A HISTÓRIA DA EMIGRAÇÃO REGIONAL de Giancarlo

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A HISTÓRIA DA EMIGRAÇÃO REGIONAL de Giancarlo
A HISTÓRIA DA EMIGRAÇÃO REGIONAL
de Giancarlo Bertuzzi
Já durante a época moderna inúmeros eram os habitantes da Carnia que se afastavam
bem longe para exercer diferentes trabalhos em que se tornaram expertos, não longe do
que se passava em outras áreas alpinas. Estes eram tecelões, artesãos, bagageiros,
criados e sobretudo vendedores ambulantes, os cramârs. Chamavam-se também
materialistas, cramârs e similares. Eles costumavam viajar pelos países da Europa
central, vendendo de país em país mercadorias e especiarias que chegavam de Veneza.
Alguns deles se tornaram vendedores por grosso desses produtos, construindo armazéns
nos centros principais das áreas de comércio onde se encontram os vendedores a
retalho. Algumas grandes fortunas provêm mesmo daqui e irão afetar positivamente
com um conseguinte melhoria das condições de vida nos países de origem, com a
construção de casas senhoris, adquirindo bens fundiários quer em Carnia, quer em
outras áreas, nomeadamente em Istria. Nesses casos pode-se falar de “migração do
bem estar”, para manter e consolidar o nível de vida não obtenível de outra forma. Vai
se criando assim uma jerarquia social, de mercantes também são prestadores de
dinheiro ou de mercadorias para os mesmos cramârs. Isto vai se acabando durante o
século XIX, se bem pequenas zonas tradicionais continuam resistindo em algumas
áreas, quando o desenvolvimento industrial muda de forma radical a situação
econômica européia. No sector têxtil a mecanização dos processos de produção e a
diversificação dos produtos, sempre mais “seriais” e baratos, estabelecem o final dos
tecedores bem como dos alfaiates, enquanto a expansão mesma da industrialização, da
urbanização, da rede dos transportes requer sempre mais mão-de-obra para os
trabalhos relacionados com a edilícia: trabalhadores agrícolas, operários, telheiros,
canteiro, pedreiros, trabalhadores florestais e outros especialistas para o trabalho da
madeira. Mudando a procura, a oferta se conforma, percorrendo vias de migração já
conhecidas às comunidades de partida, com o câmbio de sazonalidade: nunca mais
durantes os meses do inverno, mas da primavera até o outono, no período mais
favorável para as obras civis, com serias conseqüências de longo período no que diz
respeito ao delicado equilíbrio do sector agrícola e pastoril. Com a falta da força de
trabalho mais forte e experiente durante os períodos de maior intensidade de trabalho
nos campos, isto grava sempre mais nos que ficaram, idosos, mulheres, crianças,
levando a uma progressivo degradação do sistema agro-silvo-pastoral em primeiro
lugar bem como das próprias capacidades de produção: uma conseqüência será um
ciclo vicioso pelo qual perante um abaixamento da produtividade agrícola, o próprio
deterioração em termos de qualidade, o incremento da população, as expectativas que o
relativo bem-estar, ou pelo menos a certeza da continuidade do trabalho e dos
rendimentos que a migração “de profissão” parecia garantir, a única resposta é confiar
sempre mais intensamente, quantitativamente e qualitativamente, na migração o futuro
individual e familiar. Nesse período o fenômeno da migração não interessa apenas as
áreas de montanha, mas abrange zonas mais amplas, afetadas pelas incessantes
carestias dos primeiros decênios do século XIX, durante o qual as noticias de
possibilidades de emprego se multiplicam sem controlo: não obstante a severidade das
autoridades austríacas na concessão de passaportes, mais de 17.000 pessoas uma
média por ano migram do Friuli entre o 1827 e o 1836 e sem dúvida mais abundante é a
migração clandestina, incontrolável e secundariamente tolerada, sobretudo aquela para
os territórios de domínio dos Asburgos.
Do 1866 até o 1914
Com a anexação do Friuli ao Reino de Itália não muda de forma relevante um fenômeno
de migração que já tem uma fisionomia sólida e uma longa tradição: a tendência é de se
dirigir para os países da Europa centro-oriental durante os meses do verão. Os percursos
migratórios, as destinações e as relativas profissões, as motivações que forçam a partir e
a escolher um destino especifico não mudam mas se afinam: o crescimento econômico
dos países europeus é representado pelo desenvolvimento das obras civis bem como das
infra-estruturas que requerem, ao lado de mão-de-obra não qualificada ainda numerosa,
profissionalismo e competências técnicas especiais e atualizadas bem como a capacidade
de se inserir em uma organização do trabalho sempre mais complexa. Durante a
anexação e o novo século desaparecem os vendedores ambulantes, os salsicheiros, i
coltellinai, os carpinteiros, os turfeiros de Valle Del Torre, os quadradores de travessas
de Val Tramontina, deixando sempre mais espaço para os cortadores de árvores,
operários de serrações de madeira, pedreiros, telheiros, canteiros, terrazzai e
assentadores de mosaicos. Às destinações habituais quais Áustria, Hungria, Alemanha
(onde se dirigem no início do século ‘900 90% dos migrantes), se juntam os estados do
Danúbio, a Turquia, a Rússia, a França e a Suíça. O número dos migrantes friulanos
varia na época entre a metade do século até os anos Oitenta entre 17.000 e 25.000 por
ano, com relevantes oscilações devidas a momentos e contingências especiais, para
crescer regularmente de 20.000 por ano de 1881 até os 37.000 de dez anos depois,
chegando ao nível máximo de 56.000 em 1899, para descer lentamente até os 36.000 de
1911 e subir de novo rapidamente até mais de 52.000 de 1914. Se flutua entre 3,5 – 5,6
% da população residente na Província de Udine nos anos até o 1891, 10,3% de 1899,
até 5,7% de 1911, chegando a 8,2% de 1914. Estes números têm de qualquer forma um
valor relativo permanecendo inferiores à realidade pelo menos até o começo do século
XX: em 1903 Giovanni Cosattini, na primeira rígida investigação sobre a migração
temporária friulana, afirma que, de acordo com as estatísticas ferroviárias, eram mais de
80.000 por ano os migrantes, correspondente a 13% da população residente, com níveis
máximos de 25% do Distrito de Moggio Udinese, 18% de Gemona, 15% de Tolmezzo e
San Daniele, chegando a 4,8% de San Vito al Tagliamento (1,5 em 1881), 4,8% em
Latisana (0,99 em 1881). Em 1914 o inspetor de trabalho Guido Picotti, outro
observador cuidadoso da época do fenômeno migratório, avaliava em 85.000 o número
dos que em aquele ano partiam pela Europa ou além-mar, representando 37% da
migração da área do Veneto (dentro do qual o Friuli estava inserido na estrutura
administrativa do Estado italiano) que por sua vez representava 18% de toda a migração
italiana1. Já em 1877 o vice-secretário da Direção Geral de Estatística de então, Bonaldo
Stringher, comparando os dados dos passaportes emitidos e as notícias fornecidas pelos
presidentes das câmaras friulanos, calcula novamente o número dos migrantes daquele
ano de 10.000 a 16.000, sem poder ter em conta dos clandestinos. Um dos maiores
problemas para o conhecimento do fenômeno migratório é de fato a quantificação,
nomeadamente nos períodos durante os quais resulta ser mais relevante aquela
clandestina ou não registrada por meios de investigação adequados. Mesmo quando o
Reino de Itália se dotará de instrumentos de inquérito estatístico específicos para a
migração, esses serão capazes de se aproximar somente por defeito para a real
consistência do fenômeno, pelo menos até o 1904. Nos últimos vinte anos do século
XIX o fenômeno migratório em massa irá se estendendo até a planície e comparecerá ao
lado dos deslocamentos anuais das transferências definitivas além-mar. Mesmo sendo o
destino entre temporário e permanente (naquelas épocas se chamava “próprio”,
considerando “impróprio” o destino de breve duração e recursivo, sempre com a
finalidade de voltar para a pátria) era e é impreciso, pois mesmo quem ia para a Europa
muitas vezes decidia de lá ficar para sempre e que ia além-mar o fazia com a intenção de
permanecer durante um período prolongado, para “fazer fortuna” e juntar uma suma de
dinheiro suficiente e voltar, continua uma distinção útil mas sobretudo correspondente a
realidade, caracteres, êxitos diferentes e específicos. A migração sazonal nos países
europeus segue percursos sempre mais consistentes, freqüentemente em grupos
profissionais com a mesma origem territorial, em diferentes ocasiões coordenados por
um organizador – mediador local, assegura um rendimento não elevado mas
suficientemente constante que poderá ser reinvestido nos lugares de origem para
melhorar as habitações, ampliar as propriedades familiares, assegurar um nível de vida
decoroso à família, encaminhar os filhos para uma instrução profissional básica. A
migração além-mar se instaura ou sob forma de abandono radical dos lugares de origem,
devido à alienação dos próprios bens, ou numa empresa “de risco” na qual se vai à
busca, durante um período mais ou menos breve de tempo, de acumular ganhos elevados
e voltar. Nos anos 1875-76 começam as expatriações para as Américas do Distrito de
Fagagna e de San Vito e a seguir progressivamente de outras localidades: em 1878
chegam a quase 3.000 os migrantes que se dirigem principalmente para a America do
Sul, atraídos também pela propaganda desenvolvida pelos governos da Argentina e do
Brasil, mediante os agentes de migração que operam por conta das companhias de
navegação que encontram um ambiente apto a recebê-la. A população rural da média e
baixa planície sente o efeito de uma lenta e inexorável erosão dos próprios ganhos,
causada quer por uma grande crise agrária naqueles anos, quer pela difusão de doenças
da vide e do bicho da seda que matam as produções mais difundidas e mais rentáveis,
quer pela importante contribuição fiscal (imposto de moagem, sal) e pela rigidez dos
acordos de arrendamento rural, que refletem sobre o agricultor os efeitos da crise. O
fenômeno irá explodir entre o 1887 e o 1889, quando as saídas com destino o Novo
Mundo se registrarão perto de 5.000 unidades por ano, não sendo os mais pobres a
migrar mas os que possuem capitais, mesmo se modestos e espírito de iniciativa: mais
que a miséria são a falta de perspectivas, a incerteza do futuro, as relações sociais
demasiado apertadas e opressivas que levam à decisão de se ir embora. O que se está
tornando êxodo dos campos preocupa as classes dirigentes agrícolas, divididas entre a
hostilidade contra um processo que as priva de uma submetida força de trabalho e a
inevitabilidade de um fenômeno que alivia a excessiva pressão demográfica, resolve sem
as envolver o problema da miséria e do atraso, que terá de ser regulamentado. No final
do século também os agricultores e os pequenos proprietários da planície irão se
agregando às listas da migração temporária: não podem fazer valer as ocupações como
os habitantes da montanha e terão de se adaptar a trabalhos mais humildes e com um
salário inferior: operários manuais, trabalhadores não qualificados empregados nos
aterros ou terraplenagens, telheiros sobretudo ocupados em oficinas para a produção de
tijolos e telhas austríacos e alemães, onde a impiedosa concorrência levada pelos
friulanos aos operários locais tinha fundamento em terríveis formas de exploração e
auto-exploração, de trabalho infantil, de danos irreversíveis à saúde. A contraposição
entre mão de obra local e operários friulanos caracteriza, com acentuações mais ou
menos marcadas, os anos da grande afluência dos migrantes no mercado do trabalho de
Áustria e Alemanha. A disponibilidade em aceitar salários mais baixos, fazendo-se
cargo de muito trabalho, poupando em qualquer coisa, inclusive a alimentação que
continua tendo por base a polenta, tomando o lugar de outros sem hesitação alguma,
torna os friulanos como elemento perturbador do mercado e relativas controvérsias:
difundida é portanto a fama de “krumiros”. Com muita fadiga as organizações sindicais
dos países de destino tentarão mitigar este conflito, oferecendo aos migrantes o próprio
suporte bem como a proteção contra os abusos dos empregadores, endereçando estes
para localidades e setores de produção com maior procura de emprego mas sobretudo,
favorecendo a constituição de organizações de suporte à migração mesmo nos lugares de
saída. Ditas premissas constituem a base do nascimento em Udine em 1900 do
Secretariado para a Migração, por iniciativa de um jovem advogado socialista Giovanni
Cosattini, com a finalidade de assistir, coordenar, endereçar a migração temporária
friulana, em colaboração com outras instituições quer nacionais, quer nos países de
destino. Em 1901 nascia o católico Secretariado do Povo que se ocupava de cargos
assistências
similares.
Também
a
migração
transoceânica,
que
se
reduziu
progressivamente e menos de mil unidades no início do século, subindo de repente a
partir do 1904, reduzindo-se raramente abaixo de 3.000 pessoas por ano, com máximos
de mais de 6.000 em 1906 e 1912, até 10.000 de 1913 e 9.000 de 1914. Os principais
lugares de destino em Europa são sempre Áustria, Alemanha, Hungria, mas também
Sérvia, România, Turquia; do início do século também França e Suécia iniciavam
atirando milhares de migrantes.
Além-mar os destinos principais ainda são Argentina e Brasil, mas com expatriações
mais baixas com máximos de nomeadamente 4.500 e 2.500 do 1888, até 1904, quando
foram superados por Estados Unidos e Canadá, para os quais países naquele ano se
dirigiram 1.500 friulanos que subiram até 8.00 em 1914.
1
Giovanni Cosattini, fundador e alma do “Secretariado da Migração”, secundariamente deputado socialista e primeiro
presidente da câmara de Udine no secundo pós-guerra, foi o autor da fundamental descrição contida em A migração
temporário do Friuli, Roma 1903, reimprimido com prefação de F. Micelli, Trieste, 1983. Guido Picotti dá a conhecer os
resultados das investigações efetuadas por ele em vários artigos publicados no jornal de Udine “La Patria del Friuli”. Os
estúdios sucessivos do fenômeno terão como referência ditos artigos, entre os quais B.M. Pagani, A migração friulana a
partir da metade do século XIV até o 1940, Udine, 1968, que descreve em síntese os dados em termos de quantidade
relativos à migração friulana divididos em sub-períodos, áreas territoriais e fontes de inquérito. Um quadro similar relativo à
quantidade é dado por dois tomos de G. Di Caporiacco, Historia e estatística da migração do Friuli e da Carnia, Udine,
1969. Graças a esses ensaios se compreende com evidencia as fortes diferenças no que diz respeito aos dados relativos à
quantidade das diferentes fontes usadas pelos autores, pois é praticamente impossível chegar a uma avaliação numérica do
fenômeno migratório que não seja de tendência.
Os mistérios e os lugares de saída:
Da Carnia migram principalmente pedreiros, carpinteiros, canteiros, operadores de
serração dirigindo-se sobretudo em Áustria e Alemanha. Alguns chegam em România,
Turquia e Egito também. Durante os primeiros dez anos do século XX, 11% da
migração da Carnia é composta por mulheres, metade das quais provem da Val Resia e
acompanha os maridos, artesãos ou vendedores ambulantes; nos outros casos se trata de
criadas ou de empregadas de cozinha de grupos organizados de operários, entre os quais
estão os maridos delas, ou de trabalhadoras em setores específicos quais o empilhamento
de pranchas nas serrações ou o transporte de materiais aos estaleiros. Os garotos eram
menos numerosos, por volta de 3%, de costume se tratava de pedreiros e trabalhadores
agrícolas, submetidos a trabalhos de transporte cansativos. O fenômeno da migração
resulta freqüente também das áreas de montanha e bem como da planície de sopé, mas
com uma determinada especialização, a de assentadores de mosaicos e os chamados
“terrazzieri”, que teve origem na zona de Sequals mas que se derrama a todos os
arredores: dita atividade especial terá a própria ocasião de se exprimir em toda a Europa
e também fora do continente. São inúmeros os especialistas em obras ferroviárias e
rodoviárias e os canteiros, os mineiros das zonas de Aviano e Montereale e da Val
Cellina: arranjam trabalho mesmo nas minas da America do Norte. Os migrantes da
planície da Destra Tagliamento migram também para as Américas fazendo trabalhos não
qualificados no ramo da agricultura ou das obras ou nas minas, mas sobretudo para lá
ficar nas diferentes colônias construídas do nada em terrenos em concessão pelo
governo. A partir do começo do século as pessoas que migram para a America do Sul
são apenas os que têm um profissionalismo específico dirigindo-se para os grandes
cidades. Agora é a America do Norte que atrai mais com as oportunidades de trabalho
nas grandes obras publicas, rodoviárias e ferroviárias bem como nas indústrias: aí se
dirigem sobretudo das zonas de San Daniele, Codroipo, Latisana, San Pietro al Natisone.
Da planície geralmente têm origem os telheiros, provenientes quer de Pordenone, quer
dos arredores da cidade de Udine, representando cerca de 80% da migração daquelas
zonas e entre eles inúmeras mulheres e jovens, submetidos eles também a trabalhos
muito cansativos e horários extenuantes: contratados por pequenos empresários da zona
de Buia, Maiano, Fagagna arrendando por sua vez a produção nos fornos da Europa
central, mantendo baixas as próprias ofertas e, por conseqüência, pagando os operários
muito pouco. O caso típico é o da migração não profissional pela qual não se requeriam,
feita exceção para os chefes operários, competências especiais, diversamente dos
pedreiros e os mestres-de-obra que, sobretudo se organizados em grupos homogêneos,
expertos e especializados eram capazes de se fazer cargo de trabalhos tecnicamente
difíceis e então adequadamente salariados.
A legislação de proteção do emigrante:
A agitação da grande migração, as ilusões, os enganos, as péssimas condições de vida,
suscitaram além da intervenção direta de associações de suporte e de proteção dos
migrantes, também um dibatimento social e político que levou, durante a época de
Giolitti, à emanação de uma série de medidas legislativas para a regulamentação e a
proteção social e econômica da migração. A primeira regra remonta ao 1901 e tem por
objetivo a eliminação da migração clandestina: se constitui um órgão governativo
especial, o “Comissariado da Migração”, ajudado por um Conselho da Migração, tendo
como referentes e articulações locais os Comitês das municipalidades e das
circunscrições que têm o cargo de fornecer informações sobre os passaportes, os custos
das viagens, as possibilidades de trabalho, as cautelas a ser tomadas para evitar fraudes.
Alem disso, suprime as figuras dos agentes de migração que eram responsáveis de
inúmeras fraudes e enganos, substituindo-os com os representantes dos “vetores”, ou
seja das companhias de navegação, responsáveis das condições econômicas e matérias
das viagens. Estas terão de ser verificadas por inspetores nos principais portos de
embarque. Todavia, a lei não consegue proteger o migrante no momento em que ele se
encontro no estrangeiro. Somente em 1904 e apenas com a França se estipula um acordo
neste sentido. Em outros países de migração, como os em idioma alemão, a colaboração
entre associações e organizações sindicais favorecem a emprego e a tutela de garantias
mínimas econômicas e sociais. Em 1910 algumas disposições atualizam a lei
previamente em vigor, disciplinando os institutos de assistência aos migrantes e em
1911 proibindo a emissão de passaporte aos menores de 12 anos não acompanhados. No
mesmo ano nasce um “Gabinete da migração para os confins terrenos”, com o objetivo
de assistir a migração continental e reprimir a clandestina. A partir do ano 1913 é
obrigatória a autorização do Comissariado para a transferência de operários italiano no
estrangeiro, sendo possível exclusivamente em presença de um contrato de trabalho e o
seguro contra os acidentes. Esta legislação e os órgãos de controle e de proteção por ela
previstos não afetaram se não minimamente a migração autônoma e clandestina de
grupos singulares permanecendo esta prevalente do ponto de vista da quantidade.
Efeitos da migração :
No sentido positivo alivia a sobrepovoamento relativa em agricultura, tornando a
levantar em geral os reditos da população em forma global. Também o afastamento
definitivo diminui a concorrência no mercado do trabalho agrícola, melhorando a
capacidade contratual de quem fica em relação aos proprietários das terras. As remessas
dos emigrantes, avaliáveis entre 20 e 30 milhões de liras de então por ano no começo do
século, permitem consolidar as pequenas propriedades familiares, casas, terras, gado. O
crescimento da procura de terra todavia levava a um acréscimo nos preços do valor
fundiário da mesma que ia afetar os custos dos arrendamentos para os novos
agricultores. O emigrante mais pobre, como o telheiro, era obrigado a pagar os débitos
agrícolas com o próprio trabalho, sem conseguir se desvincular do circulo vicioso. Nos
casos em que os reditos da migração são maiores, estes não são todavia usados para
começar uma própria atividade profissional em pátria, porém para melhorar a própria
colocação na migração, como intermediário ou pequeno empresário autônomo. Isto
significa que o futuro do emigrante se atua sempre no âmbito da migração, enquanto os
bens em casa, entregue às mulheres, jovens e idosos, têm uma função de reserva. As
ausências prolongadas durante longos períodos dos homens em idade jovem e matura,
provocou, a médio prazo, mudanças de costumes e estilos de vida não sempre positivos
(por exemplo a difusão do alcoolismo, o abandono das famílias) e um declínio
demográfico com efeitos importantes a seguir, afetando de forma permanente a estrutura
demográfica da população (senilização, feminilização).
Ao rebentar da primeira guerra mundial em agosto de 1914, que interessa os principais
lugares da migração sazonal friulana, corta de repente os percursos de trabalho
consolidados em decênios impondo o regresso, se não sempre forçado, todavia
inevitável. Em 1915 as expatriações são pouco mais de 2.000, dos quais pouco menos de
oitocentos para os Impérios Centrais, quinhentos para a Suíça, duzentos para a Argentina
e cerca de trezentos para a America do Norte. Dentro de poucos meses os reditos da
migração são par ao zero, os emigrantes se tornam desempregados, somente em parte
empregados em trabalhos de interesse militar, muitas fortunas, mesmo importantes,
constituídas nos territórios dos Impérios Centrais por empresários friulanos, são
perdidas, requisitadas como propriedades inimigas sucessivamente à entrada na guerra
da Itália: apenas algumas e somente em parte poderão ser recuperadas depois da guerra,
sucessivamente a intermináveis contenciosos jurídicos, quando as condições políticas e
econômicas dos países derrotados não permitirão o desenvolvimento de uma função
comparável àquela do período anterior à guerra.
1915 – 1939
Ao rebentar da primeira guerra mundial em agosto de 1914, que interessa os principais
lugares da migração sazonal friulana, corta de repente os percursos de trabalho
consolidados em decênios impondo o regresso, se não sempre forçado, todavia
inevitável. Em 1915 as expatriações são pouco mais de 2.000, dos quais pouco menos de
oitocentos para os Impérios Centrais, quinhentos para a Suíça, duzentos para a Argentina
e cerca de trezentos para a America do Norte. Dentro de poucos meses os reditos da
migração são par ao zero, os emigrantes se tornam desempregados, somente em parte
empregados em trabalhos de interesse militar, muitas fortunas, mesmo importantes,
constituídas nos territórios dos Impérios Centrais por empresários friulanos, são
perdidas, requisitadas como propriedades inimigas sucessivamente à entrada na guerra
da Itália: apenas algumas e somente em parte poderão ser recuperadas depois da guerra,
sucessivamente a intermináveis contenciosos jurídicos, quando as condições políticas e
econômicas dos países derrotados não permitirão o desenvolvimento de uma função
comparável àquela do período anterior à guerra. O final da guerra, as destruições
causadas quer por ser estada a região interessada pelo campo de batalha, e retaguardas
no começo e território ocupado e depredado pelos austro-alemães sucessivamente a
Caporetto, apresentou aos regressados uma situação de desolação e miséria. Por isso,
sucessivamente a algumas tentativas de ativar obras de reconstrução por cooperativas de
operários, o caminho da emigração se apresentou novamente como única possibilidade
para uma pressão demográfica sem fim, não obstante as inúmeras perdas em vidas
causadas pela guerra. As populações dos territórios ex austríacos tiveram o mesmo
destino sendo anexas ao Reino de Itália que já tinham efetuados anteriormente percursos
migratórios similares aos do Friuli italiano.
Mudam porem os fluxos, não a tipologia de trabalho: pedreiros, “terrazzieri”,
assentadores de mosaicos, vão agora para a França, a Bélgica, o Luxemburgo, a Suíça:
em 1920 são mais de mil neste País, 16.000 em França. Dos países da planície
recomeçam as viagens para a America do Sul (já são cerca de mil pessoas em 1919 e
1920, mil desses nestes anos somente da localidade de Cordenons), os Estados Unidos
(quase 3.000 em 1920), o Canadá (mais de 1.500 naquele ano). Muda também a
fisionomia da emigração: nunca mais grupos organizados de empresários e contratantes
locais, mas uma busca individual de trabalho, o fracionamento dos grupos de
trabalhadores homogêneos que caracterizavam a atividade deles nos países europeus. A
especialização territorial de trabalho também se ia dissolvendo: operários no setor das
obras civis saem de todo o território provincial, nas minas do Norte America as pessoas
chegam de diferentes lugares; agricultores da parte baixa do Friuli e da área à direita do
Rio Tagliamento trabalhavam nas fazendas brasilianas e australianas. A emigração mas
relevante ainda provinha das áreas de montanha e de sopé.
Saídas de emigrantes friulanos de 1919 até 1933
Países
Anos
Países europeus
1919
3.052
1.479
4.531
1920
20.986
5.601
26.587
1921
11.293
4.356
15.649
1922
28.751
3.517
32.268
1923
28.212
7.655
35.867
1924
31.156
5.655
36.811
1925
23.373
3.983
27.356
1926
16.779
5.538
22.317
1927
9.149
7.741
16.890
1928
11.695
3.011
14.706
1929
14.130
2.313
16.443
1930
27.787
3.092
30.879
1931
14.661
1.824
16.485
1932
7.144
792
7.936
1933
6.132
transoceânicos
709
Total
6.841
Saídas de emigrantes friulanos nos anos de 1926 até 1932
Emigração continental
Emigração transoceânica
Homens
Mulheres
Homens
Mulheres
1926 1927 12.425
4.354
4.294
1.244
1928 1929 7.093
2.056
6.571
1.170
1930 1931 8.860
2.835
1.939
1.072
1932 1933
11.790
2.340
1.142
1.171
24.687
3.100
2.042
1.050 711
10.157
4.504
1.113 408 384 355
4.514
2.635
354
3.654
2.478
Ano
EMIGRANTES PARA OS PAÍSES EUROPEUS E PARA OS DA REGIÃO MEDITERRÂNICA DE
1926 ATÉ 1933
País
1926
1927
1928
1929
1930
Albânia
32
26
97
50
38
Argélia-Tunísia
5
8
28
232
160
Áustria
185
211
198
172
192
Bélgica
778
601
1.282
2.743
4
7
Bulgária
1931
1932
1933
374
154
101
1.369
1.021
357
371
27
51
231
72
65
Chequia
89
58
87
35
38
Egito
24
38
12
18
46
França
13.758
5.539
6.642
7.572
21.433
7.987
3.197
3.101
Alemanha
133
202
265
186
186
169
37
40
Jugoslávia
183
85
59
58
70
Luxemburgo
173
884
627
221
155
Países Baixos
177
294
231
263
314
România
73
112
103
52
48
Suiça
884
996
856
1.270
1.514
Turquia
19
5
93
32
12
Húngria
22
41
33
29
Outros países
246
45
1.075
Total
16.779
9.149
11.695
1.283
580
285
32
550
272
26
1.170
1.746
3.046
2.475
2.143
14.130
27.409
14.661 7.144
6.132
EMIGRANTES PARA OS PAÍSES ALÉM-MAR DE 1926 ATÉ 1933
País
1926
1927
1928
1929
1932 1933
1930
Argentina
2.042
Austrália
3.671 5.004
1.598
Brasil
274
415
160
1.196 134
1931
Canadá
115
179
56
95 35 22
1.125 57
E.U.A.
605
1.246
281
284
361
34 12 10 - 93 1
Outros países 777
767
86
576
402
33
181
-142
Total
130
830
127
131
620
118
151
1.824 792
709
96
5.538 7.741
3.011 2.313 3.092
426
322
Boletim mensal do Comissariado para a emigração, anos de 1926 até 1933. Anuário estatístico da
emigração italiana de 1876 até 1925 – Pelo Comissariado geral para a emigração, Roma, edição do
Com. Ger. Para a Emigr., 1926, tabelas n° 1 de pág. 1381; n° 3 de pág. 1403; n° 4 de pág. 1453
A emigração não italiana da Venezia Giulia
O final da Grande Guerra, mas sobretudo o desaparecimento do Império dos Hasburgos,
perturbou de forma radical os esquemas de referência institucional e cultural bem como
as mesmas identidades nacionais das populações que são envolvidas nas mudanças de
confins e nas paisagens por uma colocação nacional para outra. Na Venezia Giulia a
primeira comunidade a ser afetada de modo profundo pelos eventos foi a de idioma
alemão que abandona quase súbito a zona: eram cerca de 40000 pessoas, inclusive
pessoas de outras nacionalidades que não tinham a intenção de ficar sob a soberania
italiana. Nos anos a seguir foram, pelo contrário os novos cidadãos italianos de
nacionalidade eslovena e croata da Venezia Giulia e da Istria que migraram para o
estrangeiro para razões econômicas, como em outras partes de Itália, mas também com
muita freqüência e sobretudo para razões políticas e nacionais. Especialmente após o
advento do fascismo as comunidades dos chamados “alógenos” foi objeto de
discriminações e de um evidente projeto de “desnacionalização”, que se concretizou
com a progressiva redução dos espaços de representação nacional e de expressão
cultural e lingüística (associações, escolas, uso do idioma). Entre as populações
eslovenas e croatas era fácil encontrar desconfiança difundida e hostilidade em relação
ao estado italiano, considerado usurpador de um direito nacional que podia ser
representado de forma melhor pelo próximo reino da Jugoslávia. Esta oposição terá
maior intensidade em relação ao fascismo, antes e depois a tomada do poder. O mesmo
fascismo da Venezia Giulia apresentava uma forte carga de intransigência nacionalista e
de tolerância em relação a outras presenças nacionais (por isso será definido “fascismo
de fronteira”), que se vai concretizando também no uso apontado da violência em
relação às associações não apenas políticas eslovenas e croatas. Em um contexto similar
a migração dessas populações é incentivada e não contrariada com o objetivo também de
as substituir com cidadãos italianos provenientes de outras partes do Reino. Do outro
lado do território o próximo Reino de Jugoslávia parece oferecer a possibilidade de
preservar intatos idioma e nacionalidade, além de oportunidades de trabalho que a Itália
quer retirar, especialmente em relação aos empregados públicos. Os docentes e os
ferroviários em maneira particular eram discriminados, despedidos ou transferidos para
o interior do Reino: mais de 350 docentes vão para a Jugoslávia, antes do 1923, 180
foram despedidos, outros 400 transferidos. Além disso, eslovenos e croatos entraram a
fazer parte dos fluxos migratórios que se dirigiam para o Império dos Hasburgos bem
como para as Américas. A quantificação se tornará ainda mais difícil pela justaposição
de dados e informações para os primeiros anos do pós-guerra e pela mudança de
metodologias e critérios de detecção a seguir. As estimativas vão da redução do
fenômeno a 20.000 ou 50.000 unidades totais, à amplificação até 150.000 durante vinte
2
anos .
2
As diferentes avaliações e quantificações foram analizadas por P. Purini, L’emigrazione non italiana dalla Venezia Giulia
dopo la prima guerra mondiale, em “Qualestoria”, ns, XXVIII, n.1, 2000, pp.33-54.
Estimativas e cálculos mais realísticos indicam um número de emigrantes definitivos
não italianos da Venezia Giulia e da Istria não inferior a 50.000, mas apenas durante o
3
período, facilmente documentável, entre 1930 e 1938 , pelo qual a entidade real do
4
fenômeno pode alcançar as 100.000 unidades . O maior número de expatriações vai para
a Jugoslávia, especialmente durante os primeiros anos, e pouco inferior, mas prevalente
durante a secunda metade dos anos vinte, para a Argentina e, bem além desse dato, os
Estados Unidos. As companhias de navegação triestinas propagandeavam de modo
capilar nos países eslovenos e croatos as ofertas de viagens com preço rebaixado para a
America do Sul. O aspeto particular da emigração proveniente da Venezia Giulia nos
primeiros anos após-guerra é, contrariamente às tendências nacionais, a prevalência da
emigração para países europeus em relação àquela de além-mar, pelo menos até o 1923.
Além disso, após o 1927, ano da legislação restritiva no âmbito da migração que ainda
mais, “para proteger a potência demográfica da nação” proibia a emigração definitiva,
na Venezia Giulia as permissões de emigração eram concedidos com grande facilidade a
quem nascia nos territórios anexos antes de 1919 e aos que não eram de nacionalidade
italiana. Na área giuliana, istriana e dálmata, as expatriações aumentaram em 1927 de
14% e ainda mais nos anos sucessivos. Com a liberalização das expatriações após a crise
econômica de 1929, estas cresceram ainda mais, com prevalência em direção a França,
Suíça, Bélgica, mais que para as Américas. De 1926 até 1930, inúmeros eram os
camponeses (mil por ano), istrianos na maioria dos casos que, não conseguindo pagar os
débitos contraídos para a compra de casas e terras, depois que a reavaliação da divisa
Lira provocou um importante aumento dos juros, foram forçados a deixá-las indo-se
embora. Como no caso da emigração italiana e talvez ainda mais, a emigração devida a
causas políticas e, especificadamente, nacionais se une e se confunde com aquela
exclusivamente econômica.
3
Ivi, p.52, com as indicações dos critérios de avaliação e das motivações pela quais o autor a julga uma estima inferior
àquela verdadeira.
4
100000 é a cifra que a historiografia eslovena acha como certa em relação ao assunto: veja Ivi, p.36.
A política fascista da emigração
O fascismo ao poder em um primeiro momento não intervim no fenômeno migratório,
a não for no que diz respeito à reorganização do Comissariado da Emigração,
estruturado em Delegações provinciais, que tinham que prover ao controlo da colocação
dos trabalhadores reprimindo a emigração clandestina: mesmo a Província de Udine
fornecendo 40% da emigração italiana para o estrangeiro, não era incluída entre as sedes
das Delegações. Em 1925 foi transferido de Treviso o serviço regional para a emigração,
órgão periférico do Ministério dos Negócios Estrangeiros, com tarefas de assistência e
coordenação no setor. Nesta fase se une e se confunde à emigração tradicional a
emigração política, de anti-fascistas e vítimas do regime: um passado de militância no
movimento sindical e operário tinha por conseqüência, além de ser objeto de violências
e de ações judiciárias, também a impossibilidade de arranjar emprego. Por isso, em
muitos casos as duas formas de emigração de fato, coincidem: França e America do Sul
são os destinos preferidos nesses casos. Em 1924 apareceram os primeiros sinais de
dificuldade para a emigração: os Estados Unidos limitaram de maneira drástica os
acessos aos emigrantes italianos e três anos depois o regime fascista ativou uma política
de restrição da emigração, com disposições regulamentares e administrativas. Na
secunda metade do ano 1927 foi fortemente dificultada a emigração permanente que ia
diminuir a “potência demográfica da Nação” e tolerada aquela temporária, fonte de
rendimentos, enquanto se tencionava potenciar a ação de propaganda do fascismo entre
as comunidades italianas no estrangeiro. Era proibida a emigração “livre”, ou seja de os
que saiam para o estrangeiro sem pontos de referência, sendo concedidas as permissões
de emigração apenas as pessoas que tinham um contrato de trabalho reconhecido, mas
para um período de tempo não superior a três anos. Se concedia também o
reagrupamento familiar, mesmo se com fortes limitações. O efeito foi o de aumentar a
emigração clandestina e transformar em muitos casos a temporária em permanente:
agora não se voltava sazonalmente como de costume com o medo de não poder expatriar
novamente e as pessoas ficavam no país estrangeiro tentando o possível o
reagrupamento da família. Isto aconteceu especialmente em França em 1932, quando o
Governo italiano negou o direito de visto de expatriação para trabalhar naquele país,
com conseguintes retorsão francesa em relação à concessão da residência. Crescia
também entre os emigrantes a propaganda organizada em favor do fascismo e a presença
de informadores da polícia política, criando tensões com os governos dos países
anfitriões. Em 1930 a grande crise econômica forçou a conceder mais permissões para
emigrar, mas os efeitos a nível internacional da crise, com a conseguinte redução
drástica das oportunidades de trabalho em todos os países industrializados, o início da
política estrangeira belicosa avançada pela Itália,
Fecharam progressivamente as saídas migratórias até a segunda guerra mundial. Pelo
contrário aumentou a mobilidade no interior do estado italiano que afetou mais de
40.000 pessoas nos últimos vinte anos, diminuindo a cerca 25.000 na metade dos anos
trinta, com um aspecto novo, indicador da seriedade da situação econômica e material
dos lugares de origem: uma quota muito alta (55% em 1931) era constituída por
mulheres, a maioria delas moças que iam às cidades para trabalhar como empregadas de
casa. Trezentos famílias, provenientes da baixa planície e do lado direito do Rio
Tagliamento se transferiram nos anos trinta nas quintas construídos de recente junto às
Paludi Pontine a serem bonificadas, que estas eram chamadas a ultimar com o próprio
trabalho.
No começo dos anos trinta teve início uma política de expansão demográfica italiana,
iniciada com a “colonização” da Líbia, onde em 1931-1932 chegaram cerca de 200
famílias friulanas, adjudicatárias de pequenas quintas a serem valorizadas em Cirenaica.
Essas famílias eram originarias em prevalência das zonas de Pordenone, San Vito al
Tagliamento, Latisana, Codroipo, Palmanova. Tinham de ser selecionadas e escolhidas
de acordo com as próprias capacidade de trabalho, eficiência, consistência, rejeitando
quem tinha idosos ou crianças pequenas, e por fidelidade ao regime. De fato, na maioria
dos casos eram escolhidas famílias com dificuldades em encontrar uma colocação e que
corriam o risco de onerar sobre a assistência publica. Mais de 13000 foram os
trabalhadores friulanos que arranjaram emprego com trabalhos ligados à conquista
militar da Etiópia, permanecendo muito deles no lugar durantes os anos a seguir para
serem envolvidos pelos eventos bélicos acontecidos em 1940, aproximados por esta
situação aos “colonos” líbicos. Em 1938 teve início uma nova forma de emigração
organizada: depois dos acordos entre a Itália e o III Reich, os sindicatos fascistas em
conexão com os alemães organizaram a transferência em primeiro de trabalhadores
agrícolas, a seguir daqueles do setor industrial, para a Alemanha, com condições
econômicas inimagináveis na Itália de então. As condições de vida e de trabalho se
tornarão depois muito fatigantes, com uma disciplina rígida no lugar de trabalho e fora.
Também os salários das famílias no final eram sujeitas a restrições. O desemprego e o
subemprego, ocultados mas relevantes que afetaram cerca de 50.000 pessoas, forçaram
muitos friulanos a pedir o ingresso nos contingentes dos trabalhadores: em 1938 saíram
de Udine 1.800 trabalhadores agrícolas, entre os quais inúmeras mulheres e 2.060
trabalhador do setor das obras civis, que subiram a 7.000 e 2.500 em 1940
conseqüentemente aos esforços que provinham de todo o sistema econômico alemão que
necessitava de mão-de-obra capaz de oferecer salários altos em Itália.
O armistício italiano de 1943 maravilhou muitos deles que, mesmo mantendo
formalmente a condição de trabalhadores voluntários, viram piorar profundamente as
5
condições de trabalho e de vida, sempre mais similares àquelas dos internados militares .
A situação da guerra na qual se encontrou a Europa a partir de setembro de 1939, forçou
a maioria dos emigrantes a voltar, quer porque chamados a combater, quer porque
muitas vezes se encontravam em estados (por exemplo a França) em guerra com o Eixo,
mesmo se a Itália ainda era “não beligerante”. A entrada em guerra da Itália levou ao
internamento dos emigrantes italianos presentes nos países para os quais tinha declarado
guerra, ou, em algumas situações especiais em que a emigração teve conotações
políticas também, à participação de emigrantes italianos, ao esforço bélico contra o Eixo
(um exemplo é dado pela participação de italianos e friulanos à resistência em França).
5
Matteo Ermacora, Campi e cantieri in Germania. Migranti friulani nel Reich hitleriano (1938-1943), em Emigranti a
passo romano. Operai dell’Alto Veneto e Friuli nella Germania hitleriana, a c. di M. Fincardi, Verona, 2002, pp.155-198.
1940 -1968
A situação da guerra na qual se encontrou a Europa a partir de setembro de 1939, forçou
a maioria dos emigrantes a voltar, quer porque chamados a combater, quer porque
muitas vezes se encontravam em estados (por exemplo a França) em guerra com o Eixo,
mesmo se a Itália ainda era “não beligerante”. A entrada em guerra da Itália levou ao
internamento dos emigrantes italianos presentes nos países para os quais tinha declarado
guerra, ou, em algumas situações especiais em que a emigração teve conotações
políticas também, à participação de emigrantes italianos, ao esforço bélico contra o Eixo
(um exemplo é dado pela participação de italianos e friulanos à resistência em França).
No final da segunda guerra mundial no Friuli e na Venezia Giulia era fácil encontrar os
sinais da ocupação alemã que tinha por objetivo a perspectiva de expansão do território
nacional, promovendo sempre mais a política racional nazista e destruindo qualquer
oposição com métodos de guerra ferozes. As duas regiões foram teatro da guerra
partidária combatida quer pela resistência italiana, quer por aquela da Jugoslávia. A
pertença nacional da Venezia Giulia, da zona de Gorizia, de uma parte do Friuli eram
objeto de um contencioso que envolvia os combatentes anti-nazistas, as nações e os
estados para os quais se referiam as mesmas potências aliadas. O andamento dos últimos
meses de guerra prefigurava a sorte das terras contendidas. Uma grande parte dos
territórios adquiridos pela Itália após a primeira guerra mundial, habitados por eslovenos
e croatos, iam ser anexados ao novo estado da Juguslávia que reclamava também as
cidades principais, Trieste e Gorizia bem como a zona oriental do Friuli, enquanto o
Reino de Itália, fraco e sob a tutela, apelava para a antiga pertença à nação italiana
dessas terras bem como aos sacrifícios enfrentados para se resgatar do passado fascista.
A ação diplomática e a presença militar definiram já então a situação de após-guerra:
Fiume, a região Istria, a parte oriental da província de Gorizia passaram à Juguslávia. O
Governo Militar Aliado mantinha o controle sobre o território até a ratificação do tratado
de paz em setembro de 1947, de forma indireta na província de Udine, direta naquela de
Gorizia e na zona A do território de Trieste. A zona B desse território era sob a
administração militar da Jugoslávia. Para Trieste a situação se prolongou ainda mais
pois, nunca tendo realmente atuado o previsto Território Livre sob a égide da ONU até
1954 quando as duas zonas, A e B, passaram sob a direita soberania dos dois estados.
Naquele período maturou o drama do êxodo da Istria, Fiume e Dalmácia pela
grandíssima parte da população italiana (entre as 250.000 e 300.000 pessoas) que foram
reunidas como prófugas em Trieste e em varias localidades italianas. Muitas dessas
pessoas, logo ou nos anos a seguir, escolheram de emigrar.
A emigração do Friuli
Ao final do conflito tornaram à luz problemas que a guerra haviam escondido: a
depressão da agricultura, a escassez de recursos materiais e financeiros, a fraqueza do
sistema produtivo, super abundância da mão-de-obra, à qual de somava os danos da
guerra, sobretudo na infra-estrutura, nos edifícios, nas vias de comunicação. 50.000 são
os desempregados, enquanto o custo da vida tende a ser insustentável também para
quem possui um trabalho. A emigração torna a ser uma via quase obrigatória. Na metade
de 1946 partem os primeiros grupos de operários para os fornos austríacos, depois para
as mineradoras da Bélgica e para outros países europeus. No final do ano são já 1.300 os
emigrantes oficiais, 10.000 em 1947 e em 1948, mas muitos outros são aqueles que se
movem clandestinamente. As estradas percorridas são aquelas já conhecidas, para a
França, mas também para a Bélgica e Luxemburgo; a Suíça a partir de 1951 se torna
pela primeira vez lugar de atração, em substituição à França e a Bélgica, para a grande
demanda de mão-de-obra desencadeada pelo seu crescimento industrial. Em 1947 se
inicia um notável fluxo para a Argentina, e em menor medida, para o Brasil, que requer
agricultores, e a Venezuela, que atrai trabalhadores da construção civil. A partir de 1949
muitos jovens chegaram ao Canadá e nos anos seguintes à Austrália. Ao final dos anos
cinqüenta é a Alemanha Ocidental, em pleno desenvolvimento econômico, que se torna
um ponto de atração.
A emigração do segundo pós-guerra é caracterizada por uma maior presença dos
governos nas políticas migratórias, através de contatos e acordos que permitem de
endereçar e controlar os fluxos migratórios. Para a Itália representa uma passagem
fundamental para governar o excesso de mão-de-obra, garantir a valorização cambial,
instaurar relações diplomáticas mais estreitas com os países
de emigração.Os acordos intergovernamentais serviam para superar os obstáculos e as
limitações que cada país interpõe à liberdade de movimento e de procura de trabalho
pelos estrangeiros, também a tutela dos próprios compatriotas, sobre solicitações
freqüentemente das organizações sindicais locais que temem uma recaída negativa sobre
a ocupação e a renda dos trabalhadores locais. A emigração assistida, sob
responsabilidade do Ministério do Trabalho, assiste grande número dos trabalhadores,
assumidos com contratos coletivos, e garante uma série de facilitações para a obtenção
da documentação, para as despesas de viagem, para o primeiro acolhimento nas “Casas
do Emigrante”. A contrapartida é dada pelo nível elevado de condições físicas e
capacidades profissionais requeridas para acessar a este tipo de emigração, para o qual o
expatrio “livre”, sem contatos preliminares, seguindo a tradicional “cadeia migratória”,
na qual a presença de parentes e amigos ou as notícias que desses provêem endereçam
os percursos migratórios.
O crescimento econômico europeu do pós-guerra, juntamente a maior possibilidade de
conhecimento do mercado de trabalho que entidades públicas e associações privadas
oferecem, como conseqüência dos acordos internacionais e das ralações mantidas com
os compatriotas no exterior, dedica muito mais atenção à escolha do lugar de emigração.
A industrialização em avanço favorece a evolução das características profissionais dos
emigrantes, que sempre mais numerosos passam da tradicional ocupação na construção,
àquela na indústria manufatureira. Os anos cinqüenta e sessenta marcam um progressivo
aumento do fenômeno migratório do Friuli, com a constância de envolver
majoritariamente as áreas de montanha e de sopé, mas também neste caso é difícil
definir a entidade dos diversos métodos de detecção e quantificação do fenômeno
migratório: algumas avaliações atendíveis chegam a 44.000 emigrantes friulanos em
1951, com números que oscilam entre 53.000 e 80.000 nos anos Sessenta 6. Mas muito
mais que a entidade do fenômeno na sua totalidade é relevante a sua distribuição, que vê
interessadas de maneira relevante as áreas mais marginais da região. Em um debate no
Conselho Regional de Friuli Venezia Giulia em outubro de 1965 foi sublinhado como na
zona do Pré-alpes Cárnicos 24% da população ativa (8.000 pessoas) havia emigrado,
com um trend crescente com respeito aos anos precedentes (13.5% em 1957, 17% em
1961), com picos que em algumas localidades superava a metade da força de trabalho
masculina ativa, se aproximando em certos casos aos 90%. Analogamente nos Pré-alpes
Giulianos a emigração atingia também outra metade dos ativos. Com respeito a Carnia,
naquela sede foram estimados em mais de 22.000 os emigrantes em 1961, subindo a
26.000 em 1965; no mesmo período de avaliação a Comunidade Cárnica mostrava que a
média dos emigrantes temporários entre a primeira década do pós-guerra e os anos
sessenta aumentava de 9.000 unidades (10% dos residentes) para 12.000 (13,5% dos
residentes). Nos anos sessenta cresce contemporaneamente também a emigração
permanente (13% da população residente entre 1945 e 1960), levando a um progressivo
despovoamento além das áreas de montanha, que perdem entre 1951 e 1971 24% dos
residentes, equivalentes a 34% da população ativa. As discordâncias sobre a
quantificação refletem também as dificuldades na distinção entre os deslocamentos
temporários, periódicos ou definitivos que seriam, entre externos à Itália e internos. De
qualquer forma, até os anos sessenta incluso, a mobilidade externa tende a superar
aquela interna. Muitos emigrantes tendem a manter a residência no lugar de origem por
muito tempo e os cancelamentos no cartório não têm conta dos emigrantes sazonais e
temporários. A emigração ao exterior continua a exercitar uma influência negativa nos
lugares de emigração,
sobretudo no caso dos emigrantes solteiros que não levam
consigo a família, enquanto se alimenta uma inflação de recuperação monetária que vem
empregada em setores não produtivos (consumo das famílias, saldo de débitos, compras
ou melhorias de imóveis). Se em 1942 se chegava a cifra de 2,5 bilhões de liras, em
1958 eram 7,17 e em 1963 quase 10, recolhidas principalmente do setor bancário.
6. Os primeiros valores são indicados por O.Lorenzon e P. Mattioni, L’emigrazione in
Friuli Câmara do Comércio de Udine, 1962. Segundo G. Bazo, popolazione e forza
lavoro , Câmara do Comércio de Udine, 1961, naquela data os emigrantes eram 80.000,
segundo G.B. Metus, Una politica di sviluppo regionale, Udine, 1966, eram naquela
data 70.000 em toda a região, o mesmo valor indicado sucessivamente por G. Bazo, N.
Parmeggiani, G. Maggi Esame dei problemi economici della provincia di Udine,
Câmara do Comércio de Udine, 1967,
A emigração feminina
Um fenômeno relativamente novo é a participação feminina autônoma na experiência
migratória. É a Suíça que atraí-las primeiro, já a partir de 1947, chegando ao início dos
anos cinqüenta representando 30% da mão-de-obra imigrada. No início os trabalhos
realizados eram aqueles tradicionais, de garçonete em casas de família e hotéis, para
passar então ao emprego em fábricas têxteis, confeitarias e enfim de mecânica de
precisão e outros setores. A indústria leve atraiu jovens mulheres também na Bélgica e
na Alemanha.
A emigração giuliana
Um fenômeno novo no contexto da região, mas também naquele de Trieste e da Venezia
Giulia, é a emigração destas áreas no segundo pós-guerra. Os primeiros sinais são as
partidas de 3167 refugiados da Istria que, tendo rejeitado em 1948 seja retornar,
tornando-se cidadãos iugoslavos, seja optar pela cidadania italiana, se encontraram na
condição de apátridos e através da International Refugee Organization, emigraram até
1951 para a Austrália. Em 1947 de fato o governo australiano decidiu abrir as portas aos
imigrantes europeus, em particular aos refugiados políticos, a fim de popular os vastos
espaços desabitados do continente, em alternativa a uma temida imigração asiática. A
política migratória australiana até aquele momento foi muito restritiva, em particular
com relação aos italianos. Também neste caso se alterou endereçamento com o acordo
ítalo-australiano em março de 1951, renovado com modificas até 1964, que possuía
facilitações ao ingresso de mão-de-obra especializada e não, segundo previsões de
necessidade, e prévia seleção e correspondência a requisitos de idade, estado civil, etc. O
trabalhador devia respeitar vários compromissos e os governos deviam garantir o bom
funcionamento do sistema. Contemporaneamente, em 1952, nascia o Comitato
Intergovernativo per le Migrazioni Europee (Comitê Intergovernamental para a
Migração Européia), que recolhia numerosos adeptos em nível global. O seu objetivo
era aquele de favorecer a transferência dos emigrantes de países europeus
sobrepovoados para países além do oceano que ofereciam a possibilidade de uma
imigração ordenada, fornecendo também serviços como o recrutamento, a seleção, a
recepção e a acomodação da mão-de-obra, cursos de formação lingüística e profissional.
A estrutura fundamental era o centro de emigração, com locais adequados para hospedar
os emigrantes em espera de expatrio (na Itália haviam seis) e os locais de parada, com
possibilidade de acomodação nos lugares de trânsito. Trieste era um desses lugares de
parada para a emigração na Austrália, apoiado organizativamente no Ofício Local de
trabalho. Foi através das estruturas do CIME que se iniciou, também de Trieste, a
7
R. Meneghetti, Le rimesse degli emigranti1945-1964.Politica economica e politica del diritto, in “Storia
contemporanea in Friuli”, XVI, n.17, 1986, pp.31-60
emigração para a Austrália, a partir de 1955, quando o acordo intergovernamental foi
realmente ativado como operativo pelo governo australiano. Entre 1954 e 1964 se
transferiram para a Austrália, segundo estes procedimentos, 23.000 triestinos e
giulianos, 10.000 entre 1957 (também neste caso a quantificação exata é muito difícil).
Entre estes um quarto poderiam ser refugiados. A escolha da emigração, com uma
destinação longínqua mas alcançável através das estruturas presentes na cidade, é devida
ao estado da crise econômica e desocupação generalizada, em conseqüência da saída de
cena do governo militar dos aliados e o sustento que esse dava à economia local, com
funções sociais e de ordem pública. A construção naval estava em crise, e assim o porto,
cortando as conexões com o centro da Europa. Faltava um extrato de médias empresas e
as pequenas eram subdimensionadas. Lotavam então no mercado de trabalho os milhares
de ex-dependentes do Governo Militar, os refugiados da Istria que fluíam em grande
número e os trabalhadores pendulares das zonas limítrofes. Desempregados e
subempregados se aproximam a vinte mil unidades. Havia um peso também o aspecto
psicológico, a sensação de ser em um lugar e em uma situação já marginal, sem
prospectivas. Foram embarcados escondidos, para evitar represarias, também por parte
dos agentes da Polícia Civil, dependentes do GMA, acusados de terem disparado contra
a multidão em novembro de 1953. Quase metade dos emigrantes na Austrália eram
operários especializados, que haviam sofrido um empobrecimento de patrimônio de
profissionalismo específico, não utilizável por completo nos lugares de chegada, de
desqualificação no mercado de trabalho, no qual se encontra agora uma mão-de-obra de
origem agrícola proveniente dos territórios cedidos à Iugoslávia. Nos anos sucessivos
voltarão a Trieste menos de 4.000 dos que partiram para a Austrália no período entre
1954 e 1961.*
8
Ver sobre o argumento: F. Fait, L’emigrazione italiana in Australia (1954-1961), ERMI, Udine, 1999
Acordos internacionais fechados pela Itália entre 1946 e 1951 em matéria de emigração.
DATA
PAÌS
ACORDO
23.06.46
Bélgica
21.03.47
França
Acordo para a imigração na França
19.04.47
Suécia
Acordo relativo à emigração de operários
06.04.48
Luxemburgo
Acordo para a emigração de 1.000 operários
Protocolo para a transferência de 50.000
mineiros
agrícolas.
22.06.48
Suíça
04.12.48
Países Baixos
Acordo relativo à imigração
Acordos para o alistamento de operários para as
mineradoras holandesas.
Acordo relativo à imigração de trabalhardores
18.05.49
Fraça
05.07.50
Brasil
Acordo de migração No. 19
21.03.51
França
Acordo de emigração
29.03.51
Austrália
Acordo de emigração assistida
em Sarre
Fonte: INPS, Accordi internazionali per le assicurazioni sociali e l'emigrazione stipulati fra Italia e
altri paesi, Roma, 1954.
PARTIDAS INDIVIDUAIS DE EMIGRANTES FRIULANOS DE 1951 A 1957
1950
País de emigração
África
Equat.
Fr. 7
1951
1952
1953
1954
1955
1956
381
171
7
1
218 102
Argentina
103
77
561
12
13
34
Austrália
103
2.000
10
263
9
13
Áustria
37
98
569
25
21
2 3.710
Bélgica
12
5.626
10
14
2
761
Brasil
12
1.696
76
307
1.211
3
Camarões
241
362
210
1.423
1.142
Canadá
158
3
3.023
10
28
África Oriental
31
130
36
1
7
França
3
1.082
1
44
69
Alemanha Oc.
193
6
38
1.372
1.616
Kênia
15
9
869
44
2 228
Inglaterra
3.190
4
6
4.575
Luxemburgo
3
1
12
2
2.096
2.554
20
Holanda
1
20
Rodésia
1
80
África do Sul
43
Nova
Caledônia
Suíça
584
8 1.195
5
113 272
1.468
258
22
1.669 7
41
2.236
43
40
27
2 8.277
1
6
1957
44
387 258
541
24
35
1.054
65
7.331
1.328
19
149
3.365
20
6
141 120
5
44
1 5.383
9.735
1
77
8
206 48
E.U.A
Venezuela
Outros Países
Total
915
9.119
7.720
6.185
8.947
11.005
Retirado de O.Lorenzon e P. Mattioni, L’emigrazione in Friuli, Udine, 1962.
15.518
24.995
EMIGRANTES QUE RETORNARAM ENTRE
TRABALHADORES E FAMILIARES
Trabalhadores
Familiares
Ano
MF
M
1955
11.005
10.750
1.060
384
1956
15.518
13.219
835
238
1957
24.995
20.439
3.042
1.070
M
MF
TRABALHADORES SOLTEIROS E FAMILIARES
EMIGRADOS
NOS
PAÍSES
EUROPEUS
EXTRAEUROPEUS
Ano
País
de
Familiares
emigração
Trabalhadores
MF
M
MF
M
Europeus
10.136
9.884
484
168
869
866
576
216
1955
Extraeuropeus
1956
1957
Europeus
15.161
12.868
445
145
Extraeuropeus
351
351
389
93
Europeus
22.863
18.645
1.420
502
Extraeuropeus
2.132
1.797
1.622
568
E
Em direção ao fim da imigração
Através de investigações aprofundadas sobre o território foi possível especular uma
periodização dos fluxos migratórios das últimas três décadas, salientando as diferenças
territoriais. Entre 1962 e 1964 foi um breve período de queda do fenômeno, com um
saldo migratório positivo, ligado ao início de um crescimento industrial na região, em
particular no pólo pordenonense, que exigiu mão-de-obra pouco qualificada e baixos
salários. De 1965 a 1969 houve uma recuperação migratória consistente, com respeito
não somente ao exterior mas também ao interno. São as áreas marginais e ainda
subdesenvolvidas que alimentam este fluxo, dos quais se move uma mão-de-obra pouco
qualificada que vem da agricultura, da construção civil ou dos trabalhos genéricos. O
tradicional setor da construção torna-se uma experiência passageira e de primeira
qualificação industrial para quem vem da agricultura. Uma crise de passagem
“tecnológica” da construção tradicional “pobre” induziu dinâmicas de transferência para
as áreas de desenvolvimento industrial na Europa. A estes deslocamentos se unem
também aqueles que, com uma qualificação profissional, não encontram na região
estabelecimentos adequados e se mudam, por exemplo, para a Suíça e para a Alemanha,
onde encontram uma colocação adequada e salários mais altos. São metas substitutivas
também para quem nos anos anteriores havia tomado o caminho da emigração além do
oceano. Dos lugares de tradicional emigração, como a montanha, partiram pessoas
jovens ou muito jovens, homens prevalentemente, mas um sensível aumento de presença
feminina, que haviam já adquirido um ofício através do aprendizado e uma escolaridade
mirada. As permanências no exterior podem ser de longa duração, com constantes
breves retornos à pátria, mantendo residência e ligação familiar, ainda que se houvesse
contraído matrimônio no lugar de emigração: esta circunstância é porém freqüentemente
a premissa para uma estabilização no exterior ou em outros municípios italianos. Esta
tipologia migratória tende a diminuir de consistência nos anos setenta a favor da
permanência no exterior ou na Itália mais breve, entre os cinco e os oito meses, premissa
de um retorno com maior qualificação profissional.
1969 - 2005
Emigração e retornos
A partir de 1968 o saldo migratório tende ao positivo, com uma prevalência dos retornos
sobre a emigração: daquela data a mobilidade interna substituiu aquela externa: isto é
confirmado em 1971 do saldo positivo dos transferimentos de residência do exterior
sobre aqueles para o exterior10. Em 1973 a crise econômica internacional provoca uma
estagnação da mobilidade, enquanto os efeitos do desenvolvimento industrial local e
uma legislação específica regional mirada para favorecer os retornos chamam a mão-deobra que emigrava periodicamente e também quem se era estabelecido no exterior. O
mercado de trabalho regional é capaz de absorver a mão-de-obra antes excedente,
sobretudo se qualificada, enquanto resta uma grande quantidade daquela não qualificada,
que é alimentada pelo êxodo da agricultura Os efeitos de longo período da emigração se
fazem sentir sobre a estrutura demográfica, que é afetada pela precedente perda de
jovens em prevalência homens, para a qual falta a classe de idade intermediária, mais
produtiva e o aumento da escolaridade adia o inserimento dos mais jovens no mundo do
trabalho. A oferta de trabalho torna-se a seu modo mais rígida, quantitativamente e
qualitativamente, sendo em geral mais qualificada. Os deslocamentos para o exterior são
substituídos por aqueles em direção à outras regiões da Itália o ao interior da área
regional, em particular das áreas marginais, não envolvidas pelo desenvolvimento
econômico, que pioram as suas condições também do ponto de vista demográfico. A
emigração para o exterior tende a tornar-se residual ou ligada a particulares profissões e
tipologias de trabalho (técnicos especializados, jovens com salários altos, em setores
altamente qualificados, como grandes obras de engenharia em várias partes do mundo).
Os retornos dizem respeito principalmente a famílias com cônjuges de 35-45 anos, no
exterior há 10-20 anos, com alta qualificação profissional, que construíram uma própria
casa e iniciam em certos casos uma atividade autônoma. Menos consistente é o retorno
de aposentados, sobretudo se os filhos continuam no exterior. O período no qual se
concentra o maior número de retornos são entre 1966-1970 e 1970-1974, sobretudo dos
países europeus, enquanto menos notórios são os retornos de além do oceano.
Os terremotos de 1976 e a sucessiva reconstrução, depois de uma primeira fase de
incerteza e uma contingente retomada da emigração, acentuando o processo já ativo,
oferecendo a possibilidade de trabalho e de empresas que não se limitam somente à fase
de reconstrução, levando de fato, ao final do fenômeno migratório também nas áreas
marginais, aliás as mais atingidas pelos eventos sísmicos, onde ainda em 1976 este havia
tocado níveis elevados. Ainda se parte para o exterior, mas ou para trabalho de alta
qualificação, ou acompanhando grandes empresas italianas, ou locais que assumem
concessões para a realização de grandes obras.
9
Ver Movimenti migratori in Friuli 1960-1975: un’indagine orientativa, Udine, CRES, 1977
10
Ver G. Valussi, Il movimento migratorio, in Enciclopedia Monografica del Friuli – Venezia Giulia, vol. 2.2 La vita
economica, Trieste, 1974, pp.897-899.
Quantos são os cidadãos de Friuli Venezia Giulia no exterior hoje?
A última pesquisa (junho 2005) resulta em 134.862 inscritos ao AIRE (Anagrafe degli
Italiani Residenti all'Estero – Registro dos Italianos Residentes no Exterior) originários
de Friuli Venezia Giulia, presentes em 180 países do mundo: mais de 76.400 em países
europeus, 32.000 na América do Sul, 15.300 na América do Norte, 6.300 na Austrália,
3.700 na África, cerca de 1.000 na Ásia. Mais de quatrocentas são as sedes no mundo
das associações às quais estes fazem referência como lugar de agregação e socialização
(“Fogolârs Furlans” da Entidade Friuli no Mundo, Circoli dell’Associazione Giuliani
nel Mondo di Trieste, dell’ALEF, Associazione Lavoratori Emigrati del Friuli Venezia
Giulia di Udine, Secretariado do EFASCE, Ente Friulano Assistenza Sociale e Culturale
Emigranti di Pordenone, sede do ERAPLE, Ente Regionale ACLI per i Problemi dei
Lavoratori Emigrati di Udine, e da Unione Emigranti Sloveni del Friuli Venezia Giulia
di Cividale del Friuli).

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