ESPAÇO SAGRADO E A SACRALIZAÇÃO DO ESPAÇO: UM

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ESPAÇO SAGRADO E A SACRALIZAÇÃO DO ESPAÇO: UM
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
ESPAÇO SAGRADO E A SACRALIZAÇÃO DO ESPAÇO: UM
ESTUDO DE CASO DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS
NA CIDADE DE FORTALEZA - CEARÁ
CHRISTOVAM REIS DOS SANTOS FILHO1
Resumo
O presente trabalho propõe realizar uma interpretação a respeito da Igreja Universal do Reino de
Deus (IURD) – Templo Central de Fortaleza -- enquanto forma simbólica espacial. A análise da
manifestação no espaço é compreendida na perspectiva da gênese, estruturação, cotidiano e
consequentemente formação de uma paisagem simbólica. O esteio teórico-metodológico se relaciona
nos pressupostos da Geografia da Religião, nos quais permitem a compreensão da formação de um
lugar sagrado onde a vivência e a percepção dos fiéis da igreja norteia o discurso de uma sacralidade
ali existente. A pesquisa se realizará por observações em campo, entrevistas e registros fotográficos,
além das leituras referentes aos conceitos. O objetivo é compreender como se forma o espaço
sagrado concretizado por pela igreja.
Palavras-chave: Geografia da Religião, Lugar sagrado, Formas simbólicas espaciais. Igreja Universal
do Reino de Deus.
Abstract
This paper intent to build an interpretation about the Universal Church of the Kingdom of God (UCKG)
- Central Temple of Fortaleza – as a way of a symbolic space. The analysis in space expression is
understood in the perspective of the genesis, the structure, the daily life and consequently formation of
a symbolic landscape. The theoretical and methodological underpinning is based on assumptions of
Religion Geography, in which allow the understanding of the formation of a sacred place where the
living and the perception of the faithful guides the speech of an existing sacredness. The survey will
be held by field observations, interviews and photographic records, in addition to readings related to
the concepts. The objective is to understand how it forms the sacred space embodied by the church.
Keywords: Geography of Religion, Sacred place, spatial symbolic forms. Universal Church of the
Kingdom of God.
1. Introdução
Na ciência geográfica temos a Geografia Cultural como um campo
científico para a compreensão dos aspectos culturais enquanto fenômenos da
espacialidade. Portanto, pretende entender e analisar a dimensão espacial da
cultura. Nesse aspecto, as diferenças compostas pelas comunidades humanas
trazem diferentes manifestações no espaço.
O amparo teórico-metodológico da Geografia da Religião nos permite a
compreensão da formação de um lugar sagrado onde a vivência e a percepção
1
Acadêmico em nível de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Estadual do Ceará. E-mail de contato: [email protected]
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norteia o discurso de uma sacralidade ali existente. Logo, propomo-nos a aprofundar
a pesquisa sobre o espaço sagrado que ocorre na Igreja Universal do Reino de
Deus (IURD).
Para isso, adotamos autores que abordam a temática da Geografia
Cultural, especificamente aqueles que discorrem sobre a apreensão da paisagem e
do sagrado, enquanto forma simbólica, como Rosendahl (1996), Claval (2003;
2006), Cosgrove (2003) e Costa (2011; 2015). Com estes autores, objetivamos
compreender como se organiza o espaço sagrado representado pela IURD por meio
das práticas cotidianas dos fiéis, assim como também identificar os elementos que
compõem o espaço sagrado na dimensão objetivada pela paisagem e entorno,
entender como a sacralidade desse espaço influi no cotidiano dos fiéis pertencentes
a esta igreja e conhecer os atores que participam e organizam o Templo Central da
IURD.
As igrejas, enquanto instituições religiosas, podem ser representadas por
suas formas simbólicas espaciais, sobretudo no espaço urbano, e constituem parte
da paisagem cultural adquirindo formas diversas, nos quais os templos são as
formas mais representantes. Espacialmente, essa manifestação obedece às
especificidades dos lugares, nos quais os templos funcionam como locais onde os
fiéis buscam um direcionamento visando obtenção de espiritualidade junto à
realização dos desejos materiais.
O presente trabalho propõe realizar uma interpretação a respeito da Igreja
Universal do Reino de Deus (IURD) – Templo Central de Fortaleza, Ceará enquanto forma simbólica espacial. Este templo localiza-se no centro da cidade de
Fortaleza - CE, uma área comercial que atrai um grande fluxo de pessoas. A Igreja
Universal do Reino de Deus é orientada pelo neopentecostalismo, a terceira onda do
corte histórico-institucional do pentecostalismo (Mariano, 2012). O templo comporta
milhares de pessoas e está inserido na paisagem urbana, sendo visitados por várias
pessoas, oriundos de diferentes locais da cidade. A análise de sua manifestação
espacial
é
alçada
na
perspectiva
da
gênese,
estruturação,
cotidiano
consequentemente formação de uma paisagem simbólica.
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2 – Metodologia para o estudo
Os passos iniciais desta pesquisa centralizam-se na leitura da bibliografia
e de outras fontes que ainda estão em fase de trabalho. Esta busca de referências
se consubstancia através de leituras, fichamentos e resenhas para uma maior
sistematização do referencial teórico, que oferecem parâmetros iniciais para
alimentação da hipótese do trabalho. A leitura se divide em três grupos:
compreensão do espaço sagrado, descrição da igreja e interpretação espacial e
social do fenômeno. Estes grupos respaldam e encaminham os outros passos da
pesquisa.
A fundamentação teórica da pesquisa é fundamental nessa etapa, pois
nos direciona para uma forma de interpretar o objeto sem perder de vista os
conceitos chave para a Geografia. Temos um direcionamento tanto no entendimento
sobre a produção espacial como as relações sociais envolvidas nele. A descrição do
lugar observado se pauta nessas leituras iniciais como uma maneira de corroborar a
metodologia aqui utilizada. Aqui cabem as compreensões e discussões de forma,
estrutura, função e processo, conforme Milton Santos (1982). A forma que uma
igreja possui e sua função perante a sociedade. Como essa forma influencia na sua
função ou até que ponto a função justifica a forma.
Com o constructo teórico realizado, seguem-se visitas in loco, para
observar o fenômeno identificado pela manifestação de um fenômeno que se
espacializa, aqui representado pela IURD, momento este que podemos realizar a
observação de uma forma simbólica espacial. Para o campo utilizamos o método
exploratório, que “são estudos exploratórios que têm por objetivo descrever
completamente determinado fenômeno, como, por exemplo, o estudo de um caso
para o qual são realizadas análises empíricas e teóricas.” (LAKATOS, 1996, p. 188).
O registro de campo contempla imagens fotográficas, visitas ao templo,
configurando espacialidades e temporalidades distintas, com o intuito de verificar a
vivência e o comportamento dos fiéis naquele templo sagrado.
Por
meio
desta
observação,
espera-se
extrair
informações
que
documentos oficiais não permitem analisar. As fotos e textos informativos são
aparentes e geralmente os dados são estatísticos, porém a visita em campo, com
momentos de interação com os fiéis, permite analisar as reações e emoções
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sentidas naquele lugar. Esses sentimentos e sensações são descritas e anotadas
após um período de visitas e convivência com o grupo.
Para o entendimento do fenômeno em questão, cercaremo-nos dos
aportes teóricos calcados na Fenomenologia para estabelecer o método de pesquisa
com a finalidade de interpretar os dados obtidos com a observação in loco. Segundo
Rocha (2003), “A Fenomenologia é o campo de análise da essência dos fenômenos,
tantos materiais (naturais), quanto imateriais (culturais, ideais).”. É por este método
que pretendemos ter uma visão singular do objeto, analisando não somente sua
aparência, mas também suas essências demonstradas pela paisagem e pelas
interações e percepções do lugar em análise. Também é útil este método para
percepção e compreensão dos discursos dados pelos entrevistados em campo, suas
impressões e sensações sobre o lugar e sobre as ações lá praticadas. Desse modo,
tomamos por base esse método para analisar o fenômeno que é o espaço sagrado,
representado pelo Templo Central da Igreja Universal do Reino de Deus em
Fortaleza-CE.
Além
das
visitas
em
campo,
realizar-se-ão
entrevistas
com
administradores da instituição e fiéis que frequentam o templo central da IURD em
Fortaleza - CE. A maneira de execução das entrevistas serão semiestruturadas, pois
“combinam perguntas abertas e fechadas, onde o informante tem a possibilidade de
discorrer sobre o tema proposto.” (Boni & Quaresma, 2005). Essas entrevistas terão
como finalidade, analisar e interpretar geograficamente as impressões que os fiéis
têm daquele espaço. O público aferido será amostral, pois se trata de uma pesquisa
qualitativa, onde o importante é os detalhes expressos pelos entrevistados.
Em seguida, estabelecerá interpretação e relação dos dados com as
perguntas iniciais da pesquisa buscando respondê-las por meio dos resultados
obtidos com as entrevistas. Aqui se buscará dar substância e responder aos
objetivos propostos em nossa pesquisa. O método norteador, como afirmado antes,
será a fenomenologia, linha de pensamento que procura compreender os
fenômenos observados, no qual o sujeito é quem descreve o objeto (Spósito, 2004).
Isto permitirá manter foco em descrever, analisar, pontuar, e interpretar uma
manifestação que ocorre no espaço geográfico. As entrevistas nos fornecerão
elementos para que possamos compreender a relação entre os sujeitos e o espaço
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sagrado, possibilitando entender o objeto apontado pelo pesquisador e assim obter
considerações sobre o assunto.
A indagação principal está focada para a ideia de como se organiza o
espaço sagrado na Igreja Universal do Reino de Deus; quais elementos compõem o
espaço sagrado dessa igreja; como o espaço sagrado modifica o cotidiano dos fiéis
e; quem são os atores sociais que participam da produção do templo.
3 – Discussão
Para responder as inquietações da presente pesquisa, nossa bibliografia
se embasa primeiramente na compreensão do método fenomenológico, que diz
respeito à análise da essência do fenômeno (Rocha, 2003). Criado por Edmund
Husserl, a Fenomenologia é “ir ao encontro das coisas em si mesmas” (HUSSERL,
2008, p. 17). Ou seja, é um método de investigação que visa conhecermos de forma
qualificada o objeto de nossa pesquisa, um mergulho na capacidade de ver aquela
manifestação como resultante das relações de vivência entre as pessoas que se
materializaram por meio de práticas, tradições, comportamentos, paisagens ou
discursos.
Dentre os autores que buscam a perspectiva fenomenológica, destaca-se
Merleau-Ponty, que parte do pressuposto de que o corpo é a chave para a
compreensão, isto é, as essências se estudam pela percepção (Souza, 2013). Para
Merleau-Ponty “o corpo é um eu natural e como que o sujeito da percepção”
(MERLEAU-PONTY, 2006, p. 278). Portanto, deve-se analisar o objeto pela
percepção, e este é mediado pelo corpo como um elemento conector entre o sujeito
e o objeto. Desta percepção se compreende o fenômeno, o modo que se apresenta.
Como nosso objeto é um fenômeno religioso, compreendemos que nossa
percepção se molda no entendimento de que ele faz parte de um conjunto de
valores admitidos pelo sistema econômico vigente que perpetua certas concepções
de visão de mundo e reprodução do sistema. Durkheim em seu livro “Elementos de
uma vida religiosa” nos coloca que a religião e suas cerimônias cumprem um papel
social, apresentação várias pessoas coletivamente em uma celebração. Estes atos e
rituais se passam em um lugar no espaço, daí ser de interesse à Geografia.
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O ramo da Geografia que tem apreciado os estudos na área da religião é
a Geografia Cultural. Nas palavras de Paul Claval, temos nesta abordagem que
A Geografia Cultural está associada às experiências que os homens têm da
terra, da natureza e do meio ambiente, estuda a maneira pela qual eles os
modelam para responder suas necessidades, seus gostos e suas
aspirações e procura compreender a maneira como eles aprendem a se
definir, a construir sua identidade e a se realizar. (CLAVAL, 2006. p. 89).
Diante disso, a geografia cultural possui um papel social e uma
empreitada a corresponder. Para Cosgrove (2003, p. 103) “a tarefa da geografia
cultural é apreender e compreender essa dimensão da interação humana com a
natureza e seu papel na ordenação do espaço”. Portanto, objetiva-se a concepção
da dimensão cultural no espaço geográfico.
Destarte, entendemos a Igreja Universal do Reino de Deus como uma
espacialidade por meio dos sentidos, uma visão humanista da realização do espaço.
Isso por que a “se a geografia cultural se dedica à experiência que os homens têm
do mundo, da natureza e da sociedade, ela deve partir daquilo que os sentidos lhes
revelam” (Claval, 2006). É pelas sensações que as pessoas captam da realidade
que elas imprimem suas percepções. Isso faz da geografia cultural “subcampo
específico da geografia [...] focalizada na análise dos significados que os diversos
grupos sociais atribuem aos objetos e ações em suas espaçotemporalidades.”
(Corrêa, 2003). Os significados que elas extraem dos objetos e formas simbólicas
construídas pelas pessoas, assim como é em um templo religioso.
Essas formas simbólicas são construídas no espaço, tendo nele um
elemento participante dessa construção. Por isso partimos do conceito de espaço
para chegar ao entendimento de espaço sagrado. A seguir delimitaremos o conceito
espacial, o sagrado e suas manifestações para chegarmos o conceito de espaço
sagrado que a IURD representa.
O templo da Igreja Universal do Reino de Deus – Templo Central de
Fortaleza – CE é resultado das relações sociais existentes no espaço, no qual este
também se apresenta produtor espacial, pois influencia e afeta o modo de relação
das pessoas. Faz parte, portanto de uma da formação socioespacial (Santos, 1992).
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Para Milton Santos (1997) o espaço geográfico constitui "um sistema de
objetos e um sistema de ações" que:
é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório,
de sistemas de objetos e sistemas de ações, [grifo nosso] não
considerados isoladamente, mas como um quadro único na qual a história
se dá. (SANTOS, 1997. p. 39)
A Igreja Universal do Reino de Deus resulta desse sistema de objetos,
formados por elementos simbólicos e pelos sistemas de ações, que são as relações
de vivências e manifestações socioespaciais. Esse conjunto indissociável forma um
quadro único, materializando-se no templo como espaço simbólico.
O diferencial que o templo tem em relação a outros lugares é a sua
sacralidade. Pois “o sagrado manifesta-se sempre como uma realidade de ordem
inteiramente diferente da das realidades „naturais‟.” (ELIADE, 1969). Essa realidade
se manifesta, revela-se por meio de atos específicos. Essa manifestação chamamos
de hierofania. Eliade a coloca como “algo que se nos mostra”. O templo da IURD é
sagrado pelo fato de se revelar aos seus frequentadores, e estes “ao aceitar a
hierofania, experimenta um sentimento religioso em relação ao objeto sagrado”
(ROSENDAHL, 1996). Há uma aceitação de que naquele lugar se manifesta algo,
diferente do que ele vive no cotidiano.
Essa diferença é representada pelo par sagrado-profano, que são
opostos, mas complementares. Nas palavras de Rosendahl (1996) “o sagrado e o
profano se opõem e, ao mesmo tempo se atraem. Jamais, porém se misturam”. Ou
seja, há uma percepção que se a hierofania se manifesta, há um profano que se
opõe, daí se ter um local que centraliza as ações hierofânicas. O templo religioso se
faz presente de uma centralidade, torna-se um ponto fixo absolluto (Eliade, 1969).
Assim, o espaço onde ocorre a hierofania é um espaço sagrado. Neste
local o homem “se encontra”, vivendo uma realidade diferente. Em seu livro Espaço
e Religião: uma abordagem geográfica, Rosendahl esclarece que
o espaço sagrado é um campo de forças e de valores que eleva o homem
religioso acima de si mesmo, que transporta para um meio distinto daquele
no qual transcorre sua existência. É por meio de símbolos, dos mitos e dos
ritos que o sagrado exerce sua função de mediação entre o homem e a
divindade. E é o espaço sagrado, enquanto expressão do sagrado, que
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possibilita ao homem entrar em contato com a realidade transcendente
chamada deuses, nas religiões politeístas, e Deus, nas monoteístas.
(ROSENDAHL, 1996. p. 30)
A IURD ocupa um papel de lugar sagrado. Costa (2011, p. 35) aponta que
“O lugar sagrado é um mundo pleno de significados, sendo também um espaço
mítico que responde com sentimento e imaginação às necessidades humanas
fundamentais.”.
As
pessoas
sentem
necessidades
e
desejos
que
são
correspondidas pelas visitas ao templo e as práticas litúrgicas, dando sentido aos
símbolos que ali existem, e esses, por sua vez, renovam e alimentam as
necessidades das pessoas.
Isso é alentado pelos atores que atuam neste espaço. Isto é,
a instituição religiosa referenda um corpo sacerdotal que possui o
monopólio das coisas sagradas apoiando-se em princípios de visão
relacionados às disposições de crença, as quais, por sua vez, orientam as
representações que revigoram esses princípios. (GIL FILHO, 2008. p. 50).
Este corpo sagrado exerce uma orientação simbólica, juntamente com a
manifestação do sagrado e, completando, a experiência dos fiéis ao frequentar o
templo. Estes são os atores que fazem da IURD um lugar sagrado.
O lugar sagrado produzido espacialmente pela relação do fiel da IURD
com o lugar sagrado se concretiza também pelos geossímbolos ali criados. Essas
representações simbólicas revestem-se de um poder que gera um interacionismo
entre as formas espaciais e o sujeito (Costa, 2009). Ele ressalta as formas
simbólicas espaciais, ou seja, a formação de geossímbolos que fazem parte da
formação de lugares, por meio da atribuição de significados no espaço considerado
real para o homem religioso.
Portanto, temos o Templo Central de Fortaleza da Igreja Universal do
Reino de Deus um local onde a sacralidade está inserida por meio da delimitação
espacial do lugar, intensificada pela sua representação simbólica, a partir de uma
hierofania ali presente, que se manifesta por meio dos atores envolvidos com aquele
espaço sagrado. Entretanto, podemos ainda avançar mais na discussão que por
hora ainda se encontra em andamento.
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4. Resultados
Os símbolos existentes na igreja são carregados de significados que só
podem ser recebidos a quem frequenta o templo e participa da hierofania. Esses
símbolos são percebidos em momentos distintos, quando o fiel busca aquele lugar
sagrado. Primeiramente há a grandiosidade das formas do próprio templo, onde há
uma clara limitação de onde termina o espaço profano e começa o espaço sagrado.
Esse limite é ressaltado com o nome da igreja, as escadarias e o fino acabamento
das colunas e portas, fazendo que o fiel realmente se transfira do cenário urbano
para um lugar cósmico, onde ele pode transpassar.
Em segundo momento temos os símbolos dentro do templo. A primeira
sensação é de grandiosidade, pois é um local para muitas pessoas sentadas, onde
elas terão o conforto no tempo sagrado que ali ocorre. Na parte do altar é onde se
localiza os símbolos de maior expressão: o púlpito, dois telões para facilitar a visão
de quem se senta mais afastado do altar e os adornos de fundo em vidro trabalhado
em estilo gótico e acima os dizeres “Jesus Cristo é o Senhor”. Estes elementos dão
sentido ao lugar, é o que realmente compõem a sacralização do espaço, pois
transmitem uma sensação de potência e a quem está lá coparticipante dessa
potência, pois ele recebe o contato com o “Senhor” por meio da adoração, isto é, da
hierofania.
E um terceiro momento, temos a figura do sacerdote como aquele que
legitima a ação dos fiéis e propicia a mediação entre o transcendente, invisível, mas
sentido, com o real, o visível, o espaço sagrado e os fiéis que renovam a sacralidade
a cada momento de encontro.
Esses atributos conferem uma singularidade à sua forma simbólica
espacial da Igreja Universal do Reino de Deus. O local deixa de ser apenas uma
relação de observador e objeto, mas passa a ser atuante direto na sua
espiritualidade, pois mesmo que a divindade se mostre onipresente, há locais
específicos para sua manifestação e esses lugares são percebidos como algo além
de receptáculo, mas elemento fundante de uma renovação mental para aquele que
se desloca para o cotidiano profano.
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5 – Considerações finais
A partir de leituras, observação e conhecimento prévio, objetiva-se que a
Igreja Universal do Reino de Deus é um local de refúgio social, onde as relações
sociais se desviam da situação vivente do cotidiano.
Nos espaços sagrados há uma separação do vivido cotidiano com um
vivido desejado. As pessoas que frequentam a IURD usufruem de um lugar místico,
mas também real, uma vez que está concretizado por uma construção e
demarcação de espaço, sendo distinto o sagrado do profano. O místico se torna
presente por meio da hierofania, que é o “ato da manifestação do sagrado”
(Rosendahl, 1996), algo que se revela pelo sagrado que está ligado ao lugar onde é
praticada.
No objeto em análise, pressupõe-se que os seus frequentadores
percebem esse espaço sagrado como centro de força e ajuda para combater as
adversidades sociais produzidas no espaço profano. A sacralização desse espaço o
torna imponente e o transforma num local de esperança, enquanto a hierofania se
manifesta.
A Igreja Universal do Reino de Deus é um centro de poder que se
manifesta no meio de um espaço caótico (nessa concepção, sem ordem, sem um
ponto fixo absoluto, conforme Eliade) e fluente de pessoas oferecendo preencher o
vazio gerado pelas relações profanas. Essa instituição se presente na paisagem
como um elo entre o homem e o transcendental.
No entanto, a pesquisa ainda se encontra em andamento e sem maiores
conclusões. Ainda há procedimentos que devemos realizar no trabalho que nos
auxiliarão na obtenção de mais qualificadas considerações, uma vez que a proposta
do presente trabalho é ir além das aparências e buscar a compreensão das
essências. Porém, certamente haverá maiores esclarecimentos com cronograma
totalmente concluído.
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