parceiro da inovação

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parceiro da inovação
Impresso fechado,
pode ser aberto pela ECT
Impresso
Especial
1000013828-D R/CE
Publicação do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará
Ano V n No 51 n AGOSTO/2011
FIEC
CORREIOS
3
PARCEIRO DA INOVAÇÃO
Foto: GIOVANNI SANTOS
Sistema FIEC, por meio do SENAI, é parceiro da indústria do Ceará em suas
necessidades de inovação mediante a oferta de serviços técnicos e tecnológicos
e a formação de profissionais capacitados para lidar com novas tecnologias
Publicação do Sistema Federação das
Indústrias do Estado do Ceará
AGOSTO 2011 | No 51
Foto: GIOVANNI SANTOS
........................................................................................
ViraVida
Política pública
Projeto do Sistema SESI que
atende jovens vítimas de
exploração sexual poderá ser
adotado pelo governo federal
Massas alimentícias
14
Desmistificando tabus
Consumo anual per capita no Brasil
do alimento ainda é pequeno,
apesar de estudos científicos
atestarem sua saudabilidade
CAPA
28
Realização de reunião da diretoria
em Juazeiro do Norte é parte do
programa de reuniões itinerantes
desenvolvido pela FIEC
Copa 2014
35
eSTÁDIO PRESIDENTE VARGAS
Prestes a completar 70 anos, Estádio
Presidente Vargas é o primeiro
equipamento de Fortaleza pronto
para ser utilizado na competição
resgata a história no Ceará de
transporte outrora bastante
utilizado para levar o progresso
a todo o país
da indústria cearense estarão
reunidos em equipamento
moderno e arrojado, com 95%
de acervo virtual
Micro e pequenas indústrias
cearenses de panificação, reciclagem,
redes de dormir, rochas ornamentais e
sorvetes serão capacitadas
INTERIORIZAÇÃO
ÚLTIMO APITO
38 ODocumentário
O Último Apito
Foto: JOSÉ SOBRINHO
32
Ferrovia
da Indústria
22 Museu
Passado, presente e futuro
Novos projetos
FIEC no Cariri
Sistema FIEC, por meio do SENAI, cultiva esforço para
ampliar capacidade da indústria cearense mediante a
inovação e a capacitação de profissionais
História
Procompi
18
Parceria pelo desenvolvimento
Foto: ARQUIVO PESSOAL ADERBAL NOGUEIRA
08
Seções
MensagemdaPresidência........5
Notas&Fatos..............................6
Inovações&Descobertas.........21
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
|
3
Fernandes, Geraldo Bastos Osterno Júnior, Hélio Perdigão Vasconcelos, Hercílio Helton e Silva, Ivan José Bezerra de Menezes, José
Agostinho Carneiro de Alcântara, José Alberto Costa Bessa Júnior, José Dias de Vasconcelos Filho, Lauro Martins de Oliveira Filho, Marcos
Augusto Nogueira de Albuquerque, Marcus Venicius Rocha Silva, Ricard Pereira Silveira e Roseane Oliveira de Medeiros.
CONSELHO FISCAL Titulares Francisco Hosanan Pinto de Castro, Marcos Silva Montenegro e Vanildo Lima Marcelo Suplentes Fernando
Antonio de Assis Esteves, José Fernando Castelo Branco Ponte e Verônica Maria Rocha Perdigão. Delegados da CNI Titulares Fernando
Cirino Gurgel e Jorge Parente Frota Júnior Suplentes Roberto Proença de Macêdo e Carlos Roberto Carvalho Fujita.
Superintendente geral do Sistema FIEC Paulo Studart Filho
Serviço Social da Indústria — sesi
CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Carlos Roberto Carvalho Fujita,
Marcos Silva Montenegro, Ricardo Pereira Sales e Luiz Francisco Juaçaba Esteves Suplentes José Moreira Sobrinho Representantes do Ministério
do Trabalho e Emprego Efetivo Célia Romeiro de Sousa Suplente Francisco Assis Papito de Oliveira Representantes do Governo do Estado do
Ceará Efetivo Denilson Albano Portácio Suplente Paulo Venício Braga de Paula Representantes da Categoria Econômica da Pesca no Estado
do Ceará Efetivo Paulo de Tarso Teófilo Gonçalves Neto Suplente Eduardo Camarço Filho Representante dos Trabalhadores da Indústria no
Estado do Ceará Suplente Raimundo Lopes Júnior Superintendente Regional Francisco das Chagas Magalhães
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial — senai
CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Alexandre Pereira Silva, Ricard
Pereira Silveira, Francisco Túlio Filgueiras Colares e Pedro Jacson Gonçalves de Figueiredo Suplentes Álvaro de Castro Correia Neto, Paula Andréa
Cavalcante da Frota, Pedro Jorge Joffily Bezerra e Geraldo Bastos Osterno Júnior Representante do Ministério da Educação Efetivo Cláudio
Ricardo Gomes de Lima Suplente Samuel Brasileiro Filho Representantes da Categoria Econômica da Pesca no Estado do Ceará Efetivo Elisa
Maria Gradvohl Bezerra Suplente Eduardo Camarço Filho Representante do Ministério do Trabalho e Emprego Efetivo Francisco Assis Papito
de Oliveira Suplente Célia Romeiro de Sousa Representante dos Trabalhadores da Indústria no Estado do Ceará Efetivo Francisco Antônio
Ferreira da Silva Suplente Antônio Fernando Chaves de Lima Diretor do Departamento Regional Francisco das Chagas Magalhães
Instituto Euvaldo Lodi — IEL
Diretor-presidente Roberto Proença de Macêdo Superintendente Vera Ilka Meireles Sales
Coordenação e edição Luiz Carlos Cabral de Morais ([email protected]) Redação Ângela Cavalcante ([email protected]), G evan Oliveira ([email protected]) e
Luiz Henrique Campos ([email protected]) Fotografia José Sobrinho e Giovanni Santos Diagramação Taís Brasil Millsap Coordenação gráfica Marcograf
Endereço e Redação Avenida Barão de Studart, 1980 — térreo. CEP 60.120-901. Telefones (085) 3421-5435 e 3421-5436 Fax (085) 3421-5437 Revista
da FIEC é uma publicação mensal editada pela Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia (AIRM) do Sistema FIEC Coordenador da AIRM Luiz Carlos
Cabral de Morais Tiragem 5.000 exemplares Impressão Marcograf Publicidade (85) 3421-5434, 9187-5063, 8857-1594 e 8786-2422 —
[email protected] e [email protected] Endereço eletrônico www.sfiec.org.br/publicacao/revistadafiec
Revista da FIEC. – Ano 5, n 51 (ago. 2011) – Fortaleza : Federação das Indústrias do Estado do Ceará, 2008 v. ; 20,5 cm.
Mensal.
ISSN 1983-344X
1. Indústria. 2. Periódico. I. Federação das Indústrias do
Estado do Ceará. Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia.
MensagemdaPresidência
Roberto Proença de Macêdo
Demandas desafiadoras
Para tanto, precisamos abrir as nossas cabeças, em um
A visita que fiz ao Complexo Industrial e Portuário
do Pecém, no dia 11 deste mês, ocasião em que a presiden- exercício permanente de criatividade e inovação que nos
te Dilma Rousseff e o governador Cid Gomes inauguraram a possibilite ter condição competitiva capaz de superar concorreia transportadora e o terminal multiuso daquele porto, correntes, vindos de onde vierem. Tenho confiança na nosencheu-me de orgulho como cearense. O novo patamar da in- sa capacidade de empreender e de criar nas mais diversas
dústria no Ceará não é mais uma promessa. Ao ver de perto a circunstâncias. Já vencemos muitas situações caracterizadas
correia tubular de nove quilômetros de extensão, com capaci- pela escassez de pedidos e agora temos a abundância de
dade de movimentação de minério de ferro e carvão mineral, ofertas. A questão que se impõe é a de não deixarmos essas
equivalente à carga de 200 caminhões por hora, percebi na- ofertas escaparem das nossas mãos.
Como ficou claro no IV Congresso Brasileiro de Inoquele equipamento a dimensão das perspectivas promissoras
vação na Indústria, organizado pela CNI em São Paulo, no
do futuro socioeconômico do Ceará.
Em conversa recente com representantes da Vale, inte- último dia 3, inovar é o principal recurso usado hoje pelas empresas na competição global.
grante da Companhia Siderúrgica do
Nessa disputa são indispensáveis
Pecém (CSP), tratei das oportunidatambém a qualificação da mão de
des das indústrias cearenses funcioPrecisamos abrir as
obra, as boas condições de trabalho
narem como fornecedoras daquele
nossas cabeças, em
e a responsabilidade socioambienempreendimento, tanto na fase de
tal das empresas.
implantação quanto na de operação. um exercício permanente de
A CNI e a FIEC estão em conNas conversações foram colocadas as
dições de ajudar as indústrias na
exigências de qualidade e segurança criatividade e inovação que nos
da CSP e a sua total disposição de possibilite ter condição competitiva identificação de demandas, no
diagnóstico de necessidades e suas
facilitar o mais possível a preparação
prioridades e na preparação para
para que as nossas indústrias se tor- capaz de superar concorrentes,
o atendimento do leque das comnem aptas a fornecer grande parte do vindos de onde vierem.
plexas exigências desse mercado.
que ela irá necessitar.
Para tanto, compete ao industrial
Esses dois acontecimentos reforbuscar os serviços colocados à disçam em mim a convicção sobre a
necessidade de nos capacitarmos para aproveitar ao máximo posição pelo nosso Sistema. O IEL, por exemplo, por meio
as oportunidades que esses grandes empreendimentos trazem do Programa de Qualificação de Fornecedores (PQF), capapara o nosso estado. Na edição de março de 2001 desta revista, cita grupos de empresas, numa visão de desenvolvimento
sob o título Fornecedores de Excelência, procurei sintetizar a de cadeias produtivas, visando o atendimento de requisitos
minha compreensão a respeito do posicionamento do empre- nacionais e internacionais no fornecimento de produtos e
sariado cearense diante desses desafios. Pensar grande, focar, serviços, como os que nos serão demandados.
O certo é que estamos diante de um bom desafio: temos
antecipar-se, capturar sinergias, ser proativo e fazer uso pleno
do Sistema FIEC são alguns dos pontos indispensáveis para nos um mercado demandante e os instrumentos de capacitação
colocarmos na condição de plenos fornecedores desses projetos. necessários para atendê-lo.
“
“
Federação das Indústrias do Estado do Ceará — fiec
DIRETORIA Presidente Roberto Proença de Macêdo 1o Vice-Presidente Ivan Rodrigues Bezerra Vice-presidentes Carlos Prado, Jorge
Alberto Vieira Studart Gomes e Roberto Sérgio Oliveira Ferreira Diretor Administrativo Carlos Roberto Carvalho Fujita Diretor Administrativo
Adjunto José Ricardo Montenegro Cavalcante Diretor Financeiro José Carlos Braide Nogueira da Gama Diretor Financeiro Adjunto Edgar Gadelha
Pereira Filho Diretores Antonio Lúcio Carneiro, Fernando Antonio Ibiapina Cunha, Francisco José Lima Matos, Frederico Ricardo Costa
CDU: 67(051)
4 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
|
5
q u e
Notas&Fatos
a c o n t e c e
n o
S i st e m a
FIEC ,
n a
P o l í t i c a
e
n a
E c o n o m i a
ROSIER ALEXANDRE
Refrigeração
Funcap e
Finep lançam
editais
Escalada montanha
mais alta da Eurora
SENAI traça
perfil de
profissionais
A Fundação Cearense
da Apoio ao
Desenvolvimento
Científico e Tecnológico
(Funcap) lançou o
terceiro edital do
Fundo de Inovação
Tecnológica (FIT), no
valor de 10 milhões
de reais, destinado
a médias e grandes
empresas. Outro edital
de 9,8 milhões de reais
foi lançado em parceria
com a Financiadora
de Estudos e Projetos
(Finep), exclusivamente
para micro e pequenas
empresas. No edital do
FIT, as empresas com
faturamento até 10,6
milhões de reais anuais
podem se habilitar a
recursos de 500 mil
reais, no máximo. Para
as empresas que faturam
de 10,6 milhões de reais
até 60 milhões de reais,
o teto de captação chega
a 800 mil reais. Nas
empresas de faturamento
acima de 60 milhões de
reais, é possível captar
até R$ 1 milhão.
O
O Serviço Nacional
de Aprendizagem
Industrial do Ceará
(SENAI/CE) realizou
em agosto o Comitê
Técnico Setorial na
Área de Refrigeração e
Climatização, destinado
a traçar o perfil dos
profissionais do setor.
Especialistas técnicos
de Departamentos
Regionais do SENAI, de
empresas e de centros
de conhecimento
apresentaram demandas,
que resultarão na
formatação de um
documento base para a
padronização e a revisão
dos cursos de formação
oferecidos pelo SENAI.
>> Cartas à redação contendo
comentários ou sugestões de
reportagens podem ser enviadas
para a Assessoria de Imprensa
e Relações com a Mídia (AIRM)
Avenida Barão de Studart, 1980,
térreo, telefone: (85) 3421-5434.
E-mail: [email protected]
montanhista
cearense
copatrocinado
pela FIEC/SESI, Rosier
Alexandre, chegou
no dia 17 de agosto
ao cume da maior
montanha da Europa, o
Elbrus, na Rússia,
de 5 642 metros. Para
Rosier, a escalada foi a
mais difícil já enfrentada
e o sucesso veio graças
à excelente preparação
e planejamento. A
empreitada faz parte do
Projeto Sete Cumes, no qual o cearense planeja escalar
as montanhas mais altas de cada continente. Esta foi a
terceira escalada por Rosier, que já atingiu o cume do
Aconcágua, na Argentina, e o Kilimanjaro, na África. Até
2014, ele pretende escalar os quatro restantes: Monte
Everest, Ásia; Monte McKinley, América do Norte; Monte
Carstensz, Oceania e Vinson, Antártida.
Foto: ARQUIVO PESSOAL ROSIER
Inovação
Gestão
Prêmio vai reconhecer melhores práticas no CEará
O Movimento Ceará Competitivo (MCC),
com apoio da FIEC e do Movimento Brasil
Competitivo, lançou em agosto a primeira
edição do Prêmio Ceará de Excelência em
Gestão. O objetivo é promover a melhoria
da qualidade da gestão e o aumento da
competitividade das empresas cearenses,
reconhecendo as melhores práticas. O
prêmio é dividido em duas categorias:
Grande/Média Empresa e Micro/Pequena
Empresa. Segundo o gerente executivo do
6 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
MCC, Hélder de Holanda Castro, a ideia
é permitir às organizações participantes
a aplicação de fundamentos e critérios
de excelência reconhecidos e utilizados
mundialmente, a identificação de pontos
fortes e oportunidades para melhorias
e a maior cooperação interna, com a
mobilização e comprometimento das
pessoas envolvidas, entre outros ganhos. Os
vencedores serão conhecidos em novembro.
Informações: (85) 3421-5486.
INDI
SINDMASSAS
Carlos Matos
é o novo
diretor
Luís Eugênio Pontes
assume a presidência
O engenheiro e
ex-secretário de
Agricultura do Ceará,
Carlos Matos, é o novo
diretor corporativo
do Instituto de
Desenvolvimento
Industrial (INDI),
entidade ligada à
FIEC. Como uma de
suas primeiras ações,
ele participou no fim
de julho, em São José
dos Campos (SP), de
encontro do presidente
da FIEC, Roberto
Proença de Macêdo,
e do empresário e
ex-presidente do
Centro Industrial do
Ceará (CIC), Baltazar
Neto, com o cientista
cearense Fernando de
Mendonça. Na ocasião,
foi discutida a criação
de um instituto voltado
a pesquisa em energias
alternativas a ser
implantado no Ceará.
AGENDA
...................................................
Estão abertas as
inscrições para o Encontro
de Negócios da Língua
Portuguesa (ENLP). O
evento é realizado pela
Câmara Brasil-Portugal no
Ceará (CBP/CE) e ocorre
entre os dias 3 e 6 de
outubro. Informações no
site www.negociosnalinguaportuguesa.com.
n
CURTAS
--------------------n Cinco
trabalhadores-atletas
cearenses viajaram para
participar do Mundial do
Trabalhador, ocorrido de
19 a 28 de agosto, na
Áustria. Vencedores na
categoria natação dos
jogos nacionais do SESI
realizados em maio,
em Salvador, os atletas
competiram em todas
as modalidades.
O
diretor corporativo
do grupo M Dias
Branco, Luís
Eugênio Pontes, é
o novo presidente
do Sindicato das
Indústrias de Massas
Alimentícias e Biscoitos
do Ceará (Sindmassas).
Ele tomou posse no
início de agosto em
solenidade na sede da
FIEC. Entre as metas
da nova gestão está
a mobilização para
desmistificar a ideia de
que o consumo das massas
não é adequado para uma
alimentação saudável. [Veja
matéria nas páginas 14, 15
e 16]. O mercado brasileiro
de massas alimentícias
registrou faturamento
de R$ 5,9 bilhões no ano
passado. Nos últimos
Foto: JOSÉ SOBRINHO
O
Notas&Fatos
cinco anos, o faturamento
acumulado apontou
aumento de 18%. O Brasil
é o terceiro maior produtor
de massas no mundo. Entre
as organizações de DNA
cearense que se destacam
no mercado nacional estão
a Fábrica Fortaleza, a J.
Macêdo e a Fábrica Estrela.
PESQUISA
IEL conclui pesquisa sobre os
sindicatos ligados à FIEC
O
O IEL/CE concluiu
pesquisa censitária
sobre os sindicatos
ligados à FIEC. De acordo
com o levantamento, os
sindicatos, em sua maioria,
estão atuando há mais de
20 anos. O número total de
indústrias que compõem
a base sindical da FIEC
é de 14 728. Desse total,
1 903 estão associadas
aos sindicatos ligados à
federação. Com relação aos
focos principais de atuação
dos sindicatos, constam
as negociações coletivas,
ações comerciais e serviços
de assessorias técnicas.
A pesquisa está sendo
realizada em outros estados
e visa apoiar as federações
que desejam obter um
quadro preciso da atuação
dos sindicatos filiados.
Informações: (85) 3421-6508.
n O Centro
Internacional de Negócios
(CIN) promoveu mais uma
edição do Café Comex. Na
pauta das discussões a
logística para o mercado
do oeste africano.
Representantes de
empresas de transporte
de cargas, tanto
marítimo quanto aéreo,
apresentaram soluções
e discutiram os desafios
para a região que é
considerada de grande
potencial importador.
n O IEL/CE
e a Cooperativa da
Construção Civil do
Ceará (Coopercon/CE)
iniciaram mais uma
etapa do Programa
de Desenvolvimento
e Qualificação de
Fornecedores – Vínculos
de Negócios com foco
na construção civil. Trinta
empresas fornecedoras
de pequeno e médio
portes apresentaram
seus portfólios à diretoria
da cooperativa.
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
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7
Projeto ViraVida
destacou que o Sistema S faz sua parte com a
execução do projeto ViraVida, que dá atendimento a jovens vítimas de exploração sexual.
O projeto oferece cursos de qualificação profissional para jovens entre 15 e 21 anos, vítimas de exploração sexual, nas áreas de administração, gastronomia e comunicação digital,
entre outras. O objetivo é resgatar a autoestima do jovem oferecendo profissionalização e o
ingresso no mercado de trabalho.
A necessidade do engajamento do setor produtivo na proteção dos direitos da infância e da
juventude também foi ressaltada pela secretária
Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e
do Adolescente, Carmem de Oliveira. Ela defendeu, por exemplo, o assento do empresariado no
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (Conanda). O conselho foi previsto
pelo ECA como o principal órgão do sistema de
garantia de direitos. Por meio da gestão compartilhada, governo e sociedade civil definem, no
âmbito do Conanda, as diretrizes para a Política
Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos
Direitos de Crianças e Adolescentes.
Na avaliação da secretária, por meio do SESI,
está consagrada a ideia de que o setor produtivo
já faz parte do sistema de garantia de direitos.
A maioria dos formandos deixa o ViraVida com espaço assegurado.
Em Fortaleza, o programa formou 299 adolescentes e jovens,
inserindo mais de 70% no mercado de trabalho
C
riado em 2008 como projeto-piloto em Fortaleza pelo
Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria
(SESI), o ViraVida poderá ser adotado como política
pública pelo governo federal. Aceno nesse sentido foi feito
pela ministra da Secretaria dos Direitos Humanos (SDH)
da Presidência da República, Maria do Rosário Nunes, durante a realização do seminário ECA 21 Anos, promovido
pelo Conselho Nacional e pela SDH, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, nos dias 13,
14 e 15 de julho, em comemoração aos 21 anos de instalação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O ViraVida, segundo a ministra, tem amplas condições
de ser implantado em todo o território nacional. “Essa
iniciativa pode se combinar com as ações planejadas pelo
governo federal no enfrentamento da exploração sexual.”
Maria do Rosário destacou que o combate à exploração
sexual de crianças e adolescentes é uma prioridade no país
e exige o engajamento de todos os setores da sociedade,
incluindo a indústria brasileira. Para ela, as grandes obras
que estão sendo feitas para receber a Copa de 2014 não
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podem ter a marca da exploração sexual de adolescentes.
“Não vamos permitir que nesses grandes eventos ocorra violência contra a criança e o adolescente”, enfatizou.
“Precisamos sensibilizar os trabalhadores e as empresas para que participem, ao nosso lado, da proteção das
crianças”, completou a ministra.
Nesse sentido, o presidente da CNI, Robson Braga de
Andrade, afirmou que o Sistema Indústria está em sintonia
com o ECA e compreende a necessidade de maior envolvimento do setor empresarial no tema. “A CNI é uma casa de
empresários e está coerente com o exercício da responsabilidade social. Não podemos ficar alheios a um problema
nacional, que exige uma posição de solidariedade ativa de
todos os brasileiros que tenham a noção de seu papel social”, ressaltou Robson Andrade.
O presidente do Conselho Nacional do SESI, Jair Meneguelli, convidou os empresários a apoiar as ações de
enfrentamento à exploração sexual infanto-juvenil, considerada pela Organização Internacional do Trabalho
(OIT) como a pior forma de trabalho infantil. Meneguelli
Foto: agência CNI
Foto: Paulo Lacerda - CNI
Virando política pública
“
Combate à exploração
sexual de crianças
e adolescentes exige
engajamento de todos os
setores da sociedade.
“
Robson Andrade: "A CNI é uma casa de empresários e está coerente com o exercício da responsabilidade social"
Maria do Rosário Nunes, ministra da
Secretaria dos Direitos Humanos
“Ele [setor empresarial] não é apenas um financiador do sistema de garantia de direitos. Então,
talvez nós tenhamos de rever a própria concepção de quem tem assento no Conselho de Direitos, representando a sociedade civil organizada”,
disse Carmem de Oliveira. “Nós trabalhamos
predominantemente com a ideia dos setores
não governamentais, de ONGs, de OSCIPs, e
quem sabe a gente possa abrir a perspectiva de
que os empresários, seus gerentes de responsabilidade social, possam estar participando dos
conselhos, formulando políticas públicas e fazendo um controle social dessas políticas”, complementou Carmem de Oliveira.
Doze estados
H
á cerca de três anos o Conselho Nacional
do SESI desenvolve o projeto ViraVida. A
iniciativa já atendeu a mais de 1 500
jovens em 12 estados. Mais de 80% dos
formandos já estão inseridos no mercado de
trabalho. Segundo o presidente do Conselho,
Jair Meneguelli, o ViraVida é um projeto
estruturado, que atua em parceria com o
Sistema S e com as Redes de Enfrentamento da
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
nos estados. “Oferecemos atendimento
psicológico, elevação da escolaridade e,
sobretudo, uma chance para jovens que tiveram
apenas uma oportunidade: a exploração”.
De acordo com Meneguelli, os resultados do
programa mostram que é possível incentivar um
maior engajamento do setor produtivo, a partir
de uma nova maneira de olhar essa questão,
ou seja, ver esses jovens como sujeitos de
direitos. Em Brasília, por ocasião do Seminário
ECA 21 anos, ele afirmou esperar que "daqui a
alguns anos possamos nos reunir para celebrar
mais avanços e parcerias e, principalmente, a
redução dos casos de exploração dos meninos
e meninas do Brasil. E, num futuro não muito
distante, a erradicação”, arrematou.
Um dos aspectos mais destacados do
ViraVida é o desafio de assegurar a inserção
dos alunos concludentes no mercado de
trabalho. Para isso, tem contado com a
qualidade do ensino profissionalizante do
Sistema S e do acompanhamento de egressos
dos cursos durante o primeiro ano de inserção
no mercado de trabalho. Durante o processo
de formação e qualificação profissional, que
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
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10 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
Carmem de Oliveira, secretária Nacional
de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente
Carmem de Oliveira explicou que os dados apresentados servirão
de subsídio para a SDH organizar uma atuação em quatro frentes
para combater a exploração sexual de crianças e adolescentes: Copa
do Mundo, grandes obras (principalmente de usinas hidrelétricas),
rodovias e fronteiras. A secretária ainda informou que as 12 capitais
que vão receber jogos da Copa do Mundo em 2014 estão entre
as cem cidades com maior número de casos de exploração sexual
de crianças e adolescentes. As informações fazem parte de uma
prévia da Matriz Intersetorial 2011 – Cenários do Enfrentamento da
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. O documento ainda
está sendo concluído, em parceria com o Grupo de Pesquisa sobre a
Violência e Exploração Sexual das Mulheres, Crianças e Adolescentes
da Universidade de Brasília (UnB).
“U
ma virada para melhor” na vida de 126 jovens e
adolescentes cearenses marcou no dia 28 de julho
o início de mais uma etapa do Projeto ViraVida
em Fortaleza. Sessenta e cinco concludentes receberam
durante solenidade no auditório Waldyr Diogo, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), certificados nos cursos de costura industrial – nas modalidades qualificação (13 concludentes) e aprendizagem
(21) –, gastronomia (22) e auxiliar de pessoal/recepção
(nove formandos) e partem para novas experiências profissionais no mercado de trabalho. Simultaneamente,
61 jovens ingressaram no projeto iniciando três novas
turmas nas áreas de auxiliar administrativo (20 alunos),
recepção (20) e tecelagem (21).
Em comum, quem chega e quem parte do programa
ganham nova perspectiva de vida, elevam a autoestima e
transformam seu próprio destino para melhor. “Antes de
entrar no ViraVida, não tínhamos expectativas de vida.
Nossos sonhos estavam apagados e isso me incomodava
muito. O projeto só trouxe benefícios. Tornei-me uma
pessoa melhor, passei a acreditar mais nas pessoas. Agora, a minha expectativa de vida é outra. Pretendo me
aperfeiçoar cada vez mais na costura, prestar vestibular
e concluir o nível superior”, planeja a oradora das turmas concludentes, Bruna Stefani de Oliveira, que termina sua participação no programa já trabalhando na
Guararapes Confecções S/A.
Foto: JOSÉ SOBRINHO
“
Mudando mais vidas no Ceará
Para ela, concluir o ensino médio, o curso profissionalizante e ainda entrar no mercado de trabalho parecia
um sonho distante que o ViraVida tornou realidade. “O
projeto me ensinou que sou capaz e posso conseguir, então eu vou conseguir. Só tenho a agradecer àqueles que
fizeram nossos sonhos se tornar realidade”, declarou
em nome de todos os formandos. Aos recém-chegados,
deixou seu recado: “Não desistam nunca, pois nossos
sonhos somente nós mesmos podemos realizar”.
Bruna Stefani:
"ViraVida me ensinou
que sou capaz e
posso conseguir"
Foto: JOSÉ SOBRINHO
E
m metade dos municípios brasileiros há registros
de denúncias de exploração sexual de crianças e
adolescentes. É o que mostra um levantamento feito
em maio último pela SDH. De acordo com o mapeamento, as
regiões Centro-Oeste e Nordeste, nessa ordem, são as que
mais denunciam casos de exploração sexual contra crianças e
adolescentes pelo Disque 100, número nacional por meio do
qual é possível fazer anonimamente denúncias de violência
contra crianças e adolescentes. Para a secretária Carmem
de Oliveira, o aumento do número de acusações se deve à
maior conscientização da população sobre a importância de
denunciar e proteger crianças e adolescentes.
Ela destacou ainda que o governo terá atenção especial
com as localidades com grandes obras em andamento, por
atraírem muitos homens desacompanhados das famílias.
Na maioria das vezes, os municípios têm pouca estrutura
para combater esse tipo de exploração. “Temos evidência
que, no contexto das grandes obras, aumentam os casos de
violação porque há uma migração que equivale ao número
da população que já existe no município, que não dá conta
da nova demanda. Rapidamente, se instaura um mercado de
prostituição nesses canteiros”, disse a secretária, ao participar
do seminário promovido pela CNI para discutir a participação
do setor privado no combate a esse tipo de crime. Segundo
ela, os municípios com maior número de denúncias são
justamente os que recebem a menor cobertura de programas
de combate à exploração sexual.
O aumento
do número de
acusações se deve à
maior conscientização
da população sobre a
importância de denunciar
e proteger crianças e
adolescentes.
“
Denúncias
Sessenta e cinco concludentes receberam certificados durante solenidade na FIEC
Foto: agência CNI
dura entre nove meses e um ano, os beneficiários
recebem uma bolsa no valor de R$ 500, dos
quais 20% (R$ 100,00) ficam retidos numa
poupança, resgatável ao final do processo.
O processo socioeducativo, com uma carga
horária média de 900 horas, destina, desse
total, cerca de 600 horas para os cursos
profissionalizantes, adotando uma metodologia
interativa com todos os conteúdos desenvolvidos.
Os cursos implantados abrangem as áreas de
moda, imagem pessoal, turismo e hospitalidade,
gastronomia, comunicação digital, administração e
química, apresentando carga horária que varia entre
700 e 950 horas/aula, conforme a modalidade. Em
sua fase piloto, o ViraVida atendeu a 422 jovens das
cidades de Fortaleza, Recife, Natal e Belém. Desse
total, 379 concluíram os cursos oferecidos, 282
foram inseridos no mercado de trabalho, 48 estão
em processo seletivo e 49 em outras situações. Foi
registrada também a evasão de 43 alunos (9%).
Atualmente, o projeto está em desenvolvimento em
14 cidades: Fortaleza, Recife, Natal, Belém, Brasília,
Salvador, Teresina, João Pessoa, Campina Grande,
Curitiba, Foz do Iguaçu, Londrina, Rio de Janeiro e
Porto Velho. O ViraVida foi premiado como uma das
50 melhores práticas em atuação no país e pode
ser considerado uma ação específica de combate
à exploração sexual de crianças e adolescentes.
O Conselho Nacional do SESI está implantando o
projeto nas cidades de São Luís, Aracaju e Porto
Alegre. E deverá chegar, ainda no segundo semestre
de 2011, a Campo Grande e também às demais
cidades-sede da Copa do Mundo de 2014: Belo
Horizonte, Cuiabá, Manaus e São Paulo.
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
|
11
Foto: agência CNI
Jair Meneguelli: "Nós
também estamos
dando uma virada nas
nossas vidas"
Como Bruna Stefani, a maioria dos formandos deixa o ViraVida com espaço assegurado no mercado de trabalho. De acordo com
Elísio Celestino, coordenador operacional do
programa em Fortaleza, entre os concludentes a empregabilidade se mantém na média de
70%, já que desde seu lançamento em 2008 foram beneficiados 299 adolescentes e jovens na
capital cearense.
Conforme o presidente da FIEC, Roberto
Proença de Macêdo, a inclusão é o ponto central do Projeto Viravida. “É uma tecnologia
social completamente alinhada às diretrizes e
aos objetivos estratégicos do SESI”, reforça. De
acordo com ele, por meio do programa a indústria cearense tem contribuído para fortalecer e assegurar os direitos de adolescentes e
jovens. “O crescimento econômico não é nem
pode ser um fim que se esgote em si mesmo,
mas deve necessariamente gerar desenvolvimento, emancipação e inclusão social”, defende Roberto Macêdo.
Ele lembra que o esforço teve início no Ceará e, devido ao êxito obtido, conquistou espaço
em todo o país. “A experiência pioneira ganhou
densidade e foi levada também a Recife, Natal
e Belém. A parceria sinérgica com o Sistema S,
que envolveu o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Social do
Comércio (Sesc), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)
e Sindicato e Organização das Cooperativas
Brasileiras/Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (OCB-Sescoop) no
desafio de qualificar novas turmas, fez o programa crescer. Atualmente, após três anos
12 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
Depoimentos
O que mudou com a sua entrada no ViraVida?
O que você espera do ViraVida?
Francisca Natália dos Santos, 23 anos,
concludente de gastronomia
Dayane da Silva Nóbrega, 20 anos,
aluna da nova turma de tecelagem
“Eu vivia na rua e não tinha nenhuma expectativa de vida. No ViraVida, fiz um curso
e ganhei uma profissão. Hoje, sou auxiliar
de cozinha e quero muito da vida. Estagiei
no hotel Gran Marquise e agora estou no
período de experiência, completando três
meses. Acredito que vou ficar.”
“Quando a vida me levava, ela levava
embora também todos os meus sonhos e
as pessoas que queriam me ajudar e que
apostavam em mim. Eu me acomodei com
muito pouco. E agora vem o ViraVida me
puxando e me dá aquele abraço carinhoso. Então, o ViraVida é a minha família.”
Rafael da Silva,
19 anos, concludente de auxiliar de
pessoal/recepção
Rosilene dos Santos Moura,
19 anos, aluna da nova turma de
recepção
“O nome já diz tudo. Eu tive uma oportunidade de mudança e soube aproveitar.
Espero que os jovens que estão chegando agora aproveitem também e consigam dar uma virada na vida deles como
eu fiz. Meu sonho começou agora. Voltei
a estudar e estou trabalhando na Caixa
Econômica Federal.”
“A expectativa é maravilhosa. O programa é uma boa oportunidade para quem
quer realmente mudar de vida. É uma
boa chance de emprego. Os cursos são
os melhores que há. Os parceiros também são muito bons. Para quem quer
seguir em frente e ter uma boa profissão
o ViraVida é uma ótima escolha.”
Empresas participantes em Fortaleza
Instituições parceiras
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Penna Sport Wear
Panifício Aguananbi S.A – Panevita
EIT – Empresa Industrial Técnica S/A
Suíte Design
Dilady Lingerie
Caixa Econômica Federal
Banco do Nordeste do Brasil
Banco do Brasil
Cemec Construções
Unitêxtil Indústria Têxtil
Chaves S.A
Araucária Incorporações
Cocobambu
Sanny Underwear
Panificadora Montmartre
Cachaça Colonial
Construtora e Imobiliaria JMV Ltda.
Eng. Enguia
Manhattam/ABC
Inco Engenharia
Faculdades Cearenses – FAC
Colégio JK
Guararapes Confecções S/A
Hotel Gran Marquise
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FotoS: JOSÉ SOBRINHO
de realização, atinge 12 estados, atendendo a
grandes cidades como Brasília, Teresina, Salvador, João Pessoa, Campina Grande, Curitiba, Foz do Iguaçu, Londrina e Rio de Janeiro”,
sublinhou Roberto Macêdo.
Coordenado pelos Departamentos Regionais do SESI, o ViraVida foi lançado em 2008
com o nome de Projeto de Profissionalização
para o Enfrentamento da Exploração Sexual
e Comercial de Adolescentes em resposta às
estatísticas de exploração sexual de crianças
e adolescentes no Brasil. O projeto-piloto
iniciou sua aplicação no Ceará em junho de
2008, sob a coordenação do SESI/CE. Além
de receberem qualificação profissional e educação integrada, os alunos contam com uma
bolsa mensal e intermediação para inserção
no mercado de trabalho. O programa contempla ainda formação em empreendedorismo e
cooperativismo, bem como atendimento psicossocial e apoio às famílias.
Segundo Jair Meneguelli, o grande mérito
do ViraVida não está na sua concepção, mas
na aplicação por parte dos coordenadores, empresas e instituições parceiras. “Idealizar não é
complicado, mas estar realizando no dia a dia,
apoiando e orientando cada um desses jovens,
é o que faz a diferença na vida deles. Nós também estamos dando uma virada nas nossas vidas”, observou, ao ser intitulado de “produtor
de cidadania” pelo presidente da FIEC.
Aos formandos do ViraVida, Jair Meneguelli
aconselhou a não se acomodar e a continuar se
dedicando aos estudos: “Vocês são vencedores
porque acreditaram em vocês mesmos e tiveram coragem. O que precisam agora é recuperar o tempo perdido. Estudar, estudar e estudar.
Quem estuda hoje tem dificuldade no mercado
de trabalho. Quem não estuda está fora dele.
Então, agora vai depender de vocês. Não parem
aqui. Continuem estudando”.
Na cerimônia de certificação, Jair Meneguelli
entregou o diploma a quatro concludentes, que
representaram suas respectivas turmas. Nayara Pereira da Silva representou os 22 formandos da turma de gastronomia; Maria Natasha
Lima recebeu em nome dos 21 concludentes do
curso de aprendizagem em costura industrial;
Nayara Tatiana Alves Santos representou os 13
certificados na qualificação em costura industrial e Rafael da Silva Martins recebeu o diploma em nome dos nove colegas que terminaram
o curso de auxiliar de pessoal/recepção.
Ass. Maria Mãe da Vida
Aproce
Convida
Associação Barraca da Amizade (ABA)
Secretaria Municipal de Direitos Humanos – Coordenação da Criança e
do Adolescente.
Centro Integrado Empresa Escola (CIEE)
Sindicato Intermunicipal de Hotéis e Meios de Hospedagem do Estado
do Ceará (Sindihoteis)
Sindicato de Restaurantes, Bares, Barracas de Praia, Buffets e Similares
do Estado do Ceará (Sindirest/CE)
Conselho Municipal de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes
Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS)
Superintendência Regional do Trabalho (SRT)
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac)
Serviço Social do Comércio (Sesc)
Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (Sebrae)
Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras/Serviço Nacional
de Aprendizagem do Cooperativismo (OCB-Sescoop)
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
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13
Massas alimentícias
POR LUIZ HENRIQUE CAMPOS
O
macarrão chegou ao Brasil no fim do século 19, trazido pelas primeiras famílias de imigrantes italianos, e hoje está presente na mesa de praticamente
100% dos brasileiros. Entretanto, atualmente existe muita
desinformação sobre o consumo desse alimento, considerado nutritivo e essencial para o bom funcionamento do
corpo humano. No Brasil, por exemplo, apesar de bastante popularizado – e de o país ser o terceiro maior produtor de massas alimentícias do mundo (perde apenas para
Itália e Estados Unidos) –, nossa posição cai para o 17º
lugar quando comparada ao consumo anual per capita.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Massas Alimentícias (Abima), Cláudio Zanão, o
fato se deve principalmente ao tabu disseminado "equivocadamente" de que o macarrão não é adequado para
uma alimentação equilibrada. Nesse sentido, a entidade
nacional iniciou por Fortaleza a divulgação de um estudo científico internacional sobre a saudabilidade
do macarrão. O documento, elaborado por 15
cientistas especializados em nutrição de 13
países, recomenda a inclusão de carboidratos no consumo diário para garantir
uma refeição rica em nutrientes.
O congresso científico (Scientific
Consensus Conference on the Healthy
Pasta Meal) foi realizado em outubro do
ano passado no Rio de Janeiro e resultou
ainda na declaração que se tornou referência mundial sobre alimentação à
14 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
base de massa, contrariando questionamentos a respeito
da relação entre o consumo de macarrão e o aumento
de peso. Um dos 15 cientistas a participar da equipe,
a nutricionista e fitoterapeuta Vanderli Marchiori, que
também é secretária geral da Associação Brasileira de
Nutrição Esportiva, destaca como um dos pontos importantes do documento a indicação dada pelas pesquisas científicas da adoção cada vez maior da dieta como
um todo, em vez de alimentos e nutrientes considerados
de forma individual.
Foto: JOSÉ SOBRINHO
Há ainda muita desinformação sobre o consumo do macarrão como
alimento nutritivo e essencial, mesmo o Brasil sendo o terceiro maior
produtor mundial de massas alimentícias
Cláudio Zanão:
"Macarrão é adequado
a uma alimentação
equilibrada"
porque ninguém consegue viver sem ele", destaca Luís
Eugênio. Para se ter uma ideia dessa afirmação, o volume
de produção de macarrão no Brasil manteve o ritmo de
crescimento em 2010, ultrapassando a marca de 1,2 milhão de toneladas. Já a média anual de consumo manteve-se estável em 6,4 quilos por habitante no ano passado
em relação a 2009. Isso se deve também, destaca Pontes, à
aposta da indústria em inovar e diversificar seus produtos
para segurar o consumo interno.
“
Basta uma
informação distorcida
sobre possíveis malefícios
causados pelo macarrão,
para se jogar fora todo um
trabalho científico.
“
É preciso
desmistificar tabus
Segundo ela, muitos ensaios clínicos sugerem que
é o excesso de calorias, e não de carboidratos, o responsável pela obesidade. No documento, consta, por
exemplo, que as dietas com sucesso em promover a
redução de peso se baseiam em proporções variáveis,
adequadas e saudáveis de carboidratos, gorduras e
proteínas. Para Vanderli, esses três macronutrientes
em equilíbrio são essenciais a uma dieta individualizada, que pode ser seguida ao longo da vida. “Além disso,
dietas muito pobres em carboidratos podem não ser
seguras a longo prazo”, ressalta.
Na visão do presidente do Sindicato das Indústrias
do Trigo nos Estados do Pará, Paraíba, Ceará e Rio
Grande do Norte (Sindtrigo) e do Sindicato das Indústrias de Massas Alimentícias e Biscoitos do Ceará
(Sindmassas), Luís Eugênio Pontes, a pesquisa é importante por afastar a pecha de vilão do macarrão em
relação ao aumento de peso da população. Ele lembra
que a ação da Abima é complexa, por serem os meios
de comunicação verdadeiros divulgadores de falsas
informações. "Basta uma informação distorcida numa
novela, como vi recentemente, sobre possíveis malefícios causados pelo macarrão, para se jogar fora todo
um trabalho científico. Por isso nossa ação tem de ser
de formiguinha mesmo, para reverter esse quadro", reconhece Luís Eugênio.
Ele aponta que, além da desinformação, o setor
enfrenta problemas estruturais, como a alta carga tributária, que dificultam uma melhor posição do Brasil
relacionada ao consumo per capita mundial. "Mesmo
Luís Eugênio Pontes,
presidente do Sindtrigo e do Sindmassas
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
|
15
5,9 bilhões de reais
O
mercado brasileiro de massas alimentícias registrou
faturamento de 5,9 bilhões de reais no ano passado,
crescimento 1% acima do verificado em 2009. Nos
últimos cinco anos, o faturamento acumulado apontou
aumento de 18%. Os números fazem parte da pesquisa anual
realizada pela Abima (que representa também os setores de
pães e bolos industrializados) em conjunto com a Nielsen. No
comparativo de 2009 com 2010, as massas frescas cresceram
em faturamento 12% e as instantâneas 7%.
O aumento se deve, diz Cláudio Zanão, à mudança de
valores de consumo no país. Segundo ele, os brasileiros estão
à procura de produtos que ofereçam mais benefícios à saúde
e que sejam de fácil preparo. Zanão explica que o tempo
Nos últimos cinco anos, o
faturamento de massas alimentícias
acumulado apontou aumento de 18%
médio gasto na elaboração de refeições caiu de uma hora, na
década de 1990, para 20 minutos em 2010. Já o crescimento
do consumo das massas frescas em 2010 é explicado pela
consolidação da sofisticação nas compras dos consumidores.
"Observamos que com maior poder aquisitivo o brasileiro
passou a adquirir produtos e serviços Premium, seja para sua
mesa, dispensa ou geladeira", finaliza Cláudio Zanão.
Quebrando tabus
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
As massas alimentícias constituem uma alternativa saudável e
econômica em quase todas as sociedades.
As refeições saudáveis com massas alimentícias são uma deliciosa maneira de se incluir ou aumentar o consumo de vegetais,
leguminosas e outros alimentos considerados saudáveis.
Muitos ensaios clínicos confirmam que é o excesso de calorias, não de carboidratos, o responsável pela obesidade. As dietas
com sucesso em promover a redução de peso baseiam-se em proporções variáveis, adequadas e saudáveis de carboidratos, gorduras
e proteínas.
Médicos, nutricionistas e outros profissionais de saúde
devem recomendar refeições saudáveis com massas alimentícias que
sejam variadas e balanceadas.
16 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
Pesquisas científicas apontam cada vez mais a importância
da dieta como um todo, em vez de alimentos ou nutrientes individualmente considerados.
As refeições saudáveis com massas alimentícias são um componente chave de muitos padrões alimentares saudáveis em todo o
mundo, como a dieta mediterrânea, já comprovada cientificamente.
Num momento em que a obesidade e o diabetes aumentam em
todo o mundo, as refeições com massas alimentícias e outros alimentos de baixo índice glicêmico podem ajudar a controlar a glicemia e o
peso corporal, especialmente em indivíduos com sobrepeso ou obeso.
O índice glicêmico é um dos vários fatores que influenciam a saudabilidade dos alimentos.
As refeições saudáveis com massas alimentícias são apreciadas em várias culturas no mundo inteiro.
Panificação, reciclagem, redes de dormir, rochas ornamentais e sorvetes
são os cinco novos segmentos industriais cearenses que farão parte do
Procompi, a ser executado até 2013
O
s setores de panificação, reciclagem, redes de dormir, rochas ornamentais e sorvetes compõem os cinco novos segmentos industriais do estado do Ceará
que farão parte do Programa de Apoio à Competitividade
das Micro e Pequenas Indústrias (Procompi), a ser executado até 2013. O programa, realizado por meio de parceria entre a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae), apoia trabalho de estímulo e fortalecimento de
micro e pequenas indústrias, priorizando a implementação
de ações coletivas.
18 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
Na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), o
Procompi é executado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL/CE)
desde 1999. A partir de então, segundo a gerente da Área de
Prospecção e Tendências da entidade, Margareth Lins, foram
desenvolvidos 17 projetos, beneficiando 14 setores, e atendidas
300 empresas. O alvo do trabalho são os empreendimentos industriais de micro e pequeno porte, obedecendo ao limite imposto pela Lei Geral das Microempresas e Empresas de Pequeno
Porte. Nesse sentido, ressalta Margareth, a metodologia procura
atuar com grupos de no mínimo 25 indústrias de um mesmo
setor, nas áreas de gestão empresarial, tecnológica e produtiva.
“
O programa
estimula
a estruturação
da governança,
assegurando a
continuidade futura
das ações.
“
IEL aprova cinco
novos projetos
Com relação à parte empresarial, o programa procura trabalhar aspectos como liderança,
estratégias e planos e clientes e mercado, entre
outros. Quanto à gestão tecnológica, são vistos
pontos como design, propriedade intelectual,
tecnologia da informação e inovação. Na gestão produtiva, são abordados desde a eficiência
energética, passando por saúde e segurança do
trabalho, metrologia e qualidade.
A ideia do Procompi, explica Vera Ilka Meireles Sales, superintendente do IEL/CE, é levar
para dentro das empresas a importância da gestão eficiente para torná-las competitivas. Por isso,
antes do início do trabalho diretamente relacionado com o grupo de empresas, algumas etapas
precisam ser cumpridas, como seminário de
sensibilização e adesão das empresas. Depois, são
providenciadas a elaboração de um diagnóstico
empresarial e a estruturação do plano de ação.
Margareth Lins explica que, dentre as etapas
de ação do programa, uma das mais importantes é a pactuação de responsabilidades, haja vista que o trabalho em grupo no Procompi requer
esse comprometimento. Como tarefa do IEL,
constam ainda o monitoramento e a avaliação
durante todo o processo de execução. Ao final do
processo, diz Margareth, é sempre promovido um
workshop, no qual é fechado o ciclo e propostas
novas etapas a serem atingidas pelas empresas.
Foto: JOSÉ SOBRINHO
Procompi
Vera Ilka Meireles Sales,
superintendente do IEL/CE
Dos cinco projetos que serão trabalhados até
2013, três fazem parte de segmentos que desenvolveram outras ações mediante o Procompi:
panificação, redes de dormir e sorvetes. Um
dos principais objetivos do programa, destaca
Vera Ilka, é fortalecer os núcleos setoriais, estimulando a cooperação entre as empresas para
atuarem em conjunto na resolução dos problemas comuns. “Isso é possível porque o programa estimula a estruturação da governança,
assegurando a continuidade futura das ações.”
Estreantes no programa
O
s setores de reciclagem e de rochas
ornamentais são dois segmentos
que participam pela primeira vez do
Procompi. No primeiro caso, segundo o
presidente do Sindicato das Empresas de
Reciclagem de Resíduos Sólidos, Domésticos
e Industriais do Estado do Ceará (Sindiverde),
Marcos Albuquerque, o trabalho está na fase
de sensibilização para a adesão das empresas
que compõem o setor de reciclagem da região
metropolitana de Fortaleza. Ao mesmo tempo,
afirma que está sendo iniciada a aplicação dos
diagnósticos empresariais para subsidiar o IEL no
plano de ação a ser adotado.
Albuquerque, todavia, ressalta que, mesmo
ainda estando na fase inicial do diagnóstico, o
Procompi deverá agregar importante valor aos
participantes, levando-se em conta a precariedade
na questão de gestão das empresas. Ele
acrescenta: “Em sua maioria são
empresas de pequeno porte, em que
aspectos como gestão administrativa,
financeira e de produção passam ao
largo na hora da tomada de decisões
dos gestores e até em seu dia a dia.
François Paul Charron, diretor
do Sindicato das Indústrias de
Mármores e Granitos do Estado do
Ceará (Simagran), que tem conduzido
o processo no IEL pelo sindicato,
diz que já houve a finalização das adesões
das empresas, conclusão da aplicação dos
diagnósticos empresariais e a realização dos
eventos de apresentação e estruturação do plano
de ação. No âmbito do sindicato, o dirigente
destaca que já foram realizadas três reuniões
entre os participantes e o IEL. “O trabalho está
pronto para ser iniciado”, arremata François Paul.
François Paul: "O
trabalho está pronto
para ser iniciado"
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
|
19
Projetos previstos para o CE: 2010-2013
Panificação da região Norte.
Inovaçoes
&Descobertas
ATENDE AO ARTIGO 8 E 9 DA PORTARIA ANEEL N° 466 DE 12/11/97 E RESOLUÇÃO N° 456 DE 29/11/2000
o
Sindicato das Indústrias de Sorvetes do Estado do Ceará
(Sindsorvetes) participa pela segunda vez do Procompi.
De acordo com o presidente da instituição, Roberto
Botão, o projeto trouxe boas expectativas para o setor. Na época
da implantação do primeiro projeto, em 2007, o sindicato
tinha pouca estrutura. “Ao participar, conseguimos reestruturar
o sindicato, formalizar os postos de trabalho e crescer a base
sindical", destaca. Também foi implementada a capacitação do
segmento por meio de profissionais oriundos de outros estados
para a realização de treinamentos.
Agora, afirma Roberto Botão, a intenção é ampliar as
possibilidades que surgiram com a melhoria da qualificação. A
intenção é consolidar o setor como potencialmente econômico.
São vários os fatores, que vão desde o clima propício ao
consumo, passando pelo preço do sorvete e a qualidade da
produção. Roberto Botão, no entanto, reforça a necessidade
de que as empresas se preparem cada vez mais em relação
à competitividade. "O Procompi tem esse finalidade e nós
precisamos saber usar", completa.
Banheiro sem água e
sem esgoto
Roupas feitas de leite
APROVADO
Ampliação das expectativas
Reciclagem da região metropolitana de Fortaleza.
Redes de dormir da região metropolitana de Fortaleza e APL
redes de dormir de Jaguaruana.
Rochas ornamentais da região metropolitana de Fortaleza.
Sorvete da região metropolitana de Fortaleza.
Agora, sua empresa já pode contar com EconomicLuz.
Procompi/CE em números: 1999-2009
17 projetos realizados.
14 setores contemplados:
Confecções
Têxtil/redes de dormir
Panificação
Cerâmica vermelha
Gráfico
Embalagem
Pré-moldados
Construção civil
Bebidas/cachaça
Sorvete
Laticínios/queijo
Metal-mecânico
Móveis
Serraria
O sistema é aprovado pela ANEEL e atua na rede elétrica
protegendo os equipamentos eletroeletrônicos de descargas
atmosféricas (raios), alterações de tensão, oscilações de
energia, distorções de frequência. Além de evitar danos
nas instalações, aumentar a produtividade e a vida útil
dos aparelhos, o sistema é digital e garante a melhoria
na qualidade da energia. Ou seja, é economia certa.
Para agendar uma visita e mais informações
(85) 3077-5022 | 3077-5032
300 empresas atendidas.
20 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
www.economicluz.com.br
A Fundação Bill & Melinda
Gates anunciou em julho que
investirá 42 milhões de dólares
numa pesquisa para criar uma
privada sustentável. Parece até
brincadeira, mas o assunto é sério
e poderá ser vital para bilhões
de pessoas, especialmente
em países pobres. A ideia do
bilionário da informática Bill Gates
é desenvolver novas tecnologias
para o processamento de dejetos
humanos sem ligação a linhas de
água, energia ou esgoto. A tarefa
caberá a um grupo de cientistas
e engenheiros da Universidade
de Tecnologia de Delft, na
Holanda. O grupo pretende usar
a tecnologia de micro-ondas para
transformar os dejetos humanos
em eletricidade. Inicialmente,
os dejetos serão secos e, em
seguida, gaseificados utilizando
plasma, criado por micro-ondas
em um reator apropriado. Esse
processo vai gerar o chamado gás
de síntese – mistura de monóxido
de carbono (CO) e hidrogênio
(H2) – que será usado para
alimentar um conjunto de células
de combustível de óxidos sólidos
para a geração de eletricidade. No
momento, 2,6 bilhões de pessoas,
40% da população mundial, não
têm acesso a sanitários com
descarga. Um bilhão de pessoas
defeca ao ar livre e 1,5 milhão de
crianças morre, a cada ano, por
causa da diarreia.
A designer e microbiologista alemã Anke Domaske
descobriu mais uma utilidade para o leite. Além
de queijo, iogurte e bolos, entre outras dezenas de
alimentos, agora pode ser usado para fabricar roupas.
Anke explica que, para transformar o líquido em fio, os
cientistas de sua equipe usaram uma mistura especial
de uma proteína derivada do leite em estado de azedo,
processada em laboratório. A substância é aquecida e
pressionada por uma espécie de máquina de trituração
para criar as linhas. Batizado de eco-friendly, o tecido já
está sendo produzido em escala industrial e vem sendo
usado para fabricar uma linha de roupas ecológicas
voltadas para o público feminino. Para a designer, uma
das grandes qualidades da fibra do leite é que ela tem
uma textura sedosa e pode ser produzida sem o uso
de pesticidas. “Embora a maioria das pessoas veja o
leite somente como um alimento, ele é realmente um
maravilhoso recurso natural que pode ser usado para
coisas com as quais ninguém nunca sonhou”, disse
Anke. A coleção da fibra revolucionária foi apresentada
em julho passado e vem recebendo elogios de
vários países. A ideia agora é trabalhar em uma linha
masculina. Atuando no mercado de “eco luxo”, os itens
custam entre 340 reais e 450 reais.
Tenda inflável vira concreto
Caixa de aço dobrável
Os engenheiros britânicos Peter Brewin e Will
Crawford inventaram uma tenda que, ao ser molhada,
se transforma num abrigo de concreto. A novidade,
que já foi testada na Etiópia para auxiliar em projetos
de agricultura, pode durar décadas. A tenda é inflável
e revestida de plástico pelo lado de dentro; por fora
é feita com um tecido especial que contém concreto.
Uma vez inflada, é presa ao chão com pregos de
metal. Em seguida, é regada com água, que não
precisa necessariamente ser potável ou doce. Em 24
horas, o tecido de concreto endurece e a tenda está
pronta para ser usada. Os engenheiros estimam que,
com uma hora de trabalho, duas pessoas conseguem
erguer uma tenda que ocupe 54 metros quadrados.
O abrigo, que também pode ser utilizado em campos
de refugiados, pode ser perfurado e receber fiação,
tomadas e luzes no teto. Os inventores explicam que
as tendas são à prova de fogo, podem ser fechados
com portas e não atingem grandes temperaturas sob o
sol. Atualmente, o maior problema da invenção é o seu
alto custo: 16 000 dólares (mais de 25 000 reais),
mas poderá ser bem menos caso haja aumento da
demanda no futuro, garantem os construtores.
A famosa arte
japonesa de criar
objetos de papel
com várias dobras
está chegando
à indústria de
embalagens
metálicas. Zhong
You e Weina Wu, da
Universidade de
Oxford, utilizaram
a mesma técnica de dobradura e a aplicaram
para construir uma sacola metálica que pode ser
totalmente dobrada quando não está em uso. A caixa
metálica de origami é a aposta dos cientistas para
revolucionar o sistema industrial de empacotamento.
O protótipo foi construído com chapas de aço
inoxidável coladas sobre um plástico flexível.
As bordas onde as placas de aço se encontram
funcionam como vincos, as marcas onde as dobras
devem ser feitas. Os cientistas explicam que a
questão é importante para o setor de embalagens
porque as caixas rígidas de papelão só podem ser
dobradas para o transporte se suas partes superior e
inferior estiverem abertas. Caixas de embalagens que
já cheguem com o fundo montado representarão um
ganho significativo de tempo, além da possibilidade
de automação do processo.
Museu da Indústria
Foto: JOSÉ SOBRINHO
POR ÂNGELA CAVALCANTE
22 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
“
Foto: JOSÉ SOBRINHO
Em todo o Brasil, somente o Museu da Língua Portuguesa e o Museu
do Futebol, ambos em São Paulo, possuem a mesma tecnologia
adotada pelo primeiro equipamento museográfico industrial do Ceará
U
É um museu diferente
dos outros. Em vez de um
simples repositório de máquinas
e equipamentos antigos, nele irá
predominar o acervo virtual.
“
Aliando história e
desenvolvimento
m elo que une passado, presente e futuro da
indústria cearense, capaz de estimular a economia e o desenvolvimento do estado, permitindo a interação entre visitantes, pesquisadores,
educadores, estudantes, profissionais e investidores
de vários países. É essa a proposta do Museu da Indústria do Ceará, um equipamento histórico aliado à
modernidade, com 95% de acervo virtual. Único da
categoria a adotar tecnologia de ponta, o museu tem
inauguração prevista para maio de 2012.
Concebido no final da década de 90 pelo consultor cultural do Sistema FIEC Danilo Pereira, à época
exercendo o cargo de superintendente técnico-operacional, o projeto passou por várias etapas e adaptações
até sair do papel. Da escolha do prédio construído no
fim do século 19 e localizado atualmente no principal
corredor histórico do Centro de Fortaleza, passando pela restauração do edifício depois de 20 anos de
abandono e pela organização do acervo até chegar ao
pré-lançamento do museu, em 30 de junho deste ano,
várias ideias se somaram, profissionais foram contratados e novas tecnologias adicionadas.
O resultado é um instrumento arrojado e dinâmico, que causa impacto e impressiona. Antes de
abrir definitivamente as portas ao público visitante,
o Museu da Indústria do Ceará entra em nova fase de
obras de engenharia, inclusive com o início da construção de um prédio anexo, que abrigará a administração do equipamento.
“Nós constatamos que as instalações atuais não
eram suficientes para abrigar todo o museu, sobretudo agora a partir da concepção virtual. Vamos utilizar
todas as dependências, inclusive as que estavam destinadas ao Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB),
seção Ceará”, explica Danilo Pereira, para acrescentar: “E assim mesmo não será suficiente para atender a todo o quadro de serviços do museu. Por isso
o presidente da Federação das Indústrias do Estado
do Ceará (FIEC), Roberto Proença de Macêdo, autorizou a construção, ao lado do prédio, de um anexo
para abrigar a administração do museu”.
Além da construção do anexo, serão revistos os
principais sistemas instalados na edificação, nas áreas
de eletricidade, segurança, ar-condicionado etc. “Enquanto estiverem perdurando as obras, a parte virtual
será suspensa para não comprometer os equipamentos caríssimos de ponta, alguns deles comprados fora
do país”, destaca Danilo Pereira, que, mesmo com a
ampliação das obras de engenharia, espera se possa
inaugurar o equipamento museográfico em maio do
próximo ano, no Dia da Indústria.
A virtualidade e o conceito do equipamento têm
a assinatura do curador Júlio Heilbron, proprietário
Danilo Pereira,
consultor cultural do Sistema FIEC e mentor do museu
da EMC Mkt Cultural, empresa especializada que
presta consultoria ao Serviço Social da Indústria
(SESI/CE) na formatação e instalação do museu.
“Ele é memória viva em permanente diálogo com
a contemporaneidade, utilizando a mais moderna
tecnologia existente, como projeções sincronizadas,
telas touch screen e interação com os visitantes. Teremos constantes exposições temporárias com focos
diferentes, contemplando as áreas têxtil, de energias
e metal-mecânica, dentre outras”, diz Heilbron.
Segundo ele, existem cerca de 80 museus de indústria funcionando no mundo. Entretanto, o diferencial do equipamento cearense é seu conteúdo
ser 95% virtual. “Nossa ideia é fazer convênios com
todos esses museus para termos acesso a um grande e rico tráfego de informações.” No contexto da
avançada museologia contemporânea do Museu
da Indústria do Ceará, Heilbron afirma que algumas peças antigas doadas por indústrias funcionarão simultaneamente ao lado dos acervos virtuais.
“Pretendemos, com isso, mostrar que a indústria é
motor da cultura, do desenvolvimento, da inovação
e da competitividade.”
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
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23
24 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
“
O
Museu da Indústria foi projetado para ser
sustentável. A amplitude do seu acervo
e a sua localização contribuirão para
que tenha várias fontes de recursos próprios.
Localizado em tradicional corredor histórico
turístico de Fortaleza, onde se visualizam
importantes prédios da capital, como o Centro
Dragão do Mar, a Santa Casa de Misericórdia,
a Estação Terminal Professor João Felipe, o
Passeio Público, o Seminário da Prainha, a
Catedral, o Quartel da 10ª Região Militar, o
Centro de Artesanato, o Teatro José de Alencar
etc., o equipamento deverá ser incluso no
roteiro de visitação turística da capital cearense.
A proposta será apresentada às secretarias de
Turismo do estado e da prefeitura.
As instalações serão oferecidas a empresas
e governos para a realização de eventos e a
renda será revertida em favor do museu. Outra
área de atuação pretendida pelo equipamento
é a coprodução de livros de arte a serem
comercializados. “Iremos produzir livros, teremos
uma loja de souvenir, alugaremos espaço para
lançamentos de produtos. Enfim, queremos
ter fontes de renda próprias. O museu será
sustentável”, garante Heilbron.
Danilo Pereira também sonha com a venda
no museu de CDs e DVDs contendo estudos
econômicos desenvolvidos por especialistas
locais, conferências e palestras. “No Sistema
FIEC não existe ainda a cultura de comercializar
seus trabalhos. Vamos criar essa cultura e trazer
renda para o museu”, planeja.
“Já vimos captando recursos mediante a
Lei Rouanet e continuaremos adotando essa
política por meio de empresas industriais, que
investirão na conta de recursos subsidiados
do museu”, diz Danilo Pereira, para completar:
“Outro projeto é criar a Sociedade dos Amigos
do Museu, pelo qual os associados contribuirão
mensalmente com o museu e, em contrapartida,
terão privilégios em relação aos serviços
colocados à disposição pelo museu”.
Para o superintendente regional do SESI/CE,
Francisco das Chagas Magalhães, o equipamento
será uma ferramenta fundamental também à
área de educação, podendo gerar parcerias. “Vejo
esse espaço com uma sala de aula repleta de
atratividade para o jovem que está na fase de
escolha da profissão. Vamos promover muitas
ações de educação aqui. Enxergo a possibilidade
de um espaço autossustentável”, finaliza.
Pretendemos
mostrar
que a indústria é
motor da cultura,
do desenvolvimento,
da inovação e da
competitividade.
Júlio Heilbron, curador do museu
e proprietário da EMC Mkt Cultural
Projeto de desenvolvimento
P
ara o presidente em exercício da Adece,
Zuza de Oliveira, o Museu da Indústria do
Ceará é muito mais do que um memorial
do segmento industrial cearense. “Considero o
equipamento um projeto de desenvolvimento.
Quando fiz sugestões para ampliar o acervo foi
para influenciar a geração de negócios no Ceará.
Se vamos interagir com outro museu em Londres,
por exemplo, então um investidor que acessar
nosso museu de lá vai ver as potencialidades
de negócio no estado, a relação da indústria
com a evolução e a gestão de águas, a nossa
cultura, as cadeias de negócios existentes e o
que visualizamos para o futuro. Devido a todo
esse acervo, vejo o Museu da Indústria do Ceará
como um ambiente de cultura e negócios. Um
verdadeiro vetor de negócios para o estado”,
resume Zuza de Oliveira.
Zuza de Oliveira, presidente em
exercício da Adece, vê o museu
como um verdadeiro vetor de
negócios para o estado
Foto: JOSÉ SOBRINHO
Foto: JOSÉ SOBRINHO
Diretores da FIEC
conhecem o sistema
interativo que permite
navegar na linha do tempo
No último ambiente, telas exibem
simultaneamente as potencialidades de
negócios promissores no Ceará, inclusive no
ramo do agronegócio, o caminho das águas e
o futuro previsto para o estado. Na ilha, que
expõe o caminho das águas, é demonstrado
como o gerenciamento hídrico vem abrindo
fronteiras e proporcionando o desenvolvimento
industrial em diversas regiões cearenses.
A exposição se encerra com uma projeção
centralizada dos negócios que prometem se
consolidar nos próximos anos. O acervo de
informações desses espaços será atualizado
pela Agência de Desenvolvimento do Estado do
Ceará (Adece) e pela Companhia de Gestão dos
Recursos Hídricos (Cogerh).
“No espaço reservado aos produtos
cearenses, no momento estamos apresentando
a floricultura, a fruticultura, a moda e as energias
eólica e solar. No quadro do futuro temos hoje
o coração artificial, a robótica, a produção de
trens e todas as coisas novas do Ceará. Isso é
muito bom porque todos que tiverem acesso
às instalações virtuais do museu também vão
acessar os produtos do estado, inclusive o que
está sendo preparado para o futuro. A iniciativa
coloca a produção do Ceará em contato com
o mundo todo. Então, é estratégico para nosso
desenvolvimento e muito bom para o museu
porque enriquece seu acervo”, avalia Danilo
Pereira, para quem a participação da Adece
é muito importante ao
empreendimento.
Segundo ele, a parceria
com a Cogerh também
será fundamental. “O Ceará
é muito conhecido pela
boa administração dos
recursos hídricos. Por meio
da Cogerh vamos manter
acervos que tratam sobre o
gerenciamento dos recursos
hídricos – mais um tema
que vai ampliar o Museu
da Indústria, mostrando o
quanto somos privilegiados
no gerenciamento das águas.
Ao mesmo tempo, essa é
uma contribuição muito
grande que o museu vai
dar à economia do Ceará”,
acrescenta Danilo Pereira.
Foto: JOSÉ SOBRINHO
N
a entrada do salão de exposição do museu
da indústria há a introdução da história
do Ceará, com a chegada da família real,
em 1808, passando por imagens de marcas,
produtos e indústrias que remontam o início da
industrialização no estado. O impacto é causado
pelo sistema de projeção centralizado, que
provoca uma sensação de imersão no tempo e na
história da indústria cearense. O tipo de tecnologia
adotada na exibição é inédito no Ceará e também
em toda a Região Nordeste, de acordo com o
curador. “Em todo o Brasil só existem dois outros
museus que utilizam a técnica: o Museu da Língua
Portuguesa e o Museu do Futebol, ambos em São
Paulo”, observa Heilbron.
O pavilhão seguinte é dividido em dez ilhas
virtuais com sistema interativo, que permite ao
visitante navegar na linha do tempo. No prélançamento do museu, ocorrido em 30 de junho
último, foi possível navegar até 1924 e acessar
dados da indústria nacional, disponíveis em três
ilhas enfileiradas do lado direito do salão. Do
lado esquerdo, em frente às ilhas, objetos que
pertenceram a indústrias cearenses em séculos
passados materializam o acervo. Mais adiante,
outras três telas exibirão filmes institucionais
do SESI/CE, Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI/CE) e FIEC. No fundo do salão,
uma tela maior exibirá projeções que serão
permanentemente renovadas sobre segmentos da
indústria cearense.
Museu será sustentável
“
Passeio virtual
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
|
25
Paredes guardam história
Para ele, o maior desafio do museu no momento é obter
sustentabilidade a fim de garantir sua manutenção e
custeio. “Este é o desafio”, sublinha.
O presidente da FIEC ratifica a previsão de funcionamento
do museu. “Estimo que esteja pronto em maio de 2012”.
Até lá, serão atualizadas as pesquisas do acervo virtual,
que durante o pré-lançamento, em 30 de junho, só pôde
ser acessado pelos visitantes no período de 1808, no Brasil
colonial, até 1924.
Objetos contrastam
U
ma peça de engrenagem de moinho datado do século
19; uma balança de algodão da mesma época; um
alambique e um tear, ambos do século 20, são alguns
dos objetos doados por indústrias cearenses que fazem parte do
seleto acervo físico do Museu da Indústria do Ceará.
Ao lado de outras peças – máquina de costura para couro
e prensa de madeira para fardos de couro, além de móveis
e equipamentos que pertenceram à indústria gráfica, como
impressora linotipo, máquina Gutemberg e armário guardatipos – igualmente valiosas e iconográficas, elas constituem
os 5% de antiguidades que contrastam com a virtualidade
inerente ao museu.
De acordo com o curador adjunto, Gildácio Sá, a ideia é
manter parte dessas peças funcionando durante as visitações
públicas, para aguçar o imaginário e o fascínio dos visitantes
pelo museu e pela história da indústria cearense.
Sistema de projeção
centralizado à entrada
do museu
FotoS: JOSÉ SOBRINHO
Objetos que pertenceram à indústria no passado
contrastam com a tecnologia de ponta
26 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
S
ituado no número 143 da Rua João Moreira,
esquina com a Rua Floriano Peixoto, em frente ao
Passeio Público, no Centro de Fortaleza, o edifício
que abrigará o Museu da Indústria do Ceará foi cenário
da Casa Cor Ceará 2007 e da solenidade de entrega do
Prêmio Marcantonio Vilaça, iniciativa da Confederação
Nacional da Indústria (CNI) e do SESI Nacional ocorrida
em janeiro de 2009.
Projetado pelo arquiteto Adolfo Hebster, em meados
do século 19, para sediar a Sociedade União Cearense
– primeiro clube social de Fortaleza –, o prédio foi
endereço no passado do Hotel do Norte, dos Correios
(entre 1895 e 1935) e da The Ceará Tramway Light
& Power Co. Ltda., empresa inglesa que atuava no
fornecimento de energia elétrica e no serviço de bonde
da cidade. O edifício se tornou mais tarde patrimônio da
Coelce, que o vendeu ao SESI praticamente em ruínas.
Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional, por meio da Lei n° 9.109 de
30 de julho de 1968, o imóvel foi restaurado entre
2005 e 2007, contando com parceria do Iphan e da
Universidade de Fortaleza (Unifor), sob a liderança do
arquiteto Domingos Cruz Linheiro, para abrigar o museu
por meio do patrocínio de várias empresas e instituições
a partir de recursos da Lei Rouanet.
Foto: JOSÉ SOBRINHO
Para Roberto Macêdo, o museu surpreende por seu acervo,
tecnologia e potencial. “É uma exposição estimulante. No início
eu não tinha a menor ideia. Só agora tive a exata compreensão
da ferramenta magnífica que possuímos. Esse equipamento vai
permitir que possamos acessar o inimaginável”, exclama.
Conforme Roberto Macêdo, a localização do Museu da
Indústria do Ceará é outro ponto positivo, que contribuirá
para recuperar e dar vida nova ao Centro de Fortaleza.
“Deverá ser um equipamento turístico da cidade”, projeta.
SESI adquiriu o edifício praticamente em ruínas
Parceiro inovador
Os esforços do Sistema FIEC para ampliar a capacidade
tecnológica inovadora da indústria cearense se materializam na
criação de estruturas que reproduzem o ambiente de trabalho
A
té 2014, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/CE), entidade do Sistema FIEC,
estima que sejam geradas 245 000 vagas de trabalho na indústria cearense para atender às demandas
dos investimentos que chegam ao estado, como a refinaria e a siderúrgica – ambas no Complexo Portuário e
Industrial do Pecém –, a Transnordestina, o Projeto de
Aceleração do Crescimento (PAC) e as obras de infraestrutura destinadas à Copa do Mundo, dentre outras.
Os empregos e indústrias que emergem do novo cenário econômico têm como pré-requisito básico a inovação
– fator indispensável para garantir a competitividade e
a sobrevivência das empresas cearenses, antevê o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará
(FIEC), Roberto Proença de Macêdo.
28 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
Segundo ele, além de inserir a cultura da inovação
como parte das estratégias empresariais, os empreendimentos precisam do apoio de instituições que atuam
no âmbito da ciência e tecnologia. E o SENAI/CE, nesse
contexto, é parceiro das indústrias em suas necessidades
de inovação por meio da oferta de serviços técnicos e
tecnológicos e da formação de profissionais capacitados
para lidar com as novas tecnologias.
De acordo com Roberto Macêdo, os esforços da FIEC
para ampliar a capacidade tecnológica inovadora da indústria cearense se materializam na criação de estruturas que
reproduzem o ambiente de trabalho, com laboratórios de
ponta e profissionais com perfil para atender às novas demandas. Para assegurar o aumento da competitividade, defende a convergência das iniciativas existentes por meio da
Tecnologia industrial
C
om base no acompanhamento contínuo
das demandas do setor industrial do estado
é que o Centro de Educação e Tecnologia
Alexandre Figueira Rodrigues, unidade do SENAI/CE
instalada no Distrito Industrial de Maracanaú,
zona metropolitana de Fortaleza, passará por
uma grande expansão, com previsão inicial de
conclusão para o primeiro semestre de 2012.
De acordo com o gerente da unidade, Tarcísio
Bastos, a intenção é transformar o SENAI de
Maracanaú num centro de tecnologia industrial
voltado a atender à demanda da indústria
cearense prevista para os próximos anos com a
chegada dos novos empreendimentos.
“Essa reforma faz parte de um projeto do
Departamento Regional que pretende transformar
Foto: GIOVANNI SANTOS
cooperação interorganizacional visando otimizar recursos e engajar cada vez mais pessoas.
“A nossa Federação, com a ajuda da Confederação Nacional da Indústria (CNI), está
construindo um Centro de Tecnologia da Cadeia Têxtil no qual estão sendo investidos cerca de R$ 10 milhões. Semelhante a esse investimento, estamos aplicando R$ 16 milhões na
Escola SENAI/SESI de Sobral e R$ 15 milhões
no Centro de Alta Performance no SENAI de
Maracanaú. Temos ainda a montagem de laboratórios em setores industriais como o gráfico e o químico. Tudo isso estará disponível
para compartilhamento nos termos de uma
agenda efetiva de desenvolvimento científico
e tecnológico”, sublinha Roberto Macêdo.
De acordo com o diretor regional do
SENAI/CE, Francisco das Chagas Magalhães,
os investimentos da instituição para ampliar a
oferta de serviços técnicos e tecnológicos, bem
como o número de matrículas e de cursos da
educação profissional que serão oferecidos a
cada ano, têm como base o levantamento das
necessidades da indústria cearense. Nesse contexto, ele cita o estudo realizado pela Unidade
de Tendência e Prospecção do SENAI nacional, em parceria com a Universidade Federal
do Ceará (UFC) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
com base em dados coletados no ano de 2010.
“Nossa ideia é manter um observatório permanente do setor industrial e dispor anualmente
de um roteiro para a demanda de cursos a serem ofertados no Ceará”, ressalta Magalhães.
“
A reforma faz parte
de um projeto do
Departamento Regional
que pretende transformar
nossa unidade num centro
de tecnologia industrial.
Tarcísio Bastos, gerente do Centro
de Educação e Tecnologia Alexandre
Figueira Rodrigues
“
Foto: GIOVANNI SANTOS
SENAI/CE
nossa unidade num centro que será um grande
provedor de soluções para a indústria do Ceará, no
qual serão inseridos cursos de formação de nível
superior, tendo a inovação e a pesquisa tecnológica
como principal foco”, antecipa Tarcísio. Os cursos
de educação superior a serem inaugurados até
2014 também serão alinhados às demandas da
indústria. Outro requisito é que não sejam ofertados
no mercado cearense. Os cursos serão formatados
com base no levantamento das demandas do setor.
A mudança, segundo o gerente, vai permitir a
ampliação da atuação da unidade para outras
áreas específicas como transformação de
plásticos, metalurgia com foco em siderurgia e
petróleo e gás. Nas áreas de automação industrial
e mecânica, nas quais o SENAI Maracanaú já
atua, também haverá expansão. “Na automação,
que hoje só contempla instrumentação e controle
de processos, vamos avançar para sistemas de
controle e mecatrônica. Na mecânica, haverá
uma área voltada para moldes plásticos e
ampliação do atendimento em usinagem. Nos
aprofundaremos também na área de materiais,
tanto na formação de profissionais como em
pesquisa e desenvolvimento (P&D) para auxiliar
a indústria na melhoria da qualidade de seus
produtos”, explica Tarcísio.
Em relação à estrutura física, o SENAI de
Maracanaú se tornará mais de cinco vezes superior
à área atual. “Hoje, temos 2 400 metros quadrados
de área construída. Vamos passar a ter 13 000
metros quadrados”, diz o gerente. O projeto de
expansão englobará um minicentro de eventos
e um refeitório. Com a mudança, a capacidade
de produção da unidade será duplicada. “Nossa
capacidade produtiva atual é de aproximadamente
6 000 matrículas/ano. A meta da unidade para
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
|
29
torno de 1 milhão de reais. Mas essa será
apenas uma pequena parte de todo o processo
de ampliação. O recurso do Departamento
Nacional, destinado para as obras da primeira
etapa, já está disponível no SENAI/CE”,
ressalta o gerente.
O Centro de Tecnologia Industrial terá
capacidade de atender a demandas nas
áreas tecnológicas, transversais a todo o setor
industrial. “Não vamos ensinar a fazer sapato,
mas ofereceremos tecnologia para a indústria
de calçados desenvolver um produto melhor, de
maior qualidade”, finaliza Tarcísio Bastos.
Têxtil e vestuário
O
Foto: JOSÉ SOBRINHO
O laboratório têxtil e
vestuário dará lugar ao
Centro de Tecnologia
Centro de Tecnologia da Cadeia Têxtil e do
Vestuário é outra aposta do SENAI/CE.
Localizado na unidade do bairro Parangaba,
em Fortaleza, estão sendo investidos 10 milhões
de reais na construção do equipamento, que irá
treinar cerca de 4 000 pessoas e realizar em torno
de 200 atendimentos entre serviços técnicos e
tecnológicos por ano. Com previsão de inauguração
em 2012, o centro irá operar com o apoio das
empresas e sindicatos do setor.
“É um empreendimento muito importante
porque vai preencher uma lacuna existente
há muito tempo. Seu grande diferencial é que
irá contemplar toda a cadeia. Vamos ter uma
fábrica dentro do SENAI que trabalha do têxtil
30 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
ao vestuário – dois principais elos da cadeia”,
explica a gerente do Centro de Formação
Profissional Ana Amélia Bezerra de Menezes e
Souza, Oirta Vasconcelos.
Segundo ela, considerando toda a cadeia,
o centro possibilitará o acesso do insumo
ao produto acabado. “Isso é informação
tecnológica para o aluno, que vai poder visitar
processos produtivos dos dois segmentos, da
abertura do algodão à peça confeccionada.
Hoje, já temos funcionando o processo
produtivo da confecção, mas com o centro
teremos também o têxtil. Será importante para
clientes e fornecedores”, afirma a gerente.
O novo equipamento atenderá ao setor têxtil
também com cursos de aprendizagem, sendo
parte no SENAI e parte na própria empresa,
com a modalidade de treinamentos in company.
Para Ivan Bezerra Filho, presidente do
Sindicato das Indústrias de Tecelagem e Fiação
em Geral do Estado do Ceará (Sinditêxtil), a
construção do Centro de Tecnologia da Cadeia
Têxtil e do Vestuário faz com que o SENAI avance
em excelência, tecnologia e abrangência. “Nós,
do Sinditêxtil, expressamos nossa alegria por
fazer parte dessa conquista”, comemora. O
empresário lembra da importância do segmento.
“O Ceará é destaque nacional na produção
têxtil, estando em primeiro lugar no ranking de
produção de fios e índigo. Além disso, a cadeia
produtiva têxtil e de confecção emprega em
torno de 60 000 pessoas e um dos desafios que
a indústria local enfrenta é a qualificação de
profissionais para o setor”, reforça Ivan Filho.
Referência regional
A
estruturação dos laboratórios gráfico e de
tintas é um investimento do SENAI/CE que
também ajudará a ampliar a competitividade
da indústria cearense. De acordo com o empresário
Fernando Esteves, presidente do Sindicato das
Indústrias Gráficas do Estado do Ceará (Sindgráfica),
o que a entidade está montando, em parceria com
seu sindicato, é uma nova escola gráfica no Ceará,
que será referência regional.
Segundo ele, foi adquirido no Japão um
equipamento com tecnologia de ponta –
impressora RIOBY 3304, quatro cores – que
transformará o Centro de Formação Profissional
Antônio Urbano de Almeida, unidade do SENAI
localizada no bairro Jacarecanga, numa escola de
artes gráficas de última geração. “O SENAI tem sido
um grande parceiro da indústria gráfica cearense,
tanto pelos cursos de aprendizagem industrial
que oferece para que possamos atender às cotas
exigidas pela legislação, como também provendo
cursos de requalificação de impressor ofsete”,
afirma Fernando Esteves.
Atento às demandas da indústria gráfica
cearense, ele diz que o SENAI/CE mudou o
desenho curricular do curso ofertado para
adaptá-lo à atualidade, com maior volume de
aulas práticas. “O laboratório de papel, papelão
e tintas, que atende às indústrias gráficas e de
embalagem, integrará a escola de artes gráficas
do estado. Com a chegada da impressora, que
está em processo de desembaraço aduaneiro
para ser retirada do porto, queremos promover
cursos práticos para todo o Nordeste e não só para
o Ceará. A ideia é que a nossa escola se torne
referência regional, como é hoje a escola gráfica do
SENAI de São Paulo”, planeja Fernando Esteves.
O presidente do Sindicato das Indústrias
Químicas, Farmacêuticas e da Destilação e
Refinação de Petróleo do Estado do Ceará
(Sindquímica), José Dias de Vasconcelos Filho,
também está otimista com a estruturação do
laboratório de tintas no Centro de Treinamento
e Assistência às Empresas (Cetae), voltado à
construção civil. “O laboratório do SENAI vai
promover a redenção para as 35 empresas de tinta
existentes no Ceará, pois todas ainda dependem
de laboratórios em São Paulo, com altos custos de
correio e frete para enviar as amostras. Vamos ser o
segundo estado do país a ter um equipamento de
ponta. Esse laboratório de primeira linha irá atender
a empresas de toda a região e não só do Ceará”,
arremata José Vasconcelos.
Com a estrutura física concluída e previsão de
inauguração em setembro, o laboratório aguarda
a chegada de dois equipamentos – uma estufa
(em processo de licitação) e um componente do
sistema de refrigeração (o equipamento requer
climatização especial) – para começar a funcionar.
Laboratório de tinta do
Cetae deve entrar em
operação em setembro
Foto: JOSÉ SOBRINHO
2011 é de 9 300 matrículas, sendo 6 000 dentro
da unidade e mais de 3 000 referentes a cursos
externos, como treinamentos in company. Com a
ampliação, nossa capacidade produtiva ficará em
torno de 20 000 matrículas/ano”, diz Tarcísio.
O investimento, estimado em 15 milhões
de reais, pode chegar a 18 milhões quando
o complexo estiver todo construído e com
equipamentos funcionando. “Somente na
primeira etapa do projeto, que começará no
fim deste ano – incluindo o primeiro bloco (da
mecânica), a área de atendimento ao cliente
e a parte de urbanização – será aplicado em
Unidades do SENAI no Ceará
No Ceará, o SENAI possui centros de treinamento em Maracanaú, Parangaba, Jacarecanga, Mucuripe, Barra do Ceará,
Juazeiro do Norte e Sobral, que ofertam cursos nas áreas
metalmecânica, petróleo e gás, têxtil, vestuário, calçados,
construção civil e mobiliário e alimentos, dentre outras.
Conheça os endereços e acesse os números de telefones
das unidades do SENAI existentes em nosso estado para
obter mais informações.
· Centro de Treinamento e Assistência às Empresas (Cetae) –
(85) 3421-5200.
· Centro Regional de Treinamento em Moagem e Panificação
Senador José Dias de Macêdo (Certrem) – (85) 3421-5100.
· Centro de Formação Profissional Ana Amélia Bezerra de Menezes e Souza (CFP AABMS) – (85) 3421-6133.
· Centro de Educação e Tecnologia Alexandre Figueira Rodrigues (CETAFR) – (85) 3421-5000.
· Centro de Formação Profissional Waldyr Diogo de Siqueira
(CFP WDS) – (85) 3421-5500.
· Centro de Formação Profissional Wanderillo de Castro Câmara
(CFP WCC) – (88) 3571-2185.
· Centro de Formação Profissional Antônio Urbano de Almeida
(CFP AUA) – (85) 3421-5302.
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
|
31
Interiorização é o desafio
Realização da reunião ordinária semanal da diretoria plena em Juazeiro
do Norte é parte do programa de reuniões itinerantes desenvolvido
desde o início deste ano pelo presidente Roberto Proença de Macêdo
L
ocalizada numa área geográfica de 15,23 mil quilômetros quadrados, formada por 27 municípios que reúnem 892,56 mil habitantes – 10,91% da população do
Ceará –, a Região do Cariri se destaca como umas das economias mais promissoras do estado, crescendo acima da média
nacional. Suas riquezas somam 4,77 bilhões de reais, valor
que corresponde a 6,36% do Produto Interno Bruto (PIB)
cearense. Nesse cenário, estão localizadas 751 indústrias formais, que geram 12,3 mil empregos diretos, representando
4,26% do número de industriários cearenses.
A força do Cariri para o desenvolvimento do Ceará se
fundamenta no apoio colocado à disposição da indústria local pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC)
– braço forte na formação de mão de obra, oferta de serviços técnicos e tecnológicos e na educação profissional, por
32 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
meio do Serviço Social da Indústria (SESI/CE) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/CE).
E a parceria entre a Federação e a indústria caririense vai
aumentar com a instalação da unidade do Instituto Euvaldo
Lodi (IEL/CE) no dia 25 de agosto, conforme anunciou o
presidente da entidade, Roberto Proença de Macêdo, durante visita de comitiva da instituição a Juazeiro do Norte
nos dias 17 e 18 deste mês.
O potencial de crescimento foi revelado também durante
reunião da diretoria realizada no dia 18 de agosto, na unidade do SENAI/CE Wanderillo de Castro Câmara, com a
participação de empresários e lideranças políticas. Além
dos empreendimentos projetados para o Cariri, como a ampliação do aeroporto de Juazeiro, a construção do centro de
convenções regional e a criação de oportunidades de negócio
Foto: GIOVANNI SANTOS
para atrair novos empreendedores à
região, os números apresentados por
Francisco das Chagas Magalhães,
diretor regional do SENAI/CE e superintendente regional do SESI/CE,
confirmam a existência de um espaço a ser conquistado pela FIEC no
cenário industrial local.
Conforme dados apresentados na
reunião, das 751 indústrias instaladas no Cariri, 24% são contribuintes
do Sistema S. Na região metropolitana, que concentra 70,63% do Produto Interno Bruto (PIB) do Cariri, equivalente a R$ 3,37 bilhões, e
abrange nove municípios – Juazeiro,
Crato, Barbalha, Caririaçu, Missão
Velha, Jardim, Santana do Cariri,
Nova Olinda e Farias Brito –, são 160
indústrias contribuintes. Segundo
Roberto Macêdo, os números representam um
desafio para o Sistema FIEC: “O Cariri para nós é
um desafio símbolo da interiorização no Ceará”.
No primeiro semestre deste ano, o atendimento em educação profissional do SENAI/CE no
Cariri totalizou 1 405 matrículas, sendo 352 gratuitas e 1 053 demandadas. No SESI, o número
de matrículas de janeiro a junho superou a meta
prevista para o ano tanto na educação de jovens e
adultos (EJA) como na educação continuada. No
primeiro caso, foram 938 matrículas – 120 acima
da meta estipulada em 818. Na educação continuada, foram 6 793 matrículas até junho contra
as 6 452 previstas. Apesar de acima das expectativas, as estatísticas de atendimento da instituição
têm ainda grande potencial de crescimento.
Na lista dos investimentos demandados
para aumentar a oferta de serviços do SENAI
às indústrias da região estão a implantação de
infraestrutura para atendimento específico à
área da construção civil, ação que se encontra
em andamento; a instalação de seis novas salas
de aula, também em curso, além da implementação de uma oficina de soldagem e outra de
calçados – setor chave para o Cariri; ampliação do raio de atendimento até os municípios
de Jaguaribe e Iguatu, assim como a aquisição
de um centro de usinagem e uma máquina de
medição tridimensional.
Na unidade do SESI, em Juazeiro, estão em
andamento demandas como a reestruturação
física da unidade; a ampliação da área de saúde
e segurança do trabalho e a aquisição de unidades móveis para os serviços de educação e
de saúde e segurança do trabalho. Outras demandas que necessitam de investimentos são
a compra de equipamentos para a área da saúde e a ampliação do raio de atendimento para
atender Jaguaribe e Iguatu.
De acordo com o diretor regional da FIEC no
Cariri, Marco Tavares, além das demandas pertinentes aos setores de calçados e de confecções,
hoje o Cariri necessita de recursos da FIEC e da
Confederação Nacional da Indústria (CNI) para
que suas unidades no Cariri se tornem aptas a
atender a grande demanda de desenvolvimento
na região nas áreas da construção civil, metal-mecânica, cerâmica, alumínio e panificação.
Juazeiro do Norte visto
do horto do Padre Cícero
Setor calçadista é um
dos mais demandados
no SENAI Juazeiro
Foto: ARQUIVO SENAI JUAZEIRO
Foto: GIOVANNI SANTOS
FIEC no Cariri
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
|
33
Roberto Celestino, vice-prefeito de Juazeiro do Norte
agosto em São Paulo durante o 4º Congresso Brasileiro de
Inovação na Indústria. Ele reafirmou a importância da inovação e do comércio exterior para ampliar a competitividade das empresas. “Nosso mercado não é o Brasil, mas sim o
mundo. A cultura da inovação e do comércio exterior necessita ser disseminada para posicionar melhor nossas empresas
perante o mercado mundial.”
Em relação aos pleitos apresentados na reunião, Roberto
Macêdo reiterou o compromisso de ampliar os investimentos
na unidade de Juazeiro. “Com a venda do imóvel do Crato, que
vai a leilão, os recursos serão canalizados totalmente para investir aqui”, afirmou. Sobre a instalação do Escritório Regional
do IEL/CE no Cariri, em 25 de agosto, ele informou que o objetivo é ampliar a qualidade da gestão nas indústrias da região.
“O IEL junto das indústrias irá canalizar recursos públicos para inovação. O Instituto trabalha a formação da gestão
visando captar os recursos que estão disponíveis. Quero nos
próximos ano ver pelo menos 30 empresas do Cariri apresentando projetos de inovação”, convidou.
Para Roberto Macêdo, a ideia do porto seco no Cariri é
uma “estratégia fundamental”, que precisa ser analisada com
profundidade, podendo ser tema de reunião com a alfândega. Ele pediu aos empresários que não esperem pelo próximo
encontro da diretoria na região para apresentar suas demandas. “Fortaleza fica logo ali”, observou, declarando abertas as
portas da FIEC ao empresariado caririense.
Compromisso pela inovação
Dez pontos básicos
1) Ser mais ativos na atração de centros de P&D de empresas estrangeiras, articulando e coordenando melhor as ações públicas e privadas.
6) Apoiar projetos estruturantes de P&D em grande escala, convocando grandes empresas a mobilizarem suas cadeias produtivas.
2) Apoiar a internacionalização das empresas brasileiras e de suas
atividades de P&D, para capacitá-las a competir globalmente.
7) Apoiar projetos de P&D pré-competitivos por meio de arranjos
jurídico-institucionais adequados.
3) Melhorar a infraestrutura e a cultura de propriedade intelectual (PI) no país, com base num regime pragmático de PI, compatível com nossos interesses atuais.
8) Apoiar a inovação, as atividades de P&D e a difusão de
tecnologia para PMEs, visando reduzir os diferenciais de produtividade hoje existentes no setor privado.
4) Dar maior ênfase à formação de recursos humanos qualificados em engenharia, “ciências-duras” e ensino técnico.
9) Melhorar a articulação entre a política de inovação e a política de comércio exterior.
5) Aprimorar o marco legal de apoio à inovação, com ajustes que
tornem mais efetivos os regimes de incentivos existentes.
10) Criar programas setoriais de inovação efetivos, que definam
metas e objetivos pactuados entre o governo e o setor privado.
34 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
Foto: GIOVANNI SANTOS
“
Se houver um
porto seco
localizado perto do
aeroporto, com a
Transnordestina teremos
a ligação do aeroporto
para Missão Velha.
“
Presente à reunião ordinária da diretoria da FIEC, o
vice-prefeito de Juazeiro do Norte, Roberto Celestino, solicitou o apoio da entidade para que a Infraero agilize a ampliação do aeroporto – questão que, segundo ele, já deveria
ter sido resolvida há dez anos. Para ampliar as importações
e exportações no Cariri, o vice-prefeito propôs o apoio da
FIEC para que seja implementado um “porto seco” na região. Tal proposta, disse ele, chegou a ser anunciada no segundo governo de Tasso Jereissati e trará mais dinâmica às
relações comerciais do Cariri com o mercado externo. “Se
houver um porto seco localizado perto do aeroporto, com
a Transnordestina teremos a ligação do aeroporto para
Missão Velha. Isso será bom tanto para nossas importações
quanto para as exportações”, argumentou Celestino.
A superintendente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon/CE), Patrícia Coelho, revelou a
intenção da entidade de triplicar o atendimento à construção
civil no Cariri e pediu o apoio da FIEC, comprometendo-se a
continuar se empenhando para desenvolver o setor. “Somos
pioneiros na região na inserção de mulheres nos canteiros de
obras. Temos hoje 19 mulheres pedreiras trabalhando no programa Minha Casa, Minha Vida aqui no Cariri”, afirmou.
O delegado regional do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado do Ceará
(Simec), Adelaido de Alcântara Pontes, quebrou o protocolo do
encontro para entregar ao presidente da FIEC um projeto para
aquisição de uma solda elétrica para viabilizar a implantação
no SENAI Juazeiro do curso de torneiro repuxador – único no
Brasil. O curso, segundo ele, irá qualificar 600 pessoas, em média, a cada semestre em Juazeiro do Norte e região.
Segundo o gerente do SESI/SENAI Juazeiro, José Ribeiro
Lobo, as demandas da região são muitas. Porém, faltam recursos. Ele explica que os segmentos que mais demandam investimentos no momento são construção civil e calçados. Na unidade do SESI, ele afirma que o lazer é a área que necessita de mais
investimentos. “No fim de semana, a unidade lota. Temos cerca
de 12 000 colaboradores nas empresas filiadas. Como aqui não
temos clubes nem praia, somos muito demandados”, disse.
Roberto Macêdo expôs aos participantes o documento
Compromisso pela Inovação, que foi apresentado no início de
Copa 2014
PV é a primeira obra
concluída no Ceará
Perto de completar 70 anos, o patrimônio popular, ícone esportivo e
histórico da cidade de Fortaleza, é reformado e devolvido à sociedade
cearense, ensejando mais comodidade e segurança aos torcedores
A
menos de três anos da Copa do Mundo de 2014, que
será realizada no Brasil, o setor da construção civil está
a todo vapor no país. Empresas e profissionais das áreas
de engenharia, arquitetura, projetos, logística e planejamento
correm contra o relógio para garantir que toda a infraestrutura exigida pela Federação Internacional de Futebol (Fifa)
fique pronta dentro do prazo. Em Fortaleza – uma das 12 cidades-sede dos jogos –, os preparativos ganharam força com
a conclusão de uma das obras mais esperadas pelos fortalezenses: a reconstrução do Estádio Presidente Vargas – ícone
esportivo e histórico da cidade, mais conhecido como PV.
Prestes a completar 70 anos, em 14 de setembro próximo, o estádio está rejuvenescido e ganhou novos ares.
Sem perder as características arquitetônicas do projeto
original, inaugurado em 1941, o “setentão bom de bola”,
que já foi palco do futebol arte do Rei Pelé no auge de sua
carreira no Santos, teve toda a sua estrutura recuperada,
passando por um processo de reforço, e recebeu uma roupagem mais moderna, ensejando mais comodidade e segurança aos torcedores. A reabertura da praça esportiva
ocorreu em clima de festa, no dia 8 de maio, com a final
do Campeonato Cearense 2011 disputada pelas equipes
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
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35
Liana Fujita: "Resgatar
70 anos história trouxe
realização profissional"
36 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
Foto: JOSÉ SOBRINHO
“
Assumimos um
compromisso
com a cidade para
os jogos da Copa de
2014 e cumprimos.
“
do Ceará Sporting Club e Guarani de Juazeiro do Norte.
Porém, a conclusão das obras, realizadas pelo Consórcio
Fujita-Módulo, consolidou-se em julho.
Hoje, o PV é o primeiro equipamento de Fortaleza plenamente apto a ser utilizado na Copa do Brasil em 2014. A
praça esportiva é um potencial centro oficial de treinamentos para as seleções escaladas a jogar na capital cearense
durante a disputa. Localizado no Benfica, bairro histórico e cultural da cidade, o patrimônio do povo não perdeu
os traços peculiares da arena que abrigou no passado os
maiores acontecimentos do futebol cearense. Ao contrário,
o novo PV ressurge ainda mais emblemático, aliando tradição e contemporaneidade.
Carlos Fujita, diretor comercial da Fujita Engenharia,
afirma que o maior desafio do projeto foi modernizar a
estrutura já existente, que se encontrava muito comprometida. “Tivemos de refazer todo o estádio para que se
adequasse às exigências de uma praça esportiva do século
21 sem perder de vista a importância de conservar o patrimônio arquitetônico”, explica. Conforme Fujita, seria mais
fácil construir um estádio novo do que recuperar o empreendimento mantendo o seu padrão arquitetônico. “O
trabalho exigiu planejamento e muita logística para cumprirmos todas as adequações necessárias em menos de 18
meses. Assumimos um compromisso com a cidade para os
jogos da Copa de 2014 e cumprimos. Estamos satisfeitos
em participar dessa obra histórica”, comemora.
Para a diretora técnica da Fujita Engenharia, Liana Fujita, resgatar 70 anos de história num prazo tão apertado
trouxe realização profissional. “A logística da obra foi desafiadora. A qualidade do gerenciamento de pessoal e de suprimentos e a participação de tantas entidades envolvidas
no projeto foram pontos importantes que contribuíram
para o sucesso de uma obra tão complexa.”
Segundo Liana, foram envolvidos 450 operários/mês na
obra, além de técnicos e outros profissionais. O trabalho
conjunto e coordenado recuperou arquibancadas, proporcionou segurança às arquibancadas e alambrados, instalou
controles modernos de acesso ao estádio e placares de leed,
promoveu a acessibilidade com a construção de rampas e a
instalação de elevadores, entre muitas outras ações.
Carlos Fujita, diretor comercial
da Fujita Engenharia
A fachada do estádio foi totalmente recuperada, preservando sua identidade, mas sem abrir mão do uso de
elementos atuais como painéis e forro metálico. “O pórtico de entrada do estádio é o mesmo de 70 anos atrás.
Sua estrutura foi toda recuperada e reforçada, mas ele não
perdeu seus traços originais”, observa a diretora, segundo
quem “a obra completa está avaliada em R$ 56 milhões”.
Reforma em etapas
E
xplica Luís Carlos Montenegro, diretor técnico da
Módulo Engenharia, que a reforma do PV passou
por três fases. A primeira delas foi a recuperação
da estrutura que estava deteriorada pelo tempo,
principalmente devido ao efeito da corrosão marinha sob
o concreto armado. Em seguida, ocorreram as etapas de
reforço estrutural e modernização.
“O reforço estrutural foi necessário para adequar a
estrutura do estádio ao público de hoje. Na década de
40, o público era bem mais comportado. Quando havia
um gol, as pessoas vibravam com lenços. Hoje, as torcidas
vibram pulando e forçam mais as estruturas, elevando a
oscilação. Por isso foi feita uma simulação com técnicos da
Universidade de São Paulo (USP). Eles mediram a vibração
utilizando energia equivalente à emitida pelo público”,
sublinha Montenegro.
De acordo com o diretor técnico, o estádio possuía
uma estrutura segmentada, ou seja, era dividido em duas
etapas. “Com o reforço estrutural, juntamos as partes para
reforçar a estrutura e bloqueamos as juntas de dilatação
das arquibancadas. Isso trouxe maior rigidez à estrutura do
estádio”, completa.
Toda a estrutura das arquibancadas foi reforçada com
armaduras complementares e concreto projetado. “O concreto
jateado proporcionou uma rápida execução nos elementos
estruturais já existentes. Além disso, a qualidade do material
somado à sílica ativa resultou num concreto com alta
resistência e durabilidade”, relata Montenegro.
As arquibancadas receberam revestimento de
microconcreto modificado com polímero, visando prevenir
fissuras e desplacamentos. Técnicas modernas de
construção, como Lean Construction, e de gestão,
baseadas na Corrente Crítica de Gerenciamento
de Obras, somadas à aplicação da Norma de
Qualidade ISO 9001, também foram utilizadas pelo
Consórcio Fujita-Módulo.
Na terceira e última fase – de modernização
– o consórcio instalou alambrados de vidro de
alta resistência, permitindo maior interação entre
arquibancada e campo. Os muros externos foram
reconstruídos e parte deles foi substituída por gradis
com o objetivo de aproximar o equipamento urbano
da comunidade que o rodeia.
Entre os diferenciais tecnológicos do novo estádio,
além de dois placares eletrônicos com displays
de leed com tecnologia que permite a atualização
das informações em tempo real, estão a instalação
de 105 câmeras de segurança e a construção de
uma sala de circuito fechado de televisão (CFTV),
garantindo ao PV um dos mais modernos sistemas
de vigilância do país.
A capacidade do estádio foi aumentada com a
construção de mais cinco degraus de arquibancada.
A acessibilidade foi melhorada, inclusive com
espaços reservados para portadores de necessidades
especiais. O sistema de setorização foi dividido em
quatro alas distintas, com 32 bilheterias e 37 catracas
independentes, para facilitar o trabalho das equipes
de segurança e melhorar o acesso do público.
Além dos mais conceituados profissionais do
mercado, o projeto de recuperação do PV envolveu
nomes consolidados no cenário nacional como o
projetista carioca de estruturas de concreto José Luís
Cardoso e o arquiteto Armando Mendes, que têm
larga experiência em grandes obras realizadas no Rio
de Janeiro, como a reforma do estádio do Maracanã.
O resultado do esforço conjunto é um
equipamento moderno, completamente reformado,
que retorna à torcida cearense para protagonizar
novos tempos de glória. Afinal, o velho jovem PV é o
principal estádio de futebol da cidade de Fortaleza
até a reabertura do Castelão, em 2013.
Luís Carlos Montenegro,
diretor técnico da
Módulo Engenharia
Reforma em pontos
Estrutura
- Recuperação e reforço de toda a estrutura do estádio para garantir o uso com segurança.
- Realização de ensaios dinâmicos pela Poli-USP, antes da liberação das arquibancadas
para uso das torcidas.
- Corte da estrutura para a construção de 16 vomitórios e túnel único.
- Consolidação de algumas juntas de dilatação e reforma das remanescentes.
- Adequação dos desníveis dos degraus.
- Regularização das arquibancadas.
- Construção de cinco novos degraus na parte inferior da arquibancada.
- Novas instalações elétricas, hidrossanitárias, voz e dados, de gás, de prevenção e
combate a incêndio e frigoríficas.
- Remoção de todo o piso da circulação de torcedores em calçamento, concreto e
asfalto para instalação de piso intertravado.
- Construção de uma nova subestação, com grupo gerador.
- Construção de uma casa de bombas, com sistema de pressurização da rede de água.
- Recuperação de dois poços profundos.
- Instalação de novas estruturas de contenção: guarda-corpos, corrimãos e alambrados.
- Instalação de dois placares eletrônicos (LED).
- Remarcação do campo para as medidas recomendadas como ideais pela Fifa (105 x 68m).
- Nova estrutura de administração: salas de administração, juizado, segurança e CFTV.
- Construção de duas áreas de reserva técnica com 58 metros quadrados para uso
posterior da administração do estádio.
- Estacionamento para autoridades, com 88 vagas.
Segurança
- Construção de posto de vigilância e monitoramento.
- Construção de espaço para Juizado Especial do Torcedor.
Comodidade para frequentadores
- Vinte novos banheiros com mais de 80 metros quadrados cada, sendo nove femininos
e 11 masculinos, com entradas apropriadas para portadores de necessidades especiais.
- Construção de nove bares com área acima de 35 metros quadrados, contando com
depósitos próprios.
- Nova estrutura de apoio aos torcedores: ambulatório com consultório médico, sala de
curativos, sala de espera e macas.
Comodidade para árbitros e equipes
- Nova estrutura de apoio aos juízes: vestiário feminino e masculino, aquecimento, massagem, espera, antidoping, bancos cobertos no campo.
- Nova estrutura de apoio aos jogadores: quatro vestiários, quatro salas de massagem,
duas quadras de aquecimento, bancos de reserva.
- Instalação de um sistema de água quente (relaxamento muscular).
Estrutura de imprensa e convidados de honra
- Nova estrutura de apoio à imprensa: 11 cabines de rádio, três cabines de TV, três
cabines de câmeras, 21 bancadas para imprensa escrita e auditório com 54 lugares.
- Nova coberta metálica para cadeiras especiais de encosto alto, tribuna de honra com
44 lugares e quatro camarotes.
- Dois elevadores.
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
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37
Ferrovia
Cineasta Aderbal Nogueira resgata o legado da ferrovia cearense por
meio de relatos emocionados de quem viveu a época de ouro do veículo
que muito contribuiu para levar progresso aos rincões mais distantes
Por Gevan Oliveira
38 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
Foto: ARQUIVO PESSOAL ADERBAL NOGUEIRA
Trem da história
N
ão posso ficar nem mais
um minuto com você. Sinto muito amor, mas não
pode ser. Moro em Jaçanã, se eu
perder esse trem que sai agora às
11 horas, só amanhã de manhã.
A conhecida canção do compositor paulista Adoniran Barbosa,
que embala gerações desde o ano
de 1954, contempla não apenas
a época de ouro do samba brasileiro, quando a boemia era sinônimo de charme, criatividade
musical e malandragem comedida. A música também nos faz
lembrar as não menos saudosas
(e acessíveis) viagens de trem.
Desde sua invenção, em 1827,
nos Estados Unidos, suas idas e
vindas representam mais do que
transporte de pessoas e bagagens; elas encurtam
distâncias e logram progresso às nações que tiveram a sabedoria de caminhar sobre trilhos.
A história das ferrovias no Brasil teve início
na era imperial, mais precisamente em 1854,
quando o Barão de Mauá inaugurou o primeiro ramal ligando a Praia da Estrela (Baia de
Guanabara) à Serra de Petrópolis. Foram os
primeiros 14 quilômetros que pretendiam
levar desenvolvimento para um país que
mal acabara de nascer. Até 29 de março
de 1858, havia 27 quilômetros de estradas de ferro. A partir de então, “foram
sendo construídas várias ferrovias sem
nenhum planejamento de viação, com
quilômetros de linhas isoladas e antieconômicas, de maneira desordenada”,
explica o ex-ferroviário e pesquisador
José Hamilton Pereira, no livro Os Descaminhos de Ferro do Brasil. Em seu trabalho, ele e o jornalista Túlio de Souza Muniz mostram que essa “desorganização” era
um vírus que décadas depois contribuiria para
arruinar o movimento ferroviário brasileiro.
Animais, alimento e gente. Os trens transportavam de tudo. E é essa história de transporte de cargas e passageiros sobre trilhos,
temperada com lembranças e lágrimas, centrada no Ceará, que o documentário O Último Apito, do cineasta Aderbal Nogueira, se
propõe a contar em 90 minutos. Com foco no
relato emocionado de ex-ferroviários, o trabalho resgata aspectos históricos da ferrovia
cearense, desde a implantação da estrada de
ferro no século 19 até a desativação do trem
de passageiro na década de 1980.
O vídeo levou seis anos para ficar pronto e é o
resultado de aproximadamente cem depoimentos feitos em 40 municípios cearenses por onde o
trem foi mais do que um meio de transporte: era
o orgulho de dezenas de cidades e milhares de
passageiros. Na verdade, ao chegar em cada estação, o veículo era saudado por centenas de moradores que saiam de casa só para vê-lo passar.
Seus maquinistas, impecáveis de terno e gravata,
eram quase heróis e ocupavam até status de autoridade, no mesmo nível de prefeitos e padres.
Parte das histórias do documentário, que
teve o apoio para ser produzido do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Ceará
(SENAI/CE), entidade componente do Sistema
FIEC, foi contada nas antigas estações ferroviárias. As imagens do vídeo revelam que
elas, praticamente abandonadas, hoje nem
de longe lembram os tempos áureos, quando
tiveram um papel preponderante na vida de
cidades e de seus moradores – há registros de
que muitas estações foram responsáveis pela
fundação de cidades, ao concentrar a vida das
pessoas; outras serviam de agência dos Correios, ou apenas de ponto de encontro de pessoas simples a abastadas.
População à espera
da "maria fumaça" em
Missão Velha, no Cariri,
na década de 1920
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
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39
O trem era
o único
transporte que
percorria grandes
distâncias e todos
podiam pagar.
“
Cristiano Câmara,
historiador
Foto: ARQUIVO PESSOAL ADERBAL NOGUEIRA
Documentário do cineasta
Aderbal Nogueira (centro)
teve o apoio do SENAI/CE
O
trabalho de Aderbal, cujo avô foi ferroviário,
começa com o desabafo do historiador
Cristiano Câmara, que expõe com veemência
a insatisfação nacional causada pelo fim das
viagens do trem de passageiros. Ele culpa os expresidentes Getulio Vargas e Juscelino Kubitschek
pelo início do fim das composições. “Foram eles
que começaram a desprestigiar os trens, em
benefício das estradas e para a tristeza da classe
pobre que leva o Brasil nas costas. O trem era o
único transporte que percorria grandes distâncias e
todos podiam pagar. O maior absurdo é que lá na
Europa ele é hoje sinônimo de progresso, aqui de
pobreza e atraso”, argumenta Cristiano Câmara.
O vídeo segue com uma sucessão de fatos que
marcaram a vida de passageiros e funcionários
das ferrovias, quase todos ilustrados com lágrimas
daqueles que deram sua vida à estrada de ferro.
“Sofri muito como foguista da 'maria fumaça'. O
trabalho era pesado demais, mas se pudesse voltaria
àquela vida porque éramos úteis e respeitados por
toda a população”, conta José Rodrigues.
Orgulho, boas e más recordações e vontade
de voltar ao passado são expressões que marcam
as falas e feições, especialmente daqueles que
ainda na adolescência cresceram ouvindo o som
do apito do trem e tiveram a oportunidade de
se engajar nesse trabalho, graças, em grande
parte, à capacitação profissional já oferecida
pelo SENAI\CE nos idos da década de 1940. É
o caso do mecânico Wilson Almeida. Ele conta
que saiu da sala de aula, na unidade do bairro
Jacarecanga, numa sexta-feira, aos 16 anos, e
40 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
O primeiro apito
na segunda-feira seguinte já estava empregado
na Rede de Viação Cearense (RVC). “O curso
do SENAI me colocou no mercado ainda muito
jovem. Mas o que mais me surpreendeu foi ver
que nas oficinas muitos veteranos não sabiam
fazer o que eu já entendia, simplesmente por não
terem qualificação. Por isso posso afirmar que o
SENAI foi fundamental para estimular não apenas
minha carreira, mas também de toda a ferrovia
cearense”, sublinha Wilson Almeida.
Histórias tristes, como a do acidente que vitimou
vários passageiros ao viajarem do lado de fora da
composição, também estão na narrativa. Segundo
o maquinista Cícero Belarmino, o trem era usado
por pessoas pobres, por isso era barato, mas
sempre havia os que, mesmo assim, não podiam
pagar e, violando as regras, viajavam “pendurados”.
O episódio aconteceu em 1956, a poucos
quilômetros da estação central em Fortaleza,
quando um caminhão estancou e parte da sua
carroceria ficou sob os trilhos. “Quando passei
pelo caminhão, a carroceria ceifou a vida de vários
desses passageiros que não podiam pagar mil reais
pela passagem. Dezenas caíram. Oito perderam a
vida no local, outros ficaram mutilados”, relembra.
Outro trecho do documentário, também contado
por um ex-maquinista, Francisco Saraiva Monte,
resgata um dos fatos mais emblemáticos da
história do povo cearense: a luta de milhares de
sertanejos para embarcar nos trens que iam à
capital na tentativa de fugir da seca implacável.
Com a voz embargada, ele recorda: "Na grande
estiagem de 1932 vi muita gente morrendo de
fome, nas estações de Iguatu e Acopiara. Era
triste, doía na gente. A multidão queria embarcar
em direção a Fortaleza para escapar da morte,
mas os flagelados eram barrados em Senador
Pompeu, onde havia um campo de concentração de
sertanejos famintos e doentes”.
Já seu “Zequinha”, como era conhecido entre os
amigos o simpático maquinista José Rodrigues, foi
protagonista da última viagem de passageiros numa
das linhas mais importantes do interior, a de Sobral
a Camocim, em 16 de agosto de 1976. Logo no
início da entrevista, o fácil sorriso nos lábios logo dá
lugar a semblante marejado ao recordar a aflição
da população pobre que perdia seu único meio
de transporte entre as duas cidades. “A multidão
invadiu a estação para não deixar o trem sair. Foi
uma calamidade. Tive de parar a composição e
esperar a revoltar passar. Tanto a população como
eu chorávamos muito. Fiquei horas esperando sob
protestos do povo que não aceitava o argumento de
que o trem estava parando porque dava prejuízo”,
recorda Zequinha.
E
m julho de 1870, um acordo
firmado entre o senador Tomaz
Pompeu de Souza Brasil, o
bacharel Gonçalo Batista Vieira (Barão
de Aquiraz), o coronel Joaquim da
Cunha Freire (Barão de Ibiapaba), o
investidor inglês Henrique Brocklehurst
e o engenheiro civil José Pompeu
de Albuquerque Cavalcante criou a
Companhia da Via Férrea de Baturité.
A ideia era ligar inicialmente Fortaleza
à Serra de Baturité, a região mais
próspera do estado à época.
Sob a concessão do imperador D.
Pedro II, três anos depois, na tarde
de 3 de agosto de 1873, cerca de
8 000 fortalezenses presenciaram,
sob aplausos e espantos, na rua do Trilho de
Ferro, hoje Avenida Tristão Gonçalves, o passeio
do primeiro trem. A apresentação coroava o
esforço visionário iniciado em 1º de julho do
mesmo ano, quando foram assentados os
primeiros dormentes. Oficialmente, o trecho
inicial a caminho da serra, de aproximadamente
7,5 quilômetros, ligando Fortaleza à localidade
de Arronches, atual bairro da Parangaba, foi
inaugurado em 29 de novembro de 1873.
No livro Os Descaminhos de Ferro do Brasil
lê-se que o projeto de construção da ferrovia
cearense sofreu várias modificações e atrasos com
as dificuldades financeiras do grupo investidor,
causadas pelas secas que castigavam a região, até
que em 1877 os trabalhos de conclusão da obra
passaram às mãos do Império. “A construção da
Via Férrea de Baturité foi encampada pelo governo
de D. Pedro II, graças à exploração de mão de obra
de retirantes da seca e às ações do ministro João
Lins Vieira Cansansão de Sinimbu, alagoano que
conseguiu os recursos para a conclusão da obra e
início da ferrovia partindo do Porto de Camocim a
Sobral”, informa a publicação.
A Baturité o trem Maria Fumaça chegaria
dez anos depois, em 1882, ainda sob o reinado
de D. Pedro II. Neste mesmo ano, iniciava-se a
construção da estrada de ferro ligando Sobral a
Camocim, depois a Oiticica, na divisa do Ceará
com o Piauí. Décadas à frente, em 1950, a linha
de Itapipoca, vinda de Fortaleza, chegaria a Sobral.
Fato que não passava desapercebido pela
população local, que diariamente se amontoava
para ver a composição passar, o trem da serra
partia diariamente carregado de sacas de café,
algodão e milho, além de frutas e hortaliças,
entre outros alimentos que abasteciam a capital
ou eram exportados para a Europa. O gigante de
Foto: ARQUIVO PESSOAL ADERBAL NOGUEIRA
“
Transporte do pobre
ferro marcou o fim dos comboios de animais que
até então faziam a penosa viagem de mais de
cem quilômetros até o Porto de Fortaleza, com as
mesmas cargas no lombo. Essa era a rotina da
Estação Ferroviária de Baturité, local estratégico
para o escoamento da produção cafeeira –
principalmente – do interior para a capital cearense.
Essa linha chega ao seu ponto máximo em
1926, quando alcança a cidade do Crato, no
sul do Ceará. Mas não antes sem deixar muitas
histórias para contar. Os estudiosos registram que
as obras de expansão das ferrovias cearenses
viraram, sobretudo, frente de trabalho para
milhares de flagelados das secas que se abatiam
no semiárido. Tanto que as duas principais
estradas de ferro (Fortaleza-Baturité e SobralCamocim), desde 1915 unificadas na RVC,
passaram a ser subordinadas à Inspetoria Federal
de Obras contra a Seca (Ifocs). Em 1920, 12
850 operários estavam envolvidos na construção,
inclusive idosos e crianças.
Outra obra feita por retirantes das secas foi
a Estação Terminal Professor João Felipe, no
Centro de Fortaleza – trecho ilustrado com fotos
da época no vídeo O Último Apito. Construída em
estilo dórico-romano pelo engenheiro austríaco
Henrique Folgare, a estação teve sua pedra
fundamental lançada em 30 de novembro de
1873 e inauguração em 9 de junho de 1880. O
cearense João Felipe Pereira, nascido em Tauá em
23 de março de 1861, foi ministro das Relações
Exteriores, da Agricultura e Viação e Obras Públicas
do governo do marechal Floriano Peixoto. O prédio,
que é tombado como patrimônio histórico da
União e visitado por turistas, ainda está ativo,
mas seu maior legado hoje é conservar traços da
arquitetura e da história do século 19.
Estação Terminal Professor
João Felipe, no Centro de
Fortaleza, foi inaugurada em
9 de junho de 1880
Agosto de 2011 | RevistadaFIEC
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Luz no fim do túnel
D
esde que o trem de passageiros percorreu
pela última vez, em 1980, os trilhos do
interior cearense, só restou ao sertanejo
a saudade. Lágrimas e lamentações muito bem
fundamentadas, afinal de contas, era o transporte
do pobre, e todos o querem de volta, como
declama (e reclama) o poeta caririense, cantador
do Trio Nortista, Jonas de Andrade:
Doutor, bota o trem de volta
Doutor, é o transporte do pobre
De Juazeiro vou para o Crato
Do Crato para Fortaleza
Era uma beleza
Era uma beleza
Metrô do Cariri transporta
em torno de de 1,5 mil
passageiros/dia
Morto em 1995, o sanfoneiro das terras
caririenses não pôde ver o que vem sendo
apontado pelos especialistas como a mais
bem sucedida iniciativa de colocar nos trilhos
novamente o transporte ferroviário no Brasil: o
metrô do Cariri. Inaugurado em 1º de dezembro
de 2009, com 13,4 quilômetros de extensão,
o moderno trem, tecnicamente chamado de
veículo leve sobre trilhos (VLT), percorre, sob
os olhares atentos da nação brasileira, o velho
traçado de outrora, unindo Crato a Juazeiro
do Norte, na região do Cariri, a cerca de 560
quilômetros de Fortaleza.
42 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011
Com mais de R$ 30 milhões em investimento da
Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos
(Metrofor), empresa do governo estadual que
administra o metrô do Cariri, o VLT Crato-Juazeiro
do Norte atualmente transporta cerca de 1,5 mil
passageiros por dia, mas tem capacidade para
15 000 e vem sendo usado como exemplo de
sucesso por aqueles que afirmam ser possível
reerguer o transporte ferroviário de pessoas no
país. Para tanto, já se fala em investimentos perto
de 100 bilhões de reais nos próximos dez anos no
Brasil. Boa parte, mais de 30 bilhões de reais, será
investida no trem bala, que unirá os estados do Rio
de Janeiro e São Paulo.
O trem, ou como gosta de chamar a orgulhosa
população local, o metrô de Juazeiro, não almeja
a velocidade de um trem bala, e nem precisa, já
que seus 40 quilômetros/hora são suficientes
para garantir pontualidade nas nove estações
que percorre. Os dois carros são equipados
com ar-condicionado, assentos limpíssimos e
passagem a R$ 1,00. Em breve, terá integração
com linhas de ônibus nas duas cidades, além
de ser estendido a outras localidades da região,
como Barbalha, cuja contribuição tem sido
fundamental ao sucesso da empreitada.
O metrô do Cariri é mesmo do Cariri. A
empresa Bom Sinal, instalada no “bar” do
triângulo Crajubar – Crato, Juazeiro e Barbalha
– é responsável pela produção dos VLTs, hoje
cobiçados por vários estados.
Originalmente fabricante de carteiras
escolares, móveis para hospitais e
assentos para estádios, a empresa
começou, em 2004, a reformar
carros de passageiros do metrô de
Fortaleza, e em seguida passou a
adaptar chassis e motores movidos
a diesel, de modelos usados em
ônibus. O salto deu certo porque
um dos seus sócios adquiriu knowhow como sócio da fabricante de
carrocerias de ônibus Caio.
Hoje, a Bom Sinal emprega mais
de 300 funcionários diretos e tem
pedidos para projetos de VLT em
Fortaleza, Sobral, Recife, Maceió,
Arapiraca (AL) e Macaé (RJ). Os VLTs
montados são movidos a diesel, mas a
empresa tem planos de adequar suas
instalações para a montagem também
dos trens com tração elétrica.
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