou mais de uma dúzia de livretos e instalou mais de 600 espelhos escolas do DF. Filho de mãe nordestina - Dona Luíza – gosta de dizer que tem alma nordestina pela forte influência recebida da professora primária que desde os nove anos lhe ensinou a ler Camilo Castelo Branco e outros clássicos da literatura brasileira, além das “páginas mágicas da bíblia”. Tido como uma personalidade polêmica, já se acorrentou no centro da cidade, foi processado por políticos citados em seus livretos e saiu candidato a deputado distrital nas eleições de 2010. Em seu livro “Se Deus é Brasileiro, Jesus é Nordestino”, além das críticas políticas, discute e propõe a escolha de uma nova nomenclatura para a região administrativa da Ceilândia. É deixar como está, para ver como será o futuro do país. É deixar para amanhã o hoje do Brasil é mandar para a ponte que caiu nossas crianças, nossos jovens, nossos velhos É acreditar que está assim porque Deus quis. Votar sem pesquisar o passado do sujeito é condenar nosso presente e o futuro É deixar que o safado seja eleito mesmo depois de ser cassado o infeliz. Votar sem atentar, sem refletir e sem pensar é entregar ao estrangeiro as riquezas nacionais BIBLIOGRAFIA: É dizer que todos são iguais E a Ceilândia assim não pode ser feliz. Título: SE DEUS É BRASILEIRO, JESUS É NORDESTINO Edição: INDEPENDENTE Ano: 2002 Votar sem ter vontade de mudar é o pecado de quem vota mal Pois aquele que não pensa pra votar é o culpado por Fernandos e Roriz. 50 51 Coletânea Gil D’La Rosa Candanga Canto LII Eis que a mulher se apossou do mundo G IL D’LA ROSA (pseudônimo de GILMAR CORREA DOS SANTOS) é engenheiro florestal e de sistema. Já foi astrólogo, hippie, produtor cultural, instrutor e praticante de yoga, entre outras tentativas de expressão nesses seus - segundo o próprio - bem vividos quarenta e tantos anos. Pois, ele acredita piamente no que disse Albert Einstein: “Conhecimento é experiência, qualquer outra coisa é apenas informação”. Publicou em 2007 o livro “Mulher, Invenção do Diabo”, numa referência à temática feminina na literatura de cordel e também à “Divina Comédia” de Dante Alighieri. E o Diabo alcançou o seu intuito Ao ver o sucesso do seu invento Que exercendo um poder profundo Relegou esses machos ao submundo De obedecer-lhe às ordens no instante Dedicados, sem hesitar. Não obstante, O regozijo se estampa na cara BIBLIOGRAFIA: Do demônio, que com alegria rara 52 Festeja o seu domínio constante. Título: MULHER INVENÇÃO DO DIABO Editora: THESAURUS Ano: 2007 53 Coletânea Israel ângelo I SRAEL ÂNGELO PEREIRA nasceu dia 07 de maio de 1978 em Crateús/CE. Chegou em Brasília com apenas dez meses de idade. Em 2003 participou do concurso que elegeu o hino oficial da Ceilândia, quando chegou à final. É poeta e já atuou como docente voluntário de literatura no pré-vestibular da associação FACi. É também agente voluntário da Mala do Livro desde 2003 (um projeto da Secretária de Cultura), sendo responsável pelas estações culturais no metrô de Ceilândia. Fundador da ong “O Ninho do Condor” e profundo pesquisador do “poeta dos escravos”, é conhecido como “ISRAEL ÂNGELO, El Condor Candango”. É o membro fundador “caçula” da ACLAP. BIBLIOGRAFIA: Título: VOO POÉTICO DO CONDOR Editora e Gráfica: ARTLETRAS Ano: 2011 54 Candanga O Navio Brasileiro Nesse abissal onde o céu vai ao mar Um dia é perene nesse total martírio O sol! A lua! Provam meu falar Dando asas a ser um passarinho. Tenho asa... pequena, mas sou um Condor Dessa outrora dantesca não vou olvidar Faço da lembrança meu estro com amor Nessa terra, o poeta não pode parar. Rei! Dessa terra volta o cat´vo a lutar Hoje o antro é o nosso martírio Quero ser súdito, mas o bem lograr E ser o mar que recebe água do rio... Sendo aspirante conheço essa história Tão dantesca que no estro fui deplorar Ao abissal a vida descia e outros sorriam Fazendo o Condor esse porvir mudar. Manc´bo bardo por muitos repudiado Defendendo a antítese ao seu viver Na praça foi plausív´l, isso é lindo! Uma outrora que não consigo ver. Hoje a liberdade é o prime´ro vôo Um Condor vivendo como um passarinho Liberdade que a vida não sonhou Um navio terrestre em cada ninho. 55 Coletânea João Batista Candanga Crônica da Minha Vida (fragmentos) Cada dia que eu lia J OÃO BATISTA MACHADO VIEIRA nasceu dia 23 de setembro de 1952 em União/PI. Morador pioneiro da “Expansão do Setor O”, está em Ceilândia desde 1985. Já trabalhou como faxineiro no Banco do Brasil e hoje é servidor público da Secretaria de Educação. É formado em jornalismo comunitário pelo histórico projeto “NÓS da Ceilândia”, desenvolvido no Decanato de Extensão da UnB em 1989. Publicou em 1995 o livropainel “União dos Colunistas Brasileiros”. Pelo seu trabalho jornalístico nos periódicos locais e pela sua função na academia como diretor de imprensa - tendo remetido mais de “mil cartas” - é conhecido como “JOÃO BATISTA, o Cronista Candango”. É membro fundador da ACLAP, onde tem como patrono o saudoso poeta Leão Sombra do Norte Fontes - fundador da Academia Taguatinguense de Letras e seu conterrâneo piauiense. bibliografia: As colunas sociais de Brasília O meu delírio aumentava E eu viajava no sonho De ver meu nome intitulando Minha coluna e a minha foto 3 x 4 Padronizando a coluna João Batista (em maiúscula, no original) Rodeada de estrelinhas Igualmente um cartaz de cinema. Título: VI CONCURSO LITERÁRIO Editora: ASEFE Ano: 1997 (*) Texto extraído de Conceição de Freitas em Crônica da Cidade. 56 57 Coletânea Joaquim Bezerra da Nóbrega J OAQUIM BEZERRA DA NÓBREGA nasceu dia 20 de abril de 1953 em Santa Luzia do Sabugi/PB. Filho de João Bezerra da Nóbrega e Julieta Bezerra da Nóbrega, veio para Brasília em 1969. Inicialmente, morou na “invasão” da Vila Tenório - no Núcleo Bandeirante; sendo depois removido para a cidade de Ceilândia, onde vive no mesmo “barraco” construído nos primórdios de 1971. Publicou em 1976 o livro “Terracap contra a Ceilândia” - considerado o primeiro livro da história local. É autor também do livro de cordel “A Vida do Nordestino”, há muito tempo produzido e somente agora lançado. Admirador do poeta matuto Patativa do Assaré, é membro fundador da ACLAP, de onde recebeu a cadeira acadêmica nº 27 em referência à data de fundação da Ceilândia: 27 de março de 1971. bibliografia: Título: TERRACAP CONTRA A CEILÂNDIA Editora: CHICU´S SCREEN (mimeógrafo) Ano: 1976 58 Joaquim é na Ceilândia O incansável porque há Anos que aqui cheguei Quero dizer prá você Um povo forte e valente Isto tudo minha gente Muito mais nós vamos ter Candanga TERRACAP contra a Ceilândia (fragmentos) Leitores eu vou contar Prestem bastante atenção O que está acontecendo Com parte da população É o povo de Ceilândia Que sofre grande aflição Os Incansáveis moradores Estão lutando prá valer Com a união de todos A gente pode vencer Com a ajuda do povo Tudo se pode fazer Todo este pessoal Morava no Bandeirante Em seus humildes barracos Porém não tinha o bastante Hoje sim que piorou Pois estão bem mais distante O povo da TERRACAP Não querem se entregar E não sabem que um dia Eles sim vão precisar De um lote bem pequeno Pra poderem se enterrar Quando o caminhão chegava Jogava tudo no chão A mata era de fazer medo Porém não temiam não De dia debaixo de chuva De noite era na escuridão É triste ver pelas ruas A lama a escorrer As crianças nela brincando Logo vão adoecer Se não têm nenhum conforto Só resta mesmo é morrer Só se ouvia a noite inteira A pancada do martelo Trabalhando dia e noite Naquele mesmo duelo Só mesmo para aprontar O amparo para o burguelo Eu tenho meu barraquinho Cheio de mato ao redor Não me deram uma tábua Foi eu com meu suor Querem agora me tomar Sem ter um pingo de dó O coitado do pobre luta E sempre um pouco animado Faz logo o seu barraquinho Pensando ter sossegado Vem o ricaço e lhe toma O pobre fica jogado Eu também moro em Ceilândia E digo de coração Todos sonhavam com tudo Menos essa exploração Façam algo por a gente Que todos somos irmãos. 59 Coletânea José Antonio Candanga Computador COM PUTA DOR VOCÊ VAI AO MERCADO J OSÉ ANTONIO DO NASCIMENTO veio ao mundo dia 23 de maio de 1960 em Alegre/ES. É professor de Atividades da Secretaria de Educação. Formado em artes plásticas pela Universidade de Brasília. Escreve e esconde todos os textos até que estes possam emergir por influência de amigos ou de um sonho próprio. Tem forte ligação com as figuras de linguagem da poesia. Músico autodidata, compõe e toca desde a juventude. Já participou de vários festivais de música e poesia. Acredita que a arte é expressão, e não competição. Oriundo de família simples, evitou sempre a badalação em torno de seus trabalhos, ficando por isso, à margem dos movimentos culturais da cidade. Publicou em 2005 o livro “Giro Sons Com Versos” FALA COM OS AMIGOS DEIXA RECADO NA SECRETÁRIA DIZ NÃO TER TEMPO COM PUTA DOR VOCÊ VIAJA O MUNDO INTEIRO BABA NA IMAGEM DIGITAL E ENCHE A BOCA D´ÁGUA PELA COMIDA SEM CHEIRO COM PUTA DOR VOCÊ ARRUMA PAQUERA NO JAPÃO PÕE CHIFRE FRANCÊS NO MARIDO ALEMÃO VAI A QUALQUER LUGAR NA VELOCIDADE bibliografia: Título: MUNDO CAROCINHO Edição: PRÓPRIA Ano: 2007 DA INFORMAÇÃO FAZ TURISMO DE CABEÇA ENQUANTO O CORPO CRIA RAÍZES NA CADEIRA COM PUTA DOR VOCÊ VIVE O PESADELO DA TECNOLOGIA VÍTIMA DA SOLIDÃO. 60 61 Coletânea Léo Maravilha Foto: Madrinha Ilma L ÉO MARAVILHA (pseudônimo de SUELENITO DOS SANTOS) nasceu dia 11 de dezembro de 1961 no Morro do Urubu – uma das muitas “invasões” que abrigavam os candangos construtores de Brasília. Pelo fato pitoresco do local onde nasceu e também pelo seu destaque como um dos principais compositores de samba-enredo do DF, hoje é conhecido como “ o Sambista do Morro Candango”. Além de fundador da escola de samba da Ceilândia - a Águia Imperial - é também fundador e o primeiro presidente da ARCAB (Associação Recreativa e Cultural Acadêmicos de Brazlândia). Como autêntico “filho da Ceilândia” (seu avô João Evaristo foi um dos fundadores do histórico movimento dos Incansáveis), recebeu da ACLAP a cadeira acadêmica nº 35 em referência ao dia em que a cidade completou seu 35º aniversário (27 de março de 2006). bibliografia: BA DE SAM ESCOLA Escola: ACADÊMICOS DE BRAZLÂNDIA Desfile: CEILAMBÓDROMO Ano: 2005 RÇO DE 10 DE MA Candanga Infância Carente Eu vim para contar a história da criança Pobre carente sem lar Abandonada, tem o mundo como herança Infelizmente o desprezo é seu mal Vejam o que é desafeto, um problema social Reza prum santo sem nome Quando pode ela come, a saúde anda mal No seu canto escuro Dorme pensando com as coisas lá do céu Sofre calada, cadê seu Papai Noel? Sou um artista sem fã Ainda assim quero viver, sem sofrer Nesse Brasil abençoado Sou o homem de amanhã Desse jeito, essa infância carente sem brincadeira Sem afeto e proteção Infiltra no submundo, no buraco mais profundo E de lá, não sai mais não A economia é de guerra, inerte sem reação Hoje se fala muito, mas não surge a solução Vejam como é lindo na avenida o carnaval Vamos fantocheando definindo A essa gente o bem e o mal. 2005 A RAVILH LÉO MREASIDENTE P 62 63 Coletânea Manoel Jevan M ANOEL JEVAN GOMES DE OLINDA nasceu dia 26 de outubro de 1963 em São Gonçalo dos Inhamuns, município de Catarina/CE. Veio para a Ceilândia em 1979 e mora no ‘P’ Sul desde 1981. É professor de história e pesquisador da memória candanga na Ceilândia. Em 1997 lançou o primeiro livro-deparede da História do Brasil: “CEI, a CandangoLÂNDIA é Aqui”, do qual se originou o projeto do Museu da Memória Viva dos Candangos Incansáveis da Ceilândia. Pelo seu trabalho à frente da SPPCei (Sociedade dos Pesquisadores e Pioneiros da Ceilândia), tornou-se conhecido como “PROFº JEVAN, o Ceilandólogo”. Publicou em 2007 o livro “A Ceilândia Hoje”. É membro fundador da ACLAP, na qual adotou orgulhosamente como seu patrono o imortal Poeta Muralha. bibliografia: Título: A CEILÂNDIA HOJE Editora: ART LETRAS Ano: 2007 Candanga Perguntas de um Candango que Lê “E quantos nordestinos com as mãos calejadas foram expulsos após a inauguração de Brasília?”* Quem construiu os postais de Brasília? Nos livros, só constam os nomes dos governantes... Foram eles que ergueram os blocos de concreto? E a brazuca capital transferida mais de uma vez? Quem a reconstruiu de novo? Quais as Casas de Dinda com torneiras douradas Que abrigaram seus jardineiros? Na noite em que se construiu a Esplanada dos Ministérios Para onde foram os candangos da sua construção? A faraônica Brasília está cheia de eixos e monumentos: Quem os construiu? Sobre quem “postaram” seus arquitetos? As colunas do Alvorada - tão decantadas - só continham o palácio? Mesmo na legendária Matança da Pacheco Os empreiteiros chamavam por a GEB Naquela noite em que os confetes os encobriam... O “peixe-vivo” JK construiu a Bras“ilha”: Construiu sozinho? Bernardo Sayão desbravou rodovias: Não tinha ao menos um tratorista consigo? Israel Pinheiro chorou a primeira cova do Campo da Esperança: só ele chorou? Lúcio Costa venceu o concurso do Plano Piloto: Quem mais aqui venceu um concurso? Cada verso, uma glória... Quem prepara os seus planos? De “50 em 5 anos” surge um grande herói... Quem paga as suas campanhas? Tantas perguntas... Quantas histórias... * NEIDE LISBOA, adaptação do poema de Bertold Brecht 64 65 Coletânea Mano Lima M ANO (MANOEL CORDEIRO) LIMA nasceu dia 21 de junho de 1967 em Coreaú/CE. Está em Brasília desde 1971, ano em que a ditadura militar promoveu o primeiro assentamento da capital, com a “remoção” dos candangos para a Ceilândia. Autor da segunda coletânea da história de Ceilândia, publicou também em 2001 o livro “Ginga no Cerrado”. Diplomado em Estudos Sociais e Jornalismo, foi editor do jornal comunitário “Fala Satélite” e atualmente é assessor de imprensa e editor da revista “Capoeira em Evidência” da Fundação Ladainha do conhecido Mestre Gilvan. bibliografia: 66 Título: CEILÂNDIA IN VERSOS Editora: LUSTOSA Ano: 1996 Candanga Retrato dos Atos Ceilândia tem de tudo: o vendedor ambulante, disputando o espaço na feira e, no domingo, alegria vozes de um alto falante, militantes de um partido atuante e uma roda de capoeira é a boemia do dia - Olha o gás, dona Luzia! Mas na poeira das ruas a criança envolve-se com brinquedos improvisados vê-se, de longe, o anúncio do reparador viajante: - Conserta-se fogão a gás, geladeira e enceradeira! Na vastidão, três, quatro crianças nuas que a miséria não manda prenúncia no biscateiro o semblante do cansaço: - E conserto pra vida, não tem? Ora, deixe de besteira Mulher, hoje não tem feira! E os legumes, os ciúmes noturnos nas biroscas, nos bares e a prostituta que me assusta com seu alto preço o menino travesso: - Vai graxa, seu moço? Ceilândia, fonte de todos o cantador repentista, em versos que ponteia conta a história de um povo que veio vindo, devagarinho desvendando o cerrado, montando barracos construindo prédios para uma minoria: - Onde você mora, Ceilândia? Ceilândia, do bêbado sentimental dos bastardos vassalos que servem a elite sem nenhum mérito ou prêmio - Homem, meu troco A passagem aumentou! Não agüento mais violência contra o bolso, contra a vida e a ferida não curada que o INPS não pagou. 67 Coletânea Marcílio Tabosa Candanga Lata d’Água na Cabeça M ARCÍLIO TABOSA DE CASTRO nasceu dia 25 de novembro de 1965 (mas só oficialmente registrado em 02/02/1966) em Itapipoca (sendo porém sua família procedente de Monsenhor Tabosa/ CE). Está em Ceilândia desde 1975, lugar onde cresceu e descreveu suas principais figuras populares. Artista plástico e ilustrador gráfico, é destacadamente conhecido por suas xilogravuras, as quais podem ser encontradas nos principais pontos culturais da cidade. Em 2007 tornou-se o primeiro artista ceilandense a montar uma exposição na Aliança Francesa. Tem “produzido” o livro “Xilogravuras” e até por isso é conhecido como “M.Tabosa, o J.Borges Candango”. bibliografia: Título: XILOGRAVURAS Editor: OSMI VIEIRA Ano: 2004 (*) Obra-prima da xilogravura, que une os pioneiros da Ceilândia com os candangos de Brasília pelo elo enigmático das águas. 68 69 Coletânea Marcos Viana Candanga Capital da Esperança Vocês estão nas ruas Na margem da pista À margem da vida M ARCOS ANTONIO DOS SANTOS VIANA nasceu dia 17 de fevereiro de 1964 em Teresina/PI. Formado em pedagogia, atua na rede pública de ensino como orientador educacional. É um exímio artista plástico - que produz sua própria matéria-prima e autor da exposição temáticoambiental “O Cerrado Ameaçado” - mas que pela sua honesta modéstia prefere ser chamado de “artesão”. Atualmente dedica-se a pesquisas com grupos indígenas como uma forma de negação à geléia geral da globalização. Por este seu caráter suy generis, é também chamado de “Marquim, o São Francisco Candango”. Publicou em 1994 artesanalmente! - o livro “Vivências”. Vocês estão nas ruas Chupando drops Chutando latas Vocês estão nas ruas Engraxando sapatos Por um pastel e caldo Vocês estão nas ruas Na boca dos caixas Subindo e rolando escadas Vocês estão nas ruas Nos chamando de tio Sem teto, sem família bibliografia: VIANA OS MARC CIAS VIVÊN Vocês estão nas ruas Puxando um trago Vigiando carros Título: VIVÊNCIAS Edição: PRÓPRIA Ano: 1994 Vocês estão nas ruas À margem da pista Na margem da vida. IA-DF BRASÍL 70 71 Coletânea Mariana Lima M ARIANA CARVALHO DE OLIVEIRA LIMA nasceu dia 03 de novembro em Matias Olímpio/PI. Sempre demonstrou inclinação para as letras. Faz da escrita algo imprescindível para quem tem a literatura impressa na alma. É graduada em Letras e Literatura pela Faculdade Cenecista de Brasília/FACEB e autora do livro “Brincando com Poesias” - escrito em co-autoria com a também professora Suzana Ferraz e ilustrado pelo inestimável amigo Neftaly Vieira. Participa do livro “Diário de Escritor” da Litteris Editora, versão 2008. Está lançando seu novo livro “Cirandas” pela Conhecimento Editora. É membro fundadora da ACLAP, onde elegeu como sua patronesse a escritora Júlia Lopes de Almeida. 72 Segredo Não devo te querer, bem sei Porque não posso te amar; Ainda que o amor em meu peito Esteja a dilacerar Insistindo com o coração A idéia de te procurar. O desejo de teus beijos, eu sinto É uma verdade, não minto Mas sei que é um amor impossível É um querer sem razão; Apenas um sentimento ingênuo Do meu pobre coração. Noites sem fim em minha cama Penso em ti minha dama, É difícil adormecer! Não consigo entender Esse amor que me invade a alma Tirando-me o sono e a calma. Ainda assim, preciso ponderar, Estamos tão longe um do outro Como o sul está do norte, Tu, és dama da corte E eu, um plebeu sem sorte. bibliografia: Candanga Título: BRINCANDO COM POESIAS Editora: THESAURUS Ano: 2000 Guardarei só para mim O desejo de te amar, Não saberás de mim, Nem das minhas ansiedades Ficarei no anonimato Com minha infelicidade. 73 Coletânea Messias de oliveira M ESSIAS DE OLIVEIRA nasceu dia 26 de outubro de 1957 em Nova Russas/ CE. Repentista, desde os 21 anos, está em Brasília desde 1975. Além do “Cordel da Mala” exibe em seu currículo incontáveis festivais de cantoria, “oficinas” ministradas na Feira do Livro e até uma apresentação “erudita e popular” com a violinista fundadora da Orquestra Sinfônica de Brasília Clinaura Macêdo. Cita como grande parceiro de pelejas o professor Valdenor de Almeida, com quem cantou o cordel “Resolver o Problema Educativo é Dever do Governo Federal” pelo projeto Cantoria-Escola da Casa do Cantador de Ceilândia. bibliografia: Título: CORDEL CANTORIA ESCOLA Editora: CASA DO CANTADOR/CUT Ano: 1996 74 M essias de Oliveira E ssa figura discreta S ensível, quando é ouvinte S eguro, quando interpreta I nvencível na defesa A vida, sua riqueza S ua missão: ser poeta Candanga O Cordel da Mala (fragmentos) A Mala do Livro é hoje Uma extensão da cultura Que tem na Secretaria Sua total cobertura Incentivando as pessoas A praticarem a leitura Nasceu do grande talento De uma francesa feliz Que enchia cestas de livros E distribuí-los quis Pelas ruas de Clamart Um subúrbio de Paris A nossa Literatura Passou a ser divulgada Depois que a Mala do Livro Chegou perto da morada Dos que, antes do projeto, Não sabiam quase nada Ressurge na região Samambaia, uma cidade Neusa Dourado moveu-se Com essa realidade E iniciou o trabalho Naquela localidade A Mala é organizada De modo a contribuir Com aqueles que não podem Os livros adquirir E quem participa uma vez Nunca mais quer sair Neusa com toda vontade No seu trabalho completo Chamou Maria José Nome que merece afeto Educadora dinâmica Que vibrou com o projeto Seu objetivo é ir Aos lugares mais distantes Levar o conhecimento Aos nossos estudantes Transformando-os de objetos Em sujeitos atuantes Neste projeto excelente Os nossos jovens estão Viajando na leitura Criando imaginação Adquirindo saber E crescendo em educação. Mala do Livro, a biblioteca para todas as comunidades no DF A Mala do Livro é um programa voltado à criança, ao adolescente e ao adulto, visando facilitar o acesso à informação e à leitura. É coordenado pela Diretoria de Bibliotecas da Secretaria de Cultura do GDF e surgiu no formato de biblioteca domiciliar em 1990, como atividade de extensão da Biblioteca Pública de Brasília. 75 Coletânea Candanga Nair Rosa N AIR ROSA DE JESUS nasceu dia 17 de junho de 1937 em Catalão e se criou em Caldas Novas/GO. Aposentada, trabalha como costureira para não parar de viver. Adora viajar e dançar no “forró da melhor idade”. Participa anualmente da romaria para Trindade de Goiás com a amiga Anita. Foi revelada para a literatura pela doutora Elza Maria (autora do projeto Reminiscências Integrando Gerações lançado em 1997 na Escola Classe 15 da Guariroba). Ela participou do projeto como uma contadora de estória, mas seu sonho sempre foi “aprender a ler para escrever o próprio livro”. E a “academia” representa para ela a esperança da realização desse sonho. Como obra literária produzida para ingressar na ACLAP, escreveu a “Carta” que aqui publicamos. bibliografia: Título: REMINISCÊNCIAS INTEGRANDO GERAÇÕES Editora: VOZES Ano: 1997 CARTA PARA MINHA MÃE: Mamãe, hoje ao ver uma rosa lembrei de você/Com o perfume que ela exalava eu lembrei do seu cheiro/Não pude deixar ela lá e trouxe para casa pois ela me fez sentir estar perto de você/Nesse momento pensei nos conselhos que me dava de tudo que me ensinava e que nunca esqueci o que me falava/Porque você, mamãe, é e sempre será para mim a pessoa mais importante da minha vida/ Agradeço a Deus por ser sua filha/E sei que aí perto de Deus você ora por mim e por isso termino essa carta lhe pedindo/A sua bênção, mamãe. 76 77 Coletânea Neftaly Vieira Candanga Imagem Incansável N EFTALY VIEIRA GONÇALVES nasceu dia 04 de janeiro de 1963 em Teófilo Otone/MG. Sua família – que traz na genealogia o nome Zimmer-Cöllen dos imigrantes alemães – veio das vilas operárias de Brasília removido para a Ceilândia. É ilustrador profissional da área jornalística, com diversos trabalhos publicados em revistas, livros didáticos e infantis. Já fez charges para os periódicos Jornal de Brasília e Correio Braziliense. Está finalizando a ilustração do livro “Cirandas” da amiga e companheira de ACLAP Mariana Lima. É formando em Letras pela Universidade Católica de Brasília. Por ter criado a histórica capa do livro “Ceilândia Ontem, Hoje... E Amanhã?” é também conhecido como “NEF, o Ilustrador Incansável”. Como membro efetivo da ACLAP, ocupa a cadeira acadêmica nº 19. bibliografia: Título: CEILÂNDIA ONTEM, HOJE ...E AMANHÃ? Ilustrações: NEF NENO e IURI VIEIRA (in memorian) Ano: 1979/1981 (*) Capa do primeiro livro coletivo da memória candanga. 78 79 Coletânea Nina Tolledo N INA TOLLEDO (p s e u d ô n i m o d e MARIA ALCINA DA SILVA) nasceu dia 1º de junho na cidade de Tabajara, município de Inhapim/MG. É filha de Percília Júlia Toledo e Geraldo Américo Raimundo. Desde a década de 80 escreve poemas e contos. Estudou Letras e cursa atualmente a faculdade de Pedagogia. Têm no prelo mais duas obras e já publicou “Codinome: Você” (2004) e “Casos e Descasos” (2005), além da participação na coletânea comemorativa do cinqüentenário do Distrito Federal “Geografia Poética” (2007). É membro fundadora da Academia Ceilandense de Letras e Artes Populares e, pela delicadeza de seus versos e a forte influência recebida de sua patronesse, é também conhecida como “a Cecília Meireles Candanga”. bibliografia: 80 Título: CASOS & DESCASOS Editora: BRASÍLIA CULTURAL/FAC Ano: 2005 Candanga Cotidiano Quem me vê passar apressada Nem imagina minha estrada O que sinto, penso e vivo Enfim, minha jornada... Nem sabe que tenho vazios, Sinto frio na madrugada Que às vezes me sinto feia Triste e desanimada Que sonho em ter um amor Novo horizonte, nova vida Um ombro bem confortável Ter paz, ser compreendida... Quem me vê passar apressada De mim não sabe nada Que minha cor não é essa Em minha tez estampada Que o sol do dia-a-dia Deixou-me bem mais corada. Quem me vê passar todo dia Nem imagina quem sou... Não sou essa andarilha De apenas uma estrada Meu coração corre o mundo Bate forte, vive em revoadas Buscando, buscando, buscando... E nada encontra... Nada! 81 Coletânea Osvaldo Espínola O SVALDO PEREIRA ESPÍNOLA nasceu dia 25 de fevereiro de 1953 em Itaberá/BA. Chegou em Brasília com treze anos de idade, residindo no Núcleo Bandeirante, depois indo para a falada Vila do IAPI e de lá sendo removido para a não menos histórica Ceilândia. Trabalha de pedreiro e nas horas vagas descansa compondo versos e melodias. Declama versos de repente – no improviso – e se orgulha de ter sido um dos finalistas do concurso que escolheu em 2003 o “hino oficial” da cidade. É grande admirador do maluco beleza Raul Seixas - seu conterrâneo baiano em quem se inspirou para criar suas famosas “vestimentas temáticas”. Membro fundador da ACLAP, é também conhecido como “BBB, o Bom Baiano Brasileiro”. bibliografia: 82 Título: VESTIDO DE POESIA Edição: PRÓPRIA/ACLAP Ano: 2009 Candanga Conselho de um Pai Meu filho, se chegar alguém E perguntando: tudo bem? Te falando bem baixinho Sempre de cabeça baixa Com a mão dentro da caixa E te entregando um pacotinho Diga não para este moço Diga que é em vão o seu esforço Que ele é um destruidor E pelo jeito que estou vendo Meu filho, ele está querendo É destruir o nosso amor Quando ele vier de mansinho E chegar bem devagarinho Até sorrindo pra você Na manhã de um lindo dia Já depois que você vicia Ele vem pra receber Aí bate o desespero Você treme o corpo inteiro E não tem mais o que fazer Pois é tão grande o desespero E se você não tem dinheiro Meu filho, ele mata você. 83 Coletânea Rapper Japão R APPER JAPÃO (MARCOS VINÍCIUS DE JESUS) é candango de nascimento e morador pioneiro da “Expansão” do Setor O de Ceilândia, berço rap de Brasília. Rapper há 19 anos, produtor musical e ativista social, já gravou cd’s com o grupo do Gog e com o Viela 17. Participou de videoclipes e entrou para a história do cinema local com o filme “Rap, o Canto da Ceilândia” – que tem na produção João Break, seu parceiro ceilandense e também seu patrono na ACLAP. Em 2000 montou o grupo Viela 17 em parceria com Dino Black e Mano Mix. Percebe o rap como “música” não apenas de protesto, mas sim como uma rebeldia sonora existente entre a periferia e o asfalto, seguindo a trilha iniciada por Gabriel O Pensador, Marcelo D2, Thaíde e MV Bill. Atualmente, é coordenador artístico da Central Única das Favelas no Distrito Federal/CUFA-DF. bibliografia: Filme: RAP, O CANTO DA CEILÂNDIA Prêmio: 38º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO Ano: 2005 84 Candanga Lá no Morro (fragmentos) Não tô nem aí, nem reclamo, a vida tá firmeza Aí muleke passa um pano, qualque é, desenrola mané Ter um carro muito louco é um sonho Pagar de boy nunca foi a nossa cara Na quebrada, humildade sempre vinga Ah, cara, sem essa de licença, sem caô seu doutor Pouco dinheiro mas eu fico feliz E me amarro nos muleke, chega e diz Ficar no beco, ouvir rap é pra mala Se não é isso, sai canalha Liga o rádio, Claudinho se destaca Qualé o baile hoje aí pivete, se encaixa Bota uns pano, um relógio da hora Tá na chuva, então se molha Fica lá no canto, escuta o som que é Viela, simbora É nós no morro, só batida, só glória Vou lá no morro Comunidade unida é um pote de ouro Vou lá no morro De Ceilândia a Planaltina, é frevo de novo “92 cor de sangue”, “pá”, uns banco de couro Com os olhos vermelhos igual a nota da escola E quem entende sim, eu quero ser assim Calça de lim, não é pra mim Bem pior do que aparenta Eu sei o que meu boné representa Tudo nosso, tudo bem No morro o samba trinca E o céu brilha também Tudo nosso, tudo bem No morro o samba trinca E nisso eu vou além. 85 Coletânea Ronaldo Mousinho R ONALDO ALVES MOUSINHO nasceu dia 16 de outubro de 1951 em Guadalupe/PI. Está em Brasília desde 1978. Licenciado em Letras, é professor e advogado. Publicou em 1994 o livro “Asas para o Apogeu”. Verdadeiro intelectual, produtor cultural e editor de inúmeras coletâneas, é conhecido - e reconhecido! - tanto em Brasília como nas terras do querido Piauí. Além de membro fundador da ACLAP - cujo patrono é o pioneiro da literatura candanga Clemente Luz - é sócio efetivo do Comitê Independente de Apoio às Artes do Brasil/CIAB e o atual presidente da Academia Taguatinguense de Letras. Por ser o maior pesquisador e estudioso da literatura local, é conhecido como “MESTRE MOUSINHO, o Machado de Assis Candango”. bibliografia: Candanga Nave-Mãe Candanga (fragmentos) Quero pilotar a nave-mãe, sobrevoar Brasília Admirar a Torre de TV, cumprimentar os feirantes. Voar rasante sobre a Esplanada dos Ministérios Saudar Jesus Cristo ao passar pela Catedral. Sacudir a poeira da máquina administrativa e injetar-lhe ânimo. Chamar à razão o Palácio do Planalto e do Buriti E dizer-lhes que os fins não justificam os meios. Contemplar as águas do Paranoá e os barcos passeantes e gritar: “alto lá, vocês não podem continuar acima da lei”, aos invasores daquelas margens. Plainar sobre o Teatro Nacional e lavar a alma com os acordes da Orquestra Sinfônica. Rumar para Taguatinga e Ceilândia em busca de tradição e amenidades. Esticar até a Feira da QNL, comer peixe e rapadura do Maranhão, Saborear carne-de-sol e cajuína do Piauí. Revisitar o Museu Casa da Memória Viva do mecenas Jevan E ali ouvir a Orquestra Sanfônica Candanga. Participar da fundação da ACLAP mas, pessimista, constatar que a política “suprema razão da existência humana”, hoje é flagelo que nos aniquila. Título: PROJETO ALUNO ESCRITOR Editora: ASEFE Ano: 1995 86 87 Coletânea Rosana Maria Candanga Eu Sou a Cei No começo, eu era erradicação Pelo um anel-sanitário R OSANA MARIA CARVALHO DA COSTA nasceu dia 30 de outubro em Brasília. Por gostar muito de criar coisas para casa, começou a confeccionar “roupinhas de boneca” ainda na infância, adquirindo a arte da costura e do artesanato pelo seu autêntico tino autodidata. Além das confecções artesanais para Casa da Memória Viva, tornou-se a única produtora da “bandeira da Ceilândia” (tanto para a Administração Regional, como para as escolas locais). Orgulha-se muito de fazer parte do histórico grupo dos 35 artistas ceilandenses que fundaram a ACLAP. Fizeram a minha remoção Sem teto, fui barraco Sem luz, só apagão Sem água, era a “ceilama” Carência era o meu sobrenome Comissão, campanha, invasão... Tanto nome que quase me consome Os anos se passaram E agora sei CONFECÇÃO: Título: BANDEIRA DA ACLAP Criação: MV MODAS Ano: 2006 88 Que hoje eu sou: Cidade, sim. Excluída, nunca. Incansável, sempre! 89 Coletânea Sebastião Lima Candanga Luz do Saber Sou como o pensamento que está sempre atento S EBASTIÃO JOSÉ DE LIMA nasceu dia 14 de novembro de 1947 na cidade de Ceres/GO. Filho de agricultor goiano e mãe pernambucana, fez os seus estudos primários em Anápolis e veio para Brasília em 1972. Servidor público, é morador pioneiro do Setor ‘P’ Norte da Ceilândia. Começou a cursar a faculdade de Teologia em 1987. Católico, professor de catequese na paróquia São Marcos e São Lucas, é coordenador de grupos teatrais e organizador da Via Sacra. É membro fundador da ACLAP e, pela admiração que sente por se patrono literário, é também chamado de “o Drummond Candango”. Tanto nos antigos como aos novos movimentos Sempre fico no meu cantinho bem quietinho Observando o que está acontecendo Pensando num mundo mais justo e consciente Onde o homem e a mulher possam andar de mãos dadas Tentando construir um mundo mais sábio e inteligente. bibliografia: Título: HISTÓRICO DO SETOR “P” NORTE Edição: PRÓPRIA Ano: 2008 90 91 Coletânea Sidiney Breguêdo S IDINEY DE SOUZA BREGUÊDO nasceu dia 22 de janeiro de 1972 em Monte Azul/MG. Mora em Ceilândia desde os primórdios da cidade. É chargista, caricaturista, artista plástico e... poeta! Dono de um estilo poético “Beat”, é também conhecido como “o Charles Bukowski Candango”. Como artista plástico, entrou para a história de Brasília com o quadro “É Q´Eu Sou Candango”, que descreve – plasticamente – os três tempos da história candanga (construção, remoção e exclusão). Nome tarimbado do movimento cultural local, já realizou diversas exposições e tem (manuscrito, em cinco cadernos) mais de mil poemas a serem publicados. bibliografia: 92 Título: O JACARÉ PENSADOR Edição: PRÓPRIA Ano: 2009 Candanga Quando Eu Morrer Quando eu morrer, Não quero fama, nem estardalhaço. Não quero caixão de pinho, Nem gravata de laço. Menino, hoje sou vivo e belo E ninguém vê meu sorriso amarelo. Amanhã quando eu morrer, Tirarão do meu pé o chinelo E esculpirão em bronze Bengala ou cutelo, Plaqueta para o senhor administrador Assinar: poeta, menino, poeta!! Me cobrirão com o pó Do ouro amarelo E a glória me darão em verdade, Dos empresários serei a vaidade, Seu ouro e sua vida, O caviar e a bebida. Quando eu morrer, Não quero fama, nem estardalhaço, Os homens declamando meu nome Como estúpidos palhaços, As moças me enrolando em abraços. Nas escolas, não quero que estudem A minha vida em bagaço. Ou mesmo que revolucionei, Que uma escola literária inventei, Não me cantem como herói Para que o povo me compre, Mas foheiem minha vida Num instante. 93 Coletânea Vaíston Candanga Cogumelo Com sopro suave De cachimbo sem fogo V AÍSTON TOLEDO DA SILVA nasceu dia 11 de novembro de 1961 na cidade de Tabajara, município de Inhapim/MG. Veio para Brasília ainda quando criança, onde em 1980 tornar-se-ia servidor público. Através da sua mãe – a escritora evangelizadora Percília Júlia Toledo - começou sua vida artística como “narrador” do grupo de teatro “Altas Montanhas”, ajudando a fundar a paróquia São Marcos e São Lucas ainda nos primórdios do Setor ‘P’ Norte da Ceilândia. É membro fundador da ACLAP e tem um livro “produzido” no campo da ficção científica. Varreu a vassoura do vento: Tempo Projetos Sistemas Teorias Vida de temor... A dimensão se tornou túmulo Só prédios, fábricas, Dinheiro, ambições. bibliografia: Nasceu no Planalto Teatro: ALTAS MONTANHAS Papel: NARRADOR Ano: 1979 Uma nova hierarquia: Reis ratos, ratas rainhas. Queijo, queijo, queijo... E pizza na pradaria. 94 95 Coletânea Valdinei Cordeiro Candanga A Preciosidade dos Amigos Os amigos são tão especiais que voltam São tão simples que cativam São tão desprendidos que doam V ALDINEI CORDEIRO DOS SANTOS nasceu dia 08 de julho de 1980 em São Romão/MG. Morador da Ceilândia, é estudante e declara que “tornou-se poeta pelo projeto escolar”. Seu poema foi originalmente publicado na “Antologia Poética dos Alunos do Primeiro Ano do Centro de Ensino Médio 04”, idealizada pela professora - e sua patronesse na ACLAP Maria Lucinete de França. O projeto ao qual se refere, além de lançar para a cidade dezenas de “novos” escritores, rendeu ainda a literária reportagem “Armados com Versos”, o que elevou a auto-estima tanto dos educandos como da própria Ceilândia. Como membro efetiva, ela ocupa a cadeira nº 26. E como diz a frase que “o verdadeiro mestre é aquele que dá a lição pelo exemplo”, hoje vemos alguns destes poetas recitando versos em rádios comunitárias e outros até participando da Academia Ceilandense de Letras, como Irismeire Benevides, autora desse antológico poema. Patronesse Educacional: Coletânea: PRIMEIRO VÔO Autora: PROFª MARIINHA Ano: 2004 Bem, eles são tão necessários Que sempre se fazem presentes São tão preciosos que se conservam São tão irmãos que compartilham São tão sábios que ouvem iluminam e calam Eles são tão raros que se consagram São tão importantes que não se esquecem São tão felizes que fazem a festa Os amigos são tão responsáveis Que vivem no mar da verdade São tão livres que acabam virando pássaro “Meu mestre, meu amigo Que belo dia encontrei Foi quem me ensinou Tudo o que hoje eu sei” (Francisco Benevides) 96 São tão dignos que compreendem e perdoam querendo voar São tão amigos que dão a vida São tão amigos que se eternizam. 97 Coletânea Vanildes de Deus V ANILDES DE DEUS ALVES nasceu dia 04 de Setembro em Oeiras/PI. Filha de Isabel Santana Alves e de João de Deus Alves. Veio para Brasília em 1977 e mora no ‘P’ Sul desde sua fundação. Licenciada em Estudos Sociais e bacharel em Geografia, exerceu o magistério por mais de 25 anos, dedicandose atualmente ao trabalho cultural e religioso junto à sua comunidade. Graças ao seu poema sobre a “padroeira da Ceilândia”, foi criado o Projeto de Lei nº 2.908 (publicado no Diário Oficial de 08/02/2002) estabelecendo o dia aos santos padroeiros de todas as Regiões Administrativas de Brasília. Participou em 2007 da coletânea “Geografia Poética”, comemorativa ao cinqüentenário do Distrito Federal. Além de ser membro fundadora da ACLAP – onde escolheu por patrono o Pe. Antônio Vieira – é também sócia efetiva do Comitê Independente de Apoio às Artes do Brasil/CIAB. bibliografia: 98 Título: UM OLHAR TRANSPARENTE Editora: THESAURUS/FAC Ano: 2010 Candanga Nossa Senhora da Glória, Padroeira da Ceilândia Oh! Querida virgem da glória! Quão sublime é teu olhar! És esperança, és vitória, És a força do nosso caminhar. Leva a Jesus nossa luta e história, Deixa sua luz nos iluminar... És mãe dos ceilandenses, Dos incansáveis e de toda a população Também dos candangos, dos brasilienses, Dos pobres e da nossa geração. Acalenta-nos com o teu silêncio Sê nosso escudo e proteção! És bendita! Ó querida padroeira, Que a este povo vieste abençoar. Da Ceilândia, és uma das primeiras A “palavra” e a “eucaristia” celebrar. Sendo fonte viva e luz verdadeira Vem, almas de sede e fome saciar. Tua história é grande fascínio Vários nomes temos a destacar, Como o célebre frei Cirino Cuja memória vale-me exaltar. Alimentou muitos pobres e meninos E dos desabrigados soube cuidar. À custa do seu ofício Sua vida a Deus entregou Deixando marcos, registros... Das obras do Criador. A ele então o título: Primeiro “pároco e fundador”. 99 Coletânea Walter gugu Farias W ALTER PEREIRA FARIAS, o Gugu do ‘P’ Sul, fez história na poesia da cidade em toda a década de 1980 com sua linguagem meio beatnick, meio rock nacional. Auto definia-se como um poeta marginal, mas para os mais próximos, revelava-se um homem-menino, um gigante frágil. O próprio título do seu livro Tenho Que Proteger As Orquídeas (lançado em 1987 na lendária lanchonete Enkontres) desvelava muito da sua personalidade. Militante atuante do movimento cultural, além de poeta, foi compositor do grupo Anjos do Rock e ator-fundador do Espaço 50 (era uma casa de nº 50 na Via Guariroba) com o Paulinho Rapadura e outros porra-loucas; juntamente o com Adauto Francisco lançou a coletânea Ceilândia Grita Poesia em 1986 no antigo Quarentão; participou de várias FACULTA’s e também do I Encontro de Poetas Brasilienses em 1983, dentre tantos outros eventos culturais candangos. bibliografia: Candanga Hoje Desfilarei minha amargura sobre a ponte costa & silva ou simplesmente sob a torre de tv De nada adiantará livros, revistas, discos, jornais ou qualquer tipo de comunicação nem mesmo a inter-planetária. sofro... e para esse mal não há remédio nem mesmo os carinhos de Alice nem mesmo esse nosso amor neurótico, paranóico, esquizofônico... Observo no microscópio eletrônico o cenário multicor da meganópole desvairada em busca do poder material. Meu nome é rasgo sou filho do nada indivíduo sem opção. Tenho mil planos que serão os enganos para os próximos dois mil anos. ignoro até os OVINs, que a sombra da realidade ofusca. Meu coração além da ia dos kamikazes. Título: TENHO QUE PROTEGER AS ORQUÍDEAS Editora: THESAURUS Ano: 1986 Observo um Dark na dança mágica da Drack. Suicidei-me ontem/ Velejo na noite/ Sob a luz de neon Na fusão sonora oriente-ocidente/ Estou além da compreensão do eu numa viagem imbecil em busca do nada. 100 101 Coletânea Vicente de Melo V ICENTE GERALDO DE MELO NETO nasceu dia 23 de janeiro de 1960 em Uberaba/MG. É morador do Setor ‘P’ Sul da Ceilândia, ex-funcionário público do Poder Executivo Federal e arte-educador da rede pública local. Publicou em 2007 o livro “Contos Federais”. Em 2005, foi o vencedor do Prêmio SESC de Contos Machado de Assis, com “Os Estultos”. Dono de um talento privilegiado para “a criação e contação de histórias fantásticas”, é tido pelos seus companheiros de ACLAP como “o Maior Contista da Literatura Candanga”. bibliografia: Título: A SAGA DE UM CANDANGO Editora: BARAÚNA Ano: 2013 102 Candanga O Candango (fragmentos) O calor era insuportável. O solo seco e rachado, de tão candente, queimava os pés descalços do homem que olhava sua plantação totalmente perdida. É a seca que castiga, sem dó, o rincão nordestino. Ele, que sempre fora um sertanejo de fibra, desta vez estava desolado. A mulher, o recebeu tentando, com citações bíblicas, reconfortá-lo. O filho pequeno, alheio à tudo, apenas dormia para enganar a fome. Bastião, sentado em um banco tosco de madeira, puxou para si o velho rádio de pilha. Apesar de analfabeto, não era nenhum apedeuta, pois acompanhava com grande interesse os problemas de sua pátria. Subitamente, uma notícia chamou-lhe a atenção. Estavam recrutando trabalhadores para a construção da nova capital do Brasil. Com a mulher e o filho, Bastião pegou algumas tralhas - o inseparável rádio e a velha sanfona - e partiu. Na cidade, o caminhão conhecido como pau-de-arara, já aguardava as famílias de retirantes para a longa viagem até o Planalto Central. As chusmas chegavam de todas as procedências à nova terra prometida. São os pioneiros da nova capital, chamados pejorativamente de candangos que, na acepção da palavra significa “pessoa ruim”. Bastião e a família ficaram instalados na Cidade Livre. No outro dia, bem cedinho, ele e muitos outros começaram a lida nas obras faraônicas da cidade-céu, em meio à imensa solidão do cerrado sem fim. Pouco tempo depois, tudo parecia uma torre de babel. Milhares de operários, dependurados em andaimes. O ritmo era alucinante, dia e noite e noite e dia trabalhavam sem parar. Os responsáveis pelas obras, sempre gritando muito, mais pareciam feitores com chicotes saídos dos tempos de faraó da era do escravismo. Como ajudante de pedreiro, Bastião carrega sacos de cimento nas costas, enverga ferros e arma concretos. Ele é de fibra, e antes de tudo, um sertanejo. Vivia sempre sorrindo para os conterrâneos e seus chefes. Até para o presidente, que estava sempre rondando pelos canteiros de obra, ele um dia sorriu, puxou uns acordes do clássico “Asa Branca” e ainda tirou de improviso uns versinhos de cordel: 103 Coletânea Este é o grande presidente Que o Brasil já viu falar Empregou toda essa gente Fazendo a nova “capitá” Dias depois Bastião seria chamado no escritório da NOVACAP, pois havia sido escolhido o “operário-padrão” do ano. A cerimônia aconteceu num domingo à tarde, sobre um palanque montado em frente ao futuro Palácio do Alvorada, onde estudantes treinados pelas “tias” balançavam fitinhas verde e amarelo e cantarolavam o “peixevivo”. Encostado num canto, suando em bicas, Bastião finalmente é chamado à frente. Recebeu das mãos do próprio presidente da república uma caneta banhada à pirita, ou seja, o popular ouro de tolo. O pobre operário, que era pobre mas não era besta, agradeceu às autoridades com seu costumeiro sorriso e, dias depois, vendeu o valoroso “prêmio” num boteco qualquer. Porém, a cada dia que se aproximava a data oficial da inauguração, o ritmo de trabalho aumentava freneticamente. Bastião já não sorria à toa. Com o cenho franzido e as mãos calejadas, sempre suado e cansado, trabalhava, trabalhava... e nada melhorava. A manhã era de sol e carnaval. O arrebol banhava o acampamento com lumaréus de fogueira. Alguns operários, insatisfeitos com a má qualidade da comida servida, resolveram fazer uma manifestação. A notícia caíra como um raio na cabeça das empresas responsáveis pela construção de Brasília. Iniciou-se, então, uma guerra cruel e desumana. De um lado, operários famélicos e indefesos; e do outro, soldados da GEB assomando e atirando. O resultado final foi uma verdadeira “matança”. Os corpos seriam sorrateiramente enterrados nos arredores da cidade, onde hoje estão vários monumentos arquitetônicos “patrimônios da humanidade” erguidos à “modernidade”. A rotina voltara ao normal depois da chacina oficial. Muitos ainda choravam e lastimavam o “desaparecimento” dos antigos companheiros. Num jogo estratégico, as empreiteiras resolveram antecipar o pagamento. Era uma forma maquiavélica de tentar fazer com que todos esquecessem o mais rápido possível aquelas cenas funestas, covardes e desiguais. Bastião - que conseguira escapar fugindo pelos fundos do acampamento - a partir daquele dia passara a ter certeza de que a “capital da esperança” fora apenas uma grande ilusão. 104 Candanga O tempo passara rápido. Depois de três anos e dez meses de muita labuta, a nova capital finalmente fora inaugurada. Todos receberam homenagens; já os candangos (e dentre eles, o agora desiludido Bastião), nem dinheiro para participarem da festa tinham. Bastião virou alcoólatra, passando a beber de revolta e tristeza. Sem emprego e sobrevivendo de “bicos”, foi jogado numa invasão próxima ao Núcleo Bandeirante, conhecida como “Morro do Urubu”, em meio à lama, poeira, miséria e violência. Os anos se passaram. A favela onde morava, após uma “campanha de erradicação das invasões” promovida pela ditadura militar, foi “removida” e assentada em uma nova cidade-satélite, bem longe do poder. Certo dia, encontrado pelo serviço social, Bastião fora internado em um asilo de velhos. A mulher, após uma crise de convulsões, há tempos já o tinha deixado. O menino, criado em meio a maloqueiros e mequetrefes, acabou preso e condenado por envolvimento com o tráfico de drogas. O velho rádio e a saudosa sanfona, trocados pela maldita cachaça, já não lhe faziam companhia. O solitário candango é um homem com mais de setenta anos. Sua boca banguela, agora sorria aos “novos” companheiros. Alguns também eram heróis anônimos da epopéia de Brasília. Bastião passa as horas relembrando os tempos idos. O dia estava ensolarado, era uma manhã de sexta-feira. O asilo organizou um “passeio” para os velhinhos até o Plano Piloto. Bastião levantou-se cedo. Iria viver um dia de turista pelo lugar que tanto suor derramara e também ajudara a construir. O ônibus da viação Pioneira entrou lentamente no eixo monumental. Reconhecendo a figura do ex-presidente “acenando para a cidade”, Bastião ensaiou um sorriso irônico, ao relembrar o dia em que recebera a falsa caneta de ouro. O velho veículo passou pela rodoviária e entrou na grande esplanada. À sua volta, surgiram os sinais de luxo e ostentação, próprios das grandes construções. Mais uma vez, lembrou-se de tudo que a vida o havia feito sofrer. Imaginou-se, então, de volta ao querido nordeste, no seu pequeno roçado. O suor do seu rosto misturava-se às lágrimas escorridas daqueles olhos de pálpebras cansadas. De volta ao asilo, numa expressão de lassidão, Bastião dormiu rápido e profundamente. No outro dia não acordaria mais. O velho candango expirou solitário e esquecido. 105 Ao homem chamado cavalo ÉDSON DA NOVA SHOCK BORBOLETA Eu sou um misantrópico e às vezes hermético para os nacionalistas de direita e detesto crianças por não nascerem com o espírito de luta de CHE GUEVARA Mas um dia uma borboleta com a asa quebrada baixou no meu circo e eu lhe dei toda a assistência possível comprei um rolo de durex e colei na sua asa deixei-a na cama de mamãe e fui comprar flor prá ela Hoje ela voa nas margens do paranoá cheirando as flores de sua preferência concubinando com quem ela quer sobrevoando a ponte daquele ex-ditador do lago sul ao lago norte voa... borboleta... voa... voa... voa os segredos do abismo infinito mesmo sentindo que eu estou morrendo de saudade adoro te ver nos ares, no ar. (hoje em dia só me preocupo com a felicidade dos hermanos simplesmente porque já fui feliz). 106 Capítulo IV Membros Correspondentes e Autores Convidados (ANARQUISMO TAMBÉM É SOCIALISMO) 107 Coletânea Adalberto Adalbertos Candanga LAND CEI: Saga-Enredo da Criação de um Novo Mundo (fragmentos) “Noventa milhões em ação, A DALBERTO DUARTE DE OLIVEIRA ADALBERTOS nasceu dia 18 de março de 1952 em Poté/MG. Pioneiro de Taguatinga, está em Brasília desde 1966. Diplomado em Ciências Biológicas e em Ecologia. Na efevercente UnB dos anos 70, foi um dos protagonistas do antológico “Show do Arroto”. Foi também um dos membros fundadores da Academia Taguatinguense de Letras/ATL em 1986. Publicou em 2006 o livro “Inquietudes”. Educador militante e engajado, tornou-se um dos diretores mais conhecidos do Sindicato dos Professores/SINPRO-DF. Pra frente Brasil do meu coração...” Para censurar, oprimir e torturar, Botas, butes, botinas, king-kongs e camburão. No subúrbio, periferia, eu residia: Tabatinga, “ta‘wa’tiga”, barro branco. Mas numa super, numa quadra, superquadra, Das forças, às vezes, me escondia. E então, tão só, nem mesmo pelo elemento combongó A cidade ília, ilha eu via. “Eu te amo, meu Brasil; eu te amo... Ninguém segura a juventude do Brasil...” bibliografia: Foi quando os milicos, pais e mães da ditadura Fonte de dor, tristeza, morte e muita agrura Título: PARASITA OBRIGATÓRIO Edição: PRÓPRIA Ano: 2007 Resolveram, por decreto, a “C.E.I.” instituir Para com ela, o piloto-plano, aero-plano, Sanear, varrer, limpar E, imediatamente, a Land Cei fazer brotar. 108 109 Coletânea Adélia coimbras Candanga Poema Saudade Eu sou uma videira, que no seu tempo deu nove galhos Todos bem grandes e floridos. Mas em 1994 um galho quebrou A DÉLIA IGNÁCIO DE MELLO COIMBRAS nasceu em 1935 na Vila Formosa de Imperatriz/GO. Filha de família humilde, veio para a Vila do IAPI em 1966 e de lá a trouxeram pra Ceilândia em 1971. Moradora pioneira da Ceilândia Sul, foi vendedora de roupas ate montar sua própria loja de confecções, com a qual viria adquirir, tempos depois, a tão sonhada fazenda em Mimoso de Goiás. Em 2006 teve seu livro “Biografia de uma Camponesa” editado pelo pastor Cláudio Divino, professor de Geografia com palestras já proferidas na Conferência Anabatista Latino-Americana da Colômbia e dos Estados Unidos. Veio o tempo, e o vento, e um galho ele levou Saudade vem e saudade vai Deixou muita saudade, saudade para seus pais. Deixa saudade para seus irmãos. Saudade muita que ficou, da família que deixou Esposa maravilhosa! Que lembrança tão espinhosa! Ah! Saudade. Tinha sim, alegria e prazer. Galho que deixou sementes, Dois filhos para a família render Saudade de sua família pequena Saudade de sua esposa morena Saudade dos filhos que deixou Me dizia que casou-se por amor. bibliografia: Saudade! Saudade de quando você era criança Ah! Que doce e triste lembrança. Título: BIOGRAFIA DE UMA CAMPONESA Editor: CLÁUDIO DIVINO Ano: 2006 Está comigo em qualquer lugar, Pois está vivo dentro de mim Nos meus sonhos, no meu jardim Como eu queria você, aqui bem pertinho de mim... 110 111 Coletânea Adilson Cordeiro Didi Candanga Meu Querido Guará Meu Querido Guará Terra de sonhar! O Guará é o meu lar Minha sala de estar A DILSON RODRIGUES CORDEIRO DIDI nasceu dia 25 de outubro de 1952 em Pirapora – margem esquerda do Rio São Francisco/MG. Está em Brasília desde 1970. Servidor do Banco do Brasil, trabalhou nas aprazíveis cidades de Maceió/ AL e Pirenópolis/GO. Hoje, já aposentado, exerce prazeravelmente o cargo de diretor da Casa de Cultura do Guará. Poeta bastante conhecido em todo o Distrito Federal, publicou em 2007 o livro “Algo Tão Doce” a partir de um recital que fez na Feira do Livro de Brasília. É onde gosto de ficar Ver os pássaros cantar E é sempre muito prazer As crianças no alvorecer Sua calma me acalanta Sua alma me encanta Posso correr e sentir A brisa leve daqui A pureza de um beija-flor Que faz ouvir músicas de amor A ternura do flamboyant florido No Guará, é o mais colorido Vejo a esperança renascer Neste céu, ao entardecer E na luz de prata do luar Das lindas noites do Guará bibliografia: Título: COLETÂNEA POÉTICA DO GUARÁ Edição: COMEMORATIVA Ano: 2009 Aqui tem muitos amigos Sorrisos novos e antigos É a graça e simpatia no ar Do meu querido Guará! 112 113 Coletânea Amário cassimiro Candanga Sonhos de Poeta Sonhei um dia Ser um poeta, d r. AMÁRIO CASSIMIRO DA SILVA é natural de Turiúba, interior de São Paulo, filho de José Cassimiro da Silva e Marvina Rosa de Jesus. Viveu sua juventude em Gastão Vidigal/SP, aonde anualmente realiza o projeto “Coletânea de Poesia Inter Regional”, também extensivo às cidades paulistas de Buritama, Floreal, Lourdes, Monções, Nova Luzitânia e, obviamente, Turiúba. Está em Brasília desde 1969. Advogado de renome internacional, foi Secretário-Geral da Associação Americana de Juristas e ex-Membro Consultivo da Associação Cultural Brasil Cuba. Em 2003 foi condecorado com a Ordem do Rio Branco pelo Ministério das Relações Exteriores. Ter um grande amor Procurei nas estrelas, No sol, No mar, No ar. Pela terra andei a procurar Encontrei a deusa Dos meus sonhos, Sonhos de poeta, Do amor irreal, Do amor sem igual, Do amor imortal. bibliografia: Não gostaria 114 De vê-lo acabar, Título: FRAGMENTOS DE SAUDADES Editora: GRÁFICA DOMINANTE Ano: 2006 Sonhar e não acordar. 115 Coletânea Ana Paula A NA PAULA MARTINS AGUIAR nasceu dia 30 de janeiro de 1995 em Brasília/DF. É filha de Valdir Moreira de Aguiar e Santinha Alves Martins. Aquariana que gosta de ler e escrever poemas. Incentivada pela professora Lira, agora tomou iniciativa de mostrar o seu lado poetisa, pois percebeu que escrevendo poderia ir mais longe. Estuda no centro de Ensino Fundamental 519 de Samambaia e está cursando a 6ª série. Há nove anos freqüenta as atividades complementares educativas da Assistência Social Casa Azul. Apoio Sócio-Educativo: CASA AZUL - A missão da Instituição “ser um espaço prazeroso e de referência no atendimento às crianças e ao adolescente.Voltado para a formação humana, solidária e cidadã, buscando a melhoria da qualidade de vida e a inclusão social.” Público atendido De 0 a 6 anos - 200 crianças De 07 a 14 anos - 268 Crianças Jovens - 140 Famílias - 352 116 Candanga Brasil Sonhador Meu Brasil Que tem fome E o homem cada vez Querendo mais Sem sentir a dor Que provoca o terror Num país de paz Que cabe cada vez mais Meu Brasil Verde e amarelo Que fez um elo Com a natureza Tornando-a mais bela Meu Brasil Dos amores Que nos faz crescer Na harmonia das cores Meu Brasil Que enche a gente De muito amor Onde tem um povo trabalhador Que mora nas ruas escuras Com muito frio E também com muito calor Mas sonha com felicidade E alegria nesse... BRASIL SONHADOR! 117 Coletânea Angélica Torres Candanga Aula de Arte Bendito sejam os malditos porque tornam os tolos A NGÉLICA TORRES LIMA nasceu dia 27 de fevereiro em Ipameri/GO. Está em Brasília desde 1965. Diplomada em Comunicação, é jornalista, tradutora e coreógrafa. Publicou em 1988 o livro “Solares” pela turibiana marca Bric-aBrac. Atualmente, integra a equipe do Profº Antonio Miranda à frente da Biblioteca Nacional de Brasília, responsável pela realização da I Bienal Internacional de Poesia em Brasília – I BIP/2008. gente que se identifica com eles, os crus desgraçados místicos obscenos. Se eu tivesse conhecido Bukowski mais uma eu seria entre as vacas pintadas por ele? me ninaria? me beijaria os rolinhos na cabeça? me amaria a Maria, laranja caindo da mesa, rolando pra longe de porre, fumada, num seu poema trêbado? bibliografia: Morro. E digo, esta nunca mais vai ter que ler Charles na vida e sua himenotomia em madrugadas azedas. Título: SINDICATO DE ESTUDANTES Editora: BRASILIANA Ano: 1986 “Tomara que caia um haikai na tua saia” 118 119 Coletânea Antonio Carlos sampaio Machado A NTONIO CARLOS SAMPAIO MACHADO nasceu em União/PI. Bacharel em Letras pelo UniCeub (2001), editou o Período da Língua Portuguesa. Filiado à União Brasileira dos Escritores/ UBES (secção do Piauí), é também membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras. Publicou em 2003 o livro “Trovas & Haicais”. Neste mesmo ano fundou a ONG CIAPIB (Comitê Independente de Apoio às Artes do Piauí e do Brasil), que agora se chama Comitê Independente de Apoio às Artes do Brasil/CIAB. Candanga Trovas Candangas (fragmentos) Canta, canta! Oh! Ceilândia Hoje é teu belo dia Teu mar é céu; E tua bela melodia! Cada quadra muita arte! Teu povo caminha sereno Tens sintonia com marte Esse dote não é pequeno. Bela vista panorâmica Cidade de vocação; Demonstra que é dinâmica; Seus filhos em oração! Tem viola e bom violeiro Essa terra dá bons frutos Há um passo bem certeiro Das meninas nos estudos! Candangos aqui vieram! Somaram ricos talentos; Na construção souberam Desenhar em suaves ventos! bibliografia: 120 Título: TROVAS & HAICAIS Editora: PROCOEL/ATL Ano: 2003 Na aclap hoje tomo posse Com os amigos confrades! Prazer, orgulho ela torce: É a musa! E meus compadres?! 121 Coletânea Antonio Garcia Muralha A NTONIO GARCIA MURALHA nasceu dia 21 de março de 1948 na Estação de Douradoquara, município de Monte Carmelo do Triângulo Mineiro. Filho de Sigismundo Garcia e Domitildes Rodrigues, com os quais veio para Brasília em 1964 – ano do fatídico golpe militar. Antes de se formar em Letras e tornar-se professor e economiário, foi balconista do antológico Bar Estrela. Devido ao seu engajamento no movimento estudantil dos anos 70, foi preso e torturado pela ditadura militar. Sua trilogia literária versa principalmente sobre Taguatinga (“Ta’wa’tiga”) e Ceilândia (“C.E.I. Land”), cidades onde sempre morou e trabalhou; o que não o afastou da temática universal, influenciado pelo seu patrono poético Augusto dos Anjos. Por ser considerado o maior poeta da história local, é também chamado de “POETA MURALHA, o Imortal da Poesia Candanga”. bibliografia: Título: VERSO É VERSO O RESTO É PROSA Editora: GRÁFICA SATURNO Ano: 2008 Candanga C.E.I. “Land” (Fragmentos) Ceilândia... lândia dos filhos das aves de arribação Que aos grandes bandos vieram das bandas lá do sertão Nas asas dos paus-de-arara, nos lombos de caminhão Fazendo curvas rasantes, voando bem rente ao chão Com a ajuda de Padim Ciço, padrinho de Lampião Sertanejos retirantes da colheita de carvão Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão! Ceilândia... lândia dos filhos das aves de arribação Que construíram Brasília, o orgulho deste torrão Torrão que também é deles, mas que nem sabem quem são Pois que empenhados nas obras, com toda dedicação Nem em sonhos construíram sua própria habitação Por isso em cada caixote tinha um barraco-embrião Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão! Ceilândia... lândia dos filhos das aves de arribação Que transformavam caixotes em telhas de barracão Crescendo o Plano Piloto nas vilas em progressão Na IAPI, na Tenório, na Mercedes da ilusão Formando o maior complexo da mais famosa invasão Que crescia na medida em que crescia a migração Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão! Ceilândia... lândia dos filhos das aves de arribação Abre as portas, Taguatinga! Lá vem mais um, meu irmão!!! (*) Poema épico candango originalmente escrito em 1971 e publicado pela primeira vez em 1984. 122 123 Coletânea Antonio miranda Candanga Na Academia de Letras *Poema do Barão de Pindaré Júnior (pseudônimo de Antonio Miranda) Usava dois ternos, A NTONIO LISBOA CARVALHO DE MIRANDA nasceu dia 05 de agosto de 1940 em Bacabal/MA. Está em Brasília desde 1967. É mestre em Ciências da Informação, doutor em Comunicação e professor da Universidade de Brasília/UnB. É também poeta e dramaturgo. Publicou em 1971 o clássico poema “Tu País Está Feliz”, já traduzido em mais de dez idiomas e encenado em mais de vinte países, especialmente no continente latino-americano. Atualmente, ocupa o cargo de diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, responsável pela I Bienal de Poesia de Brasília – I BIP/2008. com intermitência: um, cinza, o outro, preto; um, para o chá das cinco, o outro, com igual freqüência, para o enterro dos imortais. bibliografia: 124 Título: POEMÁRIO Edição: I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA Ano: 2008 125 Coletânea Arlete Sylvia A RLETE SYLVIA nasceu em Belém do Pará no dia 5 de julho. Graduada em letras pelo UniCEUB, é professora e aluna de música. Trabalhou por muitos anos no Ministério da Educação/MEC e na Universidade Católica de Brasília. Foi também voluntária do Centro de Valorização da Vida/CVV. Sempre foi apaixonada pelo romantismo das poesias, porém somente agora com o incentivo de amigos, tomou iniciativa de mostrar a todos o seu lado de escritora, para deleitá-los com este “Hino ao Amor”. Além da Academia Ceilandense de Letras, faz parte da Associação Nacional de Escritores/ANE. Seu patrono literário é o médico paraense Sérgio Martins Pandolfo, para quem escreveu o poema aqui publicado. BIBLIOGRAFIA: Candanga Mãos Abençoadas Que Deus abençoe sempre suas mãos! E elas possam trazer felicidade. Mesmo convivendo com seres não-sãos, Elas demonstram toda a sua bondade. Quando nós vimos a esta Terra, Todos temos destinada uma missão, A sua é grandiosa nessa era. É sublime, pois exige o coração. Coração que vive tão escondido... Onde só o dono sabe o que sente, Tristeza, alegria, amor contido, Porém a emoção se faz presente. Feliz de alguém que nasceu para brilhar; Mãos que sabem operar e escrever. Que palavra eu teria pr´exaltar... Quem foi abençoado desde o nascer. Título: UM HINO AO AMOR 126 Editora: THESAURUS Ano: 2006 127 Coletânea Astrogildo Miag Candanga Chama Apagada (Por ocasião da morte de Leonor Regis) A STROGILDO MIAG REGIS BARBOSA nasceu dia 25 de novembro de 1955 em Remanso/BA. Após vinte anos em Salvador, capital do Estado, mudouse para Brasília, onde é servidor público e membro titular da Academia Taguatinguense de Letras. É autor de cinco romances imbuídos de lirismo e de humor, marcas maiores do escritor. Publicou em 2007 o livro “Era uma vez um Comunista”. Dedicando-se com intensidade à prosa, o autor também se aventura pelos versos. Da sua obra poética praticamente inédita brinda nossos leitores com “Chama Apagada”. bibliografia: 128 Título: MEMÓRIAS DE UM COROINHA Editora: GUARÁ Ano: 2005 O quarto ficou vazio. A cama já não existe. A mala de tábuas largas onde se guardava a mortalha está vazia. As sandálias que pouco usava panos, colchão abandonados. E o quartinho no fundo da casa perdeu toda a originalidade. O gosto amargo, velho; o rosto desfigurado, magro; o ar abafado os gemidos lacrados os pedidos frágeis o corpo imóvel os móveis o banco de cabeceira o chão sujo negro acostumado sem água desde que adoecera; os braços magros compridos paralíticos!... Tudo mudou. Pouco ainda existe. O velho candeeiro de asas secou o pavio. Sua chama tênue confundiu-se com o reflexo de muitas velas e morreu... - Morreu com ela. 129 Coletânea Carlos Augusto Cacá Candanga Margarida Alves Lá estão elas rompendo a estrada. Deixam distantes seus dias risonhos. c ARLOS AUGUSTO CACÁ é formado em Sociologia pela UnB. Escreve poesias, contos e artigos sobre cultura. Organiza recitais em praças, cafés, bibliotecas e mobilizações de trabalhadores. Publicou em 2006 o livro “Máscaras” (contos e crônicas). Valoriza a linguagem popular “pela sua atitude amorosa aos que lutam por uma nova sociedade”. Fez parte do grupo de teatro Retalhos e já foi presidente da Confederação Nacional de Teatro Amador. Integra a Tribo desde quando foi fundada em 2000 (grupo multicultural que mensalmente realiza saraus e edita a revista homônima “Tribo das Artes”). Já desistiram dos contos de fadas. Hoje cultivam os seus próprios sonhos. Lá estão elas cerrando fileiras. Trazem enxadas e foices nos ombros. Fadas madrinhas se tornam guerreiras. Marcham por sobre seus próprios escombros. Se já não têm o destino nas mãos, Se, sob os pés, lhes retiram o chão, Ainda assim vão em busca da vida. Se lhes acuam, empurram pra morte, Criam desvios, mas mantêm o norte. bibliografia: Seguem marchando feito Margarida. Título: FADAS GUERREIRAS Editora: LGE Ano: 2003 (*) Homenagem à líder dos trabalhadores rurais sem terra de Alagoa Grande/PB que foi assassinada em 12 de agosto de 1983 e cujo nome hoje é o símbolo da Marcha das Margaridas. 130 131 Coletânea Chico Morbeck c HICO (FRANCISCO FERREIRA) MORBECK nasceu em Inhumas/GO e reside em Brasília desde 1960. Professor de Artes Cênicas, em 1972 montou no SESI de Taguatinga o espetáculo “Prometeu Acorrentado”, de Ésquilo. Em meados dos anos 70, fundou o grupo Favela Teatro Popular, onde dirigiu “Lampião em 2 Tempos” e “A Farsa do Delegado”. Já na década de 80 – pulando sua história política - organizou o projeto Mandacaru, bem como o projeto Marimba, ambos na cidade satélite de Ceilândia. Atualmente, além de coordenar um curso de idiomas, prepara o lançamento de um CD e do livro “Confissões Vermelhas”. 132 21 de Abril Ninguém me imagina triste À espera de alguém Só me imaginam gigante Com a certeza dos vagões no trem Ninguém me imagina pequeno A cair nos braços de um bem Só me imaginam colosso Com os fuzis nas batalhas que vem Ninguém me imagina frágil Como quem não sabe se o amor vem Só me imaginam mãe gentil Com as pedras que a montanha tem Assim liberto, assim prisioneiro Vou batucando no compasso da espera Logo após o último desfile de carnaval, sou eu No minuto seguinte da bola no fim do jogo, sou eu Nas noites de domingo antes do início das batalhas, sou eu. Brasil: uma esperança em cor de sangue Um retrato em tom de mangue. bibliografia: Candanga Título: NASCIDO AQUI Edições: FAVELA PRODUÇÕES Anos: 1979 Naquele minuto... após a partida do trem. Naquela felicidade... Prometida pelas manhãs que vêm. 133 Coletânea Clodo Ferreira Candanga Mentira da Saudade A frente da casa é bem menor Aquela janela é uma só c LODOMIR FERREIRA piauiense de Teresina, nasceu em 1951. Veio com a família para Brasília em 1964, residindo por quatro anos em Taguatinga, cidade-satélite na qual iniciou sua carreira artística. Em 1972 venceu o Festival de Música do CEUB, quando conheceu o cearense Raimundo Fagner, intérprete de “Revelação” - seu sucesso de referência. Compositor, com três discos solos e seis outros lançados em parceria, é autor de mais de 100 músicas gravadas por nomes da MPB como Zizi Possi, MPB4 e Dominguinhos. É doutor em História Cultural e professor de Comunicação da UnB. Em 2000 dirigiu o vídeo “J. Borges, cordel e gravura”, depois transformado no livro “J.Borges por J.Borges”. Aberta no olhar perdidamente E tinha uma rua ao redor A usina tocava, e o resto é pó Grudado no olhar eternamente Rever a paisagem na lembrança Aumenta o desejo e a esperança Mas não traz de volta uma cidade Tirando as pessoas encantadas bibliografia: 134 E alguma alma bem amada O resto é mentira da saudade. Título: J.BORGES POR J.BORGES Editora: UnB Ano: 2000 135 Coletânea Dinorá Couto D INORÁ COUTO CANÇADO nasceu em Bom Despacho/MG. Está em Brasília desde 1974. Professora, dinamizadora de bibliotecas e incentivadora de leituras. Publicou em 1997 o livro “Revolucionando Bibliotecas” e atua como voluntária na Biblioteca Braille Dorina Nowill. Participa ativamente de congressos nacionais e internacionais, sempre levando as experiências de leituras do DF, já com alguns reconhecimentos: Destaque ODM 2005, Cidadã Honorária, Mérito Espírito Candango, Cidadã de Ouro e finalista do projeto do MEC VivaLeitura. bibliografia: 136 Título: REVELANDO AUTORES EM BRAILE Editora: BIBLIOTECA DORINA NOWILL Ano: 2001 Candanga Beleza que Encanta Protegida pela UNESCO, uma das mais belas cidades A maior realização de um sonho modernista Tombada como patrimônio cultural, assim é Brasília. Recorde o início desta história, os espaços, as obras, Incluindo até árvores, um tombamento bem singular. Monumental, o Eixo, a avenida mais larga do mundo Outros como o Eixão, os eixinhos e até o eixo rodoviário. Na beleza dos palácios, da ponte JK e Lago Paranoá Inúmeras outras nos encantam, os vitrais, cidade-parque, O Catetinho, a Catedral, os ipês floridos, o cerrado! De prédios do governo local, Memorial JK - a oeste A Espalanada dos Ministérios, Palácio do Planalto, Congresso - a leste. Hoje, com setor novo, o Complexo Cultural da República Uma dupla obra, com Museu e Biblioteca Nacional. Mais cultura, com Teatro Nacional, o Festival de Cinema... A construção alta da cidade, com mirante: a Torre de TV. Na grandeza da ação de Juscelino Kubitschek de Oliveira Ilustres nomes como Niemeyer, Lúcio Costa, Athos Bulcão Deram vida e beleza à Brasília: cidade-inovação A partir de um sonho, de ser a capital do país Da plena integração arte com arquitetura surge Brasília Eleita patrimônio, beleza que encanta e nova capital da cultura. 137 Coletânea Candanga Elton Skartazini Samambaia Deixo na poeira J OSÉ ELTON SKARTAZINI nasceu dia 08 de dezembro de 1961 em David Canabarro/RS. Formado em Jornalismo, é editor, escritor, crítico de música, fotógrafo, cenógrafo, ator, escultor, artista plástico e produtor cultural. Veio de Porto Alegre para Brasília em 1989 – ano do assentamento de Samambaia – como concorrente do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro com o curta “Van Gogh” – interpretado pelo próprio. Lançou em 1997 o projeto “O Grande Quadro” de difusão cultural geral da Samambaia, cidade onde mora desde a sua criação e onde hoje fica o seu histórico ateliê candango. gravado o meu rastro. Trago no meu rosto misturado suor e lágrimas. Concretizo o meu sonho com areia, cimento e ferro. bibliografia: Enquanto ao meu redor 138 se agiganta uma cidade. Título: O GRANDE QUADRO Edição: PRÓPRIA Ano: 1997 139 Coletânea Emanuel Lima Candanga Hino à Ceilândia Cidade construída com energia Sobre um terreno cheio de erosão É uma prova de grande valentia De sua varonil e justa população e MANUEL MAGALHÃES LIMA nasceu dia 02 de outubro de 1955 em Caicó/RN. Está em Brasília desde 1967. Mudou-se para o Canadá em 1973, de onde –“ para matar a saudade do torrão nacional” – fundou a Liga dos Poetas Brasileiros, da qual é seu presidente e correspondente histórico. Diplomado em Magistério, é professor, escritor e tradutor. Publicou em 1985 a primeira novela candanga de época “A Lua Está na Moda”. Por residir no setor entre bairro de Taguatinga & Ceilândia, é conhecido como “O Maior Cronista da Tailândia Brasiliense”. Ceilândia! Oh! Ceilândia! Por ti sempre cantaremos! Ceilândia! Oh! Ceilândia! A teu lado sempre estaremos! Teu comércio e tua indústria São conhecidos no mundo inteiro Todo o povo alegre desfruta Este rincão todo brasileiro Ceilândia! Oh! Ceilândia! Por ti sempre cantaremos! Ceilândia! Oh! Ceilândia! A teu lado sempre estaremos! A beleza de tuas mulheres bibliografia: A coragem de teus homens Atraem de todos os lugares Título: A LUA ESTÁ NA MODA Editora: ATL/FAC Ano: 2006 Muitos imigrantes de renome Ceilândia! Oh! Ceilândia! Por ti sempre cantaremos! Ceilândia! Oh! Ceilândia! A teu lado sempre estaremos! 140 (*) Concurso oficializado pela OS n° 93/2001 da Administração Regional IX de Ceilândia. 141 Coletânea Ênio Rudi Sturzbecher Candanga Trabalho! São todas essas águas mergulhando entre montanhas e pedras ê NIO RUDI STURZBECHER nasceu dia 17 de novembro de 1955 em Mondaí/ SC. Credita seu sobrenome - de difícil pronúncia - à família de imigrantes alemães. Está em Brasília desde 1974. Licenciado em Geografia e pós-graduado em Administração Escolar. Professor muito envolvido com as causas ambientais, já foi por duas vezes diretor de escola pública. Costuma dizer que “escreve poesia para desintoxicar o espírito”. Publicou em 1997 o livro “Somando Perdas”. - perdas irreparáveis - sujas da vida que arrancam das encostas onde homens trabalham pela vida! Pela vida sem tempo de riso trabalha o homem no campo e, o campo exaurido é prenúncio de morte, não apenas a morte de si mesmo, mas mesmo de quem deseja a fartura! Tão imbecil é o ser humano com toda sua inteligência! suas grandes conquistas são tão fúteis, fáceis históricas de homens brancos, “limpando a terra”, acumulando bens inúteis! Trabalha o homem no campo, trabalho duro entre pedras, montanhas, bibliografia: vales e vontades desperdiçadas... desrespeito de princípios, 142 final de temporada de caça Título: SOMANDO PERDAS Editora: ASEFE Ano: 1997 carcaças descarnadas de homens mergulhados na utopia da vida passageiros inexoráveis da síndrome da fome! 143 Coletânea Gonçalo ferreira G ONÇALO FERREIRA DA SILVA nasceu no dia 20 de dezembro de 1937 na cidade de Ipu/CE. Fundador e presidente da ACBL - Academia Brasileira de Literatura de Cordel, é autor de mais de duzentos opúsculos de literatura de cordel, além de ensaios, textos críticos e inúmeros artigos para revistas, jornais e anuários acadêmicos. Algumas de suas produções já foram vertidas para idiomas importantes como francês, inglês, alemão e japonês. Senhor Livro (fragmentos) Dedico ao senhor meu livro eterno e sincero amor, ele me ensina em silêncio sem ar de superior; por ser meu fraterno amigo antes de dormir eu digo: - Vou guardar meu professor. Confidente verdadeiro, companheiro e aliado, portanto querido livro eternamente obrigado, pois fraternalmente mudo o senhor me ensina tudo humildemente calado. Obrigado, senhor livro, pelo seu grande valor; só como mestre em carne e osso não se chega a ser doutor; mesmo depois de formados nós somos sempre obrigados a consultar o senhor. Difusão Cultural: Instituição: ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DE CORDEL Fundação: 7 DE SETEMBRO DE 1988 Edições: MILART - RJ Da inspiração mais pura, No mais luminoso dia, Porque Cordel é cultura Nasceu nossa Academia O céu da literatura A casa da poesia. 144 Candanga Como Confúcio o senhor faz bem sem olhar a quem e sem esperar jamais recompensa de ninguém; o título, com mil louvores de “professor dos doutores” ao senhor cai muito bem. 145 Coletânea Gustavo Dourado a MARGEDON (pseudônimo d e F R A N C I S C O G U S T AV O D E C A S T R O DOURADO) nasceu dia 18 de maio de 1960 em Ibititá/BA. Está em Brasília desde 1975. Diplomado em Letras, é professor de Português e autor de onze livros. É produtor cultural e membro de várias academias e entidades socioculturais. É ainda Presidente Emérito do Sindicato dos Escritores do DF. Participa ativamente de feiras do livro me Brasília, no Brasil e no exterior. Em 2000 inaugurou a Estante do Escritor Brasiliense, na Biblioteca Central da UnB. Recentemente, participou do filme “A Poesia do Barro.” Como autor de centenas de folhetos de cordel, improvisa e declama brilhantemente. Apresentou originalmente o “Cordel do Amargedon” no I Festival Nacional de Cordelistas e Poetas Repentistas (Ceilândia/DF, agosto de 1980). bibliografia: 146 Título: CORDÉLI@ Edição: INTERNET Ano: 2008 Candanga Cordel do Amargedon (fragmentos) Pra começo de viagem Preciso me apresentar Sou poeta do destino Uma história vou contar Da Guerra do Amargedon Que ao mundo vai transformar. Surge a grande meretriz Babilônia, a grande musa. O caos se espalha na Terra A multidão fica confusa Sorve a taça de sangue: Que a Besta-Fera U.$.A Refaço a visão do apocalipse Do profeta São João A cidade dos remidos A musa da salvação O berço da eternidade A glória da perfeição. A Terra fora dos eixos Em grande transformação Terremoto e hecatombe Maremoto e furacão Ondas gigantes no Mar E a fúria do vulcão. Não se fala em poesia Só se vê corrupção Filhos desrespeitam os pais Cresce a prostituição Comanda a ditadura: Com tortura e repressão. O egoísmo não morreu Faz o homem se matar Avareza e mentira O homem a enganar Usura e lucro fácil O homem a explorar. Os ricos estão mais ricos Muita gente a roubar Desfalcam o nosso erário Sem ligar para o azar Exploram o dia todo Para o tesouro aumentar. O homem não tem remédio É um eterno carniceiro Desde os tempos da caverna Tem mania de guerreiro A Guerra do Amargedon Abalará o mundo inteiro... 147 Coletânea Ildefonso Sambaíba Candanga Esta Língua Portuguesa Ela é feminina Elo masculino i LDEFONSO PEREIRA DE SOUZA SAMBAÍBA nasceu dia 23 de janeiro de 1953 em Grajaú/MA. Está em Brasília desde 1972. Servidor público, é doutor em Filosofia, mestre em Educação e bacharel em Comunicação Social. Foi jornalista responsável pelo periódico “Escriba” do SEDF e ex-funcionário da Imprensa Nacional. Atualmente, assina a coluna “Ciência ponto Consciência” para o jornal Linha de Frente. Publicou em 2000 o livro “Buquê de Urtigas”. É membro da Academia Taguatinguense de Letras e da Associação Nacional de Escritores. Elo ou ele? A poeta é fêmea O poeto macho Por que não? Eu poetizo (z) Ela: poetisa?! bibliografia: Nós poetizamos Título: QUEM MATOU AS GAZELAS? Editora: SER Ano: 2004 Têm razão... 148 149 Coletânea Jerônimo de Caldas j ERÔNIMO GENOILTON DE CALDAS nasceu dia 02 de março de 1962 na Paraíba. Além de Brasília, já morou no Tocantins e em São Paulo, onde se tornou colunista do jornal Gazeta do Taboão da Serra. Sempre de forma independente e contando com o “apoio cultural” do empresariado local, já publicou vários livros, inclusive “A História do Nordestino”. Apoio Industrial: 150 Família: ELEUZA & ANTONIO ReALUMÍNIOS Filhos: GANDHI, EINSTEIN, MAXWELL, ARMSTRONG e GORBACHEV. Candanga Traças Não Corroem Glória (fragmentos) Alfredo Evangelista é o retrato de um típico e genuíno homem nordestino, nascido numa pequena cidade do sertão. Homem pacato, que vivia tranqüilo em sua atividade diária, trabalhando a dura vida de agricultor. Em pleno sol causticante, cultivava sua lavoura com muita dificuldade, a falta de boas chuvas era um castigo que atormentava aquele homem com mãos calejadas. Morava numa pequena casa simples, feita de barro e cipó, com seus cinco filhos, três homens e duas mulheres. Juntaram as economias de todos, e em pouco tempo concluíram a obra do tão sonhado poço, pelo fato do lugar de perfuração ser muito dificultoso, gastaram quase tudo o que tinham, a água só começou a minar a dezenas de metros de perfuração. Isto levou quase um ano de trabalho e uma boa parte da aposentadoria de seu Alfredo; todos fizeram um grande esforço, bem justo, pois tratava-se de uma causa essencial à sobrevivência da família. Como o custo foi altíssimo - comparado ao calibre financeiro da família - a esperta filha Augusta teve uma brilhante idéia (era de se esperar que de sua privilegiada cabeça algo iluminado sairia): já que não pudera expor os seus artesanatos, venderia-os na beira da estrada. Todos os dias, percorria uma distância de quase sete quilômetros, colocava seus trabalhos na sombra de um grande juazeiro na beira da estrada e ficava à disposição dos viajantes que passavam por ali. A estrada era bem movimentada, principalmente pelos que iam fazer feira na cidade vizinha, ela percebeu com o tempo que poucas pessoas paravam, resolveu então fincar uma grande placa, ignorando algumas regras básicas de português, a uns cem metros do local de venda: “Beba água pura do Alfredo”, estratégia com a qual conseguiu com que as pessoas curiosas parassem e além de beberem um pouco da tão falada água - de graça - compraram sem dificuldades os belos trabalhos da simpática moça. Os viajantes eram surpreendidos pela criatividade de “marketing” da garota, que conseguiu assim vender todas as suas artes, e não precisou fazer exposição alguma para isso! 151 Coletânea João Bosco Bezerra Bonfim J OÃO BOSCO BEZERRA BONFIM nasceu dia 30 de outubro de 1961 em Novo Oriente/CE. Está em Brasília desde 1972, onde se formou em Letras pela UnB. Antes de se tornar Consultor Legislativo do Senado Federal, atuou como professor de português e literatura. É mestre em Lingüística, com pesquisas na área de Análises de Discursos. Publicou em 2002 “A Fome Não Sai no Jornal”, dentre outros. Na foto acima, aparece em cima de uma parada de ônibus, num criativo e poético protesto contra a retirada dos poemas “concretados” na W3 Sul. bibliografia: 152 Título: O ROMANCE DO VAQUEIRO VOADOR Editora: LGE Ano: 2003 Candanga O Romance do Vaqueiro Voador (Fragmentos) Quem em noite de lua Da Esplanada dos Ministérios Se aproxima há de ouvir u’a Voz que ecoa, entre blocos E um aboio assim sentido De onde vem? Mistério! Agora vamos saber Quem terá sido esse tal Que despencou do prédio Cavalgando que animal? Voou de que maneira? Gente de bem ou cria do mal? Que segredo esconde Essa aparição medonha Será milagre de Deus, Será alguma peçonha? Se quer saber então ouça, Não faça cerimônia. Era valente ou o quê? Aquele Oraci Vaqueiro Com faca na cinta, Com ar zombeteiro, Sorriso entre dentes Nas artes era treteiro. Era de janeiro primeiro, Nos idos anos cinqüenta Quando voou um vaqueiro De altura sem tamanho Espatifou-se no chão Teve da vida o desengano. Era pobre operário Retirante sem valor Versejador de mão cheia Analfabeto e ladino Fazia troça da dor Na morte tirava fino. Desse fatal acontecimento Ninguém jamais teve notícias Não deu manchete em jornal Nem registro na polícia E foi sua sepultura Desconhecido precipício. Ei-lo caído de bruços Para o campo paramentado Peitoral, perneira, gibão Chapéu passado o barbicacho Voou no rabo da rês Mas só chão havia embaixo. 153 Coletânea José Orlando Pereira da Silva Candanga A Musa Para o poeta A alma da mulher J OSÉ ORLANDO PEREIRA DA SILVA nasceu dia 06 de setembro de 1942 em João Pessoa/PB. Está em Brasília desde 1966, quando veio transferido como funcionário do DNOCS. É bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pelo UniCEUB. Aposentado do serviço público, estabeleceu sua banda de advocacia em Taguatinga, local onde mora e integra – como membro correspondente - a academia de letras. Além de escrever artigos para a revista “O Elo”, já publicou os livros “Memórias de Mato Grosso”, “Se Não Fosse o Primo Viterbo”, e “Direito Inspecional do Trabalho”. Transcende a visão sensual... Ao desenhá-la em versos, Transforma-a em deusa, De sinuosidades perfeitas, De inteligência angelical, Cultua-a como se fosse santa, Materializa sua fantasia E chama-a de musa!... Nem todas as mulheres, Menos ainda as evidentes, Mas só aquela Que lhe inspirou os versos: A mulher singular, bibliografia: Título: O DESTINO DE RONCÔ Editora: ATL Ano: 2007 154 Única, fascinante, De quem, mesmo à distância, O poeta vê a imagem, Ouve-lhe a voz, E roga por sua volta, Para abraçá-la!... 155 Coletânea Lilia diniz “Mulher do baque solto menina da pá virada de arrepiar na quebrada mas isso ainda diz pouco pra entender a metiz a verve dessa atriz que além de tudo é poeta é uma mulher completa a nossa Lilia Diniz” Cacá “Canto tudo o que existe canto o alegre e o triste sou poeta popular” CD Gilson Alencar bibliografia: 156 Título: MIOLO DE POTE DA CACIMBA DE BEBER Edições: LAMPARINA K&R Ano: Março de 2007 Candanga Encomenda Indo à feira da Ceilândia Encontrando meu benzinho por lá Diz que eu tou quase morrendo Com uma saudade medonha Passo o dia a choramingar. Diz que mande nem que seja Uma cuia de feijão pra mim Mas tem que ser do Piauí Ou intão mande uns cravim Pra eu mastigar todo dia E não esquecer dos seus bejim. Que se quiser pode mandar Uma buchada temperadinha Pelas mãos de Rita véia Com coentro e cebolinha Que bote assim de quebra Um punhado de farinha E tem que ser de puba Daquela caroçudinha. Aceito de muito bom grado Um queijo de coalho de Caicó Também me lambuzo todinha Ai, mas se ele vier junto Pra eu num ficar mais só... Vixe Maria! Que eu prometo Devorar ele tim tim por tim tim No café, no almoço, na janta Empunhado ele de abraço e de bejim Tempero nosso imenso querer Arrisco até uns versim Mas vê se passa mermo Passa na feira da Ceí Traz essa encomenda pra mim. 157 Coletânea Márcio Cotrim M ÁRCIO DA SILVA COTRIM nasceu dia 14 de março de 1939 no Rio de Janeiro/RJ. Está em Brasília desde 1972. É jornalista e escritor. Publicou em 1985 o clássico “Crônica da Cidade Amada”. Cidadão Honorário de Brasília, foi Secretário de Cultura e idealizador da “primeira prefeitura de quadra” na 303 Sul, em 1977. Atual diretor-executivo da Fundação Assis Chateaubriand, dos Diários Associados, também faz parte do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal. bibliografia: Título: CRÔNICA DA CIDADE AMADA Editora: THESAURUS Ano: 1985 158 Candanga Brasília em Cascata (fragmentos) Alvíssaras, alvíssaras! Já está funcionando a primeira cascata numa quadra residencial de Brasília! Novinha em folha, fica na SQSW 101 entre os blocos C e J, no Sudoeste. A iniciativa foi da prefeitura da quadra, cujo titular é Luciano Gnone. A vice-prefeita, moradora do bloco J, é a simpática Eneida Carbonel, com quem conversei sobre o assunto outro dia. O prefeito estava viajando. A cascata, inaugurada dia 20 de dezembro passado, custou cerca de 5 mil reais, pagos pela comunidade. Isso, é claro, sem contar o paisagismo e a urbanização do local. É uma graça. Traz umidade, cria delicioso microclima em seu redor e ainda tem, para torná-la mais simpática, pequena ponte em japonês e acolhedores bancos que formam - em semicírculo - uma pracinha. Neles apetece sentar, ler o jornal, namorar ou simplesmente ficar pensando na vida. Jovens mamães e seus pimpolhos, senhoras e senhores, vovós e vovôs estão adorando, ali têm novo refúgio diário. Aproveitam o sol generoso ao som do barulhinho da água que cai e rola. Um universo mágico. Em meio à fanfarra pessoal de júbilo com a inovação, permitame lembrar-lhe que é como um sonho realizado. Sim, porque venho defendendo constantemente, repetidamente, a construção de chafarizes nas quadras de Brasília. Considero-me um chafarizeiro de carteirinha - que não é vantagem, nem privilégio numa cidade que padece, esturricada, quatro meses por ano, de uma seca feroz. E, como sabe até um bebê de colo, a solução para a seca é água, simplesmente água. Não me venha falar em desperdício , que a cidade não pode darse a esse luxo porque as reservas do líquido são escassas: os chafarizes quase não gastam água. Ela circula e sua evaporação não passa de 3%, segundo os técnicos da área. Em vez de chafariz, cascata. Tudo bem, principalmente para as crianças, as maiores vítimas da seca. Cascata vem do italiano e significa “pequena queda d´água”. 159 Coletânea Margarida Drumond Candanga Ode ao Poeta do Século no Brasil (fragmentos) Em cada poema vejo-te, oh, Drummond, de Itabira das Gerais. M Teus versos inovam, ARGARIDA DRUMOND DE ASSIS nasceu dia 10 de junho em Timóteo/MG. Filha de Manuel de Assis Bowen e Margarida Pacífico Drumond – cujo sobrenome já diz tudo sobre sua vocação para a literatura. Está em Brasília desde 1986. É professora, bibliotecária e membro efetiva da Academia Taguatinguense de Letras. Já quase chegando aos 49 títulos do “poeta do século”, sua vasta produção inclui os seguintes livros: Um Conflito no Amor, Aconteceu no Cárcere, Tempo de Saudade, No Acerto dos Bondes, Busca de Você, Além dos Versos, Pegadas no Tempo, Não Dá Pra Esquecer, Isso, Aquilo e Mais um Pouco, Padre Antonio de Urucânia a sua Bênção, Miragem, Além da Imaginação, A Busca da Paz, Seria Feliz se Pudesse, Preito a José de Alencar e De Novo o Amor. prescindem de uma métrica regular bibliografia: Carlos Drummond de Andrade Título: DE NOVO O AMOR Editora: PETRY/FAC Ano: 2006 ou de uma rima, mas conservam o ritmo, tão necessário à poesia. Finda agora o século em que nasceste, e, no comecinho do novo, no ano dois, lembramos o teu centenário. Com justiça foste eleito o poeta do século no Brasil. Assim, ergo-te este meu cantar: simples, mas um canto, Drummond, que tu, aí de onde estás, sentirás é pura poesia. o espírito de Minas Gerais também me visita. E mais cautelosa ainda estou. No emaranhado destes novos tempos, onde a realidade é mais forte que o sentimento, confundindo-me sempre, ergo-te este canto. 160 161 Coletânea Meireluce Fernandes M EIRELUCE FERNANDES DA SILVA nasceu dia 11 de setembro em Marabá/PA. Está em Brasília há 37 anos. Formada em Pedagogia, mestrado em Biblioteconomia, doutorado em Propriedade Intelectual pela Universidade de Sussex, Inglaterra (1998) e mestrado em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília (1981). Organizou em 2005 a antologia “Versos & Prosa” para a Academia de Letras e Música do Brasil. É escritora, diretora de cooperação internacional da Agência Espacial Brasileira e a atual presidenta do Sindicato dos Escritores do DF. É também membro efetiva da Academia de Letras do Distrito Federal. Candanga O Mar O mar estava tranqüilo Sem vento, A água morna, O sol abrasante... E eu a sonhar, Um sonho distante... Vendo as ondas Batendo nas pedras, O horizonte infindo... Qual uma longa espera, O barulho que vem De longe... Não é qualquer barulho, É aquele que faz vibrar O mais distante pensamento. O cheiro é sensual... Em mim provocante... Por que não dizer Afrodisíaco?... bibliografia: Título: SONHAR... AMAR... VIVER.... Editora: EDICEL Ano: 2002 Mar, introspecções e reflexões Nos traz... Com tuas pedras, tuas rochas E o teu brilho, Que reluz, parecendo cristais. Meus cabelos esvoaçantes Como barcos velejantes... Querem em ti flutuar, Porém só me resta desejar... 162 163 Coletânea Menezes y Morais J OSÉ MENEZES DE MORAIS nasceu dia 29 de julho de 1951 em Altos/ PI. Licenciado em História pela UnB, é professor, jornalista e poeta. Pioneiro do Sindicado dos Escritores, foi um dos seus fundadores que em 1977 assinou o requerimento no Ministério do Trabalho para a transformação da Associação Profissional dos Escritores do DF em entidade classista. Publicou em 1975 o livro “Laranja Partida ao Meio”. Tem participado de inúmeras antologias e integra o já histórico Coletivo de Poetas candangos. bibliografia: Título: COLETIVO DE POETAS Edição: SINDICATO DOS ESCRITORES/DF Ano: 1992 164 Candanga Domicílio Inviolável tudo me leva a ti camponesa com teus olhos de framboeza e teucheiro de abacaxi amo em ti esta manhã revolucionária bem pagu pra lá de passionária manhã de sonhos de marcas de cervejas em tua boca-cereja e obturações de porcelana meu coração liga tripa meu coração legião urbana clodo clésio climério paus de arara e suburbanos ita catta preta aldo justo beirão jorge antunes nonato veras meu coração marginal anuncia a primavera a estrada da saudade é apenas a estação do encontro e ondexiste vírgula leia-se pronto! isto não passa da frituras de linguagem a tv serve a tua ceia a gente ranga tuas metáforas preparadas em forno de raio-laser com satélites e microondas camponesa camponesa bebo de tua sede banho em tua fonte e persigo os teus desejos são renato matos regae por nós regina ramalho nicolas behr cineas santos orai pro nobis maria da inglaterra otacílio mendes elnora paiva meu coração caloro nesta vida banda de bandidos salgado maranhão sérgio duboc gadelha joão baiano vicente sá todo dia é dia da nossa marginalegria a utopia é de quem acreditar por derradeiro a utopia é de quem acreditar primeiro em matéria de gravidez não existe meio termo se não somos assim seja vire a mesa meu coração plebe rude não se ilude escola de escândalos arte no escuro nexo dia d 5 generais bsb-h artigo 153 unidade móvel eduardo rangel banda trem das cores meu coração capital inicial todos os corações filhos da luta todos os filhos da luta a vida é domicílio inviolável a vida é nossossonhos nossaboca nossacoragem o infinito do azul é a senha da vertigem e a vertigem é a senha da viagem. 165 Coletânea Candanga Nicolas Behr n ICOLAS (NIKOLAUS HUBERTUS JOSEF MARIA VON) BEHR nasceu dia 05 de agosto de 1958 no distrito Diamantino de Cuiabá/MT, filho de imigrantes alemães. Veio em 1974 para “a capital da esperança”. Publicou em 1977 seu best-seller mimeografado “iogurte com farinha”. Em 1982, ajudou a fundar o move (movimento ecológico de brasília). Em 1986, transferiu suas atividades ambientalistas pra funatura (fundação pró-natureza). Dedica-se, desde então, à produção de mudas de espécies nativas do cerrado. É autor do projeto “Poesia de 2ª” (sarau livre realizado toda 2ª segunda-feira de cada mês) no Quiosque Cultural do Ivan da Presença. Contemporâneo de Renato Russo, é tido como “o maior poeta das letras candangas”. o poeta descobre as cidades satélites e em entra em órbita mas não sabe a diferença entre taguatinga centro e taguacenter e eu pensava que ceilândia bibliografia: 166 Título: OITOPOEMASPARACEILÂNDIA Editora e Gráfica: TEIXEIRA Ano: 2009 tinha alguma coisa a ver com ceilão - não tem não 167 Coletânea Pedro Gomes P EDRO GOMES DA SILVA nasceu dia 09 de abril de 1941 em uma fazenda no Distrito de Iabetê - antiga Ponte Alta do Norte/GO, atual Ponte Alta do Tocantins/ TO. Técnico de Administração Pública, em 1977 tornou-se o primeiro membro da sua família com diploma de curso superior. Veio para a Cidade Livre de Brasília em 1960. Pioneiro de Taguatinga, faz questão de declarar que “viu bem de perto o nascimento da Ceilândia”, onde hoje leciona a sua filha. Participou das antologias da Casa do Poeta Brasileiro(POEBRAS-DF) “Brasília 25 Anos” de 1985 e “Dez Anos de Poesia e União” de 1988. Publicou em 2000 o livro “O Tortura”. bibliografia: Título: O TORTURA Editora: GRÁFICA TEIXEIRA Ano: 2000 168 Candanga Colo Amado Colo inigualável é o da bem amada, onde declinamos a cabeça sob o afago abençoado. Colo benfazejo, fonte dos desejos celeiro das inspirações. Acalento das ilusões. Colo bonito. Colo bendito. Colo anguloso. Colo formoso. Colo inigualável. é o da bem amada, travesseiros dos prazeres, fontes dos desejos, celeiro das inspirações. Colírio da visão. Colo belo, calmante do meu flagelo. Prêmio do amor sincero. Colo bonito. Colo bendito. Colo anguloso. Colo gostoso. 169 Coletânea Popó Magalhães P OPÓ MAGALHÃES SOUSA nasceu dia 03 de junho de 1950 em Santa Quitéria/CE. Pioneiro candango, está em Brasília desde 1960, quando aqui chegou aos oito anos de idade. Diplomado em Letras e Administração e pós-graduado em Literatura Brasileira e Língua Portuguesa, é professor da rede pública de Ceilândia desde os primórdios da cidade. Assim como “libertário literário”, Popó bem que poderia ser chamado de “o poeta das epígrafes”. Publicou em 2000 o livro “As Nuvens de Magalhães”. Além de pertencer à Academia Taguatinguense de Letras é também membro The Planetary Society, com sede em Pasadena/EUA. bibliografia: Título: EU ANJO EU CANALHA Edição: PRÓPRIA Ano: 1998 170 Candanga do Poeta, de Poetas “Sou criança, quando meu lado adulto se faz necessário uma criança; sou adulto ou mais que adulto, quando a criança quer tomar conta de mim.” Incansável poeta, Poeta improvável. Na sua mão a arma: A sua amiga caneta, Azul, vermelha, qualquer preta... Voa o seu coração de Cazuza, Usa os chicos verbos... Dylan, Leminsky, não arisque. Muralha, Nicolas, Popó sem pó, Sem dó, sol maior... e voz do fundo, Do mundo imundo... Trova aos sábados em Brasília e Poa, Taguatinga, Ceilândia-boa. E no álcool das piscinas, Acorda suas meninas, lágrimas nas retinas. Chora, Canta, Bebe, Maldiz, Não diz... Feliz, Infeliz, Poeta incansável... Boêmio, menino, E talvez um destino... 171 Coletânea Sandra Fayad Candanga Acróstico do Tamanduá Bandeira Tua figura não se classifica de beleza. Aparentas ser até bicho desagradável, s ANDRA FAYAD nasceu dia 15 de fevereiro em Catalão/GO, filha de família sírio-libanesa. Candanga de coração, guarda as boas recordações do tempo em que lecionou para crianças da Vila Tenório antes de serem removidas para a Ceilândia. Economista por formação e cronista por vocação, atua como colunista em vários portais, revistas e jornais virtuais, além dos textos publicados no Diário de Catalão a partir das pesquisas de observação da sua Horta Comunitária experimental. Foi deste projeto que saiu a publicação do livro “Animais que Plantam Gente”. Tem participação nas seguintes coletâneas: “Antologia dos Escritores Brasileiros” (2006), “Roda Mundo” (2007) e “Navegantes das Letras” (2008). Mas és um ser como eu, com certeza. Animal que sente, ama. És afável! No habitat, atacas apenas uma zona: Depredador de cupins e formigueiros, Usando patas com garras e linguona, Alimentas teu corpo por inteiro. Bonito é o teu papel na natureza. Ao lado do tatu e do bicho preguiça, No reino dos Xenarthra, és realeza. De insetos vives, mas se fogo te incendeia, Esturricado ficas, sem chance de defesa. Investir em ti, tirar-te dessa intricada teia, bibliografia: Recuperar tua espécie será grande proeza, A consagrar político, cientista e até princesa. Título: ANIMAIS QUE PLANTAM GENTE Editora: LGE Ano: 2008 (*) Referência ao incêndio de 2007 no Parque Nacional de Brasília que exterminou inclusive os tamanduás em fase de reprodução. 172 173 Coletânea Candanga Tetê Catalão Fala Satélite (fragmentos) Fala Ceilândia Fala satélite T ETÊ VANDERLEI DOS SANTOS CATALÃO nasceu dia 22 de novembro de 1948 no Rio de Janeiro/RJ. Veio para Brasília em 1972. Apesar de nunca ter escrito seu próprio livro, destacou-se como um dos protagonistas do histórico Projeto Cabeças; além das destacadas participações nas antologias alternativas candangas da “Ebulição da Escrivatura” (1976) e dos “16 PoRRetas” (1979). Hoje, além de jornalista profissional brasiliense reconhecidíssimo, atua como fotógrafo amador cultural discretíssimo. Fala para a elite Fala para plebe Fala e cala Fala para quem te impede Fala satélite bota barro no carpete Berra no acrílico da maquete Periferia bracelete do plano e seu piloto Plana satélite - mete a gilete no joguete - dá o troco bibliografia: Título: 16 POrrETAS Editora: SIND. JORNALISTAS Ano: 1979 174 Éter satélite - sonhos e buscas - boca de filete Desmente essa cultura lanchonete - faz piquete Brota satélite - para não ser curral nem marionete Mostra que pode - mata a sede - arrisca a pele, mostra o bode Faz satélite e vai ser célebre - celebre! 175 Coletânea Valnira Vaz Candanga Alheamento TÊNUES imagens vindas e findas, Desvelam-se ao meu alhear-me V ALNIRA DE MELO VAZ nasceu dia 30 de outubro em Recife/ PE. Está em Brasília desde 1962. É diplomada em Psicologia e atua como professora no Centro de Ensino Médio 10 da Ceilândia, onde integra - com os demais educadores - o projeto literário ADIP (Academia Dez da Imortalidade Poética), responsável pela publicação da coletânea escolar “Celebrações Poéticas” e que contou com o apoio (e reconhecimento) da UNESCO e do Ministério da Educação. Publicou em 1994 o livro “Turmalina”. E nesse cicio espontâneo, inda que lindas, Segredam sonhos ao desperto estagnar-me. Para onde vai o pensamento Quando o olhar passa pela janela? Onde o vagar do meu incero olhar Pinta cores em distante tela? Que rumos descreve o pensar liberto, Solto, ao contemplar a lua tremeluzente Nas águas de regato incerto? Como a consciência da consciência ausente? bibliografia: Título: TURMALINA Editora: THESAURUS/ASEFE Ano: 1994 176 Só sei que deliro. E nesse devaneio creio o que crio, Dando, a essa seda, a razão Esvoaçante da emoção. 177 Coletânea Xiko Mendes X IKO MENDES (FRANCISCO DA PAZ M. DE SOUZA) nasceu no emblemático 1968 (“o ano que não terminou”), em Formoso de Minas Gerais. Mora na histórica cidade de Planaltina desde 1989. É professor de História e Filosofia da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal. Pós-graduado em Ecologia Urbana pela Universidade Católica de Brasília, é também muito conhecido como poeta e historiador cerratense. Em parceria com o professor Ronaldo Mousinho, organizou a coletânea do “Projeto Aluno-Escritor/Planaltina” (ASEFE/1996). Publicou em 2002 seu épico livro “Formoso de Minas no final do Século XX – 130 Anos” (uma paidéia de quase mil páginas contendo até um “hino” à sua terra natal). É membro fundador da Academia Planaltinense de Letras/APL e ainda faz parte da Academia de Letras e Artes do Planalto/ Luziânia-GO, da Academia de Letras do Noroeste de Minas/Paracatu-MG e da Associação Nacional de Escritores/ANE-Brasília. bibliografia: Título: O MITO DA INTERIORIZAÇÃO ATRAVÉS DE BRASÍLIA Edição: ASEFE Ano: 1995 178 Candanga Ler é Viver! Ler um livro é ignorar fronteiras; Expor-se a idéias como ao vento; É derrubar muralhas e trincheiras Apenas com a força do pensamento. Ler um livro é esquecer o relógio; Porque idéias pulsam como as horas; Transcendem a morte e os necrológios, Transformam a vida e a nossa história. Ler um livro na escola ou em casa É sentir sem perceber o que é liberdade Porque o livro é como se fosse a asa, Pois a gente voa em busca de verdades. Ler um livro é transportar sonhos No delírio pleno que, em cada palavra, Me faz ver o quanto me envergonho... Quando dizem algo do qual não sei nada. É para isto que sempre leio um livro: É para saber sempre e cada vez mais. Com um livro sinto que de fato vivo Porque viver é não deixar de ler... Jamais! 179 Coletânea Zé Luiz Candanga Fala Povo Vou relatar o meu pensar Nesse espaço da poesia Da agonia que é viver J OSÉ LUIZ MUNIZ GOMES nasceu dia 30 de setembro de 1953 em Coroatá/ MA. Morador pioneiro do Setor ‘P’ Sul da Ceilândia, orgulha-se de ter ajudado a fundar a paróquia da Mãe Divina Providência, aonde até hoje presta seus serviços cristãos. Publicou em 1999 seu único livro “Renúncia”. Ex-atleta maratonista, hoje trabalha como feirante na ASFEGUASUL (a feira localizada entre a Guariroba e o ‘P’ Sul) e acredita piamente na força comunitária da sua gente. Nesse pedaço de chão Fala povo, chora povo Mas não se cala não Se for preciso, morra povo Nesse pedaço de chão Povo que perde a voz Não é cidadão Não pode ficar entre nós Nesse pedaço de chão bibliografia: Povo ameaçado, denuncia Exerce sua cidadania Título: RENÚNCIA Edição: PRÓPRIA Ano: 2003 O silêncio nunca foi solução “Oh! Mãe da Divina Providência Que nos acolhestes com seu olhar Estenda sua mão e dai-nos proteção” 180 Nesse pedaço de chão. 181 PASSAGEIRO DAS ESTRELAS À conterrânea de mala paraibana MARIA JOSÉ A luz que acendeste aqui Vulcão que não adormece mais O que espantava em ti Um lobo acordando a paz O voo que tentaste dar Trapézio foi curto demais. Que mensagem tentaste passar Si no riso de nosso olhar Reflete o sinal da dor Não foi tão natural A espanhola despencou E o pedaço da noite Escureceu sem teu amor O vento que enfeitava teus cabelos Te iludiu, te fechou Tu que enfeitavas a natureza Aqui para nós, quem te ensinou? Mumunhas, OLHOS D´ÁGUA, poço azul O disco avoantes que tu eras Poeta, lobo sentinela Si escuta na floresta A voz do rapaz Ladeira de águas limpas Pára-raio da nobreza Sereno de teu olhar Acendes nossas fogueiras Quando formos acampar Presença em todas as fontes Brisa pra rememorar. 182 Capítulo V (A SERENATA DA ACAUÃ) Os Pioneiros das Letras Candangas 183 Coletânea Stella Rodopoulos Jamais verão a morte dos meus sonhos!... P elo fato de ter sido eleita pela comunidade literária candanga como “A Patronesse da 27ª Feira do Livro de Brasília edição 2008”- e também em atenção à solicitação feita pelos nossos estimados colaboradores Gustavo Dourado e Maria Félix - foi que solidariamente incluímos aqui o nome desta eloqüente escritora. STELLA ALEXANDRA RODOPOULOS nasceu dia 05 de outubro em Itacuruçá, município de Mangaratiba/RJ. Seus pais, naturais da Grécia, vieram para o Brasil em 1928. Residiu algum tempo em São Paulo, onde se casou em 1960 e, logo em seguida, veio para Brasília; daí o epíteto de “pioneira das letras candangas”. Como membro efetiva da Academia de Letras e Música do Brasil/ALMUB e detentora de valorosos prêmios, já recebeu a Comenda Carlos Gomes; pelo conjunto de toda a sua obra, recebeu o Troféu Johan Sebastian Bach; além da oportunamente desejada Medalha de Ouro da Academia Internacional de Lutéce, na França. Nossa escritora homenageada ainda pertence ao Instituto Internacional de Poesia/RS, à Casa do Poeta Brasileiro/ POEBRAS-DF e à Academia de Letras de Brasília. A Patronesse das Letras Candangas Candanga Cordel para Stella (homenagem do Poeta Amargedon) Stella: Estrela é... De grandeza universal Mãe, mulher e escritora Vate do transcendental Nossa Cora Coralina: Do Distrito Federal... Pioneira... Bandeirante Na Capital Federal... Stella pra lá de estrela Telúrica-espiritual... Escritora cristalina: Criativa e fraternal... Stella no Reino Encantado O Cavalinho Sonhador Filha de Itacuruçá Mangaratiba, um primor... Do Rio de Janeiro para o Mundo: Com suas Pétalas de Amor... Stella Alexandra Rodopoulos Serena, da alma pura Límpida, diamantina Semeia amor e ternura Mãe, mulher e pensadora: Deusa da Literatura... Os seus pais eram da Grécia, Divina terra de Platão... Tem a poesia no sangue: A arte da transmutação... Nossa Princesa do Cerrado: É Rainha do Coração... Em Paris, cidade-luz... Stella recebe o louro Da Academia de Lutèce Ganha a Medalha de Ouro... É consagrada na França: Com um brilhante tesouro... Uns tempos na Paulicéia Nossa Sampa capital Em janeiro de 1960 Em um ato ritual... Mudou-se para Brasília: Luz do Planalto Central... Um exemplo para todos Do Distrito Federal Poesia, amor e bondade Na senda espiritual... Uma estrela que brilha No cenário universal... ESCRITORA PIONEIRA 184 185 Coletânea Newton Rossi (em memória) Candanga Meu Canto Derradeiro Última Foto: ATL Data: 2007 e m reverência ao Poeta Muralha – parceiro de Newton Rossi no livro “Academia em Dois Discursos” – é que dedicamos esta página à memória do último trovador candango. NEWTON EGÍDIO ROSSI, que nasceu dia 29 de setembro de 1926 em Ouro Fino/MG e faleceu dia 28 de agosto de 2007. Amigo pessoal do presidente JK, veio de Belo Horizonte para Brasília em 1960. Como empreendedor, foi proprietário da Loja Cipal de eletrodomésticos, fundador da Federação Comercial do DF e diretor do SESC-DF por 25 anos. Teve seu “necrológio”recitado pelo presidente da Associação Nacional de Escritores Joanyr de Oliveira, no que se seguiu uma “homenagem crepuscular” com declamações de Ronaldo Mousinho, Gacy Simas, Rosidete Rose e Donzílio Luiz - este último, presidente da ACLAP. Por fim, o que mais poderia simbolizar a presença desse “mecenas candango” nesta coletânea senão a justa, porém inesperada homenagem que seu nome trouxe ao “primeiro teatro da Ceilândia”: Em meu canto derradeiro, Bendizendo o dom da vida, Meu coração fica inteiro Na trova da despedida. Teatro SESC Ceilândia TROVas ESCOLHIDAS - livro com a última trova escrita por Newton Rossi. 186 187 Coletânea Candanga Clemente Luz (em memória) Tributo À Memória Foto: Fernando Luz Data: 1993 C LEMENTE RIBEIRO DA LUZ nasceu dia 22 de setembro de 1920 em Delfim Moreira/MG e faleceu em 17 de outubro de 1999 na Ceilândia/DF. Pioneiro candango, veio para Brasília em 1958. Escritor e jornalista, tornou-se o primeiro cronista da nova capital; ofício que exercia diariamente - e de ônibus - no trajeto de sua residência ao trabalho (Radiobrás) no Plano Piloto. Tem em sua rica bibliografia “Ombros Caídos” (1942), “Bilino e Jaca, o Mágico” (1943), “Infância Humilde de Grandes Homens” (1944), “Aventura da Bicharada” (1949), “O Caçador de Mosquitos” (1956), “Pedro Pipoca” (1958) “Invenção da Cidade” (1968) e “Minivida” (1972). Juntamente a esta recente biografia - feita em parceria com o historiador da literatura candanga Ronaldo Mousinho - estamos reunindo outras publicações (como os livros reproduzidos abaixo) para o já tardio “Projeto Editorial Clemente Luz”. Com a transferência de favelados, promovida pela Comissão de Erradicação das Invasões, em 1971, cerca de 16 mil famílias foram transportadas, em caminhões da NOVACAP, da Vila do IAPI, das vilas Tenório, Esperança, e outras nas cercanias do Núcleo Bandeirante - e atiradas, com seus pobres pertences - em lotes de dez por vinte e cinco metros, apenas demarcados por piquetes de madeira, em ruas apenas delineadas, num loteamento que só se definiu muito tempo depois. Esse povo sofrido, ainda com as marcas da longa viagem migratória, e que não encontrou em Brasília o “eldorado” prometido, deixou a condição de invasor para entrar na posse do direito de construir a moradia em lote próprio, embora sem condições mínimas de conforto. Essa marcha rumo à nova terra de Canaã é a história desse povo migrante, que povoou inicialmente Taguatinga, depois foi assentado em Ceilândia - nome nascido da sigla CEI. O Cronista dos Candangos CEILÂNDIA NASCE UMA CIDADE - MINI VIDA - CEILÂNDIA TEM MEMÓRIA 188 (*) Crônica compilada do livro Ceilândia Tem Memória. 189 Coletânea Drummond na Ceilândia p or uma dessas ironias que a história nos reserva, aconteceu que, nos idos de 1979, quando escrevia a “Crônica das Favelas Brasileiras”, eis que um noticiário sobre “a maior favela do Brasil” chamou a atenção de CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (31/10/1902+17/08/1987) para a Ceilândia. E assim nasceria seu sociológico “prosoema”. Porém, o mais curioso foi a sua publicação concomitante à evidência do combativo Movimento dos Incansáveis Moradores da Ceilândia que - naquele período de ditadura militar - além de lutar por moradia e democracia, também produzia cultura; e em 1981 lançou o livreto “A Ceilândia Ontem, Hoje... E Amanhâ?”, contendo o texto inédito do “maior poeta da literatura contemporânea brasileira”, além das ilustrações dos geniais irmãos Vieira e dos versos em cordel de Nadir Tavares. Tais coincidências se deveram à vinculação dos incansáveis com a Ação Cristã PróGente e dessa com a CNBB, que através do Centro Ecumênico de Documentação e Informação editaria a revista Tempo e Presença, trazendo por fim o tal “Confronto de Drummond”. Crônica das Favelas Brasileiras Candanga Confronto A suntuosa Brasília e a esquálida Ceilândia contemplam-se. Qual delas falará primeiro? Que têm a dizer ou a esconder uma em face da outra? Que mágoas, que ressentimentos prestes a saltar da goela coletiva E não se exprimem? Por que Ceilândia fere o majestoso orgulho da flórea capital? Por que Brasília resplandece ante a pobreza exposta dos barracos de Ceilândia Filhos da majestade de Brasília ? E pensam-se, remiram-se em silêncio as gêmeas criações do bom brasileiro. Revista Tempo e Presença - CEDI 190 191 Coletânea Niemeyer na Ceilândia p or ter sido a “cidade-satélite” que abrigou os “candangos” construtores de Brasília e até pela fama de ser “a capital nordestina do Planalto Central”, coube à Ceilândia receber em 1986 a Casa do Cantador do Brasil: única obra do arquiteto OSCAR NIEMEYER RIBEIRO DE ALMEIDA SOARES fora do Plano Piloto de Brasília. Por outro lado, o que poucos sabem é que o “poeta do concreto” se inspirou na “asa branca” - símbolo dos retirantes da seca - para desenhar o “palácio da poesia”, conforme evidencia no seu discurso “Os Palácios e o Candango”. Outro nome também pouco conhecido é LUCAS EVANGELISTA (o “pioneiro do cordel candango”) que, com a famosa “Kombi da Literatura de Cordel”, cravou sua imagem na paisagem cultural local. A Ceilândia em Cordel CASA DO CANTADOR - A CEILÂNDIA EM CORDEL - LUCAS EVANGELISTA 192 Candanga A Ceilândia tem a Origem da Construção de Brasília O braço do operário Do nordeste brasileiro Edificou a Brasília Espelho do mundo inteiro E seus traços arquitetônicos Brilharam no estrangeiro Recebeu para seu povo Uma obra de valor Projeto de Niemeyer A Casa do Cantador Construída em Ceilândia Pro poeta trovador Hoje o sonho de Dom Bosco Foi materializado Juscelino Kubitschek Com Lúcio Costa de lado Oscar Niemeyer entre outros E o candango operariado Na entrada do ‘P’ Sul A Casa do Cantador Hoje Brasília e Ceilândia Possuem o mesmo valor Com as obras de Niemeyer Brilhando de esplendor Tudo foi consolidado A obra com a história Uma identifica a outra No registro da memória Ceilândia foi premiada Também contando vitória A vinte e um de abril Brasília aniversaria E Ceilândia comemora Este felicíssimo dia A Casa do Cantador Com vate improvisador Dá festa de poesia. (*) Cordel do Poeta Gon-Gon declamado na inauguração da Casa do Cantador em 09 de novembro 1986. 193 Coletânea Gilberto Gil na Guariroba “O povo sabe o que quer Mas também quer o que não sabe” N em o músico, nem o ministro GILBERTO PA S S O S G I L MOREIRA nunca colocou os pés no barro deste bairro da Ceilândia que outrora abrigara as terras da “Fazenda” Guariroba de Santa Luzia do Goiás, e cujo nome advém de uma palmeira nativa que, de tão fina, acaba se resumindo numa espécie de “macaxeira goiana”, apreciada por essas bandas como autêntica comida típica. Mas, voltando ao poeta tropicalista, o caso foi que no Dia da Árvore (21 de setembro de 2005) os educadores do CEF 11 resolveram adotar a “Refazenda” como tema do projeto pedagógico que falava justamente das origens da Guariroba: a música, a planta e a comunidade. Eis, então, que surge a idéia de convidá-lo para vir à escola pelo conhecimento que tínhamos da sua assessora de imprensa, filha do poeta concretista TT Catalão. O final dessa história foi que descobrimos - além dos pioneiros - que infelizmente a citação da música se referia a uma outra fazenda, também aqui do cerrado, porém localizada em Buritis de Minas Gerais. A Palmeira Nativa do Cerrado Candanga Refazenda Abacateiro, acataremos teu ato nós também somos do mato como o pato e o leão Aguardaremos, brincaremos no regato até que nos tragam frutos teu amor, teu coração Abacateiro, teu recolhimento é justamente o significado da palavra temporão Enquanto o tempo não trouxer teu abacate Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão Abacateiro, sabes ao que estou me referindo Porque todo tamarindo tem Seu gosto azedo, cedo antes que o janeiro doce manga venha ser também Abacateiro, serás meu parceiro solitário Nesse itinerário da leveza pelo ar Abacateiro, saiba que na refazenda Tu me ensina a fazer renda Que eu te ensino a namorar Refazendo tudo Refazenda Refazenda toda GUARIROBA. TROPICÁLIA - 1969 - GUARÁ/C.E.I. (*) Planta símbolo da CEILÂNDIA, cidade-satélite de Brasília (antiga Fazenda Guariroba). 194 195 Coletânea A UnB na Ceilândia N o contexto histórico da Nova República - e também graças à gestão democrática e popular do reitor Cristovam Buarque - eis que a “academia” desce, literalmente, da sua torre de marfim e coloca seus delicados pés no chão vermelho da Ceilândia: era a “política de extensão” que, a partir do MOPUC (Movimento pró Universidade Popular da Ceilândia) instalou aqui o Decanato da UnB em 1988. Sobressaíram, então, professores e personalidades que inscreveram para sempre os seus nomes na memória viva da nossa cidade, como o cineastadocumentarista VLADIMIR CARVALHO & o pioneiro Seu Ermínio “Incansável”; a alfabetizadora-freiriana MARIA LUÍZA ANGELIM & o pedreiro Seu Valdir; a jornalista-alternativa ARCELINA HELENA DIAS & o cartunista Broba; e a socióloga-assistente social SAFIRA BEZERRA AMMAM & e o cordelista Joaquim Bezerra da Nóbrega.. Campus Sociológico Candango NÓS DA CEILÂNDIA - OS INCANSÁVEIS - CEPAFRE 196 Candanga Eu Sou Incansável Você sabe quem eu sou? Você sabe de onde venho Pra esta casa que tenho E ainda não posso pagar Este lugar de morar? Venho do Núcleo Bandeirante Este lugar ali adiante Vila Tenório, enganado! Dos amigos atraiçoados E aqui vim parar Venho da Vila do IAPI Ali não pude ficar O lugar é privilegiado Eu sou assalariado Os ricos, posso envergonhar! Você sabe de onde venho? Com a filharada que tenho Lá eu não pude ficar Do Morro do Querosene Da Vila do Canavial Ali não pude ficar Para não envergonhar Vim do Morro do Urubu Da rua do Padre Lino Ali eu era inquilino E aqui eu fui jogado De livre vontade, esforçado Aonde tenho o meu barraco Que ainda não pude pagar Você sabe de onde venho? Lá da Vila Esperança Que espera e não se cansa Por um lugar de morar Eu sou um incansável! 197 Posfácio ACLAP, Uma Sigla! Por fim, eu quero dizer que - muito mais satisfeito do que ter sido eleito o primeiro presidente desta “academia” - é poder conviver com artistas de diferentes vertentes em um mesmo ambiente sodalício: isto, prá mim, é que é cultura popular! Donzílio Luiz de Oliveira Como um bom poeta popular, eu também me tornei – desde muito cedo - um andarilho ou, como dizem alguns, um cidadão do mundo. Conheci e convivi com grandes nomes da cultura brasileira e, em especial, com aqueles advindos do querido Nordeste que tanto já contribuiu na construção dessa rica identidade nacional chamada Brasília. Outro privilégio que ostento do alto dos meus setenta-e-uns anos de vida & versos é a lembrança dos pontos de cantoria que foram se formando em Brasília desde que aqui cheguei em 17 de janeiro de 1960. Partindo da Vila Amauri, passando pela Cidade Livre até fincar os pés na outrora “Feira do Pau Seco” da Ceilândia, e de lá conseguir chegar à almejada construção da Casa do Cantador do Brasil, em 1986. Uma década depois, lá estava eu lançando o primeiro dos meus seis livros que hoje tenho publicados. Conheci, então, outras expressões culturais. Entretanto, foi na própria Ceilândia que me apareceu a chance de participar de um desafio diferente: juntamente a outros membros fundadores da Academia Ceilandense de Letras, iniciamos uma jornada histórica em 27 de agosto de 2005 numa escola do Setor ‘P’ Norte e, ao longo de nove meses (que foi “o tempo de uma gestação”, como sempre nos lembra o Prof. Jevan) percorremos todas as comunidades que integram nossa cidade, até que, no dia 27 de março de 2006 chegamos aos 35 componentes (uma vez que a Ceilândia estava completando esta mesma idade). Porém, o curioso de tudo isso foi que, como nem todos deste “grêmio literário” tinham livros editados, e muitos eram de outras linhagens artísticas, fomos obrigados a inovar, e foi aí que me ocorreu a idéia do nome Academia Ceilandense de Letras & Artes Populares, o que deu origem à sigla “ACLAP” que, pelo sentido onomatopaico, quer dizer “palmas, aplauso”. 198 Coletânea Candanga da ACLAP foi composta em tipologia Original Garamond, corpo 12/14,4 Pt e impressa em papel AP 90g e capa em papel Suprema 240g na Art Letras Gráfica e Editora. 199 UMA “ACLAP” PARA TODOS ...É o que merece cada um e cada uma das pessoas que participaram e/ou ajudaram na efetivação da nossa COLETÂNEAaclapCANDANGA, pois como o próprio nome já evidenciava, este livro viria não apenas para configurar entre mais um compêndio “acadêmico”, mas sim para aglutinar & produzir a mais bela página já escrita na memória viva das letras ceilandenses e candangas! Desde o último dia 27 de março até este 7 de setembro - por meio da suy generis Campanha de SOLIDARIEDADE Poética - conseguimos propagar, empolgar e entrelaçar aos nossos ideais os mais representativos nomes da literatura candanga (ou ao menos, os mais voluntariamente “solidários”), simplesmente pelo intuito de fazer “o registro de nascimento desse nosso grêmio literário histórico & popular”. Acreditávamos que tínhamos escritos raros & inéditos de alto valor históricocultural, e também, que contávamos com os mais talentosos escritores locais: nos apegamos ao que tínhamos em mãos e fomos à luta. Não queremos nem pensar na cara – debochada - dos chamados “imortais” da suntuosa Academia Brasileira de Letras (assim como de seus séquilos locais) ao rirem da nossa esquálida “proposta de adesão”; e agora..., com que cara & fardão eles ficarão. Nós é que não temos tempo pra isso, porque estamos acabando de vir ao mundo das letras, e temos muito o que escrever e fazer pelo mundo afora. Por tudo o que já foi feito e o infinito que nos aguarda, só podemos concluir dizendo aos nossos novos companheiros e companheiras de jornada que “jamais os esqueceremos” e para sempre os agradeceremos. Por fim, então, pedimos - perfilados de pé - para todos nós... PALMAS !!!