luta de contato

Transcrição

luta de contato
Nascido na Bahia, Jeovaldo Barreto
veio cedo para São Paulo, aos 14
anos de idade. Trabalhou muito,
conheceu as lutas de contato, estudou e, hoje, aos 34 anos, conseguiu
um status consolidado de atleta
campeão de muitos títulos, incluindo
valiosa experiência nos Estados
Undios e Japão.
Foto: Selleri
Da Kyokushin para a Seiwakai e para
a Shinkyokushin e depois o
Kickboxing, cresceu na carreira
como homem que soube aproveitar
todas as oportunidades da vida e, de
degrau em degrau, conseguiu chegar ao "pódio" da luta, da carreira,
do sucesso profissional e da formação pessoal rumo a um futuro provavelmente ainda mais promissor!
Dono da academia Puro Impacto,
com 5 modalidades e um total aproximado de 170 alunos, Jeovaldo
Pereira Barreto é bacharelado em
Educação Física e vive hoje exclusivamente do esporte.
Quando você veio para São Paulo?
Vim em 1991, aos 14 anos. Meu pai já estava em São
Paulo há algum tempo, pra trabalhar aqui. Ele já era separado de minha mãe. Ele morava num bairro diferente e só
depois de 2 anos que eu estava aqui é que vim encontrar
meu pai. Minha mãe veio também antes pra se estabilizar
e poder me trazer, como disse aos 14 anos, e meu irmão
de 12 anos que tínhamos ficado ainda na Bahia. Aí já com
casa alugada, 6 meses aqui, ela nos
mandou dinheiro e viemos com um primo maior de idade e fomos morar todos
juntos.
Você chegou a estudar, na Bahia?
O que você fazia? Tinha contato com
lutas?
Na Bahia estudei até a 6ª série, brincava, jogava bola, não tinha contato direto
com lutas, via filmes, revistas e aí as
lutas começaram a me interessar, embora ninguém da família estivesse envolvido com artes marcias ou lutas.
primeiro campeonato e fui vice-campeão. Isso me empolgou e, já faixa verde, ajudava na academia. Na época as
faixas eram branca, azul, amarela e verde. Aos 16 anos
comecei a dar aulas como ajudante de professor e, por
cuidar também da academia, ganhava algum salário por
isso. Paralelamente, ainda trabalhava no restaurante. Depois passei a período integral, só na academia, das 8 da
manhã às 8 da noite. As vezes até dormia na academia
pra treinar à noite também.
O que dizia sua família?
Minha mãe me achava louco! (risos) quando eu chegava
machucado, queria que eu parasse, eu acabei convencendo ela, mas até hoje ela não gosta que eu lute.
Quanto a seus estudos, você tinha parado na 6ª série
na Bahia. Como ficou agora?
Fiquei 5 anos sem estudar. Um dia o Luis Feitosa me
disse: "A vida não é só treinar. Você tem que estudar,
pensar no futuro". Havia uma escola perto da academia e, aos 19 anos, eu fui
fazer supletivo. Fiz a 7ª e a 8ª séries e
depois o colegial, hoje conclui a faculdade de Educação Física e o ano passado conclui o Bacharelado, aos 34
anos de idade.
Foto: arquivo pessoal
Vamos começar por alguns de seus dados pessoais...
Meu nome é Jeovaldo Pereira Barreto, nasci em 03 de
julho de 1976, portanto tenho 34 anos, na cidade de Andaraí
- BA. Tenho 1m80 de altura. Quando comecei a lutar pesava de 65 a 68kg. Hoje peso entre 73 e 75kg. Sou casado, tenho dois filhos com a atual esposa e uma outra filha,
de 14 anos, de outra união na Bahia, e que também está
morando em São Paulo. Tenho 3 irmãos mais novos, dois
morando em São Paulo e o outro, por parte de pai, morando na Bahia.
Como foi isso?
A faculdade aconteceu porque eu trabalhava para uma médica, Dra: Célia
Beatriz, dermatologista e cirurgiã plástica. Fiquei 7 anos trabalhando como
segurança pra ela e nesse período ela
me disse: "Você só mexe com luta?
Quando você chegou a São Paulo o
Não quer fazer uma faculdade? ResLuta final do GP Toshinkai
que você fez?
pondi: "Eu gostaria, mas não tenho ver1998, contra Leandro Bonini,
Era fevereiro de 1991, eu tinha de 14
ba, tenho que cuidar da família!" Ela
vitória por pontos.
pra 15 anos, por uns 3 meses fui trabaprosseguiu: "Vou dar de presente pra
lhar como ajudante de cozinha. Conhevocê uma faculdade. Eu gostaria que
ci o Karate e fui treinar numa academia de Santo Amaro.
você estudasse!" Então ela pagou 3 anos de licenciatura
Isso porque onde eu morava, morava também uma pesde Educação Física, de 2004 até 2006.
soa que tinha um irmão que treinava Karate e me trazia
livros e revistas de Bruce Lee. Aí me levou pra academia
As lutas ajudavam a te sustentar, você vivia disso?
Kyokushin, em Santo Amaro. O professor era o "Luizinho",
As lutas me ajudavam no sustento, mas fazia um trabalho
Luis Feitosa, e um dia ele me perguntou: "Você gosta de
paralelo na época, desde cedo ajudava minha família. Foi
lutas?" Eu simplesmente respondi: "Gosto!" Assim assisa partir de 1995 que eu comecei a dar aula na academia e
ti a uma aula. Conversei com o dono do restaurante onde
já ganhava, embora trabalhasse no paralelo. Não podia
eu trabalhava pra flexibilizar meu horário e poder treinar. E
dar aulas em muitas academias porque tinha que treinar
comecei a treinar às 21 horas, como faixa branca e logo já
pra competição, dava aula só na academia do professor
estava lutando com o pessoal mais graduado e até já dava
Luis Feitosa que me ajudou muito e me ajuda até hoje.
trabalho pra eles! (risos). Pela idade que eu tinha, o professor me achou muito bom.
Quando você montou sua academia?
Montei junto com Anderson Pereira em 2007, só de luta.
Quando participou do primeiro campeonato?
Agora já tem uma parte de musculação. Ainda assim, eu
Eu ainda era faixa branca quando participei do meu
dava aulas em outras academias porque eu tinha bastante
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A formação acadêmica em Educação Física foi pra
conciliar trabalho com luta?
Quando entrei na faculdade de Educação Física tinha também a intenção de ser professor de Educação Física em
escolas para crianças, e cheguei a dar aulas em escolas.
Outra coisa importante, é que sem a faculdade de Educação Física você não pode ministrar aulas de musculação
na academia. Foi por isso que fiz mais um ano de Bacharelado, pra regularizar essa situação.
Até quando você ficou no Kyokushin?
Fiquei no Kyokushin até 1997 porque, na época, o sensei
Ademir da Costa fundou o Karate de Combate Seiwakai e
meu professor, Luis Feitosa, foi convidado a acompanhálo, junto a outros professores. Praticamente todos da zona
sul foram para a Seiwakai. No ano seguinte, em 1998,
lutando pela Seiwakai, fui campeão categoria médio do
Ultimate Test, nos Estados Unidos - minha primeira viagem ao exterior - com 20 países participantes. Depois fui
campeão num aberto Toshinkai, em Nagoya, Japão, categoria absoluto, já pela Seiwakai.
Você sentiu diferença de seu treinamento da
Kyokushin pra Seiwakai?
Não houve diferença porque as pessoas com quem eu
treinava eram a mesmas, como Luis Feitosa. Através do
meu próprio professor e pelo intercâmbio que havia entre
as academias e nos campeonatos, já tinha treinado junto
com muita gente da Seiwakai.
Você teve uma lesão séria no joelho direito. Como
foi isso?
Depois do Kyokushin, já na Seiwakai, teve 3 campeonatos
grandes seguidos entre eles o Internacional 1998. Foi muito treino, muito esforço físico, o que me acarretou a lesão
no joelho: ligamento, menisco... Foi maio nos Estados Unidos, agosto no Japão, setembro no Brasil, tudo muito pesado. Não pude fazer a cirurgia logo em seguida, fiquei 2
anos sem conseguir treinar. Fiquei só dando aula de 1998 a
2000. Lesionei em setembro de 1998 e só fiz a cirurgia em
dezembro de 2000. A operação foi bem sucedida: a fisioterapeuta e o médico, Dr. Ricardo, que conhecia Karate, me
preparou para a recuperação; na fisioterapia, por exemplo,
eu batia aparador... enfim, me ajudaram bastante.
Demorou essa recuperação?
A recuperação demorou 11 meses e também o tempo de
eu ter mais confiança e voltar a lutar. Fui campeão em
2001 na final do campeonato nacional de Karate Seiwakai,
8-
no ginásio Mané Garrincha em São Paulo, mas os adversários sabiam da minha lesão no joelho e só procuravam
acabar com ele de novo. Aí cheguei à conclusão de que
deveria parar de competir. Em 2001 parei de novo e fiquei
sem lutar de 2001 a 2007.
E como aconteceu o Kickboxing e o Muay Thai?
Em 2007 resolvi voltar e conhecer o Kickboxing e o Muay
Thai, a luta em pé com luva e os primeiros treinos foram
com Luciano Basile porque ele dava aula de Kickboxing
na academia. Eu ainda estava na Seiwakai, mas o Luciano
dava aulas de Kickboxing. Fiz meu primeiro treino com
ele lá e já casaram pra mim a primeira luta.
E a seguir, o que foi acontecendo?
Até 2007 eu dava aula à noite na academia Peralta, na
cidade Dutra. Era uma academia só de musculação, mas
abriram um espaço pra mim, pra eu poder dar aula de luta.
Ainda trabalhava como segurança das 7 da manhã às 7
da noite e das 19h30 às 22 horas eu dava aula.
Em 2007 eu comecei a lutar de novo, gostei da luta em
pé, com luvas. Aí montamos a academia com o Anderson.
Nós não tinhamos dinheiro nem para o aluguel, mas foram
nos ajudando, um aluno dele doou o ringue, o Sr. Santana
dono da Tower Seguros é hoje o braço direito da academia, que se chama Puro Impacto. Eram muitos alunos e
em janeiro saí da Seiwakai, passei a usar o nome da academia própria e em 2008 montamos nossa equipe. Temos
5 modalidades na academia: Karate, Kickboxing, Jiu-jitsu,
Muay Thai e Boxe. Eu dou duas modalidades: Karate e
Kickboxing. O Alessandro Benacci é um cara que me
acompanha e ajuda a divulgar a equipe nos campeonatos.
Como foi o seu contato com o veterano do Muay Thai,
Wilson "NB"?
Foto: arquivo pessoal
alunos e não tinha horário pra todos treinarem, principalmente os de competição. Foi o professor Anderson, que
era meu aluno na época, que montou uma academia só
pra treinar, deu certo e agora é uma realidade.
Primeira luta de Muay Thai no evento Balada
Fight em 2007, vitória por pontos.
Quantas lutas você tem e quais foram as mais difíceis?
Juntando tudo tenho 116 lutas, 6 derrotas e 110 vitórias.
Com o Luciano treinei pouco tempo, meu treinador foi o
Pezão. Com o Luciano fiz duas lutas na academia do
Gibi. Foi a partir de 2008 que eu comecei a treinar com o
Pezão, no Ibirapuera, e até o ano passado ele arrumava
tudo pra mim. Fui campeão paulista da WAKO em 2008.
Em 2009 fui campeão do Brasileiro, fui 3° no Sul-americano... depois vieram a Copa Brasil, o Paulista, fui vicecampeão da Taça Zorello. Em 2009 já tinha feito luta profissional e estreei na regra do Muay Thai. Lutei com atletas importantes de Muay Thai e Kickboxing, fui duas vezes classificado pro Pan-americano, sendo vice-campeão
por pontos, lutei no Sul-americano do Paraguai, lutei na
academia do Gibi, perdi por pontos. Foram muitas e
muitas lutas. No Karate os atletas mais difíceis com que
lutei foram Luciano Basile - que defendia muito bem, encaixava muitas sequências, tinha um bloqueio muito bom,
era forte nos golpes em seus 88/90kg e se preparava
muito bem e era também pós-graduado em Educação
Física - e o Edivan Souto que só o Francisco Filho conseguia nocauter! (risos).
Como é seu treinamento hoje? Só Muay Thai ou pensa em lutar MMA?
No ano passado, despertou em mim o interesse em lutar
MMA e de treinar Jiu-jitsu. Mas é muita coisa pra conciliar. Este ano estou mais devagar nos treinos, ainda estou
me recuperando, cheguei a lutar, mesmo assim, de novembro pra dezembro de 2010, fiz 4 eventos e, como ainda estou lesionado, a família pega no pé. Então dei outra
parada e voltei a treinar agora em fevereiro, bem leve, só
Muay Thai. Não decidi ainda se quero lutar MMA,depende
da proposta dos organizadores.
Mas você ainda pretende continuar lutando mais um
pouco?
Pretendo lutar ainda um pouco no Muay Thai, apesar de
tudo o que eu já disse, aos 34 anos estou firme, me sinto
Foto: arquivo pessoal
Eu conheci o NB quando comecei a treinar Karate em
Santo Amaro em 1991. Na verdade, conheci o irmão do
NB que treinava lá e era faixa marron. Entre 1994 e 1995 o
NB veio visitar a academia e me viu lá treinando. Depois
outro irmão dele veio a ser meu aluno de Karate e a gente
sempre acabava se conhecendo nesses eventos de luta.
Quando entrei nos eventos de Kickboxing e outros de Muay
Thai, dependendo da regra, vieram outros conhecimentos,
o NB viu uma luta minha, gostou, e como agora ele mora
perto da academia fiz um convite pra ele porque eu estava
sem professor de Muay Thai. Já tem uns 2 anos que ele
está ministrando aula lá, ele tem a equipe dele, bem grande. Muay Thai eu estou treinando com ele.
A partir da esq.: Marcos Zinhani, Eduardo Carvalho, Jeovaldo Barreto, Marcelo “Cabelo”, Wilson
“NB”, Anderson Pereira e Paulo Horito
bem no geral, cansaço não sinto. O único problema é
mesmo a lesão que eu tive porque fiz muitas lutas duras
seguidas. Foram 3 meses de recuperação mas eu estou
pronto pro Muay Thai a qualquer momento.
Você faz algum trabalho de ganho de massa muscular pra luta?
Quando comecei a lutar pesava 65kg e agora estou com
73, fiz vários trabalhos de ganho de massa, mesmo porque o Muay Thai exige força física e massa corporal, mas
sou muito empolgado nos treinos, aeróbio, sparring muito
intenso, então se ganho 2kg numa corrida vão embora! E
depois eu estou mais pro trabalho da academia, com minha equipe, tenho muitos lutadores bons e fortes e eu
tenho que dar mais atenção a eles do que a mim mesmo.
Treinar atletas pra competição e treinar a gente mesmo
também pra competir, não dá pra conciliar tudo. Eu tenho
atletas de 50 a 90kg e dá até pra lutar profissional, são
muito bons. Uso a musculação como preparo para luta e
pra isso eu fiz um curso de especialização em treinamento esportivo e musculação. Eu mesmo treino musculação
3 vezes por semana. Aí vem o alongamento etc. Eu também dou aula para iniciantes, dou aula pra perda de peso,
pra quem quiser.
Quantos alunos você tem?
No geral, Karate e Kickboxing, de 90 a 100 alunos. Ainda
tem o Muay Thai e o Jiu-jitsu. Juntando tudo de 160 a 170
alunos.
contato: [email protected]
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