tânia fator

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tânia fator
POTENCIAR CONSULTORES ASSOCIADOS
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICODRAMA ORGANIZACIONAL EM T&D
TÂNIA FATOR
PSICODRAMA PARA NÃO-PSICODRAMATISTAS:
ENSINANDO PSICODRAMA EM SALAS DE PÓS-GRADUAÇÃO
SÃO PAULO
2012
TÂNIA FATOR
PSICODRAMA PARA NÃO-PSICODRAMATISTAS:
ENSINANDO PSICODRAMA EM SALAS DE PÓS-GRADUAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para
obtenção do Título de Psicodramatista Nível I pela
Federação Brasileira de Psicodrama – Febrap.
Profª. Joceli Drummond – Orientadora
SÃO PAULO
2012
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TÂNIA FATOR
PSICODRAMA PARA NÃO-PSICODRAMATISTAS:
ENSINANDO PSICODRAMA EM SALAS DE PÓS-GRADUAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso
como requisito parcial para a obtenção do grau de
Psicodramatista Nível 2, tendo sido julgado pela
Banca Examinadora formada pelos professores:
____________________________________________________________
Orientadora: Profª. Joceli Drummond
____________________________________________________________
Membro da Banca: Profª. Celina Dias Borges Sobreira
____________________________________________________________
Membro da Banca: Andréa Claudia de Souza
São Paulo,
de
3
de 2012
RESUMO
Esse trabalho levantou alguns questionamentos sobre o ensino de Psicodrama nos
cursos de pós-graduação de universidades paulistanas, principalmente, cursos que
enfocam a área de gestão de pessoas nas organizações. A elaboração desse trabalho teve
como ponto de partida a constatação de que o Psicodrama tem sido utilizado no campo
organizacional desde meados do século XX e, no seu processo de desenvolvimento
histórico, enquanto ciência aplicada, tem se dedicado à adequação espontânea dos
indivíduos aos fins definidos por suas organizações, permitindo ações efetivas
relacionadas a trabalhos em equipes, redução de conflitos, integração de profissionais às
condições de trabalho, seleção de pessoas etc. Tal contribuição tem incentivado a
existência de disciplinas relacionadas à aplicação do Psicodrama sócio-educativo no
contexto organizacional. Mas, era preciso saber com qual intenção essas disciplinas
psicodramáticas têm sido ensinadas nesses cursos? Qual tem sido seu conteúdo, quem
tem sido seu professor e com que compromisso elas têm sido desenvolvidas? Também
era preciso realizar uma reflexão crítica, moral e ética dessa prática educacional. Os
resultados apurados por esse trabalho levaram a uma reflexão sobre a visão de mundo
que estava na base do ensino do Psicodrama, e a partir dela, o questionamento das
formas de compreender sua contribuição, suas limitações e suas implicações éticas,
merecendo o cuidado e o rigor científico típicos dos grandes desafios da humanidade
para sobreviver com dignidade. Nesse sentido, a apresentação dos resultados de uma
pesquisa empírica sobre as percepções que os alunos de pós-graduação construíram a
respeito do Psicodrama revelaram algumas pistas sobre essa problematização.
Palavras-chave: Psicodrama, gestão de pessoas, ensino de pós-graduação, papel profissional.
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I.
INTRODUÇÃO
A elaboração desse trabalho teve como ponto de partida a constatação de que o
Psicodrama tem sido utilizado no campo organizacional desde meados do século XX e,
que no seu processo de desenvolvimento histórico, enquanto ciência aplicada, tem se
dedicado à adequação espontânea dos indivíduos e aos fins definidos por suas
organizações, permitindo ações efetivas relacionadas a trabalhos em equipes, redução de
conflitos, integração de profissionais às condições de trabalho, seleção de pessoas etc.
Tal contribuição tem incentivado a existência de disciplinas relacionadas à
aplicação do Psicodrama no contexto organizacional. Mas, era preciso saber com qual
intenção essas disciplinas psicodramáticas têm sido ensinadas nesses cursos? Qual tem
sido seu conteúdo, quem tem sido seu professor e com que compromisso elas têm sido
desenvolvidas? Também era preciso realizar uma reflexão crítica, moral e ética dessa
prática educacional.
Por esses motivos é que esse trabalho pretendeu levantar alguns questionamentos
sobre o ensino de Psicodrama nos cursos de pós-graduação de universidades paulistanas,
principalmente, cursos que enfocavam a área de gestão de pessoas nas organizações.
Para compreender-se o conceito de Psicodrama que se estava assumindo nesse
trabalho, fazia-se necessário retomar o sentido da palavra “drama”: pois, por um lado,
podia-se pensar em drama como sinônimo de vida, um estado do ser, como se fosse um
conjunto de experiências vividas. Mas, por outro lado, podia-se pensar em drama como
sinônimo de movimento, de ação, como se fosse um dos momentos da vida. Esta
segunda idéia aproximava-se mais da concepção de Psicodrama, ao contrário do senso
comum, que confundia (e continua confundindo) a ideia de drama com a idéia de
tragédia, ou ainda, com o estado negativo de uma situação.
Drama, tal qual se encontra nos dicionários, é uma transliteração do grego, que
significa ação ou coisa feita. Assim, Psicodrama pode ser compreendido como uma
transliteração de uma coisa feita à psique e com a psique - a psique em ação. O
Psicodrama pode ser definido, pois, como “a ciência que explora ‘a verdade’ por
métodos dramáticos” (MORENO, 1990, p. 61).
Contudo, sempre é preciso fazer uma diferenciação entre o método
psicodramático e sua fundamentação teórica. Historicamente, o Psicodrama enquanto
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método terapêutico surgiu primeiro, como decorrência do teatro da espontaneidade e da
ação terapêutica da dramatização, praticados por Moreno, em Viena, no início do século
20. Muito tempo depois, já nos EUA, é que Moreno foi sistematizando o corpo teórico
subjacente ao seu método, ao que denominou de Teoria Socionômica, e que foi dividida
em três grandes áreas de conhecimento: a Sociometria, a Sociodinâmica e a Sociatria.
Entretanto, para fins literários, este trabalho manteve a terminologia “Psicodrama” como
designação geral do projeto socionômico moreniano.
Dessa forma, pode-se dizer que Psicodrama é uma metodologia específica e que,
apesar de sustentada por conceitos teóricos diferentes, os quais convergem em uma visão
antropológica vincular, estuda as condutas humanas entendidas como desenvolvimento
de papéis (sempre em relação a seus contra-papéis ou papéis complementares). Esse
procedimento visa especificamente à investigação das dificuldades e dos entraves ao
desempenho livre, espontâneo, criativo e responsável de tais papéis (MENEGAZZO,
1995, p.173).
“O papel é a forma de funcionamento que o indivíduo assume no momento
específico em que reage a uma situação específica, na qual outras pessoas ou objetos
estão envolvidos” (MORENO, 1990, p.27).
Os papéis são, segundo Moreno, os embriões e os precursores do “eu”, porque
há neles um esforço para se agruparem, integrando-se em uma unidade existencial. Eles
estão presentes desde o nascimento e, segundo Moreno, surgem antes da linguagem,
pois as matrizes de ação são anteriores às matrizes verbais. Estes papéis carregam
consigo as regras sociais, características e peculiaridades próprias da cultura em que se
estruturam. Moreno considera que o homem encontra-se cindido entre os desejos de sua
pessoa privada e a dimensão social dos papéis que desempenha no cotidiano. Dessa
maneira, o homem moreniano é um ser social contextualizado em um momento em que
desempenha seus papeis e constrói seus vínculos afetivos, portanto, a inter-relação
histórica com os outros constitui seu eixo fundamental.
Essa visão do Psicodrama leva a outro aspecto de destaque nesse trabalho que é
o conceito de expansividade afetiva, por meio do qual se pode compreender a afetividade
dos indivíduos e sua relação com o contexto organizacional onde desempenham seus
papeis sociais.
A expansividade afetiva é segundo Moreno, "... a energia afetiva que permite que
um sujeito retenha o afeto de outros indivíduos durante um período de tempo dado."
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(MORENO, 1972, p.63). Sua origem e permanência estão diretamente relacionadas com
as redes sociométricas e a formação da identidade dos indivíduos; além do que, ela é
influenciadora da espontaneidade e da criatividade, ajudando ou dificultando o
desempenho dos papéis pertencentes a cada um desses indivíduos.
É dessa maneira que este trabalho pretendeu investigar como os alunos de cursos
de pós-graduação percebiam a importância do nível de expansividade afetiva ser
desenvolvido ou aprimorado por meio de intervenções psicodramáticas em organizações
empresariais. Duas eram as perguntas de investigação que se fez nele: é possível que o
aluno de pós-graduação perceba a importância de melhorar o nível de expansividade
afetiva de um indivíduo que trabalha em uma organização empresarial? E, é a
intervenção psicodramática na sala de aula, uma forma adequada de desenvolvimento de
pessoas para esta finalidade?
A hipótese básica desse trabalho estava fundamentada na ideia que existe a
possibilidade de despertar a percepção de alunos de pós-graduação para a importância de
superar os conflitos existentes nos desempenhos dos papéis profissionais por meio de
procedimentos psicodramáticos que facilitem a integração catártica, recolocando os
indivíduos em seu projeto natural de existência, buscando sua liberdade, espontaneidade,
criatividade e transformação evolutiva.
II.
A QUEM SERVE O PSICODRAMA?
Jacob Levy Moreno (1889-1974), o criador do Psicodrama, era de família judia,
originária da península ibérica, radicada na Romênia. Ele tinha cinco anos de idade
quando sua família se fixou em Viena, onde mais tarde estudou Filosofia e Medicina.
Desde muito cedo, Moreno dedicou-se a trabalhos experimentais, utilizando o teatro
como metodologia e, discutindo problemas sociais com grupos de pessoas.
Em 1921, fundou o "stegreiftheater" (teatro da espontaneidade) cujo objetivo era
desenvolver a capacidade criadora e a espontaneidade do ser humano. Em 1923, ele
descobriu a ação terapêutica da dramatização, fundando o teatro terapêutico. Em 1925,
emigrou para os EUA, onde criou a psicoterapia de grupo, a sociometria e o Psicodrama
público. Em 1934, Moreno publicou "Who shall survive?", reeditado em 1953 como
título "Fundamentos de la sociometria", em Buenos Aires. Em 1942, fundou-se o
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Instituto Moreno de Nova York - EUA e a Sociedade Americana de Psicoterapia de
Grupo e Psicodrama. Daí para frente houve uma expansão mundial de suas teorias, para
as quais criou um projeto amplo chamado de projeto socionômico, ou Socionomia.
Para compreender-se o significado da palavra Socionomia, é necessário
desmembrá-la em "sócio" - derivado do latim "socius", cujo significado é companheiro:
e, "nomia" - derivado do grego "nomus”, que significa regra, lei, aquilo que regula.
Assim, etimologicamente, o conceito carrega o sentido da própria definição que Moreno
lhe dá como sistema teórico-prático: as leis do desenvolvimento social e das relações
sociais. Com a Socionomia, Moreno pretendia verificar como a inter-relação indivíduogrupo se realizava, se cristalizava ou se transformava na realidade concreta, a partir de
como era vivenciada por cada indivíduo no grupo. Para isto, a Socionomia foi
sistematizada em três áreas de conhecimento: a sociometria, a sociodinâmica e a
sociatria, de forma que a investigação e o investigador fossem ativos e dinâmicos,
participando e se envolvendo com o fenômeno a ser conhecido.
A sociometria foi sistematizada com a finalidade de "medir a intensidade e a
expansão das correntes psicológicas, que se infiltram no seio das populações, através de
uma investigação metódica acerca da organização e evolução dos grupos e da posição
dos indivíduos nos mesmos”. (MORENO, 1990, p. 62) Fazem parte da Sociometria: o
teste sociométrico, em suas diversas modalidades; o teste de expansividade afetiva, e o
sociograma, que evidencia a estrutura grupal, suas congruências e incongruências, suas
relações télicas e transferenciais. É dentro da sociometria que se encontra o conceito de
rede sociométrica, que é uma dada organização de relações vinculares, resultante das
inter-relações psicossociais dos indivíduos. Estes vínculos perceptuais e afetivos são
motivados pelas escolhas, espontâneas ou não, baseados nos critérios dos indivíduos
naquele momento. Assim, é possível ocorrerem vários tipos de configurações
sociométricas, que são as figuras expressas pela situação pessoal de cada um e de todos
os indivíduos pertencentes à rede.
A Sociodinâmica pode ser entendida como a ligação entre a Sociometria e a
Sociatria e seus principais métodos são os jogos de Papéis (Role-playing), que podem
ser empregados na exploração dos vários vínculos grupais em que um indivíduo se
encontra através de seus diversos papéis.
A Sociatria tem a finalidade de realizar tratamentos dos sistemas sociais. Fazem
parte dela: a psicoterapia de grupo, o Psicodrama e o sociodrama. Moreno afirmava que
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com esses métodos de tratamento, poder-se-ia atingir a cura do social mais amplo da
humanidade. O sociodrama, assim como o Psicodrama, é um método de intervenção e
tratamento das relações sociais, entretanto há algumas diferenças entre eles no que tange
ao foco do trabalho com o protagonista, pois no Psicodrama há um sentido estrito na
investigação dos papéis do átomo social originário.
Por átomo social pode-se entender o grupo de pessoas, reais ou imaginárias,
percebido pelo indivíduo como seu grupo: por tele, pode-se entender a capacidade de se
perceber, de forma objetiva, o que ocorre nas situações e o que se passa entre as pessoas
(é uma empatia bilateral), ou ainda, é um conjunto de processos perceptivos, uma telesensibilidade. Ao contrário, a transferência é a patologia do fator tele, ou seja, é a causa
de distorções ou equívocos nas relações interpessoais. Neste caso, não há possibilidade
de ocorrer o "encontro", pois ele é essencialmente a experiência da relação télica
(percepção mútua profunda).
O conceito psicodramático se contrapõe à exclusividade da individualidade como
forma de ação, por isso é basicamente uma abordagem grupal, que tem seu núcleo
central nas relações estabelecidas na ação dramática. O drama explicitado no contexto
dramático emerge da estrutura aberta do grupo e, representa o drama originado no
contexto social. O protagonista, ou seja, o emergente do grupo coloca no palco a
realidade e a fantasia, para poder posteriormente discriminá-las.
A utilização das técnicas psicodramáticas possibilita aos indivíduos poderem
perceber, por meio da ação, o real concretizado no aqui e agora do contexto dramático.
Essa abertura perceptiva fornece uma ampliação de suas potencialidades de ação, entre
as quais ele pode optar por uma. Assim, há um processo de escolha, subjacente à ação
espontânea, o que permite um corte na repetição cega do passado. "O fundamento do
Psicodrama é o princípio da espontaneidade criadora, a participação desinibida de todos
os membros do grupo na produção dramática e na catarse ativa” (MORENO, 1974,
P.38).
Apesar das diferenciações técnicas e processuais que a fundamentação teórica
socionômica pretende na prática esses procedimentos se interpõem e seguem as
necessidades que o momento dramático exige. Sua realização se dá dentro de uma
estrutura, que é a rigor tipicamente a do Psicodrama, composta por: três contextos,
quatro etapas, quatro instrumentos e cinco técnicas básicas. Assim considera-se que, em
uma sessão de Psicodrama, os indivíduos estão inseridos em três contextos diferentes: o
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social, onde estão suas vinculações com a sociedade e a cultura onde vivem; o grupal,
onde estão suas vinculações com os outros indivíduos dos grupos a que pertencem; e, o
psicodramático, onde estão suas vinculações com os integrantes do momento
terapêutico, no momento de sua existência. Desta forma, pode-se dizer que o indivíduo
faz parte de uma realidade psicodramática, composta pelos três contextos ao mesmo
tempo.
Seu desenvolvimento se dá em quatro etapas: 1) aquecimento inespecífico, que é
por onde o método se inicia, visando estabelecer o vínculo psicodramático e facilitar a
emergência do protagonista; 2) aquecimento específico, que é a preparação da cena, do
cenário e do clima trazido pelo protagonista para serem dramatizados, além dos
personagens que serão representados pelos ego-auxiliares; 3) dramatização, que é a
representação dos papéis "como se" fosse realidade, utilizando-se das técnicas básicas e
alternativas, a fim de facilitar a espontaneidade, a relação télica e o encontro; 4)
compartilhamento, que é a última etapa necessária ao compartilhar entre o grupo, das
emoções e vivências, assim como, das catarses ocorridas na sessão. Toda a
movimentação do Psicodrama se faz por meio de técnicas vivenciais de representação de
papéis, das quais cinco são as mais básicas: o duplo, o espelho, a inversão de papéis, o
solilóquio e a interpolação de resistências.
Para a realização do Psicodrama também são necessários quatro instrumentos
básicos: o diretor, que é o psicodramatista que conduz a sessão; o ego - auxiliar, que é
alguém com o papel complementar do diretor dentro do grupo; o protagonista, que é o
elemento emergente espontâneo que irá representar uma cena; e, a platéia, que é o grupo
com quem o protagonista irá se relacionar.
Como já foi dito, Moreno descobriu que há um processo catártico no Psicodrama
e que o princípio comum produtor da catarse é a espontaneidade. Para ele, a catarse
pode ser entendida como a movimentação télica existente entre dois ou mais indivíduos,
quer dizer, aqueles conteúdos que estavam afastados da consciência, a partir da ação
psicodramática vêm à tona e possibilitam a clareza de possibilidades existenciais para os
participantes da sessão, quer seja individual ou em grupo. É esta integração que
possibilita a formação da identidade ou sua rematrização.
A espontaneidade, segundo Moreno, amplia o estado de consciência dos
indivíduos, levando-os a um estado de co-inconsciente grupal, que só é possível a partir
de relações télicas. É dessa maneira que acontece a emergência de um protagonista que,
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naquele momento, manifesta o contexto psicodramático. Ele, protagonista, "traz a mente
para fora", objetivando-a na dramatização, de tal forma que, os componentes subjetivos
tornam-se diretamente visíveis, observáveis e mensuráveis. A partir dessa objetivação é
que se dá a ressubjetivação, ou seja, a reintegração psicodinâmica. A dramatização
possibilita uma realidade tangível, onde o psicodramatista possa participar, a fim de junto
com o protagonista possibilitar o encontro.
Segundo Moreno, o caráter transformador da ação espontânea é o que garante
ao indivíduo a sua condição de criador, ou seja, é o que permite as modificações na sua
relação com o mundo. O ato criador é antagônico à conserva cultural. Ele acontece no
momento presente, no durante, e não no produto acabado. Ao preferir valorizar a obra
acabada, o Homem esquece-se de observar as mudanças que ocorreram em si mesmo
durante o processo de criação.
O homem primitivo viveu e criou no momento mas logo que os
momentos de criação passaram, ele mostrou-se muito mais
fascinado pelo resultado dos atos criadores pretéritos: sua
cuidadosa conservação e avaliação do seu valor, do que pela
manutenção e continuação dos processos da própria
criação.Pareceu-lhe ser um estágio mais elevado de cultura
desprezar o momento, sua incerteza e desamparo e empenhar-se
em obter conteúdos, proceder à sua seleção e idolatrá-los,
lançando assim os alicerces de um novo tipo de civilização, a
civilização da conserva (MORENO, 1974, p. 43).
Nesta filosofia do ato criador, não há lugar para a diferença entre consciente e
inconsciente, já que
o inconsciente é um reservatório continuamente enchido e
esvaziado pelos ‘indivíduos criadores’. Foi criado por eles e,
portanto, pode ser desfeito e substituído. Assim podemos
encontrar cinco características no ato criador: a espontaneidade,
a sensação de surpresa ou de inesperado, a irrealidade, o atuar
sui-generis e, a consubstanciação mimética. O agente criador
encontra seu ponto de partida no estado de espontaneidade, que
é uma entidade psicológica independente. Além disso, o ‘estado’
não surge automaticamente: não é preexistente. É produzido por
um ato de vontade. Surge espontaneamente. Não é criado pela
vontade consciente, que atua freqüentemente como barreira
inibitória, mas por uma libertação que, de fato, é o livre
surgimento da espontaneidade (MORENO, 1974, p. 86).
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A espontaneidade e a criatividade para Moreno são fenômenos primários e
positivos, ou seja, não são derivados de nenhum outro impulso. A espontaneidade é
definida como “a resposta do indivíduo a uma nova situação, ou uma nova resposta a
uma situação antiga, de modo adequado” (MORENO, 1974, p. 86). Deve-se atentar
para o termo adequado que está aqui, nem com o sentido de adaptado e nem de
ajustado, mas sim de integrado. Dar respostas de um modo integrado significa perceber
claramente a si mesmo e a situação no aqui - agora, procurando transformar seus
aspectos insatisfatórios. Quanto à gênese da espontaneidade, Moreno é favorável à idéia
de que ela é um fator psicológico, ou como ele diz o fator “E” não é, estritamente, um
fator hereditário nem, estritamente um fator ambiental.
No atual estado das pesquisas biogenéticas e sociais, parece ser
mais estimulante supor que, no âmbito da expressão individual,
existe uma área independente entre a hereditariedade e o meio
ambiente, influenciada, mas não determinada pela hereditariedade
(genes) e pelas forças sociais (tele). O fator E teria a sua
localização topográfica nessa área. É uma área de relativa
liberdade e independência das determinações biológicas e sociais,
uma área em que são formados novos atos combinatórios e
permutações, escolhas e decisões, e da qual surge a inventiva e a
criatividade humanas (MORENO, 1974, p.101).
Entretanto, deve-se aqui fazer uma pontuação: a espontaneidade não é em si uma
energia, não fica armazenada no indivíduo ou em algum reservatório inconsciente. A
espontaneidade é variável dentre os indivíduos e dentre as situações do momento. Ela
funciona como um catalisador psicológico. Para as situações novas, o indivíduo recorre à
sua espontaneidade, dosando a quantidade necessária e adequada para a situação vivida.
"A espontaneidade só funciona no momento de seu surgimento, assim como, falando
metaforicamente, se acende uma luz numa sala e todas as suas partes se tornam claras.
Quando se apaga a luz, a estrutura básica da sala continua sendo a mesma e, no entanto,
desapareceu uma qualidade fundamental." (MORENO, 1974, p.136). Assim entendida, a
espontaneidade surge no próprio ato do nascimento, quando para responder a uma
situação nova (o parto) o bebê busca respostas novas e adequadas, porque sem elas é
provável que não sobreviva. Daí para frente, o desenvolvimento da espontaneidade
estará ligado ao desenvolvimento da pessoa.
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As primeiras experiências da criança, quanto à sua formação, percepção e
aprendizado emocional, relacionam-se estreitamente com o desenvolvimento da sua
matriz de identidade, que é a placenta social da pessoa. Segundo a teoria de Moreno, isto
se dá em duas etapas: l - fase da identidade total ou unidade e, 2 - a fase de se usar essa
experiência para a inversão da identidade. Essa matriz sofre uma evolução e durante este
processo evolutivo a criança vai sendo envolvida no emaranhado da rede de papéis
sociais. O percurso da matriz é retomado a cada novo papel que o indivíduo desenvolve
e, ao fazê-lo utiliza-se da experiência adquirida na aquisição de outros papéis
semelhantes (efeito cacho). Dessa forma, a matriz de identidade evolui até uma matriz
social, onde há mais independência e autonomia, sem, contudo ser abandonada. Ao
contrário, a matriz de identidade fica internalizada, dando o tônus télico ou transferencial
aos seus futuros átomos sociais.
Moreno, em um de seus textos, faz um convite à humanidade para que viva um
acontecimento especial, o encontro, que alguns podem experimentar eventual e
repentinamente, mas que escapa a definições lógicas. Nele é essencial que esteja presente
a relação télica, ou seja, que haja mútua disponibilidade de duas pessoas capazes de se
colocarem uma no lugar da outra (capacidade de realizar a inversão de papéis). Os
papéis carregam consigo as regras sociais, características e peculiaridades próprias da
cultura em que se estruturam. Moreno considera que o homem encontra-se cindido entre
os desejos de sua pessoa privada e a dimensão social dos papéis que desempenha no
cotidiano. Segundo ele, os indivíduos têm três tipos fundamentais de papéis: os
psicossomáticos, os sociais e os psicodramáticos. Nos dois primeiros, há apenas a
reprodução da cultura em que o indivíduo está inserido, o que dá forma à conserva
cultural. Porém, o próprio Moreno adverte: "a troca de antigas conservas culturais por
novas não alteram a posição do homem em sua luta com as realidades do mundo que o
cerca e não pode ajudar no desenvolvimento de uma sociedade humana na qual o homem
tem que ser o verdadeiro senhor.” (MORENO, 1974, p.157).
Ao longo do tempo a humanidade valorizou apenas uma etapa do ato criador, a
obra pronta e terminada. O homem receoso dos riscos que teria de correr com o
processo de espontaneidade e criatividade deixou-se iludir pela automação e pelo
autoritarismo. No começo, as máquinas e as conservas culturais não ameaçavam o
homem, porque eram poucas e estavam sob o seu controle. Mas, com o tempo, elas
fizeram o seu trabalho e até melhor que ele, e então, o homem não teve tanto controle
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sobre o processo industrial. Parece que ao tentar novas formas de governo e de
sociedade, o Homem tentou mudar as relações de produção e distribuição, a fim de
recuperar o seu status social. Contudo, parece que ainda não conseguiu fazê-lo. Moreno
faz uma proposta para esta situação: a revolução criadora.
Existe um modo, simples e claro, em que o homem pode lutar,
não através de destruição, nem como parte da engrenagem
social, mas, como indivíduo e criador, ou como uma associação
de criadores. Ele tem de encontrar uma estratégia de criação que
escape à traição da conservação e à concorrência do robô. Essa
estratégia é a prática do ato criador, o homem como um
instrumento de criação que muda continuamente os seus
produtos. Apesar da espontaneidade não ser mais nova do que a
humanidade, é nela que irá se sobrepor a transição para o refazer
do próprio homem. É preciso lutar contra fantasmas: o da
produção conservada. Se isso acontecer, ‘a sobrevivência do
mais apto’, será substituída pela sobrevivência do criador. O
homem terá escapado, sem abandonar coisa alguma do que a
civilização da máquina produziu, para um Jardim do Éden
(MORENO, 1990, p. 157).
1) A EXPANSIVIDADE AFETIVA
Retomando o que já foi dito anteriormente sobre a expansividade afetiva dos
indivíduos, ela é uma força de cunho afetivo por meio da qual um sujeito retém o vínculo
com outros indivíduos durante certo período de tempo. Além do que ela é influenciadora
da espontaneidade e criatividade, ajudando ou dificultando o desempenho dos papéis
pertencentes a cada um desses indivíduos, o que sugere que ela está totalmente implicada
na formação e funcionamento das suas identidades.
Moreno propõe que com a espontaneidade todos os fenômenos psíquicos são
novos e flexíveis, porque ela lhes confere a qualidade de momentaneidade. Mesmo
reconhecendo a possibilidade de estruturas psíquicas estereotipadas, ele aponta a fluidez
repetida do fator ‘E’, o que leva à existência criadora. "Por outras palavras, é devido à
operação de um fator ‘E’ que pode ter lugar uma mudança na situação e que uma
novidade é percebida pelo sujeito. Uma teoria do momento é inseparável de uma teoria
da espontaneidade. Numa teoria do comportamento e da motivação humanos, o lugar
central deve ser dado à espontaneidade." (MORENO, 1990, p. 61).
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Por trás desse conceito de expansividade afetiva está a concepção de vínculo, que
no Psicodrama é a unidade humana, e, portanto, é mais que uma relação, é uma interrelação afetivo-perceptual. Dessa forma não há como trabalhar com a individualidade,
enquanto pólo singular de uma relação é preciso considerar-se a totalidade, não como
uma simples soma de partes individuais, como uma unidade contextual.
Tampouco o grupo humano está formado por unidades
individuais; é o conjunto e a integração de cada um dos vínculos
estabelecidos que palpitam dentro do mesmo grupo. Cada grupo
é uma constelação afetiva composta por muitas unidades
relacionais entretecidas umas às outras, formando como que uma
rede. Falando de outro modo, assim como cada par ou díade é
um átomo, cada grupo se comporta a maneira de uma molécula
de humanidade, no interior do tecido social mais amplo. Essas
constelações humanas se mantêm como tais precisamente porque
estão em constante intercomunicação afetiva (MENEGAZZO,
1995, p. 217).
Há um aspecto muito sério nesta postura, que convém discutir no âmbito
organizacional: não se pode pensar ou estudar a pessoa separando-se as suas partes, nem
tão pouco considerando a pessoa como imutável. As pessoas não estão como estão para
sempre. Elas foram de um jeito, estão sendo assim e, provavelmente, serão de outro
modo ainda. Seus processos psíquicos estão todos imbricados, desenvolvendo-se
conjuntamente, não havendo nenhuma separação entre eles. Daí o trabalhador de uma
organização precisar ser visto como uma unidade contextual.
Se for concebido que as pessoas são seres integrais e que, não se podem separar
suas funções psíquicas, sociais e vitais, então, é preciso estudar o seu processo de
desenvolvimento, onde ação, emoção e pensamento não existem separadamente, mas
articulados. Assim, as emoções que também têm função comunicativa e, tal qual a
linguagem e a ação, possibilitam a tomada de posição dos indivíduos frente à realidade,
devem ser estudadas. Entretanto, é preciso lembrar que há uma grande dificuldade na
manifestação dos sentimentos (principalmente porque a fala é limitada para este fim),
pois, o homem moderno perdeu a sua espontaneidade: falar de si, pensar sobre si mesmo
e agir consigo tornaram-se dimensões alienadas. Apesar disso, o sentimento é uma
informação sobre o significado das coisas para as pessoas e, seu estudo, através da
expansividade afetiva, é um caminho para a investigação da consciência dos indivíduos.
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Para estudar o conceito de expansividade afetiva, Moreno baseou-se na tese de
que a expressão quantitativa dos sentimentos de simpatia ou antipatia pode ser
facilmente medida. Além disso, afirmava que um indivíduo teria sua expansividade
afetiva diferente de outro, porque as pessoas dispensam sua energia afetiva mais para
quem se sentem espontaneamente atraídas, influenciando diretamente a organização de
seu grupo. Por meio de seu estudo pode-se chegar ao processo vincular social dos
indivíduos e de seus grupos, e a partir dele, à possibilidade da superação dos seus
conflitos existenciais, ou seja, o resgate de sua espontaneidade, que no Psicodrama é o
caminho da saúde.
Esta expansividade afetiva tem sua origem no início da vida, como explica o
próprio Moreno: "A família é a instituição social que mais contribui para desenvolver a
sociabilidade do homem e para dar forma própria a sua necessidade de expansividade
afetiva” (MORENO, 1972, p.72). No início da vida, a plasticidade do bebê recémnascido é virtualmente ilimitada, quer dizer que é maior que a de qualquer adulto. Mas,
há um processo de influência do grupo familiar não somente sobre a qualidade dos
interesses afetivos, mas também sobre a quantidade desses vínculos, quer dizer, sobre a
expansividade dos mesmos.
A dimensão familiar obriga a criança a concentrar sua atenção na elaboração de
um número de relações sociais que se vinculam com seus pais e irmãos, contendo e
canalizando sua sede de expansão e fazendo-a adquirir o hábito de contentar-se com esse
número de relações. Quando a criança cresce, só consegue participar de um número de
relações que aprendeu no início de sua vida, estabelecendo o quantum de relações
afetivas um pouco acima ou abaixo dessa média. “Se ela tiver novos amigos ou inimigos,
deixará de interessar-se por um número igual de amigos e inimigos antigos.
Presumivelmente, seu equilíbrio não poderá manter-se acima de certo limite.”
(MORENO, 1972, p.72).
O teste de nível de expansividade afetiva foi realizado por Moreno pela primeira
vez em uma escola de Hudson, perto de Nova York e descrito em seu livro
"Fundamentos de la Sociometria", com objetivos psiquiátricos.
Apesar de sua
importância, na compreensão e transformação das relações indivíduo-sociedade e de sua
aplicabilidade na pesquisa de fenômenos organizacionais como liderança e motivação no
trabalho, o estudo da expansividade afetiva não tem sido encontrado na literatura
especializada.
16
Outro aspecto relevante é o fato dele contribuir para a melhoria do desempenho
profissional dos trabalhadores com os quais são realizadas as intervenções
psicodramáticas, na intenção de facilitar a melhoria da qualidade de vida dos sujeitos,
propiciando a reflexão sobre sua subjetividade e seu mundo. De outra maneira, saber "...
o porquê das necessidades, de como as atividades vem sendo realizadas, ou seja, como
as ações se encadeiam e que resultados são obtidos, tornando possível a todas as pessoas
envolvidas recuperarem, através do pensamento e ação, da comunicação e cooperação
entre elas, as suas histórias individual e social e, conseqüentemente, desenvolverem a
consciência de si mesmas e de suas relações historicamente determinadas." (LANE,
1983, p.68).
Há ainda outra relevância que precisa ser identificada: este conceito abre caminho
para melhorar a qualidade da força de trabalho, sem, contudo, perder a razão e a verdade
sobre as relações de produção. "Máquinas e corações podem funcionar em harmonia,
sincronizando os batimentos pelo ritmo humano. Revalorizar o homem face à tecnologia,
sem pieguice nem dogmatismo - eis a proposta para uma autêntica Renascença
Organizacional.” (MOSCOVICI, 1988, p.118).
III.
CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS AO COTIDIANO PROFISSIONAL
A iniciativa de aplicar as ciências psicossociais na compreensão dos problemas
humanos da empresa surgiu nos EUA, com a Segunda Guerra Mundial, sendo que dois
tipos de fatores impulsionaram essa iniciativa: um econômico, a crescente complexidade
dos problemas sociais e empresariais; o outro, científico, o desenvolvimento das ciências
nesse país. Entre os impulsionadores desta idéia pode-se destacar Kurt Lewin, psicólogo
alemão emigrado para os EUA na década de 40 que, acreditava no valor instrumental das
ciências do comportamento para a solução de problemas sociais (LEWIN, 1951).
Na década de 50, a teoria e a prática de mudanças planejadas se desenvolveram
notavelmente e começou a ser aplicada, especialmente nos EUA, em grandes
organizações, que recorriam ao assessoramento de psicólogos sociais para maximizar a
utilização de seus recursos humanos. Esse movimento intelectual representou uma
mudança no papel do psicólogo social nesse país que se ampliou de uma postura
basicamente acadêmica, para também, uma postura pragmática. Esse novo enfoque se
insere no que se chama (planned organizational change) "mudança organizacional
17
planejada" (BENNIS, 1966, p. 96), que tem como característica fundamental a
intervenção de um assessor externo ou um agente de mudança (habitualmente um
psicólogo social) que ajuda a um cliente, com o qual estabelece uma relação de
colaboração, a fim de aplicar conhecimentos científicos válidos à solução de problemas
do cliente.
Posteriormente, a difusão destas aplicações nas organizações deu lugar, na
década de 60, a um conjunto de enfoques e técnicas que receberam o nome de
Desenvolvimento Organizacional (Organizational Development) que é, nas palavras de
Bennis (um de seus fundadores), "uma espécie de estratégia educacional", no sentido de
pretender ajudar o cliente a aprender como abordar melhor seus problemas, "para
elaborar uma mudança organizacional planejada” (BENNIS, 1969, p. 10).
Esta série de aplicações das ciências psicossociais constitui uma entre tantas
intervenções de assessores externos nas organizações. Baseadas nessas experiências e em
investigações paralelas foram desenvolvidas teorias e práticas de intervenção psicológica
a partir da década de 70 e que continuam sendo aplicadas até hoje nas empresas do
mundo todo, inclusive no Brasil. Era dessa maneira que, nesse contexto, a globalização
enquanto movimento socioeconômico estava tomando corpo. Ela não é um fenômeno
recente, mas ao contrário, já era uma questão instrumental para a dominação cultural via
revolução tecnológica.
Ao mesmo tempo, essa época assistia ao surgimento de teorias que criticassem
essas intervenções e denunciassem as relações injustas entre capital e trabalho presentes
no cenário empresarial, que levam à impossibilidade de se atingir a integração social pela
humanidade.
O pensamento de Agnes Heller (1977) é um bom exemplo para ilustrar essa
época. A autora é filósofa neo-marxista, atualmente com forte influência existencialista.
Seus temas principais destacaram o cotidiano, as emoções e as necessidades como
categorias de análise das relações sociais. O cotidiano, segundo Heller, pode ser
entendido como o pano de fundo, o espaço empírico onde se dão as objetivações, que
são as relações entre o universal e o particular, as formas de individuação da
transformação social; segundo a autora ele pode ser encarado como um paradigma e uma
categoria de análise dos indivíduos, enquanto questão ética, onde a alienação é o fator
central. É, ainda, o lugar de vida do homem por inteiro, tanto da alienação, quanto da
sua superação.
18
Quanto mais dinâmica é a sociedade, quanto mais casual é a
relação do particular com o ambiente em que se encontra ao
nascer (especialmente depois da chegada do capitalismo), tanto
mais está obrigado o homem a por continuamente à prova sua
capacidade vital, e isto para toda a vida, quanto menos pode dar
por acabada a apropriação do mundo com a maioridade. O
particular, quando muda de ambiente, de emprego, ou de
ambiente social, se enfrenta continuamente com novas tarefas,
deve aprender novos sistemas de uso, adequar-se a novos
costumes. Ainda mais: vive ao mesmo tempo entre exigências
diametralmente opostas, para o que deve elaborar modelos de
comportamentos paralelos e alternativos. Resumindo, deve ser
capaz de lutar durante toda a vida, dia após dia, contra a dureza
do mundo (HELLER, 1977, p. 22).
Como já foi dito, o universo das relações sociais nas empresas tem sido alvo de
inúmeras pesquisas psicossociais, principalmente no final do século XX, por meio de
investigações sobre quase todos os aspectos humanos contidos nas relações de trabalho
em organizações empresariais. Vários tipos de profissionais têm sido chamados a fim de
diagnosticar, explicar e, às vezes, transformar o comportamento das pessoas no
desempenho de seus papéis profissionais; livros têm sido escritos em grande quantidade
sobre o assunto; palestras e seminários têm sido organizados em todo o mundo, com a
finalidade de entender, explicar e subsidiar intervenções nas relações organizacionais,
com vários propósitos: mantê-las, questioná-las, transformá-las etc. Sabendo que muitas
são as formas de intervir nas questões psicossociais, esses estudiosos das ciências sociais
e humanas têm pesquisado as relações entre os indivíduos e os grupos, nos seus mais
diferentes contextos. Muitos com propósitos de cura, outros com propósitos de ensino,
outros ainda, com propósitos revolucionários.
Como há várias abordagens teóricas utilizadas para essas intervenções
sociopsicológicas, é possível verificar se há a possibilidade de algumas delas
questionarem o sistema de valores estabelecido nas organizações empresariais, levando
ao esclarecimento dos seus colaboradores e propondo alternativas de ação
emancipadoras. Neste caminho, é que se sente a necessidade de identificar um corpo de
conhecimentos científicos utilizáveis pelas ciências sociais e humanas, que facilite a
aplicação de uma metodologia comprometida com a liberdade humana e com a
superação de seus conflitos. Posturas como a de Jacob Levy Moreno (1889-1974),
19
criador do Psicodrama e de toda teoria socionômica, para quem o propósito da vida
humana é o "encontro", que era por ele entendido como: um relacionamento marcante e
transformador, de plena compreensão mútua; o que, em termos mais recentes, poderia
ser compreendido como uma interação promotora de saúde.
Assim também é para Agnes Heller, cuja teoria diz que a ação ética é a ação
que leva a potencializar a substância humana, a manter a saúde humana, para quem existe
a necessidade “... de uma forma existencial moral, na qual o indivíduo, jogado a uma
situação, dotado de um relativo poder de escolha, delibera e, com tal ato, dá sentido a si
mesmo e ao mundo, bem como aos outros indivíduos.” (HELLER, 1978 apud
GRANJO, 1996, p.23). Neste sentido, o homem não deve ser tomado como meio, mas
como fim. Sua intimidade pode ser analisada ou como um espaço e um tempo da
alienação do "eu" ou, então, como uma esfera de emancipação social.
É também na década de 70 que cresce a divulgação de outro tipo de produção de
conhecimentos, que oriundos da Física, assim como da Matemática, começam a
demonstrar uma nova ordem de coisas, fazendo com que a visão analítica, racional,
lógica e impessoal seja reconhecida por muitos novos cientistas como questionável, e
postulando que "tudo está em cada coisa e cada coisa está em tudo”. Essa nova visão de
mundo “... convida a explorar algo além da aparência, por acreditar que os fenômenos
manifestos não contêm todas as explicações por mais que sejam estudados em si.
Transformação e fluxo então passam a ser os focos principais de atenção, uma vez que a
ordem implicada gera e sustenta as formas mutáveis dos sistemas sociais”.
(MOSCOVICI, 1988, p. 47) Além disso, leva à percepção de que, na realidade
organizacional há processos ocultos que podem ser evidenciados a partir de qualquer um
dos subsistemas que compõem essa unidade; já que de acordo com esta teoria holística,
o que acontece numa das partes, também ocorre em sua totalidade, desde que não haja
desconexão em sua rede de relações.
É assim que se está entendendo as organizações empresariais: como uma rede
psicossocial de sistemas pertencentes a uma rede de conexões chamada de sociedade.
Internamente, essas organizações também são formadas por membros ligados em uma
rede sociométrica. De outra maneira, poderíamos dizer que a organização é um todo
simbólico que se representa em suas partes e que se refaz em suas relações. Semelhante
postura pode-se encontrar em Heller: "Defino estrutura social como um conglomerado
20
de instituições reciprocamente interligadas e que se sustentam umas às outras (como
subsistemas)” (HELLER, 1977, p. 120).
Moreno também concordava com esta idéia quando escreveu que tinha
alimentado a idéia de submeter as revoluções ao processo da experimentação.
Com efeito, elas têm me parecido muito mais ricas em
promessas, para o futuro da ciência, que a composição de
grandes sistemas sociológicos ou a crítica acadêmica dos
movimentos revolucionários. Pareceu-me que seria mais
proveitoso fazer revoluções em pequenas escalas do que
pretender subversões totais. Estas revoluções minúsculas
permitiriam um estudo mais concentrado e mais penetrante:
poder-se-ia observar os fenômenos como se eles estivessem sob
um microscópio (MORENO, 1972, p.47).
Assim vemos que, atualmente a grande maioria das intervenções psicológicas
realizadas pelos cientistas sociais vem adotando uma variedade de formas, métodos e
procedimentos, todos eles baseados em algum sistema de valores e com um grande
objetivo a conquistar: a melhoria nas relações indivíduo-organização. O que é preciso
estar atento é para quem define e para como define o que é melhoria.
Segundo o modelo americano, Argyris (1973) caracteriza a intervenção
psicológica como tendo três componentes: 1) a obtenção e a utilização de informação
válida, a fim de que um cliente possa aprender com a ajuda do assessor externo; 2) a
escolha de alternativas de ação deverá ser feita pelo cliente, seja qual for a forma que
adote a intervenção; e, 3) o cliente deverá conservar a autonomia, de tal modo que se
comprometa livremente com a alternativa escolhida (ARGYRIS, 1973, pp.15-20).
Assim, entendida como um processo de influência social, a intervenção
psicológica é uma categoria de poder, o poder baseado no saber técnico especializado.
Por esta razão, as técnicas de intervenção psicológica são essencialmente procedimentos
de levantamento de dados e de realimentação (feedback), a fim de que o cliente possa
chegar a um melhor diagnóstico do problema e desenvolver um leque de alternativas que
sirva de base para uma decisão, respeitando sua autonomia, e perceber a realidade tal
como ela é, sendo o trabalho do psicólogo social, o de facilitar a abertura para a
realidade, sem deixar de respeitar a constelação de relações interpessoais que constitui a
trama básica da organização.
21
Essa abordagem (que está na prática da maioria dos consultores externos) sugere
a continuidade do sistema de valores da sociedade capitalista burguesa. Tanto a
organização quanto a sociedade em que ela está inserida não são questionadas. Os
conhecimentos da Psicologia Social, neste caso, são utilizados para a elaboração de
instrumentos e métodos que ajudem na maioria das vezes, a manter o "status quo". Há
de várias partes um compromisso com a dominação e com o controle dos seres humanos.
São seres, segundo Heller, individualizados como singulares particulares, alienados, que
seguem normas e tem necessidades alienadas, ou seja, socialmente produzidas, seres da
racionalidade em-si. É a cristalização e a conserva cultural que, segundo Moreno, são
exigidas pela organização, diminuindo a espontaneidade através da padronização das
ações e da uniformidade dos valores, a ponto de torná-los paradigmas inquestionáveis. O
que há é um processo de indiferenciação, onde os indivíduos buscam uma saída, mas,
não sabem como, pois estão com suas identidades comprometidas, sem conhecer
nenhuma verdade sobre o futuro (aqui se pode falar de todos os trabalhadores,
independentemente de suas categorias profissionais).
Conseqüentemente, nas condições impostas pela sociedade moderna, os homens
sentem-se bloqueados em suas ações, conservados culturalmente e impossibilitados de
criar e transformar livremente suas condições de vida. O que acontece é que o próprio
ato criativo e os resultados do processo de criação são cristalizados, transformando-se
em conserva cultural. O excessivo valor dado às conservas culturais leva à perda da
espontaneidade e diminuição do nível de expansividade afetiva, que são segundo
Moreno, a possibilidade de renovação e de transformação da vida. Sabendo-se que, na
sociedade industrial moderna, os papéis profissionais são os que ocupam a maior parte
do tempo dos seres humanos, e que as pessoas passam mais tempo em seu contexto de
trabalho do que em qualquer outro, fica claro que as organizações exercem grande
influência em sua capacidade intelectual e cultural, e por isso é preciso facilitar o
questionamento e a crítica dessas contextualidade profissional.
Estes papéis profissionais não são desenvolvidos espontaneamente, como os
outros papéis sociais, pois os indivíduos são colocados dentro destes papéis quando eles
já estão pré-determinados pelas relações de produção, não havendo a possibilidade de
seu desenvolvimento ser natural, partindo de uma matriz de identidade, das suas relações
com o trabalho, como preconiza a teoria psicodramática. Não é o ser histórico que
desempenha esses papéis, mas o imediatizado, não é o homem por inteiro, mas o
22
particular, suas significações não são suas, não procedem do senso comum. Dessa
forma, não é o drama que se instala na vida do trabalhador, mas a tragédia.
Há uma ambivalência dentro das organizações: de um lado, a necessidade dela
sobreviver enquanto sistema, desconsiderando a humanidade e, de outro, que ela não
consegue existir sem seus trabalhadores, e por isso, impõe a despersonalização,
reprimindo a espontaneidade e, embotando o nível de expansividade afetiva desses
indivíduos. Assim, o conflito que existe na relação do capital com o trabalho fica
cristalizado a ponto de nem ser mais reconhecido como existente, o que atende às
necessidades da sociedade capitalista industrial. “Para reproduzir a sociedade é
necessário que os homens particulares se reproduzam a si mesmos como homens
particulares. A vida cotidiana é um conjunto de atividades que caracterizam a
reprodução dos homens particulares, os quais, por sua vez, criam a possibilidade da
reprodução social.” (HELLER, 1977, p.19).
Esses trabalhadores, de acordo com Heller são os sujeitos especializados, que
estão em posição não-crítica da situação, impossibilitados de criar o que ela chama de
"surplus cultural e surplus conhecido". Suas necessidades não são as necessidades
humanas, mas sim, as necessidades criadas pela estrutura social e que não conseguem ser
satisfeitas, são as necessidades radicais. "O surplus cultural é ainda hoje gerado no
interior da vida cotidiana. Se absorvido pela objetivação para-si chamada ciência, tornase combustível da ciência revolucionária. Se absorvido pelas objetivações para-si
concorrentes (arte, filosofia e religião), pode alimentar a crítica, seja de nossa estrutura
social ou da visão dominante do mundo." (HELLER, 1977, p.133).
Encontramos assim o trabalhador em um alienado cotidiano de produção, onde o
seu mundo não é o mundo vivido, mas o mundo dado por aqueles que decidem como
deve ser a produção, onde o indivíduo não pode ser espontâneo, onde não há beleza,
nem bondade, nem verdade. Esse acaba sendo o espaço da objetificação, dessas formas
de comportamento singulares, essas ações automatizadas, corriqueiras, mais ligadas à
externalização e à coisificação. Onde fica difícil acontecerem mudanças, já que para elas
existirem é preciso haver a superação do conflito entre a espontaneidade e a conserva
cultural, entre o individual e o coletivo, entre o universal e o particular, gerando tensão
entre elas e possibilitando a emergência de uma nova situação ou forma. Sem o
parâmetro da alteridade, não se pode discutir liberdade nem autonomia.
23
Parece que Dejours (1992) também considerava esse fato quando escreveu que
"o vivenciado e as condutas são fundamentalmente organizadas pelo sentido que os
sujeitos atribuem á sua relação no trabalho." (DEJOURS, 1992, p.140). Na medida em
que o indivíduo voltar seu olho para o processo social mais do que para o resultado final
de seu trabalho; na medida em que reconhecer como o melhor momento, o momento
presente, pois no cotidiano a delimitação do tempo é mais importante do que o espaço;
na medida em que representar seus papéis profissionais nestas novas condições de crítica
às relações dentro da organização; então, ele estará buscando a solução para o seu
drama. É o próprio homem a possibilidade de criação e transformação, de liberdade da
dominação, de felicidade.
IV.
PSICODRAMA NA PÓS-GRADUAÇÃO
As mudanças apresentadas nos últimos tempos pelas organizações públicas,
privadas ou sem fins lucrativos, em seus modelos de produção, têm sugerido que suas
estruturas hierárquicas e suas relações internas de poder, de liderança e de comunicação
também estão mudando. Associadas a isto, as constantes inovações tecnológicas e as
transformações na sociedade estão forçando as pessoas, principalmente as que já têm
carreira profissional, a buscarem novas respostas e novos conhecimentos que os
reposicionem com essa realidade.
Mais recentemente, estas transformações têm sido mais incisivas nas questões
sociais, nas relações humanas e em todos os meios organizacionais, de forma que, aquele
modelo linear e burocrático que era até então assumido pela maioria das organizações,
está dando espaço ao surgimento de um modelo de estrutura organizacional mais
complexo e mais instável, que exige o reconhecimento e a valorização do ser humano
nesse cenário, principalmente pelo conjunto de competências e de conhecimentos que
pode ser utilizado para estabelecer relações diferenciadas de poder no mercado global.
Para atender a essa demanda, os sistemas de ensino superior e de educação
corporativa estão sendo estimulados a produzir respostas imediatas às necessidades das
organizações, que se veem obrigadas a investir grandes valores na capacitação de seus
profissionais, pois que, seu maior desafio neste terceiro milênio é o de promover uma
gestão baseada em competências e aprendizagem corporativa, como processo contínuo e
24
transformador de suas atividades produtivas e sociais (sempre com vistas no poder
econômico).
É dessa maneira que a oferta de programas de pós-graduação que desenvolvam
competências pessoais e profissionais, bem como, a aprendizagem de equipes e da
organização como um todo, tem surgido por todo o território nacional de forma
vertiginosa. O mercado de trabalho anseia por profissionais especializados na área
estratégica e reflexiva do conhecimento, que transcenda o tático e operacional, e que
faça emergir uma atitude profissional mais espontânea e criativa, determinando a
capacidade de refletir e agir de forma ampla e complexa.
Assim, os cursos de pós-graduação pretendem trazer como proposta central o
desenvolvimento das relações humanas e sociais que estão inseridas nesta rede
organizacional, prevalecendo-se da experiência com que os professores tem atuado há
anos. É dessa maneira que o Psicodrama participa como metodologia técnica e
fundamentação teórica, fornecendo ferramentas para o profissional em suas estratégias
organizacionais, mas também, permitindo uma compreensão das relações entre os
conceitos psicodramáticos e as práticas mercadológicas.
Apresentando uma leitura histórico-crítica da Socionomia, enquanto corpo
organizado de conhecimentos e, fazendo um percurso por seus fundamentos e
posteriores desenvolvimentos durante as aulas dos cursos de pós-graduação, o
Psicodrama permite a construção de um olhar crítico em relação aos fenômenos
abordados nos estudos organizacionais e de mercado, especificamente das áreas
envolvidas com a gestão de pessoas.
Para o desenvolvimento dessa leitura crítica, são revistas as concepções de
homem que fundamentam a teoria psicodramática, centradas na espontaneidade criadora
e na construção das diferentes formas de atuação organizacional, suas linguagens e seus
diversos papeis sociais. Tudo isso com o objetivo de conhecer os fundamentos da visão
psicodramática, a partir do conhecimento teórico e histórico e, possibilitar uma reflexão
ética e estética, potencializadora da espontaneidade criadora.
Enquanto metodologia de ensino superior, o Psicodrama precisa estar associado
aos fundamentos epistemológicos da Andragogia, por ser a mesma considerada como a
arte ou a ciência de orientar adultos a aprender. Ou seja, nos contextos sociais do ensino
superior, a prática educativa deve estar voltada para o adulto, em contraposição as
práticas da pedagogia, que são eminentemente voltadas para as crianças e os jovens
25
ainda em formação, visto que segundo a Andragogia, o adulto aprendiz usa como fonte
de aprendizagem suas próprias experiências, pois o conhecimento vem da realidade, da
escola e da vida (Romaña, 1986).
De forma complementar, o Psicodrama oferece diversos recursos práticos para o
educador e é extremamente coerente com o que há de mais moderno no pensamento
pedagógico, pois atualmente as universidades têm a necessidade de implantar
metodologias de ensino interativas, onde o aluno participe da construção do seu próprio
conhecimento. Isto pode ser afirmado porque o Método Pedagógico Psicodramático,
segundo Romaña (1986), é a “arte de perguntar, de situar o aluno diante de um problema
a ser resolvido para que ele mesmo encontre a resposta adequada”.
A associação do método de ensino psicodramático ao método de ensino dos
adultos está na possibilidade do aluno entrar em contato com o conhecimento que ele já
possui, no qual existe uma valorização do conhecimento já adquirido em outras
experiências anteriores, fato que ocorre porque o aluno apropria-se do valor do seu
conhecimento juntamente com os outros, dentro de um mesmo contexto cultural.
Ainda baseando-se em Romaña (1985), é possível dizer que o método permite ao
professor testar numa situação “viva” ou real, a validade do conhecimento que foi
incorporado através da rotina educativa, das aulas expositivas, dos debates e dos
trabalhos em grupos.
Na concepção do Psicodrama Pedagógico, o conhecimento “é propriedade do
aluno que se conhece, não deveria ser vivenciado como se pertencesse exclusivamente
aos livros ou aos professores”; assim, o conhecimento deve ser algo construído, de
forma interativa entre professor, aluno e contexto educacional, que são os três pilares do
encontro com o conhecimento (Romaña, 1986). Isto quer dizer que, é na construção das
significações sobre suas experiências educacionais que o aluno confere sentido ao seu
conhecimento, atingindo níveis cada vez mais sutis de abstração e de generalização, de
maneira que ocorra a identificação mais plena possível, entre aquilo que está sendo
aprendido e aquele que está conhecendo.
Outro aspecto relevante desse processo envolve a espontaneidade, que também é
uma característica humana importante para que ocorram essas mudanças e comece a
aquisição do conhecimento. Como já se falou neste trabalho, para Moreno (1972) a
espontaneidade é entendida como a capacidade de dar respostas adequadas e originais às
26
situações e problemas que a vida nos apresenta, além de constituir-se como um fator que
o ser humano tem para responder com criatividade aos desafios que ele experimenta.
De outro modo, “ser espontâneo significa estar presente às situações,
configuradas pelas relações afetivas e sociais, procurando transformar seus aspectos
insatisfatórios” (GONÇALVES, 1988). Assim, a metodologia psicodramática aplicada
ao ensino de pós-graduação pode ser entendida como a arte situar o aluno diante de um
problema a ser resolvido para que ele encontre a resposta adequada, elaborando
conceitos, a partir das experiências educacionais significativas, junto a um mestre,
professor ou orientador, de forma a desenvolver sua expressividade na interação com
seus papeis profissionais/complementares.
Esse processo educacional pode ser realizado em situações concretas e precisas
capazes de sensibilizar os grupos de alunos a elaborar mudanças, avaliando seu trabalho
em equipe, e valorizando o aprendizado interacional e cooperativo. Ao mesmo tempo em
que os alunos participantes incorporam essa metodologia psicodramática, eles constroem
seus conhecimentos, pois, além de elaborar suas idéias, também elaboram suas imagens e
representações mentais, o que faz ampliar sua experiência em relação ao espaço e ao
tempo.
V.
COLETA DE DADOS
Esse trabalho levantou alguns questionamentos sobre a prática psicodramática no
ensino de pós-graduação nas universidades, principalmente, na área que enfoca a gestão
de pessoas nas organizações.
Seu referencial teórico destacou o aspecto de que o Psicodrama tem sido
utilizado no campo organizacional desde meados do século XX e, no seu processo de
desenvolvimento histórico, enquanto ciência aplicada, tem se dedicado à adequação
espontânea dos indivíduos aos fins definidos por suas organizações, permitindo ações
efetivas relacionadas a trabalhos em equipes, redução de conflitos, integração de
profissionais às condições de trabalho, seleção de pessoas etc. Tal contribuição tem
incentivado a existência de disciplinas relacionadas à aplicação do Psicodrama sócioeducativo no contexto organizacional.
Mas, era preciso saber com qual intenção essas disciplinas psicodramáticas têm
sido ensinadas nesses cursos? Qual tem sido seu conteúdo, como tem sido seus
27
professores e com que compromisso elas têm sido desenvolvidas? Também era preciso
questionar se estava havendo alguma reflexão crítica sobre a perspectiva moral e ética
nessa prática educacional?
A pesquisa foi realizada durante um período de seis semanas, acompanhando o
tempo determinado para a docência da disciplina envolvida com o trabalho, e sua
realização foi estruturada da seguinte maneira:
1. Amostra
Este estudo incluiu 54 universitários, homens e mulheres, cuja faixa etária variava
entre 27 e 52 anos, graduados em diferentes áreas de formação, e profissionais
empregados em diferentes atividades empresariais. Essas pessoas todas freqüentavam a
mesma sala de aula, em 2010, numa disciplina chamada de Gestão estratégica de
pessoas, de um curso de pós-graduação em Liderança e Gestão de pessoas e equipes,
numa instituição de ensino superior particular da cidade de São Paulo.
2. Procedimentos
Para que a pesquisa fosse realizada, foram planejados dois momentos diferentes
de intervenção: primeiramente, foram realizadas 24 horas/aula da disciplina de Gestão
estratégica de pessoas, para alunos de um curso de pós-graduação em Liderança e
Gestão de pessoas e equipes; em segundo lugar, foram realizadas duas atividades de
avaliação, uma de aprendizagem e outra de reação, ao final da última aula dessa mesma
disciplina.
Após aprovação da instituição de ensino, esses alunos foram convidados a
participar da pesquisa sendo informados que o estudo fazia parte de um projeto maior
relacionado à pesquisa sobre a identidade profissional do gestor de pessoas no Brasil. O
estudo
foi
descrito
inicialmente
como
investigação
de
atitudes,
opiniões,
comportamentos relacionados à prática profissional dos gestores de pessoas, para evitar
algum viés na pesquisa sobre a metodologia psicodramática.
Todos os estudantes aceitaram participar do estudo voluntariamente e foram
informados de que as respostas seriam absolutamente confidenciais. Para tanto, os
cadastros preenchidos foram identificados apenas com um número de protocolo, de
modo a manter a confidencialidade.
28
A administração da metodologia psicodramática foi coletiva e conduzida pela
pesquisadora autora desse texto e seu desenvolvimento se deu durante o tempo de
permanência normal em sala de aula.
2.1. Desenvolvimento da disciplina
O desenvolvimento da disciplina Gestão estratégica de pessoas aconteceu durante
24 horas/aula, distribuídas em 6 encontros semanais de 4 horas/aula cada um, e
obedeceu ao plano de disciplina aprovado pela coordenação do curso cujo teor encontrase resumido abaixo:
DISCIPLINA: Gestão Estratégica de Pessoas
Ementa:
Mudança e transformações; Tendência de Mudanças na Gestão de Pessoas das
Organizações; Alinhamento da Gestão de Pessoas com a estratégia empresarial;
Gestão das Relações Interpessoais.
Objetivos:
Refletir sobre o novo cenário de Gestão de Pessoas, conhecer as suas áreas
estratégicas, reconhecer a importância do fator humano para utilizar os
conhecimentos adquiridos na obtenção de resultados para a Organização.
Metodologia aplicada em sala de aula:
Durante as aulas foram desenvolvidas sessões de Psicodrama sócio-educativo,
com fundamentação sugerida pelo Psicodrama pedagógico, conforme abordado nos
capítulos anteriores deste trabalho.
A utilização das técnicas clássicas psicodramáticas, de jogos dramáticos
estruturados pela pesquisadora e de exercícios com objetos intermediários, compuseram
as atividades docentes, sempre focalizando os questionamentos sugeridos pelo texto
anteriormente, além de procurar atingir também os objetivos de emancipar os
participantes quanto a sua auto-percepção e, simultaneamente, desenvolver seu papel
profissional de gestores de pessoas nas organizações.
29
As intervenções psicodramáticas praticadas em salas de aula seguiram as
sistematizações criadas por Moreno e por Romaña, entretanto, reforçaram a necessidade
de se trabalhar dentro do campo dos papéis sociais secundários, e de não aceitar o
aprofundamento das atividades para o campo dos papéis originários, pois dessa forma,
estaria havendo uma invasão (ainda que solicitada pelo participante), em seu núcleo
interno psicodinâmico (núcleo do eu), o que deveria ser reservados para futuros
atendimentos psicoterapêuticos. Em outras palavras, não era recomendável que se fizesse
terapia na sala de aula, pois as relações entre os alunos não permitiam a
confidencialidade necessária e, nem sempre, respeitavam o contrato afetivo de grupo.
Era preciso estar consciente desse contexto, pois o psicodramatista necessita ter clareza
de quais são as condições em que irá desenvolver suas ações. (Esse trecho do texto
merece destaque, pois nem sempre os leitores estarão familiarizados com as
especificidades psicodramáticas).
Assim, para realizar essas intervenções psicodramáticas foi necessário utilizar
todo o referencial teórico psicodramático para desenvolver duas etapas principais: a préintervenção ou diagnóstico e, a intervenção psicodramática propriamente dita. Portanto,
em cada um dos encontros de 4 horas/aula, se realizava o diagnóstico daquele grupo,
como ele se encontrava naquele encontro e, em seguida, se iniciava com o aquecimento
inespecífico, depois o específico, para a posterior dramatização e seu processamento.
Na primeira etapa, eram diagnosticados o momento e a condição sócio-afetiva
em que se encontravam os participantes, quanto a três aspectos básicos: a história de sua
vida pessoal (fases das matrizes); seu cotidiano organizacional (papéis e redes); e seu
clima de sala de aula (espontaneidade e expansividade afetiva).
Na segunda etapa, eram apresentados ao grupo o conteúdo programado para
aquele encontro, a fim de promover o aquecimento específico, utilizando-se para isso os
argumentos do referencial moreniano que buscam, em última instância, a saúde social.
Eram os próprios alunos que iam estabelecendo os critérios da intervenção, ou seja, o
grupo ia “dizendo” qual era sua demanda, e a intervenção psicodramática era organizada
de maneira a questionar as condições do momento, as origens das necessidades grupais,
as escolhas de caminhos a percorrer e os objetivos que se gostaria de atingir.
Em verdade não havia um tipo uniforme de intervenção psicodramática, havia a
preocupação em manter-se fiel à base teórico-metodológica, mas sem ter um “script”
pronto, ela ia variando em sua ação, pela influência da espontaneidade e da criatividade
30
do grupo, incluindo nesse grupo a professora. Era quase sempre uma construção em
grupo, o que implicava em vários tipos de conseqüências, ou vários tipos de riscos,
desde não se saber onde ia dar o trabalho, até no impasse entre a ética do
psicodramatista e a dos outros participantes (por vezes, alguém sugeria aprofundar a
análise psicológica de algum participante).
Nessa segunda etapa, eram desenvolvidas as técnicas de dramatizações sugeridas
pelo Psicodrama pedagógico: aproximação intuitiva e afetiva; aproximação racional ou
conceitual; e aproximação funcional; para então, haver o compartilhamento entre os
participantes.
A fim de complementar essas informações sobre as atividades, há no final do
trabalho, um quadro-resumo das atividades desenvolvidas nas quarta e quinta aulas de
uma grupo de alunos de pós-graduação do curso de Liderança e Gestão de Pessoas e
Equipes, tendo como tema central, o desenvolvimento do papel de líder (ver apêndice
1).
2.2. Desenvolvimento de atividades de avaliação
Foram realizadas duas atividades de avaliação, uma de aprendizagem e outra de
reação, ao final da última aula dessa mesma disciplina.
A avaliação de aprendizagem consistiu na elaboração individual de um texto
escrito a partir de uma analise crítica da situação em que se encontrava a organização na
qual cada um deles trabalhava, destacando para isso, os conceitos aprendidos durante a
aula, assim como, o quanto a metodologia psicodramática havia colaborado para que
essa análise fosse possível e eficaz. Esse texto tinha também a finalidade de servir de
trabalho parcial da disciplina.
A avaliação de reação consistiu no desenvolvimento de um jogo psicodramático,
com a utilização de objetos intermediários, em que os participantes discutiam e
destacavam os pontos positivos e os pontos negativos da metodologia psicodramática
desenvolvida para ensinar o conteúdo programado para a disciplina, incluindo a atuação
da professora.
31
VI.
ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA
Os dados que foram analisados para esse trabalho, vieram das atividades de
avaliação realizadas ao final da última aula, como também, das participações do grupo
em classe durante a realização das aulas. Portanto, também foi realizada análise
qualitativa das informações construídas nas etapas de processamento e compartilhamento
das sessões psicodramáticas, fundamentando-se tal análise com as teorias e os conceitos
trabalhados pela teoria psicodramática.
Os participantes da pesquisa afirmaram que a utilização de técnicas e jogos
psicodramáticos para conhecer e transformar o cotidiano das pessoas que trabalham em
uma organização empresarial facilitou a expressão de pensamentos, sentimentos e ações
dessas pessoas, possibilitando analisar a estrutura das suas objetivações, o que promoveu
a ampliação de seu nível de expansividade afetiva, levando ao desvelar de sua identidade,
sua consciência e suas necessidades.
De acordo com os participantes, a intervenção psicodramática pressupõe uma
observação participante do gestor de pessoas, já que para entrar na dinâmica interna das
redes sociométricas ele tem que estar comprometido objetiva e subjetivamente com o
processo, porque não é possível, no Psicodrama, ser um observador participante
ingênuo.
Neste panorama, o Psicodrama é uma abordagem percebida pelos participantes
como compatível com a relação social em que eles foram inseridos, porque possui um
corpo de conhecimentos teóricos e um conjunto de métodos e técnicas comprometidos
com a liberdade dos seres humanos, acreditando que por meio do questionamento do
mundo dos costumes estabelecidos, há a possibilidade de uma interação com a
totalidade.
Esse resultado é possível, pois, na cena dramática, o sujeito ganha consciência de
si e do mundo e percebe que o nascimento de seus papéis profissionais não pode se dar
sem sofrimento e conflito, mas que há sempre a possibilidade da espontaneidade
criadora.
Foi assim que os alunos do curso de pós-graduação em gestão de pessoas nas
organizações perceberam os resultados: ao participar da investigação científica com
embasamento na teoria socionômica, se depararam com o fato de que o nível de
expansividade afetiva dos trabalhadores aumenta, desbloqueando sua espontaneidade,
32
pois não prioriza a produção e sim o trabalho. Isto tem feito com que os indivíduos
reorganizem e reconsiderem suas relações com a organização e com a sociedade, sem ter
que negá-las ou submeter-se a elas, mas transformando-as esclarecidamente.
Essas percepções poderiam redefinir seus papeis de gestores de pessoas como o
de profissionais que não pretendem controlar irresponsavelmente os trabalhadores e sim,
ajudá-los a elaborar sua relação com o trabalho, a buscar sua essência, a catalisar a
transformação do cotidiano até a melhoria da organização de seu trabalho, na integração
de sua identidade com espontaneidade e criatividade.
Como exemplo dessa experiência, vão aqui apresentadas, as sínteses das aulas de
numero quatro e cinco com uma turma de pós-graduação:
4o e 5º. Encontros
Objetivos
 integração entre os alunos
 desenvolvimento do papel profissional de líder
 identificar crenças e valores atuais na cultura organizacional
 despertar o auto-conhecimento e o conhecimento dos outros
 elaborar um plano de ação específico para remover barreiras no desempenho
do papel profissional
Diagnóstico grupal
 A partir dos dados analisados puderam ser levantadas algumas hipóteses
quanto ao momento em que a classe estava vivendo: os alunos estavam passando por um
momento de transformação cultural, de um modelo autoritário-dependente para um
sistema mais participativo. Havia, portanto uma alternância na dinâmica do
comportamento coletivo, ora com expectativas conservadoras, de centralização de
responsabilidades e tarefas nos professores e coordenadores; ora, com perspectivas de
crescimento, compromisso com suas responsabilidades e colaboração com novas ideias.
 Essa fase de mudança provocava insegurança e falta de confiança mútua, o
que levava à falta de cooperação e falhas na comunicação. É com se houvesse uma
confusão entre a segurança do velho esquema conhecido (ainda que totalmente
insatisfatório) e a insegurança do novo sistema de aprendizagem, do qual não se tem
certeza dos riscos.
33
 Essa confusão gerava tensão e ansiedade, individualismo e isolamento,
portanto, falta de espírito de equipe em alguns alunos; havia um núcleo de resistência
(formado pelas pessoas que estavam com mais medo) e que emperravam o processo de
desenvolvimento.
Resultados
 participação ativa de todos os presentes no encontro, trazendo muitas
contribuições e exemplos de situações vivenciadas no local de trabalho
 interesse e compromisso com os objetivos do grupo
 identificação de dificuldades de comunicação
 identificação de imaturidade profissional de alguns integrantes do grupo
 clareza quanto a condição de insegurança frente às pressões que veem
recebendo em suas organizações empresariais
 clareza quanto a condição de indefinição de atitudes, frente às mudanças
organizacionais que estão ocorrendo
 resistência à mudança, gerando tensão e ansiedade, individualismo e
isolamento
Por meio das atividades desenvolvidas nos encontros, do comportamento
manifesto dos participantes, de suas verbalizações, e da observação direta, foi possível
levantar que o grupo:
- foi bastante participativo, trazendo muitas contribuições e exemplos de
situações vivenciadas no local de trabalho;
- expôs-se nas diferentes situações, deixando transparecer suas virtudes
(interesse, compromisso, etc.) e deficiências (falhas de comunicação, imaturidade
profissional de alguns elementos, etc.);
- tem homogeneidade, composto por profissionais com expectativas semelhantes
em relação ao trabalho;
- não apresentou liderança inibitória, sendo que surgiram lideranças
espontaneamente, decorrentes das situações vivenciadas em grupo, o que permitiu uma
participação homogênea;
34
- possui elementos conflituosos, estando todos inseguros quanto às pressões que
veem recebendo;
- demonstrou coesão dentro dos objetivos a que este projeto se propôs.
VI - CONCLUSÕES
Moreno disse certa vez que, o Psicodrama é "a psique em ação" (Moreno, l984,
p. 82). Os resultados apontam que é correto concordar com ele. O trabalho dos gestores
de pessoas em organizações ao longo do tempo tem confirmado essa idéia.
Com o Psicodrama, o cotidiano dos trabalhadores pode dar conta da tensão
entre a alienação e sua superação, pois a prática psicodramática exige uma concepção de
sujeito como ator e autor social, como indivíduo e sujeito. Nela o trabalhador pode ser
aquele que modifica o ambiente, que tem unidade e que mantém o controle sobre o seu
mundo vivido. Em outras palavras, há um novo caminho no processo de desfetichização
desse ator, a ação espontânea e criativa de cada um e que leva à responsabilização de
todos por todos.
Foi dado ao homem, um poder natural que lhe oferece grandes
possibilidades de triunfar em sua luta contra a máquina: este
poder se acha ligado à expansividade afetiva de sua energia
social espontânea, levada até um grau que, todavia, é
desconhecido (MORENO, 1972, p. 198).
Existe a probabilidade de que os indivíduos se mantenham no nível de
expansividade afetiva ao qual aspiram, seguindo suas inclinações naturais e unindo-se
espontaneamente aos grupos que os atraem, sem nenhuma determinação de transformálos ou levá-los a uma conduta "normal", mas respeitando a reorganização dos grupos a
que fazem parte.
Sua integração pode ocorrer cada vez que encontrarem seu lugar na coletividade,
com regras e leis que respeitem as interações sociais e os interesses coletivos, permitam
equilibrar as forças espontâneas sociais para um maior proveito da harmonia e da
unidade geral.
Assim, o trabalho sócio-educacional psicodramático é de fato o ato criador,
característica natural humana, a possibilidade de sobrevivência. Ao recuperar a
35
espontaneidade e a criatividade, por meio da expansão da afetividade, o Homem estaria
novamente diante da possibilidade da sua integração.
Com certeza, há a possibilidade de se caminhar para esta nova ordem das coisas,
de se dar um passo nesta direção: ao se ampliar a expansividade afetiva, a repressão da
espontaneidade é diminuída ou até eliminada, e assim, é possível resgatar a
espontaneidade dos membros da organização, o que levaria a relacionamentos sociais
mais verdadeiros (télicos) e mais conscientes.
É dessa maneira que se veria aproximar a superação do conflito capital-trabalho
(mesmo sabendo que para isso necessita-se de mudanças em outras instâncias também),
por meio da melhoria das relações entre o indivíduo e trabalho até uma reorganização
mais próxima de sua rematrização psicodramática.
Retomando para finalizar, pode-se dizer que o trabalho desenvolvido aqui teve
como principal meta uma intervenção que encaminhasse esses problemas para a
recuperação dos valores e da identidade de um grupo de alunos de pós-graduação, para
o seu desenvolvimento pessoal e organizacional, integrando a classe tal qual uma equipe
saudável, favorecendo experiências de cooperação e comunicação interpessoal.
Segundo parecer dos próprios participantes, ao final o objetivo desta etapa foi
alcançado quer dizer, o grupo não terminou esse trabalho com muita euforia, mas, esteve
muito consciente do seu potencial e também de suas limitações.
Por fim, pode-se afirmar que à medida que o indivíduo volta seus olhos para o
processo social mais do que para o resultado final de seu trabalho; na medida em que
reconhece como o melhor momento, o momento presente (pois no cotidiano a
delimitação do tempo é mais importante do que o espaço); na medida em que representa
seus papéis em novas condições de espontaneidade e criatividade, tecendo críticas
saudáveis às relações dentro das organizações; então, ele está buscando a solução para o
seu drama. Como disse Moreno, e com ele se concorda: é o próprio homem a
possibilidade de criação e transformação, de liberdade da dominação, de felicidade.
36
VII.
BIBLIOGRAFIA
ARGYRIS, C. Intervention theory and method: a behavioral science view. Massachusetts:
Addison-Whesley, 1973.
BERMUDEZ, J.C.R. Introdução ao Psicodrama. São Paulo: Mestre Jou, 1980.
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FATOR, T. Razão e sensibilidade: os resultados de intervenções psicodramáticas em
organizações empresariais. Dissertação de Mestrado. PUC-SP. 2004.
FREUD, S. El mal estar en la cultura. 17a. reimpressão. Madrid: Alianza Editorial, 1993.
GONÇALVES, C. S. et al. Lições de Psicodrama. São Paulo: Ágora, 1988.
GRANJO, M. H. B. AGNES HELLER: Filosofia, moral e educação. Petrópolis: Ed.
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SCHEIN, E. H. Organization psychology. Englewood Clifs: Prentice-Hall, 1980.
ROMAÑA , M.A. Psicodrama Pedagógico. Campinas: Papirus, 1985.
APENDICE 1
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM LIDERANÇA E GESTAO DE EQUIPES
AULAS DE DESENVOLVIMENTO DO PAPEL DE LIDER
37
DPL
4ª. aula
Tempo
Etapa
Apresentação
20`
Aquecimento
inespecífico
30`
Aquecimento
específico
20’
Dramatização
30’
Processament
o
20’
INTERVALO
Aquecimento
especifico
20’
10’
Dramatização
70’
Processament
o
20’
Conteúdos
mais
importantes
Atividades
do professor
Atividades dos
alunos
Materiais
requeridos
Metas
Apresentação
do RH e da
R/S
Justificativa e
objetivos do
módulo sobre
lider
Apresentação
dos
participantes
e integração
Levantamento
das
expectativas
do grupo
Expor
Escutar e
compreender
Flipchart
Proposta de
prática da
liderança
Coordenar e
comentar a
atividade
Jogo: nós,
figuras e cores
Peças do jogo
Estabelecime
nto de
rapport
Coordenar as
atividades do
jogo: nós,
figuras e
cores
Comunicar suas
expectativas
quanto ao
desenvolvimento
de sua liderança
Peças do jogo
conceitos de
líder e
liderança
Incentivar a
percepção e a
reflexão
Realizar
brainstorming
Encenação de
uma partida de
futebol
Participar do
brainstorming
Sucatas
reflexao dos
conceitos
Flipchart
Conceito de
líder e
liderança em
grupo
Recuperar os
principais
momentos
Contextualiza
r a
organização
Sintetizar as
idéias
Participar da
exposição
Flipchart
Retomar os
conceitos
Jogo:
identidade
organizacional
Participar da
síntese
Folhas
coloridas e
canetas
Flip-chart
Quem somos
nessa
organização?
Fixar a folha
de flipchart
com os
conceitos do
grupo
O que é lider?
O que é
liderança?
principais
momentos
Identidade
organizaciona
l
Síntese
38
Reconhecime
nto de limites
e do contexto
PDL
5a.
aula
Tempo
Etapa
Conteúdos
mais
importantes
Atividades
do
facilitador
Atividades
dos
participante
s
Analisar
cenas de
filmes
Materiais
requerido
s
Metas
Projector e
dvd
Reflexão
sobre novas
formas de
liderança
Aquecimento
inespecífico
10’
Analise de
praticas
Incentivar a
analise de
cenas
Aquecimento
especifico
10’
Coordenar a
atividade de
comparação
Comparar
suas idéias
atuais com as
apresentadas
nos filmes
Folhas
avulsas e
canetas
Abertura para
o novo
Dramatização
60’
Comparação
entre seus
conceitos
atuais e os
presentes nos
filmes
Autoconheciment
o
Analisando
figuras
Representar
as figuras
escolhidas
Figuras
Características
da liderança
INTERVALO
Processament
o
20’
60’
Planejamento
estratégico
de liderança
Separar
grupos para
P.E.L.
Formulario
de plano
de ação
Diretrizes e
metas para o
P.E.L.
40’
Apresentação
dos grupos
flipchart
Integração dos
4 grupos
40’
Síntese final
Estimular a
apresentação
dos grupos
Sintetizar os
trabalhos
Elaborar um
plano de
ação
estratégica
de liderança
Apresentar o
P.E.L.
Síntese final
do workshop
39
Participar da
síntese
Encerrar