Conservação

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Conservação
A EMERGÊNCIA DA CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO COMO
DISCIPLINA EM INÍCIOS DO SÉCULO XX, ASSIM COMO DO CONCEITO
REFUNCIONALIZAÇÃO, COM FINS CONSERVACIONISTAS, DE
EDIFICAÇÕES E ÁREAS URBANAS.
Antonio de Moura Pereira Filho
Professor Substituto do
Departame n t o de Letras e
Ciências Humanas da
Universidade Federal Rural
de Pernambuco
ABSTRACT
In this article one exposes some aspects of the emergency of heritage
conservation as a discipline in the early 20 th century, using as example its
historical developme nt in Spain, analyzing the convergences and divergences
of its main thinkers, as well as its entailing with the recent concept of
refunctionality of buildings and urban areas.
RESUMO
Neste artigo expõe - se alguns aspectos da emergência da conservação
do patrimônio como disciplina nos primórdios do século XX, utilizando - se
como exemplo seu desenvolvimento histórico na Espanha, analisando as
convergências e divergências de seus principais pensadores, assim como sua
vinculação com o conceito recente de refuncionalização de edificações e
áreas urbanas.
1
KEY WORDS:
•
Conservation
•
Restoration
•
Heritage
•
Refunctionality
•
Buildings
•
Urban areas
PALAVRAS CHAVES:
•
Conservação
•
Restauração
•
Patrimônio
•
Refuncionalização
•
Edificações
•
Áreas urbanas
Em sua obra referencial Teoria da Restauração, Cesare Brandi propõe
inicialmente que por restauração entende - se toda ação empreendida com o
propósito de restabelecer a utilidade a dado produt o decorrente de ação
antrópica. Relacionando porém, a restauração a obra de arte em si, ele a
define como "o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte,
na sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, com
vistas à sua transmissão para o futuro. "1
No que concerne a conservação, Ignacio González - Varas diz que
"conservar, manter e trans mitir o 'suporte material' do objeto é a tarefa
primordial de uma disciplina científica como é a 'conservação de bens
culturais', pois a trans missão do objeto em sua consistência física supõe
garantir a perduração dos valores culturais, históricos ou artísticos dos quais
o bem cultural é portador. "2
1
BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004.
2
As discussões sobre a restauração artística como uma área de atuação
específica inicia- se no século XIX, quando se consagra na Europa o conceito
de "conservação de bens culturais" como a disciplina que individualiza a
legitimidade e a modalidade da intervenção sobre tais bens, criticamen te
reconhecidos, tendo como fim a manutenção, a permanência e a integridade
destes enquant o testem u n h o s únicos e irrenunciáveis, recursos coletivos e
patrimô nio da comunida de.
O desenvolvimento das concepções e praxis da restauração artística e
mon u me n t al naquele continente tem se dado em grande parte mediante o
contato, assimilação e discussão de princípios formulados nos diversos
países que o compõe, assim como no que tem - se feito na América, Oceania
e em
outras
partes
do
planeta.
No entanto
verifica - se
desde
seus
primór dios, reflexões originais e com feições marcada me n t e autóctones. Em
finais do século XIX e inícios do século XX, debates acalorados entre teóricos
que se distinguiam autodeno mina n d o - se "restaurador es" e "conservadores",
davam a tônica do momento assim como fundavam duas correntes ainda
hoje verificáveis principalmente na Espanha.
Porém, dada a dinâmica das sociedades, os problemas de hoje se
ampliaram, e por conseguinte, as discussões adquirira m espectro mais
abrangente. Naquele país, após a Guerra Civil a Segunda Grande Guerra, a
necessidade de reconstr ução instauro u a discussão sobre o que entre os
escombros deveria e poderia ser preservado, percebendo - se claramente o
aspecto político - ideológico que acompa n hava m as escolhas feitas. Passado
este período, não sem muitas controvérsias, veio o boom econômico em
decorrência
do
crescimento
indus trial
e
a
conseqüente
especulação
imobiliária que terá outras repercussões sobre a preservação do patrimônio
edificado.
Entretanto, desde os anos 80 do século passado, no bojo da abertura
democrática
sociedades
e sob
influência
pós - industriais,
do que
constata - se
vem
na
se verificando
Espanha
em outras
a abordage m
de
2
GONZÁLEZ- VARAS, Ignacio. Conservación de bienes culturales - teoria, história,
principios y normas. Madrid: Ediciones Cátedra, 2000. Pág. 73.
3
questões relativas a preservação dos sítios industrias, a refuncionalização
de edificações assim como de áreas urbanas que tornara m - se decadentes,
dando - lhes
novos
ares
e fins,
sejam
habitacionais,
comerciais
e/o u
turísticos.
Inclui- se ainda neste trabalho, um adendo do que se ensaia na cidade
do Recife, em termos do que já tem - se como exemplos de refuncionalização
de edifícios e de áreas da cidade segundo os novos princípios pensado s,
discutidos e apresenta d os neste trabalho, assim como uma propos ta de
preservação, via refuncionalização, de edificações nos estilos Art Nouveau e
Art Déco no Estado de Pernambuco.
A Restauração artística como disciplina
O
que
concepções
mon u me n t o s
hoje
culturais
conceitua m os
do
como
Romantism o,
"monumen t o"
que
centrou
sua
medievais, que por sua vez, constituíra m
baseia - se
nas
atenção
nos
o núcleo das
políticas estatais de restauração do patrimônio histórico e artísticos nos
países europeus.
Em linhas gerais, três razões para a recuperação do patrimônio
artístico do medievo tiveram maior repercussão na definição moderna do
conceito de "monume nt o" segundo Ignacio González - Varas 3 , a saber: 1) O
"monu men t o histórico" e sua interpretação ideológica; 2) O "monumen t o" e
os livros de viagens; 3) O valor histórico. Assim, a noção de "monumen t o
histórico e artístico" comporá a partir daquela época até nossos dias o
núcleo do conceito de "patrimônio cultural", sendo que, ao longo do século
XX, incorporará outras categorias de bens, do que resultará o conceito que
temos hoje de "bem cultural".
A concepção de restauração artística como disciplina que dispõe de
conteú dos e princípios próprios entretant o, tem se formado gradualmente.
3
Idem. Ibidem. Págs., 34, 36 e 38.
4
De acordo com González - Varas 4 " a restauração é uma atividade que
pressupõe não só uma atenta consideração das
características físicas e técnicas do objeto que restaura, mas que també m
deve vir
acompanhada de um elevado grau de amadurecimento histórico- crítico,
capaz de estimar e valorizar a natureza documental e estética do objeto
artístico e cultural ". Com este
enfoque fica claro que, à restauração histórico - artística prescinde um corpo
teórico
consistente e que distinga sua prática atual da que fora desenvolvida de
maneira artesanal
até o século XIX, o que convencionou - se chamar de "restauração artesanal",
e à fase
anterior de "período pré - disciplinar".
Todavia hoje, apesar de existirem teorias e discussões sobre elas,
talvez seja premat ur o falarmos em restauração artística como ciência ou
mesmo como disciplina dotada de um estatuto científico acordada m e n te
definido.
A Restauração artística na Espanha no século XX: entre o debate teórico
e a ação restauradora.
Os aportes da restauração
estilística, do método
histórico e do
restauro científico, que têm lugar no âmbito italiano com os princípios
enunciados por Ricardo Veláquez Bosco, Luca Beltrami e Camillo Boito,
dedicados estudiosos das questões do patrimônio e de sua conservação
desde 1883, deixaram na Espanha sua influência que, junta men te com uma
elaboração própria, findou por gerar grupos que se confrontariam por
4
Idem. Ibidem. Op. Cit.
5
questões teóricas e práticas. Duas escolas, a Restaurador a e a Conservadora
comp u t ava m em seus quadros os principais representa n te s destes grupos.
1. A Escola Restauradora sob a égide de Vicente Lampérez.
A trajetória de Vicente Lampérez como arquiteto e restaura dor o
convertia em uma personalidade idônea para ser o representa nte das idéias
violletianas para o século XX. Escreveu na Espanha artigos que tiveram uma
significativa repercussão. Como um dos expoentes das discussões acerca do
problema da restauração monu m e n t al, foi junta me n te
com Luis Maria
Cabello Lapiedra um dos porta - vozes das resoluções do congresso do ano
de 1897 que propun h a " uma prudente renúncia às aspirações restauradoras
excessivamente teorizantes, para restringir o campo de ação ao estudo de
caso particular" 5
O VI congresso Internacional de Arquitetos realizado em Madrid no
ano supracitado, nos legou algumas
conclusões
que são considerad a s
máximas desta escola e que o próprio Lampére z sintetiza no que o mesmo
chamo u
de "teoria dos restaura dor es", que centra - se em três pontos
fulcrais: a) consideração
do
monu m e n t o
em
sua
dupla
nature za
de
docu mento de inapreciável valor histórico e obra de arte cuja contem plação
prod u z
verdadeiro
prazer
estético; b) finalidade
da restauração
como
conservação dos monu me n t os em sua integridade e em seu estilo, conceitos
ligados aos da utilidade e a unidade; c) metodologia operativa que consiste
em reintegrar o edifício a seu estado primitivo com a maior fidelidade
possível.
A escola restaurador a, foi de fato dominante na Espanha durante o
início do século XX, sendo testem u n h o
deste prestígio as importante s
intervenções protagoniza das pelo próprio líder da escola, Vicente Lampérez
e por arquitetos como Adolfo Florensa ou Luis Bellido, seguidores de seus
princípios.
5
Idem.Ibidem. Pág., 295.
6
2. A Escola Conservadora e os posicionam e nto s de Cadafalch.
A
crítica
conservadora
importante repercussão
ou
anti - restaura dor a
provocou
uma
e mudança de rumos no debate teórico espanh ol
do primeiro terço do século XX. Foi na verdade um processo de assimilação
e definição de uma nova cultura de restauração, aquela representa d a pelo
"método
científico". Três personalidades
desponta r a m
como
expoentes
desta escola: Leopoldo Torres Balbás, Jeroni Martorell i Terrats y Joseph
Puig i Cadafalch.
Sobre
o primeiro
e seu
trabalho,
suas
palavras
são
a melhor
apresentação: " nestes últimos tempos ganha terreno no nosso país um
critério mais moderno e científico que até agora é seguido na restauração dos
monu m e ntos
campa nhas
antigos. Ainda
em
defesa
teremos
de velhos
segurame nte
edifícios
que
que realizar
se queiram
muitas
restaurar
radicalmente ou completar, com perda de seu valor arqueológico e, o que é
mais grave, privando - lhes da beleza que o tempo lhes foi emprestando em
seu trabalho secular "6
É importante notar m os a atualidade desta afirmação, que nos dias de
hoje, no que respeita à última frase da citação, podemos tradu zir como a "
pátina que o tempo lhe impingiu".
O segundo
na
ordem
de
citação,
Jeroni
Martorelli
i Terrats,
desem pe nh o u um papel destacado no movimento organizado na Catalunh a
para defesa do patrimônio histórico. Como chefe do Serviço de Catalogação
e Conservação de Monumentos da Assembléia de Barcelona, esteve a frente
de inúmeros manifestos e movimentos que culminara m em sua conferência
no Ateneu Madrilenho que incluía um breve enunciado dos "método s
proteto res" que se deveria utilizar - se ao interferir - se em monu m e n t os: "
Prevenir a ruína que ocasiona o tempo, e impedir alterações inconvenientes,
feitas deliberada me nte, tem de ser os principais meios empregados para a
conservação dos edifícios de mérito artístico".7
6
7
BALBÁS, Leopoldo Torres in GONZÁLEZ- VARAS, Ignacio. Op. Cit. Pág., 298.
MARTORELL I TERRATS, Jeroni in GONZÁLEZ- VARAS, Ignacio. Op. Cit. Pág., 302.
7
De todos porém, o mais célebre - e polêmico - foi sem dúvida Joseph
Puig i Cadafalch. Seu trabalho de historiador da arquitetur a medieval catalã
será uma das facetas mais atrativas e conhecidas de sua personalida de.
Porém a particularidade de ser entre os seu pares anti - restaura dores, um
violletiano em muitos sentidos, diferia daqueles outros, por conceber os
ditames de Viollet- le- Duc em moldes "científicos", ou seja, ele propugnara a
restauração
autêntica
sempre
que os objetivos
reconstr ução... baseada
nos
da atuação
objetivos
o aconselhem,
uma
éticos, ideológicos
ou
sentimentais da atuação.
Estes três arquitetos introdu zira m a afirmação, não de um critério ou
método rigoroso de intervenção, completame n te regulado, como pretende u
Lampérez
num
desespera do
intento
para
codificar
toda
a inatingível
casuística de possibilidades perfilando casos que permitiram a perduração
da restauração entendida no sentido violletiano. O papel cultural, didático e
significativo dos monu me n t o s
entrava em outra fase de estimação. O
respeito profundo para com o testem u n h o
histórico, uma prudência e
precaução na elaboração e aplicação do projeto, a plena inserção do
levanta me n t o document al e arqueológico da restauração e a cautela na
posta em prática dos instru me n t os de intervenção arquitetônica foram os
resultados
de uma nova sensibilidade e disposição para o patrimônio
arquitetônico.
3. O período Republicano e a reconstrução do pós - guerras.
O desenvolvimento teórico e operativo da restauração monu m e n t al
que avançou durante os quarenta primeiros anos do século XX na Espanha,
sofreu uma traumá tica ruptur a em decorrência da Guerra Civil Espanhola e
da Segunda Grande Guerra.
Para a reconstr ução do país foi criada a Direção Geral de Regiões
Devastadas, que empreendia ações de reconstr ução que tem sido julgadas
como
uma
mera
volta
ao
passado,
devido
a suas
proposta s
mais
8
tradicionalistas, esquecendo proposta s mais moderniza dor as estabelecidas
desde os anos trinta.
As mais simbólicas intervenções estatais, sob a égide do franquis mo,
de uma estética marcada me n t e fascista, tem como caberia esperar, um
caráter marcado por monu me n t alismos. Ressurgem as velhas correntes da
"restau ração em estilo" - leia- se "restauração estilística".
4. Expansão econô mica e a crise do patrimônio histórico.
Nos começos dos anos sessenta, verifica- se uma expansão econômica
sem precedentes nos países que posterior me n te seriam posicionados no
Norte rico e desenvolvido. A Espanha, como muitos outros países europeus
se beneficiaria das benesses decorrentes deste fenômeno. Porém no que
concerne ao patrimônio, lá como nos seus congêneres europeus de mesma
sorte, ocorrerá um novo ciclo de dilapidação do patrimônio, desta vez em
decorrência
da
especulação
imobiliária,
que
tem
no
desenvolvimento
industrial e na crescente demanda habitacional urbana, o seu principal
motor.
Também se verificará a emergência da transfor mação de notáveis
edifícios históricos em paradores de turismo. Esta é uma prática ainda
muito em volga, marcada me nte nos países da Península Ibérica. Alguns
conventos e palácios foram reabilitados como paradores sem o devido
respeito a sua composição original assim como a seu valor histórico. Os
exemplos são muitos em Portugal, assim como na espanha, onde temos
como exemplos, os conventos de San Francisco de Almagro, o de Agostino
de Chinchón, o de San Marcos em León. Além dos conventos podemos citar
os palácios de Úbeda e Zamora.
5. O período Democrático.
9
No ensejo da "Movida Madrilenha" e da vaga democratiza n te, os fins
da década de setenta até meados da década de oitenta na Espanha trouxe
em seu arsenal de mudanças sócio - polítco - culturais, mudanças no campo
da conservação de bens culturais, seja do ponto de vista administrativo e
institucional, seja na perspectiva doutrinal ou concept ual.
Um
dos
momentos
cruciais
que
fica
como
epíteto
destas
transfor m ações, está aquele da aprovação da Lei de Patrimônio Histórico
Espanhol de 1985. As transfor m ações, sem dúvida, afetam, a todos as
ordens
da disciplina, desde seu marco institucional e jurídico até as
questões teóricas e doutrinais, assim como a própria prática restaura d or a.
Os conjuntos históricos: conservação e restauração.
1. Cidade histórica e cidade industrial.
É necessário mencionar aqui a discussão recente, porém deveras
pertinente, sobre a inclusão da "cidade industrial" já como área histórica e
portan to, merecedora de atenção conservacionista. Em primeiro lugar por,
independe nte de estar mos em "um país rico do Norte pós - industrial" ou em
"um emergente", fazemos de alguma maneira, parte dos ritos das sociedades
pós - industriais, que segundo Daniel Bell, caracteriza m - se por: 1) possuíre m
o setor terciário como o de maior ocupação da mão de obra; 2) valorizarem
o desenvolvimento
tecnológico e científico; 3) terem na tecnologia de
informação seu principal foco; 4) estabelecerem como projeto de interação
mais importa nte o jogo entre as pessoas; 5) proporem como metodologia
para um modus vivendi "integrado" a ação teorizada, sistemática e pré simulada; 6) propugna m como ações de maior valor a progra mação do
10
futuro
e 7) Têm
como
princípio,
a centralização
e codificação
do
conhecimento. 8
Outrossim, podemos já, perceber mo - nos não só integrantes desta
dada
realidade,
mas
também
como
possuidores
de "um passado
de
sociedade industrial" que por ora não se faz necessário tratar.
O que
nos
é oportu no
verificar
agora
é que
nas
sociedades
caracteristicamente pós - industriais, o passado urbano - industrial está na
ordem do dia dos conservacionistas. Ao se discutir "centro histórico" se
confronta m com áreas acrescidas a estes e que já não fazem parte de um
contexto do presente. Cabe dizer que o problema do centro histórico surge,
portan to, com o desenvolvimento da "cidade indus trial" na Europa a partir
da Segunda metade do século dezenove, e que inclusive o próprio centro
histórico é uma realidade urbanística, e não só um conceito, engendra d a
pelo processo de expansão e transfor m ação urbana: antes da emergência da
cidade industrial, o "centro histórico" era a própria "cidade", uma estrut u r a
urbana com limites marcados geralmente pelas muralhas que a circundavam
e estava integrada por um tecido urbano produt o da estratificação de
épocas diversas, que constituía a matéria mesma do organismo urbano.
A compreensão da deterioração do núcleo histórico das cidades,
assim
como
histórico",
a própria
será
melhor
formulação
entendido
posterior
se
do
conceito
enunciar mos
de "centro
alguns
dos
mais
importantes momentos da transfor m ação da "cidade tradicional" como
conseqüência da afirmação do novo modelo de "cidade industrial".
Os instru me n t os urbanísticos que permitem transfor m ar e renovar a
cidade aparecem na segunda metade do século XIX agrupa dos no "plano
geral regulador", que seguindo a perspectiva da legislação alemã, disporá na
Europa de sua dupla versão de "remodelação da cidade histórica", que se
dota das infra - estrut ur a s próprias da urbe moderna, e de um plano de
"ampliação" da cidade, ou seja, a expansão da cidade mediante a demolição
das muralhas que delimitavam a cidade tradicional.
8
BELL, Daniel in SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós - moderno. São Paulo: editora
brasiliense, 1986, pág., 24.
11
A preocupação com a sanidade aparece já com os teóricos alemães,
sendo o maior expoente na matéria, Max von Pettenkofer, químico e
higienista, que desenvolve os mais avançados estudos científicos sobre
saúde pública aplicada a urbanização. Da mesma forma
a preocupação
com
a zonificação
ocupará
um
lugar
de destaque.
É
necessário agora, mais do que nunca estabelecer os lugares das específicas
atividades, atendendo a urgente demanda de escoamento da produção.
Outro alemão ditará especificações para a cidade industrial insurgente.
Trata - se de Reinhardt Baumeister ( 1833 - 1917 ) que ficou conhecido por
assentar as bases do planejame nto urbano como disciplina científica de
caráter positivista, tratando de modo sistemá tico todas as questões do
urbanismo
moderno
( infra - estrutur a s
urbanas,
morada
e
aspectos
econô micos e legais, como as expropiações e a reparcelação ), ocupando - se
também dos aspectos estéticos da cidade.
Apesar da heterogeneidade de desenhos remodeladores e expansivos,
e não obstante a distinta aplicação temporal da planificação urbana a cada
área geográfica da Europa, o "plano geral regulador" cumpre um idêntico
objetivo de fundo
em cada caso, pois análogas são as condições da
modernização urbana: se tratará sempre de utilizar o "plano regulador"
como "instru me n t o cirúrgico" para conseguir a aplicação do princípio da
expansão e transfor mação urbana, do crescimento ilimitado da "cidade
industrial" sem barreiras físicas e sem fronteiras temporais.
2. Refuncionalização de edifício e áreas urbanas - aproveitar e dar nova
função.
Influenciado
pela antiga arquitetur a
japonesa e por Frank Lloyd
Wright, o trabalho de Sacarpa mostrava um interesse por camadas e pela
interação
de diferentes
planos
de interação
de diferentes
planos
de
materiais. Isso é evidente na sua remodelagem de edifícios, onde níveis e
12
materiais da estrut ur a original justapõe m - se com o revestimento moderno.
Suas obras mais importante s entre outras são:
•
A academia, em Veneza, 1952.
•
A Galeria Querini Stampalia, Veneza, 1961 / 3. 9
Embora o desenvolvimento das indústria tenha levado à segregação
eficiente de diferentes partes da cidade para diferentes propósitos, mais
recenteme n te
benefícios
os
de
arquitetos
uma
e planejadores
abordagem
mais
urbanos
integrada,
que
reconhecera m
inclui
os
propostas
conservadoras, desde os projetos de Rob Krier para o centro de Amiens,
França, onde tipos de edificações mais antigos são preservados e até
mesmo s
imitados
para
criar
um
ambiente
que
possa
fornecer
usos
diversos. 10
Os programa s de intervenção em centros históricos que se aborda m
na Espanah a partir da década de oitenta do século passado, se aplicam com
especial êxito preferente me n te
Salamanca,
Segóvia,
Vitória,
em cidades
Pamplona,
de tamanho
Gijón,
Lleida
médio, como
e
Tarragona,
juntame n te a interessantes intervenções nos centros históricos de Barcelona
e Madri.
Um exemplo de equilíbrio complexo e acertado entre a conservação do
centro histórico e as necessidades da renovação urbana pode ser, entre
outros que poderíamos citar, o de Sevilha, que parte da ação desenvolvida
pela Gerência de Urbanismo, criada em 1983 para gestar a proteção do
Patrimônio Histórico e Artístico e do patrimônio edificado, evitando, no
possível, a erradicação de seus usuários e reabilitando
o tecido mais
degradado.
9
GLANCEY, Jonathan. A História da Arquitetura. São Paulo: Edições Loyola, 2001, págs,
218 / 9.
10 Idem. Ibidem, págs, 226 / 7.
13
O cenário recifens e
O exemplo modelar de Sevilha, exprime em sua essência, as novas
concepções expressas mais acima no que concerne a refuncionalização, não
só de edificações mas de áreas inteira de uma cidade.
No Recife, vem se verificando desde finais dos anos oitenta e inícios
dos anos noventa do século passado, a revitalização do Recife Antigo,
também conhecido como Bairro do Recife, que tem deixado de ser uma
decadente área portuária com poucas e resistentes almas a circulá - lo, para
ser um foco de atrações turísticas e de recreação dos próprios munícipes.
No mesmo
bairro,
um
centro
comercial
é exímio
exemplo
de
refuncionalização com fins conservacionistas atrelada a parcerias público privadas. A referida edificação situada no Cais do Apolo, já fora convento
anexo, alfândega, por um breve espaço de tempo, cenário para peças teatrais
e após um trabalho de restauração que entre outras intervenções, foi
submetido a prospecções arqueológicas, abriga hoje, um centro não só de
comércio como já colocado, mas também de serviços.
Um possí v el cenário para Pernambuco
Onde estariam
enfim os testem u n h o s
da inserção
da sociedade
perna mb uc ana no paradigma urbano - industrial? Nada restou que dê provas
deste momento? Não existira entre nós este momento?
Segundo investigação feita nos últimos anos, através do levanta men t o
de caracteres
arquitetônicos,
do mobiliário, das artes
decorativas, do
vestuário propagado nos anúncios impressos, das artes gráficas, entre
outras manifestações que podem ser expressivas de uma época com uma
identidade ideológico - estética, muito há a indicar que sim.
No que respeita especificamente só ao acervo arquitetônico, há todo
um conjunto de edificações com elementos alusivos aos estilos do Art
Nouveau e do Art Déco, não só na região metropolitana do Recife como por
14
diversas cidades do interior do Estado, tais como, Pesqueira, Triunfo e
Garanh uns entre outras.
Um certo número de edificações compõem uma parte considerável do
patrimô nio construído da empresa de saneament o
do Estado. A principal
destas, possuidora de elementos orname ntais e arquitetônicos associados
ao
estilo
Art
Nouveau,
poderia
ser
um
Museu
do
Modernismo
Pernamb uca no, congregando não só expoentes das artes, que não nos falta,
ao contrário, os temos
em profusão, como das técnicas urbanístico -
constr u tivas que marcara m nossa cidade nas primeiras décadas do século
passad o, movidas pelos conceitos ou "preconceitos" higienistas tão em volga
na época também por aqui.
15
BIBLIOGRAFIA
BALDINI, Umberto. Teoría de la Restauración y unidad de metodología.
Florencia: Nardini Editore, 1998.
BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004.
GLANCEY, Jonathan. A História da Arquitetura. São Paulo: Edições Loyola,
2001.
GONZÁLEZ- VARAS, Ignacio. Conservación de bienes culturales - teoria,
história, principios y normas. Madrid: Ediciones Cátedra, 2000.
MIGUEL, Ana Mª. Macarrón. Historia de la Conservación y la Restauración desde la antigüedad hasta el siglo XX. Madrid: Editorial Tecnos, 2002.
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós - moderno: editora brasiliense, 1986.
16