Perfil da indústria de máquinas para madeira no Estado do
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Perfil da indústria de máquinas para madeira no Estado do
Perfil da indústria de máquinas para madeira no Estado do Paraná1 Ruth M. Hofmann2 Dayani Aquino3 Marcelo F. Melo4 Victor Pelaez5 Resumo: O objetivo desse trabalho é traçar o perfil da indústria paranaense de máquinas para madeira partindo dos seguintes indicadores estruturais: porte das empresas, segmentação do mercado, tecnologia, patentes, desenvolvimento de produtos, acesso a crédito, vendas e assistência técnica. O referencial de análise adotado baseia-se, por um lado, nas características estruturais do mercado no qual as empresas atuam e, por outro, na identificação de parâmetros capazes de definir um perfil produtivo e comercial comum à maioria das empresas que constituem o ramo de atividade em questão. A identificação desses parâmetros, em termos quantitativos e qualitativos, permite estabelecer um referencial (benchmarking) de competitividade das estratégias de produção e comercialização adotadas pelas empresas para manter ou alterar o seu posicionamento no mercado. As análises baseiam-se nos dados coletados entre 2005 e 2006 mediante aplicação de questionários em 27 das 45 empresas instaladas no Paraná, Estado que concentra 22% das 195 empresas do ramo de máquinas para madeira no país. A partir desse estudo, constatou-se que essa indústria compõe-se principalmente de empresas de pequeno porte com regime de apropriação fraco, dificuldade de acesso a crédito, baixo dinamismo tecnológico e rotinas de buscas de informações fundamentadas nas atividades de vendas e assistência técnica. Palavras-Chaves: máquinas para madeira, benchmarking, tecnologia, competitividade. Abstract: This paper aims to profile of the Paraná State industry of woodworking machinery from some structural indicators, namely: size of the companies, segmentation of the market, technology, patents, development of products, access to credit, sales and technical assistance. The referential of analysis is based on definition of structural characteristics of the market in which the companies act and in identification of parameters capable to define a common commercial and productive profile the most part of companies who constitute the branch of activity in question. The identification of these parameters, in quantitative and qualitative terms, allows to establish a referential (benchmarking) of analysis on the commercialization and production strategies that the companies adopt to keep or to modify its positioning in the market. The analyses are based on the data collected between 2005 and 2006 1 Este trabalho foi realizado no âmbito do Projeto de Gestão de Inovação Tecnológica em Empresas (Projeto Gite II), desenvolvido pela Divisão de Extensão Tecnológica do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e o Departamento de Economia da UFPR, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). 2 Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). Endereço eletrônico: [email protected] 3 Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). Endereço eletrônico: [email protected] 4 Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). Endereço eletrônico: [email protected] 5 Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Endereço eletrônico: [email protected] by means of questionnaires application in 27 of the 45 companies installed in Paraná, which concentrates 22% of the 195 companies of the branch of woodworking machinery in Brazil. The study evidenced that this industry is composed mainly by small companies with weak regimen of appropriation, difficulty of access to credit, low technological dynamism and routines of information search based in sales and technical assistance activities. Key-Words: woodworking machinery, benchmarking, technology, competitiveness. Área III - Economia Industrial, da Tecnologia e dos Serviços no Paraná 1 1 – Introdução A indústria de máquinas para madeira constitui-se num segmento da indústria de bens da capital ainda pouco estudado, devido principalmente às dificuldades de obtenção de dados desagregados dos censos industriais capazes de viabilizar a identificação das especificidades produtivas deste segmento. Diferente de outros segmentos do ramo de bens de capital, como a indústria de veículos automotores, equipamentos de telecomunicações ou equipamentos de informática, nos quais existe um dinamismo tecnológico mais evidente, a produção de máquinas para o processamento de madeira, no Brasil, não se destaca por sua capacidade de introduzir inovações tecnológicas significativas. Acrescente-se a isso o fato de que a cadeia produtiva que consome essas máquinas – desde a extração da madeira até a fabricação de peças acabadas ou de mobiliário – também não apresenta um dinamismo tecnológico significativo. Pelo contrário, no caso da extração e do beneficiamento da madeira no Brasil, essas se caracterizam por serem atividades ainda fortemente baseadas no extrativismo, com uma herança produtiva baseada na ilegalidade predatória de florestas tropicais. A abundância de recursos naturais, juntamente com a inépcia do poder público no controle da depredação dos recursos florestais, revela-se como um dos principais fatores inibidores do processo de modernização tecnológica em toda a cadeia produtiva da madeira processada. Por outro lado, a escassez de madeiras tropicais levou a um inevitável processo de substituição dessa matéria-prima por madeiras cultivadas e por materiais produzidos a partir do processamento dos resíduos de madeira (painéis, aglomerados, MDF). Esses materiais têm sido em grande parte utilizados pela indústria moveleira, que se destaca das demais etapas da cadeia produtiva por seu maior dinamismo tecnológico e comercial, principalmente a partir de meados da década de 1990. O surgimento mais expressivo de empresas fabricantes de máquinas para madeira nos últimos trinta anos tem contribuído para uma progressiva, porém lenta, diversificação desse segmento produtivo, bem como para uma expansão das exportações de madeira processada de maior valor agregado (molduras, painéis, compensados, móveis), especialmente a partir de meados dos anos 1990. No segmento de máquinas para madeira, um número reduzido de subsidiárias de empresas estrangeiras – predominantemente de origem italiana e alemã – coexiste com um número significativo de empresas nacionais de pequeno porte, muitas 2 destas criadas por ex-funcionários das filiais estrangeiras. Em que pese um baixo dinamismo tecnológico, vis-à-vis outros segmentos da indústria de bens de capital, pode-se identificar, no caso da indústria de máquinas para madeira, um progresso técnico caracterizado pela interação de três variáveis principais: a introdução de novas matérias-primas (madeiras e seus resíduos) a serem processadas; o surgimento de novos produtos de madeira, especialmente móveis; e a evolução das máquinas de processamento. Se a introdução de novas matérias-primas teve como principal causa a escassez das florestas naturais, a produção de móveis retilíneos, utilizando sobretudo painéis de madeira, gerou, por sua vez, um impacto importante no desenvolvimento e na adaptação do maquinário utilizado para o seu processamento. Ao mesmo tempo, o avanço tecnológico da fabricação de máquinas para madeira beneficiou-se substancialmente com a incorporação de dispositivos eletrônicos voltados à automação e ao controle das condições de processo, de dispositivos hidráulicos e da introdução de materiais mais resistentes. No caso do Brasil, este cenário produtivo segue uma trajetória tecnológica determinada pelos mercados mais dinâmicos (Itália, Alemanha, EUA), tanto no desenvolvimento das máquinas quanto nos padrões de consumo da madeira processada, com destaque para o mobiliário. Partindo dessa contextualização, o objetivo do presente trabalho é de contribuir com o conhecimento do perfil produtivo da indústria nacional de máquinas para madeira, por meio de um estudo realizado junto às empresas situadas no Estado do Paraná, o qual concentra 22% das 195 empresas do ramo no país. Partindo de alguns indicadores estruturais, a saber: porte das empresas, segmentação do mercado, formas de desenvolvimento de tecnologia, número de patentes vigentes, desenvolvimento de novos produtos, acesso a crédito, vendas e assistência técnica, estabelece-se um grupo de indicadores de benchmarking que, por um lado, constituem o parâmetro de competitividade dessa indústria e, por outro, permitem traçar o perfil médio das empresas que nela atuam. As análises aqui apresentadas baseiam-se em dados coletados entre 2005 e 2006 mediante aplicação de questionários em 45 empresas instaladas no Paraná. A amostra compõe-se de 27 empresas que responderam ao questionário. O artigo está estruturado em seis seções, além dessa introdução. As primeiras seções apresentam o referencial de análise e a metodologia. Na terceira seção são apresentados alguns aspectos conjunturais da cadeia produtiva da 3 madeira e da indústria de máquinas para madeira no Brasil. Os indicadores estruturais da indústria paranaense e os indicadores de benchmarking são discutidos nas duas seções seguintes. Por fim são apresentadas as principais conclusões do trabalho. 2 – A Estrutura do mercado e as estratégias competitivas A compreensão da configuração de uma indústria passa pela definição das características fundamentais das empresas que a constituem. As estratégias que as empresas desenvolvem para conquistar posições mais vantajosas no(s) mercado(s) em que atuam são elementos importantes a serem considerados para uma análise dinâmica da concorrência de ramos específicos da indústria. O referencial de análise aqui proposto baseia-se, por um lado, na definição de características estruturais do mercado no qual as empresas atuam e, por outro lado, na identificação de parâmetros capazes de definir um perfil produtivo e comercial comum à maioria das empresas que constituem o ramo de atividade em questão. A identificação desses parâmetros, em termos quantitativos e qualitativos, permite estabelecer um referencial (benchmarking) de competitividade das estratégias de produção e comercialização que as empresas adotam para manter ou alterar o seu posicionamento no mercado. Competitividade é um termo controverso na literatura econômica. Na teoria neoclássica trata-se de um parâmetro definido a partir do modelo de concorrência perfeita, sendo o resultado do processo de interação anônima entre os agentes econômicos. A tecnologia não é analisada como fator de diferenciação competitiva, seu papel na competitividade industrial está subordinado à difusão e convergência de informações, processo simétrico garantido pelas livres forças de mercado (TEIXEIRA, 2005). Na abordagem estrutura-conduta-desempenho, a competitividade é entendida como uma dimensão do desempenho, como o resultado da interação entre os agentes influenciados pelas características estruturais da indústria em que estão inseridos, fatores esses determinantes na configuração das práticas competitivas – estratégias – e no desempenho das empresas (TEIXEIRA, 2005). A perspectiva schumpeteriana, juntamente com o modelo estrutura-condutadesempenho, impulsionou a emergência de abordagens empíricas que influenciaram 4 significativamente as pesquisas em economia industrial. Essas investigações foram pautadas por uma maior preocupação com a delimitação do objeto de estudo, a exemplo da distinção entre os conceitos de indústria (base técnico-produtiva, características da oferta) e de mercado (aspectos mercadológicos, características da demanda). Integrados, ambos compõem o conceito de estrutura de mercado, noção que permite apreensão da tecnologia como fator importante na determinação da competitividade, ou seja, um elemento dinâmico transformador da estrutura mas sujeito ao aparato político institucional da indústria (TEIXEIRA, 2005). As características estruturais de mercado são identificadas fundamentalmente em função do seu grau de concentração, da existência de barreiras à entrada e das formas de concorrência existentes. O grau de concentração se relaciona à forma pela qual o mercado está partilhado entre as firmas que nele operam. A barreira à entrada se refere ao grau em que as firmas atuantes podem determinar seus preços, sem induzir a entrada de novos competidores. Por fim, as formas de concorrência se associam basicamente a dois tipos de estratégia: via preços; ou diferenciação de produtos. Em ambos os casos, a inovação tecnológica torna-se um fator determinante na obtenção de vantagens competitivas, seja pelo desenvolvimento de novos processos mais eficientes, seja pela introdução de novos produtos com qualidades distintas (POSSAS, 1985). Como observa POSSAS (2006, p. 26), “... são as vantagens competitivas e as dimensões que podem assumir, agrupadas nos quesitos de custo e qualidade, os principais elementos a caracterizar o mercado”. Essas vantagens se expressam em termos de custos e/ou de diferenciação de produtos. Em termos de custos, POSSAS (2006, pp. 26 a 30) identifica as seguintes vantagens: economias de escala; economias de escopo; capacidade de financiamento da empresa; patentes e licenciamento de tecnologia; relações com fornecedores; relações com a mão-de-obra; e organização da produção. E, em termos de diferenciação de produtos, as seguintes vantagens são destacadas: especificações técnicas; desempenho ou confiabilidade; durabilidade; ergonomia e design; estética; linhas de produto; custo de utilização do produto; imagem e marca; formas de comercialização; assistência técnica e suporte ao usuário; financiamento aos usuários; e relação com os usuários. PORTER (1986; 1989a; 1988b), por sua vez, argumenta que o ambiente concorrencial em que as empresas estão inseridas é fator importante de 5 determinação de seu dinamismo tecnológico, de sua configuração organizacional e de suas estratégias competitivas, tanto quanto o são o grau de exigência, sofisticação e dinamismo de seu mercado consumidor. O meio competitivo de uma empresa é definido pelas ameaças (riscos) e oportunidades (recompensas potenciais) da indústria em que se situa. Tais ameaças podem decorrer da entrada de novos concorrentes na indústria, de produtos substitutos, do poder de negociação dos fornecedores ou dos consumidores e da própria rivalidade existente entre as empresas que já integram a indústria. A estrutura industrial, enquanto ambiente concorrencial, define tanto a atratividade da indústria quanto a posição competitiva de suas empresas, sendo ambas suscetíveis aos impactos das estratégias competitivas da empresa, ainda que a primeira o seja em proporção menor que a segunda. Longe de ser mera resposta ao ambiente, a formulação de uma estratégia competitiva consiste sobretudo em relacionar uma empresa a seu meio concorrencial. A estrutura da indústria tem uma forte influência sobre a determinação das regras competitivas e das próprias estratégias disponíveis para a empresa. Uma estratégia competitiva, para determinada unidade empresarial, consiste em encontrar uma posição, dentro da indústria, que possibilite a melhor defesa contra as forças competitivas e/ou a maior influência sobre estas. Como o conjunto dessas forças pode estar evidente para todos os concorrentes, o aspecto central para a formulação de uma estratégia é a análise aprofundada das fontes de cada força: O conhecimento destas fontes subjacentes da pressão competitiva põe em destaque os pontos fortes e os pontos fracos críticos da companhia, anima o seu posicionamento em sua indústria, esclarece as áreas em que mudanças estratégicas podem resultar no retorno máximo e põe em destaque as áreas em que as tendências da indústria são da maior importância, quer como oportunidades, quer como ameaças. (PORTER, 1986, p. 22-23). A compreensão das vantagens competitivas não requer que a empresa seja apreendida como um todo, mas requer, ao contrário, que sejam analisadas as distintas atividades executadas pela empresa no projeto, na produção, no marketing, na entrega e no suporte de seu produto, ou seja, cada atividade que pode contribuir na determinação da posição da empresa, sendo base para a diferenciação. É nesse sentido que PORTER (1989, p. 31) define a cadeia de valores, instrumento que “..desagrega uma empresa nas suas atividades de relevância estratégica para que 6 se possa compreender o comportamento dos custos e as fontes existentes e potenciais de diferenciação.” Em uma mesma indústria, elas diferem de empresa para empresa em função de suas diferentes histórias, estratégias, sucessos e fracassos de implementação. Tais diferenças são fonte básica de vantagens competitivas. A estrutura da indústria direciona as estratégias de produção rumo à especialização (estratégia cujo foco está no custo), rumo à diferenciação ou à diversificação, orientando a forma como os recursos da organização serão combinados para a conquista de vantagens competitivas. Há dois tipos básicos de vantagens competitivas que uma empresa pode deter: o custo e a diferenciação. Combinados com o escopo de atividades da firma, ambos dão margem a três estratégias competitivas genéricas: a liderança de custo, a diferenciação e o foco. Adotando a primeira estratégia, a empresa busca o menor custo de produção, o que a leva a perseguir economias de escala. Adotando a segunda, a empresa tenta ser a única, na indústria, em algum (ou vários) dos aspectos valorizados pelos consumidores. Ao adotar a terceira estratégia, a empresa seleciona um segmento ou um grupo de segmentos de mercado para atuar com foco no custo ou na diferenciação. (PORTER, 1986; 1989a; 1988b). Num contexto em que, “a competitividade deve ser entendida como a capacidade da empresa de formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado” (COUTINHO; FERRAZ, 1994, p. 18), sucessos ou fracassos competitivos dependem da criação e da renovação de vantagens competitivas por parte das empresas. Nesse processo, cada uma delas se esforça para obter peculiaridades que as distingam favoravelmente das demais, seja em termos de menor preço, melhor qualidade, maior habilidade em servir os consumidores etc. Assim, a estratégia competitiva é pautada por dois fatores dinâmicos fundamentais: a estrutura da indústria na qual a empresa compete (nem todas as indústrias oferecem as mesmas possibilidades de lucratividade continuada) e a posição que a empresa ocupa nessa indústria (a despeito da lucratividade média da indústria, há posições mais lucrativas que outras, dentro de uma mesma indústria) (PORTER, 1986; 1989a; 1988b). Ambos são determinantes interdependentes na configuração de uma indústria, influenciando-se mutuamente. 7 Para que a empresa seja capaz de identificar sua própria posição em relação a seus concorrentes e na indústria como um todo é necessário que ela disponha de instrumentos e critérios de referência que permitam sucessivas comparações ao longo do tempo. A preocupação crescente com a mensuração e a comparabilidade do desempenho das atividades produtivas tem levado empresas e instituições governamentais a desenvolverem metodologias e ferramentas gerenciais capazes de subsidiar a tomada de decisão. O benchmarking é uma ferramenta que permite estabelecer um processo sistemático de comparações de práticas gerenciais e estratégias de ação entre empresas de um mesmo ramo de atividade ou de ramos diferentes, tomando como referência a empresa cuja prática é tida como de excelência. Do ponto de vista gerencial, as comparações possibilitadas pela ferramenta têm como objetivo subsidiar a promoção de melhorias organizacionais numa determinada empresa. Desta forma, o benchmarking auxilia na definição de metas, estimula a geração de novas idéias e propicia um método formalizado de gerenciamento de mudanças (SLACH; CHAMBERS; JOHNSTON, 2002). Ao mesmo tempo, o benchmarking permite estabelecer parâmetros de comportamento gerencial e concorrencial das empresas de um determinado ramo de atividade, capazes de contribuir para estabelecer um perfil mais acurado das características estruturais do mercado no qual atuam. 3 – Metodologia Com base nas referências indicadas no item anterior, sobre as vantagens competitivas das empresas, selecionamos alguns indicadores capazes de estabelecer um primeiro perfil produtivo e gerencial das empresas do ramo de máquinas para madeira, bem como das principais características estruturais desse mercado. Os critérios de seleção dos indicadores basearam-se em cinco entrevistas presenciais exploratórias em empresas do ramo, por meio de questionários semiestruturados, nas quais se buscou identificar os indicadores mais relevantes para o ramo em questão. No que tange às vantagens de custo, todos os itens indicados na seção anterior acabaram sendo contemplados. Em relação às vantagens de diferenciação de produtos dois indicadores foram diretamente privilegiados (formas de comercialização e assistência técnica e suporte ao usuário). Tal escolha se 8 justifica pelo fato de que as atividades de vendas e assistência técnica se constituem não apenas em fatores determinantes de competitividade, nesse ramo, como também nas principais rotinas de busca de informações de mercado, as quais se processam no contato continuado com os usuários. Por conseqüência, o indicador “relação com usuários” insere-se nessas duas categorias. A presente seção estrutura-se em quatro partes: nas duas primeiras são apresentadas a definição e a formalização dos indicadores, enquanto na terceira e na quarta estão contemplados os procedimentos de coleta e de classificação dos dados. 3.1 – Definição dos indicadores Os dados da pesquisa são apresentados predominantemente em gráficos ditos radar sob a forma de indicadores de benchmarking, cujo mérito reside na possibilidade de comparação que propiciam – seja entre as empresas integrantes da indústria, seja entre distintos ramos industriais. Os indicadores selecionados permitem a visualização das características estruturais da indústria de máquinas para madeira no Paraná a partir da posição das empresas que a compõem, contemplando os seguintes aspectos: • Porte; • Formas de desenvolvimento de tecnologia; • Patentes; • Desenvolvimento de novos produtos; • Acesso a crédito; • Vendas e assistência técnica; • Segmentação do mercado. A quantidade de funcionários é definida como indicador do porte das empresas. A qualificação do pessoal é o indicador do grau de formação dos funcionários que exercem as funções de vendas e de desenvolvimento tecnológico na empresa, compreendendo o nível médio (técnico), o universitário, a pósgraduação latu sensu, o mestrado e o doutorado. A quantidade de certificações é definida como o indicador que avalia o grau de organização da produção da empresa por meio da formalização e/ou certificação do controle das atividades 9 produtivas. A quantidade de patentes vigentes é o indicador que avalia a capacidade de inovação tecnológica da empresa pelo número de patentes obtidas. A quantidade de segmentos de atuação é o indicador que avalia o grau de diversificação das empresas num mercado extremamente segmentado como o de máquinas para madeira. Os percentuais de recursos de bancos públicos/privados utilizados no desenvolvimento de novos produtos são os indicadores que avaliam a capacidade da empresa de obter financiamento em bancos públicos/privados, para uma atividade de risco elevado como a de desenvolvimento de produtos. Os percentuais de vendas e de assistência técnica realizadas por pessoal próprio são os indicadores que avaliam a capacidade da empresa de apresentar uma infra-estrutura própria para oferecer serviços de assistência técnica aos clientes. Os valores de todos esses indicadores, gerados para cada uma das empresas da amostra, são confrontados com os valores médios da indústria no Paraná, bem como com os maiores valores, ambos indicadores de referência. 3.2 - Formalização dos indicadores Diante da heterogeneidade dos tipos de informação obtidos para a caracterização dos aspectos estruturais da indústria – referente sobretudo às diferentes escalas utilizadas na coleta dos dados – optou-se por um procedimento que permitisse a mensuração de cada uma das variáveis relevantes. Assim, cada um dos indicadores é o logaritmo natural da variável multiplicada por 100, como expressa a equação a seguir: Ix = [ln( 100 x )] A multiplicação dos valores por 100 foi um ajuste complementar à imputação do valor 0 (zero) aos ln( 0 ) , servindo para evitar os logaritmos naturais negativos para diferenciar os logaritmos naturais de 0 e 1, posto que se trata de uma diferença relevante6. Para a criação do indicador de qualificação dos funcionários das áreas de vendas e de desenvolvimento ( Iq ) , foram atribuídos os seguintes pesos ao nível de formação dos funcionários: 6 Basta considerar, por exemplo, a importância da distinção entre empresas que possuem uma única certificação daquelas que não possuem nenhuma. 10 • Técnico: 0,05 • Graduado: 0,10 • Especialista: 0,15 • Mestre: 0,25 • Doutor: 0,45. A seguinte equação foi adotada: Iq = ln{ 100 [( 0 ,05t + 0 ,10 g + 0 ,15e + 0 ,25 m + 0 ,45 d )]} sendo: t: quantidade de técnicos de dedicação exclusiva; g: quantidade de graduados de dedicação exclusiva; e: quantidade de especialistas de dedicação exclusiva; m: quantidade de mestres de dedicação exclusiva; d: quantidade de doutores de dedicação exclusiva. Todos os indicadores foram gerados para cada empresa, individualmente, e para a indústria paranaense de máquinas para madeira como um todo, assumindo, nesse caso, a forma de valores médios. Os maiores valores, por sua vez, constituem um parâmetro de competitividade para a indústria em questão. Tal parâmetro é definido como o “ideal de competitividade” da indústria, dado que para sua construção foram selecionados os melhores valores verificados na amostra, para cada um dos indicadores considerados. Note-se que os melhores valores não se referem a uma única empresa da amostra, mas a uma empresa ideal que fornece um referencial de competitividade. Assim, em termos gerais, quanto maior o indicador, mais bem posicionada está a empresa na indústria. 3.3 - Coleta dos dados Realizou-se inicialmente uma identificação de abrangência nacional das empresas responsáveis pela produção de ferramentas, portáteis, produtos e atividades de suporte e máquinas/equipamentos para madeira, utilizando-se para tanto informações provenientes do cadastro de empresas da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos para Madeira (Abimaq) denominado Datamaq, do credenciamento de equipamentos do Finame e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 11 Com esse levantamento obteve-se um universo de 195 empresas e constatou-se a concentração dos estabelecimentos na Região Sul (67%), o que justificou o direcionamento da pesquisa para os Estados dessa região, mais especificamente para o Estado do Paraná, onde se encontram 22% do total nacional. As informações que servem de base às análises do presente artigo foram obtidas entre 2005 e 2006 mediante a aplicação de um questionário estruturado, composto por 25 questões contemplando 5 aspectos fundamentais, a saber: • Informações cadastrais; • Características gerais; • Produtos e processo produtivo; • Desenvolvimento de produtos e • Marketing, vendas e assistência técnica. As respostas para as questões poderiam ser quantitativas ou qualitativas, dependendo do objetivo e da natureza da pergunta. As questões quantitativas poderiam ter como resposta valores absolutos ou percentuais, conforme a pergunta. 3.4 - Classificação dos dados Para classificação quanto ao porte da empresa, foram adotados os critérios do Sebrae, que considera: • Microempresas: até 19 pessoas ocupadas; • Pequenas empresas: de 20 a 99 pessoas ocupadas; • Médias empresas: de 100 e 499 pessoas ocupadas; e • Grandes empresas: mais de 500 pessoas ocupadas. Os produtos das empresas foram classificados segundo a sua funcionalidade. Essa classificação desmembra a rubrica genérica máquinas e equipamentos para madeira em quatro categorias: ferramentas, máquinas/equipamentos, suporte e portáteis. Dentro de cada uma dessas categorias funcionais há diferentes segmentos. 12 A categoria ferramentas7 é composta pelos segmentos de corte, desbaste, furação e usinagem. A categoria equipamentos8 inclui os segmentos de acabamento, bordeamento, corte, embalagem, furação, laminação, lixamento, torneamento, usinagem, montagem, movimentação, armazenagem e transporte, secagem, exaustão, compressão e ventilação, manutenção, aproveitamento de resíduos, colagem, fixação e equipamentos "finger joint". Integram a categoria suporte9 os segmentos de software, componentes, serviços, embalagem, ensaio e medição, manutenção de ferramentas, segurança e meio ambiente, controle de umidade da madeira e tecnologia de robôs. Na categoria portáteis10 classificam-se os segmentos de ferramentas elétricas, ferramentas manuais e ferramentas para medição. Para cada uma dessas categorias há um segmento “outros”, nos quais são agrupados os itens que, embora respeitem as características gerais da categoria, são demasiadamente específicos. 4 – Aspectos conjunturais da cadeia produtiva da madeira As florestas plantadas ocupam atualmente uma área aproximada de 5,2 milhões de hectares no Brasil, ou 0,5% do território nacional. O valor bruto da produção brasileira da cadeia produtiva da madeira11 ultrapassou, em 2005, R$ 57 bilhões de reais. Segundo estimativas da ABRAF (2006), em 2006 a produção de móveis e painéis reconstituídos contribuiu com R$ 7 bilhões (12%) e R$ 4,6 bilhões (8%), respectivamente. A fabricação de produtos de madeira sólida foi responsável, nesse mesmo período, por aproximadamente 250 mil empregos diretos e indiretos (11% na cadeia), enquanto a produção de móveis foi responsável por mais de 314 mil (13%). 7 Define-se aqui como ferramenta a parte de um equipamento que executa a operação principal. Define-se aqui como máquina ou equipamento um conjunto de peças ou de componentes ligados solidariamente entre si, sendo ao menos um deles móvel, para uma aplicação definida, tal como a transformação, o tratamento, a deslocação e o acondicionamento de um material (OLIVEIRA, 2003, p. 284). 9 Definem-se aqui como suporte os produtos e as atividades de apoio à produção de máquinas e equipamentos. 10 Definem-se aqui como portáteis as ferramentas ou equipamentos passíveis de manuseio. 11 Corresponde, aqui, à cadeia produtiva das florestas plantadas, segundo a ABRAF (2006), incluindo papel e celulose, a indústria madeireira, móveis, painéis reconstituídos e siderurgia. 8 13 O fluxo de comércio mundial referente à cadeia da madeira12 movimenta em média US$ 180 bilhões por ano. A indústria de móveis é a mais representativa, sendo responsável por 52% desse total, seguida pela indústria madeireira, que responde por 44%. A indústria de máquinas para madeira é a menos significativa da cadeia, sendo responsável pelos 4% restantes. (MELO et al., 2007). Os países que lideram as exportações da cadeia, na média de 2000-2006, são o Canadá (18%), os Estados Unidos (7%) e a Alemanha (7%), cabendo ao Brasil aproximadamente 3% do total mundial. A Alemanha lidera as exportações de máquinas para madeira com 28,5% do total mundial exportado, seguida pela Itália (22,1%) e pelo Japão (6,5%). Apenas 0,3% das exportações mundiais de máquinas para madeira são brasileiras. As exportações de móveis são lideradas pela China (15,6%), Itália (12,1%) e pela Alemanha (8,8%), cabendo ao Brasil cerca de 0,8% das exportações mundiais da indústria moveleira. (COMTRADE, 2007). O total das exportações brasileiras da cadeia da madeira, em 2006, foi de aproximadamente US$ 4,2 bilhões, dos quais 74% referem-se à madeira, 25% a móveis e apenas 1% à máquinas para madeira (MDIC, 2007). A evolução das exportações brasileiras na cadeia da madeira é apresentada na Tabela 1. Nota-se que as exportações das três indústrias que constituem a cadeia da madeira foram ascendentes no período de 2000 a 2006, verificando-se uma taxa de crescimento de aproximadamente 100%. (MELO et al., 2007). Tabela 1 – Exportações brasileiras na cadeia da madeira (em mil US$ FOB) Setor 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Madeira 1.478.726 1.492.037 1.766.369 2.082.457 3.045.214 3.032.952 3.161.137 Máquinas p/ 17.672 13.628 15.521 18.450 22.502 29.777 39.690 madeira Móveis 514.693 509.806 561.916 704.680 1.005.502 1.078.142 1.052.194 Total 2.011.091 2.015.471 2.343.806 2.805.588 4.073.218 4.140.870 4.253.021 FONTE: MDIC (2007). 12 A cadeia da madeira contempla as mercadorias referentes aos capítulos 44 (madeira) e 94 (móveis) da NCM, além dos seguintes códigos de máquinas para madeira: 820530, 820820, 841932, 8465, 846692 e 847930. Os resultado do fluxo mundial de comércio para 2006 são parciais, dado que alguns países ainda não entregaram os relatórios anuais, a saber: Japão (5,12%); França (4,27%); Holanda (3,16%); Espanha (2,25%); 5. Singapura (2,13%); 6. Outros países asiáticos (1,78%); 7. Arábia Saudita (1,23%); 8. Índia (1,23%); 9. Suíça (1,14%); 10. Outros (14,25%). Os percentuais entre parênteses correspondem à participação do país no comércio mundial (COMTRADE, 2007). Para os países que não entregaram o relatório de 2006, imputou-se a média de 2000-2005 como valor para 2006. O critério de ordenação dos países para a obtenção ranking mundial das exportações da cadeia da madeira foi a média dos últimos sete anos (2000-2006). 14 Com relação às importações brasileiras nessa cadeira produtiva, pode-se observar pela Tabela 2 que os principais produtos importados pelo Brasil nos últimos anos foram móveis, seguidos por madeira, nos últimos três anos. Tabela 2 – Importações brasileiras na cadeia de madeira (em mil US$ FOB) Setor 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Madeira Máquinas para madeira Móveis 69.777 54.204 44.760 58.198 77.306 79.241 110.133 186.248 180.713 142.137 119.990 172.713 200.604 273.493 Total 361.027 362.964 277.379 258.962 307.686 348.787 438.514 105.002 128.047 90.482 80.774 57.667 68.942 54.889 FONTE: MDIC (2007). No período de 2000 a 2006, as importações de móveis e de madeira cresceram 32% e 37%, respectivamente, enquanto as importações de máquinas para madeira diminuíram 91%. Embora as importações brasileiras de máquinas para o processamento da madeira tenham diminuído nos últimos anos, nota-se que o Brasil não é um exportador representativo em nenhum dos três ramos desta cadeia, particularmente no que se refere às máquinas para madeira, indústria na qual Alemanha e Itália, juntas, responderam por 60% das exportações mundiais em 2006. (MELO et al., 2007). 5 – A Indústria Brasileira de Máquinas para Madeira Concentrada na Região Sul do país, a indústria brasileira de máquinas para madeira conta atualmente com a atividade de 195 empresas. São ao todo 45 estabelecimentos no Estado do Rio Grande do Sul, 43 no Paraná e outros 42 em Santa Catarina. Somados, os três Estados agregam 67% das empresas do ramo no Brasil. As estatísticas referentes ao perfil da produção de máquinas para madeira são escassas, esparsas e demasiadamente agregadas para permitirem a definição de um quadro detalhado dessa atividade. No âmbito da indústria de bens de capital, trata-se de uma atividade muito pouco organizada que apresenta produtividade, lucratividade e competitividade internacional reduzidas (ABIMAQ, 2002). Segundo estimativas da ABIMAQ (2007), do total de aproximadamente US$ 4 bilhões (FOB) 15 exportados pela indústria de bens de capital mecânicos, no período de janeiro a junho de 2006, apenas 0,31% corresponderam a máquinas e equipamentos para madeira – cerca de US$ 12 milhões (FOB). Nesse mesmo período, as importações desses itens passaram de US$ 17 milhões. Nota-se, a partir do Tabela 3, que no ramo de máquinas para madeira o Brasil é predominantemente um importador, sendo suas exportações inferiores às importações em todo o período de 2000 a 2006. Entretanto, percebe-se também que a diferença entre ambos tem se reduzido significativamente a partir de 2004. Enquanto em 2001 as importações superaram as exportações em US$ 114 bilhões (FOB), em 2006 a diferença foi de US$ 15 bilhões (MDIC, 2007). Tabela 3 – Exportações em importações brasileiras de maquinas para madeira (em mil US$ FOB) Setor 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Exportação Importação 17.672 2006 13.628 15.521 18.451 22.502 29.777 39.690 105.002 128.047 90.482 80.774 57.667 68.942 54.889 Saldo -87.330 -114.419 -74.961 -62.323 -35.165 -39.165 -15.199 Fonte: MDIC (2007). Esses dados são indício de baixo dinamismo comercial e da baixa competitividade da indústria brasileira de máquinas para madeira. 6 – Indicadores Estruturais da Indústria de Máquinas para Madeira no Paraná A partir da análise das informações obtidas mediante aplicação dos questionários, constatou-se que a indústria de máquinas para madeira, no Estado do Paraná, está concentrada na Região Metropolitana de Curitiba (44% dos estabelecimentos) e é composta principalmente por empresas de pequeno porte com dificuldade de acesso a crédito, com regime de apropriação fraco, baixo dinamismo tecnológico e rotinas de buscas de informações fundamentadas nas atividades de vendas e assistência técnica. 16 6.1 - Empresas de Pequeno Porte A indústria de máquinas para madeira do Estado do Paraná concentra 22% das 195 empresas do ramo instaladas no país, sendo caracterizada pela predominância de pequenas e micro empresas que, juntas, correspondem a 90% do total de estabelecimentos. Os 10% restantes correspondem a médias empresas, não havendo nenhuma grande empresa instalada no Estado. Das 27 empresas que constituem a amostra da pesquisa, mais de 70% são formadas por capital de origem nacional, concentrado nas micro e pequenas empresas, enquanto o capital estrangeiro está mais vinculado às empresas de médio porte. A predominância de empresas de porte reduzido nesse ramo indica, portanto, a inexistência de economias de escala no âmbito da produção, o que pode ser em parte explicado pela elevada segmentação desse mercado, fazendo com que a concentração da produção se disperse entre os diferentes segmentos, como está descrito a seguir. 6.2 - Economia de Escopo Das quatro categorias funcionais13 em que os produtos da indústria de máquinas para madeira foram classificados, a de equipamentos é a que concentra o maior número de empresas atuando (74%), seguida por suporte, com 30% das empresas e por ferramentas, com 18%. Na categoria portáteis foi identificada apenas uma empresa produtora no Paraná. O segmento de ferramentas que apresenta maior quantidade de empresas atuando é o de corte (80%), seguido por furação (60%) e outras ferramentas (60%). Desbaste, por sua vez, é o segmento com menor número de empresas (20%). Das empresas fabricantes de produtos classificados na categoria equipamentos, a parcela mais significativa atua nos segmentos de corte (40%) e de movimentação, armazenagem e transporte (40%), enquanto montagem e laminação constituem os segmentos com menos produtores (5%). 13 Ressalte-se que uma empresa pode atuar simultaneamente em mais de uma categoria funcional, de modo que o somatório dos percentuais não necessariamente deve ser igual a 100%. 17 Na categoria funcional suporte, componentes (38%) e software (25%) são, respectivamente, os segmentos mais representativos, cabendo aos segmentos de serviços, segurança e meio ambiente, tecnologia de robô e outros parcela igualmente representativa em termos de quantidade de empresas operando (13%). Nota-se, com isso, que por um lado a indústria caracteriza-se pelo baixo grau de diversificação da produção nas empresas desse ramo (apenas 20% do faturamento da indústria é proveniente de outros ramos de atividade). Por outro lado, a existência de mais de 70 itens de máquinas, ferramentas e serviços de suporte, indica um elevado grau de segmentação dentro desta indústria, que apresenta grande dispersão das empresas entre os diferentes segmentos. Tal dispersão faz com que as empresas restrinjam a sua atuação a um número relativamente reduzido de segmentos (média de 3 segmentos por empresa) nos quais coexiste um número reduzido de concorrentes (média de 4 concorrentes por empresa). Isto faz com que haja uma concentração de mercado bastante elevada por segmento e, ao mesmo tempo, uma concentração reduzida ao nível do ramo de atividade que agrega esses segmentos. Atuando em um número relativamente reduzido de segmentos, as empresas tendem a explorar economias de escopo por meio da complementaridade da linha de produção. 6.3 - Patentes e Licenciamento de Tecnologia Do número total de empresas entrevistas no Paraná, apenas 35% possuem patentes vigentes, com destaque para as pequenas empresas. O baixo interesse por esse tipo de mecanismo de apropriação está relacionado principalmente a três fatores: aos entraves burocráticos do processo de patenteamento; às possibilidades de quebra de patentes pelos concorrentes (em especial de dispositivos que podem ser facilmente copiados e melhorados); e às dificuldades de monitorar o desvio de conduta dos concorrentes e à morosidade dos processos judiciais. Tudo isso indica a existência de um regime fraco de apropriação do conhecimento nesse tipo de atividade. A aquisição formal de tecnologia prevalece nas empresas de porte médio, posto que estas apresentam maior capacidade de financiamento e/ou de articulação com empresas inovadoras estrangeiras. A engenharia reversa parece ser uma prática difundida – reconhecida por 48% das empresas – principalmente entre as 18 micro e pequenas empresas, em função do regime de apropriação fraco desse tipo de atividade produtiva. 6.4 - Baixo dinamismo tecnológico As empresas do ramo de máquinas para madeira concentram a sua atividade produtiva em três processos de fabricação (usinagem, montagem e pintura) que constituem o núcleo de sua capacidade de produção. O desenvolvimento de novos produtos está baseado principalmente na combinação e adaptação interna das inovações geradas pelos fornecedores de componentes voltados à mecânica fina (correias, engrenagens), à automação (sensores, computadores) e à química fina (vernizes, colas). As mudanças tecnológicas são determinadas principalmente pelos fornecedores de componentes e de insumos químicos e pelas empresas líderes de mercado, sediadas em países como a Alemanha, a Itália e os EUA. A reduzida escala de produção e a limitação dos recursos financeiros são os principais pontos críticos levantados pelas empresas da indústria de máquinas para madeira no desenvolvimento de novos produtos, num ramo de atividade cuja característica estrutural mais marcante é o pequeno porte de suas empresas. 6.5 - Vendas e assistência técnica As principais fontes de informação das empresas para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento de novos produtos baseiam-se nas relações formais e informais estabelecidas com clientes e fornecedores. Cabe aqui ressaltar a importância estratégica atribuída às atividades de vendas e de assistência técnica, que se constituem entre as principais fontes de busca de informações para o melhoramento do desempenho e do aperfeiçoamento dos equipamentos produzidos, bem como do desenvolvimento de novos produtos. A atividade de vendas nas empresas do ramo é predominantemente realizada (67% empresas) por pessoal próprio, sendo que no caso de 37% das empresas não há nenhum tipo de terceirização dessa atividade. Isto indica a importância dos serviços de vendas na competitividade das empresas da indústria paranaense de máquinas para madeira, setor no qual o predomínio de pequenas 19 empresas implica em investimentos significativos na internalização desse tipo de serviço. A qualificação dos funcionários que se dedicam exclusivamente à atividade de vendas é em sua maioria de nível médio (47%), seguido por graduação universitária (42%). Este fato indica mais uma vez a escassez de recursos em uma indústria que apresenta disponibilidade de capital reduzida para melhorar seus serviços de vendas. A assistência técnica é outra atividade predominantemente internalizada na grande maioria das empresas (81%) devido ao seu caráter estratégico na competitividade das empresas, tanto para garantir a qualidade de seus produtos junto aos clientes, quanto para estabelecer mecanismos de busca de informações técnicas que possam contribuir com o aperfeiçoamento e o desenvolvimento de novos produtos. 6.6 - Gestão da produção A indústria de máquinas e equipamentos para madeira apresenta em geral baixo grau de profissionalização da gestão da produção: apenas 48% das empresas dispõem de certificações ou modelos de gestão formalmente implementados. Figuram entre as certificações/modelos de gestão mencionados pelas empresas: NBR ISO 9000 (15%), Marcação CE (7%), Certificação UL (3%), Certificação TÜV (3%) e 5 S (26%). A partir da análise da produção de norma técnicas na indústria de máquinas para madeira no Brasil, tem-se indícios de que se trata de um ramo ainda pouco organizado, se comparado a países como a Itália e Alemanha. A coletânea brasileira de normas é quantitativamente inferior à de países em que a atividade é relativamente mais organizada. (AQUINO et al., 2007). 6.7 - Acesso a crédito O pequeno porte das empresas dificulta o acesso a financiamento, sobretudo para uma atividade de alto risco como o desenvolvimento de novos produtos, fazendo com que somente 19% das empresas do ramo recorram a bancos públicos e/ou privados. 20 A escassez de recursos para o desenvolvimento de produtos reflete-se também no número reduzido de pessoal dedicado a esse tipo de atividade (3, em média), bem como do baixo grau de qualificação do pessoal ocupado nessa atividade na qual predomina o nível médio (49%), sendo que apenas 11% das empresas possui algum mestre ou doutor. 7 – Indicadores de Benchmarking Com base nos dados descritos anteriormente, pôde-se comparar o desempenho individual de cada empresa em relação às demais e, a partir daí, construir dois tipos de indicadores de benchmarking: o primeiro estabelece uma média dos valores das empresas para cada indicador selecionado; e o segundo resgata os maiores valores de cada indicador, de forma a construir um conjunto de parâmetros que, ao serem combinados, simulariam uma empresa “ideal” ou com o melhor desempenho possível, a partir da realidade observada. Estabelecem-se assim dois referenciais de competitividade por meio dos quais é possível identificar o posicionamento de cada empresa em relação à média da indústria, bem como em relação às melhores práticas de gerenciamento e de desempenho identificadas na indústria. 21 Gráfico 1 – Indicadores de Benchmarking para a indústria de máquinas para madeira no Estado do Paraná Quantidade de funcionários 10 Vendas realizadas por pessoal próprio Qualificação do pessoal da área de desenvolvimento 8 6 4 Assistência técnica própria Qualificação do pessoal da área de vendas 2 0 Recursos de bancos públicos no desenvolvimento de novos produtos Quantidade de patentes Recursos de bancos privados no desenvolvimento de novos produtos Quantidade de certificações ou modelos de gestão Quantidade de segmentos 1-MI 2-MI 3-P 4-MI 5-P 6-MI 7-M 8-P 9-P 10-P 11-P 12-P 13-MI 14-P 15-P 16-P 17-MI 18-P 19-P 20-MI 21-P 22-P 23-P 24-M 25-P 26-P 27-M Maiores valores Média Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração própria. Nota: Cada linha corresponde a uma empresa. Cada código que denomina cada linha serve para preservar o sigilo das informações de cada empresa e é composto por um número que serve apenas para diferenciá-las (não significando que uma empresa está mais bem posicionada em termos de indicadores) seguido da indicação do porte da empresa (MI para micro empresa; P para pequena empresa e M para média empresa). No Gráfico 1 observa-se a configuração da indústria paranaense de máquinas para madeira, em 2006, segundo os principais indicadores. Verifica-se que os indicadores com menores valores, na amostra de 27 empresas, referem-se a: acesso a recursos de terceiros (bancos públicos e privados) para o desenvolvimento de novos produtos; quantidade de patentes; existência de certificações ou modelos de gestão; e qualificação do pessoal das áreas de vendas e de desenvolvimento tecnológico. São justamente esses indicadores que mostram a maior discrepância 22 entre os maiores e menores valores - indicados na Tabela 4 - uma vez que os maiores valores são via de regra obtidos pelas poucas empresas de maior porte presentes no mercado. Tabela 4 – Indicadores de Benchmarking para a indústria de máquinas para madeira no Estado do Paraná - Estatísticas descritivas Indicador Quantidade de funcionários Qualificação do pessoal da área de desenvolvimento Qualificação do pessoal da área de vendas Quantidade de patentes Quantidade de certificações ou modelos de gestão Quantidade de segmentos Recursos de bancos privados no desenvolvimento de novos produtos Recursos de bancos públicos no desenvolvimento de novos produtos Assistência técnica própria Vendas realizadas por pessoal próprio Menor Mediana valor Desvio Intervalo padrão Média Maior valor 3,61 5,90 1,39 3,74 3,91 1,00 4,51 2,93 4,94 0,00 2,71 2,71 1,06 4,94 3,58 5,30 0,00 3,91 3,91 1,48 5,30 1,23 6,68 0,00 0,00 0,00 2,36 6,68 2,31 5,70 0,00 0,00 0,00 2,46 5,70 5,52 6,40 4,61 5,70 4,61 0,71 1,79 0,58 8,01 0,00 0,00 0,00 2,08 8,01 1,35 8,16 0,00 0,00 0,00 2,90 8,16 8,53 9,21 0,00 9,16 9,21 1,86 9,21 8,60 9,21 6,21 9,10 9,21 0,89 3,00 Moda FONTE: Pesquisa de campo. Elaboração própria. Nota-se, por exemplo, uma discrepância de 13,85 vezes entre o maior valor e a média, no caso de acesso a recursos de bancos públicos; de 5,44 vezes no que se refere à quantidade de patentes obtidas; e de 2,47 na obtenção de certificações ou adoção de modelos gestão. Isto revela o perfil de baixo dinamismo tecnológico associado com uma baixa capacidade de acesso a financiamento para tal fim. Os maiores indicadores, por sua vez, referem-se ao emprego de pessoal próprio nas atividades de vendas e de assistência técnica, ambos indicadores com maior incidência em torno da média. Neste último caso, pode-se considerar tais indicadores como parâmetros fundamentais de competitividade e, portanto, como requisitos necessários à entrada nesse tipo de mercado. 23 Gráfico 2 – Média e maiores valores dos indicadores de Benchmarking para a indústria de máquinas para madeira no Estado do Paraná Vendas realizadas por pessoal próprio Quantidade de funcionários 10 8 Qualificação do pessoal da área de desenvolvimento 6 Assistência técnica própria 4 2 Qualificação do pessoal da área de vendas 0 Recursos de bancos públicos no desenvolvimento de novos produtos Recursos de bancos privados no desenvolvimento de novos produtos Quantidade de patentes Quantidade de certificações ou modelos de gestão Quantidade de segmentos Maiores valores Média Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração própria. Cabe ressaltar que, na medida em que os maiores valores referem-se a uma empresa ideal, i.e., ao parâmetro de competitividade da indústria paranaense de máquinas para madeira, essa defasagem – a distância entre os maiores valores e a média – é indício de baixa competitividade das empresas em geral e tende a refletir certa falta de estruturação de uma atividade em que poucas empresas se destacam. 8 – Conclusão Considerando-se que as estatísticas referentes ao perfil da produção de máquinas para madeira são escassas, esparsas e demasiadamente agregadas para permitirem a definição de um quadro detalhado dessa atividade, o presente trabalho consistiu em um esforço para traçar, a partir de alguns aspectos estruturais, um perfil inicial da indústria paranaense de máquinas para madeira, ramo específico da indústria de bens de capital e parte integrante da cadeia produtiva da madeira. A partir da análise dos dados empíricos coletados nesse estudo, pôde-se obter um referencial de análise da competitividade da indústria de máquinas para 24 madeira no Estado do Paraná, constatando-se que essa indústria compõe-se principalmente de empresas de pequeno porte com regime de apropriação fraco, dificuldade de acesso a crédito, baixo dinamismo tecnológico e com rotinas de buscas de informações fundamentadas nas atividades de vendas e assistência técnica. Na medida em que este trabalho é uma primeira tentativa de avaliação de um segmento industrial pouco estudado, a compreensão aprofundada das características dessa atividade – a menos representativa no fluxo de comércio internacional da cadeia da madeira – certamente requer o acompanhamento e a atualização periódica dos dados, bem como o aperfeiçoamento contínuo dos métodos de coleta e de análise das informações. 9 – Referências bibliográficas ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos <http://www.abimaq.org.br/> Acesso em 24 nov. 2005. ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos. Rumos da competitividade: uma política industrial para o setor de máquinas e equipamentos. ABIMAQ: São Paulo, 2002. ABRAF – Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas. Anuário estatístico da ABRAF: ano base 2005. Brasília: ABRAF, 2006. AQUINO, D. MELO, M ; HOFMANN, R.; PELAEZ, V. (2007). 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