RP1-2 - Fronteiras Urbanas
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RP1-2 - Fronteiras Urbanas
FRONTEIRAS URBANAS A dinâmica de encontros culturais na Educação Comunitária PTDC/CPE_CED/119695/2010 Relatório de Progresso 2012 - 2013 por Mônica Mesquita Janeiro 2014 Instituto de Educação - Universidade de Lisboa FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ÍNDICE INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 4 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO METODOLÓGICO ........................................................... 9 EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA .................................................................................................... 11 CÍRCULOS DE CULTURA ............................................................................................................. 13 ARTE E EDUCAÇÃO ...................................................................................................................... 17 PROGRAMA ETNOMATEMÁTICA .......................................................................................... 23 CURRICULUM TRIVIUM .............................................................................................................. 25 TRANSCULTURALIDADE ........................................................................................................... 28 COMPLEXIDADE SISTÉMICA .................................................................................................. 29 TRANSDISCIPLINARIDADE ........................................................................................................ 30 ETNOGRAFIA CRÍTICA ............................................................................................................. 31 ÉTICA .............................................................................................................................................. 36 A HUMANIZAÇÃO DO ESPAÇO .................................................................................................. 36 MOMENTO ETNOGRÁFICO ..................................................................................................... 41 MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ..................................................................................................... 42 ALFABETIZAÇÃO CRÍTICA ..................................................................................................... 50 HISTÓRIAS DE VIDA ................................................................................................................... 67 CARTOGRAFIA MÚLTIPLA ...................................................................................................... 82 ENTREPROJECTOS................................................................................................................... 102 NOUTRA COSTA .......................................................................................................................... 103 LER COM ARTE ............................................................................................................................ 104 COZINHA COMUNITÁRIA ......................................................................................................... 105 OUTRACENA ................................................................................................................................ 106 CHICALA....................................................................................................................................... 107 DISSEMINAÇÃO ......................................................................................................................... 108 PUBLICAÇÕES ........................................................................................................................... 108 LIVRO ............................................................................................................................................ 108 CAPÍTULO DE LIVRO ................................................................................................................. 111 ARTIGO EM REVISTA CIENTÍFICA .......................................................................................... 111 ARTIGO EM ATA CIENTÍFICA .................................................................................................. 112 ARTIGO EM REVISTA ................................................................................................................. 113 COMUNICAÇÃO ORAL .............................................................................................................. 113 PALESTRA, WORKSHOP E MESA REDONDA ......................................................................... 115 POSTER E OBJECTO DIGITAL ................................................................................................... 117 JORNAL FRONTEIRAS URBANAS............................................................................................ 118 Edição 1 .......................................................................................................................................... 119 Edição 2 .......................................................................................................................................... 121 1 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Edição 3 .......................................................................................................................................... 123 Edição 4 .......................................................................................................................................... 125 Edição 5 .......................................................................................................................................... 127 Edição 6 .......................................................................................................................................... 129 TESES, DISSERTAÇÃO E PAP.................................................................................................. 131 MÔNICA MESQUITA ................................................................................................................... 131 ALEXANDRE PAIS ...................................................................................................................... 132 LIA LAPORTA .............................................................................................................................. 134 SÍLVIA FRANCO .......................................................................................................................... 135 JOANA VIEIRA ............................................................................................................................. 136 NUNO VIEIRA .............................................................................................................................. 137 CATARINA PEREIRA .................................................................................................................. 138 JOSÉ LINHARES ........................................................................................................................... 139 ANA FILIPA .................................................................................................................................. 140 ALINE CONRADO ........................................................................................................................ 141 RENAN LAPORTA ....................................................................................................................... 142 ENCONTROS ............................................................................................................................... 143 ENCONTRO MENSAL ................................................................................................................. 143 ENCONTRO BIMESTRAL ........................................................................................................... 144 ENCONTRO DE PARES ............................................................................................................... 145 ENCONTROS ANUAIS ................................................................................................................ 146 2012 CONFERÊNCIA INTERNA ................................................................................................. 147 Programa ......................................................................................................................................... 147 Apresentações ................................................................................................................................. 152 Relatórios dos Consultores ............................................................................................................. 154 2013 FÓRUM FRONTEIRAS URBANAS ................................................................................... 161 Comunicação Oral .......................................................................................................................... 164 Poster /Objeto Digital ..................................................................................................................... 164 Mesa Redonda ................................................................................................................................ 164 Círculo de Cultura........................................................................................................................... 165 Workshop ........................................................................................................................................ 166 WEBSITE, PLATAFORMA E FACEBOOK ............................................................................. 167 CURTA-METRAGEM ................................................................................................................ 168 VOZES FRONTEIRIÇAS ........................................................................................................... 172 MÔNICA MESQUITA ........................................................................................................................ 172 CONSULTORES .......................................................................................................................... 173 ARQUITETO JOSÉ PEDRO ROQUE GAMEIRO MARTINS BARATA .................................................... 173 UBIRATAN D’AMBROSIO ................................................................................................................ 174 COMUNIDADES FU.................................................................................................................... 176 GUILHERME BRITO ......................................................................................................................... 176 ANA PAULA CAETANO .................................................................................................................... 177 DANIEL MIRANDA........................................................................................................................... 178 2 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 LÍDIO GALINHO ............................................................................................................................... 179 FRANCISCO SILVA ........................................................................................................................... 180 SOLÂNGELA AFONSO ...................................................................................................................... 181 FILIPA RAMALHETE ........................................................................................................................ 182 EDUCADORES VOLUNTÁRIOS .............................................................................................. 183 MADALENA SANTOS ....................................................................................................................... 183 ANNA BUONO ................................................................................................................................. 184 RODRIGO VITERBO ......................................................................................................................... 184 MANUELA ALVES ........................................................................................................................... 185 ALINE CONRADO............................................................................................................................. 186 LUCÍLIA VALENTE .......................................................................................................................... 187 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 188 3 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 INTRODUÇÃO Mônica Mesquita Alexandre Pais Projeto Fronteiras Urbanas: Como, porquê, para quem e para quê? Um grupo de investigadores com diferentes formações académicas, juntamente com duas comunidades situadas na Costa de Caparica, desenvolveu o Projeto Fronteiras Urbanas (FU) - financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e apoiado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (IEUL). O FU surgiu como resultado de um longo processo de socialização entre sua investigadora principal e duas comunidades locais da Costa de Caparica: Bairro (constituída por moradores de um assentamento ilegal desenvolvido há quatro gerações) e Piscatória (constituída por pescadores locais). Tal socialização teve sua expressão maior num projeto de intervenção no âmbito do Programa Escolhas 1 : D.A.R. à Costa Tr@nsFormArte, no qual uma investigadora e um educador voluntário do FU – Sílvia Franco e João Moreira, bem como a investigadora principal mantiveram um papel ativo. Este projeto de intervenção foi sensível entre os conflitos de duas comunidades locais marginalizadas com a sociedade urbana circundante, revelando a clara existência de uma fronteira socioeconómica. Face a esta sensibilidade, acima descrita, a estrutura do FU foi pensada coletivamente desde 2009 por um movimento de pessoas – Movimento Fronteiras Urbanas, sensível à injustiça e à humanidade, embora o projeto académico em si só tenha começado em 2012. Figure 1 - Caminhos - João Moreira - 2013 O trabalho diário desenvolvido nas comunidades desde 2009 nos permitiu experimentar, discutir e repensar nossas imagens e ações etnográficas, e criou o desejo de construir uma forma mais sistemática de estar juntos. A busca de tal sistematização foi importante uma vez que, durante os três anos que precederam o FU, encontramos uma série de obstáculos legais tornando-se muito difícil estabelecer uma colaboração aberta e emancipatória. Nosso encontro não foi bem recebido pelas 1 4 http://www.programaescolhas.pt/ FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 autoridades locais (Câmara Municipal, Igreja e Polícia). A destruição, por parte do governo local, de um centro cultural construído pelo Movimento Fronteiras Urbanas em 2010, bem como os ataques constantes que os membros deste grupo sofreram pela polícia local são dois dos muitos exemplos. A Costa de Caparica é uma cidade costeira, situada na margem sul do rio Tejo, de frente para a capital Lisboa, e geograficamente limitada pelo oceano e a face da Arriba Fóssil. É uma cidade dormitório para as pessoas que trabalham na capital e uma importante estância balnear, não só para os turistas de todo o mundo, mas também para a elite de Lisboa que mantém propriedades de luxo de veraneio e mantém, também, o seu direito de voto no local. A Costa de Caparica é igualmente uma vila de pescadores. Esta cidade foi fundada por duas comunidades distintas de pescadores de Ílhavo e Olhão - localizadas no norte e no sul de Portugal, respectivamente. A Comunidade Piscatória está situada na zona costeira desta cidade - conhecida como Costa. Em contraste, a zona rural – localizada na base dos penhascos fósseis, é conhecida como Terras da Costa. Nesta zona rural foi desenvolvida pela comunidade agrícola, sendo atualmente ocupada, embora não em sua totalidade, por populações de imigrantes de outros países – maioritariamente de língua portuguesa, comunidades ciganas e migrantes portugueses - que formam a Comunidade do Bairro, em nosso estudo etnográfico. Tanto a Comunidade Piscatória quanto a Comunidade Bairro foram silenciadas por uma minoria da população, a qual forma uma maioria política local. O encontro dessas comunidades com outro grupo – Comunidade Académica, avivou a proximidade entre estas comunidades locais. Esta aliança fortificou ambas as comunidades e alinhou-as para um conjunto de objetivos comuns. Comunida de Piscatória Comuni dade Bairro FU Comuni dade Académi ca Figure 2 - Três Comunidades do Projeto Fronteiras Urbanas 5 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Em algum momento, precisávamos desenvolver uma maneira legal de estar juntos e a academia foi nossa opção, visto que no Movimento Fronteiras Urbanas havia um número considerado de investigadores académicos. Esta opção foi discutida e aprovada pelos membros das três comunidades, os quais vislumbraram a possibilidade de desenvolver um projeto académico como uma maneira de criar um espaço de interação livre e participação comum. Foi no início de 2010 que começámos a discutir algumas possibilidades de estarmos juntos, o que envolveu pensamentos como a criação de uma associação, uma cooperativa, ou mesmo uma organização não-governamental. No entanto, uma vez que muitos dos membros das duas comunidades locais são considerados não elegível, nos termos legais para a criação de qualquer proposta, tais como as previamente mencionadas (ou por serem analfabetos ou por estarem ilegais no país), seria difícil para eles serem aceitos como parte de uma organização mais ampla. Foi assim que surgiu a ideia de um projeto académico, o qual seria uma maneira de sair deste impasse e, para além de tudo, viria de encontro com os nossos desejos e necessidades de investigação. Consequentemente, traçamos o que se tornou o FU: construído a partir de uma investigação prévia e um processo de compreensão em relação às dimensões intra e interculturais locais. Ao desenhar o projeto a três mãos, percebemos a importância de esclarecer: os processos educativos desenvolvidos no interior das comunidades locais, as necessidades locais definidas pelos seus membros, e o reconhecimento "simbólico" de ambas as comunidades pela sociedade local como um todo. Todas as tarefas científicas propostas neste projeto surgiram a partir das necessidades de cada uma das comunidades envolvidas. Este não é um projeto top-down, onde um grupo de académicos impõe a sua própria agenda de investigação para os membros das comunidades, mas um projeto verdadeiramente bottom-up, onde as vozes das três comunidades - Académicos, Bairro e Piscatória – se encontram umas nas outras. Neste processo de desenho da investigação discutimos, profundamente, nosso papel ativo como parte da diversidade cultural que nós representávamos e da hegemonia urbana em que estávamos geograficamente incluídos. Um processo de valorização do conhecimento local foi definido através do processo educativo de ambas as comunidades locais. Este processo foi centrado na organização e gestão local de situações interativas e diferenciadas de aprendizagem. O desenvolvimento do projeto está enraizado na abordagem dialógica de Paulo Freire para a participação crítica (Freire, 1989). O Curriculum Trivium desenvolvido por Ubiratan D'Ambrosio (1999) foi a nossa entrada principal para colocar no processo dialógico nosso conhecimento e nos colocar em uma Postura Etnomatemática (Mesquita, 2011). Esta escolha possibilitou reforçar a participação absoluta durante os tempos de encontros e confrontos culturais inegáveis, vividos na Costa de Caparica, e sistematizar (através do processo dialógico fomentado nos Círculos de Cultura) nossos instrumentos de sobrevivência - artefactos intelectuais e materiais. Conceitos como valor, respeito e ética foram determinantes para tal reforço e sistematização. Em nossa forma de conceber este modelo de currículo, baseado na literacia, materacia e 6 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 tecnoracia, pudemos destacar o conhecimento em curso no seio das comunidades locais, e discutir eventuais contradições. Além disso, o curriculum trivium alicerçado à postura etnomatemática teve o potencial de minimizar as desigualdades e violações da dignidade humana local constituindo assim um caminho para a justiça social. O principal desenho do FU englobou as estratégias educativas dentro das comunidades multiculturais locais tendo a intenção de organizar um conjunto de parâmetros que poderiam apoiar um currículo educacional intercultural baseado na realidade sociocultural e económica dessas comunidades. O conhecimento dos desafios educacionais locais destas comunidades nos permitiu retirar a capa de invisibilidade que pairava sobre elas. Em primeiro lugar, os pescadores impedidos de participar nas decisões públicas locais. Em segundo lugar, os membros do Bairro que vivem há mais de 40 anos sem água canalizada. Finalmente, os investigadores envolvidos em uma luta para criar um espaço no meio académico onde outras vozes pudessem ser ouvidas. A nossa escolha "preocupante" na realização deste projeto estava alinhada no sentido de um posicionamento de investigação no âmbito político (Pais & Valero, 2012). Definitivamente, fomos inspirados por Paulo Freire que enraizou seu trabalho educacional na construção de uma consciência política, capaz de lutar contra a cultura do silêncio (Freire, 1989). Neste relatório apontámos alguns dos desafios envolvidos na construção de uma educação comunitária dentro dos domínios do projeto. Investigações em Educação têm sido criticadas por deixarem dimensões cruciais não endereçadas tais como: o que significa ser investigador e investigado, qual é o papel do investigador na formação política do mundo (Gutiérrez, 2010; Pais & Valero, 2012). Os investigadores tendem a negligenciar as situações mundialmente concretas de vida (Žižek, 2012) dos envolvidos nas relações educativas, criando assim uma realidade fantasiada onde problemas mundanos como a fome, perseguições legais, a falta de condições materiais e a crise econômica não são considerados (Valero, 2004; Skovsmose, 2005). Através da nossa experiência com as duas comunidades, buscámos trazer essas situações mundanas da vida para o jogo e conjecturar a educação como parte integrante destas situações. Aproveitamos a filosofia política de Slavoj Žižek a fim de colocar a educação na arena sociopolítica mais ampla. Apresentámos este relatório em quatro grandes momentos, nos quais destacamos os pontos dos produtos desenvolvidos no projeto, conforme apresentado em sede de candidatura à Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Numa análise global sentimos que nossos objectivos ultrapassaram os esperados em candidatura. Tal expansão explica-se, a nosso ver, pelo profundo processo etnográfico e disseminador vivido durante o projeto, o que proporcionou a participação ativa dos membros das mesmas e, essencialmente, a visibilidade das duas comunidades envolvidas. Neste ato de descobrir o manto da invisibilidade encontrámos colaboradores, internos e externos, das mais diversas áreas de competência e destes encontros surgiram mais instrumentos intelectuais e materiais que fomentasse o desenvolvimento de ideias locais. 7 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Trazemos, num primeiro momento, nosso Quadro Teórico Dialógico em comunhão com a Metodologia escolhida. Num segundo momento discutimos, via relatos das tarefas designadas em sede de candidatura à Fundação para a Ciência e a Tecnologia e uma nova tarefa que surgiu em campo – EntreProjectos, um panorama geral dos dados desta investigação. Num terceiro momento apresentámos exaustivamente os produtos da disseminação realizada no âmbito direto do FU, dos quais inclui dois produtos finais delineados em candidatura. Num quarto momento trazemos vozes finais, tanto dos consultores e de membros das três comunidades envolvidas, bem como dos colaboradores voluntários do projeto. Findamos esta introdução explicitando toda a nossa alegria de poder estar vivendo a experiência de ser investigador do Projeto Fronteiras Urbanas. Dou a minha presença estou disponível tenho total confiança sou pobre mas um homem muito feliz onde está um em dificuldades está logo outro vozes que ecoam no cimento das paredes reverberando e aquecendo o peito sorrisos tímidos dentro delas a encantar-nos a possibilidade de os sonhos serem mais e sermos nós neles O problema é estar dividido em dois em três… nós e eles fronteiras O problema é a separação a solução é a unidade Como fazer para mostrar que a ligação é já e subterrânea ? como aprofundar a confiança de que seja possível não ser só invisível? como adensar a rede que começa a ser à superfície? ser e estar com escutar e dizer de nós aprendermos todos uns com os outros respirarmos o mesmo ar oferecermos a cada um que connosco se cruza a nossa mão extensão do coração e da voz O amor sim presença a atravessar-nos para além de Presente estamos aqui (Poema Coletivo FU, Encontro das três Comunidades – 21.Abril.2012. Construção Ana Viana) 8 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO METODOLÓGICO Escolhemos trazer juntos, num primeiro momento, para este relatório de progresso do Projeto Fronteiras Urbanas (FU) o quadro teórico e a metodologia de investigação refletindo, assim, o movimento dialógico existente nas bases dos mesmos. O diálogo entre a teoria e a metodologia desenvolveu a nuança essencial do FU: a construção coletiva de saberes e fazeres. A própria criação do FU, enquanto estruturação e desenvolvimento, partiu da ideia da construção coletiva; de trazer à academia a inovação de se praticar uma investigação onde o tradicionalmente chamado “objeto de estudo” fosse corpus presente em todo o seu processo. Figure 3 - Daniel , 2013 Na fase de criação foi idealizado um quadro teórico dialógico, uma recolha de dados interativa, bem como uma análise de dados crítica já com a perspetiva de inovar com a construção coletiva destes pontos cruciais em uma investigação académica. Esta proposta de investigação assenta no reconhecimento emergente da reestruturação da própria prática investigativa educacional, a qual se tem, em Portugal e a nível mundial, mantido dicotomizada das práticas dos membros de comunidades socialmente invisíveis. Compreendemos que os problemas identificados por investigações académicas exercidas em outras áreas das Ciências Sociais e da Saúde em comunidades ditas “carentes”, “excluídas”, “marginalizadas”, advém da forma hegemónica da governação nacional que, por sua vez, é extremamente influenciada pela prática da investigação, em especial, a educacional. A Educação é entendida no Projeto Fronteiras Urbanas como uma ferramenta política, na qual a formação dos seres humanos deve ser praticada em prol da emancipação de cada um assentada numa ética de respeito, equidade, alteridade e resiliência. A consciencialização crítica, trazida por Paulo Freire, tem sido o sustentáculo maior na nossa investigação. Porém, é facto que a consciencialização crítica no desenvolvimento educacional é uma realidade distante em terras nacionais e, ao mesmo tempo, percebe-se em meio desta crise económica a falta que a própria tem feito face às decisões políticas tão afastadas das 9 Figure 4 - "Daniel" (João Moreira, 2013) FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 possibilidades e desejo do cidadão português. O facto da investigação educacional estar objetivada ao sucesso escolar, focando-se, maioritariamente, na educação formal, desencadeia uma sequência de factos que reduzem a capacidade tanto de uma visão crítica sob a própria forma opressora e hegemónica que a instituição académica tem, como de uma visão holística sob as relações humanas atuais, nomeadamente as relações afectivas e económicas. Sendo assim, nosso objetivo central trazendo esta investigação de forma inovadora em suas bases é de contribuir, também, para a transformação do sistema académico alimentando-o de humanidade, como dizia Paulo Freire. A academia deve ser, também, constituída pelo povo, pelo cidadão local, pela voz das comunidades que circundam os espaços académicos, trazendo, assim, a real possibilidade de desenvolvermos investigações com qualidade, com afetividade e com construções coletivas: investigação COM e não para o cidadão. Para atender nossa aspiração de trabalhar COM, desenhamos estes três movimentos, já citados e abaixo identificados: O objetivo do quadro teórico dialógico foi manter a lucidez teórica face à prática etnográfica que todos os atores sociais desta investigação vivenciariam, face às teorias que encontraríamos na nossa prática. Este ponto, essencial a qualquer investigação académica, funcionou como uma mola em espiral que bebia da teoria em diferentes momentos, de formas mais profundas, em consonância a recolha e a análise de dados. O objetivo da recolha de dados interativa foi buscar a participação dos membros das comunidades envolvidas na investigação bem como buscar a participação de novas teorias que trouxessem mais valia ao nosso estar COM estas comunidades. Em constante diálogo com o nosso quadro teórico de base, esta forma da recolha de dados proporcionou a possibilidade de termos uma análise de dados coletiva, aberta e dialógica. O objetivo da análise de dados crítica era perceber, in loco, a conceção, a compreensão e a relevância da investigação desenvolvida para todos os atores sociais envolvidos na investigação. Este ponto possibilitou a real construção coletiva e fomentou a consciencialização crítica de todos e COM todos. Uma consciência coletiva foi despertada e o resultado foi a transformação de postura e um novo rumo em direção à emancipação social. Faz-se importante ressaltar que esta investigação tem como foco central a Educação Comunitária, i.e., aquela que encontramos no seio das comunidades e que as tornam capazes de sobreviver. O conhecimento geracional é, indubitavelmente, um dos sustentáculos desta educação. Porém, é também inquestionável, os conhecimentos externos, advindos das relações sociais que decorrem fora das comunidades, causando a transformação na Educação Comunitária de base, diferenciando-a de comunidade para comunidade, por mais características semelhantes que estas mantenham. 10 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA O Projeto Fronteiras Urbanas (FU) destacou-se por ser um projeto académico que investigaria o conceito Educação vindo do âmago da atual construção social humana – das dinâmicas dos encontros culturais. Esta investigação inovadora, em âmbito português, destacou-se, também, por permitir que os membros das comunidades envolvidas fossem atores ativos ao longo de todo o processo – desde a construção, o desenvolvimento, bem como a disseminação e discussões finais sobre a mesma. A Educação Comunitária é compreendida, nesta investigação, como a educação que se desenvolve na e para a sobrevivência de uma comunidade. As bases fundamentais para esta perspetiva de investigação assentam na Educação Popular, desenvolvida por Paulo Freire, na qual o processo de libertação dá-se por meio do conhecimento local ao conhecimento reconhecido pela sociedade maior – o conhecimento formal. Na Educação Comunitária buscámos a libertação por meio do reconhecimento do conhecimento local, começando das próprias bases – nas comunidades, este reconhecimento. A questão da compreensão de que os conhecimentos desenvolvidos nas comunidades são de forte e crucial relevância foi um exercício constante no FU. No sistema hegemónico, no qual estamos inseridos, é interessante que apenas um conhecimento seja reconhecido, para a normalização da sociedade; caso o ser humano não tenha o conhecimento reconhecido - o conhecimento formal, o mesmo é mantido à margem da sociedade, não havendo condições, dentro do aparelho económico vigente, para que o mesmo viva, e apenas sobreviva! No FU trouxemos à tona, em duas comunidades locais, a importância que os conhecimentos de cada membro destas comunidades tem para a sustentabilidade da mesma. Fazer com que cada membro reconhecesse em seu conhecimento uma ferramenta de emancipação para as resoluções, as escolhas e as problemáticas que enfrentam em seu dia-a-dia e, principalmente, compreendessem que estas problemáticas advém da sociedade como um todo - assentada num sistema hegemónico no qual a hierarquia económica prevalece. Deve-se reforçar que estas duas comunidades envolvidas no FU são comunidades urbanas, mesmo tendo fortes características tradicionais da povoação local antiga ou das diferentes comunidades de que é oriunda. Trabalhamos com Pescadores locais, fundadores da cidade da Costa de Caparica, bem como com membros de um assentamento ilegal existente nas terras agrícolas da Costa de Caparica – onde encontramos comunidades cabo-verdianas, guineense, cigana, angolana, romena, moçambicana e, finalmente, portuguesa, como já citámos. Os membros destas comunidades trazem, em si, características de sobrevivência que demonstram fortes conhecimentos que podemos identificar como científicos – como ciência local. Foram exatamente estes conhecimentos que discutimos e buscámos compreender e via os mesmos interagimos com a população local, referendando estes em categorias de conhecimento propostas pelo nosso consultor Ubiratan D’Ambrosio. Segundo D’Ambrosio (2002), podemos categorizar o conhecimento via os 11 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 instrumentos utilizados para sobreviver e transcender. Tal categorização é definida por este autor como sendo: instrumentos comunicativos, instrumentos analíticos e instrumentos tecnológicos, os quais aludimos com mais detalhes num momento posterior neste relatório – Programa Etnomatemática. O que ressaltamos, aqui, é o facto de estudarmos, com os membros das duas comunidades envolvidas, os instrumentos utilizados para sobrevivermos e buscarmos nossa emancipação em diferentes caminhos. Nossa principal estratégia etnográfica crítica para estudarmos os nossos conhecimentos em prática foi o método pedagógico desenvolvido por Paulo Freire Círculo de Cultura. Ressalta-se, também, que outra forte estratégica etnográfica crítica foi o trabalho com a arte, em diversas representações. Trabalhando com a Educação Comunitária, o objetivo principal deste estudo, inserido na problematização acima descrita, propõe, através dos “Círculos de Cultura”, um processo que leve à consolidação de ideias, cimentando os primeiros passos, ativados antes do desenhar das letras, na alfabetização do pensamento crítico, o qual, através dos temas aflorados, despertou a nossa consciência. Por sua vez, promulgando a consciencialização dos membros das comunidades envolvidas baseada em exemplos retirados da cultura e tradição, tornou possível explanar o culto que a alimenta e assim eles passaram a assumir o seu papel como sujeitos ativos na história, refletindo e lutando pela sua existência e transformando a sua individualidade em comunidade. Figure 5 - "GP" (João Moreira, 2012) 12 O segundo objetivo, não menos importante, compreende, através do estabelecimento de uma relação dialógica, de reflexão e autoconhecimento, as perspetivas pessoais dos membros de todas as comunidades envolvidas, indo ao encontro das nossas motivações, perspetivando em nós uma nova visão do mundo, para além da ação mesmo que ingénua, a qual se liberta para uma consciência crítica. FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 CÍRCULOS DE CULTURA Joana Vieira Mônica Mesquita Os “Círculos de Cultura” concretizaram-se em temáticas envolvidas na realidade social, cultural e política dos membros das comunidades onde são trabalhados e desenvolveram-se através do estabelecimento de uma relação dialógica, de autoconhecimento e de reflexão numa tentativa de se construir uma práxis libertadora e democrática, onde juntos, o educador e os educandos, participaram no desabrochar de novos horizontes, condicionados pelas desigualdades sociais, económicas e no acesso a oportunidades de estruturação económica. Deste modo, numa relação dialógica gradual e conjunta, de autoconhecimento e reflexão, promovemos os “Círculos de Cultura” dentro das três tarefas incluídas no FU, focados em temáticas próximas da realidade social, cultural e política possibilitando, à luz do quadro teórico escolhido, a descodificação do mundo, o despertar da consciência crítica e da nossa situacionalidade. Figure 6 – Círculo de Cultura - Reunião 3 em 1 - 2012 Os Círculos de Cultura tiveram a sua essência na “maiêutica socrática” em que na pedagogia da pergunta, as palavras envolveram-se nas questões fulcrais do quotidiano numa relação dialógica, dando significado à realidade social, cultural e política local. Esse diálogo foi gerador de dúvidas existenciais, as quais foram problematizadas, gerando o debate, levando o grupo a analisar, a descodificar, a reconstruir a realidade. Deste modo, nos Círculos de Cultura: ...o seu interesse central é o debate da linguagem no contexto de uma prática social livre e crítica. Liberdade e crítica que não se podem limitar às relações internas do grupo, mas que necessariamente se apresenta na tomada de consciência que este realiza na situação social. (Freire, 1987, p.14) 13 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Balançar as acomodações às estruturas sociais, culturais e políticas que encerram um mundo fechado, onde muitos homens e mulheres não conseguem desvelar novos mundos, descobrindo novos pensamentos, foi um exercício constantemente presente no desenvolvimento dos Círculos de Cultura em todo o FU. Figure 7 - Círculo de Cultura - Alfabetização Crítica - 2012 Através dos Círculos de Cultura, todos os membros das comunidades envolvidas, inclusivamente nós, da Comunidade Académica, distanciamo-nos da nossa experiência, analisando-as; exercício que permitiu revelar nossa consciência e crescer para além dos nossos limites, convertendo-a em crítica. A partir de imagens sem palavras, que expressam o quotidiano no ser humano em geral, foi importante revernos, no decorrer da discussão, como criadores de cultura. Importa referir, que o objetivo não foi o esclarecimento de conceitos nem uma explicação teórica ou puramente ideal: Uma pedagogia que estrutura o seu círculo de cultura como lugar de uma prática livre e crítica não pode ser vista como uma idealização a mais da liberdade. As dimensões do sentido e da prática humana encontram- se solidárias em seus fundamentos. E assim a visão educacional não pode deixar de ser ao mesmo tempo crítica da opressão real em que vivem os homens e uma expressão de sua luta por libertar-se. (Freire 1967, pp.8) Paulo Freire distingue teoria e pregação, pois é nos Círculos de Cultura onde a teoria e a denúncia concebem a aprendizagem e, no diálogo que se complementam para a 14 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 tomada de consciência, onde permite ao homem conhecer a sua temporalidade (não vivemos num eterno presente, existe hoje, ontem e amanhã), a sua historicidade (capacidade de discernir a sua condição humana num espaço e num tempo específico), a sua pluralidade (respeitar a diversidade da história e das culturas humanas), a sua transcendência (que somos seres inacabados) e a sua criticidade (a consciência circula na realização da autonomia e complementa-se nas ações que se direcionam no cuidado em ser mais coletivamente). Consequentemente, esta pedagogia revelou uma dimensão prática, política e social, em que o seu sentido mais profundo reside na ideia que a “libertação só adquire significação quando comunga com a luta concreta dos homens por libertar-se “ (Freire 1987, pp.30). No descortinar da realidade envolvente, e a par de uma prática pedagógica, a Figure 8 - Círculo de Cultura - Análise de uma influência de Paulo Freire, Leonardo reportagem - 2013 Boff, Ubiratan D’Ambrosio e Slavoj Žižek nos Círculos de Cultura levou ao questionamento do conflito e tensão entre género, tradição e modernidade, submissão e emancipação, conhecimento formal e local, global e local, etc... Numa relação dialógica reflexiva sobre os temas que os membros das comunidades envolvidas achavam importantes, construiu-se um espaço onde os mesmos consolidam o aflorar da consciencialização crítica e, assim, passam a assumir o seu papel como sujeitos ativos na história, refletindo e lutando pela sua existência e transformando a sua individualidade em comunidade. A primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir e refletir. É preciso que seja capaz de, estando no mundo, saber-se nele. Saber que, se a forma pela qual está no mundo condiciona a sua consciência deste estar, é capaz, sem dúvida, de ter consciência desta consciência condicionada. Quer dizer, é capaz de intencionar sua consciência para a própria forma de estar sendo, que condiciona sua consciência de estar (Freire 1994, pp.16). Ao longo dos diálogos os membros das comunidades envolvidas fizeram a interpretação individual do mundo que os rodeia, paulatinamente começaram a ter uma capacidade de intervenção, concretizada no aflorar do pensamento crítico que se transformou na possibilidade de mudança, invertendo o alienamento e o desinteresse pela própria vida e sociedade. 15 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Integrar os membros das comunidades envolvidas num processo de decisão, fazendoos compreender que os seus interesses individuais se relacionam e influenciam os interesses dos outros sujeitos que estão em situação semelhante, tornou-se uma meta no âmbito de Ser e Estar como investigador no FU, dentro dos parâmetros referidos. Promoveu-se, então, a consciencialização do “poder” individual, no qual foi criado um espaço onde cada um destes membros, com as suas vivências e Figure 9 - Círculo de Cultura - Escola do Bairro - 2013 saberes, potenciaram esta experiência no despertar não só para transformar a sua vida, mas também a sociedade. Os Círculos de Cultura, vivenciados enquanto um espaço transformador, promoveram o diálogo, alimentado pelas vozes dos membros envolvidos, que propiciou a descoberta de algo positivo em si próprios, emergindo a autoestima, a autodeterminação e a confiança, qualidades necessárias para se fazerem ouvir e intervir ativamente na sociedade e contestar os seus direitos. Os Círculos de Cultura converteram-se, neste estudo, numa alavanca impulsionadora. Figure 10 - Círculo de Cultura - Reunião Comunitária 3 - 2012 Figure 11 - Círculo de Cultura - Alfabetização Crítica - 2012 16 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ARTE E EDUCAÇÃO João Moreira Mônica Mesquita Na realização de todas as tarefas dentro do FU, a arte tem sido o mote organizador e impulsionador – mostrando-se e firmando-se como transcultural e transdisciplinar. Buscamos nas diferentes formas de arte, e na diversidade inserida nestas formas, conhecimentos tácitos para explorarmos novos conhecimentos do eu, dos outros, bem como do entorno histórico-sócio-político-ambiental-cultural. Nestes exercícios destacámos uma experiência que foi fomentada pelo artista João Moreira, uma vez por semana, num atelier móvel e a céu aberto, na Comunidade Bairro. Nesta proposta de estar com, fazer com e aprender com, João Moreira destaca-se pela simplicidade, originalidade, eficiência, carinho e empenho com que tem desenvolvido este atelier que, desde o tempo em que era Educador no Projecto D.A.R. à Costa – Tr@ansFormArte – lugar que forneceu os seus primeiros contactos com os atores, ou melhor, artistas, desta comunidade, sempre foi um objetivo de sua vida. O atelier móvel quando entra na Comunidade Bairro, nas tardes de terça-feira, revelatodo o destaque acima descrito, com a chegada dos artistas – em sua maioria crianças que se encontram sem creche, com um sorriso no rosto e abraço apertado no amigo João. Pensado para atuar com crianças, hoje em dia o atelier do João é um espaço de encontro de todos para todos, um espaço de esperança, de amor e, especialmente, de reconhecimento. Figure 12 - Atelier Móvel João Moreira - 2012 17 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Figure 13 - Arte na Rua - João Moreira - 2012 O espaço desenvolvido pelo artista João Moreira foi um exemplo de voluntariado que modifica as características deste ato, transformando-o em bilateral, mostrando que o voluntariado transcende preconceitos revelando-se como um ato de ser e estar neste novo milénio. O voluntariado, neste caso, pode ser entendido como o resgate de valores e ética do ser humano, da aproximação dos seres, do convívio do todo. Não me sinto muito confortável com a palavra voluntário para falar dos momentos que passo na Comunidade Bairro, não sei quem ajuda quem. Digamos que troca amorosa seria mais apropriado para descrever o meu voluntariado. Fui para o bairro em Setembro de 2011, depois de uma pausa do trabalho desenvolvido no projeto D.A.R. à Costa, projeto esse no âmbito do Programa Escolhas. Tinha já, à muito tempo, a noção que o trabalho comunitário devia ser realizado na e com a comunidade. Não foi difícil começar a trabalhar: tinha os meios, a vontade e a convicção que para as crianças (e não só) seria positivo do ponto de vista da estimulação cognitiva , afectiva e da autoestima. Os momentos são preenchidos de várias formas: pintando, lendo ou “simplesmente” conversando. No entanto, o essencial deste trabalho comunitário, ou melhor deste ato, é a atenção: o ato de estar atento aos nossos semelhantes.(Moreira and all, 2013, p.17) Figure 14 - Arte na Rua - João Moreira - 2013 18 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 E esta tem sido uma das nossas “Arte na Rua”, a qual ilustra todo este relatório. Porém, destaca-se a poesia, a dança e a música como agentes fulcrais no desenvolvimento do FU, que foram surgindo no decrrer do processo de investigação. Na tarefa da Alfabetização Crítica, a poesia tomou conta dos Círculos de Cultura praticados, especialmente na terceira fase etnográfica. Ressalta-se o profundo trabalho efetuado pela investigadora Ana Paula Caetano, também poetisa, junto com uma educanda – Rita Tavares. Na terceira fase etnográfica, por análise mais profunda das situações vivenciadas, decidiu-se, em conjunto com os membros da Comunidade Bairro envolvida nesta tarefa, que cada investigador-educador trabalhasse em dupla com diferentes membros da comunidade. Deste exercício, Ana Paula e Rita, vivenciaram diferentes formas de trabalho em Círculos de Cultura indo além das fronteiras. Auto-conhecimento e conhecimento do entorno sociocultural alimentaram uma expansão aos colegas inseridos nesta tarefa ou mesmo grandes momentos como no Fórum Fronteiras Urbanas ou na Escola Voluntária do Bairro. Nesta experiência vivenciada pela Rita e Ana Paula, podemos relatar que a aprendizagem se deu na afetividade, no convívio e no estímulo, desenvolvido pela investigadora, ao contacto com outras realidades – dispositivos abertos gratuitamente na sociedade local que, pelo Figure 15 - Circulo de Cultura - Alfabetização Crítica - Poesia desconhecimento, são pouco - 2012 frequentados pelos membros da Comunidade Bairro. Visitas a exposições de arte, a parques ou a monumentos em Lisboa, tendo como foco central o desenvolvimento da interpretação e da escrita crítica, foram alimento para o desenvolvimento de poesias individuais ou coletivas de ambas. Hoje em dia, Rita não só aprendeu a ler e a escrever, como é a autora das letras das músicas do grupo de Batuko local: Nôs Herança. “A poesia é um arrepio de silêncio correndo-nos líquida O poeta é porta de urgência no silêncio da cidade” (Rita e Ana, 2013) 19 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 O Batuko é uma forma de arte cabo-verdiana que há muitos anos, segundo Euclides Fernandes (mediador comunitário do FU), andava adormecido na Comunidade Bairro. Com a entrada etnográfica do FU nesta comunidade, e dentro da tarefa Histórias de Vida, Euclides Fernandes sugeriu que fosse criado um grupo local de Batuko. Este grupo foi desenvolvido localmente, sob a gestão do nosso mediador comunitário e da investigadora Sílvia Franco. Num trabalho transversal às tarefas do FU, esta atividade estimulou o desejo e proporcionou a consciência da importância de se aprender a ler e a escrever, para além de ter sido um elo mediador de coesão social local. Atualmente, o grupo tem em seu currículo atuações em diferentes ambientes culturais, nomeadamente: Casa do Alentejo, Exposição de Arte do pintor João Moreira na Galeria São Mamede, Cinema da Costa de Caparica a convite da Associação Gandaia, na Trienal de Arquitetura de Lisboa no Palácio Marques de Pombal – Bairro Alto, entre outros. O reconhecimento dos membros da Comunidade Bairro tem vindo a acontecer e o Batuko tem sido muito importante para este facto. Figure 16 - Batuko - Nôs Herança - Exposição de Arte João Moreira - 2012 Por último, destaca-se a criação de um estúdio musical Dàdà Dnós. A musicalidade está presente na Comunidade Bairro de diversas formas – a diversidade revela-se aqui um dos principais instrumentos de coesão social. Na música, os diferentes membros culturais desta comunidade têm-se encontrado, e membros de fora da comunidade têm vindo ao encontro de toda diversidade musical existente nesta comunidade. O facto de ter sido criado um estúdio independente, por honra e mérito do Dàdà, revelou-se como um dos pontos objetivados pelo FU – a autoestima, a inter e intrarelação, bem como o desenvolvimento da consciência crítica. 20 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 A comunidade cigana inserida na Comunidade Bairro vivencia diariamente a música e a dança em suas vidas. Esta vivência, após a entrada do FU nesta comunidade pôde se perceber, ainda que discretamente, sendo partilhada por todos os membros desta comunidade. Ressáltase que no encontro anual de 2013, o Figure 17 - Fórum Fronteiras Urbanas Workshop Fórum Fronteiras Urbanas, a Dança Cigana - Paula Marques - 2013 comunidade cigana desenvolveu um workshop de dança cigana onde, em momento culminante da mediação inter e intra comunidades se revelou, com a participação ativa de elementos de todas as comunidades envlvidas como membros externos, participantes deste evento. Perceber as capacidades adormecidas pelo forte ambiente opressivo que os membros da Comunidade Bairro foi, indubitavelmente, um ponto fortíssimo da presença do FU nesta comunidade. Na tarefa Cartografia Múltipla, um dos exercícios foi mapear a musicalidade presente nesta comunidade. A Comunidade Piscatória revela-se por manter tradições artísticas como o fabrico de rede de pesca artesanal, um rancho infantil local, bem como o estímulo ao conhecimento musical português – o fado. O trabalho do FU nesta comunidade via a arte fomentou a importância do conhecimento geracional do fabrico das redes artesanais, estimulando, enaltecendo e discutindo tal conhecimento. Centrámo-nos na análise crítica do conhecimento do desenvolvimento da arte da construção de rede de pesca Figure 18 - Comunidade Piscatória – Homenagem ao Fanan artesanal estarem centradas na 2013 geração mais velha, visto que o incentivo do governo à classe piscatória artesanal é nulo. Mais uma vez destacámos a ligação direta da opressão económica no desenvolvimento local. Percebe-se que aos poucos está surgindo uma geração mais nova na arte de pesca artesanal local, surgimento este ligado diretamente a crise económica a qual Portugal se encontra. Este retorno tem vindo a se destacar num processo geracional que aponta a lacuna de uma geração na prática da pesca artesanal, ou seja, temos na pesca local os avós trabalhando ao lado os netos(as), hoje homens e mulheres adultos. Porém, faz-se urgente um programa de incentivo a esta nova geração para que possam dedicar-se a aprendizagem da construção de rede de pesca artesanal de uma forma mais sistematizada. Numa postura etnomatemática identifica-se, no 21 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 processo de construção da rede artesanal, conhecimentos posicionais que se ligam diretamente com os conhecimentos mais abrangentes para se desenvolver a pesca tradicional, nomeadamente, o tamanho da rede de malhar condicionado as legislações de pesca artesanal local e a variedade de tamanhos e modelos das malhas em consonância às diferentes artes tradicionais locais. Ressaltámos em nossas análises a Arte Xávega que, nos últimos anos, tem tido um aumento na visibilidade internacional, indicada para ser um patrimônio cultural da humanidade. Porém, clamámos, após toda nosso imersão etnográfica, para que as outras artes de pesca tradicionais locais sejam também reconhecidas e valoradas pelo sistema de governação local, regional e nacional, face estas artes estarem, ainda Figure 19 - Comunidade Piscatória - Alvéolo Mário Raimundo - 2012 hoje, ligadas diretamente a sobrevivência do pescador local. Firmamos, com nosso estudo, que os problemas inseridos nestas comunidades envolvidas no FU estão na sociedade como um todo e não inseridos, como se é apontado por um preconceito reificado em nossa sociedade, como problemas locais. A Educação Comunitária proporcionou, via a opressão e a expressão das artes inseridas nas comunidades envolvidas, identifcar e dialogar os confrontos culturais criados pelo nosso sitema hegemónico de governação, trazendo, assim, uma consciência crítica a todos os membros envolvidos nesta investigação. O extermínio de uma cultura começa pelo ato de slenciar a sua arte. 22 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 PROGRAMA ETNOMATEMÁTICA Nuno Vieira Mônica Mesquita O Programa Etnomatemática teve sua origem na busca de entender o fazer e o saber matemático de culturas marginalizadas. Intrínseco a ele há uma proposta historiográfica que remete à dinâmica da evolução de fazeres e saberes que resultam da exposição mútua de culturas. Em todos os tempos, a cultura do conquistador e do colonizador evolui a partir da dinâmica do encontro. (D’Ambrosio, 2012, p.343) Suportados pela ideia do nosso consultor Ubiratan D’Ambrosio, o qual afirma que a Educação promove a criatividade, ajudando as pessoas a incrementarem os seus potenciais e a maximizarem as suas capacidades, em sua obra intitulada Peace, social justice and ethnomathematics de 2007, também buscámos neste encontro cultural do FU, enquanto investigadores, ter o cuidado de não promover cidadão dóceis - o cuidado de não promover, segundo este autor, a criatividade irresponsável (D’Ambrosio, 2007, pp.26-27). Neste cuidado, optámos por trazer ao seio desta investigação o Programa Etnomatemática que, enquanto programa de pesquisa sobre a geração, organização intelectual, organização social e difusão de conhecimento, surge numa ética de respeito pelos saberes e fazeres do outro (D’Ambrosio, 2002, pp.60). Este programa nos permitiu compreender o ciclo do conhecimento em distintos ambientes. A escolha por uma postura etnomatemática no FU (Mesquita, 2008) permitiu atuar como educador freire-d’ambrosiano em conjunto com os membros da Comunidade Piscatória e Bairro para que estes pudessem desempenhar o (ou fortalecer o atual desempenho do) papel socialmente ativo e participativo, contribuindo para a compreensão e o domínio de determinadas questões do quotidiano, nomeadamente as relacionadas com a ciência, a tecnologia e, principalmente, com a economia, de um ponto dialógico entre o global e local. Tendo nosso consultor a compreensão de que o pensamento matemático deverá ser o “modo de pensar mais universal” (D’Ambrosio, 2007, p.25) de que o ser humano dispõe, vivenciámo-lo em sua transversalidade, como um caminho ao entendimento dos desequilíbrios sociais e das perturbações nos ecossistemas locais. Assim, o estudo e a compreensão dos factos históricos do pensamento matemático estiveram presentes de uma forma sustentada. “É importante conhecer a evolução da etnomatemática como resposta ao curso perigoso da humanidade em direção à destruição da dignidade individual, das relações sociais tensas e violentas, das relações com o ambiente inviáveis e o aumento dos confrontos armados”. (D’Ambrosio, 2008, p.99) Nossa postura etnomatemática visou o reconhecimento da validade dos modos como o outro conta, mede, calcula, infere, localiza, representa, joga, o que proporcionou um 23 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 caminho sustentável para a equidade e para tolerância entre os membros das comunidades envolvidas, num movimento intra e inter comunidades. O Programa Etnomatemática, desenvolvido por Ubiratan D’Ambrosio, resulta de uma visão transdisciplinar e transcultural do conhecimento. Todos os povos, pensados como a mesma espécie humana, e todas as culturas, pensadas como integrando uma civilização planetária, exigem um novo pensar e um novo relacionamento de saberes e de fazeres que Figure 20 - Daniel ,2012 muitas vezes se manifestam diferentemente. As novas relações internacionais e a intenção de recuperar a dignidade cultural de todos os povos, manifesta na Declaração Dos Direitos Humanos, exige o diálogo intercultural e interdisciplinar. Este seria o primeiro passo para o pensamento transcultural e o conhecimento transdisciplinar. Porém, face à ideologia do discurso presente nestas novas relações internacionais, nomeadamente as intenções pacifistas e justiceiras presentes nos mesmos, identificou-nos, em nosso processo etnográfico, uma dicotomia entre o discurso e o ato implementado. Em busca da transculturalidade e da transdisciplinaridade, as quais acreditámos possibilitar a sobrevivência, com dignidade, da espécie humana, clamamos pela postura etnomatemática para desmistificar a ideologia do discurso do sistema atual, trabalhando COM os membros das comunidades envolventes no sentido de compreender os modos como o outro (e nós mesmos) conta, mede, calcula, infere, localiza, representa e joga neste sistema hegemónico opressor. D’Ambrósio chama a atenção para algo que todos sabemos: o facto da sobrevivência da humanidade estar dependente da sua relação com a natureza, relação essa regulada por princípios culturais e ecológicos que não raras vezes, ao longo da história contribuíram “para o conflito que se desenvolve, para o confronto, a violência e a subjugação do outro e da natureza” (D’Ambrosio & Rosa, 2008, p.101). Ao longo do processo do FU, a demanda contra o conflito e a violência pôde ser experienciada com um “cheiro a sucesso” visto que existiu partilha na distribuição dos conhecimentos e dos recursos locais. É neste o caminho apresentado por D’Ambrósio, para “nos conduzir a uma civilização planetária, com paz e dignidade para toda a humanidade” (D’Ambrosio & Rosa, 2008, p.109) que a postura etnomatemática se assenta e promove uma educação emancipadora, a qual surge conscientemente como um meio de comunicação e uma ferramenta úteis e eficazes para a gestão dos desejos, das possibilidades e das limitações locais. 24 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 CURRICULUM TRIVIUM Nuno Vieira Mônica Mesquita Baseados no facto de que a sociedade ter vindo a evoluir no sentido da valorização dos números, seja na forma de estatísticas, que ao serem conhecidas condicionam a opinião pública e a individual, seja na economia de mercado, sustentada na matemática, seja na quantificação de tudo, onde se tenta traduzir tudo em valores numéricos, com o intuito de seriar e estabelecer rankings, foi que entendemos a emergência de se colocar em prática, no âmbito da Educação, mecanismos de literacia e materacia, em respostas a estes novos desafios. Não poderíamos, face às sérias problemáticas das comunidades envolventes, assumir mais pelo velho objetivo de ensinar a ler, escrever e contar2. Atuar como educador freire-d’ambrosiano seria, por primícia básica, atuar para uma cidadania plena o que implicou da parte dos investigadores/educadores que assumissem que o pensamento matemático levaria ao comprometimento com as suas obrigações, na promoção da equidade e da justiça social. Quando falamos em pensamento matemáticos, buscamos trabalhar com o pensamento lógico que, de certa forma, estrutura o pensamento do ser humano. Nosso exercício, alicerçado pelo pensamento matemático, foi compreender nossa situacionalidade, atuar sobre ela e transformar nossa condição social. É de extrema importância salientar que a busca pela transformação assentou-se, em todo o processo, na emancipação das três comunidades envolvidas. Trabalhar COM os membros das comunidades envolventes no sentido de compreender os modos como o outro (e nós mesmos) conta, mede, calcula, infere, localiza, representa e joga neste sistema hegemónico opressor trouxe uma consciência crítica à compreensão do nosso espaço sócio-cultural-histórico-geográfico-económico – da nossa situacionalidade. Este compromisso, que D’Ambrósio advoga para o pensamento matemático, foi partilhado por todos os membros das comunidades envolvidas ao longo do processo do FU. Para este exercício de transformação nosso consultor, Ubiratan D’Ambrosio, propõe um novo currículo, o Curriculum Trivium, constituído por “literacia, materacia e tecnoracia, que responde às necessidades da época que agora está a emergir” (D’Ambrosio, 2001, p. 133). Assim, temos que: literacia é a capacidade de processar informação escrita e falada, o que inclui leitura, escrita, cálculo, diálogo, ecálogo, mídia, internet na vida cotidiana (instrumentos comunicativos); materacia é a capacidade de interpretar e analisar sinais e códigos, de propor e utilizar modelos e simulações na vida cotidiana, de elaborar abstrações sobre representações do real (instrumentos intelectuais); tecnoracia é a capacidade de usar e combinar instrumentos, simples ou complexos, inclusive o próprio corpo, avaliando suas possibilidades e suas limitações e a sua adequação a necessidades e situações diversas (instrumentos materiais). (D'Ambrosio, 2005, p. 119) 2 Os termos ler, escrever e contar, resultam do sistema americano que desde a sua fundação seguiu o lema dos três R’s (Reading wRiting e aRithmetic) (D’Ambrosio, 2001, p.65). 25 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Literacia foi, então aqui entendida como a capacidade de ler e escrever em sentido lato, não apenas de traduzir caracteres sequenciados, mas de analisar, processar e interpretar informação que nos pode chegar através das mais variadas formas de comunicação, como a artística, a gestual ou a sensorial, ao que D’Ambrosio (2007) acrescenta que “hoje em dia, ler inclui a competência de numeracia, a interpretação de gráficos e tabelas” (p. 29). Na verdade, com a crescente importância social dos números, grande parte da informação chega-nos sob a forma de linguagem matemática, pelo que o FU forneceu, aos membros das duas comunidades envolvidas, as ferramentas necessárias para a sua leitura crítica. Os educandos são, agora, (mais) capazes de, a par da análise de sinais e códigos, inferir, propor hipóteses e tirar conclusões, aquilo a que D’Ambrósio denomina de materacia, a qual é a segunda componente do Curriculum Trivium, “materacia é a mais profunda reflexão acerca do homem e da sociedade e não deveria ser restringida às elites, como tem sido no passado” (D’Ambrosio, 2007, p.29). Por fim, na terceira componente do Curriculum Trivium – tecnoracia – que pressupõe um domínio crítico na seleção, adequação e utilização das ferramentas tecnológicas nas mais diversas situações, ressaltamos que os educandos das comunidades envolvidas mostram ter consciência de que a ética e os valores estão intimamente relacionados com o equidade, justiça social e afetividade. Imbuídos da postura etnomatemática, focando no conhecimento dos instrumentos comunicativos, intelectuais e materiais locais, foi proporcionado aos educandos os instrumentos teóricos necessários para a compreensão holística dos seus saberes e fazeres. Para este processo ter sido proporcionado, foi necessário manter como foco central algumas questões: 1. 2. 3. 4. 5. 6. Conhecermos nosso backgroud, conhecendo-nos auto e mutualmente; Analisarmos nosso foreground, analisando-nos auto e mutualmente; Compreendermos onde estamos em termos económicos, sociais, geográficos e políticos; Observarmos criticamente, dialogando, como todos membros envolvidos interagem com as realidades presentes (...) relações ideológicas; Refletirmos qual é o nosso papel, enquanto investigadores freire-d’ambrosiano, para transformar o mundo (...) relações de poder; Conscientizarmos sobre a relação entre emancipação e coresponsabilização (...) como atuarmos após emanciparmo-nos. Temos, enquanto investigadores/educadores, o: poder simbólico de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e (...) a ação sobre o mundo; poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física e económica), graças ao efeito específico de mobilização. Só se exerce se for «reconhecido». (Bourdieu, 2001, p.14) Sendo assim, nossa postura etnomatemática é justamente não investigarmos sobre, e sim sermos, também, o corpus presente neste processo de investigação. O investigador/educador do FU exerceu , via o quadro teórico dialógico, a recolha de 26 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 dados interativa, bem como uma análise de dados crítica, uma experiência partilhada cíclica, que em diferentes momentos trocava de papel com o educando. Neste movimento cíclico, por todos os membros envolvidos era feita a «leitura» da situação (literacia), da interpretação da informação, e das inferências e conclusões a que chegou (materacia). Neste sentido, todos os membros estavam finalmente em condições de recorrer aos instrumentos ao seu dispor, para aplicar estratégias que permitam reconduzir os educandos no sentido dos objetivos inicialmente traçados para o momento de aprendizagem. Desta capacidade de adequação dos processos e de seleção dos instrumentos, bem como à forma como são implementados, passamos todos pela tecnoracia em ato. A dinâmica didática do Curriculum Trivium proporcionou uma investigação onde o investigador/educador tem sido educando e o educando tem sido investigador /educador. Figure 21 - Escola do Bairro - Agricultura - 2013 27 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 TRANSCULTURALIDADE Neste movimento, um crescimento mútuo de investigadores com menos experiência em investigação nesta área do conhecimento reforça a coerência da dinâmica de encontros culturais proposta. Novos investigadores, cada um em seu novo papel, tecem uma rede de perspetivas, intenções, necessidades, ações e produções que vão fortalecer o carácter interventivo de cada participante (membros das comunidades locais/membros da comunidade científica) na sua respetiva comunidade, o reconhecimento da nossa igualdade legal e o entendimento de processos educacionais ocultos noutras formas de investigação. (Projeto Fronteiras Urbanas, 2010, pp. 03) Em Ensaio (1940), Fernando Ortiz apresenta-nos este termo – transculturalismo. Este termo aparece definido como “ver a si no outro”, apesar de muitas vezes ser também entendido como algo que se estende através de todas as culturas ou ainda trabalhado como sendo a reinvenção de uma nova cultura comum. A Transculturalidade foi vivida no FU via a ênfase nas problemáticas das culturas locais em termos de relacionamentos, do saber-fazer, da construção do significado, da natureza transitória das culturas, assim como do poder de transformação. Nas dissonâncias, tensões e instabilidades vividas pelas duas comunidades envolvidas, a transculturalidade foi atingida face aos efeitos estabilizadores de coesão social, comunitarismo e organização que foram trabalhados no âmbito do FU e nos efeitos desestabilizadores do sem-sentido, dos não-espaços urbanos, bem como da invisibilidade vivenciada por cada membro das duas comunidades envolvidas. Para além da cultura, seguiu os nossos objetivos de desintegração de subcomunidades e poder, uma vez que estes objetivos visavam tanto a unificação de duas comunidades quanto a manutenção de suas diversidades. Este exercício transcultural proporcionou processos dialógicos dos quais as comunidades tomaram consciência de como elas próprias criam seus significados e as diferentes maneiras com que as sub-comunidades interagem e experienciam tensões. Uma quebra nas eternas “guerras de linguagens”, historicamente moldadas e realizadas pelos sistemas de governação atual, foi sentida dentro deste exercício de transculturalidade vivenciado no FU, tal qual a compreensão da interação da língua e da materialidade como um continuum dentro do locus instável de condições históricas colonialistas específicas. Neste exercício localizámos, discutimos e compreendemos as relações de poder em termos de linguagem e história. A Transculturalidade é algo temido, silenciado, visto que seu foco central é a autorreflexão e autocrítica, baixando a perspetiva moral sobre os outros e conscientizando-se da distorção da própria realidade social, ou seja, da dimensão mítica da realidade social impregnada de ilusão. Porém, nossa postura etnomatemática, a transculturalidade foi ferramenta que não excluiu o relativismo moral, a confluência meta-ética ou mesmo a fantasia ideológica, questionando a estruturação do mito. 28 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 COMPLEXIDADE SISTÉMICA Arquiteto José Pedro Roque Gameiro Martins Barata A natureza dos elementos em causa no Projeto Fronteiras Urbanas (FU) tanto como a sua formulação mostram que a diversidade, interação, âmbito e dinâmicas envolvidas são típicas de um sistema, e sobretudo de um sistema marcado pela complexidade. O sistema constituído pelo conjunto de pessoas, grupos de origem cultural variada, situações económicas, capacidades e limitações, necessidades, exigências e expectativas com formas diversas, sujeitas a pressões tanto do interior como sobretudo do enquadramento cívico, político e administrativo com que têm de se confrontar só pode ser entendido como formando uma teia de relações e interações com um carácter dinâmico e adaptativo. O que marca a complexidade deste sistema é justamente a emergência de situações imprevisíveis que não podem ser atribuídas univocamente a quaisquer causas singulares, às quais se acrescenta o carácter de irreversibilidade que tira significado a qualquer intenção de justificar através da experimentação. A recusa da aceitação do carácter complexo do sistema e a convicção de uma causalidade simples conduzem à corrente prática de admitir a eficácia de intervenções de diversa natureza, sobretudo políticas e administrativas, que isolam e procedem a ações que ignoram o direito, a vontade dos sujeitos dessas “intervenções”, mas a realidade encarrega-se se mostrar que o seu resultado se afasta sempre daquilo que era suposto ser atingido. Assim, a ação das forças que atuam dentro do sistema Figure 22 - Denilson (João Moreira, 2013) deve antes ser considerada sob o seu carácter dinâmico e adaptativo; mais do que prever, definir, dispor, calcular, medir e avaliar nos termos duma prática “causalista” importa compreender o fenómeno, inserir-se na sua dinâmica, detetar o conflito em vez de o ignorar, assumir, em suma, o carácter adaptativo e complexo da realidade em que se move o projeto FU. Esse esforço e essa intenção de compreender, mais do que teorizar sobre a ação concreta e retirando dela o conveniente ensinamento são os desejáveis frutos do exercício do programa FU na sua vertente académica, mas esse ensinamento é revertido à prática tal como adiante será apresentado neste relatório. 29 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 TRANSDISCIPLINARIDADE Neste movimento, um crescimento mútuo de investigadores com menos experiência em investigação nesta área do conhecimento reforça a coerência da dinâmica de encontros culturais proposta. Novos investigadores, cada um em seu novo papel, tecem uma rede de perspetivas, intenções, necessidades, ações e produções que vão fortalecer o carácter interventivo de cada participante (membros das comunidades locais/membros da comunidade científica) na sua respetiva comunidade, o reconhecimento da nossa igualdade legal e o entendimento de processos educacionais ocultos noutras formas de investigação. (Projeto Fronteiras Urbanas; 2010, p.3) É normal ouvirmos nosso consultor Ubiratan D’Ambrosio, enquanto educador, dizer que o movimento do ser humano em busca do conhecimento fez com que as nossas análises e práticas científicas fossem reducionistas, fragmentadas em disciplinas, compartimentalizadas em saberes e fazeres, desenvolvendo, assim, as especializações. Segundo D’Ambrosio (2011), este movimento reducionista propõe soluções que não atingem a meta essencial de um enfoque integrado. Neste sentido, este autor propõe uma reorientação das ciências e da tecnologia, fundamentada numa integração dos vários conhecimentos, transcendendo as culturas e as disciplinas, a partir de uma perspetiva transdisciplinar (D’Ambrosio, 2011, p.01). Neste sentido, o FU promoveu em seu cerne etnográfico o encontro de saberes e fazeres, não só localizados no seio da academia mas também vivenciado no conhecimento dos membros da Comunidade Piscatória e Comunidade Bairro. Neste projeto foram reconhecidos conhecimentos de dimensão racional, como as ciências e a tecnologia, e também de dimensão sensorial, intuitiva, emocional e mística. A postura etnomatemática permite, cientificamente, que tenhamos tal flexibilidade; na verdade, esta postura exige que tenhamos uma visão holística sobre os saberes e fazeres. No FU, essas dimensões revelam-se nas chamadas humanidades, artes e tradições, o que inclui a religião e a espiritualidade no sentido amplo. Com o surgimento das mecânicas quântica e relativista a perceção da realidade determinista e de sua linearidade foi transformada e o surgimento de teorias geral dos sistemas, do caos e da complexidade altera a visão do ser humano, fazendo que tomemos consciência da importância do outro no reconhecimento do seu próprio eu. Neste sentido, apoiámos a nossa etnografia crítica na teoria lacaniana, discutida por Slavoj Žižek, para transformarmos o ato da investigação num ato popular, onde o terreno comum da academia passa a ser os problemas mundanos. Esta escolha trouxe-nos à reflexão conceitos como sustentabilidade e natureza, de maneira a discutirmos nossa coresponsabilização, nossa posição de “objecto de estudo”, bem como nossa integridade (corpo, mente e cosmos), enquanto investigadores do FU. Ter passado por este processo dialógico fez-nos crescer, ainda mais, em nosso comportamento subordinado à ética maior de respeito, solidariedade e cooperação (D’Ambrosio, 2002). 30 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ETNOGRAFIA CRÍTICA Sílvia Franco Mônica Mesquita Numa postura etnomatemática, onde foi extremamente importante olhar para a prática e dialogar com os fenómenos sociais, respetivos contextos e membros das comunidades envolventes, a etnografia crítica acaba por ser não uma escolha metodológica, mas sim a confirmação da possibilidade de ser e estar investigador freire-d’ambrosiano. Os investigadores do FU acabam por buscar um caminho crítico ao próprio comportamento atual na investigação educacional, pesquisando populações marginalizadas, mudando o foco da pesquisa de um indivíduo ou grupo patológico para uma análise das minorias e da dominação socioeconómica vigente. Para Jim Thomas (1993) o grande diferencial da etnografia crítica está na aceitação de uma tarefa extra, face a uma situação de desigualdade ou opressão social, assim para o autor, Critical ethnographers (...) accept an added research task of raising their voice to speak to an audience on behalf of their subjets as a means of empowering them by giving more authority to the subjets’ voice. As a consequence, critical ethnography proceeds from an explicit framework that, by modifying consciousness or invoking a call to action, attempts to use knowledge for social change. (Thomas, 1993, p.04) Na percepção lacaniana, estudada nesta investigação via Slavoj Žižek, de que nem tudo é o que parece, surge, para os investigadores do FU, a constatação de que os contextos educativos e os conteúdos selecionados para os processos educativos são maioritariamente formas de dominação social. Contextos, processos e conteúdos representam e promovem comportamentos e significações sociais impostas por instituições de poder, construindo e limitando as escolhas do indivíduo. Por este motivo, o papel do investigador passa não só por descodificar palavras, símbolos e rituais de forma a perceber os significados atribuídos; mas também por questionar, em conjunto com o corpus investigado, o que poderia ser. Para Thomas (1993), Mainardes & Marcondes (2011) e Oliveira & Lima (2009, p.5), a grande questão da etnografia crítica é exatamente “o que poderia ser”, indo além da “análise puramente descritiva”, crítica da “grounded theory” apresentada em GérinLajoie (2009, p.15). Os autores concordam que para apreender as relações de poder e romper com os processos de domesticação é necessária uma abordagem holística, crítica e dialógica das questões da investigação no contexto estudado, abordagem priorizada pela etnografia crítica. O grande desafio da nossa atuação enquanto investigador do FU foi escutar os dados sem impor as nossas próprias significações, aceitando os seus pré-conceitos como construções da sua própria cultura, ao procurar olhar, escutar e pensar para uma visão holística da realidade estudada. Em comunhão com Paulo Freire e Ubiratan D’Ambrosio, para Thomas (1993) o investigador deve desenvolver o seu pensamento 31 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 crítico numa atitude reflexiva face ao seu trabalho e aos seus próprios valores, sempre em interatividade, em diálogo com a comunidade estudada, respetivas práticas e sinais. Ressalta-se que, segundo Thomas (1993, p.12), “signs are the words, gestures, or artifacts that represent a meaning that one intends to transmit to an audience”. Portanto podemos dizer que o processo de uma investigação, bem como os processos culturais estão repletos de sinais, com significações que as instituições querem transmitir e incutir aos sujeitos. Tendo como foco central desta investigação a educação, buscou-se que o papel do investigador/educador fosse, principalmente, de diálogo entre os sinais que quer estudar ou transmitir e os sinais que recebe dos sujeitos. Assim, os investigadores/ educadores tiveram como preocupação essencial a humanidade como um todo, respeitando as especificidades de cada cultura e de cada sujeito (D’Ambrosio, 1999). Jim Thomas (1993) defende que um etnógrafo crítico começa por escolher o seu tema, identificando uma questão que desperte a sua paixão, pois se o investigador não sentir paixão pelo que investiga dificilmente alcançará os significados subentendidos do evento em questão. Para a realização desta etnografia crítica, nós, etnógrafos críticos, adotámos uma postura flexível, pois não trabalhávamos com verdades que pretendíamos provar e sim com a tentativa de compreender como se manifestam os Figure 23 - A Ameaça (João Moreira, 2013) saberes e fazeres nas comunidades envolvidas. Em contacto com as comunidades, nós confiámos no ponto de vista dos membros das mesmas, dialogando com eles e deixando-os manifestar-se enquanto especialistas na sua própria cultura. Para um posicionamento crítico etnográfico foi essencial que a experiência fosse vivida em primeira mão e, ainda assim, com plena consciência de que “cultural forces may shape both the conditions and social responses that disadvantage some groups more than others” (Thomas, 1993, p.33). Enfatizando que uma prática de pesquisa convencional poderia promover a reprodução dos sistemas sociais e culturais que 32 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 veiculam propósitos de opressão e dominação, tentamos usar o nosso trabalho como forma de crítica social ou cultural, para reforçar que os problemas locais se encontram promulgados pelo contexto global. Vivenciámos, em nosso processo etnográfico que todo pensamento é mediado pelas relações de poder construídas histórica e socialmente; que os fatos nunca podem ser tomados isoladamente do universo dos valores ou retirados de uma inscrição ideológica; que a relação entre conceito e objeto e entre significante e significado nunca é estável ou fixa e é, geralmente, mediada por relações sociais determinadas pela produção e consumo capitalistas; que a língua é essencial na formação da subjetividade (percepção consciente ou inconsciente); que em qualquer sociedade alguns grupos têm privilégios e que a opressão, que caracteriza as comunidades envolventes, alcança sua máxima expressão quando os subordinados aceitam o seu status social como natural, que a opressão tem muitas faces e que atentar para apenas uma delas costuma ocultar as interconexões das mesmas. Neste sentido, encontramos em nossa investigação os pressupostos discutidos por Kincheloe e McLaren (2003). O perigo da história única, como por exemplo as trazidas nas atuais TED talks, é o de restar uma perspetiva muito reduzida da realidade que nos conduziria à formação de estereótipos e consequente promoção de desigualdades sociais e fortalecimento de movimentos opressores. Todas as histórias são compostas por diferentes versões e este exercício foi desenvolvido ao analisarmos as diferentes Histórias de Vida locais – como as das próprias comunidades envolvidas, trazidas por diferentes membros, e não membros, destas comunidades. Este exercício fez-nos contactar com outras histórias e, principalmente, com os próprios preconceitos dos contadores das histórias e com os preconceitos de terceiros, frutos de histórias únicas. Ao fazer etnografia crítica, recolhemos dados interactivamente com os membros das comunidades – que também foram agentes de recolha, através da observação participante e da recolha de documentos, e criámos algo novo, primeiramente, em diálogo com os participantes do estudo e com a teoria e, posteriormente, a partir de um processo de distanciamento, em que procurámos evidenciar os elementos que à primeira vista não foram claros. Estes elementos trouxeram um novo olhar face às situações vivenciadas, realçando a importância das várias histórias de um mesmo fenómeno e, assim, promovendo reflexões e acrescentando valores a uma história. Apesar de não existir grandes diferenças entre a etnografia convencional e a crítica, no que aponta a técnica de recolha de dados utilizadas – observação, entrevista e análise documental, destacamos a relevância da criatividade e imaginação etnográfica no processo de uma pesquisa desta natureza. O espírito crítico da imaginação sociológica indica a necessidade de se evitar o fetichismo do método e da técnica (Mills, 1965). Assim, a pesquisa etnográfica crítica demanda uma preocupação não apenas com a técnica, mas também com implicações mais profundas, tais como, as teorias que fundamentam a pesquisa, o nível de reflexividade do investigador/educador, neste caso, e a necessária perspetiva de historicidade dos fenômenos investigados. 33 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 As ideias de Wright Mills, acima apresentadas, instigam os investigadores a serem criativos no uso das técnicas, mas principalmente na busca de respostas que integrem a complexidade existente no ambiente de estudo. Neste sentido foi preciso permitir que a imaginação se manifestasse, que esta tornasse possível olhar além do visível, despertando novas questões e ativando a compreensão de toda uma ampla diversidade de possíveis respostas. Esta criatividade que define a etnografia crítica favoreceu o emprego e a reflexão sobre vários conceitos dicotómicos, tais como: igualdade/ desigualdade e inclusão/ exclusão, entre muitos outros, que tendem a dominar as práticas e as reflexões educativas. Esta abordagem metodológica permitiu que estes conceitos surgissem de forma consciente e fossem analisados como elementos dialógicos e numa relação dialética com o seu contexto. O olhar sobre estes conceitos pretendeu ser abrangente, evitando que se considerassem apenas antagónicos, portanto urgiu problematizá-los, questioná-los e explicitá-los de uma forma mais profunda, que considerasse os conceitos dicotómicos também como elementos de um diálogo. Na última etapa etnográfica ressaltamos a imersão da investigadora principal a campo, tendo passado dez dias na casa da Dona Vitória Mendes, aluna da Alfabetização Crítica e moradora do bairro há 36 anos. Esta experiência estará relatada detalhadamente no capítulo do nosso livro. Porém, ressaltamos aqui a dura experiência de se viver sem água em um local urbano. A luz vinda de uma puxada ilegal, também é precária, não trazendo nenhuma forma de conforto (possibilidade de se ligar um aquecedor) ou mesmo de sobrevivência urbana (a falta de luz é constante e por períodos longos não podendo manter um refrigerador em condições normais). A higiene é uma tarefa árdua, mas que é feita cuidadosa e diariamente (lavar o cabelo é uma tarefa que exige um grau de complexidade muito maior do que em uma residência dita normal urbana). A beleza deste mergulho etnográfico tem proporcionado ainda um maior respeito pelos membros desta comunidade. Poder estar o dia todo na Comunidade Bairro permite trabalhar em nossas tarefas de forma mais profunda, gozar do lazer nesta comunidade – momentos mágicos, e preparar a Festa de Natal detalhadamente. Não tem sido fácil usar a casa de banho (uma privada, uma fossa) da minha tão querida amiga Vivi que está construída ao lado do chiqueiro, fora de sua casa. Não consegui aprender a lavar meu cabelo – tarefa feita ontem pela minha amiga Rita (aluna da Alfabetização Crítica). Porém aprendi com a Vivi: a escovar os dentes na chuva (visto que esta casa não tem pia na casa de banho e mesmo assim a higiene bucal é feita várias vezes ao dia), a lavar roupa no tanque (e ir buscar água para isso há um quilómetro de distância), a repor a água (coletada da chuva em arcas frigoríficas velhas via um algeroz) nos recipientes de plástico para armazenamento da mesma, a dormir apenas com um olho (pois o outro estava nas goteiras e precisava mudar meu colchão de lugar), a plantar ervilha, a buscar a cabra (mesmo sem nunca ter ido sozinha), um pouco mais sobre a resiliência desta gente bonita, a resistir ainda mais, o valor da compaixão vivenciada num outro ponto de vista, a viver! Pudera todos as pessoas ligadas a educação tivessem esta oportunidade de ser e estar uma moradora visitante da Comunidade Bairro... de certo a justiça social reinaria neste mundo animal, dito racional. GOSTO MESMO DE ESTAR AQUI! (Mesquita, Notas de Campo, amanhecer do dia 23 de Dezembro) 34 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Figure 26 - Inserção Etnográfica Quarto de Mônica Mesquita preparado com amor por Vitória Mendes – Dez/13 Figure 25 - Inserção Etnográfica - Lavar o Cabelo, por Rita Tavares – Dez/13 Figure 24 - Observação "aprendendo a cuidar", com Patrícia e Patrick - Dez/13 35 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ÉTICA Mônica Mesquita Ana Paula Caetano Sugerimos o Curriculum Trivium, desenvolvido pelo nosso consultor Ubiratan D’Ambrosio e acima discutido, a fim de reforçar a cidadania plena durante estes momentos de encontros e confrontos culturais inegáveis e, também, para fornecer instrumentos de sobrevivência numa sociedade onde a busca de uma nova perspectiva de futuro para a humanidade, via uma ética maior (D’Ambrosio, 2002), é determinante para esse reforço. Neste sentido, após esta inserção etnográfica, destacamos o conceito de espaço como conceito crucial. A HUMANIZAÇÃO DO ESPAÇO Centrados na Educação Comunitária, o conceito é mantido como factor crucial de inclusão – tendo ele próprio a postura de lembrar ao ser humano a atual emergência para estar com o outro, com a natureza, e para repensar a alegada supremacia da espécie humana face às outras formas de vida. O conceito de espaço é trabalhado pelo Projeto Fronteiras Urbanas como uma conceção do corpo matemático que, de acordo com Mesquita, Restivo, e D’Ambrosio: Figure 27 - João Moreira e Kevini (Spieel Pacheco, 2012) “… is, among others, an active producer of bodies that can react within production relations… and must be seen as a part of human culture, claiming to the view where the mathematical body is not a part of some form of Platonic transcendental realm.” (2011, p.100). O ser humano pára de se sentir estranho no mundo em que vive quando reconhece que a atitude científica no mundo não é mera contemplação mas movimento de construção social. “understand how the interactions of human beings are engaged in constituting and reconstituting the world; we have even come to develop a more empirically grounded understanding of what science is (through the development of science studies since the late 1960s). We can see how these developments arise out of the intersections of new configurations of history, culture, and individual biographies.” (Mesquita and Restivo; 2012, p.04) Segundo Mesquita e Restivo (2012), a matéria prima da Ciência é o ambiente ecológico onde práticas sociais e culturais o transformam, em sua composição, pelas 36 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 as forças produtivas e as relações de produção. No FU, constatamos que as forças produtivas e as relações de produção inseridas nas comunidades mantêm-se em consonância com o espaço posicional e relacional do corpo. É no espaço concreto do encontro, onde a mente e os afetos se corporificam pelo ato da palavra dialogada e agida, que as transformações internas e externas, individuais e colectivas, acontecem. Trata-se de uma ética da relação e do diálogo, onde a identificação e a desidentificação são processos que favorecem a emancipação dos vários que se reconhecem no encontro. Trata-se, pois, de uma ética do reconhecimento de si no outro e do outro em si mas, também por isso, de desconstrução e reconstrução do eu. “Há uma dor mas Vêm/a vida chama-os mas decidem/no seu tempo estar/sorriso e abraço suspendendo o grito/que transformam em palavra/ e que aprendem a levar vertical/aos lugares de ser escutada” (Ana Viana) Sendo assim, o poder da corporificação e a ética de identificação são como produções do corpo, e as relações de poder e ética como relações de produções, conforme sugere Mesquita (2008). Em Les Formes élémentaires de la vie religieuse : le système totémique en Australie, Durkheim (1912, 2003) aproxima-se do espaço como uma categoria de conhecimento, uma representação coletiva, uma coisa social. De acordo com Durkheim, falar sobre esta categoria é para falar sobre as relações que o espaço expressa, de forma implícita, através da consciência individual. Neste contexto, representar o espaço é, essencialmente, ordenar o heterogéneo, ou seja, produzir, espacialmente falando, sentido. Por si só o espaço não tem nem direita nem esquerda, nem alto nem baixo, nem o Norte nem o Sul . Todas estas distinções são construções sociais com diferentes valores afetivos. Como todas as pessoas de uma cultura representam o espaço da mesma forma, é evidente que estes valores afetivos e suas distinções - o que eles dependem - são igualmente comuns, pois eles têm origens sociais . Desta forma, nosso estudo confirma que o espaço não é dissociável da sociedade que nele habita, nem do poder da corporificação e da ética de identificação existente nesta sociedade. Pelo contrário, o espaço é a construção de uma base material sobre a qual a sociedade produz a sua própria história. Entretanto, segundo Žižek (2010), o ser humano não pode ser reduzido em codificações simbólicas de "alteridade", que oferecem oportunidades de autorrealização, mas que são reais vizinhos inevitáveis e cuja própria particularidade confronta o indivíduo com as demandas universais e obrigações que não podem ser ignoradas. A ideia de "alteridade" é central para análises antro-sócio-económicas de como as identidades são construídas. Este pressuposto deve-se ao fato da representação dos diferentes grupos dentro de qualquer sociedade ser controlada por grupos que têm uma maior potência política que, em nossos tempos podemos afirmar que são grupos que têm uma maior potência económica. A fim de entender a noção do Outro, colocámos um holofote crítico sobre as estratégias pelas quais as identidades socioculturais são construídas 37 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 A voz de Žižek nos lembra o foco humano, localizando as origens da vida social em capacidades e potencialidades humanas, que é capaz de desenvolver através da construção social, a interação com os outros de qualquer espécie. Žižek (1994, 2005) trabalha com a ideia de seres humanos que estão IN (seres humanos incluídos na sociedade legalmente regulada de bem-estar e os direitos humanos), e que estão OUT (do sem-teto de nossas cidades urbanas entre as quais as comunidades das fronteiras urbanas do projeto). É necessário acrescentar que estar IN é ter visibilidade intelectual e material nas formas neoliberais de vida e na hegemonia dos atuais espaços urbanos. Estar OUT é não ter visibilidade intelectual e material; estar fora é ser invisível nos mais profundos sentidos humanos. Olhando para essa relação espacial entre IN e OUT, afirmamos que a população urbana local não reconhece as relações sociais entre os grupos marginalizados e não marginalizados revelados neste estudo etnográfico. Para o grupo de nãomarginalizado, o outro - grupo marginalizado - tornou-se invisível, mesmo que eles tenham direitos ou necessidades urgentes como cidadãos. Ser invisível é estar no espaço marginal da grande sociedade, é sobreviver sem ser incluído diretamente nas relações éticas e de poder da grande sociedade, desenvolvendo relações invisíveis de ética, e consequentemente, de poder. Durante a Era Industrial, os grupos marginais urbanos eram geralmente localizados na periferia da cidade ou controlados, colocando-os metafórica e literalmente em cadeias (em presídios, hospitais psiquiátricos e reformatórios). A presença contínua e crescente destes grupos culturais em áreas centrais urbanas afeta diretamente as relações sociais da grande sociedade, não gerando uma simbiose mútua, mas a seleção natural capitalista; os grupos culturais marginais passaram por um processo de eliminação fundada na sua incapacidade de se adaptar à vida nas áreas centrais urbanas. No passo seguinte, tornaram-se invisíveis. (Mesquita, 2008) O movimento dos grupos culturais marginais na área central urbana surgiu como uma resposta topológica ao movimento de conurbação durante a Era Industrial. Este movimento desenvolveu o não-espaço, ou seja, espaço físico não identificado ou identificável, organizado em torno de entropia e anomia, discutido por Mesquita (2008). É aqui que encontramos um espaço para um certo tipo de conjunto invisível das relações sociais. No não-espaço urbano, as relações sociais acontecem num processo de osmose capital natural. No entanto, o medo do outro invisível torna-se a consequência de uma parede nos olhos de um visível. Uma parede de angústia constituída, entre outras coisas, pelo entupimento dos corpos nos espaços urbanos, pela manipulação do aparecimento de uma constante ameaça colocada pelo outro invisível - parede que está em desenvolvimento e alimentando os limites urbanos. O universal singular – reconhecido como invisível neste estudo, é um grupo que, embora sem qualquer instalação fixa no edifício social (ou, na melhor das hipóteses, ocupando um lugar subordinado), não só pede para ser ouvido em pé de igualdade com o poder dominante mas, indo além, se apresenta como a encarnação imediata da sociedade como tal, em sua universalidade, contra os interesses de poder particulares da burguesia local (Žižek, 1998, online). 38 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 O corpo é controlado como uma estratégia de poder para ocupar e delimitar espaços e, ao mesmo tempo, é manipulado como uma estratégia de ética global para manter os espaços elitistas. Este exercício é vivenciado diariamente por qualquer pessoa que resolva estar ao lado de um dos membros das comunidades envolvidas neste estudo. Entendemos, em nosso processo etnográfico, que a relação entre o poder e o corpo está no processo de submissão agradável onde dever torna-se prazer - o ato de corporificação. A relação entre ética e corpo está relacionada com o politicamente correto onde o prazer se torna dever - o ato de identificação. As inter-relações entre o poder, a ética e o corpo estão relacionados com o processo de controlar e manipular, é intrínseca ao pensamento lógico, que é uma representação coletiva. Corporificação e identificação combinam-se para tomar posse traiçoeira sobre o corpo, uma espera que se baseia simultaneamente sobre a produção de conhecimento. Ambos os conceitos se manifestam nas relações de conhecimento (matemático - conhecimento espacial) que condicionam o surgimento do ser humano, concentrando-se sobre o corpo. O corpo passa por esse processo com a intenção de tornar-se, ele próprio, capaz de participar da atividade econômica em que os termos são de sujeição ininterrupta e em detrimento de seu potencial pelo apelo e revolta. Se forme alors une politique des coercitions qui sont un travail sur le corps, une manipulation calculée de ses éléments, de ses gestes, de ses comportements. Le corps humain entre dans une machinerie de pouvoir qui le fouille, le désarticule et le recompose. (...) La discipline fabrique ainsi des corps soumis et exercés, des corps “dociles”. (Foucault, 1975; 2001, p.73) O corpo aqui é frágil. Aparece alvejado e produzido pelo sistema hegemónico e, em seguida, torna-se incompreensível fora de suas significações culturais; forças sociais, afetivas e históricas construídas diretamente da realidade corpórea do corpo. “Deste não-espaço criado pela sociedade para o mulato nasce uma equação: mulato + nãoespaço = malandro” (Mesquita, 2008, p.141). Esta equação pode ser revisitada por todos os membros das comunidades envolvidas em nosso estudo, nomeadamente, o cabo-verdiano, o cigano, o brasileiro, o pescador, o português do bairro, o angolano, o guineense, etc. No entanto, é importante ressaltar que a corporificação e a identificação, discutida aqui, não são redutíveis à repressão. Corporificação e identificação não estão apenas negativamente ligados às forças produtivas e às relações de produção. Se os mecanismos de poder e ética (global) fossem exercidos apenas de forma negativa estes seriam muito frágeis. Se eles são fortes é porque corporificação e identificação produzem efeitos positivos ao nível do desejo, da obrigação e do saber. A partir de um desejo, uma obrigação e um saber sobre o corpo apareceu um conhecimento fisiológico, o orgânico. Para compreender que a sujeição envolvida nas relações entre o conhecimento, a corporificação, a identificação e o corpo não está centrada sobre o paradigma da obediência, mas sim dispersa através do corpo social, observamos a constituição do corpo em determinados espaços, as relações de controle e de manipulação que 39 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ocorrem dentro do processo de constituição, as interações do corpo no espaço, bem como os efeitos concretos que essas interações produzem em determinados espaços. Sendo assim, para compreender esse processo de observação foi necessário perfilar a importância de deslocar o foco para as fronteiras da zona, para as extremidades do corpo social, para as instituições locais, indo da lei às regras locais a fim de observar as técnicas de intervenção dos mecanismos de poder e ética global nas produções, e para observar os efeitos materiais que são produzidos sobre os corpos. Num movimento de ruptura com a marginalização material e simbólica, os mecanismos de poder, de controle legal e ético sobre os corpos são quebrados pela criatividade e valores diferentes vindos dos outros invisíveis. O ato, ou práticas de resistência como Žižek (2006) clama, torna-se político, reiterando noutro registo e como uma condensação metafórica da reestruturação global de todo o espaço. De acordo com Žižek (2002; 2003), a possibilidade de atos que perturbem a ordem sócio-simbólica, que provoque as rupturas do real, podem romper o impasse do tédio, da falta de entusiasmo e iniciativa, da pós-política. No ato, em outras palavras, podemos encontrar esperança para algo mais. “Os momentos não se somam/quando o coração se expande em cada/mesmo que entre eles nos doa/a ausência// um fio de luz atravessa-os/insuflando de riso o seguinte/ e sedimentando dentro uma presença” (Ana Viana) A colaboração íntima promovida pelo Projeto Fronteiras Urbanas tem contribuído para a sobreposição deste cenário através do nosso comprometimento em torno dos mesmos desejos - o desejo de saber, do reconhecimento, da validação, tornando compatíveis os nossos conhecimentos, os desejos de estarmos nas fronteiras, a troca de energia visando capacitar nossas comunidades. Trata-se, pois, de uma ética da colaboração e da resistência, pela qual há um comprometimento em continuarmos o encontro e de rompermos a barreira entre o visível e o invisível. o centro é o fogo que alimentamos em cada encontro e que permanece vivo porque sempre alguém lhe responde (Ana Viana) 40 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 MOMENTO ETNOGRÁFICO Os momentos etnográficos vivenciados aparecem, neste relatório, descritos nos relatórios finais de cada tarefa do Projeto Fronteiras Urbanas (FU), previstas em candidatura à Fundação para a Ciência e a Tecnologia, nomeadamente: Alfabetização crítica, Histórias de Vida e Cartografia Múltipla. Apresentamos, inicialmente, o relatório da Mediação Comunitária, exercício transversal a toda atuação etnográfica crítica envolvida neste processo de investigação, também conforme previsto em candidatura. Trazemos um momento final no qual relatamos, resumidamente, atividades que foram realizadas ao longo do desenvolvimento etnográfico com parceiros externos que, ao se aproximarem do FU, contribuíram com a realização e/ou desenvolvimento de ideias já presentes no cerne no projeto. A este movimento demos o nome de EntreProjectos. Ressaltamos que tanto os relatórios quanto as descrições dos EntreProjectos aparecem apresentados de forma sucinta, não revelando a complexidade, profundidade e humanização de todas as transformações ocorridas ao longo desta inserção etnográfica. Figure 28 - Moni (João Moreira, 2013) 41 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA Ana Paula Caetano Isabel Freire 1 - Contextos e âmbitos de mediação Em consonância com a conceção de mediação de que partimos, não foi predefinido qualquer plano para a mediação nem tão pouco se pretendia instituir um dispositivo próprio e específico de mediação. Assumiram-se os movimentos espontâneos, ou pelo menos não pré-determinados, como aqueles que fazem sentido e que dão sentido aos processos de participação coletiva das pessoas nas comunidades, na busca do bem comum. Figure 29 - Gonçalo, 2013 A mediação foi sempre entendida como um processo de facilitação da comunicação no interior dos sistemas ou entre eles, sempre que aquela se encontrasse de algum modo dificultada ou inexistente, sendo assumida quer como uma resposta a situações de conflito, quer como uma ferramenta de encontro entre pessoas, grupos ou comunidades, facilitadora do diálogo e preventiva de situações de escalada do conflito. 42 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 No quadro abaixo apresentam-se os diferentes âmbitos da mediação e os contextos em qua essa mediação emergiu. Quadro 1 – Contextos e âmbitos de mediação Âmbitos da mediação Mediação de (intracomunidade e comunidades e exteriores) Contextos e processos de mediação conflitos entre as entidades Ligação com autoridades locais e outras organizações locais Relações entre membros de uma comunidade Mediação linguística e intercultural (nos processos de alfabetização crítica, que incluem a promoção de práticas culturais, como o batuko ou o kriolu), Alfabetização: mediação cultural e linguística Mediação entre educação informal e formal (ligação entre a educação no bairro e na escola/centros de formação) Ligação com escolas e centros de formação Mediação social entre comunidades participantes no projeto (comunidade de pesca, comunidade de bairro e comunidade académica) Colaboração entre comunidades Mediação social comunidades e sociedade Iniciativas de divulgação do projecto, com a presença das três comunidades entre Grupo de batuko Apoio à criação moradores líderes de uma de diferentes Comissão de Debates em fóruns de participação pública Desenvolvimento arquitectura por Autónoma de alunos projectos de da Universidade Desenvolvimento de um projeto de cozinha comunitária 43 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 A mediação de conflitos emergiu da necessidade quer de responder às situações de violência física por parte das autoridades policiais sobre os membros de uma das comunidades, quer às situações de negligência sistemática das autarquias locais face aos direitos básicos desses mesmos moradores (direito ao acesso à água e à habitação). Estes casos foram implicando membros de todas as comunidades, em diversas iniciativas, algumas das quais integradas no âmbito da alfabetização crítica ou de cartografia ou da cartografia múltipla. Pontualmente, a mediação de conflitos surgiu face às dificuldades de comunicação entre membros de uma mesma comunidade. A mediação linguística surgiu fundamentalmente no contexto da alfabetização. As senhoras que integravam a “escola”, todas cabo-verdianas, cuja língua materna é o kriolu, falam português com alguma dificuldade. A alfabetização foi feita em língua portuguesa e, foi direcionada para a iniciação à leitura e à escrita da língua portuguesa. Nesse sentido, teve uma grande importância o papel de uma das alfabetizadoras, uma jovem cabo-verdiana da comunidade local, com bom domínio das duas línguas. No quadro dos encontros entre as duas línguas e entre as diversas culturas em diálogo, os processos de mediação intercultural3 criaram condições para a promoção de práticas culturais de reconhecimento mútuo entre as quais destacamos a criação, desenvolvimento e divulgação, de um grupo de batuko4 e de um grupo de teatro, assim como a criação de uma escola de kriolu, a criação de uma associação de pescadores (Associação Ala-Ala) e a realização de sessões de poesia e de partilha de histórias de vida, com a participação de todas as comunidades envolvidas. Destacam-se também os processos de mediação realizados entre a educação não formal e formal, ou seja, em determinados momentos foi assegurada a continuidade entre a formação no quadro da alfabetização de adultos no bairro e o acesso à formação no quadro dos programas formais de formação de adultos proporcionados pelo sistema educativo, através de centros de formação e de escolas profissionais. É ainda relevante realçar um sentido processual de mediação, entendendo-se aqui o imbricado de iniciativas que alimentam simultaneamente as principais tarefas do projeto – alfabetização crítica, cartografia múltipla e histórias de vida. 3 Entendida como uma “modalidade de intervenção de uma terceira parte, em e sobre situações sociais de multiculturalidade significativa, orientada para a consecução do reconhecimento do Outro e para a aproximação das partes, a comunicação e a compreensão mútuas, a aprendizagem e o desenvolvimento da convivência, a regulação de conflitos e a adequação institucional, entre actores sociais ou institucionais etnoculturalmente diferenciados” (Gimenez, 1997, 142). 4 Género musical originário da ilha de Santiago, Cabo-Verde, cujo elementos são : o ritmo, o canto e a dança. 44 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 2 - Figuras de mediação Estes diversos âmbitos de mediação não são estanques. Nas suas dinâmicas criam-se rede de mediações e de mediadores que refletem a presença de papéis e níveis de mediação diferenciados, mas sobretudo complementares. Podemos assim, identificar os mediadores locais e também académicos cuja ação se desenvolve de forma articulada e simultaneamente autónoma, tendo sempre como elo principal de ligação a líder do projeto. Aos mediadores académicos coube, por um lado, o papel e a responsabilidade de promover a reflexão sobre as dinâmicas e as práticas e ajudar a todos na consciencialização dos papéis desempenhados nos processos de formação. Por vezes, em situações mais complexas e com grande envolvimento dos mediadores locais, os académicos assumiram pontualmente a liderança dos processos. Noutras situações em que o conhecimento cultural, intercultural ou das dinâmicas locais necessitava ser mobilizado, foram os mediadores locais a liderar os processos iniciais. Ou seja, as lideranças foram surgindo de forma articulada e complementar, num quadro de relações horizontais de poder, liberdade e respeito mútuo. A análise das dinâmicas de mediação reflete um adensamento do tecido social formado pela intensificação qualitativa e quantitativa das interações que se estabelecem, das colaborações entre projetos, das solidariedades humanas. Esta realidade foi potenciada pelo projeto FU, dando continuidade a outro projeto anterior, o Projeto D.A.R à Costa, integrado no Programa Escolhas5 , no qual já tinha sido promovida a prática da mediação na comunidade. Trata-se, portanto, de uma mediação informal, que cada um assume dentro do âmbito da sua atuação e que a existência do projeto promove, ajudando a dar-lhe sentido e consistência. Algumas das pessoas mais ativas durante o projeto já eram mediadores naturais, no sentido de exercerem uma liderança e um papel educativo fortalecedor de coesão social. Outras emergiram ou tornaram-se mais conscientes desse papel, assumindo-o deliberadamente, na ligação com iniciativas que o projeto lançou ou apadrinhou. 3 - Princípios orientadores A mediação contém em si uma orientação transformadora dos indivíduos e das relações, sustentada em valores positivos, como a solidariedade, a participação, o compromisso, a cooperação, o respeito, a criatividade, a perseverança, a paciência, a confidencialidade e o diálogo, que se congregam numa ética inter-relacional. Trata-se de uma responsabilidade inclusiva que se partilha com todos e, assim, a todos devolve dignidade (Oliveira &Freire, 2009). 5 O Programa Escolhas é um programa português de nível nacional integrado numa organização governamental designada Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural [ACIDI ; ver www.acidi.gov.pt]. O Programa Escolhas encoraja e financia projetos de desenvolvimento local, para a integração de populações migrantes, e projetos promotores da coesão social. 45 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 A análise das dinâmicas de mediação vividas no projeto FU realça a presença de um conjunto de princípios, que foram objeto de reflexão e ponto de partida para o fortalecimento das práticas mediadoras e educativas no sentido do bem comum. Podemos mesmo falar em constelações de princípios e valores que se aproximam por afinidade e que são recursivos entre si. Tal é o caso de princípios de confiabilidade, onde o afeto, a presença, a disponibilidade, o cuidado e o reconhecimento se imbricam. Tal é o caso da dinâmica de emergência de atuação, não no sentido de atuar como bombeiro em situações problema, mas no sentido de ir tomando decisões e abrindo caminhos à medida que as circunstâncias o proporcionam, à medida que os recursos se vão tornando visíveis, à medida que as potenciais colaborações se desenham no contacto diário com novos participantes, alargando-se o leque de pessoas envolvidas e catalisando processos em momentos críticos, sem se substituir mas também sem abdicar de ser em coautoria. Trata-se de favorecer, criar condições, sem resolver as situações mas colaborando com as populações para que sejam elas a resolvê-las, embora a autonomia seja muito relativa, se pretenda progressiva e haja um caminho a percorrer para que seja efetiva. Trata-se de estabelecer relações com todos e cada um, mas dando atenção aos líderes das comunidades que, entre si, vão gizando sinergias e se vão mutuamente apoiando, despoletando nas suas próprias comunidades movimentos que se ampliam. Trata-se de partir dos pequenos passos e com eles fazer as caminhadas possíveis. 4 - Impacto dos processos de educação e mediação comunitárias na vida das comunidades Não é nossa intenção identificar os impactos específicos da mediação em todo este projeto, o que não faria sentido, dado que a mediação surgiu de forma verdadeiramente integrada no desenvolvimento de todo o projeto de educação comunitária. No nosso ponto de vista, o impacto principal que a mediação em si teve no desenvolvimento das dinâmicas sociais e culturais que se operaram, foi a facilitação dessas mesmas dinâmicas e o aprofundamento dos processos de consciencialização proporcionados pelas mesmas. A este propósito é paradigmático o discurso de uma das moradoras do bairro: “o bairro agora esta muito melhor do que antes, porque antes o bairro era desorganizado e agora está perfeito, está mais completo, com sintonia ... com as aulas de alfabetização, batuque e as brincadeiras, os nossos corações ficam cheios de alegria e no bairro ficou tudo em sintonia, sossegadinho e mais alegre. Antes o bairro era muito sem graça, desorganizado... antes eu ficava em casa sozinha e triste, mas desde que comecei as aulas de alfabetização e o batuque o coração enche-se de alegria..” No que respeita à alfabetização critica e aos processos de mediação que lhe estão associados, numa primeira fase, observou-se um “processo de aproximação à cultura dominante, mais do que a promoção da sua”. Em parte inversamente, as dinâmicas culturais que conduziram à formação do grupo de Batuko Nôs Herança (Nossa herança), constituiu um processo de afirmação da cultura de origem, com alguma 46 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 abertura a experiências de encontros culturais. A título de exemplo refira-se o depoimento de uma das batukaderas sobre a apresentação do grupo numa exposição de artes plásticas em Lisboa (de autoria de um dos membros da comunidade académica). “R - A gente estava contentinhos até uma da noite. A batucar enquanto a gente estava ao pé de nós. (…) As pessoas agradecem e ficam muito contentinho, agradece a gente.” Vejam-se, ainda, alguns exemplos de falas de outros membros do grupo de alfabetização: “M. –Senti muito bem mesmo, porque agora já sei pôr o meu nome, já não põe dedo na tinta. O principal é isso. É mesmo bom, estou muito agradecida.” V. – «Desde que entra batuko, o bairro fica mais uns com os outros … Agora estou na nha escola, no nho batuko, o coração fica mais alegre.» Os processos de organização da comissão de moradores de uma das comunidades (Bairro), com os consequentes contactos com autarquias e outras organizações, e a participação de vários membros da comunidade local no processo de cartografia do bairro clandestino, constituíram processos vividos de democracia interna orientados para a defesa dos direitos das comunidades, que agregaram as três comunidades e constituíram verdadeiros reencontros culturais no seio da comunidade Bairro, fortalecendo os laços entre diferentes grupos e reforçando, assim, o sentido de comunidade. Numa perspetiva mais interna às comunidades, estes são alguns dos impactos específicos que podemos identificar em todo este processo, contudo encontram-se alguns indícios de mudança positiva na ligação da comunidade Bairro com a comunidade mais alargada. Por um lado, a comunidade passou a ter visibilidade perante as autarquias, tendo sido aprovado o projeto de uma cozinha comunitária, fundamental para a obtenção de um “ponto de água” dentro do Bairro e para o desenvolvimento da cultura de solidariedade que se vive no bairro. Por outro lado, a relação das autoridades policiais com o Bairro passou a fazer-se na base de um maior respeito, tendo cessado as situações de violência sobre os moradores. Um elemento das chefias participou mesmo em sessões de alfabetização no Bairro. 47 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 5 - Algumas tensões e problemas Uma ação pautada pelos princípios que temos vindo a referir é acompanhada de tensões, constrangimentos, dilemas e problemas, como é natural em processos sociais complexos. O acompanhamento das dinâmicas de mediação vivenciadas no FU permite-nos identificar algumas dessas tensões, a nível coletivo e individual. Presença/apagamento do mediador Quando é que faz sentido realçar a presença do(s) mediador(es)? Quando é que esta se deve apagar, garantindo a liberdade do(s) outro(s) para decidirem por si próprio(s) e o posicionamento equidistante do(s) mediador(es)? Como dizem Six e Mussaud (2002), é necessário criar condições para que o mediador possa agir «não agindo». Esta forma de estar tão importante para a mediação, que não tem nada de passiva; é uma prudência, um domínio de si, a atenção ao dinamismo interno das coisas, das pessoas e das situações, um saber deixar morrer, em vez de tudo bloquear através do ativismo, através de uma resposta ou de uma solução prematuras (Oliveira & Freire, 2009). Autonomia progressiva das comunidades Os mediadores e as redes de mediação, constituindo-se como verdadeiros agentes de transformação pessoal e coletiva, afrontam estruturas de poder geradoras de dependências, alcançando patamares mais elevados de autonomia. Tais processos envolvem tensões, conflitos e mesmo sofrimento, os quais desafiam os limites da liberdade de cada um, por referência à liberdade do outro. São processos complexos que exigem tempo de consolidação, para que o fortalecimento individual e a coesão social se aprofundem, ao mesmo tempo que sustentam os movimentos de emancipação. Sustentabilidade da mediação cidadã Por muito informal que seja a mediação cidadã e por muito que se defenda uma cultura de responsabilidade, colaboração e solidariedade, há necessidade de sustentála em formas organizadas que garantam a sua sustentabilidade e que permaneçam dinâmicas. A criação de uma comissão de moradores no bairro promoveu uma dinâmica participativa na sua constituição, mas esta precisa manter-se. A própria comissão precisa desenvolver uma agenda de atuação e hábitos de encontro interno, para debate e decisão colectiva. Este é um processo que pode ser favorecido pela colaboração com outras comunidades. No entanto, é preciso deixar “respirar” as dinâmicas locais e é preciso que os mediadores da comunidade académica progressivamente se “apaguem”, sob pena de se criarem relações de dependência das quais todos ficam reféns. 48 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 6 - Considerações finais No quadro dos processos de educação e desenvolvimento comunitários, a mediação é um caminho para a tomada de consciência de injustiças sociais e de consequente atuação reivindicativa pelos direitos sociais. Os processos e dinâmicas de mediação criam laços, transformam relações, desenvolvem solidariedades, geram dinâmicas de participação e de pacificação, segurança e confiança, promotoras da afirmação da própria cultura e da interculturalidade. Trata-se de uma perspectiva cultural da mediação, enquanto projeto da humanidade ou, melhor dizendo, com a humanidade (Boqué Torremorell, 2008). 49 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ALFABETIZAÇÃO CRÍTICA Sílvia Franco A tarefa Alfabetização Crítica (AC) foi delineada em atenção ao desejo de alguns membros da Comunidade Bairro de aprender a assinar o seu nome, de aprender a ler e a escrever, de aprender mais sobre o seu entorno social, de aprender… Este desejo acompanhou a história do Movimento Fronteiras Urbanas e, consequentemente, do Projeto Fronteiras Urbanas (FU). 1. Suporte teórico No sentido de implementar a presente tarefa, fundamentámos as nossas práticas nos ensinamentos de Paulo Freire, os quais estudámos ao nível da consulta de bibliografia do autor com reflexão teórica e algumas indicações práticas do seu trabalho de alfabetização de adultos. Ainda neste sentido dedicámo-nos à análise de vídeos representativos de alguns movimentos de alfabetização desenvolvidos por Paulo Freire ou por outros que seguiram as suas sugestões metodológicas. Procurou-se, permanentemente, que esta busca teórica fosse desenvolvida num processo dialógico crítico com os membros das comunidades, com o intuito de fortalecer o que Ubiratan D’Ambrosio (2002) chama de triângulo da vida. Este assenta numa ética de diversidade que se pauta em: “1) Respeito pelo outro, com todas as suas diferenças; 2) Solidariedade com o outro na satisfação das necessidades de sobrevivência e transcendência; e 3) Cooperação com o outro na preservação do patrimônio natural e cultural comum”. Segundo D’Ambrosio, esta ética conduz à Paz. 2. Factos imprevistos O FU tem em sua base de investigação o factor imprevisibilidade, visto que tem seu olhar voltado para a dinâmica dos encontros culturais, i.e., para processos de vidas dos membros das três comunidades envolvidas. Mesmo estando assente na imprevisibilidade trouxemos, nesta parte do relatório de progresso, dois factos que compreendemos como de humanização da investigação em educação. Figure 30 - Alfabetização Crítica - Optometrista - 2012 50 Um facto a ser destacado nesta tarefa, e não previsto em candidatura à Fundação para a Ciência e a Tecnologia, foi que após algumas semanas de em campo, notámos que muitas das educandas, ligadas diretamente à alfabetização da clássica literacia, tinham problemas oftalmológicos, o que nos levou a doarmos óculos a cada uma delas. Ressaltamos, também, a demora na perceção deste problema oftalmológico especialmente por estas FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 educandas apresentarem uma extrema dificuldade na aprendizagem inicial da alfabetização, no pegar do lápis ou na própria coordenação motora simples. Estas educandas discutiram connosco, nos nossos momentos iniciais, a dificuldade de integração em grupos de alfabetização disponibilizados dentro de instituições públicas locais. Tais instituições exigiam que as educandas (todas adultas) não mostrassem dificuldades nem na aprendizagem de “segurar o artefacto da escrita” nem no desenvolvimento da coordenação motora fina – motivo maior por nunca terem continuado suas vidas escolares. Um outro facto a ser evidenciado foi o do espaço de aprendizagem. A princípio tínhamos pensado em atuar – nas aulas de alfabetização da clássica literacia, num espaço cedido pela diretoria do Sindicato de Pescas do Sul, vigente no ano de 2011. No entretanto, deparámo-nos com o constrangimento cultural de conseguir cooptar os alunos da Comunidade Bairro para este movimento de deslocação entre bairros. Percebemos que este objetivo seria um ponto a trabalhar durante o processo etnográfico e que, naquele momento inicial, deveríamos optar por realizar uma “classe” dentro da Comunidade Bairro. Tal comunidade não dispõe, até hoje, de um espaço de convívio público no qual pudéssemos desenvolver nossa “classe”. Optámos por começar nas ruas de terra batida, numa área central (geograficamente falando), que compreendesse todas as sub-comunidades existentes neste local, visto que esta comunidade apresenta seis pontos de concentração ao nível das construções (Figure 68). Começámos por trabalhar em mesas cedidas pelos próprios moradores da Comunidade Bairro, no ponto que ficou conhecido como “Ponto da Escola”. Porém, logo nas primeiras semanas sentimos dificuldades de concentração por parte das educandas bem como um certo grau de desconforto, visto que os nossos encontros tinham o formato de Círculos de Cultura e, como tal, havia uma exposição forte e intensa das vidas individuais e coletivas presentes neste exercício. Outro grande constrangimento de ter nossos encontros a céu aberto foi a presença de alguns traficantes – pessoas não residentes nesta comunidade que trabalhavam com a venda de estupefacientes. Sentimos que a nossa presença era ameaçadora, indesejada e, muito rapidamente, começaram a explicitar verbal e fisicamente este desconforto. Com estes imprevistos, fomos agraciadas com o convite de atuarmos no alpendre da casa do Mediador Comunitário e neste atuámos nos três primeiros momentos etnográficos. Ressaltamos que no quarto momento etnográfico, marcado pelo desenvolvimento da Escola do Bairro, o qual discorreremos neste relatório ainda neste ponto, voltámos a trabalhar na rua – movimento que proporcionou vivenciarmos as transformações ocorridas nestes dois anos de atuação diária nesta comunidade – os traficantes já não atuavam dentro da Comunidade Bairro. Como já citámos, temos muitos outros factos imprevistos a relatar, porém escolhemos estes dois, previamente descritos, por julgarmos que são tanto preocupações quanto produtos a serem evidenciados de forma primária. 51 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 3. Aplicação prática a. Primeiro momento Nos primeiros quatro meses em campo, a presente tarefa ficou definida pelo confronto com as dificuldades que algumas das senhoras sentiam ao nível da motricidade fina e pela falta de um espaço físico onde pudéssemos trabalhar. Neste período inicial, a tarefa ficou sob responsabilidade direta das investigadoras Mônica Mesquita e Sílvia Figure 31 - Alfabetização Crítica - Arte Franco, contudo logo a partir do segundo mês se com Lénia e João Moreira - 2012 começou a contar com a participação intensiva de Elisângela Almeida (membro da Comunidade Bairro) e de alguns amigos das áreas da Educação e das Artes, tais como: João Moreira, Lénia Fragoso e Isabel Freire. Neste período, considerouse fundamental o trabalho ao nível das histórias de vida, a relevância de determinados períodos das suas vidas, a partilha de experiências e o posicionamento geográfico, Figure 34 - Alfabetização Crítica - Histórias de Vida - 2012 face a representações simbólicas como o globo Figure 34 - Alfabetização Crítica - Identifica, terrestre. Em diálogo com Recorta e Cola - 2012 o grupo compreendeu-se a necessidade de trabalhar o nome e a data, enquanto desejos primários, explorando paralelamente palavras-chave, geradoras de diálogos e de novas palavras. A construção de palavras era, frequentemente explorada através de Figure 34 - Alfabetização Crítica pequenos pedaços de papel que se colavam Reconhecendo Letras - 2012 numa porta. Os recursos locais são limitados, porém em conjunto conseguimos explorar formas um pouco mais interativas e promotoras de um trabalho coletivo, o que tem sido importante para o grupo, pois a entreajuda tornou-se cada vez mais intensa. 52 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 b. Segundo momento O trabalho de exploração de palavras geradoras foi aprofundado na segunda etapa de trabalho em campo, procurando novos materiais de trabalho. A visita de Nair Azevedo e Ana Bruno com o projeto Ler com Arte veio promover a consciência dos grupos silábicos que compõem uma palavra e com os quais podemos formar novas palavras. Figure 35 - Alfabetização Crítica - Arte - 2012 Este exercício trouxe algumas dificuldades, contudo também uma renovada perspetiva da Figure 36 - Alfabetização Crítica - Método Fronteiras Urbanas - 2012 construção da palavra. O contacto com obras de arte, em especial com a pintura, também, permitiu explorar a sua relação com o mundo e a relação homens – mundo no geral. No seguimento, foram exploradas as formas, partindo de revistas. Esta atividade permitiu identificar e explorar temas relevantes para as várias senhoras que compõem o grupo de AC e, consequentemente, para a comunidade. Creio que é de destacar a frequência e importância dada à questão da falta de água potável em suas casas, às crianças da comunidade e à sua vida profissional. O cultivo de produtos alimentícios, também, era tópico recorrente. Para estas Figure 37 - Alfabetização Crítica mulheres, esta prática é muito comum como Comparar, Contar e o Conhecimento Local complemento ao nível da subsistência familiar. - 2012 Este período incluiu o trabalho com a escrita poética (com Ana Paula Caetano), que numa primeira fase consistiu na leitura de poesia e debate em torno de questões temáticas aí presentes, como a morte, a dor, o amor, a espiritualidade, bem como de questões da poesia como género e em torno de aspetos específicos de escrita, como os sinais ortográficos (um dos livros estava organizado e tinha poemas em torno da vírgula, ponto de exclamação, ponto de interrogação, reticências, travessão). 53 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 O trabalho desenvolvido neste período contou, ainda, com a participação de Joana Lopes Vieira e Catarina Pereira, cuja participação foi fundamental para o trabalho individualizado com as participantes das sessões que manifestavam, claramente, a necessidade e desejo de explorar competências e questões de diferentes níveis e domínios. Intensificou-se, ainda neste segundo momento de trabalho em campo, o movimento de diálogo entre os jovens locais e as instituições escolares. Este movimento foi fortalecido com o apoio de Catarina Pereira que iniciou o seu estágio no Projeto Fronteiras Urbanas, no âmbito do Mestrado em Ciências de Educação, na área de especialização em Educação Intercultural. Este processo dialógico foi, de extrema importância, para o regresso dos jovens/adultos do Bairro à escola, desejo de muitos que até então se sentiam impossibilitados de o fazer. c. Terceiro momento A terceira temporada em campo, porém, ficou marcada por momentos de interação com terceiros, bem como com diferentes instrumentos de trabalho e o trabalho individualizado com as senhoras que formam o grupo de trabalho. A Rita Tavares, mulher de 42 anos moradora das Terras da Costa e membro do grupo de AC, foi quem mais usufruiu, ao nível do trabalho individualizado. O seu forte empenho e rápida evolução ao nível da leitura e da escrita, bem como o posicionamento crítico e relação com a poesia, conduziram a um trabalho individualizado com Ana Paula Caetano. Nesta fase de trabalho com a Rita, que numa das sessões integrou a sua filha, exploraram-se exercícios de leitura e de escrita, de visita a exposição e de tradução de canções de batuko. Neste sentido foram abordadas as três vertentes que se seguem: 1) o trabalho em espaços de cultura, com visitas a exposições, passeios pelos jardins, leituras de placards e catálogos, diálogos sobre sentires; 2) o trabalho com tradução Português-Kriolu, de canções de batuko; 3) sessões coletivas de tertúlia, com leitura de poesia e de cartas. Nestas vertentes procurou-se desenvolver um processo de alfabetização cultural, de reciprocidades feito, em que a saída do bairro possibilitou novas experiências em contextos novos e em que o trabalho com a poesia permitiu um encontro, um diálogo e uma expressão de sentires e de perceções do mundo, tendo todo o processo sido favorecedor de uma literacia, materacia e tecnoracia cultural de todos os envolvidos. Ao nível dos contactos com terceiros, ressaltamos a visita do Comandante da GNR da Costa de Caparica, que aceitou conhecer o grupo de AC; escutou os testemunhos das senhoras face ao que consideram ser a função das forças policiais e ao medo provocado por intervenções no local; e convidou-as a visitar a esquadra com ele em 54 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 data a marcar. Consideramos, também, importante, evidenciar a Matemática para a Vida que nos foi trazida por Madalena Santos e permitiu a exploração de competências previamente adquiridas e a partilha de conhecimentos matemáticos relevantes no nosso quotidiano. Neste período, surgiram algumas conversas sobre cinema, pensámos em juntar o grupo de AC, para irmos todas assistir a um filme. Contudo nunca foi possível concretizar esta iniciativa. As dificuldades sentidas face à disponibilidade ou transporte de todas fizeram-nos adiar este momento e criar momentos de trabalho em torno de filmes. As preocupações maiores foram as temáticas e a língua do filme a selecionar, porém deparámo-nos com uma outra, a extensão/duração do mesmo. As senhoras revelaram interesse nalguns tópicos abordados, mas rapidamente desviavam a atenção para outras conversas e situações. A tentativa de dividir o filme em partes, também não resultou, pois a história perdeu o sentido devido à descontinuidade. A todas estas dificuldades foi acrescida a dificuldade com o equipamento técnico, pois a televisão da casa do Euclides (que ele gentilmente nos deixou usar), começava a não funcionar adequadamente, devido à excessiva humidade da zona. Nesta temporada, tivemos a oportunidade de trabalhar com o mapa do local, fruto da tarefa Cartografia Múltipla, para o que contámos com a participação de Filipa Ramalhete; bem como com as grelhas propostas por Nair Azevedo para exploração das famílias silábicas e formação de novas palavras. A sessão com Filipa Ramalhete foi dedicada ao olhar sobre o mapa, em dinâmicas que permitissem às senhoras explorar a sua localização e os caminhos que percorrem no seu dia-a-dia: o caminho para o mercado, o percurso para buscar água na bica, entre outros. Foi uma sessão diferente e muito interessante. As dificuldades sentidas nesta tarefa foram acompanhadas, no entanto, do desejo de a repetir, preferencialmente, de forma mais prática, isto é, lendo o mapa e percorrendo os caminhos. O mapa que nos acompanhou nalgumas sessões de Alfabetização Crítica resultou de um esforço coletivo, no âmbito da tarefa Cartografia Múltipla. Este esforço conduziu ao recenseamento da população do bairro, que foi efetuado segundo parâmetros estipulados pelos membros da comunidade. Durante todo o processo, foi organizada uma pré-comissão que convocou a população local para reuniões regularmente. Ao longo de todo o processo, a comunidade solicitou ao Projeto Fronteiras Urbanas (neste caso, essencialmente, representado pela investigadora principal, Mônica Mesquita) que tomasse parte ativa na organização dos vários elementos e fases necessárias para poderem eleger democraticamente uma comissão que os representasse, junto das entidades responsáveis pela distribuição da água e do saneamento básico, entre outras. 55 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 O dia das eleições contou com uma forte adesão comunitária e a comissão foi eleita por maioria absoluta. As mesas de voto foram compostas por membros da comunidade, representantes do Projeto Fronteiras Urbanas, bem como de parcerias desenvolvidas durante o período de atuação do projeto. No período da tarde, decorreu um jogo de futebol entre a comunidade de etnia cigana e a comunidade caboverdiana. As mulheres que começaram por assistir ao jogo, organizaram-se em duas equipas e foram jogar. No entanto, os homens, principalmente os de etnia cigana, não as deixaram Figure 38 - Comunidade Bairro - Dia da Eleição da Comissão de Moradores - 2013 jogar mais de quinze minutos. Este período, também, deu lugar à preparação do Círculo de Cultura de Kriolu a desenvolver no Fórum Fronteiras Urbanas / Encontro APOCOSIS 2013, bem como à preparação do programa curricular do curso de Kriolu que foi proposto desenvolver em parceria com a Escola Básica 2/3 da Costa de Caparica. O grupo de trabalho era composto por Elisângela Almeida, Isabel Freire e Sílvia Franco. A investigadora principal do projeto, Mônica Mesquita, entrou em contacto com a responsável pelo centro de formação que se encontra sediado na Escola Secundária do Monte de Caparica, Adelaide Paredes – uma das criadoras do D.A.R. à Costa Tr@nsFormArte, na tentativa de buscar maiores possibilidades no próprio concelho onde a Comunidade Bairro está inserida, visto que vários membros desta comunidade desejavam integrar cursos de formação profissional em diferentes níveis. Deste contacto surgiu o Curso de Atendimento e Comunicação, que durante o mês de junho se realizou na EB2/3 da Costa de Caparica. Este curso foi pensado para responder às necessidades da Comunidade Bairro das Figure 40 - Comunidade Terras da Costa e reuniu Bairro - Ida para a Escola um grupo heterogéneo, Básica 2,3 da CC - 2013 tanto quanto à faixa etária como aos níveis académicos. Acompanhámos algumas sessões e pudemos testemunhar a alegria e motivação, principalmente daqueles que nunca haviam tido a oportunidade de frequentar a escola. Figure 39 - Comunidade Bairro Escola Básica 2,3 CC - 2013 56 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 O mês de junho também foi marcado pela inauguração da exposição Noutra Costa, relativa ao Workshop desenvolvido pelo Departamento de Arquitetura da UAL, no bairro das Terras da Costa, durante o mês de junho de 2012. A exposição esteve patente no Posto de Turismo da Costa de Caparica e, além de contar com os projetos desenvolvidos pelos Figure 41 - Exposição NoutraCosta - 2013 grupos de arquitetos e estudantes que participaram no evento, também contou com a passagem do vídeo realizado no contexto do workshop e com o lançamento da revista Jornal de Arquitetos. A participação de membros da comunidade proporcionou uma dinâmica dialógica muito interessante. A comunidade esteve representada por membros de diferentes gerações que, em diálogo com os arquitetos e outros presentes, questionaram o que a exposição lhes permitia descobrir e ajudavam a compreender os projetos, fazendo um enquadramento face às vivências e desejos da comunidade. Este foi, sem dúvida, um momento de Alfabetização Crítica, onde o educador é, também, educando e o educando, também, exerce a função de educador (Freire, 2008). d. Quarto Momento – a continuidade A tarefa Alfabetização Crítica despertou a necessidade de continuidade junto da população local, pelo que foi desenhada uma quarta etapa de trabalho. Esta quarta etapa ficou, então, centrada na presente tarefa, com foco transversal nas restantes dimensões até, então, desenvolvidas. Contudo, neste período, a AC foi definida num movimento de deslocação das comunidades ao exterior num continuum da vivência do Fórum Fronteiras Urbanas/ Encontro APOCOSIS. Neste sentido, o FU estruturou um programa de atividades para responder ao convite que o Arquiteto Paulo Moreira nos fez no sentido de dinamizar, por uma semana, a Sala da Nação – Embaixada de Terra Nenhuma, na Trienal de Arquitetura de Lisboa, no final de setembro. O programa contou com a apresentação de peça de teatro Humildes, Humilhados, Sem Água; com uma tarde dedicada a um Manifesto da Arte Xávega em diálogos abertos; passando por um ato dedicado às Vozes do Não-Espaço Urbano e outro dedicado às Cartas à Terra Nenhuma, espaço de diálogo e emoções em torno de cartas enviadas que não obtiveram resposta… cartas pessoais e cartas a instituições de poder local…; e terminando com uma apresentação do grupo local de batuko, Nôs Herança – música tradicional cabo-verdiana essencial enquanto movimento de educação comunitária no sentido de partilhar e perpetuar as raízes, a cultura… a história do povo. 57 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Figure 45 - Comunidade Bairro - Trienal de Arquitetura - Teatro do Bairro - 2013 Figure 42 - Comunidade Piscatória - Trienal de Arquitetura - Manifesto da Arte Xávega - 2013 Figure 43 - Comunidade Bairro - Trienal de Arquitetura - Batuko: Nôs Herança - 2013 Figure 44 - Comunidades Bairro e Piscatória - Trienal de Arquitetura - Cartas à Terra Nenhuma - 2013 Paralelamente ao convite de Paulo Moreira surgiu o convite dirigido a Mônica Mesquita, investigadora principal do FU, de participar nas sessões parlamentares, fomentadas pelo coletivo Zuloark, com o intuito de desenvolver uma Declaração dos Direitos Urbanos; e dinamizar uma sessão sob a temática Open data and transparency. Figure 46 - Fronteiras Urbanas - Trienal de Arquitetura 2013 58 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Este convite foi estendido ao Projeto Fronteiras Urbanas e sucederam-se variadas dinâmicas tanto ao nível da participação das comunidades que constituem o FU, como ao nível dos contactos e parcerias que despertaram diálogos interessantes relativamente a questões legais, da permacultura e da gestão/ ocupação dos espaços comuns ou considerados públicos. Figure 47 - Fronteiras Urbanas - Trienal de Arquitetura - Parlament Urbano - 2013 No âmbito da sessão dinamizada pelo FU foi possível contar com a participação ativa de membros das três comunidades, inclusive algumas senhoras que compõem o grupo inicial das sessões de AC, que evidenciaram, junto das gerações mais novas, uma grande abertura para o diálogo e reflexão sobre a sua situacionalidade. Este período também foi fundamental para a preparação do laboratório de uma escola de caráter voluntário, que se implementou durante o mês de dezembro. Esta preparação começou com o Fórum Fronteiras Urbanas/ Encontro APOCOSIS 2013 que proporcionou a Figure 49 - Escola do Bairro exteriorização do desejo, de vários participantes no Fotografia - 2013 encontro, de estar mais perto do movimento de Alfabetização Crítica desenvolvido no FU e disseminado no encontro. Face ao desejo manifestado, foram realizadas reuniões desde o término do encontro ao início das atividades, para definir os objetivos, dinâmica e estrutura do presente laboratório. 59 Figure 48 - Escola do Bairro - Reciclagem, Música e Culinária - 2013 60 DE TODOS PARA TODOS Domingo! Figure 50 - Horário da Escola do Bairro - Laboratório - 2013 15! 8! 22! BAILE!–!Dadá! LOVE!Project!...!Francisco!Beck! DANÇA!FOLK...!Marta! AVES!MIGRATÓRIAS..!Carloto! DANÇA!CIGANA...!Paula!Marquês! DIDGERIDOO…!Rodrigo!Viterbo! WORK!MOVIE9! FESTA!DE!NATAL! Durante!toda!a!tarde!A! WORK!MOVIE2!!e!APES! 12H!–ÁRVORE!NATAL! 13:30H!–!POESIA!! 15H!–!KRIOLO! 16H!–!TEATRO! 14H!–!PASSEIO! CAPUCHOS! 18H!–!ELETRICIDADE! 1! 16! 9! 2! ! 23! 13H!–!WORK!MOVIE3! 15H!–!ARTEHIER!! 16H!–!HISTÓRIA! ! 16H!–!HISTÓRIA! 16H!–!HISTÓRIA!! 2ªFeira! ! 3! 17! 10! 24! 13H!–!WORK!MOVIE4! 15H!–!PINTURA! 16H!–!FOTO!DIGITAL! 20H!–!CÍRCULOS!DE! CULTURA! 16H!–!PINTURA!! 17H!–!FOTOGRAFIA! DIGITAL! 16H!–!PINTURA!! ! 3ªFeira! 18! 11! 4! ! 25! 13H!–!WORK!MOVIE5! 15H!–!ARTEHIER!! 16H!–!ECOLOGIA! 20H!–!CÍRCULOS!DE! CULTURA! 16H!–! ALFABETIZAÇÃO! PELA!ARTE! 16H!–!ECOLOGIA! ! 4ªFeira! ! ! 26! 13H!–!WORK!MOVIE6! 15H!–!ARTEHIER!! 16H!–!ALFABETIZAÇÃO! CRÍTICA! 20H!–!CÍRCULOS!DE! CULTURA! 19! 15H!–!ALFABETIZAÇÃO! CRÍTICA! 16h!–!FOTOGRFIA! DIGITAL! 12! 5! 16H!–!ALFABETIZAÇÃO! CRÍTICA! 5ªFeira! “Onde!o!educador!é!educando!e!o!educando!é!educador.”!Bunker!Roy!! Inserida!numa!das!tarefas!do!Projeto!Fronteiras!Urbanas,!designada!por!Alfabetização!Crítica,!esta!escola!voluntária!assentaAse!num! contexto!transdisciplinar!e!fundamentaAse!numa!visão!holística,!onde!o!papel!do!educador!e!do!educando!se!mergem.! 14H!–!ENFERMAGEM! 16H!–!KRIOLO! 18H!–!BATUKO!! ! ! !Local:!Cozinha!da!Dona!Vitória! ESCOLA DO BAIRRO ! 6! 20! 13! 27! 13H!–!WORK!MOVIE7! 13h!–!ELETRICIDADE! 15H!–!ARTEHIER!! 16H!–!FIL.POLÍTICA!! 20H!–!CÍRCULOS!DE! CULTURA! 16H!–!FILOSOFIA! POLÍTICA! ! 16H!–!FILOSOFIA! POLÍTICA! 17H!–ÁRVORE!NATAL! 6ªFeira! Sábado! 14! 7! ! 28! Durante!toda!a!tarde!–!! WORK!MOVIE8! 12h!–!COZINHA!CABOVERDIANA! 13H!–!MATEMÁTICA! 14H!–!AGRICULTURA!LOCAL! 15H!–!CONVERSAS!INFORMAIS! 21! !Durante!toda!a!tarde!A!!WORK! MOVIE!1! 12H!–!COZINHA!CABOVERDIANA! 14H!–!ENCONTRO!PAIS!E!FILHOS! 16H!–FUTEBOL/BATUKO/ARVORE! NATAL! 14H!–!MATEMÁTICA! 15H!–!AGRICULTURA!LOCAL! 16H!A!DESPORTO!! 17H!–!TEATRO! !João!Moreira! DEZEMBRO 2013 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Este movimento permitiu a dinamização de atividades diversificadas (da Matemática para a Vida à Culinária, passando pela Pintura, a Música, Filosofia Política, o Desporto e Agricultura Local, entre outras). O movimento contou com a participação dos investigadores/educadores do FU, bem como de colaboradores voluntários, entre os quais estiveram membros da Comunidade Bairro, tanto enquanto educadores como enquanto educandos, naquela que ficou conhecida como Escola do Bairro. AGRICULTURA!LOCAL!–!VITÓRIA!! FUTEBOL!–!SAM!! ALFABETIZAÇÃO!CRITICA!–!SÍLVIA!! HISTÓRIA!A!FRANCISCO! ALFABETIZAÇÃO!PELA!ARTE!–!ANA!FILIPA! KRIOLO!–!LIZZI! ARTEHIER!–!TÓ!ZÉ! MATEMÁTICA!–!MADALENA! BATUKO!–!NÓS!HERANÇA! PINTURA!–!JOÃO! CONSTRUÇÃO!DA!ÁRVORE!DE!NATAL!–!ALINE! POESIA!–!ANA!PAULA,!JOÃO!E!RITA! CONVERSAS!–!Teatro!FU,!Batuko!NÓS!HERANÇA!e!! CIRCULOS!DE!CULTURA!–!MÔNICA!E!DANIEL! OUTRAS!FRONTEIRAS,!com!Aline!Conrado!e!!Sinid!Berg! COZINHA!CABOVERDIANA!–!MANA!! ! ECOLOGIA!–!LIA! COBERTURA!JORNALÍSTICA!–!ELISIANE,!ELIANA,!MÔNICA!E!CARLA! ELETRICIDADE!–!NUNO!! PASSEIO!CAPUCHOS!–!CENTRO!ARQUEOLOGIA!DE!ALMADA! ENCONTRO!PAIS!E!FILHOS!–!MIRIAM!E!ISABEL!! EXPOSIÇÃO!DE!ARTE!LOCAL!–!DANIEL,!GONÇALO!E!DAIANE! ENFERMAGEM!–!MARTA!! WORKMOVIE!–!VITOR! FILOSOFIA!POLÍTICA!–!MÔNICA! FESTA!DE!NATAL!–!COMISSÃO!DO!BAIRRO! FOTOGRAFIA!DIGITAL!–!EDUARDO! ÁRVORE!NATA!–!ALINE!&!CIA! ! Figure 51 - Tabela dos Educadores da Escola do Bairro - 2013 O desafio que a Mônica me colocou de fazer algumas atividades na escola do Bairro que ajudassem as pessoas a compreender algumas ideias de matemática e a serem capazes de as usar com mais poder no seu dia-a-dia foi aliciante mas não era fácil. Antes do verão, começámos pela análise de folhetos de divulgação de supermercados com preços e imagens de produtos. Foi um ponto de partida para falar da presença dos números no nosso dia-a-dia e da estrutura do sistema numérico. Recomeçámos em dezembro e pareceu-me que os calendários podiam ser uma boa entrada para os números e registos em tabelas. Explorámos calendários de anos passados e o de 2014. Depois todos construíram o seu próprio calendário de 2014. Nestas sessões, além das senhoras 61 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 mais interessadas (a Rita, D. Liana, a D. Vitória, a D. Lúcia) estiveram presentes algumas crianças de várias idades. Os ritmos e interesses eram diferentes… mas alguns dos mais pequenos revelaram-se bons apoios para as pessoas mais velhas e fizeram descobertas e perguntas interessantes: - os meses não são todos iguais, não começam todos no mesmo dia da semana; - dizemos ‘daqui a 8 dias’ mas só passam 7 dias! - porque é que as semanas nuns calendários começam no domingo e noutros na 2ª feira? - porque é que um calendário começa em Setembro e acaba em Julho do outro ano? (era um calendário escolar)... E houve outras coisas interessantes também: - a D. Vitória a construir com muita perseverança o calendário do mês em que fazia anos – “vai devagar mas com o tempo vai” - a D. Liana a perguntar o nome de números específicos – “como diz o 1 e o 8?” (o 18) ou a identificar estratégias para distinguir e fixar o 6 e o 9 (“cabeça para baixo”, “cabeça para riba”), sendo o seu parceiro de interação uma das crianças; - a D. Lúcia a ser capaz de identificar os números das datas que queria assinalar e a explicitar uma utilidade que antecipava para o seu calendário - “vai ser bom para marcar as consultas do meu filho”. Para mim, uma grande aprendizagem que espero continuar!” (Santos, M., 2014, Jornal FU, nº 06) Figure 52 - Espaço da Escola do Bairro - 2013 62 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Desta quarta etapa de trabalho, consideramos, ainda, importante destacar recuperação do projeto de edição do Jornal Fronteiras Urbanas (Jornal FU) que editado, pela primeira vez, por ocasião do primeiro Encontro 3 em 1 – encontros longo do projeto entre as três comunidades envolvidas que decorreu em Abril 2012. a foi ao de A edição do Jornal FU foi retomada em outubro de 2013, com edição de Sílvia Franco e Catarina Pereira, e permitiu juntar colaboradores das comunidades. Dentro da Comunidade Bairro fortaleceu a consciência dos “eus” poetas, filósofos, escritores e repórteres que é possível encontrar entre os vizinhos… Hoje, esta ferramenta de diálogo é, verdadeiramente, nossa… Figure 53 - Escola do Bairro - Poesia - 2013 Não podíamos deixar de ressaltar a Festa de Natal 2013. Todos os anos, desde 2009, temos realizado, em conjunto com a Comunidade Bairro, uma festa de Natal. Nestes dois anos de projeto, desenvolvemos duas festas – 2012 e 2013. Em ambas as festas construímos, em conjunto com a comunidade local, uma árvore com material reciclável. No primeiro ano, contámos com a importante presença dos Jovens do D.A.R. à Costa no desenho e constituição da mesma. Já no ano de 2013, tivemos a participação de uma educadora voluntária na idealização e apoio à construção da nossa árvore de Natal. No ano de 2013, com um novo executivo local, fomos visitados, na nossa festa, pelo Pai Natal – prenda que ganhámos da Junta de Freguesia da Costa de Caparica. 63 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Figure 55 - Árvore do Natal no Bairro - 2012 Figure 54 - Árvore da Festa do Natal no Bairro - 2013 64 Figure 56 - Diferentes momentos da Festa de Natal no Bairro - 2013 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 4. Algumas considerações… A dinâmica que acompanhou de forma permanente todas as atividades que constituíram a presente tarefa centrava-se no diálogo e na participação e foi, de facto, marcante o crescente envolvimento de todos os participantes diretos e dos membros das três comunidades no desenvolvimento da tarefa. Ainda, assim, é necessário considerar que na Comunidade Piscatória, a tarefa não alcançou a concretização no mesmo patamar. A Alfabetização Crítica, nesta comunidade, foi sendo revista face à dificuldade de a implementar enquanto momento dedicado à alfabetização de adultos, ainda que de cunho crítico. Os membros desta comunidade não manifestam esta necessidade, contudo pelo diálogo contínuo foram-se desenhando propostas de novos moldes para o desenvolvimento da tarefa. Propostas que continuam a ser trabalhadas e se aproximam da realidade vivida na pesca e na lota, evidenciando questões linguísticas, essencialmente, ao nível lexical e ao nível dos processos de contagem na venda do pescado. Ainda, em relação ao desenvolvimento da AC na Comunidade Bairro, consideramos extremamente relevante considerar neste relatório alguns dos principais constrangimentos vivenciados. Neste sentido, gostaria de enfatizar o quão difícil foi gerir as questões relativas ao espaço. Inicialmente, a ausência de espaço físico onde trabalhar foi um dos maiores constrangimentos para a execução da tarefa, uma vez que, além da necessidade de improvisar bancos e mesa de trabalho, tivemos de lidar com as intromissões de quem por nós passava. Algumas afáveis outras até inóspitas deixavam perceber a insatisfação de quem não compreendia o que se passava e, principalmente, o desagrado de traficantes e consumidores, maioritariamente de fora do Bairro, que ali se encontravam para realizar os seus negócios. O forte constrangimento das senhoras fez-nos aceitar a proposta de Euclides Fernandes, morador do Bairro das Terras da Costa que já integrava o Movimento Fronteiras Urbanas e desempenhava a função de Mediador Comunitário, no âmbito do FU. Deste modo, começámos a utilizar o alpendre da casa de Euclides para as nossas sessões o que nos permitiu maior tranquilidade. No entanto, a chegada do Inverno revelou novos constrangimentos. O alpendre não proporcionava o abrigo necessário face à chuva e ao vento que se começava a fazer sentir, apesar dos constantes remendos que o Euclides realizava a expensas próprias, visto que o projeto não tinha como apoiá-lo. Com o agravar da situação, o Euclides acabou por ceder parte da sua sala, para que as sessões continuassem. Ainda assim a luta contra as intempéries seguia adiante… O frio e a humidade obrigavam-nos a trabalhar de casacos vestidos, pois não é possível ligar aquecimento em casas cuja ligação elétrica mal é suficiente para a iluminação. Para termos um pouco mais de luz, era necessário deixar a porta aberta, mas se o 65 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 fazíamos, o frio tornava-se insuportável. Mais um constrangimento para senhoras que, na sua maioria, têm problemas de visão e saúde frágil. A agressividade da chuva e do vento provocava infiltrações no telhado da casa, pelo que era essencial chegar mais cedo para limpar os estragos provocados pelas inundações, numa comunidade cuja principal demanda é a água potável canalizada ou, pelo menos, mais perto das suas casas. Diariamente, era necessário proceder à limpeza da casa e revisão do material para nos certificarmos que nada tinha ficado danificado. Nesta fase, sentimos a necessidade de adquirir alguns produtos que nos permitissem reunir as condições mínimas para o decorrer das sessões. Os gastos com estes produtos juntavam-se às despesas que os investigadores/educadores já tinham com todos os materiais didáticos e de escritório necessários reunidos pelos próprios ou por doações, uma vez que a verba inicialmente destinada a esta rúbrica foi cortada. Os deficientes recursos disponíveis limitaram a exploração de muitas temáticas, bem como o desenvolvimento de competências. A motivação e o interesse manifestados em determinadas ocasiões acabavam por ser refreados pela impossibilidade de os explorar a outros níveis. Uma das vertentes do trabalho que obteve mais ênfase foi a de criar momentos de diálogo com terceiros e com diferentes culturas e formas de conhecimento e, neste sentido, foi reconfortante ver como a procura pela sua própria situacionalidade, convergia agora para a exploração da sua relação com outras entidades (embaixadas, empregadores…), bem como com locais e tempos diversificados que vinham surgindo nas suas vidas. O despertar de oportunidades para ser e estar, o reconhecer-se em espaços distintos como a Lisboa de um passeio, a Lisboa cultural ou mesmo a Costa de Caparica junto ao mar foram essenciais no processo de interpretação individual do mundo ao redor, promovendo mudanças ao nível do poder de intervenção individual e comunitário na sociedade cujos elementos integrantes são os indivíduos que, frequentemente, são conduzidos à invisibilidade por uma minoria dominante. 66 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 HISTÓRIAS DE VIDA Nuno Vieira Francisco Silva Introdução Na tarefa Histórias de Vida do projeto Fronteiras Urbanas, procuramos entender melhor as redes complexas e sistémicas que se desenvolvem nas e entre as comunidades envolvidas. A vida em comunidade, neste contexto, é entendida como um elo essencial entre o indivíduo e o coletivo. Esta atividade promoveu uma visão abrangente e profunda sobre a vida das e nas comunidades embasando a ação do projeto, situando-nos nas relações estabelecidas entre as comunidades e fornecendo dados para tomadas de decisão criteriosas e informadas, dando consistência e força às ações bottom-up, num sentido coletivo. Esta tarefa terá sido muito importante para a coesão social entre as comunidades locais, mas também para a coesão social intracomunitária, tendo sido, igualmente, essencial na organização interna das comunidades e de todo o projeto. Como Goodson (2008) salienta que o conhecimento que possuímos define quem somos. Desta forma, as estórias que os membros de cada comunidade contam, a forma como as contam e o relevo que lhes conferem pode ser muito revelador acerca do conhecimento pessoal e comunitário e das relações que se estabelecem, de nível pessoal, comunitário e social. A história de vida das comunidades começa com as estórias que cada um conta, e posteriormente construída a partir da informação fornecida. Uma questão muito debatida na investigação reside no distanciamento entre quem conta a história e quem assume a pesquisa. Este distanciamento, resultante do facto dos agentes da pesquisa não tenderem a se posicionarem, relativamente à pesquisa, numa posição equitativa à do investigador, havendo a tendência para a posição do investigador ser valorizada, dado que este assume para si uma posição de recetor, num primeiro olhar, com pouco para retribuir. Este aparente distanciamento não se verifica no Projeto Fronteiras Urbanas, dadas as suas características, posições e posturas adotadas pelos investigadores, estando as três comunidades (bairro, piscatória e académica) em igualdade circunstancial: todos como educadores e todos como educandos, construindo-se o que Goodson apelida de “genealogia do contexto” (2008, p. 85), ou seja, o investigador tem oportunidade de retribuir a informação, fornecer dados, conhecimentos e competências que permitam ao interlocutor perceber determinadas realidades e, detendo conhecimento e competências, ver o seu capital (Bourdieu) acrescido. Na transição das estórias para a história, o interlocutor “passa a ser mais do que um mero contador de estórias, torna-se num investigador, num sentido mais geral” (Goodson, 2008, p. 89). Não podemos deixar de considerar que o contador de estórias está a revisitar o seu passado, a analisá-lo com o conhecimento atual, ou seja está a apresentar-nos uma interpretação, a sua interpretação no momento presente, de uma realidade passada. Ou seja, a sua narrativa é construída no imediato, 67 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 condicionada pelo ambiente e pelo que já viveu no entretanto, condicionado por todos os fatores que definem o contexto em que é narrado. Como Orson Wells eloquentemente colocava, não há nada mais imprevisível do que o passado. A tarefa do Projeto Fronteiras Urbanas previu a construção de portefólios de Histórias de Vida de membros das duas comunidades, nomeadamente Bairro e Piscatória, seguindo uma abordagem holística do conceito de Histórias de Vida. Com o desenrolar do projeto e com a afirmação de três comunidades num exercício de equivalência, procurou dar-se resposta a desejos vontades e necessidades de todas elas, porque os que num momento adotam o papel de formadores, encontram-se, no momento seguinte como formandos daqueles com que, previamente, haviam partilhado os seus conhecimentos. Assim, as três comunidades bairro, piscatória e académica estão num mesmo nível de realizações, de evolução de criatividade e de desenvolvimento pessoal e social. Esta consciencialização de que estas comunidades são um harmonioso encontro de pessoas que se constituem os pilares de um todo, uno, o projeto em si, tornou-se evidente que a construção destes portefólios não deveria focar uma parte de cada um destes pilares, um indivíduo, mas os pilares em si. Assim, foram sendo construídas as histórias de vida das comunidades, a partir das estórias relatadas pelos membros das respetivas comunidades, em detrimento do relato de um único elemento que daria uma visão mais limitativa do todo. O conceito de histórias de vida enquanto instrumento de análise respetivas comunidades em estudo foi sendo ajustado e articulado com as demais tarefas, dando coesão ao Projeto Fronteiras Urbanas. A partir das estórias individuais de atores das comunidades, valorizando o discurso dos que há mais tempo vivem nas respetivas comunidades, dos líderes comunitários referenciados, e, ainda, dos que narraram um percurso de vida considerado rico e relevante, construiu-se uma narrativa abrangente, que de alguma forma conta a história da vida das/nas comunidades, caracterizandoas e identificando os aspetos fundadores e evolutivos de cada uma e ressalvando os principais problemas com que se debatem na atualidade. Nesse sentido a recolha de dados realizou-se através de entrevistas abertas, gravadas em vídeo e/ou áudio. Na fase intercalar em que se enquadra o presente relatório apresentam-se alguns dos dados contribuem para uma primeira caracterização dos aspetos acima enunciados. História de Vida da Comunidade Piscatória da Costa de Caparica Durante o decorrer do Projeto Fronteiras Urbanas foi possível participar em vários momentos da vida social e profissional de alguns pescadores da Costa de Caparica, sendo difícil ou mesmo incorreto considerar que representem a comunidade piscatória, fornecendo, contudo, dados importantes que permitem refletir sobre alguns aspetos que contribuam para a sua caraterização. A comunidade piscatória é constituída por um conjunto de indivíduos que têm em comum o fato de praticarem a pesca artesanal a partir de diversos locais da margem 68 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 esquerda do estuário do Tejo que vão desde a Trafaria até à Fonte da Telha e que abrangem, também, a Cova do Vapor da Costa de Caparica e as praias a Sul desta localidade. A pesca local realiza-se no mar e no estuário e foz do rio Tejo em função das épocas do ano, das espécies capturadas e das artes de pesca utilizadas. A recolha de dados relativos à comunidade piscatória da Costa de Caparica, no âmbito do Projeto Fronteiras Urbanas, foi cruzada com a observação crítica realizada no decorrer de todo o projeto, bem como a convivialidade esporádica, e continuada, do investigador Francisco Silva com alguns pescadores da Costa de Caparica, durante vários anos. Origens A comunidade piscatória da Costa de Caparica tem origem em populações migrantes de diversos pontos do país com destaque para a Beira Litoral e Algarve historicamente documentadas, foi contudo possível identificar entre a população, indivíduos oriundos do Alentejo que se fixaram na Costa de Caparica e desenvolveram a sua atividade em torno da pesca. Acerca da origem dos pescadores, importa ainda referir que a necessidade de força de trabalho principalmente na arte xávega, contribuiu para integrar na comunidade muitos indivíduos de origens desconhecidas, marginais que procuravam abrigo e trabalho nas companhas da arte xávega, que eram genericamente apelidados de barraqueiros, por habitarem nas barracas destinadas a guardar as redes e outros apetrechos de pesca. Esta realidade mantém-se na atualidade sendo que continuam a habitar nos alvéolos dos pescadores da costa vários pescadores de origem africana que aparentemente se encontram em situação de ilegalidade. Também membros da Comunidade Bairro, nos períodos mais difíceis, recorreram à pesca e mais especificamente a puxar as redes para a praia para procurar meios de subsistência, como são disso exemplo os ciganos. Contudo, consideramos que, no presente, a sua maioria dos membros da comunidade piscatória é natural da Costa de Caparica, mantendo-se a pesca uma atividade de âmbito familiar e um recurso perante a falta de outras oportunidades de ocupação profissional. Uma das questões que está ainda por investigar no âmbito das origens da comunidade está relacionada com o papel dos trabalhadores ocasionais ou barraqueiros, no sentido de avaliar se alguns destes indivíduos se fixaram na Costa de Caparica e terão deixado descendência na comunidade local. Habitação Os primeiros locais de fixação de população na Costa de Caparica dividiam-se em dois núcleos separados pelo traçado da atual Rua dos Pescadores - as famílias de pescadores oriundos do Algarve a norte, e as de Ílhavo a sul. As habitações primitivas da Costa eram construídas em tábuas e estorno. O primeiro bairro em alvenaria destinado a alojar as famílias de pescadores cujas habitações haviam sido destruídas por um incêndio, foi construído em 1884 a norte da Rua dos Pescadores, por iniciativa de Jaime Artur da Costa Pinto. Contudo, a partir do primeiro quartel do século XX, 69 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 com o desenvolvimento da Costa de Caparica enquanto estância balnear, e subsequente urbanização da zona norte da povoação, as famílias dos pescadores que se haviam instalado a norte foram de alguma forma empurradas para sul onde surge o bairro designado por Rua 15. As habitações precárias em barracas de madeira eram utilizadas durante todo o ano ou apenas durante o verão quando as famílias de pescadores alugavam as casas aos banhistas. Figure 57 - Comunidade Piscatória da Costa de Caparica - Postal Ilustrado - sem fonte Uma das zonas referidas por Lídio Galinho, um líder comunitário do Projeto Fronteiras Urbanas, como local de referência para a comunidade piscatória da Costa de Caparica situa-se onde se encontra o Hotel Praia do Sol “O alto” onde se concentrava um núcleo habitacional e onde se via o mar, quando os alcatrazes caiam mergulhando no mar era sinal de sardinha. A partir da década de sessenta do século XX assiste-se à construção do Bairro dos Pescadores, integrado nas medidas de fomento da pesca tradicional promovidas pelo Estado Novo através do almirante Henrique Tenreiro, que se desenvolve em três fases, pelo que, no presente, a maioria dos pescadores da Costa de Caparica dispõe de habitação no bairro. Acerca da questão da habitação dos pescadores foi possível perceber que a proximidade da habitação ao mar é uma condição determinante para a viabilidade da atividade da pesca, pois a decisão acerca da saída para a faina depende da 70 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 observação prévia do estado do mar por parte dos mestres, chamando, então, os camaradas. Não se realizou nenhum levantamento da Comunidade Piscatória da Costa no âmbito do Projeto Fronteiras Urbanas, havendo contudo indícios de que algumas pessoas que trabalham na pesca habitem em outras localidades do concelho, nomeadamente na Charneca e no Monte de Caparica, sem esquecer a Trafaria, povoação piscatória cuja ocupação antecede a Costa de Caparica e onde residem muitos pescadores que, eventualmente, também trabalham a partir da Costa de Caparica. As novas tecnologias de comunicação e a facilitação das deslocações com recurso a meios de transporte próprios terá introduzido algumas alterações ao nível dos locais de habitação dos pescadores, permitindo-lhes dispersar-se por diferentes áreas. Contudo, o carácter familiar da atividade concorre para que, na sua maioria, a comunidade piscatória habite na Costa de Caparica. Pesca A pesca tradicional praticada na Costa de Caparica é constituída por diferentes artes, das quais podemos à partida identificar genericamente: anzóis, covos, redes de emalhar e artes de arrasto para terra. A pesca com anzol tradicionalmente praticada na Costa designada Corricão consistia num aparelho composto por uma linha com vários estralhos empatados com anzóis (para cima de 100) na ponta da linha é colocado um peso que tirando partido da maré é arrastado para o mar deixando a linha esticada com os anzóis iscados, ao fim de algum tempo a linha é puxada para terra e os peixes recolhidos. Esta arte era utilizada principalmente quando o estado do mar não permitia a saída dos barcos, pelo que era um recurso para a sobrevivência dos pescadores quando não podiam ir ao mar. Atualmente esta arte de pesca é proibida por lei. Figure 58 - Pescador da Costa de Caparica com Corricão - sem fonte Os covos são armadilhas de diferentes formas que contêm dentro um isco destinado a atrair o peixe para o seu interior de onde fica impossibilitado de sair, estas armadilhas são geralmente presas a uma corda e afundadas com recurso a pesos, que as mantêm junto ao fundo e sendo verificadas em períodos de algumas horas. As redes de emalhar destinam-se a capturar o peixe que nada na coluna de água e que fica preso nas 71 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 malhas da rede cujo fio é muito fino, estas artes são constituídas por vários panos de rede e que são suportados por boias que mantêm um dos lados da rede a flutuar, enquanto o outro tem chumbos que afundam a rede e a mantêm na vertical. As extremidades da rede são presas ao fundo com ferros e assinaladas com boias embandeiradas. Estas redes permanecem no mar por períodos de tempo condicionados pela maré e por legislação. As artes de arrasto para terra apresentam diversas variantes, de entre as quais atualmente apenas é permitida a Arte Xávega. Outras artes de arrasto como o Chinchorro ou a Rede-pé foram proibidas devido à malhagem ser muito pequena e ser uma atividade muito predatória. Destaca-se a Rede-pé que era usada por dois homens que entravam a pé no mar até onde conseguiam, lançando a rede na rebentação e que depois a puxavam para a praia. “A rede pé tinha de se largar às costas sem barco, tanto que tinha o nome de rede pé que era para largar a pé. Penei pouco a largar a rede pé, eu (entravam na água até onde?), até ao pescoço (…) às vezes partia o mar vínhamos parar a gente e a rede à praia. (…) A rede pé era para apanhar robalos e tainhas, não apanhava carapau nem sardinha.” [António Silva Cardoso (Alemão)] Das artes de pesca acima referidas a Xávega é aquela que de alguma forma é entendida comunidade local como a mais importante, e em função da qual se terão estabelecido as primeiras Companhas (denomina-se Companha ao conjunto de elementos que pescam com o mesmo barco) na Costa de Caparica pelo que constituí um elemento identitário para os pescadores da Costa. Por outro lado, contrariamente às artes de pesca já referidas, esta é a que envolve maior número de trabalhadores, na ordem das dezenas, ao passo que as restantes não ultrapassam a tripulação das embarcações, que oscilam entre um e quatro pescadores. Podemos assim considerar que a Arte Xávega na Costa de Caparica apresenta, no contexto da pesca artesanal, maior quantidade de meios empregues e com mais expressão em termos sociais, ainda com a capacidade de integrar indivíduos que não são pescadores profissionais. Figure 59 - Comunidade Piscatória - Companha São José - 2013 72 A Xávega consiste num sistema de pesca que atualmente é realizada na Costa de Caparica de Março a Outubro, e a sua prática varia em função de um conjunto de fatores como o estado do mar e a hora do dia. Contudo, durante o período balnear a interdição das manobras de tratores e embarcações nas praias concessionadas impossibilita que a pesca se faça entre 8h00 e as 18h30, limitando, FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 assim, as capturas em quantidade e qualidade, sendo que alguns dos espécimes comercialmente mais rentáveis, como a sardinha e a lula, só se pescam durante o dia, e os lances são realizados sobretudo de noite. Até à década de oitenta do século XX esta pesca era praticada recorrendo apenas à força humana, nomeadamente no puxar da rede. Com a introdução dos tratores, as condições de trabalho tornaram-se menos pesadas e diminuiu o número de pescadores por companha. Já anteriormente a utilização de motores fora de borda contribuiu para a diminuição de tripulantes por embarcação, também em resultado da adoção de embarcações do tipo Chata com motor, em detrimento das tradicionais Meia-lua. No âmbito do Projeto Fronteiras Urbanas foram realizadas diversas entrevistas a alguns pescadores da Costa de Caparica que praticam a pesca artesanal local. Todos os entrevistados nasceram na Costa de Caparica e eram oriundos de famílias de pescadores, tendo-se iniciaram-se na pesca em criança, executando algumas tarefas que lhes eram destinadas, como tirar a água que se acumulava no fundo do barco, ou recolher as cordas da rede há medida que esta era puxada para terra. Alguns encontraram outros modos de vida trabalhando em outras atividades, em outros tipos de pesca, nomeadamente pesca do alto mar, ou ainda em atividades marítimas. Contudo, em virtude da perda dos respetivos postos de trabalho, ou por aposentação alguns voltaram a dedicar-se à pesca, integrando companhas de pesca existentes ou constituindo as suas próprias companhas, tendo para tal de dispor de embarcação e os respetivos tratores. Contudo a atividade da pesca é sentida pela maioria dos pescadores como algo de que não podem se nem querem separar, amam o mar e a pesca, e mesmo quando deixam de ter condições físicas para embarcar e realizar tarefas mais pesadas, aplicam os seus conhecimentos e experiencia na manutenção e construção das redes das respetivas companhas. “É uma profissão muito bonita, muito mal remunerada mas muito bonita Temos uma sensação de liberdade, o mar é lindo, tudo isto é muito bonito” (Mário Pedro). Aqueles que dominam a arte da construção de uma rede de arte xávega, a qual é constituída por várias peças e parte das quais são confecionadas artesanalmente, demoram aproximadamente um ano a ser concluída, e apenas alguns antigos pescadores as sabem fazer. A pesca com a arte xávega por ser aquela que envolve maior número de pescadores, recursos técnicos e materiais, embarcação, redes e tratores, levanta problemas de gestão de recursos, nomeadamente na medida em que cada pescador recebe uma parte do produto da venda do peixe, consequentemente os rendimentos podem ser baixos face ao esforço despendido. Nesse sentido, a responsabilidade a que está sujeito o mestre da companha, contribuiu para que alguns pescadores que foram proprietários de artes tenham desistido de manter uma companha, acabando por se integrar noutra, ou pescando sozinhos com outras artes empregando eventualmente um ou dois camaradas. Por outro lado, alguns pescadores mais novos (geralmente 73 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 filhos ou netos de pescadores e mestres de companhas) criaram as suas próprias companhas (por exemplo: Lídio Galinho, filho de Miguel, neto de António Silva Cardoso (Alemão) e todos eles foram mestres de companhas). Entre os elementos que constituem cada companha encontram-se pescadores profissionais (detentores de Cédula Marítima). Entre os pescadores com mais idade permanecem as memórias da infância e da miséria vivida ou assistida entre a comunidade piscatória, “Aqui na Costa, aqui há setenta anos atrás, isto era uma miséria. Não havia nada para comer!” [António Silva Cardoso (Alemão)] Por outro lado quando questionados acerca da comparação entre o passado e o presente da atividade piscatória na Costa de Caparica os vários entrevistados referem que as inovações técnicas operadas nas últimas décadas, nomeadamente a já referida utilização de motores fora de borda, nas embarcações que se tornaram mais leves e seguras face aos antigos meia-lua, e a partir da década de 80 do século XX são introduzidos os tratores com os aladores mecânicos para puxar a rede. Por outro lado as próprias redes também aumentaram de tamanho e de peso, a substituição do fio de algodão por fio de nylon implica a utilização de mais chumbo para afundar a rede. “As artes eram mais leves tinham menos malhagem que era para puxar a cinto, agora estas são para puxar a trator”. [António Silva Cardoso (Alemão)] Estas inovações permitem diminuir o esforço físico dos remadores no mar, bem como do puxar a rede para a praia. “Nós hoje pescamos com métodos totalmente diferentes do que pescávamos há vinte ou trinta anos atrás. Nós estávamos habituados a um esforço de trabalho enorme, as redes era Figure 60 - Comunidade Piscatória - Companha São José - 2013 tudo puxado à mão, não haviam motores era tudo a remos.” [Lídio Galinho] Atualmente, os principais problemas identificados no seio da comunidade piscatória, relativamente ao exercício da sua atividade, prendem-se com a legislação nacional e europeia nomeadamente: A proibição de pescar na zona marítima da frente urbana da Costa de Caparica, na qual, por experiencia, os pescadores sabem ser um dos locais onde se encontra mais peixe em virtude do tipo de fundos marítimos e temperatura das águas associadas à proximidade do estuário. “… Aquela zona da frente urbana é uma zona riquíssima de pesca. E portanto ao sermos proibidos de pescar naquela zona, nós pescadores fomos altamente prejudicados…” [Lídio Galinho] 74 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 “Só se pode pescar no verão, por causa do mar, dificuldade imposta pela natureza. Mas entretanto encontramos também uma dificuldade imposta pelo homem, pelo Governo, pelas autoridades que nos proíbem de pescar em certas zonas. Nunca compreendemos o porquê disso.” [Mário Pedro] Durante a época balnear o acesso das embarcações ao mar e a manobra dos tratores só é permitida depois das 18:30 nas praias concessionadas, sendo que nas áreas não concessionadas não existem corredores de acesso à praia para os tratores e respetivas companhas. Esta situação apresenta vários condicionalismos à rentabilidade da pesca local. Por outro lado o encerramento da Docapesca em Pedrouços e a necessidade de os intermediários, para comercializarem o pescado, terem de o fazer chegar ao MARL até às 2h00, limita o período durante o qual é viável pescar: “ao fecharem a Docapesca de Lisboa foi a grande machadada que deram nos pescadores locais e também nacionais, ficámos sem porto de abrigo, tínhamos uma lota a funcionar 24 horas sobre 24 horas, em que nós podíamos pescar durante a noite toda, durante o dia todo e sabíamos que o nosso peixe ia ser escoado.” [Lídio Galinho]. Por outro lado, o preço do pescado na lota é manipulado pelos intermediários no sentido de comprar o peixe na lota a baixo preço, para potenciarem os seus lucros. “Hoje há uma disparidade muito grande entre o pescador e o consumidor. Nós vendemos muito barato, quem consome, compra muito caro” [Lídio Galinho]. Ao nível da legislação internacional, uma vez esgotadas as quotas de determinadas espécies de peixe, pelo maior volume de capturas da pesca industrial, a pesca artesanal e local fica impossibilitada de capturar e comercializar essas espécies, apesar de desenvolver um esforço de pesca reduzido, relativamente às quotas definidas para os países da União Europeia. Histórias na Vida da Comunidade de Bairro O Bairro localiza-se numa faixa de terreno ao longo da base da Arriba Fóssil da Costa de Caparica. Esta área de terreno é constituída por solos arenosos dunares que se estendiam até ao mar, onde até ao início do século XX dominavam charcos e juncais, evitada pelas populações mais próximas por ser uma zona insalubre, infestada de mosquitos responsáveis, inclusivamente, por frequentes surtos de febres palúdicas nestas populações. Estes terrenos insalubres foram conquistados pelas Figure 61 - Comunidade Bairro - 2013 75 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 populações através de drenagens iniciadas no final do século XIX. Na zona entre a Trafaria e a atual via rápida (IC20) foram abertas valas e foram plantados pinheiros, que permitiram o arroteamento das terras, preparando-as para atividade agrícola. Contudo para sul do atual traçado da IC20, o arroteamento das terras, com a fixação das dunas conseguida com o plantio de acácias iniciou-se apenas nas primeiras décadas do Século XX. Por essa razão, a partir dos anos 30 do século passado assistiu-se a um desenvolvimento urbanístico na Costa da Caparica entre a base da arriba e o mar, a norte da IC20, mantendo-se a zona sul destinada a fins agrícolas até à atualidade. Segundo o testemunho do Sr. Lídio Galinho, líder comunitário da comunidade piscatória, estes terrenos, extremamente arenosos foram enriquecidos durante o decorrer do séc. XX com matéria orgânica trazida do mar, sobretudo sobrantes da pesca, algas e caranguejo. Até à década de 70 do século XX no espaço atualmente ocupado pelo bairro das Terras do Lello Martins as edificações existentes eram limitadas a um conjunto habitacional pertencente ao tio do atual líder comunitário Durval Carvalho, onde presentemente habita. Estava, também construído um barracão de apoio ao aluguer de cavalos. Terão sido estes, também, os primeiros espaços a ser ocupados pela vaga de emigrantes que aqui se fixaram após o 25 de Abril de 1974. Por esta altura, também a comunidade cigana que aqui se instalou, construindo os seus espaços habitacionais entre a rua do Juncal e a zona agrícola, onde ainda permanecem. Nesse sentido é possível considerar que o Bairro cresceu a partir da nucleação destes dois pontos, a casa do tio do Durval e a Rua do Juncal. Figure 62 - Comunidade Bairro - Reunião Comunitária 7 - 2013 76 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 O Bairro é constituído, sobretudo, por população imigrante proveniente das excolónias de Língua Oficial Portuguesa, por migrantes portugueses, bem como por ciganos. Nesta comunidade, vivem pessoas com baixa taxa de escolaridade, havendo mesmo um número significativo de analfabetos. Porém, ressalta-se a presença de poetas, músicos, e, também, alguns membros com escolaridade avançada, inclusive universitária. Neste bairro é possível encontrar um bar explorado por um residente, Durval Carvalho, cuja vida no bairro é aqui narrada e cujo viver e sentir tem traços comuns às demais pessoas que lá vivem. O Durval chegou a Portugal, vindo da Cidade da Praia, Cabo-Verde, com 27 anos. Na sua terra natal, trabalhava no Porto Marítimo, mas tinha uma vida “boémia”6, pelo que tornou a Portugal a mando de seu pai. Quando entrou em Portugal, ainda no aeroporto, deparou-se com uma grande fila de pessoas à porta do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Como “estava uma fila com muita gente, não parei, encontrei uma porta aberta e saí… ninguém me parou”, passando, desde então, à condição de ilegal. Originário de uma zona privilegiada da cidade, chegou ao Bairro e deparou-se “com aquela situação”. Casas precárias, clandestinas, com água desviada de uma boca-de-incêndio (que fora interrompida em 2001) e eletricidade dos postes circundantes, muita fome famílias inteiras a partilhar o mesmo espaço. Neste bairro já vivia o seu Tio (paterno), uma zona que “não existe no mapa”, para efeitos legais “não há ninguém lá”. Foi viver para casa este tio, onde já “muita gente lá vivia, na casa dele”, a única casa então construída no bairro. Partilhavam o espaço “muitos parentes e amigos, mendigos...”. Mesmo com as condições precárias em viviam eram, e ainda são, felizes lá, tinham e têm, “tudo o que necessitavam para viver”. Já instalado no Bairro, começou a trabalhar nas obras, e logo no primeiro emprego trabalhou durante um mês, mas chegado o dia do pagamento não recebeu o que lhe era devido. Aqui, contactou logo com a “desconfiança” de todos os que já lhe haviam emprestado dinheiro, pois não terão acreditado que não tinha recebido o salário. Estes sentimentos aqui descritos, de precariedade, desconfiança, de felicidade, de terem tudo o que necessitam para viver, não é exclusivo do Durval, respira-se um pouco por toda a comunidade do bairro. Após outras experiências de trabalho sem sucesso solicitou ao tio que o deixasse trabalhar com ele, na sua venda de vinho, cervejas e sumos. A sua entrada neste negócio, que ainda é a única «loja» do Bairro, ajudou a desenvolvê-lo, alargando a oferta de produtos, mantendo-se a característica de vender sobretudo de venda de bebidas. À data de corte da água, o Durval acompanhado pelo seu tio, intentaram ações junto das entidades competentes para resolverem os problemas mais prementes do bairro, a falta de saneamento e de água. Escreveu cartas à Câmara Municipal de Almada, 6 77 O texto assinalado entre aspas diz respeito a citações retiradas das diversas entrevistas realizadas ao Durval Carvalho. FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 pediu ajuda ao Padre da paróquia, que “parecia uma pessoa disposta a ajudar as ovelhas”, para os ajudar a escrever cartas a várias entidades. Nunca conseguiram que lhes fosse dada uma resposta, eram simplesmente ignorados e entregues à sua invisibilidade. Deslocaram-se à Junta de Freguesia e à Câmara Municipal, mas a única resposta que sempre obtiveram foi a de que iriam ser realojados em breve, pelo que não seriam possível construir sistemas de saneamento e abastecimento de água ao Bairro. Após o corte da água proveniente da boca-de-incêndio, a população “apanhava água do cemitério” com uma autorização escrita do Presidente da Junta de Freguesia (carta essa que se extraviou), que gerou uma nova via de negócio, os aguadeiros, uma vez que a recolha de água é “humilhante”, pelo que os residentes no bairro preferem pagar a pessoas que desempenhem essa tarefa, evitando a exposição pública, com “turistas a passarem nos autocarros, a tirarem fotografias e assim…”. A única alternativa seria continuar a recolher água no cemitério, “ali, todos os mortos tinha direito a água” mas aos vivos foi um direito retirado em apenas 3 meses. Foi trabalhar para o cemitério um “Sr. a que eu chamo o dono do cemitério”, que, ao ver um “preto a falar com uma branca” achou que a estava a assaltar. Este Sr. chamou a polícia, que o arrancou o Durval do local, despejou-lhe as “boias de água e deitaram fora o carrinho de mão”. Perante o incidente, e contando com a autorização escrita, o Durval foi à esquadra para apresentar queixa. Mas, a situação agravou-se, porque menosprezaram o seu depoimento face à versão contada pelo “dono do cemitério”. E desde então o Durval foi perseguido pela polícia. Este descrédito do Durval é o descredito da generalidade das pessoas que vivem no Bairro, os miúdos que vão à escola são maltratados, são “ostracizados porque não há banho… e doi-me”. A discriminação surge nos momentos e nas circunstâncias mais inesperadas: “no primeiro dia do infantário do meu filho a educadora mandou todos irem lavar as mãos, os meninos foram todos a correr para a torneira, o meu filho não… foi à procura de um alguidar para ver se lho enchiam de água para lavar as suas mãos. Não sabia que na torneira havia água”. No entanto, quem lá vive e por já la passou tem a noção de que é um bairro como os outros, há elementos que são maus exemplos, mas são muitos mais os que representam exemplos de vida. “Os meus filhos são capariquenhos, acho eu”, e quem vive no bairro não pretende retirar nada a ninguém, nem pretende interferir com os conterrâneos, apenas coabitar pacificamente. “Não queremos sair dali nunca, não sabem quanto é bom viver ali”. Apesar de algumas famílias já terem sido realojadas, a Comunidade Bairro está a crescer. Quando duas pessoas se juntam o “natural é ter filhos… precisamos de água. Depois de uma boa noite de sexo, gostamos, adoramos, tomar banho. Os portugueses quando foram para a nossa terra nos ensinaram a tomar banho, nos ensinaram quanto é bom estar limpo”. A realidade dos habitantes do bairro é despojada de luxos, frequentemente entendidos como essenciais para os residentes em bairros legais, e são críticos relativamente às prioridades definidas por governantes: na escola, “há [computadores] Magalhães por todo o lado, mas não há luz”. Quando se vai pedir água, a resposta é que o bairro não existe, mas os serviços de TV por cabo estão 78 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 disponíveis, para quem tem luz desviada de um poste elétrico. Diz-se que “água não se nega a ninguém”, mas eu, no meu bar, não posso dar água a ninguém”. A maioria das casas tem casa de banho, com louças e torneiras, apenas não têm água e o esgoto é conseguido através de fossas. Estas fossas diferem umas das outras, consoante a origem cultural dos seus construtores, dado que os habitantes da comunidade mantêm as raízes culturais dos seus antepassados, tornando-se um híbrido entre a cultura de origem e a onde atualmente se inserem, não negando nenhuma. Neste sentido, Rita Tavares, mãe de três filhos, faz-nos um relato dos rituais de parir, que seguiu aquando do nascimento dos seus filhos ainda em Cabo-Verde, mas deixando igualmente claro que em Portugal procederia de forma similar. De pé, acocorada ou apoiada um joelho e apoiada pelos braços à ombreira de uma porta, como no caso da sua última filha, ou ao tronco de uma árvore, como no seu primeiro filho, faz força até que o “ovo” caia no chão. Depois do nascimento a recente mãe não poderá falar até que “saia o companheiro” (a placenta). Ritual este que foi ensinado pela sua “mãe disse que a mãe disse que é assim: não pode falar”. Caso a placenta não nasça, as mulheres que assistem ao parto induzem o vómito à mãe, colocando-lhe um objeto na boca até à garganta, que, com as contrações o “companheiro sai”. Depois de nascido, a mulher que apoia o parto abre o saco e espera que a criança chore, não lhe batendo e enrolando-a em panos. O cordão umbilical é cortado, medindo-se o seu comprimento do umbigo até ao joelho da criança, e esfregada terra no umbigo da criança. Nos cuidados do recém-nascido, depois de lavado é esfregado com “ceite” (uma espécie de azeite artezanal preparado especificamente para o efeito) no umbigo, e na “ratinha da menina”, para Figure 63 - Histórias de Vida - Rita - 2012 fecharem. A Rita, na sua memória oral, ainda nos relata que “quando sai a cabeça corre tudo bem [mas] quando sai o pé primeiro, é sorte“, salientando que nascerem vivos ou mortos, é “sorte”. A vida no bairro é comunitária onde cada um tem um papel a desempenhar, e a entreajuda é patente a todos os níveis, por exemplo, todos ajudam a tomar conta das crianças que vivem no bairro. Neste período de vigência do Fronteiras Urbanas, surgiu, inclusivamente uma nova palavra, o associamento, que traduz a capacidade de associação dos residentes no bairro, para resolverem os problemas mais prementes de cada um. 79 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Figure 64 - Comunidade Bairro - História de Vida - 2012 O sentimento reinante no bairro é de exclusão: Lizi, uma outra habitante do bairro, relata episódios de que a relação estabelecida com pessoas não residentes no bairro muda no instante em que refere que é residente no Bairro. Este é apelidado, ainda na sua voz, de bairro dos porcos, onde as pessoas resistem em entrar, como é o caso de taxistas que se recusam a levar pessoas do bairro às suas residências, como o fazem com qualquer outro capariquenho. Realidade que contrasta com o sentimento de identidade que quem habita o bairro manifesta. Relatam o calor humano que lá se respira, o orgulho que têm em ser habitantes do Bairro: Faço questão de dizer que sou daqui [doa Comunidade Bairro], é como assumir que sou cabo-verdiana, que sou mulher. Sou o que sou” (Elisângela Almeida). Esta nossa interlocutora não deixou de referir a falta de água canalizada, que está sempre presente no discurso dos habitantes. Para eles não terem água é um “mistério (…) quem não dá água são os grandes” (Vitória). A questão da água canalizada é constantemente referenciada como o principal problema com que a comunidade se confronta. Ainda na Comunidade Bairro vive uma comunidade cigana que, até a entrada a terreno do Fronteiras Urbanas não tinha grande contacto com o resto dos membros da comunidade, de acordo com o seu líder comunitário – Sr. Raul, porque estes identificam-se mais com a população da vida que com o os seus vizinhos que habitam nas zonas mais interiores das terras. Inclusivamente as suas prioridades não estão diretamente relacionadas com a água e o saneamento porque, contrariamente aos demais, preferem ser realojados em casas camarárias e sair daquele local e não tanto criar melhores condições de habitabilidade nas suas casas. 80 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 A sedentarização a comunidade cigana nestas terras deu-se com o assentamento do avô – Sr. Cabeçana, da atual esposa do Sr. Raul, até então com uma vida nómada, embora sempre nos arredores de Lisboa. Terão, ainda, trabalhado com a comunidade de pesca ajudando no puxar das redes, chegando mesmo, alguns ciganos a embarcar. As mulheres ajudavam na arte agrícola, ajudando na apanha da produção e, no verão, na sua transformação: cortavam batatas e fritavam-nas para serem vendidas aos veraneantes em cartuxos de papel. Este líder da sua comunidade terá, ainda, saído das terras por 4 anos para tentar a sorte a norte do país. No regresso comprou um dos estábulos que de apoio ao aluguer de cavalos, servindo-lhe de residência até ser consumida por um incêndio. Nesta altura terá construído a barraca onde agora reside com a sua esposa. Este grupo étnico é constituído, quase exclusivamente, pelos seus descendentes. Mostra ter uma consciência bem clara, expressando-o com igual clareza, que carrega consigo a herança cultural dos seus antepassados, que não lhes permite uma plena integração na Costa de Caparica. Ilustra-o com uma frase bem marcante: “se uma criança não come a sopa, a mãe diz-lhe: vem aí o cigano e leva-te” (Raul). O Sr. Raul refere que os ciganos têm como profissão vender, são vendedores de roupa, embora lhe tenham fechado o mercado em agosto de 2008 e desde então vendem a roupa à mão, fugindo à polícia para não verem a sua mercadoria apreendida. De facto, a vida desta comunidade apresenta características bem distintas da apresentada pelos habitantes provenientes (e descendentes) dos PALOP. Porém, entre os membros da Comunidade Bairro, independentemente de onde vem, que cultura carregam , todos anseiam por melhores condições de vida, uns querendo ser realojados em casas camarárias e outros não querendo abandonar o local unidos pela amizade, solidariedade e compaixão. No presente todos estão representados na comissão de bairro, dando primazia ao abastecimento de água, mesmo sem ser consensual entre a comunidade cigana que esta deveria ser a primeira prioridade. Há, no entanto, consciência do Sr. Raul de que a comissão dos moradores do bairro, da qual é membro, tem uma capacidade reivindicativa que sozinhos não teriam. Por inerência, essa comissão empodera-os para reivindicarem um local de venda e, eventualmente, o realojamento, patentes no seu discurso como principais prioridades. Este será, porventura, o maior fator de união das dos diferentes grupos culturais que partilham a Comunidade Bairro como local de residência. 81 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 CARTOGRAFIA MÚLTIPLA O presente Relatório de Atividades apresenta informações detalhadas sobre as atividades desenvolvidas no âmbito da tarefa “Cartografia Múltipla”, inserida no Projeto Fronteiras Urbanas (FU), durante os meses de Janeiro 2012 a Outubro 2013, 1. I NTRODUÇÃO Desenvolvimento, objectivos e metodologias da tarefa “Cartografia Múltipla” A Cartografia Múltipla, enquanto tarefa do Projeto Fronteiras Urbanas (FU), foi desenhada a três mãos face a um desejo; mãos das três comunidades envolvida no mesmo, sendo elas: Comunidade Académica, Comunidade Bairro e Comunidade Piscatória. Porém, faz-se necessário recordar que a Comunidade Bairro foi a idealizadora de tal tarefa assentada na necessidade de conhecerem quem são; quantos são; onde, como e desde quando estão assentados nas Terras da Costa. Como tem sido evidenciado, na Comunidade Bairro - todos os habitantes aqui entendidos como moradores de tal comunidade, vive-se sem água e saneamento básico. Numa perspectiva educativa, o projeto Fronteiras Urbanas desenvolveu a tarefa Cartografia Múltipla com o intuito de dar respostas às necessidades primárias da Comunidade Bairro, bem como de engendrar tal tarefa ao desejo de reconhecimento da Comunidade Piscatória e da espacialidade das suas atividades. Embebidos deste sentido, numa primeira fase do projeto Fronteiras Urbanas desenvolvemos a tarefa da cartografia com enfoque no contexto urbano em que ambas comunidades estão inseridas: Costa de Caparica. O objectivo desta macrovisão era compreender o desenvolvimento cartográfico desta região num contexto holístico, o qual permitisse um entendimento múltiplo da formação, do desenvolvimento e da sobrevivência de ambas comunidades. A multiplicidade, aqui proposta, abarcava um olhar social, cultural, histórico, geográfico, político, urbanístico, geológico, oceanográfico, bem como outros que surgissem no decorrer desta primeira fase da etnografia crítica. A cartografia Múltipla, nesta fase, confundiuse, embrenhou-se a apoiou-se na tarefa Histórias de Vida. Nesta primeira fase, foram feitos vários esforços no sentido de alinhavar a colcha de retalhos de conhecimentos de alguns dos membros da Comunidade Académica, tanto a nível histórico, quanto a nível de conhecimento local de cada comunidade. Este exercício beneficiou do conhecimento histórico do arqueólogo e investigador Francisco. Destes conhecimentos prévios, foi feita uma estimativa do desenvolvimento cartográfico da Costa de Caparica, tendo como principal suporte mapas históricos (Figure 66), bibliografia existente (Figure 65) e histórias de vida de antigos moradores da Comunidade Bairro e de pescadores locais. Estas foram assim as metodologias escolhidas para o desenvolvimento de todas as atividades propostas no âmbito desta tarefa. 82 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Figure 66 - Foz do Rio Tejo (1634). Exemplo do material recolhido na análise cartográfica da história da Costa Ilustração 1: Foz do Rio Tejo (1634). Exemplo do material recolhido na análise cartográfica da história da Costa de Caparica. de Caparica. Figure 65 - Exemplo de bibliografia local consultada na análise cartográfica da história da Costa de Caparica Para além deste exercício cartográfico focado na evolução histórica da Costa de Caparica, transversal às três comunidades abrangias pelo FU, desenvolveram-se atividades 83 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 pertinentes a cada comunidade em particular, que são apresentadas e detalhadas neste relatório. Por fim, é preciso que referir que algumas das atividades de cartografia inicialmente previstas não foram executadas, estando os factores responsáveis por tais pendências devidamente apresentados e justificados também neste relatório. 2. AÇÕES EXECUTADAS Atividades e iniciativas que decorreram entre Janeiro de 2012 e Outubro de 2013 2.1 COMUNIDADE BAIRRO No âmbito das atividades relacionadas com a Cartografia Múltipla na Comunidade Bairro ao longo destes dois anos do Projeto Fronteiras Urbanas, destacamos de forma sucinta: (i) a organização de um workshop participativo de arquitetura, com o intuito de se projetar em espaços comunitários com e para os membros da Comunidade Bairro; (ii) o recenseamento da população da Comunidade Bairro, destancando-se o número de moradores e a sua descendência e/ou nacionalidade; (iii) a criação de mapas interpretativos da Costa da Caparica, que permitiram compreender o enquadramento histórico e territorial da comunidade Bairro; e ainda (iv) a organização de um processo democrático para eleição de representantes do Bairro das Terras da Costa (Comissão de Bairro). WORKSHOP “NOUTRA COSTA” O workshop de Arquitetura “Noutra Costa” teve lugar em Junho de 2012. Promovido em parceira com o Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa (CEACT-UAL), esta iniciativa contou com a presença de jovens arquitetos e alunos de arquitetura da mesma Universidade, que trabalharam de forma conjunta com os moradores do Bairro das Terras da Costa por intervenção dos investigadores Filipa e Carlos. O processo de preparação do Workshop teve início em Abril de 2012, sob a coordenação da investigadora Filipa. Uma primeira reunião do Fronteiras Urbanas com o CEACT-UAL foi realizada em Maio de 2012, em que estiveram presentes membros da Comunidade Académica e um representante da Comunidade Bairro, Euclides Fernandes. Nessa reunião, para além de se ter discutido o âmbito de desenvolvimento e objectivos práticos do Workshop, foi recolhida alguma informação-base posteriormente utilizada na tarefa de “Cartografia Múltipla” (ver tópico PENDÊNCIAS). Os objectivos académicos deste workshop incidiram sobre (i) o desenvolvimento da identidade criativa dos arquitetos no contexto de uma realidade 84 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 social vivida nos centros urbanos e periferias das grandes cidades da Europa e do Mundo, e (ii) a compreensão, através da prática in loco, do verdadeiro papel do arquiteto, indo para além do seu carácter projetista e enfatizando os processos participativos face às restrições de exequibilidade e necessidade de adaptação para solucionar problemas reais. Paralelo aos seus objectivos académicos, o workshop pretendia ainda trazer um pouco da experiência dos arquitetos à Comunidade Bairro, numa troca de conhecimentos enriquecedora em vários sentidos, e com o intuito maior de contribuir para a redução da invisibilidade do Bairro, enquanto espaço físico e social, no contexto urbano em que se insere (“Como trazer as pessoas da cidade para o Bairro?”). Os jovens arquitetos trabalharam em vários grupos de poucos elementos, cada grupo procurando dar resposta a uma das várias questões e sugestões levantadas e discutidas na primeira visita que realizaram ao Bairro. Assim, desta iniciativa surgiram ideias de diferentes espaços comunitários que poderiam ser criados dentro e próximo ao Bairro, como por exemplo bancadas de suporte ao campo de futebol já existente ou uma cozinha comunitária. Estas ideias foram postas em papel e maquete pelo grupo de jovens arquitetos, em colaboração ativa com os membros da comunidade Bairro , sendo que algumas delas chegaram a ser efetivamente construídas (e.g., monumento de mensagens públicas construído à partir de material encontrado no Bairro na praceta da Rua Ercília Costa, no centro da Costa de Caparica). O workshop “Noutra Costa”, por ter sido desenvolvimento em total envolvimento direto com a comunidade, permitiu o autoconhecimento comunitário e o aumento da autoestima dos seus membros. Para além disso, da iniciativa nasceram os primeiros mapas atuais do local, bem como um detalhamento arquitectónico do local nunca antes levantado, favorecendo o enriquecimento do conhecimento da Comunidade Bairro. Um documentário sobre esta iniciativa foi posteriormente realizado, contando com imagens das atividades decorridas e dos resultados obtidos, juntamente com depoimento de algumas pessoas envolvidas (Figure 67). Figure 67 - Screenshots do documentário sobre o workshop “Noutra Costa”, realizado por Vítor Gabriel. O documentário pode ser visualizado na íntegra em: http://www.youtube.com/ watch?v=ckscfoegqcy 85 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 RECENSEAMENTO E CARTOGRAFIA A dimensão da Cartografia Múltipla contribuiu também para a realização dos mapas de apoio ao recenseamento da população da comunidade Bairro. É importante salientar que a escolha do detalhe exercido nos sensos foi procedida cautelosamente e em conjunto com os moradores dessa comunidade, uma vez que da atividade em questão resultariam dados sociopolíticos de extrema confidencialidade (e.g., Fichas de Identificação de Morada), recolhidos única e exclusivamente para fins académicos e sem qualquer prejuízo para com os direitos habitacionais dos moradores das Terras do Bairro da Costa. Numa primeira reunião (Maio de 2012) foi apresentado um ortofotomapa do Bairro que serviu de base para uma discussão acerca dos espaços territoriais ali presentes numa visão demográfica, histórica e posicional. Dessa discussão, em muito enriquecida pelos conhecimentos locais do Euclides, obtivemos os primeiros resultados do recenseamento espacial pretendido no âmbito da tarefa “Cartografia Múltipla”. Estes resultados consistiram numa primeira identificação e categorização dos seis aglomerados habitacionais encontrados no espaço do Bairro, definidos como “locais” (Figure 68) com a sua categorização. É importante clarificar que o Local 6 encontra-se em destaque na Figure 68 uma vez que não foi possível estabelecer contacto com os membros da comunidade Bairro que ali habitam. Respeitando o desejo de distanciamento de tais moradores, excluímos o Local 6 da nossa análise. 86 Figure 68 - Resultados da primeira sessão de discussão sobre a cartografia do Bairro. As regiões demarcadas correspondem aos diferentes aglomerados habitacionais (locais) identificados dentro do bairro. Os resultados da caracterização de cada local podem ser consultados na tabela 1. O local 6 encontra-se destacado por ser o único local onde não foi possível estabelecer contacto dentro do tempo de atuação do Projeto, ficando por isso de fora da análise realizada. FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Figure 69 - Processo de criação do mapa de apoio ao recenseamento na comunidade bairro – Novembro de 2012 A caracterização do local foi realizada através de um processo de recolha informal de dados para estimativa do número total de moradores, número total de crianças moradoras e etnias dos moradores de cada local. Os resultados deste exercício podem ser encontrados na T ABELA 1 . Os resultados desta primeira fase do recenseamento apontam para um total de cerca de 276 moradores nos 5 locais analisados na comunidade Bairro, dos quais aproximadamente 30% (85) são crianças. Estimou-se também que a etnia predominante nos 5 locais analisados é a Cabo-verdiana (67.4%), seguida pelas etnias Cigana (11.2%) e Portuguesa (8.3%). Contatou-se também que 50% da população e 60% das crianças da comunidade Bairro reside no Local 1, sendo o Local 3 o segundo mais populado (28.6%). T ABELA 1: R ESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO DOS LOCAIS IDENTIFICADOS NUMA PRIMEIRA FASE DO PROCESSO DE RECENSEAMENTO DA COMUNIDADE BAIRRO . A PRESENTA -‐ SE UMA ESTIMATIVA DO Nº TOTAL DE MORADORES ( DOS QUAIS CRIANÇAS , EM PARÊNTESIS ) PARA CADA LOCAL , POR ETNIA . O LOCAL 6 FOI EXCLUÍDO DA ANÁLISE ( VER TEXTO ). A S INCERTEZAS FACE À PRESENÇA DE OUTRAS ETNIAS NOS LOCAIS 3 E 5 É SALIENTADA COM UM PONTO DE INTERROGAÇÃO (?). A PRESENTAM -‐ SE AINDA AS RESPECTIVAS PERCENTAGENS PARA OS TOTAIS ESTIMADOS . 87 Etnias Local 1 Local 2 Local 3 Local 4 Local 5 Total % Caboverdiana 110 (43) 30 (7) 46 (11) ? 186(61) 67.4(71.8) Cigana 11 (1) 20 (5) ? 31(6) 11.2(7.1) Portuguesa 17 (5) 6 (3) 239(8) 8.3(9.4) Angolana 11 (3) 5 (1) ? 16(4) 5.8(4.7) São Tomense 12 (4) ? ? 12(4) 4.3(4.7) Guinense 2 1 ? ? 3 1.1 Brasileira 2(1) ? 1 3(1) 1.1(1.2) Romena ? 3 (1) 3(1) 1.1(1.2) Zairense 1 ? ? 1 0.4 Total 138 (51) 31(7) 79 (18) 20 (5) 8 (4) 276 (85) % 50(60) 11.2(8.2) 28.6(21.2) 7.2(5.9) 2.9(4.7) 100(100) FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 A verificação estatística do local onde é possível encontrar a maior parte da população no Bairro (Local 1) foi ainda útil para definir os locais de todas as atividades que o FU desenvolveu no Bairro, nesta e noutras tarefas, sendo mais evidente a concentração populacional neste local – o que já tinha sido empiricamente evidenciado no decorrer das nossas visitas ao local. Depois de finalizada com sucesso esta primeira fase do recenseamento, procedeu-se a um levantamento em campo, contando com a colaboração voluntária de alguns membros da comunidade Bairro. Deste exercício, de carácter mais prático e meticuloso, resultou uma cartografia das unidades habitacionais dentro de cada um dos cinco locais definidos e estudados na comunidade Bairro Figure 70. Para cada uma das unidades habitacionais identificadas e devidamente numeradas foi elaborada uma “Ficha de Morada”, que contém informações acerca do agregado familiar de cada habitação. Por questões de privacidade e a pedido de alguns moradores, o recenseamento utilizou apenas o primeiro nome dos indivíduos identificados (ou alcunha pela qual é localmente conhecido), sendo para este exercício muito mais importante contabilizar o número de moradores, juntamente com a sua idade, etnia, e data de instalação no Bairro. Este mapa, juntamente com a respectiva informação das Fichas de Morada, constitui assim uma importante ferramenta para a emancipação da Comunidade Bairro enquanto espaço físico e social ativamente integrado na, mas ainda invisível para a, Costa de Caparica. Figure 70 - Mapa de apoio ao recenseamento, onde foram identificada e catalogadas cada uma das unidades habitacionais nos cinco locais de estudo na Comunidade Bairro. 88 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 A atividade de recenseamento e mapeamento foi finalizada em Fevereiro de 2013, com os esforços dos investigadores Filipa, Euclides (Figure 69), Francisco e Catarina. O mapa de apoio ao recenseamento foi levado a discussão numa reunião colectiva, para que fosse aprovado pelos moradores da comunidade Bairro. HISTÓRIA E CARTOGRAFIA Nomeadamente no que diz respeito à comunidade Bairro, a cartografia histórica permitiu associar as histórias de vida e a génese do bairro à sua territorialidade atual. Do processo de cartografia histórica, surgiram particularidades de especial interesse, como a documentação de moradias legalmente construídas e cedidas pelo Governo em anos anteriores a pessoas singulares, para habitação e suporte às atividades agrícolas ali praticadas. Estes resultados poderão vir a dar solvência, de forma parcial, ao problema de ilegalidade das construções no Bairro das Terras da Costa, constituindo assim mais um passo na luta contra a invisibilidade dessa comunidade e espaço marginal. À partir dos dados levantados na cartografia histórica da cidade, com a colaboração do arqueólogo e investigador do FU Francisco, foi possível tentar uma reconstituição da génese do bairro em termos físicos. A conclusão mais interessante é que se julga poder afirmar que os dois núcleos do Bairro, ainda hoje existentes, tiveram origem em duas construções localizadas mais ou menos no centro de cada um deles. Seriam construções de alvenaria com cerca de 40 anos – estima-se a sua construção em meados da década de 70 (Figure 71). Figure 71 - Mapa da Costa de Caparica (1978) e identificação das duas construções que deram origem ao Bairro das Terras da Costa, projetadas no ortofotomapa atual. 89 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Sabemos que, à data da sua construção, o espaço agrícola onde se encontravam não apresentava outros sinais de povoamento, ou seja, ainda não estava constituído um “bairro”. Eventualmente, com a intensificação da atividade agrícola no local, novas construções foram progressivamente surgindo à volta dessas duas habitações primárias. Deste exercício de cartografia histórica foi possível recolher informação acerca dos percursos efectuados pelos agueiros (pessoas responsáveis pelo abastecimento de água no Bairro) desde o Bairro até ao poço (Figure 72). Recorrendo a ferramentas de informação geográfica, calculou-se o percurso como tendo aproximadamente 1km, o que significa que cada agueiro percorre cerca de 2km para o abastecimento de água no Bairro Figure 72 - Ortofotomapa do Bairro das Terras da Costa, onde se evidencia (vermelho) o percurso efectuado pelos agueiros (detalhe à direita), desde o centro de distribuição dentro do Bairro até ao poço mais próximo (Detalhe em Baixo à esquerda) para abastecimento de água na Comunidade Bairro. Esta dimensão da tarefa de cartografia esteve também presente na tarefa de “Alfabetização Crítica” realizada na comunidade Bairro, através de uma sessão dedicada à leitura e compreensão de mapas (Figure 73). 90 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Figure 73 -‐ Cartografia nas aulas de “Alfabetização Crítica”. ELEIÇÃO “COMISSÃO DE BAIRRO ” Face aos resultados dos exercícios de cartografia até à data desenvolvidos na Comunidade Bairro, e em conjunto com outras atividades ali desenvolvidas no âmbito do FU, o sentido de autonomia e capacidade geradora dos moradores dessa comunidade sofreu alterações muito significativas, para a positiva. Estas transformações colmatarem no desejo manifestado por vários moradores para elegerem um grupo de pessoas que os representasse em contextos formais, na tentativa de se facilitar os processos de resolução dos inúmeros problemas de saneamento básico e ordenamento do território que enfrentam diariamente. Em conversa com membros das Comunidades Académica e Piscatória, e após a consulta de diferentes vertentes de representação por eleição democrática que se poderiam instalar na Comunidade Bairro, os moradores optaram por estabelecer uma Comissão de Bairro. Salienta-se aqui o papel dos membros da Comunidade Piscatória, em especial o seu representante Lídio Galinho, que trouxeram para a discussão toda a sua experiência sindical e em muito contribuíram para encontrar uma solução de organização que melhor assentasse as necessidades da Comunidade Bairro. Assim, no dia 18 de Junho de 2013 decorreram as eleições da Comissão de Bairro da Comunidade Bairro. A Mesa de Voto (Figure 76) esteve aberta das 08 às 18 horas, e contou com a presença de todos os membros da Comunidade Académica, e ainda alguns convidados (familiares e Atelier MOB), que trabalharam em grupos de três, alternando-se por 4 turnos de 3 horas cada. Todo o processo de eleição foi registado através de fotografias, e seguiu a legislação nacional no que respeita a apresentação de documento de identificação pessoal com fotografia, assinatura na folha de presenças, e voto secreto - garantindo assim a legitimidade e transparência do processo. A contabilização dos votos ocorreu apenas após se ter garantido que o maior número de moradores da Comunidade Bairro voluntariamente exerceu o seu direito ao voto. Para tal, pouco antes das 18 horas, uma equipa constituída por membros da 91 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Comunidade Académica e Bairro levou o material necessário ao voto a cinco moradores impossibilitados fisicamente de se deslocarem à Mesa de Voto, mas que através de familiares/conhecidos manifestaram o desejo de exercer o ato (Figure 74). A contabilização dos votos ocorreu logo após o encerramento oficial da Mesa de Voto. Os resultados foram contabilizados pela Lizi, moradora do Bairro, que abriu a urna e retirou as cédulas, comunicando o seu conteúdo em voz alta para os restantes (Figure 75). O número de votos em cada opção (“A favor” ou “Contra” a instalação da Comissão) foi registado por três pessoas em simultâneo, sendo que uma delas o fez num quadro negro, de forma a que ficasse visível para a audiência (Figure 75). Cédulas rasuradas, rasgadas ou indevidamente preenchidas foram consideradas como votos nulos. Os resultados da eleição foram unânimes, a favor da instalação da Comissão de Bairro da Comunidade Bairro constituída pelos moradores Mana, Mário, Raul, Filomena, Mónica, Susete, Claudina, Né e Durval. Este movimento democrático bem sucedido foi, provavelmente, um dos principais resultados do FU para a emancipação da Comunidade Bairro. Figure 74 - Mesa de Voto Ambulante para contabilização dos votos de cinco pessoas incapacitadas de deslocação à Mesa de Voto. 92 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Figure 76 - Mesa de Voto instalada no espaço utilizado para as aulas de Alfabetização Crítica. Figure 75 - Leitura dos votos realizada pela moradora Lizi (à direita) e contabilização dos votos no quadro-negro (à esquerda). 93 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 2.2 COMUNIDADE PISCATÓRIA No que respeita a Cartografia Múltipla na Comunidade Piscatória ao longo do desenvolvimento do FU, estavam previstas (i) a realização de mapas interpretativos da Costa da Caparica, que permitiriam compreender o enquadramento histórico e territorial da comunidade Piscatória na cidade; e (ii) a realização de mapas de valorização e utilização, que serviriam como ferramentas de apoio aos pescadores no planeamento espacial e ordenamento do território local. Estas atividades, no entanto, foram parcialmente realizadas, tendo ficado incompletas por várias razões que serão exploradas mais adiante (ver tópico PENDÊNCIAS). HISTÓRIA E CARTOGRAFIA Não obstante às grandes pendências das atividades de cartografia na Comunidade Piscatória, os resultados do primeiro levantamento histórico da cidade da Costa de Caparica também contribuíram para uma definição da génese da Comunidade Piscatória na cidade. Este exercício foi fortemente enriquecido pelos contributos do investigador Francisco. Até ao século XX, a zona da Costa de Caparica era uma zona insalubre devido à existência de pântanos e águas paradas que facilitavam a propagação de mosquitos transmissores de paludismo /malária. Ainda assim, comunidades de pescadores vindas de Ílhavo (ilhos ou gandaréus) ocupavam a praia da Costa sazonalmente para Figure 77 - Comunidades vindas de Ílhavo (amarelo) e Olhão (vermelho) estabelecem-se na Costa de Caparica de forma definitiva à partir de 1770. 94 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 exercer a sua atividade piscatória (nos meses de Outubro a Dezembro). Em 1770, comunidades vindas de Ílhavo e também de Olhão (Figure 77) estabelecemse definitivamente na Costa, constituídas por várias companhas de pesca e seus respectivos mestres (José Rapaz, José Gonçalves Bexiga). Estas comunidades foram Figure 79 - Costa de Caparica em 1816, onde já se pode verificar a existência das Cabanas da Costa, construídas pelas comunidades piscatórias que ali se instalaram no final do Século XVIII. responsáveis pela construção das primeiras “Cabanas da Costa” (Figure 79). SUL NORTE 95 Figure 78 - Rua dos Pescadores da Costa de Caparica em meados do Século XIX, onde se evidencia a distribuição marcada entre as comunidades piscatórias vindas de Ílhavo (Norte) e de Olhão (Sul). FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Desta forma, até meados do século XIX a população da Costa era composta por duas comunidades piscatórias: Ílhavos instalados a Norte, (da atual Rua dos Pescadores) e Algarvios (Olhão) a Sul (Figure 78). Com o estabelecimento definitivo dessas duas comunidades, é construída a primeira Igreja da Costa de Caparica em junco e tabuado. Estima-se que a maioria das construções iniciais eram feitas em madeira (tabuado) e cobertas com junco (Figure 80). No entanto, a já atualmente demolida Casa da Coroa (Figure 81) foi uma das primeiras construções em alvenaria da Costa de Caparica. Esta construção, que data de antes de 1825, foi realizada pelo Mestre de Redes José dos Santos. Figure 81 – Casa da Coroa construída antes de 1825 pelo Mestre de Redes José dos Santos, uma das primeiras construções em Alvenaria na Costa de Caparica. Esta construção foi demolida em 1996. Figure 80 - Levantamento Cartográfico (Historiográfico) das habitações da Comunidade Piscatória na Costa de Caparica – “os Palheiros”. 96 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Figure 82 - Levantamento Cartográfico (Historiográfico) das artes de pesca praticadas na Comunidade Piscatória Com o início da florestação das dunas entre a Trafaria e as praias da Costa de Caparica e a possibilidade de drenagem artificial, que ocorreu por volta de 1883, a pratica exclusiva da actividade piscatória realizada na Costa (Figure 82) foi complementada por actividades agrícolas (Figure 83). Figure 83 - Levantamento Cartográfico (Historiográfico) de atividades complementares à pesca na Costa de Caparica Em 1925, a praia do centro da Costa de Caparica é classificada como estância de turismo (Dec.nº11.335 de 9 de Dezembro). Figure 84 - Concessão turística da Praia do Tarquínio, no Centro da Costa de Caparica, no início do Século XX. 97 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Em 1937 verfica-se a criação da Junta Central das Casas dos Pescadores sob direção do Almirante Henrique Tenreiro. No entanto a Casa dos Pescadores apenas foi inaugurada em 1938 ( Figure 85) . Figure 85 - Casa dos Pescadores da Costa (À esquerda) e Junta Central das Casa dos Pescadores (À direita), fundadas respectivamente em 1988 e 1937. Dos resultados mais interessantes do levantamento efectuado na cartografia histórica da Comunidade Piscatória está origem do poço da vila, ainda hoje utilizado pela Comunidade Bairro para abastecimento de água no Bairro das Terras da Costa (Figure 72), que foi construído em 1879 pelos pescadores da então vila Costa de Caparica, custando ao quinhão das companhas a quantia de 401.410 réis ( Figure 86) . Figure 86 - Poço da Vila construído em 1879 pela comunidade piscatória da então vila da Costa de Caparica. 98 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 COMUNIDADE ACADÉMICA No que respeita a Cartografia Múltipla na Comunidade Académica, as atividades centraram-se na disseminação do trabalho desenvolvido no FU e no estabelecimento de parcerias de interesse na dimensão cartográfica delineada neste projeto. Foram inúmeras as parcerias estabelecidas na dimensão da Cartografia Múltipla. Salientamos aqui os contactos realizados através do Círculo de Cultura “Pesca: Sustentabilidade e Sociedade”, que teve lugar no segundo dia do Fórum Fronteiras Urbanas sob a organização da investigadora Lia (Figure 87). Ficamos a conhecer o trabalho desenvolvido pelas investigadoras Lia Vasconcelos e Sueli Ventura (IMAR –UNL) com a comunidade piscatória de Sesimbra, numa partilha de conhecimentos e experiências muito frutífera. É importante mencionar ainda os contactos estabelecidos durante o Workshop de arquitetura organizado na comunidade Bairro, como o Atelier MOB, cuja parceira e envolvimento no projeto culminou no processo de construção da cozinha comunitária, neste momento em andamento. Em termos de disseminação, para além do exercício alargado realizado durante o Fórum Fronteiras Urbanas, em Julho/Agosto de 2013, a dimensão da Cartografia Múltipla foi apresentada na Universidade de Aarhus (Dinamarca) em Novembro de 2013, dentro da conferência “Rethinking Participatory Cultural Citizenship”. A apresentação, intitulada “From Invisibility to Full Citizenship: a Bottom-up Movement for Urban Rights”, levantou questões face à realidade sociopolítica das duas comunidades foco do FU, tais como “Como ir de encontro à justiça espacial?”, “Como utilizar ferramentas académicas (e.g., cartografia) para melhorar e aumentar os níveis de participação pública no planeamento espacial?” 99 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Figure 87- Descrição da Sessão de Cartografia Múltipla realizada no âmbito do Fórum Fronteiras Urbanas 3. PENDÊNCIAS O que não foi possível executar e porquê. Em termos de atividades não executadas, é de salientar a cartografia na Comunidade Piscatória que ficou por finalizar, como mencionado acima. A dificuldade na execução das tarefas relacionadas com a Cartografia Múltipla na Comunidade Piscatória pode ser resumida a três pontos fulcrais: i. 10 0 Dispersão temporal e espacial da Comunidade Piscatória Os exercícios e atividades desenvolvidos na Comunidade Bairro foram inerentemente facilitados pelo carácter físico da mesma. A Comunidade Bairro é constituída por um conjunto de pessoas num espaço físico bem delimitado e de reduzidas dimensões. Por oposição, os membros da Comunidade Piscatória encontram-se fisicamente dispersos pela zona da Costa de Caparica e Fonte da Telha, um factor que, aliado às frequentes oscilações temporais de disponibilidade dos pescadores devido às campanhas de pesca, não permitiu FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 uma reunião regular para execução de atividades conforme inicialmente previsto no âmbito da Cartografia Múltipla. A dispersão espacial e temporal dos membros da Comunidade Piscatória, em relação aos membros da Comunidade Académica, foi o factor que mais prejudicou a execução das tarefas previstas. ii. Regime de investigação voluntário As dificuldades apresentadas no ponto anterior poderiam ter sido ultrapassadas caso os investigadores envolvidos nesta tarefa dispusessem de mais flexibilidade para organizar e participar em encontros com os membros da Comunidade Piscatória. O regime de investigação voluntário, exercido em tempo extraordinário de cada investigador, não foi adequado à realização das tarefas previstas no âmbito da Cartografia Múltipla na Comunidade Piscatória. iii. Priorização de solvência dos problemas mais emergentes Apesar do foco de investigação neste projeto estar divido entre as duas comunidades (Bairro e Piscatória), as míseras condições em que habitam os moradores da Comunidade Bairro fizeram voltar os primeiros esforços de investigação para a resolução dos problemas emergentes nessa comunidade, incluindo por envolvimento de membros da Comunidade Piscatória igualmente sensibilizados com a situação. Assim, numa primeira instância e aliada aos factores acima descritos, a atuação em campo (para todas as tarefas deste projeto) cingiu-se exclusivamente à Comunidade Bairro, reflectindo-se num atraso em termos de execução do plano de trabalhos previsto e proposto para a Comunidade Piscatória. Ficam assim aqui descritas as principais atividades de Cartografia Múltipla desenvolvidas no âmbito do FU, evindeciando-se o papel da cartografia no empoderamento de comunidades locais. Não obstante às pendências verificadas, acredita-se que o desenvolvimento desta tarefa cumpriu na generalidade os objectivos iniciais propostos, principalmente na Comunidade Bairro. 10 1 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ENTREPROJECTOS Os EntreProjectos apareceram no processo etnográfico vivenciado no FU. Esta atividade não foi prevista em candidatura, porém revelou-se de grande valia na coesão social entre todos os membros do projeto mas, especialmente, na disseminação do mesmo. A presença do FU nas duas comunidade envolventes serviu como foco catalisador de atenção, face ao nosso processo de disseminação nas mais diferentes áreas de comunicação. O “chegar” de caras novas com desejos de tornarem os desejos locais viáveis, ou mesmo de criar estratégias para enaltecer desejos adormecidos, repreendidos e oprimidos social e economicamente, é compreendido no processo do FU como uma grande valia. Os EntreProjectos revelaram-se um espaço que partilha a importância e o poder de se caminhar junto, de se estar junto e de comungar a diversidade. Trouxemos para este relatório os EntreProjectos que tiveram maior impacto. Ressalta-se a apresentação dos cinco projetos abaixo que junto com o FU, fizeram acontecer COM as comunidades nas quais atuaram, alimentando nossos objectivos e reforçando nossos propósitos teóricos. Infelizmente, apenas um EntreProjecto teve subsídio para seu desenvolvimento: Noutra Costa. Os demais projetos exequíveis, no âmbito das comunidades do FU, ainda não conseguiram recursos para serem executados, nomeadamente, OutraCena e Cozinha Comunitária. Destacamos que os projetos Ler com Arte e Chicala, tem ainda sobrevivido de forma voluntária dentro da Escola do Bairro – projeto de extensão, de carácter voluntário, que culmina o processo dos EntreProjectos. A sistematização do processo e do impacto destes EntreProjectos ressalta nossa postura etnomatemática, afinal nossa participação, em diferentes momentos nos diferentes EntreProjectos, teve um papel fundamental. Este encontro de projetos seguiu o percurso delineado pela investigação do FU assentado na emancipação, autonomia e responsabilidade ética. ... fizeram acontecer: encontro, partilha, consciencialização, empowerment, amizade! 10 2 conhecimento, reconhecimento, FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 NOUTRA COSTA Figure 88 - Noutra Costa - 2012 Projecto idealizado pelos nossos parceiros da Universidade Autónoma de Lisboa, para recriar, virtualmente, os espaços da Comunidade Bairro, conforme os desejos e ecessidades locais. Anualmente, esta universidade tem desenvolvido este workshop no qual cria, em espaços públicos, novos ambientes consoante as necessiades e possibilidades locais. Este primeiro EntreProjecto tem como mentora principal a investigadora do FU Filipa Ramalhete e o Arquitecto Pedro Campos Costa. Na Comuniadde Bairro não foi possível a execusão física de projetos arquitetónicos por se tratar de um espaço “complicado” para se construir qualquer aparelho. Esta comunidade, como já mencionado, encontra-se numa reserva agrícola já há quatro gerações e, desde 2013, esta mesma área tornou-se reserva ecológica, dificultando ainda mais qualquer tipo de operacionalizção arquitetónica. Abaixo seguem alguns links onde encontram-se minunciosamente o trabalho realizado com a Comunidade Bairro, via o FU. WORKSHOP NOUTRA COSTA TRABALHOS REALIZADOS 10 3 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 LER COM ARTE Por meio da tarefa da Alfabetização Crítica, conforme já relatado, o Projeto Ler com Arte toma corpo na Comunidade Bairro com as aulas esporádicas das investigadoras e criadoras deste: Nair Azevedo e Ana Bruno. Este projeto proporcionou às educandas a possibilidade de trabalhar a alfabetização com outros registos. Proporcionou, também, às investigadoras que trabalhavam diretamente com a tarefa da Alfabetização Crítica, o conhecimento de novas pedagogias para o desenvolvimento da escrita e da leitura. O contacto com as obras de arte vem ao encontro com a relação homem-mundo, que sustenta o desenvolvimento de todo o processo de alfabetização do FU. A realidade da nossa “escola” foi um diferencial vivenciado pelas investigadoras educadoras que, usualmente, trabalham numa casa com infraestruturas adequadas. Abaixo segue um texto desenvolvido pelas investigadoras que explica um pouco do processo deste projeto. “Ler com Arte é um projeto de investigação-ação que toma a investigação como praxis (Lather 1986), e que tem a alfabetização de adultos como propósito central. A ação enquadra-se no conceito de literacia, entendido como a capacidade de compreensão e ação no mundo. A intervenção, de cariz voluntário, desenvolve-se em contexto não formal e alicerça-se na convicção de que uma prática transformadora (de ação e investigação) assume-se como compromisso ético, valorizando a cooperação, a negociação e reciprocidade que reforçam o sentido de empoderamento. Assim, Ler com Arte está impregnado (e contaminado) pela ideia da co-construção da pessoa, num processo que integra o outro na sua própria compreensão e realização. O projeto acolhe os habitantes de um bairro da freguesia de Sacavém, concelho de Loures. São, maioritariamente, mulheres de origem africana, em situação de desemprego ou trabalho precário. Têm fraco domínio da língua portuguesa, sendo o crioulo a língua de pertença e comunicação. Do ponto de vista conceptual, a metodologia do Ler com Arte é inspirada no pensamento de Freire (1979), pretendendo-se promover a construção de sentido partilhado, possibilitando a consciencialização das realidades externas e internas. Desse modo, aprender a ler e a escrever transcende o reconhecimento de letras e palavras, já que a leitura e escrita da palavra são instrumentos de leitura e representação do mundo (Freire & Macedo, 1987). Seguindo Freire, as palavras/temas geradores, emergem do diálogo do grupo e refletem as suas realidades históricas, culturais e sociais. Como suscitar a conversação e diálogo? Como promover a experiência dialógica (Freire, 1975)? Dewey (1934) sugere que só a arte permite a experiência (humana), devido ao cunho estético que ela transporta. A arte convoca a dimensão estética da literacia, facilitando a construção de um referencial simbólico importante ao pensamento e linguagem. Ao mesmo tempo, a experiência estética partilhada possibilita transcender o tempo e espaço de um quotidiano imediato. O envolvimento com a obra de arte e sua significação dá o pretexto para a construção de uma narrativa/texto de onde as palavras emergem, impregnadas de sentido. As palavras de Eliot ecoam: “We had the experience but missed the meaning / An approach to the meaning restores the experience in a different form” (Eliot, 1941). Da arte às palavras, da fala à escrita, do concreto à representação, da investigação à ação, assim é o caminho do Ler com Arte.”. Figure 89 - Ler com Arte - 2012 10 4 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 COZINHA COMUNITÁRIA Relato Comissão de Bairro Excerto da carta datada do dia 03 de dezembro à camara municipal de almada Numa atividade, entreprojetos, por nós desenvolvida no âmbito do projeto fronteiras urbanas, colaborámos com um workshop de arquitetura da universidade autónoma de lisboa – noutracosta. deste nasceu uma rede de apoio à ideia da cozinha comunitária. esta ideia veio maturando ao longo dos anos desde do movimento organização das mulheres das terras da costa (omt), agora sustentado por um projeto de arquitetura de autoria do ateliermob e projecto warehouse, os quais podem assegurar todas as questões técnicas e legais que ao projeto de arquitetura digam respeito. desta rede de apoio surge ainda o projeto da casa do vapor que cedeu madeiras e equipa de profissionais para a possível execução do projeto da cozinha comunitária. Face à criação desta sinergia, entendemos que é chegado o momento de recorrer à nossa autarquia, não somente para dar a conhecer este processo humano de colaboração local mas, especialmente, para solicitar a vossa ajuda neste processo. Figure 90 - Encontro Froteiras Urbanas e Atelier MOB - 2013 Este projeto realçou, ainda mais, a situação de injustiça social vivida pela Comunidade Bairro – a falta de água. Conforme relato acima, os arquitetos tiveram um papel fundamental na expansão em outro contexto desta real problemática local. O trabalho de desabrochar uma ideia local e transformá-la num projeto concretizável foi o maior trunfo deste EntreProjecto. Atelier MOB e Projeto Warehouse são os atuais responsáveis pela execução e concretização deste projeto. O projeto Casa do Vapor, desenvolvido no verão de 2013, doou as madeiras para a execução da mesma. Segue, abaixo, links para alguns trabalhos realizados neste âmbito. Trienal de Arquitetura – Crisis Buster – Cozinha Comunitária Facebook Cozinha Comunitária das Terras da Costa 10 5 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 OUTRACENA Figure 91 - Comunidade Bairro - Campo da Bola - 2012 Sílvia Franco Joana Vieira O trabalho do Projeto Fronteiras Urbanas tem-se centrado em processos educativos que se evidenciam ao longo do desenvolvimento de atividades pensadas em colaboração com os membros da comunidade, tal como a alfabetização de adultos. No entanto, o processo interativo e dialógico com a comunidade despertou a consciência de que os jovens desta comunidade carecem de um apoio mais direcionado e constante que o projeto não tem possibilidade de implementar por si só. Deste modo, nasce o EntreProjeto Outra Cena, com o objetivo principal de estimular os jovens na reflexão e na ação para a cidadania; incentivar o respeito e a valorização inter e intracultural; dinamizar movimentos colaborativos com instituições de cariz educativo e sociocultural; e promover dinâmicas de envolvimento comunitário com o espaço envolvente. Para a consecução dos nossos objetivos, estipulámos seis atividades, Arte Urbana, Fronteiras Dialogantes e Mediação Comunitária, InArtes, Desvend@r e Bastidores, criando momentos de diálogo e ação que estimularão um movimento de educação crítica a desenvolver com e pelos jovens locais. objetivos, estipulámos seis atividades, Arte Urbana, Fronteiras Dialogantes e Mediação Comunitária, InArtes, Desvend@r e Bastidores, criando momentos de diálogo e ação que estimularão um movimento de educação crítica a desenvolver com e pelos jovens locais. 10 6 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 CHICALA O investigador, doutorando em arquitetura, Paulo Moreira nos apresentou seu trabalho que está em plena fase de aplicação, num bairro de Angola – Chicala. Neste excelente trabalho de intervenção, o investigador, acima mencionado, propõe uma forma de categorização das casas assentadas no Bairro da Chicala, a qual nos pareceu pertinente estudar para reaplicar em nossa tarefa Cartografia Múltipla. Tal categorização sugere que as casas, num mapa cartográfico interativo, apresentem-se com o ano de nascimento dos moradores. Em nossa investigação, adaptamos o mesmo mapa cartográfico interativo mas com o ano de construção das casas assentadas nas Terras da Costa – Comunidade Bairro. Pudemos contar com a experiência do investigador Paulo Moreira, o qual se interessou pelo nosso estudo e desenvolveu um artigo, em conjunto com o Arquiteto Pedro Campos Costa – um dos mentores do EntreProjecto Noutra Costa. Tal artigo está indicado neste relatório, no capítulo Disseminação. Figure 92 - Paulo Moreira - 2012 Mostras do estudo efetuado por Paulo Moreira, onde nos baseamos: http://www.estudoprevio.net/artigos/16/paulo-moreira-.-pesquisa-participativa http://ecultura.sapo.pt/DestaqueCulturalDisplay.aspx?ID=2515&print=1 10 7 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 DISSEMINAÇÃO A disseminação do nosso projeto se deu, em harmonia com nossa prática de investigação, a três vozes. Procuramos, em todas as disseminações, contar com elementos das três comunidades para cada disseminação efetuada. Face a limitação financeira e a barreira da língua, em disseminação no exterior contámos apenas com a presença d e membros da Comunidade Académica. Porém buscámos parceria na construção das mesmas, obtendo filmes e/ou imagens com o discurso dos membros das outras duas comunidades. Ressalta-se que em uma das disseminações internacionais, comunicação oral feita online, obtivemos a preciosa tradução simultânea de uma das investigadoras Lia Laporta e, neste caso, pudemos contar com a presença de um membro de cada comunidade local na comunicação. O exercício da disseminação proporcionou, ainda, maior coesão entre os membros das três comunidades e fez com que todos nós pudéssemos reorganizar nossas estratégias de investigação durante nossa etnografia. PUBLICAÇÕES LIVRO ! ! ! ! FRONTEIRAS* URBANAS! ! IDEOLOGIA!DO!ESPAÇO! !!!!!! Textos!sobre!o!conceito!de!fronteiras!urbanas,!complementares!ou!divergentes,!!foram!reunidos!a!partir! de!um!estudo!etnográfico!critico!na!cidade!da!Costa!de!Caparica!–!Portugal.!! ! 10 8 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ! FRONTEIRAS* URBANAS! IDEOLOGIA!DO!ESPAÇO! Periferia! ! Poema!de!Ana!Viana!na! PREFÁCIO! ! FRONTEIRAS*URBANAS! Mônica(Mesquita( O"TERCEIRO"MUNDO"EUROPEU"! Alexandre(Pais( ( FRONTEIRAS!URBANAS! orelha!do!livro! Ubiratan(D’Ambrosio(( ! TRANS"INTER"MULTI"CULTURALIDADE)–!A" POESIA'COMO'LUGAR&DE&MEDIAÇÃO! Ana(Paula!Caetano! BAIRROS'INVISÍVEIS:'(IN)JUSTIÇA' ESPACIAL!E"PLANEAMENTO"DO"TERRITÓRIO! Filipa(Ramalhete( DA#COSTA#DAS#PESCARIAS#À#COSTA#DE# CAPARICA! Francisco(Silva( ! ! 10 9 ! ! 1! FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ! DA#ETNOGRAFIA#À#ETNOGRAFIA#CRÍTICA:# MOVIMENTOS)EMANCIPATÓRIOS)NA) CONSTRUÇÃO*DE*COMUNIDADES! Isabel(Freire( ! DIREITOS(DE(ACESSO(E(O(ACESSO(AOS(DIREITOS! Lia(Laporta!! TEMPORALIDADES,URBANAS! ! FRONTEIRAS!URBANAS! Nuno(Vieira( Sílvia(Franco( POSFÁCIO! José(Pedro(Martins(Barata(( ! ! 2! ! 11 0 Poema!do!!Guilhermer!! na!orelha!!fiinal!do!livro! ! DIÁLOGO'ENQUANTO'CATEGORIA'POLÍTICA! ! ! Poemas! FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 CAPÍTULO DE LIVRO Caetano, A. P. and Freire, I. (2013). Identités et pratiques culturelles dans un projet d'éducation communautaire. In Louis Basco (dir.), Être… des valeurs aux pratiques culturelles. Paris: L'Harmatan. Mesquita, M.; Ramalhete, F.; Caetano, A. & François, K. (in press). Anthropology of Space and the Urban Boundaries: a study centred in the communitarian education. In David Shankland (Ed.), Anthropology in the World. London: Royal Anthropological Institute Ed. Pais, A. (2013). Kulturens Grensen. In A. Fyhn (Ed.), Kultur og matematikk (pp. 113136). Bergen, Norway: Caspar Forlag. ARTIGO EM REVISTA CIENTÍFICA Freire, I. and Caetano, A. P. (2013). Mediação em contexto comunitário. Etnografia crítica de um caso. Revista de Médiación La Trama. Mesquita, M. (2013). The Freedom of Knowledge: Asphalt’s Academic and Children in the Academic Situation. Revista Latinoamericana de Etnomatemática: Perspectivas Socioculturales de la Educación Matemática, Vol 06 (3). Mesquita, M., Pais, A. & François, K. (no prelo – 10 de Novembro 2013). Communitarian mathematics education: Walking into boundaries. Em Teia – Revista de Educação Matemática e Tecnológica Iberoamericana, Vol Especial. Pais, A. (2012). A investigação em etnomatemática e os limites da cultura [The research in ethnomathematics and the limits of culture]. Reflexão e Ação, 20(2), pp. 32-48. Pais, A. (2013). An ideology critique of the use-value of mathematics. Educational Studies in Mathematics. 84(1), pp. 15-34 Pais, A. (2013). Ethnomathematics and the limits of culture. For the Learning of Mathematics, 33(3), pp. 2-6. Pais, A., & Mesquita, M. (2013). Ethnomathematics in non-formal educational settings: the Urban Boundaries project. Revista Latinoamericana de Etnomatemática, 6(3), pp. 45-56. François, K., Pinxten, R., & Mesquita, M. (2013). How anthropology can contribute to mathematics education. Revista Latinoamericana de Etnomatemática, 6(1), pp. 20-39. http://www.revista.etnomatematica.org/index.php/RLE/article/view/53 11 1 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ARTIGO EM ATA CIENTÍFICA Caetano, A.; Freire; I. & Mesquita, M. (2013). Mediation in a Communitarian Education Project. 9th International Conference European Research Network about Parents in Education – ERNAPE. Scribd Book, p. 10. http://pt.scribd.com/doc/143381162/Abstracts-A4 Franco, S. (2013). Education, research, participation and citizenship: reflections on social visibility/ invisibility. In: 12TH CONFERENCE "EUROPEAN CULTURE". Barcelona, Spain. Franco, S. (2011). Ethnomathematics: An Intercultural Dialogue. In: ALM 18 Mathematical Eyes: A Bridge between Adults, the World and Mathematics. Dublin, Ireland. Freire, I. and Caetano, A. P. (2013). Curriculum Trivium e Mediações num projecto de Educação Comunitária. In: I Colóquio Cabo-Verdiano de Educação. Universidade de Cabo Verde – Praia/Cabo Verde. Mesquita, M.; Ramalhete, F.; Caetano, A. & François, K. (2012). Anthropology of Space and the Urban Boundaries: a study centred in the communitarian education. Proceedings of the Conference: Anthropology in the World, British Museum, Clore Centre, London: 8th To 10th June 2012, pp.41 – 41. Mesquita, M; Laporta, L.; Carvalho, D. & Galinho, L. (2013). NO WATER! Real contradictions among Rights, Survival, an Local Politics through the eyes of ethnographers from the Urban Boundaries Project. 5th Annual World Town Planning Day Online Conference. 6th to 7th, November, 2013. http://www.planningtheworld.net/World_Town_Planning_Day_Online_Conference/Program.html Pais, A. (in press). Os limites da cultura. In Actas do IV Congresso Brasileiro em Etnomatemática. Belém, Brazil Pais, A. and Mesquita, M. (2012). The Urban Boundaries project: Towards an emancipatory educational policy. In Proceedings of the 40th Annual Congress of the Nordic Education Research Association (p. 332). Department of Education, Aarhus University, Copenhagen, Denmark. Pais, A. and Mesquita, M. (in press). Ethnomathematics in non-formal educational settings: The Urban Boundaries Project. To appear in Proceedings of the 12th International Congress on Mathematics Education. Seoul, Korea. Pais, A. (2013). The Materiality of Exclusion and the Ideology of Research. Proceedings of the American Educational Research Association Annual Meeting. USA: AERA Books (American Educational Research Association). Ramalhete, F. and Mesquita, M. (2013). From invisibility to full citizenship: a bottomup movement for urban rights. Conference Rethink Participatory Cultural Citizenship – 11 2 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Aarhus University, Denmark: 14th to 16 November, 2013. Ramalhete, F. (2013). Spatial (in)justice and spatial planning: considerations on two case studies in the municipality of Almada. In CORREIA, Teresa Pinto; HENRIQUES, Virgínia; JULIÃO, Rui Pedro. IX Congresso da Geografia Portuguesa – Geografia: Espaço, Natureza, Sociedade e Ciência. Lisboa. Associação Portuguesa de Geógrafos. 547-551. ISBN 978-972-99436-6-9. Vieira, N. (2013). The Oppressor School Time. Acta Universitatis Danubius. Relationes Internationales, 6(4), 106-107. ARTIGO EM REVISTA Mesquita, M. (2013). Projeto Fronteiras Urbanas. In Educação Social em Portugal – Boletim Informativo da Associação Promotora da Educação Social - Repórter APES. Fevereiro, Nº 03, pp 09 – 14.http://pt.calameo.com/read/00231941142cb146994df Moreira, J. and Mesquita, M. (2013). Arte na Rua. In ALMADAFORMA – Revista do Centro de Formação da Associação de Escolas de Almada. Maio, Nº 01, pp 16 – 17.http://issuu.com/almadaformarevista/docs/almadaformaartes Silva, Francisco. (2013). Breve História da Costa de Caparica. In Actas 1º Encontro Sobre Património de Almada e Seixal. Almada: Centro de Arqueologia de Almada, pp.39-43. COMUNICAÇÃO ORAL Caetano, A.P.; Freire, I. & Mesquita, M. (2013). Mediation in a Communitarian Education Project. In: 9th International Conference ERNAPE. Universidade de Lisboa: Lisbon. 4th-6th September. Franco, S. (2013). Education, research, participation and citizenship: reflections on social visibility/ invisibility. In: 12TH CONFERENCE "EUROPEAN CULTURE". Barcelona, Spain. Freire, I. and Caetano, A. P. (2013). Curriculum Trivium e Mediações num projecto de Educação Comunitária. In: I Colóquio Cabo-Verdiano de Educação. Universidade de Cabo Verde – Praia/Cabo Verde. 3 e 4 de Julho. Freire, I. and Caetano, A. P. (2013). Mediação e Educação Comunitária. In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 - !comunicao-oral/cma1 11 3 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Mesquita, M.; Caetano, A. P.; Ramalhete, F. & François, K. (2012). Anthropology of Space and the Urban Boundaries: a study centred in the communitarian education. In Anthropology in the World, Royal Anthropological Institute / British Museum Centre for Anthropology. 8-10th June 2012. Mesquita, M; Laporta, L.; Carvalho, D. & Galinho, L. (2013). NO WATER! Real contradictions among Rights, Survival, an Local Politics through the eyes of ethnographers from the Urban Boundaries Project. 5th Annual World Town Planning Day Online Conference. 6th to 7th, November, 2013. http://www.planningtheworld.net/World_Town_Planning_Day_Online_Conference/Program.html Mesquita,M. and Carvalho; D. (2013). Educação Comunitária, política local da água e as Fronteiras Urbanas. In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 !comunicao-oral/cma1 Pais, A. and Mesquita, M. (2012). The Urban Boundaries Project: Towards an emancipatory educational policy. NERA – Northeastern Research Association-40th Congress, http://www.nfpf.net/, Copenhagen / Denmark. Pais, A. and Mesquita, M. (2012). Ethnomathematics in non-formal educational settings: The Urban Boundaries Project. International Congress of Mathematics Education 12, http://www.icme12.org/, Seoul / Korea. Pais, A. and Mesquita; M. (2012). Urban Boundaries Project: Mathematics and the struggle for survival. International Congress of Mathematics Education 12, http://www.icme12.org/, Seoul / Korea. Ramalhete, F. and Laporta, L. (2013). Cartografia nas Fronteiras Urbanas: empoderamento de comunidades locais. In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 - !comunicao-oral/cma1 Ramalhete, F. and Mesquita, M. (2013). From invisibility to full citizenshio: a bottomup movement for urban rights. In: Conference Rethink Participatory Cultural Citizenship – Aarhus University, Denmark. Vassalo, S. and Caetano, A.P. (2013). O director de turma enquanto mediador de experiências de educação intercultural: a voz do 6ºB. In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 - !comunicao-oral/cma1 Vieira, J. and Franco, S. (2013). Alfabetização Crítica: Vidas e encontros nas Fronteiras Urbanas. In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 - !comunicao-oral/cma1 11 4 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 PALESTRA, WORKSHOP e MESA REDONDA Almeida, E.; Freire, I. & Franco, S. (2013). (Dinamizadoras). Kriolu, Amílcar Cabral e Paulo Freire. Círculo de Cultura In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho Barros, R. and Belchior, M. (2013). (Dinamizadoras). Educação Social. Círculo de Cultura iIn: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho Caetano, A. P. (2013). (Dinamizadora). Amor, cultura e educação: caminhos de liberdade. Participantes: João Moreira, Mª do Carmo Domite, João Crisóstomo, Miriam Agostinho, Lucília Valente. Mesa redonda In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!mesaredonda/c2zq. 01 de Agosto. Fernandes, F.; Ramos, M. & Sarreira, P. (2013). (Dinamizadores). Água e Direitos Humanos. Círculo de Cultura In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho Franco, S. (2013). (Organizadora). Batuko: Nos Herança. Convidados: Grupo Nos Herança. Workshop In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!workshops/ct67. 30 de Julho Freire, I. (2013). (Dinamizadora). Movimentos Políticos, Educação e Comunidades: Emancipação, Transformação e Civilidade. Participantes: Lídio Galinho, Tomás Patrocínio, Naurides Camargo, João Queiroz, Luísa Teotónio Pereira. Mesa redonda In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!mesaredonda/c2zq. 30 de Julho. Galinho, C. and Vieira, J. (2013). (Dinamizadoras). Mulher, Cultura e participação Activa. Círculo de Cultura In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho. Marques, R. and Pais, A. (2013). (Dinamizadores). Atravessar fantasmas. Círculo de Cultura In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho. Mesquita, M. and Pacheco, S. (2012). Workshop de Fotografia: Projecto Fronteiras Urbanas. Centro Comercial dos Pescadores. Sla da Associação A MAR A COSTA. (05 de Maio). 11 5 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Mesquita, M. & Carvalho, D. (2012). Projeto Fronteiras Urbanas: a dinâmica de encontros culturais na Educação Comunitária. Semana Aprender – II Encontro de Educação e Formação de Adultos. Lisboa / Portugal. Mesquita, M. (2012). EntreProjectos: Urban Boundaries and the Noutra Costa Workshop. Noutra Costa Workshop. Universidade Autónoma de Lisboa – Architecture Department. http://www.universidade-autonoma.pt/Workshop-Noutra-Costap1111.html Lisboa / Portugal. (9 de Novembro). Mesquita, M. (2013). Urban Boundaries and Love: The emergency of the Communitarian Education in a transcultural and transdisciplinar movement. The day of the Social Education Course, Universidade do Algarve – ESEC. http://www.drealg.net/images/programa-ualg-esec2.pdf. Faro / Portugal. Mesquita, M. (2013). Diá Logos. Participantes: Ubiratan D’Ambrosio, José Pedro Martins Barata, Paulo Borges, Mª do Carmo Domite e Ana Paula Caetano. In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!di-logos/c1mkf. 01 de Agosto. Mesquita, M. (2013). Lisbon Architecture Triennal. Invited speaker at the Real and Other Fictions - the Universal Declaration of Urban Rights project – theme: Transparency and open data (12 de November). http://www.closecloser.com/en/programme/the-real-and-other-fictions/the-universal-declaration-ofurban-rights Mesquita, M.; Galinho, L.; & Carvalho, D. (2013). Ex-Invisíveis: A importância do Educador (Social) no processo de emancipação, transformação e civilidade. V Encontro dos Técnicos Superiores em Educador Social – Universidade Católica do Porto – Associação Promotora de Educação Social (16 de Novembro). Porto / Portugal. Mesquita, M. and ANONYMAGE. (2013). Workshp de Fotografia e Vídeo: Projeto Fronteiras Urbanas. Terras da Costa (16 à 16 de Dezembro). Pedro, M. and Laporta, L. (2013). (Dinamizadores). Pesca: Sustentabilidade e Sociedade. Círculo de Cultura In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho Pereira, C. (2013). (Organizadora). Tranças Afro. Convidada: Elisãngela Almeida. Workshop In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!workshops/ct67. 30 de Julho Ramalhete, F. (2013). (Dinamizadora). Espaço, Participação Pública e Fronteiras Urbanas. Participantes: Durval Carvalho, Mª Cecília de Paula Silva, Madalena Victorino, Paulo Pardelha, Pedro Campos Costa. Mesa redonda In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!mesaredonda/c2zq. 31 de Julho. 11 6 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Ramalhete, F. (2013). Lisbon Architecture Triennal. Invited speaker at the Real and Other Fictions - the Universal Declaration of Urban Rights project (24 de Setembro). http://www.close-closer.com/en/programme/the-real-and-other-fictions/theuniversal-declaration-of-urban-rights Santos, M. (2013). (organizadora). Direito de Aprender. Círculo de Cultura In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho Silva, F. (2013). (Organizador). Rede de Arte Xávega. Convidados: Mário Pedro. Workshop In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!workshops/ct67. 30 de Julho Vieira, J. (2013). (Organizadora). Dança Cigana. Convidados: Grupo Costa de Caparica – Paula Marques. Workshop In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!workshops/ct67. 30 de Julho Vieira, N. (2013). (Organizador). Aprender a tocar Didgeridoo. Convidado: Rodrigo Viterbo. Workshop In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!workshops/ct67. 30 de Julho POSTER E OBJECTO DIGITAL Laporta, L. and Mesquita, M. (2012). Three “Ethnos” at Urban Boundaries Project: Ethnobiology, Ethnomathematics, Ethnography lived in two local communities. Poster apresentado no 13th Congress of the International Society of Ethnobiology, Montpellier / França. Laporta, L. and Mesquita, M. (2013). E “etnos”: Etnobiologia, Etnomatemática e Etnografia vivida em duas comunidades locais. Poster apresentado no Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!poster-objectodigital/csn2 Pereira, C.; Afonso, S. (2013). Alfabetização em Movimentos Populares: A luta pela concretização. Objecto Digital apresentado no Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!poster-objectodigital/csn2 11 7 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 JORNAL FRONTEIRAS URBANAS O Jornal Fronteiras Urbanas foi pensado em 2012 em conjunto com membros das comunidades envolvidas no FU, com o objectivo de dar a conhecer o trabalho local realizados por estas três comunidades. Como não foi contemplado em candidatura, logo que imprimimos o primeiro número, constatámos que seria impossível fazer outras edições sem apoio financeiro para o mesmo. No momento da criação da primeira edição estávamos em plena fase etnográfica e com uma inserção ao campo de natureza profunda, o que nos impediu de delinearmos a solução para este obstáculo. Quando acabámos as fases etnográficas previstas em candidatura, percebemos que as próprias comunidades solicitavam que permanecêssemos por mais um tempo em campo e, sendo assim, solicitámos a extensão do FU à Fundação para a Ciência e a Tecnologia e conseguimos, nesta quarta fase etnográfica – dentro da atividade Escola do Bairro, trabalhar em novas edições de forma intensa, acompanhando o ritmo desta atividade. Ressalta-se que os custos dos mesmos foram suportados pelos próprios investigadores. Este veículo de disseminação tem se revelado um veículo de mediação e transformação local, fazendo com que comecem a destacar líderes locais dispostos a seguirem com este Jornal mesmo quando o FU acabar. Destaca-se a presença brilhante do poeta local da Comunidade Bairro – Guilherme Brito, que poderão constatar com seus contributos na terceira e quinta edição deste veículo de comunicação e que tem sido peça chave na manutenção e continuação do nosso jornal. Da segunda edição em diante nota-se, claramente, a participação de colaboradores e simpatizantes do FU, num movimento convergente e consciente das necessidades, direitos e deveres das comunidades envolvidas em nossa investigação. 11 8 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Edição 1 Abril 2012 FRONTEIRAS URBANAS COMUNIDADES BAIRRO PISCATÓRIA ACADÉMICA ÁGUA EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA VOZ ENFIM JUNTOS... ...delineando actos, partilhando desejos e discutindo intensões FRONTEIRAS URBANAS: A dinâmica de encontros culturais na educação comunitária SUMÁRIO O Projecto Fronteiras Urbanas XVIII, é um dos maiores centros multiculturais de Portugal e tem apresenta-se como um movimento vindo a desenvolver-se centrada em etnográfico crítico centrado no desenvolvimento de uma política duas comunidades de base: a piscatória e a agrícola. A zona educativa emancipatória por meio da observação participante de costeira da freguesia de Caparica, designada por Costa, foi conhecimentos presentes em desenvolvida por duas companhas comunidades multiculturais. Este movimento é fruto da continuação de pescadores oriundos de Ílhavo e de Olhão – regiões a Norte e a Sul de pequenos projectos de intervenção e de investigação que de Portugal, respectivamente. A área de terras na base da Arriba decorreram em duas comunidades Fóssil, designada por Terras da da cidade da Costa de Caparica, localizada em Portugal, na margem Costa, foi desenvolvida pela comunidade agrícola e, sul do Rio Tejo - margem oposta à capital Lisboa, tendo como limites actualmente, encontra-se ocupada pela população de imigrantes geográficos o mar e a Arriba Fóssil. oriundos dos Países de Língua A Costa de Caparica, cujo povoamento remonta ao século Portuguesa, pela comunidade cigana e por migrantes portugueses. [1] 11 9 LOGO DO PROJETO O artista plástico João Moreira,que tem estado no Movimento Fronteiras Urbanas desde o seu início, produziu esta imagem para representar o nosso projecto. FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 FRONTEIRAS URBANAS Alfabetização Crítica Histórias de Vida Cartografia Múltipla espaços reconhecidos como de PRETENDEMOS Este projecto pretende fazer ouvir as vozes multiculturais, encontradas nessas duas comunidades locais (Comunidade Piscatória e Comunidade das Terras da Costa), por via de uma etnografia crítica. Este processo de busca e compreensão nas dimensões intra e intercultural é essencial para aclarar os processos educativos desenvolvidos nas comunidades locais, indo ao encontro educação, num processo de valorização do conhecimento centrado na forma, reais organização e gestão de situações expectativas de se minimizarem diferenciadas e interactivas de aprendizagem, que as novas tecnologias de informação e comunicação não só iniquidades e violações da dignidade humana como primeiro passo para a justiça social. facilitam como exigem. Neste modelo curricular, entende-se currículo de uma forma abrangente PROPOMOS como a estratégia de acção educativa, Assim sendo, o desenho que possibilita o domínio equitativo de das necessidades locais definidas pelos fundamental deste projecto enquadra-se conhecimentos necessários para uma seus membros, e para o reconhecimento na percepção das estratégias da acção sobrevivência activa e participativa, indo “simbólico” dessas comunidades pela educativa dentro dessas duas além do ler, escrever e contar, através de sociedade como um todo, com o intuito comunidades multiculturais, buscando uma visão crítica dos instrumentos. de serem percebidas como parte organizar parâmetros para um currículo Apresenta-se, assim, uma proposta de integrante e actuante na diversidade de educação intercultural assentados na compreensão do currículo através de cultural que representam e na realidade sociocultural e económica uma observação focada nos hegemonia urbana em que estão dessas comunidades. instrumentos comunicativos (literacia), inseridas geograficamente. Duas comunidades locais que se Propomos o Currículo Trivium, nos instrumentos analíticos (materacia) e desenvolvido por Ubiratan D’Ambrosio, nos instrumentos materiais (tecnoracia). asseguram pelo comum de serem na busca de reforçar a cidadania plena incomuns à sociedade maior na qual co- nesta época inegável de encontros e mútuo de investigadores com menos habitam, e por serem constituídas na confrontos culturais e de proporcionar experiência em investigação nesta área diversidade cultural, vêm manifestar-se instrumentos de sobrevivência numa do conhecimento reforça a coerência da neste projecto como investigadores das sociedade onde os valores e a ética são dinâmica de encontros culturais aqui suas próprias práticas educativas e conceitos determinantes para este proposta. Novos investigadores, cada como construtores activos dos recursos reforço. Um novo conceito de currículo, um em seu novo papel, tecem uma rede e instrumentos que estão na base da baseado em literacia, materacia e de perspectivas, intenções, observação aqui proposta. A intervenção tecnoracia: (1) faz salientar os necessidades, acções e produções que dos membros das comunidades locais conhecimentos presentes nas vão fortalecer o carácter interventivo de em simbiose com as intervenções comunidades locais, por meio de cada participante (membros das dialógicas nos próprios campos de instrumentos de sobrevivência nos quais comunidades locais/membros da acção define uma observação as dimensões diversidade e globalização comunidade científica) na sua respectiva participante. convergem, explicitando e discutindo as comunidade, o reconhecimento da contradições nelas existentes, (2) nossa igualdade legal e o entendimento reflexões que até agora têm sido feitas a garante um currículo global que mantém de processos educacionais ocultos nível dos encontros culturais dentro dos a diversidade cultural, e (3) torna, desta noutras formas de investigação. Este projecto surge em resposta às Neste movimento, um crescimento INVESTIGADORES Nuno Vieira CINEASTA Mónica Mesquita (IR) Francisco Silva Spieel Pacheco Filipa Ramalhete Sílvia Franco Ana Paula Caetano Lia Laporta COLABORADORES João Moreira Carlos Sequeira CONSULTORES Joana Vieira Isabel Freire José Pedro Barata José Castro Alexandre Pais Ubiratan D’Ambrosio Renan Laporta Alek Rodrigues FOMENTO FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA 12 0 SUPORTE APOIO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE DE LISBOA [2] ASSOCIAÇÃO A MAR A COSTA FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Edição 2 Nº2 - Outubro 2013 – Edição de Catarina Pereira e Sílvia Franco COMUNIDADES: BAIRRO PISCATÓRIA ACADÉMICA ÁGUA EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA VOZ ENFIM JUNTOS... ...delineando atos, partilhando desejos e discutindo intenções Imagine que vive numa cidade… E não tem água canalizada… Imagine como seria a sua vida. Como é que faria para tomar banho, lavar a loiça, lavar a roupa, limpar a casa, preparar refeições?... E onde iria buscar a água? Imagine que tem de caminhar por uma estrada de terra quando quer sair de casa. E ficar com os pés cheios de lama no Inverno, e cheios de pó no verão. Bem de manhã cedinho, quando vai para o trabalho. Já imaginou passar o dia inteiro assim? Imagine que os seus filhos vão para a escola de manhã sem a possibilidade de tomar um banho… e que são alvo de repulsa por parte dos coleguinhas e dos professores? Imagine também aqueles dias em que o universo parece conspirar contra nós e que tudo corre mal… todos nós temos um dia desses de vez em quando! Imagine que nesse dia, no caminho para casa, apanha uma enorme chuvada e que fica encharcado! O que lhe apetece? Chegar a casa, despir a roupa, tomar um duche quentinho, relaxar e pensar que amanhã será outro dia, não é? Mas imagine que nesse dia, antes disso, tem de ir buscar água a uma fonte, carregá-la uma boa distância, esperar que aqueça no fogão e depois… Tem de poupar essa água para que chegue para tudo o que precisa… Parece um pouco cruel, não parece? Como será viver assim? Nos dias 30, 31 de Julho e 1 de Agosto, deu-se o Encontro entre as três entidades que dinamizam o Movimento “Água nas Terras da Costa Já!” A Associação Promotora da Educação Social esteve presente no Fórum Fronteiras Urbanas - Encontro APOCOSIS 2013, e conheceu os moradores da Comunidade Terras da Costa, que vivem dessa forma que é tão difícil de imaginar… Apesar dos constantes apelos às autoridades locais, mais de 400 pessoas vivem em plena zona urbana sem água canalizada, nem saneamento básico, há mais de 30 anos. Os testemunhos na primeira pessoa indignam e revoltam. “No primeiro dia no Jardim de Infância, quando pediram aos meninos para lavar as mãozinhas, o meu filho começou a procurar o balde. O meu filho não sabia navegar numa torneira” “Eu tenho vergonha quando apanho o autocarro no Inverno. Tento sempre esconder os pés para as pessoas não verem a lama…” Estes são alguns dos testemunhos que se podem ouvir quando se visita o Bairro. Poderão certamente existir alguns casos de violência e criminalidade (como infelizmente acontece em todos os lugares e estratos sociais do nosso país e do mundo), mas o facto é que somos recebidos por pessoas encantadoras que nos abrem as suas humildes casas, e nos mostraram como se “desenvencilham“ no dia-a-dia sem torneiras. É difícil ficar indiferente quando se conhece uma realidade destas, em Portugal, numa zona Urbana! Assim, a APES uniuse em parceria com o Projeto Fronteiras Urbanas, que trabalha há vários anos com a Comunidade, e com a Comissão de moradores da Comunidade Terras da Costa, no sentido de denunciar e dar voz a quem é considerado invisível. Poderão também, todos os que considerarem justa a luta por um direito humano que é negado sem qualquer justificação, juntar-se a nós, aderindo ao grupo criado no facebook para o efeito: Grupo “Água nas Terras da Costa Já! https://www.facebook.com/groups/208185572672916/ Porque ter conhecimento não basta, é necessário envolvermo-nos e lutarmos juntos, a nível coletivo e a nível individual, para que se cumpram os Direitos Humanos! Junte-se a nós! Não fique indiferente! Clara Inácio, APES 12 1 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Educação: um direito para todos! O Bairro é constituído por mais de 400 pessoas sendo muitas delas jovens! Jovens que pelas suas mais diversas razões abandonaram os estudos, porém desejam continuar, pois como todos os jovens da sua idade possuem sonhos, desejos e ambições. Segundo o Artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948: Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no mérito. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. Como é afirmado, todo o ser humano tem direito à educação!!! Porém, a luta pela inserção escolar tem sido um processo bastante complicado. Durante o desenvolvimento do Projeto Fronteiras Urbanas tomámos conhecimento de que muitos dos jovens presentes na comunidade desejavam poder voltar a estudar! No entanto, o nível de escolaridade com que haviam abandonado a escola, bem como as dinâmicas de receção em determinadas instituições escolares tornavam o retorno bastante complicado. Todavia os jovens interessados não cruzaram os braços e solicitando o apoio do Projeto Fronteiras Urbanas procuraram afincadamente uma escola que lhes permitisse voltar a estudar! Como a esperança é sempre a última a morrer, ao fim de algum tempo de pesquisa intensiva, encontrámos o Centro de Formação de Setúbal! Este centro demonstrou grande disponibilidade para aceitar os jovens que detém uma forte vontade de poder voltar a estudar. Deste modo, alguns jovens já se encontram matriculados neste centro, estando bastante contentes com o seu desempenho e com elevados projetos para o futuro. Catarina Pereira Batuko na Trienal de Arquitetura de Lisboa No dia 28 de setembro de 2013, um grupo de talentosas senhoras caboverdianas foram à Trienal de Arquitetura de Lisboa. Foram ao Palácio de Pombal, na Rua do Século, no Bairro Alto, em Lisboa, apresentar uma pequena peça de Batuko, onde foram recebidas por pessoas de várias nacionalidades. Batuko é uma música tradicional de Cabo Verde em que as pessoas cantam e dançam, tocando um pequeno instrumento duro e barulhento feito pelas mesmas. Presentemente o Batuko só se encontra na ilha de Santiago em Cabo Verde e é no Tarrafal onde se vive com mais intensidade este género musical, mas há indícios de que já existiu em todas as ilhas de Cabo Verde. Batuko é sentimento e alegria, é paz e amor, é tudo o que sentimos dentro de nós. Quem não sabe o que é o Batuko, basta parar e escutar e percebe tudo. Elisiane Tavares, 10 anos INVESTIGADORES: Mônica Mesquita (IR) Filipa Ramalhete Ana Paula Caetano Isabel Freire Alexandre Pais Nuno Vieira Francisco Silva Sílvia Franco Lia Laporta Joana Vieira 12 2 PRODUTOR DE AUDIOVISUAIS Vítor Gabriel CONSULTORES José Pedro Barata Ubiratan D’Ambrosio COLABORADORES João Moreira Catarina Pereira Carlos Sequeira José Castro Renan Laporta Alek Rodrigues Elisiane Tavares Clara Inácio FINANCIADO POR: SEDIADO EM: FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA APOIADO POR: ASSOCIAÇÃO ALA-ALA COMISSÃO DO BAIRRO TERRAS DA COSTA FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Edição 3 Nº3 - Novembro 2013 – Edição de Catarina Pereira e Sílvia Franco COMUNIDADES: BAIRRO PISCATÓRIA ACADÉMICA ÁGUA EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA VOZ ENFIM JUNTOS... ...delineando atos, partilhando desejos e discutindo intenções novo rumo Refletir sobre a realidade que nos envolve sempre nos constrange, mas também nos impulsiona a lutar e a aceitar desafios. Desafios esses que alimentam as nossas histórias e caminhos dentro das nossas comunidades e localidades. Onde os quês e os porquês perduram, faltando respostas ou obtendo, apenas, respostas insuficientes ou pouco claras, porém com ou sem esta incógnita fazemos a nossa parte. Foi neste sentido que compartilhámos, no Parlamento dos Direitos Urbanos, factos, experiências, opiniões, pensamentos… Cada um se expressou e se fez ouvir. Vozes do silêncio e do anonimato, vozes de confiança, de prudência e de mudança! Não aceitamos um destino cego! O ideal seria que a justiça de uns trouxesse consigo a justiça de outros. Queremos olhar olhos nos olhos e projetar nossas luzes, ignorando as fronteiras do complexo, desenvolvendo e preenchendo os espaços vazios. Lacunas onde situações e circunstâncias carecem de melhor atenção, de estruturas e de recursos essenciais ao bem-estar de cada um. Do possível ao impossível que haja oportunidades, possibilidades de potencializar nossas aptidões. Obrigado àqueles que têm feito por isso, que não encolhem os ombros e levantam a cabeça despertando a consciência de que é hora de acordar. Continuemos, pois, a abrir poços, porque um dia a água há-de jorrar, água de alegria e de justiça, água que nos faz falta tanto na pele como no coração. O alvo pode estar longe, mas já o vejo. Não somos um submarino que se esconde em águas profundas, é na superfície que respiramos melhor, que vimos e somos avistados sem precisar de acenar, apenas estar naturalmente com equilíbrio, de acordo com a nossa origem, cultura e identidade. O resto são status, indústrias e interesses… Infelizmente, até com as melhores das intenções, todos vivemos num sistema conveniente e convincente, para que a transparência não seja demasiado límpida senão, como nas águas do mar, os peixes fogem e não conseguimos pescar nada. Damos valor àquilo que podemos ter em consciência da realidade que nos rodeia! 12 3 Daniel Miranda FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Durval Carvalho em entrevista Saudades do escudo (de Portugal) Querendo ou não, a minha vida é controlada e dirigida por este nome outrora desconhecido, “ o Sr. Euro “. Mas afinal como as coisas mudam! No meu tempo chamava-se escudo, era uma moeda forte, pois, lembro-me que com ele conseguia juntar algum pecúlio, o meu frigorífico dizia-me para não abarrotar mais. Com ele fiz muitas coisas boas, e como essas ficaram indelevelmente gravadas no meu imaginário, então tenho saudades. Dois magníficos homens chamados Durval e Lídio foram fazer uma palestra na Universidade Católica do Porto, falaram da falta de água, da Alfabetização Crítica e da magnífica cozinha comunitária que irão construir no Bairro das Terras da Costa de Caparica. Tenho saudades da minha conta bancária, das viagens que fazia, o Sr. escudo nunca me proibiu quase nada já que era melhor ter pouco do que quase nada. Mas por ironia do destino, ou quiçá, incompetência dos que dirigem os nossos bolsos, resolveram, sem o meu consentimento, trocar-lhe o nome. E não é então que passaram a chamá-lo do Sr. euro? Deram-lhe um nome que ainda muitos não conseguem interiorizar bem. Graças a ele passo agora carências impensáveis, que não imaginava no tempo do escudo. Que saudades de ti, meu velho amigo!... Agora com esta crise do Euro, até os que o defenderam já o querem abandonar! Meu caro inimigo, que saudade do teu rival, aliás, do meu amigo escudo! SAUDADES Anseio o teu regresso Fico de sentinela Vou-te dar um nome Para vergonha da Europa Não será o euro. Tenho saudades de ti O meu frigorífico também Vou orar que chegues depressa Que não despeças os teus criadores Que finjas que o teu nome será eterno. O teu nome trará um sorriso O sol brilhará Esqueceremos a palavra carência De verdade Será realidade. Que saudades de ti Camarada escudo! O teu nome será eterno Para vergonha dos que te abandonaram Serás chamado benvindo escudo! Guilherme Brito INVESTIGADORES: Mônica Mesquita (IR) Filipa Ramalhete Ana Paula Caetano Isabel Freire Alexandre Pais Nuno Vieira Francisco Silva Sílvia Franco Lia Laporta Joana Vieira 12 4 PRODUTOR DE AUDIOVISUAIS Vítor Gabriel CONSULTORES José Pedro Barata Ubiratan D’Ambrosio Durval: Foi um projeto chamado Fronteiras Urbanas, esse projeto sente um calor humano, muito interesse, bons contactos e visibilidade aos seus movimentos e à necessidade do Bairro. O Bairro está a pedir um chafariz que é um bem primordial. Agora na fase 1, dizem estar numa negociação com a Câmara Municipal de Almada, mas ainda estão em dúvida. O Bairro também tem um campo que é para as crianças conviverem, com isso reapareceu a ideia, que já tinha surgido há muito tempo, de fazer um espaço melhor para as crianças brincarem. Neste Bairro, existem cerca de 110 casas e cerca de 450 pessoas e, por isso, acham todos que a cozinha comunitária dará melhores condições ao Bairro. Parece que o material está numa casa chamada Casa do Vapor. Com essas mudanças, o Bairro irá transformar-se em algo diferente. O Bairro acha que esta cozinha comunitária não servirá só como ajuda para melhorar o Bairro, como também servirá para assegurar a alimentação às crianças. Vão nascendo mais e mais crianças e com isso o Bairro vai tendo mais alegria. A cozinha comunitária não servirá só para conviver como também para alegrar cada dia! Mónica Brito, 10 anos COLABORADORES João Moreira Catarina Pereira Carlos Sequeira José Castro Renan Laporta Daniel Miranda Mónica Brito Guilherme Brito FINANCIADO POR: SEDIADO EM: FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA APOIADO POR: ASSOCIAÇÃO ALA-ALA COMISSÃO DO BAIRRO TERRAS DA COSTA FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Edição 4 Nº4 - Dezembro 2013 – Edição de Catarina Pereira e Sílvia Franco COMUNIDADES: BAIRRO PISCATÓRIA ACADÉMICA ÁGUA EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA VOZ ENFIM JUNTOS... ...delineando atos, partilhando desejos e discutindo intenções Escola do Bairro – Primeiros Passos… A Escola do Bairro enquanto espaço de partilha sob regime de voluntariado começou a dar os primeiros passos no dia 1 de Dezembro. Podemos dizer que o mês de Dezembro tem sido recheado de animação entre professores que são alunos e alunos que são professores… As áreas trabalhadas são bastante diversificadas e todas têm tido grande adesão junto dos membros das comunidades e amigos que, a nós, se têm juntado neste movimento. Da Música com Lucília Valente, ao Kriolu com Elisângela Almeida, passando pela História com Francisco Silva (CAA), pela Agricultura Local com Vitória Mendes, pela Ecologia com Lia Laporta e pela Alfabetização Crítica (Ana Filipa Silva e Sílvia Franco) que continua a trabalhar graças a um grupo de resistentes senhoras da Comunidade Bairro que não desanimam nem face ao forte frio que se tem feito sentir. A Pintura também esteve, mais uma vez, no Bairro com João Moreira e os seus pequenos pintores. A Matemática fez a sua aparição numa aula onde pequenos e graúdos se entreajudaram na construção do calendário, com Madalena Santos. O Eduardo Macedo veio à nossa escola para nos dar algumas indicações para uma boa Fotografia Digital e não é que a D. Vitória e a D. Alina tiraram umas belas fotografias para registar o momento! Por entre estas, houve muitas outras conversas sobre Filosofia Política (Mônica Mesquita), Eletricidade (Nuno Vieira) e Teatro (Lucília Valente e Margarida Belchior). Momentos de diálogo sobre o que nos preocupa e o que nos faz sonhar, momentos de convívio e aprendizagens. O fim de semana de 14 e 15 de Dezembro começou com uma aula de Culinária Caboverdiana (Neuza Semedo). Aprendemos os segredos para cozinhar uma boa cachupa, com a qual nos pudemos deliciar logo de seguida. Porém a animação, neste sábado, estava só a começar e as crianças juntaram-se a Miriam Agostinho e a Isabel Gomes para escrever uma história bem divertida, logo de seguida as equipas de futebol entraram em campo para terminar o dia. No Domingo, o dia foi dedicado à Poesia (Ana Paula Caetano, João Crisóstomo e Rita Tavares), ao Kriolu e ao Teatro, para finalizar a semana com muita alegria! Sílvia Franco 12 5 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 “Disse-lhes: segui-me e eu vos farei pescadores de homens” Mt 4, 11 Está próximo o Natal, época em que se celebra o nascimento de Jesus Cristo. Importa lembrar que os primeiros discípulos escolhidos por Jesus eram pescadores, porquê? Talvez porque são gente corajosa e sempre disposta a enfrentar desafios quotidianos, gente que vive do que o mar dá, que colhe sem cultivar. Talvez porque a sobrevivência do pescador se faz a cada dia, em função dos desígnios da natureza. Foram pescadores que há trezentos anos atrás povoaram a Costa de Caparica, então um imenso e inóspito areal, foram pescadores que abriram o primeiro poço, construíram a primeira igreja e o próprio cemitério, à custa do quinhão que cada companha pagava pela venda do peixe de cada jornada de pesca. As casas eram de madeira e quando o mar se revoltava a fome grassava. Os descendentes dos pioneiros da Costa de Caparica continuam a enfrentar o mar e a viver do que ele dá. Para além de algumas inovações técnicas que aliviam o esforço físico de remar ou puxar as redes e os barcos, a faina faz-se de forma tradicional e os métodos de pesca não serão muito diferentes dos praticados há dois mil anos no mar da Galileia. Contudo a comunidade piscatória, fundadora da povoação, não beneficiou do desenvolvimento turístico, económico e urbanístico que contribuí para a elevação da Costa de Caparica a cidade. Sistematicamente “empurrados” para sul, na periferia do centro turístico, limitados na sua atividade por leis que os impedem de pescar, quando e onde o seu saber e experiência os aconselha a lançar as redes, sujeitos a vender o peixe ao preço ditado pelas “regras do mercado”. São apenas algumas das dificuldades que os pescadores da Costa têm de enfrentar, para além das forças e caprichos da natureza. Francisco Silva INVESTIGADORES: Mônica Mesquita (IR) Filipa Ramalhete Ana Paula Caetano Isabel Freire Alexandre Pais Nuno Vieira Francisco Silva Sílvia Franco Lia Laporta Joana Vieira 12 6 PRODUTOR DE AUDIOVISUAIS Vítor Gabriel CONSULTORES José Pedro Barata Ubiratan D’Ambrosio O Passeio aos Capuchos No dia 8 de Dezembro, fomos a um passeio aos Capuchos. Nós fomos com a Mônica e outros amigos. Encontrámo-nos no Bairro às 14 horas e partimos. O Francisco veio do Centro de Arqueologia de Almada para nos explicar que, antigamente, o mar chegava à Arriba. Mostrou-nos mapas e fotografias da Costa de Caparica, onde podíamos ver as Terras da Costa e o nosso Bairro. Fomos ver a igreja do antigo Convento dos Capuchos que pertencia aos frades franciscanos. Depois de irmos ao miradouro dos Capuchos, apanhámos pinhas para a nossa árvore de Natal do Bairro e voltámos para casa. O passeio foi divertido e juntou pessoas adultas e crianças. Iliana Tavares, 9 anos COLABORADORES João Moreira Catarina Pereira Carlos Sequeira José Castro Renan Laporta Alek Rodrigues Iliana Tavares FINANCIADO POR: SEDIADO EM: FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA APOIADO POR: ASSOCIAÇÃO ALA-ALA COMISSÃO DO BAIRRO TERRAS DA COSTA FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Edição 5 Nº5 - Dezembro 2013 – Edição de Catarina Pereira e Sílvia Franco COMUNIDADES: BAIRRO PISCATÓRIA ACADÉMICA ÁGUA EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA VOZ ENFIM JUNTOS... ...delineando atos, partilhando desejos e discutindo intenções Os “Monstros” da Costa de Caparica Espero, não eu, mas a realidade constatada. É evidente que não existem sistemas perfeitos, por isso aqui também temos todos os mais nefastos problemas das sociedades ditas “mais avançadas”. Apenas são “monstros” os que nunca tiveram chances para se mudarem. Quando as pessoas são ostracizadas (condenadas) para o gueto, pergunto eu: o que fazer? Não defendo nem julgo o sistema, afinal quem o pode mudar? Mas quando somos rejeitados nas camionetas por não se sentarem no mesmo assento connosco; quando dizem que o “preto” cheira mal porque não se lava, pergunto: porque não nos dão a água que Não, não cheiramos mal porque sabemos carregar de longe a água que não nos dão, por favor, não nos digam que estamos na Europa! Precisamos (os Portugueses) sim, mudar as mentalidades, lavá-las, enquanto isto não acontecer, meus amigos, ficamos para as “calendas gregas”. queremos pagar? Quantas vezes não ouvimos esta frase despida de conteúdo lógico: “vai para a tua terra”! Teria miríades de correcções a fazer, mas afinal não sou professor, sou apenas um eterno aluno e aprendiz. Com esta perspectiva do Bairro de gente boa mas também com suas muitas debilidades, agradecemos (sem citar nomes) todos os colaboradores que, incansavelmente, dia e noite, ajudaram os moradores e colaboraram com eles. Só podemos desejar que além deste Bairro, outros também sejam contemplados com a vossa prestimosa visita, quiçá, mudança de mentalidades. Afinal, meus amigos, não estamos assim tão longe como alguns pensam, podemos sim, estar longe dos que estão longe da realidade. Se assim for, deixamos um recado: vivemos na Costa de Caparica, nas Terras da Costa. Puseram-nos uma fronteira, mas nós estamos ao ar livre, gozando da liberdade que a Natureza nos proporciona. Penhoradamente, Os esquecidos das Terras da Costa (Costa de Caparica) Guilherme Brito 12 7 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 CineVan PORQUE NÃO SE CONHECEM Olá! Ecoa no vazio Uma saudação despida de conteúdo, Quando se encontram. Vivem na mesma cidade, Na mesma rua, no mesmo prédio E quantas vezes na mesma casa. Olá! Esta semana tivemos duas sessões de cinema dentro da carrinha da Mônica. Vimos “O Rei Leão 3”, que contava a história do Timon e do Pumba desde que o Simba era pequeno. O filme foi um máximo. No outro dia, vimos os “102 Dálmatas, que mostrava a história de uma senhora que roubava dálmatas para fazer casacos. Todas nós adorámos esta sessão. Olham-se mas não se vêm, Falam-se mas não se conhecem. Exalam um “ Olá “, Como a chaminé que solta um rolo de fumo, O qual já por si sai tão pouco coeso, Que se dissipa mal atinge o exterior. Estudam na mesma escola, Fazem parte da mesma turma Passam juntos os tempos livres; Encontram-se no elevador Mas, olham-se e não se conhecem E então apenas dizem “ olá “. São estranhos que vivem solitários lado a lado. Gostava de repetir outra vez. Trocam Prendas… Porque não são capazes de oferecerem AMOR, Tem medo De se olharem nos olhos, De se sondarem em profundidade, De porem a descoberto As suas fraquezas As suas potencialidades. Por isso, Quando se cruzam na rua, Dizem simplesmente: - “ Olá!”. Vive cada um Egoisticamente no seu mundo, Desejando dominar o universo do outro. Vivem ombro a ombro Uma vida voltada para o EU, Por isso não se conhecem, E dizem uns aos outros Simplesmente: - “ Olá! “ Quando ao passarem pela avenida Tropeçam uns nos outros! É assim o nosso mundo! Carla Monteiro, 10 anos INVESTIGADORES: Guilherme Brito 12 8 Mônica Mesquita (IR) Filipa Ramalhete Ana Paula Caetano Isabel Freire Alexandre Pais Nuno Vieira Francisco Silva Sílvia Franco Lia Laporta Joana Vieira FINANCIADO POR: SEDIADO EM: FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA PRODUTOR DE AUDIOVISUAIS Vítor Gabriel CONSULTORES José Pedro Barata Ubiratan D’Ambrosio COLABORADORES João Moreira Catarina Pereira Carlos Sequeira José Castro Renan Laporta Guilherme Brito Ana Filipa Silva Romeu Sousa APOIADO POR: ASSOCIAÇÃO ALA-ALA COMISSÃO DO BAIRRO TERRAS DA COSTA FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Edição 6 Nº6 - Janeiro 2014 – Edição de Catarina Pereira e Sílvia Franco COMUNIDADES: BAIRRO PISCATÓRIA ACADÉMICA ÁGUA EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA VOZ ENFIM JUNTOS... ...delineando atos, partilhando desejos e discutindo intenções saber viver … SÓ Cabe-me a honra de iniciar a escrita neste Jornal, na edição de abertura de um novo ano. Partilho convosco cinco momentos desta minha experiência. Quando cheguei à Comunidade Bairro, fui encaminhado para uma zona onde se começava a formar um grupo de senhoras e meninas. Direcionavam-se para umas cadeiras colocadas em círculo debaixo de um chapéu amarelo… um vulgar chapéu-de-sol – ainda não sabia que esse chapéu era mágico (isso fui descobrindo ao longo dos meus dias de transformação). Junto dele, está uma mulher, moradora neste bairro, que me olha e me avalia na curta distância que nos separa. Apresentam-ma. No momento em que me apresento e que me curvo para a cumprimentar, nesse curto e imediato momento, descobri que esta pessoa é dona de grande riqueza. É no olhar que se esconde esse tesouro. Na profundidade dos seus olhos castanhos, alberga toda a vida destas famílias, sua também… todas as tristezas dos que querem poder ter para dar aos filhos, mas também toda a alegria das correrias e brincadeiras das crianças. Tem a força e o vigor das mães que cedo saem para um trabalho que lhes retira tempo para acompanhar, crescer e viver com os seus filhos, mas por outro lado, é um trabalho que trás um pouco de esperança…esperança num amanhã diferente…num amanhã melhor. A sua riqueza não ficou só guardada pela ternura do olhar. Está também na força das suas mãos que transformam a terra...que cuidam dos seus animais… que confortam no desconforto. São mãos que falam e que dançam… são mãos que batukam! Batukam a alma do seu coração. Vi – de Vitória…ou de Vida – sintetiza no seu ser a essência das gentes das Terras da Costa, a Génese Humana. Sob esse Chapéu mágico, o grupinho prepara-se para a leitura. O Chapéu tinha-se transformado numa salinha de aulas. Já no dia anterior tinha sido uma cozinha, onde se preparou uma saborosa Cachupa – como alguém foi fazendo questão de relembrar. Agora na aula da leitura, lêem-se momentos de Poesia …por detrás da câmara, focado nos enquadramentos e nos registos aos quais fui convidado a participar, ouço uma voz límpida de cr”rr”iança que carr”rr”ega nos “rr”. A leitura é tão perfeita e harmoniosa, que saltei para outra dimensão, para outra realidade, para outro contexto. Fiquei extremamente feliz. Estava completamente rendido aos encantos desta comunidade…deste bairro. Numa das “ocas” mais afastadas da entrada, vivi dois dos momentos mais marcantes desta vivência de 216 horas nas Terras da Costa. Tinha acabado de entrar num estúdio de gravação em pleno momento criativo – o de construção e gravação de uma música. A qualidade da escrita e o profissionalismo do produtor a controlar e comandar esse som foi tal que, estando no bairro, instantaneamente senti estar num dos super conceituados estúdios londrinos ou nova-iorquinos! Foi tal o impacto que, numa questão de segundos, ficou escolhida a música principal que irá “ilustrar” o documentário do Projeto Fronteiras Urbanas. A Música é como um elemento de união entre os moradores. Nôs Herança diz muito e o Batuku é isso mesmo, a importância de partilhar e perpetuar as raízes, a cultura… a história do povo. Mas aquela música, feita e produzida no bairro, aquele Hip Hop é a ponte entre a clausura do bairro e uma possível internacionalização à escala planetária. Quando tive o convite para subir umas escadas encostadas a uma casa. Aí conheci um “outro” bairro… o bairro visto de outro nível, a outra perspetiva. Ao caminhar nos telhados… sente-se toda a pulsação do bairro. As ondulações que o meu peso e a deslocação provocam fazem-me sentir estar no dorso de um ser que respira, que está vivo, que sente como sentem as pessoas que sob ele vivem. Um ser que se transforma com a mutação do bairro…no telhado o bairro é mais alto…do telhado vêem-se as estrelas e podese sonhar! Do alto desse pedestal, tive a melhor perceção das distâncias e da forma como esta comunidade vive e interage com o mundo que a rodeia. Tive o privilégio de conhecer pessoas tão simples e humildes nas suas exigências, que não consciencializam a importância que têm para a sobrevivência desta comunidade, os transportadores de Água. Pessoas que com um ato simples e rotineiro, minoram e suavizam a vida amargurada dos que estão subjugados a viver nas Terras da Costa. Com as palavras de Lídio Galinho proferidas na Fonte da Telha…”poderia ficar aqui, que arranjavam onde ficar e que me davam a melhor refeição” – é este o sentimento que fica e que perdurará. O meu muito obrigado a todos pela partilha do vosso amor. Romeu Sousa 12 9 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Fronteiras Urbanas O Bairro em Festa!!! O desafio que a Mônica me colocou de fazer algumas atividades na escola do Bairro que ajudassem as pessoas a compreender algumas ideias de matemática e a serem capazes de as usar com mais poder no seu dia-a-dia foi aliciante mas não era fácil. No dia 22 de dezembro houve uma grande festa de Natal no bairro. Houve muita animação, muita música e estivemos a jogar jogos com a Lia. Antes do verão, começámos pela análise de folhetos de divulgação de supermercados com preços e imagens de produtos. Foi um ponto de partida para falar da presença dos números no nosso dia-a-dia e da estrutura do sistema numérico. O dia começou com a aula de culinária que contou com algumas pessoas, entre as quais a minha mãe Paulina, a Sílvia, a Rita, a Neuza, a Solange, a D. Alina, o Zé e o Vítor que foi o professor. Aprendemos a cozinhar Rancho e depois de pronto foram todos ao ataque à panela. Todos acharam delicioso o prato e até quiseram repetir. Recomeçámos em dezembro e pareceu-me que os calendários podiam ser uma boa entrada para os números e registos em tabelas. Explorámos calendários de anos passados e o de 2014. Depois todos construíram o seu próprio calendário de 2014. Nestas sessões, além das senhoras mais interessadas (a Rita, D. Alina, a D. Vitória, a D. Lúcia) estiveram presentes algumas crianças de várias idades. Os ritmos e interesses eram diferentes… mas alguns dos mais pequenos revelaram-se bons apoios para as pessoas mais velhas e fizeram descobertas e perguntas interessantes: - os meses não são todos iguais, não começam todos no mesmo dia da semana; - dizemos ‘daqui a 8 dias’ mas só passam 7 dias! - porque é que as semanas nuns calendários começam no domingo e noutros na 2ª feira? - porque é que um calendário começa em Setembro e acaba em Julho do outro ano? (era um calendário escolar)... Depois ao almoço, de repente apareceu o Pai natal, no carro a chegar. Tirámos muitas fotos, divertimo-nos e recebemos uma caixinha com doces. E houve outras coisas interessantes também: - a D. Vitória a construir com muita perseverança o calendário do mês em que fazia anos – “vai devagar mas com o tempo vai” - a D. Alina a perguntar o nome de números específicos – “como diz o 1 e o 8?” (o 18) ou a identificar estratégias para distinguir e fixar o 6 e o 9 (“cabeça para baixo”, “cabeça para riba”), sendo o seu parceiro de interação uma das crianças; - a D. Lúcia a ser capaz de identificar os números das datas que queria assinalar e a explicitar uma utilidade que antecipava para o seu calendário - “vai ser bom para marcar as consultas do meu filho”. Para mim, uma grande aprendizagem que espero continuar! Madalena Santos INVESTIGADORES: Mônica Mesquita (IR) Filipa Ramalhete Ana Paula Caetano Isabel Freire Alexandre Pais Nuno Vieira Francisco Silva Sílvia Franco Lia Laporta Joana Vieira 13 0 PRODUTOR DE AUDIOVISUAIS Vítor Gabriel CONSULTORES José Pedro Barata Ubiratan D’Ambrosio A seguir fomos assistir a um concerto no palco que fizeram no campo de futebol. O concerto contou com a participação dos Natur e do Rodrigo Viterbo que trouxe uns instrumentos chamados didgeridoo. Ouvimos boa música até que anoiteceu e todos fomos para casa. Mónica Brito, 10 anos COLABORADORES João Moreira Catarina Pereira Carlos Sequeira José Castro Renan Laporta Alek Rodrigues Romeu Sousa Madalena Santos Mónica Brito FINANCIADO POR: SEDIADO EM: FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA APOIADO POR: ASSOCIAÇÃO ALA-ALA COMISSÃO DO BAIRRO TERRAS DA COSTA FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 TESES, DISSERTAÇÃO E PAP Durante todo o processo do Projeto Fronteiras Urbanas (FU) foram desenvolvidos trabalhos científicos em diferentes níveis de aprendizagem. Este exercício constatou, mais uma vez, a flexibilidade e emergência do FU. Aproximadamente 73% dos investigadores começaram suas funções no FU com um grau académico inferior, revelando a intensificação de suas potencialidades durante este processo. Para além do corpo de investigadores do FU, investigadores e colaboradores atuaram, e ainda estão atuando, de forma direta no desenvolvimento deste projeto por meio de suas investigações. Uma das razões da solicitação de extensão do mesmo à Fundação para a Ciência e a Tecnologia. MÔNICA MESQUITA Ligação: Investigadora Principal Grau: Pós-Doutoramento – em curso Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa ' POST%DOC(PROPOSAL( FIRTS'DRAFT' Applying'to'FCT'/'Portugal' ' ' ' MÔNICA'MESQUITA' JUNE_2012' ' ( ADVISORS( ( Local' Início: Julho de 2013 Bolsa: Fundação para a Ciência e a Tecnologia SFRH/BPD/87248/2012 Link: não aplicável Profª(Drª(Ana(Paula(Caetano' ' International' Profº(Drº(Ubiratan(D’Ambrosio'' Profº(Drº(Etienne(Balibar''' ' ________________________________________________________________________________________' ( ( TITLE( ' Political'Flow'in'the'Communitarian'Education:'Topological'Ontology'in'the' Urban'Boundaries' _______________________________________________________________________________________' ( ( SUMMARY'150'WORDS' As principal researcher of the Urban Boundaries Project-UBP (PTDC/CPE-CED/119695/2010), this post-doctoral proposal is based on a philosophical analysis of concrete situations experienced, and still to be experienced, in this project. Such analyses will be found through critical observations on the political influence in and from Communitarian Education existing in a community in Costa de Caparica(Portugal), which is integrated in the UBP, and will deal with the Concept of Space. In this movement, I propose to walk within an ontological view, searching the philosophy of praxis through the concept of Urban Boundaries in a topological sense. The philosophical approach of this concept, in the state of the movement here proposed, promotes the possibility of developing a philosophy of praxis collectively with local stakeholders, focusing on the local spatial knowledge and its political vicissitudes, and in the individual practices on the construction of the communitarian desires – the desire for the common. Mônica'Mesquita' 13 1 Post/Doctoral'Proposal'' 2012' FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ALEXANDRE PAIS Ligação: Investigador Grau: Doutoramento Local: Dinamarca Defesa: Dinamarca Conclusão: 2011 Bolsa: Fundação para a Ciência e a Tecnologia Link: http://vbn.aau.dk/files/71668604/thesis_complete_29NOV.pdf 13 2 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Grau: Pós-Doutoramento Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa Conclusão: Setembro 2013 Bolsa: Fundação para a Ciência e a Tecnologia – SRFH/BPD/84789/2012 Link: não aplicável TITLE A POLITICAL MAPPING OF A SUBJECT-MATTER EDUCATIONAL RESEARCH FIELD: THE CASE OF MATHEMATICS EDUCATION ADVISOR: MÔNICA MESQUITA AND PAOLA VALERO ABSTRACT (150) THE EDUCATIONAL SCIENCES ARE GENERALLY CONSTRUED AROUND CONCERNS OF PROVIDING RESEARCH THAT INFORMS PRACTICES OF LEARNING AND TEACHING IN FORMAL EDUCATIONAL SETTINGS. THIS RESEARCH SHOWS A PROPENSITY TO EMPHASIZE THE “TECHNICAL” ASPECTS OF EDUCATION, BEING PRIMARILY CONCERNED WITH PROVIDING SOLUTIONS TO PRACTICAL PROBLEMS, AND EMPHASIZING CLASSROOM INTERACTIONS INSTEAD OF BROADER STRUCTURAL ARRANGEMENTS. THIS STUDY, BY TAKING ADVANTAGE OF CONTEMPORARY PHILOSOPHY AND THROUGH THE ANALYSIS OF MATHEMATICS EDUCATION AS A PARADIGMATIC CASE OF SUBJECT-MATTER EDUCATIONAL RESEARCH, SEEKS TO EVINCE HOW A STRICTLY “DIDACTICAL” APPROACH TO RESEARCH, WITHOUT A CONSIDERATION OF THE POLITICAL FORCES THAT SHAPE THE TEACHING AND LEARNING CONDITIONS, FALLS SHORT TO PROVIDE AN EFFECTUAL COMPREHENSION OF THE COMPLEX PROBLEMS EXPERIENCED BY EDUCATIONAL AGENTS. BY SHOWING HOW SUCH A REDUCTION OPERATES IN MATHEMATICS EDUCATION, THE STUDY ENDEAVOURS TO CONTRIBUTE FOR A BROADER CRITIQUE OF EXISTING EDUCATIONAL RESEARCH. 13 3 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 LIA LAPORTA Ligação: Investigadora Grau: Mestrado Local: Ghent University Conclusão: Julho 2012 Bolsa: Erasmus Mundus Master in Marine Biodiversity and Conservation - Master Programme in Marine Biodiversity and Conservation Link:http://www.amazon.co.uk/Marine-Biological-Valuation-Belgian-Coast/dp/3656536732 GHENT UNIVERSITY FACULTY OF SCIENCE DEPARTMENT OF BIOLOGY ACADEMIC YEAR 2011-2012 MARINE BIOLOGICAL VALUATION OF THE BELGIAN COAST Lia Borges Laporta Promoter: Prof. Dr. Magda Vincx Supervisor: Sarah Vanden Eede Master thesis submitted for the partial fulfillment of the title of Master of Science in Marine Biodiversity and Conservation Within the ERASMUS MUNDUS Master Program- EMBC 13 4 European FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 SÍLVIA FRANCO Grau: Mestrado Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa Conclusão: Janeiro 2013 Bolsa: não aplicável Link: http://hdl.handle.net/10451/8118 UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO A DIVERSIDADE DIALOGANTE NUM PROCESSO EDUCATIVO INDÍGENA OBSERVAÇÕES NUM CURSO DE ETNOMATEMÁTICA Sílvia Helena Correia Franco Dissertação orientada pela Professora Doutora Mônica Mesquita MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO Área de Especialização em Educação Intercultural 2012 13 5 1 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 JOANA VIEIRA Ligação: Investigadora Grau: Mestrado Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa Conclusão: Janeiro 2013 Bolsa: não aplicável Link: http://hdl.handle.net/10451/8036 2012 UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO Viagem entre Ser e Estar como Educadora em Moçambique Joana Rita Barral Lopes Vieira Dissertação orientada pela Professora Doutora Mônica Maria Borges Mesquita MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO 2012 2 13 6 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 NUNO VIEIRA Grau: Doutoramento Local: Instituto de Educação – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia Conclusão: Julho 2013 Bolsa: não aplicável Link: não aplicável NUNO MIGUEL CARDOSO VIEIRA OS TEMPOS QUE O TEMPO TEM: O CONHECIMENTO TRIVIUM DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA EM PERÍODO DE MUDANÇA Tese apresentada para obtenção do grau de Doutor em Educação no Curso de Doutoramento em Educação, conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Orientador: Professor Doutor Emérito Ubiratan D’Ambrosio. Co-orientadora: Professora Doutora Rosa Serradas Duarte. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Instituto de Educação Lisboa 2013 13 7 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 CATARINA PEREIRA Ligação: Investigadora Colaboradora Grau: Mestrado Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa Conclusão: Janeiro 2014 Bolsa: não aplicável Link: Defesa pública prevista para 27 de janeiro de 2014, 17h. UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO ! Círculos de Cultura no Projeto Fronteiras Urbanas: Um olhar sobre a visão do outro. Catarina Maria Estrela Farinha do Carvalhal Pereira Relatório final de estágio orientado pela Professora Doutora Mônica Maria Borges Mesquita Mestrado em Ciências da Educação 2013 13 8 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 JOSÉ LINHARES Ligação: Investigador Colaborador - Brasil Grau: Pós-Doutoramento – em curso Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa Início: Janeiro 2014 Bolsa: não aplicável Link: não aplicável PLANO DE TRABALHO PÓS-DOUTORAMENTO DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: NOME: José Roberto Linhares de Mattos INSTITUIÇÃO DE ORIGEM: Universidade Federal Fluminense, Brasil. Instituto de Matemática e Estatística Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil. Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola. EMAIL: [email protected] CURRÍCULO: http://lattes.cnpq.br/1508772914490157 INSTITUIÇÃO DE DESTINO: Universidade de Lisboa, Portugal. Instituto de Educação. ORIENTADOR: A definir. COORDENADOR PROJETO LOCAL: Profa. Dra. Mônica Mesquita TÍTULO: EDUCAÇÃO MATEMÁTICA EM AMBIENTES MULTICULTURAIS PERÍODO DE REALIZAÇÃO: De 10 de Janeiro de 2014 a 10 de julho de 2014. 13 9 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ANA FILIPA Ligação: Investigadora Colaboradora Grau: Mestrado – em curso Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa Início: Setembro 2013 Bolsa: não aplicável Link: não aplicável UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO ! ! ! ! ! ! Escola do Bairro: Partilha Transdisciplinar e Transcultural num contexto voluntário Ana Filipa Sobrado e Silva Pré-Relatório de Estagio ! ! MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO Área de especialização Educação Intercultural 2013 14 0 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ALINE CONRADO Ligação: Investigadora Colaboradora Grau: Licenciatura Local: Faculdade de Letras – Universidade de Lisboa Início: Janeiro 2014 Bolsa: não aplicável Link: não aplicável ALINE DE OLIVEIRA CONRADO ÁNALISE DO DISCURSO: COMUNIDADE BAIRRO, COSTA DA CAPARICA Projeto de Pesquisa apresentado à disciplina de Monografia, do Curso de Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – campus de Cascavel. Orientador: Profª. Drª. Alexandre Sebastião Ferrari. Linha de Pesquisa: Ánalise do discurso. LISBOA – PT 2014 14 1 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 RENAN LAPORTA Colaborador de Media Grau: Secundário Local: Escola Profissional de Imagem Início: Janeiro 2014 Bolsa: não aplicável Link: não aplicável 14 2 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ENCONTROS Relatamos os encontros no momento da disseminação por entendermos que estes foram focos importantíssimos para disseminação do Projeto Fronteiras Urbanas (FU). Todos nossos encontros foram abertos a membros externos. Firmamos neste relatório que todos os nossos encontros servirão de polos de formação contínua a todos os membros envolvidos no FU. ENCONTRO MENSAL O Projeto Fronteiras Urbanas (FU) realizou quatro encontros mensais assim que a equipa de investigadores tomou consciência da aprovação da candidatura submetida à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Tais encontros ocorreram nos meses de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro de 2011 e não estavam previstos em sede de candidatura. Relatamos que foram de suma importância tanto para nosso entendimento etnográfico como para discussões teóricas. Estes encontros alimentaram a afetividade e confianças entre os membros da Comunidade Académica e os líderes das comunidades envolvidas. Figure 95 – 1ª Reunião Mensal Fronteiras Urbanas – Set/11 Figure 94 - 3ª Reunião Mensal Fronteiras Urbanas Nov/11 Figure 93 - 2ª Reunião Mensal Fronteiras Urbanas - Out/11 14 3 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ENCONTRO BIMESTRAL O Projeto Fronteiras Urbanas (FU) realizou doze encontros bimestrais (a cada dois meses) conforme previsto em candidatura. O primeiro encontro realizou-se em Fevereiro de 2012. Relatamos que estes encontros serviram de momentos de discussão teórica que abarcavam nossas práticas etnográficas e a teoria dialógica presente na mesma. Procuramos sempre ter presente pelo menos um dos membros de cada comunidade envolvida, bem como o nosso dinamizador comunitário Euclides Fernandes em todos os encontros bimestrais. Para além dessas presenças contámos com os produtores do curta-metragem e colaboradores externos em alguns destes encontros. Figure 96 - 2ª Reunião Bimestral Fronteiras Urbanas Abr/12 Figure 97 - 1ª Reunião Bimestral Fronteiras Urbanas Fev/12 Figure 98 - Modelo Pensado a partir da 5ª Reunião Bimestral do Fronteiras Urbanas - Out/12 14 4 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ENCONTRO DE PARES O Projeto Fronteiras Urbanas (FU) realizou muitos encontros de pares, subdivididos pelas três tarefas previstas em sede candidatura: Alfabetização Crítica, Cartografia Múltipla e Histórias de Vida, bem como outras duas equipas internas: Documentário e Quadro Teórico Dialógico. Estes encontros foram de extrema importância para o aprofundamento teórico específico de cada tarefa bem como para a gestão do seu desenvolvimento. Nestes momentos, que foram muitos, buscávamos o diálogo interno entre os membros da comunidade académica alicerçados pelo discurso local de membros das duas comunidades envolvidas. Quando necessário, convidámos membros externos com o objectivo de interagirmos com experiências/teorias novas que alicerçassem as estratégias de ação às problemáticas em questão. Figure 99 - Reunião de Pares - Cartografia Múltipla - UAL - Maio/12 14 5 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ENCONTROS ANUAIS O Projeto Fronteiras Urbanas (FU) realizou dois encontros anuais conforme previsto em candidatura. O primeiro encontro realizou-se internamente em 2012, o qual denominámos Conferência Interna. O segundo encontro realizou-se abertamente em 2013, o qual denominamos Fórum Fronteiras Urbanas /Encontro APOCOSIS. Em candidatura não foi previsto nenhuma verba para fomentar estes encontros, prevendo, apenas, o suporte para a vinda do consultor internacional. Ressalta-se, aqui, que no primeiro encontro foi sentida a necessidade de buscar junto aos investigadores apoio para a realização do mesmo. Porém, dada a magnitude do segundo encontro, ressalta-se a extrema dificuldade sentida para o concretizar. Neste sentido, foi solicitada a parceria de uma associação sem fins lucrativos que, paralelamente, desenvolve estudos muito próximo do FU no âmbito do desenvolvimento humano, equidade e ética. A Associação Portuguesa da Complexidade Sistémica – APOCOSIS, de imediato nos respondeu favoravelmente, o que proporcionou a viabilidade do evento. Agradecemos publicamente a pronta aceitação e, especialmente, todo o processo colaborativo. 14 6 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 2012 CONFERÊNCIA INTERNA A Conferência Interna do FU decorreu nos dias 06, 07 e 08 de Setembro de 2012. Contámos com a presença dos consultores, dos investigadores, voluntários de media e arte, mediador comunitário, bem como um membro de cada comunidade envolvida no FU. Para este evento não foi desenvolvido nenhum site, logo seguem, abaixo, detalhes do mesmo. PROGRAMA Universidade de Lisboa Instituto de Educação Alameda da Universidade 1649-013 Lisboa Telefone | 21 794 36 33 Fax | 00351 21 793 34 08 Correio Electrónico | geral @ ie.ul.pt Sítio | http://www.ie.ul.pt Projeto Fronteiras Urbanas Fundação para a Ciência e a Tecnologia PTDC/CPE-CED/119695/2010 ENCONTRO ANNUAL CONSULTORES DATA 6, 7 e 8 Setembro 2012 CONSULTORES Ubiratan D’Ambrosio José Pedro Martins Barata INVESTIGADORA RESPONSÁVEL Mônica Mesquita MEDIADOR COMUNITÁRIO Euclides Fernandes INVESTIGADORES Filipa Ramalhete Ana Paula Caetano Isabel Freire Alexandre Pais Nuno Vieira Francisco Silva Silvia Franco Lia Laporta INVESTIGADOR BOLSEIRO Carlos Sequeira INVESTIGADOR VOLUNTÁRIO José Caldas Joana Vieira 14 7 LÍDERES COMUNITÁRIOS Durval Carvalho Lídio Galinha VOLUNTÁRIOS MEDIA Renan Laporta Kelly Silva VOLUNTÁRIO ARTES João Moreira FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 2 DIA06 CONSULTORES INVESTIGADORES MEDIADOR COMUNITÁRIO LÍDERES COMUNITÁRIOS VOLUNTÁRIOS Tópico A Apresentador: :Mônica ror: Mesquita e João Moreira Horário: 10 h Discussão: Estado da Arte e Historiografia - Projeto Fronteiras Urbanas, suas gentes, seus espaços e tempos Tempo: 45 minutos Recurso: PowerPoint, Filme e Flash Objectivo: Dar a conhecer como e quando começou a nascer o Projeto Fronteiras Urbanas e partilhar o atual estado da arte numa visão global. Outras Informações: Disponível na Plataforma Tópico B Pessoas Responsáveis: Mônica Mesquita e João Moreira Apresentador: Lia laporta Deadline: 23 Agosto Horário: 11:15 h Discussão: Metadados Tempo: 15 minutos Recurso: Power Point Objectivo: Dar a conhecer como e onde estão sendo armazenados os dados etnográficos do Projeto Fronteiras Urbanas Outras Informações: Disponível na Plataforma Pessoa Responsável: Lia Laporta Deadline: 23 Agosto Café Tempo de duração: 15 min Tópico C Apresentador: :Francisco ror: Silva, Nuno Vieira, Lídio Galinha e Durval Carvalho Horário: 11:30 h Discussão: Histórias de Vida Tempo: 90 minutos Recurso: PowerPoint e Depoimentos dos Líderes Comunitários Objectivo: Apresentar a proposta da atividade Histórias de Vida no âmbito do Projeto Fronteiras Urbanas, seu desenvolvimento e historiografia Outras Informações: Disponível na Plataforma Pessoas Responsáveis: Nuno Vieira, Francisco Silva e Mônica Mesquita Almoço Tempo de duração:1h e 30min 14 8 Deadline: 23 Agosto FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 3 Tópico D Apresentador: :Sílvia ror: Franco e Joana Vieira Horário: 14:30 h Discussão: Alfabetização Crítica Contributo Joana com Alfabetização Crítica em Quelimane - Moçambique Tempo: 45 minutos Recurso: PowerPoint e Filme Objectivo: Apresentar a proposta da atividade Alfabetização Crítica no âmbito do Projeto Fronteiras Urbanas, seu desenvolvimento e historiografia Outras Informações: Disponível na Plataforma Tópico E Pessoas Responsáveis: Silvia Franco, Joana Deadline: 23 Agosto Vieira e Mônica Mesquita Apresentador: :Filipa ror: Ramalhete, Carlos Sequeira e Lia Laporta Horário: 15:15 h Discussão: Cartografia Múltipla Tempo: 45 minutos Recurso: Powerpoint, Mapas e Maquetes Objectivo: Apresentar a proposta da atividade Cartografia Múltipla no âmbito do Projeto Fronteiras Urbanas, seu desenvolvimento e historiografia Outras Informações: Disponível na Plataforma Pessoas Responsáveis: Filipa Ramalhete, Lia Laporta e Carlos Sequeira Deadline: 23 Agosto Café Tempo de duração: 15min Tópico E Apresentador: :Ana ror: Paula e Isabel Freire Horário: 16:15 h Discussão: Mediação Comunitária: do quadro teórico proposto à realidade local Tempo: 45 minutos Recurso: Power Point Objectivo: Partilhar a visão do conceito Mediação, proposto no desenho inicial do projeto e o diálogo do mesmo em contacto com a prática etnográfica vivenciada na primeira fase da etnografia proposta no mesmo. Outras Informações: Disponível na Plataforma Tópico F Pessoas Responsáveis: Ana Paula e Isabel Freire Apresentador: :Euclides ror: Fernandes Deadline: 23 Agosto Horário: 17:00 h Discussão: Técnicas de partilha: um carisma da etnomatemática Tempo: 30 minutos Recurso: Power Point Objectivo: Ouvir a voz do mediador comunitário, sentir as experiências do mesmo e tomar consciência da visão global dos efeitos locais do Projeto Fronteiras Urbanas. Outras Informações: Disponível na Plataforma 14 9 Pessoas Responsável: Euclides Fernandes e Mônica Mesquita Deadline: 23 Agosto FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 4 DIA 07 CONSULTORES INVESTIGADORES MEDIADOR COMUNITÁRIO LÍDERES COMUNITÁRIOS VOLUNTÁRIOS MEDIA Tópico G Apresentador: :Francisco ror: Silva e Lídio Galinha Horário: 11:00 h Discussão: Comunidade Piscatória Tempo: 02 horas Recurso: Caminhada a pé Objectivo: Conhecer a Comunidade Piscatória em seu local Outras Informações: Disponível na Plataforma Pessoas Responsáveis: Lídio Galinha, Euclides Fernandes e Francisco Silva Deadline: 23 Agosto Almoço Tempo de duração: 2h Tópico Sobremesa Apresentador: :Alexandre ror: Pais Horário: 14:30 h Discussão: Etnomatemática e Complexidade na Educação Comunitária Tempo: 30 minutos Recurso: Oral Objectivo: Trazer o pensamento teórico cerne do desenvolvimento do Projeto Fronteiras Urbanas Outras Informações: Disponível na Plataforma Tópico H Pessoas Responsáveis: Alexandre Pais Apresentador: :Comunidade ror: Bairro Deadline: 23 Agosto Horário: 15:00 h Discussão: Visita Local Tempo: 02 horas Recurso: Caminhada a pé Objectivo: Conhecer a Comunidade Bairro em seu local Outras Informações: Disponível na Plataforma 15 0 Pessoa Responsáveis: Durval Carvalho, Euclides Fernandes e Mônica Mesquita Deadline: 23 Agosto FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 5 DIA 08 CONSULTORES INVESTIGADORES MEDIADOR COMUNITÁRIO VOLUNTÁRIOS MEDIA Tópico I Apresentador: :José ror: Pedro Martins Barata Horário: 10:00 h Discussão: Complexidade e Espaços Urbanos Tempo: 01hora Recurso: Objectivo: Difusão dos conceitos Complexidades e Espaços Urbanos, alicerces do quadro teórico do Projeto Fronteiras Urbanas e apreciação do estado da arte do mesmo. Outras Informações: Disponível na Plataforma após o evento Tópico J Pessoa Responsável: José Barata Apresentador: :Ubiratan ror: D’Ambrosio Deadline: - Horário: 11:00 h Discussão: Etnomatemática e Educação Comunitária Tempo: 01 hora Recurso: Objectivo: Difusão os conceitos Etnomatemática e Educação Comunitária, alicerces do quadro teórico do Projeto Fronteiras Urbanas e apreciação do estado da arte do mesmo. Outras Informações: Disponível na Plataforma após o evento Pessoa Responsável: Ubiratan D’Ambrosio Deadline: - Lanche Tempo de duração: 30 min Tópico Amor Mediadora: :Mônica ror: Mesquita Horário: 12:30 h Discussão: Momento de Diálogo Tempo: 1 hora Recurso: Oral Objectivo: Discussão sobre as linhas teóricas do Projecto Fronteiras Urbanas e apreciação da etnografia aplicada. Outras Informações: Disponível na Plataforma 15 1 Pessoa Responsável: Equipa Investigadores Deadline: - FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 APRESENTAÇÕES As apresentações, abaixo indicadas, estão dispostas na ordem de apresentação da Conferência Interna e estão disponibilizadas, na íntegra, no site do projeto. 1. Estado da Arte e Historiografia - Projeto Fronteiras Urbanas, suas gentes, seus espaços e tempos Mônica Mesquita e João Moreira 2. Metadados Lia Laporta 3. Histórias de Vida Francisco Silva, Nuno Vieira, Lídio Galinho e Durval Carvalho 4. Alfabetização Crítica Sílvia Franco e Joana Vieira 5. Cartografia Múltipla Filipa ramalhete, Carlos Sequeira e Lia Laporta 6. Mediação Comunitária: do quadro teórico proposto à realidade local Ana Paula Caetano e Isabel Freire 7. Técnicas de Partilha: um carisma da Etnomatemática Euclides Fernandes 8. Comunidade Piscatória Francisco Silva e Lídio Galinho 9. Etnomatemática e Complexidade na Educação Comunitária Alexandre Pais 10. Complexidade e Espaços Urbanos José Pedro Roque Gameiro Martins Barata 11. Etnomatemática e Educação Comunitária Ubiratan D’Ambrosio 15 2 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Esta conferência foi de suma importância para sistematizar os dados estudados e vivenciados ao longo dos primeiros nove meses de projeto. Neste encontro pôde-se discutir, atentamente, os momentos etnográficos em conjunto com os consultores, o que nos proporcionou profundos momentos de reflexão. A presença dos voluntários, bem como do mediador comunitário e dos dois membros das comunidades envolvidas, foi de extrema importância para que os mesmos experimentassem a sistematização do estado da arte da investigação. Ressalta-se que o dia dedicado à visita nas comunidades envolventes foi de forte apreço por parte dos consultores e dos membros das comunidades que não estavam presentes na Conferência Interna. Abaixo, seguem os relatórios dos consultores desenvolvidos após a Conferência Interna. 15 3 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 RELATÓRIOS DOS CONSULTORES ARQUITETO JOSÉ PEDRO ROQUE GAMEIRO MARTINS BARATA 15 4 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 PROFESSOR DOUTOR UBIRATAN D’AMBROSIO ETNOMATEMÁTICA e EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA1 Ubiratan D’Ambrosio [email protected] A tese de doutoramento de Mônica Maria Borges Mesquita, intitulada Children, Space, and the Urban Street: An Ethnomathematics Posture, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, 2008, foi a análise das FRONTEIRAS URBANAS na cidade de São Paulo. Nessa tese estão as bases conceituais do Projeto Fronteiras Urbanas. Como resultado de uma urbanização não planejada e crescimento demográfico imprevisível, uma parte da população vive nas ruas. A maneira como centros urbanos são concebidos, planejados e executados são uma das fontes mais importantes da História das Ciências e da Tecnologia, portanto da Matemática. A urbanização reflete a organização de espaço e de tempo, particularmente a sacralização de espaço e tempo. A realidade de um crescimento não planejado é ilustrado pela cidade de Laranjal do Jari, Amapá. Brasil. A cidade é resultado de um projeto de colonização do bilionário Daniel Ludwig (1897-1992), que em 1967, decidiu construir o que seria a maior fábrica de papel do mundo, na Floresta Amazônica, com uma área de cerca de 15.000 km². Foi o Projeto Jari. Os trabalhadores foram alojados em barracos construídos sobre palafitas nas margens do Rio Jari. Assim nasceu a cidade de Laranjal do Jari, hoje com carca de 50.000 habitantes. Essa comunidade urbana foi tema de pesquisa de Sonia M. Clareto, para seu doutorado: Terceiras Margens: Um Estudo Etnomatemático de Espacialidade em Laranjal do Jari, AP, at UNESP, Rio Claro, 2003. Essa realidade deve ser parte integrante dos estudos, reflexões e análise dos estudantes da comunidade. Um exercício etnomatemático importante para essa análise é pedir aos alunos para descreverem, cartograficamente, seu espaço urbano. 1 PROJETO FRONTEIRAS URBANAS, Vila de Caparica, Fundação para a Ciência e Tecnologia, Encontro Anual com Consultores, Lisboa, 6 a 8 de setembro de 2012. 1 15 5 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 A realidade dessa comunidade é impregnada de VIOLÊNCIA em muitos sentidos. O ponto de partida para uma Educação Comunitária deve ser uma reflexão sobre VOLÊNCIA. UM CONCEITO AMPLO DE VIOLÊNCIA. Conceituo VIOLÊNCIA como um comportamento que causa dano físico ou moral a outra pessoa, a seres vivos e a objetos, materiais ou mentais. O dano físico ou moral se manifesta no encontro entre nações e grupos, na sociedade em geral e nas famílias, nas escolas, no trabalho, nos espaços de lazer e de comunhão, na rotina do cotidiano. A violência tem como conseqüência o ato de MATAR, física e moralmente, e como resultado o FANATISMO, nas suas várias roupagens. O CENTER FOR GLOBAL NONKILLING http://www.nonkilling.org/node propõe medidas para combater a violência. A Escola de Estudos sobre Não-matar oferece ideias sobre como ensinar e praticar as várias disciplinas com o objetivo de não-matar. Um dos exemplos de trabalho produzido na Escola é uma reflexão sobre a matemática.2 O dano físico é resultado de um comportamento que emprega força ou instrumentos, geralmente armamentos, que causam destruição material e lesões corporais, às vezes irreversíveis. Essa é uma forma de interromper a vida, isto é, de MATAR. Estendo o conceito de matar para incluir o dano moral que retira a autoestima, a dignidade, a vontade, a criatividade de indivíduos, de comunidades, de grupos étnicos, raciais ou religiosos. O resultado é a intimidação, a exclusão ou mesmo anulação de indivíduos e de grupos, o que é uma forma de MATAR. O dano moral é resultado de um comportamento empregando comunicação, particularmente linguagem e gestos, na forma de patrulhamento ideológico, muito comum nos ambientes gremiais, de bullying (≈ agressão verbal ou física, assédio, intimidação , manipulação, coação), de pressões e avaliações por pares e de certo tipo de humor, uma forma sutil de bullying. Retirar a auto-estima, a dignidade, a vontade, a criatividade de indivíduos, de comunidades, de grupos resulta na aceitação de 2 http://en.wikiversity.org/wiki/Nonkilling_Mathematics 2 15 6 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 uma condição de conformismo e até de submissão total. Indivíduos, comunidades e grupos deixam de ser livres, sendo apenas capazes de obedecer ordens e instruções, sem exercer qualquer juízo crítico. É o que chamamos FANATISMO. É muito grave e fazem parte da história da humanidade a VIOLÊNCIA INDIVIDUAL, mas também a VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL ( isto é, grupos organizados de indivíduos que exercem violência sob a cobertura “oficial” e “legal”), levando ao abuso ambiental, ao abuso social, eliminando indivíduos e grupos de indivíduos (como ssociações gremiais, grupos comportamentais, étnicos, raciais e religiosos) e até comunidades e nações. A prática da violência, seja indivídual ou institucionalizada, conduz a abusos e degradação ambiental, abusos e injustiça social , submetendo indivíduos, famílias e comunidades a condições insuportáveis de vida, levando a comportamentos psicopáticos, recurso a drogas e suicídio, e até à guerra, causando a destruição de vidas, de patrimônio e mesmo chegando ao genocídio no sentido amplo. MATAR significa causar danos físicos e morais, no sentido amplo. Os danos físicos e morais resultam de VIOLÊNCIA, que é a negação da PAZ, nas suas várias dimensões. A sobrevivência da civilização depende de se atingir o estado de PAZ TOTAL. O conceito de PAZ TOTAL é contemplar a PAZ nas suas várias dimensões: ● PAZ INDIVIDUAL (ou INTERIOR), ● PAZ SOCIAL, ● PAZ AMBIENTAL , ● PAZ MILITAR. Buscar a PAZ TOTAL é o grande objetivo de rejeitar a violência e de praticar o NÃO MATAR. A história nos ensina que a matemática, que tanto serviu para matar, pode ser uma excelente estratégia para se atingir uma relação social do não-matar. Mas não apenas a matemática praticada na academia, mas também a matemática praticada pelo povo, não apreendidas nas escolas, as chamadas ETNOMATEMÁTICAS. O PROGRAMA ETNOMATEMÁTICA. As etnomatemáticas são são estratégias do povo (“sociedade invisível”) para sobreviver (lidar com o cotidiano) e para transcender (explicar 3 15 7 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 fatos, fenômenos e mistérios). O Programa Etnomatemática é a teorização dessas estratégias. Há inúmeras etnomatemáticas. Cada uma é praticada, de forma diferente, por grupos culturalmente identificados (profissionais, trabalhadores, jogadores, crianças brincando, grupos étnicos). É uma forma de conhecimento explicado em linguagem comum, sem formalismo próprio, e transmitido por uma pedagogia similar a do ensino mestre→aprendiz no artesanato. São aceitas porque funcionam na situação específica. Como são várias etnomatemáticas, cada uma apropriada a um grupo, todas devem ser respeitadas como servindo ao outro, mesmo que não me sirva. A prática da etnomatemática depende, portanto, de uma ética de RESPEITO pelo diferente. A etnomatemática depende de reconhecer comportamento e conhecimento com uma visão transdisciplinar, transcultural e holística. Comportamento e conhecimento são estratégias desenvolvidas pela espécie humana como estratégias para SOBREVIVER e TRANSCENDER. Sobreviver é a satisfação das necessidades materiais para se manter vivo e dar continuidade à espécie, o que deve ser realizado aqui e agora (comum a todas as espécies), e transcender é perguntar sobre onde (além do aqui) e sobre quando (além do agora, perguntando antes e depois), é ir além das necessidades materiais e da própria sobrevivência do indivíduo e da espécie. COMO PRATICAR ESSE PROGRAMA NO SISTEMA ESCOLAR? Em primeiro lugar, questionando quais fatores influenciam a educação e propondo uma nova conceituação de currículo. Defino currículo como o conjunto de estratégias para se atingir as metas maiores da educação. Tradicionalmente, reconhecve-se como componentes solidários do currículo os objetivos, os conteúdos e os métodos. Essa solidariedade é cartesiana. Minha proposta de reconceituar currículo é organizar a prática educacional em duas vertentes: 4 15 8 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ● a vertente formativa, que mais se aproxima do ensinar, no sentido tradicional; ● a vertente informativa, que reconhece o fato que as mídia, como por exemplo o rádio, o cinema, a televisão, os meios digitais, são responsáveis pela difusão atualizada da informação. A vertente formativa é a essência de um novo conceito de currículo, baseado não na transmissão de conteúdos disciplinares programados, mas no fornecimento, aos alunos, de competências para acessar, socializar e ampliar o conhecimento.3 QUAIS SÃO OS INSTRUMENTOS DA VERTENTE FORMATIVA? •INSTRUMENTOS COMUNICATIVOS: capacidade de processar criticamente informação escrita e falada, o que inclui leitura, escritura, cálculo, diálogo, ecálogo, mídia, internet [LITERACIA]. •INSTRUMENTOS ANALÍTICOS: capacidade de interpretar e analisar criticamente sinais e códigos, de propor e utilizar modelos e simulações na vida cotidiana, de elaborar abstrações sobre representações do real [MATERACIA]. •INSTRUMENTOS MATERIAIS: capacidade de usar e combinar criticamente instrumentos, simples ou complexos, inclusive o próprio corpo, avaliando suas possibilidades e suas limitações e a sua adequação a necessidades e situações diversas [TECNORACIA]. SOBRE A VERTENTE INFORMATIVA A sociedade moderna exige a participação ativa de todos os interessados na tomada de decisões, em todos os setores. O professor deve estimular a crítica sobre: 3 Ubiratan D’Ambrosio: Literacy, Matheracy, and Technoracy: A Trivium for Today, Mathematics Thinking and Learning, 1(2), 1999, pp.131153 5 15 9 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 ● o que se viu, se ouviu e se observou, ● o que se leu e o que se imaginou, e simular tomada de decisões. A materacia é o instrumento básico na tomada de decisões. Esse novo conceito de currículo não privilegia os conteúdos das disciplinas. Os conteúdos (saberes) devem ser resultado das práticas (fazeres). O que melhor se adapta a essas novas práticas pedagógicas é MÉTODO DE PROJETOS.4 Reconhecer a Etnomatemática é praticar respeito pelo diferente, que é essencial para NÃO MATAR, no sentido amplo que conceituei no início desta palestra. Esse deve ser nosso objetivo como educadores. 4 Ver: Paulo Roberto de Oliveira: Currículos de matemática: do programa ao projeto, Tese de Doutorado, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Janeiro 2005. 6 16 0 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 2013 FÓRUM FRONTEIRAS URBANAS O Fórum Fronteiras Urbanas decorreu nos dias 30 e 31 de Julho e 01 de Agosto de 2013 e, conforme previsto em candidatura, com amplitude de congresso nacional. Figure 100 - Fórum Fronteiras Urbanas - 2013 Para a realização deste evento contámos com a preciosa parceria da Associação Portuguesa da Complexidade Sistémica (http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 !apocosis/c1dga) e o apoio do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa que cedeu suas instalações. O evento Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS – 2013, propôs um espaço de reflexão e diálogo entre as múltiplas áreas do conhecimento que abarcam a complexidade do Desenvolvimento Humano e os processos que entrelaçam a 16 1 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Educação Comunitária, atendendo à necessidade emergente de ser e estar com o outro, repensando o momento atual de transição da consciência planetária. Pretende-se, assim, criar um espaço holístico para discussão de ideias, de âmbito transdisciplinar, tendo em vista a dimensão educativa crítica, complexa e sistémica. Trata-se de promover o encontro da diversidade e do pensamento plural num exercício de alteridade: de sentir o outro no outro e em nós, do cuidar do todo, de firmar e partilhar alternativas de autonomia, de lapidar o coração no sentido de desvendar os desejos e possibilidades da terra e de recriar o afecto. Objetivo Institucional do Evento: Atender à disseminação do Projeto Fronteiras Urbanas (FU) e da APOCOSIS. Objetivo Comunitário do Evento: Atender a necessidade emergente de ser e estar com o outro, repensando o momento atual de transição da consciência planetária. Objetivos Específicos do Desenvolvimento do Evento: a) Criar um espaço holístico para discussão de ideias, surgidas no âmbito teórico-transdisciplinar e em torno dos conceitos do Projeto FU e da APOCOSIS, essencialmente o Desenvolvimento Humano, a Educação Comunitária e a Complexidade Sistémica; b) Proporcionar momentos dialógicos, na vertente das práticas interdisciplinares, tendo em vista a dimensão educativa crítica, complexa e sistémica; c) Promover o encontro da diversidade e do pensamento plural num exercício de alteridade: de sentir o outro no outro e em nós, do cuidar do todo, de firmar e partilhar alternativas de autonomia, de lapidar o coração no sentido de desvendar os desejos e possibilidades da terra e de recriar o afecto. O Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS - 2013 destinou-se a um público alvo diversificado que incluiu estudantes, educadores, investigadores, membros e moradores das comunidades intervenientes no Projeto Fronteiras Urbanas, nomeadamente Comunidade do Bairro e Comunidade Piscatória. Tal evento foi concebido para abranger também artistas (poetas, músicos, pintores), agentes da política local, arquitetos, médicos e terapeutas independentes – momentos dialogantes da e na diversidade: uma oportunidade ímpar neste país. Devemos lembrar que, por termos um público alvo diversificado, promovemos este evento a nível da língua portuguesa limitando-o a nível de disseminação para além dos países lusófonos. Tal limitação fundamentou-se no principal objetivo de integração total de todos os membros das comunidades intervenientes do Projeto FU. O montante arrecadado com este evento foi partilhado entre as duas comunidades intervenientes no Projeto FU. Nossa maior intenção foi criar um evento de todos para todos. O Projeto FU e a APOCOSIS foram os promotores do evento. 16 2 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Comissão Organizadora Comissão Científica Mônica Mesquita Mônica Mesquita Isabel Freire Isabel Freire Ana Paula Caetano Ana Paula Caetano Filipa Ramalhete Filipa Ramalhete Alexandre Pais Ubiratan D'Ambrosio Nuno Vieira José Pedro Martins Barata Francisco Silva Mercês Ramos Sílvia Franco Idália Sá-Chaves Lia Laporta Lia Vasconcelos Joana Vieira Rosanna Barros Mercês Ramos Todos os detalhes sobre este evento podem ser encontrados no site que foi criado especificamente para o mesmo: http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 Ressalta-se que a participação dos membros do FU – investigadores, membros das comunidades, colaboradores e simpatizantes foi exaustiva, notando-se uma forte participação nas comunicações orais, posters / objetos digitais. Ressalta-se, também, a intensa integração entre todos os membros do FU na participação nas mesas redondas, Círculos de Cultura e workshops. Abaixo, o logo do evento: Figure 101 - Logo Fórum Fronteiras Urbanas - João Moreira - 2013 16 3 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 COMUNICAÇÃO ORAL Educação Comunitária, a política local da água e as fronteiras urbanas ainda vividas Mônica Mesquita e Durval Carvalho – Comunidades Académica e Bairro Alfabetização Crítica: Vidas e encontros nas Fronteiras Urbanas Joana Vieira e Sílvia Franco – Comunidade Académica Cartografia nas Fronteiras Urbanas: empoderamento de comunidades locais Filipa Ramalhete e Lia Laporta – Comunidade Académica O diretor de turma enquanto mediador de experiências de educação intercultural: a voz e a ação do 6º B. Susana Vassalo e Ana Paula Caetano – Comunidade Académica + Simpatizante Mediação e Educação Comunitária Isabel Freire e Ana Paula Caetano – Comunidade Académica POSTER /OBJETO DIGITAL Alfabetização em Movimentos Populares: a luta pela concretização Catarina Pereira e Solângela Afonso – Comunidades Académica e Bairro 3 “Etnos”: Etnobiologia, Etnomatemática e Etnografia vivida em duas comunidades locais Lia Laporta e Mônica Mesquita – Comunidade Académica MESA REDONDA Dia 30 – Movimentos Transformação e Civilidade Políticos, Educação e Comunidades: Dinamizadora: Isabel Freire (Comunidade Académica) Participante: Lídio Galinho (Comunidade Piscatória) Dia 31 – Espaço, Participação Pública e Fronteiras Urbanas Dinamizadora: Filipa Ramalhete (Comunidade Académica) Participante: Durval Carvalho (Comunidade Bairro) 16 4 Emancipação, FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Dia 01 – Amor, Cultura e Educação: Caminho de Liberdade Dinamizadora: Ana Paula Caetano ( Comunidade Académica) Participantes: João Moreira (Comunidade Académica - Voluntário) CÍRCULO DE CULTURA CC1 – Pesca: Sustentabilidade e Sociedade Dinamizadores: Mário Pedro (Comunidade Piscatória) e Lia Laporta (Comunidade Académica). CC2 – Água e Direitos Humanos Dinamizador: Euclides Fernandes (Mediador Comunitário) CC3 – Atravessar Famtasmas Dinamizadores: Raul Marques (Comunidade Bairro) e Alexandre Pais (Comunidade Bairro) Convidados: Adilson Afonso (Comunidade Bairro) e Daniel Miranda (Comunidade Bairro) CC4 – Mulher, Cultura e Participação Ativa Dinamizadores: Joana Vieira (Comunidade Académica) Convidadas: Vitória Mendes (Comunidade Bairro), Solângela Afonso (Comunidade Bairro) e Ana Paula caetano (Comunidade Académica). CC7 – Kriolu, Amilcar Cabral e Paulo Freire Dinamizadores: Elisângela Almeida (Comunidade Bairro), Isabel Freire (Comunidade Académica) e Sílvia Franco (Comunidade Académica) Convidados: Guilherme Brito (Comunidade Bairro) 16 5 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 WORKSHOP WS1 Batuko – Grupo Nôs Herança (Comunidade Bairro) Organização: Sílvia Franco (Comunidade Académica) WS2 Aprender a Tocar Didgeridoo Organização: Nuno Vieira (Comunidade Académica) Convidados: Romário Almada (Comunidade Bairro); Adilson Afonso (Comunidade Bairro); Durval Carvalho (Comunidade Bairro); Daniel Mirada (Comunidade Bairro) WS3 Dança Cigana – Grupo Costa de Caparica (Comunidade Bairro) Organização: Joana Vieira (Comunidade Académica) WS4 Rede de Arte Xávega – Mário Pedro (Comunidade Piscatória) Organização: Francisco Silva (Comunidade Académica) WS5 Tranças Afro – Elisângela Almeida (Comunidade Bairro) Organização: Catarina Pereira (Comunidade Académica) Três dias intensos de aprendizagens, embebidos de diversidade e alteridade, proporcionaram para além do encontro de diferentes saberes e fazeres, a integração de alguns funcionários do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa que, em determinados momentos participaram ativamente das atividades propostas no encontro. Este evento revelou-se uma ferramenta de diálogo e aproximação entre o corpo docente, discente e funcionários. Neste encontro vivenciou-se o culminar de um processo etnográfico intenso e crítico, incentivando cada membro do FU a ser e estar um cidadão ativo em suas práticas, no caso, práticas de situacionalidade em que foram discutidos, desconstruídos, reconstruídos conceitos que proporcionaram mudanças em todos nós. 16 6 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 WEBSITE, PLATAFORMA e FACEBOOK A página web do Projeto Fronteiras Urbanas (FU) já está criada desde o passado mês de Dezembro, conforme previsto em sede de candidatura à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Os conteúdos deste espaço virtual estão sendo dispostos em duas grandes entradas – produtos abertos e fechados. Nos produtos abertos idealizámos partilhar filmes, fotografias, notas de campo que mostre a nuance do FU. Este espaço está idealizado para poder ser consultado por qualquer pessoa que navegue na internet, tendo consciência que está direcionado para a área da investigação e da educação em diversos níveis. Nos produtos fechados disponibilizaremos dados mais específicos do processo do projeto nos quais compreendem-se filmes, fotografias, notas de campo e relatórios já com conteúdos analisados. Conforme solicitado à FCT, no âmbito da extensão, estamos trabalhando este espaço visando, também, a capacitação de dois jovens das comunidades envolvidas, bem como diversos membros das mesmas no critério primário de análise e seleção prévia dos dados a serem disponibilizados. Mantivemos um espaço ativo de diálogo e armazenamento de dados na plataforma da Universidade de Lisboa - http://elearning.ul.pt/, restrito aos investigadores da Comunidade Académica. Tal plataforma serve de base de dados das notas de campo, relatórios, referencias bibliográficas, atas dos encontros bimestrais e documentos em geral de todo o processo do FU. Relatamos que esta plataforma foi muito utilizada no começo do projeto e, após a abertura de uma página no Facebook, a utilização passou a ser menor. Contudo, esta é a nossa principal base de armazenamento de documentos da nossa etnografia. Nossa página do Facebook foi criada, num primeiro momento de forma restrita a todos os membros das comunidades envolvidas. Porém, após nosso encontro Fórum Fronteiras Urbanas decidimos abrir a mesma publicamente (restrita aos amigos e amigos dos amigos). Este veículo de informação facilitou, ainda mais, a divulgação das graves injustiças sociais vivenciadas pelos membros das duas comunidades envolvidas e permitiu que mais pessoas conhecesse este projeto. https://www.facebook.com/fronteirasurbanas 16 7 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 CURTA-METRAGEM Figure 102 - Making-of Curta-Metragem Fronteiras Urbanas - 2012_2013 Um dos nossos produtos finais do Projeto Fronteiras Urbanas (FU) é uma curtametragem documental. Entretanto face a tantas imagens capturadas no exercício etnográfico, já desenvolvemos uma curta-metragem para o encontro Fórum Fronteiras Urbanas, de forma condensada: http://www.youtube.com/watch?v=YpSHgsSi5ds&feature=em-upload_owner ...e, também, já realizamos nosso trailer https://www.youtube.com/watch?v=J-2k9xzCWDU. Porém, ainda estamos trabalhando na edição final da curta-metragem. Este trabalho será finalizado na extensão do FU já concedida pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Como, a pedido dos membros das duas comunidades envolvidas, realizámos o quarto momento etnográfico, a análise crítica das imagens em conjunto com os membros das mesmas para a edição do nossa curta-metragem documental não foi desenvolvida. A produtora Anonymage, que propôs neste quarto momento etnográfico a realização de um workshop de filmagem, bem como uma edição na Comunidade Bairro - no âmbito da Escola do Bairro, tem em mãos uma grande produção de filmes do FU. Como previsto em candidatura realizamos, em Maio de 2012, um workshop de fotografia com os membros das três comunidades envolvidas pelo primeiro realizador – proposto em candidatura, do qual colectamos produções fotográficas de todos membros do FU e foi o grande início da recolha das imagens para a curta-metragem 16 8 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 documental. Por lapso este contributo não foi contabilizado nos produtos do projeto no Relatório de Progresso 1. Para a edição final da nossa curta-metragem documental utilizaremos excertos de fotos e filmes realizados ao longo de todo percurso do FU, imagens estas coletadas por todos os membros envolvidos no projeto. Nosso portfólio das imagens encontra-se no computador do projeto em metadados, os quais serviram para a análise de dados interativa feita até então e servirão, ainda com mais intensidade, nos últimos seis meses do FU, para uma análise final. Nesta fase final teremos dois níveis de análise: o coletivo, no qual todos os membros envolvidos analisarão as imagens projetadas em sessões sistemáticas de Círculos de Cultura; o individual, no qual os investigadores analisarão a luz do quadro teórico dialógico constituído ao longo do processo de investigação. Neste momento disponibilizamos, em nosso canal privado do Youtube, aproximadamente vinte vídeos sobre histórias de vida, os quais utilizamos como principais ferramentas de análise contínua desenvolvida ao longo do processo etnográfico. Disponibilizámos, em nosso Facebook, algumas imagens, previamente selecionadas, como uma pequena mostra da gigante colectânea que temos em mãos. Relatamos que como não foi previsto em candidatura a manutenção de um espaço virtual, no qual pudéssemos armazenar as imagens colhidas nesta etnografia crítica, estamos encontrando constrangimentos para poder disponibilizá-las a comunidade científica, visto que no formato de metadados poderiam ser de fácil consulta externa. Sendo assim, reforçamos que mesmo dispondo de um espaço pequeno no servidor da nossa instituição acolhedora, o qual não suporta nem vinte por cento dos nossos dados, todas as nossas imagens estão locadas no computador do projeto, bem como armazenadas em um disco rígido, como back-up. Segue o guião: Curta-Metragem Documental Fronteiras Urbanas GUIÃO 1. CONTEXTO DO ESPAÇO 35’’ a. Imagens de contexto geografico . Fotografias aereas e cartografia militar. b. Vídeos de vista gerais da Costa De Caparica em planos estaticos e panoramica da costa (caparica/Fonte da Telha) Áudio: Narrativa da História de Vida da Costa de Caparica. Som de fundo As Aves Migratórias 2. TÍTULO 40’’ 16 9 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 a. Imagens das Comunidades (mapa de localização geral , imagem aérea, ...); b. Narrativa da História das Comunidades e Objectivo Geral. 3. PROJECTO – COM QUEM, COMO e PARA QUEM ? 3’00’’ a. Depoimentos para remontar a existencia das 3 comunidades e as tarefas: i. Barata – Com quem - espaço; ii. Ubi – Como; iii. Alexandre – Para quem. b. Imagens dos entrevistados intercaladas por imagens locias. 4. ALFABETIZAÇÃO CRÍTICA 5’00 Vídeos de aplicaçao de tarefa com contextualizaçao dos intervenienetes . a. Sílvia – Introdução; b. Narrativa com imagens das tarefas; c. João – Educação e Arte; d. Madalena - Aprendizagem; e. Lucília - Teatro; f. Ana Paula – Poesia; g. Isabel – Krioulo; h. Euclides – Batuko; i. Lizzi - Krioulo; j. Alemão – Escola tradicional na CC; k. Susete - Setubal; l. Vitoria - Aula; m. Alina - Aula. 5. CARTOGRAFIA 3’00 Vídeos de aplicaçao de tarefa com contextualizaçao dos intervenienetes . a. Filipa – Introdução; b. Narrativa com imagens e tarefas; c. NOUTRACOSTA ; d. Vítor; e. Lia; f. Lídio. 6. HISTÓRIAS DE VIDA 8’00 Vídeos de aplicaçao de tarefa com contextualizaçao dos intervenienetes . a. Francisco – Pesca; 17 0 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 b. c. d. e. f. g. h. i. Lia Vasconcellos – Pesca; Mario Pedro - Restrição; Mario Raimundo - Conhecimento Geracional; Nuno – Introdução; Raul – Venda Ambulante; Du - Gulbenkian; Daniel - Água; Mana - Destruição. 7. Disseminação 5’00 Vídeos de aplicaçao de tarefa com contextualizaçao dos intervenienetes . a. EntreProjectos; b. Encontro Anual; c. Fórum ; d. Festa de Natal. 8. Vozes a. b. c. d. e. 17 1 Finais - Acesso à água. 5’00 Guilherme - Poema de Transformação; Lídio – Transformação; Ubi; Barata; Mônica. FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 VOZES FRONTEIRIÇAS Decidimos trazer neste relatório vozes que, de diferentes maneiras, atuaram no Projeto Fronteiras Urbanas (FU). Deixamos, abaixo, vozes representativas dos consultores, dos membros das três comunidades envolvidas no processo do FU, bem como dos educadores voluntários. Figure 103 - Forum Fronteiras Urbanas - 2013 Sinto-o em meu pulsar…. O Fronteiras Urbanas, enquanto projeto académico, foi pensado para ser um espaço de encontro da diversidade e do pensamento plural num exercício de alteridade: de sentir o outro no outro e em nós, do cuidar do todo, de firmar e partilhar alternativas de autonomia, de lapidar o coração no sentido de desvendar os desejos e possibilidades da terra e de recriar o afecto. … tem se revelado como um caminho de libertação e de organização no qual o direito de aprender, de compreender, de viver, de estar, de ir e vir, de ser e de amar faz-se presente. ... seres invisíveis e não-espaços urbanos deixam de se localizar nas fronteiras e passam a ter suas vozes ouvidas… e seus espaços utilizados, discutidos! Vozes e espaços que hoje tornam-se o cerne e o maior propósito de estarmos juntos – aqui e agora! Vozes que delineando seus desejos, analisando suas possibilidades, reinventando seus caminhos e redirecionando a história da ciência, fazem com que os tais “conhecimentos fundamentados sobre princípios corretos e únicos” estejam assentes numa ética maior, onde uma nova consciência planetária brota como uma semente, um gérmen fecundo! ... demos as mãos e lançamos ao mundo da investigação científica a beleza de se ser o que é! Os desejos de ler, de entender e de saborear o mundo são desvendados transpondo, assim, a barreira de se investigar “sobre” ou de simplesmente se investigar “o” para a delícia de se investigar com. … todo este exercício de caminhar juntos tem um propósito REAL.... é ver as comunidades Bairro e Piscatória com voz nas decisões das políticas locais e, juntos, transporem a barreira que lhes é imposta ao acesso à água e, consequentemente, ao acesso à vida! Mônica Mesquita 17 2 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 CONSULTORES Arquiteto José Pedro Roque Gameiro Martins Barata Ao consultor não compete empenhar-se diretamente na ação para a qual é solicitado, mas sim acompanhar de perto o desenvolvimento do projeto, mantendo-se atento aos problemas que vão surgindo e apoiando os operacionais a todos os níveis segundo a suas capacidades e experiência, pelo que valerem. Figure 104 - Arquiteto José Pedro Roque Gameiro Martins Barata Foi possível ao consultor observar a ação persistente de estabelecimento progressivo de relações entre as comunidades vencendo as resistências herdadas de uma situação de estranhamento social, quando não mesmo de hostilidade, e a gradual aceitação da presença do projeto FU no meio restrito e isolado do Bairro. A aceitação das ações de educação comunitária e pessoal e do incitamento à criação de uma consciência cívica e reivindicativa são o exemplo perfeito da capacidade de uma colectividade agir a partir do seu interior, ainda que apoiada num conjunto de vontades e valências exteriores e empenhadas. Convém refletir, perante a experiencia vivida durante esta primeira fase do projeto, na importância fundamental da existência de um problema prático, concreto, ainda não resolvido e ainda polo de dificuldades e lutas contra o aparelho oficial que neste caso é o da água. É em torno deste problema vital que se desenvolve toda a lógica das ações cívicas e culturais que o projeto FU estimula. Um objectivo claro, visível, e que não pode ser disfarçado ou minimizado é o eixo, ou tronco sobre o qual convergem as ações se se procurar uma adesão a um projeto colectivo, e mais poderoso do que qualquer plano de ação baseado numa intenção geral ainda que generosa. E esta é uma lição que deve ser entendida e oportunamente difundida pelo seu carácter exemplar, e, como já se pode entrever, mesmo a nível internacional. J.P. Martins Barata 17 3 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Ubiratan D’Ambrosio O convite para ser Consultor do projeto Fronteiras Urbanas foi para mim um momento acadêmico muito gratificante. Acompanhar, desde os primeiros momentos, a concepção desse projeto tão original e com um profundo alcance social, foi um privilégio. Mesmo sem um envolvimento direto na execução do projeto, mas acompanhando e avaliando os seus principais passos, pude sentir o quanto aqueles diretamente envolvidos com os trabalhos na comunidade, dedicaram-se, com competência e entusiasmo, ao êxito do projeto. O Projeto Fronteiras Urbanas é exemplar como a efetivação do que representa uma estratégia fundamental para a superação das grandes crises do mundo moderno. Ao notar que renomados acadêmicos alertam com muita veemência para as ameaças que afligem todo o mundo, pondo em questão a própria continuidade da civilização, a importância deste projeto Figure 105 - Prof. Dr. Ubiratan D'Ambrosio fica evidente. Como disse o cientista inglês Martin Rees, num Editorial da revista Science (March 08, 2013) “As principais ameaças à existência sustentável da humanidade agora vêm de pessoas, não da natureza. Choques ecológicos que degradam irreversivelmente a Biosfera podem ser desencadeados pelas exigências de um crescimento insustentável da população do mundo.” Ao crescimento da população acrescenta-se a grande dinâmica demográfica. As populações humanas, mais do que em outros tempos, vêm se deslocando com crescente intensidade e, em conseqüência, agravam-se aspectos sócio-políticos, como adaptações a novas condições de moradia, de trabalho, de segurança e de saúde. Isso é particularmente notado nas grandes metrópoles, nas quais surtos de imigrantes, legais e ilegais, são forçados a viver em condições de moradia e de empregabilidade, de higiene e de saúde, de necessidades básicas e de segurança, inaceitáveis e pouco dignas. Pressões e circunstâncias econômicas e sociais, como pobreza, diferentes costumes, inclusive vestuário, discriminação e as conseqüentes influências coercitivas de leis e regras fazem com que esses imigrantes se agrupem em bolsões da cidade, geralmente reunindo membros de uma etnia ou outro grupo minoritário. Isso afeta profundamente o cenário urbano das metrópoles. Esse não é um fenômeno social novo. Temos registro de situações semelhantes na Antiguidade, na Idade Média e no Renascimento e muito fortemente durante o período colonial. A absorção de imigrantes, 17 4 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 sobretudo das novas gerações de seus filhos, que devem ser integrados aos sistemas educacionais nacionais, é um dos maiores desafios dos tempos atuais, em todos os países. Isso afeta particularmente os países mais desenvolvidos. O Projeto Fronteiras Urbanas tem como foco essencial esse desafio. Situado na região metropolitana de Lisboa, o projeto concentra suas atividades em duas comunidades de Costa de Caparica: Bairro (constituída por moradores de um assentamento ilegal desenvolvido há quatro gerações) e Piscatória (constituída por pescadores locais). O desafio de conflitos naturais entre as comunidades, de condições básicas de saneamento e sobretudo do abastecimento de água, de segurança e de condições dignas de moradia, saúde, educação e emprego, são abordados pelo Projeto Fronteiras Urbanas com uma metodologia científica transdisciplinar, sintetizada na proposta do Programa Etnomatemática. Teoria e prática são integradas neste projeto exemplar, cuja concepção e metodologia poderão ser adotadas em outros centros urbanos do mundo. Nas minhas visitas às comunidades pude sentir como o Projeto Fronteiras Urbanas criou uma atitude positiva de que mudanças são possíveis, sem confrontos violentos, mesmo em condições hostis. Agradeço ter tido a oportunidade de participar deste projeto. Foi, para mim, importante acompanhar uma ação que poderá evitar uma ruptura social irreversível. Assim, termos a possibilidade da existência sustentável da civilização. O Projeto Fronteiras Urbanas nos aponta um caminho para que essa possibilidade se realize. Ubiratan D’Ambrosio 17 5 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 COMUNIDADES FU Guilherme Brito 17 6 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Ana Paula Caetano Aqui, no meio, uma fronteira. A separar sentidos. Ordem a regular o nosso trânsito. Regras partilhadas que não questionamos. A facilitar-nos o quotidiano. A regular-nos o movimento. A impor-nos trilhos. Nós no meio, tantas vezes apeados, um dia questionamo-nos. Porquê este frenesim de ir para algum lado? Que vidas se escondem nessas outras fronteiras que são estas paredes de betão? Porque temos também de ir para algum lado, impedidos de ficar aqui, na fronteira? Porquê este impulso de atravessá-la? Porquê este medo de não conseguir sair? Por onde passar com o menor risco para as nossas vidas? Como chegar a alguém, quando todos estão separados - dentro de automóveis, prédios, estradas, a nossa própria roupa, a pele… Precisamos delas, as fronteiras. Para nos distinguirmos uns dos outros. Para nos preservarmos, identidades. Para interagirmos a partir do ponto onde o outro é fora. Um jogo para nos experimentarmos. Para nos conhecermos. Para nos aprofundarmos. Para de algum modo, e paradoxalmente, nos expandirmos. E entretanto, sem quase nos darmos conta, erguemos muros cada vez mais altos, fechamo-nos em condomínios que nos desprotegem dentro. Deixamos de fora todos aqueles que não percebem os nossos códigos. Separámo-nos e perdemos o sentido da harmonia. O que nos salva? Como acordar deste sonambulismo onde estamos mergulhados? Qual o sentido? Quem somos? O que queremos ser? Um a um acordando… Escolher parar aqui no meio e acordar. Escolher buscar os outros para com eles nos encontrarmos. Escolher atravessar fronteiras e encontrá-los fechados dentro das suas. Escolher ser com eles abrindo trilhos novos. Para os percorrermos juntos. Para que nos levem onde nunca fomos. Para que as paredes visíveis e invisíveis se afastem, alarguem o espaço dentro e se sentir-nos tornem mais transparentes , deixando através. Para que, cada vez mais, mais se encontrem. Para chegarmos ao ponto onde já somos ligados. confiança Sem o medo do outro, diferente de nós. Com a de podermos ser juntos, muito mais. Deixando que a vibração do amor se estenda. Vivendo a realidade do sonho no qual este nos repete: “só o Só o AMOR é Real!” 17 7 AMOR é Real! Só o AMOR é Real! FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Daniel Miranda O Projeto Fronteiras Urbanas deu-nos a realidade de uma rotina alternativa, comungando uma nova comunicação de uns para com os outros. O curso de português ficará para sempre na minha memória, pela experiência de lidar com os meus vizinhos e amigos de uma forma diferente. Por isso e por meio desta e de outras atividades, conheci outras caraterísticas de suas humildes personalidades que até então não conhecia. O projeto deu-nos o rumo de respirar outras sensações e nossos dias deixaram de ser sempre a mesma coisa, deixaram de ser um rodeio, deixaram de ser círculos e labirintos ou uma folha em branco. E na diversidade de reuniões e programas somos o nosso próprio Diário de Notícias… Se alguém por bem nos vê bem no nosso bairro, então comigo próprio me faz sentir bem. E esta avaliação das relações humanas foi o que mais me sensibilizou, pois creio que este é o princípio de toda a educação. Nesta transmissão de diálogos e afetos, notei a importância para muita gente do meu bairro desta comunhão convosco e por este ato e muito mais… Fronteiras Urbanas. 17 8 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Lídio Galinho 17 9 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Francisco Silva Fronteiras Urbanas Fronteiras Urbanas, o melhor é o nome, diz tudo e deixa tudo em aberto, a fronteira divide é espaço de passagem e permanência, separa e une. O que acontece, aconteceu e acontecerá, não pode ser manipulado nem conduzido, o despoletar de processos que se autonomizam, crescem, definham, estagnam. Os efeitos são colaterais, não resultam de programação, quando se solta a corda do arco, já não se pode parar a seta. Quantas possibilidades, quantos caminhos são possíveis nas terras de ninguém em que todos se fazem presentes? Quantos lugares semelhantes e distantes, quantas perguntas para quantas respostas. Construir fronteiras é definir identidades? Construir identidades derruba fronteiras? 18 0 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Solângela Afonso O Fronteiras Urbanas, para mim, foi muito importante porque nos mostrou que temos que acreditar em nós, que somos capazes e que não somos inferiores a ninguém. Ensinou, também, a ser unidos uns com os outros. Com o Fronteiras Urbanas aqui no Bairro começámos a nos unir e isso foi muito bom, porque formámos uma Comissão de Bairro e, também, um grupo de batuque, peças de teatro, entre outras coisas. Juntos, consegui uma escola para mim, o que foi muito importante porque sempre quis estudar, mas não conseguia. Com a ajuda do Fronteiras Urbanas, graças a eles hoje estou a estudar. Gostei muito das festas de Natal que nós organizámos e das atividades que fizemos dentro e fora do Bairro, por exemplo: na Trienal de Arquitetura, no Fórum Fronteiras Urbanas, as saídas do grupo de batuque… Tudo isso foi, também, para nosso benefício, porque tive mais conhecimento e divertime muito. Obrigada por tudo que me ensinaram. 18 1 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Filipa Ramalhete Num mundo onde a competitividade a excelência se tornaram palavras de ordem, cada vez mais desprovidas de sentido, o projeto Fronteiras Urbanas (FU) situa-se noutra esfera de referências. Uma delas é o brio. Palavra hoje em desuso, significa, segundo o dicionário da Porto Editora, "Sentimento de dignidade que induz a cumprir o dever ou ainda mais do que o dever". No mundo atual, e no estado atual do país, parece não haver lugar seguro para as três comunidades do FU (académica, habitantes das Terras da Costa e Pescadores da Costa de Caparica). As três são tolhidas na sua atuação, por razões distintas. Um ponto é comum a todas: fora da lógica competitivas, são - cada uma em sua medida - invisíveis. Mas são formadas por pessoas (essas sim) excelentes, com brio, dignidade e vontade de fazer aquilo que acham correto, de aprender e ensinar, sem medo de sair das suas referências e seguranças - pessoais, epistemológicas, espaciais - para, com brio, esbater ou eliminar fronteiras. Este projeto demonstra que existem caminhos alternativos para o pensamento e para a atuação académica, que o conhecimento se produz e enriquece em processos dialéticos de aprendizagem e que a ponte para um território e uma sociedade mais justos (e, porque não?, capazes de sobreviver num mundo competitivo) terá seguramente por passar por fomentar e acarinhar o brio. Dele sobressairão muitas e variadas excelências, além de muitas outras coisas, porventura menos excelentes mas igualmente ricas em valor acrescentado para o todo. 18 2 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 EDUCADORES VOLUNTÁRIOS Madalena Santos ESTAR COM... A VIDA e APRENDEMOS Figure 106 - Escola do Bairro - Matemática - 2013 Figure 107 - Escola do Bairro - Agricultura - 2013 18 3 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Anna Buono Fronteiras Urbanas o lugar onde se pode encontrar a realidade de outra realidade, a que muitas vezes não conhecemos, ignoramos o lugar que põe em questão o nosso ser, o nosso dia a dia, a nossa profissão o lugar onde nasce o entusiasmo de querer fazer com alma, de querer fazer bem, de querer fazer para conseguir algo maior, em conjunto com outras pessoas o lugar onde se tem medo de poder falhar, onde a humildade e a consciência de não vivermos todos nas mesmas condições serão as primeiras ferramentas para agir bem o lugar onde saborear a riqueza das coisas simples o lugar onde gostar, apreender, partilhar, crescer, desejar, agir, desafiar. Rodrigo Viterbo Sendo um profissional da área da música, enquanto músico e professor de didgeridoo, foi muito importante trabalhar com o Fronteiras Urbanas. A proximidade e o conhecimento que o projeto tem das comunidades torna qualquer intervenção um sucesso tanto para as comunidades como para com os profissionais externos. Uma palavra de verdadeiro agradecimento pelas várias oportunidades que foram criadas para que o didgeridoo estivesse presente! 18 4 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Manuela Alves 18 5 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Aline Conrado Antes de mais nada, gostaria de parabenizar e prestar minha admiração a todas as pessoas que se dedicam com amor nas atividades realizadas na Comunidade Bairro. Entrei em contato com o Fronteiras Urbanas através da professora Drª Ana Paula Caetano na elaboração de um trabalho para a disciplina de Mediação em Educação, e então passei a conhecer, admirar e sempre que possível participar em atividades propostas pelo projeto Fronteiras Urbanas para e com as pessoas do bairro, e para mim o que era para ser apenas um trabalho de uma disciplina se transformou em amor. O Fronteiras Urbanas com muita força e união promove momentos que para sempre ficarão em minha memória, pois passo a ter a certeza de que “um ato faz toda a diferença”, julgo que se tivéssemos projetos Fronteiras Urbanas com pessoas responsáveis e acima de tudo dedicadas como estas, espalhados pelo mundo, certamente teria desta maneira, uma grande revolução. Eu sou de uma comunidade no interior do Paraná, no sul do Brasil, faço parte do MST(Movimento dos trabalhadores rurais sem terra), um movimento que luta por direitos de terra desde 1986, posso dizer que conheço um pouco da realidade destas pessoas que vivem na Comunidade Bairro, pois também não tive água canalizada em casa até dias atrás, e só quem passa por isso é que sabe realmente o quanto é difícil. Mas conhecer o projeto, me fez nascer um fio de esperança de que coisas muito boas ainda estão por acontecer, ao me deparar com pessoas que se dedicam em ajudar, ensinar quem precisa e tem vontade, é uma dádiva. O projeto me chamou muita atenção e espero acompanha-lo até o seu término. Obrigada pela oportunidade e podem contar sempre comigo. 18 6 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 Lucília Valente …Sabia do projeto já há algum tempo, tinha já sentido essa força mágica e envolvente da Mônica - sua coordenadora, e vivendo na Costa da Caparica havia o desejo de ir visitar a comunidade … mas o dia-a-dia devorador do tempo fez com que esse momento fosse sendo adiado… até que foi no Fórum Fronteiras Urbanas que “os vi” pela primeira vez, ali na Universidade a pedir a palavra... a expor os seus problemas... O Sr. Raul e o Du a lerem cartas que tinham apresentado à Câmara, a falar como era difícil viver sem água em casa… e tocou-me a forma como se apresentavam “empoderados” e com voz… Foi no contexto do congresso de Julho que no regresso da conferência entrei pela primeira vez na comunidade das Terras da Costa... e entrei com a Mônica naquele outro mundo em que o comum das pessoas que aqui vive não ousa sequer entrar... só ao longe… Tinha a imagem de plásticos presos por pedras e cordas no meio das hortas… mas não imaginava sequer o que se passava nesse mundo... naquela espécie de gueto... Naquela tarde ao entrar no bairro descobri pelas mão da Mônica um outro mundo, onde há luta e labuta... vi a casa da Dona Vivi que me deu um molho de cebolas que orgulhosamente cultiva… bebi uma cerveja naquele espaço particular de encontrar em frente da casa do Du …e vi... ... vi as crianças brincando e correndo nos campo de futebol de terra batida… … vi crianças com vontade de aprender… de olhar vivo… … vi onde viviam e como se imaginam formas de ultrapassar a falta de água canalizada… …vi gente que quer viver com dignidade. E fiquei com vontade de a este “vi”... juntar o “ver” e formar a palavra “viver”… e viver mais aquele espaço e “com” aquelas pessoas … “conviver”… Passei a ir mais vezes a comunidade do bairro integrando, no possível, a escola comunitária... estou no início desta descoberta… mas muito tocada pelo que me foi dado viver e com vontade de me envolver mais num processo de descoberta e crescimento “com” aquelas pessoas ... 18 7 FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Figure 108 - Projeto Fronteiras Urbanas - 3 comunidades em 1 projeto - Referências As referências, abaixo listadas, correspondem a toda bibliografia utilizada durante a investigação do Projeto Fronteiras Urbanas. Abdallah-Pretceille, M. (2005). L’Éducation Interculturelle. Paris: PUF. Adam, S.; Alangui, W. & Barton, B. (2003). A comment on: Rowlands and Carson “Where would formal, academic mathematics stand in a curriculum informed by Ethnomathematics? A critical review”. 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