parceiro da inovação
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parceiro da inovação
Impresso fechado, pode ser aberto pela ECT Impresso Especial 1000013828-D R/CE Publicação do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará Ano V n No 51 n AGOSTO/2011 FIEC CORREIOS 3 PARCEIRO DA INOVAÇÃO Foto: GIOVANNI SANTOS Sistema FIEC, por meio do SENAI, é parceiro da indústria do Ceará em suas necessidades de inovação mediante a oferta de serviços técnicos e tecnológicos e a formação de profissionais capacitados para lidar com novas tecnologias Publicação do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará AGOSTO 2011 | No 51 Foto: GIOVANNI SANTOS ........................................................................................ ViraVida Política pública Projeto do Sistema SESI que atende jovens vítimas de exploração sexual poderá ser adotado pelo governo federal Massas alimentícias 14 Desmistificando tabus Consumo anual per capita no Brasil do alimento ainda é pequeno, apesar de estudos científicos atestarem sua saudabilidade CAPA 28 Realização de reunião da diretoria em Juazeiro do Norte é parte do programa de reuniões itinerantes desenvolvido pela FIEC Copa 2014 35 eSTÁDIO PRESIDENTE VARGAS Prestes a completar 70 anos, Estádio Presidente Vargas é o primeiro equipamento de Fortaleza pronto para ser utilizado na competição resgata a história no Ceará de transporte outrora bastante utilizado para levar o progresso a todo o país da indústria cearense estarão reunidos em equipamento moderno e arrojado, com 95% de acervo virtual Micro e pequenas indústrias cearenses de panificação, reciclagem, redes de dormir, rochas ornamentais e sorvetes serão capacitadas INTERIORIZAÇÃO ÚLTIMO APITO 38 ODocumentário O Último Apito Foto: JOSÉ SOBRINHO 32 Ferrovia da Indústria 22 Museu Passado, presente e futuro Novos projetos FIEC no Cariri Sistema FIEC, por meio do SENAI, cultiva esforço para ampliar capacidade da indústria cearense mediante a inovação e a capacitação de profissionais História Procompi 18 Parceria pelo desenvolvimento Foto: ARQUIVO PESSOAL ADERBAL NOGUEIRA 08 Seções MensagemdaPresidência........5 Notas&Fatos..............................6 Inovações&Descobertas.........21 Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 3 Fernandes, Geraldo Bastos Osterno Júnior, Hélio Perdigão Vasconcelos, Hercílio Helton e Silva, Ivan José Bezerra de Menezes, José Agostinho Carneiro de Alcântara, José Alberto Costa Bessa Júnior, José Dias de Vasconcelos Filho, Lauro Martins de Oliveira Filho, Marcos Augusto Nogueira de Albuquerque, Marcus Venicius Rocha Silva, Ricard Pereira Silveira e Roseane Oliveira de Medeiros. CONSELHO FISCAL Titulares Francisco Hosanan Pinto de Castro, Marcos Silva Montenegro e Vanildo Lima Marcelo Suplentes Fernando Antonio de Assis Esteves, José Fernando Castelo Branco Ponte e Verônica Maria Rocha Perdigão. Delegados da CNI Titulares Fernando Cirino Gurgel e Jorge Parente Frota Júnior Suplentes Roberto Proença de Macêdo e Carlos Roberto Carvalho Fujita. Superintendente geral do Sistema FIEC Paulo Studart Filho Serviço Social da Indústria — sesi CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Carlos Roberto Carvalho Fujita, Marcos Silva Montenegro, Ricardo Pereira Sales e Luiz Francisco Juaçaba Esteves Suplentes José Moreira Sobrinho Representantes do Ministério do Trabalho e Emprego Efetivo Célia Romeiro de Sousa Suplente Francisco Assis Papito de Oliveira Representantes do Governo do Estado do Ceará Efetivo Denilson Albano Portácio Suplente Paulo Venício Braga de Paula Representantes da Categoria Econômica da Pesca no Estado do Ceará Efetivo Paulo de Tarso Teófilo Gonçalves Neto Suplente Eduardo Camarço Filho Representante dos Trabalhadores da Indústria no Estado do Ceará Suplente Raimundo Lopes Júnior Superintendente Regional Francisco das Chagas Magalhães Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial — senai CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Alexandre Pereira Silva, Ricard Pereira Silveira, Francisco Túlio Filgueiras Colares e Pedro Jacson Gonçalves de Figueiredo Suplentes Álvaro de Castro Correia Neto, Paula Andréa Cavalcante da Frota, Pedro Jorge Joffily Bezerra e Geraldo Bastos Osterno Júnior Representante do Ministério da Educação Efetivo Cláudio Ricardo Gomes de Lima Suplente Samuel Brasileiro Filho Representantes da Categoria Econômica da Pesca no Estado do Ceará Efetivo Elisa Maria Gradvohl Bezerra Suplente Eduardo Camarço Filho Representante do Ministério do Trabalho e Emprego Efetivo Francisco Assis Papito de Oliveira Suplente Célia Romeiro de Sousa Representante dos Trabalhadores da Indústria no Estado do Ceará Efetivo Francisco Antônio Ferreira da Silva Suplente Antônio Fernando Chaves de Lima Diretor do Departamento Regional Francisco das Chagas Magalhães Instituto Euvaldo Lodi — IEL Diretor-presidente Roberto Proença de Macêdo Superintendente Vera Ilka Meireles Sales Coordenação e edição Luiz Carlos Cabral de Morais ([email protected]) Redação Ângela Cavalcante ([email protected]), G evan Oliveira ([email protected]) e Luiz Henrique Campos ([email protected]) Fotografia José Sobrinho e Giovanni Santos Diagramação Taís Brasil Millsap Coordenação gráfica Marcograf Endereço e Redação Avenida Barão de Studart, 1980 — térreo. CEP 60.120-901. Telefones (085) 3421-5435 e 3421-5436 Fax (085) 3421-5437 Revista da FIEC é uma publicação mensal editada pela Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia (AIRM) do Sistema FIEC Coordenador da AIRM Luiz Carlos Cabral de Morais Tiragem 5.000 exemplares Impressão Marcograf Publicidade (85) 3421-5434, 9187-5063, 8857-1594 e 8786-2422 — [email protected] e [email protected] Endereço eletrônico www.sfiec.org.br/publicacao/revistadafiec Revista da FIEC. – Ano 5, n 51 (ago. 2011) – Fortaleza : Federação das Indústrias do Estado do Ceará, 2008 v. ; 20,5 cm. Mensal. ISSN 1983-344X 1. Indústria. 2. Periódico. I. Federação das Indústrias do Estado do Ceará. Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia. MensagemdaPresidência Roberto Proença de Macêdo Demandas desafiadoras Para tanto, precisamos abrir as nossas cabeças, em um A visita que fiz ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no dia 11 deste mês, ocasião em que a presiden- exercício permanente de criatividade e inovação que nos te Dilma Rousseff e o governador Cid Gomes inauguraram a possibilite ter condição competitiva capaz de superar concorreia transportadora e o terminal multiuso daquele porto, correntes, vindos de onde vierem. Tenho confiança na nosencheu-me de orgulho como cearense. O novo patamar da in- sa capacidade de empreender e de criar nas mais diversas dústria no Ceará não é mais uma promessa. Ao ver de perto a circunstâncias. Já vencemos muitas situações caracterizadas correia tubular de nove quilômetros de extensão, com capaci- pela escassez de pedidos e agora temos a abundância de dade de movimentação de minério de ferro e carvão mineral, ofertas. A questão que se impõe é a de não deixarmos essas equivalente à carga de 200 caminhões por hora, percebi na- ofertas escaparem das nossas mãos. Como ficou claro no IV Congresso Brasileiro de Inoquele equipamento a dimensão das perspectivas promissoras vação na Indústria, organizado pela CNI em São Paulo, no do futuro socioeconômico do Ceará. Em conversa recente com representantes da Vale, inte- último dia 3, inovar é o principal recurso usado hoje pelas empresas na competição global. grante da Companhia Siderúrgica do Nessa disputa são indispensáveis Pecém (CSP), tratei das oportunidatambém a qualificação da mão de des das indústrias cearenses funcioPrecisamos abrir as obra, as boas condições de trabalho narem como fornecedoras daquele nossas cabeças, em e a responsabilidade socioambienempreendimento, tanto na fase de tal das empresas. implantação quanto na de operação. um exercício permanente de A CNI e a FIEC estão em conNas conversações foram colocadas as dições de ajudar as indústrias na exigências de qualidade e segurança criatividade e inovação que nos da CSP e a sua total disposição de possibilite ter condição competitiva identificação de demandas, no diagnóstico de necessidades e suas facilitar o mais possível a preparação prioridades e na preparação para para que as nossas indústrias se tor- capaz de superar concorrentes, o atendimento do leque das comnem aptas a fornecer grande parte do vindos de onde vierem. plexas exigências desse mercado. que ela irá necessitar. Para tanto, compete ao industrial Esses dois acontecimentos reforbuscar os serviços colocados à disçam em mim a convicção sobre a necessidade de nos capacitarmos para aproveitar ao máximo posição pelo nosso Sistema. O IEL, por exemplo, por meio as oportunidades que esses grandes empreendimentos trazem do Programa de Qualificação de Fornecedores (PQF), capapara o nosso estado. Na edição de março de 2001 desta revista, cita grupos de empresas, numa visão de desenvolvimento sob o título Fornecedores de Excelência, procurei sintetizar a de cadeias produtivas, visando o atendimento de requisitos minha compreensão a respeito do posicionamento do empre- nacionais e internacionais no fornecimento de produtos e sariado cearense diante desses desafios. Pensar grande, focar, serviços, como os que nos serão demandados. O certo é que estamos diante de um bom desafio: temos antecipar-se, capturar sinergias, ser proativo e fazer uso pleno do Sistema FIEC são alguns dos pontos indispensáveis para nos um mercado demandante e os instrumentos de capacitação colocarmos na condição de plenos fornecedores desses projetos. necessários para atendê-lo. “ “ Federação das Indústrias do Estado do Ceará — fiec DIRETORIA Presidente Roberto Proença de Macêdo 1o Vice-Presidente Ivan Rodrigues Bezerra Vice-presidentes Carlos Prado, Jorge Alberto Vieira Studart Gomes e Roberto Sérgio Oliveira Ferreira Diretor Administrativo Carlos Roberto Carvalho Fujita Diretor Administrativo Adjunto José Ricardo Montenegro Cavalcante Diretor Financeiro José Carlos Braide Nogueira da Gama Diretor Financeiro Adjunto Edgar Gadelha Pereira Filho Diretores Antonio Lúcio Carneiro, Fernando Antonio Ibiapina Cunha, Francisco José Lima Matos, Frederico Ricardo Costa CDU: 67(051) 4 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 5 q u e Notas&Fatos a c o n t e c e n o S i st e m a FIEC , n a P o l í t i c a e n a E c o n o m i a ROSIER ALEXANDRE Refrigeração Funcap e Finep lançam editais Escalada montanha mais alta da Eurora SENAI traça perfil de profissionais A Fundação Cearense da Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) lançou o terceiro edital do Fundo de Inovação Tecnológica (FIT), no valor de 10 milhões de reais, destinado a médias e grandes empresas. Outro edital de 9,8 milhões de reais foi lançado em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), exclusivamente para micro e pequenas empresas. No edital do FIT, as empresas com faturamento até 10,6 milhões de reais anuais podem se habilitar a recursos de 500 mil reais, no máximo. Para as empresas que faturam de 10,6 milhões de reais até 60 milhões de reais, o teto de captação chega a 800 mil reais. Nas empresas de faturamento acima de 60 milhões de reais, é possível captar até R$ 1 milhão. O O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Ceará (SENAI/CE) realizou em agosto o Comitê Técnico Setorial na Área de Refrigeração e Climatização, destinado a traçar o perfil dos profissionais do setor. Especialistas técnicos de Departamentos Regionais do SENAI, de empresas e de centros de conhecimento apresentaram demandas, que resultarão na formatação de um documento base para a padronização e a revisão dos cursos de formação oferecidos pelo SENAI. >> Cartas à redação contendo comentários ou sugestões de reportagens podem ser enviadas para a Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia (AIRM) Avenida Barão de Studart, 1980, térreo, telefone: (85) 3421-5434. E-mail: [email protected] montanhista cearense copatrocinado pela FIEC/SESI, Rosier Alexandre, chegou no dia 17 de agosto ao cume da maior montanha da Europa, o Elbrus, na Rússia, de 5 642 metros. Para Rosier, a escalada foi a mais difícil já enfrentada e o sucesso veio graças à excelente preparação e planejamento. A empreitada faz parte do Projeto Sete Cumes, no qual o cearense planeja escalar as montanhas mais altas de cada continente. Esta foi a terceira escalada por Rosier, que já atingiu o cume do Aconcágua, na Argentina, e o Kilimanjaro, na África. Até 2014, ele pretende escalar os quatro restantes: Monte Everest, Ásia; Monte McKinley, América do Norte; Monte Carstensz, Oceania e Vinson, Antártida. Foto: ARQUIVO PESSOAL ROSIER Inovação Gestão Prêmio vai reconhecer melhores práticas no CEará O Movimento Ceará Competitivo (MCC), com apoio da FIEC e do Movimento Brasil Competitivo, lançou em agosto a primeira edição do Prêmio Ceará de Excelência em Gestão. O objetivo é promover a melhoria da qualidade da gestão e o aumento da competitividade das empresas cearenses, reconhecendo as melhores práticas. O prêmio é dividido em duas categorias: Grande/Média Empresa e Micro/Pequena Empresa. Segundo o gerente executivo do 6 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 MCC, Hélder de Holanda Castro, a ideia é permitir às organizações participantes a aplicação de fundamentos e critérios de excelência reconhecidos e utilizados mundialmente, a identificação de pontos fortes e oportunidades para melhorias e a maior cooperação interna, com a mobilização e comprometimento das pessoas envolvidas, entre outros ganhos. Os vencedores serão conhecidos em novembro. Informações: (85) 3421-5486. INDI SINDMASSAS Carlos Matos é o novo diretor Luís Eugênio Pontes assume a presidência O engenheiro e ex-secretário de Agricultura do Ceará, Carlos Matos, é o novo diretor corporativo do Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI), entidade ligada à FIEC. Como uma de suas primeiras ações, ele participou no fim de julho, em São José dos Campos (SP), de encontro do presidente da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, e do empresário e ex-presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC), Baltazar Neto, com o cientista cearense Fernando de Mendonça. Na ocasião, foi discutida a criação de um instituto voltado a pesquisa em energias alternativas a ser implantado no Ceará. AGENDA ................................................... Estão abertas as inscrições para o Encontro de Negócios da Língua Portuguesa (ENLP). O evento é realizado pela Câmara Brasil-Portugal no Ceará (CBP/CE) e ocorre entre os dias 3 e 6 de outubro. Informações no site www.negociosnalinguaportuguesa.com. n CURTAS --------------------n Cinco trabalhadores-atletas cearenses viajaram para participar do Mundial do Trabalhador, ocorrido de 19 a 28 de agosto, na Áustria. Vencedores na categoria natação dos jogos nacionais do SESI realizados em maio, em Salvador, os atletas competiram em todas as modalidades. O diretor corporativo do grupo M Dias Branco, Luís Eugênio Pontes, é o novo presidente do Sindicato das Indústrias de Massas Alimentícias e Biscoitos do Ceará (Sindmassas). Ele tomou posse no início de agosto em solenidade na sede da FIEC. Entre as metas da nova gestão está a mobilização para desmistificar a ideia de que o consumo das massas não é adequado para uma alimentação saudável. [Veja matéria nas páginas 14, 15 e 16]. O mercado brasileiro de massas alimentícias registrou faturamento de R$ 5,9 bilhões no ano passado. Nos últimos Foto: JOSÉ SOBRINHO O Notas&Fatos cinco anos, o faturamento acumulado apontou aumento de 18%. O Brasil é o terceiro maior produtor de massas no mundo. Entre as organizações de DNA cearense que se destacam no mercado nacional estão a Fábrica Fortaleza, a J. Macêdo e a Fábrica Estrela. PESQUISA IEL conclui pesquisa sobre os sindicatos ligados à FIEC O O IEL/CE concluiu pesquisa censitária sobre os sindicatos ligados à FIEC. De acordo com o levantamento, os sindicatos, em sua maioria, estão atuando há mais de 20 anos. O número total de indústrias que compõem a base sindical da FIEC é de 14 728. Desse total, 1 903 estão associadas aos sindicatos ligados à federação. Com relação aos focos principais de atuação dos sindicatos, constam as negociações coletivas, ações comerciais e serviços de assessorias técnicas. A pesquisa está sendo realizada em outros estados e visa apoiar as federações que desejam obter um quadro preciso da atuação dos sindicatos filiados. Informações: (85) 3421-6508. n O Centro Internacional de Negócios (CIN) promoveu mais uma edição do Café Comex. Na pauta das discussões a logística para o mercado do oeste africano. Representantes de empresas de transporte de cargas, tanto marítimo quanto aéreo, apresentaram soluções e discutiram os desafios para a região que é considerada de grande potencial importador. n O IEL/CE e a Cooperativa da Construção Civil do Ceará (Coopercon/CE) iniciaram mais uma etapa do Programa de Desenvolvimento e Qualificação de Fornecedores – Vínculos de Negócios com foco na construção civil. Trinta empresas fornecedoras de pequeno e médio portes apresentaram seus portfólios à diretoria da cooperativa. Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 7 Projeto ViraVida destacou que o Sistema S faz sua parte com a execução do projeto ViraVida, que dá atendimento a jovens vítimas de exploração sexual. O projeto oferece cursos de qualificação profissional para jovens entre 15 e 21 anos, vítimas de exploração sexual, nas áreas de administração, gastronomia e comunicação digital, entre outras. O objetivo é resgatar a autoestima do jovem oferecendo profissionalização e o ingresso no mercado de trabalho. A necessidade do engajamento do setor produtivo na proteção dos direitos da infância e da juventude também foi ressaltada pela secretária Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmem de Oliveira. Ela defendeu, por exemplo, o assento do empresariado no Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). O conselho foi previsto pelo ECA como o principal órgão do sistema de garantia de direitos. Por meio da gestão compartilhada, governo e sociedade civil definem, no âmbito do Conanda, as diretrizes para a Política Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes. Na avaliação da secretária, por meio do SESI, está consagrada a ideia de que o setor produtivo já faz parte do sistema de garantia de direitos. A maioria dos formandos deixa o ViraVida com espaço assegurado. Em Fortaleza, o programa formou 299 adolescentes e jovens, inserindo mais de 70% no mercado de trabalho C riado em 2008 como projeto-piloto em Fortaleza pelo Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (SESI), o ViraVida poderá ser adotado como política pública pelo governo federal. Aceno nesse sentido foi feito pela ministra da Secretaria dos Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República, Maria do Rosário Nunes, durante a realização do seminário ECA 21 Anos, promovido pelo Conselho Nacional e pela SDH, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, nos dias 13, 14 e 15 de julho, em comemoração aos 21 anos de instalação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ViraVida, segundo a ministra, tem amplas condições de ser implantado em todo o território nacional. “Essa iniciativa pode se combinar com as ações planejadas pelo governo federal no enfrentamento da exploração sexual.” Maria do Rosário destacou que o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes é uma prioridade no país e exige o engajamento de todos os setores da sociedade, incluindo a indústria brasileira. Para ela, as grandes obras que estão sendo feitas para receber a Copa de 2014 não 8 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 podem ter a marca da exploração sexual de adolescentes. “Não vamos permitir que nesses grandes eventos ocorra violência contra a criança e o adolescente”, enfatizou. “Precisamos sensibilizar os trabalhadores e as empresas para que participem, ao nosso lado, da proteção das crianças”, completou a ministra. Nesse sentido, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, afirmou que o Sistema Indústria está em sintonia com o ECA e compreende a necessidade de maior envolvimento do setor empresarial no tema. “A CNI é uma casa de empresários e está coerente com o exercício da responsabilidade social. Não podemos ficar alheios a um problema nacional, que exige uma posição de solidariedade ativa de todos os brasileiros que tenham a noção de seu papel social”, ressaltou Robson Andrade. O presidente do Conselho Nacional do SESI, Jair Meneguelli, convidou os empresários a apoiar as ações de enfrentamento à exploração sexual infanto-juvenil, considerada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como a pior forma de trabalho infantil. Meneguelli Foto: agência CNI Foto: Paulo Lacerda - CNI Virando política pública “ Combate à exploração sexual de crianças e adolescentes exige engajamento de todos os setores da sociedade. “ Robson Andrade: "A CNI é uma casa de empresários e está coerente com o exercício da responsabilidade social" Maria do Rosário Nunes, ministra da Secretaria dos Direitos Humanos “Ele [setor empresarial] não é apenas um financiador do sistema de garantia de direitos. Então, talvez nós tenhamos de rever a própria concepção de quem tem assento no Conselho de Direitos, representando a sociedade civil organizada”, disse Carmem de Oliveira. “Nós trabalhamos predominantemente com a ideia dos setores não governamentais, de ONGs, de OSCIPs, e quem sabe a gente possa abrir a perspectiva de que os empresários, seus gerentes de responsabilidade social, possam estar participando dos conselhos, formulando políticas públicas e fazendo um controle social dessas políticas”, complementou Carmem de Oliveira. Doze estados H á cerca de três anos o Conselho Nacional do SESI desenvolve o projeto ViraVida. A iniciativa já atendeu a mais de 1 500 jovens em 12 estados. Mais de 80% dos formandos já estão inseridos no mercado de trabalho. Segundo o presidente do Conselho, Jair Meneguelli, o ViraVida é um projeto estruturado, que atua em parceria com o Sistema S e com as Redes de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nos estados. “Oferecemos atendimento psicológico, elevação da escolaridade e, sobretudo, uma chance para jovens que tiveram apenas uma oportunidade: a exploração”. De acordo com Meneguelli, os resultados do programa mostram que é possível incentivar um maior engajamento do setor produtivo, a partir de uma nova maneira de olhar essa questão, ou seja, ver esses jovens como sujeitos de direitos. Em Brasília, por ocasião do Seminário ECA 21 anos, ele afirmou esperar que "daqui a alguns anos possamos nos reunir para celebrar mais avanços e parcerias e, principalmente, a redução dos casos de exploração dos meninos e meninas do Brasil. E, num futuro não muito distante, a erradicação”, arrematou. Um dos aspectos mais destacados do ViraVida é o desafio de assegurar a inserção dos alunos concludentes no mercado de trabalho. Para isso, tem contado com a qualidade do ensino profissionalizante do Sistema S e do acompanhamento de egressos dos cursos durante o primeiro ano de inserção no mercado de trabalho. Durante o processo de formação e qualificação profissional, que Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 9 10 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 Carmem de Oliveira, secretária Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente Carmem de Oliveira explicou que os dados apresentados servirão de subsídio para a SDH organizar uma atuação em quatro frentes para combater a exploração sexual de crianças e adolescentes: Copa do Mundo, grandes obras (principalmente de usinas hidrelétricas), rodovias e fronteiras. A secretária ainda informou que as 12 capitais que vão receber jogos da Copa do Mundo em 2014 estão entre as cem cidades com maior número de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes. As informações fazem parte de uma prévia da Matriz Intersetorial 2011 – Cenários do Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. O documento ainda está sendo concluído, em parceria com o Grupo de Pesquisa sobre a Violência e Exploração Sexual das Mulheres, Crianças e Adolescentes da Universidade de Brasília (UnB). “U ma virada para melhor” na vida de 126 jovens e adolescentes cearenses marcou no dia 28 de julho o início de mais uma etapa do Projeto ViraVida em Fortaleza. Sessenta e cinco concludentes receberam durante solenidade no auditório Waldyr Diogo, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), certificados nos cursos de costura industrial – nas modalidades qualificação (13 concludentes) e aprendizagem (21) –, gastronomia (22) e auxiliar de pessoal/recepção (nove formandos) e partem para novas experiências profissionais no mercado de trabalho. Simultaneamente, 61 jovens ingressaram no projeto iniciando três novas turmas nas áreas de auxiliar administrativo (20 alunos), recepção (20) e tecelagem (21). Em comum, quem chega e quem parte do programa ganham nova perspectiva de vida, elevam a autoestima e transformam seu próprio destino para melhor. “Antes de entrar no ViraVida, não tínhamos expectativas de vida. Nossos sonhos estavam apagados e isso me incomodava muito. O projeto só trouxe benefícios. Tornei-me uma pessoa melhor, passei a acreditar mais nas pessoas. Agora, a minha expectativa de vida é outra. Pretendo me aperfeiçoar cada vez mais na costura, prestar vestibular e concluir o nível superior”, planeja a oradora das turmas concludentes, Bruna Stefani de Oliveira, que termina sua participação no programa já trabalhando na Guararapes Confecções S/A. Foto: JOSÉ SOBRINHO “ Mudando mais vidas no Ceará Para ela, concluir o ensino médio, o curso profissionalizante e ainda entrar no mercado de trabalho parecia um sonho distante que o ViraVida tornou realidade. “O projeto me ensinou que sou capaz e posso conseguir, então eu vou conseguir. Só tenho a agradecer àqueles que fizeram nossos sonhos se tornar realidade”, declarou em nome de todos os formandos. Aos recém-chegados, deixou seu recado: “Não desistam nunca, pois nossos sonhos somente nós mesmos podemos realizar”. Bruna Stefani: "ViraVida me ensinou que sou capaz e posso conseguir" Foto: JOSÉ SOBRINHO E m metade dos municípios brasileiros há registros de denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes. É o que mostra um levantamento feito em maio último pela SDH. De acordo com o mapeamento, as regiões Centro-Oeste e Nordeste, nessa ordem, são as que mais denunciam casos de exploração sexual contra crianças e adolescentes pelo Disque 100, número nacional por meio do qual é possível fazer anonimamente denúncias de violência contra crianças e adolescentes. Para a secretária Carmem de Oliveira, o aumento do número de acusações se deve à maior conscientização da população sobre a importância de denunciar e proteger crianças e adolescentes. Ela destacou ainda que o governo terá atenção especial com as localidades com grandes obras em andamento, por atraírem muitos homens desacompanhados das famílias. Na maioria das vezes, os municípios têm pouca estrutura para combater esse tipo de exploração. “Temos evidência que, no contexto das grandes obras, aumentam os casos de violação porque há uma migração que equivale ao número da população que já existe no município, que não dá conta da nova demanda. Rapidamente, se instaura um mercado de prostituição nesses canteiros”, disse a secretária, ao participar do seminário promovido pela CNI para discutir a participação do setor privado no combate a esse tipo de crime. Segundo ela, os municípios com maior número de denúncias são justamente os que recebem a menor cobertura de programas de combate à exploração sexual. O aumento do número de acusações se deve à maior conscientização da população sobre a importância de denunciar e proteger crianças e adolescentes. “ Denúncias Sessenta e cinco concludentes receberam certificados durante solenidade na FIEC Foto: agência CNI dura entre nove meses e um ano, os beneficiários recebem uma bolsa no valor de R$ 500, dos quais 20% (R$ 100,00) ficam retidos numa poupança, resgatável ao final do processo. O processo socioeducativo, com uma carga horária média de 900 horas, destina, desse total, cerca de 600 horas para os cursos profissionalizantes, adotando uma metodologia interativa com todos os conteúdos desenvolvidos. Os cursos implantados abrangem as áreas de moda, imagem pessoal, turismo e hospitalidade, gastronomia, comunicação digital, administração e química, apresentando carga horária que varia entre 700 e 950 horas/aula, conforme a modalidade. Em sua fase piloto, o ViraVida atendeu a 422 jovens das cidades de Fortaleza, Recife, Natal e Belém. Desse total, 379 concluíram os cursos oferecidos, 282 foram inseridos no mercado de trabalho, 48 estão em processo seletivo e 49 em outras situações. Foi registrada também a evasão de 43 alunos (9%). Atualmente, o projeto está em desenvolvimento em 14 cidades: Fortaleza, Recife, Natal, Belém, Brasília, Salvador, Teresina, João Pessoa, Campina Grande, Curitiba, Foz do Iguaçu, Londrina, Rio de Janeiro e Porto Velho. O ViraVida foi premiado como uma das 50 melhores práticas em atuação no país e pode ser considerado uma ação específica de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes. O Conselho Nacional do SESI está implantando o projeto nas cidades de São Luís, Aracaju e Porto Alegre. E deverá chegar, ainda no segundo semestre de 2011, a Campo Grande e também às demais cidades-sede da Copa do Mundo de 2014: Belo Horizonte, Cuiabá, Manaus e São Paulo. Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 11 Foto: agência CNI Jair Meneguelli: "Nós também estamos dando uma virada nas nossas vidas" Como Bruna Stefani, a maioria dos formandos deixa o ViraVida com espaço assegurado no mercado de trabalho. De acordo com Elísio Celestino, coordenador operacional do programa em Fortaleza, entre os concludentes a empregabilidade se mantém na média de 70%, já que desde seu lançamento em 2008 foram beneficiados 299 adolescentes e jovens na capital cearense. Conforme o presidente da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, a inclusão é o ponto central do Projeto Viravida. “É uma tecnologia social completamente alinhada às diretrizes e aos objetivos estratégicos do SESI”, reforça. De acordo com ele, por meio do programa a indústria cearense tem contribuído para fortalecer e assegurar os direitos de adolescentes e jovens. “O crescimento econômico não é nem pode ser um fim que se esgote em si mesmo, mas deve necessariamente gerar desenvolvimento, emancipação e inclusão social”, defende Roberto Macêdo. Ele lembra que o esforço teve início no Ceará e, devido ao êxito obtido, conquistou espaço em todo o país. “A experiência pioneira ganhou densidade e foi levada também a Recife, Natal e Belém. A parceria sinérgica com o Sistema S, que envolveu o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Social do Comércio (Sesc), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras/Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (OCB-Sescoop) no desafio de qualificar novas turmas, fez o programa crescer. Atualmente, após três anos 12 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 Depoimentos O que mudou com a sua entrada no ViraVida? O que você espera do ViraVida? Francisca Natália dos Santos, 23 anos, concludente de gastronomia Dayane da Silva Nóbrega, 20 anos, aluna da nova turma de tecelagem “Eu vivia na rua e não tinha nenhuma expectativa de vida. No ViraVida, fiz um curso e ganhei uma profissão. Hoje, sou auxiliar de cozinha e quero muito da vida. Estagiei no hotel Gran Marquise e agora estou no período de experiência, completando três meses. Acredito que vou ficar.” “Quando a vida me levava, ela levava embora também todos os meus sonhos e as pessoas que queriam me ajudar e que apostavam em mim. Eu me acomodei com muito pouco. E agora vem o ViraVida me puxando e me dá aquele abraço carinhoso. Então, o ViraVida é a minha família.” Rafael da Silva, 19 anos, concludente de auxiliar de pessoal/recepção Rosilene dos Santos Moura, 19 anos, aluna da nova turma de recepção “O nome já diz tudo. Eu tive uma oportunidade de mudança e soube aproveitar. Espero que os jovens que estão chegando agora aproveitem também e consigam dar uma virada na vida deles como eu fiz. Meu sonho começou agora. Voltei a estudar e estou trabalhando na Caixa Econômica Federal.” “A expectativa é maravilhosa. O programa é uma boa oportunidade para quem quer realmente mudar de vida. É uma boa chance de emprego. Os cursos são os melhores que há. Os parceiros também são muito bons. Para quem quer seguir em frente e ter uma boa profissão o ViraVida é uma ótima escolha.” Empresas participantes em Fortaleza Instituições parceiras > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > > Penna Sport Wear Panifício Aguananbi S.A – Panevita EIT – Empresa Industrial Técnica S/A Suíte Design Dilady Lingerie Caixa Econômica Federal Banco do Nordeste do Brasil Banco do Brasil Cemec Construções Unitêxtil Indústria Têxtil Chaves S.A Araucária Incorporações Cocobambu Sanny Underwear Panificadora Montmartre Cachaça Colonial Construtora e Imobiliaria JMV Ltda. Eng. Enguia Manhattam/ABC Inco Engenharia Faculdades Cearenses – FAC Colégio JK Guararapes Confecções S/A Hotel Gran Marquise > > > > > > > > > > > FotoS: JOSÉ SOBRINHO de realização, atinge 12 estados, atendendo a grandes cidades como Brasília, Teresina, Salvador, João Pessoa, Campina Grande, Curitiba, Foz do Iguaçu, Londrina e Rio de Janeiro”, sublinhou Roberto Macêdo. Coordenado pelos Departamentos Regionais do SESI, o ViraVida foi lançado em 2008 com o nome de Projeto de Profissionalização para o Enfrentamento da Exploração Sexual e Comercial de Adolescentes em resposta às estatísticas de exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil. O projeto-piloto iniciou sua aplicação no Ceará em junho de 2008, sob a coordenação do SESI/CE. Além de receberem qualificação profissional e educação integrada, os alunos contam com uma bolsa mensal e intermediação para inserção no mercado de trabalho. O programa contempla ainda formação em empreendedorismo e cooperativismo, bem como atendimento psicossocial e apoio às famílias. Segundo Jair Meneguelli, o grande mérito do ViraVida não está na sua concepção, mas na aplicação por parte dos coordenadores, empresas e instituições parceiras. “Idealizar não é complicado, mas estar realizando no dia a dia, apoiando e orientando cada um desses jovens, é o que faz a diferença na vida deles. Nós também estamos dando uma virada nas nossas vidas”, observou, ao ser intitulado de “produtor de cidadania” pelo presidente da FIEC. Aos formandos do ViraVida, Jair Meneguelli aconselhou a não se acomodar e a continuar se dedicando aos estudos: “Vocês são vencedores porque acreditaram em vocês mesmos e tiveram coragem. O que precisam agora é recuperar o tempo perdido. Estudar, estudar e estudar. Quem estuda hoje tem dificuldade no mercado de trabalho. Quem não estuda está fora dele. Então, agora vai depender de vocês. Não parem aqui. Continuem estudando”. Na cerimônia de certificação, Jair Meneguelli entregou o diploma a quatro concludentes, que representaram suas respectivas turmas. Nayara Pereira da Silva representou os 22 formandos da turma de gastronomia; Maria Natasha Lima recebeu em nome dos 21 concludentes do curso de aprendizagem em costura industrial; Nayara Tatiana Alves Santos representou os 13 certificados na qualificação em costura industrial e Rafael da Silva Martins recebeu o diploma em nome dos nove colegas que terminaram o curso de auxiliar de pessoal/recepção. Ass. Maria Mãe da Vida Aproce Convida Associação Barraca da Amizade (ABA) Secretaria Municipal de Direitos Humanos – Coordenação da Criança e do Adolescente. Centro Integrado Empresa Escola (CIEE) Sindicato Intermunicipal de Hotéis e Meios de Hospedagem do Estado do Ceará (Sindihoteis) Sindicato de Restaurantes, Bares, Barracas de Praia, Buffets e Similares do Estado do Ceará (Sindirest/CE) Conselho Municipal de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) Superintendência Regional do Trabalho (SRT) Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) Serviço Social do Comércio (Sesc) Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (Sebrae) Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras/Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (OCB-Sescoop) Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 13 Massas alimentícias POR LUIZ HENRIQUE CAMPOS O macarrão chegou ao Brasil no fim do século 19, trazido pelas primeiras famílias de imigrantes italianos, e hoje está presente na mesa de praticamente 100% dos brasileiros. Entretanto, atualmente existe muita desinformação sobre o consumo desse alimento, considerado nutritivo e essencial para o bom funcionamento do corpo humano. No Brasil, por exemplo, apesar de bastante popularizado – e de o país ser o terceiro maior produtor de massas alimentícias do mundo (perde apenas para Itália e Estados Unidos) –, nossa posição cai para o 17º lugar quando comparada ao consumo anual per capita. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Massas Alimentícias (Abima), Cláudio Zanão, o fato se deve principalmente ao tabu disseminado "equivocadamente" de que o macarrão não é adequado para uma alimentação equilibrada. Nesse sentido, a entidade nacional iniciou por Fortaleza a divulgação de um estudo científico internacional sobre a saudabilidade do macarrão. O documento, elaborado por 15 cientistas especializados em nutrição de 13 países, recomenda a inclusão de carboidratos no consumo diário para garantir uma refeição rica em nutrientes. O congresso científico (Scientific Consensus Conference on the Healthy Pasta Meal) foi realizado em outubro do ano passado no Rio de Janeiro e resultou ainda na declaração que se tornou referência mundial sobre alimentação à 14 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 base de massa, contrariando questionamentos a respeito da relação entre o consumo de macarrão e o aumento de peso. Um dos 15 cientistas a participar da equipe, a nutricionista e fitoterapeuta Vanderli Marchiori, que também é secretária geral da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva, destaca como um dos pontos importantes do documento a indicação dada pelas pesquisas científicas da adoção cada vez maior da dieta como um todo, em vez de alimentos e nutrientes considerados de forma individual. Foto: JOSÉ SOBRINHO Há ainda muita desinformação sobre o consumo do macarrão como alimento nutritivo e essencial, mesmo o Brasil sendo o terceiro maior produtor mundial de massas alimentícias Cláudio Zanão: "Macarrão é adequado a uma alimentação equilibrada" porque ninguém consegue viver sem ele", destaca Luís Eugênio. Para se ter uma ideia dessa afirmação, o volume de produção de macarrão no Brasil manteve o ritmo de crescimento em 2010, ultrapassando a marca de 1,2 milhão de toneladas. Já a média anual de consumo manteve-se estável em 6,4 quilos por habitante no ano passado em relação a 2009. Isso se deve também, destaca Pontes, à aposta da indústria em inovar e diversificar seus produtos para segurar o consumo interno. “ Basta uma informação distorcida sobre possíveis malefícios causados pelo macarrão, para se jogar fora todo um trabalho científico. “ É preciso desmistificar tabus Segundo ela, muitos ensaios clínicos sugerem que é o excesso de calorias, e não de carboidratos, o responsável pela obesidade. No documento, consta, por exemplo, que as dietas com sucesso em promover a redução de peso se baseiam em proporções variáveis, adequadas e saudáveis de carboidratos, gorduras e proteínas. Para Vanderli, esses três macronutrientes em equilíbrio são essenciais a uma dieta individualizada, que pode ser seguida ao longo da vida. “Além disso, dietas muito pobres em carboidratos podem não ser seguras a longo prazo”, ressalta. Na visão do presidente do Sindicato das Indústrias do Trigo nos Estados do Pará, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte (Sindtrigo) e do Sindicato das Indústrias de Massas Alimentícias e Biscoitos do Ceará (Sindmassas), Luís Eugênio Pontes, a pesquisa é importante por afastar a pecha de vilão do macarrão em relação ao aumento de peso da população. Ele lembra que a ação da Abima é complexa, por serem os meios de comunicação verdadeiros divulgadores de falsas informações. "Basta uma informação distorcida numa novela, como vi recentemente, sobre possíveis malefícios causados pelo macarrão, para se jogar fora todo um trabalho científico. Por isso nossa ação tem de ser de formiguinha mesmo, para reverter esse quadro", reconhece Luís Eugênio. Ele aponta que, além da desinformação, o setor enfrenta problemas estruturais, como a alta carga tributária, que dificultam uma melhor posição do Brasil relacionada ao consumo per capita mundial. "Mesmo Luís Eugênio Pontes, presidente do Sindtrigo e do Sindmassas Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 15 5,9 bilhões de reais O mercado brasileiro de massas alimentícias registrou faturamento de 5,9 bilhões de reais no ano passado, crescimento 1% acima do verificado em 2009. Nos últimos cinco anos, o faturamento acumulado apontou aumento de 18%. Os números fazem parte da pesquisa anual realizada pela Abima (que representa também os setores de pães e bolos industrializados) em conjunto com a Nielsen. No comparativo de 2009 com 2010, as massas frescas cresceram em faturamento 12% e as instantâneas 7%. O aumento se deve, diz Cláudio Zanão, à mudança de valores de consumo no país. Segundo ele, os brasileiros estão à procura de produtos que ofereçam mais benefícios à saúde e que sejam de fácil preparo. Zanão explica que o tempo Nos últimos cinco anos, o faturamento de massas alimentícias acumulado apontou aumento de 18% médio gasto na elaboração de refeições caiu de uma hora, na década de 1990, para 20 minutos em 2010. Já o crescimento do consumo das massas frescas em 2010 é explicado pela consolidação da sofisticação nas compras dos consumidores. "Observamos que com maior poder aquisitivo o brasileiro passou a adquirir produtos e serviços Premium, seja para sua mesa, dispensa ou geladeira", finaliza Cláudio Zanão. Quebrando tabus C M Y CM MY CY CMY K As massas alimentícias constituem uma alternativa saudável e econômica em quase todas as sociedades. As refeições saudáveis com massas alimentícias são uma deliciosa maneira de se incluir ou aumentar o consumo de vegetais, leguminosas e outros alimentos considerados saudáveis. Muitos ensaios clínicos confirmam que é o excesso de calorias, não de carboidratos, o responsável pela obesidade. As dietas com sucesso em promover a redução de peso baseiam-se em proporções variáveis, adequadas e saudáveis de carboidratos, gorduras e proteínas. Médicos, nutricionistas e outros profissionais de saúde devem recomendar refeições saudáveis com massas alimentícias que sejam variadas e balanceadas. 16 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 Pesquisas científicas apontam cada vez mais a importância da dieta como um todo, em vez de alimentos ou nutrientes individualmente considerados. As refeições saudáveis com massas alimentícias são um componente chave de muitos padrões alimentares saudáveis em todo o mundo, como a dieta mediterrânea, já comprovada cientificamente. Num momento em que a obesidade e o diabetes aumentam em todo o mundo, as refeições com massas alimentícias e outros alimentos de baixo índice glicêmico podem ajudar a controlar a glicemia e o peso corporal, especialmente em indivíduos com sobrepeso ou obeso. O índice glicêmico é um dos vários fatores que influenciam a saudabilidade dos alimentos. As refeições saudáveis com massas alimentícias são apreciadas em várias culturas no mundo inteiro. Panificação, reciclagem, redes de dormir, rochas ornamentais e sorvetes são os cinco novos segmentos industriais cearenses que farão parte do Procompi, a ser executado até 2013 O s setores de panificação, reciclagem, redes de dormir, rochas ornamentais e sorvetes compõem os cinco novos segmentos industriais do estado do Ceará que farão parte do Programa de Apoio à Competitividade das Micro e Pequenas Indústrias (Procompi), a ser executado até 2013. O programa, realizado por meio de parceria entre a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), apoia trabalho de estímulo e fortalecimento de micro e pequenas indústrias, priorizando a implementação de ações coletivas. 18 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 Na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), o Procompi é executado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL/CE) desde 1999. A partir de então, segundo a gerente da Área de Prospecção e Tendências da entidade, Margareth Lins, foram desenvolvidos 17 projetos, beneficiando 14 setores, e atendidas 300 empresas. O alvo do trabalho são os empreendimentos industriais de micro e pequeno porte, obedecendo ao limite imposto pela Lei Geral das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. Nesse sentido, ressalta Margareth, a metodologia procura atuar com grupos de no mínimo 25 indústrias de um mesmo setor, nas áreas de gestão empresarial, tecnológica e produtiva. “ O programa estimula a estruturação da governança, assegurando a continuidade futura das ações. “ IEL aprova cinco novos projetos Com relação à parte empresarial, o programa procura trabalhar aspectos como liderança, estratégias e planos e clientes e mercado, entre outros. Quanto à gestão tecnológica, são vistos pontos como design, propriedade intelectual, tecnologia da informação e inovação. Na gestão produtiva, são abordados desde a eficiência energética, passando por saúde e segurança do trabalho, metrologia e qualidade. A ideia do Procompi, explica Vera Ilka Meireles Sales, superintendente do IEL/CE, é levar para dentro das empresas a importância da gestão eficiente para torná-las competitivas. Por isso, antes do início do trabalho diretamente relacionado com o grupo de empresas, algumas etapas precisam ser cumpridas, como seminário de sensibilização e adesão das empresas. Depois, são providenciadas a elaboração de um diagnóstico empresarial e a estruturação do plano de ação. Margareth Lins explica que, dentre as etapas de ação do programa, uma das mais importantes é a pactuação de responsabilidades, haja vista que o trabalho em grupo no Procompi requer esse comprometimento. Como tarefa do IEL, constam ainda o monitoramento e a avaliação durante todo o processo de execução. Ao final do processo, diz Margareth, é sempre promovido um workshop, no qual é fechado o ciclo e propostas novas etapas a serem atingidas pelas empresas. Foto: JOSÉ SOBRINHO Procompi Vera Ilka Meireles Sales, superintendente do IEL/CE Dos cinco projetos que serão trabalhados até 2013, três fazem parte de segmentos que desenvolveram outras ações mediante o Procompi: panificação, redes de dormir e sorvetes. Um dos principais objetivos do programa, destaca Vera Ilka, é fortalecer os núcleos setoriais, estimulando a cooperação entre as empresas para atuarem em conjunto na resolução dos problemas comuns. “Isso é possível porque o programa estimula a estruturação da governança, assegurando a continuidade futura das ações.” Estreantes no programa O s setores de reciclagem e de rochas ornamentais são dois segmentos que participam pela primeira vez do Procompi. No primeiro caso, segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Reciclagem de Resíduos Sólidos, Domésticos e Industriais do Estado do Ceará (Sindiverde), Marcos Albuquerque, o trabalho está na fase de sensibilização para a adesão das empresas que compõem o setor de reciclagem da região metropolitana de Fortaleza. Ao mesmo tempo, afirma que está sendo iniciada a aplicação dos diagnósticos empresariais para subsidiar o IEL no plano de ação a ser adotado. Albuquerque, todavia, ressalta que, mesmo ainda estando na fase inicial do diagnóstico, o Procompi deverá agregar importante valor aos participantes, levando-se em conta a precariedade na questão de gestão das empresas. Ele acrescenta: “Em sua maioria são empresas de pequeno porte, em que aspectos como gestão administrativa, financeira e de produção passam ao largo na hora da tomada de decisões dos gestores e até em seu dia a dia. François Paul Charron, diretor do Sindicato das Indústrias de Mármores e Granitos do Estado do Ceará (Simagran), que tem conduzido o processo no IEL pelo sindicato, diz que já houve a finalização das adesões das empresas, conclusão da aplicação dos diagnósticos empresariais e a realização dos eventos de apresentação e estruturação do plano de ação. No âmbito do sindicato, o dirigente destaca que já foram realizadas três reuniões entre os participantes e o IEL. “O trabalho está pronto para ser iniciado”, arremata François Paul. François Paul: "O trabalho está pronto para ser iniciado" Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 19 Projetos previstos para o CE: 2010-2013 Panificação da região Norte. Inovaçoes &Descobertas ATENDE AO ARTIGO 8 E 9 DA PORTARIA ANEEL N° 466 DE 12/11/97 E RESOLUÇÃO N° 456 DE 29/11/2000 o Sindicato das Indústrias de Sorvetes do Estado do Ceará (Sindsorvetes) participa pela segunda vez do Procompi. De acordo com o presidente da instituição, Roberto Botão, o projeto trouxe boas expectativas para o setor. Na época da implantação do primeiro projeto, em 2007, o sindicato tinha pouca estrutura. “Ao participar, conseguimos reestruturar o sindicato, formalizar os postos de trabalho e crescer a base sindical", destaca. Também foi implementada a capacitação do segmento por meio de profissionais oriundos de outros estados para a realização de treinamentos. Agora, afirma Roberto Botão, a intenção é ampliar as possibilidades que surgiram com a melhoria da qualificação. A intenção é consolidar o setor como potencialmente econômico. São vários os fatores, que vão desde o clima propício ao consumo, passando pelo preço do sorvete e a qualidade da produção. Roberto Botão, no entanto, reforça a necessidade de que as empresas se preparem cada vez mais em relação à competitividade. "O Procompi tem esse finalidade e nós precisamos saber usar", completa. Banheiro sem água e sem esgoto Roupas feitas de leite APROVADO Ampliação das expectativas Reciclagem da região metropolitana de Fortaleza. Redes de dormir da região metropolitana de Fortaleza e APL redes de dormir de Jaguaruana. Rochas ornamentais da região metropolitana de Fortaleza. Sorvete da região metropolitana de Fortaleza. Agora, sua empresa já pode contar com EconomicLuz. Procompi/CE em números: 1999-2009 17 projetos realizados. 14 setores contemplados: Confecções Têxtil/redes de dormir Panificação Cerâmica vermelha Gráfico Embalagem Pré-moldados Construção civil Bebidas/cachaça Sorvete Laticínios/queijo Metal-mecânico Móveis Serraria O sistema é aprovado pela ANEEL e atua na rede elétrica protegendo os equipamentos eletroeletrônicos de descargas atmosféricas (raios), alterações de tensão, oscilações de energia, distorções de frequência. Além de evitar danos nas instalações, aumentar a produtividade e a vida útil dos aparelhos, o sistema é digital e garante a melhoria na qualidade da energia. Ou seja, é economia certa. Para agendar uma visita e mais informações (85) 3077-5022 | 3077-5032 300 empresas atendidas. 20 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 www.economicluz.com.br A Fundação Bill & Melinda Gates anunciou em julho que investirá 42 milhões de dólares numa pesquisa para criar uma privada sustentável. Parece até brincadeira, mas o assunto é sério e poderá ser vital para bilhões de pessoas, especialmente em países pobres. A ideia do bilionário da informática Bill Gates é desenvolver novas tecnologias para o processamento de dejetos humanos sem ligação a linhas de água, energia ou esgoto. A tarefa caberá a um grupo de cientistas e engenheiros da Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda. O grupo pretende usar a tecnologia de micro-ondas para transformar os dejetos humanos em eletricidade. Inicialmente, os dejetos serão secos e, em seguida, gaseificados utilizando plasma, criado por micro-ondas em um reator apropriado. Esse processo vai gerar o chamado gás de síntese – mistura de monóxido de carbono (CO) e hidrogênio (H2) – que será usado para alimentar um conjunto de células de combustível de óxidos sólidos para a geração de eletricidade. No momento, 2,6 bilhões de pessoas, 40% da população mundial, não têm acesso a sanitários com descarga. Um bilhão de pessoas defeca ao ar livre e 1,5 milhão de crianças morre, a cada ano, por causa da diarreia. A designer e microbiologista alemã Anke Domaske descobriu mais uma utilidade para o leite. Além de queijo, iogurte e bolos, entre outras dezenas de alimentos, agora pode ser usado para fabricar roupas. Anke explica que, para transformar o líquido em fio, os cientistas de sua equipe usaram uma mistura especial de uma proteína derivada do leite em estado de azedo, processada em laboratório. A substância é aquecida e pressionada por uma espécie de máquina de trituração para criar as linhas. Batizado de eco-friendly, o tecido já está sendo produzido em escala industrial e vem sendo usado para fabricar uma linha de roupas ecológicas voltadas para o público feminino. Para a designer, uma das grandes qualidades da fibra do leite é que ela tem uma textura sedosa e pode ser produzida sem o uso de pesticidas. “Embora a maioria das pessoas veja o leite somente como um alimento, ele é realmente um maravilhoso recurso natural que pode ser usado para coisas com as quais ninguém nunca sonhou”, disse Anke. A coleção da fibra revolucionária foi apresentada em julho passado e vem recebendo elogios de vários países. A ideia agora é trabalhar em uma linha masculina. Atuando no mercado de “eco luxo”, os itens custam entre 340 reais e 450 reais. Tenda inflável vira concreto Caixa de aço dobrável Os engenheiros britânicos Peter Brewin e Will Crawford inventaram uma tenda que, ao ser molhada, se transforma num abrigo de concreto. A novidade, que já foi testada na Etiópia para auxiliar em projetos de agricultura, pode durar décadas. A tenda é inflável e revestida de plástico pelo lado de dentro; por fora é feita com um tecido especial que contém concreto. Uma vez inflada, é presa ao chão com pregos de metal. Em seguida, é regada com água, que não precisa necessariamente ser potável ou doce. Em 24 horas, o tecido de concreto endurece e a tenda está pronta para ser usada. Os engenheiros estimam que, com uma hora de trabalho, duas pessoas conseguem erguer uma tenda que ocupe 54 metros quadrados. O abrigo, que também pode ser utilizado em campos de refugiados, pode ser perfurado e receber fiação, tomadas e luzes no teto. Os inventores explicam que as tendas são à prova de fogo, podem ser fechados com portas e não atingem grandes temperaturas sob o sol. Atualmente, o maior problema da invenção é o seu alto custo: 16 000 dólares (mais de 25 000 reais), mas poderá ser bem menos caso haja aumento da demanda no futuro, garantem os construtores. A famosa arte japonesa de criar objetos de papel com várias dobras está chegando à indústria de embalagens metálicas. Zhong You e Weina Wu, da Universidade de Oxford, utilizaram a mesma técnica de dobradura e a aplicaram para construir uma sacola metálica que pode ser totalmente dobrada quando não está em uso. A caixa metálica de origami é a aposta dos cientistas para revolucionar o sistema industrial de empacotamento. O protótipo foi construído com chapas de aço inoxidável coladas sobre um plástico flexível. As bordas onde as placas de aço se encontram funcionam como vincos, as marcas onde as dobras devem ser feitas. Os cientistas explicam que a questão é importante para o setor de embalagens porque as caixas rígidas de papelão só podem ser dobradas para o transporte se suas partes superior e inferior estiverem abertas. Caixas de embalagens que já cheguem com o fundo montado representarão um ganho significativo de tempo, além da possibilidade de automação do processo. Museu da Indústria Foto: JOSÉ SOBRINHO POR ÂNGELA CAVALCANTE 22 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 “ Foto: JOSÉ SOBRINHO Em todo o Brasil, somente o Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol, ambos em São Paulo, possuem a mesma tecnologia adotada pelo primeiro equipamento museográfico industrial do Ceará U É um museu diferente dos outros. Em vez de um simples repositório de máquinas e equipamentos antigos, nele irá predominar o acervo virtual. “ Aliando história e desenvolvimento m elo que une passado, presente e futuro da indústria cearense, capaz de estimular a economia e o desenvolvimento do estado, permitindo a interação entre visitantes, pesquisadores, educadores, estudantes, profissionais e investidores de vários países. É essa a proposta do Museu da Indústria do Ceará, um equipamento histórico aliado à modernidade, com 95% de acervo virtual. Único da categoria a adotar tecnologia de ponta, o museu tem inauguração prevista para maio de 2012. Concebido no final da década de 90 pelo consultor cultural do Sistema FIEC Danilo Pereira, à época exercendo o cargo de superintendente técnico-operacional, o projeto passou por várias etapas e adaptações até sair do papel. Da escolha do prédio construído no fim do século 19 e localizado atualmente no principal corredor histórico do Centro de Fortaleza, passando pela restauração do edifício depois de 20 anos de abandono e pela organização do acervo até chegar ao pré-lançamento do museu, em 30 de junho deste ano, várias ideias se somaram, profissionais foram contratados e novas tecnologias adicionadas. O resultado é um instrumento arrojado e dinâmico, que causa impacto e impressiona. Antes de abrir definitivamente as portas ao público visitante, o Museu da Indústria do Ceará entra em nova fase de obras de engenharia, inclusive com o início da construção de um prédio anexo, que abrigará a administração do equipamento. “Nós constatamos que as instalações atuais não eram suficientes para abrigar todo o museu, sobretudo agora a partir da concepção virtual. Vamos utilizar todas as dependências, inclusive as que estavam destinadas ao Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), seção Ceará”, explica Danilo Pereira, para acrescentar: “E assim mesmo não será suficiente para atender a todo o quadro de serviços do museu. Por isso o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Roberto Proença de Macêdo, autorizou a construção, ao lado do prédio, de um anexo para abrigar a administração do museu”. Além da construção do anexo, serão revistos os principais sistemas instalados na edificação, nas áreas de eletricidade, segurança, ar-condicionado etc. “Enquanto estiverem perdurando as obras, a parte virtual será suspensa para não comprometer os equipamentos caríssimos de ponta, alguns deles comprados fora do país”, destaca Danilo Pereira, que, mesmo com a ampliação das obras de engenharia, espera se possa inaugurar o equipamento museográfico em maio do próximo ano, no Dia da Indústria. A virtualidade e o conceito do equipamento têm a assinatura do curador Júlio Heilbron, proprietário Danilo Pereira, consultor cultural do Sistema FIEC e mentor do museu da EMC Mkt Cultural, empresa especializada que presta consultoria ao Serviço Social da Indústria (SESI/CE) na formatação e instalação do museu. “Ele é memória viva em permanente diálogo com a contemporaneidade, utilizando a mais moderna tecnologia existente, como projeções sincronizadas, telas touch screen e interação com os visitantes. Teremos constantes exposições temporárias com focos diferentes, contemplando as áreas têxtil, de energias e metal-mecânica, dentre outras”, diz Heilbron. Segundo ele, existem cerca de 80 museus de indústria funcionando no mundo. Entretanto, o diferencial do equipamento cearense é seu conteúdo ser 95% virtual. “Nossa ideia é fazer convênios com todos esses museus para termos acesso a um grande e rico tráfego de informações.” No contexto da avançada museologia contemporânea do Museu da Indústria do Ceará, Heilbron afirma que algumas peças antigas doadas por indústrias funcionarão simultaneamente ao lado dos acervos virtuais. “Pretendemos, com isso, mostrar que a indústria é motor da cultura, do desenvolvimento, da inovação e da competitividade.” Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 23 24 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 “ O Museu da Indústria foi projetado para ser sustentável. A amplitude do seu acervo e a sua localização contribuirão para que tenha várias fontes de recursos próprios. Localizado em tradicional corredor histórico turístico de Fortaleza, onde se visualizam importantes prédios da capital, como o Centro Dragão do Mar, a Santa Casa de Misericórdia, a Estação Terminal Professor João Felipe, o Passeio Público, o Seminário da Prainha, a Catedral, o Quartel da 10ª Região Militar, o Centro de Artesanato, o Teatro José de Alencar etc., o equipamento deverá ser incluso no roteiro de visitação turística da capital cearense. A proposta será apresentada às secretarias de Turismo do estado e da prefeitura. As instalações serão oferecidas a empresas e governos para a realização de eventos e a renda será revertida em favor do museu. Outra área de atuação pretendida pelo equipamento é a coprodução de livros de arte a serem comercializados. “Iremos produzir livros, teremos uma loja de souvenir, alugaremos espaço para lançamentos de produtos. Enfim, queremos ter fontes de renda próprias. O museu será sustentável”, garante Heilbron. Danilo Pereira também sonha com a venda no museu de CDs e DVDs contendo estudos econômicos desenvolvidos por especialistas locais, conferências e palestras. “No Sistema FIEC não existe ainda a cultura de comercializar seus trabalhos. Vamos criar essa cultura e trazer renda para o museu”, planeja. “Já vimos captando recursos mediante a Lei Rouanet e continuaremos adotando essa política por meio de empresas industriais, que investirão na conta de recursos subsidiados do museu”, diz Danilo Pereira, para completar: “Outro projeto é criar a Sociedade dos Amigos do Museu, pelo qual os associados contribuirão mensalmente com o museu e, em contrapartida, terão privilégios em relação aos serviços colocados à disposição pelo museu”. Para o superintendente regional do SESI/CE, Francisco das Chagas Magalhães, o equipamento será uma ferramenta fundamental também à área de educação, podendo gerar parcerias. “Vejo esse espaço com uma sala de aula repleta de atratividade para o jovem que está na fase de escolha da profissão. Vamos promover muitas ações de educação aqui. Enxergo a possibilidade de um espaço autossustentável”, finaliza. Pretendemos mostrar que a indústria é motor da cultura, do desenvolvimento, da inovação e da competitividade. Júlio Heilbron, curador do museu e proprietário da EMC Mkt Cultural Projeto de desenvolvimento P ara o presidente em exercício da Adece, Zuza de Oliveira, o Museu da Indústria do Ceará é muito mais do que um memorial do segmento industrial cearense. “Considero o equipamento um projeto de desenvolvimento. Quando fiz sugestões para ampliar o acervo foi para influenciar a geração de negócios no Ceará. Se vamos interagir com outro museu em Londres, por exemplo, então um investidor que acessar nosso museu de lá vai ver as potencialidades de negócio no estado, a relação da indústria com a evolução e a gestão de águas, a nossa cultura, as cadeias de negócios existentes e o que visualizamos para o futuro. Devido a todo esse acervo, vejo o Museu da Indústria do Ceará como um ambiente de cultura e negócios. Um verdadeiro vetor de negócios para o estado”, resume Zuza de Oliveira. Zuza de Oliveira, presidente em exercício da Adece, vê o museu como um verdadeiro vetor de negócios para o estado Foto: JOSÉ SOBRINHO Foto: JOSÉ SOBRINHO Diretores da FIEC conhecem o sistema interativo que permite navegar na linha do tempo No último ambiente, telas exibem simultaneamente as potencialidades de negócios promissores no Ceará, inclusive no ramo do agronegócio, o caminho das águas e o futuro previsto para o estado. Na ilha, que expõe o caminho das águas, é demonstrado como o gerenciamento hídrico vem abrindo fronteiras e proporcionando o desenvolvimento industrial em diversas regiões cearenses. A exposição se encerra com uma projeção centralizada dos negócios que prometem se consolidar nos próximos anos. O acervo de informações desses espaços será atualizado pela Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) e pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). “No espaço reservado aos produtos cearenses, no momento estamos apresentando a floricultura, a fruticultura, a moda e as energias eólica e solar. No quadro do futuro temos hoje o coração artificial, a robótica, a produção de trens e todas as coisas novas do Ceará. Isso é muito bom porque todos que tiverem acesso às instalações virtuais do museu também vão acessar os produtos do estado, inclusive o que está sendo preparado para o futuro. A iniciativa coloca a produção do Ceará em contato com o mundo todo. Então, é estratégico para nosso desenvolvimento e muito bom para o museu porque enriquece seu acervo”, avalia Danilo Pereira, para quem a participação da Adece é muito importante ao empreendimento. Segundo ele, a parceria com a Cogerh também será fundamental. “O Ceará é muito conhecido pela boa administração dos recursos hídricos. Por meio da Cogerh vamos manter acervos que tratam sobre o gerenciamento dos recursos hídricos – mais um tema que vai ampliar o Museu da Indústria, mostrando o quanto somos privilegiados no gerenciamento das águas. Ao mesmo tempo, essa é uma contribuição muito grande que o museu vai dar à economia do Ceará”, acrescenta Danilo Pereira. Foto: JOSÉ SOBRINHO N a entrada do salão de exposição do museu da indústria há a introdução da história do Ceará, com a chegada da família real, em 1808, passando por imagens de marcas, produtos e indústrias que remontam o início da industrialização no estado. O impacto é causado pelo sistema de projeção centralizado, que provoca uma sensação de imersão no tempo e na história da indústria cearense. O tipo de tecnologia adotada na exibição é inédito no Ceará e também em toda a Região Nordeste, de acordo com o curador. “Em todo o Brasil só existem dois outros museus que utilizam a técnica: o Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol, ambos em São Paulo”, observa Heilbron. O pavilhão seguinte é dividido em dez ilhas virtuais com sistema interativo, que permite ao visitante navegar na linha do tempo. No prélançamento do museu, ocorrido em 30 de junho último, foi possível navegar até 1924 e acessar dados da indústria nacional, disponíveis em três ilhas enfileiradas do lado direito do salão. Do lado esquerdo, em frente às ilhas, objetos que pertenceram a indústrias cearenses em séculos passados materializam o acervo. Mais adiante, outras três telas exibirão filmes institucionais do SESI/CE, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/CE) e FIEC. No fundo do salão, uma tela maior exibirá projeções que serão permanentemente renovadas sobre segmentos da indústria cearense. Museu será sustentável “ Passeio virtual Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 25 Paredes guardam história Para ele, o maior desafio do museu no momento é obter sustentabilidade a fim de garantir sua manutenção e custeio. “Este é o desafio”, sublinha. O presidente da FIEC ratifica a previsão de funcionamento do museu. “Estimo que esteja pronto em maio de 2012”. Até lá, serão atualizadas as pesquisas do acervo virtual, que durante o pré-lançamento, em 30 de junho, só pôde ser acessado pelos visitantes no período de 1808, no Brasil colonial, até 1924. Objetos contrastam U ma peça de engrenagem de moinho datado do século 19; uma balança de algodão da mesma época; um alambique e um tear, ambos do século 20, são alguns dos objetos doados por indústrias cearenses que fazem parte do seleto acervo físico do Museu da Indústria do Ceará. Ao lado de outras peças – máquina de costura para couro e prensa de madeira para fardos de couro, além de móveis e equipamentos que pertenceram à indústria gráfica, como impressora linotipo, máquina Gutemberg e armário guardatipos – igualmente valiosas e iconográficas, elas constituem os 5% de antiguidades que contrastam com a virtualidade inerente ao museu. De acordo com o curador adjunto, Gildácio Sá, a ideia é manter parte dessas peças funcionando durante as visitações públicas, para aguçar o imaginário e o fascínio dos visitantes pelo museu e pela história da indústria cearense. Sistema de projeção centralizado à entrada do museu FotoS: JOSÉ SOBRINHO Objetos que pertenceram à indústria no passado contrastam com a tecnologia de ponta 26 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 S ituado no número 143 da Rua João Moreira, esquina com a Rua Floriano Peixoto, em frente ao Passeio Público, no Centro de Fortaleza, o edifício que abrigará o Museu da Indústria do Ceará foi cenário da Casa Cor Ceará 2007 e da solenidade de entrega do Prêmio Marcantonio Vilaça, iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do SESI Nacional ocorrida em janeiro de 2009. Projetado pelo arquiteto Adolfo Hebster, em meados do século 19, para sediar a Sociedade União Cearense – primeiro clube social de Fortaleza –, o prédio foi endereço no passado do Hotel do Norte, dos Correios (entre 1895 e 1935) e da The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltda., empresa inglesa que atuava no fornecimento de energia elétrica e no serviço de bonde da cidade. O edifício se tornou mais tarde patrimônio da Coelce, que o vendeu ao SESI praticamente em ruínas. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por meio da Lei n° 9.109 de 30 de julho de 1968, o imóvel foi restaurado entre 2005 e 2007, contando com parceria do Iphan e da Universidade de Fortaleza (Unifor), sob a liderança do arquiteto Domingos Cruz Linheiro, para abrigar o museu por meio do patrocínio de várias empresas e instituições a partir de recursos da Lei Rouanet. Foto: JOSÉ SOBRINHO Para Roberto Macêdo, o museu surpreende por seu acervo, tecnologia e potencial. “É uma exposição estimulante. No início eu não tinha a menor ideia. Só agora tive a exata compreensão da ferramenta magnífica que possuímos. Esse equipamento vai permitir que possamos acessar o inimaginável”, exclama. Conforme Roberto Macêdo, a localização do Museu da Indústria do Ceará é outro ponto positivo, que contribuirá para recuperar e dar vida nova ao Centro de Fortaleza. “Deverá ser um equipamento turístico da cidade”, projeta. SESI adquiriu o edifício praticamente em ruínas Parceiro inovador Os esforços do Sistema FIEC para ampliar a capacidade tecnológica inovadora da indústria cearense se materializam na criação de estruturas que reproduzem o ambiente de trabalho A té 2014, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/CE), entidade do Sistema FIEC, estima que sejam geradas 245 000 vagas de trabalho na indústria cearense para atender às demandas dos investimentos que chegam ao estado, como a refinaria e a siderúrgica – ambas no Complexo Portuário e Industrial do Pecém –, a Transnordestina, o Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC) e as obras de infraestrutura destinadas à Copa do Mundo, dentre outras. Os empregos e indústrias que emergem do novo cenário econômico têm como pré-requisito básico a inovação – fator indispensável para garantir a competitividade e a sobrevivência das empresas cearenses, antevê o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Roberto Proença de Macêdo. 28 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 Segundo ele, além de inserir a cultura da inovação como parte das estratégias empresariais, os empreendimentos precisam do apoio de instituições que atuam no âmbito da ciência e tecnologia. E o SENAI/CE, nesse contexto, é parceiro das indústrias em suas necessidades de inovação por meio da oferta de serviços técnicos e tecnológicos e da formação de profissionais capacitados para lidar com as novas tecnologias. De acordo com Roberto Macêdo, os esforços da FIEC para ampliar a capacidade tecnológica inovadora da indústria cearense se materializam na criação de estruturas que reproduzem o ambiente de trabalho, com laboratórios de ponta e profissionais com perfil para atender às novas demandas. Para assegurar o aumento da competitividade, defende a convergência das iniciativas existentes por meio da Tecnologia industrial C om base no acompanhamento contínuo das demandas do setor industrial do estado é que o Centro de Educação e Tecnologia Alexandre Figueira Rodrigues, unidade do SENAI/CE instalada no Distrito Industrial de Maracanaú, zona metropolitana de Fortaleza, passará por uma grande expansão, com previsão inicial de conclusão para o primeiro semestre de 2012. De acordo com o gerente da unidade, Tarcísio Bastos, a intenção é transformar o SENAI de Maracanaú num centro de tecnologia industrial voltado a atender à demanda da indústria cearense prevista para os próximos anos com a chegada dos novos empreendimentos. “Essa reforma faz parte de um projeto do Departamento Regional que pretende transformar Foto: GIOVANNI SANTOS cooperação interorganizacional visando otimizar recursos e engajar cada vez mais pessoas. “A nossa Federação, com a ajuda da Confederação Nacional da Indústria (CNI), está construindo um Centro de Tecnologia da Cadeia Têxtil no qual estão sendo investidos cerca de R$ 10 milhões. Semelhante a esse investimento, estamos aplicando R$ 16 milhões na Escola SENAI/SESI de Sobral e R$ 15 milhões no Centro de Alta Performance no SENAI de Maracanaú. Temos ainda a montagem de laboratórios em setores industriais como o gráfico e o químico. Tudo isso estará disponível para compartilhamento nos termos de uma agenda efetiva de desenvolvimento científico e tecnológico”, sublinha Roberto Macêdo. De acordo com o diretor regional do SENAI/CE, Francisco das Chagas Magalhães, os investimentos da instituição para ampliar a oferta de serviços técnicos e tecnológicos, bem como o número de matrículas e de cursos da educação profissional que serão oferecidos a cada ano, têm como base o levantamento das necessidades da indústria cearense. Nesse contexto, ele cita o estudo realizado pela Unidade de Tendência e Prospecção do SENAI nacional, em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com base em dados coletados no ano de 2010. “Nossa ideia é manter um observatório permanente do setor industrial e dispor anualmente de um roteiro para a demanda de cursos a serem ofertados no Ceará”, ressalta Magalhães. “ A reforma faz parte de um projeto do Departamento Regional que pretende transformar nossa unidade num centro de tecnologia industrial. Tarcísio Bastos, gerente do Centro de Educação e Tecnologia Alexandre Figueira Rodrigues “ Foto: GIOVANNI SANTOS SENAI/CE nossa unidade num centro que será um grande provedor de soluções para a indústria do Ceará, no qual serão inseridos cursos de formação de nível superior, tendo a inovação e a pesquisa tecnológica como principal foco”, antecipa Tarcísio. Os cursos de educação superior a serem inaugurados até 2014 também serão alinhados às demandas da indústria. Outro requisito é que não sejam ofertados no mercado cearense. Os cursos serão formatados com base no levantamento das demandas do setor. A mudança, segundo o gerente, vai permitir a ampliação da atuação da unidade para outras áreas específicas como transformação de plásticos, metalurgia com foco em siderurgia e petróleo e gás. Nas áreas de automação industrial e mecânica, nas quais o SENAI Maracanaú já atua, também haverá expansão. “Na automação, que hoje só contempla instrumentação e controle de processos, vamos avançar para sistemas de controle e mecatrônica. Na mecânica, haverá uma área voltada para moldes plásticos e ampliação do atendimento em usinagem. Nos aprofundaremos também na área de materiais, tanto na formação de profissionais como em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para auxiliar a indústria na melhoria da qualidade de seus produtos”, explica Tarcísio. Em relação à estrutura física, o SENAI de Maracanaú se tornará mais de cinco vezes superior à área atual. “Hoje, temos 2 400 metros quadrados de área construída. Vamos passar a ter 13 000 metros quadrados”, diz o gerente. O projeto de expansão englobará um minicentro de eventos e um refeitório. Com a mudança, a capacidade de produção da unidade será duplicada. “Nossa capacidade produtiva atual é de aproximadamente 6 000 matrículas/ano. A meta da unidade para Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 29 torno de 1 milhão de reais. Mas essa será apenas uma pequena parte de todo o processo de ampliação. O recurso do Departamento Nacional, destinado para as obras da primeira etapa, já está disponível no SENAI/CE”, ressalta o gerente. O Centro de Tecnologia Industrial terá capacidade de atender a demandas nas áreas tecnológicas, transversais a todo o setor industrial. “Não vamos ensinar a fazer sapato, mas ofereceremos tecnologia para a indústria de calçados desenvolver um produto melhor, de maior qualidade”, finaliza Tarcísio Bastos. Têxtil e vestuário O Foto: JOSÉ SOBRINHO O laboratório têxtil e vestuário dará lugar ao Centro de Tecnologia Centro de Tecnologia da Cadeia Têxtil e do Vestuário é outra aposta do SENAI/CE. Localizado na unidade do bairro Parangaba, em Fortaleza, estão sendo investidos 10 milhões de reais na construção do equipamento, que irá treinar cerca de 4 000 pessoas e realizar em torno de 200 atendimentos entre serviços técnicos e tecnológicos por ano. Com previsão de inauguração em 2012, o centro irá operar com o apoio das empresas e sindicatos do setor. “É um empreendimento muito importante porque vai preencher uma lacuna existente há muito tempo. Seu grande diferencial é que irá contemplar toda a cadeia. Vamos ter uma fábrica dentro do SENAI que trabalha do têxtil 30 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 ao vestuário – dois principais elos da cadeia”, explica a gerente do Centro de Formação Profissional Ana Amélia Bezerra de Menezes e Souza, Oirta Vasconcelos. Segundo ela, considerando toda a cadeia, o centro possibilitará o acesso do insumo ao produto acabado. “Isso é informação tecnológica para o aluno, que vai poder visitar processos produtivos dos dois segmentos, da abertura do algodão à peça confeccionada. Hoje, já temos funcionando o processo produtivo da confecção, mas com o centro teremos também o têxtil. Será importante para clientes e fornecedores”, afirma a gerente. O novo equipamento atenderá ao setor têxtil também com cursos de aprendizagem, sendo parte no SENAI e parte na própria empresa, com a modalidade de treinamentos in company. Para Ivan Bezerra Filho, presidente do Sindicato das Indústrias de Tecelagem e Fiação em Geral do Estado do Ceará (Sinditêxtil), a construção do Centro de Tecnologia da Cadeia Têxtil e do Vestuário faz com que o SENAI avance em excelência, tecnologia e abrangência. “Nós, do Sinditêxtil, expressamos nossa alegria por fazer parte dessa conquista”, comemora. O empresário lembra da importância do segmento. “O Ceará é destaque nacional na produção têxtil, estando em primeiro lugar no ranking de produção de fios e índigo. Além disso, a cadeia produtiva têxtil e de confecção emprega em torno de 60 000 pessoas e um dos desafios que a indústria local enfrenta é a qualificação de profissionais para o setor”, reforça Ivan Filho. Referência regional A estruturação dos laboratórios gráfico e de tintas é um investimento do SENAI/CE que também ajudará a ampliar a competitividade da indústria cearense. De acordo com o empresário Fernando Esteves, presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas do Estado do Ceará (Sindgráfica), o que a entidade está montando, em parceria com seu sindicato, é uma nova escola gráfica no Ceará, que será referência regional. Segundo ele, foi adquirido no Japão um equipamento com tecnologia de ponta – impressora RIOBY 3304, quatro cores – que transformará o Centro de Formação Profissional Antônio Urbano de Almeida, unidade do SENAI localizada no bairro Jacarecanga, numa escola de artes gráficas de última geração. “O SENAI tem sido um grande parceiro da indústria gráfica cearense, tanto pelos cursos de aprendizagem industrial que oferece para que possamos atender às cotas exigidas pela legislação, como também provendo cursos de requalificação de impressor ofsete”, afirma Fernando Esteves. Atento às demandas da indústria gráfica cearense, ele diz que o SENAI/CE mudou o desenho curricular do curso ofertado para adaptá-lo à atualidade, com maior volume de aulas práticas. “O laboratório de papel, papelão e tintas, que atende às indústrias gráficas e de embalagem, integrará a escola de artes gráficas do estado. Com a chegada da impressora, que está em processo de desembaraço aduaneiro para ser retirada do porto, queremos promover cursos práticos para todo o Nordeste e não só para o Ceará. A ideia é que a nossa escola se torne referência regional, como é hoje a escola gráfica do SENAI de São Paulo”, planeja Fernando Esteves. O presidente do Sindicato das Indústrias Químicas, Farmacêuticas e da Destilação e Refinação de Petróleo do Estado do Ceará (Sindquímica), José Dias de Vasconcelos Filho, também está otimista com a estruturação do laboratório de tintas no Centro de Treinamento e Assistência às Empresas (Cetae), voltado à construção civil. “O laboratório do SENAI vai promover a redenção para as 35 empresas de tinta existentes no Ceará, pois todas ainda dependem de laboratórios em São Paulo, com altos custos de correio e frete para enviar as amostras. Vamos ser o segundo estado do país a ter um equipamento de ponta. Esse laboratório de primeira linha irá atender a empresas de toda a região e não só do Ceará”, arremata José Vasconcelos. Com a estrutura física concluída e previsão de inauguração em setembro, o laboratório aguarda a chegada de dois equipamentos – uma estufa (em processo de licitação) e um componente do sistema de refrigeração (o equipamento requer climatização especial) – para começar a funcionar. Laboratório de tinta do Cetae deve entrar em operação em setembro Foto: JOSÉ SOBRINHO 2011 é de 9 300 matrículas, sendo 6 000 dentro da unidade e mais de 3 000 referentes a cursos externos, como treinamentos in company. Com a ampliação, nossa capacidade produtiva ficará em torno de 20 000 matrículas/ano”, diz Tarcísio. O investimento, estimado em 15 milhões de reais, pode chegar a 18 milhões quando o complexo estiver todo construído e com equipamentos funcionando. “Somente na primeira etapa do projeto, que começará no fim deste ano – incluindo o primeiro bloco (da mecânica), a área de atendimento ao cliente e a parte de urbanização – será aplicado em Unidades do SENAI no Ceará No Ceará, o SENAI possui centros de treinamento em Maracanaú, Parangaba, Jacarecanga, Mucuripe, Barra do Ceará, Juazeiro do Norte e Sobral, que ofertam cursos nas áreas metalmecânica, petróleo e gás, têxtil, vestuário, calçados, construção civil e mobiliário e alimentos, dentre outras. Conheça os endereços e acesse os números de telefones das unidades do SENAI existentes em nosso estado para obter mais informações. · Centro de Treinamento e Assistência às Empresas (Cetae) – (85) 3421-5200. · Centro Regional de Treinamento em Moagem e Panificação Senador José Dias de Macêdo (Certrem) – (85) 3421-5100. · Centro de Formação Profissional Ana Amélia Bezerra de Menezes e Souza (CFP AABMS) – (85) 3421-6133. · Centro de Educação e Tecnologia Alexandre Figueira Rodrigues (CETAFR) – (85) 3421-5000. · Centro de Formação Profissional Waldyr Diogo de Siqueira (CFP WDS) – (85) 3421-5500. · Centro de Formação Profissional Wanderillo de Castro Câmara (CFP WCC) – (88) 3571-2185. · Centro de Formação Profissional Antônio Urbano de Almeida (CFP AUA) – (85) 3421-5302. Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 31 Interiorização é o desafio Realização da reunião ordinária semanal da diretoria plena em Juazeiro do Norte é parte do programa de reuniões itinerantes desenvolvido desde o início deste ano pelo presidente Roberto Proença de Macêdo L ocalizada numa área geográfica de 15,23 mil quilômetros quadrados, formada por 27 municípios que reúnem 892,56 mil habitantes – 10,91% da população do Ceará –, a Região do Cariri se destaca como umas das economias mais promissoras do estado, crescendo acima da média nacional. Suas riquezas somam 4,77 bilhões de reais, valor que corresponde a 6,36% do Produto Interno Bruto (PIB) cearense. Nesse cenário, estão localizadas 751 indústrias formais, que geram 12,3 mil empregos diretos, representando 4,26% do número de industriários cearenses. A força do Cariri para o desenvolvimento do Ceará se fundamenta no apoio colocado à disposição da indústria local pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) – braço forte na formação de mão de obra, oferta de serviços técnicos e tecnológicos e na educação profissional, por 32 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 meio do Serviço Social da Indústria (SESI/CE) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/CE). E a parceria entre a Federação e a indústria caririense vai aumentar com a instalação da unidade do Instituto Euvaldo Lodi (IEL/CE) no dia 25 de agosto, conforme anunciou o presidente da entidade, Roberto Proença de Macêdo, durante visita de comitiva da instituição a Juazeiro do Norte nos dias 17 e 18 deste mês. O potencial de crescimento foi revelado também durante reunião da diretoria realizada no dia 18 de agosto, na unidade do SENAI/CE Wanderillo de Castro Câmara, com a participação de empresários e lideranças políticas. Além dos empreendimentos projetados para o Cariri, como a ampliação do aeroporto de Juazeiro, a construção do centro de convenções regional e a criação de oportunidades de negócio Foto: GIOVANNI SANTOS para atrair novos empreendedores à região, os números apresentados por Francisco das Chagas Magalhães, diretor regional do SENAI/CE e superintendente regional do SESI/CE, confirmam a existência de um espaço a ser conquistado pela FIEC no cenário industrial local. Conforme dados apresentados na reunião, das 751 indústrias instaladas no Cariri, 24% são contribuintes do Sistema S. Na região metropolitana, que concentra 70,63% do Produto Interno Bruto (PIB) do Cariri, equivalente a R$ 3,37 bilhões, e abrange nove municípios – Juazeiro, Crato, Barbalha, Caririaçu, Missão Velha, Jardim, Santana do Cariri, Nova Olinda e Farias Brito –, são 160 indústrias contribuintes. Segundo Roberto Macêdo, os números representam um desafio para o Sistema FIEC: “O Cariri para nós é um desafio símbolo da interiorização no Ceará”. No primeiro semestre deste ano, o atendimento em educação profissional do SENAI/CE no Cariri totalizou 1 405 matrículas, sendo 352 gratuitas e 1 053 demandadas. No SESI, o número de matrículas de janeiro a junho superou a meta prevista para o ano tanto na educação de jovens e adultos (EJA) como na educação continuada. No primeiro caso, foram 938 matrículas – 120 acima da meta estipulada em 818. Na educação continuada, foram 6 793 matrículas até junho contra as 6 452 previstas. Apesar de acima das expectativas, as estatísticas de atendimento da instituição têm ainda grande potencial de crescimento. Na lista dos investimentos demandados para aumentar a oferta de serviços do SENAI às indústrias da região estão a implantação de infraestrutura para atendimento específico à área da construção civil, ação que se encontra em andamento; a instalação de seis novas salas de aula, também em curso, além da implementação de uma oficina de soldagem e outra de calçados – setor chave para o Cariri; ampliação do raio de atendimento até os municípios de Jaguaribe e Iguatu, assim como a aquisição de um centro de usinagem e uma máquina de medição tridimensional. Na unidade do SESI, em Juazeiro, estão em andamento demandas como a reestruturação física da unidade; a ampliação da área de saúde e segurança do trabalho e a aquisição de unidades móveis para os serviços de educação e de saúde e segurança do trabalho. Outras demandas que necessitam de investimentos são a compra de equipamentos para a área da saúde e a ampliação do raio de atendimento para atender Jaguaribe e Iguatu. De acordo com o diretor regional da FIEC no Cariri, Marco Tavares, além das demandas pertinentes aos setores de calçados e de confecções, hoje o Cariri necessita de recursos da FIEC e da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para que suas unidades no Cariri se tornem aptas a atender a grande demanda de desenvolvimento na região nas áreas da construção civil, metal-mecânica, cerâmica, alumínio e panificação. Juazeiro do Norte visto do horto do Padre Cícero Setor calçadista é um dos mais demandados no SENAI Juazeiro Foto: ARQUIVO SENAI JUAZEIRO Foto: GIOVANNI SANTOS FIEC no Cariri Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 33 Roberto Celestino, vice-prefeito de Juazeiro do Norte agosto em São Paulo durante o 4º Congresso Brasileiro de Inovação na Indústria. Ele reafirmou a importância da inovação e do comércio exterior para ampliar a competitividade das empresas. “Nosso mercado não é o Brasil, mas sim o mundo. A cultura da inovação e do comércio exterior necessita ser disseminada para posicionar melhor nossas empresas perante o mercado mundial.” Em relação aos pleitos apresentados na reunião, Roberto Macêdo reiterou o compromisso de ampliar os investimentos na unidade de Juazeiro. “Com a venda do imóvel do Crato, que vai a leilão, os recursos serão canalizados totalmente para investir aqui”, afirmou. Sobre a instalação do Escritório Regional do IEL/CE no Cariri, em 25 de agosto, ele informou que o objetivo é ampliar a qualidade da gestão nas indústrias da região. “O IEL junto das indústrias irá canalizar recursos públicos para inovação. O Instituto trabalha a formação da gestão visando captar os recursos que estão disponíveis. Quero nos próximos ano ver pelo menos 30 empresas do Cariri apresentando projetos de inovação”, convidou. Para Roberto Macêdo, a ideia do porto seco no Cariri é uma “estratégia fundamental”, que precisa ser analisada com profundidade, podendo ser tema de reunião com a alfândega. Ele pediu aos empresários que não esperem pelo próximo encontro da diretoria na região para apresentar suas demandas. “Fortaleza fica logo ali”, observou, declarando abertas as portas da FIEC ao empresariado caririense. Compromisso pela inovação Dez pontos básicos 1) Ser mais ativos na atração de centros de P&D de empresas estrangeiras, articulando e coordenando melhor as ações públicas e privadas. 6) Apoiar projetos estruturantes de P&D em grande escala, convocando grandes empresas a mobilizarem suas cadeias produtivas. 2) Apoiar a internacionalização das empresas brasileiras e de suas atividades de P&D, para capacitá-las a competir globalmente. 7) Apoiar projetos de P&D pré-competitivos por meio de arranjos jurídico-institucionais adequados. 3) Melhorar a infraestrutura e a cultura de propriedade intelectual (PI) no país, com base num regime pragmático de PI, compatível com nossos interesses atuais. 8) Apoiar a inovação, as atividades de P&D e a difusão de tecnologia para PMEs, visando reduzir os diferenciais de produtividade hoje existentes no setor privado. 4) Dar maior ênfase à formação de recursos humanos qualificados em engenharia, “ciências-duras” e ensino técnico. 9) Melhorar a articulação entre a política de inovação e a política de comércio exterior. 5) Aprimorar o marco legal de apoio à inovação, com ajustes que tornem mais efetivos os regimes de incentivos existentes. 10) Criar programas setoriais de inovação efetivos, que definam metas e objetivos pactuados entre o governo e o setor privado. 34 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 Foto: GIOVANNI SANTOS “ Se houver um porto seco localizado perto do aeroporto, com a Transnordestina teremos a ligação do aeroporto para Missão Velha. “ Presente à reunião ordinária da diretoria da FIEC, o vice-prefeito de Juazeiro do Norte, Roberto Celestino, solicitou o apoio da entidade para que a Infraero agilize a ampliação do aeroporto – questão que, segundo ele, já deveria ter sido resolvida há dez anos. Para ampliar as importações e exportações no Cariri, o vice-prefeito propôs o apoio da FIEC para que seja implementado um “porto seco” na região. Tal proposta, disse ele, chegou a ser anunciada no segundo governo de Tasso Jereissati e trará mais dinâmica às relações comerciais do Cariri com o mercado externo. “Se houver um porto seco localizado perto do aeroporto, com a Transnordestina teremos a ligação do aeroporto para Missão Velha. Isso será bom tanto para nossas importações quanto para as exportações”, argumentou Celestino. A superintendente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon/CE), Patrícia Coelho, revelou a intenção da entidade de triplicar o atendimento à construção civil no Cariri e pediu o apoio da FIEC, comprometendo-se a continuar se empenhando para desenvolver o setor. “Somos pioneiros na região na inserção de mulheres nos canteiros de obras. Temos hoje 19 mulheres pedreiras trabalhando no programa Minha Casa, Minha Vida aqui no Cariri”, afirmou. O delegado regional do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado do Ceará (Simec), Adelaido de Alcântara Pontes, quebrou o protocolo do encontro para entregar ao presidente da FIEC um projeto para aquisição de uma solda elétrica para viabilizar a implantação no SENAI Juazeiro do curso de torneiro repuxador – único no Brasil. O curso, segundo ele, irá qualificar 600 pessoas, em média, a cada semestre em Juazeiro do Norte e região. Segundo o gerente do SESI/SENAI Juazeiro, José Ribeiro Lobo, as demandas da região são muitas. Porém, faltam recursos. Ele explica que os segmentos que mais demandam investimentos no momento são construção civil e calçados. Na unidade do SESI, ele afirma que o lazer é a área que necessita de mais investimentos. “No fim de semana, a unidade lota. Temos cerca de 12 000 colaboradores nas empresas filiadas. Como aqui não temos clubes nem praia, somos muito demandados”, disse. Roberto Macêdo expôs aos participantes o documento Compromisso pela Inovação, que foi apresentado no início de Copa 2014 PV é a primeira obra concluída no Ceará Perto de completar 70 anos, o patrimônio popular, ícone esportivo e histórico da cidade de Fortaleza, é reformado e devolvido à sociedade cearense, ensejando mais comodidade e segurança aos torcedores A menos de três anos da Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil, o setor da construção civil está a todo vapor no país. Empresas e profissionais das áreas de engenharia, arquitetura, projetos, logística e planejamento correm contra o relógio para garantir que toda a infraestrutura exigida pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) fique pronta dentro do prazo. Em Fortaleza – uma das 12 cidades-sede dos jogos –, os preparativos ganharam força com a conclusão de uma das obras mais esperadas pelos fortalezenses: a reconstrução do Estádio Presidente Vargas – ícone esportivo e histórico da cidade, mais conhecido como PV. Prestes a completar 70 anos, em 14 de setembro próximo, o estádio está rejuvenescido e ganhou novos ares. Sem perder as características arquitetônicas do projeto original, inaugurado em 1941, o “setentão bom de bola”, que já foi palco do futebol arte do Rei Pelé no auge de sua carreira no Santos, teve toda a sua estrutura recuperada, passando por um processo de reforço, e recebeu uma roupagem mais moderna, ensejando mais comodidade e segurança aos torcedores. A reabertura da praça esportiva ocorreu em clima de festa, no dia 8 de maio, com a final do Campeonato Cearense 2011 disputada pelas equipes Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 35 Liana Fujita: "Resgatar 70 anos história trouxe realização profissional" 36 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 Foto: JOSÉ SOBRINHO “ Assumimos um compromisso com a cidade para os jogos da Copa de 2014 e cumprimos. “ do Ceará Sporting Club e Guarani de Juazeiro do Norte. Porém, a conclusão das obras, realizadas pelo Consórcio Fujita-Módulo, consolidou-se em julho. Hoje, o PV é o primeiro equipamento de Fortaleza plenamente apto a ser utilizado na Copa do Brasil em 2014. A praça esportiva é um potencial centro oficial de treinamentos para as seleções escaladas a jogar na capital cearense durante a disputa. Localizado no Benfica, bairro histórico e cultural da cidade, o patrimônio do povo não perdeu os traços peculiares da arena que abrigou no passado os maiores acontecimentos do futebol cearense. Ao contrário, o novo PV ressurge ainda mais emblemático, aliando tradição e contemporaneidade. Carlos Fujita, diretor comercial da Fujita Engenharia, afirma que o maior desafio do projeto foi modernizar a estrutura já existente, que se encontrava muito comprometida. “Tivemos de refazer todo o estádio para que se adequasse às exigências de uma praça esportiva do século 21 sem perder de vista a importância de conservar o patrimônio arquitetônico”, explica. Conforme Fujita, seria mais fácil construir um estádio novo do que recuperar o empreendimento mantendo o seu padrão arquitetônico. “O trabalho exigiu planejamento e muita logística para cumprirmos todas as adequações necessárias em menos de 18 meses. Assumimos um compromisso com a cidade para os jogos da Copa de 2014 e cumprimos. Estamos satisfeitos em participar dessa obra histórica”, comemora. Para a diretora técnica da Fujita Engenharia, Liana Fujita, resgatar 70 anos de história num prazo tão apertado trouxe realização profissional. “A logística da obra foi desafiadora. A qualidade do gerenciamento de pessoal e de suprimentos e a participação de tantas entidades envolvidas no projeto foram pontos importantes que contribuíram para o sucesso de uma obra tão complexa.” Segundo Liana, foram envolvidos 450 operários/mês na obra, além de técnicos e outros profissionais. O trabalho conjunto e coordenado recuperou arquibancadas, proporcionou segurança às arquibancadas e alambrados, instalou controles modernos de acesso ao estádio e placares de leed, promoveu a acessibilidade com a construção de rampas e a instalação de elevadores, entre muitas outras ações. Carlos Fujita, diretor comercial da Fujita Engenharia A fachada do estádio foi totalmente recuperada, preservando sua identidade, mas sem abrir mão do uso de elementos atuais como painéis e forro metálico. “O pórtico de entrada do estádio é o mesmo de 70 anos atrás. Sua estrutura foi toda recuperada e reforçada, mas ele não perdeu seus traços originais”, observa a diretora, segundo quem “a obra completa está avaliada em R$ 56 milhões”. Reforma em etapas E xplica Luís Carlos Montenegro, diretor técnico da Módulo Engenharia, que a reforma do PV passou por três fases. A primeira delas foi a recuperação da estrutura que estava deteriorada pelo tempo, principalmente devido ao efeito da corrosão marinha sob o concreto armado. Em seguida, ocorreram as etapas de reforço estrutural e modernização. “O reforço estrutural foi necessário para adequar a estrutura do estádio ao público de hoje. Na década de 40, o público era bem mais comportado. Quando havia um gol, as pessoas vibravam com lenços. Hoje, as torcidas vibram pulando e forçam mais as estruturas, elevando a oscilação. Por isso foi feita uma simulação com técnicos da Universidade de São Paulo (USP). Eles mediram a vibração utilizando energia equivalente à emitida pelo público”, sublinha Montenegro. De acordo com o diretor técnico, o estádio possuía uma estrutura segmentada, ou seja, era dividido em duas etapas. “Com o reforço estrutural, juntamos as partes para reforçar a estrutura e bloqueamos as juntas de dilatação das arquibancadas. Isso trouxe maior rigidez à estrutura do estádio”, completa. Toda a estrutura das arquibancadas foi reforçada com armaduras complementares e concreto projetado. “O concreto jateado proporcionou uma rápida execução nos elementos estruturais já existentes. Além disso, a qualidade do material somado à sílica ativa resultou num concreto com alta resistência e durabilidade”, relata Montenegro. As arquibancadas receberam revestimento de microconcreto modificado com polímero, visando prevenir fissuras e desplacamentos. Técnicas modernas de construção, como Lean Construction, e de gestão, baseadas na Corrente Crítica de Gerenciamento de Obras, somadas à aplicação da Norma de Qualidade ISO 9001, também foram utilizadas pelo Consórcio Fujita-Módulo. Na terceira e última fase – de modernização – o consórcio instalou alambrados de vidro de alta resistência, permitindo maior interação entre arquibancada e campo. Os muros externos foram reconstruídos e parte deles foi substituída por gradis com o objetivo de aproximar o equipamento urbano da comunidade que o rodeia. Entre os diferenciais tecnológicos do novo estádio, além de dois placares eletrônicos com displays de leed com tecnologia que permite a atualização das informações em tempo real, estão a instalação de 105 câmeras de segurança e a construção de uma sala de circuito fechado de televisão (CFTV), garantindo ao PV um dos mais modernos sistemas de vigilância do país. A capacidade do estádio foi aumentada com a construção de mais cinco degraus de arquibancada. A acessibilidade foi melhorada, inclusive com espaços reservados para portadores de necessidades especiais. O sistema de setorização foi dividido em quatro alas distintas, com 32 bilheterias e 37 catracas independentes, para facilitar o trabalho das equipes de segurança e melhorar o acesso do público. Além dos mais conceituados profissionais do mercado, o projeto de recuperação do PV envolveu nomes consolidados no cenário nacional como o projetista carioca de estruturas de concreto José Luís Cardoso e o arquiteto Armando Mendes, que têm larga experiência em grandes obras realizadas no Rio de Janeiro, como a reforma do estádio do Maracanã. O resultado do esforço conjunto é um equipamento moderno, completamente reformado, que retorna à torcida cearense para protagonizar novos tempos de glória. Afinal, o velho jovem PV é o principal estádio de futebol da cidade de Fortaleza até a reabertura do Castelão, em 2013. Luís Carlos Montenegro, diretor técnico da Módulo Engenharia Reforma em pontos Estrutura - Recuperação e reforço de toda a estrutura do estádio para garantir o uso com segurança. - Realização de ensaios dinâmicos pela Poli-USP, antes da liberação das arquibancadas para uso das torcidas. - Corte da estrutura para a construção de 16 vomitórios e túnel único. - Consolidação de algumas juntas de dilatação e reforma das remanescentes. - Adequação dos desníveis dos degraus. - Regularização das arquibancadas. - Construção de cinco novos degraus na parte inferior da arquibancada. - Novas instalações elétricas, hidrossanitárias, voz e dados, de gás, de prevenção e combate a incêndio e frigoríficas. - Remoção de todo o piso da circulação de torcedores em calçamento, concreto e asfalto para instalação de piso intertravado. - Construção de uma nova subestação, com grupo gerador. - Construção de uma casa de bombas, com sistema de pressurização da rede de água. - Recuperação de dois poços profundos. - Instalação de novas estruturas de contenção: guarda-corpos, corrimãos e alambrados. - Instalação de dois placares eletrônicos (LED). - Remarcação do campo para as medidas recomendadas como ideais pela Fifa (105 x 68m). - Nova estrutura de administração: salas de administração, juizado, segurança e CFTV. - Construção de duas áreas de reserva técnica com 58 metros quadrados para uso posterior da administração do estádio. - Estacionamento para autoridades, com 88 vagas. Segurança - Construção de posto de vigilância e monitoramento. - Construção de espaço para Juizado Especial do Torcedor. Comodidade para frequentadores - Vinte novos banheiros com mais de 80 metros quadrados cada, sendo nove femininos e 11 masculinos, com entradas apropriadas para portadores de necessidades especiais. - Construção de nove bares com área acima de 35 metros quadrados, contando com depósitos próprios. - Nova estrutura de apoio aos torcedores: ambulatório com consultório médico, sala de curativos, sala de espera e macas. Comodidade para árbitros e equipes - Nova estrutura de apoio aos juízes: vestiário feminino e masculino, aquecimento, massagem, espera, antidoping, bancos cobertos no campo. - Nova estrutura de apoio aos jogadores: quatro vestiários, quatro salas de massagem, duas quadras de aquecimento, bancos de reserva. - Instalação de um sistema de água quente (relaxamento muscular). Estrutura de imprensa e convidados de honra - Nova estrutura de apoio à imprensa: 11 cabines de rádio, três cabines de TV, três cabines de câmeras, 21 bancadas para imprensa escrita e auditório com 54 lugares. - Nova coberta metálica para cadeiras especiais de encosto alto, tribuna de honra com 44 lugares e quatro camarotes. - Dois elevadores. Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 37 Ferrovia Cineasta Aderbal Nogueira resgata o legado da ferrovia cearense por meio de relatos emocionados de quem viveu a época de ouro do veículo que muito contribuiu para levar progresso aos rincões mais distantes Por Gevan Oliveira 38 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 Foto: ARQUIVO PESSOAL ADERBAL NOGUEIRA Trem da história N ão posso ficar nem mais um minuto com você. Sinto muito amor, mas não pode ser. Moro em Jaçanã, se eu perder esse trem que sai agora às 11 horas, só amanhã de manhã. A conhecida canção do compositor paulista Adoniran Barbosa, que embala gerações desde o ano de 1954, contempla não apenas a época de ouro do samba brasileiro, quando a boemia era sinônimo de charme, criatividade musical e malandragem comedida. A música também nos faz lembrar as não menos saudosas (e acessíveis) viagens de trem. Desde sua invenção, em 1827, nos Estados Unidos, suas idas e vindas representam mais do que transporte de pessoas e bagagens; elas encurtam distâncias e logram progresso às nações que tiveram a sabedoria de caminhar sobre trilhos. A história das ferrovias no Brasil teve início na era imperial, mais precisamente em 1854, quando o Barão de Mauá inaugurou o primeiro ramal ligando a Praia da Estrela (Baia de Guanabara) à Serra de Petrópolis. Foram os primeiros 14 quilômetros que pretendiam levar desenvolvimento para um país que mal acabara de nascer. Até 29 de março de 1858, havia 27 quilômetros de estradas de ferro. A partir de então, “foram sendo construídas várias ferrovias sem nenhum planejamento de viação, com quilômetros de linhas isoladas e antieconômicas, de maneira desordenada”, explica o ex-ferroviário e pesquisador José Hamilton Pereira, no livro Os Descaminhos de Ferro do Brasil. Em seu trabalho, ele e o jornalista Túlio de Souza Muniz mostram que essa “desorganização” era um vírus que décadas depois contribuiria para arruinar o movimento ferroviário brasileiro. Animais, alimento e gente. Os trens transportavam de tudo. E é essa história de transporte de cargas e passageiros sobre trilhos, temperada com lembranças e lágrimas, centrada no Ceará, que o documentário O Último Apito, do cineasta Aderbal Nogueira, se propõe a contar em 90 minutos. Com foco no relato emocionado de ex-ferroviários, o trabalho resgata aspectos históricos da ferrovia cearense, desde a implantação da estrada de ferro no século 19 até a desativação do trem de passageiro na década de 1980. O vídeo levou seis anos para ficar pronto e é o resultado de aproximadamente cem depoimentos feitos em 40 municípios cearenses por onde o trem foi mais do que um meio de transporte: era o orgulho de dezenas de cidades e milhares de passageiros. Na verdade, ao chegar em cada estação, o veículo era saudado por centenas de moradores que saiam de casa só para vê-lo passar. Seus maquinistas, impecáveis de terno e gravata, eram quase heróis e ocupavam até status de autoridade, no mesmo nível de prefeitos e padres. Parte das histórias do documentário, que teve o apoio para ser produzido do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Ceará (SENAI/CE), entidade componente do Sistema FIEC, foi contada nas antigas estações ferroviárias. As imagens do vídeo revelam que elas, praticamente abandonadas, hoje nem de longe lembram os tempos áureos, quando tiveram um papel preponderante na vida de cidades e de seus moradores – há registros de que muitas estações foram responsáveis pela fundação de cidades, ao concentrar a vida das pessoas; outras serviam de agência dos Correios, ou apenas de ponto de encontro de pessoas simples a abastadas. População à espera da "maria fumaça" em Missão Velha, no Cariri, na década de 1920 Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 39 O trem era o único transporte que percorria grandes distâncias e todos podiam pagar. “ Cristiano Câmara, historiador Foto: ARQUIVO PESSOAL ADERBAL NOGUEIRA Documentário do cineasta Aderbal Nogueira (centro) teve o apoio do SENAI/CE O trabalho de Aderbal, cujo avô foi ferroviário, começa com o desabafo do historiador Cristiano Câmara, que expõe com veemência a insatisfação nacional causada pelo fim das viagens do trem de passageiros. Ele culpa os expresidentes Getulio Vargas e Juscelino Kubitschek pelo início do fim das composições. “Foram eles que começaram a desprestigiar os trens, em benefício das estradas e para a tristeza da classe pobre que leva o Brasil nas costas. O trem era o único transporte que percorria grandes distâncias e todos podiam pagar. O maior absurdo é que lá na Europa ele é hoje sinônimo de progresso, aqui de pobreza e atraso”, argumenta Cristiano Câmara. O vídeo segue com uma sucessão de fatos que marcaram a vida de passageiros e funcionários das ferrovias, quase todos ilustrados com lágrimas daqueles que deram sua vida à estrada de ferro. “Sofri muito como foguista da 'maria fumaça'. O trabalho era pesado demais, mas se pudesse voltaria àquela vida porque éramos úteis e respeitados por toda a população”, conta José Rodrigues. Orgulho, boas e más recordações e vontade de voltar ao passado são expressões que marcam as falas e feições, especialmente daqueles que ainda na adolescência cresceram ouvindo o som do apito do trem e tiveram a oportunidade de se engajar nesse trabalho, graças, em grande parte, à capacitação profissional já oferecida pelo SENAI\CE nos idos da década de 1940. É o caso do mecânico Wilson Almeida. Ele conta que saiu da sala de aula, na unidade do bairro Jacarecanga, numa sexta-feira, aos 16 anos, e 40 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 O primeiro apito na segunda-feira seguinte já estava empregado na Rede de Viação Cearense (RVC). “O curso do SENAI me colocou no mercado ainda muito jovem. Mas o que mais me surpreendeu foi ver que nas oficinas muitos veteranos não sabiam fazer o que eu já entendia, simplesmente por não terem qualificação. Por isso posso afirmar que o SENAI foi fundamental para estimular não apenas minha carreira, mas também de toda a ferrovia cearense”, sublinha Wilson Almeida. Histórias tristes, como a do acidente que vitimou vários passageiros ao viajarem do lado de fora da composição, também estão na narrativa. Segundo o maquinista Cícero Belarmino, o trem era usado por pessoas pobres, por isso era barato, mas sempre havia os que, mesmo assim, não podiam pagar e, violando as regras, viajavam “pendurados”. O episódio aconteceu em 1956, a poucos quilômetros da estação central em Fortaleza, quando um caminhão estancou e parte da sua carroceria ficou sob os trilhos. “Quando passei pelo caminhão, a carroceria ceifou a vida de vários desses passageiros que não podiam pagar mil reais pela passagem. Dezenas caíram. Oito perderam a vida no local, outros ficaram mutilados”, relembra. Outro trecho do documentário, também contado por um ex-maquinista, Francisco Saraiva Monte, resgata um dos fatos mais emblemáticos da história do povo cearense: a luta de milhares de sertanejos para embarcar nos trens que iam à capital na tentativa de fugir da seca implacável. Com a voz embargada, ele recorda: "Na grande estiagem de 1932 vi muita gente morrendo de fome, nas estações de Iguatu e Acopiara. Era triste, doía na gente. A multidão queria embarcar em direção a Fortaleza para escapar da morte, mas os flagelados eram barrados em Senador Pompeu, onde havia um campo de concentração de sertanejos famintos e doentes”. Já seu “Zequinha”, como era conhecido entre os amigos o simpático maquinista José Rodrigues, foi protagonista da última viagem de passageiros numa das linhas mais importantes do interior, a de Sobral a Camocim, em 16 de agosto de 1976. Logo no início da entrevista, o fácil sorriso nos lábios logo dá lugar a semblante marejado ao recordar a aflição da população pobre que perdia seu único meio de transporte entre as duas cidades. “A multidão invadiu a estação para não deixar o trem sair. Foi uma calamidade. Tive de parar a composição e esperar a revoltar passar. Tanto a população como eu chorávamos muito. Fiquei horas esperando sob protestos do povo que não aceitava o argumento de que o trem estava parando porque dava prejuízo”, recorda Zequinha. E m julho de 1870, um acordo firmado entre o senador Tomaz Pompeu de Souza Brasil, o bacharel Gonçalo Batista Vieira (Barão de Aquiraz), o coronel Joaquim da Cunha Freire (Barão de Ibiapaba), o investidor inglês Henrique Brocklehurst e o engenheiro civil José Pompeu de Albuquerque Cavalcante criou a Companhia da Via Férrea de Baturité. A ideia era ligar inicialmente Fortaleza à Serra de Baturité, a região mais próspera do estado à época. Sob a concessão do imperador D. Pedro II, três anos depois, na tarde de 3 de agosto de 1873, cerca de 8 000 fortalezenses presenciaram, sob aplausos e espantos, na rua do Trilho de Ferro, hoje Avenida Tristão Gonçalves, o passeio do primeiro trem. A apresentação coroava o esforço visionário iniciado em 1º de julho do mesmo ano, quando foram assentados os primeiros dormentes. Oficialmente, o trecho inicial a caminho da serra, de aproximadamente 7,5 quilômetros, ligando Fortaleza à localidade de Arronches, atual bairro da Parangaba, foi inaugurado em 29 de novembro de 1873. No livro Os Descaminhos de Ferro do Brasil lê-se que o projeto de construção da ferrovia cearense sofreu várias modificações e atrasos com as dificuldades financeiras do grupo investidor, causadas pelas secas que castigavam a região, até que em 1877 os trabalhos de conclusão da obra passaram às mãos do Império. “A construção da Via Férrea de Baturité foi encampada pelo governo de D. Pedro II, graças à exploração de mão de obra de retirantes da seca e às ações do ministro João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu, alagoano que conseguiu os recursos para a conclusão da obra e início da ferrovia partindo do Porto de Camocim a Sobral”, informa a publicação. A Baturité o trem Maria Fumaça chegaria dez anos depois, em 1882, ainda sob o reinado de D. Pedro II. Neste mesmo ano, iniciava-se a construção da estrada de ferro ligando Sobral a Camocim, depois a Oiticica, na divisa do Ceará com o Piauí. Décadas à frente, em 1950, a linha de Itapipoca, vinda de Fortaleza, chegaria a Sobral. Fato que não passava desapercebido pela população local, que diariamente se amontoava para ver a composição passar, o trem da serra partia diariamente carregado de sacas de café, algodão e milho, além de frutas e hortaliças, entre outros alimentos que abasteciam a capital ou eram exportados para a Europa. O gigante de Foto: ARQUIVO PESSOAL ADERBAL NOGUEIRA “ Transporte do pobre ferro marcou o fim dos comboios de animais que até então faziam a penosa viagem de mais de cem quilômetros até o Porto de Fortaleza, com as mesmas cargas no lombo. Essa era a rotina da Estação Ferroviária de Baturité, local estratégico para o escoamento da produção cafeeira – principalmente – do interior para a capital cearense. Essa linha chega ao seu ponto máximo em 1926, quando alcança a cidade do Crato, no sul do Ceará. Mas não antes sem deixar muitas histórias para contar. Os estudiosos registram que as obras de expansão das ferrovias cearenses viraram, sobretudo, frente de trabalho para milhares de flagelados das secas que se abatiam no semiárido. Tanto que as duas principais estradas de ferro (Fortaleza-Baturité e SobralCamocim), desde 1915 unificadas na RVC, passaram a ser subordinadas à Inspetoria Federal de Obras contra a Seca (Ifocs). Em 1920, 12 850 operários estavam envolvidos na construção, inclusive idosos e crianças. Outra obra feita por retirantes das secas foi a Estação Terminal Professor João Felipe, no Centro de Fortaleza – trecho ilustrado com fotos da época no vídeo O Último Apito. Construída em estilo dórico-romano pelo engenheiro austríaco Henrique Folgare, a estação teve sua pedra fundamental lançada em 30 de novembro de 1873 e inauguração em 9 de junho de 1880. O cearense João Felipe Pereira, nascido em Tauá em 23 de março de 1861, foi ministro das Relações Exteriores, da Agricultura e Viação e Obras Públicas do governo do marechal Floriano Peixoto. O prédio, que é tombado como patrimônio histórico da União e visitado por turistas, ainda está ativo, mas seu maior legado hoje é conservar traços da arquitetura e da história do século 19. Estação Terminal Professor João Felipe, no Centro de Fortaleza, foi inaugurada em 9 de junho de 1880 Agosto de 2011 | RevistadaFIEC | 41 Luz no fim do túnel D esde que o trem de passageiros percorreu pela última vez, em 1980, os trilhos do interior cearense, só restou ao sertanejo a saudade. Lágrimas e lamentações muito bem fundamentadas, afinal de contas, era o transporte do pobre, e todos o querem de volta, como declama (e reclama) o poeta caririense, cantador do Trio Nortista, Jonas de Andrade: Doutor, bota o trem de volta Doutor, é o transporte do pobre De Juazeiro vou para o Crato Do Crato para Fortaleza Era uma beleza Era uma beleza Metrô do Cariri transporta em torno de de 1,5 mil passageiros/dia Morto em 1995, o sanfoneiro das terras caririenses não pôde ver o que vem sendo apontado pelos especialistas como a mais bem sucedida iniciativa de colocar nos trilhos novamente o transporte ferroviário no Brasil: o metrô do Cariri. Inaugurado em 1º de dezembro de 2009, com 13,4 quilômetros de extensão, o moderno trem, tecnicamente chamado de veículo leve sobre trilhos (VLT), percorre, sob os olhares atentos da nação brasileira, o velho traçado de outrora, unindo Crato a Juazeiro do Norte, na região do Cariri, a cerca de 560 quilômetros de Fortaleza. 42 | RevistadaFIEC | Agosto de 2011 Com mais de R$ 30 milhões em investimento da Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor), empresa do governo estadual que administra o metrô do Cariri, o VLT Crato-Juazeiro do Norte atualmente transporta cerca de 1,5 mil passageiros por dia, mas tem capacidade para 15 000 e vem sendo usado como exemplo de sucesso por aqueles que afirmam ser possível reerguer o transporte ferroviário de pessoas no país. Para tanto, já se fala em investimentos perto de 100 bilhões de reais nos próximos dez anos no Brasil. Boa parte, mais de 30 bilhões de reais, será investida no trem bala, que unirá os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. O trem, ou como gosta de chamar a orgulhosa população local, o metrô de Juazeiro, não almeja a velocidade de um trem bala, e nem precisa, já que seus 40 quilômetros/hora são suficientes para garantir pontualidade nas nove estações que percorre. Os dois carros são equipados com ar-condicionado, assentos limpíssimos e passagem a R$ 1,00. Em breve, terá integração com linhas de ônibus nas duas cidades, além de ser estendido a outras localidades da região, como Barbalha, cuja contribuição tem sido fundamental ao sucesso da empreitada. O metrô do Cariri é mesmo do Cariri. A empresa Bom Sinal, instalada no “bar” do triângulo Crajubar – Crato, Juazeiro e Barbalha – é responsável pela produção dos VLTs, hoje cobiçados por vários estados. Originalmente fabricante de carteiras escolares, móveis para hospitais e assentos para estádios, a empresa começou, em 2004, a reformar carros de passageiros do metrô de Fortaleza, e em seguida passou a adaptar chassis e motores movidos a diesel, de modelos usados em ônibus. O salto deu certo porque um dos seus sócios adquiriu knowhow como sócio da fabricante de carrocerias de ônibus Caio. Hoje, a Bom Sinal emprega mais de 300 funcionários diretos e tem pedidos para projetos de VLT em Fortaleza, Sobral, Recife, Maceió, Arapiraca (AL) e Macaé (RJ). Os VLTs montados são movidos a diesel, mas a empresa tem planos de adequar suas instalações para a montagem também dos trens com tração elétrica. v-12489-08-An Rev FIEC 20,5x27,5cm.indd 1 6/7/11 11:56:34 AM