Desenvolvimento e Aprendizagem

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Desenvolvimento e Aprendizagem
Desenvolvimento e Aprendizagem
Diferentes teorias psicológicas definem os processos de desenvolvimento e
aprendizagem, bem como a relação entre esses processos, de forma diferente:
 Empirismo:
Desenvolvimento e aprendizagem são processos idênticos. 
Resultam da ação do meio sobre o indivíduo.
 Racionalismo:
o Desenvolvimento:
Resultante do amadurecimento progressivo de
estruturas pré-formadas.
o Aprendizagem:
Processo
externo,
que
necessita
do
desenvolvimento para ocorrer, mas não o
modifica.
 3a posição: Aprendizagem
e
desenvolvimento
são
processos
complementares e exercem influência recíproca. Ambos são
resultantes de estruturações e reestruturações progressivas,
mediante a ação do sujeito sobre os objetos e destes sobre o
sujeito.
O processo de desenvolvimento
O estágio do desenvolvimento pode ser caracterizado como o conjunto de
competências manifestas num determinado momento da vida do indivíduo.
Breve histórico das idéias sobre o desenvolvimento:
Aristóteles – Acreditava que os fatores inatos determinavam o comportamento das
pessoas.
Conseqüências – Ficam justificadas a escravatura, a divisão por castas, as classes
sociais e o racismo.
Essa ideologia não foi muito questionada até o século XVII, quando algumas
correntes ideológicas, baseadas no judaísmo e no cristianismo, procuraram enfatizar a
igualdade dos homens.
John Locke (1632 – 1704) – filósofo empirista – criou a teoria da “tabula rasa”,
defendendo a igualdade dos homens ao nascer e atribuindo as diferenças entre as
pessoas a fatores ambientais e sócio-educacionais.
A partir daí estabeleceu-se uma controvérsia quanto às causas do comportamento
humano e das diferenças individuais, entre os “inatistas” e os “ambientalistas”.
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Superando o extremismo dessas duas abordagens, alguns teóricos explicam o
comportamento humano através da interação sujeito-objeto, o que envolve a
contribuição de processos hereditários, genéticos, maturacionais, bioquímicos,
processos de estimulação ambiental e aprendizagem, entre outros fatores.
Hereditariedade e ambiente
Hereditariedade: um processo biológico
O desenvolvimento do organismo humano se inicia quando um espermatozóide
paterno penetra no óvulo materno, havendo, assim, a fecundação.
O espermatozóide e o óvulo contribuem com 23 cromossomos cada para a formação
do ovo ou zigoto.
Os cromossomos são portadores dos genes responsáveis pela transmissão da
hereditariedade.
Os genes são segmentos de DNA (ácido desoxirribonucléico), cujas moléculas
carregam o código genético.
O código genético – genótipo – se refere ao material hereditário contido nos genes.
O fenótipo se refere às características morfológicas e comportamentais apresentadas
pelo organismo.
Entre as questões tratadas pela genética comportamental, está a influência da
hereditariedade nas atividades psicológicas humanas.
A inteligência, a personalidade, a aprendizagem escolar, os comportamentos
patológicos, etc., seriam características herdadas?
Aparentemente não são as características psicológicas em si que são herdadas, mas
um conjunto de “programações” para o seu desenvolvimento ou construção.
Ambiente
Ambiente é a soma total de estímulos que atinge um organismo vivo.
As estimulações ambientais são fundamentais para o processo de desenvolvimento.
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A presença de uma estrutura geneticamente determinada é condição necessária, mas
não suficiente, para o desenvolvimento individual.
Várias experiências mostram a importância das relações entre os processos
hereditários e ambientais, na formação de estruturas biológicas e psíquicas:
 O ambiente intra-uterino exerce influência sobre os organismos. – Ovos de
peixe colocados em baixa temperatura, com insuficiência de oxigênio e
expostos à radiação de raios ultravioleta  Nasceram peixinhos gêmeos
siameses, com defeitos na cauda e olhos ciclópicos.
 A radiação atômica pode causar o nascimento de crianças defeituosas.
 A qualidade e quantidade da alimentação influenciam no desenvolvimento
físico, motor e cognitivo do indivíduo.
As semelhanças entre os indivíduos podem ser atribuídas não só à posse de genes
comuns, como também à exposição a ambientes semelhantes.
Exemplo – experiência com pares de gêmeos.
Altura (cm)
Peso (Kg)
Inteligência (QI)
Diferença média entre gêmeos
Fraternos
Idênticos criados
juntos
3,4
1,7
10,4
4,1
9,9
5,9
Idênticos criados
separados
1,8
9,9
8,2
A tabela mostra que a hereditariedade é um fator importante na determinação de
semelhanças entre gêmeos univitelinos.
O ambiente também influi, pois os gêmeos idênticos criados separados assemelhamse aos fraternos.
Aparentemente, não existem propriedades biologicamente herdadas que determinam,
por si só, o comportamento e as aptidões psíquicas do indivíduo. Nenhum traço de
conduta está inscrito a priori no cérebro. O que existe é uma predisposição da espécie
para a formação de várias aptidões resultantes da relação indivíduo-meio.
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Maturação e aprendizagem
A maturação e a aprendizagem são processos do desenvolvimento humano que atuam
em reciprocidade.
Maturação se refere a padrões de diferenciação, resultando em mudanças ordenadas
seqüenciais.
A aprendizagem se refere ao conjunto de apropriações do indivíduo, resultantes de
suas relações com o meio ambiente.
Nas espécies animais, a maturação determina quase
comportamentais, e a aprendizagem tem pouco significado.
todas
as
formas
No ser humano, a maturação atua juntamente com a aprendizagem, e só a partir dessa
interação é que o comportamento se desenvolve.
Os estudiosos do comportamento humano divergem quanto às relações entre
maturação e aprendizagem. Há duas posições principais:
 A maturação é um alicerce indispensável e pré-requisito para a aprendizagem,
sendo determinada pelo código genético.  Para que a aprendizagem ocorra, é
necessário que o organismo esteja suficientemente maduro. Não há aprendizagem
sem maturação.
 A maturação prepara e torna possível a aprendizagem, que, por sua vez, estimula e
empurra para frente o processo maturacional. Assim, ela seria também
influenciada pelos fatores ambientais.  As aprendizagens alicerçadas sobre a
maturação contribuiriam para maiores níveis de maturação, que, por sua vez,
possibilitariam outras aprendizagens.
Princípios do desenvolvimento
Os princípios maturacionais são processos dinâmicos e não estereotipados.
A fragmentação do comportamento humano em domínios (motor, social, emocional,
intelectual), assim como a divisão do desenvolvimento em fases e idades, é apenas
um recurso metodológico.  A criança se desenvolve sempre como um todo.
Apesar de haver certa unanimidade quanto ao fato do desenvolvimento humano se
processar em fases, existe polêmica no que se refere aos critérios para a periodização.
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Gessel – observação do comportamento evolutivo dos indivíduos de diferentes faixas
etárias.
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Embrião (0 a 8 semanas);
Feto (8 a 10 semanas);
Infância (do nascimento aos 2 anos);
Idade pré-escolar (de 2 a 5 anos);
Meninice (de 5 a 12 anos);
Adolescência (de 12 a 20/24 anos);
Adulto.
Piaget – desenvolvimento das estruturas cognitivas.
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Estágio Sensório-Motor (0 a 2 anos);
Estágio Pré-Operatório (2 a 6/7 anos);
Estágio Operatório-Concreto (6/7 a 11/12 anos);
Estágio Operatório-Formal (a partir de 12 anos).
Freud – desenvolvimento psicossexual.
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Oral (0 a 1,5 anos);
Anal (1 a 3 anos);
Fálica (3 a 7 anos);
Latência (7 a 12 anos);
Genital (a partir de 12 anos).
Apesar da grande divergência de critérios, há certa concordância no que se refere ao
processo de reintegração sucessiva de estruturas comportamentais e fisiológicas em
padrões novos e inclusivos.
O desenvolvimento, embora contínuo e seqüencial, é marcado por profundas
transformações.
O desenvolvimento físico-motor segue duas direções: céfalo-caudal e próximo-distal.
Desenvolvimento céfalo-caudal – as partes próximas ao cérebro crescem e se
desenvolvem primeiro e, gradativamente, o desenvolvimento se estende
descendentemente por todo o corpo.
Essa direção também ocorre no desenvolvimento motor da criança. O controle dos
olhos e da cabeça ocorre primeiro. Depois o controle das mãos, mais tarde do tronco
(consegue sentar) e só por volta de um ano a criança consegue ficar em pé e andar.
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Desenvolvimento próximo-distal – amadurecimento das partes centrais do corpo
antes das periféricas.
Exemplo: o controle do braço vem primeiro, depois do antebraço e, finalmente das
mãos e dos dedos.
O desenvolvimento caminha, também, das atividades gerais às específicas.  O
comportamento motor se desenvolve a partir de respostas difusas, não diferenciadas,
que, gradativamente, vão se tornando mais específicas e elaboradas.
Exemplos:
 Aprendizagem da escrita – primeiro a criança escreve com todo o corpo
(movimenta, ao mesmo tempo, o tronco, a cabeça e os braços), depois os
movimentos se tornam menores e mais refinados, passando a ser utilizados
somente a mão e os dedos.
 Aprendizagem da linguagem – primeiro o bebê emite todos os sons da fala
humana (de todas as línguas), depois, com o convívio social e o amadurecimento,
ela passa a se utilizar apenas os sons da língua falada em seu ambiente.
Em suma, todo comportamento apresenta, a princípio, um caráter de globalidade e, só
após o amadurecimento neurofisiológico, aliado ao processo de socialização, é que se
transforma em formas comportamentais elaboradas.
O desenvolvimento se dá em velocidades diferentes para as partes do corpo:
 A cabeça cresce muito logo após o nascimento, até aproximadamente 2 anos de
idade, depois seu rítmo diminui.
 O tronco cresce significativamente até o primeiro ano de vida.
 As pernas e os braços iniciam um crescimento acelerado por volta dos 2 anos,
continuando assim até a adolescência.
Também em relação às características comportamentais essa descontinuidade se faz
presente. Na primeira fase da infância ocorre o maior indice de desenvolvimento
motriz. Já a capacidade de raciocínio indutivo-dedutivo só aparece na adolescência.
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Concluindo:
Há concordância entre as correntes psicológicas quanto à existência dos processos de
hereditariedade, ambiente, maturação e aprendizagem, subjacentes ao comportamento
humano.
Há polêmica na explicação da forma pela qual ocorre a influência de cada um desses
processos no desenvolvimento individual:
 Behavioristas: O indivíduo não é agente de sua aprendizagem, sendo governado
pelos estímulos do ambiente.
 Gestalt / Teorias maturacionais: A ênfase recai nos processos hereditários e
maturacionais.  O indivíduo já nasce com estruturas de comportamento
definidas.
 Teorias interacionistas: O comportamento humano é resultante da interação de
processos hereditários, maturacionais, bioquímicos e ambientais.  O
comportamento é síntese indissolúvel da relação entre o indivíduo e o meio
ambiente.
Este resumo foi baseado no capítulo II – “Desenvolvimento e Aprendizagem”, do
livro:
COUTINHO, Maria Tereza da Cunha & MOREIRA, Mércia. Psicologia da
educação: um estudo dos processos psicológicos de desenvolvimento e
aprendizagem humanos, voltado para a educação. 5.ed., Editora Lê: Belo Horizonte,
1997.
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