Jornal "Metro", de 30 de Outubro de 2008

Transcrição

Jornal "Metro", de 30 de Outubro de 2008
ID: 22574234
30-10-2008 | Metro Casa
Tiragem: 180000
Pág: 4
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 27,35 x 35,36 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
A “segunda pele” que torna
os edifícios mais “verdes”
::
I
magine o que é viver numa casa que está em sintonia
com o ambiente. Um sítio onde cria a sua própria
energia e onde os móveis e a decoração são feitos
com materiais reciclados. Não dormiria mais descansado por saber que está a contribuir para um
mundo melhor? Ajudar o ambiente deve mesmo
começar em casa, e passar do pensamento à acção é fácil
porque já existem várias soluções no mercado. O METRO
falou com especialistas em energias renováveis e foi
descobrir o que pode mudar na sua casa para a tornar
mais “verde”.
Apostar na construção
Por onde começar? “Se se construir bem, de maneira a
aproveitar o sol e a ter em conta o clima onde o edifício
está integrado, estamos no bom caminho”, diz Hélder
Gonçalves, do Instituto Nacional de Engenharia,
Tecnologia e Inovação (INETI). Mas se não está a pensar
mudar de casa, pode apenas dar-lhe uma “segunda pele”.
Ou seja, “vesti-la de uma certa maneira para torná-la o
mais sustentável possível”, explica Manuel Collares
Pereira, fundador da empresa de energias renováveis Ao
Sol, que recebeu recentemente um prémio da Agência
Internacional de Energia pelo seu trabalho na área da
energia solar em Portugal.
Comecemos pela construção do edifício. Em primeiro
lugar, há que ter em conta a sua utilização. “Se vou construir uma escola, que funciona durante o dia, é importante que o edifício tire partido do Sol”, diz o especialista. Para isso, basta orientá-lo para Sul para aproveitar
as horas de sol e não gastar electricidade na iluminação.
A maneira de construir também ajuda a resolver o problema da climatização. Exemplo disso são as casas alentejanas. “Com paredes grossas, janelas pequenas e piso
térreo junto ao chão, estas casas estão sempre frescas no
Verão, mesmo quando estão 40 graus”, diz Manuel
Collares Pereira.
Anos de energia grátis
Para regular a temperatura dentro de casa também existem outras soluções. Exemplos simples são os vidros duplos, paredes com isolamento térmico, ou palas e estores
exteriores para fazer sombra.
Se não quiser apostar em equipamentos extras, a
Natureza, por si só, também ajuda. “Se tivermos vegetação por perto, para arrefecer o ambiente, ou boa ven-
tilação, páteos interiores, chaminés ou fontes”, já
poupamos na factura energética, diz o especialista em
energias renováveis.
Mas, tal como diz o provérbio, “Para grandes males,
grandes remédios”. “O consumo de energia aumentou
muito nos últimos anos devido à maior utilização de
aquecedores e ares condicionados”, diz Hélder
Gonçalves.
Por isso, segundo os especialistas, o melhor é mesmo
recorrer às energias renováveis que “são gratuitas e não
estão sujeitas às subidas do petróleo e da electricidade”,
aconselha Manuel Collares Pereira.
Instalar colectores solares no telhado pode ser uma alternativa, tanto para o aquecimento de águas (para casas de
banho e cozinha), como para gerar calor. E para o frio,
também “já existem as chamadas máquinas de absorção,
que substituem as caldeiras, para produzir ar quente ou
frio. E podemos ainda ter tubagens embutidas no chão,
ou no tecto, que produzem o mesmo efeito”, garante o
especialista.
Para o consumidor não há grande diferença, e há ainda
“o gozo de não gastar dinheiro para tomar um banho de
água quente”, diz Manuel Collares Pereira. O único senão
é o investimento. “Mas, ao fim de seis anos, recupera-se o
investimento, e depois temos vários anos de energia
grátis”.
Etiquetar os edifícios
Cada europeu passa, em média, 90 por cento do seu tempo no interior dos edifícios. E, em Portugal, quase um
terço da energia final, cerca de 29%, é consumida nos
edifícios, segundo dados da Direcção Geral de Energia e
Geologia. Isto prova que a eficiência energética das nossas casas continua a ser medíocre, reconhecem os especialistas. E também que a intervenção neste sector é primordial para reduzir a dependência energética de
Portugal.
“Tal como quando compramos um carro já perguntamos
sobre o seu consumo, quando compramos uma casa também devíamos ser críticos na escolha”, defende Manuel
Collares Pereira.
Neste sentido, foi criado um sistema de etiquetagem dos
edifícios, que funciona como nos electrodomésticos, ou
seja, atribui-se uma cor a cada casa. A escala vai de A+
(classe mais eficiente) a G (menos eficiente) e permite
medir a eficiência energética dos edifícios. A partir de
agora, todos os prédios novos têm de estar etiquetados.
Esta certificação tem a validade máxima de dez anos. ::
Uma casa eficiente no
Salão Imobiliário de Lisboa
A necessidade de tornar os edifícios mais amigos do ambiente está na ordem
do dia e é já uma tendência assumida no mercado imobiliário. Como tal, o
Salão Imobiliário de Lisboa, que esteve patente na Feira Internacional de
Lisboa (FIL) até domingo, tinha um expositor com uma casa eficiente, concebida pela Home Energy. Este T0, de 72 metros quadrados, permitiria ao consumidor poupar cerca de 30 a 40% na factura energética. Os painéis fotovoltaicos, instalados no jardim, satisfaziam por inteiro as necessidades de
consumo eléctrico da casa, e a decoração era feita com materiais reciclados,
incluindo candeeiros construídos com troncos de árvores. Além disso, a casa
tinha algumas tecnologias de elevada eficiência. “Desde um fogão que só
gera calor localizado no tacho, e não deixa que nada se queime em volta, a
janelas térmicas, ou a um monitor que avisa quando o consumo de energia
na casa ultrapassa o limite estipulado”, explicou ao METRO Miguel Barreto,
da Home Energy. O aquecimento de águas e a climatização da casa também
não foram descurados na casa da Home Energy. Para as águas sanitárias estava instalado também no jardim um colector solar e para o aquecimento central da casa havia uma caldeira de condensação que utilizava gás natural.
EDIFÍCIOS: CERTIFICAÇÃO ENERGÉTICA
A partir de agora, todos os edifícios que forem construídos terão uma classe energética, que vai do A+ (mais eficiente) ao G (menos eficiente). Esta etiqueta terá uma validade de dez anos.