FAIXA DE GAZA E O HAMAS NO IMAGINÁRIO SOCIAL: a corrida
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FAIXA DE GAZA E O HAMAS NO IMAGINÁRIO SOCIAL: a corrida
1 3 Direitos Humanos, Politicas Sociais e Pobreza DESENVOLVIMENTO E SAÚDE Geraldo Matos Guedes * RESUMO O presente artigo tem por objetivo explicitar sobre algumas das contribuições que tratam do processo de desenvolvimento, bem como fazer abordagens que tratam deste na dimensão da saúde e, de forma mais específica abordar algumas contribuições teóricas acerca do desenvolvimento, a saúde como uma dimensão do processo de desenvolvimento e comparar o estágio dos indicadores de saúde esperança de vida ao nascer, taxa de fecundidade e taxa de mortalidade infantil de Montes Claros, com o estado de Minas Gerais e do Brasil, nas últimas duas décadas de 1990 e 2000. No que se refere à metodologia, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e consulta as fontes de dados secundários do sistema de informações do Ministério da Saúde, de forma especial ao Datasus. Palavras Chaves: desenvolvimento, saúde, indicadores de saúde ABSTRAT This article aims to explain about some of the contributions dealing with the development process, as well as making approaches in dealing with this dimension of health and, more specifically address some theoretical contributions about the development, health as a dimension of the process development stage and compare the health indicators of life expectancy at birth, fertility rate and infant mortality rate of Montes Claros, in Minas Gerais state and Brazil in the last two decades from 1990 to 2000. With regard to methodology, it is a literature search and consultation of secondary data sources of the information system of the Ministry of Health, especially the Datasus. The Keywords: Development, health, health indicators 2 *Mestrando em desenvolvimentos Social do PPGDS da UNIMONTES Introdução A falta de saúde gera variadas dificuldades para o processo que leva ao círculo vicioso da pobreza. O desenvolvimento social é um processo multidimensional. Entre as várias dimensões, a saúde é uma delas. Segundo Scliar (2007) a saúde não é apenas a ausência de doenças, mas um estado de bem-estar que é social, mental e físico. A saúde acaba por ser tornar causa de vários problemas e também é um óbice para o processo de desenvolvimento de uma sociedade. O desenvolvimento de uma nação está diretamente atrelado às oportunidades que esta disponibiliza para todo o seu povo. O presente artigo tem por objetivo explicitar sobre algumas das contribuições que tratam do processo de desenvolvimento, bem como fazer abordagens que tratam deste na dimensão da saúde e, de forma mais específica: i) algumas contribuições teóricas acerca do desenvolvimento; ii) a saúde como uma dimensão do processo de desenvolvimento e, iii) comparar o estágio dos indicadores de saúde esperança de vida ao nascer, taxa de fecundidade e taxa de mortalidade infantil de Montes Claros, com o estado de Minas Gerais e do Brasil. Estes indicadores foram escolhidos tendo em vista serem considerados indicadores padrão para se aferir as condições de saúde de uma determinada região, representando condições de desenvolvimento de uma determinada população. As questões iniciais que orientam este trabalho são: i) quais as teorias que abordam o processo de desenvolvimento e quem são seus teóricos; ii) o que se entende por saúde e quais os fatores que influenciam as condições de saúde; iii) qual a evolução dos indicadores de saúde selecionados nas últimas duas décadas dos anos 1990 e 2000. Em termos de metodologia optou-se por proceder a uma pesquisa bibliográfica, a qual busca ―conhecer, analisar e explicar contribuições sobre determinado assunto, tema ou problema‖ (Martins e Theóphilo, 2007: 54). Nestes termos será realizado um exame da literatura que versa sobre o tema, no sentido de se destacar as principais contribuições já produzidas. Para a coleta dos dados sobre os indicadores de saúde foi utilizado o sistema de informações do Ministério da Saúde (Datasus). O texto encontra-se organizado em quatro sessões. A primeira está à introdução, na segunda, fazse uma abordagem acerca das teorias sobre o desenvolvimento, destacando alguns autores que trataram deste tema. A terceira sessão traz algumas abordagens que explicitam a saúde como uma das dimensões do desenvolvimento. Por fim, são apresentadas as considerações finais, destacando alguns aspectos relevantes estudados. 3 1. Aspectos teóricos do Desenvolvimento Como referencial teórico este trabalho estará fundamentado em literaturas atinentes ao processo de desenvolvimento e alguns conceitos que são relevantes para a relação entre desenvolvimento e saúde. Abstraindo os dezessete séculos dos primórdios e fixando quando o economista Adam Smith publica sua obra intitulada A Riqueza das Nações, o qual explicita que a busca do interesse de cada indivíduo é a mola propulsora do bem estar da coletividade; também conhecida como a ―mão invisível‖; o progresso aparece não de forma fortuita mas sim surge das possibilidades que as pessoas têm em determinados processos históricos, resultados de um conjunto de dotações de fatores produtivos e relações sociais de produção existentes na sociedade e que lhes permitem a acumulação de riquezas, através da realização de suas possibilidades (Smith, 1983). Hirschman (1961) vai tratar do subemprego rural e da problemática da industrialização tardia, deixando claro que a questão econômica era suficiente para dar conta dos problemas do subdesenvolvimento1. É o chamado efeito encadeamento em que os governos devem escolher alguns setoreschave da economia e procurar concentrar seus investimentos no sentido de potencializar os recursos nestes setores com alto efeito de encadeamento, que podem promover maiores efeitos ―para trás‖ (vertical) e ―para frente‖ (horizontal), gerando externalidades dentro da economia, como um todo. Rostow (1978) traz à luz o enquadramento de sociedades, considerando suas dimensões econômicas, em cinco etapas ou categorias porque passam todas estas sociedades, chamando-as de sociedade tradicional, as precondições para o arranco, o arranco, a marcha para a maturidade e a era do consumo em massa. Sendo que neste último estágio a renda real é elevada e as pessoas já ultrapassaram as necessidades mínimas de alimentação, habitação e vestuário, estando esta sociedade na era dos serviços em massa e, com um estado de bem-estar social. A visão sobre o desenvolvimento dada por Francois Perroux (1987) expressa o conceito de ―pólo de crescimento‖, relacionando a questão social com o espaço geoeconômico, destacando três componentes importantes: a indústria, a organização não perfeita dos mercados e as economias externas. Atribui papel relevante ao Estado, como unidade dominante e decisória para influenciar os demais agentes econômicos, utilizando em alguns momentos da coação. A escola estruturalista latino-americana liderada pelo Raúl Prebishc, reunidos na Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina (CEPAL) trouxe uma formulação diferente ao tratar do ―centro-periferia‖ tendo tratado os países exportadores de produtos industriais como centro e os exportadores de produtos primários como periferia. Esta prática de comércio internacional, através dos preços relativos de seus produtos acaba transferindo renda e excedentes dos países da periferia para os países do centro, vez que os produtos manufaturados têm preços superiores aos produtos primários; aprofundando as desigualdades de rendas entre estes, a partir do comércio e da divisão internacional do trabalho. (Furtado, 1992) 1 Subdesenvolvimento e um termo utilizado para caracterizar os países que não alcançaram o processo de industrialização ou mesmo que possuem uma industrialização incipiente ou nem mesmo iniciaram este processo (Veiga, 2005). 4 Para o caso de Montes Claros, espaço geofísico e sociopolítico considerado neste trabalho, percebe-se que o processo de crescimento foi compatível com as teorias de Perroux com a teoria dos pólos de crescimento e Hirschman, com a teoria dos efeitos de encadeamento, em especial a partir da implantação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, na década de 1960, a qual alocou recursos do Fundo de Investimento do Nordeste, em projetos de empreendimentos privados em sua maioria, a partir dos anos 1970 culminando com a implantação de diversas unidades produtivas nesta cidade, o que veio de atrair uma parcela expressiva de migrantes das cidades circunvizinhas, que para cá se deslocaram em busca de emprego e renda. Este fato resultou numa concentração de investimentos públicos em infraestrutura de saúde e educação em Montes Claros o que vem contribuindo para a atração de pessoas para esta Cidade. Basta se observar que a população de Montes Claros que em 1950 era de 72 mil habitantes passou a contar em 2009 com 363 mil habitantes, com um crescimento de cinco vezes, quintuplicando em apenas 60 anos, enquanto que a população do Brasil saiu de 51,9 milhões de habitantes para 171,2 milhões de habitantes, crescendo 3,3 vezes, no mesmo período (IBGE, 2010). O crescimento econômico é condição indispensável para a promoção do desenvolvimento. Com a promoção do desenvolvimento no processo capitalista advêm, de forma conjunta, desigualdades de rendas entre uma parcela expressiva da população, onde se constata que um grande número de pessoas fica com um pequeno volume da renda nacional; portanto, com um fosse entre os ricos e pobres. Em face do crescimento verificado na economia, em especial, em países que ainda passam por processos ―em vias de desenvolvimento‖ verifica-se um aumento de sua população, normalmente, com uma corrida da população rural para as zonas urbanas, promovendo um ―inchaço‖ nas cidades, em especial, naquelas onde se concentrou os recursos públicos em infra-estrutura urbana, como é caso de Montes Claros, espaço geográfico objeto deste trabalho. Diante desta concentração populacional, que é corroborada pelo fato de que esta cidade concentra a maior parte da dotação de recursos que proporcionam a resolubilidade dos problemas, surgem os estrangulamentos nos sistemas públicos em especial na área da saúde. O desenvolvimento não é só o lado econômico ligado ao crescimento do produto e da riqueza, tem também o seu aspecto social, importante porque se refere às pessoas – fim último de qualquer processo de desenvolvimento. Reduzir desigualdades e buscar a equidade se constituem em condições indispensáveis para a redução da pobreza. Stiglitz (1996) apud Kliksberg (2000) destaca que Há relações positivas entre crescimento e igualdade. Altas taxas de crescimento geram recursos que podem ser usados para promover a igualdade, bem como um alto grau de igualdade ajuda a sustentar altas taxas de crescimento (Kliksberg, 2000: p. 20). No sistema capitalista que tem no mercado livre e na propriedade privada dos meios de produção suas bases de sustentação, a tendência é que o sistema não seja capaz de promover a igualdade de recursos e rendas. Aí resta um papel importante para a presença do Estado como um redistribuidor de recursos e rendimentos. ―E das forças do mercado não se pode esperar senão que assegurem a reprodução dessa situação, e mesmo alimentem a tendência à sua agravação‖ (Furtado, 1992: p. 54). A igualdade do processo de desenvolvimento econômico almejado, o qual estabelece com a frase ―alcançar os outros‖ ou ―reduzir diferenças‖, tem sido uma falácia, no registro histórico da humanidade. É bem verdade que o sistema econômico mundial gera e convive com desigualdades. Segundo Relatório do Desenvolvimento Mundial de 1988, do Banco Mundial apud Sachs (2000), ―o PNB per capita para os 20 5 países capitalistas mais ricos era de US$ 12.960 em 1986. No mesmo ano o PNB per capita dos 33 países mais pobres era de $ 270‖ (Sachs, 2000: p. 108) A idéia do desenvolvimento social está ligada aos padrões de vida dos chamados ―povos adiantados e desenvolvidos‖ entendidos aí os Estados Unidos da América e a Europa ocidental e do outro lado os chamados ―subdesenvolvidos‖ neste grupo estão países da África, Ásia e América Latina. Naturalmente o ―alcançar os outros‖, que neste caso é a trajetória de movimentação dos subdesenvolvidos em direção aos desenvolvidos na busca de ―alfabetização, sistema de escolas públicas, moderna assistência médica e sanitária, formas avançadas de comunicação, avanço tecnológico, governo centralizado, administração profissional e mecanismo políticos democráticos‖. (Blumer, 1998: p. 46) A expansão da liberdade é tida como o ―fim primordial‖ e o ―principal meio‖ do desenvolvimento. Também que ―privação de liberdade econômica pode gerar a privação de liberdade social e vice versa‖. O desenvolvimento de uma nação está diretamente atrelado às oportunidades que esta disponibiliza para todo o seu povo (Sen, 2000: p. 23). Para Sen (2000) o desenvolvimento requer uma análise integrada das atividades econômicas, sociais e políticas. Há uma inter-relação entre as liberdades instrumentais, isto é, as oportunidades econômicas; liberdades políticas; liberdades sociais; garantias de transparências e segurança protetora. Além disto, se faz necessário o envolvimento de diversas instituições, tais como o Estado, o mercado, o sistema legal, os partidos políticos, entre outras. Além das liberdades instrumentais, há ainda as liberdades constitutivas e, neste caso o ―enfoque é na qualidade de vida e nas liberdades substantivas, e não apenas na renda e na riqueza‖. E, nas liberdades substantivas estão afetas às capacidades elementares da vida humana, tais como: ―ter condições de evitar privações como a fome, a subnutrição, a morbidez evitável e a morte prematura‖. (Sen, 2000: p 39/52) Como é sabido a ciência econômica trata de administrar os recursos escassos, ou seja, cuida daqueles recursos existentes onde a oferta não é abundante. A aplicabilidade dos conceitos da análise econômica na saúde é de forma simplificada da área chamada economia da saúde. Esta se utiliza de parcela dos instrumentos e ferramentas tradicionalmente empregados pela economia, em seus conceitos que se aplicam a área de saúde, tanto que se refere a macro como a microeconomia. Ela trata de buscar de aliar conceitos da ciência médica com aquelas de eficiência econômica com o objetivo de auxiliar e instrumentalizar os gestores em geral na administração dos recursos escassos destinados ao segmento de saúde (Moraes, 2006). 2. A Saúde: uma dimensão do desenvolvimento No que se refere à saúde existem varias definições do que seja saúde. A saúde não tem o mesmo significado para todas as pessoas. Seu conceito apresenta variações dependendo da época e do lugar. Está diretamente relacionado com os valores dos indivíduos, com o desenvolvimento científico e tecnológico, bem como com concepções religiosas do povo ou da região. O pai da medicina Hipócrates de Cós que viveu durante o período de 460 a 377 a.C, através das referências feitas em escritos deixados por Platão, Sócrates e Aristóteles, já trazem escritos que tratam a medicina de uma forma racional. Hipócrates via o ser humano como uma unidade organizada, por outro lado 6 a doença era tida como uma desorganização deste ser humano. Há que se destacar ainda que as observações deste não se restringissem apenas ao paciente, como também ao seu meio ambiente. (Scliar, 2007). Segundo Scliar (2007), ainda na Idade Média existia uma expressiva influência da religião cristã para na concepção da doença relacionada ao pecado cometido e, a partir daí a sua resolução de cura como um assunto ligado à fé religiosa. Assim, a religião com suas ordens religiosas cuidavam dos doentes, inclusive administrando unidades hospitalares. As doenças eram provocadas por agentes externos ao organismo humano, na visão do suíço Paracelsus (1493). Ainda segundo Scliar (2007), foi com as idéias de René Descartes no século XVII que tinha o corpo como um funcionamento de uma máquina, com a visão de mecânica, daí havendo um dualismo entre o corpo e a mente. Com a revolução feita por Louis Pauster que se deu neste período inclusive com a descoberta do microscópio, o que refletiu no Século XIX com a descoberta de microorganismos que eram a causa de diversas doenças, propiciando então a criação de vacinas e soros. Isto ficou conhecido posteriormente como a revolução pausteriana, o que redundou na condição de se prevenir doenças ou mesmo promover a suas curas definitivas. Willian Pety (1996) que era um rico fazendeiro e também médico deu início a um estudo que coletava dados estatísticos sobre população, educação, quantidade de produção e algumas doenças e, a esse estudo chamou de ―anatomia política‖. O comerciante Jonh Grant (1674) fez um estudo estatístico fazendo uma relação entre mortalidade de diferentes grupos da população com o sexo, lugar e local de residência. O médico Louis René Villermé em 1826 publicou um relatório no qual tratava de analisar a mortalidade nos diferentes bairros de Paris, chegando a conclusão que estavam relacionadas com o nível de renda. Os inquéritos estatísticos e os bluebooks2 (livros azuis) aparecem logo após 1840 (Scliar, (2007). A descrição do histórico sobre a saúde a seguir foi feita com base em Scliar (2007). Foi na Inglaterra em 1842 que o advogado Edwin Chadwick, através de seu relatório ―As condições sanitárias da população trabalhadora da Grã-bretanha‖, o qual levou o parlamento daquele país a promulgar a lei Public Health Act (ato público de saúde), que criou a Diretoria Geral de Saúde, além de autorizar a contratação de médicos sanitaristas e também de fazer proposições para a saúde pública. Assim começou uma ação coordenada de saúde pública na Grã-Bretanha. Também na Alemanha desde 1779 já tinha surgido à idéia de que o Estado deveria cuidar da saúde pública. Em 1883 Bismark criou o sistema de seguridade e de saúde que foi pioneiro. Após a Alemanha outros países foram implantando o seu sistema de seguridade e saúde. Após a segunda guerra mundial, a Inglaterra através de Sua Majestade, solicita a William Beveregde que estude a situação do seguro social, o qual redunda na criação em 1848, de um sistema como uma compensação para o povo inglês, pelas dificuldades com a guerra, de um plano que fazia parte do welfare systema3 (sistema de bem estar social) que garantia proteção ―do berço a tumba‖, que se constituiu no Sistema Nacional de Saúde, com o objetivo de dar proteção integral ao povo inglês utilizando para isto os recursos públicos. Após a II Guerra Mundial, com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e também com a criação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que vai ser criado um conceito universalmente 2 Bluebooks é um termo freqüentemente utilizado como um livro que compila estatísticas e informações diversas. Welfare system, sistema nacional de proteção social, com assistência social e saúde criada na Inglaterra em 1948, a partir do relatório Beveredge. 3 7 aceito sobre o que seja a saúde. Em 07 de abril de 1948, considerado o Dia Mundial da Saúde, a OMS divulga o conceito sobre saúde que diz Saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade (Scliar, 2007:37). Há por traz deste conceito um reconhecimento da existência do direito à saúde, com uma implicação de que o Estado deve promover e ter uma proteção para a saúde de seus habitantes. Em 1974, no Canadá o médico Mark Lalonde propõe o conceito de ―campo da saúde‖. Este conceito incorpora: A biologia humana, que compreende a herança genética e os processos biológicos inerentes à vida, incluindo os fatores de envelhecimento; o meio ambiente, que inclui o solo, a água, o ar, a moradia, o local de trabalho; o estilo de vida, do qual resultam decisões que afetam a saúde: fumar ou deixar de fumar, beber ou não, praticar ou não exercícios; a organização da assistência à saúde. A assistência médica, os serviços ambulatoriais e hospitalares e os medicamentos são as primeiras coisas em que muitas pessoas pensam quando se fala em saúde. No entanto, esse é apenas um componente do campo da saúde, e não necessariamente o mais importante; às vezes, é mais benéfico para a saúde ter água potável e alimentos saudáveis do que dispor de medicamentos. É melhor evitar o fumo do que submeter-se a radiografias de pulmão todos os anos. É claro que essas coisas não são excludentes, mas a escassez de recursos na área da saúde obriga, muitas vezes, a selecionar prioridades (Scliar, 2007: 37). Como de depreende da conceituação acima saúde requer ações múltiplas ligadas a diversos outros setores da vida em sociedade, que vai desde o tratamento da água ao sistema educacional. Com a Conferência de Alma-Ata, na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, os cuidados em saúde requerem uma estratégia que se baseia, dentre outros em (...)1) as ações de saúde devem ser práticas, exeqüíveis e socialmente aceitáveis; 2) devem estar ao alcance de todos, pessoas e famílias - portanto, disponíveis em locais acessíveis à comunidade; 3) a comunidade deve participar ativamente na implantação e na atuação do sistema de saúde; 4) o custo dos serviços deve ser compatível com a situação econômica da região e do país (Scliar, 2007: 38). Portanto, vê-se que as questões ligadas à saúde têm envolvimento com toda a sociedade e estão no dia a dia das comunidades, independentes de seus locais, se urbanos ou rurais. Requer a participação ativa da comunidade em seus processos de criação de sistemas, implementação e acompanhamento. Além do que os seus serviços demandas investimentos e custos na execução que precisam da mobilização de recursos para sua efetivação. A saúde acaba por ser tornar causa de vários problemas e também um óbice para o processo de desenvolvimento de uma sociedade. E nesta perspectiva exigem cuidados que são conhecidos como serviços da ―atenção primária‖, que devem ser compatíveis com as condições sócioeconômicas e culturais e segundo Scliar (2007) deveriam Incluir pelo menos: educação em saúde, nutrição adequada, saneamento básico, cuidados materno-infantis, planejamento familiar, imunizações, prevenção e controle de doenças endêmicas e de outros freqüentes agravos à saúde, provisão de medicamentos essenciais. 8 Deveria haver uma integração entre o setor de saúde e os demais, como agricultura e indústria (Sclair, 2007: 39). Fica clara a interdependência que deve existir para uma saúde plena, que requer uma infraestruturura de serviços de saneamento básico com água e esgoto tratados até uma educação básica que permita a cada indivíduo plenas condições de discernimento para fazer uma alimentação saudável ou até mesmo compreender uma recomendação básica de um receituário médico. A Constituição Brasileira de 1988 não emite um conceito sobre saúde, mas diz que ―A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação‖. Para o sistema que foi criado no Brasil, a partir das normas constitucionais, constituído no Sistema Único de Saúde (SUS), entende-se como saúde A saúde passa a ser relacionada com a qualidade de vida da população, a qual é composta pelo conjunto de bens que englobam a alimentação, o trabalho, o nível de renda, a educação, o meio ambiente, o saneamento básico, a vigilância sanitária e farmacológica, a moradia, o lazer, etc.(...) Os níveis de saúde da população expressão a organização social e econômica do país (Brasil, 2011f: 5). De uma forma ou de outra a maioria dos conceitos acerca do que seja saúde, segundo Arouca (1986), implique que A saúde é algo a ser atingido, que vai desde direito ao trabalho e salário condignos, educação, alimentação, habitação, ao lado de uma política econômica adequada e uma política social prioritária e que, assim entendida, transcenderia a questão de médicos, hospitais e medicamentos (Arouca, 1986: 02). A melhoria das condições de saneamento e saúde, aliados a baixa taxa de natalidade e aumento da expectativa de vida da população no Brasil, nos últimos anos, leva a uma pressão maior no sistema de saúde e de previdência, com o aumento da demanda por um número maior de pessoas aposentadas e também um aumento de idosos, o que leva a maiores gastos em saúde em face desta condição da população. A Esperança de Vida ao Nascer em anos, Taxa de Fecundidade Total e Taxa de Mortalidade Infantil por mil Nascidos Vivos, vem ilustrar a problemática abordado no parágrafo acima, como se pode ver da TAB 1. Estes três indicadores combinados mostram que Brasil, Minas Gerais e Montes Claros têm um desafio a enfrentar pela frente, uma vez que a esperança de vida ao nascer tem crescido. Por outro lado a taxa de fecundidade e a taxa de mortalidade infantil total por mil nascidos vivos vêm diminuindo, o que redunda em menor quantidade de filhos por mães em idade reprodutiva e menor quantidade de crianças falecendo até um ano de idade, repercutindo em que a população de idosos tende a aumentar. Tomando-se o caso de Montes Claros com relação à esperança de vida ao nascer que em 1991 era de 69,4 anos e que em 2000 avançou para 72,2, tem-se um ganho de vida de aproximadamente três anos num período transcorrido de 10 anos. Ao tomar a taxa de fecundidade total observa-se que em 1991 cada mulher em idade reprodutiva, em média, tinha quase três filhos, diminuindo para dois filhos em 2000, basicamente o que apenas mantém a reposição populacional. No indicador de mortalidade infantil Montes Claros vem 9 reduzindo suas taxas, acompanhando a tendência do Brasil e do Estado de Minas Gerais, tendo reduzido sua taxa de quase 26 para 21 mortes em cada mil crianças nascidas. Estes dados estão demonstrados na TAB 1. Quando se compara a taxa de mortalidade infantil percebe-se que Montes Claros tem indicador que é melhor do que a média do Brasil e do que Minas Gerais, para o período analisado. Estes dados indicam que o desafio para a gestão pública, com relação à infra- estrutura de saúde será cada vez maior o que exigirá mais mobilização de recursos e melhor eficiência técnica e econômica na gestão destes recursos. Tabela 1: Esperança de Vida ao Nascer em anos, Taxa de Fecundidade Total e Taxa de Mortalidade Infantil por mil Nascidos Vivos 1991 Indicadores Minas Brasil Gerais 2000 Minas Montes Claros Brasil Gerais 2006 Montes Claros Brasil Minas Gerais Montes Claros Esperança de vida ao nascer 64,73 66,36 69,43 70,44 72,73 72,25 72,48 74,62 74,91(1) Taxa Fecundidade Total 2,73 2,53 2,81 2,36 2,22 2,06 1,95 1,92 1,87(2) Taxa Mortalidade Infantil 44,68 35,39 25,68 27,4 22,3 22,27 20,7 17,9 16,0 Fonte: PNUD/IPEA Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2000 e IBGE Notas: (1) 2008; (2) 2007 O estágio de desenvolvimento socioeconômico de um país afeta diretamente a saúde de sua população. Os autores Illich e Mckeown (1976) apud Giraldes (1997) afirmam que o montante de recursos destinados à saúde deve ser alocado considerando-se um contexto de maneira mais ampliada que leve em conta o estágio do bem estar econômico e social da população, sendo que os programas de saúde não devem desprezar o importante papel da saúde preventiva. Giraldes (1997) citando Townsend (1981) destaca que a pobreza acaba por reforçar a baixa condição social. Com condições de trabalho e de habitação não apropriadas as taxas de morbidade e morte têm possibilidade de serem maiores. Le Grand (1982) apud Giraldes (1997) diz que: o meio socioeconômico em que as pessoas vivem pode vir a se constituir em um determinante crucial do seu estado de saúde. A melhoria das condições gerais sanitárias, as condições de moradias, uma melhor alimentação são condições que propiciam uma melhoria do bem estar social e do padrão de vida da população, o que repercute positivamente em melhores condições de saúde para a população, como afirma Rezende (1983). 10 Figura 1: Modelo de Produção da saúde Entradas Estoque Resultados Serviços de Saúde Rendimento Estoque de Saúde Educação Dias Saudáveis Habitação Ambiente familiar Fonte: Adaptado de Maynard apud Giraldes (1997) Segundo Maynard (1981) apud Giraldes (1997) o estoque de saúde de cada pessoa (FIG 1), é resultado de diversos fatores que influenciam diretamente o seu nível de saúde, quais sejam: serviços de saúde, rendimentos, educação, habitação e vida familiar. E Le Grand (1982) apud Giraldes (1997) observa que o meio-ambiente da sociedade em que vivem os indivíduos pode ser uma importante determinante para o seu estado de saúde. A avaliação econômica em saúde trata, pois da utilização dos recursos e custos com a saúde, procurando a alocação eficiente dos recursos com efetividades nos resultados. A análise econômica voltada para a área da saúde se utiliza de alguns conceitos da economia, que são essenciais para uma melhor compreensão e o entendimento. A seguir destacam-se alguns destes conceitos. O custo oportunidade representa que ao utilizar o recurso em uma determinada ação, estar-se-á sacrificando a possibilidade de que este mesmo recurso possa vir a ser utilizado em uma variedade imensa de outras oportunidades alternativas. Ao investir na construção de um Centro de Saúde destinado ao atendimento específico aos idosos, está sendo preterido este mesmo recurso para ser destinado ao programa de saúde à infância. Donde se conclui que para se definir por qualquer opção de investimento faz-se necessário que se tenha fundamentos que indiquem que a opção tomada é a de melhor uso. 11 A análise de custo benefício normalmente compara os benefícios obtidos ou previstos para o momento da tomada de decisão, frente aos custos incorridos para a geração deste benefício, sendo que ambos os valores de custos e de benefícios deverão ser atualizados para um mesmo período, tendo em vista que os mesmos são efetivados em tempos diferentes. Faz-se necessário também que se adote uma taxa de desconto convencionada, de acordo com a realidade do mercado em análise, que, na maioria das vezes é a taxa paga pelos títulos públicos do Governo Federal que no caso do Brasil é a taxa SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia. Portanto, se a alocação em referência tem um rendimento que seja superior ou rendimento da taxa SELIC incluindo-se os seus custos, ou seja, seu benefício é superior a unidade diz-se que esta relação é satisfatória. A análise de custo efetividade tem conceito semelhante ao custo oportunidade. Entretanto, seus benefícios não são dados em valores monetários e sim em unidades físicas. É verdade, que também neste caso, como os investimento e os custos são realizados em tempos diferentes faz-se necessário suas atualizações para o momento em que a decisão será tomada. É possível se ter programas que conseguem ser eficazes sem contudo ter efetividade. Por exemplo, um programa de combate ao mosquito da dengue pode ser eficaz, tendo sido tecnicamente bem implantado, entretanto, se a população não aderir a continuidade dos controles básicos com os focos de proliferação das larvas do mosquito aedes aegypte (mosquito transmissor da dengue), em especial nos reservatórios domiciliares de água paralisados, com certeza o descuido com a volta dos recipientes com água retornarão os focos da doença, e, aí não se terá resultados efetivos com o controle contínuo dos focos do mosquito. A análise de custo utilidade no fundo é uma análise de custo efetividade e o seu efeito esperado e dado em ―anos de vida ajustados por qualidade de vida‖ (QALYS- quality adjusted life year) (Giraldes, 1997). Elucida a preferência do indivíduo ou do conjunto de indivíduos por um estado de saúde. Serve para comparar entre diversas possíveis intervenções em diferentes especialidades médicas. O custo médio é quanto se toma o custo total e divide-se pela quantidade de produção. O custo marginal é a alteração do custo quando variam também as quantidades produzidas. É o custo adicional dividido pela quantidade de casos que foram aumentados com este custo. Ou seja, é quando aumenta ou diminui o custo e simultaneamente também se alteram as quantidades. Por exemplo: alocar mais 30 leitos hospitalares. Os custos com realização de exames de sangue repetidas vezes deve ser analisado tendo em vista os custos marginais.As vezes vai se repetir o exame com acréscimos de custos e não se conseguirá más nenhum resultado efetivo, além do que já se obteve. a) Eficiência Técnica A eficiência técnica está ligada a avaliação que relaciona os recursos aplicados para se produzir um serviço ou bem com os resultados que se obtêm. Normalmente, quanto maiores são os resultados para os mesmos recursos aplicados, ou menores recursos para os resultados previstos, se diz que a eficiência técnica é melhor. b) Equidade No que se refere a equidade, esta se verifica quando se distribui os recursos com igualdade de oportunidade de acesso para aquelas necessidades que são iguais. Esta permite também uma discriminação 12 que pode ser considerada positiva quando favorece aqueles que dispõem de uma menor possibilidade ou poder para se utilizarem dos serviços disponibilizados pelo sistema de saúde. Na definição de Whitehead apud Viana et atl (2003), a equidade: ...Remete à noção de que,de acordo com os ideais, todos os indivíduos de uma sociedade devem ter justa oportunidade para desenvolver seu pleno potencial de saúde e, no aspecto prático, ninguém deve estar em desvantagem para alcançá-lo. Conseqüentemente, eqüidade em saúde refere-se à redução das diferenças consideradas desnecessárias, evitáveis, além de serem consideradas injustas. (Viana et al, 2003: 59) As desigualdades em saúde podem ser observadas por fatores que estão afetos a variações biológicas naturais, vez que as pessoas nascem diferentes umas das outras com e, neste caso não há que se falar em injustiças. Entretanto, existem as desigualdades que são provocadas pelas diferenças sócioeconômicas, em especial aquelas ligadas aos rendimentos pessoais ou familiares que determinam as condições de acesso aos bens e serviços no sistema capitalista. Starfield (2001) apud Viana (2003) ao discutir esta conceituação de equidade, diz que: Eqüidade em saúde é a ausência de diferenças sistemáticas em um ou mais aspectos do status de saúde nos grupos ou subgrupos populacionais definidos socialmente, demograficamente ou geograficamente. Eqüidade nos serviços de saúde implica em que não existam diferenças nos serviços onde as necessidades são iguais (eqüidade horizontal), ou que os serviços de saúde estejam onde estão presentes as maiores necessidades (eqüidade vertical). (Viana et al, 2003: 60) As desigualdades na área de saúde são reflexos das desigualdades sociais; estas desigualdades são superadas com a implementação de políticas públicas sociais voltadas para diminuir ou extirpar as diferenças às vezes justas e injustas. Existem campos específicos para aplicação das políticas públicas. Segundo Viana (2003) estes campos denominam-se: ― distribuição de recursos; oportunidades de acesso e utilização dos serviços. Considerações Finais A saúde é apresentada como uma das dimensões do processo de desenvolvimento. É indispensável ter um povo que desfrute de boas condições de saúde para se ter desenvolvimento. Neste artigo teve-se como objetivo explicitar sobre algumas das contribuições que tratam do processo de desenvolvimento, bem como fazer abordagens que tratam deste na dimensão da saúde, tendo ficado claro que existem diversas teorias que tratam do processo de desenvolvimento, podendo se perceber, por exemplo, em Schumpeter a importância do empresário inovador e empreendedor, em Perroux o conceito 13 de pólos de desenvolvimento e, ainda em Rostow as etapas por que passam os países em seus estágios de desenvolvimento. Quanto aos principais fatores que influenciam as condições de saúde, têm-se as condições de infraestrutura disponíveis de saúde tais como equipamentos de saúde, e profissionais médicos, condições de emprego e renda, educação e habitação. Já no que se refere aos indicadores de saúde selecionados pôde-se perceber que o Brasil, Minas Gerais e Montes Claros têm um desafio a enfrentar pela frente, uma vez que a esperança de vida ao nascer tem crescido. Por outro lado a taxa de fecundidade e a taxa de mortalidade infantil total por mil nascidos vivos vêm diminuindo, o que redunda em menor quantidade de filhos por mães em idade reprodutiva e menor quantidade de crianças falecendo até um ano de idade, repercutindo em que a população de idosos tende a aumentar. Quando se observa os indicadores de saúde selecionados vê-se que Montes Claros nas últimas décadas de 1990 e 2000 vêm tendo desempenho nestes indicadores melhores do que os apresentados pelo estado de Minas Gerais e também em nível de Brasil. Referências bibliográficas AROUCA, A. S. Democracia é Saúde. In: Anais. 8ª Conferência Nacional de Saúde. Brasília: MS/CD, 1986. BLUMER Herbert et AL. A Idéia de Desenvolvimento Social in Sociologia do Desenvolvimento II. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. BRASIL, Constituição Federal do Brasil de 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em 03.02.11. FURTADO, Celso. 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Disponível em http://www.fjp.gov.br/index.php/servicos/82-servicos-cepp/72-indicadores-e-analises-de-desenvolvimentohumano. Acesso em 07.05.2010. SCLIAR, Moacy. História do Conceito de Saúde. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro: Vol. 17 nº (1), 2007. <Disponível em http://www.scielo.br/pdf/physis/v17n1/v17n1a03.pdf>Acesso em 08.02.11 SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. VIANA, Ana Luiza D‘ Ávila et at. Política de saúde e equidade. Revista São Paulo em perspectiva. v. 17 n.1. São Paulo: 2003. POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO : DIREITOS SOCIAIS COMO MECANISMO DE DIGNIDADE HUMANA Antônio Carlos Rocha Botelho4 ―A democracia assegura que todo ser humano nasce com direitos fundamentais inerente a si. Alguns desses direitos são criados pelos ordenamentos jurídicos, outros dependem de certa manifestação da vontade, e outros ainda são apenas reconhecidos nas cartas legislativas.‖ (POTYARA AMAZONEIDA PEREIRA PEREIRA.) RESUMO O objetivo geral desse trabalho foi analisar as políticas públicas sociais no Brasil contemporâneo voltadas para uma vida digna em sociedade.Há a necessidade de se verificar a efetividade do cumprimento dos direitos humanos fundamentais, mínimos à promoção de uma vida digna e exercício da cidadania, as feições 4 Doctorando en Humanidade y Artes con Enfasis en la Ciencias de la Educación pela Universidad Nacional de Rosário-UNR-RO, ARGENTINA (convênio com o Instituto Internacional de Planejamento Educacional, IIPE/RJBrasil).Correio eletrônico: [email protected]. 15 de desigualdade de renda e de acesso a recursos, que repercute claramente na participação política do cidadão no contexto social ao qual está inserido. A metodologia empregada nessa pesquisa foi uma pesquisa de revisão bibliográfica exploratória descritiva, com objetivo a interpretação do tema proposto. Conclui-se que o constante aprendizado da democracia nos remete enquanto cidadãos aos dispositivos procedimentais de representações idealizadas em princípios de justiça e ideais de igualdade e liberdade de conformidade com os princípios fundamentais de dignidade da pessoa humana. PALAVRAS-CHAVE: Dignidade Humana ; Direitos Sociais ; Sociedade. O entender das questões sociais na modernidade está enraizado na contradição capital x trabalho, o que se pressupõe que é uma categoria que tem sua raiz específica no âmbito do modo capitalista de produção, conforme já informava Antunes (1995:p.62) Segundo Telles (1996:P.93) (...) a questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos de eficácia da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de poder e dominação. (TELLES, 1996: 85) A questão social é, portanto, a contradição essencial do modelo capitalista de produção, que centrase na apropriação da riqueza gerada socialmente, onde os trabalhadores produzem a riqueza, os capitalistas se apropriam dela. Nesse sentido, a questão social representa a possibilidade de se fazer uma análise da sociedade, na perspectiva da situação em que se encontra a maioria da população que vende a força de trabalho para garantir os meios de sua sobrevivência, conforme Antunes (1995: p. 79). O Estado estabelece garantias constitucionais para o acesso e exercício dos direitos fundamentais do homem em sociedade, desenvolvendo e implementando políticas sociais e econômicas que devem promover a dignidade humana. Isso se dá em cumprimento à sua obrigação de dar a todas as pessoas acesso e meios de exercício dos direitos, fundamentais, expressos na Constituição Federal e nos Tratados Internacionais de Proteção de Direitos Humanos, como informa Pereira (2005: p. 252). Dentre os bens imprescindíveis à vida digna destacam-se não somente aqueles necessários à própria existência física no mundo. Também os necessários a que o ser humano possa ser reconhecido como uma pessoa, com direitos e com deveres face aos demais na comunidade, que tenha a possibilidade de, sempre que quiser participar ativamente na conformação e confirmação das regras que governam a todos. (CITTADINO, 2000: p. 72). A Constituição de 1988, conforme Pereira (2001: p. 51) ampliou os direitos fundamentais mostrando a relevância desses, ao considerar que a pessoa humana é o valor primordial, cabendo aos órgãos governamentais, mediante políticas sociais lastreadas no respeito às convenções e aos tratados internacionais reguladores, ações que resguarde ao homem o mínimo necessário para uma vivência digna na sociedade. Posterior a Constituição de 1988 o Congresso Nacional transformou o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana em Conselho Nacional dos Direitos Humanos revogando a lei nº 4.319/64 e lei nº 5.763/71 pelo Projeto de Lei nº 4.715/94 em 30/06/2004. Esse Projeto de Lei que passou a vigorar a partir dessa data, considerando que depois do direito à vida, nenhum bem é tão importante quanto à liberdade. 16 Essa política tem como cerne a questão social onde se observa que as ciências sociais e política se caracterizam pela atuação junto a indivíduos que se encontram em situações de desajustes sociais, em classes subalternizadas e exploradas pelo capitalismo que ora impera no meio social. Em todo esse contexto encontra-se o homem em sua dignidade. O homem, como pessoa tem direito a um padrão de vida que lhe assegure a si e a sua família, saúde e bem-estar, pressupondo alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis; tem direito ainda ao direito à segurança, em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. Dentre os bens necessários à subsistência destacam-se não somente aqueles necessários à própria existência física no mundo, mas também àqueles a que o ser humano é reconhecido como uma pessoa, com direitos e com deveres diante dos semelhantes na comunidade, de forma a participar na conformação e confirmação das regras que governam a todos, conforme Cittadino (2000: p 93). As pesquisas têm se voltado para valorização dos princípios fundamentais relativos aos direitos sociais humanos e destaca-se uma aposta na força legitimadora dos discursos de justificação e de aplicação das normas jurídicas. Essas normas buscam visualizar e promover uma interação profunda e fecunda do aplicador do direito fundamental da pessoa humana com toda a esfera pública da sociedade, sobretudo, com a sua periferia, ou seja, com as entidades organizadas da sociedade civil. (PEREIRA, 2001: p. 57). Os Direitos Fundamentais permeiam a Lei Maior em vários momentos, aparecem em diversos artigos. Cita-se como exemplo os direitos sociais (artigos 6º a 11), os direitos da nacionalidade (artigos 12 e 13), os direitos políticos (artigos 14 a 16), entre outros. O artigo 5º da Constituição trata não só de alguns Direitos Fundamentais, mas também de algumas Garantias Fundamentais dos brasileiros. (CITTADINO, 2000: p. 112). Plasmados dessa maneira, tais objetivos revestem a razão de ser do Estado brasileiro, as cláusulas do pacto social, para o qual os direitos fundamentais são os meios para sua consecução. Esses objetivos fundamentais da República constituem obrigações de resultado que o poder público e a sociedade devem conjuntamente buscar. Segundo Sampaio (2004: p. 166), no âmbito internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 estabelece que os direitos econômicos, sociais e culturais são indispensáveis à dignidade da pessoa e ao livre desenvolvimento da personalidade e que sua realização constitui direito de cada membro da sociedade (art. XXII). A Declaração prevê os direitos ao trabalho, ao lazer e ao repouso, à saúde e à instrução, sempre contextualizados para o livre desenvolvimento da personalidade das pessoas. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi profundamente marcada pelo contexto de Pós II Guerra Mundial, momento em que era fundamental estruturação simbólica de uma resposta às atrocidades nazistas e ao desrespeito dos que eram democratas. (PATARRA, 2004: p. 250) O contexto social do pós II Guerra em todo o mundo, por algum tempo continuou sendo um desrespeito à democracia nos países que pretendiam e se esforçavam em construir um Estado Democrático. Havia aqueles que insistiam em fazer um Estado antidemocrático tolhendo a liberdade de estar livre ou de sentir livre, interpretando a mesma como direito desigual. A partir da II Grande Guerra houve o reconhecimento da necessidade de não somente esses direitos fundamentais à dignidade humana, mas, também os direitos de solidariedade ou fraternidade, que, frutos de sucessivas reuniões da Organização das Nações Unidas - ONU e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO, ainda são pouco reconhecidos no âmbito do direito constitucional. Esses direitos de difícil reconhecimento asseguram a dignidade humana na busca pela minimização à desigualdade social e é elencado pelo o direito à paz, o direito ao desenvolvimento, o direito ao 17 meio ambiente e o direito ao patrimônio comum da humanidade. A partir desses, iniciaram-se as discussões a respeito da Dignidade da Pessoa Humana. A essência da dignidade humana está no respeito às ações e comportamentos referentes ao semelhante, o que ele representa, seus valores, costumes e cultura, fazendo com que apareça a exclusão das minorias e a desigualdade social. Patarra (2004: p. 252) ainda se expressa no sentido de que os direitos inalienáveis e invioláveis pudessem ter autonomia no conjunto dos direitos e garantias coletivas. No imaginário humano do momento histórico cruzam-se ainda poderes necessários para a defesa em todo o território nacional, destacando-se com real eficácia os direitos da pessoa humana, ameaçados ou violados pelas autoridades civis e militares da União e das municipalidades, conforme relata o Deputado Bilac Pinto. Conforme Patarra (2004: p. 253) os desafios que concretizam a existência de Políticas Públicas em determinados setores, ou as faltas de avanços em indicadores sociais representam a falta de compromisso dos governos com os acordos firmados. Nas entrelinhas da Carta Magna os direitos civis e políticos são forjados de forma que, mesmos expressos e garantidos pelo comando geral da Nação, a população menos favorecida desconheça seus direitos, uma vez que os mesmos são dominados pela classe dos mais favorecidos. A Constituição Federal em seu artigo 3º preconiza a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, e, em seu artigo 5º resguarda os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, em todas as suas formas e meios; os direitos sociais como a educação, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, à proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, é previsto nos artigos 6º a 9º e em todo o Título VIII - Da Ordem Social (arts. 193 a 222). A Constituição também impõe aos agentes econômicos a obrigatoriedade de operar conforme os objetivos fundamentais mencionados, como decorre do artigo 170 e incisos III, VII e VIII. Quanto ao Poder Público, a Constituição explicitamente atribui no artigo 23, inciso X, competência comum à União, Estados, Distrito Federal e Municípios combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos na sociedade. Como pontuam Mendonça e Oliveira (2001: p. 56) a conjuntura social e política brasileira tiveram, assim, a necessidade e a urgência de mudanças que contemplassem a redefinição dos princípios orientadores da nação de justiça social e dos fundamentos dos direitos. A desigualdade social centra-se nos direitos humanos fundamentais, embasada nos parâmetros a igualdade e a liberdade. Esses parâmetros são muitas vezes intangíveis à grande maioria da população, e sua prática ainda está longe de ser concretizada, mesmo sendo estabelecida através das dimensões de direitos, que embasam os pressupostos básicos de dignidade humana. A base dos direitos humanos fundamentais centra-se nas liberdades individuais, tais como a honra, a vida, a liberdade de expressão e participação política. A partir daí surgem os direitos sociais ou de igualdade, onde se afirmam as condições para exercício dos direitos já garantidos, tais como prestações sociais estatais tais como saúde, educação, trabalho, etc. Por cidadania pressupõe-se inclusão social que diz respeito ao emprego, às diferenças de sexo, às crenças, aos portadores de deficiência, aos hipossuficientes e, dessa forma, ao princípio da isonomia, da igualdade de todos perante a lei, princípio este que expressa não a igualdade intelectual ou moral, mas a de tratamento perante a lei, sem distinção de grau, classe ou poder econômico. Para se ter dignidade, o cidadão necessita participar, estar incluso na sociedade, dentro dos padrões básicos para suprir suas necessidades, ter cidadania, ter seus direitos preservados. Segundo Telles (1996: p. 45), na ótica da cidadania pobre e pobreza não existem. O que existem são indivíduos, grupos sociais e situações particulares de degeneração dos direitos sociais, ao invés do 18 pobre atado pelo destino ao mundo das privatizações; o cidadão que luta e reivindica e luta pelos seus direitos. A homogeneização carregada de conseqüências na figura do pobre. Os direitos sociais no texto constitucional estão além de posições jurídicas a prestações materiais do Estado, no cumprimento de sua função como Estado Social ao considerar o ser humano na sua situação concreta na ordem comunitária, objetivando a criação e garantia de igualdade e liberdade material seja por meio de prestações materiais e normativos. Os Direitos Fundamentais traz o direito ao meio ambiente, ao consumidor, da família, da criança e adolescente, do idoso, dos portadores de deficiência física impetrada através de ação civil pública. Bonavides (2000: p. 159) admitem que haja os direitos fundamentais gerados pela globalização política na esfera da normatividade jurídica. Para Bonavides (2000: p. 169), são Direitos Fundamentais, relacionada ao processo de globalização econômica e de fragilização da soberania do Estado Nacional, tais como a democracia, o direito a informação e ao pluralismo político. Esses direitos dependem da concretização da sociedade nas relações de convivência legítima, via globalização política. São direitos que compreendem o futuro da cidadania e a liberdade de todos os povos. Esses direitos não excluem os outros direitos tais como os direitos individuais, os direitos sociais e os direitos ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente e à fraternidade, que permanecem presentes nas Constituições modernas e pressupõem a vivência da cidadania em bases de inclusão e participação social. Entretanto, apesar da divisão desses direitos, desde a Conferência Internacional de Viena, em 1993, vem sendo reafirmada a indissociabilidade dos mesmos e a recusa da prioridade dos direitos civis e políticos como primeira etapa. O evento tornou-se um marco mundial pelo delineamento do Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais como fundamento ético, base para denúncias e combustível para a busca de caminhos alternativos para a humanidade superar a iniqüidade e a injusta distribuição das riquezas, do poder e do saber e, conseqüentemente reduzir a desigualdade social. Salienta-se, no entanto que, entre a dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais, existe um liame através do qual devem ser observados alguns aspectos que necessariamente se relacionam, pois a dignidade humana ser analisada como unidade valor da Constituição e também para os direitos fundamentais. Embora o reconhecimento oficial assegure mais segurança em relações sociais e desfrute de uma função pedagógica no seio da sociedade, salienta-se que para a vigência legítima de direitos positivados será a necessária busca de um fundamento mais profundo que o simples reconhecimento institucional ou estatal, ou seja, todos os direitos devem estar, impreterivelmente, fundados na dignidade da pessoa devendo ser concebidos como decorrentes dela, para se realmente direitos fundamentais. No entanto, observa Cittadino (2000: p. 153), o que não se quer para si ou para os outros, decorre um dever ético de combatê-la, assim como aos mecanismos e processos que a geram. O Estado, na sua obrigação de dar a todas as pessoas acesso e meios de exercício dos direitos, e com especial ênfase dos direitos fundamentais expressos na Constituição Federal e nos Tratados Internacionais de Proteção de Direitos Humanos, estabelece garantias constitucionais para esse acesso e exercício assim como desenvolve e implementa políticas públicas sociais e econômicas que devem promover a dignidade humana. Segundo Cittadino (2000: p. 186), o Estado desempenha, no presente jogo de forças sociais, papel fundamental para a manutenção da ordem e de algum tipo de estabilidade, de onde também extrai sua legitimidade. Nesse processo, o Estado assume o jogo sujo de manter em níveis administráveis e suportáveis as desigualdades e especialmente as tensões que surgem dessas desigualdades. 19 Os modos de atuação do Estado na função de gerenciamento da pobreza, conforme Pereira (2001: p. 60) identifica-se caber ao Estado a implementação de normas e políticas sociais e econômicas em vários níveis, em especial quanto à definição da pobreza e conformação de atitudes sociais como parte de relações discursivas; quanto à distribuição e alocação de recursos; e quanto às ações das instituições e dos agentes públicos que de algum modo lidam com os direitos fundamentais mínimos a uma vida digna em sociedade. Nesse contexto, a prática da cidadania dissolve-se, na verdade, embora seja através da mesma que se faça a passagem da natureza para a cultura. A partir dessa referência torna-se pública a prática dos direitos mínimos do homem, bem como a participação ativa civil desses no âmbito nacional para daí ver para crer. Segundo Cittadino (2000: p. 177), o Estado desempenha o jogo de forças sociais, fundamental para a manutenção da ordem da estabilidade, o que torna legítima sua ação. Nesse processo, o Estado assume o jogo de manter em níveis administráveis e suportáveis as desigualdades e, em especial as tensões que surgem das mesmas. No contexto desigualdade social os modos de atuação do Estado na função de gerenciamento da pobreza, identifica-se com a implementação de normas e práticas sociais e econômicas em vários níveis. Em especial quanto à conformação de atitudes sociais como parte de relações discursivas, com ênfase na distribuição e alocação de recursos, através dos agentes públicos que de algum modo lidam com os direitos fundamentais mínimos a uma vida digna em sociedade. Segundo Pereira (2001: p. 60), a democracia assegura que todo ser humano nasce com direitos fundamentais inerentes a si. Alguns desses direitos são criados pelos ordenamentos jurídicos, outros dependem de certa manifestação da vontade, e outros ainda são apenas reconhecidos nas cartas legislativas. De acordo com Pereira (2001: p. 61), o constante aprendizado da democracia remete o homem, enquanto cidadãos, a vivências e práticas culturais e públicas, aos dispositivos procedimentais de representações idealizadas em princípios de justiça e ideais de igualdade e liberdade. De conformidade com os princípios fundamentais de dignidade da pessoa humana, esse aprendizado faz surgir uma pluralidade de esforços no sentido de resgatar a força integradora de seus direitos sociais. Os direitos fundamentais, também denominados liberdades públicas ou ainda direitos humanos, fazem parte desse estado democrático e asseguram ao homem, o seu mínimo necessário à dignidade, que, as políticas públicas sociais devem priorizar e fazer cumprir. É nesse pressuposto encaixam-se o acesso a direitos, nas condições de vida, as desigualdades e a busca de uma forma de superá-las, as conseqüências da apropriação desigual do produto social expressas no analfabetismo, violência, desemprego, favelização, fome, analfabetismo político, etc. O que se observa nos direitos fundamentais do homem é que toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar. Dessa forma, dentre os bens imprescindíveis à vida digna destacam-se não somente aqueles necessários à própria existência física no mundo, mas também os necessários a que o ser humano possa ser reconhecido como uma pessoa. Uma existência como pessoa de direitos e de deveres face aos demais na comunidade, que tenha a possibilidade de, sempre que quiser participar ativamente na conformação e confirmação das regras que governam a todos. (CITTADINO, 2000: p. 198). Dentro da democracia e dos direitos fundamentais da pessoa humana, a democratização de países emergentes como o Brasil a participação cada vez mais decisiva da sociedade civil em processos decisórios da administração político-econômica confirma as complexas tentativas de conjugar a democracia com a normatividade inerente a um mecanismo de jurisdição liberal e permanecem abertas às críticas imanentes dirigidas ao Estado Moderno. 20 ABSTRACT The general objective of that work was to analyze the public politics gone back to the necessary existential minimum for a worthy life in society. There is the need to verify the effectiveness of the execution of the fundamental human rights, minima to the promotion of a worthy life and exercise of the citizenship, the features of inequality of income and of access to resources that it rebounds clearly in the citizen's political participation in the social context to which is inserted. The methodology used in that research it was a research of exploratory bibliographical revision descriptive, with objective the interpretation of the proposed theme. It if ended that the constant learning of the democracy sends us while citizens to the devices of procedures of representations idealized in beginnings of justice and you idealizes of equality and conformity freedom with the fundamental beginnings of the human person's dignity. WORD-KEY: Existence Deigns; Rights Social ; Society. Referências Bibliográficas: BONAVIDES, Paulo. A evolução constitucional do Brasil. Estudos Avançados. São Paulo: IEA, n.40, p.155-176, 2000. BRASIL. Constituição Federal. 1988 _______. Câmara dos Deputados. Deputado Bilac Pinto. Brasília. DF. _______. Conselho Nacional dos Direitos Humanos. Projeto de Lei Nº 4.715/94 de 30/06/2004. Brasília. DF. CITTADINO, Gisele. Direito e Justiça Distributiva. Lúmen Júris. R. Janeiro. 2000. MENDONÇA, E; OLIVEIRA, L. Pobreza e Desigualdade: Repensando Pressuposto. Observatório da Cidadania. Rio de Janeiro, n. 5. 2001. PATARRA, Neide Lopes. Análise de Dados, v. 14, n. 1, p. 249-255, jun, Bahia/Salvador, 2004. PEREIRA, P. A. P. Questão Social, Serviço Social e direitos de cidadania. Temporalis, Brasília, v. 03, p. 51-61, 2001. _______________.Análise Comparada da Política Social. Ser Social (UnB). Brasília-DF, v. 14, n. 1, p. 251-259, 2005 SAMPAIO, José Adércio Leite. Direitos Fundamentais. Del Rey. Belo Horizonte, 2004. TELLES, Vera da Silva. Questão Social: afinal do que se trata? São Paulo em Perspectiva, vol. 10, n. 4, out-dez/1996. 21 FAIXA DE GAZA E O HAMAS NO IMAGINÁRIO SOCIAL: a corrida pelo voto ValdeliCoelhoCollares 5 RESUMO Um movimento seja ele qual for não pode ser apenas consolidado com base em seus trabalhos sociais ou arranjos políticos. O instrumento clássico de legitimação de regimes e movimentos políticos e sociais é naturalmente a ideologia6, todavia mesmo as justificativas ideológicas extrapolam o discurso. É através do imaginário que se podem atingir não só a cabeça mais de modo especial, o coração, isto é as a aspirações, os medos e as esperanças de um povo. A questão do imaginário social, ganha relevância a partir da assertiva, com a qual concordamos de que o homem está sempre imerso numa rede de sentidos ou numa comunidade de sentidos. Bazco,(1985). É a partir do social que os homens interagem entre si e constroem suas identidades. A insatisfação crescente com acordos de paz entre Israelenses e palestinos que não respondiam as demandas do território ocupado, a corrupção das lideranças seculares palestinas, tornou possível o surgimento de movimentos islâmicos dispostos a tentar mudar a história da ocupação, da opressão e minimizar pobreza da região. Assim surgiu o movimento Islâmico Hamas, que escandalizou o mundo com inesperada vitória obtida nas eleições do Conselho Legislativo Palestino (CLP) 7 em Janeiro de 2006. O movimento vinha construindo uma base sólida devido as suas atividades educacionais, sociais de obras de caridade, além da propagação religiosa, conseguindo se tornar popular dentro e fora da Palestina. O objetivo desse artigo é uma tentativa de compreender o processo de surgimento e ascensão do Hamas, desde a sua condição de movimento de assistência social ao povo palestino até sua consolidação como partido político responsável por um governo em uma situação eminentemente conflituosa. Que causas ou conjunto de causas podemos apontar para o crescimento desse movimento a ponto de substituir em tão pouco tempo as poderosas forças políticas na Palestina. Esse estudo está baseado no método qualitativo e histórico, segundo Foucault (2005), há dezenas de anos a atenção dos historiadores se voltava para longos períodos, que revelava a continuidade os equilíbrios as regulações constantes difíceis de serem rompidas .―A atenção se deslocou, para os fenômenos de ruptura‖ FOUCAULT (2005, p.4-9). A pesquisa qualitativa, ―compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de significados, o objetivo é traduzir, expressar o sentido dos fenômenos sociais‖ MAANEN, (1979ª, p. 520). A pesquisa bibliográfica conduzirá todo o trabalho a ser desenvolvido nesse estudo. Palavras- chave- Hamas, assistência social, voto, ascensão, imaginário social. 5 Valdeli Coelho Collares é Graduada em História pela UNIMONTES e Mestra em Desenvolvimento Social pela UNIMONTES, sob orientação do Professor Gilmar Ribeiro dos Santos. [email protected] IDEOLOGIA7 CLP- Conselho Legislativo Palestino. Um quase parlamento com poderes limitados, representa a incorporação da legitimidade política palestina na Cisjordânia e na Faixa de Gaza HROUB, (2008, p.7). 22 INTRODUÇÃO Quando o (Movimento de Resistência Palestina) Hamas8 surgiu como a força mais expressiva na Faixa de Gaza e Cisjordânia e venceu as eleições de 2006, não foi um mero acaso, o movimento vinha a muito construindo uma base sólida, ampliando o seu prestígio devido principalmente a construção de uma rede de assistência a um povo pobre, carente 9 e excluído. As suas atividades educacionais, sociais de obras de caridade, além da propagação religiosa, conseguiram se tornar muito popular dentro e fora da palestina. Nesse sentido, a gravidade do quadro de pobreza e miséria, na Faixa de Gaza, constitui permanente preocupação e nos obriga a refletir sobre suas influências no social e o combate a corrupção, como um dos fatores decisivos para a penetração do Hamas junto à população. O Estado10 deve assegurar os direitos e propiciar condições para a efetiva participação da família no desenvolvimento de seus filhos, sendo assim, a intervenção estatal no campo das políticas sociais e especificamente no âmbito da assistência configura-se nesse quadro como uma modalidade de resposta a miserabilidade da população. Porém, a Faixa de Gaza está inserida nos territórios ocupados por Israel na Palestina, não se trata de um Estado legítimo que tenha quem os proteja efetivamente do desemprego e da fome, essa é uma região que depende da ajuda de instituições como a ONU, A agência das Nações Unidas de Assistência a Refugiados Palestinos (UNRWA), de doações de outros países inclusive do Brasil e principalmente da Autoridade 8 HAMAS - Abreviatura para Harakat Al Muqawama al islamia (Movimento de Resistência Islâmica) de ideologia islâmica é uma organização política, cultural e social calcada em bases populares que possui uma ala militar separada, especializando-se na resistência armada contra a ocupação israelense. Ocupa hoje a maioria dos assentos no conselho legislativo da Autoridade Nacional Palestina. Passou a existir oficialmente em 14 de dezembro de 1987 ao emitir uma autodeclaração mediante um comunicado oficial poucos dias depois da eclosão da primeira intifada, revolta palestina em 8 de dezembro. A decisão de criar o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) foi tomada no dia seguinte à Intifada pelos líderes dos Irmãos Muçulmanos Palestinos, xeque Ahmed Yassim, Abdul ‗Aziz al Rantisi, Salah Shehadeh, Muhammad Sham‘ah,‘Isa al Nashar, ‗Abdul Fattah Dukhan e Ibahim Al Yzuri HROUB,( 2008: 38- 45). 9 Operar a ―noção de carência‖ é validar a noção de carência ou de um espaço a ser preenchido, que por várias circunstâncias não o foi. Como se pode notar, essa concepção não é relacional, como é a de desigualdade que pressupõe a igualdade. Ao constar a desigualdade, há o deslocamento de uma relação social e política para o âmbito de uma circunstância, fenômeno ou situação. Atender aos carentes volta a ser um ato moral, ético, isto é, humanitário, destituído porém da dimensão econômica e política pela qual a sociedade se organiza. Põe em questão a concepção ético-social ante a econômica-política contida no exame da assistência social SPOSATI, (2002:16). 10 Aquilo que aprendemos a chamar de Estado é hoje, na verdade, o Estado-nação moderno, que só fez sua entrada no palco mundial depois do tartado de Westfália em 1648. Embora no século XIII, e em algumas regiões da Europa, um elemento contratual já houvesse penetrado o espaço cívico, foi o tratado de Westfália que deu o status de instituição formal ao conceito de Estado que emergia naquele continente. Ainda assim, o conceito não teria alcançado o poder que futuramente alcançou, se a Revolução Francesa não o tivesse subscrito.Ligando a história do Estado à história do nacionalismo NANDY apud SACHS (2000, p.84). 23 Palestina (AP) responsável em prover também a assistência social, tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza. Entretanto, a precária intervenção pública no campo do social criou as condições para uma movimentação mais intensa do Hamas nas questões sociais, mais efetivamente depois da primeira Intifada (, revolta com pedras 1987). Desde os tempos da Segunda Guerra Mundial, a Irmandade Muçulmana11 Palestina e mais tarde o Hamas, tomaram para si a obrigação de cuidar dos menos favorecidos. Desde então atua em vários setores na tentativa de minimizar a pobreza oferecendo serviços de assistência social. De acordo com SPOSATI, (2002, p. 8) O conceito de desamparado ou necessitado é atribuído à condição de fragilidade física associada à econômica, responsabilizando o Estado de suprir um amparo mínimo a tais cidadãos.[...] A assistência social é universal enquanto ocorre em qualquer sociedade, pessoas portadoras de deficiências físicas ou mentais, entre outras situações de fragilidade, devem contar com programas governamentais de apoio a sua manutenção. O necessitado seria aquele que não tem trabalho, ou salário, e a assistência social, seria um substitutivo, com os serviços sociais oferecidos pelas políticas sociais. A assistência social é política de seguridade social12 não contributiva, que garante o atendimento as necessidades básicas dos menos favorecidos (a seguridade nesse caso, é associada à substituição de renda), o campo é o dos necessitados. YAZBEK, (2003, p.53) considera, a assistência social como um conjunto de práticas desenvolvidas direta ou indiretamente, ―junto aos necessitados com o sentido de compensação de sua exclusão. O assistencial é neste sentido campo concreto de acesso a bens e serviços, enquanto oferece uma face menos perversa ao subalterno‖. A proteção social seria, portanto geradora de vantagens que não são somente individuais, mais também coletivas, segundo a formúla de F. Hutchison (1988) apud YAZBEK (2003 p.53), ―a maior felicidade para o maior número de gente‖. Encontrar a coletividade através do indivíduo. O presente artigo é voltado para compreensão do processo de surgimento e ascensão do Hamas no imaginário social na Faixa de Gaza, desde sua condição de movimento de assistência social ao povo palestino até sua consolidação como partido político responsável por um governo em uma situação eminentemente 11 Irmandade Muçulmana. Teve o seu início em 1928 no Egito, fundanda pelo pensador Hassan Al Banna. Os movimentos da Irmandade Muçulmana são os movimentos políticos mais atuantes no Oriente Médio. Prega a união de todos os muçulmanos em uma só nação HROUB, (2010, p.32). 12 O último World Development Report 1988 considera sistema de seguridade social ―os programas públicos que garantem a subsistência no caso de perderem sua fonte de renda, por aposentadoria, invalidez, enfermidade, acidente de trabalho e desemprego SPOSATI, (2002, p. 8-9). O conceito de seguridade social se faz ou nos marcos extensivos de um Estado Providência, distributivo de serviços sociais básicos a toda a população, ou em marcos restritos, isto é apenas aos necessitados SPOSATI, (2002, p. 8-9). 24 conflituosa. O procedimento metodológico para a realização desse trabalho está baseado no método histórico O método histórico permite buscar as diferenças a partir de processos mais amplos. (compreender a história como processo). Nesse sentido elencaremos que fatores podem ter contribuído para o sucesso de cunho popular do Hamas. A pesquisa bibliográfica conduzirá todo o trabalho a ser desenvolvido nesse estudo. Um movimento seja ele qual for não pode ser apenas consolidado com base em seus trabalhos sociais ou arranjos políticos. O instrumento clássico de legitimação de regimes e movimentos políticos e sociais é naturalmente a ideologia, todavia mesmo as justificativas ideológicas extrapolam o discurso. José Murilo de Carvalho (1990) em sua obra a ―Formação das Almas‖ aponta que é ―através do imaginário que se podem atingir não só a cabeça mais de modo especial, o coração, isto é as a aspirações, os medos e as esperanças de um povo‖ CARVALHO, (1990, p.10). A questão do imaginário, ganha relevância a partir da assertiva, com a qual concordamos, de que o homem está sempre imerso numa rede de sentidos (Weber) ou numa comunidade de sentidos (Baczko 1985). Ou seja, é a partir do social que os homens interagem entre si e constroem suas identidades. É a partir do social também, ou da produção social de bens simbólicos, que se estabelecem relações de poder e de sentido, onde se garanta a hegemonia ou onde ela seja quebrada. Por isso, a luta acaba sendo por fazer crer, por significar, onde o imaginário social serve ao antagonismo, por exemplo, sobre o qual foi construída a sociedade palestina dos territórios ocupados. Para BASZCO, (1985, p.299), exercer um poder simbólico não consiste meramente em acrescentar o ilusório a uma potência ‗real‘, mas sim em duplicar e reforçar a dominação efetiva pela apropriação dos símbolos e garantir a obediência pela conjugação das relações de sentido e poderio. Os bens simbólicos (...) nada tem irrisórios e não existem (...) em quantidade ilimitada. Alguns deles são particularmente raros e preciosos. Prova disso é que constituem o objeto de lutas e conflitos encarniçados e que qualquer poder impõe uma hierarquia entre eles, procurando monopolizar certas categorias de símbolos e controlar as outras. Os dispositivos de repressão que outros poderes constituídos põe em pé, a fim de preservarem o lugar privilegiado que a si próprios se atribuem no campo simbólico, provam, se necessário fosse, o caráter decerto imaginário, mas de modo algum ilusório, dos bens assim protegidos, tais como os emblemas de poder, os monumentos erigidos em sua glória, o carisma do chefe,etc. O imaginário não é ilusório, mas um efeito do real. Para BOURDIEU (2006, p.9-14), o poder simbólico é um poder de construção da realidade, 25 que tende a estabelecer uma ordem gnoseológica: o sentido imediato do mundo (e em particular, do mundo social). [...] O poder simbólico tem o poder de se fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e desde modo, a ação sobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização. No imaginário das pessoas que vivem nos territórios ocupados da Palestina, depois de longos acordos de paz que no fim nunca responderam aos anseios da população de uma maneira satisfatória, o Hamas com a sua carga de trabalhos sociais, de lutas das quais muitas de forma violenta, um símbolo da resistência palestina, parecia poder naquele momento dar a solução ao menos em parte para aqueles que já não tinham muita esperança por mais de meio século. Nessa medida o Hamas soube ao que parece, usar o imaginário social em seu benefício, dado que eles podem de certa forma modelar condutas. Segundo CARVALHO (1990, p. 10), O imaginário social é constituído e se expressa por ideologias e utopias [...], mas também por símbolos, alegorias, rituais e mitos [...]. Os símbolos e mitos podem tornar-se elementos poderosos de projeção de interesses, aspirações e medos coletivos [...]. A manipulação do imaginário social é particularmente importante em momentos de mudança política e social, em momentos de redefinição de identidades coletivas. Nessa perspectiva, o Hamas em suas várias faces, juntamente com o seu trabalho social, soube ao que parece canalizar os sentimentos coletivos no esforço de criar uma nova sociedade, um novo sistema político ao longo dos anos. Como exemplifica CARVALHO, (1990, p. 11) quando cita o caso da Revolução Francesa. ―Mirabeau disse-o com clareza: não basta mostrar a verdade, é necessário fazer com que o povo a ame, é necessário apoderar-se da imaginação do povo.‖ Para a Revolução, educação pública significava acima de tudo isto: formar as almas.‖ Seguindo essa mesma política e provavelmente influenciada por ela desde a chegada de Napoleão ao Egito em 1798, que a Irmandade Muçulmana e posteriormente o Hamas, pregaram a importância da educação e da islamização da sociedade como meio de transformação, de mudança, de formação das almas, ―preparação de gerações‖ HROUB, (2008, p.41). Segundo ANTES, (2003, p. 107), ―Quando o povo absorvesse a mensagem do Islã e se deixasse transformar por ela, a nação se tornaria muçulmana sem conquista violenta.‖ Importante destacar que a Plataforma eleitoral do Hamas por ―mudança e reforma‖ trás em seu bojo toda a ideologia pregada pelo movimento desde o seu início, porém, numa linguagem 26 mais sutil e menos radical. Um programa abrangente para a libertação da Palestina coerente com os anseios do povo. Podemos perceber isso através de pesquisas realizadas antes das eleições de 2006. Toda a trajetória do Movimento de Resistência Islâmico (Hamas), desde a primeira intifada ocorrida em 1987, vinha realçando que o grupo dispunha de um importante capital de apoio social representado tanto pelos jovens pobres quanto pela burguesia do comércio. Por capital social se entende a habilidade dos indivíduos em garantir benefícios por meio de associação em redes de relações sociais. Segundo PUTMAN (1993, p. 177-179), ―o capital social visto como um fenômeno social está fundamentado em dois aspectos centrais: a associação de indivíduos em redes ou outras formas de organização horizontal e a existência de confiança mútua e reciprocidade‖. Capital e´uma palavra símbolo do capitalismo, que remete a recursos econômicos, mercado, riqueza etc. ―O termo capital é de definição bastante complexa, pois a linguagem comum o define como sendo um bem que um indivíduo possui como riqueza‖ BOTTOMORE, (1988, p. 44). Já no contexto da obra de Karl Marx: (…) capital não é uma ‗coisa‘, mas determinada relação de produção, social, pertencente a determinada formação sócio-histórica, que se representa numa coisa e dá um caráter especificamente social a essa coisa. O capital não é a soma dos meios de produção materiais e produzidos. São os meios de produção monopolizados por determinada parte da sociedade, os produtos autonomizados em relação à força de trabalho viva e às condições de atividade exatamente dessa força de trabalho, que são personificados no capital por meio dessa oposição (MARX, 1988, p. 251). O conceito de capital social guarda, portanto, um contraste de difícil entendimento; se capital envolve os meios de produção concentrados e acumulados, um estoque de bens físicos, o capital social envolveria um estoque de bens sociais abstratos, como confiança, normas sociais e relações interpessoais. O capital social está fundado em relações sociais, e aspectos dessa estrutura social – tais como relações, normas e confiança social – podem ajudar a desenvolver a coordenação de atividades e a cooperação em torno de projetos de benefício comum. O capital social refere-se, então, à capacidade e à habilidade dos cidadãos de conectarem-se. Consoante D‘ARAÚJO, (2003, p. 9) Nos anos 90, o Banco Mundial passou a distinguir quatro formas de capital, Capital Natural: que corresponde aos recursos naturais de um país; Capital financeiro: que é o resultado do que é produzido pela sociedade em termos de infra- estrutura, bens de capital e assim por diante; Capital humano: reflete saúde, educação e nutrição da população; e 27 Capital social: relaciona-se a capacidade da sociedade de estabelecer laços de confiança interpessoal redes de cooperação com vistas à produção de bens coletivos. O capital social pode ser constituído por elementos como informações, idéias e apoios compartilhados entre pessoas e grupos de pessoas. Normas e relações de confiança que existe entre cidadãos de uma dada sociedade. Sistema de participação que estimulam a cooperação. Quanto maior a capacidade dos cidadãos confiarem uns nos outros, além de seus familiares, bem como, maior e mais rico for o número de possibilidades associativas numa sociedade, maior o volume de capital social. BURT (1992; 2001), A estrutura da rede social, pode ser entendida como um conjunto de pessoas que possuem entre si algum tipo de relação, com alguma freqüência e obedecendo a algum tipo de padrão e valores. Uma pessoa no interior de uma rede social possui melhor acesso aos recursos disponibilizados por ela. BURT (1997, p. 339), considera ―o capital social como parte integrante do capital humano, mas este se refere a uma habilidade pessoal, enquanto o capital social se refere a oportunidades‖. Pode-se dizer que o capital social é a ―cimento‖ que permite manter as instituições unidas. Capital social é um conceito abstrato de difícil definição. BOURDIEU (1998, p. 67), versando sobre a questão, define capital social como sendo, o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de ligações mais ou menos institucionalizadas de inter-conhecimento e inter-reconhecimento‖.[...] O volume de capital social que um indivíduo possui depende da ―extensão da rede de relações que ele pode efetivamente mobilizar e do volume do capital pertencente a quem está ligado. Consoante COLEMAN (1990, p. 302), capital social é definido por suas funções, não uma entidade única, ―mas uma variedade de entidades com duas características em comum: todas são parte de uma estrutura social e facilitam a ação de alguns indivíduos que estão dentro da estrutura‖. O capital social é o resultado do que é produzido pela interação social entre indivíduos ou grupos no sentido de cooperação e reciprocidade. Sendo assim, o capital social contribui para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas. Para KEPEL, (2003, p. 484), a tarefa do grupo Hamas era fazer frutificar esse capital social acima explicitado no sentido de, Aproveitar do descontentamento com a lentidão ou os impasses do processo de paz, ou mesmo do autoritarismo ou da corrupção dos líderes da Autoridade 28 Palestina. Era preciso manter a pressão sem se enveredar pelo terrorismo dos grupos islâmicos radicais, que se deixavam levar pelo apelo a jihad. É claro que de nada serviria essa idéia de capital social caso estivesse apenas ligada a algum tipo de "determinismo cultural", (herança cultural recebida). Contudo, o termo "capital" já nos remete a uma interpretação como algo acumulável, passível de mudança no tempo, mesmo que de forma lenda e gradual. Durante os vários anos que precederam as eleições de 2006 para a CLP, os resultados do Hamas em todos os tipos de eleições, incluindo uniões estudantis, associações profissionais e municipalidades, atingiram entre 35% e 45% dos votos, funcionando como uma espécie de termômetro medindo o grau de aceitação do Hamas junto à sociedade palestina, ou melhor, medindo o capital social do movimento. Ainda que o Hamas tenha sido desde a primeira intifada 1987, proibido de atuar e muitos de seus militantes foram presos ou exilados em 1990, mesmo assim, conseguira capitalizar, em torno das candidaturas para as eleições das entidades de classe, representadas por simpatizantes, e pelos temores causados por uma negociação de paz que parecia extremamente desfavorável aos interesses palestinos. KEPEL, (2003, p.487), salienta que em março de 1992, ―Os islâmicos obtiveram uma vitória incontestável na câmara de Comércio de Ramallah_ cidade secularizada onde viviam muitos cristãos_ mostrando que o Hamas realmente tinha o apoio da classe média‖. Em outras ocasiões fortalecido pelas urnas13, o Hamas demonstrou a sua penetração junto a burguesia religiosa, também não negligenciou, no entanto, a necessidade de expressão da juventude pobre radicalizada e conservou o controle das ruas em detrimento da OLP. De qualquer modo, muito dos altos e baixos no número de votos recebidos pelo Hamas em vários anos de sua participação política também corresponderam ao ambiente político no período daquelas eleições em particular. HROUB, (2003, p.114) falando acerca dessa oscilação do grupo assim se manifesta. Quando as pessoas se sentiam mais esperançosas quanto à evolução das negociações de paz com Israel, o ―programa de resistência‖ do Hamas tendia a gerar mais dúvidas e ocorria uma redução no número de seus partidários. Contrariamente, quando a frustração com as negociações era aumentada e exacerbada pela contínua humilhação provocada pelos israelenses, nesse clima tenso o Hamas tendia a ganhar apoio em qualquer eleição que houvesse. 13 Assim como no Egito, as eleições para as entidades de classe da Palestina, supostamente livres, serviam para testar a influência islâmica, principalmente na classe média; o mesmo ocorria com as eleições estudantis, um bom indicador da força do movimento nas universidades KEPEL, (2003, p.487) 29 Segundo a prévia da corrida eleitoral para 2006 no Conselho Legislativo Palestino levantada pelo o Department of State, Whashington, DC, 20520, January 19, 2005 M-05-06 Hamas and Fateh Neck and Neck As Palestinian Elections Near14,E Entre os prováveis eleitores, 32 por cento pretendem votar Fatah na cédula Nacional, enquanto 30 por cento dizem que vão apoiar o Hamas. A corrupção é a questão que impera entre a população palestina, a maioria acredita que o Hamas é mais qualificado do que Fatah para limpá-lo. Enquanto o Hamas é visto como menos capaz que Fatah para avançar as negociações com Israel, a maioria de ambos, os Fatah e simpatizantes do Hamas querem um continuação do cessar-fogo, negociações em curso com Israel, e uma solução de dois Estados.([email protected];[email protected]). Como dito, a autoridade Palestina (AP) responsável em prover também a assistência social, tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza vinha deixando muito a desejar em seus serviços além de ser acusada de corrupção em seu governo. Nessa perspectiva, livrar os territórios da corrupção pesou muito na hora de escolher o partido. Os desvios de verba para a assistência, educação eram vergonhosas. Sendo assim, Quase um terço de todos os eleitores (29%) tinha em primeiro lugar a corrupção como a questão mais importante na próxima eleição. Em seguida com (20%) a questão da lei e da ordem. Com (14%) a questão da libertação dos prisioneiros. E finalmente com (12%) a questão do emprego e da economia. Da mesma forma, (34%) do público acredita que "a reputação de não ser corrupto" é a qualidade essencial a se considerar na hora de escolher o partido ou candidato. 13% consideram a experiência econômica (12%) levam em conta as credenciais acadêmicas e (10%) consideram a história de lutas nacionais. De acordo com a pesquisa sobre intenções de votos, o Hamas já se despontava como o partido que ficaria com o maior número de cadeiras no parlamento Palestino em 2006. Segundo o mesmo documento Office of Reseach in Departament of State Washington, DC, 20520. January, 19, 200515 aponta: 14 Prepared by Michael Wallach and Dina Smeltz ([email protected]; [email protected]) Issued by the Office of Research, U.S. Department of State (202.203.7932). Acessado em: 30-09-2011. 15 Prepared by Michael Wallach and Dina Smeltz ([email protected]; [email protected]) Issued by the Office of Research, U.S. Department of State (202.203.7932). Os resultados são baseados em uma pesquisa de opinião pública nacional realizada 13-15 janeiro de 2006. Face-a-face. Foram realizadas entrevistas com 1000 adultos Palestina (com idades entre 18 e mais anos) na Cisjordânia, Gaza e leste Jerusalém. O trabalho de campo foi realizado pelo Centro de Mídia de Jerusalém e Comunicações. o perguntas foram escritas pelo Escritório de Pesquisa e traduzido pelo contratante, com Escritório de Pesquisa aprovação. Os entrevistados foram selecionados por amostragem aleatória estratificada, com estratificação com base na região (Gaza (37%), West Bank (53%), e Jerusalém Oriental (10%)). A margem de erro, assumindo um nível de confiança de 95%, é de ± 4% para a amostra total.A margem de erro é maior quando as análises são realizadas entre 30 A confiança no Hamas (Up) sobe, e a confiança em Fatah é estável. O provável sucesso do Hamas nas urnas reflete o aumento a longo prazo da confiança do público na resistência e nos trabalhos sociais do Hamas. a proporção na pesquisa de janeiro, que dizem confiar Hamas coincide com a alta histórica de 27%, visto pela primeira vez na Primavera de 2005, representa um aumento de 6 pontos desde novembro. O Apoio ao Fatah tem se mantido estável desde o final do outono, caindo apenas 2 pontos percentuais. O impulso recente em confiança para o Hamas parece não vir das tradicionais fileiras, , mas daqueles que anteriormente confiávavam em "nenhum partido" ou no Fatah (10% versus 19% agora em novembro). Tomando o exposto, e ao que parece ao longo de tantos anos de trabalhos sociais e de resistência a ocupação israelense, o Hamas no momento que se colocou como partido político disposto a participar das eleições de 2006 e como salienta HROUB, (2008, p. 21), ―dificilmente se pode dizer que o povo palestino votou no Hamas essencialmente por razões religiosas‖. Mas sim pelo capital social agregado e por aquilo que Baczko citado por José Murilo de Carvalho (1990) atribui à comunidade de sentidos. Um símbolo estabelece uma relação de significado entre dois objetos, duas idéias, ou entre objetos e idéias, ou entre duas imagens. Embora estabelecimento dessa relação possa partir de um ato de vontade, sua aceitação, sua eficácia política, vai depender da existência de comunidade de imaginação ou comunidade de sentido CARVALHO, (1990, p. 13). Nessa perspectiva, inexistindo esse terreno comum, de comunidade de imaginação, que terá suas raízes seja, nas aspirações coletivas ou no imaginário coletivo em busca de um novo imaginário, ―a relação de significado não se estabelece e o símbolo cai no vazio‖ CARVALHO, 1990, p.13). O que não ocorreu com o grupo Hamas, os seus eleitores naquelas eleições, endossou a opinião de que as pessoas estavam votando por um novo sangue e por um movimento nacionalista de libertação que prometia mudar e reformar todas as frentes tanto políticas quanto sociais. Quando as partes são diretamente comparados, os prováveis eleitores tendem a ver o Hamas como mais qualificado para limpar corrupção, resistir à ocupação, e defender os valores sociais. Assim, aqueles que acreditam que a corrupção é a questão mais importante na eleição são mais propensos a votar no Hamas (40%) do que Fatah (25%) Aqueles que se identificam como "religiosos e conservadores" também tendem a preferir o Hamas (47%) para Fatah (28%). [...] falta de esperança no processo de paz podem também contribuir para o apoio ao Hamas. Prováveis eleitores que têm pouco ou nenhuma esperança de que haverá uma solução pacífica para o conflito claramente os subgrupos. Além de erro de amostragem, os desafios práticos da pesquisa de opinião também pode introduzir outras fontes de erro as descobertas.Informações adicionais sobre a metodologia pode ser obtida a partir do analista. 31 preferem Hamas (30%) para Fatah (12%). Além disso, aqueles que acreditam na resistência armada contra Israel é a questão importante na campanha são duas vezes mais propensos a votar no Hamas (55%) do que votar em Fatah (21%). Office of Research. Departament of State Washington, DC, 20520. January, 19, 200516. Sendo assim, foi esse o cimento que provavelmente uniu o povo e o Hamas. ―o sentido de identidade‖ CARVALHO, (1990). Porque diante de todos os problemas, no imaginário coletivo, o Hamas parecia estar correspondendo aos anseios dos palestinos do que o Fatah um movimento de ideologia secular como exemplificado acima. Não podemos descartar o peso que tem a religião tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia. Afinal o Hamas é uma mistura de movimento de libertação e partido religioso. Após anos de luta persistente, tornou-se o agente principal tanto nos parâmetros dos conflitos árabes e palestino-israelenses quanto na arena política islâmica na região. [...] Usando estratégias numerosas e interligadas, para expandir as atividades educacionais, sociais e obras de caridade, além da propagação religiosa o grupo conseguiu se tornar amplamente popular no eleitorado palestino, tanto dentro como fora da palestina HROUB, ( 2008, p.17). Mas fazendo uma retrospectiva de apenas uns poucos anos que antecederam essa vitória, talvez possamos entender que além de todo um trabalho em prol do povo palestino, dessa comunidade de sentidos dentro do território palestino, o próprio panorama mundial e as políticas adotadas pelos Estados Unidos da América, União Européia e Israel naquele contexto, deram a sua contribuição numa espécie de plano imperialista17 para a palestina. Só para citar alguns: o trauma causado ao mundo árabe pela invasão anglo-stadunidense ao Iraque em 2003, a morte de Arafat em 11 de novembro de 2004 e substituido em seguida por Abbas. Como completa o professor Mário Maestri,18 Seguido pela ambiciosa operação, a eleição de Abu Abbas, de 69 anos, antigo guerrilheiro ganha à colaboração, primeiro como dirigente do Fatah e, em 9 de janeiro de 2005, como presidente da Autoridade Nacional Palestina – ANP –, o 16 Prepared by Michael Wallach and Dina Smeltz ([email protected]; [email protected]) by the Office of Research, U.S. Department of State (202.203.7932). 17 IMPERALISTA/IMPERIALISMO- Prática, teoria e atitudes de um centro metropolitano dominante governando um território distante, em que o Estado controla a soberania política efetiva de outra sociedade política SAID, (1995, p.40). Imperialismo, termo que passou a fazer parte do vocabulário político e jornalístico nos anos de 1890 no decorrer das discussões sobre conquista colonial. Ademais, foi então adquirida a dimensão econômica que, como conceito, nunca perdeu. Também usado para denotar o movimento mais poderoso na política atual do mundo ocidental HOBSBAWN, (1988, p.92). 18 Mário Maestri- Doutor em História pela UCL Bélgica, e professor do Programa de Pós-graduação em História UPF. Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/057/57ip_maestri.htm Acessado em 30-05 2011. 32 arremedo de governo permitido pelos israelenses aos palestinos sob ocupação. Primeiro ministro em inícios de 2003, Abu Abbas renunciou por opor-se a Arafat. Com pouco prestígio entre os palestinos, foi um duro crítico da segunda ―Intifada‖ e defensor do fim dos ataques a Israel. A eleição de Abu Abbas foi facilitada pelo seqüestro, em 2002, e condenação à prisão perpétua, a seguir, pelo Estado de Israel, do popular, carismático e combativo Marwan Barghuti, dirigente do Fatah na Cisjordânia. Hoje com 46 anos, Barghuti foi um dos principais organizadores, em 1987-93, da primeira ―Intifada‖, a guerra dos Davids armados de pedras contra os Golias encerrados em blindados, e tem sido igualmente crítico implacável da corrupção e dos excessos da ANP. A terceira e última etapa política do ambicioso plano do imperialismo constituía a vitória eleitoral total, nas últimas eleições parlamentares de 25 de janeiro, dos seguidores da Fatah de Abu Abbas. Para tal, manipulou-se vergonhosamente as listas de candidatos daquele movimento, marginalizando os nomes comprometidos com a resistência e privilegiando aqueles que se esbaldavam na colaboração e no usufruto privado das escassas verbas cedidas pelos USA e pela União Européia para financiar a ANP. Nessa medida, em nome e com o apoio do imperialismo e de Israel, o novo governo reprimiria todos que se opusessem, dentro e fora da OLP, ao abandono das reivindicações palestinas: liberdade dos prisioneiros políticos; devolução dos territórios ocupados em 1967; direito de retorno das populações expulsas; independência do setor oriental de Jerusalém; constituição de Estado palestino soberano. Entretanto como assinala o mesmo autor citado acima, Em nome da paz, o governo palestino liderado por Abu Abbas aceitaria a constituição de um Estado fantoche e desmilingüido, formado pela faixa de Gaza, recém-desocupada; por alguns enclaves territoriais na Cisjordânia, cercados por possessões israelenses, à semelhança dos bantustãos do finado regime racista sulafricano. Em vez de uma nação palestina independente, um protetorado israelense, sem capital, sem unidade territorial, sem autonomia econômica, sem autoridade sobre suas políticas, fronteiras, finanças, exército MAESTRI19. Nesse sentido, esperava-se com esse plano, que a repressão das forças combatentes vergasse a disposição de resistência, criando as condições políticas, sociais e militares para a reorganização geral da sociedade e economia palestina, sob o controle de Israel. Todavia, a população palestina desarmou inexoravelmente a trama ardilosamente tecida deslocando simplesmente grande parte do apoio que concedera ao Fatah, de Yasser Arafat, para o Hamas, de Ismail Haniya20. Retirou, assim, sem complacência, o apoio dado à Abu Abbas, devido a sua 19 Mário Maestri- Doutor em História pela UCL Bélgica, e professor do Programa de Pós-graduação em História UPF. Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/057/57ip_maestri.htm Acessado em 30-05 2011. 20 ISMAIL HANIYA-(braço de Gaza, primeiro-ministro do governo Hamas). Nasceu no campo de refugiados em Chatti, em Gaza, no ano de 1962; Haniya cresceu completamente imerso na miséria dos palestinos que perderam suas terras e foram parar em empobrecidos campos de refugiados. Com a formação do Hamas, Haniya esteve à frente como um dos membros fundadores mais jovens. Depois da primeira intifada, em 1897, foi preso várias vezes, e me 1992 33 rendição ao imperialismo e ao sionismo e de certa forma confirmando essa comunidade imaginada, o terreno comum que tanto a população palestina e Hamas compartilhavam. Isolou e enfraqueceu profundamente o presidente palestino e seus aliados, ao colocar no coração do próximo governo organização execrada como ―terrorista‖ pelo governo estadunidense, ao igual que o IRA as FARC, o Hesbolah entre outros. Não somente todas essas tramas que levaram a derrota do Fatah contribuíram para a vitória do Hamas. Mas como mencionado anteriormente nada seria possível sem razões como um trabalho social e de resistência a ocupação de anos, sentimento de pertencimento, de comunidade de sentidos, e o capital social acumulado ao longo dos anos. De acordo com HROUB, (2008, p. 97), pelo menos metade dos eleitores apoiou abertamente o Hamas por causa de seus projetos e objetivos apresentados. A outra metade foi influenciada por outras forças.‖ Mas todas de alguma maneira ligadas aos anseios do povo palestino. O fracasso do processo de paz, o contínuo aumento da brutalidade israelense deixou os palestinos sem esperança em negociar um acordo pacífico de paz com Israel. Mediante tal realidade, toda a frustração das negociações de paz, dos acordos de Oslo e tudo o que resultou deles mais as ardilosas tramas para colocar o Fatah no poder contribuiu na verdade para a sua derrocada e consequentemente a vitória do Hamas nas urnas. Em setembro de 1993, num encontro chamado Declaração de Princípios ou ―Declaração de Oslo‖ previa que Gaza e Jericó seriam os primeiros territórios a ser entregues a OLP, o que dava motivo de satisfação para ambos os lados. Para KEPEL, (2003, p. 498), com esse acordo, Israel conseguia se livrar da incômoda Faixa de Gaza, onde o custo de manutenção da ordem era demasiadamente elevado, e o comando central palestino podia anunciar à sua população um primeiro resultado tangível, prelúdio da criação de um Estado independente. A OLP esperava que esse avanço simbólico tivesse um efeito positivo sobre a engrenagem política, permitindo-lhe retomar a iniciativa política que o sucesso do Hamas havia prejudicado. Todavia, apesar da popularidade momentânea que a OLP obteve nos territórios ocupados, mediante esse acordo, ele também facilitou a abertura de oposição anti-Arafat que se uniu em torno do Hamas. A classe média religiosa queria participar, mesmo que fosse como oposição do novo poder político. HROUB, (2008, p. 98) considera que outro fator decisivo para a derrota do Fatah foi a sua incompetência, não apenas externamente nas negociações de paz, mas, deportado para o sul do Líbano com 415 ativistas islâmicos. [...]. Haniya é uma dos mais conhecidos líderes moderados do Hamas. 34 Também falhou de forma lamentável ao lidar com a vida diária da população palestina. A má administração, a corrupção e o roubo foram os ―atributos‖ usados para descrever seus principais líderes, ministros e membros do alto escalão. Como a pobreza e o desemprego atingiram níveis sem precedentes, o estilo de vida extravagante dos altos funcionários palestinos enfureceu a população, e as eleições deram ao povo o poder de punir esses dirigentes. Concernente ao assunto, em entrevista ao Globo Online21, 26 -jan-2006, o diretor do Grupo Palestino de Monitoramento dos Direitos Humanos, Bassem Eid, afirmou que um "terremoto político" atingiu os territórios palestinos assim que o Hamas saiu vitorioso. Acho que o próprio Hamas ficou chocado e surpreso de como eles conseguiram um número tão grande de votos - disse. A crise interna do Fatah foi uma das razões para a vitória do grupo extremista nas eleições palestinas. As ameaças de Israel e da comunidade internacional também levaram o Hamas a conquistar o maior número de cadeiras no Parlamento. Mas o principal foi que, nos últimos anos, nós, palestinos, temos ouvido da Autoridade Nacional Palestina tantas promessas, inclusive de combate a corrupção, e nada aconteceu. Os palestinos ficaram cheios dessa situação explicou. Muitos cidadãos de "mente aberta", democráticos, votaram no Hamas porque acreditaram que o movimento é o único capaz de realizar mudanças. A maior vitória nesse complexo tabuleiro político, talvez tenha sido porque a mudança occorrida naquele período foi fundamental e se deu sem violência de maneira pacífica, dando aos palestinos e ao Hamas um sentimento de orgulho por terem abraçado a ―democracia‖ e respeitado o seu resultado final. . CONSIDERAÇÕES FINAIS O movimento Hamas desde o seu aparecimento teve a sua imagem vinculada aos aspectos mais negativos. Uma imagem negativa e militante, taxada de terrorista, que foi e ainda é transmitida pela mídia numa espécie de demonização de seus inimigos, que ganhou o mundo, como um discurso de verdade deformando o teor do movimento. De fato não podemos negar que o Hamas no seu início era radical e extremista, cometeu graves atos de violência e ―terror‖ contra Israel. De qualquer modo, a grande questão em tela, é que, 21 Entrevista Globo Online –A vitória do Hamas é terremoto político. Disponível em: http://midiajudaica.blogspot.com/2006-01-01- archive.html . Acessado em: 07-06-2011. 35 a única perspectiva do Hamas conhecida é a de ―terrorista‖ e com isso, acabamos ficando apenas com uma versão da história e nos esquecemos de olhar para trás, não levando em conta os problemas enfrentados pelos palestinos, questões que não são novas. A segregação a exclusão imposta ao povo palestino, fez crescer o sentimento de territorialidade e a consciência da necessidade de lutar pela liberdade, pelo direito de participar do ―jogo” do mundo, de sair da esfera dos ―sem direitos‖ e muitas vezes uma comunidade considerada excluída pode reforçar as relações sociais entre si e chegar com o tempo a seu ponto explosivo. Desenvolvem-se de tal maneira, que o diálogo ou a tentativa de uma resolução por meio de acordos se torna bastante difícil. O fracasso das negociações juntamente com o bloqueio imposto por Israel disseminou a falta de esperança em se alcançar uma resolução para esse, que é um dos mais longos conflitos políticos entre nações na atualidade. A grave situação sócio-econômica em Gaza e na Cisjordânia devido ao bloqueio que Israel vem impondo ao desenvolvimento palestino desde 1967 e que se agravou após as intifadas continuam até o presente momento. O desemprego e a falta de mobilidade entre a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental têm sido decisivos para aumentar a pobreza nos últimos anos e acentuar a dependência da população local da ajuda externa, o que dificulta as escolhas humanas. Quando a expansão das liberdades individuais e coletivas, a igualdade, e maiores níveis de justiça social não estão se fazendo presentes e ainda inibem o potencial do território para uma expansão econômica, tudo isso, porporciona o aumento dos níveis de insatisfação, desemprego e pobreza. Com a precária intervenção pública no campo do social pela AP, as condições para uma movimentação mais intensa do Hamas nas questões sociais se fortaleceu. Nesse sentido, o Hamas tem atuado em diversas frentes ao mesmo tempo num trabalho em conjunto com outras instituições como URNWA (Agência de Assistência aos Refugiados da Palestina) na tentativa de minimizar a pobreza e o elevado desemprego na Faixa de Gaza. Contudo, apenas a distribuição de alimentos e a assistência social prestada por ambas, não resolve o problema que cresce a cada dia, deterioração da estrutura e sustentado crescimento negativo, capacidade de exportação declinante, pressões fiscais como o déficit dos gastos públicos, grande dependência externa e extrema pobreza são características da economia da Palestina. Quando o Hamas venceu as eleições de 2006, este fato representou um divisor de águas histórico, ocasião em que uma grande mudança foi realizada na liderança do movimento de 36 libertação nacional. Essa mudança foi significativa não apenas para os palestinos, como também para árabes de outros páises, muçulmanos e demais simpatizantes da criação de um Estado palestino, isso porque, de uma forma ou de outra viveram processos muito parecidos, de dominação e opressão pelas grandes potências desde a Primeira Guerra Mundial. A diferença é que, alcançaram a sua independência e a Palestina não. O Hamas simbolizava a mudança no sentindo de libertar a palestina do jugo israelense, promover o ―desenvolvimento‖ e combater a pobreza através da assistência social. É ledo engano definir os resultados eleitorais de 25 de janeiro 2006 como um simples deslocamento do apoio eleitoral da população, de uma administração do Fatah corrupta e incapaz para um Hamas visto como íntegro e competente óbvio que não. A população palestina é uma das mais politizadas do Oriente Médio. A corrupção, antiga realidade nas filas do Fatah, foi minimizada pela população durante muito tempo, entretanto o ―jogo‖ naquele momento mudara. Os palestinos ficaram cheios daquela situação. Muitos cidadãos votaram no Hamas porque acreditaram que o movimento era o único capaz de realmente realizar mudanças. O Fatah falhou em como lidar com a vida cotidiana palestina e pela primeira vez, em mais de meio século, um grupo islâmico _ engajado na libertação nacional_ tomou o comando, substituindo a liderança secular que havia controlado o destino da Palestina e o processo de tomada de decisão por décadas. Usando estratégias numerosas e interligadas, o Hamas expandiu as suas atividades educacionais, sociais e obras de caridade, além da propagar a religião que é bastante arraigada na cultura de muitos povos no Oriente Médio. A Faixa de Gaza em especial, tem uma profunda relação com a religião, sendo assim, o grupo conseguiu se tornar amplamente popular não só no eleitorado palestino, mas fora dele. Na ocasião das eleições de 2006 o Hamas alcançou a vitória esmagadora, com suas bases sólidas e construídas ao longo do tempo, um capital social relevante acumulado por décadas pelo se engajamento em atividades educacionais, políticas e sociais. As atividades desenvolvidas, tanto sociais quanto educacionais nos territórios ocupados se tornaram mesclados com a comunidade palestina que díficil saber onde começa uma e termina a outra. O fracasso dos acordos de paz e a corrupção no Al Fatah também contribuíram de forma decisiva para a vitória do Hamas nas eleições parlamentares de 2006. Pelo menos metade dos eleitores apoiou o Hamas por seu programa e objetivos declarados; por seu essencial senso de colaboração, que o manteve próximo dos mais 37 pobres e necessitados. A outra metade dos eleitores do Hamas foi motivada por outras forças como a má adminstração do Fatah. Nessa perspectiva, naquele pleito eleitoral o nível de frustração e raiva entre o eleitorado palestino era sem precedentes. A agressividade israelense contra palestinos só aumentara. O fracasso da Autoridade Palestina na época sob o comando do Fatah, elevara o nível de desemprego acarretando a grande parte da população a uma pobreza extrema. Além do que, o Hamas era e ainda é mais enraizado em experiências e atitudes dos habitantes da Cisjordânia e Gaza do que o Fatah, havendo nessa medida, uma comunidade e uma identidade de sentidos que propporcionou vantagem ao Hamas, contribuindo para que o movimento recebesse mais apoio, além do seu eleitorado já declarado. Portanto, a vitória do partido não foi um mero acaso e concluimos que nada seria possível se a população de Gaza e o Hamas não estivessem ligados pelas mesmas aspirações e pelas mesmas insatisfações e pelo mesmo desejo de mudanças. Inexistindo esse terreno comum, de identidade a relação de reciprocidade não se estabeleceria, e o movimento Hamas jamais teria alcançado o respaldo que alcançou. . REFERÊNCIAS ANTES, Peter. O Islã e a Política, São Paulo: Paulinas, 2003. ANDERSON, Benedict. Nação e consciência nacional. São Paulo: Ática, 1989. ANDRADE, Manuel Corrêa de. Territorialidades, desterritorialidades, novas territorialidades: os limites do poder nacional e do poder local. In: SANTOS, M; SOUZA,M.A.A.DE; SILVEIRA, M. L. (orgs). Território: globalização e fragmentação, São Paulo: HUCITEC, Annablumme, 2002. ARBEX, Júnior José. O mundo Árabe contemporâneo: história e geopolítica. Disponível no Instituto da cultura árabe. <http://wwwicarabe.org >. Acesso em 14 de janeiro de 2008. 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