Processos de Reforma de Saúde na América Latina: Avanços e
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Processos de Reforma de Saúde na América Latina: Avanços e
Processos de Reforma de Saúde na América Latina: Avanços e Perspectivas André Medici Rita Sório Temas de exposição • Reformas x Processos de Reforma • Avanços nos Objetivos dos Processos de Reforma • Avanços nos Instrumentos Utilizados nos processos de reforma Reformas x Processos de Reforma • Saúde é um setor complexo: transformações não podem ser feitas de uma só vez, mas devem ser progressivas. • Nos últimos vinte anos, muitos países na América Latina passaram por várias reformas. • Em algumas reformas existiu continuidade. Em outras existiram rupturas bruscas. Ex de continuidade: Chile e Brasil; Exemplo de ruptura: Argentina e Nicarágua. • Reformas são processos permanentes de ajustes às necessidades do setor saúde, por um lado, e processos políticos de ajuste segundo às concepções de seus mentores. Objetivos dos processos de reforma • Universalização: Garantir progressivo acesso universal à saúde. • Equidade: Garantir que todos possam receber os serviços de acordo com suas necessidades e contribuir para o financiamento do sistema de acordo com suas possibilidades. • Essencialidade: Garantir que os serviços que o sistema ofereça sejam aqueles que são essenciais às necessidades de saúde da população. Instrumentos utilizados nos processos de reforma • Descentralização Æ solução de impasses federativos, distribuição regional do acesso, ajuste as necessidades locais; participação social; • Gestão Eficiente Æ geração de processos de organização e incentivos para que usuários, prestadores e gestores de serviços definam as necessidades básicas, minimizem seus custos de transação e melhorem a relação custo-efetividade na entrega dos serviços que atendam a estas necessidades; • Financiamento Æ Uso de soluções que combinem, de forma sustentável, fundos públicos, das empresas e das famílias com vistas a garantir acesso universal e eqüitativo aos serviços. • Qualidade Æ Definição progressiva de parâmetros que permitam aumentar a capacidade de resolução dos serviços e a satisfação do usuário e de mecanismos de avaliação e controle que permitam informar e corrigir as deficiências observadas. Avanços nos objetivos dos processos de reforma 1 - Universalização • Conceito de saúde universal – Universalização como meio: Toda a população deve ter igual acesso aos serviços de saúde oferecidos pelo Estado, independentemente de sua condição social, econômica e acesso institucional aos serviços privados de saúde. Este conceito está mais associado a IGUALDADE do que a EQUIDADE – Universalização como fim: fim O acesso aos recursos públicos deverá concentrar-se naqueles que não tem acesso aos serviços privados, devido à sua condição social, econômica ou afiliação institucional. Por se tratar de um tema de justiça distributiva, este conceito se associa mais ao tema da EQUIDADE do que ao de IGUALDADE – Na América Latina existem grupos de países que adotam a primeira definição, aqueles que adotam a segunda definição e aqueles que não se declaram com sistemas universais de saúde. A universalização segundo as Constituições Nacionais dos países latino-americanos (Constituições Vigentes em 2002) • Sistemas Universais (como meio) – Brasil, Equador, Guiana, Nicarágua e Venezuela. • Sistemas Universais (como fim) – Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala e Haiti. • Sistemas Não Definidos como Universais – Argentina, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname e Uruguai. • A inexistência de uma menção constitucional sobre saúde como direito universal não significa que em legislações complementares os países avancem com preceitos universais. Como medir o avanço do processo de universalização? • Através de estatísticas domiciliares que medem a resposta dos usuários aos quesitos de acesso; • Através das coberturas de alguns serviços básicos de saúde, como vacinação e procedimentos de atenção primária para crianças e mães; • Através de brechas existentes na utilização ou acesso aos serviços de saúde. Cobertura e acesso • O acesso, medido pelo tempo de deslocamento ao serviço de saúde mais próximo é o critério de cobertura. • Nas estatísticas domiciliares, se considera como sem cobertura a pessoa cujo tempo de deslocamento ao serviço de saúde mais próximo é superior a uma hora. • Isto significa que no caso de uma emergência (que poderia ser atendida ou minorada por um cuidado inicial de saúde) esta pessoa não receberia o atendimento necessário, podendo agravar sua situação ou até morrer. Cobertura através de Estatísticas Domiciliares • Dos países listados, os sistemas do Brasil (universal como meio) e Colômbia (universal como fim) são os que apresentam maior cobertura relacionada ao acesso (acima de 80%). • Outro indicador seria o acesso eqüitativo (medido como a relação entre o acesso do quinto e do primeiro decil de renda). Os casos de Brasil e Colômbia também são os mais eqüitativos. Ranking de Cobertura Relacionada ao Acesso – Ano 2000 G uat emal a Hai t i P er u B o l i vi a N i car ag ua Par ag uai C o l o mb i a B r asi l 0 20 40 60 80 10 0 t axas d e co b er t ur a Ranking the Acesso Equitativo – Ano 2000 Guatemala Peru Boliv ia Haiti Nicaragua Paraguai Colombia Brasil 0 2 4 6 8 10 Raz ao entre o Acesso no Quinto e Primeiro Decil 12 Cobertura de Serviços Básicos de Saúde • Neste caso, a escolha recaiu sobre duas clientelas básicas: crianças e mães • Para crianças, o indicador escolhido foi cobertura do ciclo de vacinação para menores de um ano de idade • Para mães, o indicador escolhido foi cobertura de parto por pessoal especializado • Foram considerados dois anos para comparação Evolução da Cobertura de Atendimento Capacitado ao Parto e Vacinação: 1995-2003 (Países com Sistemas Universais como Meio) Países Partos Atendidos por Pessoal Capacitado 1995 2003 Porcentagem de menores de 1 ano cobertos por vacinação (*) Cresc. (%) 1995 2003 Cresc (%) Sistemas Universais (Universalismo como Meio) Brasil 96,1 96,7 +0.6 88,75 98,00 +10,4 Equador 83,5 69,0 -17,4 78,75 95,25 +21,0 Guiana 93,0 94,0 +1,1 85,75 - - Nicarágua - 75,2 - 90,25 82,75 -8,3 Venezuela 95,0 99,7 +4,9 77,50 85,25 +10,0 Fonte: OPAS, Unidade de Análise e Estatísticas de Saúde (*) – Foi considerada a media de cobertura das vacinas contra polio, sarampo, difiteria, coqueluche, tétano e tuberculose. Evolução da Cobertura de Atendimento Capacitado ao Parto e Vacinação: 1995-2003 (Países com sistemas Universais como Fim) Países Partos Atendidos por Pessoal Capacitado 1995 2003 Porcentagem de menores de 1 ano cobertos por vacinação (*) Cresc. (%) 1995 2003 Cresc (%) Sistemas Universais (Universalismo como Fim) Bolivia 28,0 60,8 +117,4 86,75 86,00 -0,8 100,0 99,8 -0,2 94,75 94,75 - Colômbia 96,0 94,5 -1,6 93,75 90,50 -3,5 Costa Rica 97,0 97,5 +0,5 89,75 89,50 -0,3 El Salvador 58,0 83,7 +44,3 96,25 91,75 -4,7 - 41,4 - 80,50 95,75 +18,9 46,0 24,2 -47,3 37,25 55,75 +49,6 Chile Guatemala Haití Fonte: OPAS, Unidade de Análise e Estatísticas de Saúde (*) – Foi considerada a media de cobertura das vacinas contra polio, sarampo, difiteria, coqueluche, tétano e tuberculose. Evolução da Cobertura de Atendimento Capacitado ao Parto e Vacinação: 1995-2003 (Países com sistemas Não Universais) Países Partos Atendidos por Pessoal Capacitado 1995 2003 Porcentagem de menores de 1 ano cobertos por vacinação (*) Cresc. (%) 1995 2003 Cresc (%) Sistemas Não Universais Argentina 97,2 99,1 +1,9 93,25 95,00 +1,9 Honduras 59,0 62,0 +5,1 93,50 91,00 -2,7 México 74,0 91,5 +23,6 93,00 97,75 +5,1 Panamá 86,0 92,5 +7,6 88,75 99,00 +11,6 Paraguai 82,5 85,9 +4,1 81,25 89,25 +9,8 Peru 38,0 71,1 +87,1 95,75 90,75 -5,2 República Dominicana 90,0 97,8 +8,7 79,50 77,25 -2,8 Suriname 80,0 90,0 +12,5 82,75 85,00 +2,7 Uruguai 99,0 99,4 +0,4 92,75 96,00 +3,5 Fonte: OPAS, Unidade de Análise e Estatísticas de Saúde (*) – Foi considerada a media de cobertura das vacinas contra polio, sarampo, difiteria, coqueluche, tétano e tuberculose. Interpretação dos Dados A evolução da cobertura entre 1995 e 2003 não está associada ao fato do sistema ser declaradamente ou não universal, mas a outros fatores como a capacidade financeira e os mecanismos de gestão destas ações. • Atendimento a parto por pessoal especializado • Dois países pobres sofreram reduções no período: Equador e Haiti. • Países com cobertura superior a 90%, mesmo sofrendo redução de cobertura, não tem impacto significativo nos resultados (Chile e Colômbia) • Bolívia, México, Peru e El Salvador tiveram uma excepcional performance no aumento de cobertura, dada a ação focal no tema. • Ciclo de vacinação de menores de 1 ano • Em todos os três grupos de países foram encontrados casos de excelente performance no aumento de coberturas (Brasil, Equador, Venezuela, Guatemala, Haiti, Panamá e Paraguai) • Casos mais graves de redução de cobertura foram observados em Peru, República Dominicana, El Salvador, Honduras e Colômbia. • As brechas de cobertura seguem altas em países dos 3 grupos avaliados. Brechas existentes na utilização ou acesso aos serviços • Neste caso, foram avaliados as brechas de cobertura de parto por pessoal especializado, ciclo de vacinação, acesso a meios contraceptivos para mulheres em idade fértil e em união que não estão grávidas e acesso a serviços de abastecimento de água potável • Se a meta é o acesso universal a todos esses serviços, verifica-se que para a maioria dos países, inclusive aqueles que constitucionalmente definem suas políticas como universais, ainda há um longo caminho a percorrer. Brechas existentes na utilização ou acesso aos serviços Brechas de Cobertura Atendimento ao Parto por pessoal especializado (2003) Ciclo completo de vacinação (2003) Menos de 5% Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, República Dominicana, Uruguai, Venezuela Argentina, Brasil, Guatemala, Equador, México, Panamá, Uruguai. Costa Rica Chile, Costa Rica, Guatemala, Uruguai De 5% a 25% Equador, Guiana, Nicarágua, México, Colômbia, El Salvador, Panamá. Paraguai, Suriname Nicarágua, Bolívia Venezuela, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Honduras, Paraguai, Peru, Rep. Dominicana e Peru Argentina, Brasil, Colômbia, Uruguai Argentina, Bolívia, Brasil, Venezuela, Suriname, Peru, Paraguai, Panamá, Nicarágua, México, Honduras, Haiti, Guiana, El Salvador, Equador, República Dominicana De 25% a 50% Honduras, Perú, Bolivia Haití Bolívia, Chile, Rep. Dominicana, El Salvador, Equador, Nicarágua, Paraguai, Peru. Venezuela Mais de 50% Guatemala, Haití Acesso a Meios Contraceptivos (2003) Guatemala, Guyana, Haití, México, Panamá, Surinam Acesso a abastecimento d´água em rede geral 2 - Equidade • Conceito de Equidade em Saúde: – Equidade e Justiça: Iniqüidades são as diferenças em saúde que não somente são desnecessárias e evitáveis, mas que também se consideram injustas. – Equidade e Oportunidades: A eqüidade em saúde supõe que, idealmente, todos devem ter uma oportunidade justa para alcançar seu potencial em saúde e que ninguém deve estar impossibilitado de alcançar este potencial (Whitehead, 1991) Igualdade, Eqüidade e Justiça (conceitos de Amartya Sen) • Igualdade é um valor moral, enquanto que eqüidade é uma questão de justiça. • Eqüidade é uma expressão de justiça social a qual se destina a corrigir desigualdades que podem ser evitadas na distribuição de bens ou capacidades básicas que são de responsabilidade social. • A igualdade como idéia abstrata não tem força. • A justiça distributiva é o princípio que se utiliza para separar desigualdades de iniqüidades. • Necessidades, acesso, utilização e financiamento não podem ser avaliados separadamente na análise da equidade em saúde. Como medir a equidade • Equidade ao nível das necessidades: associada aos diferenciais epidemiológicos entre grupos sociais, é o ponto de partida através do qual se deve planificar os instrumentos para reduzir as brechas epidemiológicas; • Equidade ao nível do acesso: Já abordadas na sessão anterior, está associada a busca de soluções para as diferenças de acesso aos serviços entre os grupos sociais; • Equidade ao nível do financiamento: Esta associada a definição de instrumentos para fazer com que aqueles que tenham mais capacidade financeira possam contribuir (através de impostos, ou através dos processos de consumo de serviços) para financiar os serviços de saúde para aqueles com menor capacidade financeira. Iniqüidades nas necessidades • A razão entre os quintis mais rico e mais pobre associada a padrões epidemiológicos mostra a iniquidade nas necessidades de saúde • Em países como a Bolívia, por exemplo, as taxas de mortalidade infantil do quintil mais pobre chegam a ser 4 vezes maiores que as relacionadas ao quintil mais rico. Razão entre o Quintil mais pobre e o mais rico Países Taxa de Mortalidade Taxa de Mortalidade de Menores de 5 anos de Menores de 1 ano Brasil 3.7 2.9 Bolivia 4.6 4.2 Colombia 2.2 2.5 Republica Dominicana 3.4 2.9 Perú 5.0 4.0 Guatemala 2.7 1.6 Haití 1.5 1.3 Paraguay 2.8 2.7 Nicaragua 2.3 2.0 Dados: MECOVI, 2000 Iniqüidades no acesso aos serviços Tasas de cobertura de servicios de salud por quintil de ingreso Países seleccionados de América Latine y el Caribe: 2000 Tasa de Cobertura Quintil más pobre Bolivia 56.7 19.8 44.8 67.7 87.9 97.9 Brasil 87.7 71.6 88.7 95.7 97.7 98.6 Colombia 84.5 60.6 85.2 92.8 98.9 98.1 Guatemala 34.8 9.3 16.1 31.1 62.8 91.5 Haití 46.3 24.0 37.3 47.4 60.7 78.2 Nicarágua 64.6 32.9 58.8 79.8 86.0 92.3 Paraguai 66.0 41.2 49.9 69.0 87.9 98.1 Peru 56.4 14.3 49.6 75.4 87.2 96.7 Países Segundo Quintil Tercero Quintil Cuarto Quintil Quintil más rico Iniqüidades na Utilização Razão entre o quintil mais pobre e o mais rico • Da mesma forma que visto anteriormente, as diferenças de acesso entre quintis podem ser observadas na razão entre os níveis de utilização do quintil mais pobre em relação ao mais rico • Os diferenciais são maiores no que se refere a cobertura de parto por pessoal qualificado e uso de contraceptivos, dado que vacinação sempre tem um alcance mais horizontal dentro da população. Uso de Cobertura do Ciclo contraceptivos parto por completo em mulheres de pessoal de 15 a 49 anos vacinação Capacitado Brasil 0.8 0.2 0.7 Bolivia 0.7 0.7 0.2 Colombia 0.7 0.6 0.6 Republica. Dominicana 0.5 1.0 0.8 Perú 0.8 0.4 0.5 Guatemala 1.0 0.5 0.1 Haití 0.4 0.7 0.2 Paraguay 0.4 0.7 0.4 Nicaragua 0.8 0.4 0.6 Países Iniqüidade no Gasto Público em saúde Distribuição % dos Benefícios do Gasto Público em Saúde por quintís de renda em Países selecionados da América Latina e do Caribe na década de 1990 Países Quintiles de Ingreso Más Pobre Segundo Tercero Cuarto Más Rico Argentina (1991) 38.7 16.6 25.5 14.8 4.4 Bolivia (1990) 31.5 26.5 19.5 14.2 8.3 Chile (1996) 30.9 23.2 22.2 16.5 7.2 Colombia (1997) 17.5 19.7 22.2 20.7 19.9 Costa Rica (1996) 27.7 23.6 24.1 13.9 10.7 Ecuador (1995) 12.5 15.0 19.4 22.5 30.6 Guatemala (1999) 12.8 12.7 16.9 26.3 31.3 Jamaica (1996) 25.3 23.9 19.4 16.2 15.2 Perú (1996) 20.1 20.7 21.0 20.7 17.5 Uruguay (1993) 34.9 19.9 22.1 13.2 10.0 Fonte: World Bank (2001) e OPAS (2002) Iniqüidade no gasto público • Gastos públicos podem ser progressivos ou regressivos. • O gráfico ao lado mostra que, no caso do Chile, o gasto público é progressivo (isto é, o governo gasta mais com os mais pobres) enquanto no Equador o gasto público é regressivo (o Governo gasta proporcionalmente mais com os mais ricos). Distribuição do gasto público em saúde por quintil de Renda 1996 – Chile e Equador 35 30 25 20 15 10 5 0 Q1(+pobre) Q2 Q3 Chile Q4 Ecuador Q5(+ rico) Equidade no financiamento da Saúde no Brasil 2003 Decil de Renda 1 2 3 4 5 6 Parcela da Renda Dedicada ao Financiamento da Saúde (%) Dos Gastos Dos Planos de Total Do SUS Familiares Saúde 3,42 0,43 6,76 10,61 3,28 0,25 5,58 9,11 4,06 0,44 5,59 10,08 5,34 0,53 5,52 11,39 4,08 0,94 5,26 10,28 4,78 0,83 4,62 10,24 7 8 9 4,70 4,54 4,48 1,03 1,68 1,88 4,74 4,50 3,39 10,48 10,73 9,75 10 4,15 1,84 3,08 9,07 Fonte: Ugá, Maria Alicia, 2007 Como avançar no tema da equidade • A eqüidade no financiamento da saúde não pode ser vista de forma isolada da eqüidade ao nível das necessidades, acesso, utilização e gasto. • Utilizar o financiamento como base para a eqüidade, sem pensar em fazer eqüidade através do gasto é arriscado e pode levar a resultados regressivos. • Na América Latina, existem poucos estudos que permitam avaliar longitudinalmente se as reformas aumentaram ou reduziram a equidade em saúde. Estudos desta natureza demandam utilizar fontes múltiplas como pesquisas de orçamentos familiares, fontes fiscais e estados financeiros realizados dos serviços públicos e privados de saúde. 3. Essencialidade • Essencialidade mede o conjunto de bens e serviços essenciais de saúde que é garantido, em termos mínimos, nos instrumentos de regulação das reformas de saúde; • Algumas reformas de saúde partiram do princípio de que a cobertura seria integral, mas com o tempo o conceito de integralidade passou a ser restrito a um conjunto restrito ou amplo de serviços a ser entregue a população • Organismos multilaterais tentaram associar a essencialidade a um conceito de pacote básico de serviços mas poucos países da América Latina partiram para uma definição tão restrita • No entanto, o tema da extensão e qualidade da cobertura (não só de serviços como também de bens, como medicamentos) faz parte das discussões do dia a dia das reformas Avanços nos instrumentos das reformas 1 - Descentralização • O tema de descentralização em saúde envolve pelo menos 3 processos: – Desconcentração ou transferência limitada de decisões administrativas a níveis inferiores, mas sem patrimônio próprio; – Devolução do poder decisório total as unidades administrativas inferiores, incluindo o patrimônio e; – Concessão ou estabelecimento de autonomia a unidades prestadoras, como os hospitais. • A descentralização, por outro lado, pode ser dada em vários níveis: para Estados ou Municípios, para Comunidades, para Unidades de Saúde, etc. • Existem, por outro lado, cinco tipos de funções que podem ser descentralizadas: fiscais, programáticas, de recursos humanos, de de prestação de serviços e da compra de insumos ou provisão. Descentralização na América Latina • Em geral todos os países tem passado por processos de descentralização de saúde, com algumas idas e vindas. • Segundo estudo da OPAS, em 13 países da América Latina, a descentralização tem enfatizado os níveis intermediários (Estados, Regiões, Departamentos ou Províncias) e em sete a ênfase tem sido dada aos níveis locais (Municípios). • Alguns países tem dado ênfase a descentralização ao nível dos hospitais. Organismos multilaterais, como o Banco Mundial, tem apoiado a descentralização administrativa ao nível dos hospitais públicos, através da introdução de compromissos de gestão. Graus de descentralização em saúde e resultados alcançados ao início dos anos 2000 • Graus de Descentralização – – – – – Muito alto: Brasil, Costa Rica Alto: Argentina, Bolívia, Colômbia, Cuba, Chile, Médio: México, República Dominicana Baixo: El Salvador, Nicarágua, Panamá, Peru e Uruguai Muito Baixo: Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, Paraguai e Venezuela • Resultados alcançados: Em geral positivos por aumentar a eficiência e capacidade de resposta dos serviços. A descentralização também aumentou o horizonte da participação social e reduziu as brechas de cobertura. • Aspectos Negativos: Em muitos casos trouxeram, como corolário, aumentos nas disparidades regionais. Temas como perdas nas economias de escala na compra de medicamentos também vem sendo apontados em algumas análises. 2 - Gestão Eficiente • Introdução de mecanismos de concorrência entre seguradores e prestadores: Países como Colômbia, Chile, Argentina, Uruguai, República Dominicana e Peru tem baseado seus sistemas de saúde, especialmente a parcela da seguridade social, em estruturas competitivas de oferta de serviços, mas poucos estudos tem sido feitos para demonstrar se há ocorrido um aumento de eficiência associado a este processo. • Um dos efeitos, entretanto, tem sido o aumento do grau de concentração na oferta de serviços de saúde, dado que a concorrência, o aumento do grau de informalidade e a inexistência de instrumentos adequados de regulação tem levado necessariamente ha uma concentração da oferta. • No caso dos prestadores hospitalares a existência de sistemas independentes de gestão tem apontado, em alguns casos, bons resultados como demonstra a experiência de São Paulo das Organizações Sociais do Estado na área hospitalar, refletida em recente estudo do Banco Mundial. Gestão Eficiente – Livre escolha • Na seguridade social: Onde se introduziu concorrência entre prestadores se introduziu liberdade de escolha: foi o caso do Chile, Argentina, Peru e outros. Ainda que limitada aos grupos de mais alta renda, a liberdade de escolha tem melhorado o grau de satisfação dos usuários. No entanto fatores como a assimetria de informação tem impedido que este mecanismo tenha alcançado plenamente seus resultados. • No setor público: Em alguns países, como no Brasil, a liberdade de escolha entre provedores já existia praticamente entre os beneficiários do SUS, que podem escolher entre estabelecimentos e clínicas públicas ou privadas, ainda que estejam limitadas geograficamente. • No mix público-privado: No caso do mix público-privado, alguns avanços tem sido feitos na área de livre escolha através da opção de seguros populares, como o que vem-se desenvolvendo no México, desde 2002 e que abarca cerca de 11 milhões de beneficiários. Gestão eficiente – uso racional dos recursos • Embora não existam mecanismos padronizados para avaliar o resultado das reformas, vários mecanismos tem levado ao uso racional dos recursos nas reformas, cabendo destacar: – – – – Desregulamentação, liberdade de escolha (Obras Sociais na Argentina); Gestão autônoma dos hospitais (Colômbia, Brasil, etc.) Uso de compromissos de gestão nos hospitais (Costa Rica); Substituição de subsídios a oferta por subsídios a demanda na gestão de unidades públicas e gestão de risco nas seguradoras privadas de saúde (Chile) • No entanto, a maioria das reformas não promoveu instrumentos adequados para a gestão eficiente dos recursos e administração de pessoal, dadas as grandes resistências à mudança geradas nas classes médicas e gerenciais do sistema. • Processos que poderiam melhorar a gestão como a acreditação de hospitais e a certificação de profissionais raramente tem sido utilizados nos processos de reforma. 3 - Financiamento • Ocorreu crescimento do gasto total em saúde nos últimos 20 a 25 anos • Gasto público cresce “empurrado”pelo gasto do governo central e local • Gasto da seguridade social se reduz como resultado do aumento da informalidade • Gasto privado aumenta como resultado do crescimento dos planos de saúde • Gasto direto domiciliar se reduz, o que demonstra uma tendência ao aumento dos mecanismos de seguro na saúde Tendência do gasto em saúde segundo o nível de renda Grafico 32: Ingreso percapita, gasto en salud y poblacion mayor de 65 de edad en ALC - 2001 1400 g a s to p e r c a p ita c o n s a lu d • O gasto em saúde na ALC tem ficado relativamente estagnado na faixa dos 7,3% do PIB entre 2000 e 2004 • Vários fatores, como a crise dos anos 2001 e 2002 que afetou países do Cone Sul contribuiu para isso fazendo com que as reformas aumentassem seu esforço em racionalizar o gasto • No entanto, países com gasto percapita maior são aqueles que, mesmo com maior renda percapita, tem grandes contingentes de população de terceira idade (ver gráfico) 1200 Ar 1000 800 600 Ch Bb Ur 400 200 0 1.000 10.000 log Ingreso per capita 100.000 4 - Qualidade • Qualidade tem sido o setor abandonado nas reformas, mas progressivamente vem ganhando atenção dos governos • Vários fatores tem aparecido como sintoma dessa maior preocupação com os temas de qualidade: – O uso crescente de protocolos clínicos e de estruturas de segmento de sua aplicação – O uso de mecanismos de tecnologias de informação e comunicação, como telemedicina, prontuários informatizados e cadastro eletrônico de pacientes – O crescimento dos processos de acreditação voluntária de hospitais e estabelecimentos de saúde – A preocupação em aumentar a qualidade técnica dos profissionais de saúde, a través de processos de capacitação e treinamento e certificação profissional • Boa parte destas inovações ainda não chegou aos usuários mais pobres e essa pode ser o câmbio do paradigma das reformas de saúde para os próximos 10 anos. Muito Obrigado • Andre Medici email: [email protected] • Rita Sorio email: [email protected]