RP1-2 - Fronteiras Urbanas

Transcrição

RP1-2 - Fronteiras Urbanas
FRONTEIRAS URBANAS
A dinâmica de encontros
culturais na Educação
Comunitária
PTDC/CPE_CED/119695/2010
Relatório de
Progresso
2012 - 2013
por
Mônica Mesquita
Janeiro 2014
Instituto de Educação - Universidade de Lisboa
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ÍNDICE
INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 4
DESENVOLVIMENTO TEÓRICO METODOLÓGICO ........................................................... 9
EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA .................................................................................................... 11
CÍRCULOS DE CULTURA ............................................................................................................. 13
ARTE E EDUCAÇÃO ...................................................................................................................... 17
PROGRAMA ETNOMATEMÁTICA .......................................................................................... 23
CURRICULUM TRIVIUM .............................................................................................................. 25
TRANSCULTURALIDADE ........................................................................................................... 28
COMPLEXIDADE SISTÉMICA .................................................................................................. 29
TRANSDISCIPLINARIDADE ........................................................................................................ 30
ETNOGRAFIA CRÍTICA ............................................................................................................. 31
ÉTICA .............................................................................................................................................. 36
A HUMANIZAÇÃO DO ESPAÇO .................................................................................................. 36
MOMENTO ETNOGRÁFICO ..................................................................................................... 41
MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ..................................................................................................... 42
ALFABETIZAÇÃO CRÍTICA ..................................................................................................... 50
HISTÓRIAS DE VIDA ................................................................................................................... 67
CARTOGRAFIA MÚLTIPLA ...................................................................................................... 82
ENTREPROJECTOS................................................................................................................... 102
NOUTRA COSTA .......................................................................................................................... 103
LER COM ARTE ............................................................................................................................ 104
COZINHA COMUNITÁRIA ......................................................................................................... 105
OUTRACENA ................................................................................................................................ 106
CHICALA....................................................................................................................................... 107
DISSEMINAÇÃO ......................................................................................................................... 108
PUBLICAÇÕES ........................................................................................................................... 108
LIVRO ............................................................................................................................................ 108
CAPÍTULO DE LIVRO ................................................................................................................. 111
ARTIGO EM REVISTA CIENTÍFICA .......................................................................................... 111
ARTIGO EM ATA CIENTÍFICA .................................................................................................. 112
ARTIGO EM REVISTA ................................................................................................................. 113
COMUNICAÇÃO ORAL .............................................................................................................. 113
PALESTRA, WORKSHOP E MESA REDONDA ......................................................................... 115
POSTER E OBJECTO DIGITAL ................................................................................................... 117
JORNAL FRONTEIRAS URBANAS............................................................................................ 118
Edição 1 .......................................................................................................................................... 119
Edição 2 .......................................................................................................................................... 121
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Edição 3 .......................................................................................................................................... 123
Edição 4 .......................................................................................................................................... 125
Edição 5 .......................................................................................................................................... 127
Edição 6 .......................................................................................................................................... 129
TESES, DISSERTAÇÃO E PAP.................................................................................................. 131
MÔNICA MESQUITA ................................................................................................................... 131
ALEXANDRE PAIS ...................................................................................................................... 132
LIA LAPORTA .............................................................................................................................. 134
SÍLVIA FRANCO .......................................................................................................................... 135
JOANA VIEIRA ............................................................................................................................. 136
NUNO VIEIRA .............................................................................................................................. 137
CATARINA PEREIRA .................................................................................................................. 138
JOSÉ LINHARES ........................................................................................................................... 139
ANA FILIPA .................................................................................................................................. 140
ALINE CONRADO ........................................................................................................................ 141
RENAN LAPORTA ....................................................................................................................... 142
ENCONTROS ............................................................................................................................... 143
ENCONTRO MENSAL ................................................................................................................. 143
ENCONTRO BIMESTRAL ........................................................................................................... 144
ENCONTRO DE PARES ............................................................................................................... 145
ENCONTROS ANUAIS ................................................................................................................ 146
2012 CONFERÊNCIA INTERNA ................................................................................................. 147
Programa ......................................................................................................................................... 147
Apresentações ................................................................................................................................. 152
Relatórios dos Consultores ............................................................................................................. 154
2013 FÓRUM FRONTEIRAS URBANAS ................................................................................... 161
Comunicação Oral .......................................................................................................................... 164
Poster /Objeto Digital ..................................................................................................................... 164
Mesa Redonda ................................................................................................................................ 164
Círculo de Cultura........................................................................................................................... 165
Workshop ........................................................................................................................................ 166
WEBSITE, PLATAFORMA E FACEBOOK ............................................................................. 167
CURTA-METRAGEM ................................................................................................................ 168
VOZES FRONTEIRIÇAS ........................................................................................................... 172
MÔNICA MESQUITA ........................................................................................................................ 172
CONSULTORES .......................................................................................................................... 173
ARQUITETO JOSÉ PEDRO ROQUE GAMEIRO MARTINS BARATA .................................................... 173
UBIRATAN D’AMBROSIO ................................................................................................................ 174
COMUNIDADES FU.................................................................................................................... 176
GUILHERME BRITO ......................................................................................................................... 176
ANA PAULA CAETANO .................................................................................................................... 177
DANIEL MIRANDA........................................................................................................................... 178
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LÍDIO GALINHO ............................................................................................................................... 179
FRANCISCO SILVA ........................................................................................................................... 180
SOLÂNGELA AFONSO ...................................................................................................................... 181
FILIPA RAMALHETE ........................................................................................................................ 182
EDUCADORES VOLUNTÁRIOS .............................................................................................. 183
MADALENA SANTOS ....................................................................................................................... 183
ANNA BUONO ................................................................................................................................. 184
RODRIGO VITERBO ......................................................................................................................... 184
MANUELA ALVES ........................................................................................................................... 185
ALINE CONRADO............................................................................................................................. 186
LUCÍLIA VALENTE .......................................................................................................................... 187
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 188
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
INTRODUÇÃO
Mônica Mesquita
Alexandre Pais
Projeto Fronteiras Urbanas: Como, porquê, para quem e para quê?
Um grupo de investigadores com diferentes formações académicas, juntamente com
duas comunidades situadas na Costa de Caparica, desenvolveu o Projeto Fronteiras
Urbanas (FU) - financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e
apoiado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (IEUL).
O FU surgiu como resultado de um longo processo de socialização entre sua
investigadora principal e duas comunidades locais da Costa de Caparica: Bairro
(constituída por moradores de um assentamento ilegal desenvolvido há quatro
gerações) e Piscatória (constituída por pescadores locais). Tal socialização teve sua
expressão maior num projeto de intervenção no âmbito do Programa Escolhas 1 :
D.A.R. à Costa Tr@nsFormArte, no qual uma investigadora e um educador voluntário
do FU – Sílvia Franco e João Moreira, bem como a investigadora principal mantiveram
um papel ativo. Este projeto de
intervenção foi sensível entre os
conflitos de duas comunidades locais
marginalizadas com a sociedade urbana
circundante, revelando a clara existência
de uma fronteira socioeconómica.
Face
a
esta
sensibilidade,
acima
descrita, a estrutura do FU foi pensada
coletivamente desde 2009 por um
movimento de pessoas – Movimento
Fronteiras Urbanas, sensível à injustiça e
à humanidade, embora o projeto
académico em si só tenha começado em
2012.
Figure 1 - Caminhos - João Moreira - 2013
O trabalho diário desenvolvido nas
comunidades desde 2009 nos permitiu
experimentar, discutir e repensar nossas imagens e ações etnográficas, e criou o
desejo de construir uma forma mais sistemática de estar juntos. A busca de tal
sistematização foi importante uma vez que, durante os três anos que precederam o
FU, encontramos uma série de obstáculos legais tornando-se muito difícil estabelecer
uma colaboração aberta e emancipatória. Nosso encontro não foi bem recebido pelas
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http://www.programaescolhas.pt/
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autoridades locais (Câmara Municipal, Igreja e Polícia). A destruição, por parte do
governo local, de um centro cultural construído pelo Movimento Fronteiras Urbanas
em 2010, bem como os ataques constantes que os membros deste grupo sofreram
pela polícia local são dois dos muitos exemplos.
A Costa de Caparica é uma cidade costeira, situada na margem sul do rio Tejo, de
frente para a capital Lisboa, e geograficamente limitada pelo oceano e a face da Arriba
Fóssil. É uma cidade dormitório para as pessoas que trabalham na capital e uma
importante estância balnear, não só para os turistas de todo o mundo, mas também
para a elite de Lisboa que mantém propriedades de luxo de veraneio e mantém,
também, o seu direito de voto no local.
A Costa de Caparica é igualmente uma vila de pescadores. Esta cidade foi fundada por
duas comunidades distintas de pescadores de Ílhavo e Olhão - localizadas no norte e
no sul de Portugal, respectivamente. A Comunidade Piscatória está situada na zona
costeira desta cidade - conhecida como Costa. Em contraste, a zona rural – localizada
na base dos penhascos fósseis, é conhecida como Terras da Costa. Nesta zona rural
foi desenvolvida pela comunidade agrícola, sendo atualmente ocupada, embora não
em sua totalidade, por populações de imigrantes de outros países – maioritariamente
de língua portuguesa, comunidades ciganas e migrantes portugueses - que formam a
Comunidade do Bairro, em nosso estudo etnográfico.
Tanto a Comunidade Piscatória quanto a Comunidade Bairro foram silenciadas por
uma minoria da população, a qual forma uma maioria política local. O encontro dessas
comunidades com outro grupo – Comunidade Académica, avivou a proximidade entre
estas comunidades locais. Esta aliança fortificou ambas as comunidades e alinhou-as
para um conjunto de objetivos comuns.
Comunida
de
Piscatória
Comuni
dade
Bairro
FU
Comuni
dade
Académi
ca
Figure 2 - Três Comunidades do Projeto Fronteiras
Urbanas
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Em algum momento, precisávamos desenvolver uma maneira legal de estar juntos e a
academia foi nossa opção, visto que no Movimento Fronteiras Urbanas havia um
número considerado de investigadores académicos. Esta opção foi discutida e
aprovada pelos membros das três comunidades, os quais vislumbraram a
possibilidade de desenvolver um projeto académico como uma maneira de criar um
espaço de interação livre e participação comum.
Foi no início de 2010 que começámos a discutir algumas possibilidades de estarmos
juntos, o que envolveu pensamentos como a criação de uma associação, uma
cooperativa, ou mesmo uma organização não-governamental. No entanto, uma vez
que muitos dos membros das duas comunidades locais são considerados não elegível,
nos termos legais para a criação de qualquer proposta, tais como as previamente
mencionadas (ou por serem analfabetos ou por estarem ilegais no país), seria difícil
para eles serem aceitos como parte de uma organização mais ampla. Foi assim que
surgiu a ideia de um projeto académico, o qual seria uma maneira de sair deste
impasse e, para além de tudo, viria de encontro com os nossos desejos e
necessidades de investigação.
Consequentemente, traçamos o que se tornou o FU: construído a partir de uma
investigação prévia e um processo de compreensão em relação às dimensões intra e
interculturais locais. Ao desenhar o projeto a três mãos, percebemos a importância de
esclarecer: os processos educativos desenvolvidos no interior das comunidades locais,
as necessidades locais definidas pelos seus membros, e o reconhecimento "simbólico"
de ambas as comunidades pela sociedade local como um todo. Todas as tarefas
científicas propostas neste projeto surgiram a partir das necessidades de cada uma
das comunidades envolvidas. Este não é um projeto top-down, onde um grupo de
académicos impõe a sua própria agenda de investigação para os membros das
comunidades, mas um projeto verdadeiramente bottom-up, onde as vozes das três
comunidades - Académicos, Bairro e Piscatória – se encontram umas nas outras.
Neste processo de desenho da investigação discutimos, profundamente, nosso papel
ativo como parte da diversidade cultural que nós representávamos e da hegemonia
urbana em que estávamos geograficamente incluídos. Um processo de valorização do
conhecimento local foi definido através do processo educativo de ambas as
comunidades locais. Este processo foi centrado na organização e gestão local de
situações interativas e diferenciadas de aprendizagem.
O desenvolvimento do projeto está enraizado na abordagem dialógica de Paulo Freire
para a participação crítica (Freire, 1989). O Curriculum Trivium desenvolvido por
Ubiratan D'Ambrosio (1999) foi a nossa entrada principal para colocar no processo
dialógico nosso conhecimento e nos colocar em uma Postura Etnomatemática
(Mesquita, 2011). Esta escolha possibilitou reforçar a participação absoluta durante os
tempos de encontros e confrontos culturais inegáveis, vividos na Costa de Caparica, e
sistematizar (através do processo dialógico fomentado nos Círculos de Cultura) nossos
instrumentos de sobrevivência - artefactos intelectuais e materiais. Conceitos como
valor, respeito e ética foram determinantes para tal reforço e sistematização. Em
nossa forma de conceber este modelo de currículo, baseado na literacia, materacia e
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tecnoracia, pudemos destacar o conhecimento em curso no seio das comunidades
locais, e discutir eventuais contradições. Além disso, o curriculum trivium alicerçado à
postura etnomatemática teve o potencial de minimizar as desigualdades e violações
da dignidade humana local constituindo assim um caminho para a justiça social.
O principal desenho do FU englobou as estratégias educativas dentro das
comunidades multiculturais locais tendo a intenção de organizar um conjunto de
parâmetros que poderiam apoiar um currículo educacional intercultural baseado na
realidade sociocultural e económica dessas comunidades. O conhecimento dos
desafios educacionais locais destas comunidades nos permitiu retirar a capa de
invisibilidade que pairava sobre elas. Em primeiro lugar, os pescadores impedidos de
participar nas decisões públicas locais. Em segundo lugar, os membros do Bairro que
vivem há mais de 40 anos sem água canalizada. Finalmente, os investigadores
envolvidos em uma luta para criar um espaço no meio académico onde outras vozes
pudessem ser ouvidas. A nossa escolha "preocupante" na realização deste projeto
estava alinhada no sentido de um posicionamento de investigação no âmbito político
(Pais & Valero, 2012). Definitivamente, fomos inspirados por Paulo Freire que
enraizou seu trabalho educacional na construção de uma consciência política, capaz de
lutar contra a cultura do silêncio (Freire, 1989).
Neste relatório apontámos alguns dos desafios envolvidos na construção de uma
educação comunitária dentro dos domínios do projeto. Investigações em Educação
têm sido criticadas por deixarem dimensões cruciais não endereçadas tais como: o
que significa ser investigador e investigado, qual é o papel do investigador na
formação política do mundo (Gutiérrez, 2010; Pais & Valero, 2012). Os investigadores
tendem a negligenciar as situações mundialmente concretas de vida (Žižek, 2012) dos
envolvidos nas relações educativas, criando assim uma realidade fantasiada onde
problemas mundanos como a fome, perseguições legais, a falta de condições
materiais e a crise econômica não são considerados (Valero, 2004; Skovsmose,
2005). Através da nossa experiência com as duas comunidades, buscámos trazer
essas situações mundanas da vida para o jogo e conjecturar a educação como parte
integrante destas situações. Aproveitamos a filosofia política de Slavoj Žižek a fim de
colocar a educação na arena sociopolítica mais ampla.
Apresentámos este relatório em quatro grandes momentos, nos quais destacamos os
pontos dos produtos desenvolvidos no projeto, conforme apresentado em sede de
candidatura à Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Numa análise global sentimos
que nossos objectivos ultrapassaram os esperados em candidatura. Tal expansão
explica-se, a nosso ver, pelo profundo processo etnográfico e disseminador vivido
durante o projeto, o que proporcionou a participação ativa dos membros das mesmas
e, essencialmente, a visibilidade das duas comunidades envolvidas. Neste ato de
descobrir o manto da invisibilidade encontrámos colaboradores, internos e externos,
das mais diversas áreas de competência e destes encontros surgiram mais
instrumentos intelectuais e materiais que fomentasse o desenvolvimento de ideias
locais.
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Trazemos, num primeiro momento, nosso Quadro Teórico Dialógico em comunhão
com a Metodologia escolhida. Num segundo momento discutimos, via relatos das
tarefas designadas em sede de candidatura à Fundação para a Ciência e a Tecnologia
e uma nova tarefa que surgiu em campo – EntreProjectos, um panorama geral dos
dados desta investigação. Num terceiro momento apresentámos exaustivamente os
produtos da disseminação realizada no âmbito direto do FU, dos quais inclui dois
produtos finais delineados em candidatura. Num quarto momento trazemos vozes
finais, tanto dos consultores e de membros das três comunidades envolvidas, bem
como dos colaboradores voluntários do projeto.
Findamos esta introdução explicitando toda a nossa alegria de poder estar vivendo a
experiência de ser investigador do Projeto Fronteiras Urbanas.
Dou a minha presença
estou disponível
tenho total confiança
sou pobre mas um homem muito feliz
onde está um em dificuldades está logo outro
vozes que ecoam no cimento das paredes reverberando e aquecendo o peito
sorrisos tímidos dentro delas
a encantar-nos a possibilidade de os sonhos serem mais
e sermos nós neles
O problema é estar dividido em dois
em três…
nós e eles
fronteiras
O problema é a separação
a solução é a unidade
Como fazer para mostrar que a ligação é já e subterrânea ?
como aprofundar a confiança de que seja possível não ser só invisível?
como adensar a rede que começa a ser à superfície?
ser e estar com
escutar e dizer de nós
aprendermos todos uns com os outros
respirarmos o mesmo ar
oferecermos a cada um que connosco se cruza a nossa mão
extensão do coração e da voz
O amor sim
presença a atravessar-nos
para além de
Presente
estamos aqui
(Poema Coletivo FU, Encontro das três Comunidades – 21.Abril.2012. Construção Ana Viana)
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
DESENVOLVIMENTO TEÓRICO METODOLÓGICO
Escolhemos
trazer
juntos,
num
primeiro
momento, para este relatório de progresso do
Projeto Fronteiras Urbanas (FU) o quadro teórico
e a metodologia de investigação refletindo,
assim, o movimento dialógico existente nas
bases dos mesmos. O diálogo entre a teoria e a
metodologia desenvolveu a nuança essencial do
FU: a construção coletiva de saberes e fazeres.
A própria criação do FU, enquanto estruturação e
desenvolvimento, partiu da ideia da construção
coletiva; de trazer à academia a inovação de se
praticar
uma
investigação
onde
o
tradicionalmente chamado “objeto de estudo”
fosse corpus presente em todo o seu processo.
Figure 3 - Daniel , 2013
Na fase de criação foi idealizado um quadro
teórico dialógico, uma recolha de dados
interativa, bem como uma análise de dados crítica já com a perspetiva de inovar com
a construção coletiva destes pontos cruciais em uma investigação académica. Esta
proposta de investigação assenta no reconhecimento emergente da reestruturação da
própria prática investigativa educacional, a qual se tem, em Portugal e a nível
mundial, mantido dicotomizada das práticas dos membros de comunidades
socialmente invisíveis. Compreendemos que os problemas identificados por
investigações académicas exercidas em outras áreas das Ciências Sociais e da Saúde
em comunidades ditas “carentes”, “excluídas”, “marginalizadas”, advém da forma
hegemónica da governação nacional que, por sua
vez, é extremamente influenciada pela prática da
investigação, em especial, a educacional.
A Educação é entendida no Projeto Fronteiras
Urbanas como uma ferramenta política, na qual
a formação dos seres humanos deve ser
praticada em prol da emancipação de cada um
assentada numa ética de respeito, equidade,
alteridade e resiliência. A consciencialização
crítica, trazida por Paulo Freire, tem sido o
sustentáculo maior na nossa investigação.
Porém, é facto que a consciencialização crítica no
desenvolvimento educacional é uma realidade
distante em terras nacionais e, ao mesmo
tempo, percebe-se em meio desta crise
económica a falta que a própria tem feito face às
decisões
políticas
tão
afastadas
das
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Figure 4 - "Daniel" (João Moreira, 2013)
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
possibilidades e desejo do cidadão português. O facto da investigação educacional
estar objetivada ao sucesso escolar, focando-se, maioritariamente, na educação
formal, desencadeia uma sequência de factos que reduzem a capacidade tanto de
uma visão crítica sob a própria forma opressora e hegemónica que a instituição
académica tem, como de uma visão holística sob as relações humanas atuais,
nomeadamente as relações afectivas e económicas.
Sendo assim, nosso objetivo central trazendo esta investigação de forma inovadora
em suas bases é de contribuir, também, para a transformação do sistema académico
alimentando-o de humanidade, como dizia Paulo Freire. A academia deve ser,
também, constituída pelo povo, pelo cidadão local, pela voz das comunidades que
circundam os espaços académicos, trazendo, assim, a real possibilidade de
desenvolvermos investigações com qualidade, com afetividade e com construções
coletivas: investigação COM e não para o cidadão.
Para atender nossa aspiração de trabalhar COM, desenhamos estes três movimentos,
já citados e abaixo identificados:
O objetivo do quadro teórico dialógico foi manter a lucidez teórica face à prática
etnográfica que todos os atores sociais desta investigação vivenciariam, face às
teorias que encontraríamos na nossa prática. Este ponto, essencial a qualquer
investigação académica, funcionou como uma mola em espiral que bebia da teoria em
diferentes momentos, de formas mais profundas, em consonância a recolha e a
análise de dados.
O objetivo da recolha de dados interativa foi buscar a participação dos membros das
comunidades envolvidas na investigação bem como buscar a participação de novas
teorias que trouxessem mais valia ao nosso estar COM estas comunidades. Em
constante diálogo com o nosso quadro teórico de base, esta forma da recolha de
dados proporcionou a possibilidade de termos uma análise de dados coletiva, aberta e
dialógica.
O objetivo da análise de dados crítica era perceber, in loco, a conceção, a
compreensão e a relevância da investigação desenvolvida para todos os atores sociais
envolvidos na investigação. Este ponto possibilitou a real construção coletiva e
fomentou a consciencialização crítica de todos e COM todos. Uma consciência coletiva
foi despertada e o resultado foi a transformação de postura e um novo rumo em
direção à emancipação social.
Faz-se importante ressaltar que esta investigação tem como foco central a Educação
Comunitária, i.e., aquela que encontramos no seio das comunidades e que as tornam
capazes de sobreviver. O conhecimento geracional é, indubitavelmente, um dos
sustentáculos desta educação. Porém, é também inquestionável, os conhecimentos
externos, advindos das relações sociais que decorrem fora das comunidades,
causando a transformação na Educação Comunitária de base, diferenciando-a de
comunidade para comunidade, por mais características semelhantes que estas
mantenham.
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EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA
O Projeto Fronteiras Urbanas (FU) destacou-se por ser um projeto académico que
investigaria o conceito Educação vindo do âmago da atual construção social humana –
das dinâmicas dos encontros culturais. Esta investigação inovadora, em âmbito
português, destacou-se, também, por permitir que os membros das comunidades
envolvidas fossem atores ativos ao longo de todo o processo – desde a construção, o
desenvolvimento, bem como a disseminação e discussões finais sobre a mesma.
A Educação Comunitária é compreendida, nesta investigação, como a educação que se
desenvolve na e para a sobrevivência de uma comunidade. As bases fundamentais
para esta perspetiva de investigação assentam na Educação Popular, desenvolvida por
Paulo Freire, na qual o processo de libertação dá-se por meio do conhecimento local
ao conhecimento reconhecido pela sociedade maior – o conhecimento formal. Na
Educação Comunitária buscámos a libertação por meio do reconhecimento do
conhecimento local, começando das próprias bases – nas comunidades, este
reconhecimento. A questão da compreensão de que os conhecimentos desenvolvidos
nas comunidades são de forte e crucial relevância foi um exercício constante no FU.
No sistema hegemónico, no qual estamos inseridos, é interessante que apenas um
conhecimento seja reconhecido, para a normalização da sociedade; caso o ser
humano não tenha o conhecimento reconhecido - o conhecimento formal, o mesmo é
mantido à margem da sociedade, não havendo condições, dentro do aparelho
económico vigente, para que o mesmo viva, e apenas sobreviva!
No FU trouxemos à tona, em duas comunidades locais, a importância que os
conhecimentos de cada membro destas comunidades tem para a sustentabilidade da
mesma. Fazer com que cada membro reconhecesse em seu conhecimento uma
ferramenta de emancipação para as resoluções, as escolhas e as problemáticas que
enfrentam em seu dia-a-dia e, principalmente, compreendessem que estas
problemáticas advém da sociedade como um todo - assentada num sistema
hegemónico no qual a hierarquia económica prevalece.
Deve-se reforçar que estas duas comunidades envolvidas no FU são comunidades
urbanas, mesmo tendo fortes características tradicionais da povoação local antiga ou
das diferentes comunidades de que é oriunda. Trabalhamos com Pescadores locais,
fundadores da cidade da Costa de Caparica, bem como com membros de um
assentamento ilegal existente nas terras agrícolas da Costa de Caparica – onde
encontramos comunidades cabo-verdianas, guineense, cigana, angolana, romena,
moçambicana e, finalmente, portuguesa, como já citámos.
Os membros destas comunidades trazem, em si, características de sobrevivência que
demonstram fortes conhecimentos que podemos identificar como científicos – como
ciência local. Foram exatamente estes conhecimentos que discutimos e buscámos
compreender e via os mesmos interagimos com a população local, referendando estes
em categorias de conhecimento propostas pelo nosso consultor Ubiratan D’Ambrosio.
Segundo D’Ambrosio (2002), podemos categorizar o conhecimento via os
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
instrumentos utilizados para sobreviver e transcender. Tal categorização é definida
por este autor como sendo: instrumentos comunicativos, instrumentos analíticos e
instrumentos tecnológicos, os quais aludimos com mais detalhes num momento
posterior neste relatório – Programa Etnomatemática. O que ressaltamos, aqui, é o
facto de estudarmos, com os membros das duas comunidades envolvidas, os
instrumentos utilizados para sobrevivermos e buscarmos nossa emancipação em
diferentes caminhos.
Nossa principal estratégia etnográfica crítica para estudarmos os nossos
conhecimentos em prática foi o método pedagógico desenvolvido por Paulo Freire Círculo de Cultura. Ressalta-se, também, que outra forte estratégica etnográfica
crítica foi o trabalho com a arte, em diversas representações.
Trabalhando com a Educação Comunitária, o objetivo principal deste estudo, inserido
na problematização acima descrita, propõe, através dos “Círculos de Cultura”, um
processo que leve à consolidação de ideias, cimentando os primeiros passos, ativados
antes do desenhar das letras, na alfabetização do pensamento crítico, o qual, através
dos temas aflorados, despertou a nossa consciência. Por sua vez, promulgando a
consciencialização dos membros
das
comunidades
envolvidas
baseada em exemplos retirados da
cultura e tradição, tornou possível
explanar o culto que a alimenta e
assim eles passaram a assumir o
seu papel como sujeitos ativos na
história, refletindo e lutando pela
sua existência e transformando a
sua
individualidade
em
comunidade.
Figure 5 - "GP" (João Moreira, 2012)
12
O segundo objetivo, não menos
importante, compreende, através
do estabelecimento de uma relação
dialógica,
de
reflexão
e
autoconhecimento, as perspetivas
pessoais dos membros de todas as
comunidades envolvidas, indo ao
encontro das nossas motivações,
perspetivando em nós uma nova
visão do mundo, para além da ação
mesmo que ingénua, a qual se
liberta para uma consciência crítica.
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
CÍRCULOS DE CULTURA
Joana Vieira
Mônica Mesquita
Os “Círculos de Cultura” concretizaram-se em temáticas envolvidas na realidade
social, cultural e política dos membros das comunidades onde são trabalhados e
desenvolveram-se através do estabelecimento de uma relação dialógica, de
autoconhecimento e de reflexão numa tentativa de se construir uma práxis libertadora
e democrática, onde juntos, o educador e os educandos, participaram no desabrochar
de novos horizontes, condicionados pelas desigualdades sociais, económicas e no
acesso a oportunidades de estruturação económica.
Deste modo, numa relação dialógica gradual e conjunta, de autoconhecimento e
reflexão, promovemos os “Círculos de Cultura” dentro das três tarefas incluídas no FU,
focados em temáticas próximas
da realidade social, cultural e
política possibilitando, à luz do
quadro teórico escolhido, a
descodificação do mundo, o
despertar da consciência crítica
e da nossa situacionalidade.
Figure 6 – Círculo de Cultura - Reunião 3 em 1 - 2012
Os Círculos de Cultura tiveram
a sua essência na “maiêutica
socrática” em que na pedagogia
da
pergunta,
as
palavras
envolveram-se nas questões
fulcrais do quotidiano numa
relação
dialógica,
dando
significado à realidade social,
cultural e política local. Esse
diálogo foi gerador de dúvidas
existenciais, as quais foram
problematizadas,
gerando
o
debate, levando o grupo a
analisar,
a
descodificar,
a
reconstruir a realidade. Deste
modo, nos Círculos de Cultura:
...o seu interesse central é o
debate da linguagem no contexto de uma prática social livre e crítica. Liberdade e crítica que
não se podem limitar às relações internas do grupo, mas que necessariamente se apresenta na
tomada de consciência que este realiza na situação social. (Freire, 1987, p.14)
13
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Balançar as acomodações às estruturas sociais, culturais e políticas que encerram um
mundo fechado, onde muitos homens e mulheres não conseguem desvelar novos
mundos, descobrindo novos pensamentos, foi um exercício constantemente presente
no desenvolvimento dos Círculos de Cultura em todo o FU.
Figure 7 - Círculo de Cultura - Alfabetização Crítica - 2012
Através dos Círculos de Cultura, todos os membros das comunidades envolvidas,
inclusivamente nós, da Comunidade Académica, distanciamo-nos da nossa
experiência, analisando-as; exercício que permitiu revelar nossa consciência e crescer
para além dos nossos limites, convertendo-a em crítica. A partir de imagens sem
palavras, que expressam o quotidiano no ser humano em geral, foi importante revernos, no decorrer da discussão, como criadores de cultura. Importa referir, que o
objetivo não foi o esclarecimento de conceitos nem uma explicação teórica ou
puramente ideal:
Uma pedagogia que estrutura o seu círculo de cultura como lugar de uma prática livre e crítica
não pode ser vista como uma idealização a mais da liberdade. As dimensões do sentido e da
prática humana encontram- se solidárias em seus fundamentos. E assim a visão educacional
não pode deixar de ser ao mesmo tempo crítica da opressão real em que vivem os homens e
uma expressão de sua luta por libertar-se. (Freire 1967, pp.8)
Paulo Freire distingue teoria e pregação, pois é nos Círculos de Cultura onde a teoria e
a denúncia concebem a aprendizagem e, no diálogo que se complementam para a
14
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
tomada de consciência, onde permite ao homem conhecer a sua temporalidade (não
vivemos num eterno presente, existe hoje, ontem e amanhã), a sua historicidade
(capacidade de discernir a sua condição humana num espaço e num tempo
específico), a sua pluralidade (respeitar a diversidade da história e das culturas
humanas), a sua transcendência (que somos seres inacabados) e a sua criticidade (a
consciência circula na realização da autonomia e complementa-se nas ações que se
direcionam no cuidado em ser mais coletivamente).
Consequentemente, esta pedagogia
revelou uma dimensão prática, política
e social, em que o seu sentido mais
profundo reside na ideia que a
“libertação só adquire significação
quando comunga com a luta concreta
dos homens por libertar-se “ (Freire
1987, pp.30).
No descortinar da realidade envolvente,
e a par de uma prática pedagógica, a
Figure 8 - Círculo de Cultura - Análise de uma
influência de Paulo Freire, Leonardo
reportagem - 2013
Boff, Ubiratan D’Ambrosio e Slavoj
Žižek nos Círculos de Cultura levou ao questionamento do conflito e tensão entre
género, tradição e modernidade, submissão e emancipação, conhecimento formal e
local, global e local, etc... Numa relação dialógica reflexiva sobre os temas que os
membros das comunidades envolvidas achavam importantes, construiu-se um espaço
onde os mesmos consolidam o aflorar da consciencialização crítica e, assim, passam a
assumir o seu papel como sujeitos ativos na história, refletindo e lutando pela sua
existência e transformando a sua individualidade em comunidade.
A primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em
ser capaz de agir e refletir. É preciso que seja capaz de, estando no mundo, saber-se
nele. Saber que, se a forma pela qual está no mundo condiciona a sua consciência
deste estar, é capaz, sem dúvida, de ter consciência desta consciência condicionada.
Quer dizer, é capaz de intencionar sua consciência para a própria forma de estar
sendo, que condiciona sua consciência de estar (Freire 1994, pp.16).
Ao longo dos diálogos os membros das comunidades envolvidas fizeram a
interpretação individual do mundo que os rodeia, paulatinamente começaram a ter
uma capacidade de intervenção, concretizada no aflorar do pensamento crítico que se
transformou na possibilidade de mudança, invertendo o alienamento e o desinteresse
pela própria vida e sociedade.
15
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Integrar os membros das comunidades envolvidas num processo de decisão, fazendoos
compreender
que
os
seus
interesses individuais se relacionam e
influenciam os interesses dos outros
sujeitos que estão em situação
semelhante, tornou-se uma meta no
âmbito de Ser e Estar como
investigador no FU, dentro dos
parâmetros referidos. Promoveu-se,
então, a consciencialização do “poder”
individual, no qual foi criado um
espaço
onde
cada
um
destes
membros, com as suas vivências e
Figure 9 - Círculo de Cultura - Escola do Bairro - 2013
saberes, potenciaram esta experiência
no despertar não só para transformar
a sua vida, mas também a sociedade.
Os Círculos de Cultura, vivenciados enquanto um espaço transformador, promoveram
o diálogo, alimentado pelas vozes dos membros envolvidos, que propiciou a
descoberta de algo positivo em si próprios, emergindo a autoestima, a
autodeterminação e a confiança, qualidades necessárias para se fazerem ouvir e
intervir ativamente na sociedade e contestar os seus direitos. Os Círculos de Cultura
converteram-se, neste estudo, numa alavanca impulsionadora.
Figure 10 - Círculo de Cultura - Reunião Comunitária 3 - 2012
Figure 11 - Círculo de Cultura - Alfabetização Crítica - 2012
16
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ARTE E EDUCAÇÃO
João Moreira
Mônica Mesquita
Na realização de todas as tarefas dentro do FU, a arte tem sido o mote organizador e
impulsionador – mostrando-se e firmando-se como transcultural e transdisciplinar.
Buscamos nas diferentes formas de arte, e na diversidade inserida nestas formas,
conhecimentos tácitos para explorarmos novos conhecimentos do eu, dos outros, bem
como do entorno histórico-sócio-político-ambiental-cultural. Nestes exercícios
destacámos uma experiência que foi fomentada pelo artista João Moreira, uma vez
por semana, num atelier móvel e a céu aberto, na Comunidade Bairro.
Nesta proposta de estar com, fazer com e aprender com, João Moreira destaca-se pela
simplicidade, originalidade, eficiência, carinho e empenho com que tem desenvolvido
este atelier que, desde o tempo em que era Educador no Projecto D.A.R. à Costa –
Tr@ansFormArte – lugar que forneceu os seus primeiros contactos com os atores, ou
melhor, artistas, desta comunidade, sempre foi um objetivo de sua vida.
O atelier móvel quando entra na Comunidade Bairro, nas tardes de terça-feira,
revelatodo o destaque acima descrito, com a chegada dos artistas – em sua maioria
crianças que se encontram sem creche, com um sorriso no rosto e abraço apertado no
amigo João. Pensado para atuar com crianças, hoje em dia o atelier do João é um
espaço de encontro de todos para todos, um espaço de esperança, de amor e,
especialmente, de reconhecimento.
Figure 12 - Atelier Móvel João Moreira - 2012
17
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Figure 13 - Arte na Rua - João Moreira - 2012
O espaço desenvolvido pelo artista João
Moreira foi um exemplo de voluntariado que
modifica as características deste ato,
transformando-o em bilateral, mostrando
que o voluntariado transcende preconceitos
revelando-se como um ato de ser e estar
neste novo milénio. O voluntariado, neste
caso, pode ser entendido como o resgate de
valores e ética do ser humano, da
aproximação dos seres,
do convívio do
todo.
Não me sinto muito confortável com a palavra voluntário para falar dos momentos que passo na
Comunidade Bairro, não sei quem ajuda quem. Digamos que troca amorosa seria mais
apropriado para descrever o meu voluntariado.
Fui para o bairro em Setembro de 2011, depois de uma pausa do trabalho desenvolvido no
projeto D.A.R. à Costa, projeto esse no âmbito do Programa Escolhas. Tinha já, à muito tempo,
a noção que o trabalho comunitário devia ser realizado na e com a comunidade. Não foi difícil
começar a trabalhar: tinha os meios, a vontade e a convicção que para as crianças (e não só)
seria positivo do ponto de vista da estimulação cognitiva , afectiva e da autoestima.
Os momentos são preenchidos de várias formas: pintando, lendo ou “simplesmente”
conversando. No entanto, o essencial deste trabalho comunitário, ou melhor deste ato, é a
atenção: o ato de estar atento aos nossos semelhantes.(Moreira and all, 2013, p.17)
Figure 14 - Arte na Rua - João Moreira - 2013
18
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
E esta tem sido uma das nossas “Arte na Rua”, a qual ilustra todo este relatório.
Porém, destaca-se a poesia, a dança e a música como agentes fulcrais no
desenvolvimento do FU, que foram surgindo no decrrer do processo de investigação.
Na tarefa da Alfabetização Crítica, a poesia tomou conta dos Círculos de Cultura
praticados, especialmente na terceira fase etnográfica. Ressalta-se o profundo
trabalho efetuado pela investigadora Ana Paula Caetano, também poetisa, junto com
uma educanda – Rita Tavares. Na terceira fase etnográfica, por análise mais profunda
das situações vivenciadas, decidiu-se, em conjunto com os membros da Comunidade
Bairro envolvida nesta tarefa, que cada investigador-educador trabalhasse em dupla
com diferentes membros da
comunidade. Deste exercício, Ana
Paula
e
Rita,
vivenciaram
diferentes formas de trabalho em
Círculos de Cultura indo além das
fronteiras. Auto-conhecimento e
conhecimento
do
entorno
sociocultural alimentaram
uma
expansão aos colegas inseridos
nesta tarefa ou mesmo grandes
momentos
como
no
Fórum
Fronteiras Urbanas ou na Escola
Voluntária do Bairro.
Nesta experiência vivenciada pela
Rita e Ana Paula, podemos relatar
que a aprendizagem se deu na
afetividade, no convívio e no
estímulo,
desenvolvido
pela
investigadora, ao contacto com
outras realidades – dispositivos
abertos
gratuitamente
na
sociedade
local
que,
pelo
Figure 15 - Circulo de Cultura - Alfabetização Crítica - Poesia
desconhecimento,
são
pouco
- 2012
frequentados pelos membros da
Comunidade Bairro. Visitas a exposições de arte, a parques ou a monumentos em
Lisboa, tendo como foco central o desenvolvimento da interpretação e da escrita
crítica, foram alimento para o desenvolvimento de poesias individuais ou coletivas de
ambas. Hoje em dia, Rita não só aprendeu a ler e a escrever, como é a autora das
letras das músicas do grupo de Batuko local: Nôs Herança.
“A poesia é um arrepio de silêncio correndo-nos líquida
O poeta é porta de urgência no silêncio da cidade”
(Rita e Ana, 2013)
19
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
O Batuko é uma forma de arte cabo-verdiana que há muitos anos, segundo Euclides
Fernandes (mediador comunitário do FU), andava adormecido na Comunidade Bairro.
Com a entrada etnográfica do FU nesta comunidade, e dentro da tarefa Histórias de
Vida, Euclides Fernandes sugeriu que fosse criado um grupo local de Batuko. Este
grupo foi desenvolvido localmente, sob a gestão do nosso mediador comunitário e da
investigadora Sílvia Franco. Num trabalho transversal às tarefas do FU, esta atividade
estimulou o desejo e proporcionou a consciência da importância de se aprender a ler e
a escrever, para além de ter sido um elo mediador de coesão social local. Atualmente,
o grupo tem em seu currículo atuações em diferentes ambientes culturais,
nomeadamente: Casa do Alentejo, Exposição de Arte do pintor João Moreira na
Galeria São Mamede, Cinema da Costa de Caparica a convite da Associação Gandaia,
na Trienal de Arquitetura de Lisboa no Palácio Marques de Pombal – Bairro Alto, entre
outros. O reconhecimento dos membros da Comunidade Bairro tem vindo a acontecer
e o Batuko tem sido muito importante para este facto.
Figure 16 - Batuko - Nôs Herança - Exposição de Arte João Moreira - 2012
Por último, destaca-se a criação de um estúdio musical Dàdà Dnós. A musicalidade
está presente na Comunidade Bairro de diversas formas – a diversidade revela-se
aqui um dos principais instrumentos de coesão social. Na música, os diferentes
membros culturais desta comunidade têm-se encontrado, e membros de fora da
comunidade têm vindo ao encontro de toda diversidade musical existente nesta
comunidade. O facto de ter sido criado um estúdio independente, por honra e mérito
do Dàdà, revelou-se como um dos pontos objetivados pelo FU – a autoestima, a inter
e intrarelação, bem como o desenvolvimento da consciência crítica.
20
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
A comunidade cigana inserida na
Comunidade
Bairro
vivencia
diariamente a música e a dança em
suas vidas. Esta vivência, após a
entrada do FU nesta comunidade pôde
se perceber, ainda que discretamente,
sendo
partilhada
por
todos
os
membros desta comunidade. Ressáltase que no encontro anual de 2013, o
Figure 17 - Fórum Fronteiras Urbanas Workshop
Fórum
Fronteiras
Urbanas,
a
Dança Cigana - Paula Marques - 2013
comunidade cigana desenvolveu um
workshop de dança cigana onde, em
momento culminante da mediação inter e intra comunidades se revelou, com a
participação ativa de elementos de todas as comunidades envlvidas como membros
externos, participantes deste evento. Perceber as capacidades adormecidas pelo forte
ambiente opressivo que os membros da Comunidade Bairro foi, indubitavelmente, um
ponto fortíssimo da presença do FU nesta comunidade. Na tarefa Cartografia Múltipla,
um dos exercícios foi mapear a musicalidade presente nesta comunidade.
A Comunidade Piscatória revela-se por manter tradições artísticas como o fabrico de
rede de pesca artesanal, um rancho infantil local, bem como o estímulo ao
conhecimento musical português
– o fado. O trabalho do FU nesta
comunidade via a arte fomentou
a importância do conhecimento
geracional do fabrico das redes
artesanais,
estimulando,
enaltecendo e discutindo tal
conhecimento. Centrámo-nos na
análise crítica do conhecimento
do desenvolvimento da arte da
construção de rede de pesca
Figure 18 - Comunidade Piscatória – Homenagem ao Fanan artesanal estarem centradas na
2013
geração mais velha, visto que o
incentivo do governo à classe
piscatória artesanal é nulo. Mais uma vez destacámos a ligação direta da opressão
económica no desenvolvimento local.
Percebe-se que aos poucos está surgindo uma geração mais nova na arte de pesca
artesanal local, surgimento este ligado diretamente a crise económica a qual Portugal
se encontra. Este retorno tem vindo a se destacar num processo geracional que
aponta a lacuna de uma geração na prática da pesca artesanal, ou seja, temos na
pesca local os avós trabalhando ao lado os netos(as), hoje homens e mulheres
adultos. Porém, faz-se urgente um programa de incentivo a esta nova geração para
que possam dedicar-se a aprendizagem da construção de rede de pesca artesanal de
uma forma mais sistematizada. Numa postura etnomatemática identifica-se, no
21
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
processo de construção da rede artesanal, conhecimentos posicionais que se ligam
diretamente com os conhecimentos mais abrangentes para se desenvolver a pesca
tradicional, nomeadamente, o tamanho da rede de malhar condicionado as legislações
de pesca artesanal local e a variedade de tamanhos e modelos das malhas em
consonância às diferentes artes tradicionais locais.
Ressaltámos em nossas análises a Arte Xávega que, nos últimos anos, tem tido um
aumento na visibilidade internacional, indicada para ser um patrimônio cultural da
humanidade. Porém, clamámos, após toda nosso imersão etnográfica, para que as
outras artes de pesca tradicionais locais sejam também reconhecidas e valoradas pelo
sistema de governação local, regional e nacional, face estas artes estarem, ainda
Figure 19 - Comunidade Piscatória - Alvéolo Mário Raimundo - 2012
hoje, ligadas diretamente a sobrevivência do pescador local. Firmamos, com nosso
estudo, que os problemas inseridos nestas comunidades envolvidas no FU estão na
sociedade como um todo e não inseridos, como se é apontado por um preconceito
reificado em nossa sociedade, como problemas locais. A Educação Comunitária
proporcionou, via a opressão e a expressão das artes inseridas nas comunidades
envolvidas, identifcar e dialogar os confrontos culturais criados pelo nosso sitema
hegemónico de governação, trazendo, assim, uma consciência crítica a todos os
membros envolvidos nesta investigação. O extermínio de uma cultura começa pelo ato
de slenciar a sua arte.
22
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
PROGRAMA ETNOMATEMÁTICA
Nuno Vieira
Mônica Mesquita
O Programa Etnomatemática teve sua origem na busca de entender o fazer e o saber
matemático de culturas marginalizadas. Intrínseco a ele há uma proposta historiográfica que
remete à dinâmica da evolução de fazeres e saberes que resultam da exposição mútua de
culturas. Em todos os tempos, a cultura do conquistador e do colonizador evolui a partir da
dinâmica do encontro. (D’Ambrosio, 2012, p.343)
Suportados pela ideia do nosso consultor Ubiratan D’Ambrosio, o qual afirma que a
Educação promove a criatividade, ajudando as pessoas a incrementarem os seus
potenciais e a maximizarem as suas capacidades, em sua obra intitulada Peace, social
justice and ethnomathematics de 2007, também buscámos neste encontro cultural do
FU, enquanto investigadores, ter o cuidado de não promover cidadão dóceis - o
cuidado de não promover, segundo este autor, a criatividade irresponsável
(D’Ambrosio, 2007, pp.26-27).
Neste cuidado, optámos por trazer ao seio desta investigação o Programa
Etnomatemática que, enquanto programa de pesquisa sobre a geração, organização
intelectual, organização social e difusão de conhecimento, surge numa ética de
respeito pelos saberes e fazeres do outro (D’Ambrosio, 2002, pp.60). Este programa
nos permitiu compreender o ciclo do conhecimento em distintos ambientes.
A escolha por uma postura etnomatemática no FU (Mesquita, 2008) permitiu atuar
como educador freire-d’ambrosiano em conjunto com os membros da Comunidade
Piscatória e Bairro para que estes pudessem desempenhar o (ou fortalecer o atual
desempenho do) papel socialmente ativo e participativo, contribuindo para a
compreensão e o domínio de determinadas questões do quotidiano, nomeadamente as
relacionadas com a ciência, a tecnologia e, principalmente, com a economia, de um
ponto dialógico entre o global e local.
Tendo nosso consultor a compreensão de que o pensamento matemático deverá ser o
“modo de pensar mais universal” (D’Ambrosio, 2007, p.25) de que o ser humano
dispõe, vivenciámo-lo em sua transversalidade, como um caminho ao entendimento
dos desequilíbrios sociais e das perturbações nos ecossistemas locais. Assim, o estudo
e a compreensão dos factos históricos do pensamento matemático estiveram
presentes de uma forma sustentada.
“É importante conhecer a evolução da etnomatemática como resposta ao curso perigoso da
humanidade em direção à destruição da dignidade individual, das relações sociais tensas e
violentas, das relações com o ambiente inviáveis e o aumento dos confrontos armados”.
(D’Ambrosio, 2008, p.99)
Nossa postura etnomatemática visou o reconhecimento da validade dos modos como
o outro conta, mede, calcula, infere, localiza, representa, joga, o que proporcionou um
23
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
caminho sustentável para a equidade e para tolerância entre os membros das
comunidades envolvidas, num movimento intra e inter comunidades.
O Programa Etnomatemática, desenvolvido por
Ubiratan
D’Ambrosio,
resulta
de
uma
visão
transdisciplinar e transcultural do conhecimento. Todos
os povos, pensados como a mesma espécie humana, e
todas as culturas, pensadas como integrando uma
civilização planetária, exigem um novo pensar e um
novo relacionamento de saberes e de fazeres que
Figure 20 - Daniel ,2012
muitas vezes se manifestam diferentemente. As novas
relações internacionais e a intenção de recuperar a dignidade cultural de todos os
povos, manifesta na Declaração Dos Direitos Humanos, exige o diálogo intercultural e
interdisciplinar. Este seria o primeiro passo para o pensamento transcultural e o
conhecimento transdisciplinar.
Porém, face à ideologia do discurso presente nestas novas relações internacionais,
nomeadamente as intenções pacifistas e justiceiras presentes nos mesmos,
identificou-nos, em nosso processo etnográfico, uma dicotomia entre o discurso e o
ato implementado.
Em busca da transculturalidade e da transdisciplinaridade, as quais acreditámos
possibilitar a sobrevivência, com dignidade, da espécie humana, clamamos pela
postura etnomatemática para desmistificar a ideologia do discurso do sistema atual,
trabalhando COM os membros das comunidades envolventes no sentido de
compreender os modos como o outro (e nós mesmos) conta, mede, calcula,
infere, localiza, representa e joga neste sistema hegemónico opressor.
D’Ambrósio chama a atenção para algo que todos sabemos: o facto da sobrevivência
da humanidade estar dependente da sua relação com a natureza, relação essa
regulada por princípios culturais e ecológicos que não raras vezes, ao longo da história
contribuíram “para o conflito que se desenvolve, para o confronto, a violência e a
subjugação do outro e da natureza” (D’Ambrosio & Rosa, 2008, p.101). Ao longo do
processo do FU, a demanda contra o conflito e a violência pôde ser experienciada com
um “cheiro a sucesso” visto que existiu partilha na distribuição dos conhecimentos e
dos recursos locais. É neste o caminho apresentado por D’Ambrósio, para “nos
conduzir a uma civilização planetária, com paz e dignidade para toda a humanidade”
(D’Ambrosio & Rosa, 2008, p.109) que a postura etnomatemática se assenta e
promove uma educação emancipadora, a qual surge conscientemente como um meio
de comunicação e uma ferramenta úteis e eficazes para a gestão dos desejos, das
possibilidades e das limitações locais.
24
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
CURRICULUM TRIVIUM
Nuno Vieira
Mônica Mesquita
Baseados no facto de que a sociedade ter vindo a evoluir no sentido da valorização
dos números, seja na forma de estatísticas, que ao serem conhecidas condicionam a
opinião pública e a individual, seja na economia de mercado, sustentada na
matemática, seja na quantificação de tudo, onde se tenta traduzir tudo em valores
numéricos, com o intuito de seriar e estabelecer rankings, foi que entendemos a
emergência de se colocar em prática, no âmbito da Educação, mecanismos de literacia
e materacia, em respostas a estes novos desafios. Não poderíamos, face às sérias
problemáticas das comunidades envolventes, assumir mais pelo velho objetivo de
ensinar a ler, escrever e contar2. Atuar como educador freire-d’ambrosiano seria, por
primícia básica, atuar para uma cidadania plena o que implicou da parte dos
investigadores/educadores que assumissem que o pensamento matemático levaria ao
comprometimento com as suas obrigações, na promoção da equidade e da justiça
social. Quando falamos em pensamento matemáticos, buscamos trabalhar com o
pensamento lógico que, de certa forma, estrutura o pensamento do ser humano.
Nosso exercício, alicerçado pelo pensamento matemático, foi compreender nossa
situacionalidade, atuar sobre ela e transformar nossa condição social.
É de extrema importância salientar que a busca pela transformação assentou-se, em
todo o processo, na emancipação das três comunidades envolvidas. Trabalhar COM os
membros das comunidades envolventes no sentido de compreender os modos como o
outro (e nós mesmos) conta, mede, calcula, infere, localiza, representa e joga neste
sistema hegemónico opressor trouxe uma consciência crítica à compreensão do nosso
espaço sócio-cultural-histórico-geográfico-económico – da nossa situacionalidade. Este
compromisso, que D’Ambrósio advoga para o pensamento matemático, foi partilhado
por todos os membros das comunidades envolvidas ao longo do processo do FU.
Para este exercício de transformação nosso consultor, Ubiratan D’Ambrosio, propõe
um novo currículo, o Curriculum Trivium, constituído por “literacia, materacia e
tecnoracia, que responde às necessidades da época que agora está a emergir”
(D’Ambrosio, 2001, p. 133). Assim, temos que:
literacia é a capacidade de processar informação escrita e falada, o que inclui leitura, escrita, cálculo,
diálogo, ecálogo, mídia, internet na vida cotidiana (instrumentos comunicativos); materacia é a capacidade
de interpretar e analisar sinais e códigos, de propor e utilizar modelos e simulações na vida cotidiana, de
elaborar abstrações sobre representações do real (instrumentos intelectuais); tecnoracia é a capacidade de
usar e combinar instrumentos, simples ou complexos, inclusive o próprio corpo, avaliando suas
possibilidades e suas limitações e a sua adequação a necessidades e situações diversas (instrumentos
materiais). (D'Ambrosio, 2005, p. 119)
2
Os termos ler, escrever e contar, resultam do sistema americano que desde a sua fundação seguiu o lema dos três R’s
(Reading wRiting e aRithmetic) (D’Ambrosio, 2001, p.65).
25
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Literacia foi, então aqui entendida como a capacidade de ler e escrever em sentido
lato, não apenas de traduzir caracteres sequenciados, mas de analisar, processar e
interpretar informação que nos pode chegar através das mais variadas formas de
comunicação, como a artística, a gestual ou a sensorial, ao que D’Ambrosio (2007)
acrescenta que “hoje em dia, ler inclui a competência de numeracia, a interpretação
de gráficos e tabelas” (p. 29).
Na verdade, com a crescente importância social dos números, grande parte da
informação chega-nos sob a forma de linguagem matemática, pelo que o FU forneceu,
aos membros das duas comunidades envolvidas, as ferramentas necessárias para a
sua leitura crítica. Os educandos são, agora, (mais) capazes de, a par da análise de
sinais e códigos, inferir, propor hipóteses e tirar conclusões, aquilo a que D’Ambrósio
denomina de materacia, a qual é a segunda componente do Curriculum Trivium,
“materacia é a mais profunda reflexão acerca do homem e da sociedade e não deveria
ser restringida às elites, como tem sido no passado” (D’Ambrosio, 2007, p.29).
Por fim, na terceira componente do Curriculum Trivium – tecnoracia – que pressupõe
um domínio crítico na seleção, adequação e utilização das ferramentas tecnológicas
nas mais diversas situações, ressaltamos que os educandos das comunidades
envolvidas mostram ter consciência de que a ética e os valores estão intimamente
relacionados com o equidade, justiça social e afetividade.
Imbuídos da postura etnomatemática, focando no conhecimento dos instrumentos
comunicativos, intelectuais e materiais locais, foi proporcionado aos educandos os
instrumentos teóricos necessários para a compreensão holística dos seus saberes e
fazeres. Para este processo ter sido proporcionado, foi necessário manter como foco
central algumas questões:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Conhecermos nosso backgroud, conhecendo-nos auto e mutualmente;
Analisarmos nosso foreground, analisando-nos auto e mutualmente;
Compreendermos onde estamos em termos económicos, sociais, geográficos e
políticos;
Observarmos criticamente, dialogando, como todos membros envolvidos interagem
com as realidades presentes (...) relações ideológicas;
Refletirmos qual é o nosso papel, enquanto investigadores freire-d’ambrosiano, para
transformar o mundo (...) relações de poder;
Conscientizarmos sobre a relação entre emancipação e coresponsabilização (...)
como atuarmos após emanciparmo-nos.
Temos, enquanto investigadores/educadores, o:
poder simbólico de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e
(...) a ação sobre o mundo; poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é
obtido pela força (física e económica), graças ao efeito específico de mobilização. Só se exerce
se for «reconhecido». (Bourdieu, 2001, p.14)
Sendo assim, nossa postura etnomatemática é justamente não investigarmos sobre, e
sim sermos, também, o corpus presente neste processo de investigação. O
investigador/educador do FU exerceu , via o quadro teórico dialógico, a recolha de
26
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
dados interativa, bem como uma análise de dados crítica, uma experiência partilhada
cíclica, que em diferentes momentos trocava de papel com o educando.
Neste movimento cíclico, por todos os membros envolvidos era feita a «leitura» da
situação (literacia), da interpretação da informação, e das inferências e conclusões a
que chegou (materacia). Neste sentido, todos os membros estavam finalmente em
condições de recorrer aos instrumentos ao seu dispor, para aplicar estratégias que
permitam reconduzir os educandos no sentido dos objetivos inicialmente traçados
para o momento de aprendizagem. Desta capacidade de adequação dos processos e
de seleção dos instrumentos, bem como à forma como são implementados, passamos
todos pela tecnoracia em ato.
A dinâmica didática do Curriculum Trivium proporcionou uma investigação onde o
investigador/educador tem sido educando e o educando tem sido investigador
/educador.
Figure 21 - Escola do Bairro - Agricultura - 2013
27
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
TRANSCULTURALIDADE
Neste movimento, um crescimento mútuo de investigadores com menos experiência em investigação nesta
área do conhecimento reforça a coerência da dinâmica de encontros culturais proposta. Novos
investigadores, cada um em seu novo papel, tecem uma rede de perspetivas, intenções, necessidades,
ações e produções que vão fortalecer o carácter interventivo de cada participante (membros das
comunidades locais/membros da comunidade científica) na sua respetiva comunidade, o reconhecimento da
nossa igualdade legal e o entendimento de processos educacionais ocultos noutras formas de investigação.
(Projeto Fronteiras Urbanas, 2010, pp. 03)
Em Ensaio (1940), Fernando Ortiz apresenta-nos este termo – transculturalismo. Este
termo aparece definido como “ver a si no outro”, apesar de muitas vezes ser também
entendido como algo que se estende através de todas as culturas ou ainda trabalhado
como sendo a reinvenção de uma nova cultura comum.
A Transculturalidade foi vivida no FU via a ênfase nas problemáticas das culturas
locais em termos de relacionamentos, do saber-fazer, da construção do significado, da
natureza transitória das culturas, assim como do poder de transformação. Nas
dissonâncias, tensões e instabilidades vividas pelas duas comunidades envolvidas, a
transculturalidade foi atingida face aos efeitos estabilizadores de coesão social,
comunitarismo e organização que foram trabalhados no âmbito do FU e nos efeitos
desestabilizadores do sem-sentido, dos não-espaços urbanos, bem como da
invisibilidade vivenciada por cada membro das duas comunidades envolvidas.
Para além da cultura, seguiu os nossos objetivos de desintegração de subcomunidades e poder, uma vez que estes objetivos visavam tanto a unificação de
duas comunidades quanto a manutenção de suas diversidades. Este exercício
transcultural proporcionou processos dialógicos dos quais as comunidades tomaram
consciência de como elas próprias criam seus significados e as diferentes maneiras
com que as sub-comunidades interagem e experienciam tensões.
Uma quebra nas eternas “guerras de linguagens”, historicamente moldadas e
realizadas pelos sistemas de governação atual, foi sentida dentro deste exercício de
transculturalidade vivenciado no FU, tal qual a compreensão da interação da língua e
da materialidade como um continuum dentro do locus instável de condições históricas
colonialistas específicas. Neste exercício localizámos, discutimos e compreendemos as
relações de poder em termos de linguagem e história.
A Transculturalidade é algo temido, silenciado, visto que seu foco central é a
autorreflexão e autocrítica, baixando a perspetiva moral sobre os outros e
conscientizando-se da distorção da própria realidade social, ou seja, da dimensão
mítica da realidade social impregnada de ilusão. Porém, nossa postura
etnomatemática, a transculturalidade foi ferramenta que não excluiu o relativismo
moral, a confluência meta-ética ou mesmo a fantasia ideológica, questionando a
estruturação do mito.
28
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
COMPLEXIDADE SISTÉMICA
Arquiteto José Pedro Roque Gameiro Martins Barata
A natureza dos elementos em causa no Projeto Fronteiras Urbanas (FU) tanto como a
sua formulação mostram que a diversidade, interação, âmbito e dinâmicas envolvidas
são típicas de um sistema, e sobretudo de um sistema marcado pela complexidade. O
sistema constituído pelo conjunto de pessoas, grupos de origem cultural variada,
situações económicas, capacidades e limitações, necessidades, exigências e
expectativas com formas diversas, sujeitas a pressões tanto do interior como
sobretudo do enquadramento cívico, político e administrativo com que têm de se
confrontar só pode ser entendido como formando uma teia de relações e interações
com um carácter dinâmico e adaptativo. O que marca a complexidade deste sistema é
justamente a emergência de situações imprevisíveis que não podem ser atribuídas
univocamente a quaisquer causas singulares, às quais se acrescenta o carácter de
irreversibilidade que tira significado a
qualquer intenção de justificar através da
experimentação.
A recusa da aceitação do carácter
complexo do sistema e a convicção de
uma causalidade simples conduzem à
corrente prática de admitir a eficácia de
intervenções
de
diversa
natureza,
sobretudo políticas e administrativas, que
isolam e procedem a ações que ignoram o
direito, a vontade dos sujeitos dessas
“intervenções”,
mas
a
realidade
encarrega-se se mostrar que o seu
resultado se afasta sempre daquilo que
era suposto ser atingido. Assim, a ação
das forças que atuam dentro do sistema
Figure 22 - Denilson (João Moreira, 2013)
deve antes ser considerada sob o seu
carácter dinâmico e adaptativo; mais do
que prever, definir, dispor, calcular, medir e avaliar nos termos duma prática
“causalista” importa compreender o fenómeno, inserir-se na sua dinâmica, detetar o
conflito em vez de o ignorar, assumir, em suma, o carácter adaptativo e complexo da
realidade em que se move o projeto FU.
Esse esforço e essa intenção de compreender, mais do que teorizar sobre a ação
concreta e retirando dela o conveniente ensinamento são os desejáveis frutos do
exercício do programa FU na sua vertente académica, mas esse ensinamento é
revertido à prática tal como adiante será apresentado neste relatório.
29
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
TRANSDISCIPLINARIDADE
Neste movimento, um crescimento mútuo de investigadores com menos experiência em investigação nesta
área do conhecimento reforça a coerência da dinâmica de encontros culturais proposta. Novos
investigadores, cada um em seu novo papel, tecem uma rede de perspetivas, intenções, necessidades,
ações e produções que vão fortalecer o carácter interventivo de cada participante (membros das
comunidades locais/membros da comunidade científica) na sua respetiva comunidade, o reconhecimento da
nossa igualdade legal e o entendimento de processos educacionais ocultos noutras formas de investigação.
(Projeto Fronteiras Urbanas; 2010, p.3)
É normal ouvirmos nosso consultor Ubiratan D’Ambrosio, enquanto educador, dizer
que o movimento do ser humano em busca do conhecimento fez com que as nossas
análises e práticas científicas fossem reducionistas, fragmentadas em disciplinas,
compartimentalizadas
em
saberes
e
fazeres,
desenvolvendo,
assim,
as
especializações. Segundo D’Ambrosio (2011), este movimento reducionista propõe
soluções que não atingem a meta essencial de um enfoque integrado. Neste sentido,
este autor propõe uma reorientação das ciências e da tecnologia, fundamentada numa
integração dos vários conhecimentos, transcendendo as culturas e as disciplinas, a
partir de uma perspetiva transdisciplinar (D’Ambrosio, 2011, p.01).
Neste sentido, o FU promoveu em seu cerne etnográfico o encontro de saberes e
fazeres, não só localizados no seio da academia mas também vivenciado no
conhecimento dos membros da Comunidade Piscatória e Comunidade Bairro. Neste
projeto foram reconhecidos conhecimentos de dimensão racional, como as ciências e a
tecnologia, e também de dimensão sensorial, intuitiva, emocional e mística. A postura
etnomatemática permite, cientificamente, que tenhamos tal flexibilidade; na verdade,
esta postura exige que tenhamos uma visão holística sobre os saberes e fazeres. No
FU, essas dimensões revelam-se nas chamadas humanidades, artes e tradições, o que
inclui a religião e a espiritualidade no sentido amplo.
Com o surgimento das mecânicas quântica e relativista a perceção da realidade
determinista e de sua linearidade foi transformada e o surgimento de teorias geral dos
sistemas, do caos e da complexidade altera a visão do ser humano, fazendo que
tomemos consciência da importância do outro no reconhecimento do seu próprio eu.
Neste sentido, apoiámos a nossa etnografia crítica na teoria lacaniana, discutida por
Slavoj Žižek, para transformarmos o ato da investigação num ato popular, onde o
terreno comum da academia passa a ser os problemas mundanos.
Esta escolha trouxe-nos à reflexão conceitos como sustentabilidade e natureza, de
maneira a discutirmos nossa coresponsabilização, nossa posição de “objecto de
estudo”, bem como nossa integridade (corpo, mente e cosmos), enquanto
investigadores do FU. Ter passado por este processo dialógico fez-nos crescer, ainda
mais, em nosso comportamento subordinado à ética maior de respeito, solidariedade
e cooperação (D’Ambrosio, 2002).
30
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ETNOGRAFIA CRÍTICA
Sílvia Franco
Mônica Mesquita
Numa postura etnomatemática, onde foi extremamente importante olhar para a
prática e dialogar com os fenómenos sociais, respetivos contextos e membros das
comunidades envolventes, a etnografia crítica acaba por ser não uma escolha
metodológica, mas sim a confirmação da possibilidade de ser e estar investigador
freire-d’ambrosiano. Os investigadores do FU acabam por buscar um caminho crítico
ao próprio comportamento atual na investigação educacional, pesquisando populações
marginalizadas, mudando o foco da pesquisa de um indivíduo ou grupo patológico
para uma análise das minorias e da dominação socioeconómica vigente.
Para Jim Thomas (1993) o grande diferencial da etnografia crítica está na aceitação de
uma tarefa extra, face a uma situação de desigualdade ou opressão social, assim para
o autor,
Critical ethnographers (...) accept an added research task of raising their voice to speak to an
audience on behalf of their subjets as a means of empowering them by giving more authority to
the subjets’ voice. As a consequence, critical ethnography proceeds from an explicit framework
that, by modifying consciousness or invoking a call to action, attempts to use knowledge for
social change. (Thomas, 1993, p.04)
Na percepção lacaniana, estudada nesta investigação via Slavoj Žižek, de que nem
tudo é o que parece, surge, para os investigadores do FU, a constatação de que os
contextos educativos e os conteúdos selecionados para os processos educativos são
maioritariamente formas de dominação social. Contextos, processos e conteúdos
representam e promovem comportamentos e significações sociais impostas por
instituições de poder, construindo e limitando as escolhas do indivíduo. Por este
motivo, o papel do investigador passa não só por descodificar palavras, símbolos e
rituais de forma a perceber os significados atribuídos; mas também por questionar,
em conjunto com o corpus investigado, o que poderia ser.
Para Thomas (1993), Mainardes & Marcondes (2011) e Oliveira & Lima (2009, p.5), a
grande questão da etnografia crítica é exatamente “o que poderia ser”, indo além da
“análise puramente descritiva”, crítica da “grounded theory” apresentada em GérinLajoie (2009, p.15). Os autores concordam que para apreender as relações de poder e
romper com os processos de domesticação é necessária uma abordagem holística,
crítica e dialógica das questões da investigação no contexto estudado, abordagem
priorizada pela etnografia crítica.
O grande desafio da nossa atuação enquanto investigador do FU foi escutar os dados
sem impor as nossas próprias significações, aceitando os seus pré-conceitos como
construções da sua própria cultura, ao procurar olhar, escutar e pensar para uma
visão holística da realidade estudada. Em comunhão com Paulo Freire e Ubiratan
D’Ambrosio, para Thomas (1993) o investigador deve desenvolver o seu pensamento
31
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
crítico numa atitude reflexiva face ao seu trabalho e aos seus próprios valores,
sempre em interatividade, em diálogo com a comunidade estudada, respetivas
práticas e sinais. Ressalta-se que, segundo Thomas (1993, p.12), “signs are the
words, gestures, or artifacts that represent a meaning that one intends to transmit to
an audience”. Portanto podemos dizer que o processo de uma investigação, bem como
os processos culturais estão repletos de sinais, com significações que as instituições
querem transmitir e incutir aos sujeitos.
Tendo como foco central desta investigação a educação, buscou-se que o papel do
investigador/educador fosse, principalmente, de diálogo entre os sinais que quer
estudar ou transmitir e os sinais que recebe dos sujeitos. Assim, os investigadores/
educadores tiveram como preocupação essencial a humanidade como um todo,
respeitando as especificidades de cada cultura e de cada sujeito (D’Ambrosio, 1999).
Jim
Thomas
(1993)
defende que um etnógrafo
crítico começa por escolher
o seu tema, identificando
uma questão que desperte
a sua paixão, pois se o
investigador
não
sentir
paixão pelo que investiga
dificilmente alcançará os
significados subentendidos
do evento em questão.
Para a realização desta
etnografia
crítica,
nós,
etnógrafos
críticos,
adotámos
uma
postura
flexível,
pois
não
trabalhávamos
com
verdades que pretendíamos
provar e sim com a
tentativa de compreender
como se manifestam os
Figure 23 - A Ameaça (João Moreira, 2013)
saberes e fazeres nas
comunidades
envolvidas.
Em
contacto
com
as
comunidades, nós confiámos no ponto de vista dos membros das mesmas, dialogando
com eles e deixando-os manifestar-se enquanto especialistas na sua própria cultura.
Para um posicionamento crítico etnográfico foi essencial que a experiência fosse vivida
em primeira mão e, ainda assim, com plena consciência de que “cultural forces may
shape both the conditions and social responses that disadvantage some groups more
than others” (Thomas, 1993, p.33). Enfatizando que uma prática de pesquisa
convencional poderia promover a reprodução dos sistemas sociais e culturais que
32
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
veiculam propósitos de opressão e dominação, tentamos usar o nosso trabalho como
forma de crítica social ou cultural, para reforçar que os problemas locais se encontram
promulgados pelo contexto global.
Vivenciámos, em nosso processo etnográfico que todo pensamento é mediado pelas
relações de poder construídas histórica e socialmente; que os fatos nunca podem ser
tomados isoladamente do universo dos valores ou retirados de uma inscrição
ideológica; que a relação entre conceito e objeto e entre significante e significado
nunca é estável ou fixa e é, geralmente, mediada por relações sociais determinadas
pela produção e consumo capitalistas; que a língua é essencial na formação da
subjetividade (percepção consciente ou inconsciente); que em qualquer sociedade
alguns grupos têm privilégios e que a opressão, que caracteriza as comunidades
envolventes, alcança sua máxima expressão quando os subordinados aceitam o seu
status social como natural, que a opressão tem muitas faces e que atentar para
apenas uma delas costuma ocultar as interconexões das mesmas. Neste sentido,
encontramos em nossa investigação os pressupostos discutidos por Kincheloe e
McLaren (2003).
O perigo da história única, como por exemplo as trazidas nas atuais TED talks, é o de
restar uma perspetiva muito reduzida da realidade que nos conduziria à formação de
estereótipos e consequente promoção de desigualdades sociais e fortalecimento de
movimentos opressores. Todas as histórias são compostas por diferentes versões e
este exercício foi desenvolvido ao analisarmos as diferentes Histórias de Vida locais –
como as das próprias comunidades envolvidas, trazidas por diferentes membros, e
não membros, destas comunidades. Este exercício fez-nos contactar com outras
histórias e, principalmente, com os próprios preconceitos dos contadores das histórias
e com os preconceitos de terceiros, frutos de histórias únicas.
Ao fazer etnografia crítica, recolhemos dados interactivamente com os membros das
comunidades – que também foram agentes de recolha, através da observação
participante e da recolha de documentos, e criámos algo novo, primeiramente, em
diálogo com os participantes do estudo e com a teoria e, posteriormente, a partir de
um processo de distanciamento, em que procurámos evidenciar os elementos que à
primeira vista não foram claros. Estes elementos trouxeram um novo olhar face às
situações vivenciadas, realçando a importância das várias histórias de um mesmo
fenómeno e, assim, promovendo reflexões e acrescentando valores a uma história.
Apesar de não existir grandes diferenças entre a etnografia convencional e a crítica,
no que aponta a técnica de recolha de dados utilizadas – observação, entrevista e
análise documental, destacamos a relevância da criatividade e imaginação etnográfica
no processo de uma pesquisa desta natureza. O espírito crítico da imaginação
sociológica indica a necessidade de se evitar o fetichismo do método e da técnica
(Mills, 1965). Assim, a pesquisa etnográfica crítica demanda uma preocupação não
apenas com a técnica, mas também com implicações mais profundas, tais como, as
teorias
que
fundamentam
a
pesquisa,
o
nível
de
reflexividade
do
investigador/educador, neste caso, e a necessária perspetiva de historicidade dos
fenômenos investigados.
33
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
As ideias de Wright Mills, acima apresentadas, instigam os investigadores a serem
criativos no uso das técnicas, mas principalmente na busca de respostas que integrem
a complexidade existente no ambiente de estudo. Neste sentido foi preciso permitir
que a imaginação se manifestasse, que esta tornasse possível olhar além do visível,
despertando novas questões e ativando a compreensão de toda uma ampla
diversidade de possíveis respostas.
Esta criatividade que define a etnografia crítica favoreceu o emprego e a reflexão
sobre vários conceitos dicotómicos, tais como: igualdade/ desigualdade e inclusão/
exclusão, entre muitos outros, que tendem a dominar as práticas e as reflexões
educativas. Esta abordagem metodológica permitiu que estes conceitos surgissem de
forma consciente e fossem analisados como elementos dialógicos e numa relação
dialética com o seu contexto. O olhar sobre estes conceitos pretendeu ser abrangente,
evitando que se considerassem apenas antagónicos, portanto urgiu problematizá-los,
questioná-los e explicitá-los de uma forma mais profunda, que considerasse os
conceitos dicotómicos também como elementos de um diálogo.
Na última etapa etnográfica ressaltamos a imersão da investigadora principal a
campo, tendo passado dez dias na casa da Dona Vitória Mendes, aluna da
Alfabetização Crítica e moradora do bairro há 36 anos. Esta experiência estará
relatada detalhadamente no capítulo do nosso livro. Porém, ressaltamos aqui a dura
experiência de se viver sem água em um local urbano. A luz vinda de uma puxada
ilegal, também é precária, não trazendo nenhuma forma de conforto (possibilidade de
se ligar um aquecedor) ou mesmo de sobrevivência urbana (a falta de luz é constante
e por períodos longos não podendo manter um refrigerador em condições normais). A
higiene é uma tarefa árdua, mas que é feita cuidadosa e diariamente (lavar o cabelo é
uma tarefa que exige um grau de complexidade muito maior do que em uma
residência dita normal urbana).
A beleza deste mergulho etnográfico tem proporcionado ainda um maior respeito pelos
membros desta comunidade. Poder estar o dia todo na Comunidade Bairro permite trabalhar
em nossas tarefas de forma mais profunda, gozar do lazer nesta comunidade – momentos
mágicos, e preparar a Festa de Natal detalhadamente. Não tem sido fácil usar a casa de banho
(uma privada, uma fossa) da minha tão querida amiga Vivi que está construída ao lado do
chiqueiro, fora de sua casa. Não consegui aprender a lavar meu cabelo – tarefa feita ontem pela
minha amiga Rita (aluna da Alfabetização Crítica). Porém aprendi com a Vivi: a escovar os
dentes na chuva (visto que esta casa não tem pia na casa de banho e mesmo assim a higiene
bucal é feita várias vezes ao dia), a lavar roupa no tanque (e ir buscar água para isso há um
quilómetro de distância), a repor a água (coletada da chuva em arcas frigoríficas velhas via um
algeroz) nos recipientes de plástico para armazenamento da mesma, a dormir apenas com um
olho (pois o outro estava nas goteiras e precisava mudar meu colchão de lugar), a plantar
ervilha, a buscar a cabra (mesmo sem nunca ter ido sozinha), um pouco mais sobre a
resiliência desta gente bonita, a resistir ainda mais, o valor da compaixão vivenciada num outro
ponto de vista, a viver! Pudera todos as pessoas ligadas a educação tivessem esta oportunidade
de ser e estar uma moradora visitante da Comunidade Bairro... de certo a justiça social reinaria
neste mundo animal, dito racional. GOSTO MESMO DE ESTAR AQUI! (Mesquita, Notas de
Campo, amanhecer do dia 23 de Dezembro)
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Figure 26 - Inserção Etnográfica Quarto de Mônica Mesquita
preparado com amor por Vitória
Mendes – Dez/13
Figure 25 - Inserção Etnográfica - Lavar o Cabelo,
por Rita Tavares – Dez/13
Figure 24 - Observação "aprendendo a cuidar", com
Patrícia e Patrick - Dez/13
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ÉTICA
Mônica Mesquita
Ana Paula Caetano
Sugerimos o Curriculum Trivium, desenvolvido pelo nosso consultor Ubiratan
D’Ambrosio e acima discutido, a fim de reforçar a cidadania plena durante estes
momentos de encontros e confrontos culturais inegáveis e, também, para fornecer
instrumentos de sobrevivência numa sociedade onde a busca de uma nova
perspectiva de futuro para a humanidade, via uma ética maior (D’Ambrosio, 2002), é
determinante para esse reforço. Neste sentido, após esta inserção etnográfica,
destacamos o conceito de espaço como conceito crucial.
A HUMANIZAÇÃO DO ESPAÇO
Centrados na Educação Comunitária, o conceito é mantido como factor crucial de
inclusão – tendo ele próprio a postura de lembrar ao ser humano a atual emergência
para estar com o outro, com a natureza, e para repensar a alegada supremacia da
espécie humana face às outras formas de vida. O conceito de espaço é trabalhado
pelo Projeto Fronteiras Urbanas como uma conceção do corpo matemático que, de
acordo
com
Mesquita,
Restivo, e D’Ambrosio:
Figure 27 - João Moreira e Kevini (Spieel Pacheco, 2012)
“… is, among others, an active
producer of bodies that can
react within production
relations… and must be seen
as a part of human culture,
claiming to the view where the
mathematical body is not a
part of some form of Platonic
transcendental realm.” (2011,
p.100).
O ser humano pára de se sentir estranho no mundo em que vive quando reconhece
que a atitude científica no mundo não é mera contemplação mas movimento de
construção social.
“understand how the interactions of human beings are engaged in constituting and
reconstituting the world; we have even come to develop a more empirically grounded
understanding of what science is (through the development of science studies since the late
1960s). We can see how these developments arise out of the intersections of new
configurations of history, culture, and individual biographies.” (Mesquita and Restivo; 2012,
p.04)
Segundo Mesquita e Restivo (2012), a matéria prima da Ciência é o ambiente
ecológico onde práticas sociais e culturais o transformam, em sua composição, pelas
36
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
as forças produtivas e as relações de produção. No FU, constatamos que as forças
produtivas e as relações de produção inseridas nas comunidades mantêm-se em
consonância com o espaço posicional e relacional do corpo. É no espaço concreto do
encontro, onde a mente e os afetos se corporificam pelo ato da palavra dialogada e
agida, que as transformações internas e externas, individuais e colectivas, acontecem.
Trata-se de uma ética da relação e do diálogo, onde a identificação e a
desidentificação são processos que favorecem a emancipação dos vários que se
reconhecem no encontro. Trata-se, pois, de uma ética do reconhecimento de si no
outro e do outro em si mas, também por isso, de desconstrução e reconstrução do eu.
“Há uma dor mas Vêm/a vida chama-os mas decidem/no seu tempo estar/sorriso e abraço
suspendendo o grito/que transformam em palavra/ e que aprendem a levar vertical/aos lugares
de ser escutada” (Ana Viana)
Sendo assim, o poder da corporificação e a ética de identificação são como produções
do corpo, e as relações de poder e ética como relações de produções, conforme
sugere Mesquita (2008).
Em Les Formes élémentaires de la vie religieuse : le système totémique en Australie,
Durkheim (1912, 2003) aproxima-se do espaço como uma categoria de
conhecimento, uma representação coletiva, uma coisa social. De acordo com
Durkheim, falar sobre esta categoria é para falar sobre as relações que o espaço
expressa, de forma implícita, através da consciência individual.
Neste contexto, representar o espaço é, essencialmente, ordenar o heterogéneo, ou
seja, produzir, espacialmente falando, sentido. Por si só o espaço não tem nem direita
nem esquerda, nem alto nem baixo, nem o Norte nem o Sul . Todas estas distinções
são construções sociais com diferentes valores afetivos. Como todas as pessoas de
uma cultura representam o espaço da mesma forma, é evidente que estes valores
afetivos e suas distinções - o que eles dependem - são igualmente comuns, pois eles
têm origens sociais . Desta forma, nosso estudo confirma que o espaço não é
dissociável da sociedade que nele habita, nem do poder da corporificação e da ética
de identificação existente nesta sociedade. Pelo contrário, o espaço é a construção de
uma base material sobre a qual a sociedade produz a sua própria história.
Entretanto, segundo Žižek (2010), o ser humano não pode ser reduzido em
codificações simbólicas de "alteridade", que oferecem oportunidades de
autorrealização, mas que são reais vizinhos inevitáveis e cuja própria particularidade
confronta o indivíduo com as demandas universais e obrigações que não podem ser
ignoradas. A ideia de "alteridade" é central para análises antro-sócio-económicas de
como as identidades são construídas. Este pressuposto deve-se ao fato da
representação dos diferentes grupos dentro de qualquer sociedade ser controlada por
grupos que têm uma maior potência política que, em nossos tempos podemos afirmar
que são grupos que têm uma maior potência económica. A fim de entender a noção
do Outro, colocámos um holofote crítico sobre as estratégias pelas quais as
identidades socioculturais são construídas
37
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
A voz de Žižek nos lembra o foco humano, localizando as origens da vida social em
capacidades e potencialidades humanas, que é capaz de desenvolver através da
construção social, a interação com os outros de qualquer espécie. Žižek (1994, 2005)
trabalha com a ideia de seres humanos que estão IN (seres humanos incluídos na
sociedade legalmente regulada de bem-estar e os direitos humanos), e que estão OUT
(do sem-teto de nossas cidades urbanas entre as quais as comunidades das fronteiras
urbanas do projeto). É necessário acrescentar que estar IN é ter visibilidade
intelectual e material nas formas neoliberais de vida e na hegemonia dos atuais
espaços urbanos. Estar OUT é não ter visibilidade intelectual e material; estar fora é
ser invisível nos mais profundos sentidos humanos.
Olhando para essa relação espacial entre IN e OUT, afirmamos que a população
urbana local não reconhece as relações sociais entre os grupos marginalizados e não
marginalizados revelados neste estudo etnográfico. Para o grupo de nãomarginalizado, o outro - grupo marginalizado - tornou-se invisível, mesmo que eles
tenham direitos ou necessidades urgentes como cidadãos. Ser invisível é estar no
espaço marginal da grande sociedade, é sobreviver sem ser incluído diretamente nas
relações éticas e de poder da grande sociedade, desenvolvendo relações invisíveis de
ética, e consequentemente, de poder.
Durante a Era Industrial, os grupos marginais urbanos eram geralmente localizados
na periferia da cidade ou controlados, colocando-os metafórica e literalmente em
cadeias (em presídios, hospitais psiquiátricos e reformatórios). A presença contínua e
crescente destes grupos culturais em áreas centrais urbanas afeta diretamente as
relações sociais da grande sociedade, não gerando uma simbiose mútua, mas a
seleção natural capitalista; os grupos culturais marginais passaram por um processo
de eliminação fundada na sua incapacidade de se adaptar à vida nas áreas centrais
urbanas. No passo seguinte, tornaram-se invisíveis. (Mesquita, 2008)
O movimento dos grupos culturais marginais na área central urbana surgiu como uma
resposta topológica ao movimento de conurbação durante a Era Industrial. Este
movimento desenvolveu o não-espaço, ou seja, espaço físico não identificado ou
identificável, organizado em torno de entropia e anomia, discutido por Mesquita
(2008). É aqui que encontramos um espaço para um certo tipo de conjunto invisível
das relações sociais. No não-espaço urbano, as relações sociais acontecem num
processo de osmose capital natural. No entanto, o medo do outro invisível torna-se a
consequência de uma parede nos olhos de um visível. Uma parede de angústia
constituída, entre outras coisas, pelo entupimento dos corpos nos espaços urbanos,
pela manipulação do aparecimento de uma constante ameaça colocada pelo outro
invisível - parede que está em desenvolvimento e alimentando os limites urbanos.
O universal singular – reconhecido como invisível neste estudo, é um grupo que,
embora sem qualquer instalação fixa no edifício social (ou, na melhor das hipóteses,
ocupando um lugar subordinado), não só pede para ser ouvido em pé de igualdade
com o poder dominante mas, indo além, se apresenta como a encarnação imediata da
sociedade como tal, em sua universalidade, contra os interesses de poder particulares
da burguesia local (Žižek, 1998, online).
38
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
O corpo é controlado como uma estratégia de poder para ocupar e delimitar espaços
e, ao mesmo tempo, é manipulado como uma estratégia de ética global para manter
os espaços elitistas. Este exercício é vivenciado diariamente por qualquer pessoa que
resolva estar ao lado de um dos membros das comunidades envolvidas neste estudo.
Entendemos, em nosso processo etnográfico, que a relação entre o poder e o corpo
está no processo de submissão agradável onde dever torna-se prazer - o ato de
corporificação. A relação entre ética e corpo está relacionada com o politicamente
correto onde o prazer se torna dever - o ato de identificação.
As inter-relações entre o poder, a ética e o corpo estão relacionados com o processo
de controlar e manipular, é intrínseca ao pensamento lógico, que é uma
representação coletiva. Corporificação e identificação combinam-se para tomar posse
traiçoeira sobre o corpo, uma espera que se baseia simultaneamente sobre a
produção de conhecimento. Ambos os conceitos se manifestam nas relações de
conhecimento (matemático - conhecimento espacial) que condicionam o surgimento
do ser humano, concentrando-se sobre o corpo. O corpo passa por esse processo com
a intenção de tornar-se, ele próprio, capaz de participar da atividade econômica em
que os termos são de sujeição ininterrupta e em detrimento de seu potencial pelo
apelo e revolta.
Se forme alors une politique des coercitions qui sont un travail sur le corps, une manipulation calculée de
ses éléments, de ses gestes, de ses comportements. Le corps humain entre dans une machinerie de pouvoir
qui le fouille, le désarticule et le recompose. (...) La discipline fabrique ainsi des corps soumis et exercés,
des corps “dociles”. (Foucault, 1975; 2001, p.73)
O corpo aqui é frágil. Aparece alvejado e produzido pelo sistema hegemónico e, em
seguida, torna-se incompreensível fora de suas significações culturais; forças sociais,
afetivas e históricas construídas diretamente da realidade corpórea do corpo. “Deste
não-espaço criado pela sociedade para o mulato nasce uma equação: mulato + nãoespaço = malandro” (Mesquita, 2008, p.141). Esta equação pode ser revisitada por
todos os membros das comunidades envolvidas em nosso estudo, nomeadamente, o
cabo-verdiano, o cigano, o brasileiro, o pescador, o português do bairro, o angolano, o
guineense, etc.
No entanto, é importante ressaltar que a corporificação e a identificação, discutida
aqui, não são redutíveis à repressão. Corporificação e identificação não estão apenas
negativamente ligados às forças produtivas e às relações de produção. Se os
mecanismos de poder e ética (global) fossem exercidos apenas de forma negativa
estes seriam muito frágeis. Se eles são fortes é porque corporificação e identificação
produzem efeitos positivos ao nível do desejo, da obrigação e do saber. A partir de um
desejo, uma obrigação e um saber sobre o corpo apareceu um conhecimento
fisiológico, o orgânico.
Para compreender que a sujeição envolvida nas relações entre o conhecimento, a
corporificação, a identificação e o corpo não está centrada sobre o paradigma da
obediência, mas sim dispersa através do corpo social, observamos a constituição do
corpo em determinados espaços, as relações de controle e de manipulação que
39
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ocorrem dentro do processo de constituição, as interações do corpo no espaço, bem
como os efeitos concretos que essas interações produzem em determinados espaços.
Sendo assim, para compreender esse processo de observação foi necessário perfilar a
importância de deslocar o foco para as fronteiras da zona, para as extremidades do
corpo social, para as instituições locais, indo da lei às regras locais a fim de observar
as técnicas de intervenção dos mecanismos de poder e ética global nas produções, e
para observar os efeitos materiais que são produzidos sobre os corpos.
Num movimento de ruptura com a marginalização material e simbólica, os
mecanismos de poder, de controle legal e ético sobre os corpos são quebrados pela
criatividade e valores diferentes vindos dos outros invisíveis. O ato, ou práticas de
resistência como Žižek (2006) clama, torna-se político, reiterando noutro registo e
como uma condensação metafórica da reestruturação global de todo o espaço. De
acordo com Žižek (2002; 2003), a possibilidade de atos que perturbem a ordem
sócio-simbólica, que provoque as rupturas do real, podem romper o impasse do tédio,
da falta de entusiasmo e iniciativa, da pós-política. No ato, em outras palavras,
podemos encontrar esperança para algo mais. “Os momentos não se somam/quando o
coração se expande em cada/mesmo que entre eles nos doa/a ausência// um fio de
luz atravessa-os/insuflando de riso o seguinte/ e sedimentando dentro uma presença”
(Ana Viana)
A colaboração íntima promovida pelo Projeto Fronteiras Urbanas tem contribuído para
a sobreposição deste cenário através do nosso comprometimento em torno dos
mesmos desejos - o desejo de saber, do reconhecimento, da validação, tornando
compatíveis os nossos conhecimentos, os desejos de estarmos nas fronteiras, a troca
de energia visando capacitar nossas comunidades. Trata-se, pois, de uma ética da
colaboração e da resistência, pela qual há um comprometimento em continuarmos o
encontro e de rompermos a barreira entre o visível e o invisível.
o centro é o fogo
que alimentamos em cada encontro
e que permanece vivo
porque sempre alguém
lhe responde
(Ana Viana)
40
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
MOMENTO ETNOGRÁFICO
Os momentos etnográficos vivenciados aparecem, neste relatório, descritos nos
relatórios finais de cada tarefa do Projeto Fronteiras Urbanas (FU), previstas em
candidatura à Fundação para a Ciência e a Tecnologia, nomeadamente: Alfabetização
crítica, Histórias de Vida e Cartografia Múltipla. Apresentamos, inicialmente, o
relatório da Mediação Comunitária, exercício transversal a toda atuação etnográfica
crítica envolvida neste processo de investigação, também conforme previsto em
candidatura. Trazemos um momento final no qual relatamos, resumidamente,
atividades que foram realizadas ao longo do desenvolvimento etnográfico com
parceiros externos que, ao se aproximarem do FU, contribuíram com a realização e/ou
desenvolvimento de ideias já presentes no cerne no projeto. A este movimento demos
o nome de EntreProjectos.
Ressaltamos que tanto os relatórios quanto as descrições dos EntreProjectos
aparecem apresentados de forma sucinta, não revelando a complexidade,
profundidade e humanização de todas as transformações ocorridas ao longo desta
inserção etnográfica.
Figure 28 - Moni (João Moreira, 2013)
41
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
Ana Paula Caetano
Isabel Freire
1 - Contextos e âmbitos de mediação
Em consonância com a conceção de mediação de que partimos, não foi predefinido
qualquer plano para a mediação nem tão pouco se pretendia instituir um dispositivo
próprio e específico de mediação. Assumiram-se os movimentos espontâneos, ou pelo
menos não pré-determinados, como aqueles que fazem sentido e que dão sentido aos
processos de participação coletiva das pessoas nas comunidades, na busca do bem
comum.
Figure 29 - Gonçalo, 2013
A mediação foi sempre entendida como um processo de facilitação da comunicação no
interior dos sistemas ou entre eles, sempre que aquela se encontrasse de algum modo
dificultada ou inexistente, sendo assumida quer como uma resposta a situações de
conflito, quer como uma ferramenta de encontro entre pessoas, grupos ou
comunidades, facilitadora do diálogo e preventiva de situações de escalada do
conflito.
42
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
No quadro abaixo apresentam-se os diferentes âmbitos da mediação e os contextos
em qua essa mediação emergiu.
Quadro 1 – Contextos e âmbitos de mediação
Âmbitos da mediação
Mediação
de
(intracomunidade e
comunidades
e
exteriores)
Contextos e processos de mediação
conflitos
entre as
entidades
Ligação com autoridades locais e outras
organizações locais
Relações entre membros de uma comunidade
Mediação
linguística
e
intercultural (nos processos de
alfabetização crítica, que incluem
a promoção de práticas culturais,
como o batuko ou o kriolu),
Alfabetização: mediação cultural e linguística
Mediação
entre
educação
informal e formal (ligação entre a
educação
no
bairro
e
na
escola/centros de formação)
Ligação com escolas e centros de formação
Mediação
social
entre
comunidades participantes no
projeto (comunidade de pesca,
comunidade
de
bairro
e
comunidade académica)
Colaboração entre
comunidades
Mediação
social
comunidades e sociedade
Iniciativas de divulgação do projecto, com a
presença das três comunidades
entre
Grupo de batuko
Apoio à criação
moradores
líderes
de
uma
de
diferentes
Comissão
de
Debates em fóruns de participação pública
Desenvolvimento
arquitectura por
Autónoma
de
alunos
projectos
de
da Universidade
Desenvolvimento de um projeto de cozinha
comunitária
43
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
A mediação de conflitos emergiu da necessidade quer de responder às situações de
violência física por parte das autoridades policiais sobre os membros de uma das
comunidades, quer às situações de negligência sistemática das autarquias locais face
aos direitos básicos desses mesmos moradores (direito ao acesso à água e à
habitação). Estes casos foram implicando membros de todas as comunidades, em
diversas iniciativas, algumas das quais integradas no âmbito da alfabetização crítica
ou de cartografia ou da cartografia múltipla. Pontualmente, a mediação de conflitos
surgiu face às dificuldades de comunicação entre membros de uma mesma
comunidade.
A mediação linguística surgiu fundamentalmente no contexto da alfabetização. As
senhoras que integravam a “escola”, todas cabo-verdianas, cuja língua materna é o
kriolu, falam português com alguma dificuldade. A alfabetização foi feita em língua
portuguesa e, foi direcionada para a iniciação à leitura e à escrita da língua
portuguesa. Nesse sentido, teve uma grande importância o papel de uma das
alfabetizadoras, uma jovem cabo-verdiana da comunidade local, com bom domínio
das duas línguas.
No quadro dos encontros entre as duas línguas e entre as diversas culturas em
diálogo, os processos de mediação intercultural3 criaram condições para a promoção
de práticas culturais de reconhecimento mútuo entre as quais destacamos a criação,
desenvolvimento e divulgação, de um grupo de batuko4 e de um grupo de teatro,
assim como a criação de uma escola de kriolu, a criação de uma associação de
pescadores (Associação Ala-Ala) e a realização de sessões de poesia e de partilha de
histórias de vida, com a participação de todas as comunidades envolvidas.
Destacam-se também os processos de mediação realizados entre a educação não
formal e formal, ou seja, em determinados momentos foi assegurada a continuidade
entre a formação no quadro da alfabetização de adultos no bairro e o acesso à
formação no quadro dos programas formais de formação de adultos proporcionados
pelo sistema educativo, através de centros de formação e de escolas profissionais.
É ainda relevante realçar um sentido processual de mediação, entendendo-se aqui o
imbricado de iniciativas que alimentam simultaneamente as principais tarefas do
projeto – alfabetização crítica, cartografia múltipla e histórias de vida.
3
Entendida como uma “modalidade de intervenção de uma terceira parte, em e sobre situações sociais de
multiculturalidade significativa, orientada para a consecução do reconhecimento do Outro e para a aproximação das
partes, a comunicação e a compreensão mútuas, a aprendizagem e o desenvolvimento da convivência, a regulação de
conflitos e a adequação institucional, entre actores sociais ou institucionais etnoculturalmente diferenciados” (Gimenez,
1997, 142).
4
Género musical originário da ilha de Santiago, Cabo-Verde, cujo elementos são : o ritmo, o canto e a dança.
44
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
2 - Figuras de mediação
Estes diversos âmbitos de mediação não são estanques. Nas suas dinâmicas criam-se
rede de mediações e de mediadores que refletem a presença de papéis e níveis de
mediação diferenciados, mas sobretudo complementares.
Podemos assim, identificar os mediadores locais e também académicos cuja ação se
desenvolve de forma articulada e simultaneamente autónoma, tendo sempre como elo
principal de ligação a líder do projeto. Aos mediadores académicos coube, por um
lado, o papel e a responsabilidade de promover a reflexão sobre as dinâmicas e as
práticas e ajudar a todos na consciencialização dos papéis desempenhados nos
processos de formação. Por vezes, em situações mais complexas e com grande
envolvimento dos mediadores locais, os académicos assumiram pontualmente a
liderança dos processos. Noutras situações em que o conhecimento cultural,
intercultural ou das dinâmicas locais necessitava ser mobilizado, foram os mediadores
locais a liderar os processos iniciais. Ou seja, as lideranças foram surgindo de forma
articulada e complementar, num quadro de relações horizontais de poder, liberdade e
respeito mútuo.
A análise das dinâmicas de mediação reflete um adensamento do tecido social
formado pela intensificação qualitativa e quantitativa das interações que se
estabelecem, das colaborações entre projetos, das solidariedades humanas. Esta
realidade foi potenciada pelo projeto FU, dando continuidade a outro projeto anterior,
o Projeto D.A.R à Costa, integrado no Programa Escolhas5 , no qual já tinha sido
promovida a prática da mediação na comunidade.
Trata-se, portanto, de uma mediação informal, que cada um assume dentro do âmbito
da sua atuação e que a existência do projeto promove, ajudando a dar-lhe sentido e
consistência. Algumas das pessoas mais ativas durante o projeto já eram mediadores
naturais, no sentido de exercerem uma liderança e um papel educativo fortalecedor
de coesão social. Outras emergiram ou tornaram-se mais conscientes desse papel,
assumindo-o deliberadamente, na ligação com iniciativas que o projeto lançou ou
apadrinhou.
3 - Princípios orientadores
A mediação contém em si uma orientação transformadora dos indivíduos e das
relações, sustentada em valores positivos, como a solidariedade, a participação, o
compromisso, a cooperação, o respeito, a criatividade, a perseverança, a paciência, a
confidencialidade e o diálogo, que se congregam numa ética inter-relacional. Trata-se
de uma responsabilidade inclusiva que se partilha com todos e, assim, a todos devolve
dignidade (Oliveira &Freire, 2009).
5
O Programa Escolhas é um programa português de nível nacional integrado numa organização governamental
designada Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural [ACIDI ; ver www.acidi.gov.pt]. O Programa
Escolhas encoraja e financia projetos de desenvolvimento local, para a integração de populações migrantes, e projetos
promotores da coesão social.
45
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
A análise das dinâmicas de mediação vividas no projeto FU realça a presença de um
conjunto de princípios, que foram objeto de reflexão e ponto de partida para o
fortalecimento das práticas mediadoras e educativas no sentido do bem comum.
Podemos mesmo falar em constelações de princípios e valores que se aproximam por
afinidade e que são recursivos entre si. Tal é o caso de princípios de confiabilidade,
onde o afeto, a presença, a disponibilidade, o cuidado e o reconhecimento se
imbricam. Tal é o caso da dinâmica de emergência de atuação, não no sentido de
atuar como bombeiro em situações problema, mas no sentido de ir tomando decisões
e abrindo caminhos à medida que as circunstâncias o proporcionam, à medida que os
recursos se vão tornando visíveis, à medida que as potenciais colaborações se
desenham no contacto diário com novos participantes, alargando-se o leque de
pessoas envolvidas e catalisando processos em momentos críticos, sem se substituir
mas também sem abdicar de ser em coautoria. Trata-se de favorecer, criar condições,
sem resolver as situações mas colaborando com as populações para que sejam elas a
resolvê-las, embora a autonomia seja muito relativa, se pretenda progressiva e haja
um caminho a percorrer para que seja efetiva. Trata-se de estabelecer relações com
todos e cada um, mas dando atenção aos líderes das comunidades que, entre si, vão
gizando sinergias e se vão mutuamente apoiando, despoletando nas suas próprias
comunidades movimentos que se ampliam. Trata-se de partir dos pequenos passos e
com eles fazer as caminhadas possíveis.
4 - Impacto dos processos de educação e mediação comunitárias na vida das
comunidades
Não é nossa intenção identificar os impactos específicos da mediação em todo este
projeto, o que não faria sentido, dado que a mediação surgiu de forma
verdadeiramente integrada no desenvolvimento de todo o projeto de educação
comunitária. No nosso ponto de vista, o impacto principal que a mediação em si teve
no desenvolvimento das dinâmicas sociais e culturais que se operaram, foi a
facilitação dessas mesmas dinâmicas e o aprofundamento dos processos de
consciencialização proporcionados pelas mesmas. A este propósito é paradigmático o
discurso de uma das moradoras do bairro:
“o bairro agora esta muito melhor do que antes, porque antes o bairro era
desorganizado e agora está perfeito, está mais completo, com sintonia ... com as
aulas de alfabetização, batuque e as brincadeiras, os nossos corações ficam cheios de
alegria e no bairro ficou tudo em sintonia, sossegadinho e mais alegre. Antes o bairro
era muito sem graça, desorganizado... antes eu ficava em casa sozinha e triste, mas
desde que comecei as aulas de alfabetização e o batuque o coração enche-se de
alegria..”
No que respeita à alfabetização critica e aos processos de mediação que lhe estão
associados, numa primeira fase, observou-se um “processo de aproximação à cultura
dominante, mais do que a promoção da sua”. Em parte inversamente, as dinâmicas
culturais que conduziram à formação do grupo de Batuko Nôs Herança (Nossa
herança), constituiu um processo de afirmação da cultura de origem, com alguma
46
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
abertura a experiências de encontros culturais. A título de exemplo refira-se o
depoimento de uma das batukaderas sobre a apresentação do grupo numa exposição
de artes plásticas em Lisboa (de autoria de um dos membros da comunidade
académica).
“R - A gente estava contentinhos até uma da noite. A batucar enquanto a gente
estava ao pé de nós. (…) As pessoas agradecem e ficam muito contentinho, agradece
a gente.”
Vejam-se, ainda, alguns exemplos de falas de outros membros do grupo de
alfabetização:
“M. –Senti muito bem mesmo, porque agora já sei pôr o meu nome, já não põe dedo
na tinta. O principal é isso. É mesmo bom, estou muito agradecida.”
V. – «Desde que entra batuko, o bairro fica mais uns com os outros … Agora estou na
nha escola, no nho batuko, o coração fica mais alegre.»
Os processos de organização da comissão de moradores de uma das comunidades
(Bairro), com os consequentes contactos com autarquias e outras organizações, e a
participação de vários membros da comunidade local no processo de cartografia do
bairro clandestino, constituíram processos vividos de democracia interna orientados
para a defesa dos direitos das comunidades, que agregaram as três comunidades e
constituíram verdadeiros reencontros culturais no seio da comunidade Bairro,
fortalecendo os laços entre diferentes grupos e reforçando, assim, o sentido de
comunidade.
Numa perspetiva mais interna às comunidades, estes são alguns dos impactos
específicos que podemos identificar em todo este processo, contudo encontram-se
alguns indícios de mudança positiva na ligação da comunidade Bairro com a
comunidade mais alargada. Por um lado, a comunidade passou a ter visibilidade
perante as autarquias, tendo sido aprovado o projeto de uma cozinha comunitária,
fundamental para a obtenção de um “ponto de água” dentro do Bairro e para o
desenvolvimento da cultura de solidariedade que se vive no bairro. Por outro lado, a
relação das autoridades policiais com o Bairro passou a fazer-se na base de um maior
respeito, tendo cessado as situações de violência sobre os moradores. Um elemento
das chefias participou mesmo em sessões de alfabetização no Bairro.
47
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
5 - Algumas tensões e problemas
Uma ação pautada pelos princípios que temos vindo a referir é acompanhada de
tensões, constrangimentos, dilemas e problemas, como é natural em processos sociais
complexos. O acompanhamento das dinâmicas de mediação vivenciadas no FU
permite-nos identificar algumas dessas tensões, a nível coletivo e individual.
Presença/apagamento do mediador
Quando é que faz sentido realçar a presença do(s) mediador(es)? Quando é que esta
se deve apagar, garantindo a liberdade do(s) outro(s) para decidirem por si próprio(s)
e o posicionamento equidistante do(s) mediador(es)? Como dizem Six e Mussaud
(2002), é necessário criar condições para que o mediador possa agir «não agindo».
Esta forma de estar tão importante para a mediação, que não tem nada de passiva; é
uma prudência, um domínio de si, a atenção ao dinamismo interno das coisas, das
pessoas e das situações, um saber deixar morrer, em vez de tudo bloquear através do
ativismo, através de uma resposta ou de uma solução prematuras (Oliveira & Freire,
2009).
Autonomia progressiva das comunidades
Os mediadores e as redes de mediação, constituindo-se como verdadeiros agentes de
transformação pessoal e coletiva, afrontam estruturas de poder geradoras de
dependências, alcançando patamares mais elevados de autonomia. Tais processos
envolvem tensões, conflitos e mesmo sofrimento, os quais desafiam os limites da
liberdade de cada um, por referência à liberdade do outro. São processos complexos
que exigem tempo de consolidação, para que o fortalecimento individual e a coesão
social se aprofundem, ao mesmo tempo que sustentam os movimentos de
emancipação.
Sustentabilidade da mediação cidadã
Por muito informal que seja a mediação cidadã e por muito que se defenda uma
cultura de responsabilidade, colaboração e solidariedade, há necessidade de sustentála em formas organizadas que garantam a sua sustentabilidade e que permaneçam
dinâmicas. A criação de uma comissão de moradores no bairro promoveu uma
dinâmica participativa na sua constituição, mas esta precisa manter-se. A própria
comissão precisa desenvolver uma agenda de atuação e hábitos de encontro interno,
para debate e decisão colectiva. Este é um processo que pode ser favorecido pela
colaboração com outras comunidades. No entanto, é preciso deixar “respirar” as
dinâmicas locais e é preciso que os mediadores da comunidade académica
progressivamente se “apaguem”, sob pena de se criarem relações de dependência das
quais todos ficam reféns.
48
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
6 - Considerações finais
No quadro dos processos de educação e desenvolvimento comunitários, a mediação é
um caminho para a tomada de consciência de injustiças sociais e de consequente
atuação reivindicativa pelos direitos sociais.
Os processos e dinâmicas de mediação criam laços, transformam relações,
desenvolvem solidariedades, geram dinâmicas de participação e de pacificação,
segurança e confiança, promotoras da afirmação da própria cultura e da
interculturalidade.
Trata-se de uma perspectiva cultural da mediação, enquanto projeto da humanidade
ou, melhor dizendo, com a humanidade (Boqué Torremorell, 2008).
49
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ALFABETIZAÇÃO CRÍTICA
Sílvia Franco
A tarefa Alfabetização Crítica (AC) foi delineada em atenção ao desejo de alguns
membros da Comunidade Bairro de aprender a assinar o seu nome, de aprender a ler
e a escrever, de aprender mais sobre o seu entorno social, de aprender… Este desejo
acompanhou a história do Movimento Fronteiras Urbanas e, consequentemente, do
Projeto Fronteiras Urbanas (FU).
1. Suporte teórico
No sentido de implementar a presente tarefa, fundamentámos as nossas práticas nos
ensinamentos de Paulo Freire, os quais estudámos ao nível da consulta de bibliografia
do autor com reflexão teórica e algumas indicações práticas do seu trabalho de
alfabetização de adultos. Ainda neste sentido dedicámo-nos à análise de vídeos
representativos de alguns movimentos de alfabetização desenvolvidos por Paulo Freire
ou por outros que seguiram as suas sugestões metodológicas.
Procurou-se, permanentemente, que esta busca teórica fosse desenvolvida num
processo dialógico crítico com os membros das comunidades, com o intuito de
fortalecer o que Ubiratan D’Ambrosio (2002) chama de triângulo da vida. Este assenta
numa ética de diversidade que se pauta em: “1) Respeito pelo outro, com todas as
suas diferenças; 2) Solidariedade com o outro na satisfação das necessidades de
sobrevivência e transcendência; e 3) Cooperação com o outro na preservação do
patrimônio natural e cultural comum”. Segundo D’Ambrosio, esta ética conduz à Paz.
2. Factos imprevistos
O FU tem em sua base de investigação o factor imprevisibilidade, visto que tem seu
olhar voltado para a dinâmica dos encontros culturais, i.e., para processos de vidas
dos membros das três comunidades envolvidas. Mesmo estando assente na
imprevisibilidade trouxemos, nesta parte do relatório de progresso, dois factos que
compreendemos como de humanização da investigação em educação.
Figure 30 - Alfabetização Crítica - Optometrista - 2012
50
Um facto a ser destacado nesta tarefa,
e não previsto em candidatura à
Fundação para a Ciência e a Tecnologia,
foi que após algumas semanas de em
campo, notámos que muitas das
educandas, ligadas diretamente à
alfabetização da clássica literacia,
tinham problemas oftalmológicos, o que
nos levou a doarmos óculos a cada uma
delas. Ressaltamos, também, a demora
na
perceção
deste
problema
oftalmológico especialmente por estas
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
educandas apresentarem uma extrema dificuldade na aprendizagem inicial da
alfabetização, no pegar do lápis ou na própria coordenação motora simples. Estas
educandas discutiram connosco, nos nossos momentos iniciais, a dificuldade de
integração em grupos de alfabetização disponibilizados dentro de instituições públicas
locais. Tais instituições exigiam que as educandas (todas adultas) não mostrassem
dificuldades nem na aprendizagem de “segurar o artefacto da escrita” nem no
desenvolvimento da coordenação motora fina – motivo maior por nunca terem
continuado suas vidas escolares.
Um outro facto a ser evidenciado foi o do espaço de aprendizagem. A princípio
tínhamos pensado em atuar – nas aulas de alfabetização da clássica literacia, num
espaço cedido pela diretoria do Sindicato de Pescas do Sul, vigente no ano de 2011.
No entretanto, deparámo-nos com o constrangimento cultural de conseguir cooptar os
alunos da Comunidade Bairro para este movimento de deslocação entre bairros.
Percebemos que este objetivo seria um ponto a trabalhar durante o processo
etnográfico e que, naquele momento inicial, deveríamos optar por realizar uma
“classe” dentro da Comunidade Bairro. Tal comunidade não dispõe, até hoje, de um
espaço de convívio público no qual pudéssemos desenvolver nossa “classe”. Optámos
por começar nas ruas de terra batida, numa área central (geograficamente falando),
que compreendesse todas as sub-comunidades existentes neste local, visto que esta
comunidade apresenta seis pontos de concentração ao nível das construções (Figure
68).
Começámos por trabalhar em mesas cedidas pelos próprios moradores da
Comunidade Bairro, no ponto que ficou conhecido como “Ponto da Escola”. Porém,
logo nas primeiras semanas sentimos dificuldades de concentração por parte das
educandas bem como um certo grau de desconforto, visto que os nossos encontros
tinham o formato de Círculos de Cultura e, como tal, havia uma exposição forte e
intensa das vidas individuais e coletivas presentes neste exercício. Outro grande
constrangimento de ter nossos encontros a céu aberto foi a presença de alguns
traficantes – pessoas não residentes nesta comunidade que trabalhavam com a venda
de estupefacientes. Sentimos que a nossa presença era ameaçadora, indesejada e,
muito rapidamente, começaram a explicitar verbal e fisicamente este desconforto.
Com estes imprevistos, fomos agraciadas com o convite de atuarmos no alpendre da
casa do Mediador Comunitário e neste atuámos nos três primeiros momentos
etnográficos. Ressaltamos que no quarto momento etnográfico, marcado pelo
desenvolvimento da Escola do Bairro, o qual discorreremos neste relatório ainda neste
ponto, voltámos a trabalhar na rua – movimento que proporcionou vivenciarmos as
transformações ocorridas nestes dois anos de atuação diária nesta comunidade – os
traficantes já não atuavam dentro da Comunidade Bairro.
Como já citámos, temos muitos outros factos imprevistos a relatar, porém escolhemos
estes dois, previamente descritos, por julgarmos que são tanto preocupações quanto
produtos a serem evidenciados de forma primária.
51
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
3. Aplicação prática
a. Primeiro momento
Nos primeiros quatro meses em campo, a
presente tarefa ficou definida pelo confronto com
as dificuldades que algumas das senhoras sentiam
ao nível da motricidade fina e pela falta de um
espaço físico onde pudéssemos trabalhar. Neste
período inicial, a tarefa ficou sob responsabilidade
direta das investigadoras Mônica Mesquita e Sílvia
Figure 31 - Alfabetização Crítica - Arte
Franco, contudo logo a partir do segundo mês se
com Lénia e João Moreira - 2012
começou a contar com a participação intensiva de
Elisângela Almeida (membro da Comunidade Bairro) e de alguns amigos das áreas da
Educação e das Artes, tais como: João Moreira, Lénia Fragoso e Isabel Freire.
Neste período, considerouse fundamental o trabalho
ao nível das histórias de
vida,
a
relevância
de
determinados períodos das
suas vidas, a partilha de
experiências
e
o
posicionamento geográfico,
Figure 34 - Alfabetização Crítica - Histórias de
Vida - 2012
face
a
representações
simbólicas como o globo
Figure 34 - Alfabetização Crítica - Identifica,
terrestre. Em diálogo com
Recorta e Cola - 2012
o grupo compreendeu-se a
necessidade de trabalhar o
nome e a data, enquanto
desejos primários, explorando paralelamente
palavras-chave, geradoras de diálogos e de
novas palavras. A construção de palavras era,
frequentemente
explorada
através
de
Figure 34 - Alfabetização Crítica pequenos pedaços de papel que se colavam
Reconhecendo Letras - 2012
numa porta. Os recursos locais são limitados,
porém em conjunto conseguimos explorar
formas um pouco mais interativas e promotoras de um trabalho coletivo, o que tem
sido importante para o grupo, pois a entreajuda tornou-se cada vez mais intensa.
52
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
b. Segundo momento
O trabalho de exploração de palavras geradoras foi aprofundado na segunda etapa de
trabalho em campo, procurando novos materiais de trabalho. A visita de Nair Azevedo
e Ana Bruno com o projeto Ler com Arte veio promover a consciência dos grupos
silábicos que compõem uma palavra e com
os quais podemos formar novas palavras.
Figure 35 - Alfabetização Crítica - Arte - 2012
Este exercício trouxe
algumas dificuldades,
contudo também uma
renovada perspetiva da
Figure 36 - Alfabetização Crítica - Método Fronteiras Urbanas - 2012
construção da palavra.
O contacto com obras
de arte, em especial com a pintura, também, permitiu explorar a sua relação com o
mundo e a relação homens – mundo no geral.
No seguimento, foram exploradas as formas, partindo de revistas. Esta atividade
permitiu identificar e explorar temas relevantes
para as várias senhoras que compõem o grupo de
AC e, consequentemente, para a comunidade.
Creio que é de destacar a frequência e importância
dada à questão da falta de água potável em suas
casas, às crianças da comunidade e à sua vida
profissional. O cultivo de produtos alimentícios,
também, era tópico recorrente. Para estas
Figure 37 - Alfabetização Crítica mulheres, esta prática é muito comum como
Comparar, Contar e o Conhecimento Local
complemento ao nível da subsistência familiar.
- 2012
Este período incluiu o trabalho com a escrita poética (com Ana Paula Caetano), que
numa primeira fase consistiu na leitura de poesia e debate em torno de questões
temáticas aí presentes, como a morte, a dor, o amor, a espiritualidade, bem como de
questões da poesia como género e em torno de aspetos específicos de escrita, como
os sinais ortográficos (um dos livros estava organizado e tinha poemas em torno da
vírgula, ponto de exclamação, ponto de interrogação, reticências, travessão).
53
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
O trabalho desenvolvido neste período contou, ainda, com a participação de Joana
Lopes Vieira e Catarina Pereira, cuja participação foi fundamental para o trabalho
individualizado com as participantes das sessões que manifestavam, claramente, a
necessidade e desejo de explorar competências e questões de diferentes níveis e
domínios.
Intensificou-se, ainda neste segundo momento de trabalho em campo, o movimento
de diálogo entre os jovens locais e as instituições escolares. Este movimento foi
fortalecido com o apoio de Catarina Pereira que iniciou o seu estágio no Projeto
Fronteiras Urbanas, no âmbito do Mestrado em Ciências de Educação, na área de
especialização em Educação Intercultural. Este processo dialógico foi, de extrema
importância, para o regresso dos jovens/adultos do Bairro à escola, desejo de muitos
que até então se sentiam impossibilitados de o fazer.
c. Terceiro momento
A terceira temporada em campo, porém, ficou marcada por momentos de interação
com terceiros, bem como com diferentes instrumentos de trabalho e o trabalho
individualizado com as senhoras que formam o grupo de trabalho.
A Rita Tavares, mulher de 42 anos moradora das Terras da Costa e membro do grupo
de AC, foi quem mais usufruiu, ao nível do trabalho individualizado. O seu forte
empenho e rápida evolução ao nível da leitura e da escrita, bem como o
posicionamento crítico e relação com a poesia, conduziram a um trabalho
individualizado com Ana Paula Caetano.
Nesta fase de trabalho com a Rita, que numa das sessões integrou a sua filha,
exploraram-se exercícios de leitura e de escrita, de visita a exposição e de tradução
de canções de batuko. Neste sentido foram abordadas as três vertentes que se
seguem:
1) o trabalho em espaços de cultura, com visitas a exposições, passeios pelos
jardins, leituras de placards e catálogos, diálogos sobre sentires;
2) o trabalho com tradução Português-Kriolu, de canções de batuko;
3) sessões coletivas de tertúlia, com leitura de poesia e de cartas.
Nestas vertentes procurou-se desenvolver um processo de alfabetização cultural, de
reciprocidades feito, em que a saída do bairro possibilitou novas experiências em
contextos novos e em que o trabalho com a poesia permitiu um encontro, um diálogo
e uma expressão de sentires e de perceções do mundo, tendo todo o processo sido
favorecedor de uma literacia, materacia e tecnoracia cultural de todos os envolvidos.
Ao nível dos contactos com terceiros, ressaltamos a visita do Comandante da GNR da
Costa de Caparica, que aceitou conhecer o grupo de AC; escutou os testemunhos das
senhoras face ao que consideram ser a função das forças policiais e ao medo
provocado por intervenções no local; e convidou-as a visitar a esquadra com ele em
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
data a marcar. Consideramos, também, importante, evidenciar a Matemática para a
Vida que nos foi trazida por Madalena Santos e permitiu a exploração de competências
previamente adquiridas e a partilha de conhecimentos matemáticos relevantes no
nosso quotidiano.
Neste período, surgiram algumas conversas sobre cinema, pensámos em juntar o
grupo de AC, para irmos todas assistir a um filme. Contudo nunca foi possível
concretizar esta iniciativa. As dificuldades sentidas face à disponibilidade ou transporte
de todas fizeram-nos adiar este momento e criar momentos de trabalho em torno de
filmes.
As preocupações maiores foram as temáticas e a língua do filme a selecionar, porém
deparámo-nos com uma outra, a extensão/duração do mesmo. As senhoras revelaram
interesse nalguns tópicos abordados, mas rapidamente desviavam a atenção para
outras conversas e situações. A tentativa de dividir o filme em partes, também não
resultou, pois a história perdeu o sentido devido à descontinuidade. A todas estas
dificuldades foi acrescida a dificuldade com o equipamento técnico, pois a televisão da
casa do Euclides (que ele gentilmente nos deixou usar), começava a não funcionar
adequadamente, devido à excessiva humidade da zona.
Nesta temporada, tivemos a oportunidade de trabalhar com o mapa do local, fruto da
tarefa Cartografia Múltipla, para o que contámos com a participação de Filipa
Ramalhete; bem como com as grelhas propostas por Nair Azevedo para exploração
das famílias silábicas e formação de novas palavras.
A sessão com Filipa Ramalhete foi dedicada ao olhar sobre o mapa, em dinâmicas que
permitissem às senhoras explorar a sua localização e os caminhos que percorrem no
seu dia-a-dia: o caminho para o mercado, o percurso para buscar água na bica, entre
outros. Foi uma sessão diferente e muito interessante. As dificuldades sentidas nesta
tarefa foram acompanhadas, no entanto, do desejo de a repetir, preferencialmente,
de forma mais prática, isto é, lendo o mapa e percorrendo os caminhos.
O mapa que nos acompanhou nalgumas sessões de Alfabetização Crítica resultou de
um esforço coletivo, no âmbito da tarefa Cartografia Múltipla. Este esforço conduziu
ao recenseamento da população do bairro, que foi efetuado segundo parâmetros
estipulados pelos membros da comunidade. Durante todo o processo, foi organizada
uma pré-comissão que convocou a população local para reuniões regularmente. Ao
longo de todo o processo, a comunidade solicitou ao Projeto Fronteiras Urbanas (neste
caso, essencialmente, representado pela investigadora principal, Mônica Mesquita)
que tomasse parte ativa na organização dos vários elementos e fases necessárias
para poderem eleger democraticamente uma comissão que os representasse, junto
das entidades responsáveis pela distribuição da água e do saneamento básico, entre
outras.
55
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
O dia das eleições contou com uma forte adesão comunitária e a comissão foi eleita
por maioria absoluta. As mesas de voto foram compostas por membros da
comunidade, representantes do Projeto Fronteiras Urbanas, bem como de parcerias
desenvolvidas durante o período de atuação do projeto. No período da tarde, decorreu
um jogo de futebol entre a comunidade de etnia cigana e a comunidade caboverdiana.
As
mulheres
que
começaram
por
assistir ao jogo,
organizaram-se
em duas equipas
e foram jogar. No
entanto,
os
homens,
principalmente os
de etnia cigana,
não as deixaram
Figure 38 - Comunidade Bairro - Dia da Eleição da Comissão de Moradores - 2013
jogar mais de
quinze minutos.
Este período, também, deu lugar à preparação do Círculo de Cultura de Kriolu a
desenvolver no Fórum Fronteiras Urbanas / Encontro APOCOSIS 2013, bem como à
preparação do programa curricular do curso de Kriolu que foi proposto desenvolver
em parceria com a Escola Básica 2/3 da Costa de Caparica. O grupo de trabalho era
composto por Elisângela Almeida, Isabel Freire e Sílvia Franco.
A investigadora principal do projeto, Mônica Mesquita, entrou em contacto com a
responsável pelo centro de formação que se encontra sediado na Escola Secundária do
Monte de Caparica, Adelaide Paredes – uma das criadoras
do D.A.R. à Costa Tr@nsFormArte, na tentativa de buscar
maiores possibilidades no próprio concelho onde a
Comunidade Bairro está inserida, visto que vários membros
desta comunidade desejavam integrar cursos de formação
profissional em diferentes níveis. Deste contacto surgiu o
Curso de Atendimento e Comunicação, que durante o mês
de junho se realizou na EB2/3 da Costa de Caparica. Este
curso foi pensado para responder às necessidades da
Comunidade
Bairro
das
Figure 40 - Comunidade
Terras da Costa e reuniu
Bairro - Ida para a Escola
um grupo heterogéneo,
Básica 2,3 da CC - 2013
tanto quanto à faixa etária
como aos níveis académicos. Acompanhámos algumas
sessões e pudemos testemunhar a alegria e
motivação, principalmente daqueles que nunca
haviam tido a oportunidade de frequentar a escola.
Figure 39 - Comunidade Bairro Escola Básica 2,3 CC - 2013
56
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
O mês de junho também foi marcado
pela
inauguração
da
exposição
Noutra Costa, relativa ao Workshop
desenvolvido pelo Departamento de
Arquitetura da UAL, no bairro das
Terras da Costa, durante o mês de
junho de 2012. A exposição esteve
patente no Posto de Turismo da
Costa de Caparica e, além de contar
com os projetos desenvolvidos pelos
Figure 41 - Exposição NoutraCosta - 2013
grupos de arquitetos e estudantes
que participaram no evento, também
contou com a passagem do vídeo realizado no contexto do workshop e com o
lançamento da revista Jornal de Arquitetos.
A participação de membros da comunidade proporcionou uma dinâmica dialógica
muito interessante. A comunidade esteve representada por membros de diferentes
gerações que, em diálogo com os arquitetos e outros presentes, questionaram o que a
exposição lhes permitia descobrir e ajudavam a compreender os projetos, fazendo um
enquadramento face às vivências e desejos da comunidade. Este foi, sem dúvida, um
momento de Alfabetização Crítica, onde o educador é, também, educando e o
educando, também, exerce a função de educador (Freire, 2008).
d. Quarto Momento – a continuidade
A tarefa Alfabetização Crítica despertou a necessidade de continuidade junto da
população local, pelo que foi desenhada uma quarta etapa de trabalho. Esta quarta
etapa ficou, então, centrada na presente tarefa, com foco transversal nas restantes
dimensões até, então, desenvolvidas. Contudo, neste período, a AC foi definida num
movimento de deslocação das comunidades ao exterior num continuum da vivência do
Fórum Fronteiras Urbanas/ Encontro APOCOSIS.
Neste sentido, o FU estruturou um programa de atividades para responder ao convite
que o Arquiteto Paulo Moreira nos fez no sentido de dinamizar, por uma semana, a
Sala da Nação – Embaixada de Terra Nenhuma, na Trienal de Arquitetura de Lisboa,
no final de setembro. O programa contou com a apresentação de peça de teatro
Humildes, Humilhados, Sem Água; com uma tarde dedicada a um Manifesto da Arte
Xávega em diálogos abertos; passando por um ato dedicado às Vozes do Não-Espaço
Urbano e outro dedicado às Cartas à Terra Nenhuma, espaço de diálogo e emoções
em torno de cartas enviadas que não obtiveram resposta… cartas pessoais e cartas a
instituições de poder local…; e terminando com uma apresentação do grupo local de
batuko, Nôs Herança – música tradicional cabo-verdiana essencial enquanto
movimento de educação comunitária no sentido de partilhar e perpetuar as raízes, a
cultura… a história do povo.
57
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Figure 45 - Comunidade Bairro - Trienal de
Arquitetura - Teatro do Bairro - 2013
Figure 42 - Comunidade Piscatória - Trienal de
Arquitetura - Manifesto da Arte Xávega - 2013
Figure 43 - Comunidade Bairro - Trienal de
Arquitetura - Batuko: Nôs Herança - 2013
Figure 44 - Comunidades Bairro e Piscatória
- Trienal de Arquitetura - Cartas à Terra
Nenhuma - 2013
Paralelamente ao convite de Paulo
Moreira surgiu o convite dirigido a
Mônica
Mesquita,
investigadora
principal do FU, de participar nas
sessões parlamentares, fomentadas
pelo coletivo Zuloark, com o intuito
de desenvolver uma Declaração dos
Direitos Urbanos; e dinamizar uma
sessão sob a temática Open data and
transparency.
Figure 46 - Fronteiras Urbanas - Trienal de Arquitetura 2013
58
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Este convite foi estendido ao Projeto Fronteiras Urbanas e sucederam-se variadas
dinâmicas tanto ao nível da participação das comunidades que constituem o FU, como
ao nível dos contactos e parcerias que despertaram diálogos interessantes
relativamente a questões legais, da permacultura e da gestão/ ocupação dos espaços
comuns ou considerados públicos.
Figure 47 - Fronteiras Urbanas - Trienal de Arquitetura - Parlament Urbano - 2013
No âmbito da sessão dinamizada pelo FU foi possível contar com a participação ativa
de membros das três comunidades, inclusive algumas senhoras que compõem o grupo
inicial das sessões de AC, que evidenciaram, junto das gerações mais novas, uma
grande abertura para o diálogo e reflexão sobre a sua situacionalidade.
Este período também foi fundamental para a preparação
do laboratório de uma escola de caráter voluntário, que
se implementou durante o mês de dezembro. Esta
preparação começou com o Fórum Fronteiras Urbanas/
Encontro
APOCOSIS
2013
que
proporcionou
a
Figure 49 - Escola do Bairro exteriorização do desejo, de vários participantes no
Fotografia - 2013
encontro, de estar mais perto do movimento de
Alfabetização Crítica desenvolvido no FU e disseminado no
encontro. Face ao desejo manifestado, foram realizadas reuniões desde o término do
encontro ao início das atividades, para definir os objetivos, dinâmica e estrutura do
presente laboratório.
59
Figure 48 - Escola do Bairro - Reciclagem, Música e Culinária - 2013
60
DE TODOS PARA TODOS
Domingo!
Figure 50 - Horário da Escola do Bairro - Laboratório - 2013
15!
8!
22!
BAILE!–!Dadá!
LOVE!Project!...!Francisco!Beck!
DANÇA!FOLK...!Marta!
AVES!MIGRATÓRIAS..!Carloto!
DANÇA!CIGANA...!Paula!Marquês!
DIDGERIDOO…!Rodrigo!Viterbo!
WORK!MOVIE9!
FESTA!DE!NATAL!
Durante!toda!a!tarde!A!
WORK!MOVIE2!!e!APES!
12H!–ÁRVORE!NATAL!
13:30H!–!POESIA!!
15H!–!KRIOLO!
16H!–!TEATRO!
14H!–!PASSEIO!
CAPUCHOS!
18H!–!ELETRICIDADE!
1!
16!
9!
2!
!
23!
13H!–!WORK!MOVIE3!
15H!–!ARTEHIER!!
16H!–!HISTÓRIA!
!
16H!–!HISTÓRIA!
16H!–!HISTÓRIA!!
2ªFeira!
!
3!
17!
10!
24!
13H!–!WORK!MOVIE4!
15H!–!PINTURA!
16H!–!FOTO!DIGITAL!
20H!–!CÍRCULOS!DE!
CULTURA!
16H!–!PINTURA!!
17H!–!FOTOGRAFIA!
DIGITAL!
16H!–!PINTURA!!
!
3ªFeira!
18!
11!
4!
!
25!
13H!–!WORK!MOVIE5!
15H!–!ARTEHIER!!
16H!–!ECOLOGIA!
20H!–!CÍRCULOS!DE!
CULTURA!
16H!–!
ALFABETIZAÇÃO!
PELA!ARTE!
16H!–!ECOLOGIA!
!
4ªFeira!
!
!
26!
13H!–!WORK!MOVIE6!
15H!–!ARTEHIER!!
16H!–!ALFABETIZAÇÃO!
CRÍTICA!
20H!–!CÍRCULOS!DE!
CULTURA!
19!
15H!–!ALFABETIZAÇÃO!
CRÍTICA!
16h!–!FOTOGRFIA!
DIGITAL!
12!
5!
16H!–!ALFABETIZAÇÃO!
CRÍTICA!
5ªFeira!
“Onde!o!educador!é!educando!e!o!educando!é!educador.”!Bunker!Roy!!
Inserida!numa!das!tarefas!do!Projeto!Fronteiras!Urbanas,!designada!por!Alfabetização!Crítica,!esta!escola!voluntária!assentaAse!num!
contexto!transdisciplinar!e!fundamentaAse!numa!visão!holística,!onde!o!papel!do!educador!e!do!educando!se!mergem.!
14H!–!ENFERMAGEM!
16H!–!KRIOLO!
18H!–!BATUKO!!
!
!
!Local:!Cozinha!da!Dona!Vitória!
ESCOLA DO BAIRRO
!
6!
20!
13!
27!
13H!–!WORK!MOVIE7!
13h!–!ELETRICIDADE!
15H!–!ARTEHIER!!
16H!–!FIL.POLÍTICA!!
20H!–!CÍRCULOS!DE!
CULTURA!
16H!–!FILOSOFIA!
POLÍTICA!
!
16H!–!FILOSOFIA!
POLÍTICA!
17H!–ÁRVORE!NATAL!
6ªFeira!
Sábado!
14!
7!
!
28!
Durante!toda!a!tarde!–!!
WORK!MOVIE8!
12h!–!COZINHA!CABOVERDIANA!
13H!–!MATEMÁTICA!
14H!–!AGRICULTURA!LOCAL!
15H!–!CONVERSAS!INFORMAIS!
21!
!Durante!toda!a!tarde!A!!WORK!
MOVIE!1!
12H!–!COZINHA!CABOVERDIANA!
14H!–!ENCONTRO!PAIS!E!FILHOS!
16H!–FUTEBOL/BATUKO/ARVORE!
NATAL!
14H!–!MATEMÁTICA!
15H!–!AGRICULTURA!LOCAL!
16H!A!DESPORTO!!
17H!–!TEATRO!
!João!Moreira!
DEZEMBRO 2013
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Este movimento permitiu a dinamização de atividades diversificadas (da Matemática
para a Vida à Culinária, passando pela Pintura, a Música, Filosofia Política, o Desporto
e Agricultura Local, entre outras). O movimento contou com a participação dos
investigadores/educadores do FU, bem como de colaboradores voluntários, entre os
quais estiveram membros da Comunidade Bairro, tanto enquanto educadores como
enquanto educandos, naquela que ficou conhecida como Escola do Bairro.
AGRICULTURA!LOCAL!–!VITÓRIA!!
FUTEBOL!–!SAM!!
ALFABETIZAÇÃO!CRITICA!–!SÍLVIA!!
HISTÓRIA!A!FRANCISCO!
ALFABETIZAÇÃO!PELA!ARTE!–!ANA!FILIPA!
KRIOLO!–!LIZZI!
ARTEHIER!–!TÓ!ZÉ!
MATEMÁTICA!–!MADALENA!
BATUKO!–!NÓS!HERANÇA!
PINTURA!–!JOÃO!
CONSTRUÇÃO!DA!ÁRVORE!DE!NATAL!–!ALINE!
POESIA!–!ANA!PAULA,!JOÃO!E!RITA!
CONVERSAS!–!Teatro!FU,!Batuko!NÓS!HERANÇA!e!!
CIRCULOS!DE!CULTURA!–!MÔNICA!E!DANIEL!
OUTRAS!FRONTEIRAS,!com!Aline!Conrado!e!!Sinid!Berg!
COZINHA!CABOVERDIANA!–!MANA!!
!
ECOLOGIA!–!LIA!
COBERTURA!JORNALÍSTICA!–!ELISIANE,!ELIANA,!MÔNICA!E!CARLA!
ELETRICIDADE!–!NUNO!!
PASSEIO!CAPUCHOS!–!CENTRO!ARQUEOLOGIA!DE!ALMADA!
ENCONTRO!PAIS!E!FILHOS!–!MIRIAM!E!ISABEL!!
EXPOSIÇÃO!DE!ARTE!LOCAL!–!DANIEL,!GONÇALO!E!DAIANE!
ENFERMAGEM!–!MARTA!!
WORKMOVIE!–!VITOR!
FILOSOFIA!POLÍTICA!–!MÔNICA!
FESTA!DE!NATAL!–!COMISSÃO!DO!BAIRRO!
FOTOGRAFIA!DIGITAL!–!EDUARDO!
ÁRVORE!NATA!–!ALINE!&!CIA!
!
Figure 51 - Tabela dos Educadores da Escola do Bairro - 2013
O desafio que a Mônica me colocou de fazer algumas atividades na escola do Bairro que
ajudassem as pessoas a compreender algumas ideias de matemática e a serem capazes de as
usar com mais poder no seu dia-a-dia foi aliciante mas não era fácil.
Antes do verão, começámos pela análise de folhetos de divulgação de supermercados com
preços e imagens de produtos. Foi um ponto de partida para falar da presença dos números no
nosso dia-a-dia e da estrutura do sistema numérico.
Recomeçámos em dezembro e pareceu-me que os calendários podiam ser uma boa entrada
para os números e registos em tabelas. Explorámos calendários de anos passados e o de 2014.
Depois todos construíram o seu próprio calendário de 2014. Nestas sessões, além das senhoras
61
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
mais interessadas (a Rita, D. Liana, a D. Vitória, a D. Lúcia) estiveram presentes algumas
crianças de várias idades. Os ritmos e interesses eram diferentes… mas alguns dos mais
pequenos revelaram-se bons apoios para as pessoas mais velhas e fizeram descobertas e
perguntas interessantes:
- os meses não são todos iguais, não começam todos no mesmo dia da semana;
- dizemos ‘daqui a 8 dias’ mas só passam 7 dias!
- porque é que as semanas nuns calendários começam no domingo e noutros na 2ª feira?
- porque é que um calendário começa em Setembro e acaba em Julho do outro ano? (era um
calendário escolar)...
E houve outras coisas interessantes também:
- a D. Vitória a construir com muita perseverança o calendário do mês em que fazia anos – “vai
devagar mas com o tempo vai”
- a D. Liana a perguntar o nome de números específicos – “como diz o 1 e o 8?” (o 18) ou a
identificar estratégias para distinguir e fixar o 6 e o 9 (“cabeça para baixo”, “cabeça para riba”),
sendo o seu parceiro de interação uma das crianças;
- a D. Lúcia a ser capaz de identificar os números das datas que queria assinalar e a explicitar
uma utilidade que antecipava para o seu calendário - “vai ser bom para marcar as consultas do
meu filho”.
Para mim, uma grande aprendizagem que espero continuar!” (Santos, M., 2014, Jornal FU, nº
06)
Figure 52 - Espaço da Escola do Bairro - 2013
62
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Desta quarta etapa de trabalho, consideramos, ainda, importante destacar
recuperação do projeto de edição do Jornal Fronteiras Urbanas (Jornal FU) que
editado, pela primeira vez, por ocasião do primeiro Encontro 3 em 1 – encontros
longo do projeto entre as três comunidades envolvidas que decorreu em Abril
2012.
a
foi
ao
de
A edição do Jornal FU foi retomada em outubro de 2013, com edição de Sílvia Franco
e Catarina Pereira, e permitiu juntar colaboradores das comunidades. Dentro da
Comunidade Bairro fortaleceu a consciência dos “eus” poetas, filósofos, escritores e
repórteres que é possível encontrar entre os vizinhos… Hoje, esta ferramenta de
diálogo é, verdadeiramente, nossa…
Figure 53 - Escola do Bairro - Poesia - 2013
Não podíamos deixar de ressaltar a Festa de Natal 2013. Todos os anos, desde 2009,
temos realizado, em conjunto com a Comunidade Bairro, uma festa de Natal. Nestes
dois anos de projeto, desenvolvemos duas festas – 2012 e 2013. Em ambas as festas
construímos, em conjunto com a comunidade local, uma árvore com material
reciclável. No primeiro ano, contámos com a importante presença dos Jovens do
D.A.R. à Costa no desenho e constituição da mesma. Já no ano de 2013, tivemos a
participação de uma educadora voluntária na idealização e apoio à construção da
nossa árvore de Natal. No ano de 2013, com um novo executivo local, fomos
visitados, na nossa festa, pelo Pai Natal – prenda que ganhámos da Junta de
Freguesia da Costa de Caparica.
63
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Figure 55 - Árvore do Natal no Bairro - 2012
Figure 54 - Árvore da Festa do Natal no Bairro - 2013
64
Figure 56 - Diferentes momentos da Festa de Natal no Bairro - 2013
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
4. Algumas considerações…
A dinâmica que acompanhou de forma permanente todas as atividades que
constituíram a presente tarefa centrava-se no diálogo e na participação e foi, de facto,
marcante o crescente envolvimento de todos os participantes diretos e dos membros
das três comunidades no desenvolvimento da tarefa. Ainda, assim, é necessário
considerar que na Comunidade Piscatória, a tarefa não alcançou a concretização no
mesmo patamar.
A Alfabetização Crítica, nesta comunidade, foi sendo revista face à dificuldade de a
implementar enquanto momento dedicado à alfabetização de adultos, ainda que de
cunho crítico. Os membros desta comunidade não manifestam esta necessidade,
contudo pelo diálogo contínuo foram-se desenhando propostas de novos moldes para
o desenvolvimento da tarefa. Propostas que continuam a ser trabalhadas e se
aproximam da realidade vivida na pesca e na lota, evidenciando questões linguísticas,
essencialmente, ao nível lexical e ao nível dos processos de contagem na venda do
pescado.
Ainda, em relação ao desenvolvimento da AC na Comunidade Bairro, consideramos
extremamente relevante considerar neste relatório alguns dos principais
constrangimentos vivenciados. Neste sentido, gostaria de enfatizar o quão difícil foi
gerir as questões relativas ao espaço.
Inicialmente, a ausência de espaço físico onde trabalhar foi um dos maiores
constrangimentos para a execução da tarefa, uma vez que, além da necessidade de
improvisar bancos e mesa de trabalho, tivemos de lidar com as intromissões de quem
por nós passava. Algumas afáveis outras até inóspitas deixavam perceber a
insatisfação de quem não compreendia o que se passava e, principalmente, o
desagrado de traficantes e consumidores, maioritariamente de fora do Bairro, que ali
se encontravam para realizar os seus negócios.
O forte constrangimento das senhoras fez-nos aceitar a proposta de Euclides
Fernandes, morador do Bairro das Terras da Costa que já integrava o Movimento
Fronteiras Urbanas e desempenhava a função de Mediador Comunitário, no âmbito do
FU. Deste modo, começámos a utilizar o alpendre da casa de Euclides para as nossas
sessões o que nos permitiu maior tranquilidade.
No entanto, a chegada do Inverno revelou novos constrangimentos. O alpendre não
proporcionava o abrigo necessário face à chuva e ao vento que se começava a fazer
sentir, apesar dos constantes remendos que o Euclides realizava a expensas próprias,
visto que o projeto não tinha como apoiá-lo.
Com o agravar da situação, o Euclides acabou por ceder parte da sua sala, para que
as sessões continuassem. Ainda assim a luta contra as intempéries seguia adiante… O
frio e a humidade obrigavam-nos a trabalhar de casacos vestidos, pois não é possível
ligar aquecimento em casas cuja ligação elétrica mal é suficiente para a iluminação.
Para termos um pouco mais de luz, era necessário deixar a porta aberta, mas se o
65
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
fazíamos, o frio tornava-se insuportável. Mais um constrangimento para senhoras
que, na sua maioria, têm problemas de visão e saúde frágil.
A agressividade da chuva e do vento provocava infiltrações no telhado da casa, pelo
que era essencial chegar mais cedo para limpar os estragos provocados pelas
inundações, numa comunidade cuja principal demanda é a água potável canalizada
ou, pelo menos, mais perto das suas casas. Diariamente, era necessário proceder à
limpeza da casa e revisão do material para nos certificarmos que nada tinha ficado
danificado.
Nesta fase, sentimos a necessidade de adquirir alguns produtos que nos permitissem
reunir as condições mínimas para o decorrer das sessões. Os gastos com estes
produtos juntavam-se às despesas que os investigadores/educadores já tinham com
todos os materiais didáticos e de escritório necessários reunidos pelos próprios ou por
doações, uma vez que a verba inicialmente destinada a esta rúbrica foi cortada. Os
deficientes recursos disponíveis limitaram a exploração de muitas temáticas, bem
como o desenvolvimento de competências. A motivação e o interesse manifestados
em determinadas ocasiões acabavam por ser refreados pela impossibilidade de os
explorar a outros níveis.
Uma das vertentes do trabalho que obteve mais ênfase foi a de criar momentos de
diálogo com terceiros e com diferentes culturas e formas de conhecimento e, neste
sentido, foi reconfortante ver como a procura pela sua própria situacionalidade,
convergia agora para a exploração da sua relação com outras entidades (embaixadas,
empregadores…), bem como com locais e tempos diversificados que vinham surgindo
nas suas vidas. O despertar de oportunidades para ser e estar, o reconhecer-se em
espaços distintos como a Lisboa de um passeio, a Lisboa cultural ou mesmo a Costa
de Caparica junto ao mar foram essenciais no processo de interpretação individual do
mundo ao redor, promovendo mudanças ao nível do poder de intervenção individual e
comunitário na sociedade cujos elementos integrantes são os indivíduos que,
frequentemente, são conduzidos à invisibilidade por uma minoria dominante.
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
HISTÓRIAS DE VIDA
Nuno Vieira
Francisco Silva
Introdução
Na tarefa Histórias de Vida do projeto Fronteiras Urbanas, procuramos entender
melhor as redes complexas e sistémicas que se desenvolvem nas e entre as
comunidades envolvidas. A vida em comunidade, neste contexto, é entendida como
um elo essencial entre o indivíduo e o coletivo. Esta atividade promoveu uma visão
abrangente e profunda sobre a vida das e nas comunidades embasando a ação do
projeto, situando-nos nas relações estabelecidas entre as comunidades e fornecendo
dados para tomadas de decisão criteriosas e informadas, dando consistência e força
às ações bottom-up, num sentido coletivo. Esta tarefa terá sido muito importante para
a coesão social entre as comunidades locais, mas também para a coesão social
intracomunitária, tendo sido, igualmente, essencial na organização interna das
comunidades e de todo o projeto.
Como Goodson (2008) salienta que o conhecimento que possuímos define quem
somos. Desta forma, as estórias que os membros de cada comunidade contam, a
forma como as contam e o relevo que lhes conferem pode ser muito revelador acerca
do conhecimento pessoal e comunitário e das relações que se estabelecem, de nível
pessoal, comunitário e social. A história de vida das comunidades começa com as
estórias que cada um conta, e posteriormente construída a partir da informação
fornecida. Uma questão muito debatida na investigação reside no distanciamento
entre quem conta a história e quem assume a pesquisa. Este distanciamento,
resultante do facto dos agentes da pesquisa não tenderem a se posicionarem,
relativamente à pesquisa, numa posição equitativa à do investigador, havendo a
tendência para a posição do investigador ser valorizada, dado que este assume para si
uma posição de recetor, num primeiro olhar, com pouco para retribuir. Este aparente
distanciamento não se verifica no Projeto Fronteiras Urbanas, dadas as suas
características, posições e posturas adotadas pelos investigadores, estando as três
comunidades (bairro, piscatória e académica) em igualdade circunstancial: todos
como educadores e todos como educandos, construindo-se o que Goodson apelida de
“genealogia do contexto” (2008, p. 85), ou seja, o investigador tem oportunidade de
retribuir a informação, fornecer dados, conhecimentos e competências que permitam
ao interlocutor perceber determinadas realidades e, detendo conhecimento e
competências, ver o seu capital (Bourdieu) acrescido.
Na transição das estórias para a história, o interlocutor “passa a ser mais do que um
mero contador de estórias, torna-se num investigador, num sentido mais geral”
(Goodson, 2008, p. 89). Não podemos deixar de considerar que o contador de
estórias está a revisitar o seu passado, a analisá-lo com o conhecimento atual, ou seja
está a apresentar-nos uma interpretação, a sua interpretação no momento presente,
de uma realidade passada. Ou seja, a sua narrativa é construída no imediato,
67
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
condicionada pelo ambiente e pelo que já viveu no entretanto, condicionado por todos
os fatores que definem o contexto em que é narrado. Como Orson Wells
eloquentemente colocava, não há nada mais imprevisível do que o passado.
A tarefa do Projeto Fronteiras Urbanas previu a construção de portefólios de Histórias
de Vida de membros das duas comunidades, nomeadamente Bairro e Piscatória,
seguindo uma abordagem holística do conceito de Histórias de Vida. Com o desenrolar
do projeto e com a afirmação de três comunidades num exercício de equivalência,
procurou dar-se resposta a desejos vontades e necessidades de todas elas, porque os
que num momento adotam o papel de formadores, encontram-se, no momento
seguinte como formandos daqueles com que, previamente, haviam partilhado os seus
conhecimentos. Assim, as três comunidades bairro, piscatória e académica estão num
mesmo nível de realizações, de evolução de criatividade e de desenvolvimento pessoal
e social. Esta consciencialização de que estas comunidades são um harmonioso
encontro de pessoas que se constituem os pilares de um todo, uno, o projeto em si,
tornou-se evidente que a construção destes portefólios não deveria focar uma parte
de cada um destes pilares, um indivíduo, mas os pilares em si. Assim, foram sendo
construídas as histórias de vida das comunidades, a partir das estórias relatadas pelos
membros das respetivas comunidades, em detrimento do relato de um único elemento
que daria uma visão mais limitativa do todo.
O conceito de histórias de vida enquanto instrumento de análise respetivas
comunidades em estudo foi sendo ajustado e articulado com as demais tarefas, dando
coesão ao Projeto Fronteiras Urbanas. A partir das estórias individuais de atores das
comunidades, valorizando o discurso dos que há mais tempo vivem nas respetivas
comunidades, dos líderes comunitários referenciados, e, ainda, dos que narraram um
percurso de vida considerado rico e relevante, construiu-se uma narrativa abrangente,
que de alguma forma conta a história da vida das/nas comunidades, caracterizandoas e identificando os aspetos fundadores e evolutivos de cada uma e ressalvando os
principais problemas com que se debatem na atualidade. Nesse sentido a recolha de
dados realizou-se através de entrevistas abertas, gravadas em vídeo e/ou áudio.
Na fase intercalar em que se enquadra o presente relatório apresentam-se alguns dos
dados contribuem para uma primeira caracterização dos aspetos acima enunciados.
História de Vida da Comunidade Piscatória da Costa de Caparica
Durante o decorrer do Projeto Fronteiras Urbanas foi possível participar em vários
momentos da vida social e profissional de alguns pescadores da Costa de Caparica,
sendo difícil ou mesmo incorreto considerar que representem a comunidade
piscatória, fornecendo, contudo, dados importantes que permitem refletir sobre alguns
aspetos que contribuam para a sua caraterização.
A comunidade piscatória é constituída por um conjunto de indivíduos que têm em
comum o fato de praticarem a pesca artesanal a partir de diversos locais da margem
68
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
esquerda do estuário do Tejo que vão desde a Trafaria até à Fonte da Telha e que
abrangem, também, a Cova do Vapor da Costa de Caparica e as praias a Sul desta
localidade. A pesca local realiza-se no mar e no estuário e foz do rio Tejo em função
das épocas do ano, das espécies capturadas e das artes de pesca utilizadas.
A recolha de dados relativos à comunidade piscatória da Costa de Caparica, no âmbito
do Projeto Fronteiras Urbanas, foi cruzada com a observação crítica realizada no
decorrer de todo o projeto, bem como a convivialidade esporádica, e continuada, do
investigador Francisco Silva com alguns pescadores da Costa de Caparica, durante
vários anos.
Origens
A comunidade piscatória da Costa de Caparica tem origem em populações migrantes
de diversos pontos do país com destaque para a Beira Litoral e Algarve historicamente
documentadas, foi contudo possível identificar entre a população, indivíduos oriundos
do Alentejo que se fixaram na Costa de Caparica e desenvolveram a sua atividade em
torno da pesca. Acerca da origem dos pescadores, importa ainda referir que a
necessidade de força de trabalho principalmente na arte xávega, contribuiu para
integrar na comunidade muitos indivíduos de origens desconhecidas, marginais que
procuravam abrigo e trabalho nas companhas da arte xávega, que eram
genericamente apelidados de barraqueiros, por habitarem nas barracas destinadas a
guardar as redes e outros apetrechos de pesca. Esta realidade mantém-se na
atualidade sendo que continuam a habitar nos alvéolos dos pescadores da costa vários
pescadores de origem africana que aparentemente se encontram em situação de
ilegalidade. Também membros da Comunidade Bairro, nos períodos mais difíceis,
recorreram à pesca e mais especificamente a puxar as redes para a praia para
procurar meios de subsistência, como são disso exemplo os ciganos. Contudo,
consideramos que, no presente, a sua maioria dos membros da comunidade piscatória
é natural da Costa de Caparica, mantendo-se a pesca uma atividade de âmbito
familiar e um recurso perante a falta de outras oportunidades de ocupação
profissional.
Uma das questões que está ainda por investigar no âmbito das origens da
comunidade está relacionada com o papel dos trabalhadores ocasionais ou
barraqueiros, no sentido de avaliar se alguns destes indivíduos se fixaram na Costa de
Caparica e terão deixado descendência na comunidade local.
Habitação
Os primeiros locais de fixação de população na Costa de Caparica dividiam-se em dois
núcleos separados pelo traçado da atual Rua dos Pescadores - as famílias de
pescadores oriundos do Algarve a norte, e as de Ílhavo a sul. As habitações primitivas
da Costa eram construídas em tábuas e estorno. O primeiro bairro em alvenaria
destinado a alojar as famílias de pescadores cujas habitações haviam sido destruídas
por um incêndio, foi construído em 1884 a norte da Rua dos Pescadores, por iniciativa
de Jaime Artur da Costa Pinto. Contudo, a partir do primeiro quartel do século XX,
69
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
com o desenvolvimento da Costa de Caparica enquanto estância balnear, e
subsequente urbanização da zona norte da povoação, as famílias dos pescadores que
se haviam instalado a norte foram de alguma forma empurradas para sul onde surge
o bairro designado por Rua 15. As habitações precárias em barracas de madeira eram
utilizadas durante todo o ano ou apenas durante o verão quando as famílias de
pescadores alugavam as casas aos banhistas.
Figure 57 - Comunidade Piscatória da Costa de Caparica - Postal Ilustrado - sem fonte
Uma das zonas referidas por Lídio Galinho, um líder comunitário do Projeto Fronteiras
Urbanas, como local de referência para a comunidade piscatória da Costa de Caparica
situa-se onde se encontra o Hotel Praia do Sol “O alto” onde se concentrava um
núcleo habitacional e onde se via o mar, quando os alcatrazes caiam mergulhando no
mar era sinal de sardinha.
A partir da década de sessenta do século XX assiste-se à construção do Bairro dos
Pescadores, integrado nas medidas de fomento da pesca tradicional promovidas pelo
Estado Novo através do almirante Henrique Tenreiro, que se desenvolve em três
fases, pelo que, no presente, a maioria dos pescadores da Costa de Caparica dispõe
de habitação no bairro.
Acerca da questão da habitação dos pescadores foi possível perceber que a
proximidade da habitação ao mar é uma condição determinante para a viabilidade da
atividade da pesca, pois a decisão acerca da saída para a faina depende da
70
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
observação prévia do estado do mar por parte dos mestres, chamando, então, os
camaradas.
Não se realizou nenhum levantamento da Comunidade Piscatória da Costa no âmbito
do Projeto Fronteiras Urbanas, havendo contudo indícios de que algumas pessoas que
trabalham na pesca habitem em outras localidades do concelho, nomeadamente na
Charneca e no Monte de Caparica, sem esquecer a Trafaria, povoação piscatória cuja
ocupação antecede a Costa de Caparica e onde residem muitos pescadores que,
eventualmente, também trabalham a partir da Costa de Caparica.
As novas tecnologias de comunicação e a facilitação das deslocações com recurso a
meios de transporte próprios terá introduzido algumas alterações ao nível dos locais
de habitação dos pescadores, permitindo-lhes dispersar-se por diferentes áreas.
Contudo, o carácter familiar da atividade concorre para que, na sua maioria, a
comunidade piscatória habite na Costa de Caparica.
Pesca
A pesca tradicional praticada na Costa de Caparica é constituída por diferentes artes,
das quais podemos à partida identificar genericamente: anzóis, covos, redes de
emalhar e artes de arrasto para terra.
A pesca com anzol tradicionalmente praticada na Costa designada Corricão consistia
num aparelho composto por uma linha com vários estralhos empatados com anzóis
(para cima de 100) na ponta da linha é colocado um peso que tirando partido da maré
é arrastado para o mar deixando a linha esticada com os anzóis iscados, ao fim de
algum tempo a linha é puxada para terra e os peixes recolhidos. Esta arte era
utilizada principalmente quando o estado do mar não permitia a saída dos barcos,
pelo que era um recurso para a sobrevivência dos pescadores quando não podiam ir
ao mar. Atualmente esta arte de pesca é proibida por lei.
Figure 58 - Pescador da Costa de Caparica com Corricão - sem
fonte
Os covos são armadilhas de
diferentes
formas
que
contêm dentro um isco
destinado a atrair o peixe
para o seu interior de onde
fica impossibilitado de sair,
estas
armadilhas
são
geralmente presas a uma
corda e afundadas com
recurso a pesos, que as
mantêm junto ao fundo e
sendo
verificadas
em
períodos de algumas horas.
As
redes
de
emalhar
destinam-se a capturar o peixe que nada na coluna de água e que fica preso nas
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
malhas da rede cujo fio é muito fino, estas artes são constituídas por vários panos de
rede e que são suportados por boias que mantêm um dos lados da rede a flutuar,
enquanto o outro tem chumbos que afundam a rede e a mantêm na vertical. As
extremidades da rede são presas ao fundo com ferros e assinaladas com boias
embandeiradas. Estas redes permanecem no mar por períodos de tempo
condicionados pela maré e por legislação.
As artes de arrasto para terra apresentam diversas variantes, de entre as quais
atualmente apenas é permitida a Arte Xávega. Outras artes de arrasto como o
Chinchorro ou a Rede-pé foram proibidas devido à malhagem ser muito pequena e ser
uma atividade muito predatória. Destaca-se a Rede-pé que era usada por dois
homens que entravam a pé no mar até onde conseguiam, lançando a rede na
rebentação e que depois a puxavam para a praia. “A rede pé tinha de se largar às
costas sem barco, tanto que tinha o nome de rede pé que era para largar a pé. Penei
pouco a largar a rede pé, eu (entravam na água até onde?), até ao pescoço (…) às
vezes partia o mar vínhamos parar a gente e a rede à praia. (…) A rede pé era para
apanhar robalos e tainhas, não apanhava carapau nem sardinha.” [António Silva
Cardoso (Alemão)]
Das artes de pesca acima referidas a Xávega é aquela que de alguma forma é
entendida comunidade local como a mais importante, e em função da qual se terão
estabelecido as primeiras Companhas (denomina-se Companha ao conjunto de
elementos que pescam com o mesmo barco) na Costa de Caparica pelo que constituí
um elemento identitário para os pescadores da Costa. Por outro lado, contrariamente
às artes de pesca já referidas, esta é a que envolve maior número de trabalhadores,
na ordem das dezenas, ao passo que as restantes não ultrapassam a tripulação das
embarcações, que oscilam entre um e quatro pescadores. Podemos assim considerar
que a Arte Xávega na Costa de Caparica apresenta, no contexto da pesca artesanal,
maior quantidade de meios empregues e com mais expressão em termos sociais,
ainda com a capacidade de integrar indivíduos que não são pescadores profissionais.
Figure 59 - Comunidade Piscatória - Companha São José - 2013
72
A Xávega consiste num
sistema
de
pesca
que
atualmente é realizada na
Costa de Caparica de Março
a Outubro, e a sua prática
varia em função de um
conjunto de fatores como o
estado do mar e a hora do
dia. Contudo, durante o
período balnear a interdição
das manobras de tratores e
embarcações
nas
praias
concessionadas impossibilita
que a pesca se faça entre
8h00 e as 18h30, limitando,
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
assim, as capturas em quantidade e qualidade, sendo que alguns dos espécimes
comercialmente mais rentáveis, como a sardinha e a lula, só se pescam durante o dia,
e os lances são realizados sobretudo de noite.
Até à década de oitenta do século XX esta pesca era praticada recorrendo apenas à
força humana, nomeadamente no puxar da rede. Com a introdução dos tratores, as
condições de trabalho tornaram-se menos pesadas e diminuiu o número de
pescadores por companha. Já anteriormente a utilização de motores fora de borda
contribuiu para a diminuição de tripulantes por embarcação, também em resultado da
adoção de embarcações do tipo Chata com motor, em detrimento das tradicionais
Meia-lua.
No âmbito do Projeto Fronteiras Urbanas foram realizadas diversas entrevistas a
alguns pescadores da Costa de Caparica que praticam a pesca artesanal local. Todos
os entrevistados nasceram na Costa de Caparica e eram oriundos de famílias de
pescadores, tendo-se iniciaram-se na pesca em criança, executando algumas tarefas
que lhes eram destinadas, como tirar a água que se acumulava no fundo do barco, ou
recolher as cordas da rede há medida que esta era puxada para terra. Alguns
encontraram outros modos de vida trabalhando em outras atividades, em outros tipos
de pesca, nomeadamente pesca do alto mar, ou ainda em atividades marítimas.
Contudo, em virtude da perda dos respetivos postos de trabalho, ou por aposentação
alguns voltaram a dedicar-se à pesca, integrando companhas de pesca existentes ou
constituindo as suas próprias companhas, tendo para tal de dispor de embarcação e
os respetivos tratores.
Contudo a atividade da pesca é sentida pela maioria dos pescadores como algo de que
não podem se nem querem separar, amam o mar e a pesca, e mesmo quando deixam
de ter condições físicas para embarcar e realizar tarefas mais pesadas, aplicam os
seus conhecimentos e experiencia na manutenção e construção das redes das
respetivas companhas. “É uma profissão muito bonita, muito mal remunerada mas
muito bonita Temos uma sensação de liberdade, o mar é lindo, tudo isto é muito
bonito” (Mário Pedro).
Aqueles que dominam a arte da construção de uma rede de arte xávega, a qual é
constituída por várias peças e parte das quais são confecionadas artesanalmente,
demoram aproximadamente um ano a ser concluída, e apenas alguns antigos
pescadores as sabem fazer.
A pesca com a arte xávega por ser aquela que envolve maior número de pescadores,
recursos técnicos e materiais, embarcação, redes e tratores, levanta problemas de
gestão de recursos, nomeadamente na medida em que cada pescador recebe uma
parte do produto da venda do peixe, consequentemente os rendimentos podem ser
baixos face ao esforço despendido. Nesse sentido, a responsabilidade a que está
sujeito o mestre da companha, contribuiu para que alguns pescadores que foram
proprietários de artes tenham desistido de manter uma companha, acabando por se
integrar noutra, ou pescando sozinhos com outras artes empregando eventualmente
um ou dois camaradas. Por outro lado, alguns pescadores mais novos (geralmente
73
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
filhos ou netos de pescadores e mestres de companhas) criaram as suas próprias
companhas (por exemplo: Lídio Galinho, filho de Miguel, neto de António Silva
Cardoso (Alemão) e todos eles foram mestres de companhas).
Entre os elementos que constituem cada companha encontram-se pescadores
profissionais (detentores de Cédula Marítima). Entre os pescadores com mais idade
permanecem as memórias da infância e da miséria vivida ou assistida entre a
comunidade piscatória, “Aqui na Costa, aqui há setenta anos atrás, isto era uma
miséria. Não havia nada para comer!” [António Silva Cardoso (Alemão)]
Por outro lado quando questionados acerca da comparação entre o passado e o
presente da atividade piscatória na Costa de Caparica os vários entrevistados referem
que as inovações técnicas operadas nas últimas décadas, nomeadamente a já referida
utilização de motores fora de borda, nas embarcações que se tornaram mais leves e
seguras face aos antigos meia-lua, e a partir da década de 80 do século XX são
introduzidos os tratores com os aladores mecânicos para puxar a rede. Por outro lado
as próprias redes também aumentaram de tamanho e de peso, a substituição do fio
de algodão por fio de nylon implica a utilização de mais chumbo para afundar a rede.
“As artes eram mais leves tinham menos malhagem que era para puxar a cinto, agora
estas são para puxar a
trator”.
[António
Silva
Cardoso
(Alemão)]
Estas
inovações permitem diminuir
o esforço físico dos remadores
no mar, bem como do puxar a
rede para a praia. “Nós hoje
pescamos
com
métodos
totalmente diferentes do que
pescávamos há vinte ou trinta
anos atrás. Nós estávamos
habituados a um esforço de
trabalho enorme, as redes era
Figure 60 - Comunidade Piscatória - Companha São José - 2013
tudo puxado à mão, não
haviam motores era tudo a
remos.” [Lídio Galinho]
Atualmente, os principais problemas identificados no seio da comunidade piscatória,
relativamente ao exercício da sua atividade, prendem-se com a legislação nacional e
europeia nomeadamente:
A proibição de pescar na zona marítima da frente urbana da Costa de Caparica, na
qual, por experiencia, os pescadores sabem ser um dos locais onde se encontra mais
peixe em virtude do tipo de fundos marítimos e temperatura das águas associadas à
proximidade do estuário. “… Aquela zona da frente urbana é uma zona riquíssima de
pesca. E portanto ao sermos proibidos de pescar naquela zona, nós pescadores fomos
altamente prejudicados…” [Lídio Galinho]
74
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
“Só se pode pescar no verão, por causa do mar, dificuldade imposta pela natureza.
Mas entretanto encontramos também uma dificuldade imposta pelo homem, pelo
Governo, pelas autoridades que nos proíbem de pescar em certas zonas. Nunca
compreendemos o porquê disso.” [Mário Pedro]
Durante a época balnear o acesso das embarcações ao mar e a manobra dos tratores
só é permitida depois das 18:30 nas praias concessionadas, sendo que nas áreas não
concessionadas não existem corredores de acesso à praia para os tratores e
respetivas companhas. Esta situação apresenta vários condicionalismos à
rentabilidade da pesca local. Por outro lado o encerramento da Docapesca em
Pedrouços e a necessidade de os intermediários, para comercializarem o pescado,
terem de o fazer chegar ao MARL até às 2h00, limita o período durante o qual é viável
pescar: “ao fecharem a Docapesca de Lisboa foi a grande machadada que deram nos
pescadores locais e também nacionais, ficámos sem porto de abrigo, tínhamos uma
lota a funcionar 24 horas sobre 24 horas, em que nós podíamos pescar durante a
noite toda, durante o dia todo e sabíamos que o nosso peixe ia ser escoado.” [Lídio
Galinho]. Por outro lado, o preço do pescado na lota é manipulado pelos
intermediários no sentido de comprar o peixe na lota a baixo preço, para potenciarem
os seus lucros. “Hoje há uma disparidade muito grande entre o pescador e o
consumidor. Nós vendemos muito barato, quem consome, compra muito caro” [Lídio
Galinho].
Ao nível da legislação internacional, uma vez esgotadas as quotas de determinadas
espécies de peixe, pelo maior volume de capturas da pesca industrial, a pesca
artesanal e local fica impossibilitada de capturar e comercializar essas espécies,
apesar de desenvolver um esforço de pesca reduzido, relativamente às quotas
definidas para os países da União Europeia.
Histórias na Vida da Comunidade de Bairro
O Bairro localiza-se numa faixa de terreno ao longo da base da Arriba Fóssil da Costa
de Caparica. Esta área de terreno é constituída por solos arenosos dunares que se
estendiam até ao mar, onde
até ao início do século XX
dominavam
charcos
e
juncais,
evitada
pelas
populações mais próximas
por ser uma zona insalubre,
infestada
de
mosquitos
responsáveis,
inclusivamente,
por
frequentes surtos de febres
palúdicas nestas populações.
Estes terrenos insalubres
foram conquistados pelas
Figure 61 - Comunidade Bairro - 2013
75
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
populações através de drenagens iniciadas no final do século XIX. Na zona entre a
Trafaria e a atual via rápida (IC20) foram abertas valas e foram plantados pinheiros,
que permitiram o arroteamento das terras, preparando-as para atividade agrícola.
Contudo para sul do atual traçado da IC20, o arroteamento das terras, com a fixação
das dunas conseguida com o plantio de acácias iniciou-se apenas nas primeiras
décadas do Século XX. Por essa razão, a partir dos anos 30 do século passado
assistiu-se a um desenvolvimento urbanístico na Costa da Caparica entre a base da
arriba e o mar, a norte da IC20, mantendo-se a zona sul destinada a fins agrícolas até
à atualidade. Segundo o testemunho do Sr. Lídio Galinho, líder comunitário da
comunidade piscatória, estes terrenos, extremamente arenosos foram enriquecidos
durante o decorrer do séc. XX com matéria orgânica trazida do mar, sobretudo
sobrantes da pesca, algas e caranguejo.
Até à década de 70 do século XX no espaço atualmente ocupado pelo bairro das
Terras do Lello Martins as edificações existentes eram limitadas a um conjunto
habitacional pertencente ao tio do atual líder comunitário Durval Carvalho, onde
presentemente habita. Estava, também construído um barracão de apoio ao aluguer
de cavalos. Terão sido estes, também, os primeiros espaços a ser ocupados pela vaga
de emigrantes que aqui se fixaram após o 25 de Abril de 1974. Por esta altura,
também a comunidade cigana que aqui se instalou, construindo os seus espaços
habitacionais entre a rua do Juncal e a zona agrícola, onde ainda permanecem. Nesse
sentido é possível considerar que o Bairro cresceu a partir da nucleação destes dois
pontos, a casa do tio do Durval e a Rua do Juncal.
Figure 62 - Comunidade Bairro - Reunião Comunitária 7 - 2013
76
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
O Bairro é constituído, sobretudo, por população imigrante proveniente das excolónias de Língua Oficial Portuguesa, por migrantes portugueses, bem como por
ciganos. Nesta comunidade, vivem pessoas com baixa taxa de escolaridade, havendo
mesmo um número significativo de analfabetos. Porém, ressalta-se a presença de
poetas, músicos, e, também, alguns membros com escolaridade avançada, inclusive
universitária. Neste bairro é possível encontrar um bar explorado por um residente,
Durval Carvalho, cuja vida no bairro é aqui narrada e cujo viver e sentir tem traços
comuns às demais pessoas que lá vivem.
O Durval chegou a Portugal, vindo da Cidade da Praia, Cabo-Verde, com 27 anos. Na
sua terra natal, trabalhava no Porto Marítimo, mas tinha uma vida “boémia”6, pelo
que tornou a Portugal a mando de seu pai. Quando entrou em Portugal, ainda no
aeroporto, deparou-se com uma grande fila de pessoas à porta do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras. Como “estava uma fila com muita gente, não parei,
encontrei uma porta aberta e saí… ninguém me parou”, passando, desde então, à
condição de ilegal. Originário de uma zona privilegiada da cidade, chegou ao Bairro e
deparou-se “com aquela situação”. Casas precárias, clandestinas, com água desviada
de uma boca-de-incêndio (que fora interrompida em 2001) e eletricidade dos postes
circundantes, muita fome famílias inteiras a partilhar o mesmo espaço. Neste bairro já
vivia o seu Tio (paterno), uma zona que “não existe no mapa”, para efeitos legais
“não há ninguém lá”. Foi viver para casa este tio, onde já “muita gente lá vivia, na
casa dele”, a única casa então construída no bairro. Partilhavam o espaço “muitos
parentes e amigos, mendigos...”. Mesmo com as condições precárias em viviam eram,
e ainda são, felizes lá, tinham e têm, “tudo o que necessitavam para viver”.
Já instalado no Bairro, começou a trabalhar nas obras, e logo no primeiro emprego
trabalhou durante um mês, mas chegado o dia do pagamento não recebeu o que lhe
era devido. Aqui, contactou logo com a “desconfiança” de todos os que já lhe haviam
emprestado dinheiro, pois não terão acreditado que não tinha recebido o salário. Estes
sentimentos aqui descritos, de precariedade, desconfiança, de felicidade, de terem
tudo o que necessitam para viver, não é exclusivo do Durval, respira-se um pouco por
toda a comunidade do bairro.
Após outras experiências de trabalho sem sucesso solicitou ao tio que o deixasse
trabalhar com ele, na sua venda de vinho, cervejas e sumos. A sua entrada neste
negócio, que ainda é a única «loja» do Bairro, ajudou a desenvolvê-lo, alargando a
oferta de produtos, mantendo-se a característica de vender sobretudo de venda de
bebidas.
À data de corte da água, o Durval acompanhado pelo seu tio, intentaram ações junto
das entidades competentes para resolverem os problemas mais prementes do bairro,
a falta de saneamento e de água. Escreveu cartas à Câmara Municipal de Almada,
6
77
O texto assinalado entre aspas diz respeito a citações retiradas das diversas entrevistas realizadas ao Durval Carvalho.
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
pediu ajuda ao Padre da paróquia, que “parecia uma pessoa disposta a ajudar as
ovelhas”, para os ajudar a escrever cartas a várias entidades. Nunca conseguiram que
lhes fosse dada uma resposta, eram simplesmente ignorados e entregues à sua
invisibilidade. Deslocaram-se à Junta de Freguesia e à Câmara Municipal, mas a única
resposta que sempre obtiveram foi a de que iriam ser realojados em breve, pelo que
não seriam possível construir sistemas de saneamento e abastecimento de água ao
Bairro.
Após o corte da água proveniente da boca-de-incêndio, a população “apanhava água
do cemitério” com uma autorização escrita do Presidente da Junta de Freguesia (carta
essa que se extraviou), que gerou uma nova via de negócio, os aguadeiros, uma vez
que a recolha de água é “humilhante”, pelo que os residentes no bairro preferem
pagar a pessoas que desempenhem essa tarefa, evitando a exposição pública, com
“turistas a passarem nos autocarros, a tirarem fotografias e assim…”.
A única alternativa seria continuar a recolher água no cemitério, “ali, todos os mortos
tinha direito a água” mas aos vivos foi um direito retirado em apenas 3 meses. Foi
trabalhar para o cemitério um “Sr. a que eu chamo o dono do cemitério”, que, ao ver
um “preto a falar com uma branca” achou que a estava a assaltar. Este Sr. chamou a
polícia, que o arrancou o Durval do local, despejou-lhe as “boias de água e deitaram
fora o carrinho de mão”. Perante o incidente, e contando com a autorização escrita, o
Durval foi à esquadra para apresentar queixa. Mas, a situação agravou-se, porque
menosprezaram o seu depoimento face à versão contada pelo “dono do cemitério”. E
desde então o Durval foi perseguido pela polícia. Este descrédito do Durval é o
descredito da generalidade das pessoas que vivem no Bairro, os miúdos que vão à
escola são maltratados, são “ostracizados porque não há banho… e doi-me”. A
discriminação surge nos momentos e nas circunstâncias mais inesperadas: “no
primeiro dia do infantário do meu filho a educadora mandou todos irem lavar as mãos,
os meninos foram todos a correr para a torneira, o meu filho não… foi à procura de
um alguidar para ver se lho enchiam de água para lavar as suas mãos. Não sabia que
na torneira havia água”. No entanto, quem lá vive e por já la passou tem a noção de
que é um bairro como os outros, há elementos que são maus exemplos, mas são
muitos mais os que representam exemplos de vida. “Os meus filhos são
capariquenhos, acho eu”, e quem vive no bairro não pretende retirar nada a ninguém,
nem pretende interferir com os conterrâneos, apenas coabitar pacificamente. “Não
queremos sair dali nunca, não sabem quanto é bom viver ali”.
Apesar de algumas famílias já terem sido realojadas, a Comunidade Bairro está a
crescer. Quando duas pessoas se juntam o “natural é ter filhos… precisamos de água.
Depois de uma boa noite de sexo, gostamos, adoramos, tomar banho. Os portugueses
quando foram para a nossa terra nos ensinaram a tomar banho, nos ensinaram
quanto é bom estar limpo”. A realidade dos habitantes do bairro é despojada de luxos,
frequentemente entendidos como essenciais para os residentes em bairros legais, e
são críticos relativamente às prioridades definidas por governantes: na escola, “há
[computadores] Magalhães por todo o lado, mas não há luz”. Quando se vai pedir
água, a resposta é que o bairro não existe, mas os serviços de TV por cabo estão
78
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
disponíveis, para quem tem luz desviada de um poste elétrico. Diz-se que “água não
se nega a ninguém”, mas eu, no meu bar, não posso dar água a ninguém”. A maioria
das casas tem casa de banho, com louças e torneiras, apenas não têm água e o
esgoto é conseguido através de fossas.
Estas fossas diferem umas das outras, consoante a origem cultural dos seus
construtores, dado que os habitantes da comunidade mantêm as raízes culturais dos
seus antepassados, tornando-se um híbrido entre a cultura de origem e a onde
atualmente se inserem, não negando nenhuma. Neste sentido, Rita Tavares, mãe de
três filhos, faz-nos um relato dos rituais de parir, que seguiu aquando do nascimento
dos seus filhos ainda em Cabo-Verde, mas deixando igualmente claro que em Portugal
procederia de forma similar. De pé, acocorada ou apoiada um joelho e apoiada pelos
braços à ombreira de uma porta, como no caso da sua última filha, ou ao tronco de
uma árvore, como no seu primeiro filho, faz força até que o “ovo” caia no chão.
Depois do nascimento a recente mãe não poderá falar até que “saia o companheiro”
(a placenta). Ritual este que foi ensinado pela sua “mãe disse que a mãe disse que é
assim: não pode falar”. Caso a placenta não
nasça, as mulheres que assistem ao parto
induzem o vómito à mãe, colocando-lhe um
objeto na boca até à garganta, que, com as
contrações o “companheiro sai”. Depois de
nascido, a mulher que apoia o parto abre o saco
e espera que a criança chore, não lhe batendo e
enrolando-a em panos. O cordão umbilical é
cortado, medindo-se o seu comprimento do
umbigo até ao joelho da criança, e esfregada
terra no umbigo da criança. Nos cuidados do
recém-nascido, depois de lavado é esfregado
com “ceite” (uma espécie de azeite artezanal
preparado especificamente para o efeito) no
umbigo, e na “ratinha da menina”, para
Figure 63 - Histórias de Vida - Rita - 2012
fecharem.
A Rita, na sua memória oral, ainda nos relata
que “quando sai a cabeça corre tudo bem [mas] quando sai o pé primeiro, é sorte“,
salientando que nascerem vivos ou mortos, é “sorte”.
A vida no bairro é comunitária onde cada um tem um papel a desempenhar, e a
entreajuda é patente a todos os níveis, por exemplo, todos ajudam a tomar conta das
crianças que vivem no bairro. Neste período de vigência do Fronteiras Urbanas,
surgiu, inclusivamente uma nova palavra, o associamento, que traduz a capacidade
de associação dos residentes no bairro, para resolverem os problemas mais
prementes de cada um.
79
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Figure 64 - Comunidade Bairro - História de Vida - 2012
O sentimento reinante no bairro é de exclusão: Lizi, uma outra habitante do bairro,
relata episódios de que a relação estabelecida com pessoas não residentes no bairro
muda no instante em que refere que é residente no Bairro. Este é apelidado, ainda na
sua voz, de bairro dos porcos, onde as pessoas resistem em entrar, como é o caso de
taxistas que se recusam a levar pessoas do bairro às suas residências, como o fazem
com qualquer outro capariquenho. Realidade que contrasta com o sentimento de
identidade que quem habita o bairro manifesta. Relatam o calor humano que lá se
respira, o orgulho que têm em ser habitantes do Bairro: Faço questão de dizer que
sou daqui [doa Comunidade Bairro], é como assumir que sou cabo-verdiana, que sou
mulher. Sou o que sou” (Elisângela Almeida). Esta nossa interlocutora não deixou de
referir a falta de água canalizada, que está sempre presente no discurso dos
habitantes. Para eles não terem água é um “mistério (…) quem não dá água são os
grandes” (Vitória). A questão da água canalizada é constantemente referenciada como
o principal problema com que a comunidade se confronta.
Ainda na Comunidade Bairro vive uma comunidade cigana que, até a entrada a
terreno do Fronteiras Urbanas não tinha grande contacto com o resto dos membros da
comunidade, de acordo com o seu líder comunitário – Sr. Raul, porque estes
identificam-se mais com a população da vida que com o os seus vizinhos que habitam
nas zonas mais interiores das terras. Inclusivamente as suas prioridades não estão
diretamente relacionadas com a água e o saneamento porque, contrariamente aos
demais, preferem ser realojados em casas camarárias e sair daquele local e não tanto
criar melhores condições de habitabilidade nas suas casas.
80
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
A sedentarização a comunidade cigana nestas terras deu-se com o assentamento do
avô – Sr. Cabeçana, da atual esposa do Sr. Raul, até então com uma vida nómada,
embora sempre nos arredores de Lisboa. Terão, ainda, trabalhado com a comunidade
de pesca ajudando no puxar das redes, chegando mesmo, alguns ciganos a embarcar.
As mulheres ajudavam na arte agrícola, ajudando na apanha da produção e, no verão,
na sua transformação: cortavam batatas e fritavam-nas para serem vendidas aos
veraneantes em cartuxos de papel.
Este líder da sua comunidade terá, ainda, saído das terras por 4 anos para tentar a
sorte a norte do país. No regresso comprou um dos estábulos que de apoio ao aluguer
de cavalos, servindo-lhe de residência até ser consumida por um incêndio. Nesta
altura terá construído a barraca onde agora reside com a sua esposa. Este grupo
étnico é constituído, quase exclusivamente, pelos seus descendentes. Mostra ter uma
consciência bem clara, expressando-o com igual clareza, que carrega consigo a
herança cultural dos seus antepassados, que não lhes permite uma plena integração
na Costa de Caparica. Ilustra-o com uma frase bem marcante: “se uma criança não
come a sopa, a mãe diz-lhe: vem aí o cigano e leva-te” (Raul). O Sr. Raul refere que
os ciganos têm como profissão vender, são vendedores de roupa, embora lhe tenham
fechado o mercado em agosto de 2008 e desde então vendem a roupa à mão, fugindo
à polícia para não verem a sua mercadoria apreendida.
De facto, a vida desta comunidade apresenta características bem distintas da
apresentada pelos habitantes provenientes (e descendentes) dos PALOP. Porém, entre
os membros da Comunidade Bairro, independentemente de onde vem, que cultura
carregam , todos
anseiam por melhores condições de vida, uns querendo ser
realojados em casas camarárias e outros não querendo abandonar o local unidos pela
amizade, solidariedade e compaixão. No presente todos estão representados na
comissão de bairro, dando primazia ao abastecimento de água, mesmo sem ser
consensual entre a comunidade cigana que esta deveria ser a primeira prioridade. Há,
no entanto, consciência do Sr. Raul de que a comissão dos moradores do bairro, da
qual é membro, tem uma capacidade reivindicativa que sozinhos não teriam. Por
inerência, essa comissão empodera-os para reivindicarem um local de venda e,
eventualmente, o realojamento, patentes no seu discurso como principais prioridades.
Este será, porventura, o maior fator de união das dos diferentes grupos culturais que
partilham a Comunidade Bairro como local de residência.
81
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
CARTOGRAFIA MÚLTIPLA
O presente Relatório de Atividades apresenta informações detalhadas sobre as
atividades desenvolvidas no âmbito da tarefa “Cartografia Múltipla”, inserida no
Projeto Fronteiras Urbanas (FU), durante os meses de Janeiro 2012 a Outubro 2013,
1. I NTRODUÇÃO
Desenvolvimento, objectivos e metodologias da tarefa “Cartografia
Múltipla”
A Cartografia Múltipla, enquanto tarefa do Projeto Fronteiras Urbanas (FU), foi
desenhada a três mãos face a um desejo; mãos das três comunidades envolvida no
mesmo, sendo elas: Comunidade Académica, Comunidade Bairro e Comunidade
Piscatória. Porém, faz-se necessário recordar que a Comunidade Bairro foi a
idealizadora de tal tarefa assentada na necessidade de conhecerem quem são;
quantos são; onde, como e desde quando estão assentados nas Terras da Costa.
Como tem sido evidenciado, na Comunidade Bairro - todos os habitantes aqui
entendidos como moradores de tal comunidade, vive-se sem água e saneamento
básico. Numa perspectiva educativa, o projeto Fronteiras Urbanas desenvolveu a
tarefa Cartografia Múltipla com o intuito de dar respostas às necessidades primárias
da Comunidade Bairro, bem como de engendrar tal tarefa ao desejo de
reconhecimento da Comunidade Piscatória e da espacialidade das suas atividades.
Embebidos deste sentido, numa primeira fase do projeto Fronteiras Urbanas
desenvolvemos a tarefa da cartografia com enfoque no contexto urbano em que
ambas comunidades estão inseridas: Costa de Caparica. O objectivo desta macrovisão era compreender o desenvolvimento cartográfico desta região num contexto
holístico, o qual permitisse um entendimento múltiplo da formação, do
desenvolvimento e da sobrevivência de ambas comunidades. A multiplicidade, aqui
proposta, abarcava um olhar social, cultural, histórico, geográfico, político,
urbanístico, geológico, oceanográfico, bem como outros que surgissem no decorrer
desta primeira fase da etnografia crítica. A cartografia Múltipla, nesta fase, confundiuse, embrenhou-se a apoiou-se na tarefa Histórias de Vida.
Nesta primeira fase, foram feitos vários esforços no sentido de alinhavar a
colcha de retalhos de conhecimentos de alguns dos membros da Comunidade
Académica, tanto a nível histórico, quanto a nível de conhecimento local de cada
comunidade. Este exercício beneficiou do conhecimento histórico do arqueólogo e
investigador Francisco. Destes conhecimentos prévios, foi feita uma estimativa do
desenvolvimento cartográfico da Costa de Caparica, tendo como principal suporte
mapas históricos (Figure 66), bibliografia existente (Figure 65) e histórias de vida de
antigos moradores da Comunidade Bairro e de pescadores locais. Estas foram assim
as metodologias escolhidas para o desenvolvimento de todas as atividades propostas
no âmbito desta tarefa.
82
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Figure 66 - Foz do Rio Tejo (1634). Exemplo do material recolhido na análise cartográfica da história da Costa
Ilustração 1: Foz do Rio Tejo (1634). Exemplo do material recolhido na análise cartográfica da história da Costa
de Caparica. de Caparica.
Figure 65 - Exemplo de bibliografia
local consultada na análise cartográfica
da história da Costa de Caparica
Para além deste exercício cartográfico focado na evolução histórica da Costa de
Caparica, transversal às três comunidades abrangias pelo FU, desenvolveram-se atividades
83
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
pertinentes a cada comunidade em particular, que são apresentadas e detalhadas neste
relatório. Por fim, é preciso que referir que algumas das atividades de cartografia inicialmente
previstas não foram executadas, estando os factores responsáveis por tais pendências
devidamente apresentados e justificados também neste relatório.
2. AÇÕES
EXECUTADAS
Atividades e iniciativas que decorreram entre Janeiro de 2012 e
Outubro de 2013
2.1 COMUNIDADE BAIRRO
No âmbito das atividades relacionadas com a Cartografia Múltipla na
Comunidade Bairro ao longo destes dois anos do Projeto Fronteiras Urbanas,
destacamos de forma sucinta: (i) a organização de um workshop participativo de
arquitetura, com o intuito de se projetar em espaços comunitários com e para os
membros da Comunidade Bairro; (ii) o recenseamento da população da Comunidade
Bairro, destancando-se o número de moradores e a sua descendência e/ou
nacionalidade; (iii) a criação de mapas interpretativos da Costa da Caparica, que
permitiram compreender o enquadramento histórico e territorial da comunidade
Bairro; e ainda (iv) a organização de um processo democrático para eleição de
representantes do Bairro das Terras da Costa (Comissão de Bairro).
WORKSHOP “NOUTRA COSTA”
O workshop de Arquitetura “Noutra Costa” teve lugar em Junho de 2012.
Promovido em parceira com o Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território
da Universidade Autónoma de Lisboa (CEACT-UAL), esta iniciativa contou com a
presença de jovens arquitetos e alunos de arquitetura da mesma Universidade, que
trabalharam de forma conjunta com os moradores do Bairro das Terras da Costa por
intervenção dos investigadores Filipa e Carlos.
O processo de preparação do Workshop teve início em Abril de 2012, sob a
coordenação da investigadora Filipa. Uma primeira reunião do Fronteiras Urbanas com
o CEACT-UAL foi realizada em Maio de 2012, em que estiveram presentes membros
da Comunidade Académica e um representante da Comunidade Bairro, Euclides
Fernandes. Nessa reunião, para além de se ter discutido o âmbito de desenvolvimento
e objectivos práticos do Workshop, foi recolhida alguma informação-base
posteriormente utilizada na tarefa de “Cartografia Múltipla” (ver tópico
PENDÊNCIAS).
Os objectivos académicos deste workshop incidiram sobre (i) o
desenvolvimento da identidade criativa dos arquitetos no contexto de uma realidade
84
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
social vivida nos centros urbanos e periferias das grandes cidades da Europa e do
Mundo, e (ii) a compreensão, através da prática in loco, do verdadeiro papel do
arquiteto, indo para além do seu carácter projetista e enfatizando os processos
participativos face às restrições de exequibilidade e necessidade de adaptação para
solucionar problemas reais. Paralelo aos seus objectivos académicos, o workshop
pretendia ainda trazer um pouco da experiência dos arquitetos à Comunidade Bairro,
numa troca de conhecimentos enriquecedora em vários sentidos, e com o intuito
maior de contribuir para a redução da invisibilidade do Bairro, enquanto espaço físico
e social, no contexto urbano em que se insere (“Como trazer as pessoas da cidade
para o Bairro?”).
Os jovens arquitetos trabalharam em vários grupos de poucos elementos, cada
grupo procurando dar resposta a uma das várias questões e sugestões levantadas e
discutidas na primeira visita que realizaram ao Bairro. Assim, desta iniciativa surgiram
ideias de diferentes espaços comunitários que poderiam ser criados dentro e próximo
ao Bairro, como por exemplo bancadas de suporte ao campo de futebol já existente
ou uma cozinha comunitária. Estas ideias foram postas em papel e maquete pelo
grupo de jovens arquitetos, em colaboração ativa com os membros da comunidade
Bairro , sendo que algumas delas chegaram a ser efetivamente construídas (e.g.,
monumento de mensagens públicas construído à partir de material encontrado no
Bairro na praceta da Rua Ercília Costa, no centro da Costa de Caparica). O workshop
“Noutra Costa”, por ter sido desenvolvimento em total envolvimento direto com a
comunidade, permitiu o autoconhecimento comunitário e o aumento da autoestima
dos seus membros. Para além disso, da iniciativa nasceram os primeiros mapas atuais
do local, bem como um detalhamento arquitectónico do local nunca antes levantado,
favorecendo o enriquecimento do conhecimento da Comunidade Bairro.
Um documentário sobre esta iniciativa foi posteriormente realizado, contando
com imagens das atividades decorridas e dos resultados obtidos, juntamente com
depoimento de algumas pessoas envolvidas (Figure 67).
Figure 67 - Screenshots do
documentário sobre o
workshop “Noutra Costa”,
realizado por Vítor Gabriel.
O documentário pode ser
visualizado na íntegra em:
http://www.youtube.com/
watch?v=ckscfoegqcy
85
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
RECENSEAMENTO E CARTOGRAFIA
A dimensão da Cartografia Múltipla contribuiu também para a realização dos
mapas de apoio ao recenseamento da população da comunidade Bairro. É importante
salientar que a escolha do detalhe exercido nos sensos foi procedida cautelosamente e
em conjunto com os moradores dessa comunidade, uma vez que da atividade em
questão resultariam dados sociopolíticos de extrema confidencialidade (e.g., Fichas de
Identificação de Morada), recolhidos única e exclusivamente para fins académicos e
sem qualquer prejuízo para com os direitos habitacionais dos moradores das Terras do
Bairro da Costa.
Numa primeira reunião (Maio de 2012) foi apresentado um ortofotomapa do
Bairro que serviu de base para uma discussão acerca dos espaços territoriais ali
presentes numa visão demográfica, histórica e posicional. Dessa discussão, em muito
enriquecida pelos conhecimentos locais do Euclides, obtivemos os primeiros resultados
do recenseamento espacial pretendido no âmbito da tarefa “Cartografia Múltipla”.
Estes resultados consistiram numa primeira identificação e categorização dos seis
aglomerados habitacionais encontrados no espaço do Bairro, definidos como “locais”
(Figure 68) com a sua categorização. É importante clarificar que o Local 6 encontra-se
em destaque na Figure 68 uma vez que não foi possível estabelecer contacto com os
membros da comunidade Bairro que ali habitam. Respeitando o desejo de
distanciamento de tais moradores, excluímos o Local 6 da nossa análise.
86
Figure 68 - Resultados da primeira sessão de discussão sobre a cartografia do Bairro. As regiões
demarcadas correspondem aos diferentes aglomerados habitacionais (locais) identificados dentro do
bairro. Os resultados da caracterização de cada local podem ser consultados na tabela 1. O local 6
encontra-se destacado por ser o único local onde não foi possível estabelecer contacto dentro do tempo de
atuação do Projeto, ficando por isso de fora da análise realizada.
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Figure 69 - Processo de criação do mapa
de apoio ao recenseamento na
comunidade bairro – Novembro de 2012
A caracterização do local foi
realizada através de um processo de recolha informal de dados para estimativa do
número total de moradores, número total de crianças moradoras e etnias dos
moradores de cada local. Os resultados deste exercício podem ser encontrados na
T ABELA 1 . Os resultados desta primeira fase do recenseamento apontam para um total
de cerca de 276 moradores nos 5 locais analisados na comunidade Bairro, dos quais
aproximadamente
30% (85) são crianças. Estimou-se também que a etnia
predominante nos 5 locais analisados é a Cabo-verdiana (67.4%), seguida pelas
etnias Cigana (11.2%) e Portuguesa (8.3%). Contatou-se também que 50% da
população e 60% das crianças da comunidade Bairro reside no Local 1, sendo o Local
3 o segundo mais populado (28.6%).
T ABELA 1: R ESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO DOS LOCAIS IDENTIFICADOS NUMA PRIMEIRA FASE DO PROCESSO DE RECENSEAMENTO DA COMUNIDADE BAIRRO . A PRESENTA -­‐ SE UMA ESTIMATIVA DO Nº TOTAL DE MORADORES ( DOS QUAIS CRIANÇAS , EM PARÊNTESIS ) PARA CADA LOCAL , POR ETNIA . O LOCAL 6 FOI EXCLUÍDO DA ANÁLISE ( VER TEXTO ). A S INCERTEZAS FACE À PRESENÇA DE OUTRAS ETNIAS NOS LOCAIS 3 E 5 É SALIENTADA COM UM PONTO DE INTERROGAÇÃO (?). A PRESENTAM -­‐ SE AINDA AS RESPECTIVAS PERCENTAGENS PARA OS TOTAIS ESTIMADOS . 87
Etnias Local 1 Local 2 Local 3 Local 4 Local 5 Total % Caboverdiana 110 (43) 30 (7) 46 (11) ? 186(61) 67.4(71.8) Cigana 11 (1) 20 (5) ? 31(6) 11.2(7.1) Portuguesa 17 (5) 6 (3) 239(8) 8.3(9.4) Angolana 11 (3) 5 (1) ? 16(4) 5.8(4.7) São Tomense 12 (4) ? ? 12(4) 4.3(4.7) Guinense 2 1 ? ? 3 1.1 Brasileira 2(1) ? 1 3(1) 1.1(1.2) Romena ? 3 (1) 3(1) 1.1(1.2) Zairense 1 ? ? 1 0.4 Total 138 (51) 31(7) 79 (18) 20 (5) 8 (4) 276 (85) % 50(60) 11.2(8.2) 28.6(21.2) 7.2(5.9) 2.9(4.7) 100(100) FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
A verificação estatística do local onde é possível encontrar a maior parte da
população no Bairro (Local 1) foi ainda útil para definir os locais de todas as atividades
que o FU desenvolveu no Bairro, nesta e noutras tarefas, sendo mais evidente a
concentração populacional neste local – o que já tinha sido empiricamente
evidenciado no decorrer das nossas visitas ao local.
Depois de finalizada com sucesso esta primeira fase do recenseamento,
procedeu-se a um levantamento em campo, contando com a colaboração voluntária
de alguns membros da comunidade Bairro. Deste exercício, de carácter mais prático e
meticuloso, resultou uma cartografia das unidades habitacionais dentro de cada um
dos cinco locais definidos e estudados na comunidade Bairro Figure 70. Para cada uma
das unidades habitacionais identificadas e devidamente numeradas foi elaborada uma
“Ficha de Morada”, que contém informações acerca do agregado familiar de cada
habitação. Por questões de privacidade e a pedido de alguns moradores, o
recenseamento utilizou apenas o primeiro nome dos indivíduos identificados (ou
alcunha pela qual é localmente conhecido), sendo para este exercício muito mais
importante contabilizar o número de moradores, juntamente com a sua idade, etnia, e
data de instalação no Bairro.
Este mapa, juntamente com a respectiva informação das Fichas de Morada,
constitui assim uma importante ferramenta para a emancipação da Comunidade
Bairro enquanto espaço físico e social ativamente integrado na, mas ainda invisível
para a, Costa de Caparica.
Figure 70 - Mapa de apoio ao recenseamento, onde foram identificada e catalogadas cada uma das
unidades habitacionais nos cinco locais de estudo na Comunidade Bairro.
88
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A atividade de recenseamento e mapeamento foi finalizada em Fevereiro de
2013, com os esforços dos investigadores Filipa, Euclides (Figure 69), Francisco e
Catarina. O mapa de apoio ao recenseamento foi levado a discussão numa reunião
colectiva, para que fosse aprovado pelos moradores da comunidade Bairro.
HISTÓRIA
E
CARTOGRAFIA
Nomeadamente no que diz respeito à comunidade Bairro, a cartografia
histórica permitiu associar as histórias de vida e a génese do bairro à sua
territorialidade atual. Do processo de cartografia histórica, surgiram particularidades
de especial interesse, como a documentação de moradias legalmente construídas e
cedidas pelo Governo em anos anteriores a pessoas singulares, para habitação e
suporte às atividades agrícolas ali praticadas. Estes resultados poderão vir a dar
solvência, de forma parcial, ao problema de ilegalidade das construções no Bairro das
Terras da Costa, constituindo assim mais um passo na luta contra a invisibilidade
dessa comunidade e espaço marginal.
À partir dos dados levantados na cartografia histórica da cidade, com a
colaboração do arqueólogo e investigador do FU Francisco, foi possível tentar uma
reconstituição da génese do bairro em termos físicos.
A conclusão mais interessante é que se julga poder afirmar que os dois núcleos
do Bairro, ainda hoje existentes, tiveram origem em duas construções localizadas
mais ou menos no centro de cada um deles. Seriam construções de alvenaria com
cerca de 40 anos – estima-se a sua construção em meados da década de 70 (Figure
71).
Figure 71 - Mapa da Costa de Caparica (1978) e identificação das duas construções que deram origem ao
Bairro das Terras da Costa, projetadas no ortofotomapa atual.
89
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Sabemos que, à data da sua construção, o espaço agrícola onde se
encontravam não apresentava outros sinais de povoamento, ou seja, ainda não
estava constituído um “bairro”. Eventualmente, com a intensificação da atividade
agrícola no local, novas construções foram progressivamente surgindo à volta dessas
duas habitações primárias.
Deste exercício de cartografia histórica foi possível recolher informação acerca
dos percursos efectuados pelos agueiros (pessoas responsáveis pelo abastecimento de
água no Bairro) desde o Bairro até ao poço (Figure 72). Recorrendo a ferramentas de
informação geográfica, calculou-se o percurso como tendo aproximadamente 1km, o
que significa que cada agueiro percorre cerca de 2km para o abastecimento de água
no Bairro
Figure 72
-
Ortofotomapa do Bairro das Terras da Costa, onde se evidencia (vermelho) o percurso efectuado pelos
agueiros (detalhe à direita), desde o centro de distribuição dentro do Bairro até ao poço mais próximo (Detalhe em
Baixo à esquerda) para abastecimento de água na Comunidade Bairro.
Esta dimensão da tarefa de cartografia esteve também presente na tarefa de
“Alfabetização Crítica” realizada na comunidade Bairro, através de uma sessão
dedicada à leitura e compreensão de mapas (Figure 73).
90
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Figure 73 -­‐ Cartografia nas aulas de
“Alfabetização Crítica”.
ELEIÇÃO “COMISSÃO
DE
BAIRRO ”
Face aos resultados dos exercícios de cartografia até à data desenvolvidos na
Comunidade Bairro, e em conjunto com outras atividades ali desenvolvidas no âmbito
do FU, o sentido de autonomia e capacidade geradora dos moradores dessa
comunidade sofreu alterações muito significativas, para a positiva. Estas
transformações colmatarem no desejo manifestado por vários moradores para
elegerem um grupo de pessoas que os representasse em contextos formais, na
tentativa de se facilitar os processos de resolução dos inúmeros problemas de
saneamento básico e ordenamento do território que enfrentam diariamente.
Em conversa com membros das Comunidades Académica e Piscatória, e após a
consulta de diferentes vertentes de representação por eleição democrática que se
poderiam instalar na Comunidade Bairro, os moradores optaram por estabelecer uma
Comissão de Bairro. Salienta-se aqui o papel dos membros da Comunidade Piscatória,
em especial o seu representante Lídio Galinho, que trouxeram para a discussão toda a
sua experiência sindical e em muito contribuíram para encontrar uma solução de
organização que melhor assentasse as necessidades da Comunidade Bairro.
Assim, no dia 18 de Junho de 2013 decorreram as eleições da Comissão de
Bairro da Comunidade Bairro. A Mesa de Voto (Figure 76) esteve aberta das 08 às 18
horas, e contou com a presença de todos os membros da Comunidade Académica, e
ainda alguns convidados (familiares e Atelier MOB), que trabalharam em grupos de
três, alternando-se por 4 turnos de 3 horas cada. Todo o processo de eleição foi
registado através de fotografias, e seguiu a legislação nacional no que respeita a
apresentação de documento de identificação pessoal com fotografia, assinatura na
folha de presenças, e voto secreto - garantindo assim a legitimidade e transparência
do processo.
A contabilização dos votos ocorreu apenas após se ter garantido que o maior
número de moradores da Comunidade Bairro voluntariamente exerceu o seu direito ao
voto. Para tal, pouco antes das 18 horas, uma equipa constituída por membros da
91
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Comunidade Académica e Bairro levou o material necessário ao voto a cinco
moradores impossibilitados fisicamente de se deslocarem à Mesa de Voto, mas que
através de familiares/conhecidos manifestaram o desejo de exercer o ato (Figure 74). A
contabilização dos votos ocorreu logo após o encerramento oficial da Mesa de Voto.
Os resultados foram contabilizados pela Lizi, moradora do Bairro, que abriu a urna e
retirou as cédulas, comunicando o seu conteúdo em voz alta para os restantes (Figure
75). O número de votos em cada opção (“A favor” ou “Contra” a instalação da
Comissão) foi registado por três pessoas em simultâneo, sendo que uma delas o fez
num quadro negro, de forma a que ficasse visível para a audiência (Figure 75). Cédulas
rasuradas, rasgadas ou indevidamente preenchidas foram consideradas como votos
nulos. Os resultados da eleição foram unânimes, a favor da instalação da Comissão de
Bairro da Comunidade Bairro constituída pelos moradores Mana, Mário, Raul,
Filomena, Mónica, Susete, Claudina, Né e Durval.
Este movimento democrático bem sucedido foi, provavelmente, um dos
principais resultados do FU para a emancipação da Comunidade Bairro.
Figure 74 - Mesa de Voto Ambulante para contabilização dos votos de cinco pessoas incapacitadas
de deslocação à Mesa de Voto.
92
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Figure 76 - Mesa de Voto instalada no espaço
utilizado para as aulas de Alfabetização
Crítica. Figure 75
-
Leitura dos votos realizada pela moradora Lizi (à direita) e contabilização
dos votos no quadro-negro (à esquerda).
93
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
2.2 COMUNIDADE PISCATÓRIA No que respeita a Cartografia Múltipla na Comunidade Piscatória ao longo do
desenvolvimento do FU, estavam previstas (i) a realização de mapas interpretativos
da Costa da Caparica, que permitiriam compreender o enquadramento histórico e
territorial da comunidade Piscatória na cidade; e (ii) a realização de mapas de
valorização e utilização, que serviriam como ferramentas de apoio aos pescadores no
planeamento espacial e ordenamento do território local. Estas atividades, no entanto,
foram parcialmente realizadas, tendo ficado incompletas por várias razões que serão
exploradas mais adiante (ver tópico
PENDÊNCIAS).
HISTÓRIA
E
CARTOGRAFIA
Não obstante às grandes pendências das atividades de cartografia na
Comunidade Piscatória, os resultados do primeiro levantamento histórico da cidade da
Costa de Caparica também contribuíram para uma definição da génese da
Comunidade Piscatória na cidade. Este exercício foi fortemente enriquecido pelos
contributos do investigador Francisco.
Até ao século XX, a zona da Costa de Caparica era uma zona insalubre devido
à existência de pântanos e águas paradas que facilitavam a propagação de mosquitos
transmissores de paludismo /malária. Ainda assim, comunidades de pescadores
vindas de Ílhavo (ilhos ou gandaréus) ocupavam a praia da Costa sazonalmente para
Figure 77 - Comunidades vindas de Ílhavo (amarelo) e
Olhão (vermelho) estabelecem-se na Costa de Caparica
de forma definitiva à partir de 1770.
94
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
exercer a sua atividade piscatória (nos meses de Outubro a Dezembro).
Em 1770, comunidades vindas de Ílhavo e também de Olhão (Figure 77) estabelecemse definitivamente na Costa, constituídas por várias companhas de pesca e seus
respectivos mestres (José Rapaz, José Gonçalves Bexiga). Estas comunidades foram
Figure 79 - Costa de Caparica em 1816, onde já se
pode verificar a existência das Cabanas da Costa,
construídas pelas comunidades piscatórias que ali
se instalaram no final do Século XVIII.
responsáveis pela construção das primeiras “Cabanas da Costa” (Figure 79).
SUL
NORTE
95
Figure 78 - Rua dos
Pescadores da Costa
de
Caparica
em
meados
do
Século
XIX, onde se evidencia
a distribuição marcada
entre as comunidades
piscatórias vindas de
Ílhavo (Norte) e de
Olhão (Sul).
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Desta forma, até meados do século XIX a população da Costa era composta
por duas comunidades piscatórias: Ílhavos instalados a Norte, (da atual Rua dos
Pescadores) e Algarvios (Olhão) a Sul (Figure 78). Com o estabelecimento definitivo
dessas duas comunidades, é construída a primeira Igreja da Costa de Caparica em
junco e tabuado. Estima-se que a maioria das construções iniciais eram feitas em
madeira (tabuado) e cobertas com junco (Figure 80). No entanto, a já atualmente
demolida Casa da Coroa (Figure 81) foi uma das primeiras construções em alvenaria da
Costa de Caparica. Esta construção, que data de antes de 1825, foi realizada pelo
Mestre de Redes José dos Santos.
Figure 81 – Casa da Coroa construída
antes de 1825 pelo Mestre de Redes
José dos Santos, uma das primeiras
construções em Alvenaria na Costa de
Caparica. Esta construção foi demolida
em 1996.
Figure 80 - Levantamento Cartográfico (Historiográfico) das
habitações da Comunidade Piscatória na Costa de Caparica – “os
Palheiros”.
96
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Figure 82 - Levantamento Cartográfico
(Historiográfico) das artes de pesca
praticadas na Comunidade Piscatória Com o início da florestação das dunas entre a Trafaria e as praias da Costa de
Caparica e a possibilidade de drenagem artificial, que ocorreu por volta de 1883, a
pratica exclusiva da actividade piscatória realizada na Costa (Figure 82) foi
complementada por actividades agrícolas (Figure 83).
Figure
83
-
Levantamento
Cartográfico
(Historiográfico) de atividades complementares
à pesca na Costa de Caparica
Em 1925, a praia do centro da Costa de Caparica é classificada como estância
de turismo (Dec.nº11.335 de 9 de Dezembro).
Figure 84 - Concessão turística da Praia do
Tarquínio, no Centro da Costa de Caparica, no
início do Século XX.
97
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Em 1937 verfica-se a criação da Junta Central das Casas dos Pescadores sob
direção do Almirante Henrique Tenreiro. No entanto a Casa dos Pescadores apenas foi
inaugurada em 1938 ( Figure 85) .
Figure 85
-
Casa dos Pescadores da Costa (À esquerda) e Junta Central das Casa dos Pescadores (À
direita), fundadas respectivamente em 1988 e 1937.
Dos resultados mais interessantes do levantamento efectuado na cartografia
histórica da Comunidade Piscatória está origem do poço da vila, ainda hoje utilizado
pela Comunidade Bairro para abastecimento de água no Bairro das Terras da Costa
(Figure 72), que foi construído em 1879 pelos pescadores da então vila Costa de
Caparica, custando ao quinhão das companhas a quantia de 401.410 réis ( Figure 86) .
Figure 86
-
Poço da Vila construído em
1879 pela comunidade piscatória da então
vila da Costa de Caparica.
98
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COMUNIDADE ACADÉMICA
No que respeita a Cartografia Múltipla na Comunidade Académica, as
atividades centraram-se na disseminação do trabalho desenvolvido no FU e no
estabelecimento de parcerias de interesse na dimensão cartográfica delineada neste
projeto.
Foram inúmeras as parcerias estabelecidas na dimensão da Cartografia
Múltipla. Salientamos aqui os contactos realizados através do Círculo de Cultura
“Pesca: Sustentabilidade e Sociedade”, que teve lugar no segundo dia do Fórum
Fronteiras Urbanas sob a organização da investigadora Lia (Figure 87). Ficamos a
conhecer o trabalho desenvolvido pelas investigadoras Lia Vasconcelos e Sueli Ventura
(IMAR –UNL) com a comunidade piscatória de Sesimbra, numa partilha de
conhecimentos e experiências muito frutífera. É importante mencionar ainda os
contactos estabelecidos durante o Workshop de arquitetura organizado na
comunidade Bairro, como o Atelier MOB, cuja parceira e envolvimento no projeto
culminou no processo de construção da cozinha comunitária, neste momento em
andamento.
Em termos de disseminação, para além do exercício alargado realizado durante
o Fórum Fronteiras Urbanas, em Julho/Agosto de 2013, a dimensão da Cartografia
Múltipla foi apresentada na Universidade de Aarhus (Dinamarca) em Novembro de
2013, dentro da conferência “Rethinking Participatory Cultural Citizenship”. A
apresentação, intitulada “From Invisibility to Full Citizenship: a Bottom-up Movement
for Urban Rights”, levantou questões face à realidade sociopolítica das duas
comunidades foco do FU, tais como “Como ir de encontro à justiça espacial?”, “Como
utilizar ferramentas académicas (e.g., cartografia) para melhorar e aumentar os níveis
de participação pública no planeamento espacial?”
99
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Figure 87- Descrição da Sessão de Cartografia Múltipla realizada no âmbito do Fórum Fronteiras Urbanas
3. PENDÊNCIAS O que não foi possível executar e porquê.
Em termos de atividades não executadas, é de salientar a cartografia na
Comunidade Piscatória que ficou por finalizar, como mencionado acima. A dificuldade
na execução das tarefas relacionadas com a Cartografia Múltipla na Comunidade
Piscatória pode ser resumida a três pontos fulcrais:
i.
10
0
Dispersão temporal e espacial da Comunidade Piscatória
Os exercícios e atividades desenvolvidos na Comunidade Bairro foram
inerentemente facilitados pelo carácter físico da mesma. A Comunidade Bairro
é constituída por um conjunto de pessoas num espaço físico bem delimitado e
de reduzidas dimensões. Por oposição, os membros da Comunidade Piscatória
encontram-se fisicamente dispersos pela zona da Costa de Caparica e Fonte da
Telha, um factor que, aliado às frequentes oscilações temporais de
disponibilidade dos pescadores devido às campanhas de pesca, não permitiu
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
uma reunião regular para execução de atividades conforme inicialmente
previsto no âmbito da Cartografia Múltipla. A dispersão espacial e temporal dos
membros da Comunidade Piscatória, em relação aos membros da Comunidade
Académica, foi o factor que mais prejudicou a execução das tarefas previstas.
ii.
Regime de investigação voluntário
As dificuldades apresentadas no ponto anterior poderiam ter sido ultrapassadas
caso os investigadores envolvidos nesta tarefa dispusessem de mais
flexibilidade para organizar e participar em encontros com os membros da
Comunidade Piscatória. O regime de investigação voluntário, exercido em
tempo extraordinário de cada investigador, não foi adequado à realização das
tarefas previstas no âmbito da Cartografia Múltipla na Comunidade Piscatória.
iii.
Priorização de solvência dos problemas mais emergentes
Apesar do foco de investigação neste projeto estar divido entre as duas
comunidades (Bairro e Piscatória), as míseras condições em que habitam os
moradores da Comunidade Bairro fizeram voltar os primeiros esforços de
investigação para a resolução dos problemas emergentes nessa comunidade,
incluindo por envolvimento de membros da Comunidade Piscatória igualmente
sensibilizados com a situação. Assim, numa primeira instância e aliada aos
factores acima descritos, a atuação em campo (para todas as tarefas deste
projeto) cingiu-se exclusivamente à Comunidade Bairro, reflectindo-se num
atraso em termos de execução do plano de trabalhos previsto e proposto para
a Comunidade Piscatória.
Ficam assim aqui descritas as principais atividades de Cartografia Múltipla
desenvolvidas no âmbito do FU, evindeciando-se o papel da cartografia no
empoderamento de comunidades locais. Não obstante às pendências verificadas,
acredita-se que o desenvolvimento desta tarefa cumpriu na generalidade os objectivos
iniciais propostos, principalmente na Comunidade Bairro.
10
1
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ENTREPROJECTOS
Os EntreProjectos apareceram no processo etnográfico vivenciado no FU. Esta
atividade não foi prevista em candidatura, porém revelou-se de grande valia na
coesão social entre todos os membros do projeto mas, especialmente, na
disseminação do mesmo.
A presença do FU nas duas comunidade envolventes serviu como foco catalisador de
atenção, face ao nosso processo de disseminação nas mais diferentes áreas de
comunicação. O “chegar” de caras novas com desejos de tornarem os desejos locais
viáveis, ou mesmo de criar estratégias para enaltecer desejos adormecidos,
repreendidos e oprimidos social e economicamente, é compreendido no processo do
FU como uma grande valia.
Os EntreProjectos revelaram-se um espaço que partilha a importância e o poder de se
caminhar junto, de se estar junto e de comungar a diversidade. Trouxemos para este
relatório os EntreProjectos que tiveram maior impacto.
Ressalta-se a apresentação dos cinco projetos abaixo que junto com o FU, fizeram
acontecer COM as comunidades nas quais atuaram, alimentando nossos objectivos e
reforçando nossos propósitos teóricos.
Infelizmente, apenas um EntreProjecto teve subsídio para seu desenvolvimento:
Noutra Costa. Os demais projetos exequíveis, no âmbito das comunidades do FU,
ainda não conseguiram recursos para serem executados, nomeadamente, OutraCena
e Cozinha Comunitária.
Destacamos que os projetos Ler com Arte e Chicala, tem ainda sobrevivido de forma
voluntária dentro da Escola do Bairro – projeto de extensão, de carácter voluntário,
que culmina o processo dos EntreProjectos.
A sistematização do processo e do impacto destes EntreProjectos ressalta nossa
postura etnomatemática, afinal nossa participação, em diferentes momentos nos
diferentes EntreProjectos, teve um papel fundamental. Este encontro de projetos
seguiu o percurso delineado pela investigação do FU assentado na emancipação,
autonomia e responsabilidade ética.
...
fizeram
acontecer:
encontro,
partilha,
consciencialização, empowerment, amizade!
10
2
conhecimento,
reconhecimento,
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NOUTRA COSTA
Figure 88 - Noutra Costa - 2012
Projecto idealizado pelos nossos parceiros da Universidade Autónoma de Lisboa, para
recriar, virtualmente, os espaços da Comunidade Bairro, conforme os desejos e
ecessidades locais. Anualmente, esta universidade tem desenvolvido este workshop
no qual cria, em espaços públicos, novos ambientes consoante as necessiades e
possibilidades locais. Este primeiro EntreProjecto tem como mentora principal a
investigadora do FU Filipa Ramalhete e o Arquitecto Pedro Campos Costa.
Na Comuniadde Bairro não foi possível a execusão física de projetos arquitetónicos
por se tratar de um espaço “complicado” para se construir qualquer aparelho. Esta
comunidade, como já mencionado, encontra-se numa reserva agrícola já há quatro
gerações e, desde 2013, esta mesma área tornou-se reserva ecológica, dificultando
ainda mais qualquer tipo de operacionalizção arquitetónica.
Abaixo seguem alguns links onde encontram-se minunciosamente o trabalho realizado
com a Comunidade Bairro, via o FU.
WORKSHOP NOUTRA COSTA
TRABALHOS REALIZADOS
10
3
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LER COM ARTE
Por meio da tarefa da Alfabetização Crítica, conforme já relatado, o Projeto Ler com
Arte toma corpo na Comunidade Bairro com as aulas esporádicas das investigadoras e
criadoras deste: Nair Azevedo e Ana Bruno.
Este projeto proporcionou às educandas a possibilidade de trabalhar a alfabetização
com outros registos. Proporcionou, também, às investigadoras que trabalhavam
diretamente com a tarefa da Alfabetização Crítica, o conhecimento de novas
pedagogias para o desenvolvimento da escrita e da leitura. O contacto com as obras
de arte vem ao encontro com a relação homem-mundo, que sustenta o
desenvolvimento de todo o processo de alfabetização do FU.
A realidade da nossa “escola” foi um diferencial vivenciado pelas investigadoras
educadoras que, usualmente, trabalham numa casa com infraestruturas adequadas.
Abaixo segue um texto desenvolvido pelas investigadoras que explica um pouco do
processo deste projeto.
“Ler com Arte é um projeto de investigação-ação que toma a investigação como praxis (Lather
1986), e que tem a alfabetização de adultos como propósito central. A ação enquadra-se no
conceito de literacia, entendido como a capacidade de compreensão e ação no mundo. A
intervenção, de cariz voluntário, desenvolve-se em contexto não formal e alicerça-se na
convicção de que uma prática transformadora (de ação e investigação) assume-se como
compromisso ético, valorizando a cooperação, a negociação e reciprocidade que reforçam o
sentido de empoderamento. Assim, Ler com Arte está impregnado (e contaminado) pela ideia
da co-construção da pessoa, num processo que integra o outro na sua própria compreensão e
realização.
O projeto acolhe os habitantes de um bairro da freguesia de Sacavém, concelho de Loures. São,
maioritariamente, mulheres de origem africana, em situação de desemprego ou trabalho
precário. Têm fraco domínio da língua portuguesa, sendo o crioulo a língua de pertença e
comunicação.
Do ponto de vista conceptual, a metodologia do Ler com Arte é inspirada no pensamento de
Freire (1979), pretendendo-se promover a construção de sentido partilhado, possibilitando a
consciencialização das realidades externas e internas. Desse modo, aprender a ler e a escrever
transcende o reconhecimento de letras e palavras, já que a leitura e escrita da palavra são
instrumentos de leitura e representação do mundo (Freire & Macedo, 1987). Seguindo Freire, as
palavras/temas geradores, emergem do diálogo do grupo e refletem as suas realidades
históricas, culturais e sociais.
Como suscitar a conversação e diálogo? Como promover a experiência dialógica (Freire, 1975)?
Dewey (1934) sugere que só a arte permite a experiência (humana), devido ao cunho estético
que ela transporta. A arte convoca a dimensão estética da literacia, facilitando a construção de
um referencial simbólico importante ao pensamento e linguagem. Ao mesmo tempo, a
experiência estética partilhada possibilita transcender o tempo e espaço de um quotidiano
imediato. O envolvimento com a obra de arte e sua significação dá o pretexto para a construção
de uma narrativa/texto de onde as palavras emergem, impregnadas de sentido. As palavras de
Eliot ecoam: “We had the experience but missed the meaning / An approach to the meaning
restores the experience in a different form” (Eliot, 1941).
Da arte às palavras, da fala à escrita, do concreto à representação, da investigação à ação,
assim é o caminho do Ler com Arte.”.
Figure 89 - Ler com Arte - 2012
10
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COZINHA COMUNITÁRIA
Relato Comissão de Bairro
Excerto da carta datada do dia 03 de dezembro à camara municipal de almada
Numa atividade, entreprojetos, por nós desenvolvida no âmbito do projeto fronteiras
urbanas, colaborámos com um workshop de arquitetura da universidade autónoma de
lisboa – noutracosta. deste nasceu uma rede de apoio à ideia da cozinha comunitária.
esta ideia veio maturando ao longo dos anos desde do movimento organização das
mulheres das terras da costa (omt), agora sustentado por um projeto de arquitetura
de autoria do ateliermob e projecto warehouse, os quais podem assegurar todas as
questões técnicas e legais que ao projeto de arquitetura digam respeito. desta rede de
apoio surge ainda o projeto da casa do vapor que cedeu madeiras e equipa de
profissionais para a possível execução do projeto da cozinha comunitária.
Face à criação desta sinergia, entendemos que é chegado o momento de recorrer à
nossa autarquia, não somente para dar a conhecer este processo humano de
colaboração local mas, especialmente, para solicitar a vossa ajuda neste processo.
Figure 90 - Encontro Froteiras Urbanas e Atelier MOB - 2013
Este projeto realçou, ainda mais, a situação de injustiça social vivida pela Comunidade
Bairro – a falta de água. Conforme relato acima, os arquitetos tiveram um papel
fundamental na expansão em outro contexto desta real problemática local. O trabalho
de desabrochar uma ideia local e transformá-la num projeto concretizável foi o maior
trunfo deste EntreProjecto. Atelier MOB e Projeto Warehouse são os atuais
responsáveis pela execução e concretização deste projeto. O projeto Casa do Vapor,
desenvolvido no verão de 2013, doou as madeiras para a execução da mesma. Segue,
abaixo, links para alguns trabalhos realizados neste âmbito.
Trienal de Arquitetura – Crisis Buster – Cozinha Comunitária
Facebook Cozinha Comunitária das Terras da Costa
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OUTRACENA
Figure 91 - Comunidade Bairro - Campo da Bola - 2012
Sílvia Franco
Joana Vieira
O trabalho do Projeto Fronteiras Urbanas tem-se centrado em processos educativos
que se evidenciam ao longo do desenvolvimento de atividades pensadas em
colaboração com os membros da comunidade, tal como a alfabetização de adultos. No
entanto, o processo interativo e dialógico com a comunidade despertou a consciência
de que os jovens desta comunidade carecem de um apoio mais direcionado e
constante que o projeto não tem possibilidade de implementar por si só.
Deste modo, nasce o EntreProjeto Outra Cena, com o objetivo principal de estimular
os jovens na reflexão e na ação para a cidadania; incentivar o respeito e a valorização
inter e intracultural; dinamizar movimentos colaborativos com instituições de cariz
educativo e sociocultural; e promover dinâmicas de envolvimento comunitário com o
espaço envolvente.
Para a consecução dos nossos objetivos, estipulámos seis atividades, Arte Urbana,
Fronteiras Dialogantes e Mediação Comunitária, InArtes, Desvend@r e Bastidores,
criando momentos de diálogo e ação que estimularão um movimento de educação
crítica a desenvolver com e pelos jovens locais. objetivos, estipulámos seis atividades,
Arte Urbana, Fronteiras Dialogantes e Mediação Comunitária, InArtes, Desvend@r e
Bastidores, criando momentos de diálogo e ação que estimularão um movimento de
educação crítica a desenvolver com e pelos jovens locais.
10
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CHICALA
O investigador, doutorando em arquitetura, Paulo Moreira nos apresentou seu
trabalho que está em plena fase de aplicação, num bairro de Angola – Chicala.
Neste excelente trabalho de intervenção, o investigador, acima mencionado, propõe
uma forma de categorização das casas assentadas no Bairro da Chicala, a qual nos
pareceu pertinente estudar para reaplicar em nossa tarefa Cartografia Múltipla. Tal
categorização sugere que as casas, num mapa cartográfico interativo, apresentem-se
com o ano de nascimento dos moradores. Em nossa investigação, adaptamos o
mesmo mapa cartográfico interativo mas com o ano de construção das casas
assentadas nas Terras da Costa – Comunidade Bairro.
Pudemos contar com a experiência do investigador Paulo Moreira, o qual se interessou
pelo nosso estudo e desenvolveu um artigo, em conjunto com o Arquiteto Pedro
Campos Costa – um dos mentores do EntreProjecto Noutra Costa. Tal artigo está
indicado neste relatório, no capítulo Disseminação.
Figure 92 - Paulo Moreira - 2012
Mostras do estudo efetuado por Paulo Moreira, onde nos baseamos:
http://www.estudoprevio.net/artigos/16/paulo-moreira-.-pesquisa-participativa
http://ecultura.sapo.pt/DestaqueCulturalDisplay.aspx?ID=2515&print=1
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DISSEMINAÇÃO
A disseminação do nosso projeto se deu, em harmonia com nossa prática de
investigação, a três vozes. Procuramos, em todas as disseminações, contar com
elementos das três comunidades para cada disseminação efetuada. Face a limitação
financeira e a barreira da língua, em disseminação no exterior contámos apenas com
a presença d e membros da Comunidade Académica. Porém buscámos parceria na
construção das mesmas, obtendo filmes e/ou imagens com o discurso dos membros
das outras duas comunidades. Ressalta-se que em uma das disseminações
internacionais, comunicação oral feita online, obtivemos a preciosa tradução
simultânea de uma das investigadoras Lia Laporta e, neste caso, pudemos contar com
a presença de um membro de cada comunidade local na comunicação. O exercício da
disseminação proporcionou, ainda, maior coesão entre os membros das três
comunidades e fez com que todos nós pudéssemos reorganizar nossas estratégias de
investigação durante nossa etnografia.
PUBLICAÇÕES
LIVRO
!
!
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FRONTEIRAS*
URBANAS!
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IDEOLOGIA!DO!ESPAÇO!
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Textos!sobre!o!conceito!de!fronteiras!urbanas,!complementares!ou!divergentes,!!foram!reunidos!a!partir!
de!um!estudo!etnográfico!critico!na!cidade!da!Costa!de!Caparica!–!Portugal.!!
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8
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FRONTEIRAS*
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IDEOLOGIA!DO!ESPAÇO!
Periferia!
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Poema!de!Ana!Viana!na!
PREFÁCIO!
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FRONTEIRAS*URBANAS!
Mônica(Mesquita(
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Alexandre(Pais(
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FRONTEIRAS!URBANAS!
orelha!do!livro!
Ubiratan(D’Ambrosio((
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TRANS"INTER"MULTI"CULTURALIDADE)–!A"
POESIA'COMO'LUGAR&DE&MEDIAÇÃO!
Ana(Paula!Caetano!
BAIRROS'INVISÍVEIS:'(IN)JUSTIÇA'
ESPACIAL!E"PLANEAMENTO"DO"TERRITÓRIO!
Filipa(Ramalhete(
DA#COSTA#DAS#PESCARIAS#À#COSTA#DE#
CAPARICA!
Francisco(Silva(
!
!
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9
!
! 1!
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!
DA#ETNOGRAFIA#À#ETNOGRAFIA#CRÍTICA:#
MOVIMENTOS)EMANCIPATÓRIOS)NA)
CONSTRUÇÃO*DE*COMUNIDADES!
Isabel(Freire(
!
DIREITOS(DE(ACESSO(E(O(ACESSO(AOS(DIREITOS!
Lia(Laporta!!
TEMPORALIDADES,URBANAS!
!
FRONTEIRAS!URBANAS!
Nuno(Vieira(
Sílvia(Franco(
POSFÁCIO!
José(Pedro(Martins(Barata((
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2!
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Poema!do!!Guilhermer!!
na!orelha!!fiinal!do!livro!
!
DIÁLOGO'ENQUANTO'CATEGORIA'POLÍTICA!
!
!
Poemas!
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Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 - !comunicao-oral/cma1
11
3
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Mesquita, M.; Caetano, A. P.; Ramalhete, F. & François, K. (2012). Anthropology of
Space and the Urban Boundaries: a study centred in the communitarian education. In
Anthropology in the World, Royal Anthropological Institute / British Museum Centre for
Anthropology. 8-10th June 2012.
Mesquita, M; Laporta, L.; Carvalho, D. & Galinho, L. (2013). NO WATER! Real
contradictions among Rights, Survival, an Local Politics through the eyes of
ethnographers from the Urban Boundaries Project. 5th Annual World Town Planning
Day Online Conference. 6th to 7th, November, 2013.
http://www.planningtheworld.net/World_Town_Planning_Day_Online_Conference/Program.html
Mesquita,M. and Carvalho; D. (2013). Educação Comunitária, política local da água e
as Fronteiras Urbanas. In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS.
Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 !comunicao-oral/cma1
Pais, A. and Mesquita, M. (2012). The Urban Boundaries Project: Towards an
emancipatory educational policy. NERA – Northeastern Research Association-40th
Congress, http://www.nfpf.net/, Copenhagen / Denmark.
Pais, A. and Mesquita, M. (2012). Ethnomathematics in non-formal educational
settings: The Urban Boundaries Project. International Congress of Mathematics
Education 12, http://www.icme12.org/, Seoul / Korea.
Pais, A. and Mesquita; M. (2012). Urban Boundaries Project: Mathematics and the
struggle for survival. International Congress of Mathematics Education 12,
http://www.icme12.org/, Seoul / Korea.
Ramalhete, F. and Laporta, L. (2013). Cartografia nas Fronteiras Urbanas:
empoderamento de comunidades locais. In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro
APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 - !comunicao-oral/cma1
Ramalhete, F. and Mesquita, M. (2013). From invisibility to full citizenshio: a bottomup movement for urban rights. In: Conference Rethink Participatory Cultural
Citizenship – Aarhus University, Denmark.
Vassalo, S. and Caetano, A.P. (2013). O director de turma enquanto mediador de
experiências de educação intercultural: a voz do 6ºB. In: Fórum Fronteiras
Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
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Vieira, J. and Franco, S. (2013). Alfabetização Crítica: Vidas e encontros nas
Fronteiras Urbanas. In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade
de Lisboa - Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 - !comunicao-oral/cma1
11
4
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
PALESTRA, WORKSHOP e MESA REDONDA
Almeida, E.; Freire, I. & Franco, S. (2013). (Dinamizadoras). Kriolu, Amílcar Cabral e
Paulo Freire. Círculo de Cultura In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS.
Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho
Barros, R. and Belchior, M. (2013). (Dinamizadoras). Educação Social. Círculo de
Cultura iIn: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31
de Julho
Caetano, A. P. (2013). (Dinamizadora). Amor, cultura e educação: caminhos de
liberdade. Participantes: João Moreira, Mª do Carmo Domite, João Crisóstomo, Miriam
Agostinho, Lucília Valente. Mesa redonda In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro
APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!mesaredonda/c2zq. 01 de Agosto.
Fernandes, F.; Ramos, M. & Sarreira, P. (2013). (Dinamizadores). Água e Direitos
Humanos. Círculo de Cultura In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS.
Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho
Franco, S. (2013). (Organizadora). Batuko: Nos Herança. Convidados: Grupo Nos
Herança. Workshop In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade
de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!workshops/ct67. 30 de Julho
Freire, I. (2013). (Dinamizadora). Movimentos Políticos, Educação e Comunidades:
Emancipação, Transformação e Civilidade. Participantes: Lídio Galinho, Tomás
Patrocínio, Naurides Camargo, João Queiroz, Luísa Teotónio Pereira. Mesa redonda In:
Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa /
Portugal http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!mesaredonda/c2zq. 30 de
Julho.
Galinho, C. and Vieira, J. (2013). (Dinamizadoras). Mulher, Cultura e participação
Activa. Círculo de Cultura In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS.
Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho.
Marques, R. and Pais, A. (2013). (Dinamizadores). Atravessar fantasmas. Círculo de
Cultura In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31
de Julho.
Mesquita, M. and Pacheco, S. (2012). Workshop de Fotografia: Projecto Fronteiras
Urbanas. Centro Comercial dos Pescadores. Sla da Associação A MAR A COSTA. (05 de
Maio).
11
5
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Mesquita, M. & Carvalho, D. (2012). Projeto Fronteiras Urbanas: a dinâmica de
encontros culturais na Educação Comunitária. Semana Aprender – II Encontro de
Educação e Formação de Adultos. Lisboa / Portugal.
Mesquita, M. (2012). EntreProjectos: Urban Boundaries and the Noutra Costa
Workshop. Noutra Costa Workshop. Universidade Autónoma de Lisboa – Architecture
Department.
http://www.universidade-autonoma.pt/Workshop-Noutra-Costap1111.html Lisboa / Portugal. (9 de Novembro).
Mesquita, M. (2013). Urban Boundaries and Love: The emergency of the
Communitarian Education in a transcultural and transdisciplinar movement. The day of
the
Social
Education
Course,
Universidade
do
Algarve
–
ESEC.
http://www.drealg.net/images/programa-ualg-esec2.pdf. Faro / Portugal.
Mesquita, M. (2013). Diá Logos. Participantes: Ubiratan D’Ambrosio, José Pedro
Martins Barata, Paulo Borges, Mª do Carmo Domite e Ana Paula Caetano. In: Fórum
Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!di-logos/c1mkf. 01 de Agosto.
Mesquita, M. (2013). Lisbon Architecture Triennal. Invited speaker at the Real and
Other Fictions - the Universal Declaration of Urban Rights project – theme:
Transparency
and
open
data
(12
de
November).
http://www.closecloser.com/en/programme/the-real-and-other-fictions/the-universal-declaration-ofurban-rights
Mesquita, M.; Galinho, L.; & Carvalho, D. (2013). Ex-Invisíveis: A importância do
Educador (Social) no processo de emancipação, transformação e civilidade. V
Encontro dos Técnicos Superiores em Educador Social – Universidade Católica do
Porto – Associação Promotora de Educação Social (16 de Novembro). Porto / Portugal.
Mesquita, M. and ANONYMAGE. (2013). Workshp de Fotografia e Vídeo: Projeto
Fronteiras Urbanas. Terras da Costa (16 à 16 de Dezembro).
Pedro, M. and Laporta, L. (2013). (Dinamizadores). Pesca: Sustentabilidade e
Sociedade. Círculo de Cultura In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS.
Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho
Pereira, C. (2013). (Organizadora). Tranças Afro. Convidada: Elisãngela Almeida.
Workshop In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa
- Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!workshops/ct67.
30 de Julho
Ramalhete, F. (2013). (Dinamizadora). Espaço, Participação Pública e Fronteiras
Urbanas. Participantes: Durval Carvalho, Mª Cecília de Paula Silva, Madalena
Victorino, Paulo Pardelha, Pedro Campos Costa. Mesa redonda In: Fórum Fronteiras
Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!mesaredonda/c2zq. 31 de Julho.
11
6
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Ramalhete, F. (2013). Lisbon Architecture Triennal. Invited speaker at the Real and
Other Fictions - the Universal Declaration of Urban Rights project (24 de Setembro).
http://www.close-closer.com/en/programme/the-real-and-other-fictions/theuniversal-declaration-of-urban-rights
Santos, M. (2013). (organizadora). Direito de Aprender. Círculo de Cultura In: Fórum
Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!servios-1/c10aa. 31 de Julho
Silva, F. (2013). (Organizador). Rede de Arte Xávega. Convidados: Mário Pedro.
Workshop In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa
- Lisboa / Portugal. http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!workshops/ct67.
30 de Julho
Vieira, J. (2013). (Organizadora). Dança Cigana. Convidados: Grupo Costa de
Caparica – Paula Marques. Workshop In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro
APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!workshops/ct67. 30 de Julho
Vieira, N. (2013). (Organizador). Aprender a tocar Didgeridoo. Convidado: Rodrigo
Viterbo. Workshop In: Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade
de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!workshops/ct67. 30 de Julho
POSTER E OBJECTO DIGITAL
Laporta, L. and Mesquita, M. (2012). Three “Ethnos” at Urban Boundaries Project:
Ethnobiology, Ethnomathematics, Ethnography lived in two local communities. Poster
apresentado no 13th Congress of the International Society of Ethnobiology,
Montpellier / França.
Laporta, L. and Mesquita, M. (2013). E “etnos”: Etnobiologia, Etnomatemática e
Etnografia vivida em duas comunidades locais. Poster apresentado no Fórum
Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!poster-objectodigital/csn2
Pereira, C.; Afonso, S. (2013). Alfabetização em Movimentos Populares: A luta pela
concretização. Objecto Digital apresentado no Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro
APOCOSIS. Universidade de Lisboa - Lisboa / Portugal.
http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013#!poster-objectodigital/csn2
11
7
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
JORNAL FRONTEIRAS URBANAS
O Jornal Fronteiras Urbanas foi pensado em 2012 em conjunto com membros das
comunidades envolvidas no FU, com o objectivo de dar a conhecer o trabalho local
realizados por estas três comunidades. Como não foi contemplado em candidatura,
logo que imprimimos o primeiro número, constatámos que seria impossível fazer
outras edições sem apoio financeiro para o mesmo. No momento da criação da
primeira edição estávamos em plena fase etnográfica e com uma inserção ao campo
de natureza profunda, o que nos impediu de delinearmos a solução para este
obstáculo.
Quando acabámos as fases etnográficas previstas em candidatura, percebemos que as
próprias comunidades solicitavam que permanecêssemos por mais um tempo em
campo e, sendo assim, solicitámos a extensão do FU à Fundação para a Ciência e a
Tecnologia e conseguimos, nesta quarta fase etnográfica – dentro da atividade Escola
do Bairro, trabalhar em novas edições de forma intensa, acompanhando o ritmo desta
atividade. Ressalta-se que os custos dos mesmos foram suportados pelos próprios
investigadores.
Este veículo de disseminação tem se revelado um veículo de mediação e
transformação local, fazendo com que comecem a destacar líderes locais dispostos a
seguirem com este Jornal mesmo quando o FU acabar. Destaca-se a presença
brilhante do poeta local da Comunidade Bairro – Guilherme Brito, que poderão
constatar com seus contributos na terceira e quinta edição deste veículo de
comunicação e que tem sido peça chave na manutenção e continuação do nosso
jornal.
Da segunda edição em diante nota-se, claramente, a participação de colaboradores e
simpatizantes do FU, num movimento convergente e consciente das necessidades,
direitos e deveres das comunidades envolvidas em nossa investigação.
11
8
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Edição 1
Abril 2012
FRONTEIRAS
URBANAS
COMUNIDADES
BAIRRO
PISCATÓRIA
ACADÉMICA
ÁGUA
EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA
VOZ
ENFIM JUNTOS...
...delineando actos, partilhando desejos e discutindo intensões
FRONTEIRAS URBANAS:
A dinâmica de encontros culturais na educação comunitária
SUMÁRIO
O Projecto Fronteiras Urbanas
XVIII, é um dos maiores centros
multiculturais de Portugal e tem
apresenta-se como um movimento
vindo a desenvolver-se centrada em
etnográfico crítico centrado no
desenvolvimento de uma política
duas comunidades de base: a
piscatória e a agrícola. A zona
educativa emancipatória por meio
da observação participante de
costeira da freguesia de Caparica,
designada por Costa, foi
conhecimentos presentes em
desenvolvida por duas companhas
comunidades multiculturais. Este
movimento é fruto da continuação
de pescadores oriundos de Ílhavo e
de Olhão – regiões a Norte e a Sul
de pequenos projectos de
intervenção e de investigação que
de Portugal, respectivamente. A
área de terras na base da Arriba
decorreram em duas comunidades
Fóssil, designada por Terras da
da cidade da Costa de Caparica,
localizada em Portugal, na margem
Costa, foi desenvolvida pela
comunidade agrícola e,
sul do Rio Tejo - margem oposta à
capital Lisboa, tendo como limites
actualmente, encontra-se ocupada
pela população de imigrantes
geográficos o mar e a Arriba Fóssil.
oriundos dos Países de Língua
A Costa de Caparica, cujo
povoamento remonta ao século
Portuguesa, pela comunidade
cigana e por migrantes portugueses.
[1]
11
9
LOGO DO PROJETO
O artista plástico
João Moreira,que
tem estado no
Movimento
Fronteiras Urbanas
desde o seu
início, produziu
esta imagem para
representar o
nosso projecto.
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
FRONTEIRAS URBANAS
Alfabetização Crítica
Histórias de Vida
Cartografia Múltipla
espaços reconhecidos como de
PRETENDEMOS
Este projecto pretende fazer ouvir as
vozes multiculturais, encontradas nessas
duas comunidades locais (Comunidade
Piscatória e Comunidade das Terras da
Costa), por via de uma etnografia crítica.
Este processo de busca e compreensão
nas dimensões intra e intercultural é
essencial para aclarar os processos
educativos desenvolvidos nas
comunidades locais, indo ao encontro
educação, num processo de valorização
do conhecimento centrado na
forma,
reais
organização e gestão de situações
expectativas de se minimizarem
diferenciadas e interactivas de
aprendizagem, que as novas tecnologias
de informação e comunicação não só
iniquidades e violações da dignidade
humana como primeiro passo para a
justiça social.
facilitam como exigem.
Neste modelo curricular, entende-se
currículo de uma forma abrangente
PROPOMOS
como a estratégia de acção educativa,
Assim sendo, o desenho
que possibilita o domínio equitativo de
das necessidades locais definidas pelos
fundamental deste projecto enquadra-se
conhecimentos necessários para uma
seus membros, e para o reconhecimento
na percepção das estratégias da acção
sobrevivência activa e participativa, indo
“simbólico” dessas comunidades pela
educativa dentro dessas duas
além do ler, escrever e contar, através de
sociedade como um todo, com o intuito
comunidades multiculturais, buscando
uma visão crítica dos instrumentos.
de serem percebidas como parte
organizar parâmetros para um currículo
Apresenta-se, assim, uma proposta de
integrante e actuante na diversidade
de educação intercultural assentados na
compreensão do currículo através de
cultural que representam e na
realidade sociocultural e económica
uma observação focada nos
hegemonia urbana em que estão
dessas comunidades.
instrumentos comunicativos (literacia),
inseridas geograficamente.
Duas comunidades locais que se
Propomos o Currículo Trivium,
nos instrumentos analíticos (materacia) e
desenvolvido por Ubiratan D’Ambrosio,
nos instrumentos materiais (tecnoracia).
asseguram pelo comum de serem
na busca de reforçar a cidadania plena
incomuns à sociedade maior na qual co-
nesta época inegável de encontros e
mútuo de investigadores com menos
habitam, e por serem constituídas na
confrontos culturais e de proporcionar
experiência em investigação nesta área
diversidade cultural, vêm manifestar-se
instrumentos de sobrevivência numa
do conhecimento reforça a coerência da
neste projecto como investigadores das
sociedade onde os valores e a ética são
dinâmica de encontros culturais aqui
suas próprias práticas educativas e
conceitos determinantes para este
proposta. Novos investigadores, cada
como construtores activos dos recursos
reforço. Um novo conceito de currículo,
um em seu novo papel, tecem uma rede
e instrumentos que estão na base da
baseado em literacia, materacia e
de perspectivas, intenções,
observação aqui proposta. A intervenção
tecnoracia: (1) faz salientar os
necessidades, acções e produções que
dos membros das comunidades locais
conhecimentos presentes nas
vão fortalecer o carácter interventivo de
em simbiose com as intervenções
comunidades locais, por meio de
cada participante (membros das
dialógicas nos próprios campos de
instrumentos de sobrevivência nos quais
comunidades locais/membros da
acção define uma observação
as dimensões diversidade e globalização
comunidade científica) na sua respectiva
participante.
convergem, explicitando e discutindo as
comunidade, o reconhecimento da
contradições nelas existentes, (2)
nossa igualdade legal e o entendimento
reflexões que até agora têm sido feitas a
garante um currículo global que mantém
de processos educacionais ocultos
nível dos encontros culturais dentro dos
a diversidade cultural, e (3) torna, desta
noutras formas de investigação.
Este projecto surge em resposta às
Neste movimento, um crescimento
INVESTIGADORES
Nuno Vieira
CINEASTA
Mónica Mesquita (IR)
Francisco Silva
Spieel Pacheco
Filipa Ramalhete
Sílvia Franco
Ana Paula Caetano
Lia Laporta
COLABORADORES
João Moreira
Carlos Sequeira
CONSULTORES
Joana Vieira
Isabel Freire
José Pedro Barata
José Castro
Alexandre Pais
Ubiratan D’Ambrosio
Renan Laporta
Alek Rodrigues
FOMENTO
FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E A
TECNOLOGIA
12
0
SUPORTE
APOIO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE DE LISBOA
[2]
ASSOCIAÇÃO A MAR A COSTA
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Edição 2
Nº2 - Outubro 2013 – Edição de Catarina Pereira e Sílvia Franco
COMUNIDADES:
BAIRRO
PISCATÓRIA
ACADÉMICA
ÁGUA
EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA
VOZ
ENFIM JUNTOS...
...delineando atos, partilhando desejos e discutindo intenções
Imagine que vive numa cidade… E não tem água canalizada…
Imagine como seria a sua vida. Como é que faria para tomar
banho, lavar a loiça, lavar a roupa, limpar a casa, preparar
refeições?... E onde iria buscar a água?
Imagine que tem de caminhar por uma estrada de terra
quando quer sair de casa. E ficar com os pés cheios de lama
no Inverno, e cheios de pó no verão. Bem de manhã cedinho,
quando vai para o trabalho. Já imaginou passar o dia inteiro
assim?
Imagine que os seus filhos vão para a escola de manhã sem a
possibilidade de tomar um banho… e que são alvo de repulsa por parte dos coleguinhas e dos professores?
Imagine também aqueles dias em que o universo parece
conspirar contra nós e que tudo corre mal… todos nós temos um dia desses de vez em quando! Imagine que nesse dia, no
caminho para casa, apanha uma enorme chuvada e que fica
encharcado! O que lhe apetece? Chegar a casa, despir a
roupa, tomar um duche quentinho, relaxar e pensar que
amanhã será outro dia, não é? Mas imagine que nesse dia,
antes disso, tem de ir buscar água a uma fonte, carregá-la
uma boa distância, esperar que aqueça no fogão e depois… Tem de poupar essa água para que chegue para tudo o que
precisa…
Parece um pouco cruel, não parece? Como será viver assim?
Nos dias 30, 31 de Julho e 1 de Agosto, deu-se o Encontro
entre as três entidades que dinamizam o Movimento “Água nas Terras da Costa Já!”
A Associação Promotora da Educação Social esteve presente
no Fórum Fronteiras Urbanas - Encontro APOCOSIS 2013, e
conheceu os moradores da Comunidade Terras da Costa, que
vivem dessa forma que é tão difícil de imaginar…
Apesar dos constantes apelos às autoridades locais, mais de
400 pessoas vivem em plena zona urbana sem água
canalizada, nem saneamento básico, há mais de 30 anos.
Os testemunhos na primeira pessoa indignam e revoltam.
“No primeiro dia no Jardim de Infância, quando pediram aos meninos para lavar as mãozinhas, o meu filho começou a
procurar o balde. O meu filho não sabia navegar numa
torneira”
“Eu tenho vergonha quando apanho o autocarro no Inverno.
Tento sempre esconder os pés para as pessoas não verem a
lama…”
Estes são alguns dos testemunhos que se podem ouvir
quando se visita o Bairro. Poderão certamente existir alguns
casos de violência e criminalidade (como infelizmente
acontece em todos os lugares e estratos sociais do nosso país
e do mundo), mas o facto é que somos recebidos por pessoas
encantadoras que nos abrem as suas humildes casas, e nos
mostraram como se “desenvencilham“ no dia-a-dia sem
torneiras.
É difícil ficar indiferente quando se conhece uma realidade
destas, em Portugal, numa zona Urbana! Assim, a APES uniuse em parceria com o Projeto Fronteiras Urbanas, que
trabalha há vários anos com a Comunidade, e com a
Comissão de moradores da Comunidade Terras da Costa, no
sentido de denunciar e dar voz a quem é considerado
invisível.
Poderão também, todos os que considerarem justa a luta por
um direito humano que é negado sem qualquer justificação,
juntar-se a nós, aderindo ao grupo criado no facebook para o
efeito:
Grupo “Água nas Terras da Costa Já!
https://www.facebook.com/groups/208185572672916/
Porque ter conhecimento não basta, é necessário envolvermo-nos e lutarmos juntos, a nível coletivo e a nível individual, para
que se cumpram os Direitos Humanos! Junte-se a nós! Não fique indiferente!
Clara Inácio, APES
12
1
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Educação: um direito para todos!
O Bairro é constituído por mais de 400 pessoas sendo muitas delas jovens! Jovens
que pelas suas mais diversas razões abandonaram os estudos, porém desejam continuar, pois
como todos os jovens da sua idade possuem sonhos, desejos e ambições.
Segundo o Artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem adotada e
proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948:
Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos
graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A
instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior,
está baseada no mérito.
A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade
humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas
liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a
amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as
atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será
ministrada a seus filhos.
Como é afirmado, todo o ser humano tem direito à educação!!! Porém, a luta pela
inserção escolar tem sido um processo bastante complicado. Durante o desenvolvimento do
Projeto Fronteiras Urbanas tomámos conhecimento de que muitos dos jovens presentes na
comunidade desejavam poder voltar a estudar! No entanto, o nível de escolaridade com que
haviam abandonado a escola, bem como as dinâmicas de receção em determinadas
instituições escolares tornavam o retorno bastante complicado.
Todavia os jovens interessados não cruzaram os braços e solicitando o apoio do
Projeto Fronteiras Urbanas procuraram afincadamente uma escola que lhes permitisse voltar
a estudar! Como a esperança é sempre a última a morrer, ao fim de algum tempo de pesquisa
intensiva, encontrámos o Centro de Formação de Setúbal! Este centro demonstrou grande
disponibilidade para aceitar os jovens que detém uma forte vontade de poder voltar a
estudar. Deste modo, alguns jovens já se encontram matriculados neste centro, estando
bastante contentes com o seu desempenho e com elevados projetos para o futuro.
Catarina Pereira
Batuko na
Trienal de Arquitetura
de Lisboa
No dia 28 de setembro de 2013, um
grupo de talentosas senhoras caboverdianas foram à Trienal de
Arquitetura de Lisboa. Foram ao
Palácio de Pombal, na Rua do Século,
no Bairro Alto, em Lisboa, apresentar
uma pequena peça de Batuko, onde
foram recebidas por pessoas de
várias nacionalidades.
Batuko é uma música tradicional de
Cabo Verde em que as pessoas
cantam e dançam, tocando um
pequeno instrumento duro e
barulhento feito pelas mesmas.
Presentemente o Batuko só se
encontra na ilha de Santiago em Cabo
Verde e é no Tarrafal onde se vive
com mais intensidade este género
musical, mas há indícios de que já
existiu em todas as ilhas de Cabo
Verde.
Batuko é sentimento e alegria, é paz
e amor, é tudo o que sentimos
dentro de nós. Quem não sabe o que
é o Batuko, basta parar e escutar e
percebe tudo.
Elisiane Tavares, 10 anos
INVESTIGADORES:
Mônica Mesquita (IR)
Filipa Ramalhete
Ana Paula Caetano
Isabel Freire
Alexandre Pais
Nuno Vieira
Francisco Silva
Sílvia Franco
Lia Laporta
Joana Vieira
12
2
PRODUTOR DE
AUDIOVISUAIS
Vítor Gabriel
CONSULTORES
José Pedro Barata
Ubiratan D’Ambrosio
COLABORADORES
João Moreira
Catarina Pereira
Carlos Sequeira
José Castro
Renan Laporta
Alek Rodrigues
Elisiane Tavares
Clara Inácio
FINANCIADO POR:
SEDIADO EM:
FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA
E TECNOLOGIA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA
UNIVERSIDADE DE LISBOA
APOIADO POR:
ASSOCIAÇÃO ALA-ALA
COMISSÃO DO BAIRRO
TERRAS DA COSTA
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Edição 3
Nº3 - Novembro 2013 – Edição de Catarina Pereira e Sílvia Franco
COMUNIDADES:
BAIRRO
PISCATÓRIA
ACADÉMICA
ÁGUA
EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA
VOZ
ENFIM JUNTOS...
...delineando atos, partilhando desejos e discutindo intenções
novo rumo
Refletir sobre a realidade que nos envolve sempre nos constrange, mas também nos impulsiona a lutar e a aceitar
desafios. Desafios esses que alimentam as nossas histórias e caminhos dentro das nossas comunidades e localidades.
Onde os quês e os porquês perduram, faltando respostas ou obtendo, apenas, respostas insuficientes ou pouco claras,
porém com ou sem esta incógnita fazemos a nossa parte.
Foi neste sentido que compartilhámos, no Parlamento dos Direitos Urbanos, factos, experiências, opiniões,
pensamentos… Cada um se expressou e se fez ouvir. Vozes do silêncio e do anonimato, vozes de confiança, de prudência e de mudança! Não
aceitamos um destino cego! O ideal seria que a justiça de uns
trouxesse consigo a justiça de outros. Queremos olhar olhos nos olhos
e projetar nossas luzes, ignorando as fronteiras do complexo,
desenvolvendo e preenchendo os espaços vazios. Lacunas onde
situações e circunstâncias carecem de melhor atenção, de estruturas e
de recursos essenciais ao bem-estar de cada um.
Do possível ao impossível que haja oportunidades, possibilidades de
potencializar nossas aptidões. Obrigado àqueles que têm feito por
isso, que não encolhem os ombros e levantam a cabeça despertando a consciência de que é hora de acordar.
Continuemos, pois, a abrir poços, porque um dia a água há-de jorrar, água de alegria e de justiça, água que nos faz falta
tanto na pele como no coração. O alvo pode estar longe, mas já o vejo.
Não somos um submarino que se esconde em águas profundas, é na superfície que respiramos melhor, que vimos e
somos avistados sem precisar de acenar, apenas estar naturalmente com equilíbrio, de acordo com a nossa origem,
cultura e identidade. O resto são status, indústrias e interesses… Infelizmente, até com as melhores das intenções,
todos vivemos num sistema conveniente e convincente, para que a transparência não seja demasiado límpida senão,
como nas águas do mar, os peixes fogem e não conseguimos pescar nada.
Damos valor àquilo que podemos ter em consciência da realidade que nos rodeia!
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3
Daniel Miranda
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Durval Carvalho
em entrevista
Saudades do escudo (de Portugal)
Querendo ou não, a minha vida é controlada e dirigida por este nome outrora
desconhecido, “ o Sr. Euro “. Mas afinal como as coisas mudam! No meu tempo chamava-se escudo, era
uma moeda forte, pois, lembro-me que com ele conseguia juntar algum
pecúlio, o meu frigorífico dizia-me para não abarrotar mais. Com ele fiz
muitas coisas boas, e como essas ficaram indelevelmente gravadas no meu
imaginário, então tenho saudades.
Dois magníficos homens chamados Durval e Lídio
foram fazer uma palestra na Universidade
Católica do Porto, falaram da falta de água, da
Alfabetização Crítica e da magnífica cozinha
comunitária que irão construir no Bairro das
Terras da Costa de Caparica.
Tenho saudades da minha conta bancária, das viagens que fazia, o Sr. escudo
nunca me proibiu quase nada já que era melhor ter pouco do que quase nada.
Mas por ironia do destino, ou quiçá, incompetência dos que dirigem os nossos
bolsos, resolveram, sem o meu consentimento, trocar-lhe o nome. E não é
então que passaram a chamá-lo do Sr. euro?
Deram-lhe um nome que ainda muitos não conseguem interiorizar bem.
Graças a ele passo agora carências impensáveis, que não imaginava no tempo
do escudo. Que saudades de ti, meu velho amigo!... Agora com esta crise do
Euro, até os que o defenderam já o querem abandonar! Meu caro inimigo, que
saudade do teu rival, aliás, do meu amigo escudo!
SAUDADES
Anseio o teu regresso
Fico de sentinela
Vou-te dar um nome
Para vergonha da Europa
Não será o euro.
Tenho saudades de ti
O meu frigorífico também
Vou orar que chegues depressa
Que não despeças os teus criadores
Que finjas que o teu nome será eterno.
O teu nome trará um sorriso
O sol brilhará
Esqueceremos a palavra carência
De verdade
Será realidade.
Que saudades de ti
Camarada escudo!
O teu nome será eterno
Para vergonha dos que te abandonaram
Serás chamado benvindo escudo!
Guilherme Brito
INVESTIGADORES:
Mônica Mesquita (IR)
Filipa Ramalhete
Ana Paula Caetano
Isabel Freire
Alexandre Pais
Nuno Vieira
Francisco Silva
Sílvia Franco
Lia Laporta
Joana Vieira
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4
PRODUTOR DE
AUDIOVISUAIS
Vítor Gabriel
CONSULTORES
José Pedro Barata
Ubiratan D’Ambrosio
Durval: Foi um projeto chamado Fronteiras
Urbanas, esse projeto sente um calor
humano, muito interesse, bons contactos e
visibilidade aos seus movimentos e à
necessidade do Bairro.
O Bairro está a pedir um chafariz que é um
bem primordial. Agora na fase 1, dizem estar
numa negociação com a Câmara Municipal de
Almada, mas ainda estão em dúvida. O Bairro
também tem um campo que é para as
crianças conviverem, com isso reapareceu a
ideia, que já tinha surgido há muito tempo, de
fazer um espaço melhor para as crianças
brincarem.
Neste Bairro, existem cerca de 110 casas e
cerca de 450 pessoas e, por isso, acham todos
que a cozinha comunitária dará melhores
condições ao Bairro. Parece que o material
está numa casa chamada Casa do Vapor.
Com essas mudanças, o Bairro irá
transformar-se em algo diferente. O Bairro
acha que esta cozinha comunitária não
servirá só como ajuda para melhorar o Bairro,
como também servirá para assegurar a
alimentação às crianças. Vão nascendo mais e
mais crianças e com isso o Bairro vai tendo
mais alegria.
A cozinha comunitária não servirá só para
conviver como também para alegrar cada dia!
Mónica Brito, 10 anos
COLABORADORES
João Moreira
Catarina Pereira
Carlos Sequeira
José Castro
Renan Laporta
Daniel Miranda
Mónica Brito
Guilherme Brito
FINANCIADO POR:
SEDIADO EM:
FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA
E TECNOLOGIA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA
UNIVERSIDADE DE LISBOA
APOIADO POR:
ASSOCIAÇÃO ALA-ALA
COMISSÃO DO BAIRRO
TERRAS DA COSTA
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Edição 4
Nº4 - Dezembro 2013 – Edição de Catarina Pereira e Sílvia Franco
COMUNIDADES:
BAIRRO
PISCATÓRIA
ACADÉMICA
ÁGUA
EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA
VOZ
ENFIM JUNTOS...
...delineando atos, partilhando desejos e discutindo intenções
Escola do Bairro – Primeiros Passos…
A Escola do Bairro enquanto espaço de partilha sob regime de voluntariado começou a dar
os primeiros passos no dia 1 de Dezembro. Podemos dizer que o mês de Dezembro tem
sido recheado de animação entre professores que são alunos e alunos que são
professores…
As áreas trabalhadas são bastante diversificadas e todas têm tido grande adesão junto dos
membros das comunidades e amigos que, a nós, se têm juntado neste movimento. Da
Música com Lucília Valente, ao Kriolu com Elisângela Almeida, passando pela História com
Francisco Silva (CAA), pela Agricultura Local com Vitória Mendes, pela Ecologia com Lia
Laporta e pela Alfabetização Crítica (Ana Filipa Silva e Sílvia Franco) que continua a trabalhar
graças a um grupo de resistentes senhoras da Comunidade Bairro que não desanimam nem
face ao forte frio que se tem feito sentir.
A Pintura também esteve, mais uma vez, no Bairro com João Moreira e os seus pequenos
pintores. A Matemática fez a sua aparição numa aula onde pequenos e graúdos se
entreajudaram na construção do calendário, com Madalena Santos. O Eduardo Macedo
veio à nossa escola para nos dar algumas indicações para uma boa Fotografia Digital e não é
que a D. Vitória e a D. Alina tiraram umas belas fotografias para registar o momento! Por
entre estas, houve muitas outras conversas sobre Filosofia Política (Mônica Mesquita),
Eletricidade (Nuno Vieira) e Teatro (Lucília Valente e Margarida Belchior). Momentos de
diálogo sobre o que nos preocupa e o que nos faz sonhar, momentos de convívio e
aprendizagens.
O fim de semana de 14 e 15 de Dezembro começou com uma aula de Culinária Caboverdiana (Neuza Semedo). Aprendemos os segredos para cozinhar uma boa cachupa, com a
qual nos pudemos deliciar logo de seguida. Porém a animação, neste sábado, estava só a
começar e as crianças juntaram-se a Miriam Agostinho e a Isabel Gomes para escrever uma
história bem divertida, logo de seguida as equipas de futebol entraram em campo para
terminar o dia. No Domingo, o dia foi dedicado à Poesia (Ana Paula Caetano, João
Crisóstomo e Rita Tavares), ao Kriolu e ao Teatro, para finalizar a semana com muita alegria!
Sílvia Franco
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5
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
“Disse-lhes: segui-me e eu vos farei pescadores de homens” Mt
4, 11
Está próximo o Natal, época em que se celebra o nascimento de Jesus Cristo. Importa
lembrar que os primeiros discípulos escolhidos por Jesus eram pescadores, porquê?
Talvez porque são gente corajosa e sempre disposta a enfrentar desafios
quotidianos, gente que vive do que o mar dá, que colhe sem cultivar. Talvez porque a
sobrevivência do pescador se faz a cada dia, em função dos desígnios da natureza.
Foram pescadores que há trezentos anos atrás povoaram a Costa de Caparica, então
um imenso e inóspito areal, foram pescadores que abriram o primeiro poço,
construíram a primeira igreja e o próprio cemitério, à custa do quinhão que cada
companha pagava pela venda do peixe de cada jornada de pesca. As casas eram de
madeira e quando o mar se revoltava a fome grassava. Os descendentes dos
pioneiros da Costa de Caparica continuam a enfrentar o mar e a viver do que ele dá.
Para além de algumas inovações técnicas que aliviam o esforço físico de remar ou
puxar as redes e os barcos, a faina faz-se de forma tradicional e os métodos de pesca
não serão muito diferentes dos praticados há dois mil anos no mar da Galileia.
Contudo a comunidade piscatória, fundadora da povoação, não beneficiou do
desenvolvimento turístico, económico e urbanístico que contribuí para a elevação da
Costa de Caparica a cidade. Sistematicamente “empurrados” para sul, na periferia do centro turístico, limitados na sua atividade por leis que os impedem de pescar,
quando e onde o seu saber e experiência os aconselha a lançar as redes, sujeitos a
vender o peixe ao preço ditado pelas “regras do mercado”. São apenas algumas das dificuldades que os pescadores da Costa têm de enfrentar, para além das forças e
caprichos da natureza.
Francisco Silva
INVESTIGADORES:
Mônica Mesquita (IR)
Filipa Ramalhete
Ana Paula Caetano
Isabel Freire
Alexandre Pais
Nuno Vieira
Francisco Silva
Sílvia Franco
Lia Laporta
Joana Vieira
12
6
PRODUTOR DE
AUDIOVISUAIS
Vítor Gabriel
CONSULTORES
José Pedro Barata
Ubiratan D’Ambrosio
O Passeio aos Capuchos
No dia 8 de Dezembro, fomos a um
passeio aos Capuchos. Nós fomos
com a Mônica e outros amigos.
Encontrámo-nos no Bairro às 14
horas e partimos.
O Francisco veio do Centro de
Arqueologia de Almada para nos
explicar que, antigamente, o mar
chegava à Arriba. Mostrou-nos
mapas e fotografias da Costa de
Caparica, onde podíamos ver as
Terras da Costa e o nosso Bairro.
Fomos ver a igreja do antigo
Convento
dos
Capuchos
que
pertencia aos frades franciscanos.
Depois de irmos ao miradouro dos
Capuchos, apanhámos pinhas para a
nossa árvore de Natal do Bairro e
voltámos para casa.
O passeio foi divertido e juntou
pessoas adultas e crianças.
Iliana Tavares, 9 anos
COLABORADORES
João Moreira
Catarina Pereira
Carlos Sequeira
José Castro
Renan Laporta
Alek Rodrigues
Iliana Tavares
FINANCIADO POR:
SEDIADO EM:
FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA
E TECNOLOGIA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA
UNIVERSIDADE DE LISBOA
APOIADO POR:
ASSOCIAÇÃO ALA-ALA
COMISSÃO DO BAIRRO
TERRAS DA COSTA
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Edição 5
Nº5 - Dezembro 2013 – Edição de Catarina Pereira e Sílvia Franco
COMUNIDADES:
BAIRRO
PISCATÓRIA
ACADÉMICA
ÁGUA
EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA
VOZ
ENFIM JUNTOS...
...delineando atos, partilhando desejos e discutindo intenções
Os “Monstros” da Costa de Caparica
Espero, não eu, mas a realidade constatada. É evidente que não
existem sistemas perfeitos, por isso aqui também temos todos os
mais nefastos problemas das sociedades ditas “mais avançadas”.
Apenas são “monstros” os que nunca tiveram chances para se mudarem. Quando as pessoas são ostracizadas (condenadas) para o
gueto, pergunto eu: o que fazer? Não defendo nem julgo o sistema,
afinal quem o pode mudar? Mas quando somos rejeitados nas
camionetas por não se sentarem no mesmo assento connosco;
quando dizem que o “preto” cheira mal porque não se lava, pergunto: porque não nos dão a água que Não, não cheiramos mal porque
sabemos carregar de longe a água que não nos dão, por favor, não
nos digam que estamos na Europa! Precisamos (os Portugueses) sim,
mudar as mentalidades, lavá-las, enquanto isto não acontecer, meus
amigos, ficamos para as “calendas gregas”.
queremos pagar?
Quantas vezes não ouvimos esta frase despida de conteúdo lógico: “vai para a tua terra”! Teria miríades de correcções a fazer, mas afinal não sou professor, sou apenas um eterno aluno e aprendiz.
Com esta perspectiva do Bairro de gente boa mas também com suas muitas debilidades, agradecemos (sem citar
nomes) todos os colaboradores que, incansavelmente, dia e noite, ajudaram os moradores e colaboraram com eles.
Só podemos desejar que além deste Bairro, outros também sejam contemplados com a vossa prestimosa visita, quiçá,
mudança de mentalidades. Afinal, meus amigos, não estamos assim tão longe como alguns pensam, podemos sim,
estar longe dos que estão longe da realidade. Se assim for, deixamos um recado: vivemos na Costa de Caparica, nas
Terras da Costa. Puseram-nos uma fronteira, mas nós estamos ao ar livre, gozando da liberdade que a Natureza nos
proporciona.
Penhoradamente,
Os esquecidos das Terras da Costa (Costa de Caparica)
Guilherme Brito
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
CineVan
PORQUE NÃO SE CONHECEM
Olá!
Ecoa no vazio
Uma saudação despida de conteúdo,
Quando se encontram.
Vivem na mesma cidade,
Na mesma rua, no mesmo prédio
E quantas vezes na mesma casa.
Olá!
Esta semana tivemos duas sessões de cinema dentro
da carrinha da Mônica. Vimos “O Rei Leão 3”, que contava a história do Timon e do Pumba desde que o
Simba era pequeno. O filme foi um máximo.
No outro dia, vimos os “102 Dálmatas, que mostrava a história de uma senhora que roubava dálmatas para
fazer casacos. Todas nós adorámos esta sessão.
Olham-se mas não se vêm,
Falam-se mas não se conhecem.
Exalam um “ Olá “,
Como a chaminé que solta um rolo de fumo,
O qual já por si sai tão pouco coeso,
Que se dissipa mal atinge o exterior.
Estudam na mesma escola,
Fazem parte da mesma turma
Passam juntos os tempos livres;
Encontram-se no elevador
Mas, olham-se e não se conhecem
E então apenas dizem “ olá “.
São estranhos que vivem solitários lado a lado.
Gostava de repetir outra vez.
Trocam Prendas…
Porque não são capazes de oferecerem AMOR,
Tem medo
De se olharem nos olhos,
De se sondarem em profundidade,
De porem a descoberto
As suas fraquezas
As suas potencialidades.
Por isso,
Quando se cruzam na rua,
Dizem simplesmente: - “ Olá!”.
Vive cada um
Egoisticamente no seu mundo,
Desejando dominar o universo do outro.
Vivem ombro a ombro
Uma vida voltada para o EU,
Por isso não se conhecem,
E dizem uns aos outros
Simplesmente: - “ Olá! “
Quando ao passarem pela avenida
Tropeçam uns nos outros!
É assim o nosso mundo!
Carla Monteiro, 10 anos
INVESTIGADORES:
Guilherme Brito
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Mônica Mesquita (IR)
Filipa Ramalhete
Ana Paula Caetano
Isabel Freire
Alexandre Pais
Nuno Vieira
Francisco Silva
Sílvia Franco
Lia Laporta
Joana Vieira
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AUDIOVISUAIS
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COLABORADORES
João Moreira
Catarina Pereira
Carlos Sequeira
José Castro
Renan Laporta
Guilherme Brito
Ana Filipa Silva
Romeu Sousa
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COMISSÃO DO BAIRRO
TERRAS DA COSTA
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Edição 6
Nº6 - Janeiro 2014 – Edição de Catarina Pereira e Sílvia Franco
COMUNIDADES:
BAIRRO
PISCATÓRIA
ACADÉMICA
ÁGUA
EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA
VOZ
ENFIM JUNTOS...
...delineando atos, partilhando desejos e discutindo intenções
saber viver … SÓ
Cabe-me a honra de iniciar a escrita neste Jornal, na edição de abertura de um novo ano. Partilho convosco cinco momentos desta
minha experiência.
Quando cheguei à Comunidade Bairro, fui encaminhado para uma zona onde se começava a formar um grupo de senhoras e
meninas. Direcionavam-se para umas cadeiras colocadas em círculo debaixo de um chapéu amarelo… um vulgar chapéu-de-sol –
ainda não sabia que esse chapéu era mágico (isso fui descobrindo ao longo dos meus dias de transformação). Junto dele, está uma
mulher, moradora neste bairro, que me olha e me avalia na curta distância que nos separa. Apresentam-ma. No momento em que
me apresento e que me curvo para a cumprimentar, nesse curto e imediato momento, descobri que esta pessoa é dona de grande
riqueza. É no olhar que se esconde esse tesouro. Na profundidade dos seus olhos castanhos, alberga toda a vida destas famílias, sua
também… todas as tristezas dos que querem poder ter para dar aos filhos, mas também toda a alegria das correrias e brincadeiras
das crianças. Tem a força e o vigor das mães que cedo saem para um trabalho que lhes retira tempo para acompanhar, crescer e
viver com os seus filhos, mas por outro lado, é um trabalho que trás um pouco de esperança…esperança num amanhã diferente…num amanhã melhor. A sua riqueza não ficou só guardada pela ternura do olhar. Está também na força das suas mãos que transformam a terra...que
cuidam dos seus animais… que confortam no desconforto. São mãos que falam e que dançam… são mãos que batukam! Batukam a
alma do seu coração. Vi – de Vitória…ou de Vida – sintetiza no seu ser a essência das gentes das Terras da Costa, a Génese
Humana.
Sob esse Chapéu mágico, o grupinho prepara-se para a leitura. O Chapéu tinha-se transformado numa salinha de aulas. Já no dia
anterior tinha sido uma cozinha, onde se preparou uma saborosa Cachupa – como alguém foi fazendo questão de relembrar.
Agora na aula da leitura, lêem-se momentos de Poesia …por detrás da câmara, focado nos enquadramentos e nos registos aos quais fui convidado a participar, ouço uma voz límpida de cr”rr”iança que carr”rr”ega nos “rr”. A leitura é tão perfeita e harmoniosa, que saltei para outra dimensão, para outra realidade, para outro contexto. Fiquei extremamente feliz. Estava completamente
rendido aos encantos desta comunidade…deste bairro.
Numa das “ocas” mais afastadas da entrada, vivi dois dos momentos mais marcantes desta vivência de 216 horas nas Terras da Costa. Tinha acabado de entrar num estúdio de gravação em pleno momento criativo – o de construção e gravação de uma música.
A qualidade da escrita e o profissionalismo do produtor a controlar e comandar esse som foi tal que, estando no bairro,
instantaneamente senti estar num dos super conceituados estúdios londrinos ou nova-iorquinos! Foi tal o impacto que, numa
questão de segundos, ficou escolhida a música principal que irá “ilustrar” o documentário do Projeto Fronteiras Urbanas.
A Música é como um elemento de união entre os moradores. Nôs Herança diz muito e o Batuku é isso mesmo, a importância de
partilhar e perpetuar as raízes, a cultura… a história do povo. Mas aquela música, feita e produzida no bairro, aquele Hip Hop é a
ponte entre a clausura do bairro e uma possível internacionalização à escala planetária.
Quando tive o convite para subir umas escadas encostadas a uma casa. Aí conheci um “outro” bairro… o bairro visto de outro nível,
a outra perspetiva. Ao caminhar nos telhados… sente-se toda a pulsação do bairro. As ondulações que o meu peso e a deslocação
provocam fazem-me sentir estar no dorso de um ser que respira, que está vivo, que sente como sentem as pessoas que sob ele
vivem. Um ser que se transforma com a mutação do bairro…no telhado o bairro é mais alto…do telhado vêem-se as estrelas e podese sonhar!
Do alto desse pedestal, tive a melhor perceção das distâncias e da forma como esta comunidade vive e interage com o mundo que a
rodeia. Tive o privilégio de conhecer pessoas tão simples e humildes nas suas exigências, que não consciencializam a importância
que têm para a sobrevivência desta comunidade, os transportadores de Água. Pessoas que com um ato simples e rotineiro,
minoram e suavizam a vida amargurada dos que estão subjugados a viver nas Terras da Costa.
Com as palavras de Lídio Galinho proferidas na Fonte da Telha…”poderia ficar aqui, que arranjavam onde ficar e que me davam a melhor refeição” – é este o sentimento que fica e que perdurará. O meu muito obrigado a todos pela partilha do vosso amor.
Romeu Sousa
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Fronteiras Urbanas
O Bairro em Festa!!!
O desafio que a Mônica me colocou de fazer algumas atividades na escola do Bairro
que ajudassem as pessoas a compreender algumas ideias de matemática e a serem
capazes de as usar com mais poder no seu dia-a-dia foi aliciante mas não era fácil.
No dia 22 de dezembro houve uma
grande festa de Natal no bairro.
Houve muita animação, muita música
e estivemos a jogar jogos com a Lia.
Antes do verão, começámos pela análise de folhetos de divulgação de
supermercados com preços e imagens de produtos. Foi um ponto de partida para
falar da presença dos números no nosso dia-a-dia e da estrutura do sistema
numérico.
O dia começou com a aula de
culinária que contou com algumas
pessoas, entre as quais a minha mãe
Paulina, a Sílvia, a Rita, a Neuza, a
Solange, a D. Alina, o Zé e o Vítor que
foi o professor. Aprendemos a
cozinhar Rancho e depois de pronto
foram todos ao ataque à panela.
Todos acharam delicioso o prato e
até quiseram repetir.
Recomeçámos em dezembro e pareceu-me que os calendários podiam ser uma boa
entrada para os números e registos em tabelas. Explorámos calendários de anos
passados e o de 2014. Depois todos construíram o seu próprio calendário de 2014.
Nestas sessões, além das senhoras mais interessadas (a Rita, D. Alina, a D. Vitória, a
D. Lúcia) estiveram presentes algumas crianças de várias idades. Os ritmos e
interesses eram diferentes… mas alguns dos mais pequenos revelaram-se bons
apoios para as pessoas mais velhas e fizeram descobertas e perguntas interessantes:
- os meses não são todos iguais, não começam todos no mesmo dia da semana;
- dizemos ‘daqui a 8 dias’ mas só passam 7 dias!
- porque é que as semanas nuns calendários começam no domingo e noutros na 2ª
feira?
- porque é que um calendário começa em Setembro e acaba em Julho do outro ano?
(era um calendário escolar)...
Depois ao almoço, de repente
apareceu o Pai natal, no carro a
chegar. Tirámos muitas fotos,
divertimo-nos e recebemos uma
caixinha com doces.
E houve outras coisas interessantes também:
- a D. Vitória a construir com muita perseverança o calendário do mês em que fazia
anos – “vai devagar mas com o tempo vai”
- a D. Alina a perguntar o nome de números específicos – “como diz o 1 e o 8?” (o 18)
ou a identificar estratégias para distinguir e fixar o 6 e o 9 (“cabeça para baixo”, “cabeça para riba”), sendo o seu parceiro de interação uma das crianças;
- a D. Lúcia a ser capaz de identificar os números das datas que queria assinalar e a
explicitar uma utilidade que antecipava para o seu calendário - “vai ser bom para marcar as consultas do meu filho”.
Para mim, uma grande aprendizagem que espero continuar!
Madalena Santos
INVESTIGADORES:
Mônica Mesquita (IR)
Filipa Ramalhete
Ana Paula Caetano
Isabel Freire
Alexandre Pais
Nuno Vieira
Francisco Silva
Sílvia Franco
Lia Laporta
Joana Vieira
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0
PRODUTOR DE
AUDIOVISUAIS
Vítor Gabriel
CONSULTORES
José Pedro Barata
Ubiratan D’Ambrosio
A seguir fomos assistir a um concerto
no palco que fizeram no campo de
futebol. O concerto contou com a
participação dos Natur e do Rodrigo
Viterbo que trouxe uns instrumentos
chamados didgeridoo. Ouvimos boa
música até que anoiteceu e todos
fomos para casa.
Mónica Brito, 10 anos
COLABORADORES
João Moreira
Catarina Pereira
Carlos Sequeira
José Castro
Renan Laporta
Alek Rodrigues
Romeu Sousa
Madalena Santos
Mónica Brito
FINANCIADO POR:
SEDIADO EM:
FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA
E TECNOLOGIA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA
UNIVERSIDADE DE LISBOA
APOIADO POR:
ASSOCIAÇÃO ALA-ALA
COMISSÃO DO BAIRRO
TERRAS DA COSTA
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
TESES, DISSERTAÇÃO E PAP
Durante todo o processo do Projeto Fronteiras Urbanas (FU) foram desenvolvidos
trabalhos científicos em diferentes níveis de aprendizagem. Este exercício constatou,
mais uma vez, a flexibilidade e emergência do FU.
Aproximadamente 73% dos investigadores começaram suas funções no FU com um
grau académico inferior, revelando a intensificação de suas potencialidades durante
este processo.
Para além do corpo de investigadores do FU, investigadores e colaboradores atuaram,
e ainda estão atuando, de forma direta no desenvolvimento deste projeto por meio
de suas investigações. Uma das razões da solicitação de extensão do mesmo à
Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
MÔNICA MESQUITA
Ligação: Investigadora
Principal
Grau: Pós-Doutoramento
– em curso
Local: Instituto de
Educação – Universidade
de Lisboa
'
POST%DOC(PROPOSAL(
FIRTS'DRAFT'
Applying'to'FCT'/'Portugal'
'
'
'
MÔNICA'MESQUITA'
JUNE_2012'
'
(
ADVISORS(
(
Local'
Início: Julho de 2013
Bolsa: Fundação para a
Ciência e a Tecnologia
SFRH/BPD/87248/2012
Link: não aplicável
Profª(Drª(Ana(Paula(Caetano'
'
International'
Profº(Drº(Ubiratan(D’Ambrosio''
Profº(Drº(Etienne(Balibar'''
'
________________________________________________________________________________________'
(
(
TITLE(
'
Political'Flow'in'the'Communitarian'Education:'Topological'Ontology'in'the'
Urban'Boundaries'
_______________________________________________________________________________________'
(
(
SUMMARY'150'WORDS'
As principal researcher of the Urban Boundaries Project-UBP
(PTDC/CPE-CED/119695/2010), this post-doctoral proposal is based
on a philosophical analysis of concrete situations experienced, and
still to be experienced, in this project. Such analyses will be found
through critical observations on the political influence in and from
Communitarian Education existing in a community in Costa de
Caparica(Portugal), which is integrated in the UBP, and will deal
with the Concept of Space. In this movement, I propose to walk
within an ontological view, searching the philosophy of praxis
through the concept of Urban Boundaries in a topological sense. The
philosophical approach of this concept, in the state of the
movement here proposed, promotes the possibility of developing a
philosophy of praxis collectively with local stakeholders, focusing on
the local spatial knowledge and its political vicissitudes, and in the
individual practices on the construction of the communitarian
desires – the desire for the common.
Mônica'Mesquita'
13
1
Post/Doctoral'Proposal''
2012'
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ALEXANDRE PAIS
Ligação: Investigador
Grau: Doutoramento
Local: Dinamarca
Defesa: Dinamarca
Conclusão: 2011
Bolsa: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Link: http://vbn.aau.dk/files/71668604/thesis_complete_29NOV.pdf
13
2
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Grau: Pós-Doutoramento
Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa
Conclusão: Setembro 2013
Bolsa: Fundação para a Ciência e a Tecnologia – SRFH/BPD/84789/2012
Link: não aplicável
TITLE
A POLITICAL MAPPING OF A SUBJECT-MATTER EDUCATIONAL RESEARCH FIELD: THE CASE
OF MATHEMATICS EDUCATION
ADVISOR: MÔNICA MESQUITA AND PAOLA VALERO
ABSTRACT (150)
THE EDUCATIONAL SCIENCES ARE GENERALLY CONSTRUED AROUND CONCERNS OF
PROVIDING RESEARCH THAT INFORMS PRACTICES OF LEARNING AND TEACHING IN
FORMAL EDUCATIONAL SETTINGS. THIS RESEARCH SHOWS A PROPENSITY TO EMPHASIZE
THE “TECHNICAL” ASPECTS OF EDUCATION, BEING PRIMARILY CONCERNED WITH
PROVIDING SOLUTIONS TO PRACTICAL PROBLEMS, AND EMPHASIZING CLASSROOM
INTERACTIONS INSTEAD OF BROADER STRUCTURAL ARRANGEMENTS. THIS STUDY, BY
TAKING ADVANTAGE OF CONTEMPORARY PHILOSOPHY AND THROUGH THE ANALYSIS OF
MATHEMATICS EDUCATION AS A PARADIGMATIC CASE OF SUBJECT-MATTER
EDUCATIONAL RESEARCH, SEEKS TO EVINCE HOW A STRICTLY “DIDACTICAL” APPROACH
TO RESEARCH, WITHOUT A CONSIDERATION OF THE POLITICAL FORCES THAT SHAPE THE
TEACHING AND LEARNING CONDITIONS, FALLS SHORT TO PROVIDE AN EFFECTUAL
COMPREHENSION OF THE COMPLEX PROBLEMS EXPERIENCED BY EDUCATIONAL AGENTS.
BY SHOWING HOW SUCH A REDUCTION OPERATES IN MATHEMATICS EDUCATION, THE
STUDY ENDEAVOURS TO CONTRIBUTE FOR A BROADER CRITIQUE OF EXISTING
EDUCATIONAL RESEARCH.
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3
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
LIA LAPORTA
Ligação: Investigadora
Grau: Mestrado
Local: Ghent University
Conclusão: Julho 2012
Bolsa: Erasmus Mundus Master in Marine Biodiversity and Conservation
-
Master Programme in Marine Biodiversity and Conservation
Link:http://www.amazon.co.uk/Marine-Biological-Valuation-Belgian-Coast/dp/3656536732
GHENT UNIVERSITY
FACULTY OF SCIENCE
DEPARTMENT OF BIOLOGY
ACADEMIC YEAR 2011-2012
MARINE BIOLOGICAL VALUATION OF THE BELGIAN COAST
Lia Borges Laporta
Promoter: Prof. Dr. Magda Vincx
Supervisor: Sarah Vanden Eede
Master thesis submitted for the partial fulfillment of the title of
Master of Science in Marine Biodiversity and Conservation
Within the ERASMUS MUNDUS Master Program- EMBC
13
4
European
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
SÍLVIA FRANCO
Grau: Mestrado
Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa
Conclusão: Janeiro 2013
Bolsa: não aplicável
Link: http://hdl.handle.net/10451/8118
UNIVERSIDADE DE LISBOA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
A DIVERSIDADE DIALOGANTE NUM PROCESSO EDUCATIVO
INDÍGENA
OBSERVAÇÕES NUM CURSO DE ETNOMATEMÁTICA
Sílvia Helena Correia Franco
Dissertação orientada
pela Professora Doutora Mônica Mesquita
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Área de Especialização em Educação Intercultural
2012
13
5
1
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
JOANA VIEIRA
Ligação: Investigadora
Grau: Mestrado
Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa
Conclusão: Janeiro 2013
Bolsa: não aplicável
Link: http://hdl.handle.net/10451/8036
2012
UNIVERSIDADE DE LISBOA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
Viagem
entre Ser e Estar como Educadora
em Moçambique
Joana Rita Barral Lopes Vieira
Dissertação orientada pela Professora Doutora Mônica Maria Borges Mesquita
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
2012
2
13
6
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
NUNO VIEIRA
Grau: Doutoramento
Local: Instituto de Educação – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia
Conclusão: Julho 2013
Bolsa: não aplicável
Link: não aplicável
NUNO MIGUEL CARDOSO VIEIRA
OS TEMPOS QUE O TEMPO TEM:
O CONHECIMENTO TRIVIUM DOS PROFESSORES DE
MATEMÁTICA EM PERÍODO DE MUDANÇA
Tese apresentada para obtenção do grau de Doutor em
Educação no Curso de Doutoramento em Educação, conferido
pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Orientador: Professor Doutor Emérito Ubiratan D’Ambrosio.
Co-orientadora: Professora Doutora Rosa Serradas Duarte.
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Instituto de Educação
Lisboa
2013
13
7
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
CATARINA PEREIRA
Ligação: Investigadora Colaboradora
Grau: Mestrado
Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa
Conclusão: Janeiro 2014
Bolsa: não aplicável
Link: Defesa pública prevista para 27 de janeiro de 2014, 17h.
UNIVERSIDADE DE LISBOA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
!
Círculos de Cultura no Projeto Fronteiras Urbanas:
Um olhar sobre a visão do outro.
Catarina Maria Estrela Farinha do Carvalhal Pereira
Relatório final de estágio orientado pela
Professora Doutora Mônica Maria Borges Mesquita
Mestrado em Ciências da Educação
2013
13
8
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
JOSÉ LINHARES
Ligação: Investigador Colaborador - Brasil
Grau: Pós-Doutoramento – em curso
Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa
Início: Janeiro 2014
Bolsa: não aplicável
Link: não aplicável
PLANO DE TRABALHO PÓS-DOUTORAMENTO
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
NOME:
José Roberto Linhares de Mattos
INSTITUIÇÃO DE ORIGEM:
Universidade Federal Fluminense, Brasil.
Instituto de Matemática e Estatística
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil.
Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola.
EMAIL:
[email protected]
CURRÍCULO:
http://lattes.cnpq.br/1508772914490157
INSTITUIÇÃO DE DESTINO:
Universidade de Lisboa, Portugal.
Instituto de Educação.
ORIENTADOR:
A definir.
COORDENADOR PROJETO LOCAL:
Profa. Dra. Mônica Mesquita
TÍTULO:
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA EM AMBIENTES MULTICULTURAIS
PERÍODO DE REALIZAÇÃO:
De 10 de Janeiro de 2014 a 10 de julho de 2014.
13
9
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ANA FILIPA
Ligação: Investigadora Colaboradora
Grau: Mestrado – em curso
Local: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa
Início: Setembro 2013
Bolsa: não aplicável
Link: não aplicável
UNIVERSIDADE DE LISBOA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
!
!
!
!
!
!
Escola do Bairro: Partilha Transdisciplinar e Transcultural
num contexto voluntário
Ana Filipa Sobrado e Silva
Pré-Relatório de Estagio
!
!
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Área de especialização Educação Intercultural
2013
14
0
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ALINE CONRADO
Ligação: Investigadora Colaboradora
Grau: Licenciatura
Local: Faculdade de Letras – Universidade de Lisboa
Início: Janeiro 2014
Bolsa: não aplicável
Link: não aplicável
ALINE DE OLIVEIRA CONRADO
ÁNALISE DO DISCURSO: COMUNIDADE BAIRRO, COSTA
DA CAPARICA
Projeto de Pesquisa apresentado à disciplina de
Monografia, do Curso de Letras da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE –
campus de Cascavel.
Orientador: Profª. Drª. Alexandre Sebastião
Ferrari.
Linha de Pesquisa: Ánalise do discurso.
LISBOA – PT
2014
14
1
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
RENAN LAPORTA
Colaborador de Media
Grau: Secundário
Local: Escola Profissional de Imagem
Início: Janeiro 2014
Bolsa: não aplicável
Link: não aplicável
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2
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ENCONTROS
Relatamos os encontros no momento da disseminação por entendermos que estes
foram focos importantíssimos para disseminação do Projeto Fronteiras Urbanas (FU).
Todos nossos encontros foram abertos a membros externos. Firmamos neste relatório
que todos os nossos encontros servirão de polos de formação contínua a todos os
membros envolvidos no FU.
ENCONTRO MENSAL
O Projeto Fronteiras Urbanas (FU) realizou quatro encontros mensais assim que a
equipa de investigadores tomou consciência da aprovação da candidatura submetida à
Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Tais encontros ocorreram nos meses
de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro de 2011 e não estavam previstos em
sede de candidatura. Relatamos que foram de suma importância tanto para nosso
entendimento etnográfico como para discussões teóricas. Estes encontros
alimentaram a afetividade e confianças entre os membros da Comunidade Académica
e os líderes das comunidades envolvidas.
Figure 95 – 1ª Reunião Mensal Fronteiras Urbanas –
Set/11
Figure 94 - 3ª Reunião Mensal Fronteiras Urbanas Nov/11
Figure 93 - 2ª Reunião Mensal Fronteiras Urbanas - Out/11
14
3
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ENCONTRO BIMESTRAL
O Projeto Fronteiras Urbanas (FU) realizou doze encontros bimestrais (a cada dois
meses) conforme previsto em candidatura. O primeiro encontro realizou-se em
Fevereiro de 2012.
Relatamos que estes encontros serviram de momentos de discussão teórica que
abarcavam nossas práticas etnográficas e a teoria dialógica presente na mesma.
Procuramos sempre ter presente pelo menos um dos membros de cada comunidade
envolvida, bem como o nosso dinamizador comunitário Euclides Fernandes em todos
os encontros bimestrais. Para além dessas presenças contámos com os produtores do
curta-metragem e colaboradores externos em alguns destes encontros.
Figure 96 - 2ª Reunião Bimestral Fronteiras Urbanas Abr/12
Figure 97 - 1ª Reunião Bimestral Fronteiras Urbanas Fev/12
Figure 98 - Modelo Pensado a partir da 5ª Reunião Bimestral do Fronteiras Urbanas - Out/12
14
4
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ENCONTRO DE PARES
O Projeto Fronteiras Urbanas (FU) realizou muitos encontros de pares, subdivididos
pelas três tarefas previstas em sede candidatura: Alfabetização Crítica, Cartografia
Múltipla e Histórias de Vida, bem como outras duas equipas internas: Documentário e
Quadro Teórico Dialógico.
Estes encontros foram de extrema importância para o aprofundamento teórico
específico de cada tarefa bem como para a gestão do seu desenvolvimento. Nestes
momentos, que foram muitos, buscávamos o diálogo interno entre os membros da
comunidade académica alicerçados pelo discurso local de membros das duas
comunidades envolvidas. Quando necessário, convidámos membros externos com o
objectivo de interagirmos com experiências/teorias novas que alicerçassem as
estratégias de ação às problemáticas em questão.
Figure 99 - Reunião de Pares - Cartografia Múltipla - UAL - Maio/12
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5
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
ENCONTROS ANUAIS
O Projeto Fronteiras Urbanas (FU) realizou dois encontros anuais conforme previsto
em candidatura. O primeiro encontro realizou-se internamente em 2012, o qual
denominámos Conferência Interna. O segundo encontro realizou-se abertamente em
2013, o qual denominamos Fórum Fronteiras Urbanas /Encontro APOCOSIS.
Em candidatura não foi previsto nenhuma verba para fomentar estes encontros,
prevendo, apenas, o suporte para a vinda do consultor internacional. Ressalta-se,
aqui, que no primeiro encontro foi sentida a necessidade de buscar junto aos
investigadores apoio para a realização do mesmo. Porém, dada a magnitude do
segundo encontro, ressalta-se a extrema dificuldade sentida para o concretizar. Neste
sentido, foi solicitada a parceria de uma associação sem fins lucrativos que,
paralelamente, desenvolve estudos muito próximo do FU no âmbito do
desenvolvimento humano, equidade e ética.
A Associação Portuguesa da
Complexidade Sistémica – APOCOSIS, de imediato nos respondeu favoravelmente, o
que proporcionou a viabilidade do evento. Agradecemos publicamente a pronta
aceitação e, especialmente, todo o processo colaborativo.
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6
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
2012 CONFERÊNCIA INTERNA
A Conferência Interna do FU decorreu nos dias 06, 07 e 08 de Setembro de 2012.
Contámos com a presença dos consultores, dos investigadores, voluntários de media e
arte, mediador comunitário, bem como um membro de cada comunidade envolvida no
FU.
Para este evento não foi desenvolvido nenhum site, logo seguem, abaixo, detalhes do
mesmo.
PROGRAMA
Universidade de Lisboa
Instituto de Educação
Alameda da Universidade
1649-013 Lisboa
Telefone | 21 794 36 33
Fax | 00351 21 793 34 08
Correio Electrónico | geral @ ie.ul.pt
Sítio | http://www.ie.ul.pt
Projeto
Fronteiras Urbanas
Fundação para a Ciência e a Tecnologia
PTDC/CPE-CED/119695/2010
ENCONTRO ANNUAL CONSULTORES
DATA
6, 7 e 8
Setembro
2012
CONSULTORES
Ubiratan D’Ambrosio
José Pedro Martins Barata
INVESTIGADORA RESPONSÁVEL
Mônica Mesquita
MEDIADOR COMUNITÁRIO
Euclides Fernandes
INVESTIGADORES
Filipa Ramalhete
Ana Paula Caetano
Isabel Freire
Alexandre Pais
Nuno Vieira
Francisco Silva
Silvia Franco
Lia Laporta
INVESTIGADOR BOLSEIRO
Carlos Sequeira
INVESTIGADOR VOLUNTÁRIO
José Caldas
Joana Vieira
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7
LÍDERES COMUNITÁRIOS
Durval Carvalho
Lídio Galinha
VOLUNTÁRIOS MEDIA
Renan Laporta
Kelly Silva
VOLUNTÁRIO ARTES
João Moreira
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
2
DIA06
CONSULTORES
INVESTIGADORES
MEDIADOR COMUNITÁRIO
LÍDERES COMUNITÁRIOS
VOLUNTÁRIOS
Tópico A
Apresentador: :Mônica
ror:
Mesquita e João Moreira
Horário: 10 h
Discussão: Estado da Arte e Historiografia - Projeto Fronteiras Urbanas, suas gentes, seus espaços e tempos
Tempo: 45 minutos
Recurso: PowerPoint, Filme e Flash
Objectivo: Dar a conhecer como e quando começou a nascer o Projeto Fronteiras Urbanas e partilhar o atual estado da arte
numa visão global.
Outras Informações: Disponível na Plataforma
Tópico B
Pessoas Responsáveis: Mônica Mesquita e
João Moreira
Apresentador: Lia laporta
Deadline: 23 Agosto
Horário: 11:15 h
Discussão: Metadados
Tempo: 15 minutos
Recurso: Power Point
Objectivo: Dar a conhecer como e onde estão sendo armazenados os dados etnográficos do Projeto Fronteiras Urbanas
Outras Informações: Disponível na Plataforma
Pessoa Responsável: Lia Laporta
Deadline: 23 Agosto
Café
Tempo de duração: 15 min
Tópico C
Apresentador: :Francisco
ror:
Silva, Nuno Vieira, Lídio Galinha e Durval Carvalho
Horário: 11:30 h
Discussão: Histórias de Vida
Tempo: 90 minutos
Recurso: PowerPoint e Depoimentos dos Líderes Comunitários
Objectivo: Apresentar a proposta da atividade Histórias de Vida no âmbito do Projeto Fronteiras Urbanas, seu desenvolvimento
e historiografia
Outras Informações: Disponível na Plataforma
Pessoas Responsáveis: Nuno Vieira,
Francisco Silva e Mônica Mesquita
Almoço
Tempo de duração:1h e 30min
14
8
Deadline: 23 Agosto
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
3
Tópico D
Apresentador: :Sílvia
ror: Franco e Joana Vieira
Horário: 14:30 h
Discussão: Alfabetização Crítica
Contributo Joana com Alfabetização Crítica em Quelimane - Moçambique
Tempo: 45 minutos
Recurso: PowerPoint e Filme
Objectivo: Apresentar a proposta da atividade Alfabetização Crítica no âmbito do Projeto Fronteiras Urbanas, seu
desenvolvimento e historiografia
Outras Informações: Disponível na Plataforma
Tópico E
Pessoas Responsáveis: Silvia Franco, Joana Deadline: 23 Agosto
Vieira e Mônica Mesquita
Apresentador: :Filipa
ror: Ramalhete, Carlos Sequeira e Lia Laporta
Horário: 15:15 h
Discussão: Cartografia Múltipla
Tempo: 45 minutos
Recurso: Powerpoint, Mapas e Maquetes
Objectivo: Apresentar a proposta da atividade Cartografia Múltipla no âmbito do Projeto Fronteiras Urbanas, seu
desenvolvimento e historiografia
Outras Informações: Disponível na Plataforma
Pessoas Responsáveis: Filipa Ramalhete,
Lia Laporta e Carlos Sequeira
Deadline: 23 Agosto
Café
Tempo de duração: 15min
Tópico E
Apresentador: :Ana
ror: Paula e Isabel Freire
Horário: 16:15 h
Discussão: Mediação Comunitária: do quadro teórico proposto à realidade local
Tempo: 45 minutos
Recurso: Power Point
Objectivo: Partilhar a visão do conceito Mediação, proposto no desenho inicial do projeto e o diálogo do mesmo em contacto
com a prática etnográfica vivenciada na primeira fase da etnografia proposta no mesmo.
Outras Informações: Disponível na Plataforma
Tópico F
Pessoas Responsáveis: Ana Paula e Isabel
Freire
Apresentador: :Euclides
ror:
Fernandes
Deadline: 23 Agosto
Horário: 17:00 h
Discussão: Técnicas de partilha: um carisma da etnomatemática
Tempo: 30 minutos
Recurso: Power Point
Objectivo: Ouvir a voz do mediador comunitário, sentir as experiências do mesmo e tomar consciência da visão global dos
efeitos locais do Projeto Fronteiras Urbanas.
Outras Informações: Disponível na Plataforma
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9
Pessoas Responsável: Euclides Fernandes
e Mônica Mesquita
Deadline: 23 Agosto
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
4
DIA 07
CONSULTORES
INVESTIGADORES
MEDIADOR COMUNITÁRIO
LÍDERES COMUNITÁRIOS
VOLUNTÁRIOS MEDIA
Tópico G
Apresentador: :Francisco
ror:
Silva e Lídio Galinha
Horário: 11:00 h
Discussão: Comunidade Piscatória
Tempo: 02 horas
Recurso: Caminhada a pé
Objectivo: Conhecer a Comunidade Piscatória em seu local
Outras Informações: Disponível na Plataforma
Pessoas Responsáveis: Lídio Galinha,
Euclides Fernandes e Francisco Silva
Deadline: 23 Agosto
Almoço
Tempo de duração: 2h
Tópico Sobremesa
Apresentador: :Alexandre
ror:
Pais
Horário: 14:30 h
Discussão: Etnomatemática e Complexidade na Educação Comunitária
Tempo: 30 minutos
Recurso: Oral
Objectivo: Trazer o pensamento teórico cerne do desenvolvimento do Projeto Fronteiras Urbanas
Outras Informações: Disponível na Plataforma
Tópico H
Pessoas Responsáveis: Alexandre Pais
Apresentador: :Comunidade
ror:
Bairro
Deadline: 23 Agosto
Horário: 15:00 h
Discussão: Visita Local
Tempo: 02 horas
Recurso: Caminhada a pé
Objectivo: Conhecer a Comunidade Bairro em seu local
Outras Informações: Disponível na Plataforma
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0
Pessoa Responsáveis: Durval Carvalho,
Euclides Fernandes e Mônica Mesquita
Deadline: 23 Agosto
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
5
DIA 08
CONSULTORES
INVESTIGADORES
MEDIADOR COMUNITÁRIO
VOLUNTÁRIOS MEDIA
Tópico I
Apresentador: :José
ror: Pedro Martins Barata
Horário: 10:00 h
Discussão: Complexidade e Espaços Urbanos
Tempo: 01hora
Recurso:
Objectivo: Difusão dos conceitos Complexidades e Espaços Urbanos, alicerces do quadro teórico do Projeto Fronteiras Urbanas
e apreciação do estado da arte do mesmo.
Outras Informações: Disponível na Plataforma após
o evento
Tópico J
Pessoa Responsável: José Barata
Apresentador: :Ubiratan
ror:
D’Ambrosio
Deadline: -
Horário: 11:00 h
Discussão: Etnomatemática e Educação Comunitária
Tempo: 01 hora
Recurso:
Objectivo: Difusão os conceitos Etnomatemática e Educação Comunitária, alicerces do quadro teórico do Projeto Fronteiras
Urbanas e apreciação do estado da arte do mesmo.
Outras Informações: Disponível na Plataforma após
o evento
Pessoa Responsável: Ubiratan D’Ambrosio
Deadline: -
Lanche
Tempo de duração: 30 min
Tópico Amor
Mediadora: :Mônica
ror:
Mesquita
Horário: 12:30 h
Discussão: Momento de Diálogo
Tempo: 1 hora
Recurso: Oral
Objectivo: Discussão sobre as linhas teóricas do Projecto Fronteiras Urbanas e apreciação da etnografia aplicada.
Outras Informações: Disponível na Plataforma
15
1
Pessoa Responsável: Equipa
Investigadores
Deadline: -
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
APRESENTAÇÕES
As apresentações, abaixo indicadas, estão dispostas na ordem de apresentação da
Conferência Interna e estão disponibilizadas, na íntegra, no site do projeto.
1. Estado da Arte e Historiografia - Projeto Fronteiras Urbanas, suas gentes, seus
espaços e tempos
Mônica Mesquita e João Moreira
2. Metadados
Lia Laporta
3. Histórias de Vida
Francisco Silva, Nuno Vieira, Lídio Galinho e Durval Carvalho
4. Alfabetização Crítica
Sílvia Franco e Joana Vieira
5. Cartografia Múltipla
Filipa ramalhete, Carlos Sequeira e Lia Laporta
6. Mediação Comunitária: do quadro teórico proposto à realidade local
Ana Paula Caetano e Isabel Freire
7. Técnicas de Partilha: um carisma da Etnomatemática
Euclides Fernandes
8. Comunidade Piscatória
Francisco Silva e Lídio Galinho
9. Etnomatemática e Complexidade na Educação Comunitária
Alexandre Pais
10. Complexidade e Espaços Urbanos
José Pedro Roque Gameiro Martins Barata
11. Etnomatemática e Educação Comunitária
Ubiratan D’Ambrosio
15
2
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Esta conferência foi de suma importância para sistematizar os dados estudados e
vivenciados ao longo dos primeiros nove meses de projeto. Neste encontro pôde-se
discutir, atentamente, os momentos etnográficos em conjunto com os consultores, o
que nos proporcionou profundos momentos de reflexão.
A presença dos voluntários, bem como do mediador comunitário e dos dois membros
das comunidades envolvidas, foi de extrema importância para que os mesmos
experimentassem a sistematização do estado da arte da investigação.
Ressalta-se que o dia dedicado à visita nas comunidades envolventes foi de forte
apreço por parte dos consultores e dos membros das comunidades que não estavam
presentes na Conferência Interna.
Abaixo, seguem os relatórios dos consultores desenvolvidos após a Conferência
Interna.
15
3
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
RELATÓRIOS DOS CONSULTORES
ARQUITETO JOSÉ PEDRO ROQUE GAMEIRO MARTINS BARATA
15
4
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
PROFESSOR DOUTOR UBIRATAN D’AMBROSIO
ETNOMATEMÁTICA e EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA1
Ubiratan D’Ambrosio
[email protected]
A tese de doutoramento de Mônica Maria Borges Mesquita, intitulada
Children, Space, and the Urban Street: An Ethnomathematics Posture,
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa,
2008, foi a análise das FRONTEIRAS URBANAS na cidade de São Paulo.
Nessa tese estão as bases conceituais do Projeto Fronteiras Urbanas.
Como resultado de uma urbanização não planejada e crescimento
demográfico imprevisível, uma parte da população vive nas ruas.
A maneira como centros urbanos são concebidos, planejados e
executados são uma das fontes mais importantes da História das
Ciências e da Tecnologia, portanto da Matemática.
A urbanização reflete a organização de espaço e de tempo,
particularmente a sacralização de espaço e tempo.
A realidade de um crescimento não planejado é ilustrado pela cidade de Laranjal
do Jari, Amapá. Brasil. A cidade é resultado de um projeto de colonização do
bilionário Daniel Ludwig (1897-1992), que em 1967, decidiu construir o que
seria a maior fábrica de papel do mundo, na Floresta Amazônica, com
uma área de cerca de 15.000 km². Foi o Projeto Jari.
Os trabalhadores foram alojados em barracos construídos sobre
palafitas nas margens do Rio Jari. Assim nasceu a cidade de Laranjal do
Jari, hoje com carca de 50.000 habitantes. Essa comunidade urbana foi
tema de pesquisa de Sonia M. Clareto, para seu doutorado: Terceiras
Margens: Um Estudo Etnomatemático de Espacialidade em Laranjal do
Jari, AP, at UNESP, Rio Claro, 2003.
Essa realidade deve ser parte integrante dos estudos, reflexões e
análise dos estudantes da comunidade.
Um exercício etnomatemático importante para essa análise é pedir aos
alunos para descreverem, cartograficamente, seu espaço urbano.
1
PROJETO FRONTEIRAS URBANAS, Vila de Caparica, Fundação para a Ciência e
Tecnologia, Encontro Anual com Consultores, Lisboa, 6 a 8 de setembro de 2012.
1
15
5
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
A realidade dessa comunidade é impregnada de VIOLÊNCIA em muitos
sentidos. O ponto de partida para uma Educação Comunitária deve ser
uma reflexão sobre VOLÊNCIA.
UM CONCEITO AMPLO DE VIOLÊNCIA.
Conceituo VIOLÊNCIA como um comportamento que causa dano físico
ou moral a outra pessoa, a seres vivos e a objetos, materiais ou
mentais. O dano físico ou moral se manifesta no encontro entre nações
e grupos, na sociedade em geral e nas famílias, nas escolas, no
trabalho, nos espaços de lazer e de comunhão, na rotina do cotidiano.
A violência tem como conseqüência o ato de MATAR, física e
moralmente, e como resultado o FANATISMO, nas suas várias
roupagens.
O CENTER FOR GLOBAL NONKILLING http://www.nonkilling.org/node
propõe medidas para combater a violência. A Escola de Estudos sobre
Não-matar oferece ideias sobre como ensinar e praticar as várias
disciplinas com o objetivo de não-matar. Um dos exemplos de trabalho
produzido na Escola é uma reflexão sobre a matemática.2
O dano físico é resultado de um comportamento que emprega força ou
instrumentos, geralmente armamentos, que causam destruição material
e lesões corporais, às vezes irreversíveis. Essa é uma
forma de interromper a vida, isto é, de MATAR.
Estendo o conceito de matar para incluir o dano moral que retira a autoestima, a dignidade, a vontade, a criatividade de indivíduos, de
comunidades, de grupos étnicos, raciais ou religiosos. O resultado é a
intimidação, a exclusão ou mesmo anulação de indivíduos e de grupos, o
que é uma forma de MATAR.
O dano moral é resultado de um comportamento empregando
comunicação, particularmente linguagem e gestos, na forma de
patrulhamento ideológico, muito comum nos ambientes gremiais, de
bullying (≈ agressão verbal ou física, assédio,
intimidação , manipulação, coação), de pressões e avaliações por pares
e de certo tipo de humor, uma forma sutil de bullying.
Retirar a auto-estima, a dignidade, a vontade, a criatividade de
indivíduos, de comunidades, de grupos resulta na aceitação de
2
http://en.wikiversity.org/wiki/Nonkilling_Mathematics
2
15
6
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
uma condição de conformismo e até de submissão total. Indivíduos,
comunidades e grupos deixam de ser livres, sendo apenas
capazes de obedecer ordens e instruções, sem exercer qualquer juízo
crítico. É o que chamamos FANATISMO.
É muito grave e fazem parte da história da humanidade a VIOLÊNCIA
INDIVIDUAL, mas também a VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL ( isto é,
grupos organizados de indivíduos que exercem violência sob a cobertura
“oficial” e “legal”), levando ao abuso ambiental, ao abuso social,
eliminando indivíduos e grupos de indivíduos (como ssociações gremiais,
grupos comportamentais, étnicos, raciais e religiosos) e até
comunidades e nações.
A prática da violência, seja indivídual ou institucionalizada, conduz a
abusos e degradação ambiental, abusos e injustiça social , submetendo
indivíduos, famílias e comunidades a condições insuportáveis de vida,
levando a comportamentos psicopáticos, recurso a drogas e suicídio, e
até à guerra, causando a destruição de vidas, de patrimônio e mesmo
chegando ao genocídio no sentido amplo.
MATAR significa causar danos físicos e morais, no sentido amplo.
Os danos físicos e morais resultam de VIOLÊNCIA, que é a negação da
PAZ, nas suas várias dimensões.
A sobrevivência da civilização depende de se atingir o estado de PAZ TOTAL. O
conceito de PAZ TOTAL é contemplar a PAZ nas suas várias dimensões:
● PAZ INDIVIDUAL (ou INTERIOR),
● PAZ SOCIAL,
● PAZ AMBIENTAL ,
● PAZ MILITAR.
Buscar a PAZ TOTAL é o grande objetivo de rejeitar a violência e de
praticar o NÃO MATAR.
A história nos ensina que a matemática, que tanto serviu para matar,
pode ser uma excelente estratégia para se atingir uma relação social do
não-matar. Mas não apenas a matemática praticada na academia, mas
também a matemática praticada pelo povo, não apreendidas nas
escolas, as chamadas ETNOMATEMÁTICAS.
O PROGRAMA ETNOMATEMÁTICA.
As etnomatemáticas são são estratégias do povo (“sociedade invisível”)
para sobreviver (lidar com o cotidiano) e para transcender (explicar
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fatos, fenômenos e mistérios). O Programa Etnomatemática é a
teorização dessas estratégias.
Há inúmeras etnomatemáticas. Cada uma é praticada, de forma
diferente, por grupos culturalmente identificados (profissionais,
trabalhadores, jogadores, crianças brincando, grupos étnicos). É uma
forma de conhecimento explicado em linguagem comum, sem
formalismo próprio, e transmitido por uma pedagogia similar a do
ensino mestre→aprendiz no artesanato. São aceitas porque funcionam
na situação específica.
Como são várias etnomatemáticas, cada uma apropriada a um grupo,
todas devem ser respeitadas como servindo ao outro, mesmo que não
me sirva. A prática da etnomatemática depende, portanto, de uma ética
de RESPEITO pelo diferente.
A etnomatemática depende de reconhecer comportamento e conhecimento com
uma visão transdisciplinar, transcultural e holística. Comportamento e
conhecimento são estratégias desenvolvidas pela espécie humana como
estratégias para SOBREVIVER e TRANSCENDER.
Sobreviver é a satisfação das necessidades materiais para se manter
vivo e dar continuidade à espécie, o que deve ser realizado aqui e agora
(comum a todas as espécies), e transcender é perguntar sobre onde
(além do aqui) e sobre quando (além do agora, perguntando antes e
depois), é ir além das necessidades materiais e da própria sobrevivência
do indivíduo e da espécie.
COMO PRATICAR ESSE PROGRAMA NO SISTEMA ESCOLAR?
Em primeiro lugar, questionando quais fatores influenciam a educação e
propondo uma nova conceituação de currículo.
Defino currículo como o conjunto de estratégias para se atingir as metas
maiores da educação. Tradicionalmente, reconhecve-se como
componentes solidários do currículo os objetivos, os conteúdos e os
métodos. Essa solidariedade é cartesiana.
Minha proposta de reconceituar currículo é organizar a prática
educacional em duas vertentes:
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● a vertente formativa, que mais se aproxima do ensinar, no
sentido tradicional;
● a vertente informativa, que reconhece o fato que as mídia,
como por exemplo o rádio, o cinema, a televisão, os meios
digitais, são responsáveis pela difusão atualizada da
informação.
A vertente formativa é a essência de um novo conceito de currículo,
baseado não na transmissão de conteúdos disciplinares programados,
mas no fornecimento, aos alunos, de competências para acessar,
socializar e ampliar o conhecimento.3
QUAIS SÃO OS INSTRUMENTOS DA VERTENTE FORMATIVA?
•INSTRUMENTOS COMUNICATIVOS: capacidade de processar
criticamente informação escrita e falada, o que inclui leitura, escritura,
cálculo, diálogo, ecálogo, mídia, internet [LITERACIA].
•INSTRUMENTOS ANALÍTICOS: capacidade de interpretar e analisar
criticamente sinais e códigos, de propor e utilizar modelos e simulações
na vida cotidiana, de elaborar abstrações sobre representações do real
[MATERACIA].
•INSTRUMENTOS MATERIAIS: capacidade de usar e combinar
criticamente instrumentos, simples ou complexos, inclusive o próprio
corpo, avaliando suas possibilidades e suas limitações e a sua
adequação a necessidades e situações diversas [TECNORACIA].
SOBRE A VERTENTE INFORMATIVA
A sociedade moderna exige a participação ativa de todos os
interessados na tomada de decisões, em todos os setores.
O professor deve estimular a crítica sobre:
3
Ubiratan D’Ambrosio: Literacy, Matheracy, and Technoracy: A Trivium
for Today, Mathematics Thinking and Learning, 1(2), 1999, pp.131153
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● o que se viu, se ouviu e se observou,
● o que se leu e o que se imaginou,
e simular tomada de decisões. A materacia é o instrumento
básico na tomada de decisões.
Esse novo conceito de currículo não privilegia os conteúdos das
disciplinas. Os conteúdos (saberes) devem ser resultado das práticas
(fazeres). O que melhor se adapta a essas novas práticas pedagógicas é
MÉTODO DE PROJETOS.4
Reconhecer a Etnomatemática é praticar respeito pelo diferente, que é
essencial para NÃO MATAR, no sentido amplo que conceituei
no início desta palestra.
Esse deve ser nosso objetivo como educadores.
4
Ver: Paulo Roberto de Oliveira: Currículos de matemática: do
programa ao projeto, Tese de Doutorado, Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo, Janeiro 2005.
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2013 FÓRUM FRONTEIRAS URBANAS
O Fórum Fronteiras Urbanas decorreu nos dias 30 e 31 de Julho e 01 de Agosto de
2013 e, conforme previsto em candidatura, com amplitude de congresso nacional.
Figure 100 - Fórum Fronteiras Urbanas - 2013
Para a realização deste evento contámos com a preciosa parceria da Associação
Portuguesa da Complexidade Sistémica (http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013 !apocosis/c1dga) e o apoio do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa que cedeu
suas instalações.
O evento Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS – 2013, propôs um espaço
de reflexão e diálogo entre as múltiplas áreas do conhecimento que abarcam a
complexidade do Desenvolvimento Humano e os processos que entrelaçam a
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Educação Comunitária, atendendo à necessidade emergente de ser e estar com o
outro, repensando o momento atual de transição da consciência planetária.
Pretende-se, assim, criar um espaço holístico para discussão de ideias, de âmbito
transdisciplinar, tendo em vista a dimensão educativa crítica, complexa e sistémica.
Trata-se de promover o encontro da diversidade e do pensamento plural num
exercício de alteridade: de sentir o outro no outro e em nós, do cuidar do todo, de
firmar e partilhar alternativas de autonomia, de lapidar o coração no sentido de
desvendar os desejos e possibilidades da terra e de recriar o afecto.
Objetivo Institucional do Evento: Atender à disseminação do Projeto Fronteiras
Urbanas (FU) e da APOCOSIS.
Objetivo Comunitário do Evento: Atender a necessidade emergente de ser e estar com
o outro, repensando o momento atual de transição da consciência planetária.
Objetivos Específicos do Desenvolvimento do Evento: a) Criar um espaço holístico
para discussão de ideias, surgidas no âmbito teórico-transdisciplinar e em torno dos
conceitos do Projeto FU e da APOCOSIS, essencialmente o Desenvolvimento Humano,
a Educação Comunitária e a Complexidade Sistémica; b) Proporcionar momentos
dialógicos, na vertente das práticas interdisciplinares, tendo em vista a dimensão
educativa crítica, complexa e sistémica; c) Promover o encontro da diversidade e do
pensamento plural num exercício de alteridade: de sentir o outro no outro e em nós,
do cuidar do todo, de firmar e partilhar alternativas de autonomia, de lapidar o
coração no sentido de desvendar os desejos e possibilidades da terra e de recriar o
afecto.
O Fórum Fronteiras Urbanas/Encontro APOCOSIS - 2013 destinou-se a um público
alvo diversificado que incluiu estudantes, educadores, investigadores, membros e
moradores das comunidades intervenientes no Projeto Fronteiras Urbanas,
nomeadamente Comunidade do Bairro e Comunidade Piscatória. Tal evento foi
concebido para abranger também artistas (poetas, músicos, pintores), agentes da
política local, arquitetos, médicos e terapeutas independentes – momentos
dialogantes da e na diversidade: uma oportunidade ímpar neste país.
Devemos lembrar que, por termos um público alvo diversificado, promovemos este
evento a nível da língua portuguesa limitando-o a nível de disseminação para além
dos países lusófonos. Tal limitação fundamentou-se no principal objetivo de integração
total de todos os membros das comunidades intervenientes do Projeto FU.
O montante arrecadado com este evento foi partilhado entre as duas comunidades
intervenientes no Projeto FU. Nossa maior intenção foi criar um evento de todos para
todos.
O Projeto FU e a APOCOSIS foram os promotores do evento.
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Comissão Organizadora
Comissão Científica
Mônica Mesquita
Mônica Mesquita
Isabel Freire
Isabel Freire
Ana Paula Caetano
Ana Paula Caetano
Filipa Ramalhete
Filipa Ramalhete
Alexandre Pais
Ubiratan D'Ambrosio
Nuno Vieira
José Pedro Martins Barata
Francisco Silva
Mercês Ramos
Sílvia Franco
Idália Sá-Chaves
Lia Laporta
Lia Vasconcelos
Joana Vieira
Rosanna Barros
Mercês Ramos
Todos os detalhes sobre este evento podem ser encontrados no site que foi criado
especificamente para o mesmo: http://fronteirasurbanas.wix.com/forum2013
Ressalta-se que a participação dos membros do FU – investigadores, membros das
comunidades, colaboradores e simpatizantes foi exaustiva, notando-se uma forte
participação nas comunicações orais, posters / objetos digitais. Ressalta-se, também,
a intensa integração entre todos os membros do FU na participação nas mesas
redondas, Círculos de Cultura e workshops. Abaixo, o logo do evento:
Figure 101 - Logo Fórum Fronteiras Urbanas - João Moreira - 2013
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COMUNICAÇÃO ORAL
Educação Comunitária, a política local da água e as fronteiras urbanas ainda vividas
Mônica Mesquita e Durval Carvalho – Comunidades Académica e Bairro
Alfabetização Crítica: Vidas e encontros nas Fronteiras Urbanas
Joana Vieira e Sílvia Franco – Comunidade Académica
Cartografia nas Fronteiras Urbanas: empoderamento de comunidades locais
Filipa Ramalhete e Lia Laporta – Comunidade Académica
O diretor de turma enquanto mediador de experiências de educação intercultural: a
voz e a ação do 6º B.
Susana Vassalo e Ana Paula Caetano – Comunidade Académica + Simpatizante
Mediação e Educação Comunitária
Isabel Freire e Ana Paula Caetano – Comunidade Académica
POSTER /OBJETO DIGITAL
Alfabetização em Movimentos Populares: a luta pela concretização
Catarina Pereira e Solângela Afonso – Comunidades Académica e Bairro
3 “Etnos”: Etnobiologia, Etnomatemática e Etnografia vivida em duas comunidades
locais
Lia Laporta e Mônica Mesquita – Comunidade Académica
MESA REDONDA
Dia 30 – Movimentos
Transformação e Civilidade
Políticos,
Educação
e
Comunidades:
Dinamizadora: Isabel Freire (Comunidade Académica)
Participante: Lídio Galinho (Comunidade Piscatória)
Dia 31 – Espaço, Participação Pública e Fronteiras Urbanas
Dinamizadora: Filipa Ramalhete (Comunidade Académica)
Participante: Durval Carvalho (Comunidade Bairro)
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Emancipação,
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Dia 01 – Amor, Cultura e Educação: Caminho de Liberdade
Dinamizadora: Ana Paula Caetano ( Comunidade Académica)
Participantes: João Moreira (Comunidade Académica - Voluntário)
CÍRCULO DE CULTURA
CC1 – Pesca: Sustentabilidade e Sociedade
Dinamizadores: Mário Pedro (Comunidade Piscatória) e Lia Laporta (Comunidade
Académica).
CC2 – Água e Direitos Humanos
Dinamizador: Euclides Fernandes (Mediador Comunitário)
CC3 – Atravessar Famtasmas
Dinamizadores: Raul Marques (Comunidade Bairro) e Alexandre Pais (Comunidade
Bairro)
Convidados: Adilson Afonso (Comunidade Bairro) e Daniel Miranda (Comunidade
Bairro)
CC4 – Mulher, Cultura e Participação Ativa
Dinamizadores: Joana Vieira (Comunidade Académica)
Convidadas: Vitória Mendes (Comunidade Bairro), Solângela Afonso (Comunidade
Bairro) e Ana Paula caetano (Comunidade Académica).
CC7 – Kriolu, Amilcar Cabral e Paulo Freire
Dinamizadores: Elisângela Almeida (Comunidade Bairro), Isabel Freire (Comunidade
Académica) e Sílvia Franco (Comunidade Académica)
Convidados: Guilherme Brito (Comunidade Bairro)
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WORKSHOP
WS1 Batuko – Grupo Nôs Herança (Comunidade Bairro)
Organização: Sílvia Franco (Comunidade Académica)
WS2 Aprender a Tocar Didgeridoo
Organização: Nuno Vieira (Comunidade Académica)
Convidados: Romário Almada (Comunidade Bairro); Adilson Afonso (Comunidade
Bairro); Durval Carvalho (Comunidade Bairro); Daniel Mirada (Comunidade Bairro)
WS3 Dança Cigana – Grupo Costa de Caparica (Comunidade Bairro)
Organização: Joana Vieira (Comunidade Académica)
WS4 Rede de Arte Xávega – Mário Pedro (Comunidade Piscatória)
Organização: Francisco Silva (Comunidade Académica)
WS5 Tranças Afro – Elisângela Almeida (Comunidade Bairro)
Organização: Catarina Pereira (Comunidade Académica)
Três dias intensos de aprendizagens, embebidos de diversidade e alteridade,
proporcionaram para além do encontro de diferentes saberes e fazeres, a integração
de alguns funcionários do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa que, em
determinados momentos participaram ativamente das atividades propostas no
encontro. Este evento revelou-se uma ferramenta de diálogo e aproximação entre o
corpo docente, discente e funcionários.
Neste encontro vivenciou-se o culminar de um processo etnográfico intenso e crítico,
incentivando cada membro do FU a ser e estar um cidadão ativo em suas práticas, no
caso, práticas de situacionalidade em que foram discutidos, desconstruídos,
reconstruídos conceitos que proporcionaram mudanças em todos nós.
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WEBSITE, PLATAFORMA e FACEBOOK
A página web do Projeto Fronteiras Urbanas (FU) já está criada desde o passado mês
de Dezembro, conforme previsto em sede de candidatura à Fundação para a Ciência e
a Tecnologia (FCT).
Os conteúdos deste espaço virtual estão sendo dispostos em duas grandes entradas –
produtos abertos e fechados. Nos produtos abertos idealizámos partilhar filmes,
fotografias, notas de campo que mostre a nuance do FU. Este espaço está idealizado
para poder ser consultado por qualquer pessoa que navegue na internet, tendo
consciência que está direcionado para a área da investigação e da educação em
diversos níveis. Nos produtos fechados disponibilizaremos dados mais específicos do
processo do projeto nos quais compreendem-se filmes, fotografias, notas de campo e
relatórios já com conteúdos analisados.
Conforme solicitado à FCT, no âmbito da extensão, estamos trabalhando este espaço
visando, também, a capacitação de dois jovens das comunidades envolvidas, bem
como diversos membros das mesmas no critério primário de análise e seleção prévia
dos dados a serem disponibilizados.
Mantivemos um espaço ativo de diálogo e armazenamento de dados na plataforma da
Universidade de Lisboa - http://elearning.ul.pt/, restrito aos investigadores da
Comunidade Académica. Tal plataforma serve de base de dados das notas de campo,
relatórios, referencias bibliográficas, atas dos encontros bimestrais e documentos em
geral de todo o processo do FU.
Relatamos que esta plataforma foi muito utilizada no começo do projeto e, após a
abertura de uma página no Facebook, a utilização passou a ser menor. Contudo, esta
é a nossa principal base de armazenamento de documentos da nossa etnografia.
Nossa página do Facebook foi criada, num primeiro momento de forma restrita a
todos os membros das comunidades envolvidas. Porém, após nosso encontro Fórum
Fronteiras Urbanas decidimos abrir a mesma publicamente (restrita aos amigos e
amigos dos amigos). Este veículo de informação facilitou, ainda mais, a divulgação
das graves injustiças sociais vivenciadas pelos membros das duas comunidades
envolvidas
e
permitiu
que
mais
pessoas
conhecesse
este
projeto.
https://www.facebook.com/fronteirasurbanas
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CURTA-METRAGEM
Figure 102 - Making-of Curta-Metragem Fronteiras Urbanas - 2012_2013
Um dos nossos produtos finais do Projeto Fronteiras Urbanas (FU) é uma curtametragem documental. Entretanto face a tantas imagens capturadas no exercício
etnográfico, já desenvolvemos uma curta-metragem para o encontro Fórum Fronteiras
Urbanas, de forma condensada:
http://www.youtube.com/watch?v=YpSHgsSi5ds&feature=em-upload_owner
...e, também, já realizamos nosso trailer https://www.youtube.com/watch?v=J-2k9xzCWDU.
Porém, ainda estamos trabalhando na edição final da curta-metragem. Este trabalho
será finalizado na extensão do FU já concedida pela Fundação para a Ciência e
Tecnologia. Como, a pedido dos membros das duas comunidades envolvidas,
realizámos o quarto momento etnográfico, a análise crítica das imagens em conjunto
com os membros das mesmas para a edição do nossa curta-metragem documental
não foi desenvolvida. A produtora Anonymage, que propôs neste quarto momento
etnográfico a realização de um workshop de filmagem, bem como uma edição na
Comunidade Bairro - no âmbito da Escola do Bairro, tem em mãos uma grande
produção de filmes do FU.
Como previsto em candidatura realizamos, em Maio de 2012, um workshop de
fotografia com os membros das três comunidades envolvidas pelo primeiro realizador
– proposto em candidatura, do qual colectamos produções fotográficas de todos
membros do FU e foi o grande início da recolha das imagens para a curta-metragem
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documental. Por lapso este contributo não foi contabilizado nos produtos do projeto no
Relatório de Progresso 1.
Para a edição final da nossa curta-metragem documental utilizaremos excertos de
fotos e filmes realizados ao longo de todo percurso do FU, imagens estas coletadas
por todos os membros envolvidos no projeto. Nosso portfólio das imagens encontra-se
no computador do projeto em metadados, os quais serviram para a análise de dados
interativa feita até então e servirão, ainda com mais intensidade, nos últimos seis
meses do FU, para uma análise final. Nesta fase final teremos dois níveis de análise: o
coletivo, no qual todos os membros envolvidos analisarão as imagens projetadas em
sessões sistemáticas de Círculos de Cultura; o individual, no qual os investigadores
analisarão a luz do quadro teórico dialógico constituído ao longo do processo de
investigação.
Neste momento disponibilizamos, em nosso canal privado do Youtube,
aproximadamente vinte vídeos sobre histórias de vida, os quais utilizamos como
principais ferramentas de análise contínua desenvolvida ao longo do processo
etnográfico. Disponibilizámos, em nosso Facebook, algumas imagens, previamente
selecionadas, como uma pequena mostra da gigante colectânea que temos em mãos.
Relatamos que como não foi previsto em candidatura a manutenção de um espaço
virtual, no qual pudéssemos armazenar as imagens colhidas nesta etnografia crítica,
estamos encontrando constrangimentos para poder disponibilizá-las a comunidade
científica, visto que no formato de metadados poderiam ser de fácil consulta externa.
Sendo assim, reforçamos que mesmo dispondo de um espaço pequeno no servidor da
nossa instituição acolhedora, o qual não suporta nem vinte por cento dos nossos
dados, todas as nossas imagens estão locadas no computador do projeto, bem como
armazenadas em um disco rígido, como back-up.
Segue o guião:
Curta-Metragem Documental Fronteiras Urbanas
GUIÃO
1. CONTEXTO DO ESPAÇO 35’’
a. Imagens de contexto geografico . Fotografias aereas e
cartografia militar.
b. Vídeos de vista gerais da Costa De Caparica em planos
estaticos e panoramica da costa (caparica/Fonte da Telha)
Áudio:
Narrativa da História de Vida da Costa de Caparica.
Som de fundo As Aves Migratórias
2. TÍTULO 40’’
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a. Imagens das Comunidades (mapa de localização geral ,
imagem aérea, ...);
b. Narrativa da História das Comunidades e Objectivo Geral.
3. PROJECTO – COM QUEM, COMO e PARA QUEM ? 3’00’’
a. Depoimentos para remontar a existencia das 3 comunidades e
as tarefas:
i. Barata – Com quem - espaço;
ii. Ubi – Como;
iii. Alexandre – Para quem.
b. Imagens dos entrevistados intercaladas por imagens locias.
4. ALFABETIZAÇÃO CRÍTICA 5’00
Vídeos de aplicaçao de tarefa com contextualizaçao dos
intervenienetes .
a. Sílvia – Introdução;
b. Narrativa com imagens das tarefas;
c. João – Educação e Arte;
d. Madalena - Aprendizagem;
e. Lucília - Teatro;
f. Ana Paula – Poesia;
g. Isabel – Krioulo;
h. Euclides – Batuko;
i. Lizzi - Krioulo;
j. Alemão – Escola tradicional na CC;
k. Susete - Setubal;
l. Vitoria - Aula;
m. Alina - Aula.
5. CARTOGRAFIA 3’00
Vídeos de aplicaçao de tarefa com contextualizaçao dos
intervenienetes .
a. Filipa – Introdução;
b. Narrativa com imagens e tarefas;
c. NOUTRACOSTA ;
d. Vítor;
e. Lia;
f. Lídio.
6. HISTÓRIAS DE VIDA 8’00
Vídeos de aplicaçao de tarefa com contextualizaçao dos
intervenienetes .
a. Francisco – Pesca;
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b.
c.
d.
e.
f.
g.
h.
i.
Lia Vasconcellos – Pesca;
Mario Pedro - Restrição;
Mario Raimundo - Conhecimento Geracional;
Nuno – Introdução;
Raul – Venda Ambulante;
Du - Gulbenkian;
Daniel - Água;
Mana - Destruição.
7. Disseminação 5’00
Vídeos de aplicaçao de tarefa com contextualizaçao dos
intervenienetes .
a. EntreProjectos;
b. Encontro Anual;
c. Fórum ;
d. Festa de Natal.
8. Vozes
a.
b.
c.
d.
e.
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Finais - Acesso à água. 5’00
Guilherme - Poema de Transformação;
Lídio – Transformação;
Ubi;
Barata;
Mônica.
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VOZES FRONTEIRIÇAS
Decidimos trazer neste relatório vozes que, de diferentes maneiras, atuaram no
Projeto Fronteiras Urbanas (FU). Deixamos, abaixo, vozes representativas dos
consultores, dos membros das três comunidades envolvidas no processo do FU, bem
como dos educadores voluntários.
Figure 103 - Forum Fronteiras Urbanas - 2013
Sinto-o em meu pulsar….
O Fronteiras Urbanas, enquanto projeto académico, foi pensado para ser um espaço de encontro da diversidade e do
pensamento plural num exercício de alteridade: de sentir o outro no outro e em nós, do cuidar do todo, de firmar e
partilhar alternativas de autonomia, de lapidar o coração no sentido de desvendar os desejos e possibilidades da terra e de
recriar o afecto.
… tem se revelado como um caminho de libertação e de organização no qual o direito de aprender, de compreender, de
viver, de estar, de ir e vir, de ser e de amar faz-se presente.
... seres invisíveis e não-espaços urbanos deixam de se localizar nas fronteiras e passam a ter suas vozes ouvidas… e seus
espaços utilizados, discutidos! Vozes e espaços que hoje tornam-se o cerne e o maior propósito de estarmos juntos – aqui
e agora! Vozes que delineando seus desejos, analisando suas possibilidades, reinventando seus caminhos e redirecionando
a história da ciência, fazem com que os tais “conhecimentos fundamentados sobre princípios corretos e únicos” estejam
assentes numa ética maior, onde uma nova consciência planetária brota como uma semente, um gérmen fecundo!
... demos as mãos e lançamos ao mundo da investigação científica a beleza de se ser o que é! Os desejos de ler, de
entender e de saborear o mundo são desvendados transpondo, assim, a barreira de se investigar “sobre” ou de
simplesmente se investigar “o” para a delícia de se investigar com.
… todo este exercício de caminhar juntos tem um propósito REAL.... é ver as comunidades Bairro e Piscatória com voz nas
decisões das políticas locais e, juntos, transporem a barreira que lhes é imposta ao acesso à água e, consequentemente, ao
acesso à vida!
Mônica Mesquita
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CONSULTORES
Arquiteto José Pedro Roque Gameiro Martins Barata
Ao consultor não compete empenhar-se
diretamente na ação para a qual é
solicitado, mas sim acompanhar de perto o
desenvolvimento do projeto, mantendo-se
atento aos problemas que vão surgindo e
apoiando os operacionais a todos os níveis
segundo a suas capacidades e experiência,
pelo que valerem.
Figure 104 - Arquiteto José Pedro Roque Gameiro Martins
Barata
Foi possível ao consultor observar a ação
persistente de estabelecimento progressivo
de relações entre as comunidades vencendo
as resistências herdadas de uma situação
de estranhamento social, quando não
mesmo de hostilidade, e a gradual
aceitação da presença do projeto FU no
meio restrito e isolado do Bairro. A
aceitação
das
ações
de
educação
comunitária e pessoal e do incitamento à
criação de uma consciência cívica e
reivindicativa são o exemplo perfeito da
capacidade de uma colectividade agir a
partir do seu interior, ainda que apoiada
num conjunto de vontades e valências
exteriores e empenhadas.
Convém refletir, perante a experiencia vivida durante esta primeira fase do projeto, na
importância fundamental da existência de um problema prático, concreto, ainda não
resolvido e ainda polo de dificuldades e lutas contra o aparelho oficial que neste caso é o da
água. É em torno deste problema vital que se desenvolve toda a lógica das ações cívicas e
culturais que o projeto FU estimula. Um objectivo claro, visível, e que não pode ser
disfarçado ou minimizado é o eixo, ou tronco sobre o qual convergem as ações se se
procurar uma adesão a um projeto colectivo, e mais poderoso do que qualquer plano de
ação baseado numa intenção geral ainda que generosa. E esta é uma lição que deve ser
entendida e oportunamente difundida pelo seu carácter exemplar, e, como já se pode
entrever, mesmo a nível internacional.
J.P. Martins Barata
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Ubiratan D’Ambrosio
O convite para ser Consultor do projeto
Fronteiras Urbanas foi para mim um
momento acadêmico muito gratificante.
Acompanhar,
desde
os
primeiros
momentos, a concepção desse projeto tão
original e com um profundo alcance social,
foi um privilégio. Mesmo sem um
envolvimento direto na execução do
projeto, mas acompanhando e avaliando
os seus principais passos, pude sentir o
quanto aqueles diretamente envolvidos
com
os
trabalhos
na
comunidade,
dedicaram-se,
com
competência
e
entusiasmo, ao êxito do projeto. O Projeto
Fronteiras Urbanas é exemplar como a
efetivação do que representa uma
estratégia fundamental para a superação
das grandes crises do mundo moderno. Ao
notar que renomados acadêmicos alertam
com muita veemência para as ameaças
que afligem todo o mundo, pondo em
questão
a
própria
continuidade
da
civilização, a importância deste projeto
Figure 105 - Prof. Dr. Ubiratan D'Ambrosio
fica evidente. Como disse o cientista
inglês Martin Rees, num Editorial da
revista Science (March 08, 2013) “As principais ameaças à existência sustentável da
humanidade agora vêm de pessoas, não da natureza. Choques ecológicos que degradam
irreversivelmente a Biosfera podem ser desencadeados pelas exigências de um crescimento
insustentável da população do mundo.” Ao crescimento da população acrescenta-se a
grande dinâmica demográfica. As populações humanas, mais do que em outros tempos,
vêm se deslocando com crescente intensidade e, em conseqüência, agravam-se aspectos
sócio-políticos, como adaptações a novas condições de moradia, de trabalho, de segurança
e de saúde. Isso é particularmente notado nas grandes metrópoles, nas quais surtos de
imigrantes, legais e ilegais, são forçados a viver em condições de moradia e de
empregabilidade, de higiene e de saúde, de necessidades básicas e de segurança,
inaceitáveis e pouco dignas. Pressões e circunstâncias econômicas e sociais, como pobreza,
diferentes costumes, inclusive vestuário, discriminação e as conseqüentes influências
coercitivas de leis e regras fazem com que esses imigrantes se agrupem em bolsões da
cidade, geralmente reunindo membros de uma etnia ou outro grupo minoritário. Isso afeta
profundamente o cenário urbano das metrópoles. Esse não é um fenômeno social novo.
Temos registro de situações semelhantes na Antiguidade, na Idade Média e no
Renascimento e muito fortemente durante o período colonial. A absorção de imigrantes,
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sobretudo das novas gerações de seus filhos, que devem ser integrados aos sistemas
educacionais nacionais, é um dos maiores desafios dos tempos atuais, em todos os países.
Isso afeta particularmente os países mais desenvolvidos. O Projeto Fronteiras Urbanas tem
como foco essencial esse desafio. Situado na região metropolitana de Lisboa, o projeto
concentra suas atividades em duas comunidades de Costa de Caparica: Bairro (constituída
por moradores de um assentamento ilegal desenvolvido há quatro gerações) e Piscatória
(constituída por pescadores locais). O desafio de conflitos naturais entre as comunidades,
de condições básicas de saneamento e sobretudo do abastecimento de água, de segurança
e de condições dignas de moradia, saúde, educação e emprego, são abordados pelo Projeto
Fronteiras Urbanas com uma metodologia científica transdisciplinar, sintetizada na proposta
do Programa Etnomatemática. Teoria e prática são integradas neste projeto exemplar, cuja
concepção e metodologia poderão ser adotadas em outros centros urbanos do mundo. Nas
minhas visitas às comunidades pude sentir como o Projeto Fronteiras Urbanas criou uma
atitude positiva de que mudanças são possíveis, sem confrontos violentos, mesmo em
condições hostis. Agradeço ter tido a oportunidade de participar deste projeto. Foi, para
mim, importante acompanhar uma ação que poderá evitar uma ruptura social irreversível.
Assim, termos a possibilidade da existência sustentável da civilização. O Projeto Fronteiras
Urbanas nos aponta um caminho para que essa possibilidade se realize.
Ubiratan D’Ambrosio
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COMUNIDADES FU
Guilherme Brito
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Ana Paula Caetano
Aqui, no meio, uma fronteira. A separar sentidos. Ordem a regular o nosso
trânsito. Regras partilhadas que não questionamos. A facilitar-nos o
quotidiano. A regular-nos o movimento. A impor-nos trilhos.
Nós no meio, tantas vezes apeados, um dia questionamo-nos. Porquê este
frenesim de ir para algum lado? Que vidas se escondem nessas outras
fronteiras que são estas paredes de betão? Porque temos também de ir para
algum lado, impedidos de ficar aqui, na fronteira? Porquê este impulso de
atravessá-la? Porquê este medo de não conseguir sair? Por onde passar com
o menor risco para as nossas vidas? Como chegar a alguém, quando todos
estão separados - dentro de automóveis, prédios, estradas, a nossa própria
roupa, a pele…
Precisamos delas, as fronteiras. Para nos distinguirmos uns dos outros. Para nos
preservarmos, identidades. Para interagirmos a partir do ponto onde o outro é
fora. Um jogo para nos experimentarmos. Para nos conhecermos. Para nos
aprofundarmos. Para de algum modo, e paradoxalmente, nos
expandirmos.
E entretanto, sem quase nos darmos conta, erguemos muros cada vez mais altos,
fechamo-nos em condomínios que nos desprotegem dentro. Deixamos de fora
todos aqueles que não percebem os nossos códigos. Separámo-nos e
perdemos o sentido da harmonia.
O que nos salva? Como acordar deste sonambulismo onde estamos
mergulhados? Qual o sentido? Quem somos? O que queremos ser?
Um a um acordando…
Escolher parar aqui no meio e acordar. Escolher buscar os outros para com eles
nos encontrarmos. Escolher atravessar fronteiras e encontrá-los fechados
dentro das suas. Escolher ser com eles abrindo trilhos novos. Para os
percorrermos juntos. Para que nos levem onde nunca fomos. Para que as
paredes visíveis e invisíveis se afastem, alarguem o
espaço dentro e se
sentir-nos
tornem mais transparentes , deixando
através. Para que,
cada vez mais, mais se encontrem. Para chegarmos ao ponto onde já somos
ligados.
confiança
Sem o medo do outro, diferente de nós. Com a
de podermos ser
juntos, muito mais. Deixando que a vibração do amor se estenda. Vivendo a realidade
do sonho no qual este nos repete: “só o
Só o AMOR é Real!”
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AMOR é Real! Só o AMOR é Real!
FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Daniel Miranda
O Projeto Fronteiras Urbanas deu-nos a realidade de uma rotina alternativa,
comungando uma nova comunicação de uns para com os outros. O curso de
português ficará para sempre na minha memória, pela experiência de lidar com os
meus vizinhos e amigos de uma forma diferente. Por isso e por meio desta e de
outras atividades, conheci outras caraterísticas de suas humildes personalidades que
até então não conhecia.
O projeto deu-nos o rumo de respirar outras sensações e nossos dias deixaram de ser
sempre a mesma coisa, deixaram de ser um rodeio, deixaram de ser círculos e
labirintos ou uma folha em branco. E na diversidade de reuniões e programas somos o
nosso próprio Diário de Notícias…
Se alguém por bem nos vê bem no nosso bairro, então comigo próprio me faz sentir
bem. E esta avaliação das relações humanas foi o que mais me sensibilizou, pois creio
que este é o princípio de toda a educação. Nesta transmissão de diálogos e afetos,
notei a importância para muita gente do meu bairro desta comunhão convosco e por
este ato e muito mais… Fronteiras Urbanas.
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Lídio Galinho
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Francisco Silva
Fronteiras Urbanas
Fronteiras Urbanas, o melhor é o nome, diz tudo e deixa tudo em aberto, a fronteira
divide é espaço de passagem e permanência, separa e une. O que acontece,
aconteceu e acontecerá, não pode ser manipulado nem conduzido, o despoletar de
processos que se autonomizam, crescem, definham, estagnam.
Os efeitos são colaterais, não resultam de programação, quando se solta a corda do
arco, já não se pode parar a seta. Quantas possibilidades, quantos caminhos são
possíveis nas terras de ninguém em que todos se fazem presentes?
Quantos lugares semelhantes e distantes, quantas perguntas para quantas respostas.
Construir fronteiras é definir identidades?
Construir identidades derruba fronteiras?
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Solângela Afonso
O Fronteiras Urbanas, para mim, foi muito importante porque nos mostrou que temos
que acreditar em nós, que somos capazes e que não somos inferiores a ninguém.
Ensinou, também, a ser unidos uns com os outros. Com o Fronteiras Urbanas aqui no
Bairro começámos a nos unir e isso foi muito bom, porque formámos uma Comissão
de Bairro e, também, um grupo de batuque, peças de teatro, entre outras coisas.
Juntos, consegui uma escola para mim, o que foi muito importante porque sempre
quis estudar, mas não conseguia. Com a ajuda do Fronteiras Urbanas, graças a eles
hoje estou a estudar.
Gostei muito das festas de Natal que nós organizámos e das atividades que fizemos
dentro e fora do Bairro, por exemplo: na Trienal de Arquitetura, no Fórum Fronteiras
Urbanas, as saídas do grupo de batuque…
Tudo isso foi, também, para nosso benefício, porque tive mais conhecimento e divertime muito. Obrigada por tudo que me ensinaram.
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FCT-PTDC/CPE_CED119695/2010
Filipa Ramalhete
Num mundo onde a competitividade a excelência se tornaram palavras de ordem,
cada vez mais desprovidas de sentido, o projeto Fronteiras Urbanas (FU) situa-se
noutra esfera de referências. Uma delas é o brio. Palavra hoje em desuso, significa,
segundo o dicionário da Porto Editora, "Sentimento de dignidade que induz a cumprir
o dever ou ainda mais do que o dever". No mundo atual, e no estado atual do país,
parece
não
haver
lugar seguro
para
as três
comunidades
do
FU
(académica, habitantes das Terras da Costa e Pescadores da Costa de Caparica). As
três são tolhidas na sua atuação, por razões distintas. Um ponto é comum a todas:
fora da lógica competitivas, são - cada uma em sua medida - invisíveis. Mas são
formadas por pessoas (essas sim) excelentes, com brio, dignidade e vontade de fazer
aquilo que acham correto, de aprender e ensinar, sem medo de sair das suas
referências e seguranças - pessoais, epistemológicas, espaciais - para, com brio,
esbater ou eliminar fronteiras.
Este projeto demonstra que existem caminhos alternativos para o pensamento e para
a atuação académica, que o conhecimento se produz e enriquece em processos
dialéticos de aprendizagem e que a ponte para um território e uma sociedade mais
justos (e, porque não?, capazes de sobreviver num mundo competitivo) terá
seguramente por passar por fomentar e acarinhar o brio. Dele sobressairão muitas e
variadas excelências, além de muitas outras coisas, porventura menos excelentes mas
igualmente ricas em valor acrescentado para o todo.
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EDUCADORES VOLUNTÁRIOS
Madalena Santos
ESTAR COM... A VIDA e APRENDEMOS
Figure 106 - Escola do Bairro - Matemática - 2013
Figure 107 - Escola do Bairro - Agricultura - 2013
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Anna Buono
Fronteiras Urbanas
o lugar onde se pode encontrar a realidade de outra realidade, a que muitas
vezes não conhecemos, ignoramos
o lugar que põe em questão o nosso ser, o nosso dia a dia, a nossa profissão
o lugar onde nasce o entusiasmo de querer fazer com alma, de querer fazer bem,
de querer fazer para conseguir algo maior, em conjunto com outras pessoas
o lugar onde se tem medo de poder falhar, onde a humildade e a consciência de
não vivermos todos nas mesmas condições serão as primeiras ferramentas para
agir bem
o lugar onde saborear a riqueza das coisas simples
o lugar onde gostar, apreender, partilhar, crescer, desejar, agir, desafiar.
Rodrigo Viterbo
Sendo um profissional da área da música, enquanto músico e professor de
didgeridoo, foi muito importante trabalhar com o Fronteiras Urbanas. A
proximidade e o conhecimento que o projeto tem das comunidades torna qualquer
intervenção um sucesso tanto para as comunidades como para com os
profissionais externos. Uma palavra de verdadeiro agradecimento pelas várias
oportunidades que foram criadas para que o didgeridoo estivesse presente!
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Manuela Alves
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Aline Conrado
Antes de mais nada, gostaria de parabenizar e prestar minha admiração a todas as
pessoas que se dedicam com amor nas atividades realizadas na Comunidade Bairro.
Entrei em contato com o Fronteiras Urbanas através da professora Drª Ana Paula
Caetano na elaboração de um trabalho para a disciplina de Mediação em Educação, e
então passei a conhecer, admirar e sempre que possível participar em atividades
propostas pelo projeto Fronteiras Urbanas para e com as pessoas do bairro, e para
mim o que era para ser apenas um trabalho de uma disciplina se transformou em
amor.
O Fronteiras Urbanas com muita força e união promove momentos que para sempre
ficarão em minha memória, pois passo a ter a certeza de que “um ato faz toda a
diferença”, julgo que se tivéssemos projetos Fronteiras Urbanas com pessoas
responsáveis e acima de tudo dedicadas como estas, espalhados pelo mundo,
certamente teria desta maneira, uma grande revolução.
Eu sou de uma comunidade no interior do Paraná, no sul do Brasil, faço parte do
MST(Movimento dos trabalhadores rurais sem terra), um movimento que luta por
direitos de terra desde 1986, posso dizer que conheço um pouco da realidade destas
pessoas que vivem na Comunidade Bairro, pois também não tive água canalizada em
casa até dias atrás, e só quem passa por isso é que sabe realmente o quanto é difícil.
Mas conhecer o projeto, me fez nascer um fio de esperança de que coisas muito boas
ainda estão por acontecer, ao me deparar com pessoas que se dedicam em ajudar,
ensinar quem precisa e tem vontade, é uma dádiva.
O projeto me chamou muita atenção e espero acompanha-lo até o seu término.
Obrigada pela oportunidade e podem contar sempre comigo.
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Lucília Valente
…Sabia do projeto já há algum tempo, tinha já sentido essa força mágica e
envolvente da Mônica - sua coordenadora, e vivendo na Costa da Caparica havia o
desejo de ir visitar a comunidade … mas o dia-a-dia devorador do tempo fez com que
esse momento fosse sendo adiado… até que foi no Fórum Fronteiras Urbanas que “os
vi” pela primeira vez, ali na Universidade a pedir a palavra... a expor os seus
problemas... O Sr. Raul e o Du a lerem cartas que tinham apresentado à Câmara, a
falar como era difícil viver sem água em casa… e tocou-me a forma como se
apresentavam “empoderados” e com voz…
Foi no contexto do congresso de Julho que no regresso da conferência entrei pela
primeira vez na comunidade das Terras da Costa... e entrei com a Mônica naquele
outro mundo em que o comum das pessoas que aqui vive não ousa sequer entrar... só
ao longe… Tinha a imagem de plásticos presos por pedras e cordas no meio das
hortas… mas não imaginava sequer o que se passava nesse mundo... naquela espécie
de gueto...
Naquela tarde ao entrar no bairro descobri pelas mão da Mônica um outro mundo,
onde há luta e labuta... vi a casa da Dona Vivi que me deu um molho de cebolas que
orgulhosamente cultiva… bebi uma cerveja naquele espaço particular de encontrar em
frente da casa do Du …e vi...
... vi as crianças brincando e correndo nos campo de futebol de terra batida…
… vi crianças com vontade de aprender… de olhar vivo…
… vi onde viviam e como se imaginam formas de ultrapassar a falta de água
canalizada…
…vi gente que quer viver com dignidade.
E fiquei com vontade de a este “vi”... juntar o “ver” e formar a palavra “viver”… e
viver mais aquele espaço e “com” aquelas pessoas … “conviver”…
Passei a ir mais vezes a comunidade do bairro integrando, no possível, a escola
comunitária... estou no início desta descoberta… mas muito tocada pelo que me foi
dado viver e com vontade de me envolver mais num processo de descoberta e
crescimento “com” aquelas pessoas ...
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Figure 108 - Projeto Fronteiras Urbanas - 3 comunidades em 1 projeto - Referências
As referências, abaixo listadas, correspondem a toda bibliografia utilizada durante a
investigação do Projeto Fronteiras Urbanas.
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