Conservação
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Conservação
A EMERGÊNCIA DA CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO COMO DISCIPLINA EM INÍCIOS DO SÉCULO XX, ASSIM COMO DO CONCEITO REFUNCIONALIZAÇÃO, COM FINS CONSERVACIONISTAS, DE EDIFICAÇÕES E ÁREAS URBANAS. Antonio de Moura Pereira Filho Professor Substituto do Departame n t o de Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal Rural de Pernambuco ABSTRACT In this article one exposes some aspects of the emergency of heritage conservation as a discipline in the early 20 th century, using as example its historical developme nt in Spain, analyzing the convergences and divergences of its main thinkers, as well as its entailing with the recent concept of refunctionality of buildings and urban areas. RESUMO Neste artigo expõe - se alguns aspectos da emergência da conservação do patrimônio como disciplina nos primórdios do século XX, utilizando - se como exemplo seu desenvolvimento histórico na Espanha, analisando as convergências e divergências de seus principais pensadores, assim como sua vinculação com o conceito recente de refuncionalização de edificações e áreas urbanas. 1 KEY WORDS: • Conservation • Restoration • Heritage • Refunctionality • Buildings • Urban areas PALAVRAS CHAVES: • Conservação • Restauração • Patrimônio • Refuncionalização • Edificações • Áreas urbanas Em sua obra referencial Teoria da Restauração, Cesare Brandi propõe inicialmente que por restauração entende - se toda ação empreendida com o propósito de restabelecer a utilidade a dado produt o decorrente de ação antrópica. Relacionando porém, a restauração a obra de arte em si, ele a define como "o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, com vistas à sua transmissão para o futuro. "1 No que concerne a conservação, Ignacio González - Varas diz que "conservar, manter e trans mitir o 'suporte material' do objeto é a tarefa primordial de uma disciplina científica como é a 'conservação de bens culturais', pois a trans missão do objeto em sua consistência física supõe garantir a perduração dos valores culturais, históricos ou artísticos dos quais o bem cultural é portador. "2 1 BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004. 2 As discussões sobre a restauração artística como uma área de atuação específica inicia- se no século XIX, quando se consagra na Europa o conceito de "conservação de bens culturais" como a disciplina que individualiza a legitimidade e a modalidade da intervenção sobre tais bens, criticamen te reconhecidos, tendo como fim a manutenção, a permanência e a integridade destes enquant o testem u n h o s únicos e irrenunciáveis, recursos coletivos e patrimô nio da comunida de. O desenvolvimento das concepções e praxis da restauração artística e mon u me n t al naquele continente tem se dado em grande parte mediante o contato, assimilação e discussão de princípios formulados nos diversos países que o compõe, assim como no que tem - se feito na América, Oceania e em outras partes do planeta. No entanto verifica - se desde seus primór dios, reflexões originais e com feições marcada me n t e autóctones. Em finais do século XIX e inícios do século XX, debates acalorados entre teóricos que se distinguiam autodeno mina n d o - se "restaurador es" e "conservadores", davam a tônica do momento assim como fundavam duas correntes ainda hoje verificáveis principalmente na Espanha. Porém, dada a dinâmica das sociedades, os problemas de hoje se ampliaram, e por conseguinte, as discussões adquirira m espectro mais abrangente. Naquele país, após a Guerra Civil a Segunda Grande Guerra, a necessidade de reconstr ução instauro u a discussão sobre o que entre os escombros deveria e poderia ser preservado, percebendo - se claramente o aspecto político - ideológico que acompa n hava m as escolhas feitas. Passado este período, não sem muitas controvérsias, veio o boom econômico em decorrência do crescimento indus trial e a conseqüente especulação imobiliária que terá outras repercussões sobre a preservação do patrimônio edificado. Entretanto, desde os anos 80 do século passado, no bojo da abertura democrática sociedades e sob influência pós - industriais, do que constata - se vem na se verificando Espanha em outras a abordage m de 2 GONZÁLEZ- VARAS, Ignacio. Conservación de bienes culturales - teoria, história, principios y normas. Madrid: Ediciones Cátedra, 2000. Pág. 73. 3 questões relativas a preservação dos sítios industrias, a refuncionalização de edificações assim como de áreas urbanas que tornara m - se decadentes, dando - lhes novos ares e fins, sejam habitacionais, comerciais e/o u turísticos. Inclui- se ainda neste trabalho, um adendo do que se ensaia na cidade do Recife, em termos do que já tem - se como exemplos de refuncionalização de edifícios e de áreas da cidade segundo os novos princípios pensado s, discutidos e apresenta d os neste trabalho, assim como uma propos ta de preservação, via refuncionalização, de edificações nos estilos Art Nouveau e Art Déco no Estado de Pernambuco. A Restauração artística como disciplina O que concepções mon u me n t o s hoje culturais conceitua m os do como Romantism o, "monumen t o" que centrou sua medievais, que por sua vez, constituíra m baseia - se nas atenção nos o núcleo das políticas estatais de restauração do patrimônio histórico e artísticos nos países europeus. Em linhas gerais, três razões para a recuperação do patrimônio artístico do medievo tiveram maior repercussão na definição moderna do conceito de "monume nt o" segundo Ignacio González - Varas 3 , a saber: 1) O "monu men t o histórico" e sua interpretação ideológica; 2) O "monumen t o" e os livros de viagens; 3) O valor histórico. Assim, a noção de "monumen t o histórico e artístico" comporá a partir daquela época até nossos dias o núcleo do conceito de "patrimônio cultural", sendo que, ao longo do século XX, incorporará outras categorias de bens, do que resultará o conceito que temos hoje de "bem cultural". A concepção de restauração artística como disciplina que dispõe de conteú dos e princípios próprios entretant o, tem se formado gradualmente. 3 Idem. Ibidem. Págs., 34, 36 e 38. 4 De acordo com González - Varas 4 " a restauração é uma atividade que pressupõe não só uma atenta consideração das características físicas e técnicas do objeto que restaura, mas que també m deve vir acompanhada de um elevado grau de amadurecimento histórico- crítico, capaz de estimar e valorizar a natureza documental e estética do objeto artístico e cultural ". Com este enfoque fica claro que, à restauração histórico - artística prescinde um corpo teórico consistente e que distinga sua prática atual da que fora desenvolvida de maneira artesanal até o século XIX, o que convencionou - se chamar de "restauração artesanal", e à fase anterior de "período pré - disciplinar". Todavia hoje, apesar de existirem teorias e discussões sobre elas, talvez seja premat ur o falarmos em restauração artística como ciência ou mesmo como disciplina dotada de um estatuto científico acordada m e n te definido. A Restauração artística na Espanha no século XX: entre o debate teórico e a ação restauradora. Os aportes da restauração estilística, do método histórico e do restauro científico, que têm lugar no âmbito italiano com os princípios enunciados por Ricardo Veláquez Bosco, Luca Beltrami e Camillo Boito, dedicados estudiosos das questões do patrimônio e de sua conservação desde 1883, deixaram na Espanha sua influência que, junta men te com uma elaboração própria, findou por gerar grupos que se confrontariam por 4 Idem. Ibidem. Op. Cit. 5 questões teóricas e práticas. Duas escolas, a Restaurador a e a Conservadora comp u t ava m em seus quadros os principais representa n te s destes grupos. 1. A Escola Restauradora sob a égide de Vicente Lampérez. A trajetória de Vicente Lampérez como arquiteto e restaura dor o convertia em uma personalidade idônea para ser o representa nte das idéias violletianas para o século XX. Escreveu na Espanha artigos que tiveram uma significativa repercussão. Como um dos expoentes das discussões acerca do problema da restauração monu m e n t al, foi junta me n te com Luis Maria Cabello Lapiedra um dos porta - vozes das resoluções do congresso do ano de 1897 que propun h a " uma prudente renúncia às aspirações restauradoras excessivamente teorizantes, para restringir o campo de ação ao estudo de caso particular" 5 O VI congresso Internacional de Arquitetos realizado em Madrid no ano supracitado, nos legou algumas conclusões que são considerad a s máximas desta escola e que o próprio Lampére z sintetiza no que o mesmo chamo u de "teoria dos restaura dor es", que centra - se em três pontos fulcrais: a) consideração do monu m e n t o em sua dupla nature za de docu mento de inapreciável valor histórico e obra de arte cuja contem plação prod u z verdadeiro prazer estético; b) finalidade da restauração como conservação dos monu me n t os em sua integridade e em seu estilo, conceitos ligados aos da utilidade e a unidade; c) metodologia operativa que consiste em reintegrar o edifício a seu estado primitivo com a maior fidelidade possível. A escola restaurador a, foi de fato dominante na Espanha durante o início do século XX, sendo testem u n h o deste prestígio as importante s intervenções protagoniza das pelo próprio líder da escola, Vicente Lampérez e por arquitetos como Adolfo Florensa ou Luis Bellido, seguidores de seus princípios. 5 Idem.Ibidem. Pág., 295. 6 2. A Escola Conservadora e os posicionam e nto s de Cadafalch. A crítica conservadora importante repercussão ou anti - restaura dor a provocou uma e mudança de rumos no debate teórico espanh ol do primeiro terço do século XX. Foi na verdade um processo de assimilação e definição de uma nova cultura de restauração, aquela representa d a pelo "método científico". Três personalidades desponta r a m como expoentes desta escola: Leopoldo Torres Balbás, Jeroni Martorell i Terrats y Joseph Puig i Cadafalch. Sobre o primeiro e seu trabalho, suas palavras são a melhor apresentação: " nestes últimos tempos ganha terreno no nosso país um critério mais moderno e científico que até agora é seguido na restauração dos monu m e ntos campa nhas antigos. Ainda em defesa teremos de velhos segurame nte edifícios que que realizar se queiram muitas restaurar radicalmente ou completar, com perda de seu valor arqueológico e, o que é mais grave, privando - lhes da beleza que o tempo lhes foi emprestando em seu trabalho secular "6 É importante notar m os a atualidade desta afirmação, que nos dias de hoje, no que respeita à última frase da citação, podemos tradu zir como a " pátina que o tempo lhe impingiu". O segundo na ordem de citação, Jeroni Martorelli i Terrats, desem pe nh o u um papel destacado no movimento organizado na Catalunh a para defesa do patrimônio histórico. Como chefe do Serviço de Catalogação e Conservação de Monumentos da Assembléia de Barcelona, esteve a frente de inúmeros manifestos e movimentos que culminara m em sua conferência no Ateneu Madrilenho que incluía um breve enunciado dos "método s proteto res" que se deveria utilizar - se ao interferir - se em monu m e n t os: " Prevenir a ruína que ocasiona o tempo, e impedir alterações inconvenientes, feitas deliberada me nte, tem de ser os principais meios empregados para a conservação dos edifícios de mérito artístico".7 6 7 BALBÁS, Leopoldo Torres in GONZÁLEZ- VARAS, Ignacio. Op. Cit. Pág., 298. MARTORELL I TERRATS, Jeroni in GONZÁLEZ- VARAS, Ignacio. Op. Cit. Pág., 302. 7 De todos porém, o mais célebre - e polêmico - foi sem dúvida Joseph Puig i Cadafalch. Seu trabalho de historiador da arquitetur a medieval catalã será uma das facetas mais atrativas e conhecidas de sua personalida de. Porém a particularidade de ser entre os seu pares anti - restaura dores, um violletiano em muitos sentidos, diferia daqueles outros, por conceber os ditames de Viollet- le- Duc em moldes "científicos", ou seja, ele propugnara a restauração autêntica sempre que os objetivos reconstr ução... baseada nos da atuação objetivos o aconselhem, uma éticos, ideológicos ou sentimentais da atuação. Estes três arquitetos introdu zira m a afirmação, não de um critério ou método rigoroso de intervenção, completame n te regulado, como pretende u Lampérez num desespera do intento para codificar toda a inatingível casuística de possibilidades perfilando casos que permitiram a perduração da restauração entendida no sentido violletiano. O papel cultural, didático e significativo dos monu me n t o s entrava em outra fase de estimação. O respeito profundo para com o testem u n h o histórico, uma prudência e precaução na elaboração e aplicação do projeto, a plena inserção do levanta me n t o document al e arqueológico da restauração e a cautela na posta em prática dos instru me n t os de intervenção arquitetônica foram os resultados de uma nova sensibilidade e disposição para o patrimônio arquitetônico. 3. O período Republicano e a reconstrução do pós - guerras. O desenvolvimento teórico e operativo da restauração monu m e n t al que avançou durante os quarenta primeiros anos do século XX na Espanha, sofreu uma traumá tica ruptur a em decorrência da Guerra Civil Espanhola e da Segunda Grande Guerra. Para a reconstr ução do país foi criada a Direção Geral de Regiões Devastadas, que empreendia ações de reconstr ução que tem sido julgadas como uma mera volta ao passado, devido a suas proposta s mais 8 tradicionalistas, esquecendo proposta s mais moderniza dor as estabelecidas desde os anos trinta. As mais simbólicas intervenções estatais, sob a égide do franquis mo, de uma estética marcada me n t e fascista, tem como caberia esperar, um caráter marcado por monu me n t alismos. Ressurgem as velhas correntes da "restau ração em estilo" - leia- se "restauração estilística". 4. Expansão econô mica e a crise do patrimônio histórico. Nos começos dos anos sessenta, verifica- se uma expansão econômica sem precedentes nos países que posterior me n te seriam posicionados no Norte rico e desenvolvido. A Espanha, como muitos outros países europeus se beneficiaria das benesses decorrentes deste fenômeno. Porém no que concerne ao patrimônio, lá como nos seus congêneres europeus de mesma sorte, ocorrerá um novo ciclo de dilapidação do patrimônio, desta vez em decorrência da especulação imobiliária, que tem no desenvolvimento industrial e na crescente demanda habitacional urbana, o seu principal motor. Também se verificará a emergência da transfor mação de notáveis edifícios históricos em paradores de turismo. Esta é uma prática ainda muito em volga, marcada me nte nos países da Península Ibérica. Alguns conventos e palácios foram reabilitados como paradores sem o devido respeito a sua composição original assim como a seu valor histórico. Os exemplos são muitos em Portugal, assim como na espanha, onde temos como exemplos, os conventos de San Francisco de Almagro, o de Agostino de Chinchón, o de San Marcos em León. Além dos conventos podemos citar os palácios de Úbeda e Zamora. 5. O período Democrático. 9 No ensejo da "Movida Madrilenha" e da vaga democratiza n te, os fins da década de setenta até meados da década de oitenta na Espanha trouxe em seu arsenal de mudanças sócio - polítco - culturais, mudanças no campo da conservação de bens culturais, seja do ponto de vista administrativo e institucional, seja na perspectiva doutrinal ou concept ual. Um dos momentos cruciais que fica como epíteto destas transfor m ações, está aquele da aprovação da Lei de Patrimônio Histórico Espanhol de 1985. As transfor m ações, sem dúvida, afetam, a todos as ordens da disciplina, desde seu marco institucional e jurídico até as questões teóricas e doutrinais, assim como a própria prática restaura d or a. Os conjuntos históricos: conservação e restauração. 1. Cidade histórica e cidade industrial. É necessário mencionar aqui a discussão recente, porém deveras pertinente, sobre a inclusão da "cidade industrial" já como área histórica e portan to, merecedora de atenção conservacionista. Em primeiro lugar por, independe nte de estar mos em "um país rico do Norte pós - industrial" ou em "um emergente", fazemos de alguma maneira, parte dos ritos das sociedades pós - industriais, que segundo Daniel Bell, caracteriza m - se por: 1) possuíre m o setor terciário como o de maior ocupação da mão de obra; 2) valorizarem o desenvolvimento tecnológico e científico; 3) terem na tecnologia de informação seu principal foco; 4) estabelecerem como projeto de interação mais importa nte o jogo entre as pessoas; 5) proporem como metodologia para um modus vivendi "integrado" a ação teorizada, sistemática e pré simulada; 6) propugna m como ações de maior valor a progra mação do 10 futuro e 7) Têm como princípio, a centralização e codificação do conhecimento. 8 Outrossim, podemos já, perceber mo - nos não só integrantes desta dada realidade, mas também como possuidores de "um passado de sociedade industrial" que por ora não se faz necessário tratar. O que nos é oportu no verificar agora é que nas sociedades caracteristicamente pós - industriais, o passado urbano - industrial está na ordem do dia dos conservacionistas. Ao se discutir "centro histórico" se confronta m com áreas acrescidas a estes e que já não fazem parte de um contexto do presente. Cabe dizer que o problema do centro histórico surge, portan to, com o desenvolvimento da "cidade indus trial" na Europa a partir da Segunda metade do século dezenove, e que inclusive o próprio centro histórico é uma realidade urbanística, e não só um conceito, engendra d a pelo processo de expansão e transfor m ação urbana: antes da emergência da cidade industrial, o "centro histórico" era a própria "cidade", uma estrut u r a urbana com limites marcados geralmente pelas muralhas que a circundavam e estava integrada por um tecido urbano produt o da estratificação de épocas diversas, que constituía a matéria mesma do organismo urbano. A compreensão da deterioração do núcleo histórico das cidades, assim como histórico", a própria será melhor formulação entendido posterior se do conceito enunciar mos de "centro alguns dos mais importantes momentos da transfor m ação da "cidade tradicional" como conseqüência da afirmação do novo modelo de "cidade industrial". Os instru me n t os urbanísticos que permitem transfor m ar e renovar a cidade aparecem na segunda metade do século XIX agrupa dos no "plano geral regulador", que seguindo a perspectiva da legislação alemã, disporá na Europa de sua dupla versão de "remodelação da cidade histórica", que se dota das infra - estrut ur a s próprias da urbe moderna, e de um plano de "ampliação" da cidade, ou seja, a expansão da cidade mediante a demolição das muralhas que delimitavam a cidade tradicional. 8 BELL, Daniel in SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós - moderno. São Paulo: editora brasiliense, 1986, pág., 24. 11 A preocupação com a sanidade aparece já com os teóricos alemães, sendo o maior expoente na matéria, Max von Pettenkofer, químico e higienista, que desenvolve os mais avançados estudos científicos sobre saúde pública aplicada a urbanização. Da mesma forma a preocupação com a zonificação ocupará um lugar de destaque. É necessário agora, mais do que nunca estabelecer os lugares das específicas atividades, atendendo a urgente demanda de escoamento da produção. Outro alemão ditará especificações para a cidade industrial insurgente. Trata - se de Reinhardt Baumeister ( 1833 - 1917 ) que ficou conhecido por assentar as bases do planejame nto urbano como disciplina científica de caráter positivista, tratando de modo sistemá tico todas as questões do urbanismo moderno ( infra - estrutur a s urbanas, morada e aspectos econô micos e legais, como as expropiações e a reparcelação ), ocupando - se também dos aspectos estéticos da cidade. Apesar da heterogeneidade de desenhos remodeladores e expansivos, e não obstante a distinta aplicação temporal da planificação urbana a cada área geográfica da Europa, o "plano geral regulador" cumpre um idêntico objetivo de fundo em cada caso, pois análogas são as condições da modernização urbana: se tratará sempre de utilizar o "plano regulador" como "instru me n t o cirúrgico" para conseguir a aplicação do princípio da expansão e transfor mação urbana, do crescimento ilimitado da "cidade industrial" sem barreiras físicas e sem fronteiras temporais. 2. Refuncionalização de edifício e áreas urbanas - aproveitar e dar nova função. Influenciado pela antiga arquitetur a japonesa e por Frank Lloyd Wright, o trabalho de Sacarpa mostrava um interesse por camadas e pela interação de diferentes planos de interação de diferentes planos de materiais. Isso é evidente na sua remodelagem de edifícios, onde níveis e 12 materiais da estrut ur a original justapõe m - se com o revestimento moderno. Suas obras mais importante s entre outras são: • A academia, em Veneza, 1952. • A Galeria Querini Stampalia, Veneza, 1961 / 3. 9 Embora o desenvolvimento das indústria tenha levado à segregação eficiente de diferentes partes da cidade para diferentes propósitos, mais recenteme n te benefícios os de arquitetos uma e planejadores abordagem mais urbanos integrada, que reconhecera m inclui os propostas conservadoras, desde os projetos de Rob Krier para o centro de Amiens, França, onde tipos de edificações mais antigos são preservados e até mesmo s imitados para criar um ambiente que possa fornecer usos diversos. 10 Os programa s de intervenção em centros históricos que se aborda m na Espanah a partir da década de oitenta do século passado, se aplicam com especial êxito preferente me n te Salamanca, Segóvia, Vitória, em cidades Pamplona, de tamanho Gijón, Lleida médio, como e Tarragona, juntame n te a interessantes intervenções nos centros históricos de Barcelona e Madri. Um exemplo de equilíbrio complexo e acertado entre a conservação do centro histórico e as necessidades da renovação urbana pode ser, entre outros que poderíamos citar, o de Sevilha, que parte da ação desenvolvida pela Gerência de Urbanismo, criada em 1983 para gestar a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico e do patrimônio edificado, evitando, no possível, a erradicação de seus usuários e reabilitando o tecido mais degradado. 9 GLANCEY, Jonathan. A História da Arquitetura. São Paulo: Edições Loyola, 2001, págs, 218 / 9. 10 Idem. Ibidem, págs, 226 / 7. 13 O cenário recifens e O exemplo modelar de Sevilha, exprime em sua essência, as novas concepções expressas mais acima no que concerne a refuncionalização, não só de edificações mas de áreas inteira de uma cidade. No Recife, vem se verificando desde finais dos anos oitenta e inícios dos anos noventa do século passado, a revitalização do Recife Antigo, também conhecido como Bairro do Recife, que tem deixado de ser uma decadente área portuária com poucas e resistentes almas a circulá - lo, para ser um foco de atrações turísticas e de recreação dos próprios munícipes. No mesmo bairro, um centro comercial é exímio exemplo de refuncionalização com fins conservacionistas atrelada a parcerias público privadas. A referida edificação situada no Cais do Apolo, já fora convento anexo, alfândega, por um breve espaço de tempo, cenário para peças teatrais e após um trabalho de restauração que entre outras intervenções, foi submetido a prospecções arqueológicas, abriga hoje, um centro não só de comércio como já colocado, mas também de serviços. Um possí v el cenário para Pernambuco Onde estariam enfim os testem u n h o s da inserção da sociedade perna mb uc ana no paradigma urbano - industrial? Nada restou que dê provas deste momento? Não existira entre nós este momento? Segundo investigação feita nos últimos anos, através do levanta men t o de caracteres arquitetônicos, do mobiliário, das artes decorativas, do vestuário propagado nos anúncios impressos, das artes gráficas, entre outras manifestações que podem ser expressivas de uma época com uma identidade ideológico - estética, muito há a indicar que sim. No que respeita especificamente só ao acervo arquitetônico, há todo um conjunto de edificações com elementos alusivos aos estilos do Art Nouveau e do Art Déco, não só na região metropolitana do Recife como por 14 diversas cidades do interior do Estado, tais como, Pesqueira, Triunfo e Garanh uns entre outras. Um certo número de edificações compõem uma parte considerável do patrimô nio construído da empresa de saneament o do Estado. A principal destas, possuidora de elementos orname ntais e arquitetônicos associados ao estilo Art Nouveau, poderia ser um Museu do Modernismo Pernamb uca no, congregando não só expoentes das artes, que não nos falta, ao contrário, os temos em profusão, como das técnicas urbanístico - constr u tivas que marcara m nossa cidade nas primeiras décadas do século passad o, movidas pelos conceitos ou "preconceitos" higienistas tão em volga na época também por aqui. 15 BIBLIOGRAFIA BALDINI, Umberto. Teoría de la Restauración y unidad de metodología. Florencia: Nardini Editore, 1998. BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004. GLANCEY, Jonathan. A História da Arquitetura. São Paulo: Edições Loyola, 2001. GONZÁLEZ- VARAS, Ignacio. Conservación de bienes culturales - teoria, história, principios y normas. Madrid: Ediciones Cátedra, 2000. MIGUEL, Ana Mª. Macarrón. Historia de la Conservación y la Restauración desde la antigüedad hasta el siglo XX. Madrid: Editorial Tecnos, 2002. SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós - moderno: editora brasiliense, 1986. 16