A Influência das Forças Competitivas de Porter na Estratégia da
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A Influência das Forças Competitivas de Porter na Estratégia da
RELATÓRIOS DE PESQUISA EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO v.14, n. A16, p. 213-223. A INFLUÊNCIA DAS FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER NA ESTRATÉGIA DA INTEL CORPORATION NO PERÍODO DE 2010 A 2012 Marcus Vinicius Sarmento Souza Universidade Federal Fluminense Ruben Huamanchumo Gutierrez Universidade Federal Fluminense Resumo A presente pesquisa tem por objetivo analisar a influência das cinco forças de Porter na estratégia de mercado da Intel Corporation. A indústria mundial de processadores sinaliza alterações significativas que levam a modificações no cenário competitivo e, por tratar-se da empresa que alavancou o mercado de processadores, a Intel Corporation, que lidera a décadas esta indústria, tem sua posição ameaçada por novos entrantes e produtos substitutos. As tendências apontadas pelos resultados dos últimos anos, seja em margem ou marketing share, deixa clara a necessidade de adequação desta empresa às novas condições do mercado. O estudo das cinco forças de Porter pode dar a direção a ser traçada para a empresa em análise, que desta forma terá ampliada sua probabilidade de sucesso. Palavras-Chave: As cinco forças de Porter, Resultado indústria de processadores, Intel Corporation, Market Share Abstract This research aims to analyze the influence of the five Porter forces in Intel Corporation market strategy. The processors industry worldwide indicates significant changes that lead to changes in the competitive scenario. The trends shown by the results of recent years, either in the margin or share marketing makes clear the need to adapt this company to new market conditions. The study of the five Porter forces could the company in question, which thus have expanded their probability of success. Keywords: five Porter forces, trends, Intel Corporation, Market Share Artigo submetido em 21/7/2014. Versão final recebida em 29/8/2014. Publicado em 2/9/2014. A INFLUÊNCIA DAS FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER NA ESTRATÉGIA DA INTEL CORPORATION 1. Introdução A Intel Corporation é a maior fabricante de semicondutores do mundo e mudou o mercado global radicalmente desde que foi fundada em 1968. As primeiras calculadoras portáteis e PCs foram desenvolvidas através da inovação dos microprocessadores Intel. Em 1968 a Intel foi criada com o objetivo de desenvolver memórias DRAM - dynamic random-access memory, no início dos anos 70 a competição entre fabricantes deste tipo de memória, devido à entrada de players japoneses, havia reduzido drasticamente a rentabilidade deste mercado e isso fez com que a Intel mudasse o foco da empresa para microprocessadores. Do final dos anos 80 até o final dos anos 90, a Intel teve um período de crescimento sem precedentes de 10 anos como fornecedor de hardware primário para a indústria do PC, fornecendo microprocessadores e processadores para a IBM. No início dos anos 90 tornou-se uma das marcas de produtos para computadores mais famosas do mundo após a sua campanha Intel in side. Com esta campanha a Intel procurou a fidelidade à marca e conscientização pública de processadores Intel em computadores de consumo. Este passo foi tomado em direção à estratégia de mudança de suas práticas de negócios, que passou a ser mais focada no usuário final. Nos dias atuais a Intel Corporation vem perdendo parcela de mercado devido ao surgimento dos dispositivos móveis (notadamente os smart phone e tablets) que pouco a pouco estão substituindo os tradicionais PCs, base da principal unidade de negócios da Intel Corporation. Como uma companhia líder de mercado a Intel Corporation é atenta às mudanças de consumo, procurando adequar-se ao cenário de negócios imposto pelo mercado, ou alguma das vezes ditando estas alterações através do desenvolvimento de tecnologia de ponta, contudo o seu desempenho financeiro, assim como sua parcela de mercado, vêm deteriorando-se a cada ano. Segundo Porter (2004) “A essência da formulação de uma estratégia competitiva é relacionar uma companhia ao seu meio ambiente. Embora o meio ambiente relevante seja muito amplo, abrangendo tanto forças sociais como econômicas, o aspecto principal do meio ambiente da empresa é a indústria ou as indústrias com que ela compete”. Este trabalho objetiva analisar a influencia das forças competitivas no mercado de atuação da Intel Corporation, para tal será adotado o modelo das cinco forças competitivas, desenvolvido por Porter, que são assim distribuídos: Ameaça de novos entrantes, rivalidade entre concorrentes existentes, pressão por produtos substitutos, poder de negociação dos compradores e poder de negociação dos fornecedores. Outra força a ser considerada, não abordada por Porter, é a força dos complementadores, que são aqueles produtos que podem agregar algum tipo de valor a outros, como é o caso de processadores e softwares. De acordo com Ghemawat (2000) “Os complementadores são uma característica ubíqua de muitos cenários de negócios. Eles parecem particularmente importantes em situações nas quais as empresas estão desenvolvendo maneiras inteiramente novas de fazer as coisas ou quando os padrões têm papéis importantes na combinação de espécies muito diferentes em sistemas que funcionam bem”. No contexto de busca pela sustentabilidade de longo prazo das companhias, em que retorno aos acionistas é cada vez mais exigido e a competição é acirrada o estudo das forças que influenciarão na determinação da estratégia a ser adotada é primordial e justifica o estudo alvo deste trabalho que tem por objetivo demonstrar que através da aplicação de ferramentas de suporte a gestão estratégica, neste caso analise das forças de Porter e força dos produtos complementares, as chances de sucesso de uma determinada companhia podem ser maximizadas. 214 A INFLUÊNCIA DAS FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER NA ESTRATÉGIA DA INTEL CORPORATION 2. Referencial teórico Estratégia é uma palavra criada pelos antigos gregos, que significava um magistrado ou comandante-chefe militar. Na obra “A Arte da Guerra” de SUN TZU diz-se que as manobras estratégicas significam escolher os caminhos mais vantajosos. Ao longo dos dois milênios seguintes, refinamentos do conceito de estratégia continuaram a focalizar interpretações militares. No final do século XIX, começou a emergir um novo tipo de empresa, primeiro nos Estados Unidos e a seguir na Europa: a grande empresa verticalmente integrada que investia pesadamente em manufatura e marketing e em hierarquias gerenciais para coordenar essas funções. Com o tempo, as maiores dessas empresas começaram a alterar o ambiente competitivo em suas indústrias e até mesmo a ultrapassar limites entre indústrias sendo este novo cenário o responsável pela adaptação da terminologia estratégica a um contexto de negócios, a qual somente decolou de fato no século XX com o advento da segunda revolução industrial. No entanto, é a partir dos anos 60 que o termo estratégia adquire maior relevância e com possibilidades de aplicação nas organizações, dado o incremento da complexidade do ambiente organizacional e as suas implicações nas formas de gestão. Neste sentido, Mintzberg (2000) propõe uma tipologia que consolida todos os enfoques e abordagens da estratégia e suas múltiplas formas de aplicação no contexto organizacional, através da proposição de dez escolas. Já na década de 80 surge a escola do posicionamento onde é definido o posicionamento estratégico, como sendo a capacidade da empresa em realizar suas funções de formas diferentes. Porter (2004) afirma que existem três abordagens estratégicas genéricas potencialmente bem sucedidas e cinco forças competitivas que quando corretamente analisadas aumentam o potencial de superação dos concorrentes da indústria. Estas estratégias genéricas são: liderança no custo total, diferenciação e enfoque. Uma vez definida a estratégia genérica segundo Porter (2004) “O grau de concorrência da indústria depende das cinco forças competitivas básicas”, a saber: ameaça de novos entrantes, rivalidade entre concorrentes existentes, pressão por produtos substitutos, poder de negociação dos compradores e poder de negociação dos fornecedores. FIGURA 1 – Forças Competitivas Fonte: Porter (2004) 215 A INFLUÊNCIA DAS FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER NA ESTRATÉGIA DA INTEL CORPORATION Outra força a ser considerada neste trabalho, não abordada por Porter, é a força dos complementadores que deve analisada para a elaboração de uma estratégia adequada. A não observação desta força em determinados casos pode tornar ineficaz a analise das forças competitivas, tamanha a importância dos produtos complementares na analise do cenário de negócios. Segundo Ghemawat esta força deve receber especial atenção quando da analise estratégicas em empresas de tecnologia, como o caso em questão. Assim sendo a intensidade de cada força é que vai determinar as habilidades das empresas em obter ganhos sobre o investimento, já a estrutura da indústria vai influenciar na intensidade de cada uma das cinco forças, ou seja, algumas estruturas industriais geram a competição por preços, com margens mais baixas ou mais altas bem como competição por percentual de mercado. Desta forma a análise do cenário ajuda a tornar parte de um processo mais sistemático para o planejamento estratégico, esclarecendo as oportunidades e ameaças que confrontam cada empresa, algumas das quais compartilhadas com seus concorrentes diretos. Logo o posicionamento estratégico de uma empresa em uma determinada indústria é mandatório para a determinação do potencial de sucesso desta empresa no mercado. 3. Metodologia A metodologia utilizada para alcançar a proposição deste trabalho busca conciliar as concepções teóricas relativas ao tema com as necessidades práticas da analise de dados. Este trabalho é de pesquisa aplicada, quanto à sua natureza e tratará a abordagem do problema de forma qualitativa. Quanto ao objetivo, é um estudo exploratório, definido por Gil (1994) como sendo o tipo de pesquisa em que se procura identificar os fatores que determinam fenômenos, explica o porquê das coisas e assume em geral as formas de pesquisa experimental e, quanto ao procedimento técnico, classifica-se como uma pesquisa bibliográfica e ex-post-facto. Para alcançar os objetivos propostos foram necessárias evidências, colhidas através de pesquisa bibliográfica e na internet, que demonstrem o comportamento da Intel Corporation no período de 2010 a 2012. Estes resultados, sejam financeiros ou de participação no mercado da indústria de semicondutores, são frutos diretos da estratégia adotada pela empresa. Uma vez levantados os dados é feita uma analise sobre o ponto de vista da atuação das cinco forças preconizadas por Porter (2004) e a adicionada por Ghemawat (2000), que são: ameaça de novos entrantes, rivalidade entre concorrentes existentes, pressão por produtos substitutos, poder de negociação dos compradores, poder de negociação dos fornecedores e produtos complementares. Esta analise visa correlacionar os resultados alcançados com o impacto causado pelas forças competitivas. Por entender que a análise das forças competitivas não esgota as possibilidades, por ser apenas uma dentre outas ferramentas de analise estratégica disponíveis no mercado, este trabalho não visa desenvolver, criar ou criticar a estratégia de mercado adotada pela Intel Corporation, mas sim, analisar os desdobramentos desta segundo a ótica desta ferramenta. 4. Analise da participação no mercado e resultados da Intel Corporation A grande desaceleração na venda de notebooks e computadores de mesa de uso pessoal, aliado a um forte crescimento da demanda por dispositivos de acesso móvel, como tablets e telefones inteligentes, têm derrubado, ano após ano, as vendas de empresas especializadas no 216 A INFLUÊNCIA DAS FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER NA ESTRATÉGIA DA INTEL CORPORATION desenvolvimento e comercialização de microprocessadores tradicionais como a Intel Corporation. De acordo com o relatório de 2013 da IC Insights a lista dos novos dez maiores fornecedores no mercado de semicondutores tem em sua maioria empresas de desenvolvimento de processadores para dispositivos móveis baseados na tecnologia ARM. .Observa-se ainda que estas empresas conquistam, cada vez mais, mercado enquanto empresas dependentes do mercado de computadores pessoais baseados na tecnologia x86 perdem cada vez mais participação em 2012 (ver tabela na Figura 2). Antes de qualquer analise cabe a observação de que essa tabela não representa o faturamento da Intel Corporation no período, mas sim, a parcela do faturamento referente à sua principal unidade de negócios que é a PC Client Group. Esta unidade de negócio, ou segmento, de acordo com o relatório anual da Intel divulgado aos investidores (INTEL, 2012), representou 64% do faturamento total da companhia no exercício de 2012. Ainda com relação à tabela abaixo nota-se que a Intel Corporation teve uma queda de aproximadamente 1,5% no faturamento entre os exercícios de 2011 e 2012. Contudo deve-se observar que o valor deste mercado, que em 2011 era de MUS$ 52.299 em 2012 passou a ser de MUS$ 54.092, cresceu aproximadamente 3,3% no período em que a Intel Corporation decresceu 1,5%, totalizando assim uma perda de parcela de mercado de 4,8% somente no último ano. Outro ponto que merece atenção é o fato de que mercado baseado em tecnologia ARM, que era de MUS$ 10.312 em 2011, cresceu aproximadamente 24,1% terminando 2012 com MUS$ 13.595. Este crescimento é extremamente representativo quando comparado ao decréscimo do mercado baseado na tecnologia x86 que foi de aproximadamente 4,5%, ou seja, enquanto o mercado em que a Intel Corporation não possui a liderança cresce 24,1% ao ano o mercado onde ela é líder decresce a taxa de 4,5%. Ainda de acordo com relatório publicado pela mesma agencia de pesquisa, IC Insight a perda de mercado da Intel no período 2010 a 2011 foi de 1,3% enquanto que a da AMD foi de 1,4% totalizando 2,7% de decréscimo do mercado de processadores baseados na tecnologia x86. FIGURA 2 – Divisão de Mercado em 2012 Fonte: IC Insight Report (2013) 217 A INFLUÊNCIA DAS FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER NA ESTRATÉGIA DA INTEL CORPORATION De acordo com pesquisa realizada pela consultoria americana BIA Kelsey existe a tendência de que no ano de 2015 o mercado de dispositivos móveis superará o de dispositivos fixos. Esta tendência amplificará os impactos ora vividos pela Intel Corporation em relação a participação de mercado. As alterações nas condições de mercado acima descritas têm impacto direto sob os resultados alcançados pela Intel Corporation no período de 2010 a 2012. De acordo com o relatório de desempenho anual de 2012 a receita líquida reportada referente ao exercício de 2012 foi, em bilhões de dólares, de 53.341 contra 53.999 em 2011 e 43.623 em 2010. No mesmo relatório pode se observar que embora o faturamento líquido da companhia tenha dado um salto em de 2010 para 2011 e tenha tido uma discreta redução de 2011 para 2012 o lucro líquido da empresa teve uma queda de MMU$$ 459 de 2010 para 2012. 5. Forças competitivas a) Rivalidade entre a concorrência De acordo com Porter (2005) “A concorrência em uma indústria age continuamente no sentido de diminuir a taxa de retorno sobre o capital na direção da taxa competitiva básica de retorno, ou o retorno que poderia ser obtido pela indústria definida pelos economistas como em concorrência perfeita. Esta taxa básica competitiva, ou retorno de mercado livre, é aproximadamente igual ao rendimento sobre títulos do governo à longo prazo ajustados, para mais, pelo risco de perda do capital.” Desde que ingressou no mercado de desenvolvimento, produção e comercialização de microprocessadores a Intel Corporation tem mantido a liderança e quase o monopólio nesta indústria, o que permitiu que, durante muito tempo, o retorno sob o capital investido fosse altamente vantajoso ao acionista. Contudo com base no relatório anual de 2012 pode-se observar a corrosão desta margem. .Se em 2010 o lucro líquido era de aproximadamente 26,3% no término de 2012 este lucro caiu para 20,6%. Apesar da margem de retorno sobre o capital investido ser atrativa deve-se observar a tendência de queda. O fato de a Intel Corporation ter uma estratégia genérica bem definida, a diferenciação do seu produto, é um fator atenuante que faz com que a rivalidade entre a concorrência tenha um impacto retardado, pois usualmente a falta de diferenciação entre a companhia analisada e os concorrentes torna a rivalidade entre os concorrentes ainda maior. 218 A INFLUÊNCIA DAS FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER NA ESTRATÉGIA DA INTEL CORPORATION FIGURA 3 – Relatório anual Intel 2012 b) Ameaça de novos entrantes A lucratividade média do setor é influenciada pelos concorrentes existentes e em potencial. Segundo Ghemawat (2000, p.39) “O conceito chave na analise da ameaça de novos entrantes são as barreiras de entrada, as quais atuam para evitar o influxo de empresas numa indústria sempre que os lucros, ajustados para o custo do capital, sobem acima de zero”. Com o passar do tempo as barreiras de entrada no mercado de semicondutores tem sido alteradas, principalmente em função do tamanho do mercado que na última década cresceu exponencialmente. Um exemplo é o custo de pesquisa e desenvolvimento que percentualmente tem menos representatividade, ou seja, devido aos retornos de capital previsto este custo é facilmente diluído e assim é minimizada esta barreira de entrada. Novos concorrentes estão se unindo a concorrentes tradicionais na busca por parcela de mercado nas áreas de computadores pessoais e servidores, onde a Intel Corporation é líder. Ao mesmo tempo são enfrentados concorrentes existentes nos segmentos de mercado adjacentes onde é buscada a liderança , como smartphones e tablets. Os concorrentes incluem: Advanced Micro Devices (AMD), International Business Machines (IBM) e Oracle. Outro forte concorrente no mercado de semicondutores são baseados em arquitetura ARM * licenciados da ARM limitada, como Qualicomm , NVIDIA Corporation, Samsung Electronics e Texas Instruments Incorporated. O principal concorrente para a família McAfee de produtos e serviços de segurança é Symantec Corporation. 219 A INFLUÊNCIA DAS FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER NA ESTRATÉGIA DA INTEL CORPORATION Observa-se que da lista de competidores, citada acima, muitos deles são antigos clientes que optaram pela verticalização da sua produção e atualmente produzem seus próprios microprocessadores, como forma de ampliar os lucros de seus negócios, bem como diminuir a dependência dos produtos complementadores. A economia de escala ainda é uma barreira representativa a favor da Intel Corporation uma vez que esta empresa possui, ainda hoje, cerca de, 65,3% do mercado de microprocessadores. A campanha Intel inside também se tornou uma forte barreira de entrada, pois a marca Intel tem grande apelo ao mercado consumidor, dificultando assim a entrada de novos concorrentes. c) Poder de barganha de clientes O poder de barganha do comprador é uma das forças verticais que influenciam a apropriação de valor criado por um setor. Ele permite aos clientes comprimir as margens da indústria forçando concorrentes a reduzir os custos ou aumentar a qualidade dos produtos oferecidos. A Intel vende seus produtos principalmente para fabricantes originais de equipamentos. Além disso, são vendidos produtos para outros fabricantes, incluindo fabricantes de uma vasta gama de equipamentos industriais e de comunicações. Entre os clientes estão inclusos também aqueles que compram componentes de computadores pessoais e de outros produtos através de distribuidores, revendedores, canais de varejo em todo o mundo. Em 2012, a Hewlett-Packard foi responsável por 18% da receita líquida (19% em 2011 e 21% em 2010), a Dell Inc. responsável por 14% da nossa receita líquida (15% em 2011 e 17% em 2010), e Lenovo Group Limited foi responsável por 11% da nossa receita líquida (9% em 2011 e 8% em 2010). Nenhum outro cliente foi responsável por mais de 10% da receita líquida durante esses períodos. O fato de a Intel vender seus produtos a clientes diversificados e a responsabilidade sob o faturamento estar diluída atenua o poder de barganha dos clientes. d) Poder de barganha dos fornecedores Segundo Ghemawat (2010) “ O poder do fornecedor é a imagem especular do poder do comprador. Em consequência disto sua analise tipicamente focaliza primeiro o tamanho e a concentração dos fornecedores em relação aos participantes da indústria e, a seguir, o grau de diferenciação nos insumos fornecidos. A capacidade para cobrar preços diferentes dos clientes, de acordo com diferenças no valor criado para cada um deles, em geral indica que o mercado é caracterizado por alto poder dos fornecedores (e baixo poder dos compradores)”. Em 29 de dezembro de 2012, 56% da produção incluindo microprocessadores e chipsets, foi realizado dentro dos EUA em instalações próprias, no Novo México, Arizona, Oregon e Massachusetts. Os 44% restantes de fabricação foi realizado fora os EUA em instalações próprias na Irlanda, China e Israel. Fabricação realizada dentro e fora dos EUA é influenciada pelo tempo de transição de uma instalação para uma nova tecnologia de processo, bem como a utilização da capacidade de uma instalação. A fabricação de componentes é feita por terceiros para determinados componentes, incluindo produtos de comunicação e networking. Além disso, são usados, principalmente subcontratados para a fabricação de produtos e sistemas em nível de tablets e smartphones. Alguns produtos para redes de comunicação e componentes de telefones celulares de fornecedores externos, principalmente na região da Ásia-Pacífico. 220 A INFLUÊNCIA DAS FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER NA ESTRATÉGIA DA INTEL CORPORATION Devido a Intel possuir mais de 65,3% do mercado de semicondutores isto a torna extremamente forte quando comparada aos fornecedores, tornado assim o poder de barganha dos fornecedores reduzido. Outro ponto a ser considerado é o fato da verticalização efetuada pela Intel em suas linhas de produção de forma a torna-la menos dependente da cadeia produtiva. Observa-se que a subcontratação é efetuada apenas para produtos que não fazem parte do mercado principal da companhia tornando-a assim pouco representativa quando da analise desta força competitiva para estes fornecedores. e) Ameaça de produtos substitutos A Intel Corporation oferece plataformas que integram vários componentes e tecnologias, incluindo um microprocessador e chipset, ou stand-alone SoC. Além disso, a plataforma pode ser reforçada por hardware, software e serviços. Em 2011, a Intel adquiriu a McAfee, com o objetivo de melhorar a segurança geral das plataformas. Além dos produtos baseados no processador Atom, para o segmento de mercado de smartphones, a Intel possui componentes e plataformas para celulares e dispositivos móveis conectados. A aquisição das soluções sem fio (WLS) da Infineon Technologies AG, em 2011, permitiu oferecer uma variedade de componentes de telefones celulares. A Figura 4 demonstra a composição do faturamento da Intel nos anos de 2010, 2011 e 2012. FIGURA 4 – Percentual de receita por segmento De acordo com a figura acima 64% do faturamento da Intel é obtido através da unidade de negócios PC Client Group, Em contra partida observa-se que esta unidade é responsável pela venda de equipamentos aplicáveis a computadores pessoais, enquanto a unidade Other IA, que é responsável pelo desenvolvimento e fabricação de equipamentos de tablets e Smartphones, responde por apenas 8% e este valor é mantido estável nos últimos 3 anos. Quando este dado é comparado com as informações disponibilizadas na Figura 2 e a informação de que em 2015 o mercado de dispositivos móveis ultrapassara o de dispositivos baseados em tecnologia tipo x86 fica claro que o mercado principal da Intel Corporation está sendo transformado e substituído. 221 A INFLUÊNCIA DAS FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER NA ESTRATÉGIA DA INTEL CORPORATION f) Produtos complementadores Na indústria de tecnologia os produtos complementadores são fundamentais no desenvolvimento da estratégia. Um forte exemplo da necessidade de produtos complementadores é a relação entre Intel e Microsoft. Para o desenvolvimento de novos produtos de hardware é necessário o desenvolvimento de novos software. Este mesmo tipo de parceria é necessário com as empresas fabricantes dos computadores pessoais. Outro ponto que merece atenção é que muitos produtos complementadores podem tornar-se competidores como é o caso da IBM e Apple, quando decidem verticalizar suas cadeias produtivas. 6. Considerações Finais Ao concluirmos a analise das cinco forças de Porter e a força referente a produtos complementares pode-se notar a forte influência das forças competitivas nos resultados da Intel Corporation, observa-se ainda que a estratégia competitiva seguida por esta empresa leva em consideração estes fatores, contudo alguns pontos são passiveis de observação, a saber: a) A rivalidade entre a concorrência: No início da década de 90 a Intel Corporation detinha o quase monopólio do mercado de semicondutores e a rivalidade entre a concorrência era inexpressiva propiciando um alto retorno ao capital investido. Embora nos dias atuais este retorno ainda seja bastante atrativo, observa-se a tendência de queda, logo esta força competitiva tem influência negativamente no resultado do período. b) Ameaça de novos entrantes: Na década de 80 a Intel Corporation viu-se forçada a mudar de mercado de atuação em função da entrada de novos concorrentes, notadamente japoneses. De acordo com os dados levantados durante a realização desta pesquisa são observados impactos, tênues, devido a novos entrantes no mercado principal de atuação da Intel, contudo os impactos no mercado secundário de atuação é representativo e tende a ser ampliado. c) Poder de barganha dos clientes: Devido a estratégia de diversificação de clientes e também à grande parcela de mercado que a Intel detém em seu core business observa-se que o poder de barganha dos clientes é uma força que influencia positivamente o resultado da Intel e pode ser considerado como uma força. d) Poder de barganha dos fornecedores: De acordo com os dados levantados durante esta pesquisa pode-se concluir que a estratégia referente a fornecedores é impacta de forma positiva no resultado da companhia. O fato de ter integrado verticalmente durante a década de 80 pode ser considerado como o principal contribuinte outro fator representativo é a escala de produção dos produtos em que é dependente de terceiros. e) Ameaça de produtos substitutos: Os dados levantados, notadamente no capítulo referente à Marketing share, denotam produto substituto como sendo o principal causador da perda de mercado de processadores bem como a redução das taxas de retorno aplicado sob o capital. Mesmo com a crescente demanda por dispositivos móveis a Intel mantem seu foco no desenvolvimento de produtos com base x86 enquanto que os produtos substitutos são responsáveis pelo crescimento sustentável dos concorrentes. Nota-se que no final na década de 80 quando a Intel foi forçada a migrar do mercado de DRAM para o de processadores, Segundo Ghemawat (2000), esta mudança de mercado não foi dirigida pelos executivos, mas sim, pelos gerentes de primeira linha que focavam suas produções no produto mais rentável. f) Produtos complementadores: A influência dos produtos complementares pode-se notar principalmente no tocante à criação de novos produtos que exigem da Intel uma adaptação a novas tecnologias, tablets e smartphones, e representam uma influência negativa no resultado do período analisado. 222 A INFLUÊNCIA DAS FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER NA ESTRATÉGIA DA INTEL CORPORATION Através desta pesquisa podem-se observar os impactos, positivos e negativos, direto das forças de Porter bem como da força dos produtos complementares no resultado da Intel Corporation no período de 2010 a 2012, bem como as ações estratégicas tomadas que posicionam a empresa dentro do seu mercado de atuação. 7. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: Informação e Documentação -Trabalhos acadêmicos - Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2001. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: Informação e Documentação - Citações em Documentos - Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2002. GHEMAWAT, P. A Estratégia e o Cenário de Negócios: Texto e Casos, 1ed. Porto Alegre, Bookman, 2000. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1994. INTEL – 2012 ANNUAL REPORT – Relatório Anual 2012, USA, Diponível em: http://www.intc.com/intel-annual-report/2012/business/revenue-by-major-operating-segment/ http://www.intc.com/intel-annual-report/2012/financial-statements/consolidated-statements-ofincome/ MINTZBERG, H.; BRUCE, A; JOSEPH, L. Safári de Estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico, Porto Alegre: Bookman, 2000. PORTER, M.E. 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