Texto - Afinal quem são os sexólogos
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Texto - Afinal quem são os sexólogos
Palavra de Sexólogo! Afinal, quem somos nós? Por Ana Cristina Canosa Sexólogo é um termo amplo. Pode designar qualquer profissional que tenha especialização na área da sexualidade, seja um psicólogo, um médico ou jornalista. Geralmente os Conselhos Federais de cada profissão regulamentam suas especializações. Como o estudo da sexualidade é interdisciplinar, fica difícil unificar. Depende de vários fatores, como o tipo da especialização, sua validade acadêmica, o trabalho ambulatorial em pesquisa, além da atuação de cada profissional. Há profissionais que se especializaram no exterior, outros que se denominam “autodidatas” e usufruem um título que pode não lhe ser devido. Mas algumas ações já são bem delimitadas: dentre os especialistas em sexualidade, os médicos e psicólogos podem ser terapeutas sexuais; outros profissionais podem ser educadores e pesquisadores ou ainda especialistas em sóciosexologia. Certamente o que há de comum a todos, é essa nossa curiosidade em investigar o sexo, suas diversas expressões, comportamentos, manifestações físicas, emocionais, somáticas. Ouvir, falar, tentar aliviar sintomas, resgatar o prazer dos que não o conquistam, ou a abertura dos que se fecham para o assunto. Seja na clínica, no consultório, no ambulatório, no hospital, na sala de aula, na sala cirúrgica, no conselho tutelar, na rua, na casa de abrigo, no seminário, na televisão, na rádio...estamos sempre lidando com afetos e desafetos, buscando o lúdico do sexo e tentando compreender suas manifestações. Trabalhamos com a “área de lazer”, mesmo que ela esteja abandonada. Eu não posso falar pelos meus colegas, mas aquele velho jargão todo psicólogo buscou na Psicologia a resolução para seus próprios problemas; pode se aplicar ao nosso gosto pela ciência sexual. Nem tanto pela disfunção, mas talvez pela função, pelo gosto em desmistificar tanto prazer reprimido. Se nossa história pessoal interfere, como sou psicóloga, seria um crime negar. Mas seria prepotente em afirmar se fomos crianças travessas, curiosas ou reprimidas, até porquê não há associação direta nem estudo que perfile o “sexólogo” brasileiro e nosso grupo é grande e heterogêneo demais para eu reduzi-lo a uma equação banal. O fato é que provocamos uma certa inquietação no povo que nos rodeia. Alguns familiares não entendem porque resolvemos estudar sexualidade. Outros acham simplesmente o máximo. Lidamos com filhos que decidem nos contar detalhadamente sua intimidade e ficam espantadíssimos quando limitamos o assunto: “Nossa, sexóloga e tão careta!” Freqüentemente somos referência de bar: sabe, tenho uma amiga que é sexóloga e diz que... Afinal em se tratando de sexualidade, assuntos que envolvam afetividade, relação amorosa, sexo, conquista e até despedida de solteira entram na lista. Na vida pessoal, dizer para um possível pretendente que se é um especialista em sexualidade pode ser uma faca de dois gumes: se por um lado gera um incrível interesse, por outro inibe desempenho. As pessoas costumam achar que nós somos especialistas na arte erótica, o que é diferente. A imaginação rola solta e há quem fantasie que nós mulheres, por exemplo, somos imunes a dores de cabeça, TPM, mau-humor e que não recusamos nenhuma prática sexual. Assim também imaginam muitos de nossos pacientes, ou pelo menos desejam. Pois se chegam sofrendo nem querem pensar que possamos sofrer de males semelhantes. Faz parte do imaginário coletivo e freqüentemente é bastante divertido todos se interessarem por sua profissão e querer discutir algum comportamento ou caso, afinal o tema sexualidade ainda gera muito falatório na cultura brasileira. Claro que nem só de glória vivem os sexólogos. Há os que nos persigam, os que nos denigrem e os que não nos dão nenhum valor ou utilidade. Em se tratando de ciência, estamos começando a ser reconhecidos pelas pesquisas e estudos; no entanto uma boa parte de profissionais, mais especificamente os que se ocupam da educação, que tem uma luta mais solitária. No entanto, se há insistência por parte do profissional, em seguir com sua proposta de abrir campo para discussão de uma sexualidade mais prazerosa e responsável, isso indica saúde mental. Em se tratando de terapeutas sexuais, nem todo caso é fácil de diagnosticar, menos ainda de tratar, portanto frustrações também fazem parte da nossa prática. E tensão, quando nos deparamos com práticas sexuais menos ortodoxas que possam nos incomodar pessoalmente. E dificuldade de aceitação quando essas práticas são ilícitas e podem prejudicar terceiros. Mas sempre temos casos para contar! Pessoas que escrevem pedindo lingerie; outros que oferecem dinheiro para uma saidinha básica. Ciúmes dos parceiros. Ameaças. E de fato podemos também ser acometidos de algum tesão desavisado, que possa nos arrepiar após uma cena sexual contada por algum paciente. Somos humanos e um tesãozinho não nos pode assustar. É nosso dever ser ético e profissional. Reconhecer nossos limites e conhecer nossa atuação. Eu sempre brinco que falo tanto no assunto e há tanto tempo que nem gosto mais de fazer, que perdeu a graça. Mas não é verdade, porque sexualidade tem relação com prazer corpóreo e relação afetiva, e essas coisas, quando se gosta uma vez na vida, geralmente não se enjoa. De fato ficamos quase imunes e não nos assombramos com facilidade quando a história envolve as práticas sexuais ou relações não tão ortodoxas. Mas não deixamos de ser sensíveis e de questionar os limites que envolvem as relações sexuais entre as pessoas. Estamos alertas! Por fim, devemos agradecer. Pois como todos, na intimidade de nossas vidas amorosas, estamos fadados a engordar as pesquisas sobre os hábitos sexuais, inclusive no que diz respeito à diminuição da prática sexual com o passar dos anos, de idade e da relação, os efeitos nocivos do stress e do acúmulo de trabalho para a disposição sexual, a preguiça de fazer sexo que nos assola. O que nos salva é justamente lembrar do assunto todos os dias!
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