ENRIQUECIMENTO NUTRICIONAL COM TORTA DE MAMONA NA

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ENRIQUECIMENTO NUTRICIONAL COM TORTA DE MAMONA NA
ENRIQUECIMENTO NUTRICIONAL COM TORTA DE MAMONA NA
FORMULAÇÃO DE SUBSTRATO ORGÂNICO PARA PRODUÇÃO DE MUDAS
DE BERINJELA1
Eva Adriana Gonçalves de Oliveira2, Raul de Lucena Duarte Ribeiro2, José Guilherme
Marinho Guerra2, Jaqueline Fernandes de Carvalho2, Camila Guimarães de Souza2, Osmir
Saiter3
INTRODUÇÃO
A agricultura orgânica, já oficialmente regulamentada no Brasil (MAPA IN nº
64/2008), estabelece restrições quanto ao uso de fertilizantes minerais de alta solubilidade
na produção vegetal. O estado do Rio de Janeiro representa um dos principais pólos
nacionais de olericultura orgânica. No comércio regional, encontram-se disponíveis
substratos orgânicos baseados em resíduos vegetais (casca de pinus, fibra de coco) e /ou
em fontes não renováveis oriundas de extração (turfa, vermiculita). Tais substratos, quando
não aditivados, mostram-se inadequados ao pleno desenvolvimento de mudas, o que vem
inferindo limitações à expansão da olericultura orgânica fluminense. Diversos tipos de
resíduos orgânicos podem ser empregados como substratos, porém, comumente, não
contêm nutrientes prontamente liberados para atender ao crescimento de mudas de
hortaliças (Bezerra et al., 2009; Fernandes et al., 2009) .
Alternativas ambientalmente corretas e de baixo custo têm sido propostas na
composição de substratos para mudas (Lüdke et al., 2008). Substratos formuladas à base de
vermicomposto derivado do esterco bovino, em mistura com partículas de carvão vegetal
(malhas de 3 e 5 mm), para o abastecimento de bandejas de semeadura em ambiente
protegido, vem sendo objeto de estudos nos últimos anos*. Essas formulações são
consideradas promissoras para hortaliças folhosas (alface, chicória e bertalha) ou para
condimentares (salsa e coentro). Contudo, no caso de brassicáceas e hortaliças de fruto,
tem-se observado sintomas de deficiência nutricional antecedendo a fase de transplantio
para o campo. No presente trabalho, avaliou-se o enriquecimento do substrato orgânico
mencionado ,com torta de mamona , na produção de mudas de berinjela Ciça em cultivo
protegido.
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Resumo expandido apresentado no VII ENSub, 14-18 de setembro de 2010, Goiânia, Goiás
Mestranda – CPGF/UFRuralRJ; ²Prof. Associado – CPGF/UFRuralRJ; ³Pesquisador - Embrapa
Agrobiologia;
3
Engenheiro Florestal/UFRuralRJ
2
2
MATERIAL E MÉTODOS
Substrato
orgânico
foi
obtido
através
da
mistura
(volume/volume)
de
vermicomposto (75%) e ―fino de carvão vegetal‖ (15%) peneirados. O vermicomposto foi
produzido a partir de esterco bovino, utilizando-se minhocas da espécie Eisenia foetida; o
―fino de carvão‖ representa um resíduo do processamento da madeira proveniente de áreas
reflorestadas, com amparo legal. O custo desse material, facilmente encontrado,
corresponde praticamente ao seu transporte das carvoarias as quais usualmente, não
comercializam esses resíduos.
O enriquecimento nutricional do vermicomposto, estabilizado e submetido à
solarização, foi realizado através da adição de torta de mamona com base no volume. Além
dos substratos orgânicos, foi incluído como tratamento-controle um substrato comercial
para hortaliças, cujo rótulo indicava a presença dos seguintes: casca de pinus, turfa e
aditivos (não especificados). Dessa forma, os tratamentos utilizados foram:
T1: Substrato comercial
T2: Substrato orgânico sem enriquecimento
T3: Substrato orgânico enriquecido com 1% de torta de mamona (v/v)
T4: Substrato orgânico enriquecido com 2% de torta de mamona (v/v)
T5: Substrato orgânico enriquecido com 4% de torta de mamona (v/v)
T6: Substrato orgânico enriquecido com 8% de torta de mamona (v/v).
O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação, pertecente ao Sistema
Integrado de Produção Agroecológica (SIPA-―Fazendinha Agroecológica Km 47‖), fruto
de convênio de cooperação técnica entre a Embrapa Agrobiologia, Universidade Federal
Rural Rio de Janeiro (UFRuralRJ) e Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio
de Janeiro (Pesagro-Rio), no município de Seropédica-RJ.
Foi adotado delineamento em blocos ao acaso, com quatro repetições, sendo a
parcela experimental correspondente a uma bandeja de poliestireno expandido com 128
divisões. Empregou-se a cultivar híbrida de berinjela Ciça, semeada no mês de março de
2010. Com 27 dias pós-semeadura, foram coletadas, aleatoriamente, 10 mudas do centro de
cada parcela, avaliando-se: altura da planta, área foliar, biomassas fresca e seca da parte
aérea e da raiz, e volume do sistema radicular.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os parâmetros fitotécnicos avaliados foram influenciados pelos tratamentos
(Tabela 1). O substrato comercial não foi capaz de promover crescimento apropriado das
mudas de berinjela, as quais não chegaram a alcançar desenvolvimento compatível para
transplantio ao campo. O substrato orgânico não enriquecido, embora superior ao substrato
comercial, na maioria das variáveis estimadas, também não respondeu por um crescimento
adequado das mudas.
O melhor tratamento correspondeu ao substrato orgânico adicionado de 2% de torta
de mamona (T4). As mudas de berinjela também se desenvolveram a contento com apenas
1% de torta adicionada(T3). Concentrações acima de 2% (T5 e T6) foram prejudiciais,
chegando a afetar negativamente o percentual de emergência, além de desacelerar de modo
significativo o crescimento das plantas. Provavelmente, esses efeitos deletérios ocorreram
à conta de fitotoxicidade devida à condutividade elétrica excessiva, tendo em vista os altos
níveis de sais presentes na torta de mamona.
Os resultados vêm demonstrando a necessidade de ajustes finos na formulação de
substratos orgânicos, em função das espécies de hortaliças a serem cultivadas.
Tabela 1. Médias de pH e condutividade elétrica (CE) dos substratos, germinação (G), altura (ALT), área foliar
(AF), massa fresca de parte aérea (MFPA), massa seca de parte aérea (MSPA), massa fresca de raiz (MFR),
massa seca de raiz (MSR) e volume de raiz (VR) de mudas de berinjela ‗Ciça‖ em função dos tratamentos
estudados. Seropédica-RJ,2010.
pH
CE
G
-
ALT
AF
MSF
MFR
MSR
VR
————— mg.pl ¹ —————
ml
-
dS.m ¹
%
cm
6,70
0,523
96,2 a
3,8 e**
3,2 d
51,0 e
10,3 e
79,1 c
5,8 e
0,1 e
6,80
0,792
98,7 a
15,8 c
26,3 b
837,5 c
68,5 c
237,7 b
26,0 c
0,5 c
T3
6,86
1,112
99,0 a
22,4 b
48,6 a
1189,0 b
98,9 b
288,0 a
33,6 b
0,6 b
T4
6,93
1,407
97,7 a
24,8 a
49,0 a
1473,5 a
151,1 a
333,5 a
65,15 a
0,7 a
T5
7,20
1,597
86,2 b
10,2 d
12,2 c
479,7 d
43,5 d
208,2 b
18,4 d
0,3 d
T6
8,44
1,873
54,5 c
3,0 e
2,3 e
42,5 e
7,4 e
47,0 d
3,2 f
0,1 e
T1
T2
cm²
MFF
CV (%)
3,21
7,58
19,84
7,11
6,06
13,6
7,21
9,79
**Médias seguidas de letras iguais, em cada coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p≤ 0,05).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEZERRA, F.C.; FERREIRA F.V.M.; SILVA T. da C. Produção de mudas de berinjela
em substratos à base de resíduos orgânicos e irrigadas com água ou solução nutritiva.
Horticultura Brasileira, v. 27, n. 2, p.1348-1352, 2009.
LUDKE, I. ; SOUZA, R. B.; BRAGA, D. O. ; LIMA, J. L.; RESENDE, F. V. Produção de
mudas de pimentão em substratos a base de fibra de coco verde para agricultura orgânica.
In: IX SIMPÓSIONACIONAL DO CERRADO. II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE
SAVANAS TROPICAIS, 2008, Resumos... Brasília: Embrapa Cerrados, 2008.6p.
FERNANDES, R. C.; MATEUS, J. S.; LEAL, M. A. de A. Utilização de composto
orgânico com diferentes níveis de enriquecimento, como substrato para produção de mudas
de alface e beterraba. Revista Brasileira de Agroecologia,v.4 n.2, p.113-116, 2009.

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