AVALIAÇÃO DO SAL UTILIZADO NA COMPOSIÇÃO DOS XAMPUS

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AVALIAÇÃO DO SAL UTILIZADO NA COMPOSIÇÃO DOS XAMPUS
AVALIAÇÃO DO SAL UTILIZADO NA COMPOSIÇÃO DOS XAMPUS: UMA
REVISÃO DA LITERATURA
Marcus Vinícius Sousa Gomes1
Joyce Campelo Pires2
RESUMO
O mercado estético cresce a cada dia e a todo o momento surge uma novidade cosmética. Diante
disso as empresas procuram cada vez mais inovar em cosméticos com composições que
prometem verdadeiros milagres, e com xampus não é diferente. O cabelo é considerado o
cartão-postal da aparência e mantê-lo bonito é o desejo de todo o consumidor. É nesse contexto
que surgiu o marketing a respeito do xampu sem sal, em que investiu-se em propagandas
afirmando que produtos “sem sal” seriam de melhor qualidade. O Cloreto de sódio, sal
utilizado, é um importante componente que serve principalmente para dar viscosidade para a
preparação. O objetivo deste estudo é avaliar, por meio de uma revisão bibliográfica a influência
deste componente na qualidade dos xampus comercializados.
Palavras chaves: Xampus. Cloreto de Sódio. Espessante.
1 INTRODUÇÃO
O mercado cosmético cresce cada vez mais no Brasil, em 2011, por exemplo, o
setor de cuidados de higiene pessoal e cosméticos faturou cerca de R$29,4 bilhões, o
que representa 1,7% do PIB brasileiro, segundo dados da Associação Brasileira da
Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), e os produtos de
higiene, hidratação e tratamento capilar estão entre os mais procurados por homens e
mulheres.
Ao longo da história, desde os tempos bíblicos, os cabelos foram alvo da
fascinação de homens e mulheres. Símbolo de poder ao homem, em determinada época
eles mostravam-se uma importante arma de sedução principalmente para a mulher.
(PEYREFITTE, 1998)
Eles estão presentes até mesmo nas expressões populares, afinal de contas quem
nunca ficou de cabelos brancos quando estava preocupado? Ou arrancou os cabelos
quando esteve furioso? Ou ainda ficou de cabelos em pé quando se sentiu horrorizado?
Para Gossens (2004), são os cabelos que emolduram o rosto e, sem duvida, sua
aparência é sempre notada. Quase todos dedicam grande atenção aos cabelos, e com
razão: seu aspecto e sua forma podem transformar rapidamente a maneira de ser e
alterar o estado de equilíbrio das pessoas.
____________________________
1
Faculdades Integradas Ipiranga. Estudante do curso de Estética e Cosmética. E-mail:
[email protected]
2
Faculdades Integradas Ipiranga. Estudante do curso de Estética e Cosmética, 2014. E-mail:
[email protected]
2
Como a pele, para ser bonito o cabelo deve ser saudável e muito bem tratado, sendo
cuidados tanto internamente, quanto externamente. Os cuidados internos estão
diretamente ligados a uma alimentação equilibrada com proteínas, frutas, verduras,
legumes, sem excesso de gordura (GOSSENS, 2004).
Já os externos relacionam-se ao uso xampus e cosméticos capilares apropriados,
evitando-se químicas agressivas, bem como receitas caseiras que podem danificar a
estrutura dos fios (GOSSENS, 2004).
O estágio atual em que se encontra a cosmetologia voltada para formulação de
produtos para tratamento capilar é bastante avançado e complexo (GOMES, 1999).
Como já foi citado, os cabelos são de uma preocupação constante para a estética de
homens e mulheres. Através deles podemos ter indicativos de características peculiares
como o estilo de vida de uma pessoa, o nível de cuidados pessoais, o seu estado de
saúde, a autoestima do indivíduo, dentre outros detalhes. (GOMES, 1999)
De acordo com Hernandez e Fresnel (2008), xampus são produtos destinados à
limpeza do cabelo e couro cabeludo e devem deixar o cabelo solto, fácil de pentear e
brilhante, não devem ser muito detergentes, não devem modificar o PH ácido do couro
cabeludo e não devem irritar os olhos.
MAINKAR (2000), afirma que para o desenvolvimento de novas formulações
cosméticas é de extrema importância a avaliação de alguns parâmetros físico-químico
do produto. Entre os principais parâmetros estão: o volume e estabilidade de espuma
produzida, o PH e a viscosidade. Um bom xampu deve apresentar viscosidade
adequada, e o PH destas formulações também devem ser adequados, de modo a
preservar a saúde do fio do cabelo.
Diante disso, surgem a cada dia novos produtos com a promessa de fornecer ao
consumidor produtos que fazem verdadeiros “milagres”. É nesse cenário que a
tendência dos Xampus sem sal tomou conta do mercado, e passou-se a usar cada vez
mais produtos que não tivessem em sua composição o “temido sal”. (CALLEF et al,
2010) O “sal” presente em xampus é o cloreto de sódio, cujo seu objetivo é dar
viscosidade à preparação através da interação de agentes tensoativos sem que se
ultrapassem limites (COUTO, 2007). Porém há outras substâncias que são capazes de
dar a mesma viscosidade ao produto.
Dessa forma, o novo marketing das empresas prega que os xampus que não
apresentam sal em sua composição são melhores, pois estão associados a uma maior
preservação da estrutura do fio.
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A discussão é grande e a indústria cosmética aproveita-se disso para vender e
passar ao consumidor informações algumas vezes errôneas, aumentando assim o valor
do seu produto no mercado.
Levando-se em consideração as divergências sobre o uso de coreto de sódio em
xampus, este estudo tem por objetivo fazer uma revisão da literatura a respeito dessa
dúvida tão recorrente entre o público consumidor.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 ANATOMIA CAPILAR
O cabelo é uma formação epitelial córnea. Eles emergem a partir dos folículos
pilosos presentes na derme, que apresenta outras estruturas como glândulas sudoríparas
e sebáceas. (BARATA, 2003)
Para Pruneiras (1994), o pelo, de modo geral, é uma estrutura queratínica morta,
secretada pelo folículo piloso. O folículo piloso, formado pelo bulbo piloso onde
encontramos a papila dérmica, produz sem cessar células que são empilhadas e
queratinizadas, dando origem à haste pilar. As paredes do folículo são constituídas de
duas bainhas concêntricas em torno desta haste. Assim constituídas, o folículo piloso se
mostra semelhante a uma glândula holócrina cujo produto de secreção, sólido, é o pêlo.
Para Façanha (2003), o cabelo é formado por três partes: haste ou caule, que é a
parte visível do cabelo; raiz, parte interna do cabelo, localizada na derme e bulbo que é
a parte por onde começa a formação do fio de cabelo. A figura 1 mostra a ultraestrutura
da pele, incluindo seus anexos cutâneos como folículo piloso e glândulas sebáceas.
Figura 1- Ultraestrutura da pele.
Fonte: http://www.clinicadocabelo.com.br/imagens.html
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A haste ou parte livre do pelo é constituída por células mortas queratinizadas,
que estão dispostas em camadas. Ela é também dividida em três partes: cutícula (parte
mais externa), córtex (parte intermediária) e medula (parte interna), conforme mostra a
figura 2. (Hernandez, 2008).
A cutícula é formada por células em plaquetas, encaixadas, dispostas ao longo
do eixo longitudinal do pêlo. São translúcidas, sem pigmentos e totalmente
queratinizadas. Parecem escamas que estão coesas mediante um cimento rico em ácidos
aminados. (BARATA, 2003)
Figura 2- Estrutura do fio de cabelo.
Fonte: Google Imagens
Por ser transparente, a cutícula, por sua função principal (proteção do córtex),
deve-se manter sempre coesa na haste capilar, ou seja, fechadas para impedir que
umidade e nutrientes saiam com maior facilidade de córtex.
Enquanto no cabelo normal essas escamas estão justapostas ao eixo do cabelo, o
mesmo não acontece no cabelo traumatizado, em que a sua superfície apresenta-se
rugosa e com irregularidades ao longo do fio (BARATA, 2003).
O córtex, a parte média do cabelo, é composto por células queratinizadas, em
forma de fuso e perfeitamente ligadas umas as outras. A sua disposição estrutural e
ainda a natureza química das suas fibras, permite modificações momentâneas ou
permanentes. A queratina, que o compõe, possui ainda a particularidade de apresentar
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carga negativa, o que permite reter, de certa forma, partículas de carga contrária
(BARATA, 2003).
É nessa região que estão dispostos grânulos de melanina que originam a cor do
cabelo. Além de dar cor aos fios, é responsável pelas características de elasticidade,
resistência.
As transformações químicas permanentes, colorações, reflexos e entre outros,
acontecem no córtex capilar alterando sua estrutura, sendo que estes procedimentos
apresentam um PH alcalino, como por exemplo, alisamento e relaxamento com PH
acima de 10.
A medula está situada no centro da fibra capilar e sua presença ao longo do fio
geralmente é descontínua ou ausente em alguns casos. Parece que as células que a
compõe rapidamente degeneram, deixando espaço para bolhas de ar. Em humanos, o
seu papel ainda é desconhecido, porém em alguns animais, esta estrutura alveolar parece
possuir um papel essencial na termo-regulação (KOHLER, 2011).
No cabelo saudável, como na figura 3, essa três camadas estão completamente
unidas e seladas devido às proteínas, ceramidas e a gordura natural dos fios, formando
uma espécie de cimento intercelular. Se houver deficiência desses componentes
naturais, as escamas se abrem deixando a estrutura interna exposta e frágil. Os fios
tornam-se sensíveis e podem se abrir no sentido do comprimento.
Figura 3- Micrografia Eletrônica de Varredura da Haste de um cabelo saudável.
Fonte: Ana Carolina Santos Nogueira
Tonin (2008) afirma que em uma haste capilar saudável, o córtex encontra-se
totalmente isolado do meio externo por várias camadas de células justapostas, as
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cutículas. Assim como ocorre na pele, as cutículas sofrem um constante processo de
agressão do meio ambiente, resultando em fragilização e consequentemente erosão da
haste pilar. Práticas diárias como lavar, pentear, secar com toalha ou secador e passar as
mãos nos cabelos também provocam o desgaste dos fios, tornando perceptível medida
que ele cresce, apresentando características semelhantes aos tratados quimicamente.
Além disso, de acordo com estudos de Nogueira (2003), há o envelhecimento da
fibra resultante da radiação solar UVA-UVB, que acaba desvitalizando os cabelos
devido aos radicais livres que se formam em decorrência da exposição a esta forma de
energia.
2.2 COMPOSIÇÃO DOS XAMPUS
De acordo com Barata (2003), um xampu é um produto cosmético apresentado
sob a forma de líquido transparente ou opaco, de creme, ou espuma sob pressão e
formulado a partir de substancias tensoativas, que apresentam propriedades molhantes,
detergentes, emulsionantes e formadores de espuma.
O xampu é uma preparação, que tem como função limpar os cabelos, deixando-os
suaves, flexíveis, brilhantes e fáceis de pentear. As sujidades que devem ser eliminadas
por um xampu são constituídas por corpos oleosos, restos queratínicos, derivados
minerais ou orgânicos, poeiras depositadas, restos de produtos cosméticos, entre outros.
(BARATA, 2003)
O poder limpante do xampu geralmente está relacionado à sua capacidade para
remover gordura, sujidades e matéria estranha tanto do cabelo quanto do couro
cabeludo. A gordura aparece no cabelo sob a forma de sebo, composto basicamente por,
50% de glicerídeos, 20% de cera, 10% de esqualeno (um hidrocarboneto de fórmula
C30H50) e 5% de ácidos graxos. (BARBOSA,1995)
Ainda de acordo com Barbosa (1995), o sebo exerce algumas funções
importantes, como revestir a cutícula (a camada mais externa do cabelo), prevenindo a
perda de água do interior do fio capilar, a água tem uma função fundamental para
manter o cabelo macio e brilhante. O revestimento também faz o cabelo parecer liso,
além de prevenir o desenvolvimento de bactérias. O sebo é secretado pelas próprias
glândulas sebáceas localizadas no couro cabeludo e age nas cutículas por capilaridade
nos fios.
No entanto, o mercado não busca apenas por um produto que faça limpeza dos
fios, mas sim que agregue outros tratamentos deixando os fios bonitos e saudáveis,
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sendo que, é obrigação das empresas levar em consideração o tipo de cabelo do seu
público.
De modo geral os componentes de um xampu são:
A) Tensoativos
O principal elemento na composição de um xampu é o surfactante, também
chamado de tensoativo ou o detergente, que pode ser definido como molécula com uma
porção apolar ou hidrófoba, a qual se liga aos lipídios do sebum e a outras impurezas, e
uma porção polar ou hidrófila, que se liga à água, permitindo a remoção e o enxágue do
material desejado. Há quatro categorias básicas de surfactantes: não iônicos, catiônicos
aniônicos e anfotéros. Cada um desses grupos tem diferentes qualidades de limpeza do
couro cabeludo e condicionamento dos fios. Tipicamente, muitos surfactantes são
combinados em uma mesma fórmula para alcançar o resultado desejado (ABRAHAM et
al, 2009).
Para Mota (2007), os tensoativos são substâncias orgânicas que apresentam a
propriedade de reduzir a tensão superficial da água e de outros líquidos utilizados como
componentes básicos na elaboração de xampus. O autor ainda classifica os tensoativos
da seguinte maneira:

Não iônicos: possuem um radical hidrófobo e um hidrófilo. São considerados bons
emulsionantes, umectantes ou solubilizantes. Ex.: Alcanolamidas de ácidos graxos.

Catiônicos: apresentam em solução íons tensoativos positivos, o radical hidrófobo
é um cátion. Possuem características bactericidas e antissépticas, sendo pois sua
aplicação um complemento no tratamento dos cabelos.

Aniônicos: radical ativo é um ânion. De todos os detergentes atualmente são os
mais usados. Devem possuir de 12 a 16 carbonos, característica que proporciona
um melhor poder detergente e espumante. Ex.: Lauril sulfato de sódio, Lauril éter
sulfato de sódio, Lauril éter sulfato de trietanolamina.

Anfóteros: são produtos que em meio ácido formam cátions positivos e em meio
alcalino, ânions carregados negativamente. Ex.: Betaína (ácidos graxos clorados e a
trimetilamina). Utilizados na preparação de shampoos não irritantes para as
mucosas, como xampu infantil, ou associados a outros detergentes conferem ao
produto final efeitos especiais.
B) Sobreengordurantes
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Para se evitar a retirada excessiva de gordura pelo tensoativo, utiliza-se os agentes
engordurantes (MOTA, 2007). Os mais usados: óleo de rícino, lecitina de soja e
derivados da lanolina. (HERNANDEZ;FRESNEL, 2008)
C) Estabilizadores de espuma
De acordo com Mota (2007), popularmente é aceito um xampu que apresente
bom poder espumante, pois acredita-se que o efeito de limpeza encontra-se ligado ao
poder espumante, o que na realidade não ocorre. Pôr exemplo os não iônicos com alto
grau de etoxilação apresentam poder de limpeza bom, porém fraco poder espumante. A
formação de espuma depende do pH da solução, do conteúdo em eletrólitos e da dureza
da água.
Pode-se melhorar ou estabilizar o poder espumante de um xampu pela adição de
vários componentes, tais como carboximetilcelulose, fosfatos, alcanolamidas, etc.
D) Agentes conservantes
Esses agentes têm como finalidade evitar o aparecimento e desenvolvimento de
microrganismos nas formulações dos xampus (fungos, fermentação, etc), que provocam
alterações nas formulações, a curto e longo prazo, comprometendo os requisitos iniciais
do produto. Ex.: Metil e propilparabenos (Nipagin e Nipazol). (BARATA, 2003;
MOTA, 2007)
E) Essências e Corantes
O apelo de marketing é determinante para a elaboração de um produto que
satisfaça as expectativas do consumidor, porém é bom lembrar que a presença destes
produtos pode comprometer a qualidade do xampu, provocando alterações na
transparência, viscosidade, estabilidade e cor final. (MOTA, 2007)
F) Agentes espessantes
O consumidor associa, normalmente, a qualidade de um xampu à sua viscosidade,
mas na maioria dos casos, esse aspecto deriva de condições comerciais (BARATA,
2003). De acordo com Hernandez e Fresnel (2008), um xampu muito líquido é pouco
prático e é preciso que tenha uma consistência suficiente firme.
Os principais espessantes utilizados são: eletrólitos (NaCl, NH4Cl, etc), amidas,
betaínas oleato de decila, polímeros, gomas, derivados da celulose, entre outros.
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É neste momento que a polêmica sobre o uso de sal acontece.
A maior parte da sujeira do cabelo adere na camada de sebo. Se o sebo puder ser
removido, as partículas sólidas de sujeira também o serão. A água fria, por si só, não
consegue dissolver gotículas de sebo (lipofílicas); na presença da micela do sabão ou do
detergente sintético, contudo, a parte central apolar captura as gotículas de óleo,
formando uma emulsão, pois as mesmas são solúveis no centro apolar.
(BARBOSA,1995)
Os detergentes sintéticos e os sabões envolvem em sua fabricação uma base forte
(hidróxido de sódio ou de potássio), e isso faz com que suas formulações apresentem
um pH (medida da acidez e basicidade de um material) acima de 7 (alcalino). Além
disso, os sabões podem reagir com a água, fazendo com que também o meio se torne
alcalino (BARBOSA, 1995).
Ainda segundo Barbosa (1995), como o PH fisiológico da pele e seus anexos é
ácido, devido à produção de ácidos graxos pelas glândulas sebáceas, o uso de
determinados tipos de xampus pode produzir no pH do cabelo mudanças que
promoverão alterações na estrutura capilar.
2.3 O CLORETO DE SÓDIO EM FORMULAÇÕES
Cloreto de Sódio, cuja fórmula molecular é NaCl, é um sal que está presente na
natureza e na água do mar. É essencial para os organismos biológicos, pois além de está
presente na maioria dos tecidos e fluidos corporais, seus elementos desempenham um
papel diverso e bastante importante em vários processos fisiológicos que incluem, por
exemplo, o transporte de nutrientes e resíduos, e o balanço hídrico e de eletrólitos no
organismo (DOMINGOS, 2010).
O cloreto de sódio (NaCl) é o sal mais utilizado em preparações de xampus como
componente para dar viscosidade, aspecto muito valorizado pelo consumidor na escolha
do produto. As principais ações deste nas preparações é limpar e retirar os resíduos dos
fios, fazer espuma, além de dar consistência (COUTO et al, 2007).
O cloreto de sódio é um eletrólito que em meio aquoso libera íons negativos e
positivos. O uso de eletrólitos é barato, eficiente, dissolve totalmente nas formulações e
não se adere à haste capilar.
Além disso, a quantidade desse componente em xampus é relativamente baixa,
dissolvendo-se facilmente durante a lavagem dos cabelos.
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O sal também pode ser obtido nas formulações através de uma reação química
com um tensoativo chamado lauril sulfato de sódio ou o lauril éter sulfato de sódio. A
grande maioria dos shampoos usa o como tensoativo, ou seja, embalagens que dizem
não conter sal podem estar enganando o consumidor, pois por mais que não seja
utilizado o sal como agente espessante, ele será um produto secundário desse
tensoativo.
3 METODOLOGIA
Este estudo consiste em uma revisão da literatura, onde foi realizado um
levantamento teórico sobre os assuntos envolvidos na pesquisa. Inicialmente foram
utilizadas fontes bibliográficas do acervo da biblioteca da Faculdade Integrada Ipiranga,
baseando-se na checagem manual de referências literárias e capítulos de livros que
estavam de acordo com o tema da pesquisa.
Em seguida foram pesquisados artigos encontrados no banco de dados do
Google Acadêmico, bem como disponíveis na rede Scielo e Science Direct. Os critérios
de inclusão foram o ano de publicação (de 1998 a 2014), disponíveis em língua
portuguesa, inglês e espanhol. Os riscos se limitam à utilização de dados desatualizados.
Para os comandos de pesquisa foram utilizadas algumas palavras chaves como
“Química Capilar”, “Espessantes” e “Cloreto de sódio em Xampus”.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inúmeros estudos ao longo dos anos trataram dos cabelos unicamente do ponto
de vista anatomo-fisiológico, no entanto poucos deram enfoque às alterações
decorrentes da utilização de produtos estéticos que aparentemente não causariam dano
algum. Este estudo propôs, por meio de uma revisão da literatura, avaliar a influência do
sal utilizado em uma formulação tão comum, e muitas vezes de uso diário, como o
xampu, tendo em vista o grande apelo de marketing acerca do xampu “livre” de sal.
O primeiro ponto a se discutir é que não existe um xampu que seja totalmente
livre de sal. Como já foi dito ao longo desse estudo, o sal presente em xampus é o
cloreto de sódio (NaCl), utilizado como agente espessante, ou seja, dando mais
viscosidade à grande parte das formulações cosméticas. Sem esse composto, a utilização
dos xampus seria muito mais complicada, visto que, a formulação seria totalmente
aguada.
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Produtos que vendem a idéia de um xampu totalmente sem sal é falsa. Existem
inúmeros componentes, e com as mais diversas funções, na sua formulação que
apresentam tanto cloro quanto sódio em suas moléculas e que de uma forma ou de outra
acabarão liberando esses compostos no preparado, como o caso do tensoativo chamado
Lauril sulfato de sódio, presente nos rótulos da maioria dos xampus sejam eles “sem
sal” ou não.
Porém o cloreto de sódio não é o único agente espessante utilizado atualmente.
Segundo estudo de Caleffi et al, ao analisar 13 formulações de xampus sem sal entre
linhas comerciais e profissionais, observou-se a presença de ésteres de acido graxo
(PEG), Cocamide DEA, derivados de gomas (Guarhydroxypropyltrimonium chloride)
além de outros espessantes, cujas percentagens estão presentes no gráfico1.
Gráfico 1- Comparativo entre os espessantes mais utilizados na substituição do
cloreto de sódio na formulação de xampus.
Fonte: Adaptado de Caleffi et al.
Vale lembrar que alguns agentes espessantes alternativos são matérias-primas
com custo mais elevado do que o cloreto de sódio, como consequência, o preço
mercadológico dos xampus com esses agentes tende a ser maior se comparado aos que
utilizam o cloreto de sódio.
De acordo com Haag et al (2005), existe uma quantidade ótima de eletrólitos que
são adicionados às formulações para dar viscosidade, ou seja, acrescentando
quantidades crescentes de eletrólitos, a viscosidade aumenta até um máximo para
determinada concentração de tensoativo, e depois tende a diminuir, perdendo sua
viscosidade. Ainda de acordo com ela, concentração máxima de sal deve ser de 1% para
que se evitem problemas à viscosidade da preparação.
Estudos de Ferreira et al (2011) demonstram ainda que adição de sal em uma
solução contendo estruturas miscelares faz com que elas se aglomerem formando uma
estrutura cilíndrica, restringindo a sua movimentação e assim dando mais viscosidade à
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solução. No entanto esse sistema pode ser quebrado se muito sal for adicionado,
conforme mostra o gráfico 2.
Gráfico 2- Relação entre viscosidade e concentração de sal.
Fonte: Ferreira et al.
Como é possível perceber, a concentração de sódio utilizado na formulação de
xampus é muito pequena, tão pequena que é facilmente removida durante o processo de
enxague com a água doce.
Outro ponto importante é essa concentração não influencia no pH da preparação,
já que preparações muito alcalinas tendem a danificar os fios.
Segundo estudo de Zanata et al (2012), que avaliou por meio de microscopia
eletrônica de varredura a integridade dos fios de cabelos tratados com xampus a base de
cloreto de sódio e hidroxietilcelulose (outro agente espessante), não houveram
diferenças significativas entre os dois tratamentos, mostrando mais uma vez que o sal
não influência na qualidade dos xampus.
Desta forma, a expressão “sem sal” presente em rótulos de xampus não passa de
uma mera estratégia de marketing.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das informações expostas, podemos dizer que o sal utilizado em
preparações de xampus não danificam as fibras capilares.
A indústria cosmética utilizou esse marketing para estimular no público
consumidor a cultura do xampu sem sal. No entanto, através deste estudo, que foi
realizada por meio de uma revisão da literatura, constatou-se que isso não passa apenas
de um mito.
Por mais que uma preparação não utilize diretamente o cloreto de sódio como
agente espessante, o mesmo pode ser obtido através de reações químicas como com
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lauril sulfato de sódio, um tensoativo muito utilizado que possui uma ação de limpeza
alta.
A quantidade de cloreto de sódio usada é mínima e não se prende aos fios, além
de ser facilmente removida durante o enxague dos cabelos.
Sendo assim, o sal utilizado em xampus não danifica a estrutura os fios, sendo
um componente muitas vezes essencial nas preparações por sua alta ação de limpeza e
baixo custo.
EVALUATION OF SALT USED FOR THE COMPOSITION OF SHAMPOOS: A
REVIEW OF THE LITERATURE
ABSTRACT
The aesthetic market is growing every day and every moment arises a cosmetic novelty. Thus
businesses are increasingly looking to innovate in cosmetic compositions that promise miracles,
and shampoos is no different. Hair is considered picture-postcard appearance and keep it
beautiful is the desire of every consumer. It is in this context that marketing has emerged about
the shampoo without salt, it has invested in product advertisements stating that "no salt" would
be of better quality. The sodium chloride salt used is an important component mainly serves to
give viscosity to the preparation. The objective of this study is to evaluate, through a literature
review on the influence of this component quality shampoos marketed.
Keywords: Shampoos.Sodium Chloride. Thickener.
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