Clipping Fenep 08-06-15 Clipping 08/06/15

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Clipping Fenep 08-06-15 Clipping 08/06/15
Clipping Nacional
de
Educação
Segunda-feira, 08 de Junho de 2015
Capitare Assessoria de Imprensa
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08/06/15
SOCIEDADE
A lição das greves em série
Os resultados do modelo de
educação estatal são modestos no
Brasil. Talvez seja hora de pensar
em novas alternativas, que
incluam a iniciativa privada e o
terceiro setor
Fernando Schüler
Greves no ensino público, no
Brasil, tornaram-se uma não
notícia. Na última quarta-feira, dia
3, algumas centenas de ativistas e
professores, em um melancólico
encontro, no vão do Museu de Arte
de São Paulo (Masp), decidiram
prosseguir sua greve de quase três
meses na rede estadual de ensino.
Eles sabem que o movimento não
tem adesão nem apoio social.
Sabem que muitos alunos terão o
ano letivo comprometido. Mas são
gente de luta. A certa altura da
tarde, conseguiram atrapalhar um
pouco o trânsito da Avenida
Paulista e se dirigiram à sede da
Secretaria de Educação, na Praça
da República. Difícil terem
encontrado alguém por lá, naquela
véspera de feriado.
Leio nos jornais que agora são
os professores da rede federal de
ensino que decidem começar uma
greve. Consta que o movimento
atinge 23 universidades federais,
com adesão incerta, e mais um
punhado de instituições com
greves de seus funcionários e
técnicos.
Há boas razões para a
insatisfação dos professores da
rede federal. Com o ajuste fiscal,
o governo anunciou um corte de R$
9,4 bilhões do orçamento do
Ministério da Educação, que se
reflete no contingenciamento dos
orçamentos das universidades.
Nossas universidades funcionam
como repartições públicas. A
"autonomia universitária" não
envolve o controle sobre receita
orçamentária. É da natureza do
modelo de gestão estatal de ensino
que o país escolheu. Esse mesmo
que é defendido, na pauta de
reivindicação dos professores, sob
o slogan da "defesa da educação
pública".
O slogan traduz, por óbvio, o
velho mantra das corporações do
setor público brasileiro contra
qualquer inovação, em termos de
política educacional, que possa ser
enquadrada sob o rótulo de
"privatização" do nosso ensino.
Recentemente, foi divulgada
uma pesquisa, encomendada pela
Associação Brasileira de
Empreendedorismo
Social
(Abraes), com os resultados
obtidos pelos estudantes
brasileiros no Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes
(Enade). O universo da pesquisa
era o 1,3 milhão de estudantes
concluintes do ensino superior que
realizaram o exame em 2010,2011
e 2012. Os dados são interessantes.
Os alunos com bolsa integral do
Programa Universidade para
Todos (Prouni), que estudam em
instituições privadas, apresentaram
um índice médio de acertos de
49,3%, substancialmente melhor
do que o dos alunos não bolsistas,
que atingiram uma média de
41,8%. Resultado previsível, por
diversas razões, a começar pelo
fato de que o programa exige nota
mínima no Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) para a
concessão da bolsa.
O dado surpreendente surgiu da
comparação entre a nota obtida
pelos alunos bolsistas do programa
e a obtida pelos alunos de nossas
universidades públicas, que
alcançaram uma média de 47,8%
de
acertos.
Alunos
de
universidades públicas têm, em
média, o dobro da renda dos
bolsistas do Prouni. Seus pais têm
escolaridade significativamente
mais elevada, e eles também
passaram por processos seletivos,
em geral rigorosos. Mesmo assim,
ficaram para trás.
A pesquisa mostra que apenas
5% dos alunos bolsistas do Prouni
estudaram em escolas privadas, no
ensino médio, contra 37% dos
alunos de universidades estatais.
Seu desempenho ajuda a derrubar
a tese, defendida por boa parte de
nossos advogados do ensino
estatal, segundo a qual é a origem
social, e não a má qualidade da
08/06/15
escola, que condiciona os
resultados obtidos pelos alunos. É
evidente que nenhuma pesquisa,
isoladamente, nos autoriza a tirar
conclusões sobre um tema
complexo como a educação
brasileira. Mas é preciso estar
atento ao processo de mudança.
O Brasil apostou, nas últimas
duas décadas, na constituição de
dois universos distintos na
educação superior De um lado,
preservou e fez crescer o setor
estatal de educação. Em menos de
15 anos, passamos de 45 para 63
universidades federais. O modelo
consome cerca de 30% do
orçamento do Ministério da
Educação e apresenta resultados
bastante modestos. Na última
edição do ranking global da Times
Higher Education, não há nenhuma
universidade federal entre as 400
melhores do planeta. De novo:
qualquer ranking pode ser
questionado. O problema é quando
há muitos rankings, e muitas
pesquisas, apontando em uma
mesma direção.
Em paralelo ao modelo estatal,
produziu-se, no país, um rápido
crescimento do setor privado de
educação superior. O Brasil gerou,
inclusive, um dos maiores, se não
o maior, grupos de educação
superior do mundo, o Grupo
Kroton. A partir de meados dos
anos 2000, o segmento privado
ganhou novo impulso, seja com o
Prouni,
seja
com
o
aperfeiçoamento do Fundo de
Financiamento Estudantil (Fies),
hoje momentaneamente abalado
pelas restrições do ajuste fiscal.
É previsível que grupos
educacionais privados, com fins
lucrativos, concentrem seu foco na
oferta de ensino, e não na pesquisa.
Na captação de alunos, em especial
para cursos de graduação,
presenciais ou a distância.
Operando em um ambiente
concorrencial, é também natural
que evoluam, continuamente, em
sua capacidade de atender bem o
aluno. O mercado é seletivo. Em
boa medida, a falência de velhos
grupos universitários particulares,
em geral de controle familiar,
expressa a conhecida regra da
"destruição criativa" produzida
pelo mercado. Os melhores
tomarão à frente.
Resumo da ópera: de um lado
temos o pesado financiamento
público a uma rede estatal voltada
à pesquisa, regido por normas
avessas à eficiência e vulneráveis
à ação das corporações. Uma
imensa quantidade de talento, feita
de professores e pesquisadores de
ponta, travada pelo peso da
burocracia do Estado; de outro uma
rede privada dinâmica, voltada à
sobrevivência no mercado.
Talvez nos falte apostar, com
força, em um terceiro caminho, que
em boa medida já floresce no país.
Um modelo que possa ajustar o
sistema de incentivos. Aliar a
capacidade de financiamento do
Estado à vocação para a gestão do
setor privado. A experiência
internacional parece indicar que o
ambiente adequado a esse encontro
é o universo do setor público não
estatal. Setor que funciona com
incentivos de mercado, mas não
distribui resultados. Aplica-os na
qualidade do produto.
No Brasil, há inúmeros
exemplos nesta direção. Vale
visitar o Hospital Sara Kubitschek,
em Brasília, e verificar como
funciona esta inusitada parceria
público-privada, criada há duas
décadas e meia. Há o Impa, nosso
Instituto de Matemática Pura e
Aplicada, nas franjas da Floresta
da Tijuca, no Rio de Janeiro. O
Impa é uma organização social.
Recentemente, o Supremo Tribunal
Federal deliberou, pondo fim a uma
celeuma de quase duas décadas,
que o modelo das organizações
sociais
é
perfeitamente
constitucional e pode ser usado na
prestação de serviços públicos.
Ok, os críticos dirão que não daria
certo, que não se pode misturar as
coisas, que há isto ou aquilo.
Talvez seja melhor continuar do
jeito que estamos. Quem sabe esta
nova greve nos ajude a encontrar
uma resposta.
O GLOBO
08/06/15
RIO
Programa estadual para
jovens fica longe da meta
Com verba milionária do BID,
Caminho Melhor prestou, em dois
anos, só 10% dos atendimentos
esperados
A aposentada X., de 65 anos, é
avó de trigêmeos de 16. No ano
passado, ela procurou a unidade
do programa Caminho Melhor
Jovem, do governo do estado, em
Manguinhos, em busca de
acompanhamento psicológico e
encaminhamento educacional para
os netos. Um deles tem 20
apreensões por roubo e furto. Um
outro soma 17 anotações
criminais, e o terceiro foi detido
sete vezes. Os três estão internados
no Departamento Geral de Ações
Socioeducativas ( Degase).
— Fiquei esperançosa e
cadastrei todos no projeto, mas,
até agora, ninguém entrou em
contato — disse a avó.
Com investimento de US$ 84,5
milhões ( aproximadamente R$
265 milhões), sendo US$ 60
milhões ( R$ 190 milhões)
financiados
pelo
Banco
Interamericano
de
Desenvolvimento ( BID), o
programa Caminho Melhor Jovem
nasceu em 2013. A expectativa do
governo era, em quatro anos,
chegar a 20 regiões e beneficiar
40 mil jovens em vulnerabilidade
social com acompanhamento
psicossocial
e
cursos
profissionalizantes em instituições
parceiras.
No entanto, a iniciativa nunca
decolou. Passados dois anos,
somente sete comunidades
receberam postos do programa.
Segundo o coordenador do
projeto, o psicólogo Renato
Herzog, cerca de 4 mil
atendimentos foram realizados até
hoje. Ou seja, apenas 10% do
esperado inicialmente. O número,
que já é baixo, não representa a
quantidade de pessoas realmente
beneficiadas, uma vez que a
Secretaria de Esporte, Lazer e
Juventude, responsável pelo
Caminho Melhor, não soube
precisar quantos jovens foram
efetivamente matriculados em
cursos profissionalizantes.
De acordo com uma
conselheira do programa que
preferiu não se identificar, a
procura foi grande no início:
— Após o processo inicial de
traçar um plano vocacional e de
vida para os adolescentes, não
houve encaminhamento para os
cursos de interesse dessas pessoas.
Ficou tudo na conversa. Foi muito
dinheiro investido, mas a demanda
não foi suprida. Não conseguimos
atender às necessidades da
população local.
FOLHA DE SÃO PAULO
08/06/15
EDITORIAL
Dividir e subtrair
O aspecto mais lamentável dos sopapos e pontapés
trocados por professores paulistas em greve, na sua
última assembleia, está em não suscitarem surpresa.
Já na metade desta paralisação recorde, em 23 de
abril, docentes amotinados tentaram invadir e
vandalizaram a entrada do prédio histórico Caetano
de Campos, na região central de São Paulo. A
categoria se perde e se afunda na própria
intransigência.
Composta por 230 mil pessoas, vê seu futuro
comandado por algumas centenas, ou uns poucos
milhares, de militantes que afluem quase
semanalmente à avenida Paulista. Mais para atrapalhar
o trânsito e chamar a atenção do que para devolver
alguma racionalidade à série de desatinos iniciada
há quase três meses.
Que essa paralisação se tenha tornado a mais longa
da história da Apeoesp (sindicato dos docentes
paulistas) poderia até ser comemorado como um feito
por grevistas mais iludidos ou inflexíveis. Mas a
verdade é que ela se encaminha para um final
melancólico.
Os professores estão divididos; os mais
tresloucados entre os que ainda comparecem às
assembleias impuseram a continuação da paralisação,
numa votação conturbada.
Nas escolas, porém, a já limitada adesão passou a
definhar assim que o ponto dos faltosos foi cortado.
A própria presidente do sindicato defendeu o retorno
às aulas, mas terminou derrotada.
O governo de Geraldo Alckmin (PSDB) tem sua
parte de responsabilidade, por certo. Alega que não
pode dialogar antes de finalizar o novo plano salarial,
até julho, quando se completa um ano do último
reajuste.
A recusa a negociar a demanda exorbitante dos
docentes por um aumento de 75% decorre de
considerar que a greve tem motivação política. Com
efeito, ela foi decidida em meio a manifestações de
sindicatos e outros grupos que nada tinham a ver com
educação em apoio à presidente Dilma Rousseff (PT).
Os líderes do professorado dizem defender a
qualidade do ensino, mas a justificativa soa insincera.
Mestres que se dispõem a subtrair de seus alunos
quase três meses de aulas patenteiam que o
aprendizado não coroa sua escala de prioridades.
Mesmo com baixa adesão, a greve desarranja
ainda mais a caótica rotina das escolas estaduais. Os
professores só fizeram aumentar a revolta de pais e
estudantes com a decisão canhestra da última
assembleia, e deles agora se espera que não reincidam
no erro.
FOLHA DE SÃO PAULO
08/06/15
TENDÊNCIAS & DEBATES
Não há vencedores
HERMAN VOORWALD
Travestir a defesa de grupos
políticos e partidários em batalha
pela melhoria da educação agride
o direito de aprender e o de
ensinar
Disputas
e
conflitos
subentendem por definição a
existência de vencedores e
perdedores. Se originam da
premissa de que, ao final, um
grupo deixará a contenda levando
consigo a razão e a ideia, por
vezes falsa, de prevalência diante
do adversário. Pressupõem ainda
a existência de lados antagônicos,
o que, invariavelmente, culmina no
entendimento de que a vitória de
uns advém do fracasso de outros.
Algumas batalhas, no entanto,
já nascem derrotadas. Em
educação, por exemplo, o sucesso
é fruto da reunião de esforços e
da disputa de um único time, em
que todos, a despeito de algumas
divergências, vestem a mesma
camisa e empunham a mesma
bandeira.
O lado também é um só: o do
aluno. Por essa razão, travestir a
defesa de agremiações políticas e
partidárias em uma batalha pela
melhoria da educação agride o
direito inalienável de aprender e
o de ensinar, além de produzir uma
guerra da qual ninguém sai
vencedor.
Nos últimos meses, a educação
pública paulista, notoriamente
reconhecida por sua grandeza,
pluralidade e histórico de inclusão
tem sido utilizada por uma entidade
sindical a cargo de interesses
alheios ao ensino e, sobremaneira,
distantes do compromisso de
milhares de professores pelo
aprendizado. Ofereceu-se o
diálogo, o sindicato optou pelo
enfrentamento.
A Apeoesp, único dos seis
sindicatos da educação a entrar em
greve, por meio de malabarismos
numéricos, tem transformado uma
paralisação em um evento
midiático e, por vezes, violento. A
própria Justiça tem reagido com
austeridade.
A maioria dos professores do
Estado de São Paulo escolheu
manter o compromisso com alunos
e famílias: 95% estão nas escolas.
Na tentativa de fazer valer sua
pauta, grevistas desafiam o bom
senso. Paralisaram estradas,
criaram campanhas para incentivar
que os pais não levassem seus
filhos à escola, ameaçaram
professores que se recusaram a
cruzar os braços e danificaram um
patrimônio histórico de São Paulo,
encapuzando baderneiros como se
fossem professores.
O movimento se recusa a olhar
o passado recente. Em 2011, uma
das primeiras ações do governo de
São Paulo foi a materialização de
uma política salarial para todos os
professores da rede.
A proposta foi transformada em
lei e garantiu um reajuste de 45%
de aumento nominal (21% real),
distribuídos ao longo de quatro
anos. Mais de 415 mil professores,
entre ativos e aposentados, foram
contemplados e o salário do
professor paulista chegou a ser
42% superior ao piso nacional.
O passado recente também
observa a criação de um plano de
carreira inédito, a realização do
maior concurso da história do
magistério paulista e a
participação efetiva de todas as
entidades na construção das
políticas educacionais do Estado.
Ofereceu-se a legitimidade, o
08/06/15
sindicato optou pela batalha.
No início deste ano, o governo
paulista garantiu uma nova política
salarial. Em meio a uma séria crise
econômica, São Paulo reafirmou o
compromisso pela valorização. A
exemplo do que havia feito no
início da última gestão, manteve o
mês de julho como data-base. O
sindicato se recusou a ouvir e
decretou, arbitrariamente, a greve.
Em educação, as rivalidades
tendem a ser covardes, penalizando
aqueles que têm no aprendizado a
principal ou única alternativa para
a construção de um futuro.
Sem vencedores, atingimos o
contraditório, fazendo recrudescer
o entendimento de que a escola
pública não pode mais servir a
interesses alheios às suas mais
importantes tarefas: a de acolher e
a de ensinar. Qualquer outra
batalha pressupõe a derrota dos
indefesos.
HERMAN VOORWALD, 60,
professor, é secretário da
Educação do Estado de São Paulo
FOLHA DE SÃO PAULO
08/06/15
TEC
Oi, tô na aula
Estudo inglês mostra que alunos
de colégios que proíbem celulares
tiram notas mais altas; no Brasil,
escolas vão desde banir o uso até
incentivá-lo
MATEUS LUIZ DE SOUZA
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
Um estudo divulgado no mês
passado pela London School of
Economics mostrou que alunos de
escolas da Inglaterra que baniram
os smartphones melhoraram em até
14% suas notas em exames de
avaliação nacional.
O
aumento
acontece
principalmente entre estudantes
com conceitos mais baixos. Na
faixa etária entre 7 e 11 anos, o
banimento ajudou alunos com
aproveitamento abaixo de 60% nas
provas. Para o resto, não mudou
nada.
"Distrações atingem todo
mundo, mas são piores em alunos
com celulares. E ainda piores
naqueles com notas mais baixas",
diz à Folha Louis-Philippe Beland,
um dos autores do estudo.
O impacto da proibição, diz
ele, é o equivalente a uma hora a
mais de aula por semana. O estudo
"Tecnologia, distração e
desempenho de estudantes" foi
feito com 130 mil alunos desde
2001, em 91 escolas de quatro
cidades.
Na Inglaterra, não há uma
legislação sobre o uso de
smartphones nas escolas. Cada
colégio define sua própria política.
No Brasil, tramita na Câmara dos
Deputados um projeto de lei, deste
ano, que visa proibir a utilização
de celulares em salas de aulas.
como estudos assim são
conduzidos. "O celular pode
atrapalhar provas que medem
memorização. Mas é difícil
preparar o aluno para o mundo
tecnológico sem um celular na
mão."
EM SALA
O uso somente seria autorizado
pelo professor, desde que com
viés pedagógico. "Alunos não
podem ter contato com celular
durante a explicação. É como
deixá-los conversar livremente",
diz o deputado Alceu Moreira
(PMDB-RS), autor do projeto. Em
São Paulo, desde 2007 colégio
públicos estaduais já têm essa
proibição.
A coordenadora de educação da
Unesco (braço da ONU para
educação e cultura) no Brasil,
Rebeca Otero, questiona a
necessidade de a legislação
intervir no assunto.
"Precisa criar uma lei proibindo
o aluno de bater no professor? Não.
O raciocínio é o mesmo para os
celulares." Segundo ela, uma
legislação assim pode ser mal
interpretada pelos docentes,
desestimulando-os a trabalhar com
ferramentas pedagógicas.
Para Luciana Allan, doutora
pela USP especializada em
tecnologias aplicadas à educação,
é preciso ter em mente o modo
A Unesco lançou, em 2013, o
guia "Diretrizes de Políticas para
a Aprendizagem Móvel", que
afirma que aparelhos móveis
podem ajudar em sala de aula.
Assim pensa o professor de física
Marcelo Barão, do colégio Vital
Brazil, em São Paulo, que usa
aplicativos com os alunos.
O Sensor Kinetics, por
exemplo, permite demonstrar
fenômenos como gravidade,
aceleração, rotação e magnetismo.
"A aula é a mesma de 20 anos
atrás, mas agora o aluno se sente
mais atraído."
Na aula de artes de Maristela
Turíbio, como os jovens mexem
nos celulares o tempo todo, ela
propôs atividades com o aparelho.
"A ideia era tirar uma selfie
conceitual. O engajamento foi
grande".
Na escola estadual Imperatriz
Leopoldina, em São Paulo, o
celular não pode ser usado, para
evitar que alunos procurem as
respostas da prova na internet.
08/06/15
"Mas tem gente que traz a cola de
casa do mesmo jeito", diz Lucas
Alves, 15.
O colégio Elvira Brandão
utiliza, fora de sala, o Google
Classroom, aplicativo que conecta
alunos e professores em tempo
real, com correções de atividades,
solução de dúvidas etc. Durante a
aula, é proibido usar o celular, que
deve ficar na mochila.
Na Escola da Vila, os alunos até
o 5º ano não podem levar
celulares. Do 6º ano em diante, só
com permissão do professor. As
atividades utilizam notebooks e
tablets. O smartphone é usado só
para fotografar projeções de slides
ou de lousas, diz a coordenadora
de tecnologias educacionais,
Helena Mendonça.
O professor de história
Reginaldo Polesi é contra o uso de
aparelhos porque acredita que os
alunos se distraem mais do que com
as distrações de antigamente, como
fazer aviãozinho de papel e
desenhar na carteira.
Gabriela Molina, 15, utiliza o
smartphone como calculadora nas
aulas, além de aplicativos
educacionais.
Como
se
desconcentra com facilidade,
comemora o fato de os
smartphones não serem liberados
o tempo todo. "Não ia conseguir
prestar atenção na aula."
CORREIO BRAZILIENSE
08/06/15
Sisu abre inscrições hoje
As inscrições no Sistema de
Seleção Unificada começam hoje.
Os interessados podem consultar
as vagas disponíveis no site do
sistema. Esta edição vai oferecer
55.576 vagas em 72 instituições
públicas. Para participar do Sisu,
o candidato precisa ter feito o
Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) de 2014 e não ter zerado a
redação. As inscrições estarão
abertas até quarta-feira. Na hora
da inscrição, o candidato deve
escolher, por ordem de
preferência, até duas opções entre
as vagas ofertadas pelas
instituições participantes do Sisu.
Também deve definir se deseja
concorrer pelo sistema de cotas ou
não.
BRASIL
CORREIO BRAZILIENSE
08/06/15
UNE elege nova presidente
A União Nacional dos
Estudantes (UNE) elegeu ontem a
estudante de economia da
Pontifícia Universidade Católica
(PUC) de São Paulo Carina Vitral,
de 26 anos. Nascida em Santos
(SP), ela é presidente da União
Estadual dos Estudantes de São
Paulo. Ela é ligada a um braço do
Partido Comunista do Brasil
(PCdoB),
legenda
que
historicamente dita os rumos da
entidade.
BRASIL
CORREIO BRAZILIENSE
08/06/15
ECONOMIA
4 mil vagas em concursos federais
Em decorrência do ajuste fiscal, as autorizações para a realização
de novos concursos na administração pública estão sendo feitas a contagotas. Quem ambiciona uma vaga no governo, no entanto, não deve
desanimar, uma vez que a vacância nos órgãos públicos pode aumentar.
Segundo dados da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos
Concursos (Anpac), cerca de 50% dos cargos do Executivo Federal
estão sendo ocupados por servidores prestes a se aposentarem.
Até o lançamento de editais aguardados pelos concurseiros, será
importante manter o foco nos estudos para não ficar atrás da
concorrência. Refazer exercícios e estudar provas anteriores do
concurso almejado são algumas das dicas apontadas por especialistas
para não ficar parado. E nem há motivos para isso. Neste momento, na
área federal, há 4.075 vagas distribuídas entre 144 seleções para
provimento de cargos de todos os níveis de formação.
É importante ter atenção ao prazo de inscrição. O de alguns
concursos, como o do TJDFT, se encerra nesta semana.
CORREIO BRAZILIENSE
08/06/15
CIDADES
VESTIBULAR UNB »
16 mil na torcida pela aprovação
Depois de dois dias de provas,
estudantes que concorrem a vagas
na Universidade de Brasília
esperam pela divulgação dos
gabaritos, marcada para amanhã.
Instituição oferece 4.212
oportunidades
» BERNARDO BITTAR
» RENATA RUSKY
Ontem, os concorrentes
responderam questões de química,
física, matemática e biologia:
disputa acirrada
Nem todos os estudantes que
cumpriram a primeira etapa do
vestibular 2015 da Universidade
de Brasília (UnB) compareceram
ao segundo dia de provas. Ontem,
foram 1.444 desistências, que,
somadas às ausências de sábado,
totalizaram 2.666 pessoas a menos
na disputa pelas 4.212 vagas
oferecidas pela instituição. Os
alunos chegaram confiantes, mas
muitos esqueceram o documento
de identificação e acabaram
barrados.
Matemática, biologia, física e
química não assustaram o estudante
Silvio Marcelino, 18, um pretenso
engenheiro que estudou 12 horas
por dia durante seis meses para
garantir a aprovação. “As questões
dessas disciplinas valem mais
pontos para mim e, felizmente, o
assunto é o que mais me interessa.
Não foi nenhum sacrifício passar
algum tempo acompanhado dos
livros. Agora, é ver o resultado”,
disse. Para os cursos de
engenharia, estatística, farmácia e
medicina, a prova de ontem tinha
peso maior do que o primeira
etapa, realizada no sábado.
A seleção para os 97 cursos de
graduação para o segundo semestre
letivo de 2015 teve 18.804
inscritos. Para a candidata ao curso
de medicina Stephany Benelli, 18
anos, sair-se bem nos testes das
matérias de exatas era fundamental.
“Fiz um cursinho das 7h às 12h50
por seis meses e ainda
complementava os estudos das 14h
às 21h. Sempre focando nessas
disciplinas”, disse.
Tanto esforço tem uma razão: a
concorrência entre os futuros
médicos é de 97,17 candidatos por
vaga. Em segundo lugar, ficou o
direito, com 11,47; e odontologia,
com 10,87. “Não me assusta. É o
que eu quero fazer até me
aposentar”, explicou Stephany.
Divisão
O clima na saída do vestibular
ficou dividido. Os estudantes que
têm mais facilidade com exatas
estavam orgulhosos e os que têm
mais habilidades em humanas,
apreensivos. Tatiana Ramos, 20, já
é aluna de engenharia de produção
na UnB, portanto, a prova de
domingo não chegou a ser um
grande desafio para ela. A
estudante pretende trocar de curso:
“Quando eu fiz o primeiro
vestibular, tinha 17 anos e não
sabia muito o que queria. Agora,
quero engenharia ambiental”.
Para Yhane César Bonfim, 19
anos, que quer estudar gestão de
políticas públicas, a prova de
sábado teria sido bem mais fácil
não fosse pelo tema da redação.
“Eu gosto mais de humanas, mas
achei o assunto complexo, difícil”,
explica. Mesmo assim, ela está
confiante. A concorrência do curso
que pretende fazer não é tão grande.
São apenas quatro candidatos por
vaga.
A realidade de Bruno Viana, 16
anos, não é a mesma de Yhane, já
que quer medicina, o curso mais
procurado. Ele ainda não terminou
o ensino médio, mas pretende
acelerar os estudos. Segundo ele,
as provas tiveram nível de média
dificuldade. “Eu acredito que
depende da habilidade de cada
um”, opina. No caso dele, a prova
08/06/15
de exatas foi mais tranquila. Ele
terminou cerca de uma hora antes
do horário final. No dia anterior,
em que fez o exame de humanas,
precisou de todo o tempo
disponível para concluí-la.
Fique ligado
» Terça-feira – 9/6: será
divulgado o gabarito oficial
preliminar dos itens objetivos no
site do Cespe, a partir das 19h.
» 25/6: será divulgado o
gabarito dos itens tipo D no site
do Cespe, a partir das 19h
» 10/7: primeira chamada dos
aprovados no vestibular, a partir
das 17h.
O ESTADO DE S. PAULO 08/06/15
ESPAÇO ABERTO
Educação sexual compulsória
CARLOS ALBERTO DI FRANCO*
O governo não consegue
esconder seu viés autoritário. O
discurso oficial é sempre um obaoba à democracia, a prática
concreta é bem diferente. O Plano
Municipal de Educação é o mais
recente exemplo do desprezo dos
governantes pelas regras da
democracia representativa.
Explico, amigo leitor, as razões da
minha afirmação.
Tramita atualmente nas câmaras
de vereadores (a de São Paulo
incluída) o projeto de lei que
institui o Plano Municipal de
Educação para a próxima década.
O Plano Nacional de Educação
(PNE), base para os planos
municipais, foi intensamente
debatido na Câmara dos
Deputados e no Senado Federal,
sendo dele excluída a menção à
“igualdade de gênero” pela
relação direta que tem com a
chamada “ideologia de gênero”.
Os embates democráticos e a
retirada da linguagem de “gênero”
foram amplamente noticiados.
A proposta do Ministério da
Educação (MEC), fortemente
apoiada na ideologia de gênero,
perdeu o jogo. Porém o governo
tenta ganhar no tapetão e, num
flagrante
desrespeito
ao
Congresso, trata de contornar a
decisão dos parlamentares.
Vejamos como se dá o
malabarismo antidemocrático.
O MEC atua mediante vários
organismos. A Conferência
Nacional da Educação (Conae)
preparou um documento que serviu
como norteador para a formulação
dos planos municipais. A ideologia
de gênero, afastada pelo Congresso
Nacional, reaparece com vigor no
texto. É uma olímpica banana às
regras do jogo democrático. O
documento, que contém mais de
uma centena de referências a
“gênero”, foi elaborado pelo
Fórum Nacional de Educação.
Depois do debate democrático
realizado no Parlamento, que
resultou na Lei 13.005/14, que
instituiu o Plano Nacional de
Educação, o governo, num
evidente desrespeito à lei,
reintroduz a ideologia de gênero e
submete novamente o plano à
discussão. Resumo da ópera: o
pretenso respeito à democracia é
só jogo de cena.
Tendo em vista a proximidade
da votação, torna-se indispensável
chamar a atenção da sociedade
para a relevância do assunto. O
que está por trás de tudo é a
tentativa, mais uma, de impor às
crianças a ideologia de gênero.
Simples assim.
Mas, afinal, o que vem a ser essa
teoria autoritária?
Trata-se da distorção completa
do conceito de homem e mulher,
ao propor que o sexo biológico
seria um dado do qual deveríamos
libertar-nos em busca da
composição livre e arbitrária da
identidade de gênero. É uma
ideologia que defende a absoluta
irrelevância dos dados biológicos
e psíquicos naturais na construção
da identidade da pessoa humana,
considerando o gênero de cada
indivíduo como uma elaboração
puramente pessoal. Não existe
menino e menina. É tudo neutro. É
isso que pretendem ensinar às
crianças. De modo dogmático e
compulsório.
Há quem pense que a ideologia
de gênero seria uma forma de
proteger as minorias e sua
introdução na legislação
educacional seria um avanço em
relação à proteção dos direitos
humanos. Mas não é assim. Como
disse alguém, na lógica interna da
ideologia de gênero não há lugar
para o conceito de mulher, nem de
homossexual, nem de nenhuma
outra identidade abstrata. Logo,
com uma ideologia dessas, os
próprios movimentos feministas e
homossexuais perderiam seu
suposto fundamento e a razão de
suas lutas.
A ideologia de gênero traz
diversos inconvenientes para a
educação: 1) A confusão causada
nas crianças no processo de
formação de sua identidade,
fazendo-as perder as referências;
2) a sexualização precoce, na
medida em que a ideologia de
gênero promove a necessidade de
uma diversidade de experiências
sexuais para a formação do próprio
“gênero”; 3) a abertura de um
perigoso caminho para a
legitimação da pedofilia, uma vez
que a “orientação” pedófila
08/06/15
também é considerada um tipo de
gênero; 4) a banalização da
sexualidade humana, dando ensejo
ao aumento da violência sexual,
sobretudo contra mulheres e
homossexuais; 5) a usurpação da
autoridade dos pais em matéria de
educação de seus filhos,
principalmente em temas de moral
e sexualidade, já que todas as
crianças serão submetidas à
influência dessa ideologia, muitas
vezes sem o conhecimento e o
consentimento dos pais. Trata-se,
sem dúvida, de uma violência
arbitrária do Estado.
Na verdade, uma onda de
intolerância avança sobre a
sociedade. O tema da sexualidade
passou a gerar novos dogmas e
tabus. E os governos, num espasmo
de obscurantismo totalitário,
querem impor à sociedade um
único modo de pensar, de ver e de
sentir.
Uma coisa é o combate à
discriminação, urgente e
necessário. Outra, totalmente
diferente, é o proselitismo de uma
concepção única da sexualidade.
Não cabe ao governo, contra a
vontade da maioria da população,
formatar a cabeça das crianças
brasileiras. Tal estratégia,
claramente
delineada
no
desrespeito à Lei 13.005/14, tem
nome: totalitarismo.
A intolerância atual é uma nova
ideologia, ou seja, uma
cosmovisão - um conjunto global
de ideias fechado em si mesmo -,
que pretende ser a “única
verdade”, racional, a única digna
de ser levada em consideração na
cultura, na política, na educação,
etc. Tal como as políticas nascidas
das ideologias totalitárias, a atual
intolerância execra - sem dar
audiência ao adversário nem
manter respeito por ele - os
pensamentos que divergem dos
seus “dogmas” e não hesita em
mobilizar a “inquisição” de certos
setores para achincalhar, sem o
menor respeito pelo diálogo, as
ideias ou posições que se opõem
ao seu dogmatismo. Alegará que
são interferência do pensamento
conservador e liberal, quando um
verdadeiro democrata deveria
pensar apenas que são outros
modos de pensar de outros
cidadãos, que têm tantos direitos
como eles.
O governo não pode passar por
cima da lei e do Congresso
Nacional e impor a sua vontade à
sociedade
brasileira.
Os
vereadores têm a oportunidade e
o dever de barrar esse atalho
autoritário.
*CARLOS ALBERTO DI
FRANCO É JORNALISTA. EM
A
I
L
:
[email protected]
08/06/15
ECONOMIA
Estabilidade volta a povoar os sonhos na crise
divulgação de editais – como o do
condurso do Tribunal Regional do
Trabalho da 3ª Região, que oferece
salários de R$ 5.425,79 a R$ 10.485,
62 –, a insegurança em relação a
empregos em empresas privadas
contribuiu para a corrida às salas de
aula. “Quando há um cenário
econômico desfavorável, um
momento de recessão, a estabilidade
profissional chama o aluno. Sempre
que há um aumento no desemprego
a demanda por cursos para
concursos aumenta”, afirma o
diretor-geral do Meritus, Gustavo
Nascimento Campos.
Renato Ribeiro, Rogerio Ribeiro e Rafael Ribeiro, do Percurso e
do Determinante, comemoram a alta na procura pelos cursos
preparatórios neste ano
Crédito caro e difícil, inflação alta
e avanço nas taxas de desemprego
fazem crescer procura por cursos
preparatórios para concursos e para
o Enem - com foco firme nas
federais
Luciane Evans
Com o medo do desemprego
batendo à porta, as empresas
diminuindo custos e reduzindo seus
quadros, o velho sonho de
estabilidade volta a povoar o
imaginário do trabalhador: “Eu
deveria ter feito um concurso”. É
neste momento, em que a economia
brasileira sofre uma retração, com 8
milhões de desempregados no país,
que o velho e bom caminho rumo ao
funcionalismo volta a ser visto como
salvação por quem não quer mais
noites de insônia. O impacto disso
já aumenta o caixa dos cursinhos
preparatórios, que registram 40%
mais demanda por aulas desde o
início do ano. Para acompanhar a alta
na procura, alguns estabelecimentos
chegaram a aumentar a grade de
cursos e aprenderam a enxergar a
crise como um bom negócio.
Embora o ano tenha começado
com movimento fraco, especialmente
em janeiro a retração da economia
avançando a cada mês e o
desemprego vitimizando muitas
famílias fez com que março virasse
mesa para os cursinhos. Além da
Gustavo conta que, ao comparar
com o mês anterior, a procura pelas
aulas no Meritus cresceu cerca de
40% em março. “Estamos, neste
momento, entrando na contramão da
realidade brasileira. Enquanto muitos
estão deixando de ganhar dinheiro,
os alunos estão enchendo as salas
de aula”, comemora Gustavo. Os
cursos no Meritus, dependendo da
carga horária, variam de R$ 150 a
R$ 4 mil mensais. “Nesse período
em que há uma crise mundial,
desemprego, a procura pelos
cursinhos, é claro, se intensifica.
Percebemos que, nas salas de aula,
os alunos estão vindo de cursos de
graduação como engenharia,
psicologia e desapontados com o
mercado de trabalho. Há formados
em odontologia que também não est
ão conseguindo alavancar a carreira.
A maioria é de jovens e mulheres,
mas há também os maiores de 40
08/06/15
anos”, comenta o professor de
Regimento Interno dos tribunais e
Poder Judiciário do Meritus,
Ronaldo Lemos Botrel.
Um outro perfil muito comum é
o de iniciante em concursos,
conforme comenta o coordenador
pedagógico do Mega Concursos,
Marcelo Cury. “A demanda por aulas
no Mega praticamente dobrou em
relação ao ano passado. E a gente
tem percebido que tem havido uma
busca muito grande por parte de
‘alunos de primeira viagem’ em
concursos”, observa. Marcelo diz
que, diante do aumento da procura,
o Mega, mesmo com cinco unidades
na cidade, tem enfrentado
dificuldades de espaço. “Há filas
para turmas a serem formadas. As
pessoas têm procurado estudar para
uma carreira na esfera pública porque
estão temerosas em relação ao
desemprego. Quem está empregado
teme ser demitido a qualquer
momento, e quem está sem emprego
tem dificuldade de encontrar uma
colocação no mercado”, analisa.
No Orvile Carneiro, conforme
comenta a coordenadora Ana Karine
Senra, o aumento na procura por
aulas aumentou em 30% desde
março. “Estamos, inclusive, sem
salas para o turno da manhã.
Estávamos com menos turmas até
meados de março, mas, com a
publicação dos editais da Polícia
Militar, com cerca de 1,4 mil vagas,
e do TRT, o setor aqueceu.”
Segundo ela, com a retração na
economia e a crise de confiança, a
maioria dos alunos que, atualmente,
procura pelos cursos não quer mais
ter medo de perder o emprego –
sensação que tem se intensificado
com o aumento do desemprego no
país. De acordo com dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) divulgados na
semana passada, o número de
desempregados chegou a 8 milhões
no país, crescimento de 18,7%, ou
1,3 milhão de pessoas a mais do que
no trimestre encerrado em janeiro. Na
comparação com o mesmo período
do ano passado, a alta foi de 14%,
ou 985 mil pessoas desempregadas
a mais.
Ronaldo Lemos Botrel, professor
do Meritus, chama a atenção para o
volume de alunos provenientes de
cursos de graduação
VESTIBULAR Além da busca
por concurso, a procura por
qualificação também cresce em
momentos de crise. Segundo Renato
Ribeiro e Rogério Ribeiro, donos
dos cursinhos Percurso e
Determinante, a realidade do negócio
é inversa à economia brasileira. “Este
ano, a procura dos alunos aumentou
em 50%, todas as nossas turmas
estão lotadas. A economia retraída
faz com que os pais desses jovens
incentive-os a estudar e buscar uma
vaga nas universidades públicas. No
final do ano passado, por exemplo,
tínhamos uma fila de espera de mais
de 100 pessoas”, comenta Rogério.
Segundo ele, o problema, agora, é
arranjar espaço para tantos
estudantes. “O nosso cusinho é de
baixo custo, e varia de R$ 199 (não
presencial) a R$ 1,2 mil (presencial)
mensais”, explica Rogério.
10/06/15
Na pressão
A Advocacia Geral da União concluiu
dossiê com explicações ao TCU sobre
os atrasos nos repasses de recursos da
União para programas como o Bolsa
Família, em 2013 e 2014, e a não
contabilização das dívidas com os bancos
públicos de imediato. A oposição sonha
com a condenação das chamadas
“pedaladas fiscais” para pedir o
“impeachment” de Dilma Rousseff,
baseado na Lei de Responsabilidade
Fiscal. É até hoje o caso mais difícil
enfrentado pelo advogado-geral da
União, Luís Inácio Adams. O argumento
oficial é que a prática vem de 2001,
sempre com aval do TCU.
RICARDO BOECHAT
O GLOBO
07/06/15
O PAÍS
Internação de menores
aumenta 12,3% em um ano
Número de jovens infratores
cumprindo medidas ultrapassa 23
mil em 2013 e registra a maior alta
desde 2006
O debate sobre a redução da
maioridade penal, proposta que
poderá ser votada na Câmara dos
Deputados nesta semana, ressurge
no momento em que acelera o
crescimento do número de
adolescentes cumprindo medidas
de internação e semiliberdade.
Eles passaram de 20.532 para
23.066 infratores, entre 2012 e
2013, um aumento de 12,3%, o
maior desde 2006, início da série
histórica disponível.
Desse total, 80% têm mais de
16 anos, idade estabelecida na
proposta de emenda à Constituição
(PEC) em discussão no
Legislativo como marco para a
maioridade penal, que hoje ocorre
aos 18 anos. O roubo é o ato
infracional mais praticado pelos
adolescentes: 40%. Depois, vem
o tráfico de drogas, com 23,4%.
Homicídios correspondem a 8,9%.
De 2011 a 2013, houve pouca
oscilação na proporção de
adolescentes internados que
praticaram homicídio, variando
entre 8,4% e9%. O dado é
apresentado sob diferentes pontos
de vista pelos que atacam a
proposta de redução da maioridade
penal e pelos que a defendem.
— É um absurdo achar pouco
quase 10% de homicidas entre os
menores infratores. Isso porque
estamos falando do universo que
foi, de fato, apreendido — diz
Glaucio Soares, pesquisador do
Instituto de Estudos Sociais e
Políticos da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
— Defendo a redução, desde que
os adolescentes não sejam
colocados com o restante da
população carcerária, mas o
tempo de pena deve ser o mesmo.
Contrário à redução da
maioridade penal, o advogado
Carlos Nicodemos, vicepresidente do Conselho Nacional
dos Direitos da Criança e do
Adolescente ( Conanda), faz outra
análise dos dados:
— Se você somar as taxas de
roubo e de drogas, verá que o ato
infracional mais latente, que é o
homicídio, não chega a um terço
dos outros dois juntos. Os números
não apontam uma tendência de
violência praticada pelos jovens.
Em relação ao crescimento de
12,3% no número de adolescentes
em medida de internação ou
semiliberdade entre 2012 e 2013,
Nicodemos diz que o mais
importante é verificar a causa do
aumento. Segundo ele, uma análise
mais completa poderá demonstrar
que os jovens infratores integram
uma população que não estuda,
com pouco acesso a políticas de
cultura,
esporte
e
profissionalização.
MAIS DA METADE
NÃO ESTUDAVA
De fato, o estudo do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ),
apresentado em 2012, apontou que
57% dos adolescentes em unidades
de internação não frequentavam a
escola antes de serem apreendidos.
A última série cursada por 85%
deles era do ensino fundamental,
o que mostra atraso escolar
crônico. A idade média de
abandono dos estudos é 14 anos,
segundo a pesquisa.
O GLOBO
07/06/15
O PAÍS
Mais de 50 projetos tentam alterar
Estatuto da Criança e do Adolescente
Tema movimenta propostas
bem diferentes na Câmara e no
Senado
Quando o assunto é alterar o
Estatuto da Criança e do
Adolescente ( ECA) para aumentar
a punição aos menores infratores,
há propostas de todo tipo no
Congresso. São mais de 50
projetos, boa parte deles
estendendo o tempo de internação,
hoje limitado a três anos. Algumas
propostas vão além. Uma prevê o
uso de tornozeleiras eletrônicas
para monitorar os menores em
regime de semiliberdade. Outra
permite a divulgação da imagem
dos adolescentes em conflito com
a lei. Há também quem proponha
revogar o direito a visitas íntimas
para menores internados que têm
cônjuges.
Levantamento feito pela
Fundação Abrinq, que é contra o
endurecimento da punição aos
menores infratores, aponta 42
projetos na Câmara alterando o
ECA, além de 12 no Senado. Isso
não inclui as 45 propostas de
emenda constitucional (PECs) que
reduzem a maioridade penal, nem
os dez projetos para a realização
de um plebiscito em que a
população possa ser consultada.
A maior parte dos projetos que
alteram o ECA endurece a
legislação. O senador Ronaldo
Caiado (DEM-GO), por exemplo,
propôs em 2014, quando era
deputado, que adolescentes
possam ficar internados por até 17
anos. Na proposta, ele poderia
ficar privado de liberdade até os
29 anos. Hoje, não pode
permanecer internado após
completar 21. O deputado Carlos
Sampaio (PSDB-SP), que relatou
várias das propostas que mexem
no ECA, propôs um prazo menor:
máximo de oito anos, com
libertação automática ao fazer 26
anos, e válido apenas para crimes
hediondos. Sampaio tem o apoio
do governador de São Paulo, o
também tucano Geraldo Alckmin.
PROJETOS CONDENSADOS
Dos projetos que mexem no
ECA, 34 tramitam em conjunto. Em
maio de 2014, Sampaio elaborou
um texto substitutivo, reunindo
várias sugestões e rejeitando outras
dos 20 projetos que haviam sido
apresentados até aquele momento.
Além de aumentar o tempo de
privação de liberdade, Sampaio
estipulou que, ao completar 18
anos, o jovem seja separado dos
internos que ainda são menores,
mas não seja inserido no sistema
penitenciário convencional.
Com propostas mais duras, os
deputados Guilherme Mussi ( PPSP), Nelson Marquezelli (PTBSP), Major Olímpio (PDTSP) e
Alberto Fraga (DEM-DF) tentam,
na prática, acabar com a
maioridade
penal.
Eles
propuseram alterações no ECA que
permitem aplicar aos menores as
mesmas punições a que maiores
estão
sujeitos.
Outros
parlamentares vão no sentido
oposto: dar mais garantias aos
adolescentes infratores. A deputada
Luiza Erundina (PSBSP) quer
introduzir a audiência de custódia
com juiz e defensor em substituição
à oitiva informal prevista hoje.
Entre os que tentam endurecer
o ECA, há também quem seja
contra a redução da maioridade
penal. A ideia é oferecer
alternativas para evitar a
aprovação da PEC. É o caso do
deputado Júlio Delgado (
PSBMG). Ele propôs que atos
infracionais cometidos por
menores sejam contados como
antecedentes criminais quando eles
se tornarem maiores. Na
justificativa do projeto, Delgado
afirma que seu objetivo é "oferecer
uma alternativa às várias propostas
que tramitam na Casa".
O relatório de Sampaio, com
mudanças no ECA, também inclui
uma alteração defendida pela
presidente Dilma Rousseff, que é
contra a redução da maioridade
penal. Trata-se do aumento da pena
dos adultos que aliciam menores
para o crime, que hoje vai de um a
quatro anos. O relatório propõe
entre quatro e oito anos. Outras
mudanças incluídas pelo tucano são
a possibilidade de transportar
adolescentes em camburão e
medidas que dificultam a
desinternação. O relator reconhece
que apenas aumentar o tempo de
internação não é eficaz. Assim,
também inclui no relatório a
possibilidade de o menor diminuir
a pena por meio do estudo, amplia
as ações de ressocialização
durante a internação e prevê
punição aos gestores que não
cumprirem de fato o ECA.
FOLHA DE SÃO PAULO
07/06/15
EDITORIAL
À ré na produtividade
Brasil perde terreno diante de países
concorrentes no mercado global; educação
deficiente representa o principal gargalo do país
Num ano sofrível como 2014, em que o PIB evoluiu
a uma taxa (0,1%) menor que a da população
economicamente ativa (0,4%), a queda da
produtividade do trabalho --definida como produto
por empregado-- é uma obviedade aritmética.
Preocupante é constatar que esse recuo vem de longe
e fez o Brasil retornar à década de 1950.
O retrocesso de 65 anos se manifesta na
comparação entre a produtividade de trabalhadores
americanos e brasileiros. Como noticiou esta Folha
no último dia de maio, com dados do centro de estudos
Conference Board (EUA), são necessários 4
empregados daqui para produzir a mesma quantidade
de riqueza que 1 de lá.
Mais precisamente, a produtividade do brasileiro
equivale a 24,1% da de um americano, mesmo nível
de 1950 (24,3%). Há 35 anos, porém, estava em
38,9%.
Comparações com vários países não melhoram os
escores nacionais: produzimos apenas 40% do que
rende um sul-coreano, 51% de um chileno, 59% de
um russo.
Nosso desempenho ainda está 20% acima do
observado na China, mas isso não deve servir de
consolo. Há 15 anos, a diferença era de 322% a favor
do Brasil.
Muitos fatores, naturalmente, influenciam a
eficiência do trabalho. Métodos gerenciais
aperfeiçoados, treinamento frequente e máquinas mais
modernas, por exemplo. Nosso principal calcanhar
de aquiles, contudo, está na esfera da educação.
Em qualquer setor --agronegócio, indústria ou
serviços--, cada vez mais o trabalho se realiza por
intermédio de máquinas inteligentes, cuja operação
requer capacidade cognitiva, mais do que física.
Software e hardware passam por atualizações
frequentes, o que exige flexibilidade intelectual.
Com sete anos de estudo, o trabalhador brasileiro
está em franca desvantagem perante seus concorrentes
globais. Americanos ficam mais de 12 anos na escola,
ou seja, muitos chegam ao nível superior. Além disso,
têm acesso a pelo menos 120 horas anuais de
treinamento, o quádruplo do que recebe um empregado
por aqui.
Isso para nada dizer da qualidade do ensino básico.
No Brasil, onde as escolas públicas não raro têm o
ano letivo truncado por greves que duram meses, as
deficiências alcançam o clímax no nível secundário -justamente o mínimo exigido numa empresa moderna.
Pois é aí que a educação nacional naufraga. Apenas
60% dos jovens de 15 a 17 anos se acham
matriculados no ensino médio. Sem eliminar tal
gargalo, e por mais que se invista em ensino
profissional, o país jamais dará o salto de
produtividade necessário para se tornar mais eficiente
e mais justo.
FOLHA DE SÃO PAULO
07/06/15
ELIO GASPARI
MARCA HISTÓRICA
A greve dos professores de
escolas públicas de São Paulo
conseguiu duas marcas históricas.
Superou o recorde de duração,
batendo os 81 dias (os alunos que
se danem) e teve professor
apanhando.
Pela primeira vez, não foi a
polícia quem bateu. Podem ter
sido seguranças do carro de som
ou grevistas.
FOLHA DE SÃO PAULO
07/06/15
COTIDIANO
Brasil revê maioridade penal sem
ter mapa da criminalidade juvenil
Câmara discute mudar lei
apesar da falta de dados para
dimensionar violência de
menores no país
Levantamento da Folha
mostra que atuação de jovens em
assassinatos pode variar de 3%
a 31% nos Estados
ÉRICA FRAGA
REYNALDO TUROLLO JR.
DE SÃO PAULO
O Brasil discute a redução da
maioridade penal, mas não possui
estatísticas que dimensionem a
participação de jovens nos crimes
no país.
Neste mês, a Câmara dos
Deputados deverá votar uma
Proposta de Emenda à
Constituição que visa reduzir a
idade penal de 18 para 16 anos.
Devido à falta de dados
nacionais, ao longo de dois meses,
a Folha solicitou números de
envolvimento de menores em
delitos às 27 unidades da
Federação. Nove forneceram
estatísticas, com base em
metodologias variadas.
Embora mostre um retrato
parcial, o levantamento traz
indicações. Revela que, nos nove
Estados, a participação de menores
em homicídios com autoria
conhecida não é insignificante,
como autoridades têm dito. Em sete
Estados, é igual ou superior a 10%.
Na quarta-feira (3), a
Presidência da República publicou
nota informando que, segundo o
Ministério da Justiça, os menores
são responsáveis por apenas 0,5%
dos homicídios no país. O dado já
tinha sido divulgado antes.
Procurado, o ministério negou
a autoria da conta e a atribuiu ao
Fórum Brasileiro de Segurança
Pública. A entidade, porém,
afirmou nunca ter feito tal cálculo
justamente por falta de dados
oficiais.
Estimativa de que menores
responderiam por 1% das mortes
também já foi atribuída ao Unicef
(Fundo das Nações Unidas para a
Infância), que nega ser fonte do
dado.
CASOS EXTREMOS
O Distrito Federal informou
uma participação de menores em
homicídios de 30%. A fatia é
parcialmente explicada pela
disseminação de brigas de gangues
na capital.
Já no Ceará, os menores
estiveram envolvidos em 30,9%
dos crimes violentos letais
intencionais em 2014. Esse número
pode ser puxado para cima por
incluir latrocínios.
As estatísticas obtidas mostram
que adolescentes se envolvem
mais em latrocínios do que em
homicídios.
No
Maranhão,
jovens
responderam por só 3,1% dos
homicídios da capital, mas por
15,2% dos latrocínios, em 2014.
Mato Grosso é outro caso de baixo
envolvimento em assassinatos:
3,9%. Ainda assim, os percentuais
superam os supostos 0,5% e 1%.
Se a participação de menores
em crimes não é insignificante,
tampouco é o índice de jovens alvo
de violência.
Adolescentes de 16 e 17
representaram 6,6% das vítimas de
homicídio no país em 2013,
embora sejam apenas 3,6% da
população. Os dados farão parte
do novo Mapa da Violência.
Homicídios são a principal causa
de morte nessa faixa etária: 46%
do total.
FOLHA DE SÃO PAULO
07/06/15
COTIDIANO
Lacuna em estatísticas
contrasta com outros países
EUA, Inglaterra e o vizinho
Uruguai computam crimes de
adolescentes
Para pesquisadores, falta de
padronização entre Estados e
acesso dificultado são outros
problemas brasileiros
contrasta com a situação do Brasil.
Segundo especialistas em
criminalidade, a falta de
evidências dificulta a formulação
de políticas de segurança no país
e turva debates como o da eventual
eficácia de se reduzir a maioridade
penal de 18 para 16 anos.
DE SÃO PAULO
A simples busca na internet
com as palavras "menores",
"homicídios" e "EUA", em inglês,
leva a uma página do governo
americano repleta de dados e
análises.
"A gente nunca se preocupou
com esse tema [homicídio], a ponto
de não ter uma base de dados
nacional sobre isso", diz o
sociólogo Arthur Trindade,
secretário de Segurança do Distrito
Federal.
O site informa que jovens com
menos de 18 anos estiveram
envolvidos em 7% dos
assassinatos com autoria
conhecida em 2012. Traz ainda
uma série histórica e fornece
detalhes como o horário em que
menores são mais propensos a
cometer crimes.
A abundância de informações
"Debates como o da redução de
maioridade penal acabam sendo
norteados por convicções
ideológicas ou até religiosas", diz
o economista Rodrigo Soares, da
FGV (Fundação Getulio Vargas).
permitem,
pelo
menos,
dimensionar a participação de
menores em crimes.
Na Inglaterra e no País de
Gales, adolescentes de 10 a 17
anos cometeram 18% dos crimes
de "violência contra a pessoa",
com autoria conhecida, entre 2009
e 2010.
No Uruguai, a participação de
menores em homicídios com
autores identificados é monitorada
anualmente (foi de 17% em 2013).
Pesquisadores de criminalidade
no Brasil relatam barreiras para ter
acesso a dados.
"Muitas vezes, solicitamos
dados triviais e, mesmo assim, a
restrição é assustadora", diz
Soares, da FGV.
PELO MUNDO
Além dos EUA, há outros
países que possuem números que
A opinião é compartilhada pelo
sociólogo Julio Jacobo, autor do
Mapa da Violência, publicado pela
07/06/15
Flacso (Faculdade LatinoAmericana de Ciências Sociais):
"Apesar da Lei de Acesso à
Informação, o acesso a dados no
Brasil está cada vez mais difícil".
Para especialistas, os governos
estaduais resistem em divulgar
números ligados à violência por
temerem o uso político dessas
estatísticas.
Além disso, a falta de
padronização na coleta nos Estados
impede a consolidação de dados
nacionais.
INVESTIGAÇÃO FALHA
Outra dificuldade para obter
estatísticas confiáveis no Brasil é
o baixo índice de esclarecimento
dos crimes.
Segundo o vice-presidente do
Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, Renato Sérgio de Lima,
apenas cerca de 8% dos homicídios
são solucionados no país --o que
pode distorcer as conclusões.
Isso impede, por exemplo, que
se saiba como tem evoluído a
participação de menores em crimes
e o que torna o jovem mais
propenso a se envolver em delitos
graves.
Autoridades de Estados que
dizem estar investindo em
estatísticas
afirmam
que
homicídios e latrocínios cometidos
por menores têm forte conexão
crimes como tráfico de drogas e
roubo.
Em cinco Estados que
forneceram à reportagem dados de
tráfico praticado por jovens, as
taxas oscilam de 17% a 43% dos
crimes com autoria conhecida.
"Os crimes estão muito
interligados. Há o jovem que
trafica e consome drogas, rouba
para sustentar o vício e acaba
matando", diz Rommel Kerth,
diretor do departamento de Polícia
Especializada do Ceará.
(ERICA
FRAGA
E
REYNALDO TUROLLO JR.)
FOLHA DE SÃO PAULO
07/06/15
COTIDIANO
Governos de SP e Rio não
fornecem números oficiais
DE SÃO PAULO
São Paulo e Rio de Janeiro não
forneceram os dados de
participação de menores em
crimes pedidos pela Folha ao
longo de quase dois meses. As
secretarias de Segurança dos dois
maiores Estados do país
informaram que ainda estão
levantando os números.
Um estudo divulgado em 2004
pelo governo de SP mostrava que
menores foram responsáveis, em
2003, por 3,3% dos homicídios de
autoria conhecida (1% em relação
ao total de casos registrados). O
levantamento foi feito a partir de
boletins de ocorrência.
Essa foi a metodologia usada
por 5 dos 9 Estados que
forneceram dados de participação
de menores em crimes com autoria
conhecida. Ceará e Tocantins se
basearam em apreensões e prisões
em flagrante. Distrito Federal e
Pará levantaram estatísticas de
inquéritos.
As metodologias distintas
refletem a falta de padronização
nacional. O fato de que 6 de 9
Estados forneceram dados para
mais de um ano diminui o risco de
que os números reflitam
ocorrências de um período atípico.
Dados de participação de
menores em crimes muito acima da
média podem refletir, segundo o
sociólogo Tulio Kahn, responsável
pelo estudo de SP em 2004,
políticas mais focadas em
apreender jovens. Mas, ressalta
ele, variações também podem
ocorrer
por
razões
socioeconômicas, demográficas,
culturais.
"Infelizmente, no país, a política
de segurança pública não é feita
com base em pesquisas empíricas
e dados confiáveis", diz Kahn.
A importância de dados para a
elaboração de políticas eficazes
levou
o
BID
(Banco
Interamericano
de
Desenvolvimento) a montar um
grupo que busca melhorar a
qualidade de pesquisas e dados de
crime na América Latina.
"Há evidência científica de que
estratégias
policiais
que
funcionam têm como componente
essencial dados criminais de
qualidade", diz Laura Jaitman,
coordenadora do projeto de
segurança do BID.
O ESTADO DE S. PAULO 07/06/15
METRÓPOLE
Escolas com alunos mais pobres se
superam e estão na elite pública de SP
PAULO SALDAÑA - O
ESTADO DE S. PAULO
materiais oficiais, como o
currículo, e o acompanhamento.
Das 160 melhores de 1º ao 5º
ano, 45% atendem famílias com
nível socioeconômico alto; no
grupo dos mais pobres, porém, há
quem já tenha superado até as
metas previstas para 2030. Ali,
monitoria, material, professores e
diretores fazem a diferença
As escolas já superaram até a
meta que o Estado estabeleceu
para daqui a 15 anos: Índice de
Desenvolvimento da Educação de
São Paulo (Idesp) de pelo menos
7 nos anos iniciais e 6 nos anos
finais. A rede é a maior do País –
são quase 4 milhões de alunos em
5,3 mil escolas.
As escolas do 1.º ao 5.º ano do
ensino fundamental da rede
estadual paulista têm registrado
melhora nos indicadores de
qualidade com o passar dos anos,
mas a desigualdade social ainda é
notável. Das 160 melhores escolas
com nota a partir de 6 no ranking
estadual, 45% atendem alunos de
famílias
com
nível
socioeconômico mais alto. E só
20% acolhem os mais pobres. Ou
seja, o nível e a condição da
família têm muita influência no
sucesso
da
escola,
independentemente de outras
características da unidade, como
local ou estrutura.
Com auxílio do economista
Ernesto
Martins
Faria,
coordenador de Projetos da
Fundação Lemann, a reportagem
cruzou o Idesp e o Indicador de
Nível Socioeconômico (Inse) de
cada escola. Das 1.520 do ciclo 1
(1.º ao 5.º ano) no Estado, 600
escolas (39%) não conseguiram
Idesp maior do que 4 – de uma
escala até 10. Desse grupo com os
piores resultados, 53% atendem
alunos entre os mais pobres – o que
aponta, mais uma vez, que
trabalhar com alunos de nível
socioeconômico mais baixo
configura um maior desafio.
Mas há exceções. O Estado
visitou três escolas que atendem
alunos que estão entre os 25% com
nível socioeconômico mais baixo
e conseguem alcançar bons
indicadores de qualidade. Nelas se
destacam comprometimento de
professores e a liderança de
diretores, além do uso dos
Mas essa tendência entre nível
socioeconômico mais alto e boa
qualidade da escola fica clara
entre as unidades dos anos iniciais,
mas vai desaparecendo nos anos
finais (6.º ao 9.º ano). E mais ainda
no ensino médio. Nos anos finais,
96,7% das escolas tinham em
2013 o Idesp até 4. No médio, eram
99,3%.
Para Faria, “os problemas após
os anos iniciais são evidenciados
pesquisa após pesquisa”. “O que
indicam, entre outros, desafios de
gestão de sala de aula, uma melhor
estrutura de acompanhamento e
formação continuada.” Os dados
ilustram ainda que, nessas duas
etapas, até as escolas que atendem
estudantes
com
níveis
socioeconômicos mais alto têm
dificuldade de se destacar. “Têm
de fazer uma compensação daquilo
que não existe no ambiente
familiar”, diz Ricardo Falzetta, do
Todos Pela Educação.
Exemplos. O secretário
estadual da Educação, Herman
Voorwald, ressalta que a inclusão
em uma grande rede é complexa e
a solução passa pela escola
integral – modelo que deve
inspirar uma mudança no ensino
médio, como revelou o Estado em
reportagem publicada na edição do
último sábado. “Meu sonho é
garantir a universalização do
modelo. Além disso, as
competências socioemocionais
devem fazer parte da estrutura e
matriz curricular. As pessoas
perceberam que a violência na
escola vem da incapacidade de
entender o outro, trabalhar em
equipe.”
07/06/15
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/15
POLÍTICA
EXECUTIVO »
Quando o governo quebra a vitrine
Durante a campanha de 2014, Dilma visitou escola técnica em
Minas onde gravou programa eleitoral
Bandeira na campanha de
Dilma à reeleição, o programa de
acesso ao ensino técnico e
emprego travou. Até o fim de
maio, gastos com o Pronatec não
chegaram a 8% do total investido
em 2014
Marcelo da Fonseca
Presença constante nas peças
publicitárias da presidente Dilma
Rousseff (PT) durante a campanha
à reeleição, o Programa Nacional
de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego, o Pronatec, passou os
cinco primeiros meses deste ano
em ritmo lento. E nada indica que
a situação vá mudar. Até o fim de
maio, o montante aplicado no
programa em todo o país foi de R$
208,7 milhões, valor que
representa apenas 7,4% do que foi
gasto ao longo de 2014, quando o
governo investiu R$ 2,8 bilhões na
vitrine da educação no primeiro
mandato da petista. A média
mensal neste ano está em R$ 41,7
milhões, contra os R$ 233,4
milhões registrados no ano das
eleições. O Ministério da
Educação admitiu cortes nos
repasses. Segundo nota divulgada
pela pasta, “as ofertas de vagas
ainda serão definidas, mas
quantitativamente serão em número
inferior ao do ano passado”.
Até o fim de 2014, cerca de 8
milhões de estudantes participaram
do Pronatec, número que fez com
que o acesso ao ensino técnico se
tornasse a principal bandeira de
campanha à reeleição de Dilma na
área da educação. Na véspera da
largada oficial da campanha, a
presidente anunciou a segunda
etapa do programa, que
disponibilizaria mais 12 milhões
de vagas. Porém, as promessas
feitas para o segundo mandato
estão longe de se confirmar. Ao
contrário, o dinheiro começou a
sumir ainda em outubro — quando
terminou a corrida eleitoral que
deu a Dilma mais quatro anos no
comando do Executivo.
Para as escolas de Belo
Horizonte que oferecem cursos
cadastrados no programa, por
exemplo, os repasses até agora
foram de R$ 1,3 milhão, valor bem
distante dos R$ 6 milhões gastos
no ano passado. De acordo como
a assessoria do MEC, as
definições das vagas disponíveis
para cursos do Pronatec este ano
devem ocorrer nos próximos
meses, mas ainda não há uma data
marcada. Instituições que
participam
do
programa
informaram que neste ano ainda não
foram feitas novas matrículas e que
caberá ao MEC definir o número
de vagas e os cursos disponíveis.
07/06/15
Os efeitos dos cortes já são
sentidos no Sistema de Seleção
Unificada
da
Educação
Profissional e Tecnológica
(Sisutec), que serve como base
para o Pronatec. O Sisutec
seleciona para o ensino técnico
estudantes que concluíram o nível
médio, com base nas notas no
Enem e já passou por adiamentos
no início do ano. O MEC não
prevê seleções por meio do Sisutec
para este semestre. No ano
passado, o programa ofereceu
cerca de 580 mil vagas.
As reduções são reflexo dos
ajustes determinados pela equipe
econômica na tentativa de
estabilizar as contas do governo.
O Ministério da Educação sofreu
um corte R$ 9,4 bilhões, e outros
programas deverão perder
investimentos. Entre eles, está o
Ciências sem Fronteiras, que
proporciona bolsas de estudos
para universitários e pósgraduados no exterior. “Para se
adequar aos ajustes, o MEC vai
priorizar atividades como a
construção de creches. O
ministério também atua no sentido
de garantir os recursos de custeio
necessários para o funcionamento
das universidades e institutos”, diz
a nota da pasta.
Saiba mais
Formação profissional
O Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego foi criado no fim de
2011, com objetivo de aumentar o
número de vagas para cursos de
formação
profissional.
Financiados pelo governo federal,
os cursos são ofertados pela rede
federal de educação profissional
e pelas instituições de ensino do
Sistema S, como o Senai, Senat,
Senac e o Senar. Desde 2013,
escolas privadas também passaram
a ofertar vagas dentro do
programa. O público do Pronatec
são estudantes do ensino médio da
rede pública, inclusive da
educação de adultos, além dos
beneficiários de programas de
transferência de renda.
Empacado
Confira os gastos do programa
Média mensal no Brasil (em R$ milhões)
2013
216,7
2014
233,4
2015
41,7
Total por ano no Brasil
2013 R$ 2,6 bilhões
2014 R$ 2,8 bilhões
2015 R$ 208,7 milhões*
Fonte: Portal da Transparência/Siga Brasil
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/15
BRASIL
EDUCAÇÃO »
MEC espera 9 milhões no Enem
Números finais só serão
revelados na terça, mas até noite
de sexta-feira já havia 7,8
milhões de inscritos
O governo estima que 9
milhões de estudantes tenham feito
inscrição para o próximo Exame
Nacional do Ensino Médio
(Enem). As inscrições foram
encerradas na sexta-feira. Até as
20h de anteontem, o sistema havia
registrado 7,8 milhões de inscritos.
Mas a expectativa do Ministério
da Educação (MEC) é maior. O
número deve chegar a 9 milhões
de alunos. Isso superaria os 8,2
milhões de inscritos no ano
passado. A cifra precisa só vai ser
divulgada na próxima terça-feira
pelo MEC.
As provas serão aplicadas em
24 e 25 de outubro em mais de
1.700 municípios em todo o país.
O pagamento da taxa de inscrição,
de R$ 63, deve ser feito até as
21h59 de 10 de junho, próxima
quarta-feira. Quem não pagar a taxa
terá a inscrição cancelada.
Segundo o MEC, na edição
deste ano, foram isentos do
pagamento de inscrição os
concluintes do ensino médio em
2015 matriculados em escolas da
rede pública e as pessoas que se
declararam
carentes.
Os
candidatos isentos que faltarem às
provas sem justificar a ausência
perderão o benefício na próxima
edição.
Treineiros
O Enem foi criado para avaliar
os alunos que estão concluindo o
ensino médio ou que já o
concluíram em anos anteriores.
Não importa a idade nem o ano do
término do curso. Estudantes que
não terminarão o ensino médio este
ano podem participar como
treineiros. Nesse caso, o resultado
não poderá ser usado para
participar de programas de acesso
ao ensino superior.
A nota do Enem é utilizada
pelos estudantes para ingressar em
instituições públicas e privadas de
ensino superior por meio de
programas como o Sistema de
Seleção Unificada (Sisu), o
Programa Universidade para
Todos (ProUni) e o Fundo de
Financiamento Estudantil (Fies)
(veja quadro ao lado).
O exame também pode ser
usado para ingressar no ensino
técnico, para participar do
Programa Ciência sem Fronteiras
e para certificar a conclusão do
ensino médio.
Estudante chega em local de prova no Rio no ano passado:
quem não terminou ensino médio pode participar
Travestis
Os candidatos transexuais e
travestis que fizeram a inscrição,
07/06/15
agora podem pedir o uso do nome
social. Entre 15 e 26 de junho,
devem encaminhar cópia de
documento de identificação e uma
foto recente. Eles devem fazer isso
por meio do sistema do
participante, na página do Enem na
internet. O formulário online deve
ser preenchido para garantir que
no dia da prova sejam
identificados pelos nomes sociais.
Exame útil
Veja os programas que utilizam
a nota do Enem
Diploma do ensino médio
É preciso conseguir pelo menos
450 pontos no Enem em cada uma
das áreas de conhecimento das
provas objetivas e 500 pontos na
redação.
Prouni
O Programa Universidade para
Todos oferece bolsas de estudos
em faculdades particulares. O
candidato deve ter cursado o
ensino médio em escola pública ou
em escola particular como
bolsista. A seleção leva em conta
a renda do aluno. Para participar,
é preciso ter obtido pelo menos
450 pontos no Enem e não ter
zerado na redação.
Fies
O Fundo de Financiamento
Estudantil paga integralmente as
mensalidades de faculdades
particulares. O aluno só começa a
pagar, com juros de 3,4% ao ano,
um ano e meio depois de formado.
Para isso, é preciso ter obtido 450
pontos na média das provas do
Enem e nota acima de zero na
redação.
Ciência sem Fronteiras
São bolsas de estudo em
universidades estrangeiras. É
preciso estar em curso de ensino
superior na área comtemplada. Os
editais para o programa são
abertos ao longo do ano. Para
participar, o estudante deve ter
obtido 600 pontos ou mais no
Enem.
Sisu
O Sistema de Seleção
Unificada é uma espécie de
vestibular nacional. O candidato se
inscreve no processo seletivo, que
acontece duas vezes por ano. Para
participar, a nota da redação do
Enem tem que ser maior que zero.
E algumas instituições adotam
notas mínimas no exame.
Sisutec
O Sistema de Seleção
Unificada
da
Educação
Profissional e Tecnológica oferece
vagas gratuitas em cursos técnicos
de instituições privadas ou
públicas. Para participar, a nota da
redação do Enem tem que ser
maior que zero.
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/15
POLÍTICA
SOCIEDADE »
Efeitos da queda da idade penal
Se aprovada no Congresso, a
redução da maioridade para 16
anos pode causar uma confusão
em várias áreas da legislação,
autorizando consumo de bebidas
e exames de habilitação, por
exemplo. Especialistas alertam
ainda sobre mudanças eleitorais
ADRIANA BERNARDES
MARCELLA FERNANDES
Redução da maioridade penal,
você é contra ou a favor? O tema
é tão polêmico e desperta tantas
paixões que a resposta a essa
pergunta costuma sair de pronto.
O que pouca gente sabe é que uma
possível alteração na lei vai
provocar mais do que cadeia para
adolescentes infratores. Se
aprovada pelo Congresso, a
redução da maioridade para 16
anos pode causar desdobramentos
em diversas outras áreas da
legislação.
De acordo com o ex-presidente
do Supremo Tribunal Federal
(STF) Carlos Ayres Britto, a
referência aos 18 anos está em
diferentes matérias, como a
eleitoral e a trabalhista. “As coisas
estão entrelaçadas.” Ele alerta
que, apesar de não causar
mudanças automáticas, a redução
abre precedente para questionar,
por exemplo, o limite de idade
para dirigir e para ser obrigado a
votar.
Britto ressalta que haverá
necessidade de se reinterpretar o
Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), uma vez que
o documento trata tanto da
proteção quanto da punição de
brasileiros entre 12 e 18 anos. “O
entendimento da Constituição é que
o
desenvolvimento
da
personalidade não se perfaz senão
a partir de 18 anos. Até essa faixa
etária, a Constituição diz que o
indivíduo está em formação”,
explica. Para o ministro
aposentado, a redução viola
cláusula pétrea da Constituição.
O Correio ouviu especialistas
de diferentes áreas para entender
os reflexos da alteração em leis
trabalhistas, trânsito e no próprio
ECA. A preocupação é
compartilhada pelo ministro do
STF Marco Aurélio Mello. “É
razoável você dizer que responde
como adulto e ao mesmo tempo ser
proibido de conduzir um veículo
automotor?” Ele lembra que tais
reflexos vão depender da precisão
do texto aprovado, que pode, por
exemplo, restringir a redução da
maioridade apenas em casos de
infratores que cometam crimes
hediondos. Mello avalia que a
PEC
vai
aumentar
o
encarceramento e não reduzirá a
criminalidade. “Entre prós e
contras, os contras sobrepujam os
prós. Eu não vejo como algo
desejável”, afirma.
Colcha de retalhos jurídicos
TRABALHO
No âmbito trabalhista, apesar
de a redução da maioridade penal
não causar alterações diretas, pode
motivar discussões para futuras
mudanças. “A redução da
maioridade penal não afeta
diretamente
as
relações
trabalhistas, contudo inicia-se
assim mais uma discussão sobre o
abandono escolar para a entrada
de jovens no mercado de trabalho
em atividades que hoje são
vedadas”, explica o advogado
trabalhista Marcílio Braz. A
legislação atual impede o trabalho
para menores de 14 anos. Entre 16
e 18, há restrições, como não
trabalhar em ambiente penoso,
insalubre, perigoso, que prejudique
a formação moral e psicológica,
desenvolvimento físico, além de
trabalho noturno. Menores
tampouco podem fazer hora extra,
e o empregador é obrigado a ceder
tempo necessário para o
comparecimento às aulas.“Hoje,
essas proibições mantêm o jovem
na escola. Qualquer alteração
nessa legislação trará graves
prejuízos aos jovens, que são o
futuro de nosso país”, afirma Braz.
O critério usado é que pessoas
nessa faixa etária ainda estão em
fase de desenvolvimento. O
argumento encontra respaldo nas
outras esferas do direito brasileiro,
além das normas internacionais
07/06/15
ratificadas pelo Brasil, como a
Convenção nº 138 da Organização
Internacional de Trabalho (OIT).
Há, ainda, uma relação direta com
a possível liberação do consumo
de bebidas alcoólicas, uma vez que
é proibido o trabalho de menores
em estabelecimentos que
comercializam esse tipo de
produto.
HABILITAÇÃO
O efeito cascata da redução da
maioridade penal pode colocar
atrás do volante adolescentes de
16 anos. Isso porque a primeira
condição para um brasileiro se
habilitar a conduzir um veículo é
ser plenamente imputável. Para o
professor de Direito Penal e
Processual e conselheiro da Ordem
dos Advogados do Brasil (OABDF) Rafael Augusto Alves, com a
aprovação da emenda, o efeito
automático na legislação de
trânsito só não acontecerá se o
Congresso criar mecanismos que
impeçam a extensão dos direitos e
deveres. “É preciso ver como o
texto será aprovado. A
imputabilidade será para toda e
qualquer espécie de infração penal
ou vai se restringir a crimes
hediondos, por exemplo? Mas há
uma questão mais profunda ainda.
É um despautério discutir redução
da maioridade penal. Se o ECA
fosse cumprido integralmente,
talvez não precisássemos disso”,
defende. Caso a PEC seja
realmente aprovada, o Brasil terá
que repensar a formação do
condutor. Doutor em estudos de
transportes, o professor da
Universidade de Brasília (UnB)
Paulo César Marques entende que
não há restrição do ponto de vista
cognitivo para um adolescente de
16 pegar o volante. Mas defende a
necessidade de um “esforço
adicional” na formação dos futuros
motoristas, porque há diferenças
consideráveis do ponto de vista da
maturidade. “Teoricamente, se uma
pessoa com 16 anos pode votar e
decidir o futuro do país, ela pode
conduzir um carro. Mas a
maturidade precisa ser mais
trabalhada e o processo de
formação necessitaria ser ajustado
para a nova realidade”, destaca
Marques. Diretor de Policiamento
e Fiscalização de Trânsito do
Detran-DF, Silvain Fonseca não
tem dúvidas sobre o que chama
“efeito dominó” da redução da
maioridade penal na legislação de
trânsito. “Se isso acontecer, o
Estado terá que reforçar a
educação, além de trabalhar as
questões de maturidade e
comportamento nas vias. Teremos
um perfil novo de condutores e
seremos obrigados a pensar como
seria a forma de capacitação desse
público,” afirma.
VENDA DE ÁLCOOL
A prevenção ao uso de drogas
lícitas, como o álcool, está no
pacote de normatizações que
poderão ser afetadas diretamente
pela redução da maioridade penal.
Há menos de dois meses, a
presidenta Dilma Rousseff
sancionou a Lei Federal nº 13.106,
que torna crime a venda e a oferta
de bebidas alcoólicas e outras
drogas que podem causar
dependência, a menores de 18
anos. “É um risco”, diz Alessandra
Diehl, psiquiatra e secretária da
Associação Brasileira de Estudos
do Álcool e outras Drogas
(Abead). “Seria ingenuidade dizer
que não há. Vivemos num país em
que está difícil acreditar nas leis e
nos parlamentares. Há um interesse
econômico que se sobrepõe ao
direito à saúde da população como
um todo”, lamenta . Alessandra diz
não enxergar um desdobramento
imediato, uma vez que a legislação
que veta a venda e oferta de drogas
lícitas e ilícitas a menores de 18
anos está bem fundamentada. Mas,
por outro lado, ela não descarta
que as indústrias tabagista e
cervejeira, por exemplo, façam
lobby para mudar a norma legal.
“O Brasil aprovou a restrição à
venda de bebida alcoólica em
estádio. Veio a Fifa e derrubou a
proibição na Copa do Mundo”,
lembra. Atualmente, quem
desrespeita a Lei 13.106 pode
ficar preso por dois a quatro anos
e pagar multa de até R$ 10 mil.
EXPLORAÇÃO SEXUAL
A redução da maioridade penal
criaria uma situação contraditória
em que um jovem de 16 anos pode
ser punido por um crime como
adulto, mas continua sendo
protegido como adolescente, uma
vez que o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) — que trata da
faixa etária de 12 a 18 anos —
continuaria vigente. “Desmontaria
todo o sistema legal de proteção
da juventude, então geraria uma
série de incompatibilidades e
contradições nos diferentes
sistemas”, explica Sinara
Guimieri, consultora jurídica do
Instituto de Bioética, Direitos
Humanos e Gênero. “A aprovação
07/06/15
criaria um precedente perigoso
para que o Congresso venha a
reformular o ECA”, reforça a
procuradora da República Mariane
Guimarães. Se o ECA for alterado,
crimes cometidos contra
adolescentes entre 16 e 17 anos
seriam descaracterizados. Entram
nessa categoria exploração sexual,
pornografia infantil, sequestro e
tráfico internacional de pessoas,
dentre outras questões. Atualmente,
quem envia criança ou adolescente
de até 18 anos para o exterior com
a finalidade de obter lucro pode
cumprir de quatro a seis anos de
prisão, além de pagar multa. Se
houver emprego de violência, a
pena sobe para oito anos, somada
ao tempo correspondente aos atos
violentos praticados. Com a
possível aprovação da PEC 171,
seria considerada vítima desse
tipo de crime pessoa com até 16
anos. A alteração valeria também
para crimes como filmar ou
fotografar menores em cenas
pornográficos, cuja punição inclui
multa e reclusão de quatro a oito
anos. A pena aumenta se o autor
do crime for agente público ou
parente da vítima.Na avaliação do
sociólogo Dijaci David de
Oliveira, da Universidade Federal
de Goiás (UFG), a aprovação da
emenda pode incentivar crimes
sexuais se causar alterações no
ECA. “Vai ter a exploração sexual
legal entre 16 e 17 anos e abrir a
porta para ampliar a exploração no
segmento logo abaixo, entre 14 e
15 anos, que já existe”, afirmou.
Ele lembra ainda que a capacidade
de fiscalização do cumprimento da
lei é precária, o que agrava o
problema. Em 2013, o serviço
“Disque 100” da Secretaria de
Direitos Humanos (SDH-PR)
registrou 124.079 denúncias de
violência cometidas contra criança
e adolescente no país. Desse
montante, 28% se referiam a
violência sexual. Para Oliveira, os
números mostram como, mesmo
com a proteção legal, a
adolescência brasileira é
vulnerável.
“As coisas estão entrelaçadas.
A lógica é uma só”
Carlos Ayres Britto, ministro
aposentado do STF, ao alertar
sobre o fato de que a redução da
maioridade abre precedente para
se questionar, por exemplo, o limite
de idade para dirigir e para ser
obrigado a votar
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/15
ECONOMIA
TRABALHO »
Diploma universitário
não é mais garantia de emprego
Desocupação entre pessoas
com curso superior cresce 21,2%
no primeiro trimestre de 2015 em
relação ao mesmo período do ano
passado. Ambiente recessivo e
forte crise da indústria reduzem
oferta de vagas para profissionais
mais preparados
RODOLFO COSTA
Já se foi o tempo em que ter
formação de nível superior era
quase uma certeza de conseguir um
bom emprego. A má gestão da
política econômica no primeiro
mandato da presidente Dilma
Rousseff, que já havia
desorganizado as contas públicas
e feito a inflação disparar,
contaminou o mercado de trabalho
e atingiu fortemente a população
mais qualificada. Entre janeiro a
março deste ano, o total de
desempregados com diploma de
curso superior cresceu 21,25% em
relação ao mesmo período de
2014, de acordo com a Pesquisa
Nacional por Amostra de
Domicílio (Pnad) Contínua, do
Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).
Embora a taxa desemprego
nessa faixa da população não seja
a mais elevada — 4,6% dos
diplomados estão sem trabalho,
contra 9,4% dos que concluíram
apenas o ensino médio, por
exemplo —, o aumento da
desocupação foi aí mais intenso,
ficando atrás apenas do verificado
entre aqueles que têm o ensino
superior incompleto (28,2% de
alta).
O
desaquecimento
da
economia, que deve fechar neste
ano em recessão, com queda de
1,3% do Produto Interno Bruto
(PIB), segundo a média das
previsões de analistas de
instituições financeiras financeiro,
enfraquece a esperança de quem
acreditava que o diploma seria um
passaporte automático para uma
boa colocação no mercado de
trabalho. Na última década, o
governo federal investiu
pesadamente no aumento do
número de pessoas com formação
universitária, facilitando o acesso
delas a instituições de ensino
públicas e privadas. De 2000 para
2010, o investimento público em
educação saltou de 3,5% para
5,6% do PIB — sendo 0,9% para
o ensino superior em 2010,
segundo o último relatório
Panorama da Educação, da
Organização para a Cooperação e
o Desenvolvimento Econômico
(OCDE), publicado em 2013. No
entanto, a falta de vagas para
atender toda a demanda por um
posto de nível superior pode
formar um “exército de
diplomados” com pouco espaço no
mercado.
Custos
Para Rodrigo Leandro de
Moura, professor e pesquisador da
área de economia aplicada do
Instituto Brasileiro de Economia,
da Fundação Getulio Vargas (Ibre/
FGV), o fenômeno chama ainda
mais a atenção pela atipicidade,
mesmo em comparação a outros
períodos de recessão. “Em crises
passadas, as pessoas mais pobres
e menos escolarizadas respondiam
por uma maior proporção de
demitidos.
Porém,
os
trabalhadores com escolaridade
média para alta são pessoas que
ganham mais. Como o salário
cresceu muito ao longo dos anos,
ficou mais custoso para as
empresas manterem essa mão de
obra qualificada”, avalia.
Na opinião de Moura, o
momento é até pior do que o da
crise de 2009. “Aquele efeito foi
passageiro, e o país conseguiu se
recuperar. Havia espaço para
crescimento, mas, agora, estamos
tendo uma compressão muito
grande e forte da massa de
rendimento das famílias via
mercado de trabalho”, explica. E
a tendência é piorar. “O aperto da
massa salarial passa pelo menor
crescimento da população ocupada
e pela menor renda média que cada
trabalhador está recebendo. A
inflação vai continuar resistente, e,
para controlar os preços, o Banco
Central vai elevar a taxa básica de
07/06/15
juros (Selic). Não há perspectiva
de melhora para 2015, e pouca
para o próximo ano, que também
será difícil”, diz ele.
Desafios
Por representarem um
contingente maior da população,
profissionais com nível de
formação até o ensino médio
deverão
encarar
grandes
dificuldades para conseguir um
posto no mercado de trabalho. Mas
a realidade para os trabalhadores
com nível superior será igualmente
desafiadora, nas mais diversas
atividades
da
economia,
principalmente na indústria. Diante
do ajuste fiscal, com elevação de
juros e aumento da carga tributária,
o setor que historicamente sempre
empregou uma mão de obra mais
capacitada vai continuar dando
férias coletivas, desligando
parques fabris e cortando vagas,
dizem os especialistas.
O ambiente recessivo exigirá
nervos de aço para profissionais
de carreiras mais técnicas, como
engenheiros, que precisarão ser
perseverantes. Quando concluiu a
graduação em engenharia civil, ao
fim de 2012, Henrique Leoni
Rodrigues, 25 anos, não esperava
enfrentar um declínio na vida
profissional. Dois anos antes, ele
começou como estagiário em uma
empresa do setor de construção e
logo foi promovido a assistente
técnico. Ao colocar as mãos no
diploma, foi alçado ao posto de
engenheiro e trabalhou em obras
de infraestrutura para a Copa do
Mundo.
Com a crise, veio a frustração:
acabou demitido em julho de 2014.
“Os investimentos ficaram mais
escassos e muitos profissionais
foram mandados embora. Até
dezembro, ainda consegui
desenvolver alguns trabalhos em
parceria com amigos. Mas, desde
o início deste ano, está tudo
parado”, lamenta. Na procura por
afugentar o desânimo pela falta de
emprego, Leoni apostou as fichas
em uma especialização na área de
projetos, execução e controle de
obras. “Quero novamente um
emprego fixo que me traga
realização pessoal e retorno
financeiro”, afirma.
07/06/15
07/06/15
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/15
ECONOMIA
TRABALHO »
Com PIB fraco, futuro incerto
Profissionais têm dificuldade
para encontrar oportunidades
compatíveis com o nível de
qualificação. Para especialistas,
só retomada mais forte da
economia permitirá a absorção de
jovens que estão se formando nas
universidades
RODOLFO COSTA
Poliglota e graduada em
direito, Giselle Bissoli procura
emprego há dois anos em Brasília
Com ou sem especialização, o
futuro para os mais qualificados
no mercado de trabalho é incerto.
Em um contexto de recessão, o
baixo nível de atividade
econômica exige das empresas que
contratem menos empregados.
Com mais pessoas tendo acesso ao
ensino superior, mas sem um
crescimento mais robusto do
Produto Interno Bruto (PIB),
alguns especialistas não descartam
a hipótese de que o nível de
desemprego entre os diplomados
se aproxime do verificado na
camada da população menos
instruída.
Com
menos
oportunidades e mais gente
concorrendo, faltarão postos.
Para Carlos Alberto Ramos,
professor do Departamento de
Economia da Universidade de
Brasília (UnB), o PIB precisará
manter um avanço contínuo entre
3% e 4% para ampliar a gama de
oportunidades
para
os
profissionais mais habilitados. As
previsões para o desempenho da
economia, no entanto, apontam
para um cenário muito menos
promissor.
Os analistas ouvidos pelo
Banco Central na Pesquisa Focus
preveem para 2015 uma retração
do PIB de 1,27%, e crescimento
de 1% no próximo ano. Para o
biênio seguinte, segundo o Fundo
Monetário Internacional (FMI), o
país deve crescer 2,25% e 2,3%,
chegando a 2,5% em 2020. Nesse
ritmo, a presidente Dilma Rousseff
corre o risco de deixar o comando
do país em um ambiente
desfavorável pela ótica do
mercado de trabalho.
“O crescimento que virá a partir
do próximo ano deve recuperar
parte das perdas e das vagas
fechadas. Contudo, apenas uma
taxa de crescimento forte e
constante vai permitir, a longo
prazo, a geração de postos
suficientes para absorver o
contingente de jovens que estão
sendo formados”, explica Ramos.
Com pós-graduação em
recursos humanos, Andressa está
sem trabalhar desde 2014
Formada em administração em
2011, Andressa Borges, 31 anos,
concluiu um curso de secretariado
executivo em 2014 e uma pósgraduação em gestão de recursos
humanos neste ano. Mesmo com o
currículo cadastrado em sites
especializados, está sem trabalhar
desde o ano passado, quando atuou
como auxiliar administrativa para
cobrir as férias de uma servidora
do Tribunal Regional Federal da
1ª Região (TRF-1). “Fui indicada
por amigos para vagas que exigem
menos qualificação. Mesmo
concordando em receber salários
de R$ 800 a R$ 1mil, as empresas
não me aceitam”, lamenta.
Para manter o tempo ocupado,
Giselle Bissoli, 35 anos, exerce
atividades na área administrativa
da empresa do marido, que tem
uma oficina especializada em
carros esportivos. Leva uma rotina
simples para quem é formada em
direito, tem especialização em
07/06/15
comércio exterior, fala quatro
línguas e visitou 62 países durante
os 12 anos de experiência na área.
“Estou há dois anos em Brasília e
ainda não consegui emprego. Já
tentei vagas em embaixadas e
hotéis, mas nem entrevista eu
consigo”, diz.
A realidade enfrentada pelas
duas profissionais é apenas um dos
reflexos do desaquecimento da
economia, avalia Rodrigo Leandro
de Moura, pesquisador do Instituto
Brasileiro de Economia, da
Fundação Getúlio Vargas (IbreFGV). “Quando as empresas
contratam em uma recessão, os
salários são menores. É difícil
para a empresa fazer proposta para
alguém mais qualificado, até por
uma questão de constrangimento.”
Para os que apostam no
investimento em qualificação
esperando retorno quando a
economia se reaquecer, o momento
também não é dos melhores, diz
Moura. Do contingenciamento de
R$ 69,9 bilhões anunciado pelo
governo, R$ 9 bilhões saíram da
educação. “Com menos bolsas de
estudo e financiamento estudantil,
o que veremos serão pessoas
disputando a tapa as oportunidades
que surgirem”, diz Moura.
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/15
MEMÓRIA »
Engenheiro fez história
Publicação: 07/06/2015 04:00
Não é a primeira vez que
graduados em um curso superior
veem a posição no mercado de
trabalho ameaçada. No início dos
anos 1980, período que ficou
conhecido como a “década
perdida”,
o
engenheiro
metalúrgico Odil Garcez Filho
colocou seu nome na história.
Desempregado, ele abriu na
Avenida Paulista, em São Paulo,
uma lanchonete com nome
sugestivo: o engenheiro que virou
suco. Com a venda de refrescos,
sanduíches e pratos feitos no
almoço, conseguiu contribuir para
o sustento da família em uma das
mais turbulentas recessões que o
país atravessou. Ostentava com
orgulho o diploma e o registro
profissional da categoria, que
ficavam à exposição na loja. O
comércio não vingou. Atendeu à
clientela por cinco anos, mas
fechou as portas por falta de
acordo sobre a renovação
contratual do espaço. Garcez
Filho, o engenheiro que virou suco,
morreu em 2001, aos 51 anos.
ECONOMIA
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/15
ECONOMIA
INTERNACIONAL »
Graziano é reeleito na FAO
O brasileiro José Graziano da
Silva foi reeleito ontem em Roma,
com um apoio histórico, para o
cargo de diretor-geral da
Organização das Nações Unidas
para a Agricultura e a Alimentação
(FAO). Candidato único, Graziano
foi eleito para um segundo mandato
com 177 votos dos 182 emitidos,
o maior número da história da
organização. Ele permanecerá no
posto até julho de 2019.
A eleição ocorreu no primeiro
dia da 39ª conferência da FAO, que
prosseguirá até 13 de junho. Desde
que assumiu o cargo, em 2012,
Graziano lidera uma reforma da
agência que recebeu o apoio da
maioria dos países-membros. Ele
iniciou o trabalho na FAO em
2006 como diretor do Escritório
Regional da América Latina e
Caribe. Foi eleito diretor-geral em
26 de junho de 2011.
Ministro de Segurança
Alimentar e Combate à Fome entre
2003 e 2004, no primeiro governo
do então presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, Graziano coordenou
a equipe do Programa Fome Zero
em sua etapa inicial de
implementação. Em breve
discurso, ontem, após a
confirmação de seu mandato à
frente da FAO, ele reafirmou o
compromisso de lutar pela
erradicação da fome no mundo.
Lula
O ex-presidente Lula participou
do primeiro dia da conferência. Em
discurso, ele defendeu as políticas
sociais do governo brasileiro e
afirmou que o país está prestes a
erradicar a miséria. “Pela primeira
vez, há uma geração de brasileiros
que cresce sem conhecer o drama
da fome”, disse. Segundo ele, a
fome é um fenômeno social que
decorre de um desequilíbrio nas
estruturas econômicas dos países.
Lula afirmou ainda que os
governos não podem contar com a
área econômica para desenvolver
programas sociais. “Se ficar
esperando o ministro da Fazenda
dizer que está sobrando dinheiro,
nenhum governante vai fazer
programa de transferência de
renda”, sentenciou.
A presidente Dilma Rousseff
comemorou a recondução de
brasileiro ao comando da FAO. “A
eleição de Graziano comprova
suas sólidas credenciais e
importante contribuição para as
políticas de combate à pobreza, em
especial o Programa Bolsa
Família, que faz do Brasil
referência internacional”, disse
ela, em nota. O governo brasileiro
apoiou a reeleição do ex-ministro
e montou uma força-tarefa no
Itamaraty para obter votos de
representantes de outros países.
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/15
CIDADES
VESTIBULAR »
Correria em disputa por vaga
Juiz liberou todos os
candidatos inscritos e muitos
souberam da decisão na última
hora: tensão e ansiedade
» ISA STACCIARINI
Mais de 18 mil estavam
inscritos para realizar as provas
em 11 cidades do Distrito Federal,
de Goiás e Minas Gerais
Sara Mariani quer medicina: os
pais, Jaildo Lima e Narlita,
apoiam a filha
O primeiro dia de provas do
vestibular 2015 da Universidade
de Brasília (UnB) registrou 6,5%
de abstenção. Do total de 18.804
inscritos, sendo 2.902 como
treineiros, apenas 1.222 deixaram
de fazer o exame. No ano passado,
o índice de abstenção no primeiro
dia do certame foi de 10,47%, ou
seja, 2.456 concorrentes não
fizeram o teste. Destsa vez, embora
a maioria dos candidatos tenha se
prevenido e chegado aos locais de
prova com antecedência, o
vestibular foi marcado pela
apreensão e incerteza de quem
teve a inscrição cancelada em
razão da exigência do certificado
de conclusão do ensino médio. A
Justiça Federal entrou no caso e
na noite de sexta-feira autorizou a
participação de todos os
concorrentes que solicitaram
inscrição no vestibular. O Centro
de Seleção e de Promoção de
Eventos (Cespe), no entanto, só
divulgou o comunicado no site três
horas antes da realização das
provas. Hoje, os inscritos testam
os conhecimentos em biologia,
física, química e matemática.
Quem tinha sido afetado com o
cancelamento do registro foi
novamente pego de surpresa e teve
de correr para não perder a chance
de uma vaga em um dos 97 cursos
de graduação. O juiz federal João
Carlos Mayer Soares postergou a
análise do requisito de
escolaridade para depois do
exame. Com a decisão liminar,
Renata Mello Sussuarana, 21 anos,
conseguiu fazer a prova. Ela soube
da reviravolta por volta das 11h.
“Estava na aula de balé e soube
pelo meu namorado. Não sei nem
onde vou fazer a prova. Estou
voltando para casa correndo”,
disse, por telefone, ao Correio às
11h20 de ontem. Ela tenta uma
vaga para medicina desde quando
terminou o ensino médio, em 2011,
e se emocionou ao saber que teria
nova chance. “Cursei um ano de
biomedicina em uma universidade
particular, mas deixei o curso para
estudar. Já fiz muito tempo de
cursinho, mas nestse semestre
estava estudando sozinha”,
explicou.
Redação
Entre os candidatos, a
ansiedade era para saber o tema
da dissertação, que foi A relação
entre a ciência e a arte. No ano
passado, eles tiveram que escrever
30 linhas sobre o tema Viagem a
Marte sem volta. Os que chegaram
cedo aos locais de prova
aproveitavam para encontrar
amigos e dividir experiência. Os
portões abriram às 12h e a previsão
em edital era de que fechassem às
13h. No entanto, na Faculdades
Integradas da União Pioneira de
Integração Social (Upis), o acesso
ficou liberado 12 minutos após o
previsto. Segundo o diretor
Acadêmico do Cespe, Marcus
Vinícius Soares, o prazo se deve
ao ajuste de relógio. “Nem todos
os relógios marcam o mesmo
horário. Para evitar um prejuízo
aos candidatos, por poucos minutos
de atraso, há o que chamamos de
acerto no relógio. Esse é o tempo
para que todos os locais comecem
07/06/15
a prova no mesmo horário”,
esclareceu.
Ao todo, foram 22 locais de
prova. Onze cidades do Distrito
Federal, Goiás e Minas Gerais
receberam candidatos. Ontem, os
inscritos fizeram a prova de
espanhol, francês ou inglês, além
de português e literatura, geografia,
história, artes, filosofia, sociologia
e redação. “A redação é o
momento em que o candidato tem
de fazer a construção da resposta,
o que depende de criação”, definiu
o diretor acadêmico do Cespe.
Giovanna Maria Bonfim, 18
anos, tenta uma vaga no curso de
ciências contábeis. Estreante no
vestibular da UnB, a estudante
terminou o ensino médio no ano
passado e tentou o ingresso pelo
Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) e pelo Programa de
Avaliação Seriada (PAS). Para
evitar imprevistos, ela chegou ao
local de prova com duas horas de
antecedência. “Estudo sete horas
por dia e estou mais nervosa para
a prova de hoje (ontem) do que
para a de amanhã (hoje), por causa
da redação. Cheguei às 11h para
não correr risco de me atrasar nem
pegar engarrafamento”, contou.
Na Upis, a estudante Sara
Marani Oliveira, 18 anos, estava
acompanhada dos pais , Jaildo
Lima, 46 anos, e Marlita Mariani
Oliveira, 44 anos. Há um ano e
meio, desde quando terminou o
ensino médio em 2013, a jovem
tenta aprovação em medicina,
curso mais disputado neste
certame, com 97,17 candidatos por
vaga. “Eu procuro ficar tranquila
e desta vez estou mais calma,
porque me sinto mais preparada.
Fiz muitas redações. Medicina é o
que eu quero como profissão”,
ressaltou. A mãe, advogada, não
esconde a expectativa. “Vemos o
esforço e a dedicação dela. Cabe
a nós darmos a assistência”,
definiu. O segundo curso mais
concorrido é direito diurno, que
teve 11,47 candidatos por vaga.
Faltando um minuto para o
fechamento dos portões, previsto
para as 13h, cinco candidatos
ainda conferiam a sala em que
fariam a prova do lado de fora da
Upis. Apesar da apreensão,
ninguém ficou do lado de fora. A
ansiedade, no entanto, fez com que
duas candidatas abandonassem a
prova. Uma delas saiu de cadeira
de rodas. Outra, identificada como
Camila Schwerz, 17 anos, teve uma
crise de choro. A mãe, Noemia
Schwerz, 50 anos, buscou a filha.
“Eles me ligaram dizendo que ela
chorava e estava sem condições de
fazer a prova. Ela estuda no
Colégio Militar de Brasília, quer
passar em medicina, mas é só o
começo. Damos todo o apoio
possível”, ressaltou.
Para este vestibular, foram
ofertadas 4.212 vagas em 97
cursos de graduação nos câmpus
Darcy Ribeiro (Plano Piloto),
Ceilândia, Gama e Planaltina.
O GLOBO
06/06/15
SOCIEDADE
Antissemitismo no RS:
MEC será acionado
Federação Israelita pedirá
explicações sobre memorando em
universidade
A Federação Israelita do Rio
Grande do Sul vai acionar o
Ministério da Educação (MEC),
em função da denúncia de
antissemitismo na Universidade
Federal de Santa Maria
protocolada no Ministério Público
Federal pelo professor Luís
Milman. A queixa-crime diz
respeito ao memorando que
circulou na instituição solicitando
informações sobre a presença de
alunos e professores israelenses na
universidade.
Segundo o presidente da
entidade, Zalmir Chwartz-man, o
objetivo da mobilização é obter
explicações concretas sobre o
ocorrido e cobrar uma atitude mais
firme da universidade.
— Num primeiro momento, as
explicações dadas pelo reitor nos
parecem frágeis e inconsistentes.
A História nos ensinou que fatos
semelhantes a esse, que parecem
pequenos, se tornaram a maior
tragédia da humanidade —
avaliou.
Como já havia sido divulgado
pelo GLOBO, o reitor da UFSM,
Paulo Afonso Burmann, confirmou
a existência do memorando, mas
negou qualquer motivação
antissemita por parte da faculdade.
Segundo ele, o documento visava
a atender a uma demanda
registrada via Lei de Acesso, em
que entidades pediam para saber,
entre outras coisas, se a instituição
gaúcha tem alguma relação com
pessoas jurídicas israelenses, se
recebeu ou está para receber algum
recurso de origem israelense e se
há alunos ou docentes de Israel na
universidade.
Além disso, de acordo com o
reitor, o memorando foi adulterado
com palavras de ordem como
"Liberdade para a Palestina —
Boicote a Israel" após sua
divulgação. Num vídeo em que
defende a universidade, o dirigente
diz que "a fraude" será
devidamente investigada.
Chwartzman afirmou que a ação
da Federação Israelita conta com
apoio da Confederação Israelita
do Brasil, cuja direção já fez um
contato prévio com o ministro da
Educação, Renato Janine, pedindo
uma apuração sobre o assunto. A
entidade estadual também reunirá
seu departamento jurídico na
segunda-feira, para apurar se cabe
a formalização de novos
procedimentos sobre o caso.
— É um assunto muito delicado.
Se houve erros, os responsáveis
precisam ser responsabilizados.
Situações como essa não podem
passar em branco.
O GLOBO
06/06/15
Enem: 7,8 milhões se
inscreveram; número é inferior
à edição de 2014
Edital deste ano conta com
novidades, e prova ocorrerá nos
dias 24 e 25 de outubro
O número de inscritos no
Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) chegou a 7,8 milhões até
as 17h de ontem, segundo o último
balanço fornecido pelo Inep, que
organiza a prova. As inscrições
terminaram às 23h59m. O número
ficou distante do total de 9,59
milhões registrado ao final dos 12
dias de inscrições no ano passado.
No início, estudantes relataram
problemas para se inscrever. O
edital do exame de 2015 trouxe
mudanças em relação aos
anteriores. Uma das alterações
mais importantes dá conta de que
alunos menores de 18 anos que não
estão concluindo o ensino médio
este ano não poderão utilizar a
nota do Enem para pleitear uma
vaga numa universidade ou mesmo
obter um certificado do segmento.
Esses estudantes podem fazer o
exame, mas apenas como treino.
As provas ocorrerão nos dias
24 e 25 de outubro às 13h30m,
porém os portões se fecharão às
13h para evitar atrasos na
aplicação.
SOCIEDADE
FOLHA DE SÃO PAULO
06/06/15
COTIDIANO
Cunha admite votar proposta
de Alckmin sobre menores
Governador defende elevar
tempo máximo de internação para
infratores
Presidente da Câmara disse
que proposta pode ser votada,
mesmo com redução da
maioridade em tramitação na
Casa
RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA
O presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB), disse
nesta sexta (5) que a proposta do
governador Geraldo Alckmin
(PSDB) de elevar o tempo máximo
de internação de adolescentes
infratores não inviabiliza a
aprovação da redução da
maioridade penal de 18 para 16
anos.
A discussão sobre mudanças na
punição a jovens ganhou força
após Cunha instalar comissão na
Câmara que deve aprovar um
relatório propondo reduzir a
maioridade penal para 16 anos.
Em entrevista ao jornal "O
Globo" de sexta, Alckmin
defendeu sua proposta de mudança
na lei, apresentada em 2013, que
eleva de três para oito anos o
período máximo de internação de
jovens que cometem crimes
hediondos.
"Vejo essa proposta como uma
opção melhor do que uma redução
da
maioridade
penal
indiscriminadamente", afirma o
tucano, que diz acreditar numa
convergência entre os adversários
PT e PSDB.
Quando Cunha anunciou a
iminência da votação do tema no
plenário, o governo federal, que é
contra, correu para tentar barrar a
aprovação. Uma das saídas é se
unir à proposta de Alckmin, que
mudaria o ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente).
"É fundamental fazer esse
diálogo [com o PSDB]. São causas
de interesse da sociedade, que
independem de posição de
governo ou de oposição. Podemos
convergir para evitar esse
conservadorismo exacerbado",
disse o líder do governo na
Câmara, o deputado José
Guimarães (PT).
A declaração de Alckmin foi
avaliada por aliados como uma
tentativa
do
governador
nacionalizar seu nome para a
eleição presidencial de 2018.
Pessoas próximas ao senador
Aécio Neves (PSDB) acreditam
que a intenção de Alckmin é
rivalizar com o mineiro, outro
nome para a disputa.
Aécio apoia a proposta de
emenda constitucional do senador
Aloysio Nunes (PSDB), que prevê
redução da maioridade de 18 para
16 anos só para casos de crimes
hediondos.
"Propostas como a do
governador Alckmin podem ser
levadas a voto independente da
proposta da comissão [que discute
o tema]. A aprovação de uma não
exclui a outra", afirmou Cunha no
Twitter.
"A proposta [de redução] tem
22 anos e todos a ignoravam.
Agora, como anunciamos [a
votação], estão buscando outras
propostas para o mesmo tema, o
que é bom", acrescentou o
peemedebista, que é favorável à
redução. A posição é a mesma da
maioria da comissão.
Para entrar em vigor, a medida
tem que ser aprovada com o voto
favorável de pelo menos 60% dos
deputados e senadores. Como é
emenda à Constituição, ela não
precisa do aval (sanção) de Dilma
Rousseff para passar a valer.
Colaborou BELA MEGALE
O ESTADO DE S. PAULO 06/06/15
METRÓPOLE
SP mudará ensino médio público em
2016 e alunos vão escolher disciplinas
PAULO SALDAÑA - O
ESTADO DE S. PAULO
Secretaria não revela detalhes,
mas plano é que a maior parte do
que é estudado nos dois últimos
anos da etapa final seja
construída a partir dos interesses
do estudante
O governo do Estado de São
Paulo vai iniciar no próximo ano
um novo modelo de currículo no
ensino médio. O plano da
Secretaria Estadual da Educação
é transformar a maior parte do
curso em disciplinas optativas,
modelo em que os estudantes
podem escolher o que vão estudar.
O novo ensino médio deve
começar em 2016 em um número
restrito de escolas e depois
avançar para toda a rede.
A reforma dessa etapa deve
transformar sobretudo os 2.º e 3.º
anos, quando as disciplinas serão
oferecidas para opção do aluno.
Será o estudante que montará sua
grade. Apenas o 1.º ano continuaria
com o currículo fechado, em um
“núcleo comum”, como é hoje em
toda a educação básica.
Ao se confirmar, essa deve ser
a maior mudança no ensino médio
da rede estadual, a maior do País.
O secretário da Educação de São
Paulo, Herman Voorwald,
informou ao Estado acreditar que
a aposta no protagonismo do aluno
é a melhor saída para essa etapa,
considerada o maior gargalo da
educação brasileira.
“Se eu quiser desenvolver a
capacidade de escolha e de tomada
de decisões nos jovens, tenho de
permitir que ele opte. Este é o
único caminho que tenho para que
esse menino diga: ‘estou
escolhendo as disciplinas que eu
quero, que fazem parte do que eu
quero seguir na minha vida’”,
disse o secretário.
A proposta está sendo
finalizada na área pedagógica da
pasta para ser discutida no
Conselho Estadual de Educação
(CEE) no segundo semestre. A
secretaria não revela detalhes, mas
o plano é que a maior parte do que
é estudado nos dois últimos anos
seja construída a partir dos
interesses do aluno. Deve haver a
oferta de disciplinas fora da grade
tradicional, como Teatro. “Ou
mudamos ou vamos falir e esses
meninos não vêm para a escola. Se
ele odeia Matemática, pode optar
por Artes, Idiomas”, diz Voorwald.
Modelo. Ainda não há um
número definido de escolas que vão
iniciar a nova grade, mas elas
serão escolhidas por adesão ao
projeto. Há preocupação na pasta
de o modelo “travar” se for
iniciado em um número muito
grande de escolas ou na rede toda.
Essa estratégia de adesão foi
adotada no modelo de Escola de
Tempo Integral, iniciado em 2011,
que hoje envolve 257 escolas do
fundamental ao médio.
06/06/15
Essas unidades de tempo
integral têm grade flexível, com
base em um conceito de
protagonismo juvenil. Os alunos
podem escolher disciplinas
optativas, que vão da prática de
ciência à moda. As boas
experiências do modelo é que têm
inspirado o novo currículo. “O
aluno não será mais um número,
muda até o conceito de gestão”, diz
o secretário, que afirma que o
plano existe desde 2011, quando
assumiu a pasta no início do
mandato anterior do governador
Geraldo Alckmin (PSDB). “Mas o
terreno não era fértil na época,
como agora”, diz.
Perspectiva. O ensino médio
paulista tem 1,9 milhão de alunos,
concentrando 42% do total de
alunos da rede, segundo dados da
sinopse Estatística da Educação
Básica de 2014. As mais de 3,6
mil escolas estaduais paulistas
com ensino médio têm quase a
mesma quantidade de alunos na
etapa que Minas, Bahia e Rio
juntos.
Uma das críticas recorrentes ao
ensino médio é a falta de
articulação com a realidade do
jovem. Aluna do 2.º ano na Escola
Estadual Canuto do Val, na Barra
Funda, zona oeste da capital, Anna
Carolina Marques da Silva, de 16
anos, tem consciência da
importância da escola para sua
vida, mas diz não se sentir
estimulada nas aulas. “Seria
incrível pode escolher fazer
Matemática Financeira ou Música,
isso faz muita falta na escola.”
Anna é carioca e até 2011
estudava em uma escola particular
no Rio. “Senti muita diferença no
começo. O comprometimento dos
alunos faz metade da escola, mas
em primeiro lugar é o governo que
tem de oferecer algo de qualidade.
E depois os professores de
qualidade”, diz ela, que já pensa
em cursar o ensino superior, mas
tem dúvidas entre Publicidade e
Biologia.
A colega Karen do Prado, de 17
anos, se queixa da centralização
das decisões. “Quem está sempre
certo são os professores”, diz.
Assim como a amiga, Karen se
empolga com a possibilidade de
poder escolher o que estudar, mas
vê outros problemas graves. “Na
semana passada quase não tive
aulas porque não havia
professores.”
O ESTADO DE S. PAULO 06/06/15
METRÓPOLE
Só 6 dos 20 cursos top da USP vão usar Enem
VICTOR VIEIRA - O ESTADO
DE S. PAULO
Se proposta for aceita, 241 das
2.625 vagas mais difíceis seriam
disputadas pelo exame
Das 20 carreiras com maior
nota de corte na Universidade de
São Paulo (USP) – 54 a 72 pontos
de 90 possíveis –, apenas seis
terão reserva de vagas para
candidatos do Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem), segundo
proposta da Pró-Reitoria de
Graduação.
Medicina
e
Psicologia, na capital e em
Ribeirão Preto, Direito e
Engenharias na Escola Politécnica
são as carreiras de ponta para as
quais o Enem foi sugerido.
Para valer, a mudança no
vestibular ainda depende do aval
das faculdades e dos conselhos
superiores da instituição. O
documento em que a pró-reitoria
recomenda uma proporção de
vagas pelo exame para cada curso
foi obtido pelo Estado. A ideia da
USP é que essas cadeiras sejam
ofertadas só para candidatos da
rede pública pelo Sistema de
Seleção Unificada (Sisu),
plataforma digital que reúne vagas
do ensino superior público. A fatia
de vagas reservadas deve variar
para cada curso e a USP prevê a
mudança já para este vestibular.
A meta da universidade é ter,
até 2018, metade de alunos de
escola pública, com 35% de
pretos, pardos e indígenas (PPI).
O uso do Enem é uma aposta para
cumprir o objetivo. A USP não usa
cotas, mas bônus no vestibular para
candidatos de rede pública e PPI.
A nova proposta, com o Enem, não
prevê recorte de renda ou classe.
Caso a sugestão seja aceita, 241
das 2.625 vagas das carreiras mais
difíceis seriam disputadas pelo
exame federal. É justamente nos
cursos de elite em que a USP
enfrenta maior dificuldade para
promover inclusão.
Das graduações top, a “cota”
máxima via Enem é de 20% do
total de cadeiras, caso da
Faculdade de Direito da capital.
Na graduação de Medicina, em
São Paulo, a taxa é de 14,3%; e na
Medicina de Ribeirão Preto é de
15%. Nos cursos da Escola
Politécnica, a proposta é de 10%.
As faculdades têm até o dia 12
para debater e responder à próreitoria. Devem indicar quais
notas mínimas no Enem seriam
usadas. As discussões nos
conselhos superiores serão feitas
até o fim deste mês.
Na média da USP, 14,9% das
11.057 vagas seriam reservadas.
Das 42 unidades, 28 já se
mostraram favoráveis ao Enem.
Para definir a proporção de vagas,
a pró-reitoria considerou a
concorrência na Fuvest, a taxa de
inclusão de alunos de escola
pública e o interesse da unidade.
Divisão. A Escola de
Comunicações e Artes (ECA) e a
Escola de Engenharia de São
Carlos, que abrigam nove das
carreiras mais disputadas, optaram
por manter como forma de ingresso
apenas a Fuvest. As unidades
poderão rediscutir o tema neste
mês. Para cursos com prova
específica, como Arquitetura, o
Enem foi descartado.
As Faculdades de Economia,
Administração e Contabilidade
(FEA) e de Odontologia, de acordo
com o documento, são outras que
rejeitaram o exame. A licenciatura
em Ciências Exatas, ministrada em
São Carlos, tem a maior cota via
Enem: 50%. Procurada, a USP não
comentou a proposta.
CORREIO BRAZILIENSE
06/06/15
POLÍTICA
CÂMARA »
Aumento de pena para menores
Marcella Fernandes
O presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha, disse
que a possível aprovação da
Proposta de Emenda à
Constituição 171 de 1993, que
reduz a maioridade penal de 18
para 16 anos, não exclui a votação
de outras mudanças legislativas,
como o aumento da punição para
menores infratores. No último
domingo, ele afirmou que a PEC
seria votada até o próximo dia 15.
“Propostas como a do governador
(Geraldo) Alckmin podem ser
levadas a voto independentemente
da proposta da comissão”,
afirmou.
O governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin (PSDB), é autor
de uma proposta que aumenta de
três para oito anos o tempo de
internação de menores autores de
crimes hediondos. A pedido do
Palácio do Planalto, um grupo
interministerial tem discutido há
dois meses propostas paralelas à
redução da maioridade, como o
aumento da punição para menores
infratores e para adultos que
cooptarem adolescentes para
atividades criminosas.
Em entrevista publicada no
jornal O Globo ontem, Alckmin
disse ser possível uma aliança com
o PT para evitar a a provação da
redução. “Eu acredito, e não só
com o PT, mas com vários
partidos, PMDB, PSB, PCdoB. É
preciso haver uma convergência”,
afirmou. O deputado Laerte Bessa
(PR/DF), relator da PEC na
comissão especial que trata do
tema, vai apresentar parecer na
próxima sessão, marcada para
quarta-feira.
CORREIO BRAZILIENSE
06/06/15
BRASIL
EDUCAÇÃO »
Dia tenso no Enem
No último dia para inscrições,
estudantes relatam dificuldades
para concluir o processo.
Ministério da Educação diz que
problemas de acesso ao portal
foram pontuais e que prazo não
será reaberto
Marcella Fernandes
Naylieê: %u201CEu colocava
meu CPF e a data de nascimento e
dava erro%u201D
No último dia de inscrições
para o Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem), alunos enfrentaram
problemas no site e não
conseguiram concluir o processo.
Depois de algumas horas em frente
ao computador, a estudante Naylieê
Moreira, 17 anos, não conseguiu
imprimir a GRU, documento
necessário para pagar a taxa de
inscrição no banco. O processo só
é confirmado com esse pagamento,
que deve ser feito até a próxima
quarta-feira (10). “Eu colocava
meu CPF e data de nascimento e
dava erro o tempo inteiro. Teve
uma hora que apareceu que meu
CPF não estava registrado na
Receita Federal. Deixei o site mais
de uma hora aberto”, conta.
A adolescente, que concluiu o
ensino médio no ano passado,
aposta no desempenho no Enem
como uma forma de conseguir
entrar no curso de gastronomia. O
resultado da prova é um dos
critérios para ingresso no
Programa Universidade Para
Todos (ProUni), no Fundo de
Financiamento Estudantil (Fies) e
para concessão de bolsas no
Ciência Sem Fronteiras, entre
outros programas educacionais. De
acordo com o Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep), responsável pelo exame,
7,3 milhões de pessoas haviam se
inscrito até as 16h de ontem. O
número estava em 6,7 milhões às
10h da manhã e encerrou a quintafeira com 5,8 milhões de inscritos,
o que mostra um ritmo crescente
perto do fim do prazo.
A estudante Sofia Medeiros, 16
anos, foi uma das que deixou a
inscrição para o fim do prazo, após
ouvir amigos reclamarem de
congestionamento no site nos
primeiros dias. O processo
começou em 25 de maio. A aluna,
do segundo ano do ensino médio,
conseguiu concluir o processo na
quarta-feira e acredita que
participar do exame vai ajudá-la a
se preparar para o próximo ano.
“Eu fiz também no primeiro ano.
Tinha algumas coisas que não deu
para responder, mas é uma forma
de conhecer melhor a prova”,
afirma. Alunos do primeiro ou
segundo ano podem participar
apenas como treineiros. Os
resultados individuais para essa
categoria serão divulgados 60 dias
após a disponibilização dos
resultados para os demais
concorrentes.
O Inep afirmou que não
prorrogaria o prazo de inscrição e
que as dificuldades foram pontuais.
Candidatos que tiveram problemas
técnicos não têm mais como se
inscrever a partir de hoje. Em
alguns momentos, o site registrou
2.500 acessos por minuto, de
acordo com o órgão. O instituto
havia orientado que os estudantes
buscassem horários com menor
fluxo de acessos na internet. No
primeiro dia de inscrições,
candidatos usaram as redes sociais
para reclamar de dificuldades. O
Enem ficou entre os principais
tópicos do Twitter no Brasil
durante todo o dia.
Apesar do aumento de
inscrições nas últimas horas, a
quantidade ainda está abaixo da
expectativa do Ministério da
Educação (MEC), de 9 milhões de
participantes. No ano passado, 8,7
06/06/15
milhões se inscreveram. O número
tem crescido nos últimos 10 anos.
Nesta edição, a taxa de inscrição
subiu de R$ 35 — valor adotado
desde 2004 — para R$ 63.
Provas ocorrem em outubro
Confira os próximos passos
Pagamento
Ppara confirmar a inscrição, é
preciso pagar a taxa de R$ 63 até
as 21h59 da próxima quarta-feira
(10). Estudantes que vão concluir
o ensino médio este ano em escolas
públicas e participantes que
declararem carência são isentos da
taxa.
Confirmação
O cartão de confirmação deverá
ser consultado e impresso na
página do participante. Esse
documento contém o número de
inscrição, data, hora e local onde
serão realizadas as provas, a
indicação dos atendimentos
especializados escolhidos (se for
o caso); a opção de língua
estrangeira e a solicitação de
certificação (quando houver).
Provas
Os exames de ciência humanas
e da natureza serão realizados em
24 de outubro, um sábado, com
duração de quatro horas. No dia
seguinte, serão aplicados os de
linguagens, códigos e tecnologias,
redação e matemática, com
duração de cinco horas. A abertura
dos portões é às 12h e eles serão
fechados às 13h em ambos os dias.
Permanência
O participante pode deixar o
local de prova somente após duas
horas do início do exame, sob pena
de eliminação. Ele só pode levar
o caderno de respostas nos últimos
30 minutos antes do horário de
término.
Gabaritos
As respostas corretas das
provas objetivas serão divulgadas
na página do Inep, no endereço
eletrônico enem.inep.gov.br, até o
terceiro dia útil seguinte ao de
realização das últimas provas.
Resultados
Os resultados individuais do
Enem 2015 somente serão
disponibilizados no endereço
eletrônico em data a ser divulgada.
Para acessar, é preciso informar o
número de inscrição ou CPF e
senha.
CORREIO BRAZILIENSE
06/06/15
BRASIL
Professores ampliam greve em federais
Na Universidade Federal da
Bahia, estudantes também
promovem paralisação, em apoio
aos docentes
Uma semana após o início da
greve de professores nas
instituições de ensino superior
federais, a adesão passou de 18
instituições, em 28 de maio, para
24, segundo o levantamento mais
recente do Sindicato Nacional dos
Docentes das Instituições de
Ensino Superior (Andes). A
categoria critica o corte de R$ 9
bilhões do orçamento da educação
anunciado pelo governo federal no
mês passado e os atrasos nos
repasses de verbas desde 2014. E
pede uma reestruturação da
carreira, incluindo melhores
condições de trabalho e reposição
de 27% de perdas salariais durante
o governo Dilma Rousseff, de
acordo com cálculos do Andes.
A expectativa é que a
mobilização se intensifique na
próxima semana, quando serão
realizadas assembleias em
diversos estados. Até o momento,
as paralisações estão concentradas
nas regiões Norte e Nordeste,
incluindo a Universidade Federal
da Bahia (Ufba). A Universidade
Federal do Maranhão (Ufma) foi
uma das mais recentes a aderirem
à greve. A decisão foi tomada em
reunião na última terça-feira (2),
quando os professores decidiram
cruzar os braços por tempo
indeterminado a partir da próxima
quarta-feira (10). Servidores de 56
instituições também estão em
greve, de acordo com a Federação
de Sindicatos de Trabalhadores
Técnico-Administrativos em
Instituições de Ensino Superior
Públicas do Brasil (Fasubra).
Na Universidade Federal
Fluminense (UFF), além dos
docentes e servidores, alunos
aderiram ao movimento desde 28
de maio. A instituição está com
prédios fechados desde março,
devido a problemas de orçamento.
Elevadores não funcionam e houve
corte no fornecimento de água. “Na
semana passada, cortaram o
telefone”, conta a professora
Renata Vereza, presidente da
Associação dos Docentes da UFF.
A reitoria suspendeu as
negociações na segunda-feira. O
local chegou a ser ocupado por
alunos na última semana. Na
Universidade de Brasília (UnB),
docentes realizam assembleia
também na próxima quarta (10)
para discutir a questão. Servidores
entraram em greve na semana
passada.
Francisco Jacob, primeirosecretário do Andes, critica a falta
de abertura do governo, que não
marcou nenhuma reunião com a
entidade nos últimos dias.
“Ninguém faz greve porque gosta.
É uma forma de dialogar com a
sociedade em geral e mostrar a
intransigência do governo”, afirma.
O Ministério da Educação (MEC)
tem dito que está aberto a
negociações, e o Ministério do
Planejamento, responsável pela
discussão sobre os reajustes,
afirmou, em nota, que, “após ouvir
todas as demandas (dos grevistas),
será apresentada a contraproposta
governamental, o que ocorrerá ao
longo do mês de junho”. (MF)
24
Número de universidades
federais em que professores
promovem paralisação
CORREIO BRAZILIENSE
06/06/15
CIDADES
EDUCAÇÃO »
Tensão até a véspera
Dezenas de candidatos ao
vestibular da UnB foram ao
Cespe para tentar reverter o
cancelamento de inscrições ou
tirar
dúvidas
sobre
a
homologação. A Justiça concedeu
liminar a pelo menos um
estudante para que ele participe
da seleção, que ocorre hoje e
amanhã
» MANOELA ALCÂNTARA
Colaborou
Mariana
Niederauer, especial para o
Correio
Renata Sussuarana foi ao Cespe
com a mãe, mas não conseguiu
homologar
a
inscrição:
"Realmente não entendo. Estou
estudando para medicina há dois
anos e meio, fiz tudo certo"
A apreensão natural de quem
pretende entrar no ensino superior
aumentou para os que não têm
certeza se a inscrição foi efetivada
no vestibular da Universidade de
Brasília (UnB). Com pastas cheias
de documentos nas mãos, dezenas
de candidatos procuraram a
Central de Atendimento do Centro
de Seleção e de Promoção de
Eventos (Cespe) durante todo o dia
de ontem para tentar homologar o
cadastro. Alguns conseguiram
reverter a situação. Outros, mesmo
com comprovantes de upload do
certificado de conclusão do ensino
médio, saíram de lá com o
cancelamento da inscrição
mantido. Desses, pelo menos um
conseguiu na Justiça, na noite de
ontem, o direito de fazer a prova
neste sábado.
O Cespe informou, por meio da
assessoria de imprensa, que não
identificou erros no sistema.
Segundo o centro, se a pessoa
consegue consultar o local de
prova e a informação é que o
cadastro foi homologado, não há
por que se preocupar. Este ano,
não
serão
emitidos
os
comprovantes de inscrição,
documento antes levado pelos
estudantes para os locais de prova
a fim de contestar qualquer
problema no dia da seleção.
Recomenda-se levar prints das
telas com o número de sala onde o
candidato fará a prova (veja
quadro).
"Vou levar o comprovante de
pagamento e imprimir os locais
de prova da página do Cespe para
evitar quaisquer dúvidas"
Natayan Moreira, candidata
a uma vaga de medicina
Este ano, 18.804 se
inscreveram para participar do
certame, que ocorre hoje e amanhã.
Os portões fecham às 13h, mas os
concorrentes devem chegar com
pelo menos uma hora de
antecedência. Essa foi a primeira
vez que a UnB exigiu, no ato de
inscrição, a apresentação do
diploma de conclusão do ensino
médio. O prazo para a entrega do
documento chegou a ser
prorrogado, mas alguns tiveram
problemas com a inscrição.
Ontem, a reportagem do Correio
conversou com 15 pessoas que
foram até a Central de Atendimento
do Cespe. As situações
encontradas foram as mais
diversas: alguns estudantes alegam
ter anexado o diploma ao cadastro,
mas o sistema não reconheceu o
upload. Outros, tiveram o diploma
considerado inválido.
Renata Mello Sussuarana, 21
anos, conseguiu fazer o upload no
segundo prazo dado pelo Cespe
para envio do documento, em 18
de maio. “Deu tudo certo, mas,
quando fui verificar minha situação
no site, fiquei sabendo que a
inscrição estava cancelada. Enviei
um requerimento para tentar
reverter a situação, mas não deu
certo”, afirma. No print da tela do
Cespe, feito por Renata, é
confirmado que ela encaminhou o
documento.
Na análise preliminar de
documentação, o campo informa
que a situação do certificado é
06/06/15
“não avaliada”. Logo abaixo, há a
informação de que a inscrição não
foi efetivada. “Realmente não
entendo. Estou estudando para
medicina há dois anos e meio, fiz
tudo certo”, lamentou. Ontem, ela
foi à central de atendimento
acompanhada da mãe, Rita de
Cássia Sussuarana, mas o Cespe
diz que o erro não foi localizado.
Segundo a assessoria, todas as
pessoas que fizeram o upload de
declaração foram alocadas para
fazer as provas. Ainda segundo
informações do centro, o upload só
era concluído quando aparecia a
imagem do diploma na tela.
Gabriel Tobias Mariense, 17
anos, foi o estudante que teve o
direito de fazer a prova assegurado
por uma liminar concedida pela
Justiça na noite de ontem. Ele tenta
uma vaga para medicina e o pai,
Fernando Mariense, reuniu os
comprovantes de que o filho
conclui todos os procedimentos de
inscrição dentro do prazo previsto
no edital, mas teve o registro
cancelado. De acordo com
Fernando, outros três candidatos
também aguardavam a decisão
judicial para fazer o vestibular
hoje. O Cespe deve ser notificado
da decisão da Justiça ainda na
manhã deste sábado, a algumas
horas do início da seleção.
Confusão
A frase “inscrição confirmada,
certificado em análise”, que
aparecia ao fim do processo na
internet, deixou todos os
candidatos ouvidos pelo Correio
confusos.
“Fiquei
muito
preocupada com a mensagem de
‘certificado em análise’. Por isso,
saí de Planaltina e fui ao Cespe
conferir pessoalmente a minha
situação”, afirmou a candidata a
uma vaga de medicina Natayan
Moreira, 20.
Para garantir que nada dará
errado, Natayan pretende chegar
cedo ao local de prova e ainda vai
levar mais documentos. “Antes, eu
ia só com a identidade. Agora, vou
levar o comprovante de pagamento
e imprimir os locais de prova da
página do Cespe para evitar
quaisquer dúvidas”, afirmou. Essa
também é a recomendação do
Cespe. Hoje, os inscritos farão a
prova de espanhol, de francês ou
de inglês, além de português e
literatura, geografia, história, artes,
filosofia, sociologia e redação.
Amanhã,
testarão
os
conhecimentos em biologia, física,
química e matemática.
Serão cinco horas para
preencher as questões. Para este
vestibular, a UnB abriu 4.212
vagas em 97 cursos de graduação
disponíveis nos câmpus Darcy
Ribeiro (Plano Piloto), Ceilândia,
Gama e Planaltina. A dica para hoje
é não se atrasar e não esquecer os
documentos exigidos pela banca.
“Muitos alunos deixam para chegar
em cima da hora e correm o risco
de perder a prova por vários
motivos: bate o carro, o ônibus não
passa, o pneu fura”, elenca o
professor do curso Exatas César
Augusto Severo. “Chegue uma hora
antes. Você terá tempo de relaxar,
pode encontrar um amigo,
conversar e diminuir o estresse da
prova.”
Depoimento
“Não farei a prova”
“Fiz a inscrição e o upload foi
confirmado, tenho certeza. Enviei
no primeiro dia. Nem pensei em
dar print nas páginas, em copiar
algo. Quando imaginaria algum
problema? Eu me preparei para
concorrer a uma vaga de ciências
da computação, estou muito
frustrada. Ainda tentei explicar
que tinha havido um erro no
sistema, mas minha inscrição está
cancelada, não farei a prova.”
Nágyla Vargas, 19 anos,
estudante e moradora do Guará
O GLOBO
05/06/15
O PAÍS
Entrevista / Geraldo Alckmin, governador de SP
Tucano propõe união com PT
contra redução de maioridade
À frente do estado que tem a
maior população de adolescentes
infratores (cerca de 9.800),
Geraldo Alckmin propõe que o
PSDB procure apoio até no PT
para impedir a redução da
maioridade penal para 16 anos,
ideia capitaneada pelo presidente
da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ). O governador quer
aumentar a internação de 3 para 8
anos para menores que praticarem
crimes hediondos
Silvia Amorim
• O senhor já declarou ser
favorável à redução da
maioridade penal, mas agora
defende um caminho alternativo.
Por quê?
Em resumo, você tem uma
proposta
de
mudança
constitucional e uma de mudança
de uma lei, que é o ECA (Estatuto
da Criança e do Adolescente). Eu
entendo que a nossa proposta
(alteração do ECA) é mais
objetiva, rápida e pode ter
convergência maior na sociedade
e no Congresso. Propomos mudar
apenas uma parte do ECA, que é
ampliar o tempo de internação de
três para oito anos, no caso de
crime hediondo, e colocar aqueles
com mais de 18 anos em unidades
separadas dos mais novos e mais
seguras. Não mexe com cláusula
pétrea da Constituição e requer
menos votos para ser aprovada.
• Dentro do PSDB a proposta
defendida pelos senadores Aécio
Neves e Aloysio Nunes é uma
alteração constitucional para
reduzir a maioridade penal para
quem cometer crimes graves.
Vejo essa proposta como uma
opção melhor do que uma redução
da
maioridade
penal
indiscriminadamente, que é muito
radical. Mas as duas envolvem
mudar uma cláusula pétrea da
Constituição e, com certeza, isso
vai acabar no Supremo Tribunal
Federal. Pode não dar em nada.
• O senhor falou em
convergência no Congresso para
impedir a redução da maioridade
penal. O senhor acredita num
acordo entre PT e PSDB?
Eu acredito, e não só com o PT,
mas com vários partidos, PMDB,
PSB, PCdoB. É preciso haver uma
convergência. Se para uma medida
mais radical estão dizendo que há
maioria na Câmara, imagina para
uma medida que não é tão polêmica
e precisa de menos votos. Eu não
sou contra esse debate da redução
da maioridade penal. Mas acho
que o que está aí é muito radical.
Eu acredito que, se o jovem pode
votar aos 16 anos, ele também
pode responder por seus atos. Mas
não acho razoável colocá-lo em
uma unidade prisional. Se a PEC
for aprovada, defendo que ela
considere que esse jovem vá para
unidades exclusivas para sua faixa
etária.
• O PSDB ainda não fechou
questão sobre qual proposta
apoiar. O que o faz pensar que
pode ser a sua?
Essa mudança do ECA, eu não
conheço ninguém que seja contra
no PSDB. A redução da maioridade
também pode ter maioria no
partido. Eu não sei. Estarei em
Brasília na próxima semana para
outros assuntos e vou defender meu
ponto de vista. Quero aliados para
a proposta de São Paulo.
• Por que o senhor acredita
que aumentar o tempo de
internação vai inibir o menor de
se envolver com a criminalidade?
Entendo que a impunidade é o
maior estímulo para se cometer
delito. O que está acontecendo com
os menores infratores no Brasil é
reflexo da certeza da impunidade.
05/06/15
Você pode cometer um, dois, três,
quatro atos infracionais e a
internação não passa de três anos
e ainda sai com a ficha zerada. O
que não tem limite deseduca.
• Mas a impunidade não se
combate com medidas como
melhorar a investigação policial,
aumentar o número de crimes
solucionados, ter uma Justiça
mais ágil?
Quando você estabelece que não
pode passar de três anos o tempo
de internação, no fundo, tem um
tipo de impunidade.
• Três anos de internação é
deixar o adolescente impune?
Para determinados casos, como
crimes hediondos, é.
• Estatística da Unesco diz que
os menores respondem por
menos de 1% dos homicídios no
país. Entidades de direitos
humanos defendem que o
combate à delinquência de
jovens deveria começar por fazer
funcionar direito o sistema que
já existe. Como o senhor vê esses
argumentos?
Eu tenho outros números. A
diferença entre o adulto e jovem
não é grande. Entre os adultos,
0,3% dos crimes cometidos é
homicídio em São Paulo. Entre os
adolescentes, esse índice é de
0,2%. Essa história de que o menor
pratica menos crime contra a vida
do que o adulto não é verdade. São
Paulo é o estado com maior
população de menores cumprindo
medidas socioeducativas e
maiores investimentos.
não vai criar um problema ainda
maior para São Paulo,
agravando a superlotação dos
presídios?
• Mas problemas não faltam
por aqui.
• A sua proposta prevê a
construção de unidades para
separar, dos internos mais novos,
os jovens que completarem 18
anos durante a internação. Os
estados têm condição de fazer
esse investimento?
Sim, mas diminuiu muito. A
antiga Febem (unidades de
internação) vivia no noticiário com
rebeliões, e isso mudou. (o exgovernador) Mário Covas dizia
que o pai falhou, a mãe falhou, a
escola falhou, a Igreja falhou e
sobrou para o Estado.
• O Estado não está falhando
também?
Não. O Estado está cumprindo
o seu papel. Claro que não é o
ideal.
• A redução da maioridade
Não teremos problema porque
o número de jovens é muito baixo.
Se isso acontecesse, eu faria uma
ala separada nas penitenciárias.
Dos 9.800 adolescentes, somente
cerca de 1.900 têm mais de 18
anos. Para nós, que temos 225 mil
presos, isso não é nada.
O custo disso seria muito menor
do que o das unidades atuais,
porque hoje as unidades precisam
ser pequenas, para, no máximo, 58
adolescentes, e isso encarece
muito. A ideia é que sejam locais
maiores e com mais segurança
porque, afinal, aos 18 anos
ninguém é mais criança ou
adolescente. Tem que ficar
separado.
O GLOBO
05/06/15
O PAÍS
Contexto: PSDB ainda
vai decidir sua posição
Parlamentares tentam consenso
com bancadas de PT e PMDB
proposta Cunha, que também
desagrada ao Palácio do Planalto.
A bancada do PSDB na
Câmara se reúne na próxima terçafeira em Brasília para tentar fechar
uma posição sobre o debate da
redução da maioridade penal. Por
enquanto, há três caminhos: a
redução para 16 anos para todos
os tipos de delito, capitaneada
pelo presidente da Câmara
Eduardo Cunha (PMDB-RJ); a
redução para 16 anos apenas para
quem se envolver em crimes
hediondos (homicídio, latrocínio
e estupro), de autoria do senador
Aloysio Nunes (PSDB-SP) e
também defendida pelo senador
Aécio Neves (PSDB-MG), e o
aumento do tempo de internação
em caso de crime grave, proposto
pelo governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin.
Na semana passada, a
presidente Dilma Rousseff
determinou a criação de uma
comissão para estudar propostas
alternativas à redução da
maioridade penal. Aliados de
Alckmin ficaram animados com a
possibilidade das propostas do
governador, um dos nomes do
PSDB para a eleição presidencial
de 2018, tornarem-se o ponto de
convergência.
Está em andamento uma
tentativa de construção de
consenso
envolvendo
parlamentares de PSDB, PMDB e
PT que se recusam a votar a
Na próxima semana, o tucano
vai almoçar com a bancada de
deputados de seu partido. (Silvia
Amorim)
Dilma publicou, em uma rede
social dias atrás, uma mensagem
de apoio à proposta de aumento de
pena para adultos que usarem
menores para praticar crimes. Ela
faz parte do pacote de medidas que
Alckmin enviou ao Congresso
Nacional em 2013.
O GLOBO
05/06/15
SOCIEDADE
RS: Professor denuncia antissemitismo em federal
PAULA FERREIR
Pedido de dados sobre
israelenses gerou queixa. Reitor nega
discriminação
O professor Luís Milman, de
Porto Alegre, protocolou uma
denúncia no Ministério Público
Federal do Rio Grande do Sul (MPFRS) acusando a Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) de
antissemitismo. A queixa-crime se
baseia num memorando que circulou
dentro da instituição solicitando
informações sobre a presença de
alunos e professores israelenses na
universidade. Em um vídeo
publicado na página da federal para
esclarecer a controvérsia, o reitor da
UFSM, Paulo Afonso Burmann,
confirma a existência do
memorando, mas é enfático ao negar
motivações antissemitas.
“Vimos (sic) solicitar a V.Sa. o
envio urgente de informações sobre
a presença ou perspectiva de
discentes e/ou docentes israelenses
nesse programa de pós-graduação,
podendo ser informado por email”,
diz o memorando, assinado pelo
pró-reitor substituto, José Fernando
Schlosser.
Segundo o reitor Burmann, o
documento pretendia atender a uma
demanda registrada via Lei de Aceso
a Informação pelo Diretório Central
dos Estudantes (DCE), a Associação
dos Servidores da UFSM
(Assufsm), a Seção Sindical dos
Docentes da UFSM (Sedufsm) e “os
demais integrantes do Comitê
Santamariense de Solidariedade ao
Povo Palestino”. Na demanda, de
agosto de 2014, as entidades
perguntam, entre outras coisas, se a
instituição gaúcha tem relação com
pessoas jurídicas israelenses, se
recebeu ou está para receber algum
recurso de origem israelense e se há
alunos ou docentes de Israel na
universidade.
De acordo com o reitor, com o
objetivo de cumprir a lei que
determina a transparência dos órgãos
públicos, todos os dados foram
levantados, com exceção da
informação sobre alunos e
professores israelenses. Por isso, ele
diz, a universidade fez circular, em
15 de maio, o memorando que
motivou a denúncia do professor
Luís Milman.
A polêmica ganhou força porque,
segundo o reitor, o memorando foi
adulterado com palavras de ordem
como “Liberdade para a PalestinaBoicote a Israel”. No vídeo em que
defende a universidade, ele diz que
“a fraude” será devidamente
investigada.
— Constituem uma fraude e
colocam a universidade como uma
estrutura institucional pública que
apoia o movimento Ae é contra o
movimento B, mais especificamente,
uma instituição que estaria apoiando
deliberadamente a causa palestina e
atacando de forma veemente a causa
israelense, em um conflito
internacional, histórico, que não cabe
à universidade em um processo
como esse tomar partido — afirma
o reitor no vídeo.
‘ATITUDE INSANA’
Na solicitação feita em agosto de
2014 via Lei de Acesso, as entidades
trazem apontamentos para justificar
o pedido de informação. Um dos
tópicos menciona “os lamentáveis
fatos ocorridos na Palestina no último
mês, mais especificamente a
agressão de Israel à Faixa de Gaza”,
outro cita princípios “covardemente
violados pelo Estado de Israel no
‘massacre’ contra o povo palestino”.
Na época, Israel e Palestina travavam
uma guerra que, em pouco menos
de dois meses, deixou cerca de 2.200
mortos do lado palestino e 73 do
israelense.
— Eu fiquei absolutamente
estarrecido e preocupadíssimo,
porque há muitas questões de
natureza grave envolvidas nessa
atitude. A primeira é uma violação
clara da lei. E, depois, esses crimes
têm consequências sociais terríveis
para o país, não é por acaso que são
crimes previstos pela Constituição.
É estarrecedor que uma autarquia
federal de ensino superior tenha se
comportado de uma maneira
lunática. A universidade é o Estado
brasileiro — criticou Milman. —
Espero que os responsáveis por essa
atitude insana sejam punidos.
05/06/15
FOLHA DE SÃO PAULO
05/06/15
TENDÊNCIAS & DEBATES
Faltam Newtons e Darwins
ARNALDO NISKIER
Mangabeira Unger propõe
novos conselhos e uma série de
experiências descabidas que
representariam ainda mais ônus
para o MEC
O Brasil é um país de
contrastes. Aliás, contrastes e
surpresas. Veja-se o caso do ajuste
fiscal. O governo realiza um corte
profundo nos investimentos
sociais, pegando inclusive a
educação. No barato, cerca de R$
9 bilhões foram subtraídos dos
projetos
governamentais,
sacrificando a extensão de metas
como Fies e Pronatec, ambos
fartamente referidos na campanha
eleitoral.
Enquanto devemos nos
acostumar com isso, sobra espaço
para a perplexidade causada pelo
documento dado à luz pelo
ministro da Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da
República.
Roberto Mangabeira Unger
tirou da sua cartola de mágico nada
menos de 29 laudas, propondo
uma série de modificações na
estrutura do Ministério da
Educação.
Isso justamente quando estamos
nos acostumando com a presença
à sua frente do ministro Renato
Janine Ribeiro, que tem tudo para
dar certo depois de algumas
experiências frustrantes. Ele é do
ramo e goza da confiança da praça.
Por que a tentativa de enfraquecêlo?
Não podemos entender o
trabalho de Mangabeira Unger de
outra forma. Ele propõe a criação
de novos conselhos e uma série de
experiências descabidas. É claro
que isso, se aplicado, representaria
mais ônus para a infernal máquina
do Ministério da Educação. Há
certas coisas que são mesmo de
difícil compreensão.
O documento é uma proposta
preliminar para discussão.
Apresenta diretrizes de um projeto
nacional de qualificação do ensino
básico. Tem o título de "Pátria
Educadora: a Qualificação do
Ensino Básico como Obra da
Construção Nacional".
É pomposo, mas não representa
nada, embora pretenda identificar
refundadores ou libertadores da
nação. Cita a grande figura de
Anísio Teixeira, um pouco posto
de lado pelos nossos últimos
reformadores.
Com muita pretensão, o trabalho
da Secretaria de Assuntos
Estratégicos sugere "mudar a
maneira de ensinar e de aprender".
É contra o enciclopedismo raso e
informativo. Pretende reorientar o
currículo e qualificar diretores e
professores, por meio de novas
tecnologias.
De onde sairão recursos para
isso tudo? De teoria já andamos
cheios e com uma particularidade
que só conhecem os que se
debruçaram fundo na realidade
brasileira. Nada é viável se não
houver o comprometimento dos
sistemas estaduais e municipais,
notoriamente deficientes e com
escassos recursos.
O trabalho oficial sugere a
reorientação do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação
para financiar esses devaneios ou
então fazer o que lhes parece mais
simples: emendar a Constituição
para viabilizar o empenho das
bases.
05/06/15
Francamente, parece que esses
técnicos vivem no mundo da lua,
inclusive quando propõem a
criação de um colegiado
transfederal para cumprir a tarefa
corretiva. Com tais providências,
eles acham que poderá ocorrer a
substituição progressiva da
decoreba enciclopédica por
capacidade analítica.
Isso será feito mais facilmente
com modificações do Enem e a
formulação de protocolos
disponibilizados aos professores.
Delírio? Pode ser, mas segundo
Mangabeira Unger é o melhor
caminho para descobrir novos
Newtons e Darwins. Será que é tão
simples assim?
ARNALDO NISKIER, 80,
doutor em educação, é membro da
Academia Brasileira de Letras e
professor emérito da Universidade
Candido Mendes
FOLHA DE SÃO PAULO
05/06/15
COTIDIANO
EDUCAÇÃO
Enem tem 5,8 milhões de inscritos;
prazo termina nesta sexta-feira
DE BRASÍLIA - Um dia antes
do prazo final para inscrição no
Enem, o número de inscritos no
exame chegou a 5,8 milhões --o que
pode indicar, pela primeira vez em
anos recentes, uma queda de
participantes.
Para fazer o Enem é preciso
concluir a inscrição até esta sextafeira (5). O pagamento da taxa, no
valor de R$ 63, pode ser realizado
até o dia 10.
No ano passado, 9,5 milhões de
candidatos se cadastraram, mas 8,7
milhões pagaram a taxa e
confirmaram a inscrição.
Como em anos anteriores, o
ritmo de inscrições ainda deve
aumentar na reta final do prazo,
embora seja difícil atingir a
quantidade de anos anteriores.
Mudanças no Fies e o aumento
da taxa (que antes era de R$ 35)
podem estar entre os motivos para
eventual queda de inscrições,
segundo avaliação de assessores
do MEC.
05/06/15
EDITORIAL
A saída pela educação
Com cerca de 6 milhões de inscritos, encerram-se
hoje as inscrições para o Enem 2015, que abre aos
estudantes brasileiros as portas da educação superior
em mais de uma centena de instituições públicas, além
de facilitar o acesso a programas como o
Universidade para Todos (Prouni), o Ciências sem
Fronteiras e o ingresso em vagas gratuitas de cursos
técnicos oferecidos pelo Sistema de Seleção
Unificada da Educação Profissional e Tecnológica
(Sisutec). Maiores de 18 anos podem ainda obter a
certificação do Ensino Médio por meio do Enem.
Trata-se, portanto, de um dos maiores exames de
avaliação do mundo, com perspectivas democráticas
de acesso à educação superior para milhões de jovens
que até há pouco tempo não tinham a mínima
possibilidade de prosseguir nos estudos.
No momento em que o país atravessa mais uma
crise econômica, com aumento crescente do
desemprego, a qualificação pela educação é uma saída
possível, que precisa ser bem administrada pelo
poder público e bem aproveitada pelos candidatos.
Em manifestação nesta semana durante debate na sede
da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), em Paris, o ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, reiterou que, em pleno ajuste fiscal, o
governo federal continua determinado a garantir
educação de qualidade. E reconheceu que as
vinculações constitucionais contribuíram para
preservar repasses.
Ainda assim, até mesmo alguns dos atrativos do
Enem, como os programas aos quais facilita acesso,
foram atingidos. Dificuldades econômicas
momentâneas não podem prejudicar a busca por
educação de qualidade, num processo em que sistemas
de avaliação como o Enem são fundamentais.
CORREIO BRAZILIENSE
05/06/15
BRASIL
Prazo final para Enem
Marcella Fernandes
Alícia Duarte: dificuldades
para fazer a inscrição no portal.
"Estava travando"
Um dia antes do prazo final
para inscrição no Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem), o
número de inscritos chegou a 5,8
milhões de estudantes, abaixo da
expectativa de 9 milhões do
Ministério da Educação (MEC).
Essa pode ser a primeira queda na
adesão nos últimos dez anos. Nesse
período, o número de inscritos
passou de 1,6 milhão em 2004
para 8,7 milhões no ano passado.
Alunos
reclamaram
de
dificuldades em acessar o portal
para se inscreverem. Além disso,
a taxa subiu de R$ 35 para R$ 63
– valor adotado desde 2004 – e
foi estipulada nova regra para
reduzir candidatos faltosos.
O estudante do terceiro ano do
ensino médio Gabriel Nogueira, 16
anos, tinha dificuldades para fazer
a inscrição até ontem. “Tenho
tentado desde o começo e até agora
não consegui. Aparece que o site
está em manutenção. Todas as
vezes que eu tentei, deu esse erro”,
conta. Ele diz que não teve
problemas no ano passado e que a
prova pode ser uma forma de entrar
no curso de Biologia Marinha.
Essa também é a expectativa da
estudante Alícia Duarte, 16 anos,
que planeja cursar Relações
Internacionais. A aluna conseguiu
se inscrever, mas não da primeira
vez. “No segundo dia, estava muito
cheio e o site estava travando”,
conta. Além de avaliar o
desempenho de alunos nessa etapa
educacional, a nota do Enem é
usada como seleção de alunos em
115 instituições públicas de ensino
e em outros programas de acesso
ao ensino superior.
Na edição deste ano, as provas
serão aplicadas nos dias 24 e 25
de outubro. O horário de
fechamento dos portões foi mantido
às 13h, mas a prova só será
iniciada às 13h30. A alteração foi
feita para dar mais tranquilidade e
segurança aos candidatos, de
acordo com Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep), responsável pela prova. O
site também deixou de aceitar
inscrição de mais de um candidato
com o mesmo endereço eletrônico.
Outra mudança é que o cartão de
confirmação terá que ser impresso
no site do Enem em vez de ser
enviado por correio. Com isso,
serão economizados R$ 20
milhões, segundo o MEC. A partir
do ano que vem, quem tinha direito
a isenção da taxa de inscrição e
não compareceu ao exame não terá
mais direito ao benefício. No ano
passado, apesar dos 8,7 milhões
de inscrições, apenas 6,2 milhões
fizeram a prova.
Última chance
Para participar do Enem, é
preciso
acessar
o
site
www.enem.inep.gov.br até as
23h59 de hoje. Esse também é o
prazo para fazer qualquer
alteração nos dados cadastrais. É
possível solicitar atendimento
especializado para pessoas com
deficiências físicas e mentais,
gestantes, lactantes, idosos,
estudantes em classe hospitalar e
sabatistas – pessoas que, por
convicção religiosa, guardam o
sábado. Após fazer a inscrição,
participantes transexuais e
travestis podem pedir o uso do
nome social, também pela internet,
entre os dias 15 e 26 de junho. Para
confirmar a inscrição, é preciso
pagar a taxa de R$ 63 até as 21h59
de 10 de junho. São isentos da
cobrança concluintes do ensino
médio em 2015 matriculados em
escolas da rede pública e as
pessoas que se declararem
carentes.
05/06/15
CORREIO BRAZILIENSE
05/06/15
OPINIÃO
Virar o jogo é mais difícil
PAULO DE TARSO LYRA
[email protected]
Depois que o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, anunciou
nas redes sociais que pautará até
15 de junho o projeto da redução
da maioridade penal, o Palácio do
Planalto movimentou-se para
debater o assunto. A presidente
Dilma Rousseff se posicionou
contrária à redução. Agora, com a
pressão de Cunha, o governo
abandonou o marasmo e iniciou o
debate.
O PT, desde os tempos do
governo FHC, é contrário ao fator
previdenciário, regra que obriga
os trabalhadores a estenderem o
tempo de serviço se quiserem ter
aposentadoria mais polpuda. Mas
o Planalto só fez andar a comissão
de ministros e representantes das
entidades sindicais e empresariais
após a Câmara aprovar — e o
Senado ratificar — nova fórmula
para flexibilizar a medida.
Dois exemplos que, citados de
modo irritadiço por integrante do
governo, são prova cabal da falta
de agenda de Dilma Rousseff.
Administração que se tornou
meramente reativa. Há cinco
meses empossada para o segundo
mandato, Dilma não conseguiu
impor a própria agenda.
Diante do quadro tenebroso na
economia, membros do primeiro
escalão sugeriram que a presidente
chamasse os governadores para
debater saídas. Mesmo sem ter um
tostão disponível para ajudar nos
caixas locais, a presidente deveria
convocar os administradores
estaduais para estabelecer um
pacto. O que aconteceu? Quem
propôs pacto federativo foram
Renan e Eduardo Cunha ao reunir
27 governadores no salão negro do
Congresso.
Interlocutor do governo
defendeu recentemente que o
Planalto abrisse discussão sobre a
diminuição no número de
ministérios. O PMDB já disse,
várias vezes, que apresentará essa
proposta no Congresso, mas Dilma
parece estar esperando que isso
aconteça para protestar.
Em 20 de dezembro de 2000, o
Vasco de Romário, Juninho
Pernambuco e companhia desceu
para o vestiário perdendo por 3 x
0 para o Palmeiras na final da
Mercosul. O jogo acabou 4 x 3 em
favor dos cariocas. No último
domingo, o Vasco foi para o
vestiário perdendo por 3 x 0 para
o Atlético-MG pela quarta rodada
do Campeonato Brasileiro. O jogo
acabou assim. Nem sempre é
possível virar e evitar a derrota.
Por isso, é melhor começar
ganhando.
CORREIO BRAZILIENSE
05/06/15
CIDADES
SELEÇÃO »
Apreensão a um dia do vestibular da UnB
Gabriel com os pais, Silvete e Fernando: ele teve a inscrição
cancelada mesmo depois de anexar o certificado de conclusão do
ensino médio ao formulário disponível no site do Cespe
Estudantes reclamam de erro
no sistema de envio do
comprovante de conclusão do
ensino médio, mas Cespe nega
falha. Candidatos que tiveram a
inscrição cancelada, apesar de
terem anexado o documento,
podem ir ao centro hoje
regularizar a situação
» MANOELA ALCÂNTARA
» GUILHERME PERA
» MARIANA NIEDERAUER
ESPECIAL
PARA
O
CORREIO
A um dia do vestibular, alguns
dos interessados em uma vaga na
Universidade de Brasília (UnB)
sofrem com a incerteza. Mesmo
com a comprovação de que
fizeram o upload do certificado de
conclusão do ensino médio à ficha
de inscrição, eles tiveram o
cadastro cancelado. Outros
reclamam que nem sequer
conseguiram concluir o registro.
Alguns candidatos vão recorrer à
Justiça para fazer a prova amanhã.
Segundo o Centro de Seleção e de
Promoção de Eventos (Cespe), que
organiza a avaliação, não foi
registrada nenhuma falha no
sistema e os candidatos que têm a
comprovação de que anexaram o
documento à inscrição podem
comparecer ao centro hoje para
regularizar a situação.
Em 1º de junho, foi divulgado
na página da banca organizadora
o Edital nº 10. O documento
informa que “o candidato com
pendência quanto ao envio do
comprovante de escolaridade
deverá, no período das 10h do dia
3 de junho de 2015 às 18h do dia
5 de junho, anexá-lo por meio de
um link específico”. O texto ainda
abre a possibilidade de entrega do
comprovante na Central de
Atendimento do Cespe, também
nessas datas. No entanto, alguns
dos candidatos que tentaram
entregar a papelada receberam a
resposta de que a inscrição havia
sido cancelada. Na última quartafeira, uma fila se formou na central
de atendimento, segundo pais e
estudantes.
Entre os prejudicados está
Gabriel Tobias Mariense, 17 anos.
Ele fez a inscrição no site do Cespe
dentro do prazo e, ao concluir o
cadastro, recebeu uma mensagem
confirmando o upload do
comprovante de declaração. Pagou
o boleto, mas, quando foi conferir
o número da inscrição, ela havia
sido cancelada. “Descobrimos em
25 de maio. Abri um protocolo de
reclamação, mas o Cespe nunca
respondeu. Quarta-feira, fomos ao
Cespe, depois de ver o Edital nº
10, mas eles ignoram a existência
do documento que eles mesmos
publicaram”, afirmou Fernando de
Aveline Mariense, 52, pai do
estudante, que estava acompanhado
05/06/15
da mulher, Silvete, quando deixou
o filho no cursinho ontem.
O jovem se formou no ensino
médio em 2014 e, há dois anos, faz
cursos preparatórios para tentar a
aprovação em medicina. “Nós o
deixamos no cursinho às 7h e o
pegamos às 21h. São 14 horas de
estudo por dia. Não é só o
investimento, mas o prejuízo
psicológico que tem provocado no
meu filho. Vamos entrar na Justiça
para que ele faça a prova”,
completou Fernando. Ontem,
Gabriel passou o dia estudando
com a esperança de fazer o
vestibular amanhã.
pendências quanto ao envio. Mas,
ao chegar ao Cespe, a inscrição já
estava cancelada”, protesta
Ivalmar.
Essa é a primeira vez em que o
Cespe exigiu, no ato de inscrição,
o diploma de conclusão de curso.
Por meio da assessoria de
comunicação, o centro informou
que quem fez o upload da
documentação para o site terá a
inscrição homologada. Já quem
não conseguiu anexar o documento
ao formulário disponível no site
dentro do prazo não fará a prova.
Essas pessoas receberão de volta
o valor da taxa de inscrição. De
acordo com o Cespe, o Edital nº
10 se refere apenas a pendências
de pessoas que já tinham entregado
os documentos. Quem tem a
comprovação de que o upload deu
errado pode ir até a Central de
Atendimento hoje com o
comprovante do erro.
"Li textos e revisei o caderno e
as anotações. Dei uma pisada no
freio para não sobrecarregar para
a prova"
Ricardo Moura Marques
Decepção
Na fila de quarta-feira também
estava Ivalmar Jorge Freire, 55
anos. A filha dele, Diara Selch
Freire, 21, já é aluna da UnB e quer
fazer o vestibular para trocar de
curso. A jovem tentou enviar o
documento diversas vezes, mas
não conseguiu. “O sistema nunca
era claro com relação ao
recebimento da declaração. Vimos
o Edital nº 10, que fala sobre as
"Durante o semestre inteiro fiz
simulados nos fins de semana, com
diversos níveis de dificuldade"
Paulo Henrique Rodrigues
Correia
Preparo
As provas do vestibular da UnB
serão neste fim de semana. Ao
todo,
18.804
candidatos
efetivaram a inscrição para o
certame. Amanhã, às 12h, abrem os
portões para o primeiro dia de
provas. Nesses momentos
anteriores ao início da avaliação,
a principal dica de especialistas é
seguir o próprio ritmo e não mudar
bruscamente a rotina. “Não tem
uma regra geral, o candidato tem
que fazer aquilo que fica mais à
vontade. Se estudar em véspera de
prova
vai
trazer
mais
tranquilidade, que o faça”, afirma
Paulo Peres, coordenador do
cursinho pré-vestibular do Colégio
Galois. No entanto, ele sugere que
o estudante pise no freio e invista
no estudo de conteúdos que
costumam ficar de lado, como
filosofia, artes e língua estrangeira.
São disciplinas que podem ser
estudadas por meio de leituras ou
resolução de questões de provas
anteriores.
Ricardo Moura Marques, 18
anos, concorrerá a uma vaga no
curso de medicina. Nas últimas
semanas antes da prova, ele
diminuiu o ritmo de estudos. “Fiz
bastante exercícios, mas um pouco
mais voltado para revisão, e não
para treinar. Li textos e revisei o
caderno e as anotações. Dei uma
pisada no freio para não
sobrecarregar para a prova”, diz.
Para evitar o nervosismo, ele
encara o vestibular como um teste
comum. “Eu vou fazer a prova
como se fosse o último simulado
antes das férias”, afirma. Essa foi
a técnica de estudos usada pelo
colega dele Paulo Henrique
Rodrigues Correia, 19, que também
05/06/15
tentará uma vaga para medicina.
“Durante o semestre inteiro fiz
simulados nos fins de semana, com
diversos níveis de dificuldade.
Aprendi a controlar o tempo para
qualquer situação possível na
prova da UnB.”
Depois que a sirene toca, é hora
de se concentrar nas questões.
Paulo Peres sugere que o candidato
folheie a prova e leia o tema da
redação. “Caso queira se acalmar,
uma boa dica é começar com as
questões tipo C, de múltipla
escolha, que é possível resolver de
maneira mais rápida e concorre a
dois pontos”, explica. Além de
valer mais pontos, o fator de
correção desse tipo de questão
também é menor. Em vez de perder
um ponto se errar, como ocorre nas
questões de certo ou errado, o
candidato perde apenas 0,667
ponto.
Os itens tipo B, que são de
cálculo, devem ser respondidos
sempre, pois não há penalização
para resposta errada. O professor
do curso Exatas César Augusto
Severo lembra, no entanto, que é
preciso ao menos ler o enunciado
para saber se o chute é plausível.
Já para os itens em que uma questão
errada anula uma certa, o chute não
compensa. Nesses casos, César
Augusto orienta que o candidato
deixe o item em branco e ressalta
que não é possível — nem
necessário — resolver toda a
prova no tempo disponível. “O
normal é fazer de 60% a 70% das
questões, e isso é suficiente para
passar na grande maioria dos
cursos”, destaca.
05/06/15
O GLOBO
04/06/15
OPINIÃO
A eficiência errada
Carlos Alberto Sardenberg
Deu na imprensa no mesmo dia:
pesquisa do IBGE mostra que o
pessoal do Programa Saúde da
Família não visita regularmente
nem metade dos domicílios
cadastrados; Polícia Federal
apanha quadrilha que "falsificava"
operações cardíacas no SUS para
roubar material cirúrgico e utilizar
em clínicas particulares.
Na primeira notícia, um
fracasso administrativo e descaso
com a população. Na segunda, uma
complexa operação que vai da
falsificação de diagnóstico à
lavagem de dinheiro.
Dá o que pensar. Não se
deveria falar de dificuldades
administrativas ou falta de
dinheiro no serviço público. Se o
pessoal tem imaginação e
capacidade burocrática para
encontrar o dinheiro e montar as
fraudes no SUS (e na Petrobras,
nas licitações eletrônicas, no DPVAT, para citar só os mais
recentes), então deveria saber
como tocar as mais simples e
honestas operações.
Convenhamos: deveria ser
muito mais fácil organizar os
agentes comunitários para que
visitassem mensalmente os clientes
do Saúde da Família. Pois
atendem assim menos da metade.
Pior ainda, mostra o IBGE: quase
20% das casas registradas nunca
foram visitadas.
Já a fraude do SUS, essa mais
nova, é um espetáculo de
eficiência. O esquema começava
assim: o médico examinava um
paciente do SUS e dava dois
diagnósticos, um mandando o
"doente" tomar uma aspirina, por
exemplo, outro indicando uma
cirurgia complexa, com a
necessidade de instrumentos e
material como válvulas, stents etc.
O paciente pegava sua receita
e ia para casa. O outro diagnóstico
seguia os trâmites burocráticos, ou
seja, aprovação, compra dos
instrumentos, agenda da operação
que não acontecia e desvio do
material para clínicas particulares.
Capaz até de estarem utilizando
esse material para pacientes de
planos de saúde de órgãos
públicos. Faziam isso em pelo
menos quatro estados.
Vamos reparar: é competência,
para o lado do mal, é verdade, mas
competência mesmo assim.
O que nos leva à questão: por
que a competência parece estar
sempre do lado errado?
Tem aí um fator cultural. Há
muito descaso quando se trata de
atender a população mais pobre.
Até que tem melhorado, mas ainda
prevalece aquele entendimento de
que o pobre deveria era estar
agradecido por ser atendido.
Queriam mais o quê? Tratamento
VIP?
VIPs — aquelas pessoas muito
importantes que não entram na fila
e são bem atendidas mesmo
quando procuram um serviço
público.
O chefão ou o político
governante resolve dar uma
checada de surpresa no bandejão
do segundo andar. E o atendente:
"Doutor, o senhor por aqui? O
picadinho acabou, aceita um filé?"
Isso se muda com o tempo, com
os exemplos, com uma prática
correta, e vigiada, por anos a fio.
Mas há um ponto que depende de
gestão: a avaliação permanente dos
programas e serviços públicos.
Saúde da Família é um bom
programa, mas é necessário checar
todos os meses se os agentes
comunitários estão visitando a
clientela.
O Bolsa Família não é para dar
dinheiro aos pobres. É para acabar
com a pobreza e isso só vai
acontecer se as crianças
frequentarem regularmente uma
escola na qual aprendam o
suficiente para arrumar bons
empregos — e não depender mais
do Bolsa Família.
Logo, não se pode medir o
programa pelo número de famílias
beneficiadas,
mas
pelo
aproveitamento escolar das
crianças.
04/06/15
Há falhas aqui. A frequência
não é cobrada sistematicamente,
muito menos o progresso escolar
dos meninos e meninas. Alguns
dizem: não faz sentido fazer essa
avaliação porque as escolas são
ruins. É verdade, mas qual é a
ideia? Deixar tudo por isso
mesmo?
É uma distorção muito comum.
Os governos criam os programas,
lançam o benefício e parece que
está tudo resolvido. Sem
avaliação regular, ocorre uma de
duas situações: ou o programa não
funciona para todos ou perde o
sentido, a eficácia, e fica no
orçamento por inércia. Uma boa
reforma administrativa pegaria
isso tudo. Mas reforma dá
trabalho, tromba com interesses
instalados, de modo que... fica por
isso mesmo.
Já o pessoal da corrupção... A
eficiência vai ficando para o lado
do mal.
UM CELULAR POR PRESO
E por falar em ineficiência: uma
revista no Presídio de São
Leopoldo (RS) encontrou 119
celulares. Sabem quantos presos?
114, no regime semiaberto.
Acharam também maconha,
cocaína, crack, uma balança de
precisão, claro, nove pistolas e, o
melhor, um radiotransmissor na
frequência da Brigada Militar.
E, com tudo isso, como é que
os presos não ficaram sabendo da
revista? A ineficiência é geral.
Carlos Alberto Sardenberg é
jornalista
O GLOBO
04/06/15
O PAÍS
Governo fará propostas de Segurança
para evitar redução da maioridade
Ações incluem pacto contra
homicídios
e
maior
responsabilidade da União
Renata Mariz
Brasília- Além de já admitir
pôr em discussão o aumento do
tempo de internação de menores
infratores, o governo pretende
apresentar um pacote de propostas
na área da Segurança Pública para
tentar amenizar a determinação do
Congresso de reduzir a maioridade
penal de 18 para 16 anos. As
medidas estarão sob dois guardachuvas principais: a PEC da
Segurança Pública, que traz para
a
União
uma
maior
responsabilidade na política de
combate à violência, e o Pacto
Nacional pela Redução de
Homicídios, com metas e
estratégias definidas.
Os dois projetos, em discussão
desde o início do ano, deverão sair
mais rápido do que se esperava.
A PEC da Segurança Pública quer
estabelecer a participação do
governo federal no setor, implantar
uma formação única para policiais
e tornar a Força Nacional de
Segurança Pública um projeto
permanente. Hoje, é preciso
renovar os convênios com os
estados a cada quatro anos.
Federalizar a investigação de
crimes cometidos por grupos de
extermínio é outro tema que poderá
ser incluído na proposta de
emenda à Constituição que será
enviada ao Congresso.
Já o Pacto Nacional pela
Redução de Homicídios pretende
estipular uma meta de diminuição
das mortes violentas no país, hoje
em mais de 50 mil por ano.
IDEIA É NEGOCIAR COM
CONGRESSO - A estratégia será
concentrar esforços em áreas
territoriais
específicas
consideradas críticas. Mas, para
isso, será preciso fechar parcerias
com estados e municípios, para
repasse de verbas e tecnologia. A
ideia é que, ampliando os esforços
na área de Segurança, seja possível
negociar com o Legislativo em
torno da PEC da Maioridade.
O governo calcula que, como a
proposta da redução ainda terá de
passar por dois turnos na Câmara
e no Senado, haverá tempo de
apresentar os projetos. Enquanto
isso, trabalha em um estudo sobre
os avanços do Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA) para
mobilizar sociedade e parlamento.
— O momento é propício para
fecharmos as propostas do Pacto
pela Redução de Homicídios, entre
outras que o governo estuda,
mostrando que o tema da violência
vai muito além de endurecer penas
— disse ao GLOBO o ministro
Pepe Vargas, da Secretaria de
Direitos Humanos.
O grupo interministerial que a
Casa Civil coordenará para tratar
de propostas alternativas à redução
da maioridade penal ainda está
levantando matérias a serem
avaliadas. Gabriel Medi-na,
secretário da Juventude, disse que
uma delas é o aumento do tempo
de internação, hoje de, no máximo,
três anos.
— Não era o que o governo
queria. Mas, na atual coalizão de
forças, é uma das muitas propostas
que serão debatidas até chegarmos
a um consenso — afirmou o
secretário.
A reboque de tantas derrotas no
Congresso, o governo já admite a
possibilidade de estudar a
proposta, que conta com a simpatia
até de parlamentares da oposição.
Numa reunião na noite de terçafeira, a presidente Dilma Rous seff
admitiu que está chegando a hora
de negociar.
Mas integrantes do Conselho
Nacional dos Direitos da Criança
e do Adolescentes (Conanda), que
estavam reunidos com a presidente,
foram irredutíveis.
MUDANÇAS
NO
ESTATUTO
Numa
demonstração de que o movimento
social que defende do ECA poderá
ser uma pedra no caminho de
Dilma, os militantes pediram apoio
para implementar políticas
previstas na legislação e disseram
que não aceitam qualquer alteração
no Estatuto. Esteve presente, além
de Pepe Vargas, a ministra de
Políticas para as Mulheres,
Eleonora Menicucci.
O GLOBO
04/06/15
O PAÍS
Pimentel tenta 'apagar' marcas
da gestão de Aécio em Minas
Governador petista muda até
o nome de programas da
administração tucana
Thiago Herdy
Nos cinco primeiros meses de
sua gestão à frente de Minas
Gerais, o governador Fernando
Pimentel (PT) tem dedicado parte
do seu esforço à desconstrução da
gestão dos antecessores tucanos,
sobretudo a do senador Aécio
Neves (PSDBMG), que governou
o estado entre 2006 e 2010.
Sucedido pelo também senador
Antonio Anas-tasia (PSDB-MG),
Aécio se consolidou como
principal liderança nacional da
oposição após a derrota apertada
para a presidente Dilma Rousseff
nas eleições presidenciais de
2014, mas perdeu o controle de
Minas para o PT. Pimentel tem
demonstrado que está disposto a
desidratar ainda mais as marcas da
gestão tucana no estado. O
governador busca evitar a sombra
de Aécio porque também tem
planos políticos que vão além do
governo de Minas.
A disposição está explicitada
até mesmo em documento oficial:
uma das teses que serão levadas
ao 5° Congresso Nacional do PT
aponta suposto movimento da
oposição para "aprofundar sua
hegemonia institucional" nas
próximas eleições, em função da
crise do PT. "Nesse contexto,
ressaltamos a importância do
governo
de
Minas
no
desmascaramento do modo tucano
de governar", diz o documento.
O líder do governo na Assembleia, deputado Durval Ângelo
(PT), lançou na última semana o
livro "Herança maldita — o
desgoverno tucano em Minas",
com prefácio de Pimentel. No
início do mandato, o resultado de
uma devassa em contas da antiga
gestão virou campanha de governo.
Em Minas, a crise econômica só
não atingiu a publicidade: o
governo prevê gastar R$ 96
milhões com propaganda.
Uma das principais vitrines dos
anos tucanos, o Circuito Cultural
da Praça da Liberdade, em Belo
Horizonte, que transformou
secretarias de estado em museus,
teve dois projetos cancelados: o
Cena, que abrigaria projetos de
residência artística, e o Oi Futuro,
bancado pela empresa de telefonia.
A exposição permanente do
Palácio da Liberdade, antiga sede
do governo estadual, foi desfeita,
e
o
prédio,
fechado
temporariamente para visitação. O
programa tucano Educação em
Tempo Integral virou Ações de
Educação Integral e só autoriza
repasses para escolas cadastradas
em projeto semelhante já
desenvolvido pelo governo
federal.
A
integração
administrativa das polícias Militar
e Civil, que já seguia em ritmo
lento, foi descartada de vez.
— Você pode até reconstruir o
futuro, mas não o passado. Isso é
coisa inútil para preencher o vazio
deste primeiro semestre de
governo — critica o deputado
Marcus Pestana, presidente do
PSDB de Minas.
O governo mineiro nega
motivação política nas ações.
Alega ajustar e aprimorar
programas com mudanças que
cumprem promessas de campanha.
Mas o mal-estar e o clima
beligerante da disputa de 2014
permanecem nos dias de hoje.
O GLOBO
04/06/15
O PAÍS
Governo mineiro diz reestruturar programas
Artistas criticam clima
beligerante entre gestões do PT
e do PSDB
Com a proposta de acolher
grupos para residência artística
bancada pelo estado de Minas,
tipo de ocupação que faltava ao
circuito da Praça da Liberdade,
segundo críticos, o programa Cena
é um exemplo das mudanças
promovidas pelo governador
Fernando Pimentel. O projeto deve
ser deslocado para um galpão no
Centro de Belo Horizonte. O
prédio planejado originalmente
para a iniciativa será ocupado
novamente por um órgão público,
o Instituto Estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico de Minas
(Iepha). Nos bastidores, o clima
com parceiros da iniciativa
privada é tenso, e gestores
culturais da cidade organizam
protesto.
— A água suja está sendo
jogada da bacia com o bebê junto.
Projetos podem e devem ser
reavaliados. Mas, em vez de
readequar o que estava sendo feito,
estão acabando com o construído
— critica Chico Pelúcio, do grupo
de teatro Galpão.
Atual responsável pelo projeto
da Praça, a diretora do Iepha,
Michele Arroyo, nega haver malestar com as empresas e promete
reabrir o Palácio da Liberdade, em
data ainda não definida. Ela afirma
que não havia recursos para
implantar o Cena. Diz que as
mudanças visam reestruturar o
modelo do circuito "como política
pública dentro da estrutura do
estado" e promete realizar
exposições no prédio do Iepha, em
vez de ocupá-lo só com a
burocracia estatal.
A artista visual Patrícia Moulin, do Movimento Matraca, critica
o clima beligerante:
— É hora de deixar de lado o
debate político-eleitoral.
O professor de arte e cultura da
PUC-MG e da Uemg José Márcio
Barros defende mudanças no
projeto com soluções que
dialoguem "com um olhar mais
amplo sobre a cidade".
POLÊMICA NA EDUCAÇÃO
A mudança no programa de
educação integral reduziu, no
início deste ano, o número de
escolas atendidas, já que nem
todas estavam cadastradas no
Mais Educação, iniciativa federal
que se tornou exigência do
programa no estado. Hoje, 1,2 mil
escolas mineiras estão no
programa nacional. A gestão
anterior afirma que antes eram 1,7
mil, o que Pimentel contesta.
— Não condiz com a realidade
que encontramos. Vamos dar
oportunidades amplificadas para
os estudantes, menos focada em
reforço escolar e mais em outras
áreas do conhecimento — diz a
responsável pelo tema na
Secretaria de Educação, Rogéria
Freire.
Em atos públicos, Pimentel
criticou o projeto de integração das
polícias, e a disputa entre as
corporações piorou. O governo
informou que "a atual gestão dá
prioridade total ao trabalho
conjunto das forças de Segurança".
O GLOBO
04/06/15
O PAÍS
Com tumulto, professores
mantêm greve em São Paulo
Paralisação completa 83 dias
e já é a mais longa na História
da categoria no estado
Leonardo Guandeline e Stella
Borges*
Professores da rede estadual de
ensino de São Paulo decidiram em
assembleia na tarde de ontem
manter a greve iniciada no dia 13
de março. A paralisação, que
ontem completou 83 dias, é a maior
da História da categoria no estado.
Em 1989, uma greve por melhores
salários e condições de trabalho
havia durado 82 dias. Durante a
assembleia de ontem, realizada em
frente ao Masp, na Avenida
Paulista, houve tumulto entre os
manifestantes com empurraempurra e gritaria. Parte era
favorável à manutenção da greve.
Outra parte era contrária. Segundo
a PM, mil pessoas participaram da
assembleia. Já o Sindicato dos
Professores do Ensino Oficial do
Estado de São Paulo (Apeoesp)
falou em 15 mil pessoas. Com o
término da votação pela
manutenção da greve, a
manifestação seguiu para a Praça
da República, onde fica a sede da
Secretaria Estadual de Educação.
Na tarde de ontem, uma das
barracas que os professores
montaram em frente ao prédio da
secretaria foi incendiada. A PM
disse ter socorrido um professor,
identificado como Alexandre
Pereira de Souza, 35 anos, e o
encaminhado à Santa Casa de
Misericórdia. Colegas dele
disseram que o incêndio foi
criminoso.
A categoria reivindica reajuste
salarial
de
75,33%
progressivamente até 2020,
conforme estabelecido pelo Plano
Nacional de Educação (PNE). O
objetivo é equiparar o salário com
as demais categorias com
formação de nível superior. Os
professores também pedem
redução do número de alunos por
salas de aula.
A Apeoesp, que representa a
maioria da categoria no estado,
ressalta que o governo de Geraldo
Alckmin (PSDB) "não apresentou
propostas concretas à categoria"
ao longo da paralisação.
— O governo tem sido
intransigente em relação à nossa
categoria. Eles recebem com
propostas o Sindicato dos
Metroviários, mas não o dos
professores. A greve de 1989, que
durou 82 dias, saiu vitoriosa, com
um reajuste, ao contrário de nós,
que tivemos até o momento
reajuste zero. O governo tem
jogado pesado conosco, tem
mexido com o nosso bolso —
afirmou Maria Izabel Noronha, a
Bebel, presidente da Apeoesp.
Em nota, a Secretaria de estado
da Educação afirmou que o índice
de presença do professorado, nesta
semana, "atingiu 98%, reforçando
que a ampla maioria dos docentes
está comprometida com os
alunos". A pasta também informou
que a atual política salarial "já
concedeu 45% de aumento em
quatro anos" e que o bônus por
mérito e desempenho chegou "ao
valor histórico de R$ 1 bilhão".
(*Estagiária, sob supervisão de
Aguinaldo Novo)
FOLHA DE SÃO PAULO
04/06/15
PODER
Richa faz proposta para acabar com greve
Governador do Paraná propõe
plano de reajuste salarial até
2017 para tentar encerrar
paralisação dos professores
Docentes pedem reposição da
inflação; gestão tucana começou
a divulgar salários com destaque
na internet
ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA
Com professores em greve há
mais de um mês por reposição da
inflação nos salários, o governo do
Paraná fez nesta quarta (3) uma
nova proposta à categoria.
O Estado comandado por Beto
Richa (PSDB), em crise
financeira, oferece agora um plano
de reajuste salarial que vale até
2017. Pela proposta, o governo
concede 3,45% (referente à
inflação de maio a dezembro de
2014) a ser pago em outubro deste
ano. Novos reajustes serão dados
em janeiro de 2016 e janeiro de
2017, correspondentes à inflação
dos últimos doze meses. Em 2017,
o salário ainda seria acrescido de
1% de ganho real.
A proposta ainda precisa ser
colocada em votação pelos
sindicatos, mas os aliados do
tucano já comemoraram. "Isso é
fruto de diálogo", disse o líder do
governo na Assembleia, Luiz
Cláudio Romanelli (PMDB).
Os deputados se recusavam a
votar qualquer proposta de reajuste
que não cobrisse a inflação, como
querem os servidores --que já
invadiram a Assembleia no início
do ano e promoveram atos com
milhares de pessoas contra
medidas de ajuste fiscal de Richa.
A nova oferta do governo
ocorre depois do acirramento das
negociações. Richa, que acusa o
sindicato dos professores de agir
politicamente para desgastá-lo,
chegou a dizer que as tratativas
estavam encerradas e que suas
propostas eram "irrecusáveis" --as
primeiras não cobriam a inflação.
Na semana passada, o governo
começou a divulgar no Portal da
Transparência os salários dos
professores, para argumentar que
a média salarial da categoria é a
maior do país. Segundo a gestão
tucana, chega a R$ 3.200.
Os professores são a única
categoria que tem os salários
listados e em destaque no portal.
As remunerações são listadas por
município, ao lado do nome de
cada docente, de forma bem mais
transparente que o convencional no
governo tucano.
Para consultar salários de outras
categorias, a pesquisa exige o
nome do servidor.
O tucano também veiculou uma
campanha publicitária na TV na
semana passada com os dados
salariais,
fazendo
uma
"convocação de volta às aulas" e
argumentando que concedeu 60%
de reajuste aos professores nos
últimos quatro anos.
Os sindicatos, incluindo a APP
Sindicato, que representa os
professores em greve, ainda iriam
decidir se convocariam uma
assembleia para votar a nova
proposta.
FOLHA DE SÃO PAULO
04/06/15
PODER
Entrevista / Beto Richa
Tucano se diz vítima de
'trama planejada' por petistas do PR
Richa afirma que seu rivais
não aceitam derrota e querem
terceiro turno da eleição
DE SÃO
CURITIBA
PAULO
DE
O governador do Paraná, Beto
Richa (PSDB), acusa o PT de
armar "uma trama meticulosamente
planejada" para desgastar o PSDB
e "desviar o foco dos escândalos
nacionais". Ele deu entrevista à TV
Folha nesta quarta (3).
Folha - O sr. é de uma ala
moderada no PSDB e agora faz
críticas contundentes ao governo
federal. Sentiu necessidade de
fazer o enfrentamento?
Por minha indignação com os
ataques que tenho sofrido. Existe
uma
trama
planejada
meticulosamente para me atingir,
para desviar o foco dos escândalos
nacionais. Não posso aceitar as
acusações de que venho sendo
vítima. Inclusive a greve dos
professores, que é política.
O sr. diz que a greve dos
professores é articulada pelo PT.
A sigla é forte assim no Paraná?
greve, não há confronto?
O PT não, o resultado das
eleições atesta isso. Mas o
sindicato é. O presidente é filiado
ao PT e a ex-presidente foi
candidata pelo partido. Não tenho
a menor dúvida de que tem uma
articulação
planejada
meticulosamente pelo PT e outros
adversários. São maus perdedores.
Não aceitaram o resultado das
urnas e querem fazer um terceiro
turno.
Revendo as imagens daquele
protesto, que deixou 200 feridos,
o sr. mudaria algo?
Esse é o discurso que a
presidente Dilma tem usado.
Só que eu tenho números que
podem avalizar minhas palavras.
Em quatro anos garanti aumento a
todos os servidores.
Redobraria o cuidado. Nunca
fui de truculência, ao contrário. O
que houve ali não posso aceitar.
Lamentamos, mas é importante
lembrar que havia grupos radicais
entre os professores. Temos
imagens da hora em que se iniciou
o confronto, de manifestantes com
as grades de contenção no peito de
policiais. Há uma investigação e
tenham certeza: qualquer
comprovação de abuso de
policiais haverá punição, mas é
importante que se investigue os
dois lados.
O sr. tem convicção de que é
um movimento organizado?
O sr. faz um ajuste fiscal, mas
o PSDB votou contra vários
pontos do ajuste de Dilma.
Não te causa estranheza que nas
cinco administrações do PSDB os
servidores estejam em greve?
Acho no mínimo curioso. Só que o
salário dos professores do Paraná
é um dos maiores do Brasil. Por
que em outros Estados não há
Faltou o governo cortar na
carne, dar o exemplo. Não foi o
que fizemos no Paraná, onde
tivemos ajuste com mínimo
prejuízo ao setor produtivo e que
vai colocar, muito em breve, o
Estado em ordem.
FOLHA DE SÃO PAULO
04/06/15
Educação está protegida
de cortes, diz Levy
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA, DE PARIS
O ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, disse nesta quarta
(3) que os investimentos em
educação são prioritários e que a
área está "protegida de cortes".
A declaração foi dada em
Paris, em debate na OCDE
(Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico). Os
cortes no setor, no entanto,
correspondem a 13% do total
anunciado pelo governo.
"Nós temos vinculações
constitucionais na educação. Essas
vinculações obviamente estão
sendo cumpridas", disse, ao ser
questionado sobre o tema.
O ministro comentou a alta da
taxa de desemprego para 8%. "Isso
é natural neste momento, as
pessoas querendo procurar
emprego. Acho que vamos ter de
passar por esse período. O
importante é tomar medidas para
que a economia realoque
recursos."
Sobre o combate à inflação,
Levy disse, horas antes do aumento
da taxa básica de juros (Selic) para
13,75% ao ano, que o Banco
Central deve continuar vigilante
quanto ao aumento dos preços.
MERCADO
FOLHA DE SÃO PAULO
04/06/15
COTIDIANO
Greve dos professores completa 81 dias rachada
Continuidade foi decidida após
troca de socos e chutes em
assembleia
Paralisação que pede 75% de
reajuste já é a mais longa de SP;
adesão caiu, e governo ainda não
fez proposta
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
Professores se dividiram,
chegaram a brigar na avenida
Paulista, mas resolveram manter a
greve na rede estadual de São Paulo
--que chega a 81 dias nesta quinta
(4) e se torna a mais longa da história
da categoria no Estado.
A decisão foi apertada, tomada
em meio ao enfraquecimento da
greve, que pede reajuste salarial de
75,33% ao governo Geraldo
Alckmin (PSDB), e depois de um
racha que acabou em confronto.
Houve troca de socos e chutes
na assembleia --ao menos um
professor se feriu, saindo com nariz
ensanguentado.
A confusão ocorreu na altura do
Masp, perto do controle de entrada
do caminhão de som da Apeoesp
(sindicato docente). Segundo a
entidade, os envolvidos eram
professores, e não seguranças.
No mesmo dia, barracas de um
acampamento montado pelos
grevistas na praça da República
foram incendiadas --um grevista foi
hospitalizado depois de inalar
fumaça.
está sem aulas há quase três meses,
sem planos para reposição.
A presidente do sindicato, Maria
Izabel Noronha, defendeu a
suspensão da paralisação por tempo
indeterminado --para que houvesse
atos em dias específicos, como no
dia da votação do dissídio da
categoria no Tribunal de Justiça.
No auge da greve, a Apeosep
estimava ter adesão de mais de 60%
dos professores, mas admite que ela
caiu a menos da metade. O governo
diz que só 4% estão faltando.
"Mas a maioria votou por seguir
como está. Temos de respeitar",
disse Noronha, após a realização de
duas votações --na primeira, os
braços levantados contrários e
favoráveis não deixavam clara a
posição majoritária.
Na assembleia, a Polícia Militar
estimou a presença de mil pessoas,
enquanto a Apeoesp dizia haver 15
mil.
A mais longa paralisação dos
professores estaduais até então havia
sido em 1989 --com 80 dias de greve.
O movimento atual foi anunciado
em 13 de março, em meio a um ato
em defesa de direitos trabalhistas que
reuniu diferentes sindicatos e
movimentos sociais e também serviu
de apoio ao governo da presidente
Dilma (PT).
A rede tem 230 mil professores e
4 milhões de estudantes --parte deles
ENFRAQUECIMENTO
O enfraquecimento ocorreu após
corte de ponto no salário dos
grevistas, após decisão judicial a
favor do Estado.
O reajuste de 75,33%
reivindicado pelos docentes visa, de
acordo com eles, equiparar os
salários com os dos demais
profissionais com ensino superior no
Estado.
O governo não apresentou
proposta de aumento. Diz que
divulgará um plano até julho, quando
completará um ano do último
reajuste.
A gestão Alckmin afirma ainda
que concedeu 45% de reajuste em
quatro anos.
Parte desse percentual, porém, se
refere à incorporação de gratificação
ao salário-base, que beneficia
aposentados (que não ganham
gratificação), mas tem impacto quase
nulo para servidores ativos.
O ESTADO DE S. PAULO 04/06/15
ESPAÇO ABERTO
Educação integral - qualidade e equidade
ALEJANDRA MERAZ VELASCO E PATRÍCIA MOTA GUEDES
Pôr em prática políticas de
educação integral no Brasil – não
apenas para que se atinja a meta
prevista no Plano Nacional de
Educação (PNE), mas para
efetivamente melhorar a
aprendizagem dos alunos – é um
desafio enorme. E urgente.
O Brasil tem uma rede de
educação básica ampla e
complexa – quase 50 milhões de
alunos, 2 milhões de professores
e 200 mil escolas –,
profundamente marcada pela
desigualdade das condições de
infraestrutura, da formação dos
professores e gestores, das
condições de apoio e do nível
socioeconômico dos alunos, o que
faz as escolas, frequentemente num
mesmo município, apresentarem
resultados muito díspares. A
educação integral tem sido
apontada como um caminho
importante para ajudar o País a
avançar na qualidade do ensino
público e também como fator
estratégico para a redução da
desigualdade, principalmente no
que se refere a escolas que
atendem alunos em situação de
maior vulnerabilidade.
Mas para que a educação
integral tenha esse efeito
transformador é preciso entender
que se baseie no conceito de
desenvolvimento pleno do ser
humano, que considera diferentes
dimensões: física, afetiva,
cognitiva, socioemocional e ética.
O conceito é aprofundado no
documento Educação integral – um
caminho para a qualidade e a
equidade na educação pública,
construído a partir de discussões
de um grupo de especialistas da
área educacional sobre o tema,
cujo objetivo é contribuir para o
debate sobre o que se entende por
educação integral, para além da
ampliação da jornada escolar,
alargando as oportunidades de
aprendizagem das crianças e dos
jovens do Brasil.
Na publicação avalia-se que ter
um plano e construí-lo em
consonância com o projeto
político-pedagógico da rede de
ensino e com a participação de
docentes, famílias, comunidade e
alunos é primordial para a
qualidade e a sustentabilidade das
propostas de política pública de
educação integral. Exemplos de
redes de ensino que investiram
nesse princípio mostram a
intencionalidade pedagógica do
modelo adotado e levam em
consideração as demandas e as
necessidades de toda a
comunidade escolar como fatoreschave, embora não únicos, do
sucesso de um plano de educação
integral. A adequação ao contexto
local é outra característica que
distingue as experiências bemsucedidas.
A meta 6 do PNE, que trata da
educação em tempo integral –
termo já bastante contestado por
apontar apenas para o aumento da
jornada escolar, suprimindo um
debate mais aprofundado sobre o
conceito do desenvolvimento
integral do aluno –, tem estratégias
que abordam a diversidade local
e a articulação no território como
aspectos a serem considerados no
desenho das políticas públicas.
Mesmo os países que já garantem
as sete horas diárias na escola a
todos os alunos têm passado a
investir em espaços que não fazem
parte da estrutura formal da escola
como parceiros na ampliação das
oportunidades de aprendizagem.
Isso significa que não apenas as
secretarias de educação, mas
diferentes áreas do governo e da
sociedade civil podem e precisam
participar no desenvolvimento das
políticas de educação integral,
para que se garanta o compromisso
da gestão municipal com a
disponibilização de espaços e o
planejamento de atividades
pedagogicamente relevantes e que
tenham significado no contexto
cotidiano dos alunos.
Assim, ao incluir no
planejamento os equipamentos
culturais e esportivos das cidades,
por exemplo, é preciso levar em
conta o modo como eles podem ser
acessados e de que forma serão
integrados ao projeto políticopedagógico das escolas para
promover o desenvolvimento das
04/06/15
crianças e dos jovens. Isso requer
conversa e cooperação entre a
secretaria de educação e as outras
pastas da administração pública
responsáveis pelas políticas de
cultura, esportes, assistência
social, transportes e mobilidade,
entre outras. Nessa interação com
o território, o envolvimento de
organizações sociais que oferecem
projetos socioeducativos a
crianças e jovens é igualmente
estratégico, mas, assim como em
relação a todos os demais atores,
esse envolvimento deve ter como
alicerce a relevância para o
desenvolvimento dos alunos em
articulação com a escola.
Para que essa rede articulada
funcione é fundamental que se
pense na formação docente e dos
profissionais da educação e das
demais áreas envolvidas nas
atividades propostas. O plano de
educação integral precisa, além
disso, considerar paralelamente
todas as questões específicas de
cada etapa escolar, como o ensino
médio, fase em que as
características da juventude
precisam ser levadas em conta no
planejamento das ações, de modo
a promover o protagonismo dos
jovens e sua relação com os
espaços e a cidade.
Nos diversos exemplos
apresentados na publicação
referida neste texto, fica claro que
não há um modelo único. Cada
localidade e, no limite, cada
escola deve encontrar o seu – de
acordo com a proposta pedagógica
vigente, as demandas da
comunidade escolar, as condições
de infraestrutura, a integração com
os equipamentos esportivos e
culturais e a capacidade de
atendimento. De fato, podem
coexistir diferentes formatos de
educação integral dentro de uma
mesma rede de ensino. Mas é
importante destacar que na maioria
dos casos é necessário investir
mais recursos tanto na melhora das
condições dos prédios escolares –
garantindo espaços e materiais
adequados para a aprendizagem –
como na contratação ou na
adequação da jornada de trabalho
docente e formação dos
professores, e ainda prever
recursos de outras pastas
envolvidas.
O grupo de especialistas
envolvidos nesse debate foi
taxativo quanto à importância de
começar pela formulação de um
bom plano de educação integral
para que a execução dessa política
não fique pela metade. Mas é
primordial implementá-lo com
excelência para que ele faça a
diferença na aprendizagem e na
vida das crianças e dos jovens.
O ESTADO DE S. PAULO 04/06/15
METRÓPOLE
Cursos top da USP incluem
menos alunos da rede pública
VICTOR VIEIRA - O ESTADO
DE S. PAULO
Calouros da rede pública são
25,7% em carreiras disputadas,
contra 45,8% nas graduações com
menos de cinco candidatos por
vaga
SÃO PAULO - A proporção de
calouros da rede pública nos cursos
de baixa concorrência da
Universidade de São Paulo (USP) é
quase o dobro da registrada nas
carreiras mais procuradas, como
Medicina e Direito. Nas 56
graduações com menos de cinco
candidatos por vaga no último
vestibular, a taxa de alunos da escola
pública é de 45,8%. Já no grupo de
20 cursos de maior disputa, cai para
25,7%. A média geral da USP é de
35,1%.
Os números por carreira estão
tabulados em documento da PróReitoria de Graduação, obtido pelo
Estado. A USP nunca usou cotas,
mas bônus no seu vestibular, a
Fuvest, para candidatos da rede
pública e pretos, pardos e indígenas
(PPI).
O objetivo da USP é ter, até 2018,
metade de calouros da rede pública
em cada curso, com 35% de PPI,
proporção equivalente à população
paulista. O governador Geraldo
Alckmin (PSDB) chegou a sugerir
essa meta já para o ano que vem,
mas a universidade recusou.
Com o objetivo de aumentar a
inclusão, a USP vai decidir neste mês
se usa o Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) para preencher parte
das cadeiras. A ideia é reservar, na
média, 15% de vagas para alunos de
escola pública via Enem. Mas a
mudança, prevista para o próximo
processo seletivo, ainda depende do
aval das faculdades e dos conselhos
superiores da USP.
Na proporção de ingressantes PPI
também há desigualdades fortes. No
grupo de carreiras de baixa
concorrência - boa parte de
licenciaturas e cursos noturnos -, a
taxa é de 24,5%. Já nas 20 mais
procuradas é de 14,1%, ante 18,8%
na média da USP. Algumas
graduações top, como Medicina em
Ribeirão Preto, matricularam
calouros pardos, mas nenhum preto.
Apesar do avanço de inclusão na
USP nos últimos anos, os números
mostram fragilidades da política
adotada. “O bônus tem esse perfil
conservador, de não fazer a inclusão
igualmente em todos os cursos”,
explica João Feres Júnior,
pesquisador da área de ações
afirmativas da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Como dá pontos extras, e não
reserva vagas, o modelo costuma ter
efeito menor em carreiras disputadas,
em que a nota de corte é alta. A Lei
de Cotas, diferentemente, fixa o
mesmo patamar para cada curso e
turno das instituições federais de
ensino superior. Até 2016, serão 50%
de alunos da rede pública, com taxa
de PPI equivalente à distribuição
populacional de cada Estado. Para
Feres Júnior, os resultados da USP
ainda são “pífios”.
O movimento estudantil pressiona
os conselhos superiores da USP para
debater cotas já para o próximo
vestibular. Mas a reitoria sinalizou que
essa discussão deve ser feita só para
as edições seguintes. Procurada, a
USP não se pronunciou.
Dificuldades. Ex-aluno de escola
estadual, Lucas Gandolfi, de 23
anos, conseguiu a aprovação na
Fuvest só na sexta tentativa. “Tive
um ensino fraco e precisei correr
atrás de muito conteúdo”, conta ele,
que começou Medicina na USP em
2015.
A favor de reserva de vagas, o
jovem também se preocupa com a
permanência do estudante cotista
depois de passar pelo vestibular de
cursos concorridos. “Ele acaba
sofrendo com as defasagens em
relação aos outros”, diz, “Por isso,
é preciso melhorar o ensino público.”
/COLABOROU
RODRIGO
BURGARELLI
04/06/15
04/06/15
CORREIO BRAZILIENSE
04/06/15
Professores mantêm greve
Professores da rede estadual de
São Paulo aprovaram ontem a
continuidade da paralisação, que
completa 81 dias hoje e já é a mais
longa da categoria no Estado. Os
grevistas estavam divididos e foi
preciso fazer duas votações para
que se chegasse a uma conclusão.
Os docentes pedem reajuste
salarial de 75,33%, para
equiparação a outras categorias de
ensino, além de melhorias na
infraestrutura das escolas. O
governador Geraldo Alckmin
(PSDB) diz que a paralisação é
política e afirma que o número de
faltosos na rede é de cerca de 4%.
Minutos antes da votação,
seguranças que trabalhariam para
o Sindicato dos Professores
(Apeoesp), que lidera a
paralisação, entraram em
confronto com professores em
frente ao caminhão de som.
BRASIL
CORREIO BRAZILIENSE
04/06/15
OPINIÃO
Expansão e internacionalização
do ensino superior
» MOZART NEVES RAMOS
Diretor do Instituto Ayrton
Senna, ex-reitor da Universidade
Federal de Pernambuco, exsecretário de Educação de
Pernambuco e membro do
Conselho Nacional de Educação
e o número de países com 50% ou
mais nessa faixa etária de alunos
na universidade subiu de 5% para
54%. A África subsaariana é a
única parte do mundo onde a
massificação ainda não está
fortemente em evidência.
O esforço brasileiro para
expandir as matrículas no ensino
superior tem sido, de fato, bemsucedido. Basta ver o crescimento
verificado no período de 2001
para 2013, quando o percentual de
jovens de 18 a 24 anos
matriculados nesse nível de ensino
passou de 9,2% para 16,6%. O
número total de alunos atualmente
no ensino superior é de 7,3
milhões. Apesar disso, o país vai
precisar praticamente dobrar o
quantitativo nos próximos 10 anos,
não só para atender ao que está
posto no atual Plano Nacional de
Educação, mas porque o
percentual é muito baixo, quando
comparado ao cenário mundial,
como veremos a seguir.
O acesso ao ensino superior,
que antes era privilégio de poucos,
gradualmente, vem se tornando
real possibilidade para número
maior de jovens, especialmente os
das classes sociais menos
favorecidas. No Brasil, por
exemplo, atualmente, cerca de 3
milhões de jovens brasileiros de
baixa renda estão sendo
beneficiados pela participação
governamental no ensino superior.
Refiro-me aos alunos beneficiados
pelos programas governamentais
Prouni (Programa Universidade
para Todos) e Fies (Fundo de
Financiamento Estudantil). A crise
econômica
atual
pode
comprometer fortemente a
expansão das matrículas por via
dos
dois
mecanismos
governamentais.
Além disso, o processo de
expansão do ensino superior não
é esforço apenas brasileiro, mas
mundial, segundo a conceituada
revista The Economist, em matéria
de capa de junho de 2014,
intitulada “High Education:
Creative Destruction”. Nas duas
últimas décadas, a taxa de
matrícula na faixa etária de 18 a
24 anos saltou de 14% para 32%;
No cenário de expansão, surge,
no Brasil, com relativa força, a
internacionalização do ensino.
Observa-se a chegada de
escritórios de representação de
renomadas
universidades
estrangeiras, que veem em nosso
país não apenas nicho importante
de demanda por ensino superior,
mas também de oportunidades para
novos negócios.
As nossas universidades —
muito poucas, infelizmente —
também começam a abrir
escritórios ou institutos para atuar
em outros países. A USP foi uma
das primeiras a inaugurar
escritórios em locais estratégicos,
como na região de Boston.
Entretanto, a atual crise financeira
por que passa a instituição poderá
provocar o fechamento das antenas
de cooperação interinstitucional.
Bela iniciativa veio recentemente
da Universidade Tiradentes (Unit),
de Aracaju. A instituição acabou
de formalizar com a Universidade
de Massachusetts (UMass) a
criação de centro de estudos em
Boston — o Tiradentes Institute —
, para promover intercâmbio
acadêmico de estudantes e
professores, incluindo a oferta de
cursos e a realização conjunta de
pesquisas. Penso que o esforço de
internacionalização deveria ser
mais fortemente considerado nos
processos de avaliação de
qualidade e recredenciamento das
universidades.
A internacionalização faz parte
das exigências do cotidiano das
universidades do século 21.
Assim, é preciso que nossas
instituições de ensino superior,
cada vez mais, promovam cursos
bilíngues nos currículos, sejam
mais ágeis no sentido de
reconhecer estudos fora do país e
04/06/15
tenham sólidas estratégias de
cooperação com universidades
estrangeiras.
Uma das consequências dos
entraves é a perda de posições das
nossas principais universidades
nos rankings mundiais que avaliam
as instituições. O idioma e a baixa
oferta de disciplinas em outras
línguas nos cursos de graduação e
de pós-graduação têm limitado a
abertura das instituições ao mundo.
Isso se reflete num número muito
pequeno de estudantes estrangeiros
em nossas universidades. A
Universidade de Harvard, por
exemplo, tem cerca de 5 mil
estudantes estrangeiros do total de
21 mil, cerca de 22,8%. Entre o
corpo docente, nada menos que
38% são de fora.
Na USP, a maior do país, dos
mais de 92 mil estudantes, menos
de 2 mil são estrangeiros (2,1%).
Já os docentes de outras
nacionalidades são apenas 8,92%
do total. O que isso nos ensina é
que, além de continuar expandindo
as nossas matrículas no ensino
superior, o país precisa incorporar
no processo a internacionalização
do ensino, caso queira ter posição
de protagonismo no mundo
acadêmico.
CORREIO BRAZILIENSE
04/06/15
No poder
» Todos pela Educação é o
movimento capitaneado por um dos 80
homens mais ricos do país, Jorge Gerdau.
Ele não tem condições para atender a
capilaridade brasileira, mas valeria a
pena informá-lo de que na capital do
país, no Centro de Ensino Fundamental
33, em Ceilândia, a diretora que
prometeu acabar com o tráfico de drogas
na escola está jurada de morte.
ARI CUNHA
CORREIO BRAZILIENSE
04/06/15
CIDADES
ENTREVISTA IVAN CAMARGO »
Cortes têm maior impacto este ano na UnB
De acordo com o reitor, as
dificuldades
financeiras
costumavam aparecer em outubro.
Em 2015, elas já surgiram em
janeiro. Ampliação das vagas de
medicina está ameaçada para 2016
» MANOELA ALCÂNTARA
» MARIANA NIEDERAUER
Especial para o Correio
"Nós, a sociedade de Brasília,
temos que respeitar o ensino
médio. O ensino médio não é só
para entrar na universidade, é para
formar o jovem"
Os cortes de gastos anunciados
pelo governo federal têm
impactado as instituições públicas
de ensino superior. Na
Universidade de Brasília (UnB) a
situação não é diferente. O reitor
da instituição, Ivan Camargo,
afirma que, desde que assumiu o
cargo, em 2013, iniciou um
processo
de
austeridade
orçamentária, que tem ficado cada
vez mais difícil. O aumento de
vagas no curso de medicina,
previsto para o primeiro semestre
de 2016, por exemplo, está
ameaçado e pode ser adiado pelo
Ministério da Educação (MEC).
Em entrevista ao Correio, o
reitor fez um balanço desses quase
três anos de gestão e falou sobre o
vestibular, a moradia estudantil e,
claro,
as
dificuldades
orçamentárias para manter os
projetos da instituição. Camargo
defendeu ainda a decisão polêmica
de exigir os certificados de
conclusão do ensino médio no ato
da inscrição este ano. Somente no
último vestibular, foram 500
ingressos por mandados de
segurança. Ele acredita que a
entrada na universidade não deve
ser judicializada.
O reitor não descarta a
possibilidade de o vestibular da
UnB ganhar uma versão digital, a
exemplo do primeiro teste que
ocorrerá este ano no Exame
Nacional do Ensino Médio
(Enem). Embora não existam
discussões avançadas sobre o
assunto, ele considera uma opção
para reduzir custos. Completa
ainda que o Cespe tem capacidade
e competência para fazer a
transição. Ivan Camargo também
comentou sobre o sistema de cotas
sociais. A partir de 2016, 50% das
vagas serão reservadas para
estudantes que concluíram o ensino
médio na rede pública. Para ele,
cada determinação legal imposta
pelo Congresso diminui a
autonomia das universidades e
torna as instituições menos
diversas.
"Percebemos que temos um
problema salarial. É facilmente
identificado pela rotatividade de
servidores que passam no
concurso e saem porque são
aprovados em outro melhor"
Qual é a avaliação que o
senhor faz desses quase três anos
de gestão?
O desafio foi muito maior do
que eu imaginava. A gestão pública
é um desafio enorme, e a gestão
de uma universidade absolutamente
descentralizada, como tem de ser,
apresenta
várias
outras
dificuldades. O que chama a
atenção é a questão orçamentária.
Quando assumimos a reitoria,
havia uma despesa maior do que a
receita. Sair atrás desse dinheiro
para fechar as contas no fim do ano
era uma coisa difícil, assim como
controlar os gastos de uma
universidade pública em expansão.
Você aumenta a área, o número de
alunos, aumenta tudo e,
evidentemente, o custo cresce, por
mais que você racionalize os
contratos. Estamos fazendo um
esforço enorme nesses últimos
anos de austeridade orçamentária,
uma postura que eu prometi que
teria, mas, mesmo assim, os
resultados finais não são como a
gente espera. Mas acho que os
04/06/15
gastos pararam de crescer na
mesma proporção, e isso foi um
avanço.
Vocês conseguiram equalizar
o orçamento?
Nos últimos dois anos, a
previsão de despesa para o ano era
maior do que a receita. Por meio
do apoio do Ministério da
Educação (MEC), conseguimos
mais verba para fechar. Este ano é
que estamos com mais dificuldade.
Normalmente, a dificuldade
começava em outubro. Em 2015,
em janeiro, já estávamos com
problemas.
Que UnB os aprovados no
próximo
vestibular
vão
encontrar?
Muito melhor do que a que eu
encontrei em 1978. Estamos com
uma universidade renovada e com
pessoas com muita vontade de
trabalhar e de agregar. Temos tudo
para ser a melhor universidade do
Brasil, e é para isso que nós
vamos caminhar.
Este é o último vestibular da
UnB antes da adoção de 50% de
cotas sociais. Qual será o
impacto
disso
para
a
universidade?
Essa mudança é uma imposição
legal. O Congresso Nacional
determina e, evidentemente, as
universidades atendem. Esse
processo me incomoda um pouco
porque cada determinação legal faz
com que as instituições federais
fiquem cada vez mais parecidas.
Acho que o Brasil precisaria de
maior
diversidade
nas
universidades. Nas vezes em que
tenho a oportunidade de ir ao
Congresso, digo: “Por favor, não
façam leis, respeitem a autonomia
das universidades, respeitem os
professores”, porque eu acho que
a gente ganharia com essa
diversidade.
Não
tenho
absolutamente nada contra as
cotas, mas eu preferia as cotas que
nós definimos, porque era uma
ação da universidade, uma ação
com muito embate interno, em que
a UnB foi precursora.
Houve
impacto
no
orçamento? Quanto aumentou?
Quando você faz as cotas, criase uma necessidade de assistência
estudantil, senão as pessoas que
entram não conseguem permanecer.
O dinheiro vem de uma única fonte
e ele tem que ser dividido entre o
orçamento da assistência estudantil
e o do custeio da universidade.
Aqui na UnB, nós colocamos como
prioridade o dinheiro da
assistência estudantil. Não foi pela
instituição das cotas que o dinheiro
aumentou. O aumento da verba
estava condicionado à adesão ao
Enem (Sisu). Nós colocamos 25%
do nosso acesso para essa seleção,
o que fez com que aumentasse
bastante a verba.
O Enem vai testar a versão
digital pela primeira vez. A UnB
tem algum plano em relação a
isso para o vestibular?
Eu acho que temos capacidade
de reduzir os custos desse tipo de
prova, eventualmente, por meio de
uma digitalização. O dramático
nessas provas é que elas precisam
de uma segurança muito grande
porque o que está em jogo são
vagas nas universidades públicas,
que são muito concorridas.
Já havia uma decisão de
aumentar as vagas de medicina
na UnB no âmbito do Mais
Médicos. Essa previsão está
mantida?
A única previsão de aumento de
vagas que pensamos nessa gestão
seria para o curso de medicina. No
ano passado, assinamos um termo
de referência com o MEC com o
custo dessa ampliação. No entanto,
a condição financeira mudou e, na
semana passada, eu liguei para o
MEC para ter mais informações.
Eles me pediram mais esta semana,
quando vai ficar definido se já em
2016 teremos essas vagas ou se
precisaremos adiar um pouco esse
projeto.
Qual a sua avaliação da nova
Casa do Estudante? A
universidade conseguiu diminuir
o número de imóveis alugados?
Ficou com uma estrutura de
muito boa qualidade. Infelizmente,
o prédio tem alguns problemas
característicos de obra nova, como
vazamentos. Já temos 330 alunos
morando na Casa do Estudante.
Independentemente da questão da
casa, nós tomamos a decisão de
que não era possível a
universidade
assumir
a
responsabilidade de aluguel de
apartamentos para o alojamento de
estudantes. Basicamente porque
casa de estudante tem muita
confusão — eu sei porque morei
em casa de estudante —, e a
confusão que ocorre lá passa a ser
responsabilidade do reitor. É
muito melhor para o estudante
04/06/15
necessitado você passar o auxíliomoradia e ele escolher a melhor
maneira de gastar o dinheiro.
Nesses dois anos e meio,
terminamos quase todos os
contratos de aluguel. (Hoje são 1,1
mil alunos que recebem auxíliomoradia).
Por que a UnB decidiu exigir
o diploma para efetivar as
inscrições no vestibular de 2015?
O que estava acontecendo
regularmente, nos meses de julho,
era a judicialização da entrada dos
estudantes. No último vestibular,
500 entraram com mandado
judicial. Ou seja, ingressaram na
universidade porque o juiz decidiu.
É fundamental que a universidade
assuma a sua responsabilidade
administrativa de tentar não
judicializar a entrada. A tentativa
foi essa. E a judicialização ocorria
porque o aluno, no meio do terceiro
ano, fazia o vestibular sem a
conclusão do ensino médio. Uma
das alegações era que esses
estudantes eram superdotados. Eu
concordo plenamente que alunos
superdotados devem entrar, nós
queremos os alunos superdotados
na UnB. No entanto, não era a
escola que acompanhou o aluno
que dizia que ele era superdotado.
Ele fazia uma prova numa escola
de Educação de Jovens e Adultos
(EJA), passava e essa escola dizia
que ele estava apto a entrar na
UnB. Esse processo me
incomodava muito. Sempre
lembrando que o vestibular não
mede a competência do aluno.
Passar na UnB não significa que
ele esteja pronto. Fazer essa
exigência foi uma decisão do
Conselho de Ensino Pesquisa e
Extensão (Cepe), que eu concordo
plenamente. Nós, a sociedade de
Brasília, temos que respeitar o
ensino médio. O ensino médio não
é só para entrar na universidade, é
para formar o jovem.
públicos que passam no concurso
e saem porque são aprovados em
outro melhor. Já falei com o
ministro, o assunto foi abordado
nas reuniões da Andifes, mas o
nosso poder de influência é esse.
A decisão foi polêmica.
Aumentou o número de ações?
Tiveram muitas ações, a
maioria foi indeferida, mas
algumas passaram. Determinação
judicial a gente cumpre, ponto. Se
o juiz julga que é assim, vamos
fazer, mas eu gostaria muito que
reduzisse esse número, pois 500
me parece exagerado. É bom
lembrar que há também a opção de
treineiro no vestibular.
Como os cortes do governo
influenciam nas contas da
universidade?
O corte do governo, na verdade,
nos deixa com uma parte muito
pequena para atuar, pois grande
parte do funcionamento da
universidade é destinada aos
salários. Nesse ponto, ninguém
mexeu em nada. A grande parte do
orçamento continua firme, e eles
podem mexer numa pequena parte,
que é o nosso custeio.
Basicamente, a gente usa o custeio
para a contratação de servidores
terceirizados. Grande parte de toda
a receita da universidade passa a
ser para pagar gente. Por isso, esse
corte me incomoda um pouquinho.
A grande maioria desses contratos
são anuais. Não dá para falar de
uma hora para a outra que vamos
mudar. Estamos fazendo um
trabalho muito grande de
racionalização dos contratos,
mudanças, novos termos de
referência para os contratos de
terceirização para que a gente
consiga cobrar um serviço melhor.
A gente consegue ver o reflexo
disso na UnB. Os banheiros estão
funcionando, os corredores estão
limpos por causa de mudanças
efetuadas nos contratos de
terceirização. No entanto, são
contratos anuais, não consigo
prever se em 2015 vou ter um
corte. Se fosse possível prever que
nos próximos três anos teríamos
um corte escalonado de um valor
Temos hoje um cenário
nacional de corte de verbas, greve
de servidores e professores
universitários em alguns estados.
Como está a situação hoje na
UnB?
Os nossos servidores estão em
greve. Formalmente, na última
reunião do Consuni, eles me
entregaram a pauta de
reivindicações. A nossa postura é
muito difícil nesses processos
porque, quando você lê a pauta, vê
que grande parte dos pedidos deve
ser feito na Esplanada e não aqui.
A ação do reitor para atender a
pauta é quase nula. No entanto, os
reflexos da greve não são na
Esplanada. A administração fica
numa situação dificílima, sente
todos os efeitos, sem poder atuar
na negociação sobre os problemas
da
greve.
Percebemos,
obviamente, que temos um
problema salarial na universidade.
É facilmente identificado pela
rotatividade de servidores
04/06/15
X, forçaria a eficiência da
universidade,
mas
não
inviabilizaria os serviços.
Haverá cortes nos contratos
dos porteiros terceirizados?
Estamos há três meses
trabalhando nessa questão. Não sei
exatamente o número, mas haverá
uma mudança da cara da vigilância
da UnB. Isso já foi amplamente
discutido porque é muito difícil
uma universidade como a nossa,
sem portas, absolutamente aberta,
colocar porteiros. Há uma
mudança na segurança, reduzindo
o número de porteiros e
aumentando o de vigilantes. Não
há redução na verba da segurança,
há aumento. Em todas as reuniões
dos conselhos, em que falamos de
austeridade orçamentária, os
nossos conselheiros o tempo todo
frisam: não mexa na verba da
segurança. Estamos mexendo, sim,
mas para aumentar a verba, porque
julgamos ser necessário. Será uma
mudança de filosofia, vamos
colocar pessoas circulando pela
universidade, em vez de pontos
parados e com uma função muito
mal definida.
E a parceria com a Polícia
Militar?
Temos um batalhão no câmpus.
Temos conversado muito com a
PM e estou muito impressionado
com o trabalho deles. Uma
conclusão óbvia, que a gente
demora a ter, é: problema de
violência não é a nossa segurança
que resolve nem um professor. No
estado democrático de direito,
quem resolve isso é a polícia.
Assalto, roubo de carro, ataques,
agressões. Esses casos, nós,
professores, somos incompetentes
para resolver. Chama-se a polícia
para reduzir o número de assaltos
e a sensação de insegurança. Tenho
achado que essa parceria é muito
positiva para a universidade.
Agora, tem que lembrar sempre que
a gente tem que garantir a
segurança, mas tem que garantir
também a liberdade acadêmica.
Nenhuma ação acadêmica da
universidade, nenhum movimento
estudantil, nenhuma ação estudantil
ou de professores pode ter
qualquer tipo de repressão
policial. Isso está fora de questão.
CORREIO BRAZILIENSE
04/06/15
CIDADES
EDUCAÇÃO »
Disputa ainda mais acirrada para medicina
No sistema universal,
concorrência para o curso pulou
de 144,80 para 174,90 por vaga.
Número de inscritos na UnB caiu
23%
» MANOELA ALCÂNTARA
» MARIANA NIEDERAUER
Especial para o Correio
Paulo Henrique briga por uma
vaga em medicina há um ano e
meio
O número de inscrições para o
vestibular da Universidade de
Brasília (UnB) caiu 23% em
relação à mesma seleção realizada
ano passado. Foram 18.804
inscritos no total, contra 24.486 no
ano passado. Em compensação, a
quantidade de treineiros — que
farão o teste só para avaliar
conhecimentos — quase triplicou:
passou de 1.024 para 2.902. Este
ano, pela primeira vez, a
universidade exigiu, no ato da
inscrição, o diploma de conclusão
do ensino médio. Em 2014, 500
estudantes entraram na instituição
por meio de mandados judiciais.
O decano de Ensino de
Graduação da UnB, Mauro
Rabelo, acredita que essa mudança
pode ter sido a causa da redução
no número de inscritos. “Essa
decisão da universidade inibiu um
grupo de candidatos que não quis
fazer a prova como treineiro e
decidiu não se inscrever”, supõe.
“Acho que esse dado é
interessante, porque pode ser que
a demanda anterior fosse inflada
e, agora, temos uma demanda real.
Muitos dos candidatos não
reuniram as condições legais para
fazer a prova”, complementa.
Outra razão elencada pelo decano
para a diminuição é o fato de o
Governo do Distrito Federal não
ter oferecido, este ano, subsídio
para que estudantes de escolas
públicas pagassem a taxa de
inscrição, além das vagas
ofertadas pelo Sistema de Seleção
Unificada (Sisu), que podem ter
atraído outra parte dos possíveis
candidatos. Rabelo ressalta, no
entanto, que essas são suposições
e que a instituição fará uma análise
mais detalhada no futuro, se julgar
necessário.
A maior demanda por vaga é em
medicina, em todas as
possibilidades: pelo sistema
universal, de cotas sociais ou para
negros. Embora na classificação
geral o número de concorrentes por
uma oportunidade para ser médico
tenha caído de 100,56, em 2014,
para 97,17, em 2015, o cenário
muda quando são avaliadas as
concorrências específicas. No
sistema universal, por exemplo, em
2014, eram 144,80 pessoas por
oportunidade. Este ano, subiu para
174,90. Quem concluiu todo o
ensino médio na rede pública e vai
participar da disputa com renda
superior a 1,5 salário mínimo e não
está no grupo de Pretos, Pardos e
Indígenas (PPI) terá que enfrentar
291,67 por vaga. Os candidatos
concorrerão às 4.212 vagas
ofertadas pela instituição em 97
cursos disponíveis nos câmpus
Darcy Ribeiro (Plano Piloto),
Ceilândia, Gama e Planaltina.
O segundo curso mais
disputado pela concorrência geral
é direito diurno, com 11,47 por
oportunidade; o terceiro é
odontologia, com 10,87 por vaga.
O terceiro colocado em 2014 era
engenharia civil, com 20,15
concorrentes para cada cadeira.
Este ano, o curso fica em quinto
lugar, com 9,63 por vaga, e atrás
de arquitetura e urbanismo, com
9,75 (veja quadro).
Há um ano e meio, Paulo
Henrique Rodrigues Correia, 19
anos, tenta uma vaga para o curso
de medicina da UnB. Ele acredita
que a concorrência alta pode
aumentar o nervosismo de alguns
candidatos, mas quem estuda há
mais tempo deve se sair bem na
avaliação, independentemente do
número de concorrentes. “A
04/06/15
própria prova vai servir para
filtrar esses candidatos. Os mais
bem preparados vão se destacar”,
acredita.
A poucos dias da prova, ele
adotou uma estratégia de estudos
diferente. “Nas duas últimas
semanas, resolvi abandonar a
apostila e comecei a fazer só
provas. Na semana passada, fiz
todos os testes de 2011 a 2014 e,
esta semana, estou pegando tudo o
que errei e corrigindo”, conta.
Durante os meses anteriores, o
candidato fez diversos simulados
com diferentes níveis de
dificuldade e aprendeu a gerenciar
o tempo de prova.
Entre as 4.212 oportunidades,
2.373 são destinadas ao sistema
universal; 1.603 são para o sistema
de cotas sociais, destinadas a
alunos que concluíram todo o
ensino médio na rede pública de
ensino; e 236 são exclusivas para
o sistema de cotas para negros. As
provas ocorrem em 6 e 7 de junho,
no próximo fim de semana, às 13h.
Os estudantes podem conferir os
locais do certame no site do
Cespe:
www.cespe.unb.br/
vestibular/VESTUNB_15_2/

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