O Vale- 7 de dezembro

Transcrição

O Vale- 7 de dezembro
SEXTA-FEIRA, 7 DE DEZEMBRO DE 2012
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www.ovale.com.br
Galeria
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FOTOS: THIAGO LEON
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1. Prédio da administração do DCTA, em São José, tem traços muitos semelhantes aos adotados
mais tarde em Brasília, como a rampa de acesso e as escadarias internas
2. Fachada do ITA também marca estilo do mestre Oscar Niemeyer
3. Edifício no centro de São José leva a marca de Niemeyer
4. Casa do Médico, no centro de São José, é outro símbolo do arquiteto
MARCAS NO VALE NIEMEYER TESTA EM SÃO JOSÉ TRAÇOS QUE MAIS TARDE DARIAM FORMA À CAPITAL FEDERAL
“Niemeyer era um filósofo
da arquitetura. Tinha
uma facilidade de criar
que impressionava, mas
não era tão prático”
ROSENDO SANTOS MOURÃO
ARQUITETO
DCTA serve de rascunho
para o projeto de Brasília
Arquitetos e ‘ex-pupilo’ relatam como projetos adotados na região serviram de base para o Planalto
XANDU ALVES
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
“Trata-se de um ícone da
arquitetura no Brasil.
Falar dele é quase sempre
redundante. Criou obras
que são exemplo de arte”
CARLOS EDUARDO VILHENA
PRESIDENTE DA AEA DE SÃO JOSÉ
“O projeto do DCTA foi
como uma semente do que
ele faria em Brasília.
Iniciou aqui os estudos que
usaria em outras obras”
LUIZ CARLOS TENÓRIO ACOSTA
ARQUITETO DO DCTA
Prêmio
Brasília, a capital do país,
foi ‘germinada’ em São José
dos Campos. Explica-se.
Muitos
dos
avanços
arquitetônicos e urbanísticos
da nova cidade, inaugurada
em 1960, foram ‘testados’ pelo
arquiteto Oscar Niemeyer,
morto anteontem, na região.
Em 1947, após vencer um
concurso nacional, ele projetou o complexo que abriga as
instalações do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial) e do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), ambos em São José e construídos até 1960.
São mais de 20 edificações.
Para arquitetos, estão lá os conceitos usados por Niemeyer
depois em Brasília, como as
quadras, áreas verdes entre as
instalações, arcos, concreto armado em curva, escadas em
rampa e o urbanismo.
Na época, Niemeyer começava a ser reconhecido internacionalmente depois de ter projetado o Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte (MG).
Ele fez do DCTA a consolidação das ideias que fariam
dele um dos maiores nomes da
arquitetura mundial.
PROJETOS
Caraguá e Guará têm
obras de Niemeyer
Oscar Niemeyer, o genial arquiteto brasileiro, também deixou
suas marcas em outras duas cidades do Vale do Paraíba, além de
São José. São deles os projetos
do condomínio-parque Clube
dos 500 e de um posto de combustíveis, ambos em Guaratinguetá, e da colônia de férias da
Aojesp (Associação dos Oficiais
de Justiça do Estado de São Paulo) em Caraguatatuba.
Longevidade
OBRAS DE NIEMEYER NO VALE
THIAGO LEON
Elefante branco. Um dos símbolos dos traços de Niemeyer,
prédio é ainda um dos mais famosos no DCTA, em São José
k SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Oscar Niemeyer projetou as
instalações do atual DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial) e do ITA
(Instituto Tecnológico de Aeronáutica), ambos em São José
trazem “marcas” do arquiteto,
como curvas, rampas e vãos
k PATRIMÔNIO
O Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional)
está em fase final para tombar as
obras no DCTA
k EDIFICAÇÕES
São mais de 20 edificações
erguidas no complexo, construído entre 1947 e 1960, e
que consolidou a arquitetura
de Niemeyer antes de ele se
envolver com Brasília
k OBRAS
Em São José, ele fez o complexo do DCTA e do ITA, o Laboratório de Aerodinâmica, o Túnel de Vento do IAE (Instituto
de Aeronáutica e Espaço), residências para alunos e professores e moradia de militares
k CONCEITOS
Usou no DCTA o conceito das
quadras, que também apareceriam em Brasília. Os blocos
residenciais são cortados por
áreas verdes e as construções
Vida conjugal
k CARAGUATATUBA
No Litoral Norte, Niemeyer projetou a colônia de férias da Aojesp
(Associação dos Oficiais de Justiça do Estado de São Paulo) em
Caraguatatuba. O prédio foi construído em 2000, no bairro do
Porto Novo, e será incluído no
roteiro turístico da cidade
k GUARATINGUETÁ
O arquiteto também fez obras
em Guaratinguetá. Em razão das
obras de duplicação da via Dutra, ele projetou, em 1952, o condomínio-parque Clube dos 500
e um posto de combustíveis, ambos na área da cidade
k INOVAÇÃO
As obras de Niemeyer no Vale
são consideradas inovadoras
Centenário
Patrimônio. “A concepção de
Niemeyer da cidade-jardim
aparece bem no DCTA, antes
de Brasília”, disse o arquiteto
Luiz Carlos Tenório Acosta, assistente de Ciência e Tecnologia da Prefeitura de Aeronáutica do DCTA.
“O que ele fez em São José
foi como plantar uma semente
da ideia das superquadras, por
exemplo, construídas na capital do país, além de outras
obras”, completou.
Para o presidente da AEA
(Associação de Engenheiros e
Arquitetos) de São José, Carlos Eduardo Vilhena, o complexo militar é um patrimônio
arquitetônico de Niemeyer de
valor inestimável.
“Trata-se de um legado da
genialidade dele que ficará a
todos os novos engenheiros e
arquitetos da região. Niemeyer
foi um profissional à frente do
seu tempo, que ousou”, disse.
“São José tem o privilégio
de conviver com exemplares
da arquitetura de um profissional tão completo como foi Niemeyer”, ressaltou a engenheira Cynthia Gonçalo, diretora
do Ipplan (Instituto de Pesquisa, Administração e Planejamento).
“Ele se tornou uma referência, um exemplo de inovação e
criatividade que marcou diversas gerações e ficará para sempre registrado na história da
arquitetura mundial.”
PATRIMÔNIO
Conjunto do DCTA
vai ser tombado
NA GAVETA
São José tem projeto
inédito de memorial
O Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional)
está em fase final de análise da
documentação sobre o complexo do DCTA e do ITA, em São José, dentro do processo de tombamento do conjunto. Segundo
Marcos Carrilho, do Iphan em
São Paulo, será apresentado um
anteprojeto aos militares no começo de 2013 para decidir o que
será tombado como patrimônio.
A Prefeitura de São José dos
Campos tem um projeto inédito
de Oscar Niemeyer. Trata-se do
Memorial Cassiano Ricardo, projeto do ano 2000 que custou R$
100 mil aos cofres públicos e ainda não saiu do papel. Deveria ter
sido erguido no Jardim Aquarius, na região oeste da cidade,
onde está o Jardim Japonês. Nos
bastidores, o projeto é considerado caro e pouco prático.
Inaugurações
Morte
Prisão. Quem se lembra bem
do arquiteto carioca é Rosendo Santos Mourão, 85 anos,
arquiteto de São José ainda em
atividade.
Ele trabalhava no escritório
de arquitetura contratado para
tocar as obras do DCTA e do
ITA, no final dos anos 1940, em
razão das barreiras políticas
que impediram Niemeyer de
assumir a construção do seu
próprio projeto.
Comunista declarado, ele
não poderia ser o responsável
por uma obras dos militares
brasileiros.
“Vim do Rio de Janeiro para
São José em um avião pequeno
e conheci a cidade que iria
adotar como lar anos depois”,
contou Mourão.
Naquela época, contudo,
ele não queria saber da cidade.
“Só tinha tuberculoso e nem
sombra do que havia no Rio.
Eu só fiquei porque Niemeyer
pediu”, disse ele.
Foi na casa do arquiteto que
Niemeyer dormiu diversas vezes. “Ele tinha medo de ser
preso pelos militares e ficava
em casa”, afirmou. l
Mundial
Criação
Família
Homenagens
Últimas obras
Internação
Em 1988, Niemeyer recebe o
Pritzker, o prêmio mais
importante da arquitetura.
Em 90, desliga-se do Partido
Comunista Brasileiro e
projeta, em 91, o Museu de
Arte de Niterói
Em 1997, comemora 60 anos de
carreira com 415 obras
executadas em 18 países. Nos
anos seguintes, até 2003,
dedica-se a projetar obras em
todo mundo e escrever livros.
São lançadas obras
Em 2004, morre sua mulher,
Anita Niemeyer, aos 94 anos de
idade e 76 de casamento.
Casou-se novamente em 2006,
com sua secretária, de 60 anos.
Em junho deste ano, perdeu a
filha Anna Maria, aos 82 anos
Ao completar 100 anos, em
2007, recebe homenagens pelo
mundo. Continua trabalhando,
lançando publicações e
projetando edificações. Em
2009, é internado e tira um
tumor do intestino
Entre janeiro de 2010 e março
de 2011, Niemeyer vê a
inauguração de projetos seus
na Itália (Auditório Ravello), o
da nova sede do governo de
Minas Gerais e da Universidade
de Música em Araraquara
Niemeyer deu entrada em 2 de
novembro deste ano no
Hospital Samaritano, em
Botafogo, no Rio. Com a saúde
debilitada, o arquiteto morreu
anteontem vítima de uma
infecção respiratória

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