Tecnologia como atributo do delineamento do domínio da

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Tecnologia como atributo do delineamento do domínio da
Artigo
Tecnologia como atributo do delineamento do
domínio da Comunicação Social
Amanda Luiza S. Pereira*
Resumo
O artigo trata da imbricação entre Comunicação e Tecnologia como inexorável à progressão da pesquisa em Comunicação Social,
ressaltando a importância da Teoria do Meio como principal articulação do entrelaçamento mencionado. Para tanto, discute
a conformação do domínio com base em debates endógenos (RÜDIGER, 1998; SANTAELLA, 2001 e MATTELART; MATTELART, 2005, dentre outros) e da perspectiva realista da Filosofia da Ciência (especialmente LAKATOS, 1998; LAKATOS; MUSGRAVE, 1979; BUNGE, 2008) em diálogo intrínseco com o viés de Tecnologia da Filosofia.
Palavras-chave
Objeto-modelo. Progressão científica. Meio de Comunicação.
* Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UMESP. Professora dos cursos de Ciência da Computação, Publicidade e Propaganda,
Sistemas de Informação da Universidade Paulista, email: [email protected].
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Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014
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Introdução
No debate acerca da epistemologia e da teoria em nível nacional, as condições de investigação em Comunicação Social são amplamente abordadas. Dentre os mais diversos obstáculos
para o desenvolvimento regular do domínio, frequentemente aponta-se para a questão da justificação disciplinar de estudo dos fenômenos comunicacionais.
França (2007) entende que o interesse pela comunicação oriundo de diferentes áreas,
epistemologicamente melhor estabelecidas, coloca em pauta a legitimidade da Comunicação
Social. Ainda que sua conclusão aponte para a noção de domínio dotado de especificidade, as
particularidades que sustentam tal defesa não são diretamente abordadas.
Comumente as considerações epistemológicas se encerram dessa maneira: o contexto
das dificuldades da Comunicação Social é muito bem colocado, mas não é complementado por
propostas diretas de eixos reflexivos. Por conseguinte, abre-se espaço para uma disputa dicotômica entre a extrapolação da categoria disciplina pela Comunicação e a insuficiência, tanto
disciplinar quanto paradigmática, que a afastaria do exercício científico.
No posicionamento assumido por Martino e Boaventura (2013), disciplina refere-se à
especificidade de certa problematização (Objeto de pesquisa) do objeto real que estaria sendo
desconsiderada por inobservâncias terminológicas e conceituais relativas à interdisciplinaridade.
Se por um lado os autores (2013) se deslocam suficientemente dos exageros da dicotomia super ciência – não ciência, por outro suprimem a possibilidade de a especificidade da
Comunicação Social demandar interdisciplinaridade, ao menos em algum nível, em função da
adequação do Objeto-modelo e respectivos modelos teóricos ao desígnio imposto pelos fenômenos comunicacionais.
Consistentemente as modificações do objeto real (fenômenos) que dão origem e produzem alterações no Objeto de pesquisa para sua maior aproximação da realidade têm como
vetor as tecnologias, em especial os sistemas computacionais, no que tange a formação de uma
estrutura tecnológica (ARTHUR, 2009) delineadora dos processos comunicacionais, e a patente ubiquidade dos fenômenos tecnológicos, evidente, por exemplo, na ampliação de softwares embarcados (FONSECA FILHO, 2007).
A dicotomia, qualidade de formulações incipientes, também foi aplicada às discussões
sobre a imbricação entre tecnologia e comunicação de modo que, paulatinamente, assumiu um
papel que originalmente seria da crítica.
Como consequência, a produtividade analítica do exame de tal entrelaçamento foi suprimida pela análise de alcance político, econômico, sociológico e cultural, tanto dos fenômenos
comunicacionais, quanto do Objeto de pesquisa (MARTINO; BOAVENTURA, 2013).
No plano teórico, esse equivocado deslocamento epistemológico tem como consequência a indistinção de programas de investigação e, mais especificamente, a não identificação da
Paper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva,
realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo
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resolução sobre a articulação tecnologia-comunicação proposta pela Teoria do Meio, a partir
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dos anos 1950.
Apesar da negligência de resgates teóricos, especialmente em relação à Innis, aparentes progressões como, por exemplo, a Intermedialidade proposta por Martín-Barbero (2009)
como correção/complementação da abordagem das Mediações, já estavam resolvidas na primeira geração do programa de pesquisa, classificada por Meyrowitz como Innis e McLuhan.
Assim, no subitem Relação entre Tecnologia e Comunicação Social, se fez necessário
considerar as circunstâncias dos desenvolvimentos teóricos da Comunicação Social, o que aqui
é realizado brevemente porque se trata de uma interpretação específica das condições teóricas
do domínio.
Sequencialmente, em Elementos básicos da axiomatização do exercício científico são
abordadas questões como, por exemplo, a relação entre Objeto de Pesquisa e objeto real, além
das consequências de tais pontos para o desenvolvimento regular das investigações.
Finalmente, com remissão ao resgate teórico e à reflexão sobre Ciências em Considerações sobre condições de progressão da Comunicação Social, aponta-se para uma solução, cujo
exame em nível metodológico e técnico não pode ser neste espaço suficiente abordado, mas é
criticamente justificado.
Relação entre Tecnologia e Comunicação Social
Ainda que as histórias da comunicação e das teorias correlatas regressem a períodos anteriores, é com o estabelecimento dos Meios de Comunicação de Massa, entre os séculos XIX e
XX enquanto fenômenos, que se observa a preponderância da ênfase conceitual da Comunicação (RÜDIGER, 1998; SANTAELLA, 2001 e MATTELART; MATTELART, 2005).
Por conseguinte, a demarcação teórica da reflexão tem seu início a partir do texto The
structure and function of communication in society, publicado por Lasswell em 19481. É nele
que pela primeira vez o Objeto-modelo do fenômeno comunicacional é concebido explicitamente relacionado ao domínio, tanto no que diz respeito aos objetos reais, quanto em relação
1 A referência aqui
utilizada é a tradução para o português, de 1971.
às condições teóricas, apesar da forte influência sociológica.
Alguns estudiosos preferem como marco inicial a Teoria matemática da comunicação.
Nesta reflexão essa posição é refutada, em primeiro lugar, porque Shannon esclareceu qual
objeto real pretendeu abordar e este não coincide com o objeto real processo comunicacional
integralmente. Em segundo lugar, o trabalho de Shannon, ainda que fazendo interface com a
Comunicação, está circunscrito, como modelo teórico, pela Cibernética e pela Teoria da Informação2. Em contrapartida, Lasswell indica claramente o contexto essencialmente comunicacional ao qual sua proposta se refere.
Alinhado ao pensamento científico de sua época, o modelo lasswelliano (1971) possui
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2 Apesar do entendimento de que há
nesses domínios
uma série de pontos
convergentes com a
Comunicação e da
impossibilidade de
destacá-los neste
espaço específico, os
delineamentos epistemológicos não são
aqui compreendidos
como idênticos.
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inúmeras limitações, quando analisado à luz do Estado da Arte da Comunicação Social. Entre-
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tanto, tal constatação não propulsionou nenhuma ruptura significativa: é possível observar o
refinamento de tal proposta, mas a ênfase dos estudos ainda é delimitada por algum dos elementos do Objeto-modelo de Lasswell, principalmente nos efeitos (MARTINO, 2008).
As críticas dirigidas à abordagem mencionada são sustentáveis na medida em que colocam em relevo a fragmentação da reflexão que é desencadeada3, mas são frágeis quando se
dirigem à estrutura do modelo em si. Isso porque o reducionismo do Objeto-modelo que o
caracteriza como caixa preta (BUNGE, 2008) é típico de um primeiro movimento científico e,
portanto, de parte da própria Ciência.
Tal como colocado por Bunge (2008), nas Ciências o Objeto-modelo e respectivos modelos teórico-metodológicos versam sobre objetos reais (fenômenos) a partir de contínua relação
com as evidências empíricas. Portanto, é previsível que uma primeira apreensão do fenômeno,
principalmente considerando o contexto histórico e científico de seu desenvolvimento, tenda
3 Principalmente o
desconjuntamento
do processo em privilégio do efeito, que
tem como resultado
diversos estudos
relativos aos produtos do processo
comunicacional e
seus efeitos ao invés
do processo em si,
seu padrões, razões e
estruturas.
à caixa preta, isto é, no caso da Comunicação, ao realce de uma mudança de estado a partir da
emissão de determinada mensagem.
A principal consequência negativa da não superação do modelo lasswelliano diz respeito
à supressão do viés comunicacional em privilégio de aspectos macro (economia e política, por
exemplo), reforçada pela influência sociológica, pelo interesse sobre os resultados de fenômenos comunicacionais por outros domínios e pela acepção da comunicação como lugar-comum
(FRANÇA, 2007).
Ao passo que os produtos e resultados do fenômeno comunicacional serviram como fonte de evidências empíricas aos estudos da área foi produzido um achatamento reflexivo, dentro
do qual objeto real e Objeto-modelo ou Objeto de pesquisa tornaram-se equivalentes.
Dessa forma, o desenvolvimento de programas de investigações progressivos (LAKATOS, 1998), que levam à explicação acurada e à predição bem sucedida dos fenômenos, bem
como deslocam o Objeto-modelo do tipo caixa preta para o tipo caixa translúcida (BUNGE,
2008) foi obscurecido por debates permeados pela inobservância epistemológica como, por
exemplo, a questão da interdisciplinaridade já mencionada.
A elaboração do Objeto de pesquisa é incipiente quando se admite consensualmente
como marco fenomenal e teórico o estabelecimento dos Meios de Comunicação de Massa e o
trabalho de Lasswell. E se perde na discussão teórica, essencialmente quando se reduz o estudo
da Comunicação aos efeitos e, ainda mais, quando os efeitos são entendidos como Meio.
Tomando-se como exemplo os estudos na América Latina e, ainda, ressaltando os debates no Brasil, em Dos meios às mediações, quando Martín-Barbero (2006)4 argumenta que há
nos estudos em Comunicação o “midiacentrismo”, cuja superação se dá a partir das mediações,
não se coloca em questão qualquer definição ou conceituação de Meio, proposta de abordagem
metodológica que indique métodos e técnicas de investigação ou referência às condições de
análise do processo comunicacional no contexto científico geral.
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4 Publicado originalmente em 1987.
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Da proposta de Martín-Barbero (2006) foram deduzidas pesquisas nas quais o esforço
5
reflexivo acerca dos Meios de Comunicação é originado por premissas que não são levadas à
superfície de discussão, segundo as quais os Meios são efeitos da comunicação ou meros aparatos tecnológicos, de modo que sua apreensão está dada e não precisa ser conceitualmente
elaborada.
Apesar de algumas correções metodológicas, especialmente por parte de Orozco (1997
e 2001) e do questionamento acerca da suficiência da mediação (MARTÍN-BARBERO, 2009;
BARROS, 2012), o movimento em direção ao esclarecimento do Objeto-modelo continua estagnado pela negação dos Meios de Comunicação5 como parte da especificidade da área e, por
conseguinte, pela supressão das reflexões sobre a relação entre comunicação e tecnologia.
Como última constatação de tal conjuntura, tem-se ainda o constante estranhamento do
domínio em relação à Teoria do Meio, cujo resgate em nível nacional é iniciado somente em
2011, com a tradução do texto de Harold Innis (O viés da Comunicação), no qual é possível
verificar que a correção epistemológica, teórica e metodológica posterior da Mediação já tinha
5 Outros fatores,
além dos Meios de
Comunicação, também podem ser/são
negligenciados, mas
não cabe no escopo
deste texto alargar
esse debate.
sido iniciada em 1951.
A Teoria do Meio deve ser compreendida como programa de pesquisa6, cuja progressão
é evidente na autocrítica do programa, especialmente realizada por Meyrowitz (2001, dentre
outros). Além disso, os pressupostos básicos da Teoria do Meio, identificados em Innis (2011)
e McLuhan (2005) são mantidos, apesar das críticas dirigidas aos secundários.
Elementos básicos da axiomatização do exercício científico
As Filosofias da Ciência formam a espinha dorsal da compreensão acerca da organização
e desenvolvimento das investigações dos diferentes domínios. Como posicionamento filosófico
geral, as propostas antirrealistas como, por exemplo, de Kuhn (2006) e de Feyerabend (1977)
são produtivas se pensadas a partir dos debates que suscitam, mas não são suficientes para a
superação do realismo, frente à plausibilidade e à amplitude de suas consequências teóricas no
exercício científico.
A estruturação metodológica que demarca o fazer Ciência derivada da perspectiva realista permite o exame crítico das possibilidades e limitações das investigações diversas (SAGAN,
1996), fundamentalmente no que concerne a admissão da falibilidade humana e das modificações do objeto real, em função do levantamento empírico (RIDLEY, 2001).
A relação de equilíbrio entre evidências empíricas e reflexões teóricas é também uma
preocupação central da posição realista, na medida em que ele sustenta a progressão científica.
Isso ocorre porque, sendo aproximações especiais e racionais da realidade (BUNGE,
2008), as Ciências versam sobre os objetos reais, mas não necessariamente os dominam por
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6 A preferência terminológica demarca
a opção teórica por
Lakatos e Musgrave
(1979) e pela ênfase
em questões endógenas à Ciência e filosoficamente realista,
como contrapartida
da perspectiva antirrealista de Kuhn
adotada, por exemplo, por Martino e
Boaventura (2013).
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completo no nível empírico. Então, o levantamento empírico possível, dos elementos observá-
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veis é complementado por elementos inobserváveis, cuja abordagem, por conseguinte, é conceitual/teórica.
A qualidade que sustenta a manutenção da entidade inobservável e dos postulados teóricos é a utilidade descritiva e preditiva que possuem, verificada por meio da pesquisa empírica
(PEROSANZ, 2006), de acordo com os parâmetros da falseabilidade colocados por Popper
(BUNGE, 2008; LAKATOS, 1998).
Portanto, mais do que descrições dos fenômenos, o objetivo das Ciências é primordialmente teorizar, ou seja, inferir sobre o inobservável a partir da pesquisa empírica e de enquadramentos teóricos, bem como atribuir sentido às evidências coletadas.
A condução da interpretação dos elementos observáveis é oriunda, em primeira instância, da ruptura epistemológica produzida pelos domínios que não apenas os distinguem7 entre
si, mas os diferencia de outros tipos de conhecimento e das pseudociências (BUNGE, 2006).
A demarcação do exercício científico amplia-se também para a instância teórica, na qual,
segundo Bunge (2006) se estrutura a referência do discurso das Ciências, cujo estabelecimento
7 O que explica, por
exemplo, porque
apesar do paradigma reducionista,
a Química não foi
reduzida à Física.
se dá por meio das articulações conceituais.
A ampliação do escrutínio conceitual produz Objetos-modelos e Modelos teóricos a partir dos quais se desenvolvem Programas de investigação. Tais Programas são constituídos por
um núcleo estável, com proposições consistentes, e hipóteses auxiliares, passíveis de refutação, que auxiliam a adequação/progressão do Programa em relação aos fenômenos (LAKATOS, 1998; LAKATOS; MUSGRAVE, 1979).
Ainda que se admita a existência de fatores complexificadores do processo, mesmo que
de caráter extra científico, as revoluções científicas são fundamentalmente propulsionadas por
elementos endógenos das Ciências, que fornecem maior ou menor capacidade de progressão
de uma determinada perspectiva.
Nesse raciocínio, a incomensurabilidade (KUHN, 2006) e o demasiado alargamento metodológico em mudanças paradigmáticas (FEYERABEND, 1997) são exceções, e não padrões
do desenvolvimento científico8.
Considerações sobre condições de progressão da
Comunicação Social
Mesmo mantendo o dissenso acerca do marco inicial da reflexão teórica em Comunicação Social, o consenso identificado em Mattelart e Mattelart (2005), Rüdiger (1998) e Santaella
(2001), que é percebido para além desses autores, coloca em relevo a importância dos aspectos
técnicos e tecnológicos para a estruturação do Objeto de pesquisa da Comunicação Social.
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8 O que explica porque a identificação
de cerca de 600 teorias da Comunicação
não é compatível
com o estabelecimento das mesmas
como parte do fazer
Ciência.
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Tendo em vista que o exercício científico pressupõe a distinção entre Objeto de pesquisa
e Objeto real de maneira que o primeiro não pode refletir o segundo em sua totalidade, entende-se que além de justificada nas instâncias epistemológica e teórica, a remissão às problemáticas tecnológicas colabora para a progressão metodológica da investigação em Comunicação
Social.
A Teoria do Meio, desde os anos 1950, apresenta-se como Programa de investigação com
capacidade para progressão por pioneiramente romper com a reflexão dicotômica e incipiente
a respeito da imbricação entre tecnologia e comunicação.
Apesar da não discussão em torno do núcleo duro e suas respectivas hipóteses auxiliares, o que interessa indicar é que, na composição do núcleo duro, não apenas a tecnologia, mas
também problemáticas relativas à Ciência Cognitiva são alcançadas, ainda que de modo incipiente, como elementos do Objeto de pesquisa.
A percepção da viabilidade de progressão através de tal interseccção foi também observada por Lima Junior (2013), cujo alinhamento à axiomatização do exercício científico está
evidenciado pela distinção disciplinar (e, portanto, não redução da Comunicação Social, apesar da ubiquidade dos fenômenos tecnológicos e dos fundamentos da Ciência Cognitiva), e pela
compreensão de que as alterações do objeto real determinam modificações no Objeto de pesquisa que podem, extrapolando a convenção, implicar na imbrincação imprenscindível desses
domínios.
Não se trata de defender a Comunicação Social como super ciência ou não ciência, nem
de argumentar em favor de um ou outro posicionamento ideológico, mas de oferecer subsídios
à progressão (em contrapartida da degeneração) da investigação nesse domínio.
Para a articulação proposta, especialmente em nível teórico, se faz necessária, tal como
demonstrado por Lima Junior (2013), a manutenção do rigor epistemológico, a fim de que a
abordagem da referência conceitual (e, posteriormente, metódica) dos outros domínios não
subverta a especificidade comunicacional (repetindo-se o problema das questões macrossociais) ou implique em reflexões equivocadas como consequência da migração referencial.
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Expediente
TECCCOG
Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cognitive Science é produzida pelo Grupo de Pesquisa Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva credenciado pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Metodista
São Paulo, v.2, n.2, dez 2014
A revista do TECCCOG é uma publicação científica semestral em formato eletrônico do Grupo de Pesquisa Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva credenciado pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Metodista.
Lançada em setembrode 2013, tem como principal produzir métodos e conhementos sob uma perspectiva inter e
transdisciplinar, a complexidade das relações entre Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, e os seus impactos cognitivos na sociedade.
Editor
Walter Teixeira Lima Junior
Comissão Editorial
Walter Teixeira Lima Junior (Universidade Metodista de São Paulo) * Lúcia Santaella (Pontíficia Universidade Católica de São Paulo) * Luis Martino (UNB) * João Eduardo Kogler (Universidade de São Paulo) * Ronaldo Prati (Universidade Federal do ABC) * Ricardo Gudwin ( Universidade Estadual de Campinas) * João Ranhel (Universidade
Federal de Pernambuco) * Eugenio de Menezes (Faculdade Cásper Líbero) * Reinaldo Silva (Universidade de São
Paulo) * Marcio Lobo (Universidade de São Paulo) * Vinicius Romanini (Universidade de São Paulo)
Conselho Editorial
Walter Teixeira Lima Junior (Universidade Metodista de São Paulo) * Lúcia Santaella (Pontíficia Universidade Católica de São Paulo) * Luis Martino (UNB) * João Eduardo Kogler (Universidade de São Paulo) * Ronaldo Prati (Universidade Federal do ABC) * Ricardo Gudwin ( Universidade Estadual de Campinas) * João Ranhel (Universidade
Federal de Pernambuco) * Eugenio de Menezes (Faculdade Cásper Líbero) * Reinaldo Silva (Universidade de São
Paulo) * Marcio Lobo (Universidade de São Paulo) * Vinicius Romanini (Universidade de São Paulo)
Assistente Editorial
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Projeto Gráfico e Logotipo
Danilo Braga * Walter Teixeira Lima Junior * Leandro Tavares
Editoração eletrônica
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Correspondência
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