as representações do “eu” na rede social youtube

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as representações do “eu” na rede social youtube
AS REPRESENTAÇÕES DO “EU” NA REDE SOCIAL YOUTUBE:
QUANDO O ÍNTIMO ATRAVESSA OS LIMITES DO PÚBLICO E DO
PRIVADO
DANIELLA COSTANTINI DAS CHAGAS RIBEIRO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE
DARCY RIBEIRO – UENF
MESTRADO EM COGNIÇÃO E LINGUAGEM
CENTRO DE CIÊNCIAS DO HOMEM
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
MARÇO – 2012
DANIELLA COSTANTINI DAS CHAGAS RIBEIRO
AS REPRESENTAÇÕES DO “EU” NA REDE SOCIAL YOUTUBE:
QUANDO O ÍNTIMO ATRAVESSA OS LIMITES DO PÚBLICO E DO
PRIVADO
Dissertação
apresentada
ao
Programa de Pós-Graduação em
Cognição e Linguagem do Centro de
Ciências
do
Homem,
da
Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro, como
parte das exigências para a obtenção
do título de Mestre em Cognição e
Linguagem.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Henrique Medeiros de Souza
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
MARÇO- 2012
AS REPRESENTAÇÕES DO “EU” NA REDE SOCIAL YOUTUBE:
QUANDO O ÍNTIMO ATRAVESSA OS LIMITES DO PÚBLICO E DO
PRIVADO
DANIELLA COSTANTINI DAS CHAGAS RIBEIRO
Dissertação
apresentada
ao
Programa de Pós-Graduação em
Cognição e Linguagem do Centro de
Ciências
do
Homem,
da
Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro, como
parte das exigências para a obtenção
do título de Mestre em Cognição e
Linguagem.
Aprovada em: ___ de ____________ de 2012
Comissão examinadora:
Orientador: Prof. Dr. Carlos Henrique Medeiros de Souza (Doutor em
Comunicação-UFRJ)
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)
______
Dr. André Fernando Uebe Mansur (Doutor em Informática e Educação –
UFRGS) –
Instituto Federal Fluminense - IFF
Dra. Analice de Oliveira Martins (Doutora em Estudos de Literatura – PUC/RJ)
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)
Dr. Auner Pereira Carneiro (Doutor em Ciências – USP)
Faculdade Metropolitana São Carlos - FAMESC.
A Web é mais uma criação social do
que técnica. Eu não a projetei como
um brinquedinho. Precisamos ter
certeza de que a sociedade que
construímos na rede é aquela que
almejamos ter.
Tim Berners-Lee, criador do WWW
AGRADECIMENTOS
Dois anos se passaram e finalmente um sonho se materializou. Em cada
página desta dissertação, mais que uma pesquisa, estão centrados todos os
esforços para a construção deste e de outros sonhos futuros.
Por isso, agradeço ao primeiro em minha vida, que com Suas mãos de
graça me ajudou a alcançar este e outros feitos. Tantos pedidos Te fiz e tanto
mais
me
concedeste!
Obrigada,
Senhor,
por
todo
o
tempo
que
incansavelmente estiveste ao meu lado.
Agradeço imensamente ao orientador Carlos Henrique que com todo seu
trabalho, paciência e suas palavras de serenidade ajudaram a construir uma
pesquisa (e uma pesquisadora) mais tranquila. Obrigada por ter acreditado,
confiado no meu potencial e por todas as vezes que me encorajou dizendo que
tudo daria certo. Você foi um dos responsáveis por despertar em mim maior
interesse pela área acadêmica e o desejo de prosseguir neste caminho.
Obrigada por ter percorrido esta importante trajetória comigo, devo a você todo
meu respeito e admiração.
Agradeço a minha família, que em tudo me apóia e incentiva, e nesta
trilha não foi diferente. Obrigada por suportarem minhas ausências e por toda
compreensão que tiveram comigo, principalmente neste tempo final. Graças a
vocês tenho em mim o desejo de ser uma pessoa melhor e de querer ensaiar
voos mais altos. Alcimar, Magda e Erica: vocês foram os melhores presentes
de Deus em minha vida. Obrigada por tudo!
Agradeço o apoio dos meus amigos que, mesmo indiretamente,
contribuíram com seu carinho e aconselhamento nos momentos difíceis. Sou
grata a Deus pela vida de vocês!
Por fim, agradeço à banca examinadora e aos meus professores, que,
além de me transmitirem tanto conhecimento, me inspiraram com suas aulas e
com suas trajetórias acadêmicas exemplares. À querida Analice, que
conquistou meu sincero respeito e admiração e se tornou uma das minhas
maiores referências de conhecimento e dedicação.
Aos meus colegas de batalha, que se tornaram graciosos amigos. À
Carla, que tanto me auxiliou desde o início até o fim desta trilha, Danielle,
Joyce, Angélica, Liliane, Leo, Domingues, Fabiana, Marcos, Jefferson... nunca
vou me esquecer de vocês! Agradeço ainda a todo programa de Cognição e
Linguagem, à Universidade Estadual do Norte Fluminense e à FAPERJ.
RESUMO
Esta pesquisa propõe uma reflexão acerca do entendimento dos conceitos de
público e privado na propagação de vídeos autorrepresentativos que mostram,
sob uma ótica pessoal, fatos do cotidiano, que estão hospedadas na rede de
compartilhamento de vídeos online YouTube. São investigadas as videografias
de si, que além de mostrarem essas narrações, evidenciam uma forte
expressão do self. Logo, em primeira instância, a pesquisa tratou dos conceitos
de rede e sua evolução, bem como a própria história da tecnologia mãe dos
processos de inovação: a Internet. Num segundo e terceiro momentos foram
analisados os diversos tipos de redes sociais e os conceitos de público e
privado conforme diferentes óticas, principalmente a do ambiente de rede, onde
nesta parte as análises se concentraram nos trabalhos de Arendt (2007), entre
outros autores como Dupas (2005) e Esteves (2010). Também foram tecidas
análises sobre as mais diversas redes sociais da atualidade, sendo focada a
que é plano de fundo deste trabalho: o YouTube. Foram utilizados os estudos
de Recuero (2009) e Castells (2003). Por último foram investigadas as
videografias de si, conforme os estudos de Costa (2009), sendo feitas diversas
análises quanto ao cunho íntimo, auto representativo e o feedback gerado. Os
resultados das análises dos vídeos, obtidos através de pesquisa exploratória,
qualitativa e descritiva, apontam que muitos usuários que se utilizam das
videografias o fazem como forma de expressão pessoal e que, por vezes,
depositam
assuntos
relativos
à
sua
intimidade
involuntariamente.
Compreende-se que este fato é resultado de uma tendência que é trazida pela
otimização das TIC’s ao cotidiano.
Palavras
chave:
Autorrepresentação.
Público
e
Privado,
YouTube,
Videografias
de
Si,
ABSTRACT
This paper proposes to reflect on the understanding of public and private
concepts, in the propagation of self representative videos that show, in a
personal perspective, facts of daily life that are hosted on the network of online
video sharing YouTube. This search investigated the self videography, that
besides showing these stories show a strong expression of the self. Therefore,
in the first instance, the research dealt with the concepts of network and its
evolution, as well as the concept of the history of technology which is the
innovation processes’ mother: the Internet. In second and third instances, the
various types of social networks and the concepts of private and public were
analyzed as different perspectives, mainly on the network environment, which in
this part the analysis were focused in Arendt (2007), Dupas (2005) and Esteves
(2010) studies. This research also developed an analysis of the most diverse
social networks of today, but keeping the focus in the one that is the
background of this work: the YouTube. This research also used studies from
Recuero (2009) and Castells (2003). Finally we investigated the self
videography, according to the studies of Costa (2009), making analysis about
the intimate nature, self representative and the feedback promoted by the
videos. The results of the video analysis obtained through exploratory,
qualitative and descriptive research, indicate that many users who use the
videography do it as a form of personal expression and sometimes provide
issues of their intimacy involuntarily. It is understood that this fact is the result of
a trend that is brought by the optimization of TIC’s in everyday life.
Key
words:
Representation.
Public
and
Private,
YouTube,
Self
Videography,
Self
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ARPA – Advanced Research Projects Agency
CERN – European Organization for Nuclear Research
CG – Comitê Gestor de Internet
CMC – Comunicação Mediada por Computador
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
FAPERGS – Fundo de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul
FAPERJ – Fundo de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
ICCC – International Conference on Computer Communications
IP – Protocolo Intra-rede
IPTO – Information Processing Techniques Office
Kbps – Kilobyte por segundo
LNCC – Laboratório Nacional de Computação Científica
Mbps – Megabyte por segundo
MC – Ministério das Comunicações
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
NCSA – Centro Nacional Para Aplicações em Supercomputadores
RNP – Rede Nacional de Pesquisa
TCP – Protocolo de Controle de Transmissão
TIC’s – Tecnologias da Informação e Comunicação
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
USP – Universidade de São Paulo
WWW – World Wide Web
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Primeiros nós da Arpanet (Fonte: Arpanet Maps) ............................. 17
Figura 2: As conexões de Internet. (Fonte: Arpanet Maps) .............................. 17
Figura 3: Topologia de rede em estrela. Fonte: Google Images. ..................... 20
Figura 4: Topologia de rede em barramento. Fonte: Google Images. .............. 21
Figura 5: Topologia de rede em anel. Fonte: Google Images. ......................... 22
Figura 6: Estrutura em teia. Fonte:
http://marcosmucheroni.pro.br/blog/?p=2421. Acesso em: 12/09/2011. .......... 23
Figura 7: Mapa da evolução do backbone no Brasil no ano de 1992. (Fonte:
RNP) ................................................................................................................ 26
Figura 8: Mapa da evolução do backbone no Brasil no ano de 1994. (Fonte:
RNP) ................................................................................................................ 28
Figura 9: Comunicado da Embratel. (Fonte: TecMundo) ................................. 29
Figura 10: Mapa da evolução do backbone no Brasil no ano de 1996. (Fonte:
RNP) ................................................................................................................ 30
Figura 11: Grafo das Pontes de Königsberg. ................................................... 41
Figura 12: Página inicial do bate papo AOL. Fonte: Oliveira (2011)................. 48
Figura 13: Famoso símbolo do ICQ. Fonte: icq.com ........................................ 50
Figura 14: O novo ICQ. Fonte: Techtudo (2011). ............................................. 52
Figura 15: Acesso ao bate papo UOL. Fonte: Google Images. ........................ 54
Figura 16: Windows Live versão 2011. Fonte: Techtudo. ................................ 56
Figura 17: Logo do Orkut. Fonte: Google Images ............................................ 59
Figura 18: Logo do Facebook. Fonte: Google Images. .................................... 61
Figura 19: Crescimento do Facebook. Fonte: Revista Veja (2011). ................. 62
Figura 20: Logo do Twitter. Fonte: Google Images. ......................................... 64
Figura 21: Logo do YouTube. Fonte: Google Images. ..................................... 68
Figura 22: Capa da Time. Fonte Amaro (2011) Acesso em:6/2/2012. ............. 96
Figura 23: Vídeo “Mídias Sociais”. Fonte: YouTube. Acessado em 23/01/2012.
....................................................................................................................... 101
Figura 24: Vídeo Xixi Sentado, Violão e Faroeste Caboclo. Acesso em:
25/02/2012 ..................................................................................................... 109
Figura 25: Vídeo “Ano Novo!”. Acesso em 26/01/2012 .................................. 116
11
Sumário
INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12
1. AS REDES DIGITAIS EM EVOLUÇÃO ................................................. 15
1.1. A Internet como ferramenta de comunicação ........................................ 15
1.2. A topologia das redes ............................................................................ 20
1.3. Evolução dos recursos tecnológicos com a Internet .............................. 23
1.3.1. A internet como ambiente social ...................................................... 34
2. A REDE SOCIAL DIGITAL E A PRESENÇA DAS TIC’S ...................... 40
2.1. A evolução das redes digitais ................................................................ 40
2.2. Os diversos tipos de redes sociais ........................................................ 47
2.2.1. AOL.................................................................................................. 47
2.2.2. ICQ .................................................................................................. 49
2.2.3. Bate papo UOL ................................................................................ 52
2.2.4. MSN ................................................................................................. 54
2.2.5. Orkut ................................................................................................ 56
2.2.6. Facebook ......................................................................................... 60
2.2.7. Twitter .............................................................................................. 62
2.2.8. YouTube .......................................................................................... 64
3. UM ESTUDO SOBRE O PÚBLICO E O PRIVADO ............................... 69
3.1. Gênese conceitual ................................................................................. 69
3.2. Ótica do direito ....................................................................................... 76
3.3. Espaço e território .................................................................................. 78
4. VIDEOGRAFIAS E ATORES NA REDE YOUTUBE .............................. 82
4.1. Videografias de si .................................................................................. 82
4.2. Cenários e atores .................................................................................. 86
4.3. A evidenciação do público e do privado nas videografias de si ............. 92
5- METODOLOGIA DO ESTUDO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ......... 97
5.1 Resultados .............................................................................................. 99
5.1.1 Não faz sentido! ................................................................................ 99
5.1.2 Mas poxa vida ................................................................................. 107
5.1.3
Ora.Poys ..................................................................................... 114
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 124
7. REFERÊNCIAS .................................................................................. 127
APÊNDICE ............................................................................................. 138
12
INTRODUÇÃO
A constante presença das Tecnologias da Informação e Comunicação
(TIC’s) na sociedade contemporânea representa uma drástica mudança de
paradigma no cenário da Comunicação Social e da vida cotidiana. É possível
contemplar uma profunda otimização das ferramentas de conversação e
interação online, bem como o crescente interesse dos indivíduos pelas
chamadas redes sociais digitais.
Logo, devido ao grande número de internautas atraídos pelo ambiente
de rede, a rede passou de ferramenta à ambiente social, que, unido ao fato de
ser um não-lugar onde qualquer indivíduo pode criar um espaço para si,
proporciona uma sensação de liberdade em todos os sentidos.
A partir disso, os interesses por esta pesquisa iniciaram, inteirados ao
fato que os limites do que se pode dizer e mostrar nas redes também sofreu
uma grande mudança – fato este que pode ser constatado dentro das mais
diversas redes sociais digitais presentes no ciberespaço. É possível observar
uma grande quantidade de informações pessoais sendo depositada nas redes
todo o tempo, que, sendo em fala ou escrita, contribui para algo que se
assemelha a uma verdadeira manifestação da vida comum dentro de uma ótica
onde impera a subjetividade. Observa-se uma tendência de expor o cotidiano
das mais diversas formas e a que mais chamou a atenção desta pesquisa
foram as expressadas através da construção de vídeos autorrepresentativos,
que enchem a rede de compartilhamento de vídeos online YouTube de novos
materiais todos os dias.
Logo, refletindo a respeito das mudanças trazidas por esta nova
realidade, o interesse desta dissertação foi sendo norteado e definido, sendo
possível chegar à questão problema cujo desenvolvimento e investigação
proporcionou os frutos de pesquisa que poderão ser contemplados mais à
frente.
Partindo da observação inicial descrita, o problema identificado foi:
como se apresentam o público e o privado na postagem de um vídeo auto
representativo na rede social YouTube?
Como hipótese, acredita-se que os usuários que voluntariamente
disponibilizam conteúdos pessoais, o fazem como forma de expressão pessoal,
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seja como forma de auto propaganda ou o desejo de emitir alguma opinião
e/ou crítica sobre determinado assunto que necessita discorrer.
Este estudo ainda visa alcançar os seguintes objetivos:
Geral: analisar a prática de disponibilização de conteúdos de caráter
pessoal através de vídeos autorrepresentativos na rede YouTube e
desenvolver um estudo sobre o público e o privado.
Específicos:
a) Pesquisar a história e a evolução das redes digitais e seus reflexos nas
redes sociais;
b) Analisar o conceito de público e privado na perspectiva das redes sociais
digitais;
c) Examinar as “representações do eu” com o surgimento das videografias
de si;
d) Estudar algumas produções de videografias postadas na rede social
YouTube na perspectiva do público e privado, além de uma análise
semiótica.
Para identificar e analisar a evidenciação do público e do privado nas
videografias de si, como metodologia deste estudo foram utilizadas pesquisas
qualitativas, exploratórias e descritivas, envolvendo levantamento bibliográfico,
relatos dos usuários e entrevista, organizados em estudo de caso.
Através da análise das informações obtidas como resultados desta
pesquisa foi possível categorizar o estudo de cada videografia escolhida, em
que foram propostas feitas análises não apenas da apresentação dos conceitos
de público e privado, mas dos atores, dos cenários e do feedback do público
internauta – que seria parte da constituição do sentido de existir esse material.
Para tecer essa proposta, esta dissertação foi estruturada em cinco
partes. Na primeira parte, é possível contemplar a gênese e evolução do
conceito de rede, bem como sua utilização como meio de comunicação e
sociabilidade. Também foi analisada sua estrutura, através de topologia, e a
criação e evolução da tecnologia responsável por todos esses processos: a
Internet.
14
Na segunda parte deste trabalho foram analisadas as redes sociais
digitais e os mais diversos tipos que existem na atualidade, assim como as
redes que já utilizavam o mesmo tipo de tecnologia desde o final da década de
90. Nesta mesma parte também foi estudada a rede que é plano de fundo
deste trabalho: o YouTube.
Na terceira parte foram trabalhados os conceitos de público e privado
bem como sua leitura conforme diferentes óticas do conhecimento. Foi ainda
feita uma análise de espaço e território vertendo para os dois conceitos, que já
haviam sido estudados também na segunda parte desta pesquisa.
Na quarta parte foram apresentadas reflexões sobre as videografias de
si e os atores, sendo analisados o seu conceito e ocorrência na rede escolhida.
Foram analisados os elementos que constituem uma videografia, os fortes e
diferentes tons de autorrepresentação e os temas comumente narrados,
geralmente ancorados em situações corriqueiras.
Na quinta parte definiu-se a metodologia usada para o levantamento das
videografias de si no YouTube juntamente com a identificação dos canais
pessoais chamados vlogs. Todos os vlogs identificados foram analisados,
porém escolhidos aqueles em que foi constatada maior evidenciação de
informações pessoais. Buscou-se verificar a disposição dessas informações, os
planos de fundo utilizados pelos atores, os tons autorrepresentativos e o
retorno de público, isto é, o nível de identificação do público com o vídeo
escolhido. Por fim, seguiram-se as considerações finais referentes a esta
pesquisa.
15
1. AS REDES DIGITAIS EM EVOLUÇÃO
Com o avanço das TIC’s (Novas Tecnologias da Informação e
Comunicação) e da difusão do espaço virtual no século XXI, a sociedade
contemporânea se depara com novos paradigmas que surgem à medida que
essas inovações se difundem. Inclusive, é possível observar que a expressão
“rede social”, é uma das mais utilizadas nesses momentos que Bauman (2008)
aponta como de liquidez e transformações da sociedade de modo geral.
Apesar de esta expressão estar em voga no século XXI, as redes sociais
vão além do que parece consensual – como os sites de relacionamento, fóruns
de discussão e comunidades virtuais – visto que sua gênese não reside no
espaço virtual, e sim nas Ciências Exatas. Tais elementos são apenas fruto de
uma evolução que teve início no século passado e que, com o passar dos
tempos, veio adquirindo novos significados até os dias presentes.
É importante ressaltar que os estudos à respeito da teoria das redes
sociais permearam todo o século XX trazendo consigo uma nova visão social à
partir do conceito de rede. No século XXI é possível contemplar todos os
desdobramentos que esse modelo proporcionou (e ainda proporciona) às mais
diversas áreas do conhecimento e como tem marcado a sociedade e seus
hábitos, trazendo mudanças inclusive no cenário onde a discussão é o público
e o privado.
Logo, o momento que se vive no ano de 2012 é o que Castells (1999)
chama de Sociedade em Rede, expressão esta que mostra que a revolução da
tecnologia da informação adentrou todas as esferas da atividade humana e tem
promovido uma transformação histórica. Para ele, estas novas tecnologias não
são simplesmente ferramentas aplicáveis e sim processos a serem
desenvolvidos. E será desse processo que será tratado a seguir.
1.1. A Internet como ferramenta de comunicação
A Comunicação Social se transforma a cada instante na presença das
novas tecnologias, onde um novo canal para interação é aberto a todo o
momento, favorecendo e otimizando o processo de troca de mensagens entre
um emissor e um receptor.
16
Em meio às TIC’S, a Internet, considerada a rede das redes, é a grande
protagonista dos processos inovadores da CMC (comunicação mediada por
computador). Logo, é essencial contar uma das histórias mais incríveis que a
humanidade pôde contemplar e continuará contemplando ao longo dos
séculos, daquela que é o “tecido das nossas vidas” (CASTELLS, 2003).
Castells, que é sociólogo, conta essa história de forma bastante profunda em
sua obra “A galáxia da Internet”, que será tomado por base a seguir.
Segundo ele, as origens da Internet são encontradas na Arpanet, que foi
a primeira rede de computadores já montada. Sua criação foi obra da
Advanced Research Projects Agency (ARPA), datada em setembro de 1969.
A ARPA foi um órgão formado em 1958 pelo Departamento de Defesa
dos Estados Unidos com o objetivo de mobilizar recursos de pesquisa, em
especial do mundo universitário, visando alcançar superioridade tecnológica
militar em relação à União Soviética na esteira do lançamento do primeiro
Sputnik1, em 1957.
É interessante observar que a Arpanet, nesta época, era apenas um
pequeno programa de um dos departamentos da ARPA, o IPTO (Information
Processing Techniques Office), fundado em 1962. O IPTO tinha por finalidade
estimular a pesquisa em computação interativa, sendo a Arpanet parte desse
esforço para tornar possível aos vários centros de computadores e grupos de
pesquisa que trabalhavam para a agência o compartilhamento online de
informação.
Para montar a rede interativa de computadores, o IPTO valeu-se de uma
tecnologia revolucionária para a época, de transmissão de telecomunicações: a
comutação por pacote. Carvalho (2006) nos explica que nas redes de
computadores baseadas nessa técnica, “a informação é dividida em pequenas
partes (pacotes) antes de ser enviada” e que “a comutação de pacotes permite
que diversos usuários compartilhem um mesmo canal de comunicação”.
Este projeto teve por autores Paul Baran e Donald Davies na Rand
Corporation, que propuseram ao Departamento de Defesa a construção de um
sistema militar de comunicações capaz de sobreviver a um ataque nuclear.
Embora esse não tenha sido o objetivo central por trás do desenvolvimento da
1
O Sputnik foi o primeiro satélite artificial lançado da Terra para o espaço, pela extinta URSS.
17
Arpanet, o IPTO usou essa tecnologia de comutação por pacote no projeto da
rede (CASTELLS, 2003, p. 14).
Castells (2003) nos mostra que os primeiros nós da rede estavam nas
universidades de Los Angeles, Santa Bárbara e Utah, em 1969.
Figura 1: Primeiros nós da Arpanet (Fonte: Arpanet Maps)
Esse pequeno número de nós foi crescendo gradualmente e em 1971
chegou ao número de 15 nós, sendo a maioria em centros de pesquisa
universitários, conforme mostra a imagem abaixo:
Figura 2: As conexões de Internet. (Fonte: Arpanet Maps)
Em outubro de 1972, o IPTO organizou uma grande e bem sucedida
demonstração da ARPANET durante a primeira International Conference on
Computer Communications (ICCC), em Washington, DC, nos Estados Unidos.
18
Um nó da ARPANET foi instalado no hotel da conferência, com quarenta
máquinas de demonstração disponíveis para o público, que comprovou, até
para os mais céticos das empresas telefônicas, que as redes de pacotes
funcionavam (CARVALHO, 2006, p. 19 e 20).
Logo, o passo seguinte foi tornar possível a conexão da Arpanet com
outras redes de computadores, introduzindo, assim, um novo conceito: uma
rede de redes. Neste período a ARPA já administrava outras redes de
comunicação, a PRNET e a SATNET (CASTELLS, 2003, p. 14).
Almeida (2005), professor e analista de sistemas, em seu ponto vista
sobre o desenvolvimento da Internet, ressalta que:
A importância da ARPANET era tal que, em 1972, foi
rebatizada DARPANET em que o D significava Defense e
lembrava que a rede dependia do Pentágono o qual financiava
os investimentos para a ligação entre computadores
geograficamente afastados de modo a ser permitido o seu
acesso remoto e a partilha de fontes de dados. (ALMEIDA,
2005)
Tornando à visão de Castells (2003), em 1973, dois cientistas da
computação, Robert Kahn, da ARPA, e Vint Cerf, da Universidade Stanford,
delinearam a arquitetura básica da Internet baseando-se em pesquisadores do
Network Working Group, grupo técnico cooperativo que reunia representantes
dos centros de computação ligados pela Arpanet. Com isso, foi desenvolvida a
tecnologia necessária para que as redes pudessem falar umas com as outras,
originando, assim, protocolos de comunicação padronizados. Tais protocolos,
como o TCP (protocolo de controle de transmissão) e o IP (protocolo
intrarrede), são padrões que continuam em operação até hoje.
Para Carvalho (2006), mestre em Engenharia de Sistemas, entre os
projetos de implementação do TCP/IP, o de maior sucesso se deu na
Universidade de Berkeley quando, em 1983, a universidade passou a distribuir
o código do sistema operacional UNIX com o TCP/IP embutido.
Segundo Laureano (2003), professor do programa de pós graduação em
Informática da PUC/PR, o sistema UNIX foi criado por Ken Thompson, Dennis
Ritchie, entre outros, para ajudar no controle dos projetos internos do próprio
laboratório, sendo este um sistema básico e voltado principalmente para
programadores e cientistas.
19
Laureano (2003) acredita que um ponto importante dessa evolução foi
em 1979, quando o sistema foi lançado comercialmente, sendo conhecido
como “Versão 7”. Segundo ele, após algum tempo, em 1982, alguns problemas
da versão 7 foram corrigidos e foi lançada a versão chamada de "System III"
(Sistema Três).
Já Castells (2003) nos mostra que uma experiência mais relevante com
o sistema foi uma versão desenvolvida proveniente da Universidade da
Carolina do Norte, no mesmo ano de 1979. Ele conta que quatro estudantes
projetaram um programa para a comunicação entre computadores UNIX, sendo
uma versão aperfeiçoada desse programa distribuída gratuitamente numa
conferência de usuários UNIX em 1980. Este fato permitiu a formação de rede
de comunicação entre computadores – fato este bastante relevante em meio a
esse cenário de desenvolvimento da CMC.
Voltando um pouco a linha do tempo, em 1975, a Arpanet sofreu mais
transformações, sendo transferida para a Defense Communication Agency. No
ano de 1983, o Departamento de Defesa, no qual a Arpanet foi criada, criou
outra rede, independente e para usos militares específicos: a MILNET. Com
isso, a Arpanet tornou-se Arpa-Internet, sendo utilizada para fins de pesquisa.
Em fevereiro de 1990, a Arpanet se tornou tecnologicamente obsoleta e
foi tirada de operação e a Internet foi libertada de seu ambiente militar pelo
governo dos EUA. Pouco tempo depois, sob a administração da National
Science Foundation, a
Internet foi privatizada
e sua tecnologia foi
comercializada, financiando fabricantes de computadores do país para incluir o
TCP/IP em seus protocolos, na década de 80. Na altura da década de 90, a
maior parte dos computadores norte-americanos tinha capacidade de entrar na
rede, base esta que lançou a difusão da interconexão de redes.
No início da década de 90, muitos provedores e serviços de Internet
montaram redes próprias em bases comerciais. Castells (2003) nos chama
atenção que:
A partir de então, a Internet cresceu rapidamente como uma
rede global de redes de computadores. O que tornou isso
possível foi o projeto original da Arpanet, baseado numa
arquitetura em múltiplas camadas, descentralizada, e
protocolos de comunicação abertos. Nestas condições, a Net
pôde se expandir pela adição de novos nós e a reconfiguração
20
infinita da rede para acomodar necessidades de comunicação.
(Castells, 2003, p. 15)
Logo, é possível compreender que a rede foi sendo reconfigurada ao
longo dos tempos a fim de atender as novas condições sociais e
comunicacionais que surgiam, contribuindo, assim, para o seu crescimento.
É importante ressaltar ainda que, na visão de Castells (2003), a Arpanet
não foi a única fonte da Internet, como é conhecida hoje. A própria história da
evolução dos computadores confunde-se um pouco com a da evolução da
Internet, visto que o formato atual da mesma é também resultado da base de
formação de redes de computadores.
1.2. A topologia das redes
Para melhor compreender como funcionavam as conexões de rede na
época da Arpanet, será explicada a sua topologia. Segundo informações do
Programa de Pós Graduação em Informática da Universidade Federal da
Paraíba (UFP) (acesso em 2011)2, topologia de rede é o layout físico dos fios
que conectam os nós da rede. Há três tipos de topologias comuns: estrela, anel
e barramento linear.
Conforme informações do site, na estrutura disposta em forma de
estrela, sempre existe um equipamento no centro da rede que coordena o fluxo
das informações, conforme ilustração abaixo:
Figura 3 – Topologia de rede em estrela.
Fonte: Google Images, 2011.
2
Disponível em: http://www.di.ufpb.br/raimundo/Tutoredes/redes.htm.
21
Nesta rede, para fluir a comunicação, um micro deve enviar o pedido ao
controlador, que então passará as informações ao destinatário. Pode ser bem
mais eficiente que o em barra, mas tem limitação no número de nós que o
equipamento central pode controlar e, se o controlador parar de funcionar, cairá
também toda a rede consigo – o que torna esse tipo de rede um tanto
vulnerável.
Para Souza (1994), como esta estação tem a responsabilidade de
controlar os enlaces, esta deve possuir elevado grau de inteligência, uma vez
que todo o controle de fluxo de mensagens através da rede deve ser por ela
efetuado.
Na topologia de rede em barramento, existe um sistema de conexão em
forma de cabo que interliga os vários micros da rede. Nesse caso, o software
de controle do fluxo de informações deverá estar presente em todos os micros
(UFP, acesso em 2011).
Figura 4 – Topologia de rede em barramento.
Fonte: Google Images, 2011.
Assim, quando um micro precisa comunicar-se com outro, ele libera na
linha de comunicação uma mensagem com códigos para identificar qual micro
deverá receber as informações que se seguem. Pode apresentar problemas de
eficiência, visto ser de baixa confiabilidade, pois qualquer problema no
barramento impossibilita a comunicação em toda a rede. (UFP, acesso em
2011).
Cada nó da rede atende por um endereço na barra de transporte,
portanto, quando uma estação conectada no barramento reconhece o
endereço de uma mensagem, esta a aceita imediatamente, caso contrário, a
despreza (SOUZA, 1994).
22
A terceira e última topologia, conforme o portal da UFP (acesso em
2011), é uma rede em anel que pode ser considerada uma rede em
barramento, com as extremidades do cabo juntas.
Figura 5 – Topologia de rede em anel.
Fonte: Google Images, 2011.
Esse tipo de ligação não permite tanta flexibilidade quanto à ligação em
barramento, forçando a uma maior regularidade do fluxo de informações
suportado por um sistema de detecção, diagnóstico e recuperação de erros nas
comunicações mais sofisticadas.
Uma interrupção no anel pode ser prontamente identificada e isolada,
uma vez que o transmissor não recebe a confirmação da recepção da
mensagem por ele enviada. A correta localização da estação defeituosa pode
ser efetuada por cronometragem da mensagem, ou ausência de "status" da
estação (SOUZA, 1994).
A partir dessa compreensão de como funcionavam as redes na Arpanet,
entendemos o que Silva (2011), mestre em Cognição e Linguagem, afirma,
quando relata que
(...) desta forma, a Internet, com sua arquitetura técnica,
permitia a interconexão de todas as redes de computadores em
qualquer lugar do mundo e hoje pode ser entendida como uma
rede de comunicação global, com uso e realidade em evolução
como produtos da ação humana. (SILVA, 2011, p. 39).
23
No século XXI a estrutura predominante é a teia, em que os nós (atores)
são ligados por arestas (conexões), cuja estrutura os autores Souza (2004) e
Castells (1999) apontam como a predominância da rede das redes, conforme a
própria denominação do termo Internet.
Figura 6 – Estrutura em teia.
Fonte: http://marcosmucheroni.pro.br/blog/?p=2421. Acesso em: 12/09/2011.
1.3. Evolução dos Recursos Tecnológicos Com a Internet
Após essa compreensão acerca de como funcionavam as redes da
Arpanet, é possível chegar a mais um ponto crucial da história da criação e
evolução da Internet: a criação da WWW, a famosa sigla do World Wide Web
(teia de alcance mundial).
Tal criação foi o que permitiu à Internet abarcar o resto do mundo no ano
de 1990, fato este devido à Tim Berners Lee, programador inglês, funcionário
do CERN (European Organization for Nuclear Research) ou Organização
Européia para Pesquisa Nuclear. Este laboratório foi fundado em 1954 na
fronteira franco-suíça, perto de Genebra e é um dos maiores e mais
respeitados centros do mundo em pesquisa científica (CERN, 2008).
24
Prosseguindo, na narração de Monteiro (2008), mestre em Design,
(...) a World Wide Web nasceu da necessidade de compartilhar
dados entre os membros dos diversos projetos de pesquisa em
andamento no CERN. Ela foi concebida como uma ferramenta
de troca de informações mais amigável que as interfaces
“somente-texto” então utilizadas. Baseado no conceito de
hipertexto (...), Tim desenvolveu uma linguagem de
programação (chamada HTML, ou HyperText Markup
Language) que permitia ao usuário – utilizando um mouse e um
software chamado “browser” (navegador), desenvolvido
especialmente com esta finalidade – acessar diversas
informações de modo não linear, indo de um documento (fosse
ele texto, imagem ou som) a outro através de ligações entre
eles, mesmo que estivessem em computadores remotos. A
primeira demonstração pública da WWW foi realizada em
dezembro de 1990. Em maio de 1991 ela foi implementada nos
computadores do CERN. (MONTEIRO, 2008).
Logo, com a entrada da World Wide Web, segundo Goethals, Aguiar e
Almeida (2000), torna-se possível criar servidores de informação, onde se
incluem textos, imagens e multimídia, dotando-se o mundo da Internet dos
meios necessários para a construção de uma verdadeira teia de informação.
Pouco tempo depois da criação da WWW, o jornalista Vieira (2003, p. 7)
aponta que o Centro Nacional Para Aplicações em Supercomputadores dos
EUA (NCSA), no campus da Universidade de Illinois, deu início à criação de um
programa que possibilitou a visualização de conteúdo da Web de forma mais
agradável aos usuários, (que antes eram limitados à tela negra com letras
verdes) através do sistema Gopher. Porém, pouco depois entrou em cena o
Mosaic, criado por Marc Andreessen, um dos mais brilhantes alunos do NCSA,
no ano de 1993. Devido a este fato, as autoras mencionadas anteriormente
inteiram que isto reforçou a vertente comercial da Internet, provocando uma
verdadeira explosão no consumo de informação, sendo o tráfego World Wide
Web, o mais procurado.
A partir deste inegável sucesso que a WWW trouxe, Lévy (1998), filósofo
da informação, afirma que a criação da World Wide Web trata-se,
provavelmente, da maior revolução na história da escrita desde a invenção da
imprensa.
Em termos de Brasil, a Web teve o primeiro contato com o país em
1988, quando a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
25
(FAPESP), ligada à Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, realizou a
primeira conexão à rede através de uma parceria com o Fermilab, um dos mais
importantes centros de pesquisa dos Estados Unidos (VIEIRA, 2003, p. 9).
O autor nos explica que tal fato coube aos professores da Universidade
de São Paulo (USP), que tocaram o projeto em conjunto e inauguraram a
conexão no dia seguinte. Ele relata ainda que, na mesma época, a
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Laboratório Nacional de
Computação Científica (LNCC), em Petrópolis, também se conectaram a
Internet através de links com universidades americanas (VIEIRA, 2003, p. 9).
O fim da década de 80 e toda a década de 90, de forma geral, foram
cruciais para a instituição da Web no país, pois nesta década o governo federal
juntamente com o Ministério da Ciência e Tecnologia abraçaram a causa e
criaram a RNP (Rede Nacional de Pesquisa), cujo objetivo era implantar uma
moderna infraestrutura de serviços de Internet com abrangência nacional. A
RNP contou com o apoio da FAPESP, FAPERJ (Fundo de Apoio à Pesquisa do
Estado do Rio de Janeiro) e FAPERGS (Fundo de Apoio à Pesquisa do Estado
do Rio Grande do Sul) sob a coordenação política e orçamentária do CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). (UFMG3,
acesso em 2011).
Para Afonso (2000),
(...) desde então, a história da RNP não deixa margem a
dúvidas quanto ao seu papel pioneiro na alavancagem da
Internet brasileira, consolidando uma espinha dorsal nacional
de ensino e pesquisa apesar dos recursos limitados
disponíveis, e estendendo seu apoio a vários projetos sociais
(mesmo enfrentando eventuais oposições de setores da
comunidade acadêmica), servindo portanto de alavanca
fundamental do desenvolvimento da rede no país. (AFONSO,
2000).
Novamente conforme informações postada na página da UFMG (acesso
em 2011), em 1991 foi feita uma apresentação de um planejamento feito de
uma forma mais adequada de interconectar os diversos centros de pesquisa do
país. Tal planejamento incluía a aprovação da implantação de um backbone,
(rede principal por onde passam os dados dos clientes da internet, também
3
Disponível em: http://homepages.dcc.ufmg.br/~mlbc/cursos/internet/historia/Brasil.html
26
conhecida como espinha dorsal) para a RNP, financiada pelo CNPq. Porém, a
lentidão e os problemas apresentados no modelo inicial obrigou um
planejamento de forma mais adequada de interconectar os diversos centros de
pesquisa do país, planejamento este refeito e lançado no mesmo ano.
Neste período, é importante ressaltar que este primeiro backbone era
destinado exclusivamente à comunidade acadêmica (RNP, 2002).
No ano seguinte, o backbone estava conectado na seguinte forma no
país:
Figura 7 – Mapa da evolução do backbone no Brasil no ano de 1992.
Fonte: RNP, 2011.
Conforme mostra a figura 7, a velocidade alcançada pelo sinal era bem
baixa (mínima de 9,6 Kbps e máxima de 64 Kbps) e os backbones não
estavam presentes em todos os Estados brasileiros. Havia predominância no
Sul, parte do Sudeste, do Centro Oeste, do Nordeste e apenas Belém no Norte.
O que se viu nos anos seguintes, segundo Vieira (2003, p. 10), além de
um crescimento gradual na utilização da Internet no meio acadêmico e sua
franca expansão nos Estados Unidos, foi uma disputa pelos direitos de acesso
27
à rede no Brasil. Segundo ele, o governo federal manifestou a intenção de
investir e promover o desenvolvimento da Internet no país, numa ação conjunta
entre os ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e das Comunicações (MC).
A RNP entraria com a experiência adquirida no meio acadêmico e com a
estrutura de base e a Embratel exploraria comercialmente a rede.
Persegona e Alves (2004), mestres em Política e Gestão de Ciência e
Tecnologia, explicam essa questão afirmando que
(...) a abertura da Internet comercial no Brasil teve início no
final de 1994 e, em 1995, os provedores de acesso comerciais
à Internet começam a operar. Neste mesmo ano, foi criado o
Comitê Gestor da Internet no Brasil para fomentar o
desenvolvimento dos serviços de Internet, recomendar
padrões, procedimentos técnicos e operacionais, coordenar a
atribuição de endereços de Internet, o registro de nomes de
domínios e a interconexão do backbones brasileiros com os do
exterior. (PERSEGONA e ALVES, 2004).
Para Vieira (2003, pg. 11), a criação do Comitê Gestor de Internet foi o
último ato significativo do governo. Para ele, o CG é, “até hoje, o cérebro do
governo quando o assunto é a rede mundial de computadores”.
Segundo a portaria4 interministerial criada em Maio de 1995 (CGI, 1995),
o MC e o MCT criaram o Comitê Gestor com os seguintes objetivos:
a) fomentar o desenvolvimento de serviços INTERNET no Brasil;
b) recomendar padrões e procedimentos técnicos e operacionais para a
INTERNET no Brasil;
c) coordenar a atribuição de endereços INTERNET, o registro de nomes
de domínios, e a interconexão de espinhas dorsais;
d) coletar, organizar e disseminar informações sobre os serviços
INTERNET.
No mesmo documento também há informações de que
O CG optou por atuar de modo transparente, convidando
membros da sociedade e potenciais provedores de serviços
Internet para participarem de suas reuniões, criando grupos de
trabalho em áreas estratégicas, disponibilizando um endereço
4
Disponível em: http://cgi.br/publicacoes/artigos/artigo5.htm
28
Internet para receber correspondências de qualquer natureza e
apresentando-se na Internet através de um servidor WWW.
(CGI, 1995).
Também é importante destacar o período entre 94 e 96 devido ao
notável crescimento do alcance dos backbones, conforme mostra a imagem
abaixo:
Figura 8 – Mapa da evolução do backbone no Brasil no ano de 1994.
Fonte: RNP, 2011.
No ano de 94, conforme mostra a figura 8, é possível observar uma
expansão dos backbones no país, porém havendo uma queda na velocidade
mínima do sinal (velocidade mínima de 2,4 Kbps e máxima mantida em 64
Kbps). Nota-se que a Internet passou a ser presente também em Manaus,
Cuiabá, Goiânia, Campina Grande e São Luiz.
Ainda neste ano o Governo Federal brasileiro cria o Sistema
Administração dos Recursos de Informação e Informática com a finalidade de
29
realizar o planejamento, a coordenação, a organização, a operação, o controle
e a supervisão dos recursos de informação e de informática para o governo.
(PERSEGONA e ALVES, 2004).
Em abril de 1995, o governo abriu o acesso aos backbones, fornecendo
conectividade a provedores de acesso comerciais. Este passo gerou um dilema
entre os usuários e parceiros da RNP. O estudioso Ernest Wilson (2000) revela
que "muito cedo irromperam disputas no Brasil sobre o papel da RNP, se esta
deveria permanecer numa rede estritamente acadêmica com acesso livre para
acadêmicos e taxada para todos os outros consumidores". Porém, o tempo
resolveria este dilema com o crescimento acelerado da internet comercial no
Brasil, que falaremos mais à frente.
Com essa abertura de acesso, EMBRATEL lança o Serviço Internet
Comercial, em caráter experimental e com conexão internacional de 256 Kbps.
Cinco mil usuários foram escolhidos para testar o serviço, segundo
informações da página TecMundo (2011), do portal de notícias Terra.
A figura abaixo mostra um comunicado feito naquela época:
Figura 9 – Comunicado da Embratel.
Fonte: TecMundo, 2011.
30
No ano seguinte nota-se uma franca expansão do sinal no país, que
chega a áreas até mais remotas, como a região Noroeste; e um aumento da
velocidade da conexão. O valor da velocidade máxima passou a ser de
velocidade mínima (64 Kbps) e o máximo alcançou 5 Mbps, valor este notável
em comparação ao primeiro, conforme mostra a figura abaixo:
Figura 10 – Mapa da evolução do backbone no Brasil no ano de 1996.
Fonte: RNP, 2011.
Ainda no ano de 96, a Internet comercial no Brasil chegou com uma
infraestrutura insuficiente para atender à demanda dos novos provedores de
acesso comercial e, principalmente, dos seus usuários (CARVALHO, 2006).
Segundo Carvalho (2006), neste período a Embratel se desligava do
mercado de provimento de Internet para pessoas físicas e a e a RNP ainda se
estruturava para permitir o acesso dos novos provedores comerciais ao seu
backbone, deixando muitos usuários sem se conectar.
Ainda na narração do autor,
31
(...) a Embratel tentou ser o grande provedor da Internet
comercial no Brasil, mas sua iniciativa acabou sendo
bloqueada
pela
forte
estratégia
governamental
de
desestatização da economia, que começava pelo setor de
telecomunicações. (CARVALHO, 2006).
Porém, ele explica que no ano seguinte iniciou-se o processo de
privatização das empresas do Sistema Telebrás, após o qual, a Embratel, já
em meio a um cenário de competição de mercado, acabou por implementar a
maior infraestrutura de backbone Internet da América Latina. (CARVALHO,
2006).
Neste período, com o crescimento da Internet no país, a RNP pôde
retirar seu apoio e voltar novamente sua atenção para a comunidade científica.
A partir de 1997, iniciou-se uma nova fase com o investimento em tecnologias
de redes avançadas (RNP, 2002).
Nesse mesmo ano também se destacam os primeiros passos do
comércio eletrônico no Brasil, assim como os primeiros casos de e-mails
indesejados (spams), conforme informações do Jornal da UFRJ (2006).
Ainda segundo as informações do Jornal da UFRJ (2006), até o ano de
2005 fatos marcantes a respeito da Internet no Brasil são listados, tais como:
1998: sites de notícias divulgam, em tempo real, a apuração
das urnas que reelegeram Fernando Henrique Cardoso; surge
o Zipmail, primeiro serviço de e-mail gratuito; a Jovem Pan
inaugura a transmissão de rádio on-line;
1999: foram criados os sites Mercado Livre (compra e venda de
produtos) e a loja virtual Submarino;
2000: crescem os provedores de acesso gratuito; a conexão de
Banda Larga se populariza; o iMusica é a primeira loja
brasileira de canções em MP3 (compressor de arquivos de
áudio);
2001: a Uolsat disponibiliza a conexão de Banda Larga via
satélite.
2002: comunicadores instantâneos como o Messenger, blogs e
fotologs ganham popularidade;
2003: lançada a primeira versão do Skype (software capaz de
fazer conexões de Voz Sobre Internet Protocol - VoIP);
2004: surge o site de comunicação e relacionamento virtual
Orkut, cujos brasileiros se tornam maioria em pouco tempo;
2005: o número de internautas em todo o mundo ultrapassa a
marca de um bilhão (UFRJ, 2006).
Em um artigo para o portal do CGI, Santos (2007) afirma que houve
melhoria nos índices de acesso ao computador e à internet no ano de 2006.
32
Segundo ele, o índice de pessoas que já utilizaram o computador passou de
45,2% em 2005 para 45,7% em 2006. O número de pessoas que utilizou o
computador nos últimos três meses passou de 29,7% para 33,1%. O índice dos
que já acessaram a internet cresceu de 32,2% para 33,3% e dos que utilizaram
a internet nos últimos três meses aumentou de 24,4% para 27,8%. Já o
percentual dos que nunca utilizaram o computador e a internet caiu de 54,8%
para 54,3% e de 67,8% para 66,7%, respectivamente (SANTOS, 2007).
Entre 2007 e 2008, o percentual de domicílios ligados à Internet sobe de
20% para 23,8%, conforme pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2009). A pesquisa ainda aponta que
(...) em 2008, 17,95 milhões de domicílios brasileiros (31,2%)
possuíam microcomputador, sendo 13,7 milhões (23,8%) com
acesso à Internet. Mais da metade dos domicílios com
computador (10,2 milhões) estavam no Sudeste, dos quais
7,98 milhões tinham com acesso à Internet (IBGE, 2009).
Já segundo informações da agência web Avellar e Duarte (2010), que
realiza projetos web e procura registrar os aprendizados das práticas diárias e
pesquisas sobre o assunto, até o final de 2009 o uso de internet cresceu 7%
em relação a 2008, chegando a 27% dos domicílios com acesso à web (cerca
de 13 milhões de usuários). Eles afirmam que 36% dos domicílios brasileiros
possuíam PC, crescimento de 9% em relação ao mesmo período de 2008, com
índice de 28%.
Ainda conforme as informações do portal,
(...) em dezembro de 2010, haviam 43, 3 milhões de usuários
de internet ativos no Brasil, 0,6% a menos que em novembro e
18% a mais que em dezembro de 2009. O total de pessoas
acima de 16 anos com acesso à internet em qualquer lugar
(residências, trabalho, escolas, lan houses, bibliotecas e
telecentros) chegou a 73,7 milhões no segundo trimestre do
ano. Sites de comércio eletrônico foram acessados por 29,7
milhões de pessoas, dos quais 25,4 milhões navegaram em
sites de lojas de varejo (AVELLAR e DUARTE, 2010).
Finalmente, até 29/11/2010, a sétima edição da F/Radar, levantamento
sobre internet no Brasil, mostrou que
33
(...) entre a população brasileira com mais de 12 anos, 54%
costumam acessar a internet, isto é, 81,3 milhões de pessoas.
O principal local de acesso é a lan house, com 31%, seguido
da própria casa, com 27%, e da casa de parente de amigos,
com 25% F/(NAZCA, 2010).
Tais dados mostram como, gradualmente, os domicílios brasileiros
adotaram os computadores pessoais e como a rede das redes vem crescendo
no país, número este que ainda tende a crescer exponencialmente.
Ainda é importante observar a evolução da banda larga de Internet em
meio a esse processo. Segundo o doutor em Comunicação Murilo Ramos
(1999), o termo faz referência à largura de banda, isto é, “a capacidade de uma
rede, sua amplitude de frequência para carregar sinais de comunicações” que
“depende tanto do meio físico como a fibra óptica, quanto da possibilidade de
se produzir alterações na natureza dos sinais” (1999, p. 173).
Conforme dados do Plano Nacional para Banda Larga (acesso em 2012)
a ANATEL não define banda larga em termos de taxa de transmissão mínima,
embora regulamente serviços de telecomunicações capazes de provê-la, em
alguns casos combinado com um serviço de valor adicionado. Eles afirmam
que:
Assim, é possível notar que embora as definições de banda
larga sejam sempre expressas em termos de capacidade de
acesso, medida em bits por segundo, não há um consenso
sobre que valor essa medida deve assumir. Isso pode ser
explicado pela dificuldade de se estabelecer padrões de tráfego
que espelhem a diversidade de expectativas, comportamentos
e padrões de uso dos consumidores finais e pelo explosivo
crescimento de tráfego, o qual torna obsoleta qualquer
definição que se baseie apenas na largura de banda do acesso
à Internet, exigindo constantes atualizações (acesso em 2012).
Logo, após a compreensão do conceito e prosseguindo nas análises,
como visto anteriormente o sinal da Internet era transmitido através da rede
telefônica. Porém, Cecílio (2000) afirma que:
Foi percebido que a utilização da rede telefônica, tendo como
base a comutação de circuitos, para o acesso à Internet não
era, claramente, uma boa solução. A taxa obtida é pequena
demais, em função da limitação que é imposta à banda
passante pelos equipamentos utilizados na telefonia tradicional.
Ainda, o emprego da comutação de circuitos para o transporte
do tráfego de acesso à Web, que é tipicamente em rajadas, é
34
ineficiente. Além disso, a rede telefônica foi planejada para
conexões que duram, em média, poucos minutos, enquanto
uma conexão à Internet pode levar horas. Na mesma época
(meados dos anos 90) houve também grande popularização do
uso da multimídia. Houve então um clamor, tanto de clientes
quanto de provedores, pelo acesso residencial com maiores
taxas e ao surgimento da necessidade, do ponto de vista das
operadoras, de liberar a rede telefônica do uso para acesso às
redes de dados, sejam a Internet (Web) ou redes corporativas
(2000, p. 5).
Com isso, as soluções propostas e utilizadas até hoje são ser
organizadas em quatro categorias: as baseadas no uso da planta de cabos
telefônicos, as baseadas na planta de TV a cabo, as baseadas na planta de
distribuição de eletricidade e as baseadas em redes sem fio.
Toda esta evolução da Internet no Brasil e no mundo, é apenas o
começo de muitas possibilidades que ainda estão por vir, frutos de uma
sociedade que a cada dia avança mais tecnologicamente: a Sociedade em
Rede (CASTELLS, 1999).
1.3.1. A internet como ambiente social
Após a análise do surgimento e evolução da Internet, avaliaremos a
mesma como um ambiente social – ambiente este que está inserido no espaço
virtual regido pela Internet, conhecido como ciberespaço.
O ciberespaço, nas palavras de Lévy (1994) é uma
(...) palavra de origem americana, empregada pela primeira vez
pelo autor de ficção científica William Gibson, em 1984, no
romance Neuromancien (Neuromancer). O ciberespaço
designa ali o universo das redes digitais como lugar de
encontros e aventuras, terreno de conflitos mundiais, nova
fronteira econômica e cultural. (Lévy, 1994, p. 104).
Para o autor, “o ciberespaço constitui um campo vasto, aberto, ainda
parcialmente indeterminado”, cuja vocação é “interconectar-se e combinar-se
com todos os dispositivos de criação, gravação, comunicação e simulação”
(LÉVY, 1994).
Com isso, é possível compreender que o ambiente de rede remete a um
lugar. Embora seja sabido que a Internet não está firmada em um espaço
35
físico, é possível questionar como a mesma poderia ser considerada um
território.
Logo, as noções básicas da compreensão dos termos de espaço e
território tem suas bases epistemológicas na Geografia e ao aprofundar essa
discussão, é possível encontrar Milton Santos e María Laura Silveira (2008),
dois geógrafos renomados, que explicam os termos. Para eles, por território
entende-se geralmente a extensão apropriada e usada. Já num sentido mais
restrito, os autores explicam que território “é um nome político para o espaço
de um país” (SANTOS e SILVEIRA, 2008).
Porém, Saquet (2008), pesquisador do CNPq e Silva (2008), mestre em
Geografia, mostram que
(...) se entendermos o território apenas como uma área
delimitada e constituída pelas relações de poder do Estado,
consoante
se
entende
na
geografia,
estaríamos
desconsiderando diferentes formas de enfocar o seu uso, as
quais não engessam a sua compreensão, mas a torna mais
complexa por envolver uma análise que leva em consideração
muitos atores e muitas relações sociais. (2008, p. 8).
E essas diferentes formas de enfocar o uso do território também são
exploradas por Santos e Silveira (2008), que afirmam que o sentido da palavra
“territorialidade” como sinônimo de pertencer àquilo que nos pertence é um
sentimento de exclusividade e limite ultrapassa a raça humana e prescinde da
existência de Estado (SANTOS e SILVEIRA, 2008).
Porém, ao repensarmos essa questão nos dias hoje, século XXI, com a
presença e constante evolução das tecnologias, entendemos que limites físicos
não tornam a concepção de um território impossível, visto que as relações
sociais e o sentimento de pertencimento (SANTOS E SILVEIRA, 2008) também
constituem esses limites em ambientes naturais ou artificiais.
Pensando nisso, Souza (2006) doutor em Comunicação e Costa (2006),
mestre em Cognição e Linguagem, afirmam que “o ambiente artificial produzido
pelo homem também é ambiente. Como tal, influencia a configuração cultural
da humanidade assim como o ambiente natural”. Assim, além do ciberespaço
ser capaz de reproduzir uma cultura natural, também é apto à criação de uma
cultura própria, genuinamente do espaço virtual.
36
Logo, o ciberespaço, ou espaço virtual é também espaço, guardando
características de ambiente, no que se refere à sua capacidade de interferir na
produção e reprodução da cultura. Sendo espaço, é também lugar. (SOUZA E
COSTA, 2006).
O conceito de lugar aplicado ao ciberespaço também quebra
paradigmas, pelo fato de o virtual não ser concreto ou tangível no mundo real.
A Internet é o maior exemplo da nova configuração espacial (MOCELLIM,
2009). Para o autor,
Nestes novos lugares ocorre a invenção de uma cibersociabilidade, que se forma em sites e em softwares que
interligam usuários da rede. Estes novos lugares virtuais foram
por muitos autores denominados como comunidades virtuais.
Tendo a característica de uma localidade, sendo identitários,
permitem a interação de seus “habitantes” independentemente
de um espaço físico que defina e delimite sua identidade
(MOCELLIM, 2009).
Logo, é possível entender que em meio a essa nova concepção de
lugar, as relações entre os atores também são características que vão
“demarcar” essa localidade, pois através das relações, somadas a uma
sociabilidade identitária e a um conjunto de significados compartilhados, são
tornados possíveis os lugares (MOCELLIM, 2009).
Alguns autores, como Marc Augé, porém, defendem a idéia de que o
ciberespaço não é um lugar, mas um não lugar, por não ser tangível
fisicamente. Logo, esse não lugar é caracterizado pelo navegar entre os sites
que atribui o sentido de movimento como se fosse uma viagem neste espaço
virtual (OLIVEIRA e VIDOTTI, 2003).
Esta é uma
(...) definição de não-lugar em um novo ponto de referência
espaço-temporal das abstrações dos sentidos, introduzidos na
virtualidade do Ciberespaço, mediada pela informática,
sugerindo novas maneiras de agir, ser e estar privada da
concretude dos lugares. (OLIVEIRA E VIDOTTI, 2003).
Já numa ótica antropológica, é possível citar Augé (1994), etnólogo
francês, que coloca a questão do não lugar como fruto do que ele chama de
supermodernidade. Para ele, “se um lugar pode se definir como identitário,
relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário,
37
nem como relacional, nem como histórico definirá um não-lugar” (AUGÉ, 1994,
p. 73).
Com isso há de se compreender que
(...) Augé identifica os não-lugares como diferentes dos lugares
antropológicos. Os não-lugares passam pelos sentidos, pelas
possibilidades dos percursos que possibilitam, pelos discursos
que engendram e pela linguagem que os caracteriza
(SARTORI, 2004).
Augé
(1994)
ainda
propõe
que
“acrescentemos
que
existe
evidentemente o não lugar como o lugar: ele nunca existe sob uma forma pura;
lugares se recompõem nele; relações se constituem nele (...).” Para ele,
(...) o lugar e o não lugar são, antes, polaridades fugidias: o
primeiro nunca é completamente apagado e o segundo nunca
se realiza totalmente – palimpsestos que se reinscreve, sem
cessar, o jogo embaralhado da identidade e da relação (1994,
p.74).
A socióloga Sá (2006, p. 180) também comenta os não lugares segundo
a ótica de Augé, e, relacionando o termo com a supermodernidade, explica que
Estamos numa sociedade da velocidade e do consumo, que se
materializa no espaço através das auto estradas, grande
supermercados, centros comerciais, aeroportos, etc. São estes
os não lugares, que correspondem a um espaço físico, mas
também à forma que os atores sociais aí se relacionam,
correspondem a uma lógica funcional cuja preocupação é
tornar cada vez mais rápida a movimentação na sociedade e a
satisfação das necessidades (2006, p. 180).
Porém, quando torna-se novamente para o ciberespaço, algo importante
a se destacar é que, sendo um lugar ou não lugar, é possível experimentar
uma sensação de deslocamento no mesmo. O usuário do ciberespaço é,
portanto, um viajante que desloca as paisagens, sendo que são as paisagens
que passam e não seu corpo (SARTORI, 2004).
Em um segundo momento, será analisado também o ambiente virtual
quanto à sua concretude. É comum que pensemos que o ciberespaço seja uma
espécie de mundo paralelo, mediado pela tecnologia, e o coloquemos como
uma “realidade virtual”, sem existência no “mundo real”.
38
Pensando nisso, Federico Casalegno (1999), pesquisador do Centro de
Estudos do Atual e do Quotidiano (CEAQ/Sorbonne - Paris V), em uma
entrevista com a psicóloga do Instituto de Tecnologia de Massachussets Sherry
Turkle, objetivou a compreensão sobre as fronteiras entre o real e o virtual,
conforme mostra o trecho abaixo:
FC — Pode-se observar que à difusão de novas formas de
comunicação corresponde uma crescente diferenciação entre o
dito real e o virtual. A senhora concorda com essa
esquizofrenia que opera cada vez mais buscando dividir essas
duas dimensões da existência?
Sherry Turkle — Acho que se comete um erro grave ao falar-se
em vida real e em vida virtual, como se uma fosse real e a
outra não. Na medida em que as pessoas passam tempo em
lugares virtuais, acontece uma pressão, uma espécie de
expressão do desejo humano de tornar mais permeáveis as
fronteiras do real e do virtual. Em outros termos, creio que
enquanto os especialistas continuam a falar do real e do virtual,
as pessoas constroem uma vida na qual as fronteiras são cada
vez mais permeáveis. Assim, não gosto de falar do real e do
virtual, mas antes do virtual e do resto da vida. Não V-R, Vida
Real, mas R-V, Resto da Vida, pois se as pessoas gastam
tanto tempo e energia emocional no virtual por que falar do
material como se fosse o único real? Enquanto a maioria das
pessoas parece querer separar o virtual do real, R-V, não faço
essa distinção. Prefiro, insisto, referir-me ao virtual e ao resto
da vida, R-V, para evitar o emprego da palavra “real”. Penso
que, cada vez mais, há menos necessidade de usar uma
oposição tão categórica. No futuro, as fronteiras permeáveis
serão as mais interessantes para estudar e compreender. As
pessoas sempre terão necessidade da “imediaticidade” do
contato humano, sempre terão vontade de discutir em torno de
uma xícara de chá, de ver onde o outro mora, fisicamente, com
o corpo (CASALEGNO, 1999).
É possível observar com isso que um movimento geral de virtualização
afeta hoje não apenas a informação e a comunicação, mas também os corpos,
o funcionamento econômico, os quadros coletivos da sensibilidade ou o
exercício da inteligência (LÉVY, 1996).
Esta é a realidade que Lévy (1996) chama de “virtualização”, que para
ele consiste em “movimento inverso da atualização”, visto que a atualização
seria a “invenção de uma solução exigida por um complexo problemático” (p.
17). O autor ainda explica que “a virtualização não é uma desrealização (a
transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma
mutação de identidade (...)”. Para ele:
39
(...) virtualizar uma entidade qualquer consiste em descobrir
uma questão geral à qual ela se relaciona, em fazer mutar a
entidade em direção a essa interrogação e em redefinir a
atualidade de partida como resposta a uma questão particular.
(1996, p. 17-18).
Aplicando o conceito à definição de espaço, Eisenberg (2003), Ph.D. em
Ciência Política, explica que “um espaço virtual é aquele cuja atualização
depende de circunstâncias que lhe são exteriores.” Para ele:
(...) a característica central do processo de virtualização é a
desterritorialização, não a produção de um novo espaço. A
virtualização da comunicação humana já estava presente, por
exemplo, na comunicação telefônica, uma vez que a interação
nesse caso é desterritorializada. O que muda na comunicação
virtual, portanto, é o fenômeno “interação”. (EISENBERG,
2003).
E esse fenômeno ao qual o autor se refere é o que mais está presente
nos dias de hoje no ciberespaço: a interação em tempo quase real,
extremamente presente nas chamadas redes sociais digitais, que será visto no
capítulo a seguir.
A partir disso, o que vemos é a construção de uma nova realidade que
teve início na extinta ARPANET, que abriu um mundo de possibilidades através
do que hoje entendemos como o virtual e que tende, ainda, a trazer mais
mudanças.
40
2. A REDE SOCIAL DIGITAL E A PRESENÇA DAS TIC’S
No capítulo anterior foi trazido o histórico e uma compreensão acerca da
Internet, desde a sua gênese até sua chegada ao Brasil. Foi possível
acompanhar a criação e o desenvolvimento da ARPANET e como a rede foi
sendo reconfigurada ao longo dos tempos a fim de atender as novas condições
sociais e comunicacionais que surgiam até se tornar a Internet que
conhecemos hoje.
Com a expansão – tanto de sinal, quanto de acesso – da rede no país,
os brasileiros se inseriram em uma nova realidade com o advento da sociedade
em rede e do ciberespaço, onde é tudo construído pela mediação do
computador (RECUERO, 2009, p. 31). Com isso, a rede passou a ganhar mais
popularidade e acessos, tornando-se mais que um instrumento, mas um
ambiente capaz de reproduzir cultura humana.
Hoje, com o número acessos à rede em pleno crescimento, é possível
contemplar uma chuva de visitas às chamadas redes sociais digitais, uma das
maiores tendências do ciberespaço no século XXI. Logo, propomos agora a
compreensão desta nova realidade presente no espaço virtual.
2.1. A Evolução das Redes Digitais
Os estudos a respeito da teoria das redes sociais permearam todo o
século XX trazendo consigo uma nova visão social a partir do conceito de rede.
Hoje – século seguinte – é possível contemplar todos os desdobramentos que
esse modelo proporcionou e ainda proporciona às mais diversas áreas do
conhecimento.
Falar em redes remete a uma diversidade de definições e significa
trabalhar com concepções variadas nas quais parecem misturar-se idéias
baseadas no senso comum, na experiência cotidiana do mundo globalizado ou
ainda em determinado referencial teórico-conceitual. (ACIOLI, 2007).
Mas, inicialmente, o interesse pelo estudo de redes se deve às Ciências
Exatas e, para a jornalista e pesquisadora Raquel Recuero (2004),
matemáticos e físicos trouxeram as maiores contribuições para o estudo das
41
redes, que depois foram absorvidas pela sociologia, na perspectiva da análise
estrutural das redes sociais.
A autora mostra que, de acordo com o estudo inicial das redes, as
primeiras teorias se basearam nos trabalhos do matemático Ëuler, no século
XVIII, período este em que criou a Teoria dos Grafos, que é uma das bases do
estudo das redes sociais. Em sua essência, um grafo é uma representação de
um conjunto de nós conectados por arestas, formando uma rede.
Nesta teoria Ëuler utilizou, pela primeira vez, a metáfora de rede ao
publicar, em 1736, um artigo sobre o enigma das Pontes de Königsberg
(SILVA, 2011).
Recuero (2009) conta que a cidade de Königsberg (território da Prússia
até 1945, atual Kaliningrado, na Rússia) é cortada pelo Rio Prególia, onde há
duas grandes ilhas que, juntas, formam um complexo que na época continha
sete pontes. Discutia-se nas ruas da cidade a possibilidade de atravessar todas
as pontes sem repetir nenhuma. Ëuler provou que não existia caminho que
possibilitasse tais restrições, transformando os caminhos em retas e suas
intersecções em pontos (nós, partes), criando possivelmente o primeiro grafo
da história (RECUERO, 2009, p.19).
Figura 11 – Grafo das Pontes de Königsberg.
Fonte: Google Images, 2011.
As implicações deste modelo ganharam importância nas Ciências
Sociais, de forma que também poderia ser aplicado na observação dos
indivíduos e suas interações (RECUERO, 2009, p. 20).
Para a pesquisadora Marteleto (2001), quando o conceito de rede parte
da idéia de nodos e elos, como uma estrutura sem fronteiras e não geográfica,
42
a rede social “passa a representar um conjunto de participantes autônomos,
unindo idéias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados”.
É importante notar, ainda, que desde o século XX até o presente, as
discussões acerca desse assunto ganharam relevância em diversas outras
áreas do conhecimento, trilhando um caminho além das Ciências Exatas e
Sociais e revelando um caráter interdisciplinar. Marteleto e Silva (2004)
reforçam essa idéia e mostram que:
A análise de redes sociais interessa a pesquisadores de vários
campos do conhecimento que, na tentativa de compreenderem
o seu impacto sobre a vida social, deram origem a diversas
metodologias de análise que têm como base as relações entre
os indivíduos, em uma estrutura em forma de redes
(MARTELETO e SILVA, 2004).
Tal fato pode ser confirmado devido à forte presença também no campo
sociológico, que, para a doutora em Sociologia Sílvia Portugal (2007), tornouse central na teoria sociológica e deu azo a inúmeras discussões sobre a
existência de um novo paradigma nas ciências sociais.
Já no ciberespaço, quando o termo rede social é analisado,
imediatamente somos remetidos ao fenômeno da Comunicação Mediada pelo
Computador (CMC), onde o ator e suas conexões são os protagonistas e onde
a interação social e como se estabelecem esses vínculos são os principais
objetos de estudo. Também é comum ser adicionado o termo “digital” à
expressão “rede social” neste plano de fundo que denota o espaço virtual.
De mesmo modo é essencial ressaltar a importância da Internet, que
como já mostrado, é a base tecnológica de todo esse processo que possui o
ciberespaço como pano de fundo, considerada o “tecido das nossas vidas”
(CASTELLS, 2003).
Quando analisa a rede, Castells explica que “a formação de redes é uma
prática muito antiga, mas as redes ganham vida nova em nosso tempo
transformando-se em redes de informação energizadas pela Internet”
(CASTELLS, 2003). Logo, para o autor, a informação também é peça chave
para compreensão do conceito de rede no ciberespaço.
Tornando a Raquel Recuero (2009), a autora mostra que redes sociais
na Internet possuem dois elementos característicos que servem de base para
43
que a rede seja percebida e suas informações sejam apreendidas: os atores e
suas conexões. É importante destacar que é neste conceito de rede social que
este capítulo está fundamentado.
Prosseguindo, para os pesquisadores Tomaél, Alcará e Di Chiara (2005)
as “redes sempre pressupõem agrupamentos, são fenômenos coletivos, sua
dinâmica implica relacionamento de grupos, pessoas, organizações ou
comunidades, denominados atores”. Logo, os atores são todos os indivíduos
que possuem participação nesse processo, sendo os elos da corrente.
Os atores são o primeiro elemento da rede social, que são
representados pelos nós. Eles atuam de forma a moldar as estruturas sociais
através da interação e constituição de laços sociais, conforme aponta Recuero
(2009, p. 25).
A doutora em Sociologia Scherer-Warren (2006) também mostra que as
redes, por serem multiformes, aproximam atores sociais diversificados – dos
níveis locais aos mais globais, de diferentes tipos de organizações –, e
possibilitam o diálogo da diversidade de interesses e valores – detalhe este
muito importante na análise das relações na rede.
Já quando se fala em conexões, elas podem ser percebidas pelos laços
sociais e interações à pouco tratados. Para Recuero (2009, p.28), as conexões
são o principal foco do estudo das redes sociais, pois é a sua variação que
pode alterar a estrutura desses grupos. Logo, as interações, as relações e os
laços sociais são elementos dessas conexões.
Em meio a esse contexto de aproximação dos atores, mais um
importante conceito deve ser analisado: o de comunidade virtual. Mais uma vez
Recuero traz contribuições, e afirma que historicamente, o ser humano sempre
foi um animal gregário que, por questão de sobrevivência, trabalhava em
grupos que mais tarde evoluíram para as primeiras comunidades (RECUERO,
2001).
Porém,
(...) a idéia de comunidade moderna começou a se distinguir de
seu protótipo antigo, apoiando-se em diferentes princípios de
coesão entre os seus elementos constituintes, como o
contraste entre parentesco e território, sentimentos e
interesses, etc. O conceito de comunidade foi identificado com
diversos aspectos, como a coesão social, a base territorial, o
44
conflito e a colaboração para um fim comum, e não mais a
idéia de uma relação familiar (...) (RECUERO, 2001).
E no século XXI o que se tem é um novo tipo de comunidade que
emerge da atual sociedade informatizada (PRIMO, 1997), já caracterizada de
forma distinta. Por isso, um novo conceito surge para definir claramente esses
relacionamentos, surgidos no seio da CMC. O de "comunidades virtuais", que
seria o termo utilizado para os agrupamentos humanos que surgem no
ciberespaço, através da comunicação mediada pelas redes de computadores
(SOBRINHO, 2003).
Rheingold (1993), especialista em comunidades virtuais, mostra que:
(...) pessoas em comunidades virtuais usam palavras na tela
para trocar gentilezas e discutir, envolver-se em discurso
intelectual, conduzir o comércio, trocar conhecimento,
compartilhar apoio emocional, fazer planos, brainstorm, fofoca,
briga, se apaixonar, encontrar amigos e perdê-los, jogar, flertar,
criar arte e conversar fiado. Pessoas em comunidade virtuais
fazem quase tudo o que as pessoas fazem na vida real, mas
nós deixamos nossos corpos para trás. Você não pode beijar
ninguém e ninguém pode lhe dar um soco no nariz, mas muitas
coisas podem acontecer nesses limites (1993, tradução nossa).
Logo, por ser um fenômeno coletivo, a decisão de um ator em se
envolver ou não em uma ação coletiva depende do lugar em que ele se
encontra no grupo: dos efeitos da influência dos amigos e dos efeitos espaciais
e temporais (PASSARELLI, GUZZI, DIMANTAS E KIYOMURA, 2009).
Já quando se fala em conexões, é possível notar que elas podem ser
percebidas de várias formas e se dão através dos laços sociais. Para Recuero
(2009), as conexões são o principal foco do estudo das redes sociais, pois é
sua variação que altera as estruturas desses grupos.
Com isso, prontamente lembramos que essas conexões se dão através
das diversas ferramentas de comunicação oferecidas pelo ciberespaço. São
infinitos canais de chat, vídeos e telefonia; fóruns de discussão; redes de perfis
e comunidades; entre outros softwares e aplicativos que permitem e otimizam a
comunicação entre usuários da rede do mundo inteiro, praticamente sem
fronteiras, promovendo aproximação em tempo quase real entre os atores
desse processo.
45
Através dessa otimização comunicacional, laços sociais vão sendo
criados e fortalecidos. Pensando nisso, a autora nos propõe uma reflexão
acerca desses laços sociais em seu artigo “Mapeando redes sociais na Internet
através da conversação mediada pelo computador” 5, onde ela explica que o
laço social conecta atores, como resultado da sedimentação das relações
estabelecidas entre eles, podendo esses laços ser fortes ou fracos. Para ela,
(...) laços sociais são combinações de relações sociais, que,
por sua vez, são compostas de interações. Laços são,
portanto, conexões construídas durante as trocas sociais entre
os atores de uma determinada rede. Laços possuem, portanto,
algum nível de reciprocidade em sua constituição. (RECUERO,
acesso em 2011).
Logo, é possível compreender que esses laços levam às construções de
relacionamentos entre os atores, que vão variar de acordo com a reciprocidade
mencionada por Recuero.
Tomando esse processo como uma construção coletiva, Primo (2006),
pesquisador em Cibercultura, também faz uma ponte com a questão do
relacionamento quando afirma que
(...) a interação social é caracterizada não apenas pelas
mensagens trocadas (o conteúdo) e pelos interagentes que se
encontram em um dado contexto (geográfico, social, político,
temporal), mas também pelo relacionamento que existe entre
eles (PRIMO, 2006).
Segundo ele, “para estudar um processo de comunicação em uma
interação social não basta olhar para um lado (eu) e para o outro (tu, por
exemplo). É preciso atentar para o “entre”: o relacionamento” – que é fator
característico da CMC e da própria rede. Para o autor, os graus de intensidade
de
relacionamento
entre
os
indivíduos
variam
de
acordo
com
o
comprometimento dos envolvidos.
Recuero (2005) ainda explica que esses laços podem ser fortes ou
fracos. Para ela:
Laços fortes são aqueles que se caracterizam pela intimidade,
pela proximidade e pela intencionalidade em criar e manter
5
Artigo disponível no Blog Social Media em: http://www.pontomidia.com.br/raquel/artigos/mapeando.pdf
46
uma conexão entre duas pessoas. Os laços fracos, por outro
lado, caracterizam-se por relações esparsas, que não traduzem
proximidade e intimidade. (RECUERO, 2005).
Porém, nem todos os usuários dos espaços de interação possuem
necessariamente algum laço. Lemos (2002) contribui para este debate
afirmando que, em meio a esse espaço de interação, “existem certos
agrupamentos sociais em que os participantes não guardam qualquer vínculo
afetivo e/ou temporal, são apenas formas de agregação eletrônica”.
Por outro lado, para a doutora em Comunicação Corrêa (2004),
(...) de qualquer modo o ciberespaço potencializa o surgimento
de comunidades virtuais e de agregações eletrônicas em geral
que estão delineadas em torno de interesses comuns, de
traços de identificação, pois ele é capaz de aproximar, de
conectar indivíduos que talvez nunca tivessem oportunidade de
se encontrar pessoalmente (CORRÊA, 2004).
Este aperfeiçoamento da CMC representa uma grande mudança no
paradigma da Comunicação Social e tem alterado significantemente a
organização dos sistemas sociais, que também acabam por impactar outras
áreas.
Ainda na visão de Corrêa (2004):
Nesse contexto que possibilita a comunicação mais ágil entre
os indivíduos independentemente da localização geográfica e
em meio a um quadro de mudanças confusas e incontroláveis,
manifesta-se uma tendência nas pessoas de se reunirem em
grupos sociais visando compartilhar interesses em comum
(CORRÊA, 2004).
E esse “reunir” e “compartilhar” se dão diretamente na rede social digital,
sendo este um lugar (ou um não lugar) de interações constantes. Nestes novos
lugares ocorre a invenção de uma ciber-sociabilidade (MOCELLIM, 2009)
facilmente observada pelas próprias características que o ambiente de rede
traz consigo.
Para Portugal (2007), a análise das redes fornece uma explicação do
comportamento social baseada em modelos de interação entre os atores
sociais em vez de estudar os efeitos independentes de atributos individuais ou
relações duais. Por isso propomos a seguir uma análise das diversas redes
47
sociais digitais que são tão presentes no ciberespaço no século XXI e tem
trazidos não apenas uma expansão da comunicação, mas também hábitos
diferentes e uma nova forma de sociabilidade. Mundo este “tão diverso e
contraditório quanto a própria sociedade” (CASTELLS, 2004).
2.2. Os Diversos Tipos de Redes Sociais
Como já observado, em tempos de plena expansão da CMC, é possível
observar a grande aderência dos indivíduos pelas chamadas redes sociais
digitais. “Essa comunicação, mais do que permitir aos indivíduos comunicar-se,
amplificou a capacidade de conexão, permitindo que redes fossem criadas e
expressas nesses espaços: as redes sociais mediadas pelo computador”
(RECUERO, 2009, p. 16).
Essas redes são facilmente identificadas no ciberespaço, tais como o
Orkut, o Twitter, o Facebook, o YouTube, entre outras tantas. Nestes locais, a
comunicação flui principalmente através das ferramentas de chats, que são
bastante ágeis e práticas aos usuários.
Para Oliveira e Meira (2010):
No chat da Web ocorre uma escrita sincrônica, por meio da
qual as pessoas se comunicam mediante um suporte gráficovisual e linguístico, podendo-se escrever e ser imediatamente
lido pelo(s) outro(s). Essa imediaticidade da escrita-leitura entre
as pessoas que utilizam o chat é uma de suas características
principais, conferindo-lhe também a sincronicidade, algo antes
relacionado apenas à oralidade (OLIVEIRA, 2010).
2.2.1. AOL
Para Oliveira (2011), a América Online, um dos primeiros provedores de
internet, foi uma das pioneiras na categoria bate-papo através de mensagens
instantâneas no ano de 1997. Mesmo com o acesso limitado aos assinantes do
provedor, o AOL Messenger teve um papel importante na popularização das
mensagens instantâneas.
48
Figura 12 – Página inicial do bate papo AOL.
Fonte: Oliveira (2011)
Para melhor compreender o famoso provedor, são citadas relevantes
informações da revista INFO (acesso em 2011), que mostram que
(...) líder nos Estados Unidos, a AOL tinha 14 milhões de
assinantes e faturava 3 bilhões de dólares anuais. A chegada à
América Latina tinha o Brasil, a Argentina e o México como
prioridades iniciais. Para tanto, a empresa investiu de 100
milhões de dólares para se estabelecer na região (INFO,
acesso em 2011).
Apesar de todo o sucesso que a AOL já possuía, o investimento em
terras brasileiras não foi compensatório. Uma testemunha ocular deste fato foi
Felipe Zmoginski, funcionário da AOL no ano de 2000. Em depoimento à
revista INFO, ele nos mostra que:
Em 2000 havia grande expectativa de que a AOL pudesse
repetir, no Brasil, a liderança que possuía nos Estados Unidos.
Houve ainda mais euforia em 2001, quando a companhia
fundiu-se ao grupo Time Warner e, então, nada parecia poder
deter a dupla. Afinal, tratava-se do maior provedor de acesso à
web do mundo e da maior empresa de mídia dos Estados
Unidos. Apesar de pesados investimentos em marketing, a
tecnologia da AOL (baseada em browser proprietário,
distribuído no varejo via CD-ROM) parece que nunca
conquistou os brasileiros como fez em outras partes do mundo.
Além disso, o próprio mercado de “provedores de internet”
começou a não fazer muito sentido com o surgimento de
provedores gratuitos e o advento da banda larga. (...) Na época
(ano de 2002), suas ferramentas muito promissoras, como AOL
Busca, começavam a perder mercado irremediavelmente para
49
o Google. No final de 2003, saí da AOL. No início de 2005, a
companhia encerrou suas operações no Brasil. (NFO, acesso
em 2011).
Mesmo com suas atividades encerradas no Brasil, o provedor continua
em atividade, e, recentemente, fechou uma parceria publicitária com o grupo
Yahoo! e com a Microsoft a fim de enfrentar o domínio crescente do Google e
do Facebook.
Segundo uma recente reportagem do jornal Estadão de São Paulo, “a
aliança permitirá que cada uma das companhias venda espaço publicitário para
banners nos sites das parceiras, a partir do começo de 2012” (ESTADÃO,
2011).
O software de mensagens instantâneas AOL também permanece
disponível na rede, em novas versões para os usuários interessados. Para
adquirir o software basta apenas fazer um download, sem necessidade de
cadastramento. É importante destacar ainda que, apesar de ser inicialmente
um provedor de internet, nesta pesquisa acredita-se que a rede guarda
características de rede social devido ao software de conversas instantâneas,
que como visto em Recuero (2009) promove a conexão entre dois atores.
2.2.2. ICQ
O ICQ, sigla que significa, em inglês, I Seek You (eu procuro você), é um
instrumento da Internet revolucionário e de fácil utilização, que informa você
quem está online a qualquer hora e permite que você contate quem está online,
de acordo com a sua vontade (ICQ, acesso em 2011).
Logo,
(...) o ICQ é um comunicador instantâneo (síncrono, portanto),
gratuito (http://www.icq.com), muito difundido entre os usuários da
Internet. As interações são aos pares, isto é, entre duas pessoas,
diferentemente do que ocorre nas sessões de bate papo que podem
agregar vários interlocutores ao mesmo tempo (FREIRE, 2003).
50
Figura 13 – Famoso símbolo do ICQ.
Fonte: icq.com, 2011.
Além dessa peculiaridade de bate papos reservados, o ICQ também
possui outra bem diferente de outros softwares: um número pessoal que a
pessoa recebe ao baixar o programa e se cadastrar (COSTA, 2003).
A criação do ICQ foi um fato marcante na história dos comunicadores
instantâneos e, inclusive, é possível encontrar diversos relatos nostálgicos de
usuários da Internet nos anos de 1996 e 1997 (anos de popularização do
software), que reservavam a madrugada para acessar a rede (horários estes
em que o acesso à Internet discada era mais barato).
Recentemente o software completou 15 anos e a Revista INFO (2010)
também relembrou sua história ano a ano, desde a sua criação, em 1995, até o
ano de 2010. Segundo dados da revista:
1995/1996 – Entediados com os bate-papos pelo sistema
operacional Unix, quatro jovens programadores israelenses,
Yair Goldfinger, Sefi Vigiser, Amnon Amir e Arik Vardi
decidiram se juntar para criar um novo serviço de comunicação
online que fosse mais simples e popular (leia-se: voltado não
só para desenvolvedores e compatível com Windows).
Começava, no quarto de cada um deles, o embrião do serviço.
1996 – O quarteto e o pai de Arik Vardi fundam a empresa
Mirabillis para tocar o projeto. As primeiras versões do ICQ um trocadilho para “I Seek You” - são lançadas para uso
restrito, gratuitamente.
1997 - São lançadas versões em fase beta do ICQ,
compatíveis apenas com Windows. A velocidade da troca de
mensagens e as listas de contatos agradam o público e
chamam a atenção de investidores e empresas americanas.
1998 – Com o enorme sucesso da ferramenta na Europa e nos
Estados Unidos, a AOL compra a Mirabillis em junho pelo valor
de 407 milhões de dólares, o maior valor pago a uma empresa
israelense em toda a história.
51
1999 – Febre mundial, o ICQ começa a despertar um
sentimento de rivalidade em outras empresas, que decidem
explorar o mesmo lucrativo mercado. A Microsoft lança, em
junho de 1999, a primeira versão do MSN Messenger. O
produto, porém, não decolaria. Ainda.
2000 – Depois de comprar a Time Warner, a AOL engloba seu
próprio mensageiro instantâneo (AIM) ao ICQ, fazendo com
que os usuários possam adicionar e compartilhar recursos
entre as duas plataformas. A divisão de atenções no mesmo
setor, contudo, causou um ritmo muito lento de inovações.
Seria o último ano de grande prosperidade para o serviço.
2001 – A Microsoft inicia uma agressiva tática de marketing
para promover o Messenger pelo mundo. O ocidente, aos
poucos, vai se rendendo ao formato mais leve e “clean” da
empresa de Bill Gates. No segundo semestre, grande parte dos
usuários já havia abandonado o serviço criado pelos
israelenses.
2002 – Mesmo sendo algo próximo a um deserto nas
Américas, o ICQ ainda vivia bem na parte oriental e em alguns
países da Europa ocidental, como a Alemanha. A queda rápida
e inesperada do serviço, no entanto, começava a causar crises
na AOL.
2003 – Os negócios do ICQ trocam de comando e as
operações passam a ser voltadas para mercados específicos.
O novo CEO, Orey Gilliam, inicia um período de reerguida do
software.
2004 – ICQ retoma seu crescimento e, focado em países como
Ucrânia, Rússia e Israel, torna-se, nos meses seguintes, um
dos setores mais lucrativos da AOL.
2005 – Com sangue novo, o ICQ atrai muitas parcerias com
sites (de busca, inclusive), emissoras de TV e grandes marcas.
2006/ 2008 – Ainda sem conseguir a expansão do seu
mercado para outros países, o ICQ inova suas estruturas com
Voip, SMS, sistemas de busca, perfis detalhados de usuários e
galerias de imagens e emoticons.
2009 - AOL e Time Warner se separam e deixam o ICQ como
um filho abandonado. Sem muita escolha, o comando é
trocado: Gilliam dá lugar a Eliav Moshe, que se torna o diretor
de operações do serviço.
2010 – Depois de lançar sua nova versão em 16 línguas e ser
sondado pela empresa sul-africana Naspers, o ICQ é
comprado por 187,5 milhões de dólares pela gigante russa
Digital Sky Technologies (ou apenas DST) – menos da metade
do valor que a AOL pagou pela Mirabillis. Hoje, de acordo com
a comScore, o serviço possui 32 milhões de visitantes únicos
todo mês e cerca de 80% dos seus usuários têm entre 13 e 29
anos – na grande maioria, moradores de países como Rússia,
Alemanha, República Tcheca e Israel (INFO, 2010).
Para os interessados, o software continua à disposição para download
gratuito na Internet, em versões mais modernas e integrado a outras redes
sociais. De acordo com o site Techtudo (2011) da Globo.com, uma das
52
principais novidades do novo ICQ é o “Feeds de Amigos”. É o local, dentro do
aplicativo, em que internautas poderão receber atualizações de todos os
amigos, publicadas nas principais redes sociais do mundo: Twitter, Facebook,
Flickr e YouTube, além de outras opções como bate papo em vídeo e
compartilhamento de fotos. Esta versão também é disponível para Mac e Linux
e, assim como o AOL Messenger, basta fazer o download sem necessidade de
cadastramento.
Figura 14 – O novo ICQ.
Fonte: Techtudo, 2011.
2.2.3. Bate papo UOL
O UOL, Universo Online (www.uol.com.br), é um conhecido portal da
Internet que recentemente comemorou 15 anos. É originalmente uma criação
da Folha de São Paulo, que entrou no ar pela 1ª vez em 1995. Porém, em sua
gênese, o portal foi lançado como Folha Web, nomenclatura esta alterada no
mesmo ano para o já famoso Universo Online (UOL, 2011).
Em 28 de abril de 1996 entrou no ar a primeira home page do Universo
Online. Segundo informações do portal, “a home page trazia duas manchetes
53
centralizadas e duas imagens à direita: para conduzir à edição online da revista
Isto É e uma página que explicava o fim da Folha Web”.
Em dezembro do mesmo ano, a nova home marcava a fusão das
operações de Internet da Folha e da Abril. Neste ano também foi incorporado o
famoso bate papo no portal, que foi evoluindo ao longo dos anos.
Em 2011 o bate papo já contava com mais de 7 mil salas e 350 mil
lugares. A navegação é realizada por meio de abas, o que garante maior
agilidade e facilidade para encontrar os temas desejados (UOL, acesso em
2011).
Segundo informações da página do site no Facebook (acesso em 2011),
o UOL é o principal portal de conteúdo do Brasil desde sua estréia, em abril de
1996. Tem o mais extenso conteúdo em língua portuguesa do mundo e atrai
sete em cada dez internautas brasileiros. É atualizado 24 horas por dia, 7 dias
por semana.
O próprio portal disponibiliza informações, perguntas e respostas ao
internauta sobre o funcionamento e a política das salas de bate papo. Na
extensa área sobre os recursos do bate papo, eles explicam que
(...) o bate papo UOL apresenta as quatro grandes divisões:
Cidades, Idades, Temas e Só para assinantes. Em Cidades,
são oferecidas salas de todos os Estados brasileiros e, em
Idades, os internautas podem se encontrar de acordo com a
faixa etária. Também é possível conversar em salas divididas,
ao mesmo tempo, por idade e Estado.
Já a seção Temas concentra assuntos variados e salas de
relacionamentos em geral, oferecendo maior espaço para gays,
lésbicas e afins, com opções para quem deseja fazer novas
amizades ou encontrar um amor.
O assinante tem uma área exclusiva, com acesso restrito (UOL,
acesso em 2011).
Dentro das salas, o usuário pode selecionar as pessoas com quem mais
tecla (até cinco) e deixar os apelidos em abas coloridas abaixo da caixa de
diálogo, o que facilita a identificação. Para evitar que as abas se movimentem
de acordo com a troca de usuários, é possível fixá-las clicando no cadeado à
esquerda do apelido.
O acesso ao bate papo é bastante simplificado, bastando escolher uma
sala e seguir a tela de acesso para bater papo seguindo as coordenadas
mostradas na imagem abaixo:
54
Figura 15 – Acesso ao bate papo UOL.
Fonte: Google Images, 2011.
2.2.4. MSN
O MSN Messenger, rede de mensagens instantâneas também bastante
popular, foi uma criação da Microsoft em julho de 1999. O serviço não era
necessariamente uma novidade no mercado, mas era um software leve e de
fácil instalação. Segundo informações do portal TechTudo (2011),
a primeira versão era composta por recursos bem básicos, com
uma lista de contatos simples. O aplicativo permitia
basicamente se conectar, alterar o status, adicionar e deletar
contatos e se desconectar. Para acessá-lo, era necessário ter
uma conta no Hotmail, MSN ou AOL Instant Messenger
(TECHTUDO, 2011).
Houve uma rápida ascensão da rede, de modo que, com 29,5 milhões
de usuários, o MSN Messenger tornou-se o comunicador mais utilizado em
março de 2001. Sua versão 4.6 foi lançada em outubro do mesmo ano,
juntamente como sistema operacional Windows XP, porém ainda compatível
com os sistemas operacionais anteriores. Nesta nova versão, o MSN
Messenger Service passou a se chamar simplesmente de MSN Messenger.
Cada versão trouxe uma novidade consigo. Em 2005, O que seria o
MSN Messenger 8 acabou ganhando um novo nome, seguindo o intuito da
Microsoft de unificar os programas e fortalecer a marca "Windows Live". Já a
55
versão 8.5, lançada em 2007 foi considerada revolucionária para o
comunicador, por ser a versão que mais trouxe novidades, além de muitas
melhorias, tais como programas gratuitos da Microsoft para fotos, filmes,
mensagens instantâneas, e-mail, blogs, entre outros aplicativos (TECHTUDO,
2011).
Ao longo dos anos, o software foi sendo aprimorado, não apenas no
visual ou nos recursos de chat, mas também ganhou chamadas de voz e
interações via webcam.
Pesquisando o blog próprio do Windows Live6 (acesso em 2011), foi
encontrado o relato de Jeff Kunins, gerente do Programa Group para redes
sociais no Windows Live. Para ele, “IM services really were the original "social
networks””.
Ele ainda explica que:
Serviços de mensagens instantâneas sempre foram otimizados
para compartilhamento entre um círculo íntimo de amigos, e
realmente girou em torno da presença das conversas online e
em tempo real, mais do que conectá-lo ao seu conteúdo e
atividades do resto da web (WINDOWS LIVE, acesso em
2011).7
Com a presença das novas tecnologias, é possível integrar os meios de
comunicação em uma ferramenta única. Pensando nisso, ele afirma que:
Como todo paradigma de comunicação novo e importante ao
longo dos últimos 20 anos, a sede e a demanda que as
pessoas têm para se conectar, comunicar e compartilhar com o
outro é praticamente ilimitada. E-mail não interrompe ou reduz
o uso de telefone - é adicionado a ele. Mensagens
instantâneas não interrompem ou reduzem o e-mail - são
adicionadas a ele. O mesmo vale para celulares e mensagens
de texto, e o mesmo também para redes sociais nos últimos 5
8
anos. (WINDOWS LIVE, acesso em 2011).
6
Disponível em: http://windowsteamblog.com/windows_live/b/windowslive/archive/2010/02/09/windowslive-messenger-a-short-history.aspx
7
Do original: IM services have always been optimized for sharing among a close circle of friends, and
really pivoted around online presence and real-time conversations more than connecting you to your
content and activities from the rest of the Web.
8
Do original: Like every major new communications paradigm over the past 20+ years, the thirst and
demand that people have to connect, communicate, and share with one another is nearly limitless. E-mail
didn’t disrupt or reduce phone usage – it added to it. IM didn’t disrupt or reduce e-mail – it added to it. The
same goes for mobile phones and text messaging, and the same too, for social networking over the past 5 years.
56
Atrelada a essa idéia, surge a versão 2011 do Windows Live, com um
visual totalmente novo e vários recursos como o Painel de Redes Sociais, que
permite que o usuário comunique-se com a lista de contatos enquanto verifica
as atualizações do Facebook, por exemplo. As conversas pela webcam agora
podem ser feitas em tela cheia, em alta definição, e também é possível
compartilhar vídeos assim como no recurso de imagens, implantado na versão
2009 (TECHTUDO, 2011). Para obter o software, basta o download.
Figura 16 – Windows Live versão 2011.
Fonte: Techtudo, 2011.
2.2.5. MySpace
O MySpace foi criado em 2003 por Chris DeWolfe e Tom Anderson,
sendo a maior rede nos Estados Unidos e a 2ª maior no mundo, tendo mais de
110 milhões de utilizadores. O Myspace, Inc. é um destino líder de
entretenimento social alimentado pelas paixões dos fãs. Visando o público da
geração Y (também chamada geração da Internet), o Myspace impulsiona a
interação social por meio de uma experiência altamente personalizada em
torno do entretenimento e conectando pessoas à música, celebridades, TV,
57
cinema e jogos apreciados. Essas experiências de entretenimento estão
disponíveis por meio de plataformas múltiplas, inclusive aplicativos online e
eventos off-line (MYSPACE, 2012).
Uma das características mais marcantes da rede é o seu vasto catálogo
musical. A rede hospeda conteúdos de áudio e vídeo transmitidos
gratuitamente para os usuários com ferramentas para artistas famosos,
independentes ou anônimos, atingirem um novo público.
Segundo informações do blog da rede (2011), em Julho de 2005, a
News Corporation (dona da estação televisiva FOX) anunciou a compra da
então dona do Myspace (Intermix Media). O negócio foi na ordem dos milhões.
Em 2007 e 2008 o Myspace sofreu várias alterações de modo a que pudesse
concorrer com o Facebook que se vinha a afirmar. Segundo eles,
O Myspace foi também redecorado e assemelhando-se agora a
uma loja de musica online como o iTunes, tendo a habilidade
adicional de ser possível criar Playlists. Em Março de 2010,
esta rede social foi novamente actualizada, e durante este
processo foram adicionadas novas funções nomeadamente
jogos, música e vídeos. O site foi alterado para se tornar mais
seguro para os seus utilizadores que agora podem escolher se
o conteúdo que publicam estará visível para todos os amigos
ou somente para os que têm mais de 18 anos. Também o
aspecto tem sido alterado de modo a tornar a rede mais
apelativa, as mudanças deram-se na cor e na barra de
navegação que foi simplificada (Blog do MySpace, 2011).
No portal de tecnologia do site Terra (2009) ainda é colocado que:
O que os fundadores do MySpace sabem e exploraram com
tanto sucesso é o valor do voyeurismo. É no site deles que
qualquer um pode bisbilhotar anonimamente. Como todos os
outros aspectos da fórmula vencedora do MySpace, essa
característica evoluiu por acaso e então inesperadamente
atingiu um nervo. (2009).
Com isso, é possível observar um desdobramento inicial às questões do
público e do privado nas redes sociais digitais, que se desenvolverá mais à
frente.
Para esta pesquisa, considera-se que a rede MySpace entra como uma
rede de transição de dois momentos diferentes para as redes sociais digitais,
pois traz consigo novas características de interação emissor-receptor, distintas
58
das já vistas até então. Também pode-se observar que após o seu surgimento,
as redes sociais digitais seguintes já se diferenciavam bastante das pioneiras,
guardando características mais semelhantes ao MySpace.
Figura 17 – Logo do MySpace
Fonte: Google Images, 2012.
2.2.6. Orkut
O Orkut (www.orkut.com) é uma conhecida rede que ganhou muita
popularidade entre os brasileiros. Para Lisbôa (2010), o Orkut é uma social
network, também conhecida como rede social ou rede de relacionamento na
Internet, criado em 22 de Janeiro de 2004, pelo Engenheiro de Computação
turco Orkut Buyükkokten, com a finalidade de promover a interação entre as
pessoas, estabelecer relacionamentos e criar comunidades em torno de
interesses comuns. O conhecido site é pertencente ao Google.
Segundo Recuero:
Com a aquisição do sistema e posterior lançamento pelo
Google em janeiro de 2004, o Orkut combinava diversas
características de sites de redes sociais anteriores (como a
criação de perfis focados no interesse, a criação de
comunidades e, mesmo, a mostra dos membros da rede social
de cada ator) (RECUERO, 2009, p. 166).
Ainda segundo a narrativa da autora, no início, o Orkut era um sistema
que apenas permitia o cadastro através de um convite feito por outro ator que
59
já estivesse cadastrado. Isso trouxe valorização à rede e a tonou muito popular
no Brasil, atingindo a maioria do sistema em junho de 2004 (RECUERO, 2009).
Para os comunicólogos Morais e Rocha (2005), para participar do Orkut
o usuário tem que preencher um perfil com suas características em três
aspectos: social, profissional e pessoal. Neste perfil é óbvio que usuário pode
mentir ou deixar certas informações em branco, mas se faz necessário passar
pelas inúmeras perguntas para poder participar da comunidade.
Para compreender o funcionamento da rede, é possível citar o sociólogo
Mocellim (2007) que explica que o Orkut dispõe de um sistema que permite o
usuário, partindo de sua página principal, acessar perfis de amigos, e daí de
amigos de amigos, além de possibilitar ao usuário verificar suas comunidades a
todo tempo e, clicando nelas, navegar por comunidades semelhantes.
Ele também nos mostra que:
A interação social no ambiente do Orkut se orienta através de
perfis individuais, que se combinam formando uma rede social
de amigos e comunidades, em que, acessando um perfil de
uma pessoa, se pode ter acesso a outros perfis e outras
comunidades a ela relacionadas. As identidades construídas no
ambiente virtual do Orkut são fundamentais para a orientação
das interações sociais que nele decorrem (MOCELLIM, 2007).
Ao longo dos anos a rede sofreu várias transformações e uma delas é o
cadastro feito de maneira livre, não sendo necessário convite dos usuários do
sistema. Até 2009, foi identificado que cerca de 75% do número total de
usuários da rede eram brasileiros, com risco de alguma queda nos anos
seguintes (RECUERO, 2009, p. 166).
Figura 18 – Logo do Orkut.
Fonte: Google Images, 2011.
60
2.2.7. Facebook
Desde o fim do ano de 2011, quando fala-se em Facebook, é possível
deparar com a maior rede social do mundo Web. Uma pesquisa feita pela
Search Engine Journal relatada na revista Superinteressante (acesso em
2012), mostra que o Facebook tem 310 milhões de visitantes únicos todos os
dias, além de ter o maior mercado entre outras redes: 63,46%.
O Facebook (www.facebook.com) é um sistema que foi criado pelo
americano Mark Zuckerberg, enquanto este era aluno de Harvard. O objetivo
da rede era focar em alunos que saíam do High School (ensino médio), que
estavam migrando para as universidades – fato este muito marcante na vida de
um estudante americano. A rede foi lançada em 4 de fevereiro de 2004 e hoje é
dos sistemas com maior base de usuários no mundo (RECUERO, 2009, p.
172).
A rede tem uma página própria no site, e lá estão descritas informações
e novidades à respeito do próprio Facebook e de seu criador. Conforme essas
informações,
(...) milhões de pessoas usam o Facebook todos os dias para
se manter em contato com amigos, fazer upload de número
ilimitado de fotos, compartilhar links e vídeos e aprender mais
9
sobre as pessoas que encontram (FACEBOOK, 2011).
A história da rede e de seu criador - um prodígio da computação que se
tornou bilionário aos 23 anos - chamou tanta atenção da mídia que o diretor de
cinema David Fincher produziu um longa metragem sobre os bastidores da
criação da rede, intitulado de “A Rede Social” (www.aredesocial.com.br). O filme
estreou no dia 3 de dezembro de 2010, sendo sucesso de crítica e público. O
filme também mostrou a participação de um brasileiro nesse processo, o
programador Eduardo Saverin, melhor amigo do jovem Zuckerberg na época.
Para criar um perfil na rede, assim como o Orkut, é necessário
preencher uma rápido cadastro, onde é pedido nome, sobrenome, e-mail,
senha desejada, sexo feminino ou masculino e a data de nascimento. O site
9
Do original: Millions of people use Facebook everyday to keep up with friends, upload an unlimited
number of photos, share links and videos, and learn more about the people they meet.
61
informa que esse último dado é pedido para encorajar somente maiores de
idade a utilizarem o site.
Figura 19 – Logo do Facebook.
Fonte: Google Images, 2011.
O Facebook funciona através de perfis e comunidades e é possível
acrescentar aplicativos como jogos e ferramentas. O sistema é muitas vezes
percebido como mais privado que outras redes (RECUERO, 2009, p. 172).
Recentemente a rede sofreu várias alterações na página principal e oferece um
design mais dinâmico.
Mais um dado curioso a respeito do Facebook foi relatado pela Revista
Veja (2011), que mostra que o Orkut estacionou no Brasil, perdendo lugar para
o Facebook, que teve um crescimento de 159%.
62
Figura 20 – Crescimento do Facebook.
Fonte: Revista Veja (2011).
2.2.8. Twitter
Para Silva (2011), explicar o que é o Twitter (www.twitter.com) e para
que realmente serve essa ferramenta tem sido um desafio em momentos em
que descobre-se as potencialidades desta ferramenta no compartilhamento
veloz de conteúdo.
Segundo a autora:
O Twitter é uma ferramenta semelhante a um microblog que
mantém um serviço global de mensagens rápidas, onde os
participantes postam as informações e respondiam à pergunta
básica: What are you doing? (O que você está fazendo?). No
entanto, com o tempo e a descoberta pelas potencialidades,
como a agilidade, promovidas pela ferramenta, a “utilidade” do
serviço foi se modificando e a atual pergunta que aparece na
página inicial do site é: What’s happening? (O que está
acontecendo?). O serviço de troca de mensagens foi criado em
2006 por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams, em projeto
da empresa Odeo, e foi “descoberto” pelos internautas,
principalmente pelos brasileiros, em 2008 (SILVA, 2011).
Recuero e Zago (2010) explicam que:
63
O Twitter funciona através da criação de uma conta pelo ator, a
qual lhe dá acesso a uma página onde poderá publicar suas
mensagens. Cada ator pode determinar quem deseja seguir (a
categoria following, aqueles atores de quem receberá as
atualizações) e também poderá ser seguido por outros usuários
(os followers, aqueles que vão receber as suas atualizações).
Por definição, as atualizações (os tweets) são públicas, mas os
atores podem configurar suas contas para que elas se tornem
de acesso privado. A página criada na ferramenta também
pode ser personalizada pelo ator, por meio da escolha de
avatar, cores, imagens etc. (RECUERO e ZAGO, 2010).
O funcionamento básico do Twitter consiste em postagens de conteúdo
com um limite de 140 caracteres e embora uma parte das atualizações
efetivamente responda à pergunta-título, outras apropriações foram surgindo
ao longo do tempo, apropriações estas que construíram novas práticas sociais
no sistema (RECUERO e ZAGO, 2010).
Outra prática utilizada dentro da rede é a tagging, que é uma forma de
facilitar a recuperação de mensagens sobre um mesmo tema, que aparece na
barra lateral (também chamada de side bar) da página principal. De acordo
com Primo (2008):
O hashtag, como foi batizado, é um fenômeno emergente, um
“protocolo social” compartilhado pelas pessoas que conhecem
o processo. Para se “etiquetar” um tweet, utiliza-se o sinal de
sustenido (“hash”, em inglês) antes de uma ou mais palavras
que servirão como tag (PRIMO, 2008).
Muitos autores colocam o Twitter como rede social, mas alguns não
concordam com essa idéia. Em um post feito no ano de 2010 em seu blog10,
Recuero coloca o Twitter de outra forma:
Já falei isso aqui umas quantas vezes. Mas antes de dizer se
uma coisa "é" ou "não é" outra coisa, precisamos definir o que
entendemos como cada uma delas. O Twitter, já falei várias
vezes, é uma ferramenta. Rede social é, basicamente, um
grupo de pessoas interconectado. A rede social seria, assim,
constituída pelas pessoas que usam o Twitter através dele. O
Twitter, portanto, não é mesmo uma rede social. Mas está
CHEIO delas (...). O Twitter hoje é uma ferramenta cuja
importância está nas informações que circulam a partir das
redes sociais que apropriam a ferramenta. Todas as redes
sociais fazem circular informação, mas o Twitter potencializa
10
Disponível em: http://www.pontomidia.com.br/raquel/arquivos/o_twitter_e_as_redes_sociais.html.
Acesso em: 5/12/2011.
64
essa circulação. Essa apropriação informacional, no entanto,
não era algo previsto desde o início. A pergunta inicial do
Twitter "o que você está fazendo?" é talvez um indício disso. O
propósito inicial da ferramenta parece ser aquele mesmo dos
SRSs: o da sociabilidade. No entanto, foi com o uso e a
apropriação das redes sociais que o Twitter passou a
apresentar o que hoje é seu maior valor. Portanto, nesse
sentido, o Twitter também é suas redes sociais, pois depende
dos valores que são criados por elas e de seu uso. São as
redes que dão, em última análise, valor ao Twitter. (2010).
Figura 21 – Logo do Twitter.
Fonte: Google Images, 2011.
No blog do jornal Estadão do ano de 2010 também houve considerações
como a de Recuero. Segundo narra a matéria, durante o Nokia World 2010,
Kevin Thau, vice-presidente de negócios e de desenvolvimento corporativo do
Twitter, anunciou que a rede de microblogging mais popular do mundo não é
uma rede social. “O Twitter é para notícias. O Twitter é para conteúdo. O
Twitter é para informação”, disse. O vice-presidente também quis deixar claro
que está tudo bem se um usuário não acredita ser interessante o suficiente
para ter uma conta própria no Twitter. “Não se desculpe por não twittar – só vá
até o site e consuma conteúdo”, afirmou.
Para participar do Twitter, basta inscrever-se com nome completo, senha
desejada e e-mail.
2.2.9. YouTube
Finalmente, chegamos à rede que é plano de fundo deste trabalho.
Fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, ex-funcionários do site
de comércio on-line PayPal (empresa de pagamento e transferência de
dinheiro via internet comprada em 2002 pelo site de comércio eletrônico eBay)
o site YouTube (www.youtube.com) foi lançado oficialmente sem muito alarde
em junho de 2005, nascido da necessidade de seus criadores em compartilhar
vídeos de forma mais otimizada na Web.
65
Os pesquisadores Burgess e Green (2009) explicam que:
A inovação original era de ordem tecnológica (mas não
exclusiva): o YouTube era um entre os vários serviços
concorrentes que tentavam eliminar as barreiras técnicas para
maior compartilhamento de vídeos na internet. Esse site
disponibilizava uma interface bastante simples e integrada,
dentro da qual o usuário podia fazer o upload, publicar e
assistir vídeo em streaming sem necessidade de altos níveis de
conhecimento técnico e dentro das restrições tecnológicas dos
programas de navegação padrão e da relativamente modesta
largura de banda (2009, p. 17).
Eles ainda contam que nessa história o momento de sucesso chegou em
outubro de 2006, quando o Google pagou 1,65 bilhão de dólares pelo
YouTube.
À
partir
desta
aquisição,
a
rede
começou
a
crescer
consideravelmente, de modo que em abril de 2008, o YouTube já hospedava
algo em torno de 85 milhões de vídeos, um número que representa um
aumento dez vezes maior em comparação ao ano anterior. Amaro (2011, p. 6)
aponta que, quatro anos depois, em 2010, sua popularidade disparou e, hoje,
já são 24 horas de vídeos publicados por minuto e 2 bilhões de visualizações
por dia (um aumento de quase 2.000% em relação a 2006).
Até 2011 a rede já estava traduzida em 43 idiomas em 25 países
(YOUTUBE, acesso em 2011).
Uma característica bem marcante da rede é o seu próprio slogan:
“Broadcast Yourself”, que pode ser entendida como “Transmita-se” ou ainda
“Transmita você mesmo”. Este é um espaço livre não apenas para navegação
através dos vídeos, mas também da criação e compartilhamento de material –
fato este que torna o site um grande agregador de conteúdo. “O YouTube é
hoje, assim, um imenso repositório da experiência da interatividade, uma
infinita instalação do efêmero social” (LOUREIRO, 2007).
Também é preciso considerar que tamanho sucesso do site, sobretudo
no Brasil, se deve ao fato de que a popularização da transmissão desses
vídeos online foi impulsionada pela disseminação da banda larga no Brasil,
conforme novamente nos aponta Amaro (2011, p. 4) e como já mostrado na
primeira parte deste trabalho. Porém, ele também nos explica que
66
É válido lembrar que, inicialmente, o YouTube era alvo de
críticas da imprensa e da opinião pública por hospedar apenas
conteúdo de baixa qualidade técnica e artística, e também por
publicar na rede ilegalmente o conteúdo de canais de TV e de
filmes. Essa visão mudou quando os usuários, e algumas
produtoras de vídeo, passaram a produzir conteúdo
exclusivamente para o YouTube (2011, p.6).
Até hoje, porém, quem ainda utiliza conexão discada (56k) pode assistir
os vídeos da rede, que, segundo informações do próprio site não significa
problemas. Eles afirmam que “uma conexão mais lenta significa simplesmente
serviços mais lentos. Você precisa apenas de mais tempo e paciência do que
se tivesse uma conexão mais rápida” (YOUTUBE, acesso em 2012).
Para criar uma conta no YouTube, basta preencher um formulário de
criação de conta no site ou ativar a página para quem já possui uma conta no
Google (como o Gmail, por exemplo), já que o Google disponibiliza integração
entre seus sites.
Para assistir aos vídeos é necessário apenas ter acesso ao endereço
em que estão hospedados, chamado URL. A possibilidade de publicar vídeos
está disponível apenas para usuários cadastrados gratuitamente. As únicas
restrições de publicação feitas pelo site estão relacionadas à publicação de
conteúdo violento, abusivo ou pornográfico. A maior parte da comunidade
atende as regras e sinalizam os conteúdos considerados impróprios e, uma vez
sinalizado, o YouTube analisa e remove do sistema caso seja comprovado a
violação dos termos de uso (SERRANO e PAIVA, 2008).
Outra restrição importante que o site faz menção é quanto direitos
autorais. No próprio YouTube há uma série de restrições quanto à violação
destes termos:
A violação de direitos autorais acontece quando um trabalho
protegido por direitos autorais é reproduzido, distribuído,
executado, reproduzido publicamente ou inserido em trabalho
derivado sem permissão do proprietário dos direitos
(YOUTUBE, 2011).
No caso da violação dessa regra, o YouTube envia uma notificação ao
usuário informando que o vídeo foi removido por reivindicação de direitos
autorais de terceiros. Em casos de infratores reincidentes, a própria conta do
usuário pode ser suspensa do site.
67
Para realizar uma varredura do material que é constantemente colocado
no site, o YouTube conta com um Programa de Verificação de Conteúdo. Eles
explicam que:
O YouTube tem como compromisso ajudar os proprietários de
direitos autorais a encontrar conteúdo infrator e removê-lo do
nosso site. Com esse objetivo, criamos a Ferramenta de
verificação de direitos autorais, que auxilia os proprietários de
direitos autorais na pesquisa de material supostamente infrator
e no fornecimento de informações relevantes e suficientes para
que o YouTube possa localizar esse material (YOUTUBE,
2011).
Porém, ainda assim é possível contemplar no site materiais como esses,
como programas de televisão, trailers de filmes, comerciais, videoclipes
musicais, etc.
O site também mostra estatísticas detalhadas sobre o seu movimento
intenso de uploads e visualizações. Segundo eles, 48 horas de vídeo são
enviadas a cada minuto, resultando em praticamente oito anos de conteúdo
enviado a cada dia. Quanto às visualizações, mais de três bilhões de vídeos
são vistos por dia e alcançou mais de 700 bilhões de reproduções em 2010
(YOUTUBE, 2011).
No começo de 2012 o YouTube passou por uma modificação em seu
design, gerando uma nova aparência para os usuários e opções de integração
da conta com outras redes sociais, como o Google Buzz, Facebook, Twitter,
Orkut, e, conforme os dados da rede, cerca de 17 milhões de usuários já
aderiram à essa opção.
Outra novidade que também foi possível conferir na rede foi a
possibilidade de parcerias entre o próprio site e seus usuários. Isso acontece
quando determinado canal possui um grande número de visitantes e exibições
de seus vídeos, e a parceria se constitui através da veiculação de anúncios de
poucos segundos antes do vídeo a ser exibido.
Ziller e Moura (2011, p. 11), doutoras em Ciências da Informação e
Comunicação e Semiótica, respectivamente, explicam que a veiculação de
anúncios nos canais do YouTube se dá por meio da participação do
proprietário no programa de parcerias do site e a adesão ao programa é regida
68
por determinações um tanto rígidas. Logo, É o YouTube quem determina se o
candidato a parceiro será aceito ou não.
Além de gerar fins lucrativos para o canal, a parceria estimula a
manutenção do mesmo, como forma de conteúdo exclusivo para o próprio site.
Figura 22 – Logo do YouTube.
Fonte: Google Images.
Após a compreensão geral de diversas redes sociais na Internet e de
uma análise do YouTube como local de análises dessa trabalho, a pesquisa
prosseguirá com análises dos conceitos de público e privado em meio a esse
cenário virtual.
69
3. UM ESTUDO SOBRE O PÚBLICO E O PRIVADO
O público e o privado representam uma dicotomia que vem assumindo
novos patamares em diversos setores da sociedade em geral desde seu
surgimento na Antiguidade Clássica. E ao ser observado o cenário de
avaliações dos conceitos no século XXI, tal fato torna possível constatar que
essa relação vem assumindo um relevante e atual centro de discussões que
tem movido intelectuais e curiosos a respeito do tema.
Falar em público e privado neste século pode remeter a variadas
interpretações, tamanha a diversidade de contextos em que os termos se
encaixam. Ambos os conceitos conferem sentido a áreas bastante distintas
umas das outras, como Direito, Administração, Comunicação, Educação, etc.,
revelando assim, um caráter interdisciplinar e singular dos mesmos.
Apesar de esse tema estar no foco de muitas discussões no século
presente, os estudos a respeito do público e do privado remontam à origem dos
termos em tempos remotos e enraizados no que Arendt (2007), filósofa política
alemã, chama de “Condição Humana” e também mostram como os mesmos já
sofreram modificações com o passar das épocas.
Portanto, a terceira parte desse trabalho propõe que entendamos a
origem desses conceitos tão marcantes na sociedade a fim de que seja
possível acompanhar sua evolução até o tempo presente e estabelecer um
parâmetro com os conceitos já apresentados.
3.1. Gênese Conceitual
Antes de analisar conceitualmente os termos público e privado, é preciso
remontar o contexto em que os termos foram inseridos inicialmente. Buscando
uma visão histórica, foi encontrado em Arendt (2007) um profundo estudo
sobre essa origem.
Logo, remontando à visão da autora, num primeiro momento ela propõe
que compreendamos o homem e sua natureza. Para isso, a autora se utiliza da
expressão vita activa para designar três atividades humanas fundamentais e
70
assim levantar uma reflexão acerca da condição humana e como isso
desencadeia o homem social: o labor, o trabalho e a ação.
Segundo ela, “(...) o labor é a atividade que corresponde ao processo
biológico do corpo humano” (p. 15), o que indica que esta atividade seria a
própria vida em funcionamento, responsável pela sobrevivência do indivíduo e
da espécie.
Em seguida, “(...) o trabalho é a atividade correspondente ao
artificialismo da existência humana” (p. 15), trabalho este que produz um
mundo de coisas diferente do ambiente natural, onde o homem passa a
produzir objetos e compartilhar seu conhecimento com outros.
Já a ação, “(...) única atividade que se exerce diretamente entre os
homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição
humana da pluralidade” (p. 15), sendo esta uma “atividade política por
excelência”.
Estas são as condições para a compreensão inicial da condição humana
como um todo, pois estão ligadas aos processos naturais e íntimos da
existência humana. Mas isso não é tudo: Arendt ainda revela sua visão dos
homens como seres condicionados, em que “tudo aquilo com o qual eles
entram em contato torna-se imediatamente uma condição de sua existência” e
que, a partir delas, os homens criam suas próprias outras condições, pois “o
mundo no qual transcorre a vita activa consiste em coisas produzidas pelas
atividades humanas” (p. 17).
Sendo brevemente analisada essa primeira instância do homem, num
segundo momento pensaremos no mesmo como um ser social e político
cercado por outros como ele e retornaremos a refletir acerca da expressão vita
activa, “ou seja, a vida humana na medida em que se empenha ativamente em
fazer algo” (p. 31).
Nessa parte é importante ressaltar a presença de outros homens em
meio ao pano de fundo da Antiguidade Clássica, mais especificamente nas
sociedades gregas e romanas, no período denominado Arcaico, e entendermos
o que essa época representou. Este foi um período marcado pelo surgimento
das cidades estado (ou polis), que foram as primeiras constituições políticas
feitas pelo homem, que futuramente, originariam a esfera pública.
71
Logo, ao se pensar no homem como esse ser social que interage e que
tem por necessidade estar em companhia de similares, podemos quase que de
imediato lembrar da constituição familiar como consequência deste fato. Mas,
quando observamos o nascimento da polis nesse período histórico, a autora
nos mostra que, segundo o pensamento grego:
(...) a capacidade humana de organização política não difere,
mas é diretamente oposta a essa associação natural cujo
centro é constituído pela casa (oikia) e pela família. O
surgimento da cidade-estado significava que o homem
recebera, além de sua vida privada, uma espécie de segunda
vida (...).
Agora o cidadão pertence a duas ordens de existência, e há
uma grande diferença em sua vida entre aquilo que lhe é
próprio (idion) e o que é comum (koinon). (2007, p. 33)
Com isso, há uma profunda transformação na vida do homem mediante
à essa divisão decisiva entre as esferas pública e privada e entre as atividades
que são pertinentes a um mundo comum com outros humanos e as atividades
que são pessoais e em prol da família. É importante ressaltar que essa
transformação está intimamente ligada à distinção entre essas duas esferas,
que são “entidades diferentes e separadas” (p. 37).
Logo, a esfera privada, que é a esfera da casa, onde o homem tem o
que lhe é próprio, é um ambiente onde os humanos vivem juntos compelidos
por suas necessidades, porém, num regime acorrentado à hierarquia do chefe
de família sobre seus subordinados, que seriam esposa, filhos e escravos –
reino este de total desigualdade, onde o governador do lar poderia estabelecer
seu poder sem estar sujeito a nenhum limite judicial ou legal.
Já a esfera pública, que era a esfera da polis, era considerada uma
esfera de liberdade, do comum, onde todos os homens eram iguais e não havia
quaisquer tipos de hierarquia entre eles, sendo permitida a expressão genuína
de seus pensamentos. Rodrigues (2005) comenta este fato afirmando que
(...) o que importava para o ateniense era a vida em
comunidade e a concepção coletiva era a idéia que prevalecia
na democracia antiga, o público superava o privado. O homem
só existia de forma plena enquanto cidadão fazendo parte de
uma comunidade política. (RODRIGUES, 2005)
72
Uma forte característica da polis, era que ela tinha suas próprias leis e
regimento interno, e somente lá noções sobre justiça eram válidas e os
cidadãos exerciam sua vida política. Tornando a Arendt (2007), a autora mostra
que quem quer que ingressasse nela deveria estar disposto a qualquer tipo de
renúncia que fosse necessária, sendo a coragem adotada como “uma virtude
política por excelência” (p. 45 e 46).
Apesar de toda liberdade que a polis representava, ela não violava os
limites da esfera privada, porém, segundo a autora, o que levou a polis a
enxergar esses limites como sagrados foi o fato de que “sem ser dono da sua
casa, o homem não podia participar dos negócios do mundo porque não tinha
nele lugar algum que lhe pertencesse” (p. 39).
Arendt ainda salienta que a relação mútua entre a ação humana e a vida
social atraiu a atenção dos filósofos da Antiguidade, como Aristóteles,
sobretudo na vida do homem na polis. A vida política foi objeto de muitas
reflexões dos filósofos da época e a visão aristotélica do homem era de que,
além de ser um animal racional que fala e pensa, ele é um animal político, na
medida em que se realiza no âmbito da polis. Para ele, a esfera pública era o
domínio da vida política, exercida através do discurso e da ação (lexis e
praxis).
Em sua obra “A Política”, no Livro I, parágrafo 11, ele coloca que “(...) o
Estado se coloca antes da família e antes de cada indivíduo”. Com isso, é
possível perceber a grande importância que a polis representava à sociedade
dos homens, principalmente no que diz respeito ao ato de associação. No
mesmo parágrafo, ele ainda afirma que a natureza compele os homens a se
associarem e que aquele que não pode viver em sociedade, não faz parte do
Estado.
Logo, as duas esferas se opõem diretamente, neste período. Na
concepção da esfera privada, na obra em questão, “sem a vitória sobre as
necessidades da vida em família, nem a vida e nem a boa11 vida é possível” e
no que diz respeito a polis, “a vida no lar existe em função da boa vida na polis”
(p.47).
11
Neste caso, “boa” é como Aristóteles qualificava a vida do cidadão. Ela seria boa porque o cidadão
tendo dominado as necessidades do viver e sendo livre das condições de labor, trabalho e ação, sua vida
deixaria de ser limitada ao processo biológico da vida.
73
Com o passar dos tempos, esse abismo entre o público e o privado
ainda permaneceu de certa maneira na Idade Média, mas já tendo perdido
parte de sua essência, principalmente com a queda do Império Romano e o
estabelecimento da Igreja Católica Apostólica Romana e do Feudalismo,
período este em que a sociedade ia adquirindo outros valores e as próprias
esferas do público e do privado iam assumindo novas posições.
Por um lado, o “sagrado” representado pela Igreja Católica passou a
monopolizar a vida social e política dos cidadãos da época, e por outro, através
do Feudalismo, foi possível contemplar profundas transformações como a
modificação da esfera privada das classes habitantes dos feudos. O senhor
feudal passara a administrar também o que dizia respeito ao cunho familiar e
dirigia a justiça em ambas as esferas – fato este que mostra com clareza as
modificações que os conceitos sofriam, em comparação com o senso de justiça
que havia na Grécia Antiga, que acontecia somente na polis.
À medida que a sociedade caminhava mediante tais mudanças, Arendt
(2007) ressalta que:
(...) a passagem da sociedade – ascensão da administração
caseira, de suas atividades, seus problemas e recursos
organizacionais – do sombrio interior do lar para a luz da esfera
pública não apenas diluiu a antiga divisão entre o privado e o
político, mas também alterou o significado dos dois termos e a
sua importância para a vida do indivíduo e do cidadão, ao
ponto de torná-los quase irreconhecíveis. (2007, p. 47).
Com isso, é possível observar que o social também sofria alterações,
que antes era presente de formas diferentes na esfera pública e na esfera
privada.
Para compreender melhor essa mudança no quadro social, é importante
visualizar que neste momento surgem novas reflexões acerca do privado e
nascem noções do que é íntimo. Na visão da época, Arendt explica que o
caráter privativo da privatividade, implícito na própria palavra, significava
literalmente um estado de privação de algo, até mesmo das altas capacidades
do homem. Logo, quem quer que vivesse um vida somente no círculo privado,
não era inteiramente humano.
Porém, do mundo moderno para os dias de hoje, quando empregamos a
palavra “privatividade”, não queremos nos remeter inteiramente à um estado de
74
privação de algo, devido ao que a autora chama de “enriquecimento da esfera
privada através do moderno individualismo” (p. 48), sendo, então, essa palavra
carregada de outros sentidos no mundo atual.
Entretanto, é necessário que se compreenda a privatividade em si. Ela
existe para proteger o que é íntimo, sendo que este conceito não era conhecido
na época, era apenas tratado como parte da esfera privada. Contudo, o fato
histórico decisivo é que a privatividade moderna quando descoberta, foi tida
como o oposto não da esfera política, mas da esfera social.
Ao aprofundar mais essa questão da intimidade, é possível chegar
àquele que, segundo Arendt, foi seu eloquente explorador: Jean-Jacques
Rousseau. Para ela, Rousseau chegou à sua descoberta mediante uma
rebelião, não contra a opressão do estado, mas contra a intrusão da sociedade
numa região recôndita do homem que, até então, não necessita de qualquer
proteção especial:
A intimidade do coração, ao contrário da intimidade da moradia
privada, não tem lugar objetivo e tangível no mundo, nem pode
a sociedade contra a qual ela protesta e afirma ser localizada
com a mesma certeza do espaço público. (ARENDT, 2007, p.
48).
Com isso, nota-se que uma nova relação passa a ser constituída: o
íntimo e o social.
Mediante à mais esse cenário de mudanças que a autora assinala como
“promoção do social”, observa-se a subordinação da esfera pública aos
interesses
privados
dos
indivíduos.
Em
consequência,
houve
o
desenvolvimento de atividades artísticas privadas, como poesia, música e
romance; e uma estereotipização de comportamento da sociedade em geral,
sendo possível citar vários fatores que originariam a sociedade próxima de
como a concebemos no mundo moderno, através da presença da economia,
estatística, behaviorismo, doutrinas socialistas e comunistas e etc., sendo estas
tendências que se verificam desde o século XVIII.
Logo, a passagem dos assuntos referentes à esfera da casa para o
domínio público anulou a oposição clássica entre a polis e a família. Antunes
(2004) interpreta esse fato afirmando que
75
(...) a esfera privada actual teve a sua origem nos últimos
períodos do Império Romano. Numa época em que devido à
desagregação do Império os cidadãos procuravam afirmar os
seus direitos privados (nomeadamente o direito de
propriedade) no espaço público como resposta aos ataques
dos bárbaros. Na modernidade, o privado opunha-se à esfera
da sociabilidade e da esfera política situando-se no domínio do
individualismo. (ANTUNES, 2004).
Com essa breve contextualização na Antiguidade Clássica, foi possível
contemplar o surgimento, a evolução e a transformação dos conceitos em
estudo e como o passar das décadas alterou o sentido inicial dos termos até os
dias de hoje.
Na contemporaneidade observa-se a existência de diversos conceitos.
Logo, numa visão geral dos termos, é possível destacar, ainda em Arendt
(2007) que:
A) Entende-se como público aquilo que é comum, que pode ser visto e
ouvido e tem a maior divulgação possível.
Prontamente, pode-se observar que tudo aquilo que é aparente pode ser
tomado por realidade, até que o que é privado venha à tona. Com isso,
podemos concluir que, partindo do pressuposto que nossa percepção da
realidade depende do que é aparente, “até mesmo a meia-luz que ilumina
nossa vida privada e íntima deriva, em última análise, da luz muito mais intensa
da esfera pública” (p. 61).
B) Já o conceito de privado está ligado a tudo que nos é próprio e reside na
ausência de outros, num determinado momento em que o homem
privado não se dá a conhecer.
É com a múltipla importância da esfera pública, que o termo “privado”
em seu caráter inicial de privação tem significado. Quando o indivíduo opta
pela privatividade ou é levado a ela, ele se priva do fato de ser visto ou ouvido
por outros (p. 68).
76
3.2. Ótica do Direito
Após esta compreensão inicial acerca do surgimento e evolução dos
conceitos, é importante observar que estes conceitos espraiaram-se por
diversas áreas do conhecimento e foram adquirindo novos contornos.
Pensando nisso, Esteves, doutor em Comunicação, afirma que:
As noções de público e privado assumem hoje (...) um
importante relevo ao nível dos debates sociais, políticos e
epistemológicos, surgindo diferentes contributos intelectuais
empenhados numa tentativa de melhor esclarecimento destas
mesmas categorias, segundo uma perspectiva que
prioritariamente se focaliza na realidade contemporânea, mas
cujo horizonte de discussão é, em geral, bastante amplo (2010,
p. 1)
Por isso, serão feitas breves análises dos conceitos de público e privado
sob outras óticas, a fim de ser lançada uma maior compreensão dos termos
que são norteadores desta pesquisa.
Prosseguindo as análises, serão feitas algumas reflexões dos conceitos,
agora na área do Direito. Bacellar (2010), doutor em Direito de Estado, explica
que no Estado Liberal, percebe-se um esforço concentrado em divisar as
fronteiras entre Direito Público e Privado. Por isso, o Direito Público será o
Direito do Estado e o Direito Privado, o direito dos indivíduos, dos particulares.
Logo, o direito inerente às partes nesta esfera, é definido na análise das
personalidades física e jurídica.
Segundo informações da página da Fundação Getúlio Vargas (acesso
em 2012), no Direito, uma pessoa física (ou pessoa natural, privada) é um ser
humano percebido através dos sentidos e sujeito as leis físicas. É explicado
que:
Por exemplo, o direito de voto, ou o direito de ser eleito
presidente da República, são garantidos apenas para pessoas
físicas. Em muitos casos, os direitos fundamentais são
implicitamente garantidos apenas para pessoas físicas (FGV,
2010).
Poloni (2012), advogado da área empresarial, também explica o conceito
citando o Código Civil Brasileiro:
77
É a pessoa natural; é todo ser humano, é todo indivíduo (sem
qualquer exceção). A existência da pessoa física termina com a
morte. É o próprio ser humano. Sua personalidade começa
com o seu nascimento (artigo 4º do Código Civil Brasileiro)
(2012).
Já a pessoa jurídica, de acordo com a página Central Jurídica (2012):
(...) é a unidade de pessoas naturais ou de patrimônio, que visa
à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica
como sujeito de direitos e obrigações; são 3 os seus requisitos:
organização de pessoas ou de bens; licitude de seus
propósitos ou fins; capacidade jurídica reconhecida por norma
(2012).
E novamente, conforme Poloni (2012):
É a existência legal de uma sociedade, associação ou
instituição, que aferiu o direito de ter vida própria e isolada das
pessoas físicas que a constituíram. É a união de pessoas
capazes de possuir e exercitar direitos e contrair obrigações,
independentemente das pessoas físicas, que através das quais
agem. É, portanto, uma nova pessoa, com personalidade
distinta da de seus membros (da pessoa natural). Sua
existência legal dá-se em decorrência de leis e só nascerá
após o devido registro nos órgãos públicos competentes
(Cartórios ou Juntas Comerciais) (2012).
Com isso, é possível compreender que sob esta ótica, ambos os
conceitos são bastante segregados e delimitados, principalmente no que diz
respeito ao que é particular e ao que é comum entre vários. Porém, num
sentido mais amplo de análise dos termos, Esteves (2010) explica que há uma
relação tensional entre os conceitos e explica que esta tensão deixa
transparecer uma certa ascendência do privado sobre o público e acredita que
o interesse de diferentes ciências sociais pelas questões do público e do
privado nasce da percepção da importância que tais noções adquirem para a
estruturação global da experiência simbólica do mundo moderno.
Nesta mesma esteira, Dupas (2005) acredita que o mundo caminha em
direção da exaltação individual, do privado, principalmente devido à presença
das mídias. Ele explica que:
(...) a autoexaltação desmesurada da individualidade, em um
mundo que foi transformado pela mídia em espetáculo,
78
implicou crescente volatilização da solidariedade. O
desempenho individual passou a constituir o único critério de
sucesso, restando para as subjetividades os pequenos pactos
em torno da possibilidade de extração do prazer através do
outro, o que constitui um cenário ideal para a explosão da
violência. O novo modo de regulação social passou a ser a
produção de informação e não de significados comuns
compartilhados com a sociedade.
Este “novo modo de regulação social” é uma clara alusão de que, por
mais que existam os direitos públicos e privados do cidadão, tais conceituações
não são engessadas em seu sentido, pois nota-se uma desenfreada produção
de informação que remete à individualidade, entre outros ideais que nem
sempre são partilhados pela sociedade em geral.
Isso também representa uma mudança de paradigmas quando são
contemplados os mesmos conceitos no quesito espaço e território, como é
possível acompanhar a seguir.
3.3. Espaço e Território
Os conceitos de público e privado também estão presentes nesta ótica
de espaço / território, visto que também há a questão do pertencimento pessoal
e do pertencimento comum de um espaço físico.
Conforme já mostrado na primeira parte deste trabalho, as noções
iniciais à respeito de espaço e território tem sua base epistemológica na
Geografia e essa base esteve sempre apoiada no conceito de espaço como um
substrato físico sobre o qual o homem desenvolve sua relação com os outros
homens e o meio físico ou natural (BERGMANN, 2007).
Já quando são utilizados os termos tendo o enfoque no público e no
privado, é possível citar Cruz (2009), autor que também se remete à parte da
gênese conceitual dos termos ao explicar que
(...) na polis grega o espaço público é a esfera de ação do
cidadão, é o espaço onde se compete por reconhecimento,
precedência e aclamação de idéias. É nesse ambiente, com
condições de homogeneidade moral e política e de ausência de
anonimato, que existe a perseguição da excelência entre os
iguais. Por oposição, o espaço privado é onde se dão as
relações entre os que não são cidadãos, os comerciantes, as
mulheres, os escravos (2009).
79
Porém, como já mostrado na gênese dos conceitos e conforme o próprio
autor explica, essas relações sofreram profundas transformações, de modo
que, com o surgimento do exercício de poder pelo Estado, sua regulamentação
através das leis, a criação do Mercado e a incidência do Capitalismo, o cenário
vivido é representado por diversas dicotomias, onde
(...) o conceito de privado nos remete às questões do mercado
e da privacidade do indivíduo e, por outro lado, o público passa
a ser identificado com o Estado e o espaço onde ocorrem as
relações políticas da sociedade (CRUZ, 2009).
O mestre em desenvolvimento regional Tostes (2011) também explica
que, do ponto de vista da organização do planejamento, “o espaço público é
área acessível ao cidadão e a integração da coletividade, enquanto que o
espaço privado é a posse individual de interesses de determinadas áreas”.
Logo, dentro dessa conceituação é possível citar como exemplo de espaço
público os prédios, instituições e empresas públicas – locais estes onde o
Estado participa através do capital – e como espaço privado as escolas
particulares entre outras instituições do mesmo cunho, e a própria casa do
sujeito.
Porém, tal discussão pode levar a outros desdobramentos, conforme
aponta o cientista social Dupas (2005) ao estabelecer um parâmetro entre a
teoria política clássica e a atual, onde explica que o espaço público era
equivalente ao espaço da liberdade dos cidadãos, no qual estes exerciam sua
capacidade de participação crítica na gestão dos assuntos comuns. Porém,
hoje, as corporações apropriaram-se do espaço público e o transformaram em
espaço publicitário; os cidadãos que o frequentam não o fazem mais na
qualidade de cidadãos, mas como consumidores de informação (2005, p. 37),
fato este que leva à mais uma série de discussões à nível social e político.
Prosseguindo, mediante as análises de lugar e não lugar já vistas
anteriormente, novamente Sá (2006) traz contribuições baseadas em Augé
(1994), dessa vez também refletindo acerca dos espaços públicos e privados,
conforme a visão do etnólogo. Segundo a autora (p. 186), Augé define um
espaço público como um espaço onde a informação corre, mas não se
verificam interações entre os indivíduos que, segundo ele, correspondem aos
80
não lugares. Ele ainda faz uma diferenciação entre espaço público e espaços
do público, que é onde, de fato, os atores se cruzam e debatem, que
pressupõe a existência de um espaço físico.
Já o espaço privado seria o que corresponde aos assuntos privados,
particulares, diferente do espaço do privado, que seria no sentido estritamente
espacial da residência privada (p. 186).
Quando novamente os termos espaço / território são levados para outra
área, dessa vez as Ciências Sociais, o sociólogo e antropólogo Ortiz (1999, p.
51) explica que há nesta área uma forte tradição de se pensar o espaço na sua
imediata relação com o meio físico, porém, foi convencionado também o estudo
da cultura e dos fenômenos sociais em meio à análise do espaço.
Segundo o autor, “estamos certamente distantes do reducionismo das
escolas passadas, porém, o vínculo entre fenômeno social e meio espacial
permanece” (p. 51). Para ele, “mesmo quando nos afastamos do determinismo
geográfico (...), a idéia de território está presente” (p. 51).
Porém, diante das inovações tecnológicas, o mesmo autor afirma que as
distâncias se encurtaram a tal ponto que já não faria mais sentido afirmar a
existência de um espaço em si. Para ele, “não apenas as fronteiras entre as
nações teriam sido ultrapassadas, até mesmo o mundo da fabulação se
confundiria com o real” (p. 54).
Logo, como já visto, para alguns autores vive-se uma nova
reconfiguração espacial, onde o homem pode construir seu próprio espaço
(privado) através da presença dessas tecnologias, que são os espaços virtuais
(públicos). E para o pesquisador Lemos (2005, p. 3), além das questões
território e territorialização serem essenciais ao homem, “quando podemos criar
um “território”, podemos criar um mundo”.
Porém, com a difusão do espaço virtual e de todas as possibilidades
dentro desta realidade, Dupas (2005) ainda acredita que se vive sob uma
tendência orwelliana de vigilância, onde em breve não haverá mais nenhum
canto onde se possa proteger a privacidade individual. Porém, os indivíduos
ganharam uma nova possibilidade de enxergar o mundo e seus feitos, de modo
que o cidadão pode ganhar mais força através dos espaços virtuais.
Maille (2004) ainda lembra que aquilo que o espaço público não pode
mais fazer, o espaço da comunicação em rede realiza-o. Nenhum limite
81
territorial pode ser imposto aos indivíduos; de certa forma o cidadão encaixa-se
em uma dimensão global.
Pensando nisso, serão analisados na próxima parte deste trabalho os
fenômenos existentes nesse universo dos espaços virtuais: as representações
de si através de videografias, onde mais do que nunca, os elementos
pertinentes ao que é público e ao que é privado se entrelaçam de forma a,
cada vez mais, medir os limites entre as duas fronteiras.
82
4. VIDEOGRAFIAS E ATORES NA REDE YOUTUBE
Com a franca e veloz difusão do espaço virtual e principalmente das
redes sociais digitais, é claramente visível uma mudança de hábito em cadeia
pelos usuários da rede, além de uma aderência muitas vezes involuntária ao
que é tendência no ciberespaço.
Seja na criação de um perfil virtual, um blog ou outro tipo de diário
virtual, entre tantas outras infinitas opções que são possíveis no ambiente em
rede, as tendências se fazem presentes, juntamente com a enxurrada de
informações produzidas e consumidas a todo o momento.
Entre elas estão os videologs ou simplesmente vlogs, que Burgess e
Green (2009) explicam que são uma forma predominante do vídeo amador no
YouTube, tipicamente estruturada sobre o conceito do monólogo feito
diretamente para a câmera. Esta prática hoje, no século XXI, é um dos
conteúdos mais presentes no que diz respeito à produção de informação,
principalmente de conteúdo pessoal – que mediante tanto sucesso entre os
internautas, também estão sendo utilizados como importantes ferramentas de
expressão
pessoal
e
autorrepresentação,
como
será
visto
mais
detalhadamente nos tópicos a seguir.
4.1. Videografias de Si
As chamadas videografias de si fazem parte de uma das tendências que
são fruto do espaço virtual – principalmente da rede social em questão, o
YouTube. Os estudos nessa área ainda são recentes, porém relevantes,
principalmente ao observarmos a difusão dos vlogs.
Um dos principais autores desse estudo, Bruno Costa (2009), mestre em
Comunicação Social, explica que:
As videografias de si constituem-se como pequenas
autobiografias em vídeo do YouTube, nas quais a enunciação
de si contém fortes tons midiáticos. Nelas, são descritas e
narradas experiências do cotidiano, impressões e análises de
si, geralmente ancoradas em situações corriqueiras do dia a
dia. Elas são produtos de indivíduos para os quais o registro e
83
a exibição de si em vídeo se torna tanto um modo de
representação como uma expressão de subjetividade (COSTA,
2009, p. 206).
Com isso, é possível entender que, pelo lado das perspectivas dos
meios de comunicação, há uma otimização na propagação de mensagens e
ideais através dos veículos digitais, bem como a própria necessidade de
comunicar-se, de transmitir-se. Isso nos remete a um diálogo com McLuhan
(1964), que desde tempos passados nos fez compreender que o “meio é a
mensagem”, e que “o conteúdo de qualquer meio ou veículo é sempre um outro
meio ou veículo” (p. 22). Ele explica que “o conteúdo da escrita é a fala, assim
como da palavra escrita é a imprensa” (p. 22). Logo, também podemos refletir
acerca do conteúdo de um vídeo.
No conteúdo de um vídeo, podemos observar a síntese de várias
linguagens, entre elas a falada, escrita, sonora e visual. Logo, temos uma
linguagem audiovisual. Para Arroio e Giordan (2006):
O audiovisual é uma produção cultural, no sentido em que é
uma codificação da realidade, na qual são utilizados símbolos
da cultura, e que são partilhados por um coletivo produtor do
audiovisual e por outras pessoas para as quais o audiovisual é
destinado (2006).
Com isso, é possível contemplar a seguinte colocação de Costa (2009):
As práticas audiovisuais contemporâneas flexionam os
esquemas triádicos que caracterizavam a produção
cinematográfica moderna. Assim, é possível perceber o
surgimento de novas instâncias em que o produzir, o distribuir
e o exibir já não são mais categorias estanques e nem
limitadas a um certo tipo de produção audiovisual. A
popularização dos aparatos de gravação e reprodução, a
criação de ambientes diversos para a exibição e o surgimento e
consolidação da internet como meio alternativo de distribuição
de conteúdos ampliaram gradativamente os espaços do
audiovisual (2009, p. 142).
Como já visto nos capítulos anteriores, o ciberespaço é um ambiente
capaz de reproduzir cultura humana e isso também é perceptível na produção
desse tipo de material, como Costa (2009) também mostra quando fala em
expressão de subjetividade. Também é possível nos remetermos mais uma vez
a McLuhan (1964) quando o autor coloca os meios de comunicação como
84
extensões do homem e sua inter-relação com o mesmo, já que dependem de
nós para existir.
No universo dos vídeos há uma particular semelhança com as práticas
de entretenimento. Costa (2009, p. 206) explica que nos vídeos constrói-se
uma segunda realidade que, entretanto, não precisa negar a primeira e, desse
modo, as videografias conseguem articular em um mesmo produto as licenças
do universo ficcional e a ligação com a realidade.
Com isso, é possível analisar, por outro lado, que além da otimização
dos meios de comunicação, as novas mídias também contribuíram e
contribuem para novas possibilidades da criação do “eu”. Costa (2009) ainda
assevera que somos algo como personagens de nós mesmos, e criamos um
outro com os materiais simbólicos disponíveis – e, por diversas vezes, isso é
espraiado pelos meios de comunicação.
Lemos (2002) também traz contribuições acerca desse fenômeno,
também traçando parâmetros com a explosão dos diários virtuais e webcams
na Internet como formas de expressão individuais, onde explicita-se o
espetáculo da tecnologia como forma de estética social, de proxemia, de
contato. Tal fato, porém, não torna possível medir até onde vai o desejo de se
expressar e a própria vaidade.
Portanto, a tentativa de escrever a própria história ou de emitir opiniões
e posicionamentos ganha novo fôlego através de uma forte enunciação
individual, onde todos os recursos são válidos para a criação desta nova
realidade.
Os vlogs potencializam, assim, a visão e a audição humana ao
proporcionarem múltiplas possibilidades de representação e construção do
conhecimento, além de facilitar o processo comunicacional, criando, assim,
uma maior difusão de idéias e pensamentos, novos entendimentos e
propiciando outra dinâmica para a lógica da interação humana (AMARO, 2011,
p.10).
Nesse processo, torna-se imprescindível observar também a própria
comunicação social em si, e para isso, citamos Thompson (2000) que
caracteriza a comunicação como um tipo distinto de atividade social que
envolve produção, transmissão e recepção de formas simbólicas e implica a
utilização de recursos de vários tipos. Logo, para que a informação ou
85
conteúdo simbólico sejam transmitidos ao receptor, é preciso fazer uso de um
meio técnico para que isso seja fixado. Essa fixação é o que trará durabilidade
dessa informação no meio que for inserida.
No caso do YouTube, Costa (2008, p. 2) o denomina como um sítio de
natureza complexa, pelo fato de ser um depositário de um universo de imagens
de todos os tipos, mas principalmente de produções feitas exclusivamente ou
prioritariamente para serem exibidas na Internet. Uma vez depositada nesse
ambiente, a informação ganha a possibilidade de reprodutibilidade, o que
significa que ela ganha capacidade de multiplicar as cópias de uma forma
simbólica, conforme mostrado por Thompson (2000), tornando-se fixa no
ambiente.
Logo, quando o ator disponibiliza sua produção no ambiente de rede, e
especificamente do YouTube, ele se utiliza do meio técnico audiovisual (vídeo)
e garante reprodutibilidade de sua mensagem no ambiente em que ele a tornou
fixa, pelos outros usuários que a acessarem.
Quanto às mensagens transmitidas através das videografias para os
receptores, é possível afirmar que variam entre todos os assuntos de que se
deseja discorrer e que, de alguma forma, estão ligadas ao emissor ou à sua
necessidade de discutir sobre determinado tema. Com isso, observamos fortes
tons de auto-representação e da exibição de cenas ou opiniões íntimas.
Prosseguindo as análises das videografias de si, é colocado agora o que
Costa (2008, p. 2) mostra quando afirma que videografias de si destacam-se
em dois aspectos: o caráter autobiográfico e certa tendência confessional –
ambas facilmente reconhecidas. Para ele:
Essa posição em relação ao ato autobiográfico se sustenta nas
especificidades do vídeo. O vídeo possibilita e convida a
participação do outro; ao contrário de outras formas de escritas
autobiográficas (como o diário, por exemplo) ele não é
depositário de segredos (2008, p. 2).
Um exemplo claro disto são os vídeos de família caseiros mais antigos,
registrados em fitas para videocassete. Aqueles eram clássicos registros de
momentos familiares, que, quando assistidos, evocavam as memórias do
espectador e funcionavam como forma de manter as memórias pessoais. Não
era um tipo de material divulgado ou com alta reprodutibilidade fora do
86
ambiente familiar. Tampouco, também não era um registro de segredos ou
alguma espécie de diário.
Já quando se pensa na tendência confessional, somos imediatamente
remetidos à era digital, e o que se vê é a propagação de uma intimidade
exacerbada, ou ainda, de uma explanação exagerada, visceral, de pontos de
vista e críticas.
Nesse tipo de material, como já visto, por vezes, são utilizados
intencionalmente elementos ou símbolos a fim de que a mensagem se faça
mais clara, numa nova constituição de realidade. E é nesse tipo de videografia
que centraremos mais a fundo as análises dessa pesquisa: nas produções que
mostram o rotineiro e o casual de forma explícita, que estão hospedadas no
YouTube.
4.2. Cenários e Atores
Há algum tempo atrás era possível pensar que o sucesso era
proveniente de pessoas ou atores exclusivamente do meio artístico. Porém,
com a expansão acelerada da Internet e da difusão de novas tendências
disseminadas pelas redes, podemos contemplar pessoas antes anônimas, que
agora podem ser conhecidas pelo mundo todo através dos mais diversos
canais de comunicação online.
Dentre essas tendências, é possível destacar a publicação de vídeos
amadores no YouTube, que se dividem em infinitos estilos e categorias, cujo
conteúdo pode ser visualizado em dimensão global.
Particularmente as videografias de si, como já visto, se constituem como
parte importante destas análises, e também revelam novos atores, que usam
sua própria vida como roteiro, para todo o público internauta. Logo, é possível
questionar quem são esses atores e o que fazem.
Basicamente, os autores e atores das videografias podem ser quaisquer
pessoas que tenham em mãos o recurso necessário para produzir um material
audiovisual, que podem ser webcams, câmeras filmadoras ou celulares. Muitas
vezes os atores não precisam de um tema específico para falar, apenas
ligando a câmera e iniciando o processo de comunicação expressiva e autorepresentativa, onde são perceptíveis traços de recriação de si.
87
Embora sejam analisadas aqui as produções de cunho amador, Burgess
e Green (2009, p. 90) acreditam que fica cada vez mais claro que as
identidades e motivações do conteúdo amador não se separam tão facilmente
de uma identidade e motivação profissionais.
E o YouTube tem tido uma relevante participação na exibição de novos
rostos e produções, alguns facilmente lembrados como Felipe Neto, PC
Siqueira, entre outros, que passam a fazer parte ativamente de uma expansiva
manifestação cultural e representativa. Pensando nisso, Meili (2011, p. 54) nos
lembra que:
Em sua origem, o YouTube foi considerado um espaço
comunitário, onde pessoas comuns passaram a poder postar
vídeos e interagir com outros iguais; trata-se de um discurso e
um fato, pois realmente muita gente sente-se e tem feito parte
de uma comunidade, motivada pelo desejo da expressão
pessoal, criatividade e documentação da vida comum (2011, p.
54).
E essa documentação da vida comum a que a autora se refere se faz
muito presente nessa evidenciação do self, ou simplesmente, do ‘eu dos
vídeos’, principalmente quando é possível notarmos essa narrativa em primeira
pessoa. Costa (2009, p. 207) afirma que a narração de si pode ser considerada
como um dos expedientes usados pelos indivíduos para tentar dar sentido a
suas vidas. O autor também acredita que as videografias de si podem revelar
de modo especialmente singular como o olho eletrônico da câmera se torna
mais um elemento presente na criação das imagens de si mesmo (p. 208).
Logo, é possível entender que esses atores se criam e recriam a todo instante
em seus vídeos, de forma a melhor se representarem – e dentro daquilo que
for mais comum, mais presente na vida cotidiana.
Para a doutora em Comunicação e Cultura Paula Sibilia (2003):
Cada vez mais, a mídia reconhece e explora o forte apelo
implícito no fato de que aquilo que se diz e se mostra é um
testemunho vivencial: a ancoragem na “vida real” torna-se
irresistível, mesmo que tal vida seja absolutamente banal – ou
melhor: especialmente se ela for banal. Do mesmo modo, na
Internet, pessoas desconhecidas costumam acompanhar com
fruição o relato minucioso de uma vida qualquer, com todas as
suas peripécias registradas pelo próprio protagonista enquanto
88
elas vão ocorrendo, dia após dia, de hora em hora, minuto a
minuto (2003).
Logo, é possível afirmar que se vive um momento regido pelo
“imperativo da visibilidade”12 (SIBILIA, 2003) que a autora explica como a
necessidade da sociedade atual da exposição pessoal, que parte de um caráter
individualista e põe a condição de que é preciso ser "visto" para existir no
ciberespaço. Além disso, também é importante observar que neste processo de
autorrepresentação, várias faces do eu são criadas e recriadas e espraiadas
para toda rede, fato este que revela que a descoberta de si não precisa
necessariamente ser fruto de um processo de solidão ou próprias de um
ambiente íntimo. Sibilia (2003) também explica esse fato afirmando que:
Os novos ambientes íntimos e privados que começaram a
proliferar três séculos atrás eram um verdadeiro convite à
introspecção: nesses espaços impregnados de solidão, o
sujeito moderno podia mergulhar na sua obscura vida interior,
embarcando em fascinantes viagens auto-exploratórias que,
muitas vezes, eram vertidas no papel (2003).
Porém, com toda liberdade oferecida pelas redes e tantas tendências
que induzem ao hábito de publicização não apenas do íntimo, mas do banal,
tais informações são vertidas nas redes de variadas formas, inclusive nas
videografias, onde tudo isto pode ser visto. Tal fato faz parte do processo de
retroalimentação que faz uma página ou um canal ganharem sentido de existir.
Isso pode ser facilmente constatado ao observar, por exemplo, o número de
visualizações dos vídeos e o retorno do público que assiste esses atores e
entram em identificação imediata ou não.
Costa (2009, p. 207) ainda contribui mais uma vez afirmando que essa
narração da identidade assume uma importância ainda maior quando se leva
em conta essa nova visibilidade. Para ele:
(...) os indivíduos, acostumados à presença das câmeras, já
não necessitam delas para se comportarem como
personagens. A câmera deixou de ser mídia para se tornar um
certo paradigma de comportamento; ainda que ela não esteja
lá, os indivíduos agem como se elas estivessem. No mais, a
exposição constante a produtos midiáticos faz nascer uma
12
Disponível em: http://www.antroposmoderno.com/antro-version-imprimir.php?id_articulo=1147. Acesso
em: 16/02/2012
89
familiaridade com os personagens fictícios, ao ponto em que as
pessoas assumam trejeitos, bordões, enfim, modos de ser do
ficcional em suas rotinas (2009, p. 207-208).
Com isso, muitas vezes esses atores tornam-se referências nas vidas
dos internautas com seus personagens de si, criando vínculos e familiaridade
com os assuntos abordados, tornando-se verdadeiras “estrelas” da vida
cotidiana.
Por outro lado, também é possível observar esse processo de forma
mais ampla, observando não apenas as mensagens transmitidas pelos atores,
mas também através de quais meios isso é possível. Pensando nisso, citamos
Santaella (2003) que nos explica que:
(...) mídias são meios, e meios, como o próprio nome diz, são
simplesmente meios, isto é, suportes materiais, canais físicos,
nos quais as linguagens se corporificam e através dos quais
transitam (2003, p. 25).
Ao observar as videografias de si, muitas vezes encontra-se o que está
evidenciado na afirmação da autora: os diversos meios que são utilizados para
comunicar algo. Ela ainda explica que “o veículo, meio ou mídia de
comunicação é o componente mais superficial, no sentido de ser aquele que
primeiro aparece no processo comunicativo” (p. 25) e completa afirmando que
“veículos são meros canais, tecnologias que estariam esvaziadas de sentido
não fossem as mensagens que nelas se configuram” (p. 25).
Com isso, é possível compreender que, para a autora, as mensagens
que são veiculadas são mais importantes do que o próprio veículo e que elas
que dão sentido às tecnologias, juntamente com os meios utilizados.
Ainda pensando em meios, é possível tecer mais uma análise sobre isto
ao pensar na parte material que é usada nos vídeos, como os cenários, planos
de fundo ou quaisquer outros objetos usados para ilustração, a fim de formar
imagens.
Santaella e Nöth (2008) contribuem afirmando que:
O conceito de imagem se divide num campo semântico
determinado por dois pólos opostos. Um descreve a imagem
direta perceptível ou até mesmo existente. O outro contém a
90
imagem mental simples, que na ausência de estímulos visuais,
pode ser evocada (2008, p. 36).
Esses estímulos (ou a ausência deles) também são possíveis de se
avaliar nas videografias, principalmente quando falamos em cenários, pois
pode-se encontrar vídeos com planos de fundo repletos de informação
(imagem direta perceptível) e outros vazios de imagens (apenas com imagem
mental que pode ser evocada).
Logo, pode-se tomar esses estímulos visuais por signos, cuja
proliferação ininterrupta vem criando cada vez mais a necessidade de que
possamos lê-los e dialogar com eles em um nível um pouco mais profundo do
que aquele que nasce da mera convivência e familiaridade (SANTAELLA,
2002, p. XIV). E a teoria dos signos foi muito bem explorada pela semiótica de
Charles S. Peirce (1839 – 1914), evidenciado por Santaella como um gênio
polivalente.
Em sua obra, o autor nos explica que:
O signo, ou representamen, é aquilo que sob certo aspecto ou
modo, representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é,
cria na mente dessa pessoa um signo equivalente, ou talvez
um signo mais desenvolvido (PEIRCE, 1990, p. 46).
Logo, para o autor, a criação de uma imagem ou de um signo está
diretamente ligada à representação de alguma coisa, na tentativa de atribuir
sentido a algo, que é o seu objeto. Esse objeto faz referência a uma idéia, que
para ele deve ser entendida no sentido platônico, que é muito comum no falar
cotidiano. Ele ainda explica essa “idéia”, afirmando que:
(...) refiro-me àquele sentido em que dizemos que um homem
pegou a idéia de um outro homem e que, quando um homem
relembra o que estava pensando anteriormente, relembra a
mesma idéia (...) (PEIRCE, 19990, p. 46).
Portanto, é possível compreender que os signos representam uma idéia,
e nos vídeos eles existem através das imagens ou objetos que os atores
utilizam. Ainda quando esses estímulos visuais não existem, eles também
representam algo, conforme já mostrado por Santaella e Nöth (2008), pois até
mesmo em sua ausência, eles podem ser evocados mentalmente. Com isso,
91
podemos entender que a forma que essa representação será feita, irá variar
diretamente do objetivo do ator.
Prosseguindo nas análises, é importante destacar que a teoria dos
signos também é caracterizada pelo estudo dos fenômenos apreendidos pela
mente, pois a leitura e representação dos signos também são parte de um
processo cognitivo. Logo, para Peirce, existem três elementos formais e
universais em todos os fenômenos que se apresentam à percepção:
primeiridade,
secundidade
e
terceiridade
–
todos
em
um
nível
de
generalização. Porém, para focarmos nossas análises de acordo com o
objetivo deste trabalho, nos ateremos à terceiridade, que Santaella (2002)
explica:
A terceiridade diz respeito à generalidade, continuidade,
crescimento, inteligência. A forma mais simples da terceiridade,
segundo Peirce, manifesta-se no signo, visto que o signo é o
primeiro (algo que se apresenta à mente), ligando num
segundo (aquilo que o signo indica, se refere ou representa) a
um terceiro (o efeito que o signo irá provocar em um possível
intérprete) (2002, p. 7).
Com isso, é possível ver que a teoria de Peirce se completa na
interpretação do signo e sua ação sobre o intérprete, processo esse que ele
caracterizou por “semiose”. O conceito de semiose, assim como o de signo,
envolvem idéias interdependentes – como terceiridade, inferência, lei, hábito –
que podem ser desenvolvidas em diferentes domínios (QUEIROZ, 2004, p. 47).
No caso das videografias, essa ação do signo (mostrada pelos atores)
sobre os intérpretes (público que assiste as videografias) que também
completa o sentido das mesmas, pois para existirem precisam ser vistas, assim
como nos mostrou Recuero (2006).
Agora a pesquisa prosseguirá na análise na mensagem das videografias
e o feedback que ela traz, principalmente através da enunciação dos conceitos
de público e privado, que tanto atraem a atenção dos internautas e dos
interessados em conhecer a intimidade alheia.
92
4.3. A Evidenciação do Público e do Privado nas Videografias de Si
Para iniciar mais essa análise, é preciso contextualizar os termos
“público” e “privado” dentro do ambiente de rede. Logo, ao posicionarmos estes
em seu sentido mais essencial, como visto na parte 3 deste trabalho, quando o
cenário é o ciberespaço certamente serão achadas dificuldades em estabelecer
os limites de ambos.
Se por um lado, o ator se utiliza de sua intimidade para expressar-se,
por outro lado ele torna pública sua intimidade ao lançar esse tipo de material
na rede digital, e os limites do que é público e do que é privado se confundem.
Com isso, é possível crer, por vezes, que não existem fronteiras seguras entre
os termos quando se trata do ambiente de rede.
Na parte anterior desta pesquisa foi visto que na Antiguidade Clássica
havia uma demarcada divisão entre os limites dos conceitos, onde a vida
pública pertinente à polis não violava as fronteiras da esfera privada. Porém, ao
ser traçado um parâmetro com o século XXI, Thibes (2008, p. 43), doutoranda
em Sociologia, acredita que, neste momento do século XXI, torna-se difícil
demarcar com precisão os limites de conceitos como público e privado, cujas
fronteiras deixam de ser rigidamente delimitadas.
Para a mesma autora, as vivências da intimidade e da privacidade
certamente são alteradas quando o cenário para as atuações de todo tipo
passa a ser virtual, isto é, passa a ocorrer no ambiente da rede informatizada
(p.47), o que já leva à um desfalecimento inicial dos conceitos.
Tendo em vista essa colocação, prossegue-se com Sibilia (2008, p. 29)
que coloca a questão da exibição da intimidade como um fenômeno
contemporâneo. Porém, o ponto de vista inicial da autora é apresentado em
forma de questionamento:
A fim de compreender esse fenômeno tão contemporâneo de
exibição da intimidade (ou extimidade), uma primeira pergunta
se impõe: essas novas formas de expressão e comunicação
que hoje proliferam – blogs e fotologs, redes de
relacionamentos, webcams e vídeos caseiros – devem ser
consideradas vidas ou obras? Todas essas cenas da vida
privada, essa infinidade de versões de você e eu que agitam as
telas interconectadas pela rede mundial de computadores,
mostram a vida de seus autores ou são obras de arte
93
produzidas pelos novos artistas da era digital? É possível que
sejam ao mesmo tempo, vidas e obras? Ou talvez se trate de
algo completamente novo, que levaria a ultrapassar a clássica
diferenciação entre essas duas noções? (2008, p. 29).
A reflexão que a autora propõe está ligada diretamente a uma possível
veracidade das mensagens emitidas ou apenas uma ficcionalização da
realidade. Logo, Sibilia faz uma consideração habitual ao examinar esses
“novos costumes”: se os sujeitos nela envolvidos mentem ao narrar suas vidas
na Web, montando espetáculos de si mesmos para exibir uma intimidade
inventada, devido à facilidade de recursos existentes.
Portanto, se assim o fosse, nos depararíamos com “enganosas
autoficções, meras mentiras que se fazem passar por pretensas realidades” (p.
30). Do contrário, seriam relatos de “uma vida nua e crua”.
Embora não seja objetivo desse trabalho a investigação da veracidade
dessas representações de si, é preciso levar em conta essas narrativas, em
que a autora também afirma que: “é justamente nesses discursos autoreferentes, aliás, que a experiência da própria vida ganha forma e conteúdo,
adquire consistência e sentido, ao se cimentar em torno do eu” (p. 32).
Dentro dessa narrativa explícita do eu, há o rompimento de barreiras da
intimidade e acabamos por criar personagens de nós mesmos, como já dito por
Costa (2009, p. 207), que ainda nos explica que o tom confessional dos vídeos
pode ser tomado como a expressão de uma mudança na relação tríplice entre
público, privado e íntimo.
Nessa esteira dos fatos, Bauman (2008) também traz suas contribuições
ao afirmar que colocamos nossa vida para consumo, transformando-a em
mercadoria. Ele exemplifica isso mostrando que
(...) os adolescentes equipados com confessionários
eletrônicos portáteis são apenas aprendizes treinando e
treinados na arte de viver numa sociedade confessional – uma
sociedade notória por eliminar a fronteira que antes separava o
privado e o público, por transformar o ato de expor
publicamente o privado numa virtude e num dever públicos, e
por afastar da comunicação pública qualquer coisa que resista
a ser reduzida a confidências privadas, assim como aqueles
que se recusam a confidenciá-las (BAUMAN, 2008, p. 10).
94
Ao relacionar isso às videografias de si, é possível nos remetermos a
Costa (2009, p. 207) mais uma vez, quando ele afirma que as videografias
seriam formas de expressão de indivíduos que tornaram a exibição de si um
modo de se integrarem a uma sociedade cada vez mais confessada. Este fato
é também confirmado pelo psicanalista Chaim Katz, que em uma entrevista ao
jornal Globo (2010) afirmou que vivemos em um momento de “novas
elaborações de individualidades. A intimidade hoje já não é a mesma do século
passado. Vivemos numa sociedade confessional”.
Nesse processo, porém, não há apenas o lado do emissor e o conteúdo
de uma mensagem. É também preciso considerar o lado do receptor, daquele
que assiste e consome o conteúdo.
A jornalista Denise Schittine (2004) mostra que as pessoas desejam
conhecer a intimidade alheia – e isso não é apenas relacionado às videografias
em si. Para a autora:
A presença, cada vez maior, dos reality shows na televisão e
das webcams, o sucesso das revistas de fofoca e a volta dos
paparazzi mostram quanto interesse o público tem pela
intimidade alheia. E, o que é mais importante, o quanto ele tem
sede de uma intimidade que não é necessariamente
protagonizada por gente famosa, mas por pessoas comuns
parecidas, o quanto possível, com o próprio público (2004, p.
32).
Ela ainda completa afirmando que “as pessoas se vigiam por curiosidade
ou pela necessidade de ver as outras como espelho de si mesmas” (p. 34).
Com isso, é possível pensar, até mesmo dentro da condição humana,
que há um desejo natural em querer conhecer, desvendar o outro. Bruno
(2005) também comenta esse fato, explicando que
(...) é como se o princípio de visibilidade, que já se sobrepôs ao
princípio de realidade no âmbito mais amplo da cena pública,
se estendesse às vidas e existências privadas, que passam a
requerer a visibilidade como uma espécie de direito ou
condição almejada de legitimação e reconhecimento (2005, p.
56).
Um exemplo bem presente nos dias atuais é a presença dos reality
shows que invadiram as emissoras de televisão, como já mostrado por
Schittine (2004). Bruno (2005) também comenta isso e afirma que
95
(...) se o modelo do Big Brother ainda procurava revelar uma
intimidade ou personalidade sob a cena testemunhada por uma
vigilância idealmente ininterrupta, estes novos formatos
parecem assumir que a verdade está mesmo na superfície e
que a autenticidade reside na possibilidade de parecer outro
(2005, p. 67).
Ainda, para ela, nas práticas contemporâneas de exposição do eu, a
autenticidade encontra-se vinculada não mais ao opaco e ao recôndito, mas
sim à dimensão visível e acessível ao olhar do outro (BRUNO, 2004, p. 24).
E ao observar os próprios vlogs do YouTube, é possível encontrar um
grande número de visualizações e comentários dos receptores, fato este que
pode gerar forte interação entre os públicos devido aos vídeos, que geralmente
se estende em laços maiores até mesmo através das outras redes sociais.
Logo, estabelecer e estritar contato com esses atores também acaba se
tornando desejo dos públicos que se identificam com o material postado,
levando ao desenvolvimento de laços sociais através da rede.
À partir disso, é possível afirmar que há um feedback intenso à esse
tipo de material e que a “pessoa do ano” não precisa necessariamente ser um
famoso: pode ser qualquer um de nós.
96
Figura 23: Capa da Time.
Fonte Amaro (2011) Acesso em:6/2/2012.
É relevante observar ainda que, com o advento da internet e do
ciberespaço, juntamente com as tendências trazidas por eles, torna-se cada
vez mais difícil demarcar com precisão os limites do público e do privado, pois,
como já visto em Sibilia (2003), cada vez mais alargam-se os limites do que se
pode dizer e mostrar. Tal fato acarreta a perda da integridade dos conceitos,
que podem não estar mais em uma relação dicotômica.
Thibes (2008, p. 21) mais uma vez contribui ao afirmar que efetuar
distinções entre o público e o privado no século XXI não é uma tarefa fácil, pois
corre-se o risco de criar categorias estanques que não conduzem com a
dinamicidade que tais conceitos possuem atualmente, principalmente perante a
presença das TIC’s, fato este que deixa uma perceptível tensão entre os
termos.
97
5- METODOLOGIA DO ESTUDO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Após a análise dos conceitos que permeiam esta pesquisa, é possível
considerar que a publicização do privado na sociedade em rede é vista como
uma situação oriunda do excesso de liberdade nas redes no século XXI, visto
ser possível a criação de diversos espaços individuais conforme desejo do
usuário no ciberespaço, além da própria propagação de informações de cunho
pessoal no ambiente de rede. Os pesquisadores Lyra e Santana (2003, p. 36)
ainda confirmam tal fato, afirmando que no ciberespaço é possível “viver na
condição de sujeito-agente com subjetividade partilhada” e “gozar da liberdade
de um sujeito atuante conforme seus desejos”.
Tendo em vista tais colocações, a pesquisa qualitativa se apresentou
como melhor metodologia a ser aplicada neste estudo, porém se aliando com
outros instrumentos de análise para a melhor apuração de resultados.
Pensando nisso, para desenvolver essa pesquisa, foi realizada uma
investigação através de pesquisa exploratória, qualitativa e descritiva no
universo de análise escolhido: a rede de canais online YouTube.
Logo, por se tratar de uma análise exploratória, foi objetivado
“proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, de determinado fato”, como
uma “primeira etapa de uma investigação mais ampla”. (GIL, 1987, p. 45).
Nesta parte foram feitos levantamentos bibliográficos, uma entrevista e
escolhidos os casos passíveis de estudo.
Para a parte qualitativa, é utizado o professor Chizzoti (2003), que
explica que a pesquisa qualitativa recobre, hoje, um campo transdisciplinar,
envolvendo as ciências humanas e sociais, assumindo tradições ou
multiparadigmas de análise. Ele ainda afirma que o termo qualitativo implica
uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de
pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes.
Portanto, para esta parte foram investigados os fenômenos constituintes do
problema de pesquisa.
Também foi feita uma abordagem descritiva, que estuda o fenômeno,
desejando conhecer sua natureza, composição, processos que nele se
constituem ou nele se realizam (RUDIO, 2007, p. 71). Rudio (2007) assinala
98
que, neste tipo de análise, “o problema será enunciado em termos de indagar
se um fenômeno acontece ou não, que variáveis o constituem, como classificálo, que semelhanças e diferenças existem entre determinados fenômenos e
etc. (p. 71)”.
Gil (1987, p. 45) ainda aponta que as pesquisas desse tipo tem como
objetivo primordial a descrição das características de determinada população
ou fenômeno ou o estabelecimento de relação entre variáveis.
Logo, partindo desse pressuposto, busca-se com tais modalidades de
pesquisa investigar o relato dos usuários do YouTube que se expressam
através das videografias de si, de forma auto-representativa, a fim de analisar a
enunciação do público e do privado. Para isso, foram identificados os
‘vloggers’, isto é, os usuários que criam vlogs na rede, através de pesquisa
exploratória.
Inicialmente, todos os vlogs identificados foram examinados quanto ao
seu tipo de conteúdo, através da própria narração dos vloggers nos vídeos,
mas foram selecionados somente os materiais em que a enunciação do público
e do privado foi mais evidente. Para a avaliação deste material foram propostos
por esta pesquisa quatro guias de análise:
a) A evidenciação do público e do privado através das análises;
b) As representações do “eu” através do uso ou não de personagens de
si;
c) Os cenários e planos de fundo utilizados, em uma análise ancorada
em princípios semióticos;
d) O feedback do público como receptor das mensagens.
Para validar as análises destes materiais, foi feito um clipping eletrônico
em blogs, jornais entre outras mídias com os relatos destes vloggers acerca de
seus trabalhos. Ainda foi possível, em determinado tempo de pesquisa, fazer
uma entrevista com um dos vloggers cujo material também se tornou objeto de
pesquisa, no qual seu relato contribuiu diretamente para a validação da
hipótese.
Também foi levado em conta, ao escolher esse método para identificar e
analisar dados, considerações como o fato dos usuários serem pessoas que
99
possuem acesso a computador com Internet e também o fato dos vloggers
terem domínio das ferramentas de edição de vídeo. Nesta pesquisa, o tempo
de pesquisa exploratória no YouTube aconteceu entre os meses de agosto de
2011 a janeiro de 2012.
Por se tratar de um assunto tão presente neste século, é válido ressaltar
que os cenários descritos certamente estão em constante transformação todo o
tempo, como característica principal de tempos de liquidez, conforme aponta
Bauman (2007). Também é importante considerar que uma pesquisa não pode
ser completa quando seu objeto se desenvolve e muda muito mais depressa do
que o sujeito pesquisador (CASTELLS, 2003). Logo, as análises construídas
são tentativas de investigação e construção do problema deste trabalho, cujo
tema não se limita à estas páginas e continuará resultando trabalhos futuros.
5.1 Análise
Como fruto da pesquisa exploratória, foi feito um levantamento
bibliográfico fundamental para a compreensão do tema proposto e das
palavras-chave que embasam este trabalho, sendo utilizados os trabalhos dos
principais pesquisadores dos assuntos que permearam esta pesquisa.
A rede YouTube também fez parte deste processo exploratório, onde,
através de pesquisa e observação, foram identificadas diversas videografias de
si, sendo escolhidos um número de três vídeos para análise, que serão
descritos a seguir.
5.1.1 Não Faz Sentido!
O “Não Faz Sentido!” é o canal do ator carioca Felipe Neto (24 anos)
que, desde 2010 tem registrado suas opiniões sobre diversos assuntos em
formato de vídeo. Pelo próprio título do canal, é possível compreender que se
tratam de críticas esboçadas pelo ator, que geralmente são feitas através de
uma linguagem chula e rasgada, que chamaram a atenção de milhões de
usuários da rede e da mídia em pouco tempo.
100
Os estudantes de Jornalismo Arruda, Teixeira, Bastos, Abreu e Vieira
(2011, p. 3) descrevem o ator da seguinte forma:
De óculos escuros e cabelos para cima, ele aparecia no próprio
quarto, na frente de uma parede cheia de pôsteres do ator Johnny
Depp e de adesivos escrito “Cuidado: homem na cozinha”. O
“programa”, intitulado de “Não Faz Sentido”, seguia a mesma linha do
diário virtual: críticas sobre qualquer assunto. Mas principalmente
ídolos e manias do universo teen e das subcelebridades como os exBBB’s. Foi assim que Felipe Neto cresceu (2011, p. 3).
De início, o ator explica em uma entrevista concedida ao Correio
Braziliense (2010), que começou a gravar seus vídeos da maneira mais boba
possível. Ele afirma que: “na verdade, peguei uma câmera, apertei o “gravar” e
saí falando coisas aleatórias. Somente após alguns vídeos eu realmente
comecei a criar o programa “Não Faz Sentido”!””.
Através de sua fala irreverente nos vídeos, várias frases do ator se
transformaram em bordões que são constantemente repetidos pelas redes,
como “você tem probleminha” e “tá cafezado?”, por exemplo. Esses bordões
tão famosos lhe renderam uma grife com uma linha de produtos como camisas
e canecas com suas frases mais famosas.
O ator também chamou a atenção da mídia e, recentemente, Felipe
assinou um contrato com a Rede Globo e tem estrelado um quadro de humor
no programa Esporte Espetacular; o programa “Até que Faz Sentido” no canal
Multishow; e também é administrador do site Parafernalha.
O canal no YouTube “Não Faz Sentido!” atualmente tem os incríveis
números de 855506 de inscritos e 118764809 visualizações (até 23/01/2012),
que, nas estatísticas do site, se tornou um dos canais mais visualizados da
rede no Brasil, tendo o número de 35 vídeos postados. Apesar de ter um
formato de programa e não de um vlog pessoal, as características observadas
no canal se enquadram nas análises propostas.
O vídeo de Felipe escolhido para análise é intitulado de “Mídias Sociais”,
que até o dia 23/01/2012 possuía 2687631 visualizações. Neste vídeo, Felipe
narra suas opiniões e compartilha algumas experiências sobre seu uso das
mais diversas redes sociais digitais.
101
Figura 24: Vídeo “Mídias Sociais”.
Fonte: YouTube. Acessado em 23/01/2012.
Felipe inicia o vídeo explicando o que são mídias sociais lendo um papel
com informações de alguma fonte externa sobre o conceito, mas ao acabar a
leitura, ele joga a folha para o alto e dá sua própria definição de mídias sociais
e inicia uma narração fervorosa sobre as mesmas.
Ele fala abertamente que todos os usuários das mais diversas redes, só
estão nesses ambientes com o único propósito de “aparecer, mentir e amaciar
o ego”. Em seguida, ele narra uma experiência pessoal sobre os “nossos pais
usando as redes sociais”.
Ele narra que na época que ainda utilizava a rede Orkut, que sua mãe
(que também era usuária da rede) tecia comentários nas suas fotos pessoais
do tipo “que orgulho do meu filho lindão!” ou ainda “não acredito que isso saiu
de mim!” –
comentários
estes
que deixavam
o filho em
situação
constrangedora. Quanto a este fato, ele ainda aconselha abertamente aos pais
que possuem contas nas redes que deixem seus filhos em paz e freqüentem
apenas os seus grupos de interesse.
102
Felipe também faz uma comparação entre o Orkut – que ele considera
extinto – e o Facebook, a maior rede social do mundo atualmente. Para ele, o
Orkut só era utilizado para “fuxicar a vida dos outros”. Porém, ele também faz
fortes críticas ao Facebook, dizendo que acha a rede “uma estupidez sem
tamanho”, principalmente o aplicativo “cutucar” e a opção de marcar os amigos
nos álbuns de fotos. Ele inclusive mostra uma foto sua em que foi marcado no
álbum de um amigo, onde saiu em um ângulo que ele considerou ruim,
xingando o amigo em seguida.
Por fim, Felipe também expressou sua opinião sobre o Twitter, rede que
ele pensa ser o ambiente para “você, que sofreu bullying na escola, poder se
vingar da sociedade”, bastando criar um perfil aleatório e “sair xingando todo
mundo que não faz parte da sua patota e pagando de pseudo intelectual da
internet”. Ele afirma 99,9% dos tweets são inúteis e encerra o vídeo com uma
série de palavrões quanto a isso.
Ao analisar este material, é possível levantar várias questões. Conforme
a proposta de análise metodológica, primeiramente será analisada a questão
do público e do privado. Inicialmente, é importante lembrar que:
Os vídeos publicados por Felipe Neto em seu canal no
YouTube apresentam a opinião crítica do ator sobre diversos
assuntos que, para ele, não fazem o menor sentido. Esses
assuntos incluem novos hábitos adolescentes, filmes,
comportamento, políticos, tietagem, famosos, política e até ele
mesmo (TEIXEIRA, BASTOS, ABREU e VIEIRA, 2011, p. 4).
Logo, Felipe fala diretamente de coisas que estão presentes no
cotidiano, porém de forma crítica e pessoal do que não faz sentido para ele13.
Por isso, tratam-se de opiniões que revelam parte de sua intimidade, pois além
de elucidarem sua particularidade de pensamento, são ilustradas com
experiências pessoais, como o fato narrado no Orkut juntamente com sua mãe,
e o que ele pensa sobre os pais usarem as redes – um fato evidente de
publicização de intimidade.
Observando seus relatos e voltando nos conceitos iniciais de público e
privado em Arendt (2007), é possível relembrar de como o privado era
considerado intocável e como parte de sua essência foi sendo perdida ao longo
13
Grifo nosso.
103
dos anos até chegar aos ambientes íntimos relatados por Sibilia (2003), onde o
sujeito era convidado a embarcar obscuramente em seu interior para auto
descoberta. No século XXI isso parece ter se tornado possível através de um
movimento inverso, em que seria justamente mostrar para descobrir, onde esse
processo seria alimentado pelo discurso despreocupado perante o olhar da
câmera e do público. Tal fato desdobra, assim, “nas telas interconectadas pelas
redes digitais, todo o fascínio e toda a irrelevância da “vida como ela é””, de
modo que “os computadores e as redes digitais surgiriam, assim, como mais
um cenário para a colocação em prática da antiga “técnica da confissão””
(SIBILIA, 2003) antes feita através da escrita.
Tal fato contribui diretamente para a diluição das fronteiras entre o
público e o privado, visto que as funções se misturam ante a aproximação do
vlogger e o seu público – aproximação esta proporcionada pelo ambiente de
rede. Essa observação também é válida para outras formas de exposição de
intimidade, como a escrita íntima, por exemplo. Além de enfraquecer os limites
dos conceitos, Schittine (2004) ainda alerta que o principal problema de se
expor é que as conseqüências disso dependem do público com o qual se está
lidando.
Porém, Felipe mostra certa despreocupação perante o público, o que lhe
proporciona uma narração bastante ousada de seu modo de pensar, em que
ele não mede palavras para confessar o que não lhe agrada – fato este que o
fez passar de figura privada, anônima, para figura pública, tanto na rede,
quanto na mídia. Este acontecimento o fez conquistar reconhecimento e fama
necessários para incentivar a criação de novas críticas através de sua
expressão e interpretação pessoal dos fatos, assim como inspirar esse fascínio
citado anteriormente da “vida como ela é” colocada em suas críticas, que
incitam ao público cada vez mais o desejo por conhecer a realidade alheia.
Em segunda instância, será analisada a utilização ou não de um
personagem de si na videografia escolhida. A constatação deste fato é possível
inicialmente observando a performance executada pelo ator no vídeo, que se
destaca pelo uso de óculos escuros – acessório presente em todos os seus
vídeos. Por vezes que Felipe quer destacar algo, ele muda seu posicionamento
frente à câmera no vídeo, e tira os óculos escuros. O próprio Felipe comentou o
fato de se utilizar de um personagem de si na mesma entrevista citada
104
anteriormente, onde afirmou que não esperava ter tanta repercussão. Ele
explica que “se eu esperasse, não teria cometido alguns erros bobos, como,
por exemplo, não dar um nome ao personagem do “Não Faz Sentido!””, e
completa dizendo que
(...) as opiniões refletem as coisas que eu penso, elaboro o
roteiro em cima de coisas reais que saem da minha mente,
mas o resto é totalmente inventado e planejado. No cotidiano,
sou uma pessoa absolutamente calma, não consigo levantar o
tom para uma mosca, a menos que ela realmente me tire do
sério. O Felipe do Não Faz Sentido! é um grande personagem,
um alterego (NETO In CORREIO BRAZILIENSE, 2010).
Ainda é possível estabelecer uma relação desse personagem de si com
o aspecto ficcional, em que o autor do vídeo também é narrador e protagonista.
Para Sibilia (2008), cada vez mais a vida cotidiana é ficcionalizada e estetizada
com recursos midiáticos e aponta que:
Em uma sociedade tão espetacularizada como a que hoje nos
acolhe, não surpreende que as sempre confusas fronteiras
entre o real e o ficcional tenham se esvaecido mais ainda. O
fluxo é duplo: uma esfera contamina a outra, a nitidez de
ambas as definições fica comprometida. Por isso, tornou-se
habitual recorrer aos imaginários ficcionais expelidos pelos
meios de comunicação para tecer narrativas do cotidiano,
gerando uma coleção de relatos que confluem na primeira
pessoa do singular (2008, p. 196).
No caso de Felipe é possível compreender que esse personagem de si
existe tanto no narrador quando no protagonista, assim como no ator longe do
olhar da câmera, porém de forma menos ranzinza e visceral, visto que o Felipe
do dia a dia afirma ser uma pessoa calma. Porém, a evidenciação do público e
do privado não perde seu sentido de análise quando é tratado o personagem
de si do Felipe, pois o ator não deixa de elucidar o que pensa e de atrelar as
próprias experiências já vividas como exemplo, utilizando o personagem como
instrumento de representação.
Em terceira instância, será analisado o cenário de seu vídeo, dentro de
uma perspectiva semiótica. É possível observar que Felipe se utiliza de um
único espaço sempre, que indica ser seu próprio quarto (espaço privado). O
plano de fundo é repleto de imagens que fazem referência aos seus gostos,
como fotos de sua série e ator favoritos (Friends e Johnny Depp); e outras que
105
fazem indício a si mesmo e às suas opiniões, como uma imagem escrita:
“cuidado, homem na cozinha”; uma placa escrita “e no fim, tudo acaba em
pizza” e outra “só sei fritar ovo”.
Essas imagens e signos, como já visto em Peirce (1990) e Santaella
(2008), indicam que criação de uma imagem ou de um signo está diretamente
ligada à representação de alguma coisa, na tentativa de atribuir sentido a algo,
que no caso de Felipe, fazem referências a ele próprio. Joly (1996),
pesquisadora que contribui e participa na elaboração de numerosos estudos
sobre a imagem e o audiovisual, afirma que é importante
Demonstrar que a imagem é de fato uma linguagem, uma
linguagem específica e heterogênea; que, nessa qualidade
distingue-se do mundo real e que, por meio de signos
particulares dele, propõe uma representação escolhida e
necessariamente orientada (1996, p. 48).
No caso de Felipe, nota-se que foi construída toda uma realidade que,
embora fique em um status de segundo plano, também comunica uma
mensagem para o receptor, pois como apontado pela autora, a imagem
também é uma linguagem e ambas vivem em uma relação complementar de
sentido. “As imagens engendram as palavras que engendram as imagens em
um movimento sem fim” (JOLY, 1996, p. 121). Esse fenômeno continua
existindo, ainda que Felipe não utilize linguagem verbal para narrar os gostos
descritos no cenário. Tal fato também faz indício à individualidade, à
pessoalidade, por se tratar de coisas que lhe agradam diretamente.
E em última instância, algo muito importante para voltar as análises é
para o feedback dos internautas e fãs. Pelo próprio número de exibições de
seu canal no YouTube, concluímos seguramente que é um retorno consistente,
mas que muito comumente é dividido entre o positivo e negativo. Até a data da
análise, o vídeo recebeu 95990 “gostei”, 4098 “não gostei” e um total de 22641
respostas. É possível citar, por exemplo, alguns posts em resposta ao vídeo
“Mídias Sociais”:
“Muito engraçado... mas tadinhas das mães, rsrsrsrsrsrs. Pior que é
mais ou menos assim” (marcelogrbh).
106
“Tipo, eu gosto do Facebook... nada a ver o que você falou”
(123sarahme).
“Felipe Neto, tu é o cara! Fala tudo que pensa!” (Nathaliekuci).
“Ele fala mal e usa as redes sociais. Palhaço” (AndersonMeneses12).
“Felipe não pode falar nada do Twitter porque você também usa”
(NickHeyYou).
Logo, é possível notar como as opiniões se dividem sobre o vídeo, pois,
assim como o primeiro e o terceiro comentário descritos mostraram, alguns
usuários se identificam com a forma de pensamento de Felipe, diferente do
segundo, quarto e quinto comentários, que claramente mostram desaprovação
com suas opiniões.
Com isso, o jeito próprio de falar de Felipe divide o público que o apóia
do que o que se opõe, gerando muitas críticas pesadas à seu respeito. Arruda,
Teixeira, Bastos, Abreu e Vieira (2011, p. 4) novamente falam afirmando que:
A crítica de Felipe Neto é feita através de ofensas que tem
como fundamento único o seu modo de pensar. Uma simples
ação despretensiosa (o ato de pegar uma câmera e gravar um
vídeo para o YouTube) se tornou um desabafo pessoal com o
objetivo de promover a opinião do mesmo em detrimento da
opinião do resto das pessoas. A audiência se deve pelo fato de
algumas pessoas serem contra o que ele defende e terem, ao
assistir o vídeo, discernimento para defender opiniões
contrárias, ou até de pessoas que vêm suas opiniões próprias
representadas nas críticas de Felipe (2011, p. 4).
O comum sarcasmo que o ator se utiliza é o principal fato que chama
atenção sobre seus vídeos, para bem ou mal. Em outra entrevista feita, dessa
vez para o site do “O Globo” (2010), ele afirmou: “o humor não precisa ser
bonzinho, seguir a ética, a moral e os bons costumes. Eu luto contra isso.
Humor crítico, irônico e com palavrão é muito bom”.
Dentre a chuva de críticas que recebe, destacam-se também outros
vídeos feito pelo público que discorda de sua forma de pensar. Esses vídeos
são feitos em forma de resposta aos temas que Felipe trata, geralmente
ancorados com a colocação “faz sentido sim!”.
Apesar das críticas, Felipe também presta retorno aos seus fãs, por
vezes perguntando na rede Twitter sobre o que os fãs gostariam que ele
107
falasse nos vídeos futuros, bem como responder e retweetar os posts feitos
para ele.
Pensando em melhor se comunicar com seu público, Felipe criou um
segundo canal no YouTube, o “Felipe Neto Vlog”, que o ator explica ser um
vlog mais pessoal, onde ele criou um quadro “Felipe Neto Responde” destinado
à responder perguntas de seus fãs. Porém, ele pede que as perguntas também
sejam feitas em forma de vídeo, para serem selecionadas e respondidas em
outros vídeos futuros. Tal fato revela, com isso, que o ator também se
predispõe a melhor comentar sua individualidade e pessoalidade com os fãs,
fora do personagem que utiliza no “Não Faz Sentido!”, como uma expressão de
individualidade maior, sem o aspecto ficcional, a fim de atender a essa
crescente demanda que Sibilia (2008) aponta como “fome de realidade”.
5.1.2 Mas Poxa Vida
“Mas Poxa Vida” é o vlog pessoal do ilustrador e quadrinista Paulo Cezar
Goulart Siqueira (25 anos), mais conhecido como PC Siqueira. Assim como
Felipe, PC começou a gravar vídeos de forma despretensiosa e com relatos de
banalidades cotidianas, tanto que ele mesmo descreve seu canal como
“divulgações sobre o banal frustrante”.
Apesar de se utilizar de um tom calmo e tranquilo nos vídeos, ele se
descreve em seu blog pessoal como “uma pessoa constantemente perplexa,
nervosa, viciada em café e workaholic” 14.
Graças aos seus vídeos, de simples vlogger também passou a ser uma
figura conhecida nas redes e nas mídias e ganhou bastante fama. Assinou um
contrato com a emissora MTV e ganhou um programa intitulado de “PC na TV”,
onde segundo a descrição do site do programa, “simples e engraçado, PC
Siqueira comenta as notícias do universo curioso e inusitado, sempre com
muito humor, numa espécie de brainstorming televisivo” 15.
O “Mas Poxa Vida” também tem um número vasto de inscritos e de
exibições do canal, sendo 675770 inscrições e 100174033 exibições, além de
14
15
Disponível em: http://www.blogger.com/profile/12904995462609125120. Acesso em: 25/01/2012.
Disponível em: http://mtv.uol.com.br/programas/pcnatv/videos. Acesso em: 25/01/2012
108
116 vídeos postados (até 25/01/2012). O canal também é relativamente
recente, tendo sido criado em 14/02/2010.
Em uma matéria publicada no site da Revista Veja, Cicarelli (2010)
descreve o vlogger da seguinte forma:
Sentado em frente à câmera, PC faz mordazes crônicas
contemporâneas e aborda três prosaicos temas por vídeo,
como seu constrangimento num elevador, no trânsito ou numa
balada. (...) O vlog funciona como uma terapia para ele
(CICARELLI, 2010).
Santos (2011, p. 6), pós graduando em Comunicação, comenta que
(...) PC Siqueira, por ser considerado “polêmico” por conta de
seus comentários, consegue alcançar grande visibilidade, a
qual surge através de notícias, reportagens e críticas que
fazem com que o vlogger seja sempre lembrado (2011, p. 6).
Os vídeos de PC também criaram uma marca para quem assiste, graças
a um bordão que se tornou famoso criado por ele, com o qual ele abre todos os
seus vídeos: a frase “oi, como vai você?”.
Em uma entrevista concedida no “Programa do Jô” (2011), ele próprio
comenta que fala sobre muitas coisas em seus vídeos e explica: “é bem amplo
sobre o que eu falo nos vídeos. Eu falo sobre qualquer coisa, na verdade. Eu
ligo a câmera e começo a falar. Realmente sem pensar no que vou falar antes”.
E dentro das banalidades cotidianas narradas por PC, o ilustrador foi
ganhando visibilidade contando um pouco de suas experiências e opiniões
relativas aos mais diversos assuntos.
Logo, o vídeo escolhido para análise é intitulado “Xixi Sentado, Violão e
Faroeste Caboclo”, que como já sugere o título, aborda diversos assuntos – ao
contrário de Felipe, que escolhe um único tema para narrar durante todo o
vídeo.
109
Figura 25: Vídeo Xixi Sentado, Violão e Faroeste Caboclo
Fonte: YouTube. Acesso em: 25/02/2012
Até a data de acesso (25/01/2012), o vídeo já tinha recebido 844935
visualizações. Neste vídeo, PC narra algumas de suas experiências quanto aos
temas citados no título.
Ele inicia o vídeo com seu bordão de costume e explica que falará de um
assunto polêmico que diretamente evidencia uma intimidade sua: o fato de ele
fazer “xixi sentado”. Ele fala abertamente que tem esse hábito e que acha que
“todo mundo faz xixi em pé pra provar sua própria masculinidade” – fato que
ele ainda comenta achar “uma falta de etiqueta”, pois “você nunca acerta 100%
do seu alvo”. Antes de encerrar esse tema, ele ainda estimula o público que
faça o mesmo e, dentre os que já fazem, ele pede: “assuma que você também
faz xixi sentado”.
Ele até comenta esse fato na mesma entrevista citada anteriormente, e
afirma que esse vídeo foi um dos que mais fez sucesso, onde afirma que:
110
“assumi em público que faço xixi sentado” e, segundo ele, isso fez que outras
pessoas também assumissem fazer o mesmo.
Em seguida no vídeo, ele muda de assunto e começa a narrar sobre
violão e música e explica que “sempre tem um sujeito chato do violão em todo
o lugar que você vai”, e que sempre tocam as mesmas músicas sempre.
Apesar de lançar essa crítica, ele também comenta que uma de suas maiores
frustrações foi nunca ter aprendido a tocar algum instrumento.
Em seguida, ele faz uma conexão entre os assuntos e inicia outra
narração explicando que não gosta da música “Faroeste Caboclo”, falando
abertamente que não gosta da banda Legião Urbana. Ele comenta que acha
que as pessoas tratam essa música de forma quase religiosa, e por ser muito
longa, todos que sabem a letra da música fazem questão de sempre cantá-la
toda. Ele ainda completa afirmando: “se você aí é um cara chato do violão, tem
que riscar essa música Faroeste Caboclo do seu repertório”.
Logo após comentar os três principais assuntos do vídeo, seguem-se
cenas aleatórias, onde ele aparece se barbeando e escovando os dentes frente
à câmera. Depois disso, ele segue o vídeo falando ainda de outros assuntos
soltos, como não gostar de zíperes de plástico e ainda narra uma pequena
experiência, falando sobre os antigos sucos para crianças que vinham em uma
embalagem plástica em forma de revólver, que sua mãe não permitia que ele
consumisse, embora sempre quisesse experimentar. Encerrando o vídeo, ele
ainda aponta: “antigamente as coisas eram meio perigosas...”.
Apesar de falar de assuntos aleatórios e não necessariamente com
alguma relação entre si, é possível observar que PC trata de assuntos
cotidianos e que tem alguma ligação com ele mesmo, atrelados à sua própria
vivência.
Pensando nisso, e prosseguindo na proposta de análise desta pesquisa,
em primeira instância será avaliada a questão do público e do privado. É
importante
considerar que,
sem
constrangimento
aparente, PC falou
abertamente de sua intimidade ao se expressar de forma tranqüila sobre o fato
de como costuma ir ao banheiro, estimulando ainda, que outros façam o
mesmo. Além disso, ele narrou outros traços de sua pessoalidade repetidas
vezes, quando afirmou que uma de suas maiores frustrações foi não ter
aprendido música; sua raiva de zíperes e da música Faroeste Caboclo; e sua
111
experiência com sua mãe e o suco de revólver – juntamente com as duas
cenas aleatórias descritas acima, que representam cenas da vida comum.
Para Sibilia (2008, p. 195), a internet é um palco privilegiado deste
movimento, com sua proliferação de confissões reveladas por um eu que
insiste em se mostrar sempre ambiguamente real. PC ainda demonstra ter uma
despreocupação ainda maior que Felipe perante o olhar da câmera, pois além
de não preparar previamente o discurso a ser narrado, muitas vezes tratando
de assuntos aleatórios que não geralmente não tem relação entre si, ainda se
utiliza de outras cenas que exprimem uma intimidade banal, que é comum a
todos nós.
Esse movimento comentado pela autora além de ganhar um grande
espaço no ambiente de rede, também ganha certa importância, conforme
apontam as professoras de Psicologia Machado e Salvador (2000). Elas
afirmam que é possível observar uma crescente valorização do privado – como
campo dos interesses particulares, do idiossincrático, do íntimo, enfim, do ‘eu’ –
e um alastramento de seus sentidos para o que anteriormente lhe era alheio.
Porém, para a mestre em Psicologia Moreira (2006, p. 42-43), a idéia de
intimidade encontra no contemporâneo sentidos e definições inteiramente
originais. Ela explica que:
Diferentemente da Modernidade onde a valorização da
intimidade implicava em preservá-la, em protegê-la da
curiosidade pública, na Pós-modernidade a exposição dessa
intimidade e o quanto a mesma atrai o interesse do outro é a
medida de valor. Isso não significa que a intimidade passou a
ser de domínio público, ela continua sendo considerada
privada, mas com a permissão do conhecimento público (2006,
p. 42-43).
Logo, a autora não percebe uma quebra entre esses limites, mas uma
ressignificação dos conceitos em uma nova realidade. Ela ainda afirma que
(2006, p. 40),
A vida comum, no que esta tem de mais banal, transformou-se
num espetáculo para grande público e tal interesse parece ter
como recompensa a constatação de que se vive a mesma vida
e assim tornando a mediocridade do contemporâneo mais
facilmente suportável (2006, p. 40).
112
E exatamente isto que o vlogger faz: narra o seu eu em detalhes
ordinários do cotidiano, fato este que lhe atribuiu conhecimento das mídias e de
público, fazendo-o migrar, assim como Felipe, de figura privada à pública.
Em segunda instância, será avaliado se PC faz uso de personagem de si
ou não em seus vídeos. Inicialmente é preciso considerar que, devido aos
fortes tons pessoais expressados em todas as suas colocações, é possível
constatar que não há aspectos ficcionais, assim como em seu próprio discurso.
As opiniões descritas e críticas lançadas pelo quadrinista foram todas
colocadas da mesma forma, sem qualquer alteração em sua fala ou uso de
algum acessório ou objeto específico, apenas seguindo o mesmo padrão de
narração calma e sarcástica, diferente do caso anterior. E tal fato se confirma
em uma entrevista que PC concedeu ao blog do Estadão (2010), em que ele
confirma o fato e garante que não atua em frente à câmera, age naturalmente
apenas mantendo certa postura.
Logo, PC simplesmente lança mão do seu eu. Sibilia (2008, p. 31)
comenta que
A experiência de si como um eu se deve, portanto, à condição
de narrador do sujeito: alguém que é capaz de organizar sua
experiência na primeira pessoa do singular. (...) A linguagem
não só ajuda a organizar o tumultuado fluir da própria
experiência e a dar sentido ao mundo, mas também estabiliza
o espaço e ordena o tempo, em diálogo constante com a
multidão de outras vozes que nos modelam, coloreiam e
recheiam (2008, p. 31).
Sotomaior (2008, p. 75), mestre em Multimeios, ainda destaca que,
desta forma, sobressai-se a arte da pessoa, suas versões sobre a vida, a
vontade de se mostrar e mostrar o seu cotidiano, o seu redor, sua casa e seus
amigos. Ele afirma que a simplicidade de lidar com uma câmera digital ou
publicar um blog facilita a presença do íntimo e de narrativas pessoais, que
para ele reeditam os antigos diários, autobiografias, auto-retratos e outras
formas de escrita de si (2008, p. 75). E essa simplicidade comentada pelo autor
de fato é mostrada nos vídeos de PC, juntamente com uma despreocupação
de discurso.
Em terceira instância, conforme proposta da metodologia, será analisado
o plano de fundo escolhido por PC neste e na maior parte de seus vídeos.
113
Comumente ele utiliza o seu próprio quarto como cenário (espaço privado),
sem imagens ou outros objetos específicos para a gravação, tampouco sem a
criação de uma realidade paralela para habitar seus vídeos. O vlogger se utiliza
e expõe o ambiente mais particular e íntimo de cada pessoa, que seria o
quarto. Tal fato mostra o que Valadares (2011, p. 59), mestre em Comunicação
Social, afirma quando mostra que “antes, espaço da privacidade, da intimidade,
o quarto agora, como tudo mais, é aberto ao olhar de outrem, é um espaço de
constante exposição. Sob o poder dessas linhas, o doméstico, o privado, é
convocado a se revelar”.
Também como observado, PC não se utilizou de outras imagens ou
objetos. Logo, por mais que, como já visto em Santaella e Nöth (2008),
imagens fomentem atenção e motivação, é importante notar que PC se utiliza
mais da linguagem verbal para apresentação de suas idéias, fato este que gera
mais efeitos cognitivo-conceituais (2008, p. 44) aos receptores. O próprio ator
torna-se o signo ou representamen, representando seu próprio objeto, criando
na mente à quem se dirige, um signo equivalente (PEIRCE, 1990).
Nöth (2003, p. 32) também traz contribuições citando Agostinho, que
acentuou o papel da interferência mental no processo de semiose. Segundo
ele, “o signo é, portanto, uma coisa que, além da impressão que produz nos
sentidos, faz com que outra coisa venha à mente como consequência de si
mesmo”. Logo, o receptor completa o sentido da mensagem transmitida.
Em quarta instância, será analisado o feedback de seus vídeos. Até a
data 25/01/2012, o YouTube registrou 4440 respostas ao vídeo em questão;
4731 “gostei” e 699 “não gostei”. Assim como no caso de Felipe, há um retorno
consistente de público, sendo possível destacar alguns comentários:
“Apesar de gostar do Legião Urbana, e da música Faroeste Caboclo, eu
adoro o PC. E gostei desse vídeo também” (MaiaraBela).
“Eu faço xixi sentado!!” (mlkracional).
“Todo mundo gosta de Legião Urbana porque Legião Urbana é
realmente bom. Não saber ter cultura é triste” (Theingridye).
“VELHO! COMO VOCÊ NÃO GOSTA DE LEGIÃO URBANA?!”
(Patricia61634).
114
“Ele fala o que quer nos vídeos dele! Simples assim :) Agora, se acha
ruim, só não assistir” (TheNathalie8478).
Com isso, é possível observar que as opiniões à respeito de PC e seus
vídeos também são bastante divididas entre o público que o admira e o que
discorda de seus ideais. Porém, apesar de todas as críticas, Santos (2011, p.
4) afirma que:
Muito se fala sobre as afirmações de PC Siqueira, entretanto,
não se pode negar que o rapaz influencia os mais diversos
tipos de grupos sociais, e que de uma maneira ou outra está
alterando a visão de mundo de boa parte de uma geração (pelo
menos no Brasil). Afinal, na era da internet e da rápida
distribuição de informações, os jovens sempre se espelham em
artistas do momento (sejam eles músicos, apresentadores,
atores e atrizes), e recebem influências pelo modo que os
famosos vestem, pensam e vivem (2011, p. 4).
Paralelo a essa idéia, Amaro (2011, p.12) acredita que:
Atualmente, o grande nome da vlogosfera brasileira é PC
Siqueira. Seu canal MASPOXAVIDA está sempre entre os mais
populares e mais comentados do YouTube. A saudação inicial
"Oi, como vai você?", sempre presente na abertura de seus
vídeos, e a linguagem direta e informal podem ser
considerados convites à conversa, ao estabelecimento de um
diálogo, ou seja, marcas de oralidade. Talvez por isso é que
tenhamos uma grande quantidade de comentários aos seus
vídeos, além de vários vídeos-resposta, veiculados no próprio
YouTube, em concordância e, principalmente, discordando das
posições e atitudes de Siqueira (2011, p. 12).
Assim como Felipe, PC recebe sugestões e pedidos de assuntos para
serem tratados nos seus vídeos. Apesar de também ter uma conta no Twitter
com cerca de 1.065.274 seguidores (até dia 26/12/2012), PC se comunica
diretamente mais com amigos de sua própria rede e com o público de forma
mais geral, comentando fatos do seu dia a dia, expressando suas opiniões e
divulgando os próximos vídeos.
5.1.3 Ora.Poys
115
Ora.Poys é o canal do estudante Giannder Azevedo (19 anos), e
diferente dos outros dois casos, não é uma pessoa famosa na mídia. O que ele
tem em comum com os casos anteriores é o fato de também narrar o cotidiano
sob uma ótica própria, com fortes tons pessoais e autorrepresentativos. Porém,
ele criou o seu vlog com um objetivo específico.
Em uma entrevista concedida para esta pesquisa (2012), Giannder
mostrou grande interesse em ser ator após ter algumas experiências na área
na Rede Globo, sendo esta uma motivação inicial para criar um vlog. Segundo
ele:
(...) primeiramente eu quis fazer isso do momento que eu
comecei a trabalhar com televisão, com câmera. Então, (...) eu
pensei que realmente precisava criar alguma coisa pra ver se
realmente gosto e se sou bom. Aí tive idéia de criar esses
vídeos. Além de expressar minha opinião pra todo mundo, eu
fiz isso pra me soltar mais em frente a uma câmera, pra
melhorar minha dicção e o improviso (AZEVEDO, 2012).
Apesar de o canal ter sido criado recentemente, já obteve 2946
exibições e possui 19 inscritos (até dia 26/01/2012). Dentre seu material no
canal, Giannder fala de assuntos diversos, sem uma quantidade específica de
assuntos a serem abordados. No vídeo que será analisado a seguir, foi tratado
um único assunto, porém em outros vídeos, é possível encontrar dois, três
assuntos abordados por vídeo.
Ele explica que, quanto aos seus objetivos,
(...) o que eu realmente quero fazer é expressar minhas idéias
de forma natural. Acho que os vlogs do Felipe Neto e do PC
Siqueira são mais pro lado da crítica e eu posso até criticar
alguma coisa, mas não da forma que eles fazem. E nos meus
vídeos eu falo muito mais de mim do que dos outros. Se eu
percebo que estou falando mais dos outros do que de mim, eu
volto e busco o foco mais em mim. (...) também uso os vídeos
como expressão pessoal (AZEVEDO, 2012).
O fato de Giannder sempre voltar o foco para si torna possível citar
Costa (2009) em suas análises sobre o self. O autor afirma que “o self é uma
maneira de o indivíduo contemporâneo materializar aquilo que o olhar para si
revela, uma recriação linguageira do inteligível” (2009, p. 32) e ainda completa
que “o narrativo é parte da formação do self” (2009, p. 37).
116
Logo, foi escolhido o vídeo “Ano Novo!” para análise, que até dia
26/01/2012, tinha 443 visualizações, 32 “gostei” e apenas 1 “não gostei”.
Figura 26: Vídeo “Ano Novo!”
Fonte: YouTube. Acesso em 26/01/2012
No vídeo “Ano Novo”, ele inicia já explicando o porquê da mudança de
cenário (nos vídeos anteriores, ele havia gravado em um lugar diferente) e fala
que aquele foi o único lugar da casa que achou pra gravar. Prosseguindo, ele
saúda o público com votos de um feliz ano novo e alavanca a narração sobre o
tema. Ele explica que não gosta da data por ser um dia que o deixa entediado,
sem conseguir falar com ninguém no celular. Ele também afirma que nunca
sabe para onde vai, que leva “4 horas” pra escolher uma roupa e que não vê a
hora do ano acabar logo.
Em seguida, ele começa a falar sobre as mais variadas manias e
superstições de ano novo, e fala que a sua é sempre passar a virada de ano de
branco. Mas ele explica que isso não é motivado por nenhuma superstição, e
sim pelo fato de gostar da cor e não a utilizar em outras épocas do ano.
117
Por último, ele fala de todas as coisas comuns que são feitas sempre,
mas que parecem ganhar certa importância quando são feitas pela primeira vez
no ano novo, como “o primeiro espirro do ano”. Após citar alguns exemplos de
algumas “primeiras” coisas do ano, ele narra que “todos ficam esperando o
primeiro beijo do ano”. Se tomando por exemplo, ele explica que “no meu caso,
eu só dou o primeiro beijo do ano lá pra outubro, e assim mesmo numa menina
bêbada”.
Logo, ele encerra o vídeo com vários votos para 2012, e desejando “que
eu tenha muita saúde e que ninguém queira me matar”.
Analisando o material em questão e seguindo a proposta metodológica,
inicialmente será analisada a questão do público e do privado. É possível
identificar diversos traços de intimidade que foram narrados. Primeiramente,
ele já relata não gostar da data por diversos motivos pessoais e é possível
notar que ele se utiliza de poucas críticas ao longo do seu discurso, sempre
virando o foco do assunto narrado para si mesmo, para o que pensa e para o
que faz (enunciação do self).
Tendo em vista os relatos que mostram um pouco da pessoalidade do
vlogger, na entrevista para esta pesquisa foi perguntado o que o motiva a falar
de assuntos cotidianos e se a narração de suas experiências pessoais são
voluntárias. Ele respondeu que:
(...) nesse vídeo eu digo que fico quatro horas me arrumando e
acho que é uma coisa que muitas pessoas também passam. É
aquela dúvida “que roupa vou usar?” e eu sou muito chato pra
roupa. Eu demoro muito mesmo pra escolher roupa,
principalmente nesse dia. Eu também nunca sei pra onde eu
vou, assim como outras pessoas, então, minha intenção é
também fazer com que as pessoas se identifiquem um pouco
com meu vídeo. Pode até ser uma coisa óbvia, mas eu gosto
de falar. Eu procuro sempre falar das coisas que se passam
comigo, mas algumas saem involuntariamente, às vezes uso
muito improviso. Lembro de alguma coisa na hora e falo
(AZEVEDO, 2012).
Logo, através de sua fala, é possível considerar que Giannder também
busca o que Costa (2009), apoiado em Barthes (2004), chama de “efeito de
real”, que ele explica da seguinte forma:
Nas videografias de si, o efeito de real faz parte de um arsenal
que atua em favor da autenticidade das manifestações
118
autobiográficas, ao mesmo tempo em que revela uma
estratégia estética, ele ajuda na constituição de um estilo
específico. À primeira vista, este estilo seria uma espécie de
realismo, no qual o real é solicitado para dar verossimilhança
às narrativas e isso pode ser percebido na escolha do
conteúdo, que usa o autobiográfico como a base para a sua
constituição (2009, p. 96).
Porém, em comentário à base de Barthes, Rancière (2010) afirma que
esta comprovação do real parece retroceder a uma oposição que estruturou a
lógica da representação. Assim, Barthes afirma que esta nova verossimilhança
se torna o núcleo de um fetichismo do real.
Com isso, consequentemente, esse “efeito de real” por ser apoiado em
fatos reais e comuns, gera verossimilhança com a realidade cotidiana,
causando um efeito, em contrapartida, de identificação no receptor. Porém,
esse realismo trazido à tona de forma voluntária e espontânea contribui para a
complicada equação do público e do privado, principalmente devido à
consolidação do íntimo. Para Costa (2009) há um declínio da esfera pública e
da vida pública como tal – fato este que traz o íntimo para o espaço público,
conforme tem sido mostrado nos estudos de caso desta pesquisa, onde parece
prevalecer uma clara despreocupação perante o olhar da câmera por parte dos
vloggers.
E esta intimidade também sofre conseqüentes mudanças, pois ela
parece estar perdendo suas características marcantes em relação ao secreto e
ao privado para se transformar numa experiência cada vez mais pública e
mercadológica (ALBUQUERQUE, 2005, p. 17).
Prosseguindo, em segunda instância será analisada o uso de um
personagem de si ou não, isto é, a forma de autorrepresentação do vlogger. Tal
questão, que já vai se configurando inicialmente através da análise anterior, se
ancorou em mais uma fala de Giannder para a entrevista concedida à esta
pesquisa. Ele afirma que “99% é o Giannder que fala” e que apesar das
brincadeiras que ele faz no vídeo, é ele quem fala praticamente o tempo todo.
Logo, o vlogger não se utiliza de um personagem de si em seus vídeos para
autorrepresentação.
Logo, “a função da câmera como mediadora é atribuir transparência,
uma forma de agregar objetividade às confissões em vídeo” (Costa, 2009, p.
119
210). Tal fato mostra que “as videografias tentam prover uma apresentação
pretensamente transparente da subjetividade dos indivíduos” (Costa, 2009, p.
210).
Em terceira instância, foi analisado o cenário do vídeo, bastante sóbrio e
sem quaisquer tipos de objetos. Apesar de ter gravado em um lugar diferente
que gravou os vídeos anteriores, o vlogger explica que costuma gravar onde
fica o computador, mas que isso pode variar. Segundo ele:
(...) no próximo (vídeo) pode ser que eu coloque a televisão de
fundo, ou grave no banheiro. Onde eu me sentir à vontade pra
falar e sentir que devo fazer, eu vou fazer. Algumas pessoas
me sugeriram que eu criasse um fundo, mas nunca foi minha
intenção ser famoso com vídeos ou ter muitas visualizações, foi
mais uma coisa minha mesmo (AZEVEDO, 2012).
Logo, o vlogger simplesmente é motivado pela vontade na escolha de
um cenário, que não necessariamente tem alguma relação com o assunto
abordado no vídeo. Porém, é importante destacar que ele usou o espaço de
sua casa, logo, um espaço privado.
No caso de “Ano Novo!”, foi apenas
utilizado um fundo branco atrás de si, e o vlogger ateve-se mais à importância
da fala e do discurso. Para Santaella e Nöth (2008), a própria ausência de
estímulos visuais também representam algo e são capazes de alavancar
imagens mentais que podem ser evocadas através do discurso do emissor,
como uma lembrança, por exemplo, fruto de alguma experiência narrada.
O próprio quarto como cenário ganha uma nova representação,
conforme aponta Amaro (2011). Para o autor, há uma ressignificação do quarto
em si, que deixa ser apenas um lugar de repouso para se tornar cenário para
um veículo de comunicação (p.12).
Costa (2009, p. 49) ainda aponta que
O refúgio do lar já não garante resguardo perante o mundo
exterior, na verdade, o mundo exterior já penetrou tão
fortemente no espaço privado que tal refúgio torna-se
impensável. As mídias, neste contexto, são justamente aquelas
que publicizam esse espaço privado e aqui podemos retomar a
conotação de mídia como um meio que se interpõe entre dois
objetos de uma relação. Como todo processo de mediação
prevê uma adequação, uma adaptação mútua, pode-se dizer
que uma das causas e conseqüências da confusão entre
público e privado é a midiatização de ambos (2009, p. 49).
120
Essa midiatização dos espaços citada por Costa (2009) são bastante
evidentes e de simples constatação. No caso de Giannder, em que há essa
possibilidade de gravação em outros lugares de sua casa, tal fato confere
veracidade à afirmação anterior, de modo que o vlogger poderia dar a conhecer
cada espaço do ambiente que vive, que é a esfera da casa, do privado. Logo,
diferente da Antiguidade Clássica, na realidade do século XXI a esfera privada
já perdeu seu caráter inviolável visto em Arendt (2007).
Por fim, será analisado o feedback deste vídeo. Foi possível constatar
que, apesar de terem havido poucas respostas ao vídeo no canal, Giannder
relatou que obteve retorno de público principalmente através de outras redes.
Ele afirmou que:
(...) pessoas que eu nunca pensei que fossem falar comigo na
vida, foram lá naquele chat do Facebook e disseram ter dado
muita risada com os vídeos. E não só no Facebook, no Twitter
também. Uma menina do Paraná chegou até meu vídeo e me
deixou uma mensagem no Twitter dizendo que tinha gostado
muito. Graças a Deus as pessoas tem me falado coisas boas
dos meus vídeos e poucas pessoas disseram que não
gostaram (AZEVEDO, 2012).
No canal houve três respostas aos vídeos que serão descritas abaixo:
“Primeiro beijo só em outubro, hahahahahaha (duvido que seja) ;D”
(12dupla).
“Eu pedi que fosse rica, e aí?” (teka930) (em resposta ao comentário do
vlogger, que disse deseja ganhar na mega sena em 2012).
“kkkkkkkkkkk, gostei” (teka 930).
Segundo o vlogger e os comentários do canal, ele tem obtido um retorno
bastante positivo, entre opiniões positivas e negativas. Por abordar os assuntos
cotidianos sempre muito voltados para si mesmo, o vlogger potencializou o
“efeito real”, descrito por Costa (2009), em sua análise simplista do cotidiano
como parte de uma constituição identitária do self, que é bastante comum no
dia a dia. O autor ainda explica que:
A familiaridade crescente com as tecnologias de comunicação
e com os processos midiáticos – obtida pela popularização dos
121
meios eletrônicos de gravação e reprodução, pelo consumo
crescente de produtos midiáticos e pelo surgimento de
interfaces cada vez mais amigáveis – provê as condições
necessárias para que o processo de constituição identitária se
dê por e através das interações mediadas tecnicamente (2009,
p. 90-91).
Logo, além de uma nova relação de subjetividade, as videografias
trazem aproximação entre emissor e receptor, superando as barreiras de
espaço e tempo e promovendo familiarização dos assuntos abordados no
cotidiano.
Embora Giannder não tenha o conhecimento de outras mídias através
de seus vídeos, ele passou de figura privada a pública do momento que dispôs
informações pessoais em um espaço público numa rede de acesso mundial.
Em uma síntese dos dados obtidos das três videografias analisadas,
foram obtidos os seguintes resultados através da proposta de metodologia
criada para esta pesquisa:
VLOGGER
Felipe Neto
“Não Faz
Sentido!”
Avaliação do
Público e do
Privado
Uso de
Personagem
de Si
Felipe fala diretaFelipe faz uso
mente de coisas de personagem
que estão presende si, e, por
tes no cotidiano,
vezes que quer
porém de forma
destacar algo,
crítica e pessoal
ele muda seu
do que não faz
posicionamento
sentido para ele. frente à câmera
Por isso, tratamno vídeo, e
se de opiniões
varia a utilizaque revelam parte ção dos óculos
de sua intimidade,
escuros,
pois além de
acessório que
elucidarem sua
evidencia
particularidade de quando o perpensamento, são
sonagem apailustradas com exrece.
periências pessoais.
Cenário
Feedback do
Público
Felipe
utiliza um
cenário
próprio,
estilizado
com
elementos
que fazem
referência
ao seu
gosto
próprio.
Até o dia
23/01/2012 o
vídeo possuía
2687631
visualizações,
95990 “gostei”,
4098 “não
gostei” e 22641
respostas.
Retorno de
público
consistente e
opiniões
divididas à
respeito do
vlogger.
122
VLOGGER
PC Siqueira
“Mas Poxa
Vida”
Avaliação do
Público e do
Privado
Foi possível
observar que PC
trata de assuntos
cotidianos e que
tem alguma
ligação com ele
mesmo, atrelados
à sua própria
vivência, numa
narração íntima
sem qualquer
constrangimento
aparente.
Uso de
Personagem
de Si
Cenário
PC não se
O vlogger
utiliza de um
não se
personagem e
utilizou de
garante que
outras
não atua em
imagens ou
frente à
objetos
câmera, age
específicos,
naturalmente
apenas o
apenas
próprio
mantendo certa
quarto
postura.
como
Logo, PC
cenário.
simplesmente
lança mão do
seu eu.
Feedback do
Público
Até a data
25/01/2012, o
YouTube
registrou
844935
visualizações,
4440 respostas
ao vídeo em
questão; 4731
“gostei” e 699
“não gostei”.
Assim como no
caso de Felipe,
há um retorno
consistente de
público e
opiniões
divididas em
relação ao
vlogger.
123
Avaliação do
Público e do
Privado
VLOGGER
Giannder
Azevedo
“Ora.Poys”
Uso de
Personagem
de Si
É possível
Ele não utiliza
identificar diversos
um
traços de
personagem de
intimidade que
si e afirma que
foram narrados,
“99% é o
bem como
Giannder que
evidente
fala” e que
enunciação do
apesar das
self, em que o
brincadeiras
vlogger sempre
que ele faz no
vira o discurso
vídeo, é ele
para si mesmo.
quem fala
praticamente o
tempo todo.
Cenário
Feedback do
Público
No vídeo
em questão
foi utilizado
um fundo
branco de
um quarto,
porém o
vlogger é
motivado
pela
vontade na
escolha de
um cenário.
Até dia
26/01/2012, o
vídeo obteve
443
visualizações,
32 “gostei”,
apenas 1 “não
gostei” e 3
respostas.
Segundo o
vlogger, houve
uma positiva
aceitação de
seus vídeos.
Em uma análise geral dos vídeos descritos, é possível compreender que
as
práticas
de
autorrepresentação
dos
indivíduos
adquire
contornos
específicos, onde é materializado o que o olhar para si revela, conforme
apontado por Costa (2009).
E a apresentação do público e do privado pôde ser evidenciada em
diversos sentidos, sendo possível através da análise de ambas as esferas,
apontar ainda como os conceitos vem sofrendo diversas transformações ao
longo dos tempos, permanecendo ainda problematizados no século XXI.
Porém,
conforme
afirma
Costa
(2009,
p.
49),
como
esferas
interdependentes, eles provêm uma distância, mas conservam uma profunda
relação, pois o privado necessita de projetar-se para existir, e esta projeção se
dá por meio da publicização – fato este cada vez mais visível através da
projeção de informação nas redes sociais digitais.
124
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa buscou apresentar um entendimento acerca dos
conceitos de público e privado na análise das videografias de si, que são
vídeos autorrepresentativos que narram fatos cotidianos, cujo acesso é
possível através da rede YouTube. O problema tratado foi justamente sobre a
tênue relação entre esses dois limites e como estas fronteiras são difíceis de
serem calculadas quando o plano de fundo é o ciberespaço – espaço de
visualização mundial.
Foi possível analisar que, mediante a expressão pessoal presente
nestes vídeos, há um rompimento destas barreiras, de forma que o que é
privado se dá a conhecer no momento da disponibilização das informações
pessoais contidas nos vídeos na rede. Tal fato, além de atrair grande
quantidade de acessos, principalmente por narrar assuntos corriqueiros, é
capaz de provocar identificação imediata (ou não) do receptor com a
mensagem transmitida e causando um feedback onde essas impressões são
descritas.
Para identificar essa enunciação do público e do privado na rede de
canais online foi necessário fazer uma identificação dos vlogs na rede e
analisar seu conteúdo a fim de constatar essa evidenciação dentro de uma
expressão dotada de características auto representativas.
Nesta pesquisa foram identificados alguns dos principais vloggers da
atualidade no Brasil, assim como um vlogger com pouco conhecimento nas
mídias, porém, puderam ser evidenciadas diversas características comum a
eles em sua narração do self ancorada a experiências pessoais narradas pelos
próprios usuários. Logo, tal pesquisa sugere que os usuários da rede que
compõem esses vídeos, o fazem como forma de expressão pessoal, seja como
forma de propaganda pessoal ou o desejo de emitir opiniões ou críticas sobre
determinado assunto.
A pesquisa exploratória e suas análises qualitativas e descritivas
mostraram a iniciativa despretensiosa dos vloggers no quesito de repercussão
dos vídeos na rede, além de também apontar certa característica involuntária
na disposição de algumas informações pessoais, sendo outras previamente
planejadas para a pauta do vídeo.
125
É possível apontar, ainda, que as repercussões geradas pelos vídeos
estão atreladas à identificação ou repúdio das idéias e assuntos narrados
conforme uma ótica pessoal dos emissores da mensagem. Além disso, os
relatos obtidos dos próprios vloggers comprovaram a existência ou não
existência do uso de um personagem de si para contribuição da ótica que
estava sendo narrada, bem como seu impacto junto ao público.
Logo, através da análise dos resultados obtidos, foi possível constatar
que a hipótese inicialmente proposta confirma-se em sua plenitude, atrelada ao
fato, ainda, de os usuários também serem motivados por um desejo próprio ou
do próprio público de discorrer sobre determinado assunto.
É também relevante apontar a dinamicidade da rede em questão. O
cenário do YouTube no ano de 2012 já mostrou algumas mudanças em relação
à quando começou a ser estudada, no ano de 2010. É possível apontar
mudanças, não apenas no design da rede, mas na própria política de
privacidade e termos de uso, apontada recentemente pela rede responsável
Google. Este fato mostra que a rede é um objeto que requer acompanhamento
de pesquisa futuro, assim como as próprias videografias, visto que a adesão à
criação de vlogs é crescente.
Com a constante presença das TIC’s, é possível contemplar a mudança
e o abalo de vários paradigmas, como o da comunicação social e do público e
do privado, conforme tratados neste trabalho. No que é tangível à utilização da
Internet como forma geral, todas as atividades feitas em rede são ligadas ao
trabalho, família e vida cotidiana, tendo sido a rede apropriada pela prática
social. Porém, este é um assunto que se mostra intrigante à medida que essas
inovações trazidas se difundem num cotidiano em que essa realidade pode ser
vivida, alcançada. Acreditamos que essa seja apenas a gênese de maiores
transformações futuras.
Compreende-se que os estudos levantados nesta pesquisa possam
contribuir de forma positiva para a uma conscientização à respeito da
propagação dos diversos tipos de mensagens que os usuários das redes têm
disponibilizado quanto ao seu grau de intimidade, bem como o estudo do
público e do privado perante este cenário tecnológico onde suas fronteiras
estão bastante entremeadas. Também esperamos contribuir com os estudos
126
recentes das videografias de si nesse ambiente de inovações e transformações
das TIC’s.
No século XXI é de grande importância nos atentarmos ao fato que o
que construímos na rede das redes hoje será o amanhã das próximas
gerações, com reflexos diretos na nossa sociedade em todos os seus
aspectos.
127
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138
APÊNDICE
ENTREVISTA REALIZADA COM O VLOGGER GIANNDER AZEVEDO
139
Roteiro de Entrevista com Giannder Azevedo realizada no dia 9/01/2012
1. Vivemos numa era onde o espaço virtual ganhou um grande espaço na
sociedade e tem alcançado milhões de usuários. Neste ambiente, é
possível verificarmos muitas tendências, hábitos e modas. O que mais te
chama atenção nas novas tendências do ambiente de internet?
(Giannder Azevedo): Nada me chama a atenção, pra ser sincero. Acho que
cada um tem uma forma de pensamento, errada ou certa, ridícula ou não. Cada
um tem uma forma de viver. Eu respeito isso de cada um. Nada do que
acontece nesse ambiente me incomoda, nem essas “modinhas”, nem nada
assim.
2. Você acha que as pessoas que disponibilizam informações pessoais nas
redes? Se sim, com qual intuito elas fazem isso?
(GA): Sim. Eu mesmo colocava muita coisa no Twitter, no Facebook, mas há
um tempo eu parei com isso. Mas eu colocava mais os meus trabalhos, “bom
dia”, coisas que todo mundo coloca. No Twitter, por exemplo, a pessoa acorda
e coloca “bom dia”, depois “agora vou tomar café”, depois “agora vou escovar
os dentes porque tomei café”, e isso aí não é legal e nem saudável. Porque as
pessoas acabam sabendo detalhes do que o outro está fazendo e não precisa
disso. Você querer colocar que vai ao um show ou a um evento é até uma
coisa normal, mas daí dar detalhes, acho um pouco de exagero e até de
carência. Porque às vezes parece que as pessoas não tem amigos pra contar
isso e acabam colocando no Twitter ou no Facebook pra todo mundo ver, o que
é uma coisa meio exagerada por parte de quem coloca. É difícil saber com qual
intenção elas fazem isso. Na minha opinião, quando as pessoas postam isso é
por carência, porque a maioria das coisas que vemos na Internet é: “que tédio”,
ou então “tou sofrendo”, ou então “minha vida é uma droga”. A maioria das
coisas é isso, você pode reparar. Existe lá no Twitter o “Frases de Jovens” e
95% é de pessoas que postam parecem estar com depressão ou que vão
morrer. São raras as frases que te animam. Então eu acho que o que passa na
140
cabeça das pessoas, além de carência, é vontade de expressar o que estão
sentindo também naquele momento, e geralmente é tristeza.
3. Qual foi o primeiro contato que você teve com vlogs?
(GA): Acho que o primeiro vlog que eu vi foi o do Felipe Neto, se não me
engano.
4. Por que criou um vlog e o que propõe com ele?
(GA): Desde pequeno eu não sou tímido. E certo dia a produtora do programa
“Os Caras de Pau” esteve aqui na cidade procurando pessoas para fazer
figuração e eu fui. Aí me chamaram para a figuração, mas chegando no local
não teve a gravação da minha cena. E eu fiquei todo triste. O cara lá disse pra
eu não me preocupar porque ia receber de qualquer jeito, mas eu olhei pra
cara dele e pensei: “quem que quer ganhar dinheiro, rapaz? Eu quero é
aparecer na televisão”. Depois de eu continuar triste lá, o cara me disse que a
produtora queria saber se eu poderia gravar no Rio (de Janeiro) a tal figuração.
Lógico, eu aceitei. Coloquei minha mochila nas costas e parti pro Rio.
Chegando lá, não teve essa gravação também, mas gravei outras coisas e eu
comecei a me apaixonar pelo meio da televisão. Continuei lá e voltei há pouco
tempo e pretendo voltar pra lá depois do Carnaval. Aí vem sua pergunta: “por
que você criou o vlog?”. Bom, primeiramente eu quis fazer isso do momento
que eu comecei a trabalhar com televisão, com câmera. Então, quando eu
voltei eu pensei que realmente eu precisava criar alguma coisa pra ver se
realmente gosto e se sou bom. Aí tive idéia de criar esses vídeos. Além de
expressar minha opinião pra todo mundo, eu fiz isso pra me soltar mais em
frente a uma câmera, pra melhorar minha dicção, o improviso. Algumas
pessoas me perguntaram se eu estava imitando ou tentando copiar a idéia de
alguém. Inclusive, eu falo de imitação no meu segundo vídeo, porque hoje em
dia, qualquer idéia que a gente tem, você vai ser taxado que está copiando
alguém. Se você cria um blog, você ta copiando alguém; se você faz vídeos,
você também tá copiando alguém, então é difícil ter uma idéia de fazer
qualquer coisa hoje em dia. E desde que cortei meu cabelo (tema do primeiro
141
vídeo) eu não ligo pro que as pessoas falam. Eu aceito as críticas, mas tem
muita gente idiota que não sabe a idéia ou o projeto que temos na cabeça e
fica dizendo que estamos imitando alguém. E do momento que gosto de
alguma coisa, eu vou fazer essa coisa, desde que eu me sinta bem, e eu me
sinto bem fazendo vídeos. Essa é a verdade, é uma coisa que eu gosto de
fazer e eu falo o que tenho vontade de falar. Muitas pessoas me pediram pra
falar de Luan Santana ou Restart, e eu disse: “pô! Você quer que eu coloque
um plano de fundo, um óculos escuros e diga: ‘crepúsculo!’. Aí eu vou estar
imitando o cara (Felipe Neto) realmente, e não é essa a minha idéia. O que eu
realmente quero fazer é expressar minhas idéias de forma natural. Acho que os
vlogs do Felipe Neto e do PC Siqueira são mais pro lado da crítica e eu posso
até criticar alguma coisa, mas não da forma que eles fazem. E nos meus
vídeos eu falo muito mais de mim do que dos outros. Se eu percebo que estou
falando mais dos outros do que de mim, eu volto e busco o foco mais em mim.
5. Então o que você propõe com o seu vlog seria falar de diversos
assuntos, mas sempre voltado pra você?
(GA): Também. Expressando a minha opinião, voltado pra mim e talvez pros
outros. Eu vou falar o que me der vontade de falar, estando certo ou errado,
sendo ridículo ou sendo bom, eu vou expressar a minha opinião. Ninguém é
perfeito e ninguém acerta tudo. Então eu vou falar do que me der vontade, é
sem um critério específico.
6. Você gosta de ser assistido, de estar visível e acessível à outras
pessoas?
(GA): Acho que todo mundo gosta quando você faz uma coisa idiota e as
pessoas gostam. E eu adoro ver os outros sorrindo. Mas não é minha intenção
fazer os outros sorrirem nos meus vídeos. E muitas pessoas acharam graça e
eu me surpreendi um pouco com o resultado dos vídeos. Mas desde o primeiro
momento, eu não fiz os vídeos para fazer ninguém rir. Eu mesmo não acho
graça nenhuma nos meus vídeos. Mas já que isso aconteceu, eu gosto mesmo
de ser assistido, mas não é bem esse o meu foco. Tanto que não divulguei os
142
vídeos no Facebook, apenas coloquei no Twitter e no Orkut, que acho que
ninguém usa mais. No Facebook foram os outros que colocaram e acho que
isso foi uma forma de divulgação sem precisar que eu mesmo fizesse isso.
Ainda bem que as pessoas gostaram, eu fico feliz por elas gostarem do que
estou fazendo, mas eu mesmo não acho uma grande coisa. Muitas pessoas
devem achar maneiro até mesmo pelo Felipe Neto e do PC Siqueira, e como
eu disse, muitas pensam que eu estou tentando imitar, mas muitas também
acham que é uma forma de ter coragem e expressar as idéias e eu gosto disso.
Eu não falo as coisas por necessidade e sim por vontade.
7. Então você pode afirmar que usa os seus vídeos como forma de
expressão pessoal?
(GA): Sim.
8. Assistindo seus vídeos, é possível notar que você fala de assuntos
cotidianos, como superstição, Facebook, ano novo e até do seu corte de
cabelo. O que motiva você a falar de assuntos do dia a dia?
(GA): Vem na minha cabeça e eu falo. Às vezes eu até sonho com as coisas e
me dá vontade de falar. Ás vezes podem ser coisas que eu vejo também.
9. Os cenários dos seus vídeos (que são bastante sóbrios e discretos)
foram escolhidos por alguma razão específica?
(GA): Eu gravei no quarto porque lá ficava o meu computador. Eu usei por
usar. No terceiro vídeo eu queria falar do Ano Novo e já era dia 3 e já estava
escurecendo e o quarto não tinha uma iluminação boa pra gravar. Então esse
vídeo teria que ser uma coisa mais rápida, porque eu queria falar de Ano Novo,
então eu gravei no quarto da minha mãe e improvisei a câmera ali e coloquei
aquele fundo branco. Mas no próximo pode ser que eu coloque a televisão de
fundo, ou grave no banheiro. Onde eu me sentir à vontade pra falar e sentir que
devo fazer, eu vou fazer. Algumas pessoas me sugeriram que eu criasse um
fundo, mas eu nem nunca foi minha intenção ser famoso com vídeos ou ter
muitas visualizações, foi mais uma coisa minha mesmo.
143
10. No vídeo “Ano Novo”, você fala sobre manias e superstições referentes
a essa data, sobre as expectativas das pessoas e também fala sobre o
que você faz, o que gosta e o que não gosta nesse dia. Quando você
narra essas experiências pessoais, o faz com algum objetivo, ou faz de
forma involuntária?
(GA): Já que você falou no vídeo do Ano Novo, vamos usar ele como
exemplo. Nesse vídeo eu digo que fico quatro horas me arrumando e acho
que é uma coisa que muitas pessoas também passam. É aquela dúvida
“que roupa vou usar?” e eu sou muito chato pra roupa. Eu demoro muito
mesmo pra escolher roupa, principalmente nesse dia. Eu também nunca sei
pra onde eu vou, assim como outras pessoas, então, minha intenção é
também fazer com que as pessoas se identifiquem um pouco com meu
vídeo. Pode até ser uma coisa óbvia, mas eu gosto de falar. Eu procuro
sempre falar das coisas que se passam comigo, mas algumas saem
involuntariamente, às vezes uso muito improviso. Lembro de alguma coisa
na hora e falo. Eu não meço repercussão por parte de quem vai assistir.
Como eu disse, eu não ligo muito pro que os outros pensam. Às vezes a
gente pode mudar alguma coisa, e acho que os outros tem que gostar da
gente pelo que a gente é e eu não penso muito quando vou falar de mim e
nem penso no que aquilo pode repercutir.
11. O público que assistiu seus vídeos deu algum feedback? Entrou em
contato, comentou, interagiu de alguma forma?
(GA): Sim e você foi prova viva disso. E quando colocamos um vídeo numa
rede tão grande como o YouTube, você está disposto a passar por isso. Não só
críticas, mas como muita gente fala que você tem que continuar fazendo isso.
Pessoas que eu nunca pensei que fossem falar comigo na vida, foram lá
naquele chatzinho do Facebook e disseram “caraca, dei muita risada com seu
vídeo”. E não só no Facebook, no Twitter também. Uma menina do Paraná
chegou até meu vídeo e me deixou uma mensagem no Twitter dizendo que
tinha gostado muito. Graças a Deus as pessoas tem me falado coisas boas dos
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meus vídeos e poucas pessoas disseram que não gostaram. Mas como eu
disse, eu não esperava isso, até porque não tinha essa intenção. O primeiro
vídeo eu só tinha mostrado a alguns amigos. O terceiro que gerou mais
retorno. Mas não fiz nessa intenção de ganhar audiência, nem ganhar fama.
Mesmo porque acho que isso nunca vai passar de uma diversão pra mim e
acho que isso nunca vai gerar um trabalho pra mim. Pode até ser que eu fique
famoso, mas eu não penso nisso. Acho que só o dia que eu acordar e ver que
tive 50 bilhões de visualizações, aí vou pensar em ganhar dinheiro com isso.
Mas como eu disse, eu não penso nisso hora nenhuma, eu só faço meus
vídeos porque eu me divirto, saio do tédio com isso e acho que é uma coisa
legal de fazer. Eu só mostro pros meus amigos e quase não divulgo, mesmo
porque essa não é minha intenção. É só mesmo pros meus amigos verem uma
coisa que tou fazendo que mais pra frente vai me ajudar, caso eu vire ator. Já
pensou um ator com vergonha de falar em frente a uma câmera?
12. Já que falamos em personagens, no seu vlog você se utiliza da criação
de algum personagem para si, ou quem fala é o Giannder?
(GA): 99% é o Giannder que fala. Muitas coisas vem na hora e eu falo, mas
falo brincando também. Mas a maior parte do tempo quem fala é o Giannder. E
outra: eu não sou retardado assim na real (risos). É que esse é o meu estilo.

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