HÉLIO MAURÍCIO VIANA GONZAGA
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HÉLIO MAURÍCIO VIANA GONZAGA
1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB) Pró-reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-graduação (PPG) Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS) Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada – Mestrado (PPHI) HÉLIO MAURÍCIO VIANA GONZAGA RALEIO QUÍMICO DE CACHOS DE UVA DA CV. SUPERIOR SEEDLESS COM O USO DE ÁCIDO GIBERÉLICO JUAZEIRO – BA 2008 2 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB) Pró-reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-graduação (PPG) Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS) Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada – Mestrado (PPHI) HÉLIO MAURÍCIO VIANA GONZAGA RALEIO QUÍMICO DE CACHOS DE UVA DA CV. SUPERIOR SEEDLESS COM O USO DE ÁCIDO GIBERÉLICO Dissertação apresentada junto ao Programa de PósGraduação em Horticultura Irrigada da Universidade do Estado da Bahia (PPHI/UNEB/DTCS), como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Horticultura Irrigada. Área de Concentração: Fitotecnia. Orientador : Prof. D.Sc. Valtemir Gonçalves Ribeiro. JUAZEIRO – BA 2008 3 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIAS E CIÊNCIAS SOCIAIS - DTCS - UNEB G635 Gonzaga, Hélio Maurício Viana Raleio Químico de cachos de uva da cv. Superior Seedless com o uso de ácido giberélico / Hélio Maurício Viana Gonzaga – Juazeiro: UNEB / Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais, [s.n], 2008. xiv, 57 f. : il. ; 29,7 cm. Orientador: Valtemir Gonçalves Ribeiro Dissertação (Mestrado em Horticultura Irrigada) – Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais. 1. Videira. 2. Uvas sem semente. 3. Vitis vinífera (L.). I. Ribeiro, Valtemir Gonçalves. II. Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais. III. Título. CDD 634.8 4 HÉLIO MAURÍCIO VIANA GONZAGA RALEIO QUÍMICO DE CACHOS DE UVA DA CV. SUPERIOR SEEDLESS COM O USO DE ÁCIDO GIBERÉLICO Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação Horticultura Irrigada da Universidade do Estado da Bahia (PPHI/UNEB/DTCS), como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Horticultura Irrigada. Área Concentração: Fitotecnia. Aprovada em : 26/09/2008 ________________________________________ Prof. D.Sc. Valtemir Gonçalves Ribeiro Universidade do Estado da Bahia (DTCS / UNEB) _________________________________________________ Pesq. D.Sc. José Egídio Flori Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) _________________________________________________ Pesq. D.Sc. Débora Costa Bastos Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) de 5 Aos meus pais, José Teles e Alzira OFEREÇO À Ana Paula, minha esposa E Victória, minha filha DEDICO 6 AGRADECIMENTOS À Deus acima de tudo e todos, pois sem ele nada na vida seria possível. Aos meus pais, José Teles Gonzaga e Alzira do Nascimento Viana Gonzaga, pela dedicação, carinho e incentivo. À minha esposa, Ana Paula Gonçalves Agra e à minha filha, Victória Gonçalves Agra, pelo incentivo e apoio irrestritos. À UNEB / DTCS pelo contínuo aprendizado. Ao Professor Valtemir Gonçalves Ribeiro, pela orientação, apoio e amizade. Ao Professor Gilton Carlos Anísio de Albuquerque, pela coordenação na análise econômica e amizade. Aos professores e amigos, Manoel Abílio de Queiroz e João Domingos Rodrigues, sem os quais provavelmente não teríamos aprovado o curso de mestrado em Horticultura Irrigada, pela UNEB. À Fazenda FruitFort Agrícola e em especial ao seu gerente, Voltaire Diaz Medina, pela amizade, apoio e incentivo. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para o sucesso do trabalho Aos meus amigos e, À minha família. 7 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS 9 LISTA DE TABELAS 10 RESUMO GERAL 11 GENERAL ABSTRACT 13 1.INTRODUÇÃO 15 2.REVISÃO DE LITERATURA 16 2.1.Origem geográfica e classificação botânica 16 2.2.Aspectos morfológicos 18 2.3.Considerações sobre a viticultura 19 2.4.‘Superior Seedless’ 22 2.5.‘SO4’ 23 2.6.Raleio químico 23 2.7.Biorreguladores e Fitorreguladores 24 2.8.Ácido Giberélico 24 3.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 26 OBJETIVO GERAL 30 CAPÍTULO I : Uso de ácido giberélico no raleio de cachos de uva da cv. Superior Seedless, enxertada sobre o porta-enxerto ‘SO4’, cultivada na região do Vale do Submédio São Francisco. 31 RESUMO 32 ABSTRACT 33 INTRODUÇÃO 34 MATERIAL E MÉTODOS 36 RESULTADOS E DISCUSSÃO 36 CONCLUSÕES 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 41 8 CAPÍTULO II : Análise técnico-econômica do raleio químico de cachos de uva da cv. Superior Seedless, com o uso de ácido giberélico 44 RESUMO 45 ABSTRACT 46 INTRODUÇÃO 47 MATERIAL E MÉTODOS 48 RESULTADOS E DISCUSSÃO 48 CONCLUSÕES 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52 CONSIDERAÇÕES FINAIS 53 CONCLUSÃO GERAL 54 ANEXOS 55 9 LISTA DE FIGURAS 1. Morfologia do cacho da videira. 5 2. Efeito de aplicações de GA3 a 0,5 e 6 mg.L-1, (da esquerda para direita), respectivamente, em cachos de uvas da cv. Superior Seedless. 24 3. Efeito de aplicações de GA3 a 2 e 4 mg.L-1 (da esquerda para direita), respectivamente, em cachos de uvas da cv. Superior Seedless. 26 4. Efeito de aplicações de GA3 a 6 e 8 mg.L-1 (da esquerda para direita), respectivamente, em cachos de uvas da cv. Superior Seedless. 26 5. Efeito de aplicações de GA3 (0, 0,5, 1,0, 2,0, 4,0, 6,0 e 8,0 mg.L-1) sobre o número de bagas por cacho da cv. Superior Seedless. 34 10 LISTA DE TABELAS 1. Quadrados médios da análise de variância para comprimento médio do cacho, engaço e “ombros” e densidade de bagas da cv. Superior Seedless, em resposta a tratamentos com ácido giberélico. 22 2. Quadrados médios da análise de variância para massa da matéria fresca de cacho e bagas, e diâmetro e comprimento de bagas da cv. Superior Seedless, em resposta a tratamentos com ácido giberélico. 22 3. Efeito do ácido giberélico (GA3) sobre o comprimento de cacho, engaço e “ombros”, e na densidade de bagas da cv. Superior Seedless. 23 4. Efeito do ácido giberélico (GA3) sobre a massa da matéria fresca de cachos e bagas, e diâmetro e comprimento de bagas da cv. Superior Seedless. 25 5. Quadrado médio da análise de variância para número de bagas por cacho da cv. Superior Seedless, em resposta a tratamentos com ácido giberélico. 34 6. Comparação de custos entre o raleio manual e o raleio químico de cachos da cv. Superior Seedless. 36 11 RESUMO GERAL O Vale do São Francisco é a principal região exportadora de uvas do País e, nos últimos anos, motivado principalmente pelas exportações de uvas sem semente, esta região apresentou uma grande expansão de sua área plantada, passando nos Estados de Pernambuco e Bahia de 8.023 ha em 2005 para 11.208 ha em 2007, um aumento de 39,7 % (IBGE, 2008). Nessa região devido a rápida expansão da cultura os produtores vêm passando por grande dificuldade em conseguir mão de obra em quantidade suficiente com qualificação adequada, principalmente para as atividades de raleio manual de bagas (pinicado e raleio), que consomem grande parte da mão de obra utilizada na cultura. Paralelo a isso, surge também a necessidade urgente da redução de custos na cultura visto que a desvalorização cambial e o aumento freqüente dos principais insumos agrícolas e da mão de obra, que é reajustada anualmente, podem tornar inviável a produção dessas uvas em um curto espaço de tempo. Este trabalho teve como objetivo estudar os efeitos do ácido giberélico no raleio químico de cachos de videira cv. Superior Seedless para reduzir os tratos culturais com raleio manual de bagas, permitido assim uma diminuição dos custos da mão de obra na cultura bem como uma melhoria na qualidade das uvas. O experimento foi realizado em pomar comercial na Fazenda Copa Fruit S.A., município de Petrolina-PE. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com sete tratamentos (GA3: 0,0, 0,5, 1,0, 2,0, 4,0, 6,0 e 8,0 mg.L-1), quatro repetições e duas plantas por parcela. As aplicações dos tratamentos foram realizadas em três fases, a primeira antes da antese e a segunda e terceira com aproximadamente 25% e 80% de flores abertas, respectivamente, utilizando-se um volume de calda de 2.000 litros/ha. Os cachos foram colhidos com 60 dias após a poda e as características avaliadas foram: comprimento médio de cacho, engaço e “ombros”; densidade de bagas; massa da matéria fresca do cacho e das bagas; e diâmetro e comprimento de bagas. Os melhores resultados para o raleio foram obtidos com a concentração de 0,5 mg.L-1, que proporcionou uma densidade de 5,39 12 bagas/cm de cacho, contra 8,24 bagas/cm de cacho obtido pela testemunha. Em relação à melhoria da qualidade de cachos e bagas, aplicações de GA3 acima de 2,0 mg.L-1, apesar de mostrarem eficiência no aumento do comprimento de cachos, tiveram efeitos negativos na massa da matéria fresca de cachos de bagas, inviabilizando os cachos comercialmente. A análise econômica comparando o raleio convencional (manual) com o raleio químico dos cachos indicou que este foi muito mais viável, com uma economia de 70,36% em relação ao raleio convencional, sobretudo, pela economia da mãode-obra. 13 GENERAL ABSTRACT San Francisco Valley is the main exporting region of grapes in the Country and, in recent years, motivated mainly for the exportations of seedless grapes, this region presented a great expansion in his planted area, passing in the state of Pernambuco and Bahia of 8.023 ha in 2005 for 11.208 ha in 2007, a 39.7% increase (IBGE, 2008). In this region due the fast expansion of the culture the producers come passing for great difficulty in obtaining hand of workmanship in enough amount with adjusted qualification, mainly for the activities of manual thinning of berries, that they consume great part of the hand of workmanship used in the culture. Parallel to this, also appears the urgent necessity of reduction of costs in the culture since the exchange depreciation and the frequent increase of the main agricultural fertilizers and the hand of workmanship, that is readjusted annually, can become impracticable the production of these grapes in a short space of time. This research had the objective to study the effect of gibberellic acid in the chemical thinning of grapevine clusters to reduce the cultural treatments with manual thinning of berries, thus allowed a reduction of the costs of the hand of workmanship in the culture as well as an improvement in the quality of the grapes. The experiment was carried through in commercial orchard in Copa Fruit Farm, Petrolina - PE city. The experiment was arranged in a completely randomized design, with seven treatments (GA3: 0.0, 0.5, 1.0, 2.0, 4.0, 6.0 and 8.0 mg.L-1), four replications and two plants/plot. The applications of the treatments had been carried through in three phases, the first one before the flower opening and second and third with approximately 25% and 80% of flowers opened, respectively, using a volume of 2.000 liters for hectare. The clusters had been harvested with 60 days after pruning and the evaluated characteristics had been: average length of cluster, stem and “shoulders”; density of berries/cm of cluster; mass of fresh matter of the cluster and berries and diameter and length of berries. The best one resulted for thinning had been gotten with the 14 concentration of 0.5 mg.L-1, that provided a density of 5.39 berries/cm of cluster, against 8.24 berries/cm of cluster gotten for the witness. In relation to the improvement in quality of clusters and berries, applications of GA3 above of 2.0 mg.L-1, although they will show efficiency in the increase of the length of the cluster, had negative effect in the mass of fresh matter of clusters and berries, making commercially impracticable the clusters. The economic analysis comparing the conventional thinning with the chemical thinning of clusters indicated that this was much more viable, with a economy of 70.36% in relation to the conventional thinning, over all, for the economy of the man power. 15 1. INTRODUÇÃO Em 2005 a área ocupada com vinhedos no mundo foi de 7,3 milhões de hectares, com produção de 65,9 milhões de toneladas de uvas. A Espanha possuía a maior área de cultivo com cerca de 949 mil hectares, seguida pela França com 855 mil hectares e a Itália, com 800 mil hectares. O Brasil ocupa a 21ª posição, com cerca de 73.715 hectares (REGINA, 2006). Entretanto, destacando-se as uvas para consumo in natura, a China liderava a produção, com mais de 6 milhões de toneladas, seguida pela Turkia (aproximadamente 1,8 milhão de toneladas), Itália (aproximadamente 1,7 milhão de toneladas), Chile (aproximadamente 1 milhão de toneladas) e Estados Unidos (aproximadamente 800 mil de toneladas), (Anexo 1), (FAS/USDA, 2006). Em relação ao consumo também a China aparecia em primeiro com aproximadamente 4,8 milhões de toneladas, seguida por Turkia (1,7 milhões), Estados Unidos (1,1 milhões) e Itália (800 mil toneladas), (Anexo 2), (FAS/USDA, 2006). No contexto mundial, existe uma preferência absoluta por cultivares de uvas de mesa sem sementes, podendo-se observar que a área cultivada no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos é de aproximadamente 77.000 ha com uvas sem sementes, o que representa 85,6% da área de produção de uvas de mesa nesta região. No Chile, a área está em torno de 35.000 ha, ou seja, 70,5% da área cultivada com uvas de mesa naquele país (LEÃO, 1999). O Vale do São Francisco é a principal região exportadora de uvas do País e, nos últimos anos, motivado principalmente pelas exportações de uvas sem sementes, esta região apresentou uma grande expansão de sua área plantada, passando nos Estados de Pernambuco e Bahia de 8.023 ha em 2005 para 11.208 ha em 2007, um aumento de 39,7 % (IBGE, 2008). Destaca-se nessa região principalmente a produção das cultivares apirenas (sem sementes) como ‘Superior Seedless’, ‘Thompson Seedless’ e ‘Crimson Seedless’, que têm grande aceitação nos mercados europeu e americano, principais destinos dessas uvas. 16 Devido a fatores como o recente aumento da área plantada e a concentração do período de colheita (visando evitar o período chuvoso, que inicia a partir do fim de Outubro e que foi responsável por grandes perdas nesse setor nos últimos 03 anos), muitos produtores têm passado por grandes dificuldades em conseguir mão-de-obra para a condução da cultura, tanto em relação a quantidade quanto à qualificação das mesmas, principalmente para as atividades de raleio manual de bagas (pinicado, despenca, raleio) que consome grande parte da mão-de-obra utilizada anualmente. Paralelamente ao crescente volume produzido pela região, os preços recebidos pelos produtores por essas uvas vêm decrescendo ano a ano, principalmente devido a desvalorização do dólar, pressionando os produtores da região a buscarem alternativas para diminuir os custos, principalmente os da mão-de-obra, que é o maior deles atualmente. O uso de fitorreguladores como o ácido giberélico na viticultura também tem sido muito comum com o objetivo de melhoria da qualidade dos cachos, tanto no aumento do tamanho dos mesmos como no aumento do tamanho das bagas, havendo, entretanto, poucos estudos quanto ao seu uso no raleio de cachos. Objetivou-se, com esse trabalho, estudar os efeitos do ácido giberélico no raleio químico de cachos de videira cv. Superior Seedless, para reduzir os tratos culturais com raleio manual de bagas e, permitir assim, aumentos na rentabilidade do produtor, através da diminuição dos custos da mão de obra bem como melhoria da qualidade das uvas. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Origem geográfica e classificação botânica A videira é originária do árido Cáucaso, na Ásia, e é uma das frutíferas mais antigas utilizadas na alimentação humana e a sua produção se distribui por todo o mundo. Sua origem vem de 6.000 a.C. No Brasil, o cultivo da videira começou em 1535, na Capitania de São Vicente trazida pelos portugueses (CEAGESP, 2007). Segundo SOUZA (1996), a videira surgiu na atual 17 Groelândia, conforme comprovam os achados arqueológicos e, a partir daí, se dispersou seguindo duas direções principais: uma américo-asiática e outra euro-asiática. A videira pertence ao gênero Vitis, único gênero com importância econômica, social e histórica da família Vitaceae ou Ampelidaceae, da ordem Rhamnales (LEÃO, 2001). De acordo com LEÃO (2001), o germoplasma de Vitis está distribuído em três centros de origem: 1) Centro Euroasiático: caracterizado por clima temperado, verão quente e seco e inverno frio e úmido, do qual são originárias as espécies Vitis vinifera e Vitis silvestris. A espécie Vitis vinifera é a videira mais cultivada no mundo e, segundo a bibliografia, teria surgido a partir do Cáucaso, região situada entre a Armênia e a Pérsia (atual Irã) e se difundido por todo o mediterrâneo. A viticultura européia está baseada em variedades desta espécie, considerando-se como plantas com excelentes características para produção de vinhos de excelente qualidade, consumo ‘in natura’ ou passas. O cultivo desta espécie no Brasil concentra-se na região semi-árida do Nordeste pois estas variedades são mais exigentes em relação ao clima e não toleram alta umidade relativa do ar e intensas precipitações pluviométricas. 2) Centro Asiático: abrange regiões de clima muito diverso desde latitudes entre 40 e 50º N até 10º S. Pela sua dimensão territorial e amplitude climática, este centro é rico em espécies e em variabilidade genética. Entretanto, as suas espécies são pouco conhecidas e raramente utilizadas. 3) Centro Americano: Aqui se encontram as variedades da espécie vitis americanas, que ocupam vasto território a partir do Canadá, onde encontra-se a Vitis riparia até a América Central, Colômbia e Equador onde está a Vitis caribaea. Este centro é importante não apenas pela sua riqueza genética como também pela utilização de suas espécies tanto no melhoramento genético como na produção comercial de uvas. Essas espécies predominam em área cultivada no Brasil. São mais fáceis de se cultivar porque apresentam maior 18 rusticidade e resistência a doenças e pragas, tolerando melhor condições climáticas com alta umidade relativa, como as que são encontradas na tradicional zona de produção de uvas do Rio Grande do Sul. 2.2. Aspectos morfológicos De acordo com CATALUÑA (1991), a videira é um arbusto sarmentoso (de ramos longos, delgados e flexíveis) e trepador que se fixa a tutores naturais ou artificiais através de suas gavinhas. Assim, na videira podese distinguir uma parte enterrada, formada por raízes, e outra parte aérea, na qual se pode diferenciar o tronco, os braços, os sarmentos (que se mantém por vários anos), as folhas, os frutos e as gavinhas (cuja vida útil não ultrapassa um ano). As espécies do gênero Vitis possuem flores com cálice reduzido. A corola apresenta pétalas livres em sua base e soldadas no ápice, formando um capulho ou caliptra que se desprende completamente durante a floração. O estilete é curto. As folhas são palminérveas e geralmente lobuladas (LEÃO, 2001). De acordo com DAMIÃO FILHO & MÔRO (2001), a videira apresenta frutos carnosos, indeiscentes, do tipo baga, ou seja, que possuem o epicarpo delgado e o mesocarpo e endocarpo carnosos (figura 1). Segundo MULLINS et al. (1992), as bagas são compostas por pericarpos que apresentam-se subdivididos em três partes principais: epicarpo ou película, mesocarpo ou polpa e endocarpo que é a parte mais interna da polpa. A película das bagas é constituída por tecido do colênquima. Sua importância está associada a proteção do fruto e por seus tecidos constituintes terem uma elevada proporção de substâncias responsáveis pela pigmentação, sabor e aroma. MULLINS et al. (1992), afirmam que a polpa contém o suco ou mosto e constitui cerca de 90% do peso do fruto. No interior da polpa, encontram-se as sementes ou rudimentos de sementes, no caso de variedades apirenas. Os frutos da videira, denominados bagas, estão reunidos em cachos (Figura 1). Os cachos são formados pelo pedúnculo e ramificações que correspondem ao engaço, em cujas extremidades, chamadas de pedicelos, 19 estão presas as bagas (KUHN et al., 1984; SOUZA, 1996). De acordo com SOUZA (1996), os cachos variam quanto ao tamanho (muito pequenos – menos que 150 g; pequenos – 151 a 250 g; médios – 251 a 800 g; grandes 801 a 1500 g e muito grandes - acima de 1500 g), forma (cônica, cilíndrica e alada) e compacidade (muito compactos, moderadamente compactos, muito cheios, soltos e muito soltos). Figura 1. Morfologia do cacho da videira (CEAGESP, 2007) 2.3. Considerações sobre a viticultura A imigração italiana em São Paulo e no Rio Grande do Sul, no final do século XIX, deu um grande impulso à cultura. O consumidor pode saborear uva o ano todo. Uma pesquisa sobre os hábitos de compra do consumidor de uva feita pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) mostrou que os consumidores procuram a uva nas gôndolas e que a doçura da baga é a característica determinante da compra. A falta de confiabilidade da uva é o principal gargalo do produto (CEAGESP, 2007). São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Pernambuco e Bahia são grandes produtores. As melhores épocas de produção variam com as características climáticas de cada região (CEAGESP, 2007). 20 A videira é uma das mais importantes espécies frutíferas cultivadas no mundo. Segundo a FNP (2002) a viticultura apresentou no ano 2000 uma produção mundial de 8.003.700 toneladas, onde a Turquia foi a maior produtora com 3.500.000 toneladas (43,73%). A Itália veio em segundo lugar, com 1.550.000 toneladas (19,37%), seguida pelo Chile com 935.000 toneladas (11,68%). Em termos de consumo mundial (total de 3.816.320 toneladas), a Turquia liderou, consumindo 1.700.250 toneladas (44,55%), a Itália 692.000 toneladas (18,13%) e, os EUA, 550.000 toneladas (14,41%) da fruta. De acordo com a FNP (2005), no período de 2003/04 a produção mundial de uva de mesa aumentou para 11.497.823 toneladas, sendo a China o maior produtor, com 5.000.000 toneladas (43,49%), a Turquia com 1.750.000 toneladas (15,22%) e a Itália com 1.553.423 toneladas (13,51%). O consumo mundial nesse período foi de 7.917.462 toneladas, onde os maiores consumidores foram: China (3.800.000 toneladas, 48%), Turquia (1.582.600, 20%) e Estados Unidos (1.000.000, 12,63%). No Brasil, em 2001, a produção foi de 1.001.253 toneladas de uva, sendo as três maiores regiões produtoras : Sul, com 613.238 toneladas, onde o Rio Grande do Sul se destacam com 498.104 toneladas (81,22% da produção do Sul); Sudeste, com 226.580 toneladas onde, nessa região, São Paulo se destacou, com 213.329 toneladas (94,15% da produção do Sudeste) e a região Nordeste, com 161.435 toneladas, na qual Pernambuco produziu 95.700 toneladas (59,28% da produção do nordeste), (FNP, 2002). Já em 2004, a produção brasileira de uva foi de 1.298.874 toneladas, sendo que, a região Sul permaneceu como a maior produtora (826.348 toneladas, 63,62%), e o RS participou com 85,26% dessa produção. Em seguida vieram a regiões Sudeste, com 238.634 toneladas (18,37%), tendo São Paulo 94% dessa produção e Nordeste, com 233.892 toneladas (18%), sendo que Pernambuco apresentou 64,41% da produção dessa região (FNP, 2005). Em 2004, o valor mundial de exportação foi de 2.226.050 toneladas e o Chile tornou-se o maior exportador (670.000 toneladas, 30,10%). A Itália exportou 600.000 toneladas de uva (26,95%) e os EUA permaneceram em 21 terceiro lugar, com 300.000 toneladas, sendo 13,48% da produção mundial (FNP, 2005). Pode-se observar que, no contexto mundial houve considerável aumento na produção de uva a partir de 2000 até 2003/04. Além disso, a China assumiu a liderança tanto na produção como no consumo. O Brasil, apresentou aumento na produção e consumo, no entanto, permaneceu com as mesmas regiões em destaque. O crescente interesse dos viticultores pela produção de uvas sem sementes é uma conseqüência dos seguintes aspectos: seguir as tendências de consumo do mercado internacional; buscar uma melhoria de qualidade, que permita competir em igualdade de condições com importantes exportadores mundiais como Estados Unidos, Chile e África do Sul e oferecer novas alternativas de cultivares no mercado interno, especialmente em um contexto de mercado globalizado, com a presença cada vez mais forte de cultivares de uva sem sementes, procedentes principalmente do Chile (LEÃO, 1999). O cultivo de uvas sem sementes é uma tendência cada vez mais evidente entre os produtores do Pólo de Irrigação de Juazeiro/Petrolina. Nessa região, de onde ocorre cerca de 90 % das exportações brasileiras dessa fruta, a uva sem semente já ocupa a maior área cultivada com variedades sem sementes do país, cerca de 7.000 ha, com a grande maioria dessa área plantada com a variedade Festival. A ampliação dos plantios tem mobilizado investimentos de grandes, médios e pequenos produtores. Segundo Leão (1999), as safras de uvas sem sementes ainda são pequenas (20 t/ha/ano) se comparadas com as cultivares com semente, como a Itália (50 t/ha/ano). Essa diferença, contudo, é compensada pela grande preferência que os consumidores de mercados importantes, como o inglês, manifestam com relação às variedades sem sementes. E, também, pelos preços que têm alcançado com as exportações. Enquanto uma caixa de 4,5 kg da variedade Itália alcança U$ 7,00, a caixa de 4,5 kg da uva sem semente chega a U$ 14,00. Segundo GAYET (1993), as uvas de mesa devem apresentar as seguintes características para atender as exigências do mercado externo : 22 cachos com peso entre 300 a 1000 gramas e 20 cm de comprimento, formato cônico e "ombros" desenvolvidos, coloração uniforme característica da variedade, ausência de manchas de defensivos ou outros tipos de danos, bagas com diâmetro superior a 22 mm para variedades com sementes e 18 mm para variedades sem sementes, de tamanho uniforme e engaços resistentes, de coloração verde e sem defeitos. Por outro lado, BLEINROTH (1993) indica que, segundo as normas européias de classificação da uva para exportação, o tamanho mínimo de cachos é de 150 gramas para variedades com bagas grandes e 100 gramas para variedades com bagas pequenas, enquanto que para a exportação para os Estados Unidos, o peso mínimo de cachos exigido é de 227 gramas. 2.4. ‘Superior Seedless’ Foi obtida através do cruzamento entre ‘Cardinal’ e uma seleção desconhecida de uva sem sementes em programa de melhoramento genético privado na Califórnia, sendo portanto, uma cultivar patenteada, da empresa Sun World. Foi introduzida comercialmente nos Estados Unidos em 1971. Pode ser conhecida em diversos países como ‘Sugraone’ e no Vale do São Francisco como ‘Festival’ (LEÃO, 2001). Apresenta excelentes características comerciais, não obstante sua fertilidade de gemas ser baixa o que conduz à produtividades reduzidas. Outras características indesejáveis desta variedade são a irregularidade de produção entre as safras e a sensibilidade ao rachamento pedicelar das bagas durante a ocorrência de chuvas. Os prejuízos causados pelo rachamento pedicelar e desgrane das bagas têm sido minimizados pela proteção individual dos cachos com plástico ou “chapéu-chinês” durante a fase de maturação. A ‘Superior Seedless’ apresenta como grande vantagem diferencial, o excelente diâmetro de bagas, superiores ao de outras variedades de uvas sem sementes, que ainda pode ser elevado com o uso de reguladores de crescimento. O teor de sólidos solúveis totais pode ser considerado muito bom, nos dois ciclos, com média superior a 17º Brix , enquanto a acidez total dos 23 frutos é baixa, resultando em relação açúcares/acidez satisfatória. Apresentam sabor neutro agradável e textura da polpa crocante e boa conservação póscolheita (LEÃO, 2001). A excelente aceitação de ‘Superior Seedless’ no mercado externo, tem consolidado esta como a mais importante variedade de uva sem sementes em produção no Submédio São Francisco. 2.5. ‘SO4’ O porta-enxerto ‘SO4’ é uma variedade de híbridos de Teleki 4, selecionada em Oppenheim, Alemanha. A introdução do ‘SO4’ no Brasil foi uma iniciativa da estação experimental de Caxias do Sul, que o recebeu em 1961 da França, mais precisamente da Escola Nacional de Agricultura de Montpellier. A vantagem desse porta-enxerto é apresentar uma melhor maturação do lenho em relação ao ‘5 BB’, fator determinante para um melhor enraizamento (SOUZA, 1996). Possui como características uma alta emissão de raízes e um ciclo vegetativo de 239 dias. Além disso, confere alto vigor à copa da planta enxertada, adiantando a maturação da uva, permitindo uma alta produtividade da variedade copa e uma qualidade de produção regular, sendo recomendado para cultivo em solos arenosos (GIOVANNINI, 1999). 2.6. Raleio Químico No Brasil são praticamente inexistentes pesquisas sobre o raleio químico de cachos de videira sendo que em outras culturas, como macieiras e pessegueiros, essa é uma prática bastante utilizada. Em macieiras o raleio químico está amplamente difundido em todas as regiões produtoras. Esta técnica é de aplicação mais prática, rápida e econômica, quando comparada com o raleio manual. Como o raleio químico é efetuado no início do desenvolvimento das frutas, reduz a competição entre elas já neste período. Assim, as frutas remanescentes serão de maior tamanho e as chances de 24 alternância na produção são reduzidas (EDGERTON, 1973; EBERT et al., 1988; FAUST, 1989; ESPADA CARBÓ, 1994). Em pessegueiros o raleio pode ser feito de forma manual ou com auxílio de produtos químicos, entretanto, se for realizado manualmente necessita de excessiva mão-de-obra em curto período de tempo, tornando-se uma prática onerosa. O raleio químico de flores de pessegueiros, resulta em 20-30% de acréscimo no tamanho dos frutos, quando comparado ao raleio manual realizado 40-50 dias após a plena floração (BYERS, 1989). O raleio de cachos de videiras implica em uma modificação na relação entre a superfície foliar da planta e a quantidade de bagas, tornando-se uma prática para regular a produção e melhorar a qualidade das uvas (DUMARTIN et al., 1990; IACONO, 1991; YUSTE et al., 1997). 2.7. Biorreguladores e Fitorreguladores Os biorreguladores são classificados como substâncias produzidas naturalmente pelas plantas (hormônios) ou que são sintéticas, com fórmulas semelhantes aos hormônios e que se ligam aos mesmos receptores e interferem da mesma forma em sua fisiologia. Entre os fitorreguladores mais utilizados nas videiras encontram-se o ácido giberélico. O ácido giberélico mais utilizado é o GA3 que é elaborado através de um processo de fermentação biológica (ALBUQUERQUE & DANTAS, 2004). Fitorreguladores são as substâncias sintetizadas que possuem ações similares aos grupos de hormônios vegetais conhecidos (CASTRO & VIEIRA, 2001) 2.8. Ácido Giberélico ( GA3 ) O ácido giberélico é o regulador de crescimento mais utilizado em viticultura, visando principalmente ao aumento do tamanho e fixação das bagas, à descompactação dos cachos e à eliminação de sementes (PIRES, 1998). 25 A ação da giberelina vem sendo intensivamente estudada em viticultura. Aplicações efetuadas desde o aparecimento da inflorescência até o início da maturação visam principalmente ao aumento da produção através do aumento do peso dos cachos e das bagas e à obtenção de cachos medianamente soltos (que dispensam a operação de desbaste e facilitam o controle de doenças). Além disso, a aplicação do ácido giberélico pode acarretar no engrossamento dos pedicelos e engaços e obtenção de frutos sem sementes, com diminuição do ciclo da videira, antecipando-se o período de colheita (PEREIRA & OLIVEIRA, 1976). Em paises como Chile e Estados Unidos o mesmo também é amplamente utilizado no raleio químico de cachos, o que proporciona cachos menos compactos e com maior tamanho de bagas. Segundo HASHIM (2007), muitas teorias foram propostas explicando o mecanismo responsável pela indução de abscisão causada pelo GA3 em uvas sem semente. As três teorias abaixo estão entre as mais aceitas: Hipótese polinicida: Essa hipótese defende que o GA3 age como um polinicida, interferindo na germinação do pólen ou no crescimento do tubo polínico. Essa teoria foi proposta pelos primeiros pesquisadores na área que mostraram que a viabilidade do pólen, tanto em uvas com semente como sem semente, foram reduzidas pelo GA3. Esse conceito espalhou-se rapidamente entre cientistas e produtores, e foi, no passado, a teoria mais aceita. Entretanto, trabalhos no Chile e Califórnia na década passada mostraram que a germinação do pólen não é reduzida por concentrações de GA3 normalmente aplicadas comercialmente para o raleio de bagas. Hipótese do balanço hormonal: Alguns pesquisadores têm sugerido que o GA3 aplicado na floração altera o balanço hormonal natural ou endógeno nas bagas, causando a abscisão de flores ou frutos. Essa teoria sugere que uma relativa concentração hormonal, como por exemplo GA3 : Auxina ou GA3 : Citocinina regula o pegamento de bagas. Os proponentes da hipótese argumentam que níveis elevados de GA3 promovem o raleio (abscisão), enquanto as citocininas e os inibidores de síntese de GA3 promovem o pegamento. Visto que pouco é conhecido sobre como as concentrações de 26 vários hormônios na baga mudam durante o pegamento, evidências diretas que dêem suporte a essa hipótese não estão ainda totalmente esclarecidas. Hipótese da competição por nutrientes ou desenvolvimento: Essa hipótese sugere que o GA3 induz a competição por nutrientes entre flores e ramos, ou entre flores dentro do mesmo cacho. Uma versão dessa teoria é baseada na idéia que o GA3 estimula o ápice do ramo a crescer e, desse modo, desvia nutrientes do desenvolvimento das bagas para esses ápices. A abscisão (raleio) é causada devido a redução na quantidade de nutrientes disponíveis para o desenvolvimento das bagas. Outra versão dessa teoria sugere que o GA3 estimula a competição por nutrientes entre as bagas dentro do cacho pelo rápida estímulo da divisão celular e expansão no pegamento. Fisiologicamente, bagas avançadas, ou bagas de inflorescências fortes, tornariam-se drenos fortes ou usuárias desses nutrientes. Bagas mais fracas ou bagas de inflorescências mais tardias seriam efetivamente incapazes de competir com as anteriores e cairiam. Novamente, poucas informações diretas para o suporte dessa teoria são disponíveis. PIRES & MARTINS (2003), relatam que aplicações de GA3 no florescimento induz menor pegamento de flores, dando como conseqüência cachos mais soltos, visto que nessa fase, seu provável efeito é o de provocar danos nos óvulos, sem interferir na fertilidade do pólen. 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, T.C.S.; DANTAS, B.F, 2004. Uso de substâncias orgânicas na produção de uvas de mesa. Disponível em: http://www.cpatsa.embrapa.br/sistema_producao/spvideira/substancias.htm Acesso em: Maio, 2007. BLEINROTH, E. W. Normas para seleção e classificação da uva. In: Gorgatti Netto, A.; Gayet, J.P.; Bleinroth, E.F.G.; Matallo, M.; Garcia, E.; Garcia, A.E.; Ardito, E.F.G.; Bordin, M. Uvas para exportação, procedimentos de colheita e pós-colheita. Brasília: EMBRAPA-SPI. (Série Publicações Técnicas Frupex, 2), 1993, 40p. 27 BYERS, R.E. Response of peach trees to bloom thinning. Acta Horticulturae, Wageningen, n.254, p.125-133, 1989. CASTRO, P.R.C.; VIEIRA, E.L. 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Superior Seedless, na região do Submédio São Francisco, bem como a eficiência técnico-econômica dessa prática. 31 CAPÍTULO I Uso de Ácido Giberélico no raleio de cachos de uva da cv. Superior Seedless, enxertada sobre o porta-enxerto ‘SO4’, cultivada na região do Vale do Submédio São Francisco1 1 Trabalho apresentado ao curso de Pós-graduação em Horticultura Irrigada, como prérequisito para a obtenção do Título de Mestre, pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) 32 Uso de Ácido Giberélico no raleio de cachos de uva da cv. Superior Seedless, enxertada sobre o porta-enxerto ‘SO4’, cultivada na região do Vale do Submédio São Francisco Resumo: Com o objetivo de avaliar o efeito de concentrações de ácido giberélico no raleio e melhoria da qualidade de cachos de uva da cv. Superior Seedless, foi realizado este experimento em pomar comercial na Fazenda Copa Fruit S.A., município de Petrolina-PE. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com sete tratamentos (GA3: 0,0, 0,5, 1,0, 2,0, 4,0, 6,0 e 8,0 mg.L-1), quatro repetições e duas plantas por parcela. As aplicações dos tratamentos foram realizadas em três fases, a primeira antes da antese e a segunda e terceira com aproximadamente 25% e 80% de flores abertas, respectivamente, utilizando-se um volume de calda de 2.000 litros/ha. Os cachos foram colhidos com 60 dias após a poda e as características avaliadas foram: comprimento médio de cacho, engaço e “ombros”; densidade de bagas; massa da matéria fresca do cacho e bagas; e diâmetro e comprimento de bagas. Os melhores resultados para o raleio foram obtidos com a concentração de 0,5 mg.L-1, que proporcionou uma densidade de 5,39 bagas/cm de cacho, contra 8,24 bagas/cm de cacho obtido pela testemunha. Em relação à melhoria da qualidade de cachos e bagas, aplicações de GA3 acima de 2,0 mg.L-1, apesar de mostrarem eficiência no aumento do comprimento de cachos, tiveram efeitos negativos na massa da matéria fresca de cachos e bagas, inviabilizando os cachos comercialmente. Termos para indexação: Vitis vinífera (L.), uvas sem semente, produção 33 Use of Gibberellic Acid in thinning of clusters of the cv. Superior Seedless, grafted on the rootstock ‘SO4', cultivated in the region of Submédio São Francisco Valley Abstract: With the objective to evaluate the effect of concentrations of gibberellic acid in thinning and improvement quality in clusters of grapes cv. Superior Seedless was carried through this experiment in commercial orchard in Copa Fruit S.A. farm, Petrolina-PE city. The experiment was arranged in a completely randomized design, with seven treatments (GA3: 0.0, 0.5, 1.0, 2.0, 4.0, 6.0 and 8.0 mg.L-1), four replications and two plants/plot. The applications of the treatments had been carried through in three phases, the first one before the flower opening and second and third with approximately 25% and 80% of flowers opened, respectively, using a volume of 2.000 liters for hectare. The clusters had been harvested with 60 days after pruning and the evaluated characteristics had been: average length of cluster, stem and “shoulders”; density of berries/cm of cluster; mass of fresh matter of the cluster and berries; e diameter and length of berries. The best ones resulted for the thinning had been gotten with the concentration of 0.5 mg.L-1, that provided a density of 5.39 berries/cm of cluster, against 8.24 berries/cm of cluster gotten for the witness. In relation to the improvement of the quality of clusters and berries, applications of GA3 above of 2.0 mg.L-1, although they will show efficiency in the increase of the length of the cluster, had negative effect in the mass of fresh matter of clusters and berries, making commercially impracticable the clusters. Index Terms: Vitis vinífera (L.), seedless grapes, yield 34 Introdução Em 2005 a área ocupada com vinhedos no mundo foi de 7,3 milhões de hectares, com produção de 65,9 milhões de toneladas de uvas. A Espanha possuía a maior área de cultivo (949 mil ha) seguida pela França (855 mil ha) e Itália (800 mil ha). O Brasil ocupava a 21ª posição, com cerca de 73.715 ha (REGINA, 2006). No contexto mundial, existe uma preferência absoluta por cultivares de uvas de mesa sem sementes, podendo-se observar que a área cultivada no Estado da Califórnia, Estados Unidos, é de aproximadamente 77.000 ha com uvas sem sementes, o que representa 85,6% da área de produção de uvas de mesa nesta região. No Chile, a área está em torno de 35.000 ha, ou seja, 70,5% da área cultivada com uvas de mesa do país (LEÃO, 1999). O Vale do São Francisco é a principal região exportadora de uvas do Brasil e, nos últimos anos, motivado principalmente pelas exportações de uvas sem sementes, a região apresentou uma grande expansão de sua área plantada, passando no estado de Pernambuco de 4.952 ha para 6.471 ha, entre os anos de 2005/2006, ou seja, um aumento de 30,67 % (REGINA, 2006). Destaca-se nesta região principalmente a produção das cultivares apirenas (sem sementes) como a ‘Superior Seedless’, ‘Thompson Seedless’ e ‘Crimson Seedless’, que têm grande aceitação nos mercados europeu e americano, que são os principais destinos dessas uvas . Devido a fatores como o recente aumento da área plantada e a concentração do período de colheita no segundo semestre - visando evitar o período chuvoso, que inicia a partir do final de outubro no pólo Juazeiro/Petrolina, e que foi responsável por grandes perdas da produção nos últimos três anos, muitos produtores têm passado por grandes dificuldades em conseguir mão-de-obra qualificada e em quantidade, principalmente para as atividades de raleio manual de bagas que consome grande parte da mão-deobra utilizada na cultura. 35 Paralelamente ao crescente volume de uva produzido na região, os valores recebidos pelos produtores da região vêm decrescendo ano a ano, pressionando os mesmos a buscarem alternativas para a diminuição dos custos da produção, principalmente os da mão-de-obra, que em termos percentuais correspondem à maior parte deles. O uso do ácido giberélico na viticultura tem sido comum para maximizar o comprimento de cachos e bagas, havendo, entretanto, poucos estudos no Brasil quanto ao seu uso no raleio químico de cachos. Objetivou-se com o presente trabalho estudar os efeitos do ácido giberélico no raleio químico de cachos e na qualidade de bagas da cv. Superior Seedless. Material e Métodos O experimento foi conduzido em pomar comercial da Fazenda Copa Fruit S.A., em Julho de 2007, no município de Petrolina-PE, coordenadas geográficas de 9o 20' 01,53 S, 40o 40' 30,18 W, altitude de 400 m, precipitação e temperatura médias de 400 mm e 26oC, respectivamente. A área experimental foi formada por videiras da cv. Superior Seedless, com quatro anos de idade, enxertadas sobre o porta-enxerto ‘SO4’, plantadas em espaçamento de 3,5 m x 2,0 m (1428 pl./ha), conduzidas no sistema de latada (Anexo 4). O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso com sete tratamentos (GA3: 0, 0,5, 1,0, 2,0, 4,0, 6,0 e 8,0 mg.L-1) e quatro repetições, com duas plantas por parcela. Foram selecionadas plantas contendo em média 20 varas, mantendo-se o índice agronômico de 42 cachos/planta (6 cachos/m2), sendo de cada parcela analisados quatro cachos. O GA3 foi pulverizado em toda a área foliar da planta num volume correspondente a 2.000 litros de calda/ha, em três aplicações: uma antes da antese (07/07/07), e as duas seguintes com 25% e 80% de flores abertas (12/07/07 e 16/07/07), correspondendo aos estádios fenológicos 17, 21 e 25 do fenograma de EICHORN & LORENZ (1984), respectivamente. As variáveis analisadas foram: comprimentos médios do cacho, engaço e “ombros”, com um paquímetro digital; densidade de bagas/cm linear de cacho 36 (obtida pela relação: número médio de bagas/comprimento médio de cacho); massa da matéria fresca do cacho e bagas, com uma balança de precisão; diâmetro e comprimento de bagas, com um paquímetro digital (amostrando-se aleatoriamente 50 bagas por cacho). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão Os tratamentos com ácido giberélico apresentaram efeito significativo para as variáveis comprimento do cacho, densidade de bagas, massa da matéria fresca do cacho e bagas, e diâmetro e comprimento de bagas (Tabelas 1 e 2). Tabela 1. Quadrados médios da análise de variância para comprimento médio do cacho, engaço e “ombros” e densidade de bagas da cv. Superior Seedless, em resposta a tratamentos com ácido giberélico. Causas de G.L Comprimento médio (mm) Densidade (bagas/cm linear de Variação cacho engaço "ombros" cacho) Tratamentos Blocos Resíduo CV (%) Média geral 6 3 18 15,815* 5,957 3,855 9,790 20,055 0,390ns 1,394 0,673 17,860 4,595 0,317ns 0,694 0,366 12,480 4,849 5,028* 0,825 0,930 14,330 6,730 Tabela 2. Quadrados médios da análise de variância para massa da matéria fresca de cacho e bagas, e diâmetro e comprimento de bagas da cv. Superior Seedless, em resposta a tratamentos com ácido giberélico. Causas de G.L Massa da matéria fresca Diâmetro Comprimento Variação cacho (g) baga (g) baga (mm) Tratamentos 6 10620,712* 1,094* 0,139* 0,198* Blocos 3 200,034 0,016 0,002 0,003 Resíduo 18 298,540 0,057 0,006 0,010 CV (%) 15,240 17,460 6,880 5,800 Média geral 113,394 1,378 1,164 1,760 37 O GA3 foi eficaz para o aumento do comprimento de cachos da cv. Superior Seedless (Tabela 3), com destaque para a concentração de 6 mg.L-1 (23,72 cm) que promoveu um aumento de 5,88 cm em relação à testemunha (17,84 cm). Tabela 3. Efeito do ácido giberélico (GA3) sobre o comprimento de cacho, engaço e “ombros”, e na densidade de bagas da cv. Superior Seedless. Densidade Comprimento médio (cm) (Bagas/cm GA3 linear de -1 (mg.L ) Cacho Engaço “Ombros” cacho) 0 b 4,10 4,73 19,56 a b 4,73 4,52 5,39 a 1 18,55 b 4,48 4,46 6,45 a b 2 19,75 a b 4,57 5,11 6,69 a b 4 19,36 a b 5,12 5,17 6,66 a b 6 23,72 a 4,72 5,02 5,55 a 8 21,58 a b 4,47 4,94 8,14 0,5 17,84 8,24 b b C.V.(%) 9,79 17,86 12,48 14,33 Médias seguidas por letras distintas, dentro da mesma coluna, diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. PIRES & MARTINS (2003) salientam que aplicações de giberelina no florescimento estimulam a divisão e crescimento celular, o que permite o alongamento da ráquis e dos pedicelos. A principal hipótese para o mecanismo de estimulação da expansão celular seria a hidrólise do amido por meio da α-amilase gerada pelas giberelinas. Com isso, incrementa-se a produção de açúcares e eleva-se a pressão osmótica do suco celular, com entrada de água nas células e, conseqüentemente, sua expansão. Para as variáveis comprimento do engaço e “ombros”, aplicações com GA3 não apresentaram diferenças estatísticas significativas. Observa-se ainda pela Tabela 3 que concentrações de GA3 a 0,5 e 6 mg.L-1 promoveram densidades de 5,39 e 5,55 bagas/cm linear de cacho, 38 respectivamente. No caso da aplicação a 0,5 mg.L-1, verifica-se que o resultado obtido foi devido a uma diminuição no número de bagas por cacho; quanto à concentração de 6 mg.L-1 de GA3, tal resultado esteve também associado aos maiores comprimentos médios dos cachos (23,72 cm), acarretando assim, um menor número de bagas por centímetro linear de cacho. Entretanto, a concentração de 6 mg.L-1 provocou um maior surgimento de bagas miúdas, muito provavelmente devido a uma menor taxa de fertilização dos óvulos (Figura 2). PIRES & MARTINS (2003) associam os efeitos da giberelina em provocar danos aos ovários, sem contudo intervir na viabilidade dos grãos de pólen. Figura 2. Efeito de aplicações de GA3 a 0,5 e 6 mg.L-1(da esquerda para direita), respectivamente, em cachos de uvas da cv. Superior Seedless. REBOLLEDO (1992) em ensaio com a cv. Thompson Seedless, ao aplicar GA3 em estádio fenológico de cachos de pré-floração, observou 39 igualmente efeitos positivos para a diminuição da densidade de bagas. MUÑOZ (1987) verificou um menor pegamento de flores em trabalhos com a mesma cultivar, utilizando a concentração de 10 mg.L-1 de GA3 em duas aplicações: a primeira com 40% e a segunda com 80% a 90% de flores abertas. Tais efeitos foram também verificados na cv. Isabel, após aplicações de ácido giberélico antes e durante o florescimento (TONIETTO et al., 1983). Observa-se pela Tabela 4 que com maiores concentrações de ácido giberélico houve uma tendência de diminuição da massa da matéria fresca dos cachos e bagas da cv. Superior Seedless. Tabela 4. Efeito do ácido giberélico (GA3) sobre a massa da matéria fresca de cachos e bagas, e diâmetro e comprimento de bagas da cv. Superior Seedless. Massa da matéria fresca GA3 (mg.L-1) Diâmetro Comprimento Cacho (g) Baga (g) 0 188,55 a 1,72 ab 13,12 a 18,27 ab 0,5 138,21 bc 1,87 a 13,22 a 19,5 a 1 160,99 ab 1,95 a 13,47 a 19,9 a 2 107,54 1,42 bcd 11,97 ab 18,12 ab 4 84,86 de 1,23 11,17 17,85 ab 6 65,32 e 0,90 de 10,05 8 48,26 e 0,54 e 8,47 cd Baga (mm) cd bc cd d 16,2 13,35 b c C.V.(%) 15,24 17,43 6,88 5,8 Médias seguidas por letras distintas, dentro da mesma coluna, diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Tal resposta se deu principalmente pelo excessivo número de bagas miúdas obtidas com tratamentos com concentrações de 2, 4, 6 e 8 mg.L-1 de GA3 (Figuras 3 e 4), sendo que bagas obtidas de inflorescências tratadas com 8 mg.L-1 de GA3 permaneceram com valores médios de 0,54g. 40 Figura 3. Efeito de aplicações de GA3 a 2 e 4 mg.L-1 (da esquerda para direita), respectivamente, em cachos de uvas da cv. Superior Seedless. Figura 4. Efeito de aplicações de GA3 a 6 e 8 mg.L-1 (da esquerda para direita), respectivamente, em cachos de uvas da cv. Superior Seedless. 41 Para diâmetro e comprimento de bagas, houve a tendência de aplicações em torno de 2 mg.L-1 de GA3 não surtirem efeito, ficando seus valores bem próximos aos da testemunha, havendo decréscimos de crescimento das duas variáveis com o aumento das concentrações de ácido giberélico. Diversos trabalhos indicam que efeitos positivos do ácido giberélico para o aumento do crescimento de bagas ocorrem com aplicações feitas próximas ao décimo quinto dia do pleno florescimento, encontrando-se as bagas com 3 a 8 mm de diâmetro (BOTELHO et al., 2003; RIBEIRO & SCARPARE FILHO, 2003; LEÃO et al., 2005). Assim sendo, pelos resultados observados, há indicativos que aplicações com concentrações acima de 2 mg.L-1 de GA3, realizadas com 25% e 80% de flores abertas, não favorecem o crescimento inicial de bagas da cv. Superior Seedless. Conclusões Pelos dados obtidos evidencia-se a possibilidade da utilização do ácido giberélico no raleio de bagas de uvas cv. Superior Seedless, principalmente na concentração de 0,5 mg.L-1 de GA3. Aplicações de GA3 em altas concentrações têm efeito negativo no crescimento inicial de bagas e no acúmulo de massa da matéria fresca de cachos e bagas. Concentrações de GA3 acima de 2 mg.L-1 não são recomendadas, pois embora favoreçam um maior comprimento de cacho, promovendo assim a sua descompactação, aumentam muito o número de bagas miúdas. Tornam-se necessários mais estudos para o uso do ácido giberélico no raleio químico de bagas da cv. Superior Seedless, a exemplo da sua combinação sobre diferentes porta-enxertos. Referências Bibliográficas BOTELHO, R.V., PIRES, E.J.P. TERRA, M.M., CARVALHO, C.R.L. Efeitos do thidiazuron e do ácido giberélico nas características dos cachos e bagas de 42 uvas ‘Niagara Rosada’ na região de Jundiaí-SP. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 25, n. 1, p. 96-99, 2003. EICHORN, K.W.; LORENZ, D.H. Phaenologische Entwicklungsstadien Der Rebe. European and Mediterrnean Plant Protection Organization, Paris, v.14, n.2, p.295-298, 1984. LEÃO, P.C.S. Avaliação do comportamento fenológico e produtivo de seis variedades de uva sem sementes no Vale do Rio São Francisco. 1999, 124p., Dissertação de Mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 1999. LEÃO, P.C.S., SILVA, D.J., SILVA, E.E.G. Efeito do ácido giberélico, do bioestimulante crop set e do Anelamento na produção e na qualidade da uva ‘Thompson Seedless’ no Vale do São Francisco. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 27, n. 3, p. 418-421, 2005. MUÑOZ, I. El cultivo de la uva de mesa: algunos aspectos de manejo como fatores de calidad. Santiago: Instituto de Investigaciones Agropecuárias – Estacion Experimental La Platina, 1987. 36p. PIRES, E.J.P.; MARTINS, F.P. Técnicas de cultivo. In: POMMER, C.V. (Ed.) Uva: tecnologia de produção, pós-colheita, marcado. Porto Alegre: Cinco Continentes, 2003. p.351-403. REBOLLEDO, S. 1992. Efecto de La aplicación de ácido giberélico, urea fosfato, ethephon e putrecina em diferentes épocas de floración sobre la cuaja em uva de mesa (Vitis vinifera L.), cv. Thompson Seedless. Tesis Ing. Agrónomo . Universidad Católica de Chile, Faculdad de Agronomia. Santiago, Chile. 69p. REGINA, M.A. Viticultura, Revista Brasileira de Fruticultura, v.28, n.2, p.152, 2006. RIBEIRO, V.G., SCARPARE FILHO, J.A. Fertilidade de gemas em cultivares de uvas apirênicas tratadas com benziladenina e Agrotecnologia, Edição Especial, p.1516-1521, 2003. cycocel. Ciência e 43 TONIETTO, J.; MIELE, A.; SILVEIRA JUNIOR, P. O ácido giberélico no desenvolvimento de bagas sem sementes da uva ‘Isabel’. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 18, n. 4, p. 381-386, 1983. 44 CAPÍTULO II Análise técnico-econômica do raleio químico de cachos de uva da cv. Superior Seedless, com o uso de Ácido Giberélico 2 2 Trabalho apresentado ao curso de Pós-graduação em Horticultura Irrigada, como pré-requisito para a obtenção do Título de Mestre, pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) 45 Análise técnico-econômica do raleio químico de cachos de uva da cv. Superior Seedless, com o uso de Ácido Giberélico Resumo - Com o objetivo de avaliar a eficiência técnico-econômica do raleio químico em cachos de uva da cv. Superior Seedless, foi realizado este experimento em pomar comercial na Fazenda Copa Fruit S.A., município de Petrolina-PE. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com sete tratamentos (GA3: 0,0, 0,5, 1,0, 2,0, 4,0, 6,0 e 8,0 mg.L-1), quatro repetições e duas plantas por parcela. As aplicações dos tratamentos foram realizadas em três fases, a primeira antes da antese e a segunda e terceira com aproximadamente 25% e 80% de flores abertas, respectivamente, utilizando-se um volume de calda de 2.000 litros/ha. Os cachos foram colhidos 60 dias após a poda para determinar a fixação de frutos pelos efeitos dos tratamentos e para dar subsídios à análise econômica dos dois sistemas de raleio: convencional versus químico. As aplicações destinadas ao raleio químico mostraram-se eficientes, obtendo-se os melhores resultados com a concentração de 0,5 mg.L-1 de GA3, que proporcionou uma quantidade de 105,62 bagas/cacho, contra 146,48 bagas/cacho da testemunha. A análise técnico-econômica dos dois sistemas de manejo indicou que o raleio químico foi muito mais viável, com uma economia de 70,36% em relação ao raleio convencional, sobretudo, pela economia da mão-de-obra. Termos para indexação: Videira, uvas sem sementes, Vitis vinifera (L.) 46 Technician-economic analysis of the chemical thinning of clusters of the cv. Superior Seedless, with the use of Gibberellic Acid Abstract: With the objective to evaluate the technician-economic efficiency of the chemical thinning in clusters of grape cv. Superior Seedless, was carried through this experiment in commercial orchard in Copa Fruit S.A. farm, Petrolina-PE city. The experiment was arranged in a completely randomized design, with seven treatments (GA3: 0.0, 0.5, 1.0, 2.0, 4.0, 6.0 and 8.0 mg.L-1), four replications and two plants/plot. The applications of the treatments had been carried through in three phases, the first one before the flower opening and second and third with approximately 25% and 80% of flowers opened, respectively, using a volume of 2.000 liters for hectare. The clusters had been harvested 60 days after the pruning to determine the setting of fruits for the effect of the treatments and to give subsidies to the economic analysis of the two systems of thinning: conventional versus chemical. The applications destined to the chemical thinning had revealed efficient, getting the best ones resulted with the concentration of 0.5 mg.L-1 of GA3, that provided to an amount of 105.62 berries/cluster, against 146.48 berries/cluster of the witness. The technician-economic analysis of the two systems of handling indicated that the chemical thinning was much more viable, with a economy of 70.36% in relation to the conventional thinning, over all, for the economy of the man power. Index Terms: Grapevine, seedless grapes, Vitis vinifera (L.) 47 Introdução A videira é uma das mais importantes espécies frutíferas cultivadas no mundo e segundo o IBRAF (2007), a viticultura foi a atividade que mais gerou receita em exportações para o Brasil nos últimos três anos, passando de U$107.276.014, em 2005, para U$169.696.455, em 2007. No Brasil, as cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), localizadas no Vale do Submédio São Francisco são as principais exportadoras de uvas de mesa do País e, nos últimos anos, motivadas principalmente pelas exportações de uvas sem sementes, apresentaram uma grande expansão da cultura, sendo que o estado de Pernambuco apresentou aumentos na área plantada, entre os anos de 2005 e 2006, da ordem de 30,67% (REGINA, 2006). A rápida expansão dos cultivos tem trazido à tona a problemática relativa ao uso intensivo de mão-de-obra por parte dos produtores, principalmente para as atividades que exigem habilidades específicas, por conseguinte, a necessidade de uma maior qualificação da mão-de-obra. Tal questão ocorre, sobretudo, no raleio manual de bagas, indispensável à produção de frutos de qualidade e que consome a maior parte da mão-de-obra utilizada anualmente para condução da cultura. Além disso, considerando que nos últimos anos houve uma redução significativa dos preços alcançados pelas uvas sem semente, devido principalmente a desvalorização cambial, concomitantemente com a elevação dos preços dos principais insumos agrícolas (adubos, defensivos, etc.) e dos níveis salariais no campo, a busca por tecnologias alternativas que favoreçam a menor dependência de mão-de-obra qualificada para atividades específicas e redução de custos têm sido consideradas como imperiosas pelos viticultores da região. O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência técnico-econômica do raleio químico da cv. Superior Seedless enxertada sobre o porta-enxerto ‘SO4’, na região do Vale de Submédio São Francisco, como forma de contribuir com elementos informativos que poderão ser utilizados no processo decisório pelos produtores na condução de seus pomares. 48 Material e Métodos Para o estudo da eficiência técnico-econômica do raleio químico de cachos de uva, conduziu-se um experimento em pomar comercial, situado na Fazenda Copa Fruit S.A., em Julho de 2007, no município de Petrolina-PE. O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso com sete tratamentos (GA3 : 0, 0,5, 1,0, 2,0, 4,0, 6,0 e 8,0 mg.L-1), quatro repetições, com duas plantas por parcela. A área experimental foi formada por videiras 'Superior Seedless', enxertadas sobre o porta-enxerto ‘SO4’, plantadas em espaçamento de 3,5 m x 2,0 m, conduzidas no sistema de latada, com quatro anos de idade. O GA3 foi pulverizado em toda a área foliar da planta num volume correspondente a 2.000 litros de calda/ha, em três aplicações: uma antes da antese, e as outras duas com 25% e 80% de flores abertas, correspondendo às fases 17, 21 e 25 do fenograma de EICHORN & LORENZ (1984), respectivamente. De cada parcela foram selecionados quatro cachos representativos das plantas para as análises. A característica avaliada foi o número médio de bagas por cacho, determinado 60 dias após a poda, ou seja, depois do pegamento definitivo de bagas. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade. Para estudo da eficiência econômica foi realizada uma comparação direta entre os custos do raleio químico e raleio convencional (manual) utilizado na região. Resultados e Discussão Os tratamentos com ácido giberélico apresentaram efeito significativo para a variável número de bagas (Tabela 5). 49 Tabela 5. Quadrado médio da análise de variância para número de bagas por cacho da cv. Superior Seedless, em resposta a tratamentos com ácido giberélico. Causas de Variação G.L QM Tratamentos 6 1997,908* Blocos 3 75,709 Resíduo 18 613,181 CV (%) 18,45 Média geral 134,230 Figura 5. Efeito de aplicações de GA3 (0, 0,5, 1,0, 2,0, 4,0, 6,0 e 8,0 mg.L-1) sobre o número de bagas por cacho da cv. Superior Seedless (médias seguidas por letras distintas, diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade). O efeito das concentrações de GA3 em relação ao número de bagas pode ser verificado a partir da Figura 5, na qual se demonstra que a concentração de 8 mg.L-1 de GA3 induziu a uma maior fixação de bagas da cv. 50 Superior Seedless (176,31 bagas/cacho), superando em valores relativos o tratamento com ausência de ácido giberélico (146,48 bagas/cacho). Segundo DOKOOZLIAN (1999), altas concentrações de GA3 aplicadas durante o florescimento geralmente não produzem aborto, mas podem aumentar significativamente o número de bagas miúdas ou partenocárpicas no cacho. A menor quantidade de bagas foi obtida com a concentração de 0,5 mg L-1 de GA3, (105,62 bagas/cacho). O resultado da ação do ácido giberélico na redução do número de bagas da cv. Isabel foi observado por TONIETTO et al. (1983), através de aplicações antes e durante o florescimento. Segundo os autores, o ácido giberélico causa danos aos ovários, levando à abscisão das flores. De acordo com levantamentos realizados entre produtores da região do Vale do São Francisco, cachos de uva da cv. Superior Seedless com boa classificação comercial possuem em média aproximadamente 90 bagas, ou seja, muito próximo ao obtido com a aplicação de 0,5 mg L-1 de GA3. Destacase, portanto, a necessidade de mão-de-obra suplementar para atividades de repasse manual para uma melhor conformidade dos cachos. Na tabela 6 encontram-se os dados referentes aos custos dos dois sistemas estudados. Para o cálculo dos custos com mão-de-obra utilizaram-se dados da SEAGRI (2005), que indicam a necessidade de 230 homens/dia (H/D) para o raleio de cachos de plantas com quatro anos de formação. O valor monetário de um homem/dia foi baseado no salário mínimo agrícola de R$ 425,00, obtido em junho de 2007, junto à Delegacia Regional do Trabalho de Petrolina (PE), sendo os encargos, segundo EMBRAPA (2007), de 78,3%, excluídos os referentes ao SESI, SENAI e SEBRAE (3,1%). Para o cálculo dos custos da aplicação mecanizada lançou-se mão de dados fornecidos por empresas produtoras de uva da região, os quais indicam que o tempo médio despendido para pulverização de um parreiral com área de 1 ha, com equipamento tipo Arbus 1000, é da ordem de 2 h, sendo o custo unitário da hora máquina (H/M) de R$25,00 (EMBRAPA, 2005). O preço do produto comercial aplicado (10% de GA3) foi baseado na média fornecida pelos mercados especializados de insumos agrícolas de Petrolina e Juazeiro, em 51 Junho de 2007. Tabela 6. Comparação de custos entre o raleio manual e o raleio químico de cachos, para 1,0 hectare da cv. Superior Seedless. Preço Preço Itens Quant. Und. unit. (R$) total (R$) 1. Raleio Manual Mão de obra 230 H/D 30,36 6.982,80 Total 6.982,80 2.Raleio Quimico Mão de obra Tratorista Pulverizações Produto Total Diferença (R$) 61,6 0,75 6 30 H/D H/D H/M g 30,36 42,86 25,00 0,57 1.870,39 32,15 150,00 17,10 2.069,64 4.913,16 Nota-se que mesmo utilizando mão-de-obra para o repasse manual de bagas no raleio químico, houve uma economia bastante significativa, da ordem de 70,36%, quando foram comparados os dois sistemas de manejo. Tal fato se deve principalmente a redução drástica do uso da mão-de-obra para a realização do raleio químico de cachos e ao baixo custo do produto comercial utilizado. Conclusões O uso de raleio químico de cachos de uva, pelo uso de ácido giberélico, demonstrou ser mais econômico que o manual, necessitando, entretanto, de mão-de-obra complementar para uma melhor adequação da qualidade dos cachos. Tornam-se necessários mais estudos para o uso do raleio químico de cachos na região, a exemplo da interação entre diferentes cultivares copas e porta-enxertos, que poderiam acarretar maior ou menor vigor vegetativo à copa, influenciando desta forma, a concentração do fitorregulador a ser recomendada. 52 Referências Bibliograficas DOKOOZLIAN, N. 1999. Plant growth regulator use for table grape production in California. Department of Viticulture and Enology. University of California. Davis. Pag 122-136. EICHHORN, K.W.; LORENZ, D.H. Phaenologische Entwicklungsstadien Der Rebe. European and Mediterrnean Plant Protection Organization, Paris, v.14, n.2, p.295-298, 1984. EMBRAPA, 2005. Uvas Sem Sementes Cultivares BRS Morena, BRS Clara e BRS Linda. Disponível em: http://www.cnpuv.embrapa.br/publica/sprod/UvasSemSementes/custo.htm, acesso em Jun. 2007. EMBRAPA, 2007. Sistema de Produção de vinho moscatel espumante. Disponível em: http://www.cnpuv.embrapa.br/publica/sprod/VinhoMoscatelEspumante/custos.ht m, acesso em: Jun. 2007 IBRAF. Comparativo das exportações brasileiras de uvas frescas. Disponível em: http://www.ibraf.org.br/estatisticas/Exportação/Comparativo_das_Exportações_ Brasileiras_de_Frutas_frescas_2007-2006.pdf , acesso em Jun. 2007. REGINA, M.A. Viticultura, Revista Brasileira de Fruticultura, v.28, n.2, p.152, 2006. SEAGRI, 2005. Custos de produção e análise da rentabilidade da uva. Disponivel em : http://www.sda.ce.gov.br/siga/cproducao/Uva.pdf, acesso em Jun. 2007 TONIETTO, J.; MIELLE, A.; SILVEIRA JUNIOR, P. O ácido giberélico no desenvolvimento de bagas sem sementes da uva ‘Isabel’. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 18, n. 4, p. 381-386, 1983. 53 CONSIDERAÇÕES FINAIS Existem poucas pesquisas a respeito do raleio químico de cachos de videiras no Brasil, tornando-se necessário mais estudos sobre o assunto, a exemplo do que ocorre em outros países, para que se obtenham dados consistentes a respeito dessa prática para as condições edafoclimáticas do Vale do São Francisco. É importante também conhecer a influência do vigor de diferentes porta-enxertos e cultivares copas nessa prática, haja vista que existe uma grande influência dos mesmos em relação às concentrações a serem utilizadas, como é o caso da cv. Thompson Seedless cujas concentrações mais eficientes ficam em torno dos 15 mg.L-1 (Chile e EUA), bastante diferentes da melhor concentração verificada para a cv. Superior Seedless no presente trabalho (0,5 mg.L-1 de GA3). 54 CONCLUSÃO GERAL Pelos resultados obtidos concluiu-se que existe uma grande possibilidade da utilização do ácido giberélico para o raleio químico de cachos da cv. Superior Seedless, principalmente na concentração de 0,5 mg.L-1 de GA3. O sistema de raleio químico de cachos, pelo uso de ácido giberélico, demonstrou ser mais econômico que o manual, apesar da necessidade do uso de mão-de-obra complementar para uma melhor adequação da qualidade dos cachos. Concentrações de GA3 acima de 2 mg.L-1 não são recomendadas para a cv. Superior Seedless, pois embora favoreçam um maior comprimento de cacho, promovendo assim a sua descompactação, aumentam muito o número de bagas miúdas ou partenocárpicas. 55 ANEXOS 56 Anexo 1. Produção mundial de Uvas de Mesa (Milhões de toneladas) Fonte : Foreign Agricultural Service (FAS) Attaché Annual Reports, USDA. Anexo 3. Consumo mundial de Uvas de Mesa (Milhões de toneladas) Fonte : Foreign Agricultural Service (FAS) Attaché Annual Reports, USDA. 57 Anexo 3. Produção nacional de Uvas (Toneladas) Estado/Ano 2005 2006 2007 RIO GRANDE DO SUL 611.868 623.847 705.228 SÃO PAULO 231.680 195.357 193.023 PERNAMBUCO 150.827 155.783 170.326 BAHIA 90.988 89.738 120.654 PARANÁ 99.253 95.357 99.180 SANTA CATARINA 47.971 47.787 54.554 MINAS GERAIS 14.389 12.318 11.995 1.246.976 1.220.187 1.354.960 TOTAL Fonte : IBGE, 2008 Anexo 4. Imagem de satélite da área experimental. 58 Anexo 5. Fenograma de Eichorn & Lorenz