ZOROASTRO

Transcrição

ZOROASTRO
ZOROASTRO
Ney Lisboa de Miranda 33°
Or.’. Curitiba, PR, 13/04/11
Ali na velha “Pérsia”, terra de Omar Kayan, onde o caudaloso Karum se
forma de inúmeras e borbulhantes nascentes, para depois se derramar
descendo sobre os blocos de pedra, furioso e bramindo, situava-se uma
grande e baixa planície, em meio de ameaçadores conjuntos de rochas.
Matagais fechados e espinhosos circundavam-na de tal modo, que era
necessário abrir o caminho a machadadas através desse espinhal, com o uso
do “real machado” para que o pé humano fosse capaz de pisar nessa
planície.
Apenas naquela época em que como “cavaleiros do sol” os seres
reverenciava o astro rei – Mithra - como deus e a lua sua consorte dividiam
fraternalmente entre si o domínio sobre os dias das criaturas humanas, essa
vasta área era coberta de verde. Mas então era também de uma beleza
embriagadora.
As ervas e os musgos brilhavam como pedras preciosas, deleitando-se
na sua curta existência de dois meses. Os arbustos espinhosos enfeitavam-se
com flores amarelas da cor do sol e de um perfume doce e embriagador,
lembrando delicados pássaros, que voavam com asas coloridas em redor das
flores.
Os seres humanos chegaram aí e ficaram alegres e entusiasmados com
essa beleza. Vieram em grande número, de todas as direções, fazendo seus
acampamentos onde encontrassem um lugar, entre os agrestes rochedos, quer
lhes permitisse pernoitar, pois nessa planície ninguém podia demorar-se mais
do que permitia o “Atravan”, o sacerdote.
Ela era consagrada a ”Mithra”, o luminoso e bondoso deus que
proporcionava bênção, dando seu amor aos seres humanos.
Por isso realizavam-se maravilhosas solenidades em sua honra. Nas
rochas ressoava o júbilo das vozes humanas que cantavam canções em seu
louvor.
Às vezes, o rugir longínquo de um “leão” respondia, mas isso não fazia
bater nenhum coração medrosamente.
Enquanto isso as pessoas se encontravam na praça de “Mithra” os
animais ferozes não podiam aproximar-se de nenhum ser humano.
De fora ouvia-se baixinho uma confusão de vozes. Os acampamentos
de centenas de devotos estavam sendo preparado, na forma de um grande
eneágono, “polígono regular de nove lados”, cada um ostentando o seu
estandarte.
Ninguém ousaria se aproximar do jardim de “Mithra”, antes do canto de
Atravan, dando o sinal para o início da solenidade.
Altos montes de pedra eram erguidos cuidadosamente, depois do
“Atravan” ter marcado exatamente as regiões do céu.
Um monte ficava ali, onde os raios áureos da manhã afugentavam as
sombras temerosas do reino da noite. Era o maior de todos.
Outro se encontrava exatamente à sua frente, e os dois restantes, um à
direita e o outro à esquerda, todos em distancias iguais uns dos outros, como
se formassem “altares” situados no vértice de um triângulo, cuja ponta
indicava para o maior dos montes externos.
Proferindo orações dirigidas a Mithra, uma sacerdotisa colocou em cada
um desses altares rústicos uma pira de ferro, cheia de pedacinhos de galhos
secos.
Nesse ínterim, o Atravan retirava-se para trás de uma rocha mais
avançada, vestindo-se para festa solene.
Uma longa vestimenta branca, de lã, sem qualquer enfeite caia-lhe até
os pés. Cingia-lhe a testa um precioso diadema, tão incrustado de pedras
verde-azuladas, que do ouro nada se via.
Entrou no centro da praça batendo palmas.
Por trás de outra rocha apareceram quatro virgens vestidas de branco.
Um bordado de prata enfeitava suas vestes de lã macia, as quais caíam
levemente sobre suas belas figuras cobrindo-as até os pés.
Nas mãos seguravam vasilhas de ouro, cheias de um “óleo precioso”
com o qual enchiam as piras, sob as orações do Atravan.
Quando a última pira de oferenda flamejava, o sacerdote se calou e
elevando os braços rogou a benção dos deuses.
“Ó sublimes, fazei com que nossos corações sejam puros como as
chamas que consomem todo o mal! “Enviai o espírito do fogo para o nosso
íntimo para que ardendo em nós, nos purifique!”
A seguir o Atravan entoou um canto glorificando Atar e Mitrha.
Começaram então afluir os participantes da solenidade. Vinham de
todos os lados, alguns por cima dos cumes das rochas e outros seguindo
caminhos através do matagal; não obstante, cheios de inata dignidade.
Depois dessa cerimônia os homens acomodavam-se no chão, o Atravan
mandou trazer para si algumas peles, onde se acomodou.
A noite já tinha começado. O astro da noite mandava para baixo
trêmulos raios do céu azul-escuro. Não mais se devia ter receio de cobras, e
os outros animais eram retidos pelas chamas.
“-” Contar, contar!”– ecoavam conclamações estimuladoras.
O Atravan ainda deixou-os pedir mais um pouco; tinha que ser assim.
Depois olhou para o céu e começou.
“-” “Vós, homens do Irã, sabeis como foi criado este mundo, outrora.”
- Conte-nos, conte-nos!
Atravan respirou fundo e iniciou a sua preleção:
O sábio Espírito Santo “Ahuramazda”, Ser Supremo, proclamava o
“Avesta”, livro sagrado dos magos, é semelhante de corpo a luz e de espírito
a verdade, vivia sozinho nos sete céus. Era tudo ermo em Sua volta,
incomensuravelmente extenso se estendiam Seus reinos, mas Ele estava
sozinho, completamente sozinho.
Ele era simultaneamente o “Todo e o Nada”, portanto, o nada fazia
parte do todo e o todo era o nada.
Primeiramente pensou em Mithra, o sol brilhante, pois Ahuramazda
amava todo o luminoso. Portanto, entre todos os deuses criados por Ele,
amava mais a Mitrtha.
Ao lado de Mithra colocou o deus da pálida e serena lua, Devia dividir
com Mithra os dias. Sua luz não é tão poderosa como a de Mithra, por isso
deveria tomar a si o começo do dia, por nós seres humanos chamado de noite,
para que o luminoso a seguisse’.
E assim foram criados os demais deuses, que nada tinham a fazer, se
não divertir-se por toda a superfície da terra, mas logo se cansaram dando
início a pequenas desavenças entre eles.
Ahuramazda estava contente, os deuses estavam ocupados e não o
perturbavam. E exatamente enquanto assim pensava, eles vieram para pedirLhe:
“Senhor, coloca seres na Terra, os quais nos sejam subordinados.”
“Como devem ser constituídos?” perguntou o sábio Deus,
bondosamente.
“Devem se parecer conosco” pediu a deusa Ardvisura Anahita, a linda.
“Deixa-os ser completamente diferentes, pesados e grosseiros, mas
fortes e corajosos, para que tenhamos nosso divertimento com eles”, clamou o
deus Atar.
Ahuramazda, então, imaginou duas criaturas; o ser humano de acordo
com o pedido de Anahita e o “touro” conforme o desejo de Atar. E os deuses
ficaram alegres.
O ser humano tinha proliferado, e surgiram muitas espécies de criaturas
humanas; o mesmo acontecera em relação ao “touro”, do qual se
desenvolveram todos os demais animais que conheceis. Todos os deuses
tinham requerido para si o domínio de determinada espécie daqueles animais.
Sabeis disso.
O Atravan silenciou.
- Continua a contar – pediram muitos dos ouvintes.
Mas as chamas estavam prestes a apagar; era hora de procurar os
acampamentos. Em ordem se retiraram os homens.
Amanheceu um no o dia, e também, nascia nos homens à ansiedade
para escutarem as sábias palavras do Sacerdote, e a continuidade do relato
iniciado na noite anterior.
Era a única vez, no decorrer do ano, em que todos eram orientados.
Para o resto do ano tinham então que se aproveitar dessas narrativas.
Quando a paca estava completamente tomada e não sendo mais
possível esperar por alguns retardatários, o Atravan acendeu as três piras
centrais, onde, no entanto, faltavam as resinas aromáticas.
O Atravan sentou-se agora usava um “balandrau” de cor marrom
escura, de lã macia.
- Ontem falei a vós, homens como a Terra e tudo o que vive nela foi
criado tão maravilhosamente.
Ahuramazda, o sábio Deus, viu, porém que os seres humanos se
fixavam nos deuses que viam e pelos quais eram governados.
Com isso esqueceu-se que Ele estava acima dos deuses, de que um único
pensamento Dele podia fazer desaparecer tudo, assim côo tinha criado.
Imaginou então, a Seu gosto entes que poderia enviar para os seres
humanos, para influenciá-los, ajudá-los ou premiá-los.
Ele imaginou a “verdade”, uma maravilhosa figura feminina vestida de
azul, com límpidos olhos azuis. Para onde a enviasse, não poderia persistir
uma nebulosidade.
Deu-lhe como irmã, a “pureza”, uma figura feminina vestida de branco–
prateado e com um véu luminoso diante do seu rosto encantado.
Quando Ahuramazda enviou essas duas para os seres humanos, viu
aquelas pessoas que delas se aproximavam se julgavam melhores do que as
demais.
Ahuramazda, bondoso e sábio, ponderou o seu cuidado e criou mais
uma figura feminina, singela e modesta, em vestido cinza-prateado. Ela segue
a verdade e a pureza e conduz com mãos suaves e amenas as pessoas
prestes a embriagarem-se consigo mesmas.
Essa preciosa criatura chama-se “humildade”,
que em seu íntimo
guarda o tesouro que o Deus, depositou nela.
Quem reconhece a humildade, sendo por ela amado, esse receberá a
bem aventurança.
Essas servas ajudaram fielmente ao Deus Supremo, tornaram-se
queridas e indispensáveis a Ele.
Contente com elas permitiu-lhes formularem pedidos que viessem
beneficiar os seres humanos e aproximá-los mais do Supremo Juiz.
A “verdade” imaginou a sabedoria, que sempre poderia permanecer
junto das almas, visando à verdade. E essa foi agregada a ela.
A “pureza” sorria. Então o bondoso Deus soube o que sua mais cara
filha desejava, doando-lhe o florescer das almas humanas que por ela se
deixassem guiar.
Sabeis, oh homens: quem aqui na erra se esforça pela pureza, esse
se torna uma alegria para todos nós. Pensai em vossas mulheres! Pensai na
mais linda mulher terrena, da qual temos notícia, na princesa Dijanitra.
Mas a “humildade” pediu: “Senhor, deixa brotar nas almas o desejo de
retransmitir aquilo que estão recebendo. Deixa-se esquecerem de si próprias
para que possam auxiliar aos outros.”
Aí Ahuramazda imaginou o amor que esquece a si próprio.
“Seis belas mulheres e rodeiam”, dizia para si. “Está certo, pois se
originaram do Meu pensamento. Mas oriundo da Minha vontade quero colocar
um homem ao lado delas: o herói! Deve trazer em si todas as virtudes do
verdadeiro homem.
E prosseguiu o Atravan narrando:
- Passaram-se longos, longos tempos; geração após geração de seres
humanos surgiu e desapareceu. Finalmente os servos de Ahuramazda se
esforçavam pelos habitantes da Terra. Deus olhava cheio de alegria para as
Suas criaturas.
Aí ocorreu algo de horrível. Para compreender o surgir disso, deveis
saber que o todo errado que nós seres humanos fazemos cai para abaixo da
Terra. Ali existe um lugar, onde ficam recolhidas todas essas más ações, as
más palavras e todos os maus pensamentos. E daquele longínquo tempo que
tem passado desde a criação da Terra, acumularam-se ali inimagináveis
quantidade de imundície.
Esse aglomerado de más ações foi ganhando força e se tornou
“Anramainyu”, o espírito do mal. Nascido da imundície de tudo quanto é
terreno, também só podia produzir coisas horrendas.
Ele sabia de “Ahuramazda” e queria se igualar a Ele.
“Se Tu esta vivendo nos sete céus acima da Terra”, exclamou, “então eu
habitarei as sete cavernas debaixo da Terra!
Tens imaginado deuses, “pois bem, farei o mesmo que Tu”
Foi com esse nefasto propósito, criou os espíritos do mal, para tê-los
como auxiliares, os quais ainda hoje, continuam atormentar o homem.
Oh! Obreiro da Arte-Real, quantas vezes, no curso da vida tivestes de
combatê-los com as armas da justiças, da honestidade, da humildade, da
verdade protegendo-se com o escudo da “liberdade de pensar” para edificar
Templos à Virtude e Masmorras ao Vício.
Quem ainda não se deparou com os vilões; Sete, Arimam, Akirop, os
trigêmeos Jubelos e tantos outro asseclas de Anramainyu ?.
Mas, isso não prosseguirá eternamente – confirmou o Atravan. – Temos
uma profecia em que a vida da Terra não será eterna. Todavia, o bem vencerá
o mal, pois que está para terminar com o nascimento do preparador do
caminho, o Zoroaster.
Com ele, novos sentimentos ungirão os homens, será anunciada a
humanidade a vinda do Saoshyant, o libertador o guerreiro da paz.
“Zoroaster” preparava a vinda do Saoshyant, e anunciava a revelação
aos homens da existência de sete astros errantes circulando pelos caminhos
do céu e com eles é tecida a eternidade: a Lua que brilha durante a noite; o
lúgubre Saturno; o doce Sol; a deusa Pafos, protetora dos casamentos; o
corajoso Marte; o fecundo Hermes e Zeus, princípio do nascimento, fonte da
natureza. Os mesmos receberam em partilha araçá humana e há em nós a
Lua, Zeus, Marte, Vênus, Saturno, o Sol e Hermes. Tiramos, também, do fluido
etéreo as lágrimas o riso, a cólera, a geração e o sono e o desejo.
Pregava, ainda:
- Todo o ser que desejasse encarnar-se sobre a Terra, seria protegido
pelos sete astros, porquanto o Sol, dar-lhe-ia a faculdade de conhecer; a Lua,
o desejo de viver; Marte, o instinto de luta; Mercúrio, o prazer das riquezas;
Júpiter, a ambição; Venus, o amor da mulher; Saturno, a inclinação ao
repouso.
Recomendava ainda, que o homem assim armado com os principais
pendores que inspiram as ações dos humanos, a sua sorte dependeria do uso
que delas fizesse.
Finalizava, alertando que todo o homem que triunfar das tentações
sensuais engrandece suas faculdades mentais. Deus lhe dará a luz na
proporção dos seus méritos.
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Bibliografia:
História da Civilização Ocidental 1º Volume – Edward McNall Burns – 1955
Coleção “O Mundo do Graal”
Curso de Maçonaria Simbólica – Teobaldo Varoli Filho
Kadosh - Rizzardo da Camino.

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