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Informe PublIcItárIo Fotos: Família Bartz Agro História O alemão louco de Rolândia Assim chamavam Herbert Bartz, o pioneiro, pela sua obstinação em provar que o plantio direto era viável no Brasil Um dos principais personagens da história do plantio direto no Brasil, Herbert Bartz, 75, é reverenciado pela agricultura brasileira por ser o grande pioneiro na adoção desse sistema de cultivo no País. Segundo um de seus biógrafos, o jornalista Gilberto Borges, mesmo tendo iniciado as primeiras tentativas de plantio direto junto com outros produtores, Bartz foi o único que perseverou e conseguiu vencer as dificuldades iniciais de um sistema até então desconhecido na América do Sul. Filho de imigrantes alemães, da região da Rhenânia, seus pais, Arnold e Johanna, chegaram no Brasil em 1927 e se estabeleceram em Rio do Sul (SC), onde exploraram uma pedreira e o ramo de construção. Passados 10 anos, Bartz nasceu e, em seguida, com a família, retornou à Alemanha para que sua mãe se submetesse a tratamento de saúde. Foi aí que o menino conheceu os horrores da guerra. Um dos fatos mais marcantes, segundo Gilberto Borges, aconteceu dia 13 de fevereiro de 1945, quando completava 8 anos, e estava na residência da avó, em Dresden. A cidade, já derrotada pelas forças aliadas, foi bombardeada e arrasada por aviões ingleses e americanos. Por Paulo Roque E, no pós-guerra, com a falta de comida e de aquecimento, passou pelos os piores momentos. “O tempo de pós-guerra me deu uma lição de vida que eu não tinha como esquecer e acordou em mim, com toda a vontade, o desejo de um dia poder ter comida e fartura à vontade. Daquele tempo para cá, meus sonhos são de produzir alimentos em abundância.” Em 1960, dois anos após o falecimento da esposa, Arnold Bartz propôs a Herbert a venda da casa na Alemanha e a volta ao Brasil. Por ser o único cidadão brasileiro da família, Agro Guia | Outubro 2012 19 Informe Publicitário Agro História abandonou a Faculdade de Engenharia Hidráulica, na Universidade de Aachen, e preparou-se para o retorno. É ele quem conta: “Meu pai havia comprado o Sitio Rhenânia, perto de Rolândia, no Paraná, onde começamos a plantar e a criar animais, e eu acabei por me tornar agricultor. A agricultura nos anos 60 era muito difícil, os produtos colhidos valiam pouco e as tecnologias disponíveis eram deficientes. Ocorriam secas e, noutras circunstâncias, quando o solo estava arado e preparado para o plantio, o excesso de chuva castigava com severas erosões.” Em 1967, arrendou, de seu pai, as terras da Rhenânia e mais algumas áreas vizinhas, perfazendo cerca de 200 hectares, onde criava porcos e plantava milho, arroz, trigo e soja. A situação não era boa, em razão da deficiência de tecnologia, a pesquisa praticamente não existia, faltavam sementes de qualidade e assistência técnica. Bartz começou a ter problemas com erosão do solo e, em novembro de 1971, um temporal, no norte do Paraná, destruiu toda a lavoura de verão e carregou o solo, com sementes e fertilizantes, para as baixadas. No dia seguinte, procurou o engenheiro agrônomo Rolf Derpsch, nascido no Chile e formado na Alemanha, que trabalhava no Ipeame (Instituto de Pesquisas Meridional). Bartz sabia de suas opiniões sobre conservação de solo e de suas experiências com preparo mínimo e plantio direto na cultura do trigo. O agrônomo falou com entusiasmo sobre o desenvolvimento desse sistema nos Estados Unidos e na Inglaterra, mostrando folhetos sobre o assunto. “Os novos sistemas entusiasmavam, mas não tínhamos equipamentos ade20 quados e a erosão continuava sendo um problema.” Naquela época, a ICI do Brasil iniciou seus trabalhos no plantio direto no Brasil e o contato com o engenheiro agrônomo Terry Wiles foi importante para se convencer sobre as vantagens do sistema. No começo de 1972, programou uma viagem à Europa e Estados Unidos, com a finalidade de ver o que havia de novidades em termos de lavouras e máquinas para plantio direto. Na Alemanha, visitou a Feira de Equipamentos Agrícolas, em Hannover. Na Inglaterra, esteve na Estação Experimental da ICI, em Fernhust, e comprou o chassis de uma semeadora Rotacaster, com o objetivo de completá-la com acessórios nacionais, para torná-Ia mais acessível em termos econômicos. “Graças a esses contatos, pude conhecer, nos Estados Unidos, as estações experimentais que mediam a erosão do solo, as famosas Sediments Stations, e, principalmente, a fazenda de Harry Young, produtor que já fazia plantio direto há 10 anos. Essa visita foi conseguida pelo pesquisador Shirley Phillips, da Universidade de Kentucky.” A partir daí Bartz, teve a certeza de que poderia usar o sistema em Rolândia e comprou uma semeadora da Allis Chalmers. “A empresa sentiu o potencial de um mercado futuro na América Latina e, mais tarde, vendeu muitas máquinas aqui”, conta. Plantou cerca de 220 ha e, segundo Rolf Derpsch, que acompanhou o início da primeira experiência em larga escala do plantio direto na Fazenda Rhenânia, os problemas com ervas daninhas foram significativos, e os curiosos que viram a nova tecnologia diziam que não ia dar certo. “Admito que houve uma quebra Informe Publicitário Agro História de mais ou menos 20%, com aquela soja, em relação ao método convencional”, calcula Bartz. “Isso aconteceu devido à falta de experiência com o novo método, ao desconhecimento da suscetibilidade de certas ervas daninhas aos herbicidas, além de deficiência no manejo dos fatores biológicos, químico e climático, que influenciaram no desempenho dos produtos.” Com o tempo ele começou a confirmar, na prática, que o custo operacional era mais baixo e, portanto, o sistema dava melhores resultados econômicos. As produtividades na lavoura de soja permaneceram baixas até 1976, quando surgiu uma nova geração de herbicidas pré e pós-emergentes, além das primeiras informações da pesquisa sobre rotações de culturas conduzidas pelo Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), em convênio com a ICI. Com uma tecnologia constantemente em evolução, paralelo à melhoria na fertilidade do solo, as produtividades da soja e das demais culturas foram alcançando patamares maiores e o sistema se estabilizou. O pioneiro do plantio direto no Brasil, era chamado por muitos de “o alemão louco de Rolândia”, por causa da sua obstinação e das inúmeras experiências que fazia. “Mas, com o desenvolvimento do plantio direto, em vista do aumento na produtividade e na redução de custos com herbicidas, combustíveis e outros insumos, acho que a racionalidade a ser questionada é a dos críticos e não a minha”, diz Herbert Bartz. Bartz desenvolveu uma Rotacaster, em 1973, baseada numa enxada rotativa, importada da Inglatera, e uma caixa de adubo semente acoplada, da firma Rogovski de Santo Ângelo (RS). Este protótipo se tornou a mãe de alguns milhares de Rotacaster produzidas em Taboão da Serra (SP), e permitiram o início do plantio direto na região de Mauá da Serra e nos Campos Gerais, em Ponta Grossa. Mas, foi em 1976, que novos acontecimentos e novas tecnologias começaram a dar suporte às “loucuras” de Bartz. O início efetivo do plantio direto na região dos Campos Gerais do Paraná, as pesquisas sobre rotação de culturas no Iapar, que contava com Rolf Derpsch, que retornara ao Brasil depois de alguns anos na Alemanha, e a chegada de novos herbicidas foram fatos importantes para a história de Herbert Bartz, que passou a ser convidado a realizar palestras em várias regiões do Brasil e do exterior. Bartz foi requisitado para assessorar fabricantes de máquinas e implementos. Em 1976, foi nomeado membro do Conselho Assessor da Embrapa, no Centro Nacional de Pesquisas de Trigo, em Passo Fundo (RS). Participou da fundação, foi vice-presidente e presidente por dois mandatos da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha. “Não tínhamos equipamentos adequados e a erosão continuava sendo um problema”. Este texto traz infomações do artigo de Gilberto Borges (in memorian), editor da Revista Plantio Direto, em 1997, por ocasião dos 25 anos de Plantio Direto no Brasil e América Latina. Agro Guia | Outubro 2012 21