Tratamento da intoxicação pelo metanol
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Tratamento da intoxicação pelo metanol
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Instituto de Farmacologia e Terapêutica FARMACOLOGIA Notas sobre o tratamento da intoxicação pelo metanol O metanol é um tóxico letal. Infelizmente pode confundir-se com o etanol porque é transparente, tem um cheiro parecido e é também inebriante. No entanto é muito perigoso e não pode ser usado, de forma alguma, pelos seres humanos. O metanol é usado como diluente químico. As intoxicações são quase sempre por ingestão e quase sempre por confusão com o etanol. Os casos mais graves são os da contaminação criminosa de bebidas alcoólicas. O metanol é barato e como não paga os impostos que incidem sobre as bebidas alcoólicas tem sido usado criminosamente para fingir de etanol na adição de álcool a bebidas fabricadas clandestinamente. Surgem assim casos de intoxicações com mortalidade alta em populações inteiras. O mais recente em que esteve envolvida uma rede com participação de criminosos portugueses e noruegueses que contrabandeavam bebidas alcoólicas clandestinas na Noruega atingiu, em 2002, 41 pessoas. Oito morreram fora do hospital, 5 morreram no hospital, 4 sobreviveram com lesões irreversíveis da retina ou do sistema nervoso e 24 foram tratadas com sucesso. As bebidas eram fabricadas com metanol misturado a 20% ao etanol. O efeito tóxico do metanol resulta da sua metabolização em aldeído fórmico e deste em ácido fórmico. O tratamento obriga à correcção da acidose (causada por acumulação de ácido fórmico) com bicarbonato por via intravenosa, à diálise para eliminação do metanol intacto e do ácido fórmico e à inibição da formação dos metabolitos. A enzima que transforma o metanol é a mesma que tem como substrato o etanol. É a desidrogénase alcoólica hepática. O etanol por via intravenosa tem sido um tratamento eficaz, mas será provavelmente substituído pelo 4-metilpirazol ou fomepizol que é igualmente um inibidor enzimático da desidrogénase alcoólica mas com uma posologia mais simples. No surto recente de intoxicações pelo metanol na Noruega, a maior parte dos doentes foi tratada com fomepizol e os resultados foram bons. As recomendações da Academia Americana de Toxicologia Clínica são actualmente as seguintes: correcção da acidose com bicarbonato, hemodiálise, um inibidor enzimático que pode ser o fomepizol ou o etanol, e, adicionalmente, ácido folínico. Este composto é um derivado do ácido tetrahidrofólico e facilita a conversão de algum ácido fórmico em dióxido de carbono e água pela sintétase do ácido10-formiltetrahidrofólico. Referência - Barceloux DG, Bond GR, Krenzelok EP, Cooper H, Vale JA (2002) American Academy of Clinical Toxicology practice guidelines on the treatment of methanol poisoning. J Toxicol Clin Toxicol 40:415-446 DM 2005.01.10