a história da estação ecológica do tapacurá

Transcrição

a história da estação ecológica do tapacurá
A HISTÓRIA DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA
DO TAPACURÁ (SÃO LOURENÇO DA
MATA, PE) BASEADA NO RELATÓRIO
DE VASCONCELOS SOBRINHO DE
1976.
ARGUS VASCONCELOS DE ALMEIDA
MARIA ADÉLIA BORSTELMANN DE OLIVEIRA
RECIFE
2009
2
A HISTÓRIA DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DO TAPACURÁ (SÃO
LOURENÇO DA MATA, PE) BASEADA NO RELATÓRIO DE
VASCONCELOS SOBRINHO DE 1976.
Argus Vasconcelos de Almeida1
Maria Adélia Borstelmann de Oliveira2
Introdução
A história da Estação Ecológica do Tapacurá confunde-se com a própria
história da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Criada em 1975 por
iniciativa do Professor João Vasconcelos Sobrinho, foi instalada nas terras
onde funcionou entre 1917 a 1936 a antiga Escola Superior de Agricultura “São
Bento”, que deu origem à Universidade Federal Rural Pernambuco (UFRPE)
transferida em 1938 para o bairro de Dois Irmãos no Recife.
A foto mais antiga da Escola em 1915, antes da construção da igreja em 1917. Do lado
direito, ao fundo vê-se o outeiro de Pedro.
(fonte Álbum das Escolas Superiores de Agricultura e Medicina Veterinária - 19131923. Friburgo/Alemanha: Tipographia Herder & Cia, 1923).
1
2
Professor Associado do Departamento de Biologia da UFRPE. [email protected]
Professora Associada
[email protected]
do
Departamento
de
Morfologia
e
Fisiologia
Animal
da
UFRPE.
3
Vista da EET feita da orla da mata do Camocim (1986).
Prédio da Escola e seu jardim em 1922. (fonte Álbum das Escolas Superiores de
Agricultura e Medicina Veterinária - 1913-1923. Friburgo/Alemanha: Tipographia Herder & Cia,
1923).
4
Ruínas do prédio da Escola em 2000 (foto de José Rodrigues Correia Filho).
Grupo de estudantes e professores na escadaria do prédio da Escola, vendo-se no alto
ao centro o Diretor Dom Pedro Bandeira de Melo em 1922. (fonte Álbum das Escolas
Superiores de Agricultura e Medicina Veterinária - 1913-1923. Friburgo/Alemanha: Tipographia
Herder & Cia, 1923).
Na área da Estação, encontram-se as matas, capoeiras e terrenos
vagos, além de uma bacia hidrográfica, representada pelo lago formado pelo
5
represamento do Rio Tapacurá. Existe alguma discrepância acerca da área
total da EET, enquanto a página da UFRPE informa que sua área é de 776
hectares, estimativas recentes avaliam a sua área em 428 hectares e o próprio
Vasconcelos Sobrinho em seu relatório afirme que a área da EET é de 330
hectares. Situada no município de São Lourenço da Mata, (antiga Estação de
Tapera), na latitude 8 º 10 ', longitude 35 ° 11' e altitude 102 m. Atualmente sua
área é dividida pelas águas do açude de Tapacurá em dois fragmentos
remanescentes da Mata Atlântica, denominados de Mata do Toró e Mata do
Camocim (LYRA-NEVES et al., 2007). A Estação é classificada como Área de
Floresta Estacional Semidecidual de Terras Baixas, possui clima do tipo As’
com precipitação média anual de 1300 mm ao ano e seis meses com menos de
100 mm. Apresenta vegetação de mata seca predominantemente arbórea,
atingindo cerca de 30 m de altura (LYRA-NEVES et al., 2007).
Atualmente a Estação é um campus avançado da UFRPE, dirigida por
Paulo Martins. Destina-se a pesquisas na área de Botânica, Zoologia e
Ecologia. A Estação também realiza atividades de produção de mudas de
espécies frutíferas e florestais de interesse da Mata Atlântica, tais como o PauBrasil, Pau-Jangada e Ipê.
A Estação pretende incentivar a educação ambiental, através da
realização de visitas ecológicas, é uma importante base de pesquisas, como o
estudo da recuperação espontânea e orientada em solos fora de uso,
reintrodução de espécies vegetais e animais extintos na região, funciona
também como um banco permanente de sementes, dando suporte a setores de
reflorestamento e silvicultura.
De acordo com o Professor Osvaldo Martins F. de Souza3 (2008), em
1936, com a fundação do Aprendizado Agrícola de Pacas, em Vitória de Santo
Antão, este foi transferido dois anos depois para o Engenho de São Bento, no
mesmo local onde havia funcionado a Escola Superior de Agricultura “São
Bento”. Já sob o nome de Escola Agrotécnica de São Lourenço da Mata, foi
incorporado à Universidade em 1957 e foi novamente renomeada dez anos
depois, em homenagem a um antigo monge beneditino que havia ensinado na
3
Professor aposentado da UFRPE, onde exerceu várias funções, destacando-se a Direção da Escola
Agrotécnica, no período de 1958 a 1968. Idealizou juntamente com o Professor Roldão Siqueira Fontes e
do Professor Vasconcelos Sobrinho a Campanha Nacional em prol da Preservação do Pau-brasil.
6
escola, passando a chamar-se Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas, que foi
professor de Zootecnia, na Escola e na Escola Agrotécnica de São Lourenço
da Mata. Na Escola desenvolveu um grande interesse pelo estudo das
serpentes venenosas da região e também pela aplicação da diagnose com
base no exame da íris na medicina veterinária, conhecida como iridiologia,
como pode ser constatado pelo artigo de sua autoria intitulado “A diagnose
iridiana na medicina veterinária” (IKAS, 1930) publicado no jornal estudantil da
Escola “O Semeador”.
Dom Agostinho Ikas, chamado pelo povo de “Pai dos Pobres”, era a
figura mais conhecida e querida do Vale do Tapacurá. Muitas vezes
enfrentando rigoroso inverno a qualquer hora do dia ou da noite. Protegido por
capa e guarda-chuva, tendo em uma das mãos uma lanterna, saía da Escola
anexa à igreja, subindo e descendo ladeiras, para dar extrema-unção a um
moribundo, ou dar remédio a um enfermo, não importando se rico ou pobre,
branco ou preto, crente ou ateu (SOUZA, 2008).
Acometido de grave doença, foi transferido para o Mosteiro de São
Bento, em Olinda, falecendo em 3 de setembro de 1968, sepultado no piso do
pátio interno do Mosteiro, cuja laje contém os seguintes dizeres: “PA. D. In Sub,
Augustino Ikas, Pater Pauperum Vocatus. Natus in Markelsheim die 20 febr
1893, obit die 3 sept 1968” (SOUZA, 2008).
7
Caricatura do acadêmico João Vasconcelos Sobrinho
publicada no jornal estudantil “O Enigma”, ano I, n.III, 28/8/1928.
Segundo Gaspar (2008) o Professor João Vasconcelos Sobrinho nasceu
no dia 28 de abril de 1908, em Moreno, cidade da Região Metropolitana do
Recife, Pernambuco. Pioneiro na área dos estudos ambientais no Brasil é
considerado uma das maiores autoridades em ecologia da América Latina.
Foi o primeiro diretor do Jardim Zoobotânico de Dois Irmãos, atual
Parque de Dois Irmãos, inaugurado no dia 14 de janeiro de 1939, pelo então
interventor de Pernambuco Agamenon Magalhães, no bairro de Dois Irmãos.
Foi um dos responsáveis pela criação da Universidade Federal Rural de
Pernambuco
(UFRPE),
onde
introduziu
as
disciplinas
Ecologia
Conservacionista (primeira do gênero ministrada no Brasil) e Desertologia,
além de ter exercido também o cargo de reitor (1963).
Professor,
engenheiro
agrônomo
e
ecólogo
conservacionista,
Vasconcelos Sobrinho exerceu diversos cargos, entre os quais o de titular de
Botânica da UFRPE; professor catedrático da cadeira de Botânica Tecnológica
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); diretor do serviço de
Inspeção Florestal e Proteção à Natureza de Pernambuco; diretor do Serviço
Florestal do Ministério da Agricultura - posteriormente denominado Instituto
Brasileiro
de
Desenvolvimento
Florestal
(IBDF);
diretor
do
Centro
8
Pernambucano da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza e
consultor da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Foto do acadêmico João Vasconcelos Sobrinho
publicada no jornal estudantil “O Semeador”, ano I, n.2, 21/4/1929.
Membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),
foi um dos primeiros cientistas a alertar sobre a formação de deserto em
algumas regiões brasileiras, sendo convidado para participar da Conferência
das Nações Unidas sobre Desertificação em Nairóbi, no Quênia. Também
muito se empenhou na campanha pelo reflorestamento do pau-brasil e fundou
a Estação Ecológica de Tapacurá (UFRPE).
O problema da desertificação passou a ser destacado a partir da década
de 1970, quando Vasconcelos Sobrinho alertava que estaria surgindo no semiárido brasileiro um grande deserto com todas as características ecológicas que
conduziriam à formação dos grandes desertos hoje existentes em outras
regiões do globo.
Segundo Meunier (2008) é impossível tratar de Desertificação no Brasil,
e ainda mais em Pernambuco, sem associar esse tema ao ecólogo
Vasconcelos Sobrinho.
Vasconcelos Sobrinho não foi apenas convidado a participar da
conferência sobre Desertificação de Nairobi, Quênia, em 1977. Depois da I
9
Conferência da ONU sobre Meio Ambiente em 1972, de Estocolmo, a ditadura
militar no Brasil foi instigada a elaborar um relatório sobre os processos de
desertificação no país. Ficou sob a sua responsabilidade a coordenação do
“Relatório Nacional sobre a situação das áreas sub-úmidas e semi-áridas e as
conseqüências da seca” a ser apresentado na Conferência em Nairobi, Quênia,
em 1977.
Publicou mais de vinte trabalhos, todos sobre ecologia e conservação
dos recursos naturais, entre os quais podem ser destacados: Dicionário de
termos técnicos de botânica (2. ed., 1945); As regiões naturais de Pernambuco,
o meio e a civilização (1949), o seu livro mais conhecido; As regiões naturais
do Nordeste, o meio e a civilização (1970); Ciência, religião sem dogmas
(2.ed., 1973); O grande deserto brasileiro (1974); Catecismo da ecologia
(1979); Processos de desertificação ocorrentes no Nordeste do Brasil: sua
gênese e sua contenção (1982); Desertificação no Nordeste do Brasil
(coletânea de trabalhos publicados pelo Departamento de Planejamento de
Recursos Naturais da Sudene, em 2002). João Vasconcelos Sobrinho faleceu
no dia 4 de maio de 1989, no Recife.
O seu Relatório apresentado ao Conselho da Estação Ecológica do
Tapacurá em 1976, hoje se constitui num documento importante para a história
da EET e da própria UFRPE, razão por que o reproduzimos na íntegra no
presente trabalho e tentamos discutir os seus aspectos históricos.
RELATÓRIO APRESENTADO AO CONSELHO DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA
DO TAPACURÁ, REFERENTE AO PRIMEIRO ANO DE ATIVIDADES.
Excelentíssimos Senhores Conselheiros
INTRODUÇÃO
Cumpre-nos, na qualidade de responsável
pela implantação e
administração da Estação Ecológica do Tapacurá, por designação do Magnífico
Reitor Professor Humberto Carneiro, da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, e homologação do Magnífico Reitor Marcionilo Lins, da
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Universidade Federal de Pernambuco, apresentar-vos o relatório das
atividades desta Instituição no decorrer do primeiro ano do seu funcionamento.
Certamente não esperais que um grande trabalho tenha sido já
realizado, no entanto algo de positivo pode ser apresentado, o suficiente para
conferir à Estação Ecológica do Tapacurá, uma estrutura definida e confirmar a
sabedoria de sua criação.
De fato, tem sido necessário um esforço imenso para imprimir aquele
primeiro impulso indispensável à movimentação da máquina administrativa e
vencer a inércia das circunstâncias que envolvem toda atividade pública. Mas o
apoio e estímulo a toda prova que nos tem sido dado pelo Magnífico Reitor
Prof. Humberto Carneiro, vem constituindo a mola mestra do êxito que já se
pronuncia de futuro. Também cumpre ressaltar o apoio generalizado das
demais autoridades e companheiros da Universidade Rural, notadamente do
Professor Murilo Salgado, Diretor do Departamento de Administração, sempre
pronto a encontrar soluções para os problemas do âmbito administrativo,
aquelas pequenas coisas que apesar de pequenas constituem para quem
administra, o motivo maior das frustrações psíquicas e dos enfartes do
miocárdio.
Nem poderemos esquecer a personalidade ilustre do Magnífico Reitor
Paulo Maciel, que prestimosamente jamais se recusou a conceder-nos um
pouco do seu precioso tempo sempre que o procuramos em função dos
interesses da Estação Ecológica da qual é um dos fundadores e membro do
seu Conselho.
Cumpre, também, não esquecer os estímulos que de quando em quando
nos têm sido dados por tantos dos nobres conselheiros, todos eles
permanecendo sempre indagadores interessados das realizações da Estação.
Entre eles manda a justiça salientar a personalidade impar de Gilberto
Freyre, velho pioneiro da ecologia desde os tempos de Casa Grande e
Senzala, indiscutivelmente o primeiro tratado já escrito evidenciando o
relacionamento da sociologia com a ecologia, criando o que hoje se
denominaria de Ecologia Sociológica, aspecto esse das ciências ecológicas
que vem se firmando como extremamente válido e atual.
E que diremos de Costa Porto, velho companheiro de lutas
conservacionistas desde os tempos de sua profícua atuação no Departamento
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das Cooperativas do Estado de Pernambuco, sempre tão interessado nas
ilusões desse “Dom Quixote da ecologia” que somos, a lutar contra os
“moinhos de vento” do poderio econômico e da política, com a espada franzina
da proteção à vida, à natureza, ao ambiente.
E assim, de cada um em particular e de quantos compõem este egrégio
Conselho, tem sempre a Estação Ecológica do Tapacurá, recebido estímulos
tantos que tem tornado tudo mais fácil em meio de dificuldades tamanhas.
Se outras formas de estímulo não houvesse, bastaria para merecer a
gratidão da nossa modesta Estação Ecológica, a imensa generosidade que
ressalta da simples aceitação por vós de compartilhamento neste Conselho,
conferindo, por esse modo, os altos méritos de cada um à humilde instituição
tão modesta ainda na qual tudo são apenas promessas.
Criada pela resolução n0 51/75 de 03 de março de 1975, a Estação
Ecológica do Tapacurá teve sua instalação no dia 05 de abril do mesmo ano,
em reunião do seu Conselho Consultivo, quando tomaram posse todos os
membros presentes.
A cerimônia foi realizada na sede da Estação Ecológica, no Município de
São Lourenço da Mata, de tudo dando conta a ata que foi lavrada na ocasião e
assinada por todos os presentes.
Resultou a idéia da criação da Estação Ecológica do Tapacurá, de um
encontro dos Magníficos Reitores Paulo Maciel e Humberto Carneiro e do
Professor Marini Bettolo, os quais, de justiça, devem ser considerados seus
fundadores.
Possui a Estação Ecológica do Tapacurá uma área de 330 hectares,
área relativamente pequena para os fins a que se propõe, porém bastante para
construir um núcleo de atuação ativo, capaz de interferir beneficamente no
sentido ecológico, em vastas áreas, e assim ampliar de muito seu âmbito de
atuação.
Para compreender esse aspecto de atividades da Estação Ecológica do
Tapacurá fora de sua área, basta referir o fato que passamos a denominar de
“Operação Tartaruga”.
Nos primeiros dias de março último, chegou ao conhecimento da
Estação Ecológica do Tapacurá a presença de imensos cardumes de
tartarugas arribados às praias de Sirinhaém e outras praias próximas.
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Estabeleceu-se um comércio predador de inusitado barbarismo. Um
empresário cedia redes a um numeroso grupo de adventícios cuja função
consistia em apanhar durante a semana as tartarugas, arribadas à praia para
desova.
Os animais permaneciam condenados à fome e sede durante toda a
semana, imobilizados em posição dorsal, até o sábado, quando eram
descarnadas para a venda da carne aos restaurantes.
Com apoio integral do delegado do IBDF em Pernambuco, o Professor
José Ferreira da Silva, membro deste Conselho, nos deslocamos para a área
buscando tomar conhecimento pessoal do fato, daí decorrendo uma ação
conjunta do IBDF e da SUDEPE, a responsável maior pelas soluções do caso.
Em algumas tartarugas foram encontradas placas com referências de
identificação, e solicitação para remessa da placa para Universidade da
Flórida.
Evidenciou-se, assim, que se tratava de uma espécie sob observação
fenológica, habitante de uma estação biológica da referida Universidade,
espécie, possivelmente, em processo de extinção.
Tratava-se de um magnífico fenômeno de migração anual, buscando,
milhares de indivíduos, praias mais quentes para a operação de desova.
Nadaram, essas tartarugas, mais de 9.000 quilômetros, em busca da
sobrevivência da espécie. Cumpria que encontrassem na orla marinha, a
acolhida e o amparo de que careciam.
Outra atuação da EET, refere-se à iniciativa da Prefeitura de Olinda
doando toda uma praça no Bairro Novo para construção de um cinema.
Solicitados por várias pessoas daquela cidade a tomar posição, e havendo
concluído do relacionamento do assunto com as finalidades da EET,
apresentamos um protesto através do Diário de Pernambuco, como entrevista.
O assunto foi reproduzido pelo “O Estado de São Paulo”, repercutindo
de imediato na Secretaria Especial do Meio Ambiente, de cujo titular, em
Brasília, recebemos telefonema pedindo confirmação da entrevista. De
imediato o Dr. Paulo Nogueira Neto, telegrafou ao Senhor Governador do
estado e ao Prefeito de Olinda, pedindo sustar a referida iniciativa. A TV Globo,
no Jornal Nacional, divulgou o assunto pelo País inteiro, conscientizando as
populações para um tema em aparência desprovido de importância, mas que,
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ecologicamente, constituiria uma infração ambiental desfavorável à população
de todo um bairro. E promover essa conscientização, é uma das atribuições da
Estação.
Cumpre, também, relatar a tomada de posição da EET, relativamente à
proteção das matas da área que vai desde a Universidade Rural, até às
nascentes do Monjope. Essas matas devem ser preservadas com o maior
empenho, visando a formarem a “Reserva Biológica do Recife”.
No entanto, o impacto que vêm sofrendo de todas as áreas de
interesses, torna extremamente difícil a solução desse grave problema.
Antes do ano 2.000, o Recife será uma única conurbação4 habitacional,
desde Itamaracá até Moreno, se na forem tomadas medidas seguras desde
agora. Uma delas, seria a criação da “Reserva Biológica do Recife”,
abrangendo a referida área.
A Estação Ecológica vem nesse sentido prestando uma colaboração
intensa à FIDEM, assessorando os seus trabalhos de sentido ecológico e
utilização correta da Região Metropolitana do Grande Recife, com o empenho,
justamente, de evitar a referida conurbação.
Problemas de ordem em geral
É compreensível que a administração da Estação Ecológica do
Tapacurá, tivesse que enfrentar problemas de ordem geral, por vezes de difícil
solução. De início, o problema maior, foi a presença nas terras da Estação, de
7 intrusos, com casas montadas, lavouras e criação de gado, como uma
tentativa de colonização territorial compulsória.
Em decorrência de ofício da Administração da EET, ao Magnífico Reitor,
foi criada uma comissão para estudar a solução cabível e consultada a
Procuradoria Jurídica, concluindo-se que aos intrusos não cabiam quaisquer
direitos, devendo os mesmos abandonarem, de imediato, as áreas por eles
ocupadas.
Graças as medidas daí decorrentes tomadas pela administração da
EET, até agora 6 intrusos já atenderam às determinações recebidas e
4
O processo de conurbação é caracterizado por um crescimento que expande a cidade, prolongando-a
para fora de seu perímetro absorvendo aglomerados rurais e outras cidades.
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deixaram as terras que ocupavam. O sétimo, pediu o prazo de mais um mês, o
que foi concedido.
Outro problema que vem interferindo na plena implantação da EET,
resulta do grande número de moradores antigos, remanescentes dos
funcionários que compunham a Escola Técnica e a Fazenda de Criação,
outrora existentes antes da construção da barragem sobre o Rio Tapacurá.
De
certo
imprescindível
às
modo,
uma
atividades
grande
da
maioria
Estação,
desse
prestando
funcionalismo
ótimos
é
serviços,
principalmente na implantação das grandes sementeiras do Pau-brasil e outras
espécies nativas, e também em atividades de vigilância e diversas outras
tarefas.
No entanto, todos eles, em decorrência de costume já firmado de longa
data, possuem áreas cultivadas por vezes relativamente extensas, além de
criação de gado, o que constitui, evidentemente, grave distorção das
finalidades da Estação.
Na impossibilidade de uma solução integral, a Administração da Estação
vem providenciando a redução das áreas, visando a uma progressiva
eliminação de quaisquer lavouras e criação de gado.
Medidas preliminares
Por ocasião da instalação da Estação Ecológica, foram convocados
todos os moradores com suas famílias (mulheres, filhos e agregados), para
receberem as primeiras informações sobre o significado e as finalidades de
uma Estação Ecológica, e sobre a colaboração que de todos eles se esperava.
Com este fim foram realizadas várias palestras de nível acessível ao
entendimento de todos, resultando alguns compromissos aceitos por aqueles
que quisessem continuar na área da Estação como seus funcionários. Esses
compromissos foram os seguintes:
1 – não atear fogo em qualquer área da estação,
2 – não matar nenhum animal,
3 – não destruir ninhos,
4 – não possuir cães e espingardas de caça,
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5 – não usar ou mesmo possuir bodoques, estilingues ou outros
instrumentos de ataques à animais,
6 – não cortar árvores, arbustos, ervas e nem danificar seus galhos e
folhas,
7 – enfim, não agir em detrimento de qualquer forma de vida existente
na Estação Ecológica ou que nela venha procurar refúgio.
É sobremodo grato para a Administração da EET, informar que esses
compromissos
vem
sendo
cumpridos
integralmente,
verificando-se
o
nascimento de uma consciência conservacionista de todos os moradores da
Estação Ecológica, até mesmo das crianças.
O regresso dos animais
Os efeitos desta nova atitude de proteção à vida selvagem, vem se
fazendo sentir de maneira evidente pelo reaparecimento de várias espécies de
animais consideradas extintas na área, e pelo aumento populacional das
remanescentes.
Parece que o instinto natural, atuando sobre os animais, lhes informa
que ali naquela área, eles podem encontrar segurança, tranqüilidade e refúgio.
Trabalhos de implantação
Cumpre trazer ao conhecimento deste Egrégio Conselho o que foi
realizado no decorrer deste primeiro ano de existência da Estação Ecológica do
Tapacurá. Iniciaremos pelas atividades administrativas para em seguida relatar
o que existe em andamento no campo das pesquisas.
Delimitação de rumos. Ao assumirmos as responsabilidades de
implantação da Estação Ecológica do Tapacurá, sentimos de imediato a
necessidade de serem definidos os limites com as propriedades vizinhas, um
vez que o relativo abandono da propriedade decorrente das desapropriações
de grandes áreas realizada pelo Ministério do Interior para construção de
barragem e transferência do Colégio Agrícola e da Estação de Criação para
outros lugares, convidava à invasão e apropriações indevidas.
16
Os rumos retificados já em mais de um terço da propriedade, com
abertura de picadas de reconhecimento e localização dos antigos marcos.
Esses marcos cortados em pedra, possuem na face voltada para a área da
Estação, as inicias SB, abreviaturas das palavras São Bento. São marcos,
implantados desde os tempos da redivisão da grande sesmaria doada pelo Rei
à Ordem Beneditina, em mais de uma dezena de engenhos que hoje abrangem
partes dos municípios de Paudalho e São Lourenço.
De todos esse engenhos resultantes da redivisão da grande sesmaria, a
Ordem Beneditina conservou apenas o Engenho São Bento, onde funcionou,
por 19 anos a Escola Superior de Agricultura São Bento, e hoje funciona a
Estação Ecológica do Tapacurá. Todos os demais engenhos foram arrendados
em regime de foro perpétuo a diversas pessoas.
O Engenho São Bento parece haver sido montado pelo célebre
historiador Brandônio, pois nos seus Diálogos, há referências ao fato de haver
ele criado um engenho comesse nome em área pertencente hoje ao município
de São Lourenço. Possui, assim, a Estação Ecológica do Tapacurá,
antecedentes de nobreza: situa-se na antiga “Mata do Pau-brasil”, em engenho
montado por Brandônio, e onde a Ordem Beneditina criou o primeiro núcleo de
investigação agropecuária no Norte do Brasil.
Na parte já retificada dos rumos, está sendo construída uma cerca mista
de estacas com arame farpado e essências florestais, densamente unidas,
utilizando-se o plantio das sementes diretamente no local definitivo. Busca-se,
assim, tornar toda a área da Estação, um refúgio inviolável para toda a vida
selvagem que a habita e venha habitar.
Portão de acesso. Foi construído um portão de entrada da estrada
principal de acesso à Estação, na linha divisória com a propriedade Santo
Antônio. Trata-se de um portão rústico, condizente com o ambiente natural,
porém de amplas dimensões, capaz de permitir a passagem de ônibus e outros
veículos de grande porte.
O Curupira. Em ângulo adequado a oferecer uma visão perfeita a quem
se aproxima do portão de entrada, foi construído o monumento ao Curupira,
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bem no início da área da Estação, como a vigiá-la contra a presença de
indesejáveis predadores da Natureza.
O monumento foi obra de um modesto operário da Estação Ecológica,
Francisco Xavier Soares, orientado apenas por sugestões e desenhos capazes
de oferecer-lhe uma idéia da natureza e significado do monumento. Trata-se,
assim, ao que nos parece, de uma obra de arte tipicamente popular. A
expressão do moleque índio, montado no porco do mato, com o braço erguido,
ameaçador, evoca, de fato a lenda índia do gênio protetor da floresta, hoje o
emblema da ecologia e da proteção à Natureza do Brasil.
É o único monumento ao Curupira de que se tem conhecimento e
memória. Dele foram feitos alguns poucos cartões-postais que serão
distribuídos
neste
Conselho.
Posteriormente,
com
melhores
recursos,
pretendemos divulgar mais amplamente a lenda do Curupira, não apenas com
a
reprodução
abundante
desses
cartões-postais,
mas,
também,
confeccionando um pequeno folheto para distribuição nas escolas primárias,
além de literatura em cordel. Quem sabe se algum ilustre membro deste
Conselho nos poderá orientar como encontrar o poeta versejador de
quadrinhas populares?
Reparos e aberturas de estradas. Como atividade de infra-estrutura,
foram realizados reparos por vezes de relativa importância, como por exemplo
a construção de passagens de água e de tubulações de drenagem em mais de
cinco
quilômetros
de
estradas
de
acesso
e
de
caminhos
vicinais,
terraplanagem geral e piçarramento de superfícies.
Reparos e adaptações de edifícios. Uma das mais importantes
finalidades da EET, segundo consta do seu Regimento, consiste em pesquisas
no campo da ecologia geral e aplicada, e na ministração de cursos de extensão
e de mestrado em ecologia.
Visando à esta finalidade, já estão providenciadas as plantas para as
edificações definitivas.
Não existe, porém, além da área ocupada pela sementeira, nenhuma
outra plana e suficientemente extensa que tenha escapado à inundação
decorrente
da
construção
da
barragem.
Por
esta
razão,
tornou-se
18
imprescindível a terraplanagem de uma área com 5.000 metros quadrados,
utilizando-se maquinaria alugada a COMAPE, encontrando-se os trabalhos
quase terminados.
Esta plataforma será destinada à construção dos edifícios dos
laboratórios e da Administração, aproveitando-se os antigos prédios adaptados
provisoriamente para estes fins, como alojamentos para professores,
pesquisadores e alunos.
Para as referidas construções, dispõe a EET de algum material
resultante das demolições dos prédios da área inundada, tais como telhas,
tijolos e madeira.
Pesquisas em realização
Anotações fenológicas. Desde os primeiros dias de criação da
Estação, foi dado início às observações fenológicas tanto zoológicas quanto
botânicas em fichários adequados. Estas observações constam de anotações
detalhadas do comportamento dos animais constituintes da vida selvagem da
Estação, tais como namoro, acasalamento, construção de ninhos ou de outros
refúgios destinados a procriação.
Idênticas anotações estão sendo realizadas sobre a vida vegetal,
fixando-se as épocas de aparecimento das primeiras flores das diversas
espécies
vegetais,
desde
ervas
até
árvores,
plenitude
de
floração,
aparecimento e maturação dos primeiros frutos, maturação e queda das
sementes, etc.
A importância das observações fenológicas, cresce com o número de
anos de observações realizadas, tornando possível um conhecimento mais
detalhado da ecologia da área, da relação do comportamento animal e vegetal
decorrente das estações do ano, do retardamento ou da antecipação das
estações, intensidade pluviométrica, fotoperiodismo, dados estes que, a longo
prazo, tornam-se crescentemente válidos para o uso dos recursos naturais sem
dano para o processamento ecológico.
Investigação científica e de interesse didático. Com êxito que pode
ser considerado extremamente animador, já foram iniciadas por professores
19
das Universidades Federal Rural e Federal de Pernambuco, bem como de
alguns
pesquisadores
e
professores
de
outras
instituições,
algumas
observações e pesquisas.
De professores da Universidade Rural, encontram-se em andamento
pesquisas no campo da entomologia, levadas a efeito pelos professores Mário
Bezerra de Carvalho, Geraldo Pereira de Arruda e Eneida Bezerra de Arruda.5
As pesquisas entomológicas deste grupo de trabalho, visam a
restauração do “Insetário Pickel”. Dom Bento José Pickel, foi um monge
Beneditino que, por mais de 40 anos, viveu na antiga Escola de Agronomia São
Bento, área hoje ocupada pela Estação Ecológica do Tapacurá, realizando uma
coleção de imenso valor científico de insetos, todos devidamente classificados.
Infelizmente esta preciosa coleção, encontra-se hoje dispersa, e daí o
empenho da EET em restaurá-la como uma homenagem a um dos maiores
pesquisadores científicos em Pernambuco, quando ainda a pesquisa científica
encontrava-se entre nós na infância.
As pesquisas botânicas vêm sendo realizadas por nós, pelo Professor
Marcelo Athaide e pela Curadora de Museu Ida Brunes Pontual. Visa, também,
este trabalho, a recuperação de uma memorável obra do referido cientista: o
“Herbário Pickel”. Realizando coleta de plantas dessa área, igualmente por
mais de 40 anos, aquele monge beneditino tornou-a a mais conhecida
botanicamente do Brasil. Com a colaboração de botânicos eminentes,
especialistas em vários grupos vegetais, da Alemanha, da Inglaterra e dos
Estados Unidos, Dom Bento Pickel identificou e classificou mais de 7.000
espécimes vegetais. No entanto, hoje, tal como aconteceu com a sua coleção
de insetos, seu precioso herbário encontra-se disperso em meio ao herbário do
Instituto de Pesquisas Agronômicas e outros herbários. Cumpre reconstituí-lo.
Para isto dispomos do material vivo, aquela mesma mata e aqueles mesmos
campos nos quais Dom Bento Pickel fez suas preciosas coleções e também do
fichário escrito por sua própria mão. Basta recoletar as plantas novamente, e
identificá-las mediante essas antigas fichas.
Restaurando estas duas preciosas coleções, o Insetário e o Herbário
“Pickel”, estará a Estação Ecológica do Tapacurá proporcionando à ciência
5
Trata-se da Professora Eneide Carvalho de Arruda.
20
pernambucana um extraordinário instrumento de estudos, e que possui
também imenso valor histórico.
Nestes trabalhos vem tomando parte com intenso entusiasmo Professor
Geraldo Mariz, da Universidade Federal de Pernambuco, membro deste
Conselho.
Observações sobre a recuperação da flora e da fauna. Como
pesquisa
de
fundo
especificamente
ecológico,
já
estamos
iniciando
observações sobre os processos naturais de recuperação da cobertura vegetal
e reconstituição da vida selvagem.
Estas observações exigirão, em breve, a colaboração de vários
pesquisadores especializados em áreas precisas, que deverão trabalhar a
partir do mapeamento ecológico nas diversas áreas e anotações de campo.
Sabedores de que o INCRA dispõe de um precioso acervo de dados
concernentes à natureza e uso do solo e estado atual de sua cobertura, e
outros dados capazes de oferecerem um substrato básico para os referidos
estudos ecológicos, já foi providenciado ofício do Magnífico Reitor Humberto
Carneiro ao Coordenador do INCRA, solicitando cópias dos referidos
documentos. Sobre eles, montaremos os estudos ecológicos propriamente
ditos da área da Estação e propriedades vizinhas.
Cabe o mérito da obtenção destes documentos, ao Professor Osvaldo
Martins, alto funcionário do INCRA e colaborador da Estação.
Projeto de pesquisas em ecologia geral e aplicada. Um amplo projeto
de pesquisas já foi elaborado, abrangendo todos os campos da ecologia, de
acordo com as finalidades a que se propõe a Estação, especificadas em seu
Regimento.
Este projeto encontra-se exposto no documento anexo a este relatório,
com 71 páginas, fotografias e mapas. Para sua realização se requer a
importância de Cr$ 10.747.700, 59 (dez milhões, setecentos e quarenta e sete
mil, setecentos cruzeiros e cinqüenta e nove centavos), encontrando-se em
estudo de viabilidade no Departamento de Recursos Naturais da SUDENE.
Situação financeira
21
É evidente que este Egrégio Conselho encontra-se interessado em
tomar conhecimento dos recursos com que a Estação Ecológica do Tapacurá
vem contando e espera contar para a plena realização das suas finalidades.
De início pensamos em um amplo convênio entre as Universidades
Federal e Rural de Pernambuco, contribuindo cada uma com a metade das
despesas, porém, cedo concluímos ser isto extremamente difícil, cumprindo
partir para um esforço de captação de recursos em instituições financeiras
diversas.
O referido Projeto de Pesquisa em Ecologia Geral e Aplicada, constituiria
a solução indicada. A SUDENE, após cuidadoso estudo daquele documento,
deverá tentar a captação de recursos. Até lá, continuaremos em passo lento,
porém seguro, e com animadores resultados, como bem se esclarece neste
Relatório.
Convênios. A captação de recursos mediante convênios prossegue em
ritmo acelerado apesar de não muito promissor.
O primeiro convênio a ser solicitado, foi com a Universidade Federal de
Pernambuco, mediante o qual a referida Universidade contribuiria com a
importância de Cr$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil cruzeiros). Em
decorrência, porém dos compromissos já anteriormente assumidos por aquela
Universidade, encontra-se a minuta do referido convênio em reformulação
pelos seus órgãos competentes. No entanto, cumpre ressaltar a extrema boa
vontade do Magnífico Reitor Paulo Maciel, concedendo a verba de Cr$
50.000,00 (cinqüenta mil cruzeiros) em dezembro findo.
Essa verba recebida pelo Tesoureiro da Rural, foi, como de praxe,
incorporada ao seu orçamento, com aplicação disciplinada pelo Conselho de
Curadores como segue:
Material permanente – Cr$ 25.000,00
Material de consumo – Cr$ 15.000,00
Serviços de terceiros – Cr$ 10.000,00
A aplicação destas verbas é subordinada às normas orçamentárias
através do Departamento de Orçamento, mediante tomadas de preço pelos
serviços de compra e material, cabendo-nos, apenas, determinar a sua
aplicação.
22
Visando dar a maior rentabilidade e significado a esta doação da
Universidade federal, providenciamos sua aplicação na recuperação do
Herbário e do Insetário “Pickel”, pelo menos o impulso inicial. Acreditamos que
melhor aplicação não haveria pra tão generosa doação da Universidade irmã.
Convênio do Pau-brasil. Já antes da criação da Estação Ecológica,
funcionava um convênio da Universidade Rural com o Departamento Nacional
de Saneamento, visando o plantio de 50.000 mudas de Pau-brasil na faixa de
terras entre a margem do açude e a cota 110 m da área desapropriada
pertencente àquela autarquia. Para este convênio o DNOS contribui com a
verba total de 300.000,00 (trezentos mil cruzeiros), durante cinco anos.
Constitui, este convênio, um êxito completo, estando já plantadas, até
esta data, mais de 35.000 mudas de Pau-brasil. É o primeiro plantio de uma
essência florestal brasileira em grande escala.
O mérito desta iniciativa e dos trabalhos realizados, cabe aos
professores Osvaldo Martins e Roldão de Siqueira Fontes. Podemos afirmar
sem receios de desmentidos, que foram eles que evitaram o desaparecimento
do Pau-brasil no Brasil.
Convênio com o INCRA. Estamos tentando um convênio com o INCRA
no valor de Cr$ 512.000,00 (quinhentos e doze mil cruzeiros), visando a
criação de um “Banco de Sementes”, de árvores florestais para distribuição
com serviços públicos e venda a empresas particulares de silvicultura.
A importância de um “Banco de Sementes” de árvores florestais,
evidencia-se quando se descobre que a nossa flora nativa vem sendo
destruída rapidamente e substituída por plantas exóticas, principalmente por
falta de sementes disponíveis para o seu replantio.
Convênio com o IBDF. Já foi encaminhada uma proposta de convênio
com o Instituto Brasileiro de desenvolvimento Florestal no valo de Cr$
400.000,00 (quatrocentos mil cruzeiros). Tem por finalidade esse convênio,
promover a reconstituição da vida selvagem na área da Estação Ecológica.
Já desapareceram quase 60% dos animais selvagens do Nordeste.
Apenas em algumas poucas áreas encontra-se a fauna primitiva intacta. A mais
23
importante dessas áreas situa-se na Chapada das Mangabeiras, nos confins do
Piauí com a Bahia, Maranhão e Goiás.
Convênio com o DNOS. Além do convênio já referido com o
Departamento Nacional de Obras de Saneamento, para o plantio do Pau-brasil,
já foi assinado um convênio mediante o qual a Estação Ecológica tem livre
acesso às águas da represa do Tapacurá, para realização de estudos
ecológicos, notadamente de limnologia.
Manutenção da Estação. É evidente que os convênios referidos, quase
todos ainda em estudo, não oferecem o suporte financeiro de que necessita a
Estação Ecológica do Tapacurá, e assim é a Universidade Federal Rural de
Pernambuco a fonte financiadora, mesmo porque constitui a Estação, um dos
seus órgãos componentes, segundo estabelece o seu Regimento.
Examinemos. Por ocasião da criação da Estação, existiam 65
funcionários pertencentes à antiga Escola Técnica, os quais vêm prestando
inestimável contribuição aos trabalhos de sua implantação, como trabalhadores
de campo, vigias de mata, artífices diversos. Sem eles, a Estação encontrar-seia, ainda na estaca zero.
Este funcionários custam à Universidade mais de Cr$ 1.600.000,00 (um
milhão e seiscentos mil cruzeiros), anualmente.
Além destas despesas com o pessoal, a Universidade Rural vem
atendendo, na medida do possível, a despesas com aquisição de materiais
diversos, tais como cimento, tintas, ferramentas de campo, despesas de pronto
pagamento e outras várias. Ao todo, foi dispendido pela Universidade Rural
com a Estação Ecológica, no primeiro ano do seu funcionamento, mais de Cr$
1.650.000,00 (um milhão seiscentos e cinqüenta mil cruzeiros).
Necessidades mais urgentes. Entre as necessidades da Estação
Ecológica, que cumpriria atender por indispensáveis à sua implantação e
funcionamento, duas se apresentam como das mais urgentes. A primeira é a
obtenção de um trator, a segunda de um veículo de transporte de passageiros.
Acreditamos que estas necessidades somente poderão ser atendidas mediante
24
doações de entidades particulares ou públicas tais como o INCRA, o IBDF,
cujas atividades se relacionam estreitamente com as da Estação Ecológica.
Visitantes
Para conhecimento das instalações e das finalidades da Estação, bem
como para coleta de dados informativos e noticiosos, visitaram a Estação
Ecológica do Tapacurá as seguintes pessoas: Dom Conrado e Dom Eugênio
do Mosteiro de São Bento de Olinda; TV Globo; Revista Veja; Revista
Manchete; Atlântica Cinematográfica; estudantes do Colégio São Bento de
Olinda; Padre Miguel Dankers da Congregação do Sagrado Coração; Professor
Zadoc da Fonseca, da Universidade Católica; Professor Evado Machado, da
Universidade de Minas Gerais; Professor Geraldo Mariz, da Universidade
Federal de Pernambuco; Dr. Elpídio Dias, do Departamento Estadual de
Estradas e Rodagens.
+
+
+
Acreditamos, Senhores Conselheiros, que a Estação Ecológica do
Tapacurá, não vos desapontou nesse esforço imenso de decolagem em seu
primeiro ano de existência. Temos boas razões para esperar que o próximo
Relatório vos apresente bem mais abundantes realizações, principalmente no
campo do ensino.
No próximo ano serão implantados cursos de extensão em ecologia e
também de mestrado e acreditamos que em futuro próximo, tornar-se-á viável a
criação de um curso de profissionais em ecologia.
Aliás, já este ano deverá ser dado início a um curso preliminar de
ecologia para o professorado do magistério primário e secundário do Estado,
atendendo a solicitação do Senhor secretário de Educação. São 8.000
professores a atenderem a esse curso, sendo necessário nos deslocarmos
para os centros administrativos do interior. Não sabemos se teremos energias
e tempo para tanto, sabemos sim que não nos podemos negar a uma tal
solicitação.
Recife, 23 de abril de 1976.
25
Prof. J. Vasconcelos Sobrinho.
Aspectos históricos das terras da EET
A origem do Engenho São Bento, descrita por Vasconcelos Sobrinho, no
item “delimitação de rumos” do seu relatório, as evidências históricas realmente
indicam que o mesmo tenha pertencido a Ambrósio Fernandes Brandão (e não
a “Brandônio” que é um dos personagens dos “Diálogos”) no final do século
XVI como escreve o historiador José Antônio Gonsalves de Mello (1997) na
introdução aos “Diálogos”, informa o autor que o engenho sob a invocação de
São Bento teria sido levantado antes de 1590 sendo o seu senhorio Ambrósio
Fernandes Brandão.
No século XVII, durante a ocupação holandesa o documento conhecido
como “Breve discurso” datado de 14 de janeiro de 1638, relaciona os engenhos
de Pernambuco, entre os da freguesia de São Lourenço da Mata, está o
Engenho São Bento cujo proprietário era Francisco Nunes Barbosa e
acrescenta “é d´água e mói”. Outro engenho da mesma freguesia era o
“Engenho São Bento de Musurepe”, pertencente à Ordem dos Beneditinos
Mello (2004).
Já o relatório sobre o Estado das Capitanias conquistadas no Brasil, de
autoria do Conselheiro Adriaen van der Dussen datado de 4 de abril de 1640,
informa que o Engenho São Bento, pertencente a Francisco Nunes Barbosa,
tinha como lavradores: João de Matos, Jacob Vermeulen, Bastião Ferreira,
Isabel Vieira e Manuel Filipe Soares (MELLO, 2004).
Quanto à posse do engenho pelos beneditinos existem problemas na
sua interpretação histórica, pois as “sesmarias” da região doadas pelo Rei à
Ordem, não sabemos se estas incluiriam o Engenho São Bento. Além do mais,
o Livro de Atas da Congregação (1915-1930) registra na nona sessão de 6 de
maio de 1914 que D.Pedro Roeser, diretor e fundador das Escolas, comunicou
à congregação a intenção do Mosteiro de São Bento de “adquirir uma fazenda
no interior do Estado” para a instalação da Escola Agrícola. Ficamos sabendo,
através da leitura das atas de sessões posteriores, que esta propriedade
comprada pelo Mosteiro era o Engenho São Bento, para o qual a Escola
Superior de Agricultura “São Bento” foi transferida em abril de 1917.
26
Ora, se o Mosteiro de São Bento de Olinda desde o início do século
XVII, era proprietário das terras de Tapacurá, como então entender a razão da
compra do Engenho São Bento em 1914? Como as Escolas pertenciam ao
Mosteiro como afirmado enfaticamente nas atas da Congregação, pode-se
concluir que as terras compradas no século XVII não abrangiam as terras do
Engenho São Bento.
Portanto, a afirmação de que “de todos esse engenhos resultantes da
redivisão da grande sesmaria, a Ordem Beneditina conservou apenas o
Engenho São Bento” carece de fundamento.
Souza (2009) também dá a entender que o Engenho São Bento fazia
parte das terras, que nos idos de 1606 D. Isabel de Albuquerque, prima de
Duarte Coelho de Albuquerque e filha de Jerônimo de Albuquerque, vendeu
aos beneditinos, "meia légua de terra, nos limites de Jaboatan na Matta do
Brazil, onde chamam de Tapacura".
Esta venda é comprovada através documento datado de 21 de abril de
1606 das terras “em quadra nos Limites de Jaboatam na matta do Brasil, onde
chamam o rio de Tapacora”. (LIVRO DE TOMBO, 1948, p.486). Aliás, esta obra
não só registra a citada compra de terras em Tapacurá, mais muitas outras
sesmarias na mesma região.
Relacionadas com o colonizador Jerônimo de Albuquerque (“O Adão
Pernambucano”), existem pelo menos três mulheres com o nome de Isabel de
Albuquerque. A primeira era sua irmã casada com D.Manoel de Moura; a
segunda era a mameluca filha de Jerônimo e da índia tabajara Maria do
Espírito Santo Arcoverde, casada com seu primo Felipe de Moura, filho de
Manoel de Moura e da sua tia Isabel de Albuquerque e a terceira era filha de
Jerônimo e de Dona Felipa de Melo. Esta Isabel “faleceu em 1643 sem tomar
estado, na cidade da Bahia, para onde se retirou por ocasião da entrada dos
Holandeses, deixando por seu herdeiro ao dito Mosteiro de São Bento de
Olinda” (BORGES DA FONSECA, 1935, p.354). Trata-se, portanto desta Dona
Isabel de Albuquerque, religiosa que faleceu na Bahia sem deixar herdeiros, a
dona das terras de Tapacurá. Isto significa que o Mosteiro terminou herdando
todas as terras de Dona Isabel quando esta veia a falecer em 1643 na Bahia.
Ao contrário de Dona Isabel o seu contemporâneo, Ambrósio Fernandes
Brandão nunca teve pretensões à “nobreza de sangue”. Muito ao contrário,
27
vivia como colono no Brasil na semiclandestinidade como cristão-novo
perseguido pela Inquisição. A sua obra Diálogos das grandezas do Brasil
escrita no início do século XVII, permaneceu anônima até o século XIX, quando
o historiador Capistrano de Abreu conseguiu identificar a sua autoria. Portanto,
a sua nobreza era intelectual, pelo mérito das suas agudas observações e
precisas descrições da nossa região e natureza.
Muito mais interessante sobre a história dessas terras e por
conseqüência da própria história da Estação Ecológica do Tapacurá, é o
documento de demarcação do início do século XVII das terras de Tapacurá
pertencentes à Dona Isabel de Albuquerque, por isso o transcrevemos na
íntegra na linguagem da época:
ROTEIRO E MEDIÇAM DAS TERRAS DE TAPACORÁ
Por quanto na cabeceira da terra de Manoel Leitam, e a do Licenciado
se nam achavam marcos das demarcaçoens, para dahi começar a terra da dita
Dona Izabel de Albuquerque, nos fomos ao principio da terra de Manoel
Leitam, e a terra do dito Gaspar Rodrigues Covas, o qual nos foi mostrado pelo
dito Manoel Leitam, e por Diogo da Costa, que prezente estava na dita
demarcação, na estrada de huma campina junto de uma matta, o demarcador
começou a correr pelo rumo de Loeste a legoa de terra de comprido, e no cabo
da dita legoa de terra, por se nam acharem marcos, o demarcador meteo
quatro marcos de pedra, os quaes fazem por Manoel Leitam, e o Licenciado
Covas, e por Diogo da Costa Calheiros, e a dita Dona Izabel de Albuquerque,
os quaes quatro marcos dous delles guiados ao norte, e Sul, e dous Leste e
Oeste, e destes ditos marcos o demarcador começou a dita legoa de terra da
dita Dona Izabel de Albuquerque pelo rumo de Loeste, o qual fas pela dita
Senhora, e o dito Diogo da Costa, e chegamos com quinhentas e trinta braças
em hum tezo asima de huma ribeirinha de agoa, que corre no inverno, que ao
prezente estava secca, e da banda de Loeste da dita ribeira metteo o
demarcador hum marco de pedra com suas testemunhas couza de huma braça
de hum Pao que chamam Bacuru Bujabo. E fomos adeante com o dito rumo, e
com seis centas, e noventa e duas braças, chegamos a hum caminho que vay
da Moribara para Tamaramirim, e da banda de Loeste do dito junto a elle
metteo o demarcador hum marco de pedra grande com suas testemunhas
28
guiado ao dito rumo de Loeste, e com outro marco pequeno da banda de Leste
do dito caminho, e fomos adeante com o dito rumo de Loeste, e com mil, e
duzentas braças, que he meia legoa de terra, pôs o demarcador dous marcos
de pedra a entrada de umas Tabocas em huma meia ladeira descendo para
hum ribeirinho, aonde havia algum Brazil junto a hum pao grande, que chamam
Supopira Mirim, e destes ditos ...cos de meya legoa correo o demarcador pelo
dito rumo de Loeste quatro centas, e des braças, e chegou com ellas o dito
demarcador a hum outeiro de Tabocas, que tinha muitas pedras cor de ferro, e
no cume do outeiro meteo o demarcador hum marco, ...por um marco de pedra
encostada a outra fixa com quatro testemunhas, e couza de tres braças para a
banda de Suloeste esta, hum pao de arco grande, e fomos adeante com o dito
rumo de Loeste, e com oito centas, e trinta braças dos marcos da meya legoa
chegamos ao rio Tapicuerahi entre dous engâs com huns coragatazes em cima
e do dito rio fomos correndo com o dito rumo, e com nove centas, e vinte
braças chegamos a uns penedos que estam na dita demarcaçam, e com mil e
duzentas braças, que he outra meya legoa, e com outra meia meya legoa
atras, fazem somma de dous mil, e quatrocentas braças, que he uma legoa de
terra, e chegou o demarcador com ella a hum caminho que vay para a matta do
Brazil, e no cabo della metteo o demarcador dous marcos de pedra grandes,
hum da banda do Sul do dito caminho, outro da banda do Norte, hum marco
com duas letras D.I. por marca, e por esta maneira ficou chea a legoa de terra
por este dito rumo. E ficaram dentro desta legoa alguns curraes que estam
apozentados nella, assistio a esta demarcaçam Diogo da Costa hereo nella,
que possue a terra de Francisco Fernandes do Porto: e destes ditos marcos o
demarcador foi correndo a segunda quadra pelo rumo do Norte por huns
outeiros de Tabocas, e com nove centas, e noventa braças chegamos a hum
outeiro, que tinha uma lagea alta da bando do Sul, e raza da banda do Norte,
aonde se descobria o curral dos Padres de Sam Bento, e outros ahi chegados,
a qual lagea fica por marco, e do dito marco, foi o demarcador correndo pelo
dito rumo do Norte, com nove centas, e quarenta braças, e chegamos ao cume
do dito outeiro, e outra lagea que fica Leste o este com o dito curral, e da
banda de Loeste da dita lagea esta um penedam muito alto, e grande que
descobre por sima de todo o matto couza de dês braças, pouco mais, ou
menos, da banda de Loeste da demarcaçam, o qual penedo fica tambem
29
Leste, Oeste com o dito curral dos Padres da Ordem do Bemaventurado Sam
Bento: e fomos adeante com o dito rumo Norte, e com mil, e duzentas braças
que he meia legoa, chegamos a um outeiro razo de Tabocas, aonde metteo o
demarcador hum marco de pedra com duas testemunhas, o marco guiado ao
rumo do Norte, e deste dito marco de meya legoa foi o demarcador correndo
com o dito rumo do Norte, e depois de se acharem os Tabocas, entramos em
uma matta e com mil e trinta braças alem da meia legoa, que vem de ser duas
mil, e duzentas, e trinta braças, chegamos a um caminho de carro, que serve
de tirar pao Brazil, e da banda do Norte do dito caminho metteo o demarcador
hum marco de pedra com suas testemunhas guiado ao dito rumo do Norte, e
do dito marco, e caminho foi o demarcador correndo pelo dito rumo do Norte
com mais cento, e setenta braças, que vem a ser duas mil, e quatrocentas
braças, que he uma legoa, e passamos com as cento, e setenta braças por
huma covoada, que no cabo dellas faz como vargea, e se acabaram em sima
de hum outeiro em sima da vargea, aonde se acabou a legoa de terra da
segunda quadra, aonde metteo o demarcador hum marco guiado ao rumo do
Leste, e outro guiado ao rumo do Sul pegado ao de Leste, e por esta maneira
foi chea, e enteirada esta segunda quadra: e dos ditos marcos o dito
demarcador foi correndo a terceira quadra pelo rumo de Leste, e com trezentas
e vinte braças chegou o demarcador a hum rio de muitos penedos, e passando
o dito rio pelo dito rumo de Leste com quinhentas, e sincoenta braças,
chegamos a hum caminho de carro, por onde se tira pao Brazil, que era o
mesmo que havíamos passado com o segundo rumo, e da banda de Leste do
dito caminho de carro metteo o demarcador hum marco de pedra com suas
testemunhas, o marco guiado ao dito rumo, e do dito marco foi o demarcador
correndo o rumo de Leste, e com mil, e duzentas braças, que he meya legoa
de terra, chegamos com ella a uma matta, aonde estava hum pao muito
grosso, e fes o demarcador nelle umas moças por baliza, por haver muita
chuva nam foi o demarcador mais por diante, e por ser pouco necessario, e
daqui vai cortando a demarcaçam a Leste athe dar nos marcos da
demarcaçam da terra do dito Licenciado Gaspar Rodrigues Covas, e por essa
maneira ficou esta dita terra demarcada, e enteirada, sem haver duvida, nem
embargo algum, e o dito demarcador a deo por medida, e acabada a dita
medicam da terra aos vinte e sete de Janeiro da dita era, e a requerimento da
30
dita Dona Izabel de Albuquerque passamos este assento, em que se assignou
o demarcador, e eu Bras Vicente, escrivam das datas, e demarcaçoens desta
capitania de Pernambuco pelo Senhor Duarte de Albuquerque, como capitam,
e Governador desta dita capitania por El Rey nosso Senhor que escrevy. Brás
Vicente, Gaspar Varella. (LIVRO DE TOMBO, 1948, p.496-499).
Embora que neste documento de demarcação das terras não conste do
ano da sua realização, é de se presumir que tenha sido feita antes da venda de
meia légua aos beneditinos, isto é, antes de 1606. Pois no referido documento
de escritura de venda existe referência a esta demarcação: “que hora tem
demarcado pelos demarcadores desta capitania por autoridade de Justiça, e
esta de posse pacificamente da qual legoa de terra vende, como logo de feito
vendeo a metade della aos ditos Padres...” (LIVRO DE TOMBO, 1948, p.486).
O documento de demarcação também se refere a um “curral dos Padres
da Ordem do Bemaventurado Sam Bento” existente nas terras de Tapacurá. O
documento de venda também se refere “a banda, onde hora tem suas cazas, e
curral que ficara dentro da dita meya legoa de terra”. Podemos concluir que os
beneditinos já tinham a posse de terras na região com um curral de vacas e
“um negro vaqueiro por nome Luiz Angola” em Tapacurá. Pois, antes da
compra de meia légua de terras de Dona Isabel, em 30 de maio de 1603 os
beneditinos requeriam e obtinham uma sesmaria de uma légua em quadra no
“Rio Tapacora, onde esteve o Paço Velho, e pelas Alagoas, que chamam
Alagoa Cumprida e Alagoa Redonda, athe a matta do Brazil tanto de largo,
como de cumprido, de modo que fique em quadra” (LIVRO DE TOMBO, 1948,
p.494-495). Os beneditinos alegavam uma terra para o seu gado e “pera
plantarem mantimentos pera sustentaçam do Mosteyro”. Seriam estas terras
mencionadas como o “curral” dos beneditinos no documento de demarcação.
Geralmente estas demarcações de terras no período colonial nos
séculos XVI, XVII e XVIII, eram feitas por um piloto náutico munido de uma
bússola, acompanhado pelas autoridades cartoriais e interessados na
demarcação. Como se pode constatar o documento é muito minucioso na
delimitação com marcos de pedra e procura uma objetividade que visava dirimir
as dúvidas quanto aos limites das propriedades. Um outro aspecto interessante
destes documentos coloniais é o uso de árvores de porte nas demarcações.
31
Para quem conhece a EET, parece familiar determinados acidentes
físicos tais como o da seguinte descrição: “chegamos a hum outeiro, que tinha
uma lagea alta da bando do Sul, e raza da banda do Norte, aonde se descobria
o curral dos Padres de Sam Bento, e outros ahi chegados, a qual lagea fica por
marco, e do dito marco, foi o demarcador correndo pelo dito rumo do Norte,
com nove centas, e quarenta braças, e chegamos ao cume do dito outeiro, e
outra lagea que fica Leste o este com o dito curral, e da banda de Loeste da
dita lagea esta um penedam muito alto, e grande que descobre por sima de
todo o matto couza de dês braças, pouco mais, ou menos, da banda de Loeste
da demarcaçam, o qual penedo”.
Estes penedos citados no documento devem ser o que hoje se
denomina de “Pedra Grande”, local de onde se descortina uma ampla e bela
paisagem da Estação e dos seus arredores, de lá o documento se refere que
se avistava o “curral” dos beneditinos. Seria esta a localização do Engenho São
Bento? Por que então sendo tão antigo (final do século XVI) não está referido
nos documentos? É provável então que o referido engenho não fazia parte da
sesmaria de Dona Isabel de Albuquerque.
Ruínas da Escola vistas da Pedra Grande em 1977.
32
Ruínas da Escola vistas da Pedra Grande em 2000 (foto de José Rodrigues Correia Filho).
Ruínas da Escola com a represa completamente seca, vendo-se à direita a ponte sobre o rio Tapacurá
que dava acesso à Escola (Foto de M.A.B. de Oliveira, 1994).
Esta sesmaria que Dona Isabel requereu e obteve em 1577 de Dona
Beatriz de Albuquerque, que na época governava a capitania, para fundar um
engenho de açúcar, de uma légua de terra “em quadra nos limites de
33
Jaboatam, partindo com a terra de Francisco Fernandes Porto” (Livro de
Tombo, 1948, p.481-485). Neste documento também não existe nenhuma
referência ao Engenho São Bento.
Como se pode constatar, em nenhum dos documentos de posse de
terras do Mosteiro em Tapacurá, cita o Engenho São Bento, levantado nos
finais do século XVI e que teria pertencido a Ambrósio Fernandes Brandão que
viveu no Brasil entre 1583 e 1618, e depois `a Francisco Nunes Barbosa, que
na época um engenho d´água ainda moente. Tais documentos não poderiam
ignorar esta posse e caso seu senhor o tivesse vendido, como é provável que
aconteceu, o fato deveria ser mencionado nos documentos.
No início do século XVII Brandão era senhor de três engenhos na
Paraíba, onde se estabeleceu antes de 1613, o Santos Cosme e Damião, o
São Gabriel ou do Meio e um outro na região do Gargaú. Quando faleceu, seus
herdeiros voltaram a Portugal e os engenhos foram confiscados pela
Companhia das Índias Ocidentais e vendidos ao holandês Isac de Rosière.
Depois da restauração, passaram a pertencer a João Fernandes Vieira.
Organizada de acordo com o modelo alemão, a Escola Superior de
Agricultura “São Bento” funcionou sob a direção dos beneditinos até dezembro
de 1936, quando sofreu intervenção estadual. Em 1938, já com a denominação
de Escola Superior de Agricultura de Pernambuco (ESAP), foi transferida para
o
arrabalde
de
Dois
Irmãos,
transformando-se,
posteriormente,
na
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) (MAGALHÃES et al.,
2008).
A história oficial esquece vários aspectos importantes para uma
compreensão mais abrangente das circunstâncias e condicionantes que
conduziram ao surgimento de duas Escolas Superiores em Olinda. Em primeiro
lugar, não podemos esquecer que a Ordem Beneditina, durante vários séculos
de existência na Europa, aliou a missão de conservar e transmitir a herança
cultural greco-romana ao cultivo de imensas propriedades territoriais. Em
segundo lugar, a iniciativa de D. Pedro Roeser conciliava-se perfeitamente com
os interesses dos amigos do mosteiro de São Bento. As duas instituições
ligadas à agricultura e à pecuária surgiam como uma alternativa para soerguer
a agricultura em Pernambuco, que vinha em declínio há varias décadas,
sobretudo a canavieira (MAGALHÃES et al., 2008).
34
Além disso, essas instituições de ensino superior constituíam mais uma
porta de acesso aos altos cargos da República, mesmo que não pudessem
competir com as faculdades formadoras de bacharéis. Por coincidência, há 85
anos antes da criação dessas instituições, esse mesmo Mosteiro já abrigara,
em suas dependências (onde hoje funciona a sua biblioteca) os Cursos
Jurídicos de Olinda, os quais foram pioneiros no ensino superior da província,
formando
gerações
de
bacharéis
nos
seus
27
anos
de
existência
(MAGALHÃES et al., 2008).
Durante o período beneditino, de 1912 a 1936, a Escola formou 124
agrônomos. Mesmo considerando-se um número baixo de formandos quando
comparado aos dias de hoje, é preciso enfatizar que o objetivo da escola não
era formar quadros massivamente. Ao contrário, esta formação era dirigida a
uma elite, formada em sua grande maioria por filhos dos grupos dominantes
agrários de senhores de engenho, usineiros e grandes pecuaristas do Nordeste
(MAGALHÃES et al., 2008).
Foto da primeira turma de formandos de Engenheiros Agrônomos e Agrônomos de 1917 da
Escola Superior de Agricultura “São Bento”, no Engenho São Bento, Tapera, São Lourenço da Mata,
35
Pernambuco: no alto no centro Dom Pedro Roeser, diretor geral; à direita Dom Pedro Bandeira de Melo,
diretor; à esquerda Dom Hildebrando Schafer, secretário; à esquerda o homenageado Conselheiro João
Alfredo Correa de Oliveira; à direita o orador da turma Eng. Agr. Ulisses Cavalcanti de Melo; abaixo, a
direita o Eng. Agr. Felipe Carneiro Vieira da Cunha e à esquerda o Eng. Agr. Manuel Carneiro Leão;
abaixo da direita para a esquerda, o Eng. Agr. Renato Elísio de Gusmão Neves, Eng. Agr. Fernando da
Rocha Cardoso, Agr. João Higino de Carvalho, Agr. Salvador Nigro, Agr. João Gonçalves Carneiro,
abaixo à direita Eng. Agr. Gabriel Castelo Branco e à esquerda o Eng. Agr. Otávio Cabral de Vasconcelos.
Alguns dos formandos desse período tornaram-se quadros que iriam
gerenciar propriedades agrícolas familiares ou se tornar dirigentes nas
carreiras estatais ligadas à agricultura. O exemplo mais notável é o de Apolônio
Jorge Salles, que foi o Secretário de Agricultura do Estado de Pernambuco no
período compreendido entre 1937-1942 e posteriormente Ministro da
Agricultura no governo Vargas (1942-1947). Outros fizeram carreira como
docentes da ESAP, tais como João de Deus de Oliveira Dias, Ivan Tavares e
João Vasconcelos Sobrinho (MAGALHÃES et al., 2008).
Pelo decreto n.82 de 12 de março de 1938 do interventor a ESAP foi
transferida do Engenho São Bento para o bairro de Dois Irmãos no Recife.
Os professores Ivan Tavares e João de Deus de Oliveira Dias foram
encarregados da transferência de todo o material didático para o Recife e
proceder a instalação do mesmo nas salas e gabinetes do edifício principal da
projetada e malograda Escola de Recuperação de Menores, obra do então
governador Carlos de Lima Cavalcanti. O pavilhão central em estilo moderno
com “partido arquitetônico em leque” foi projetado e construído pelo engenheiro
Gerson Carneiro Leão. A ESAP então ficou pronta para funcionar em abril de
1938 (PLAQUETE, 1962).
O Engenho Dois Irmãos foi levantado em terras que pertenceram ao
antigo Engenho Apipucos, na primeira metade do século XIX, pelos irmãos
Antonio Lins Caldas e Thomas Lins Caldas, por herança paterna e conhecidos
pelos apelidos domésticos de Toné (Antonio) e Coló (Thomas). Toné foi militar
desde 1824 e era conhecido como Capitão Antonio Lins Caldas Toné. Coló
participou ativamente na Revolução de 1817, como guerrilheiro da coluna
comandada pelo Padre Antonio de Souto Maior. Caindo prisioneiro na batalha
de Pindoba em 28 de maio de 1817, foi enviado preso para a Bahia, junto com
outros companheiros, lá permanecendo até 1821. Quando voltou a liberdade foi
36
vereador do Recife, entre 1829 a 1831, e em 1834 exerceu o cargo de escrivão
da Alfândega (PEREIRA DA COSTA, 1966).
Conta o historiador Alberto Lins Caldas (2003), descendente de Thomas,
que este “engravidou uma escrava chamada Balbina, conhecida familiarmente
por Babá, seguindo seu obscuro caminho familiar com a esposa real. Dessa
união gilbertofreyriana nasceu Francisco Lins Caldas (1825-1907), criando um
ramo dos Lins Caldas que não teve direito as terras, aos escravos nem
tampouco a paz de espírito de quem nasce bem”.
Da amizade dos dois irmãos Toné e Coló nasceu a denominação do
Engenho Dois Irmãos que depois deu nome ao atual bairro.
O Engenho Dois Irmãos era um engenho d’água e moia de uma levada
proveniente do grande açude da propriedade que percorria as suas terras e
iam desaguar na margem esquerda do Capibaribe. Nas imediações deste, no
vasto terreiro do engenho (hoje Praça Faria Neves, inaugurada em 1957 com
projeto do paisagista Roberto Burle Marx), ficavam as duas casas grandes dos
irmãos, separadamente dispostas. O engenho funcionou até 1875, sendo
comprado pela antiga Companhia do Beberibe, para utilizar as águas do açude
e dos mananciais do Prata, para garantir o abastecimento de água do Recife,
aí foi construída uma usina para impulsionar as águas, cujas edificações
existem até os dias de hoje (PEREIRA DA COSTA, 1966).
O Açude do Prata tem a sua denominação de uma lenda do século XVI
sobre Branca Dias, rica senhora do Engenho Apipucos e Camaragibe que
tendo sido denunciada ao Santo Ofício pelo crime de judaísmo, na ocasião de
ser intimada a ordem de prisão, lançou no açude toda a sua baixela e mais
jóias de prata que possuía (PEREIRA DA COSTA, 1966).
A descida de comunicação entre Apipucos e Dois Irmãos, chamada hoje
de rua de Dois Irmãos, vem do antigo caminho, estreito e irregular, a que se
dava o nome de Estrada do Engenho, que partindo de Apipucos chegava ao
vasto terreiro da extinta fábrica, hoje Praça de Dois Irmãos (PEREIRA DA
COSTA, 1966).
Entre o engenho e a mata ficava o arruado de Pedra Mole, que recebeu
esta denominação devido à presença de grandes bancos de uma pedra muito
mole, misturada com seixos. Em 30 de novembro de 1848 aí se refugiou uma
coluna do exército revolucionário praieiro, quando foi desalojado pelo exército
37
do Engenho Dois Irmãos onde estavam acampados. O que resta do antigo
arruado hoje está localizado na estrada ao lado da Biblioteca Central e do Lapa
ainda com antigas moradias (PEREIRA DA COSTA, 1966).
Durante o governo do general Dantas Barreto, em 1916, o Jardim ZooBotânico de Dois Irmãos foi inaugurado nas terras de Pedra Mole e do Riacho
da Prata. Em 14 de janeiro de 1939 foi criado o Jardim Zoobotânico de Dois
Irmãos. A partir de 1969, passou a ser administrado pela Empresa
Pernambucana de Turismo - EMPETUR, vinculada à Secretaria de Turismo,
Cultura e Esportes. Em 1987, foi transformado em Reserva Ecológica.
O Jardim Zoobotânico de Dois Irmãos passou a denominar-se Parque
Dois Irmãos em 7 de julho de 1997, abrangendo uma área de 387,4 hectares,
incluindo os açudes do Prata, do Meio e o de Dois Irmãos, além de 14 hectares
do Horto Zoobotânico de Dois Irmãos. Em 29 de dezembro de 1998, o
governador Miguel Arraes transformou a Reserva Ecológica de Dois Irmãos em
Parque Estadual Dois Irmãos. Atualmente está subordinado à Secretaria de
Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente.
Aspectos históricos dos trabalhos de pesquisa desenvolvidos na EET
Vasconcelos Sobrinho se refere no relatório às coleções de plantas e
insetos organizadas por Dom Bento Pickel quando foi professor da Escola
entre 1917 a 1936 no item do seu relatório intitulado “Investigação científica e
de interesse didático” Embora o autor afirme que Pickel trabalhou por 40 anos
na área, pelas datas da sua permanência na Escola podemos constatar que foi
na verdade foi durante 19 anos que organizou as suas coleções.
Como escreve Almeida (2008) o professor Dom Bento Pickel foi um
personagem estreitamente ligado à história da EET. Nascido como Dom
Agostinho Ikas, em Markelsheim, sul da Alemanha, a 28 de julho de 1890, filho
de Luiz Pickel e Margarida Schieser. Cursou o primário em sua cidade natal e o
ginásio na cidade vizinha de Mergentheim. Emigrou para o Brasil em 14 de
novembro de 1908, desembarcando no Recife aos 18 anos de idade.
É provável que tenha vindo para Pernambuco já na condição de noviço
da Ordem de São Bento, pois naquela época os mosteiros beneditinos do
Brasil receberam um grande contingente de religiosos alemães chamados
"reformadores". Desde 1895, por determinação do Papa Leão XIII, a
38
restauração dos mosteiros beneditinos do Brasil foi desencadeada sob os
auspícios da Congregação Beneditina de Beuron (Alemanha) e já em 1896, os
reformadores alemães começaram a chegar em Olinda, pois, no final do
século, o alemão D.Gerardo Van Caolen foi o septuagésimo segundo abade do
Mosteiro de Olinda.
Assim, Dom Bento Pickel fez a sua profissão religiosa no Mosteiro de
Olinda em 15 de janeiro de 1910. Aí também cursou Filosofia e Teologia,
concluindo os seus estudos em Roma, no ano de 1913.
De volta a Olinda, recebeu a sua ordenação sacerdotal em 02 de
fevereiro de 1915, com 25 anos incompletos. Pickel participou desde o início da
fundação e organização da "Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São
Bento de Olinda", núcleo inicial que originou a atual Universidade Federal Rural
de Pernambuco, fundada a 03 de novembro de 1912 pelo Abade D.Pedro
Roeser (1870 - 1955), que reuniu um grupo de jovens monges, cuja maioria era
formada pelos “reformadores” alemães, por suas origens ligados à agricultura,
filhos de camponeses do sul da Alemanha, porém com pouca ou nenhuma
formação acadêmica em agricultura.
Daí a necessidade de contratação de instrutores alemães, sendo
escolhidos, o veterinário Dr.Hermann Hehaag e o agrônomo e naturalista
Dr.Johan Ludwig Nikolaus, com a função de preparar os monges para a
docência e supervisionar a instalação dos gabinetes e laboratórios da Escola.
Pickel foi um dos presentes na sessão inaugural da Congregação da
Escola, realizada em 03 de novembro de 1912, como consta na subscrição do
Livro de Atas da Congregação.
No curso preparatório aos cursos de Agronomia e Veterinária, Pickel foi
professor de Francês e substituto de Inglês no primeiro ano de funcionamento
em 1913, e professor de História e substituto de Francês no segundo ano de
funcionamento do preparatório em 1914.
No início dos cursos regulares, começou a lecionar Botânica em 1914,
sendo a sua docência estendida em 1915 para Anatomia e Fisiologia das
Plantas e em 1916, a sua docência envolvia a Botânica Morfológica e Especial,
Anatomia e Fisiologia das Plantas, Agricultura Especial, Pomi-Horti-Silvicultura
e Fitopatologia.
39
Em 1916 e 1917 foi designado como vice-diretor da Escola de
Agricultura, mantendo suas atividades docentes durante o período. Foi também
diretor da Escola Superior de Medicina Veterinária no ano de 1922, exercendo
no curso suas atividades docentes, lecionando as disciplinas de Bacteriologia,
Histologia e Botânica Médica.
A 07 de janeiro de 1917, realizou-se a transferência do curso de
Agricultura para o Engenho São Bento, na Estação de Tapera, município de
São Lourenço da Mata (hoje Estação Ecológica do Tapacurá). As aulas de
Agricultura foram iniciadas, sob regime de internato, a 03 de março de 1917.
Nessa localidade, cercada por florestas, Pickel realizou um intenso
programa de coletas sistemáticas de plantas e insetos com o objetivo de
organizar coleções didáticas relacionadas com as suas disciplinas, que, mais
tarde, vieram a se constituir num importante herbário e numa das mais
importantes e representativas coleções entomológicas da região.
O herbário, depois da sua partida para São Paulo, ficou sob a guarda da
Seção de Botânica do Instituto de Pesquisas Agronômicas de Pernambuco
(IPA), constituindo o denominado "Herbário Pickel", com cerca de 4.600
números, sendo a maior parte das classificações feitas, antes da segunda
guerra mundial, por Pilger, professor e pesquisador do Museu Botânico de
Berlim-Dahlem e a parte não classificada foi, posteriormente, posta em ordem
pelo botânico e Professor Dárdano de Andrade Lima.
A coleção entomológica, com mais de 5.000 exemplares, inicialmente
ficou sob a guarda da Seção de Entomologia do IPA e, posteriormente, foi
depositada na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Esta coleção, de
valor inestimável para a região, até hoje cumpre a sua função, sendo a visita e
a consulta obrigatória aos entomologistas.
Em 1924, substituindo Dom Anselmo Fuchs (1893 - 1952), Pickel
assumiu, pela primeira vez, a docência de Entomologia Agrícola, a qual
dedicou-se intensamente ao ensino e a pesquisa, até o ano de 1936.
Em 1926 tomou parte ativa na organização do Congresso da Lavoura,
realizado no Recife, onde apresentou alguns trabalhos.
Em 1927 foi designado como membro da comissão técnica para estudo
e combater a uma moléstia da cana-de-açúcar em Pernambuco; assume
40
também a chefia da Comissão de Estudos do "Piolho Vermelho"do Estado da
Paraíba e a chefia do Serviço de Defesa do Café no Estado de Pernambuco.
O ano de 1927 foi uma época das mais produtivas de Pickel, tendo
publicado dez trabalhos, científicos e de divulgação, em periódicos nacionais.
De 1927 a 1935, consolidou sua linha de pesquisa em Entomologia agrícola,
estudando importantes pragas das nossas principais culturas, como do
algodoeiro, do cafeeiro, do tomateiro e da cana-de-açúcar; insetos vetores de
interesse médico e análise da ação de alguns agrotóxicos.
Professor Dom Bento Pickel (1927).
Em 1935 foi designado pelo governo da Paraíba para estudar a flora
agrostológica do interior do Estado.
Em 1936 participou como examinador do concurso para provimento de
cargos técnicos do Instituto de Pesquisas Agronômicas de Pernambuco.
41
Naquela época, tomou a iniciativa e orientação do plantio de um bosque
de pau-brasil (Caesalpinia echinata Lamarck, 1789), árvore que deu nome ao
Brasil e que atualmente ainda se encontra ameaçada de desaparecimento. O
referido bosque, constituído por 200 árvores, foi depois tragado pelas águas da
barragem do Tapacurá em 1970. Antes disso, porém, forneceu as sementes,
em 1969, para a produção de mudas para o plantio de outros bosques, por
incansável iniciativa de uma vida inteira do Prof. Roldão de Siqueira Fontes e
do Prof.. Osvaldo Martins F. de Souza.
Dom Bento Pickel em São Paulo (1947).
Durante o ano de 1937, em plena ditadura do Estado Novo, ocorreu a
desapropriação da Escola Superior de Agricultura "São Bento" pelo Governo
Estadual de Pernambuco. Os professores fundadores beneditinos foram então
praticamente escorraçados, pois se alegou que não possuíam títulos de
graduação nas disciplinas que ministravam. Tal cegueira legalista e burocrática
42
não reconheceu o notório saber do naturalista Dom Bento Pickel, do
economista Dom Gabriel de Vasconcellos Beltrão (1897 - 1970) e do químico
Dom Pedro Bandeira de Mello (1894 - 1972), que por quase vinte anos foi
diretor da Escola Superior de Agricultura.
Amargurado, Pickel transferiu-se então para São Paulo e instalou-se no
Mosteiro de São Bento. Deu início a um intenso estudo sobre os trabalhos
botânicos de Piso e Marcgrave, realizados no Nordeste do Brasil no início do
século XVII. De 1937 a 1949 traduziu do latim e comentou sobre diversas
plantas úteis da obra Historia naturalis Brasiliae e De Indiae utriusque re
naturali et medica, antecipando-se desta forma às próprias edições brasileiras
do Museu Paulista de 1942, com a parte da obra de Marcgrave e de 1948 a
parte da obra de Piso. Os comentários sobre o livro IV, que trata das
propriedades dos simples, foram realizadas pelo erudito Dr. Olympio da
Fonseca Filho, à época, professor catedrático da Faculdade Nacional de
Medicina, que mais tarde confessou ter consultado intensamente Pickel para a
identificação das plantas pisonianas. Provavelmente o resultado destas
consultas tenha servido de fundamento ao seu trabalho de 1949, intitulado:
"Piso e Marcgrave na Botânica Brasileira" e mais tarde, na década de 60, para
o tratado “Flora do Nordeste” que permaneceu inédito até 2008.
Em 1938 assumiu em São Paulo o modesto cargo de assistente técnico
do Instituto Biológico e participou da Primeira Reunião Sul-americana de
Botânica.
Quando a segunda grande guerra eclodiu, Pickel naturalizou-se cidadão
brasileiro a 17 de fevereiro de 1941, tirando o seu certificado de reservista em
1942. Naquele mesmo ano, foi promovido a biologista auxiliar do Instituto
Biológico e em 1947 a biologista do quadro da mesma instituição.
A partir de 1950, começou a interessar-se pelos problemas florestais
brasileiros e naquele mesmo ano fez um curso intensivo sobre a questão
florestal e madeireira no Brasil, ministrado na Escola de Sociologia e Política de
São Paulo. Naquele mesmo ano, foi agraciado com as medalhas do
Cinqüentenário do Instituto Oswaldo Cruz; do V Congresso Internacional de
Microbiologia; da Campanha de Educação Florestal e do Departamento de
Inválidos D.Pedro II.
43
Em 1951 foi designado como diretor do Museu Florestal "Octávio
Vecchi" do Serviço Florestal do Estado de São Paulo, ao mesmo tempo em que
participava como membro da Comissão Permanente de Estudos de Plantas
Brasileiras, Medicinais e Tóxicas.
Durante o ano de 1952, tomou parte do curso de Histologia e
Identificação de Madeiras do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São
Paulo, ao mesmo tempo em que foi designado pelo governo federal como
examinador do concurso para provimento de cargo de naturalista do Ministério
de Agricultura.
Em 1955 foi membro ad hoc da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da Universidade de São Paulo no concurso para cátedra de Botânica.
Durante o ano de 1958, fez a sua última visita a Pernambuco e a
Universidade Rural, instituição da qual foi um dos fundadores e professor
durante 25 anos, encontrando-se emocionado com seus antigos alunos.
Dom Bento Pickel (1958).
Em 1960 foi aposentado compulsoriamente como biologista do Serviço
Florestal do Estado de São Paulo.
44
Em 1962, finalmente num ato de reconhecimento, seus antigos alunos
prestaram-lhe uma homenagem, agraciando-o com o título de "Professor
Benemérito e Emérito" da Universidade Rural de Pernambuco.
Por aquela época, ainda era um ativo membro da Sociedade dos Amigos
da Flora Brasileira e da Sociedade Botânica do Brasil.
Pickel publicou mais de 130 trabalhos científicos e de divulgação, desde
1918 até 1963. Existem em torno de doze espécies vegetais e igual número de
insetos que receberam o epíteto científico pickeli em sua homenagem.
No Serviço Florestal do Estado de São Paulo, Pickel organizou um
herbário com 5.468 números, tendo descrito aí seis novas espécies vegetais.
Pickel veio a falecer na madrugada do dia 04 de abril de 1963, no
Sanatório Santa Catarina em São Paulo e foi sepultado no passeio do claustro
do tradicional Mosteiro do Largo de São Bento. Jaz numa anônima e humilde
sepultura de monge, porém cercado pelas plantas que tanto amou, de um
jardim silencioso de claustro.
Sua maior obra, entretanto, é a "Flora do Nordeste" que foi publicada
pela UFRPE em 2008. Cremos que esta foi a mais justa homenagem que se
fez à memória do incansável pesquisador e do nosso primeiro naturalista.
Por outro lado, não há como negar, foi pela vontade expressa de Pickel
(ALMEIDA, 1998) que o herbário e o insetário não permaneceram na Escola.
Visando a sua manutenção e conservação ele escolheu o Instituto de
Pesquisas Agronômicas para sua guarda.
As duas coleções tiveram destinos diferentes. Enquanto o herbário teve
garantida a sua manutenção dentro da instituição, como até hoje se encontra.
O insetário, devido a freqüentes mudanças de sede do IPA, durante os anos 70
do século passado não tinha mais espaço físico para abrigá-lo. Existindo
inclusive uma proposta da diretoria do IPA para dividir o insetário em diversas
partes e distribuí-las pelas diversas estações do IPA no Estado. Caso esta
proposta tivesse sido aprovada a coleção de insetos iniciada por Dom Bento
Pickel e continuada pelo Prof. Mário Bezerra de Carvalho e pelo agrônomo
Ambrósio Oliveira de Freitas, teria decretado o seu fim.
Graças à iniciativa de dois professores da UFRPE, Dr. Antonio Fernando
de Souza Leão Veiga (na época chefe da seção de Entomologia do IPA) e Dr.
Geraldo Pereira de Arruda (na época diretor do Departamento de Biologia da
45
UFRPE), em 1977 celebrou-se um convênio de comodato entre a UFRPE e o
IPA e a coleção de insetos veio para a área de Entomologia da UFRPE, onde
se encontra até hoje, tendo sido mantida inicialmente sob os cuidados dos
professores Geraldo Pereira de Arruda, Eneide Carvalho de Arruda, Arlene
Bezerra Rodrigues dos Santos e Argus Vasconcelos de Almeida e atualmente
encontra-se aos os cuidados de uma curadora, a bióloga Luci Duarte da Rosa
Borges Regis.
A coleção atualmente se encontra em processo de digitalização de
dados e criação de uma página na Internet para divulgação de fotos e dados
dos diversos grupos de insetos que formam as coleções do IPA e do
Departamento de Biologia em projeto coordenado pela Professora Auristela
Correia de Albuquerque.
É necessário reconhecer que se tivessem ficado na Escola ou mesmo
na EET, tais coleções teriam se perdido. Devemos entender que na
compreensão de Vasconcelos Sobrinho ele não reivindicava a permanência
dessas coleções no local depois da extinção da Escola beneditina em 1937.
Ele propôs uma recuperação e continuidade das coleções e para tanto
denominou de “Insetário Pickel” e “Herbário Pickel” quando novos exemplares
deveriam ser organizados nas novas coleções.
Apesar do esforço e da iniciativa dos professores de Entomologia,
durante os anos 80 do século passado, esse trabalho não teve continuidade,
em trabalhos de pesquisa e ensino realizados na EET, durante os anos 80 e 90
do século passado, ainda chegamos a ver os armários da coleção do “Insetário
Pickel”, com as caixas de insetos em completo abandono e sem nenhuma
manutenção; bem como os armários com exsicatas do “Herbário Pickel” e
armários com animais taxidermizados completamente estragados.
46
Caixa de lepidópteros do “Insetário Pickel” (1997).
Armário com exsicatas do “Herbário Pickel” (1997).
47
Exsicata do “Herbário Pickel” (1997).
Gavetas com animais taxidermizados (1997).
Vasconcelos Sobrinho em seu relatório nas “medidas preliminares” se
refere a uma série de compromissos assumidos pelos funcionários da Estação
e moradores locais para com a preservação da natureza na Estação.
Entretanto,
dez
anos
depois
da
fundação
da
Estação,
estes
compromissos parecem que foram esquecidos. Pois em trabalhos de pesquisa
e ensino com estudantes na Estação, durante os anos 80 do século passado,
constatamos que muitos dos moradores mantinham lavouras de cana-de-
48
açúcar, milho, feijão, inhame e mandioca em áreas da estação, que pela sua
extensão não pareciam lavouras de subsistência. Por outro lado a presença de
animais domésticos era muito freqüente, tais como cães, aves canoras
engaioladas, bois, vacas e cavalos.
Presença de um estábulo na Estação (1986).
Lavoura de milho na Estação (1986).
A EET criada em 1975, neste mesmo ano recebia a visita científica da
Dra. Miranda Stevenson do Departamento de Zoologia da University College of
Wales, Aberystwyth, UK. Dra. Miranda iniciou, na Estação, o primeiro estudo
brasileiro sobre ecologia e comportamento do sagüi-do-Nordeste, desenvolvido
49
em ambiente natural (STEVENSON & RYLANDS, 1988). Em 3 meses de
trabalho de campo (dez. de 1975 a fev. de 1976) ela coletou uma boa base de
informações sobre dieta, território, composição de grupos e padrões
comportamentais, auxiliada pela familiaridade com a espécie que os seus
estudos com colônias de saguis em cativeiro puderam proporcionar
(STEVENSON & POOLE, 1976). Os dados sobre uso dos recursos
exsudativos, marcação de cheiro e alta proporcionalidade da classe adulta,
tanto de machos quanto de fêmeas, na composição dos grupos sociais dessa
espécie, provocaram um redirecionamento das técnicas de manejo até então
usadas no cativeiro. A introdução de gomas artificiais na dieta, o aumento na
dimensão dos recintos das colônias – para abrigar famílias mais numerosas – e
a intensificação dos estudos sobre comunicação olfatória e sobre fisiologia
reprodutiva nos saguis e tamarinos, são exemplos de procedimentos e novas
linhas de pesquisa estimulados pelos achados da Dra. Miranda Stevenson, na
EET.
No início do ano de 1985 foi a vez da Dra. Catherine E. Scanlon,
orientada de pós-doutoramento do Dr. Neil Chalmers da The Open University
(TOU), Milton Keynes, UK começar seus estudos sobre o desenvolvimento
infantil e os cuidados familiares dispensados aos filhotes de Callithrix jacchus.
Um convênio de cooperação científica bilateral foi assinado entre a UFRPE e a
TOU. Esta foi a primeira investigação científica de longa duração e envolveu a
participação de professores e estudantes brasileiros (do Nordeste), tendo se
extendido até 1988. (Scanlon et al., 1988 e 1989).
Uma equipe formada pelos doutores Alan Dixon do Centro Internacional
de Pesquisas Médicas de Franceville, Gabão e o Gustl Anzenberger, do
Departamento de Psicologia da Universidade de Zürich, Alemanha, esteve por
um curto período, utilizando-se da infraestrutura já montada na EET, para
coletar amostras sangüíneas e realizar análises genéticas com membros dos
grupos sociais nativos de primatas brasileiros (Dixon et al. 1992).
Em 1992 iniciaram-se as discussões sobre projeto “Estratégias
reprodutivas em uma população de saguis do Nordeste na EET” que deu
origem à tese de Monteiro da Cruz (1998). Este só se viabilizou graças à base
de informações geradas pelos estudos anteriormente desenvolvidos na área,
com a espécie em apreço. A Professora Maria Adélia Borstelmann de Oliveira a
50
partir de 1993 desenvolveu um projeto de doutorado que deu continuidade ao
trabalho desenvolvido por Catherine Elizabeth Scanlon. Ao longo dos anos 90,
junto com um expressivo número de estudantes orientados, a pesquisadora
desenvolveu uma série de atividades de pesquisa com sagüis na EET,
resultando em monografias de graduação, dissertações de mestrado e um
número expressivo de artigos científicos publicados e divulgados em eventos
científicos. Entre os artigos podem ser citados os de MONTEIRO DA CRUZ,
SCANLON & RYLANDS (1987); SCANLON, CHALMERS & MONTEIRO DA
CRUZ (1988); SCANLON, CHALMERS & MONTEIRO DA CRUZ (1989);
MONTEIRO DA CRUZ (1995); SANTOS & MONTEIRO DA CRUZ (1997);
CAMAROTTI & MONTEIRO DA CRUZ (1997); MELO, MONTEIRO DA CRUZ &
FERNANDES (1997); MONTEIRO DA CRUZ & SCANLON (1997); MONTEIRO
DA CRUZ (1998); MONTENEGRO, OLIVEIRA & MONTEIRO DA CRUZ (1998);
VALENCA et al. (2000); FAULKES, ARRUDA & MONTEIRO DA CRUZ (2003);
LYRA-NEVES et al. (2007).
A partir daí importantes excursões científicas à EET foram realizadas,
pelos Drs: John P. Hearn, à época do WRPRC da University of Wisconsin,
Madison, USA; do Dr. Christophen G. Faulkers do Zoology Institute of Royal
Society of London e da Dra. Hillary Box, do Departamento de Psicologia da
Universidade de Reading. Novos estudos sobre a estrutura genética das
populações
desse
primata
foram
realizadas,
utilizando
técnicas
de
sequenciamento da região de controle do DNA mitocondrial, com resultados
estimulantes (Faulkers et al., 1996). Um programa de colaboração científica
com pessoas e instituições acima citadas e a UFRN (através do programa de
pós-graduação em Psicobiologia) foi iniciado com o objetivo de fortalecer as
linhas já estabelecidas da pesquisa primatológica e alargar o espectro dos
estudos. Novas abordagens teóricas e metodológicas foram testadas e o
programa cooperativo buscou melhor compreender os fatores biológicos
relacionados à evolução dos sistemas sociais dos calitriquídeos e dos demais
primatas.
Entre outros trabalhos de Zoologia realizados na EET, destacam-se os
da Professora Zenilde Moreira Borges de Morais e seus orientados em
pesquisas de herpetologia e cursos de extensão sobre ofídios peçonhentos; os
da Professora Luzinalva Mendes Revoredo Mascarenhas Leite e seus
51
orientados sobre masurpiais e aulas de campo e coletas e levantamento
preliminar de mamíferos da Estação.
A Professora Ednilza Maranhão dos Santos (na época estudante de
graduação que desenvolvia seu projeto de monografia) procedeu a um
levantamento de anfíbios na Estação (SANTOS, 1998).
Trabalhos de pesquisa em ornitologia foram empreendidos pelo
Professor Severino Mendes de Azevedo Júnior (chefe da EET no período de
1987-90) e seus orientados e pelo Professor Artur Galileu de Miranda Coelho
(UFPE), que em 1987 apresentou uma lista de espécies de aves da Estação,
além dos trabalhos do Professor Deoclécio de Queiroz Guerra (UFPE) com
quirópteros6.
Durante os anos 80 e 90 do século passado, professores e técnicos da
área de Entomologia (Professor Argus Vasconcelos de Almeida, técnicos7
Pedro Monteiro Correia, Marco Aurélio Paes de Oliveira e os monitores de
Entomologia Paulo Santos Dutra e Roberta Araújo Cisneiros) com os
estudantes dos cursos de Agronomia e Ciências Biológicas da UFRPE,
desenvolveram um intenso programa de pesquisas e aulas de campo de
Entomologia na Estação. A duração destas aulas de campo exigia pernoites na
Estação para o acompanhamento e uso de armadilhas luminosas e durante o
dia um programa de coletas e preparação de insetos para coleções didáticas.
Na época a Estação oferecia plena condição para a realização destas
aulas de campo, sendo avaliadas como muito proveitosas para a aprendizagem
dos métodos e conteúdos de Entomologia.
Neste período destaca-se a visita científica à EET feita pela Dra.
Christiane Amedegnato e seu assistente Simon Poulain acridologistas do
Laboratório de Entomologia do Museu Nacional de História Natural de Paris,
que realizaram coletas e pesquisas com gafanhotos da Estação. Dentre os
trabalhos de pesquisa em Entomologia originados deste programa de coletas
na EET, destacam-se os da coleta de espécimes de insetos destinados à
6
Durante os anos 70, os professores Galileu e Deoclécio em pesquisas de campo eram sempre
acompanhados pelo indispensável Mariola, técnico com imensa experiência de campo que armava as
redes de captura de aves e morcegos, realizava a marcação ou a taxidermia dos exemplares capturados.
7
Uma importante presença na EET nesta época era a do técnico e taxidermista Paulo Francisco da Silva
(da Zoologia da UFRPE), que acompanhava o trabalho de campo de todos os pesquisadores e que além
de conhecer todas as áreas da Estação, tinha um vasto conhecimento da fauna local.
52
Coleção Entomológica do Departamento de Biologia da UFRPE, que foi
enriquecida com os exemplares da Estação e um levantamento ecológico das
espécies de gafanhotos ocorrentes em diversas áreas da EET (ALMEIDA &
CÂMARA, 2008).
Coleta de gafanhotos na EET em 2005 (de costas com a rede entomológica o Professor Cláudio
Câmara e o Professor Argus V. de Almeida).
Estudantes em coleta de insetos no campo da EET (1986).
53
Preparação e montagem de insetos no Laboratório da EET (1986).
Grupo de estudantes no portão de entrada da EET, vendo-se ao fundo o monumento ao Curupira
(1986).
Embora que não tenhamos feito um levantamento bibliográfico das
pesquisas botânicas na EET, temos citados os trabalhos de pesquisas
fenológicas do próprio Professor Vasconcelos Sobrinho, Professor Geraldo
54
Mariz (UFPE), Professor Marcelo Ataíde e da botânica Ida Brunes Pontual
(citados no relatório de 1976), além das pesquisas que poderemos citar de
memória dos professores Osvaldo Carneiro de Lira (UFPE), Judas Tadeu de
Medeiros Costa (UFPE), Célia Marinho, Maria Jesus Nogueira Rodal e Maria
Rita Cabral Sales de Melo.
Considerações finais
Na difícil conjuntura política do país nos anos 70 do século passado foi
fundada em 1975 a Estação Ecológica do Tapacurá, em plena ditadura militar,
que entre os seus objetivos tinha o desenvolvimento econômico do país a
qualquer preço, mesmo que este resultasse em impactos ambientais
gigantescos como foi o caso da construção das usinas nucleares de Angra e na
construção da estrada transamazônica.
Era o tempo do chamado “milagre brasileiro” com altíssimo índice de
crescimento econômico ou da palavra de ordem: “Brasil: ame-o ou deixe-o!”
como um aviso aos insatisfeitos.
Era o tempo em que o governo oficialmente comemorava as conquistas
da seleção brasileira de futebol e, ao mesmo tempo, praticava o assassinato e
a tortura de milhares de presos políticos nos porões dos órgãos de repressão.
Era o tempo em que os representantes da ditadura em encontros
internacionais faziam arrogantes declarações de que o Brasil preferia ter um
forte desenvolvimento econômico mesmo que isso representasse a destruição
do meio ambiente.
Era
o
tempo
das
universidades
amordaçadas
e
ameaçadas
constantemente pelo decreto 477, que cassava professores, pesquisadores e
funcionários, prendendo estudantes até nas salas de aula. A própria
Universidade Rural sofreu ações repressoras, tais como a ocupação do
campus de Dois Irmãos por tropas para reprimir protestos estudantis, prisão e
assassinato de estudantes (como Odijas de Carvalho), cassação de
funcionários, tutela e controle dos órgãos superiores de deliberação
universitária e a presença constante de um órgão de informação dentro do
campus como a famigerada ASI (Assessoria de Segurança e Informação) que
se imiscuía na contratação de professores e funcionários fazendo o
55
levantamento das chamadas “folhas corridas” e na recomendação da expulsão
de estudantes com base no decreto 477.
Criada pela em março de 1975, a EET teve sua instalação no dia 05 de
abril do mesmo ano Quatro meses depois aconteceu a maior catástrofe
ambiental que já atingiu Pernambuco no século passado, a cheia de 1975. A
enchente ocorreu entre os dias 17 e 18 de Julho de 1975, deixando 80% da
cidade do Recife sob as águas. Outros 25 municípios da bacia do Capibaribe
também foram atingidos. Morreram 107 pessoas e outras 350 mil ficaram
desabrigadas. Na capital e interior, 1.000 km de ferrovias foram destruídos,
pontes desabaram, casas foram arrastadas pelas águas.
Só no Recife, 31 bairros, 370 ruas e praças ficaram submersos; 40% dos
postos de gasolina da cidade foram inundados; o sistema de energia elétrica foi
cortado em 70% da área do município; quase todos os hospitais recifenses
ficaram inundados.
No Recife, a cheia atingiu seu ponto culminante às 04 da madrugada do
dia 18. Na manhã do dia 21, quando as águas baixaram e a população
começava retomar a vida, foi a vez do pânico tomar conta das ruas do Recife,
em decorrência do boato de que a Barragem de Tapacurá havia estourado e
que a cidade seria arrasada pelas águas.
Segundo o jornalista Homero Fonseca (1996) testemunha dos fatos, o
Recife viveu uma situação de pânico jamais registrada em sua história. Não se
sabe como nem por que, espalhou-se o boato de que a barragem de Tapacurá
havia estourado e que a cidade seria arrastada pelas águas. A população
entrou em desespero e as autoridades, com ajuda da imprensa, tiveram
trabalho para acabar a correria.
Tudo ocorreu às 10 horas da manhã: de repente, a multidão corria de
um lado para outro sem saber aonde ir; mulheres desmaiavam; os carros não
respeitavam sinais nem contra-mão; guardas de trânsito abandonavam seus
postos; várias pessoas foram atropeladas; bancos, casas comerciais e a
agência central dos Correios fecharam as portas; no Hospital Barão de Lucena
várias pessoas pularam do primeiro andar; enquanto o boato se espalhava de
boca em boca.
As emissoras de rádio passaram imediatamente a divulgar insistentes
desmentidos. A Polícia Militar divulgou nota oficial informando que prenderia
56
quem fosse flagrado repetindo o alarme. A Polícia Federal anunciou que estava
investigando a origem (nunca descoberta) do boato e fontes do governo do
Estado alegaram que o boato fora espalhado por terroristas.
O pânico durou cerca de duas horas, mas seu momento de maior
intensidade teve cerca de 30 minutos. Mais de 100 pessoas foram atendidas
nos serviços de emergência dos hospitais.
Passada a correria, técnicos da Companhia de Abastecimento de Água
informaram que um rompimento da Barragem de Tapacurá (que tem
capacidade para acumular 94 milhões de metros cúbicos de água em nada
sofrera com a enchente) traria conseqüências imprevisíveis para a cidade do
Recife.
Foi neste contexto que se deu a fundação da Estação Ecológica do
Tapacurá em 1975. O acontecimento em si não representava nenhuma
ameaça ao “status quo”. O próprio Vasconcelos Sobrinho e o conjunto de
autoridades universitárias e governamentais citado no relatório possuía um
perfil politicamente conservador.
Entretanto, era uma iniciativa que “remava contra a maré”. Ainda não
fazia parte da ideologia do “Brasil Grande” a organização e manutenção de
Unidades de Conservação. Basta ler o relatório de Vasconcelos Sobrinho para
perceber, por trás da retórica, as suas dificuldades de administração, para
conseguir verbas mínimas para a manutenção da Estação e para educar e
convencer os antigos funcionários em adotar uma postura conservacionista.
Por outro lado, torna-se evidente no seu relatório, a compreensão que
tinha sobre uma política ecológica, que poderíamos classificar de militante.
Como ele próprio se via como um “Dom Quixote da ecologia” que somos, a
lutar contra os “moinhos de vento” do poderio econômico e da política, com a
espada franzina da proteção à vida, à natureza, ao ambiente.”
Na sua compreensão, as ações conservacionistas da EET não deveriam
limitar-se à Estação, mas deveriam estender-se à toda sociedade, como ele
próprio escreveu: “para construir um núcleo de atuação ativo, capaz de
interferir beneficamente no sentido ecológico, em vastas áreas, e assim ampliar
de muito seu âmbito de atuação”. Como nas ações descritas por ele em seu
relatório, contra a pesca das tartarugas em Serinhaém, contra a construção de
um cinema em uma praça do Bairro Novo em Olinda e a posição da EET sobre
57
a proteção das matas do grande Recife. Nestas ações, não era só o militante
ecológico que agia, era também um representante da EET.
Será que o Conselho da Estação teria compreendido as idéias de
Vasconcelos Sobrinho sobre o papel da EET? Duvidamos muito, com a
composição descrita no relatório, poucos membros poderiam ter compreendido
as suas idéias, tais como Gilberto Freyre, Costa Porto e Geraldo Mariz.
Então o que restou das intenções de Vasconcelos Sobrinho para a EET?
Se a Estação, ao longo dos seus 34 anos, não chegou a se transformar num
centro articulador das ações conservacionistas em Pernambuco, como
almejava Vasconcelos Sobrinho, tornou-se, em compensação, uma importante
Unidade de Conservação como área de pesquisas biológicas, como ele próprio
preconizava.
Por outro lado, é preciso reconhecer, que as idéias de Vasconcelos
Sobrinho como militante das causas ambientais influenciou, direta ou
indiretamente, diversos movimentos e organizações ambientalistas no Recife,
tais como a Associação Pernambucana de Defesa da Natureza (ASPAN), o
movimento ecológico estudantil “Curupira” que atuou no campus da UFRPE
durante os anos 80 do século passado e atualmente o Grupo Árvores da
UFRPE, que congrega professores, técnicos e estudantes em ações
ambientais visando a proteção das árvores do campus, e que recentemente
prestou uma homenagem ao ecólogo. O grupo é coordenado pelas professoras
Maria de Fátima Vieira Santos (Departamento de Biologia) e Isabelle Meunier
(Departamento de Ciência Florestal).
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