Na uNião de milhares de Nós
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Na uNião de milhares de Nós
FOTOS: Divulgação decoração 102 FOTO: By Kami tapetes orientais Pura ARTE Milenares, os tapetes orientais se tornam ainda mais admirados com o tempo. N Na página ao lado, acima tapete Shiraz e abaixo Isfahan Sumak. Nesta página, tapete Serapi produzido no Irã e elaborado com lã e algodão. a união de milhares de nós coloridos nasce a peça que encanta pela criatividade e tradição. Produzida por mãos habilidosas, olhos atentos e um jeito engenhoso para esboçar e compor os desenhos, a tapeçaria oriental enche o ambiente de elegância e conforto. Sua história passa por reis e palácios, desertos e tendas, e não perdeu força com o tempo. Eles ganharam espaço na decoração moderna, que reconhece a beleza exótica e a delicadeza contida nas tramas. Marcado por lendas e contos de mil e uma noites, o modelo mais antigo foi encontrado na Sibéria, em 300 a.C, na tumba de um príncipe. Foram os nômades que viviam na região do Irã, na época dominada pela Pérsia, os precursores da arte de tecer pequenas amarrações feitas com a lã de carneiros. Nas tendas, os tapetes serviam para dormir, decorar e até para criar divisórias no ambiente. Com o tempo, a técnica ganhou espaço nas oficinas dos artesãos. A novidade chegou a Europa e rapidamente estava em castelos e palácios. O segredo e o valor de um tapete persa está na forma como ele é feito. Confeccionado com as mãos e usando apenas elementos naturais, como a lã de carneiro e os corantes, a habilidade e precisão são fundamentais para compor as peças. A quantidade de nós e a espessura também determinam a qualidade. Em média, com 400 mil junções é possível criar desenhos elaborados e contornos bem demarcados. A lã é selecionada e tingida de maneira que a cor fique intensa e permanente. Durante a confecção, os fios são esticados no tear e feitos nó por nó. Os desenhos ficam em fileiras, sempre que uma acaba, inicia-se outra. O cuidado na elaboração garante a nobreza e pureza da peça, que pode levar um ano para ficar pronta. 103 decoração 2 1 Tonalidades e formas pelo mundo As cores possuem tanta importância na tradição da tecelagem quanto as imagens. Os pigmentos são extraídos de plantas e servem para tingir os fios. Nos modelos orientais a predominância é pelas nuances vermelha, verde, amarela e azul. O vermelho representa para os persas a alegria; o verde é a cor sagrada; o amarelo significa felicidade e riqueza e o azul eternidade. Entre os desenhos, os traços florais mostram a natureza e são encontrados principalmente nos modelos de alto luxo, a fita ondulada semelhante a uma cobra, simboliza a vida e as formas geométricas são influências dos árabes. A cultura e o modo de vida dos artesãos determinam os desenhos e a escolha da cor, que pode alterar do mais simples ao mais sofisticado. No encontro com outras culturas, como a chinesa, o tapete ganhou no desenho traços delicados e representações mitológicas e a seda substituiu os fios de lã. Na Índia, imagens de lírios foram amplamente usadas significando sorte e liberdade. A nomeação de cada peça pode ser feita de acordo com o local de produção, estilo de desenho e a técnica de tecelagem. O Isfahan, está entre os exemplares mais sofisticados do mundo, tem o nome de uma cidade no Irã, sendo produzido por uma das famílias mais tradicionais, a Serafian. O valor de cada peça varia de R$ 500,00 a R$ 800,00 o metro quadrado. Quanto mais antigo e bem cuidado, mais preciosa a peça. 104 O modelo pode ser identificado por ostentar um medalhão central e um jarro de flores. Outro reconhecido pelo nome da cidade é o Kashan, que produz tapetes de seda e estão entre os mais valiosos atualmente. Uma de suas peças já chegou a ser vendida por US$ 20.000. Ao sul do Irã, centro da principal região tapeceira do país, se produz o Shiraz. Ele é confeccionado com técnica do nó persa usando uma excelente lã. Também é feito pelas tribos Kashkai e Khamseh. Entretanto, poucos modelos foram tão cobiçados, a ponto de serem reproduzidos diversas vezes como o Ardabil. É considerado um dos melhores exemplares da tapeçaria persa. Em 1890, um corretor britânico adquiriu um tapete que pertenceu a uma antiga mesquita no Irã. A peça, danificada com o tempo, foi restaurada e revendida para o Museu Victoria & Albert, em Londres. Ao todo possui mais de 50 metros quadrados e teria levado quatro anos para ser tecida. Estima-se que tenha sido produzida no século XVI, devido às inscrições na parte inferior do tapete. Dentre as réplicas mais importantes do Ardabil, há uma na residência oficial do primeiro-ministro do Reino Unido. Objeto de desejo entre colecionadores de antiguidades, de artes e admiradores em geral, essas peças históricas recriam ambientes que aliam, harmoniosamente, o passado e o presente. FOTO: 1. Steve Nallan; 2. Arpad Benedek A elaboração é feita manualmente e os tapetes podem demorar até um ano para ficarem prontos.